Ribeiro e Menasche - RBA
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isso a alimentação está marcada pela afetividade, envolvendo sentimentos que duram e
que dificilmente se modificarão completamente.
É a partir dessa abordagem que podemos perceber que o que torna uma planta
comestível é justamente a cultura. Isto é, são as percepções de cada grupo que definem
entre as plantas classificadas a partir do conhecimento científico como não
convencionais, quais serão ou não consideradas, por determinado grupo, PANC.
Kinnup (2007) aponta a importância de pesquisas na área da Etnobotânica,
que resgatam saberes de populações tradicionais referentes às PANC, na intenção de
garantir o registro desses conhecimentos, bem como valorizar e incentivar a
permanência das práticas a elas relacionadas, que envolvem plantio, manejo e
produção de alimentos. Contudo, a pesquisa de Kinnup (2007), assim como a
desenvolvida pelo Grupo Viveiros Comunitários – GVC – vinculado ao Instituto de
Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, centram-se na Botânica,
sem dar maior importância a aspectos culturais. O presente estudo não está circunscrito
na Etnobotânica, mas se propõe a manter-se em diálogo com as pesquisas dessa área.
Tendo em vista estar situado no campo dos estudos socioantropológicos sobre
alimentação, associado a uma abordagem para um desenvolvimento rural que não
restringe seu foco às potencialidades econômicas, privilegiando os aspectos sociais,
culturais e ambientais (KAGEYAMA, 2008).
O conceito de PANC, como proposto por Kinnup (2007), delimita uma série
de plantas colocadas à margem pelo mercado, mas que, em diferentes contextos e
territórios, são de uso tradicional ou mesmo cotidiano. São justamente os usos
tradicionais e/ou cotidianos que tornam algumas dessas plantas representativas do
conceito proposto por Kinupp, guardando o paradoxo: ser ou não ser PANC. Ou seja,
são os saberes e as práticas, envolvendo o consumo e a confecção de pratos, que
colocaram em evidência algumas dessas PANC.
Uma das plantas mais emblemáticas é a ora-pro-nóbis, possivelmente a mais
comumente lembrada quando o assunto é PANC. A Pereskia aculeata, hortaliça
popularmente conhecida em distintas localidades, por diferentes nomes, entre eles ora-
pro-nóbis e carne-de-pobre, é lato sensu considerada PANC, no Rio Grande do Sul.
Todavia, em Sabará, Minas Gerais, realiza-se anualmente o Festival da ora-pro-nóbis,
um dos eventos gastronômicos mais tradicionais da região. Ainda assim, seria
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Considerações finais
Referências