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Resenha de O Ato Da Leitura Wolfgang Iser

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MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE LÍNGUAS

LEITURAS ORIENTADAS II

O ATO DA LEITURA – Uma teoria do efeito estético


WOLFGANG ISER

Professora Dra. Zíla Letícia Goulart Pereira Rêgo


Aluna: Cláudia dos Santos Moreira

2018
ISER, Wolfgang. O ato da leitura. v.1 trad. Johannes Kretschmer. São Paulo.
Ed.34. 192 p. 1996.

PRELIMINARES PARA UMA TEORIA DA ESTÉTICA DO EFEITO

Wolfgang Iser discutiu neste capítulo e na maior parte dos dois


volumes de seu livro “O Ato da leitura”, a interação entre a estrutura da obra
literária e seu receptor, o leitor.
Iser embasou-se na teoria da fenomenologia de Ingarden, que diz que
uma obra não pode ser estudada apenas pela configuração do texto, mas sim
deve ser entendida pela apreensão de seus atos. Ingarden contrapõe-se a
concretização da obra literária em camadas, pois segundo ele a obra literária
tem dois polos: o artístico, que designa o texto criado pelo autor e o estético
que produz a concretização da obra pelo leitor.
A obra literária, segundo Iser, se realiza no encontro do texto com o
leitor, é só na leitura que a obra enquanto processo adquire caráter próprio. A
obra é o ser constituído do texto na consciência do leitor, não se pode analisar
somente um polo sem considerar todos os aspectos constitutivos, para não
reduzir a obra a uma análise técnica ou psicológica do leitor (p.52).
Nas obras literárias realiza-se o processo de ativação dos sentidos, a
qualidade estética está na estrutura de realização, que é diferente do produto,
pois só se concretiza com a participação do leitor, a qualidade do texto literário
para Iser está em produzir efeitos estéticos que a obra em si não possui.
A interpretação ganha uma nova função, em vez de evidenciar o
sentido da obra, ela evidencia o potencial de sentidos proporcionados pelo
texto.
Na visão de Iser, a interpretação que buscava sua significação na obra
e queria instruir o leitor é questionada (p.54), pois não prevê a experiência do
leitor, o entanto o autor não critica a interpretação tradicional, traz a sugestão
de análises distintas da mesma obra e acrescenta que a análise baseada em
referências extratextuais não tem caráter estético, pois o princípio do caráter é
significar a si mesmo, não necessitando de referências para se justificar. O
sentido passa a se perder sem o efeito estético, deixa de existir, perde o
significado (p. 55).
Uma interpretação interessada na significação oculta à diferença entre
as estratégias, desse modo não se percebe que o efeito estético se transforma
em produtos não estéticos.
Há uma crítica à teoria do efeito estético que diz que esta sacrificaria o
texto à arbitrariedade subjetiva da compreensão para analisá-lo à luz da sua
atualização, ignorando a sua identidade. Para Iser (p.56), a interpretação deve
ser múltipla considerando as significações e subjetividades de uma obra de
arte, que é deveras difícil. A interpretação objetiva usando juízos de valor se
fundamenta enquanto a interpretação subjetiva não converge à obra a juízos
objetivos, concretiza-se a partir do leitor, de conceitos abertos e mutáveis.
A maioria dos problemas da estética na literatura é causada pela
confusão que os críticos fazem em fixar o leitor em determinações (p.62),
confundindo essas determinações com a natureza do texto. Contrariamos o
êxito de saber algo sobre literatura pelas determinações constantes no texto.
“O leitor atualiza esses padrões de determinação e seus resultados de
acordo com seus próprios princípios de seleção, assim considerando podemos
dizer que os textos literários ativam os processos de realização de sentidos”
ressalta Iser (p.62).

Concepções de leitor e a concepção de leitor implícito

Neste subtítulo do mesmo capítulo, Iser fala sobre os vários tipos de


leitor invocados pelos críticos quando se trata da teoria do efeito e da
recepção.
Tipos como leitor ideal e leitor contemporâneo, são verificados pelo
substrato (instância de verificação) nos quais as qualidades não são apenas
heurísticas (p.64). O leitor ideal é suspeito de ser mera construção, segundo
Iser, e o contemporâneo poderia trazer a história da recepção, mais adiante o
autor diz que nem mesmo o autor poderia se configurar como leitor ideal, que
esta seria uma possibilidade inviável, pois o leitor se atualiza através dos
tempos e espaços, que o leitor ideal então é aquele que consegue ser capaz
de extrair todo potencial ficcional da obra, ou até mesmo esgotá-lo.
Iser ainda traz outros tipos de leitor diferenciados por outros autores
como: o arquileitor (Riffaterre), o leitor informado (Fish) e leitor intencionado
(Wolff) que são construções que buscam identificar e especificar tipos de leitor
e o que buscam e como buscam o sentido e apreensão das obras literárias, as
três propostas tem algo em comum, a predeterminação do papel do leitor. O
papel do leitor não deve ter mais de um aspecto na compreensão do texto.
Segundo Iser, na imagem do leitor intencionado se matizam as
condições históricas que influenciavam o autor na produção da obra. E apesar
de diferentes as três propostas têm um denominador comum, as propostas têm
em suas concepções a possibilidade de ultrapassar o alcance da estilística
estrutural, da gramática transformacional e da sociologia da literatura (p.73).
Iser ao final deste capítulo da obra “O ato da leitura”, fala que todo
texto literário oferece papéis aos seus leitores, que mesmos os textos mais
fechados guardam lugar para seus leitores, o papel de leitor se define como
estrutura do texto e como estrutura do ato, dentro da perspectiva criada pelo
autor. Coloca também que o leitor não pode escolher livremente seu papel,
pois ele está dado e deve ser preenchido dentro da perspectiva proposta pelo
texto.
O sentido do texto é imaginável, não é dado explicitamente e pode se
concretizar na consciência do leitor. E ainda que haja na leitura um equilíbrio
nos papéis oferecidos ao leitor no texto e na sua disposição à leitura nunca
estes se sobrepõem, diz Iser, que se sobrepusessem perder-se iam, ou o leitor,
ou o papel oferecido pelo autor.
Em resumo, o papel do leitor implícito representa um modelo
transcendental que permite descrever as estruturas gerais de efeito dos textos
ficcionais, o leitor se relaciona com o texto, assim como o texto influencia o
modo de relação que ambos terão através da construção literária feita pelo
autor, numa recepção que será sempre subjetiva e individual.

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