Confiabilidade Metrológica

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Confiabilidade Metrológica

Apresentação
A confiabilidade metrológica é a capacidade de um sistema de medição fornecer os resultados
coerentes com a aplicação de um produto específico.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar o conceito de confiabilidade metrológica, bem
como os fatores que contribuem para a confiabilidade.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Conceituar rastreabilidade e incerteza de medição.


• Identificar contribuições para o cálculo da incerteza.
• Descrever os fatores de influência da confiabilidade metrológica.
Desafio
Você foi convidado a trabalhar em uma empresa que faz certificação de equipamentos e é
especialista em confiabilidade metrológica.

[INSERIR PEÇA GRÁFICA]

Com base nisso, indique três fatores primordiais para implementar a confiabilidade metrológica e
faça suas considerações finais para traçar um rumo adequado à empresa que prestará consultoria.

Lembre-se de descrever os fatores de influência e a forma como estimamos a incerteza para


instrumentos de medição dimensional.
Infográfico
A confiabilidade metrológica é um conjunto de técnicas para garantir que as medições, os
resultados obtidos nos ensaios e as análises feitas sejam confiáveis. Logo, como medida de
controle, a validação de metodologias deve ser observada, além da manutenção de equipamentos
calibrados, entre outros fatores.

Neste Infográfico, você vai conhecer as principais variáveis da confiabilidade metrológica e os


parâmetros característicos da tarefa de medição.
Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
Conteúdo do livro
A confiabilidade metrológica aborda temas relativos a calibração, incerteza das medições, sistemas
de unidades e controle de variabilidade estatística nos processos de produção.

Seja bem-vindo ao estudo da metrologia!


METROLOGIA
Confiabilidade
metrológica
Sandro Xavier Coelho

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Conceituar rastreabilidade e incerteza de medição.


> Identificar contribuições para o cálculo da incerteza.
> Descrever os fatores de influência da confiabilidade metrológica.

Introdução
A metrologia é o campo de estudo das medições. A sua técnica visa a garantir
a precisão dos processos produtivos e a exatidão de medições executadas por
diferentes laboratórios, em diferentes lugares. Sem critérios bem estabelecidos
pela metrologia científica, seria impossível fazer comparações interlaboratoriais
e garantir a reprodutibilidade das medidas. De fato, essa padronização garante
que algo feito em um país seja importado por outro, independentemente de
distância ou cultura, estabelecendo, assim, uma qualidade global para os
produtos.
Em específico, a confiabilidade metrológica corresponde ao conjunto de
procedimentos que garante que o processo metrológico ocorrerá com a precisão
e a exatidão adequadas. Esse processo produz certificações e relatórios de
ensaios formalmente reconhecidos, garantindo que o processo de medição
seja metrologicamente confiável.
2 Confiabilidade metrológica

Neste capítulo, serão definidos os conceitos fundamentais de metrologia,


as suas terminologias básicas e o papel da incerteza nas medições, tópicos
que conduzem às classificações de “erro” no contexto dessa ciência. Também
serão abordados os conceitos de calibração e rastreabilidade, bem como a
ideia de variabilidade estatística nos processos de produção.

A ciência da medição
Parafraseando William Thomson, quando você consegue medir algo sobre o
qual está falando e expressá-lo em números, você sabe alguma coisa sobre
isso. Porém, quando não consegue medir nem expressar algo em números,
o seu conhecimento é escasso e insatisfatório. Pode ser o início do conhe-
cimento, mas você mal avançou para o estágio da ciência, seja qual for o
assunto (RESNICK; HALLIDAY, 1983).
Essa célebre afirmação do físico britânico que ficou conhecido como
Lord Kelvin enfatiza a importância da medida na ciência. De fato, seria difícil
imaginar o poder do moderno aparato tecnológico do nosso tempo não fosse
a capacidade de realizar medidas cada vez mais precisas em todas as áreas
do conhecimento. Segundo Thomson, a medida do nosso conhecimento está
relacionada com a nossa capacidade de quantificar os fenômenos.
De acordo com Albertazzi e Souza (2017), a ciência que estuda os pro-
cedimentos de medição chama-se metrologia. A metrologia se encarrega
de estabelecer padronizações que tornem válido o ato de atribuir um valor
numérico a uma grandeza, seja ela uma grandeza física, química, biológica
ou derivada dessas.
Embora possa parecer, medir não é uma tarefa simples, pois não se vincula
um valor numérico a uma determinada grandeza sem imprecisão. Pode-se
afirmar, portanto, que imprecisões são inerentes ao ato de medir, uma vez que
qualquer procedimento de medição está atrelado a condições instrumentais,
ambientais e metodológicas próprias. Essas condições particulares conduzirão,
indubitavelmente, à imprecisão da medida.
O simples ato de medir uma peça com um paquímetro analógico talvez
incorra em imprecisão, uma vez que variações da temperatura no local de
medição podem dilatar a escala do instrumento, afetando a precisão da
medida. Ainda que se utilize um paquímetro digital (Figura 1), não se estará
livre da imprecisão, já que a liberação de calor nos dispositivos eletrônicos
poderá ocasionar flutuações das características de alguns componentes do
paquímetro, afetando a medida em algum nível. Ainda que a precisão des-
Confiabilidade metrológica 3

ses instrumentos seja de até um milésimo de milímetro, ela não é absoluta


(ALBERTAZZI; SOUZA, 2017).

Figura 1. Paquímetro digital.


Fonte: Maksimee/Shutterstock.com.

Desse modo, o ato de medir está intrinsecamente associado à incerteza da


medição. O valor de uma grandeza, obtido por medição, não significa exatamente
a veracidade da medida, mas está associado a um número, dentro de um inter-
valo, que é atribuído àquilo que se está medindo e que se chama mensurando
(objeto da medição). Quanto maior for a correspondência desse valor ao valor
verdadeiro do mensurando, maior será a exatidão da medição (BRASIL, 2012).

O termo “exatidão de uma medição” não deve ser utilizado como


sendo o mesmo que “precisão de uma medição”. Segundo o Voca-
bulário Internacional de Metrologia (BRASIL, 2012, p. 20-21), a exatidão de uma
medição corresponde ao “[...] grau de concordância entre um valor medido e
um valor verdadeiro de um mensurando”, enquanto a precisão de uma medição
corresponde ao “[...] grau de concordância entre indicações ou valores medidos,
obtidos por medições repetidas, no mesmo objeto ou em objetos similares, sob
condições especificadas”. Dessas definições, conclui-se que algumas medições
podem ser precisas, mas não exatas.
4 Confiabilidade metrológica

A precisão da medida será tanto maior quanto menores forem os erros


obtidos por medições repetidas. Por exemplo, na Figura 1, o mensurando é
o aro circular vermelho que está sendo segurado pelo observador e a sua
indicação de medida é o valor que aparece no visor do paquímetro, conside-
radas as variações próprias de operação do instrumento. Esse valor poderá
apresentar variações em diferentes medições, de um centésimo de milímetro
para mais ou para menos, por exemplo. Essas medidas indicam o valor da
grandeza que se está tentando medir. No seu conjunto, ajudam a determinar
o valor convencional de uma grandeza, como o diâmetro, no exemplo men-
cionado (BRASIL, 2012).
Outro exemplos poderiam ser mencionados, como o valor convencional
da aceleração da gravidade (g = 9,806 65 m ∙ s–2) ou o valor convencional da
constante de Faraday (F = 96 361,1 C ∙ mol–1), entre outras constantes físicas.

O termo “valor convencional de uma grandeza”, como empregado


nesta seção, não corresponde a uma única medida de uma grandeza,
mas ao valor médio calculado sobre o conjunto de medidas realizadas sobre
o mensurando.

Unidade de medida e calibração


Segundo Albertazzi e Souza (2017), para que o ato de medir seja possível,
deve-se adotar uma unidade de medida, que corresponde a uma grandeza
escalar (numérica) com a qual outra grandeza que tenha a mesma natureza
possa ser comparada. Essa comparação pode ser expressa pela razão entre
as grandezas atribuídas ao mensurando e a unidade de medida, determinan-
do-se, então, quantas vezes o mensurando cabe dentro daquela unidade de
medição. Assim, pode haver grandezas iguais a duas vezes e meia a unidade
de medida metro, o que será o mesmo que 2,5 m. Para o segundo, que é a
unidade de medida padrão para o tempo, pode haver grandezas iguais a
60 vezes essa unidade de medição, o que será o mesmo que 60 s (1 minuto).
Confiabilidade metrológica 5

O quilograma (para a massa de um corpo), o ampère (para a corrente


elétrica), o kelvin (para a temperatura) e tantas outras unidades de medição
são exemplos daquilo que se convencionou chamar de sistema internacional
de unidades (SI) (ALBERTAZZI; SOUZA, 2017). O SI estabelece um padrão que
torna possível a instrumentalização das medições, tomando sempre como
referência os seus valores. Para isso, no entanto, os instrumentos de medição
precisam ser capazes de determinar os valores atribuídos às medidas com
boa precisão.
Essa não é uma tarefa fácil, uma vez que a variação das condições ambien-
tais, como temperatura, pressão, umidade, campos eletromagnéticos, etc.,
influenciam o funcionamento dos instrumentos. E tentar ajustar os instru-
mentos de medição sem levar em conta essas condições pode prejudicar a
padronização das medidas (ALBERTAZZI; SOUZA, 2017). Assim, de acordo com
Linck (2017), é importante estabelecer condições de referência sob as quais os
instrumentos serão ajustados. Essas condições de referência incluem todas
as influências de origem ambiental que possam afetar a medição.
Também é importante que o procedimento operacional adotado para a
consecução do ajuste seja bem descrito. Esse conjunto de procedimentos
referenciais e operacionais adotados para a obtenção da boa aferição dos ins-
trumentos de medida é chamado de calibração. O resultado de uma calibração
geralmente é registrado em documento próprio, gerando uma certificação
do instrumento de medida. A realização frequente das calibrações é o que
garante a confiabilidade metrológica (LINCK, 2017).

Rastreabilidade
Uma vez alcançada a confiabilidade metrológica, um padrão primário de
medida é estabelecido. A partir dele, uma cadeia de padrões metrológicos
com maior grau de incerteza que o sistema de unidade do SI pode ser ado-
tada, de modo a atender às padronizações internacionais e nacionais, aos
institutos metrológicos nacionais, aos padrões de laboratórios de calibração
e às unidades produtivas (LINCK, 2017).
Chama-se a sequência ilustrada pela Figura 2 de cadeia de rastreabilidade.
O grau de precisão dos padrões descritos é crescente de baixo para cima.
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Unidades do SI
Padrões internacionais

DE Padrões dos institutos nacionais de metrologia


Padrões de referência dos laboratórios de
IDA

calibração acreditados
IL

Padrões de referência dos laboratórios de


AB
RE

ensaio acreditados
ST

Padrões de trabalho dos laboratórios do


RA

chão de fábrica

COMPARABILIDADE

Figura 2. Cadeia de rastreabilidade.

Portanto, de acordo com Linck (2017), a partir da base da pirâmide, pode-


-se ir relacionando cada padrão inferior ao seu superior, percorrendo toda
a cadeia de rastreabilidade até chegar ao padrão primário (SI), que é aquele
que tem o menor grau de incerteza.
Nesta seção, foram abordados conceitos fundamentais da metrologia, sem
os quais teríamos dificuldade de organizar procedimentos para a execução
e o registro das medições. Na próxima seção, será estabelecido um critério
objetivo para quantificar as medidas de incerteza, o que possibilitará lidar
com os erros de medições.

Como medir a incerteza?


Os fatores que resultam na incerteza das medições podem ser divididos em
duas categorias (MENDES, 2019):

1. erros aleatórios, também chamados de erros do tipo A;


2. erros sistemáticos, também chamados de erros do tipo B.

A seguir, cada um deles será apresentado detalhadamente.


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Erros do tipo A
Segundo Werkema (2011), os erros do tipo A são aqueles causados por variações
incontroláveis e aleatórias, associadas ao funcionamento dos instrumentos
de medida e às condições de referência, mencionadas na seção anterior
(temperatura, pressão, umidade, campos eletromagnéticos, etc.). Nesse caso,
as variações das medidas podem ser capturadas pela estatística.
A incerteza está associada ao conceito de desvio-padrão, que mede o
quanto as medidas realizadas variam em relação ao valor médio dessas
mesmas medidas após um número satisfatório de repetições:

∑1 ( )2
=
1

onde xi é o valor de cada medição, μ é o valor médio das medições e n é o


número total de medições.
Uma vez calculado o desvio-padrão, tem-se uma noção objetiva do quanto
os fatores aleatórios associados aos equipamentos de medição e as suas
condições de referência contribuirão para o grau de incerteza das medidas.
Valores grandes de desvio-padrão resultarão em medida de incerteza maior
para o equipamento, enquanto valores pequenos de desvio-padrão resultarão
em medidas de incerteza menor (WERKEMA, 2011).
A Figura 3 ilustra o papel do desvio-padrão como estimador das incertezas.

A Desvio padrão alto B Desvio padrão baixo

Figura 3. Valores do desvio-padrão: (a) desvio-padrão alto e (b) desvio-padrão baixo.


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Na Figura 3a, caso se admita que o valor real da medida realizada por um
equipamento corresponde a um valor situado no centro do alvo, as sucessivas
medições realizadas por esse equipamento estarão, no seu conjunto, mais
distantes do centro, espalhadas pelo círculo. Isso implica desvios maiores de
medições em relação ao valor verdadeiro da grandeza medida. Nesse caso,
o desvio-padrão será alto.
Na Figura 3b, as sucessivas medições realizadas pelo equipamento estarão,
no seu conjunto, nas imediações da parte central do alvo, apontando desvios
menores em relação ao valor verdadeiro da grandeza medida. Nesse caso,
o desvio-padrão será baixo.
Os valores dos desvios-padrão determinam, portanto, as medidas de
incerteza na metrologia.

Erros do tipo B
Os erros do tipo B estão relacionados a equipamentos não calibrados ou
ao uso de um procedimento incorreto por parte de quem está realizando a
medida. Há, ainda, problemas metodológicos que podem afetar as medições,
como as simplificações impróprias do modelo teórico empregado (MENDES,
2019). Veja o exemplo a seguir.

Em uma balança eletrônica, que utiliza o princípio da compensação de


forças eletromagnéticas, o resultado da medição da massa depende
do valor da aceleração da gravidade (g) local. O Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) realiza levantamentos gravimétricos para a determinação
desses valores em todo o território nacional, e eles podem variar de acordo com
a latitude e a altitude da região. Assim, se uma balança que tenha sido calibrada
no Rio de Janeiro passa a ser utilizada em Porto Alegre, por exemplo, ela acusará
uma diferença de 0,000524 kg para cada quilograma de carga.
Esse tipo de problema decorre de uma simplificação ou imprevisão do possível
uso do equipamento, que terá a sua capacidade de medida prejudicada, depen-
dendo do local de uso. No entanto, uma vez identificado esse erro sistemático,
pode-se adequar o cálculo da massa por meio da atualização do valor local de
g, seguida pela devida calibração do equipamento (MACIEL, 2000).

Se não eliminados, os erros sistemáticos podem ser reduzidos ao mínimo,


para que subsistam apenas os erros aleatórios. Estes estão sujeitos às leis da
estatística, podendo ser previstos e controlados (MENDES, 2019).
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Comparações interlaboratoriais
A Figura 4 apresenta algumas distribuições de medidas em um processo com
sucessivas medições. A forma da distribuição indica que a predominância das
medidas corresponde a valores próximos da média aritmética dos valores
das medições.

Tendência/
Curva mais estabilidade
afilada

Curva mais
achatada

µ1 = µ2 µ1 µ2

µ: médias aritméticas Reprodutibilidade/


A B repetibilidade

Figura 4. Comparações de medidas.

O valor do desvio-padrão da distribuição vai determinar a dispersão do


conjunto de medições: desvio-padrão alto para uma curva mais “achatada”
ou desvio-padrão baixo para uma curva mais “afilada” (Figura 4a). Essa dis-
tribuição é denominada gaussiana e dá indícios do quanto as medições estão
mais ou menos dispersas, sugerindo maior ou menor incerteza.
A Figura 4b aponta características intrínsecas ao conjunto de medições,
efetuadas por um ou mais operadores, sob condições de referência (labora-
toriais) que podem ser diferentes. Nessa imagem, nota-se uma faixa (entre
as linhas pontilhadas vermelhas) em que se espera que diferentes operado-
res, realizando a mesma medida e trabalhando em diferentes laboratórios,
obtenham os seus valores de medição. Essa característica é chamada de
reprodutibilidade. Agora, se houver apenas um operador efetuando uma
mesma medida, sob condições de referência idênticas, o objetivo será uma
característica chamada de repetibilidade, que ocorre quando o valor da
medição é regular dentro de referida faixa de valores.
10 Confiabilidade metrológica

Por outro lado, se o conjunto de medições de determinado operador


desviar-se do valor de referência da medida, será percebido, no gráfico, um
deslocamento da curva gaussiana (curva deslocada para a direita na Figura 4b),
indicando que o padrão de medições daquele operador divergiu por influência
de uma ou mais condições de referência. Essa característica é chamada de
tendência. Ligada a uma tendência regular do padrão de medições, tem-se
outra característica, chamada de estabilidade, que se revela quando esse
padrão de medições, embora tendencioso, permanece constante. Porém,
se esse padrão se alterar, é dito haver uma linearidade ou desvio linear da
tendência nas medições (ALBERTAZZI; SOUZA, 2017).

Essas diferentes características, decorrentes de um padrão de in-


certezas que dá forma à curva de distribuição gaussiana e determina
os critérios comparativos mencionados anteriormente, desafia a metrologia a
estabelecer programas de comparações interlaboratoriais que possibilitem a
padronização das medições em nível global, independentemente do local das
medições e dos seus operadores. Dito de outro modo, busca-se fazer predominar
a reprodutibilidade e a repetibilidade entre os diferentes laboratórios e os seus
operadores, eliminando comportamentos tendenciosos das medições a fim de
padronizá-las (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 1994).

Nesta seção, você viu como estimar as incertezas das medidas e como
classificá-las quanto à sua natureza (sistemática ou aleatória). Também
aprendeu como se caracteriza o conjunto de medições (reprodutibilidade,
repetibilidade, tendência, estabilidade e linearidade) de modo a se dispor
de um programa de comparações entre laboratórios que torne possível a
padronização do processo de medição. Na próxima seção, será abordado o
monitoramento dos erros das medições de um ponto de vista distinto, que
considera a análise estatística do processo.

Confiabilidade dos padrões de medida


De acordo com Albertazzi e Souza (2017), a confiabilidade metrológica está
fortemente relacionada com as condições ambientais em que as calibrações
são realizadas. Normalmente, as calibrações de equipamentos de precisão
são efetuadas em ambientes com temperatura em torno de 20°C. A umidade
relativa do ar, as vibrações mecânicas, a pressão ambiente, os ruídos, a ilumi-
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nação, o manuseio dos equipamentos e a limpeza do ambiente são controlados,


de modo a garantir as condições de referência do processo metrológico.
Entretanto, no âmbito dos processos produtivos, a confiabilidade metroló-
gica é aferida por meio da capacidade estatística do processo produtivo. Esse
conceito está diretamente relacionado às condições que o processo reúne
para gerar produtos conformes, ou seja, com pouca variabilidade nas suas
especificações técnicas. A baixa variabilidade de peso, tamanho, cor, forma
e outras características de um manufaturado é indício de alta qualidade, de
controle do processo produtivo. Daí, a denominação controle estatístico de
processos (CEP), ou simplesmente controle de qualidade, a que se vinculam
os programas de normas de garantia de qualidade, como as normas ISO
(International Organization for Standardization) (WERKEMA, 2011).

Controle estatístico de processos


De acordo com Werkema (2011), o termo estatístico, na sigla CEP, resgata
o que foi abordado nas seções anteriores, sobre incerteza nas medições.
Se for viável monitorar essas incertezas por meio do controle das dispersões
das medidas, será possível controlá-las, mantendo as incertezas somente
no âmbito dos erros aleatórios. Esses erros (tipo A) são incontroláveis, mas
os erros sistemáticos (tipo B) são evitáveis. Com isso, a conformidade na
produção pode ser alcançada, mantendo a variabilidade das características
dos produtos dentro de uma faixa previsível e o mais estreita possível.
A Figura 5 ilustra trechos de cartas de CEP. Essas cartas apresentam uma
linha central, com valor indicativo da média dos valores medidos, e outras
duas linhas, acima e abaixo da média (linhas amarelas), indicando uma quan-
tidade de desvios-padrão acima e abaixo da média. Essas linhas servem como
limites de controle, além e aquém dos quais as medidas médias amostrais,
representadas pelos pontos das linhas poligonais, não podem ultrapassar.

LIMITE
SUPERIOR Tendência descendente Tendência ascendente

MÉDIA

LIMITE
INFERIOR

A B

Figura 5. Cartas de CEP.


12 Confiabilidade metrológica

Essas médias amostrais (pontos sobre as linhas) podem representar a


estimativa de medida do diâmetro de um eixo, por exemplo, ou a estimativa
de medida da quantidade de óleo em uma lata. Os pontos que vão percorrendo
a carta para cima e para baixo insinuam a variabilidade das medições durante
o processo produtivo.
Note que, na Figura 5a, há dois pontos vermelhos (apontados pelas setas),
que ultrapassam os limites de controle, indicando que ali há a suspeita de
erro sistemático de medida. Se essa medida que escapou do controle for
do diâmetro do eixo mencionado como exemplo, é possível que a máquina
que forja os eixos precise ser calibrada para operar com melhor precisão.
Nesse caso, uma medida estatística servirá como medida indireta de controle
metrológico, sem o qual os produtos não seriam corretamente beneficiados.
Por sua vez, a Figura 5b mostra duas linhas de tendência, uma crescente e
outra decrescente, indicando que ali deve haver uma tendência. A tendência
revela uma diferença entre a média observada e o valor de referência (da
medida).
Os valores apontados nas cartas de CEP são entendidos como discrepantes,
ou seja, indicam que, naquele momento, o processo está operando sob a ação
de erros que podem ser controlados. Essas indicações revelam que as incertezas
do processo de medição são do tipo B, ou seja, devem-se a erros sistemáticos
de medida. As causas desses erros são evitáveis e podem estar associadas a
problemas em equipamentos, como, por exemplo, a fixação indevida de uma
peça em uma máquina, o que afetará a medida do bem-produzido. Também
podem estar associadas a fadiga, inabilitação ou troca de funcionários, bem
como a falhas no controle do processo (ALBERTAZZI; SOUZA, 2017).
Uma série de outros comportamentos da linha poligonal nas cartas de CEP
é reveladora de problemas que podem ocorrer durante o processo produtivo.
Por exemplo, uma sucessão grande de pontos da linha poligonal do gráfico
aparecendo em apenas um dos lados da linha central (seja acima ou abaixo
dela) indica um comportamento estatisticamente improvável do conjunto
de valores atribuídos às médias amostrais. Esse comportamento pode estar
sendo causado por alguma medida imprecisa do equipamento em uso (des-
regulagens e desajustes). Por isso, a sua ocorrência no gráfico de controle
pode estar associada tanto ao desgaste natural das peças de uma máquina
quanto à necessidade de calibração desta (WERKEMA, 2011).
Confiabilidade metrológica 13

O monitoramento e a adequada correção dos problemas discutidos


nesta seção buscam garantir a confiabilidade metrológica. Assim,
um processo que esteja sob controle estatístico, operando dentro dos seus
limites de controle, é dito capaz ou com boa capacidade estatística (ALBERTAZZI;
SOUZA, 2017).

Nesta seção, você viu de que forma os erros de medições são monitora-
dos por meio das cartas de CEP. Nesses gráficos, o comportamento da linha
poligonal fornece indicativos importantes sobre o andamento do processo,
seja no que diz respeito ao equipamento, aos seus adequados funcionamento,
operação e calibração, seja no que se relaciona à ação dos operadores (ha-
bilitação, fadiga, troca de funcionário, etc.).
Ao longo do capítulo, foram discutidos os conceitos e as terminologias
fundamentais da metrologia, com destaque para a sua importância na ma-
nutenção da qualidade dos produtos. Além disso, foi esclarecido o quanto a
correta adoção dos sistemas de unidades, da rastreabilidade das medidas e da
calibração dos equipamentos é importante para a consecução desse objetivo.

Referências
ALBERTAZZI, A.; SOUZA, A. R. Fundamentos de metrologia cientifica e industrial. 2. ed.
Barueri: Manole, 2017.
BRASIL. Vocabulário internacional de metrologia: conceitos fundamentais e gerais e
termos associados. Duque de Caxias, RJ: Inmetro, 2012. (E-book).
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 5725-2:1994: accuracy
(trueness and precision) of measurement methods and results — part 2: basic method
for the determination of repeatability and reproducibility of a standard measurement
method. Geneva: ISO, 1994.
LINCK, C. Fundamentos de metrologia. 2. ed. Porto Alegre: Sagah, 2017.
MACIEL, M. A. D. Erros da indicação de instrumentos de pesagem não automáticos devido
a aceleração da gravidade. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE METROLOGIA, 2., 2000, São
Paulo. Anais eletrônicos [...]. Disponível em: http://www.ipem.pr.gov.br/sites/default/
arquivos_restritos/files/migrados/File/producao_cientifica/erro_indicacao_e_instru-
mentos_marco_aurelio.pdf. Acesso em: 27 jul. 2022.
MENDES, A. Metrologia e incerteza de medição: conceitos e aplicações. Rio de Janeiro:
LTC, 2019.
RESNICK, R.; HALLIDAY, D. Física I. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1983.
WERKEMA, C. Avaliação de sistemas de medição. 2. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2011.
14 Confiabilidade metrológica

Leituras recomendadas
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 5725-2:1994/Cor. 1:2002:
accuracy (trueness and precision) of measurement methods and results — part 2:
basic method for the determination of repeatability and reproducibility of a standard
measurement method. Geneva: ISO, 2002.
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 5725-2:2019: accuracy
(trueness and precision) of measurement methods and results — Part 2: basic method
for the determination of repeatability and reproducibility of a standard measurement
method. Geneva: ISO, 2019.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE METROLOGIA. O novo sistema internacional de unidades
(SI). Brasília: SBM, 2019. (E-book).

Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos


testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da
publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas
páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os edito-
res declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou
integralidade das informações referidas em tais links.
Dica do professor
Há sempre uma incerteza no processo de medição como um todo, dependendo da calibração dos
equipamentos, da verificação das dimensões e dos parâmetros de qualidade do produto, não
deixando de fora o controle do sistema, assim como da capacitação da mão de obra, e, nos casos de
automação, da calibragem e da manutenção desse sistema. Logo, a confiabilidade metrológica é
abrangente.

No vídeo da Dica do Professor, você vai saber como é alcançada a confiabilidade metrológica. Essa
condição leva à confiabilidade produtiva e à solidez no sistema de fabricação.

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Exercícios

1) A intercomparação é um dos processos para garantir que um laboratório esteja qualificado a


calibrar, fazendo a verificação de seu sistema cruzando seus resultados com os de outros
laboratórios sobre um padrão. Considerando que já temos um sistema de medição calibrado
e começamos a fazer medições, o que seria o estudo de repetibilidade?

A) Parâmetro associado à capacidade do sistema de medição em manter suas características e


estatísticas ao longo do tempo.

B) Parâmetro não negativo que caracteriza a dispersão dos valores atribuídos a um mensurado,
com base nas informações utilizadas.

C) Faixa dentro da qual as indicações do processo de medição são esperadas quando é


envolvido um mesmo operador, medindo a mesma característica do produto e em condições
operacionais idênticas.

D) Faixa dentro da qual as indicações do processo de medição são esperadas quando são
envolvidos diferentes operadores, medindo a mesma característica do produto e em
condições operacionais naturais do processo de medição.

E) Parâmetro associado à capacidade do sistema de medição em manter suas características


estatísticas ao longo do tempo.

2) Várias normas enumeram os requisitos para a verificação da capacidade do sistema de


medição por meio da confiabilidade metrológica; outras se calçam em confiabilidade ou na
análise de incertezas. Qual(is) fator(es) contribui(em) diretamente para a confiabilidade
metrológica?

A) Incerteza de medição, além de repetibilidade e reprodutibilidade.

B) Ensaios de estabilidade e linearidade.

C) Rastreabilidade dos instrumentos, treinamento, tendência, reprodutividade, repetibilidade,


estudo da linearidade e incerteza bem estimada em todo o sistema.

D) Estudos de linearidade, estabilidade, tendência, repetibilidade, reprodutibilidade,


rastreabilidade dos instrumentos e incerteza bem estimada.
E) O fato de ter um instrumento novo.

3) Quanto aos fatores pertinentes para estimar a incerteza de medição, avalie as afirmações a
seguir:

I. As alterações da temperatura e do material do instrumento, dos padrões de calibração e da


peça a ser medida podem afetar a incerteza de medição.

II. As condições ambientais, os materiais envolvidos no processo, as informações técnicas, a


incerteza herdada do padrão, a repetibilidade e a experiência do metrologista são
influenciadores da estimativa de incerteza.

III. A incerteza é determinada com precisão com base na análise de sistemas de medição
(MSA).

Assinale a alternativa correta.

A) Todas as alternativas estão corretas.

B) Somente a I está correta.

C) Somente a II está correta.

D) II e III estão corretas.

E) I e II estão corretas.

4) Todo instrumento de medição deve estar calibrado para garantir que está realmente
medindo o valor indicado. Logo, é importante que a calibração seja bem feita. Considerando
isso, o que é rastreabilidade?

A) Propriedade do resultado de uma medição ou do valor de um padrão estar relacionado a


referências estabelecidas.

B) Determinação do valor de uma grandeza.

C) Parâmetro não negativo que caracteriza a dispersão dos valores atribuídos a um mensurado,
com base nas informações utilizadas.

D) Parâmetro associado à capacidade do sistema de medição em manter suas características e


estatísticas ao longo do tempo.
E) Faixa dentro da qual as indicações do processo de medição são esperadas quando é
envolvido um mesmo operador, medindo a mesma característica do produto e em condições
operacionais idênticas.

5) Toda confiabilidade metrológica tem ramificação em diversas áreas, sendo fruto de um


somatório de fatores. Sabendo disso, avalie as afirmativas a seguir:

I. É a probabilidade de um produto, sistema ou ação em obter performance aceitável, sob


condições ambientais especificadas e por um período de tempo prescrito ou para o número
de ciclos de operação requerido para a sua missão ou tarefa.

II. É o conjunto de operações que estabelece, sob condições especificadas, a relação entre os
valores indicados por um instrumento de medição ou sistema de medição ou valores
representados por uma medida materializada ou um material de referência e os valores
correspondentes das grandezas estabelecidos por padrões.

III. É a capacidade de um sistema de medição fornecer resultados coerentes com a aplicação


do produto.

Assinale a alternativa correta.

A) Somente I e II estão corretas.

B) Somente I e III estão corretas.

C) Todas as afirmativas estão corretas.

D) Somente a I está correta.

E) Somente a II está correta.


Na prática
No nosso cotidiano, não paramos para pensar por que a confiabilidade metrológica é tão
importante para o bom funcionamento dos equipamentos que compramos, dos alimentos que
ingerimos, entre outras coisas. Entretanto, os efeitos positivos dessa confiabilidade repercute na
nossa vida mais do que imaginamos.

A dosagem correta de um medicamento adquirido na farmácia e o tamanho preciso das pastilhas


dos freios que trocamos em um carro são exemplos que podem representar problemas sérios em
caso de erro nas medidas de controle.

Veja o Na Prática e saiba mais sobre o assunto.


Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Concepção do módulo de melhoria da confiabilidade


metrológica, inserido no âmbito de serviços e assessoramento
remoto
Neste site, você pode aprofundar o conhecimento em metrologia. A globalização da economia faz
com que a concorrência no mercado mundial se torne cada vez mais acirrada, exigindo das
indústrias confiabilidade nos produtos fabricados e disponibilizados para o mercado mundial. Este
material propõe uma sistemática para a confiabilidade metrológica das medições realizadas no chão
de fábrica (ambiente laboratorial e ambiente fabril), considerando a aplicação de ferramentas, para
serem utilizadas na indústria, com funções educativa e executiva.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.

Confiabilidade metrológica em termografia aplicada em


sistemas elétricos
O diagnóstico de anomalias térmicas em dispositivos elétricos de indústrias e empresas de energia
é fundamental para a manutenção de suas plantas produtivas e a garantia do fornecimento de
energia. Nesse contexto, a termografia é uma técnica de inspeção não destrutiva amplamente
empregada no diagnóstico de anomalias térmicas. Neste trabalho, foi investigada a incerteza de
medição da termografia quando aplicada no diagnóstico de anomalias em conexões elétricas usadas
em sistemas de distribuição urbana.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
Confiabilidade metrológica
Neste vídeo, você vai saber mais sobre confiabilidade metrológica. Esse treinamento prepara
profissionais para um controle efetivo dos meios de medição, visando à obtenção da confiabilidade
metrológica e à qualidade dos produtos e dos serviços.

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