A Chegada de Lampião No Inferno

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JOSÉ PACHECO

A- CHECiADA DE LAMPE'ÃO'
NO rNfERN'O-
,
Direitos adquiridos e registrados de acôrdo com' o lei' no
, Biblioteca Nacional

~t'---=:R I '
~ J~lúdio~
'RUA VISCONDE DE 'PARNA!BA, 3042/50
\ '" 'FONE: 93-3897 .; SÃO PAULO-6
Inscrição C. G. C. N ,0 60.856.994

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JOSÉ PACHECO

A CHEGADA DE LAMPEÁO NO
INFERNO, -" ,

Um -cobro de Lcmpeõo
Por nome Pilão, Deitado
" Que, morreu numa trincheira
Um' certo tempo passado
Agora pelo sertão, '
Ando correndo vísõo
Fazendo mal as~ombrado.
E foi quem trouxe a notícia
l Que viu Lompeõo chegar
O inferno nesse dia ..
'Faltou pouco p'ra virar
Incendiou-se o merccdo
Morreu tanto. cão queimado
Que faz pena até contar.
Morreu a mãe de Canguinha
- \ O pai de Forrobodó
Cem netos de Parafuso
Um cão chorncdo Cotá
Escapuliu Bôca Insô.ssa'·
E uma moleco moço-
Quase queimava o Totó.
Morreram cem negros velhos
Que não trabalhavam 'mals~
, Um cão chamado Troz-có
Víro-volte e' Capataz
Tromba-sujo e Bigodei.rq
Um 'cão cbamadoGoféiro
Cunh<;ldo de Satanás. '
A CHEGADA DE LAMPEÃO NO INFERNO
5

4 J os É P A-C li E C O

O vigiafói e disse
Vamos tratar no chegada· A Satanás no salão:
Quando Lampeão bateu _ Sorbo vossa senhoria
Um moleque ainda moço Qua.oi chegou Lampeão
No portão apareceu Dizendo- que quer entrar
_ Quem é você cavalheiro? E eu vim lhe perguntar
_ Moloque sou cangaceiro Se dou-lhe o ingresso ou não.
Lamp 50 lhe rospondeu. _ Não senhor, Satanás disse ---
_ Moleque nõo sou vigia Vá dizer que vá amboro
n50 sou seu parceiro
I Só me chega gente ruim
_ E você aqui não entra Eu ondo muito cai poro
Sem dizer quem é primeiro ... Eu jáestbu com vontade
_ Moleque abrá o portão De botar mais da metade
Saiba que sou Lampeão . Dos que tenho cqui p'ra fora.
. Assombro do mundo inteiro. Lampeão é um bandido
Entõo êsse tal vigia Ladrão da hónestidade
Que trabalha no portão Só vem desmoralizar
Dá pisa que voa cinzo A nosso propriedade
Não procura distinção .E eu não vou procurar
o negro escreveu não leu Sarna para me coçar
A·macaíba comeu Sem haver necessidade.
Ali não se useperdôo. Disse 6 vigia: _.Patrão
O vigia disse assim: A coiso vai se arruinar
_ Fique fora que eu' entro ·Eu sei que êle se dana
Vou conversar com o chefe Quando não puder entrar
No gabinete do centro /' Satanós disse: - Isto é nada
Por certo êle não lhe quer Convide aí a negrada
Mas 'conforme o-que disser E leve os que precisar.
Eu levo o senhor p'ra .dentro. Leve cem dúzias de negros
Lampeõodisse: - Vá logo Entre homens e mulher
Quem \conversa perde hora Vá na loja de ferragem
Vá depressa e volte logo Tire as armas que .quiser
Eu quero pouco demora· . 1 É bom avisar também

Se não me derem o ingresso P' ra vir os,


negrqs que tem
Eu viro tudo oscvesso - Mais compadr~ Luclfer .
Toco fogo e vou embora. ./.
N CHEGADA DE LAMPElO NO INFERNO 7

JosÉ PACHECO
6 Nesse voz 'ouviu-se os tiros
Que só pipoca -no caco
E reuniu-se a negrada Lampeão pulava tanto
Primeiro chegou Fuchico Que parecia um macaco
Com um bacamarte velho Tinha um negro nesse meio
Gritando por Cão de Bico Que durante o t.irote}o
Que trouxesse o pau~da prensa Brigou tomando tabaco.
. t . .

E fôsse chamar Tangehça Acabou-se o tiroteio


Em casa de Maçarico.
E depois chegou CClmbota ! Por falta de muniç-ão
Mas ocaceté b~tia
Endireitando o boné Negro enrolcvc no chek:>
Formigueira e Trupezupé Pau e pedra que achavam
E o Crioulo Queté Era o que as mõos pegavam
Chegou Bagé e Peca ia , Socudlcm em Lampeão.
Rabisca e Cordão de Saia i - Chega atrás um armamento'
E foram chàmar Bazé. , Assim gritava 'o vigia
Veio uma diaba moço Traz a pá de mexer doce
Com a cclçolo de meia Losoo os ganchos de caria
Puxou a vara da cêrca Traz um bUro de macou
Dizendo: A coisa está feia Corre vai buscar um pau
Hoje o negócio se dana Na cêrca da padària.
E gritou: êta baiana ' Lucifer com Satanás ~
. Agora o tipo vadeia! Vieram olhar do terroço
E saiu a tropa armada Todos contra Lampeão
Em direção do terreiro De cacete faca e brcço
Com faca, pistola e facão O comandante po grito
Cravinote granqdeiro Dizia: - Briga bonito
Uma negra também vinho . Negrada chega-lhe o aço.,
j
Com a trempe da cozinha Lampeão pôde apanhar
E o pau de bater tempeiro. Uma caveira 'de boi
Quando Lampeõo deu fé Sooudiu na 'testa d'um
Da tropa negra ~nê0stada . Êle só pôde
, dizer:
.., - Oi!
,
Disse: -,- Só no f\bissíl1l\O Ainda correu dez braças, j

Oh! Tropalpretd dal'\bda!', . " E caiu segl!;lr~Qndo os CQlçdS


O chefe do batcilhão' Mas'eLj não sei porque fo~.
Gritou de armas ne mão
Toca-lhe fogo I'\egrada!
)
"
•..
8 .JOSÉ PACHECO A CHEGADA DE LAMPE ..\O ·NO I>lFEilNO !)

Estava travada a luta Leitores vou terminar


Mais de uma hora fazia Tratando de Lampeão
A poeira cobria tudo Muito embora que. nêo possa
Negro ambolcvoe gemio Vos dor-o explicação
Porém Lampeão ferido No inferno não ficou
Ainda não tinha -sído . No 'céu também não chegou
Devido a grande energia. Por certo está no sertão.
Lornpeõo pegou um chexo .
Quem duvidar desta história
E rebolou-o num cão
Pen'sar que, não foi assim
Mas o quê? Arrebentou
Querer zombar do meu sério
A vidraça do oitão
Não, acreditando em mim
Saiu um foge azulado
Vá comprar papel moderno
Lncendiou o mercado
E o armazém de algodão., Escreva para o Inferno
Mande saber de Caim. \
Satanás com êsse incêndio
Tocou no
buzio chamando
, Correram todos os negros
Que se achavam brigando
Lampeão pegou a olhar
Não vendo com quem brigar
Também foi se retirando.
Houve grande prejuiz o
No inferno nesse dia
Queimou-se todo dinheiro
Que Satanás possuía
*
Queimou-se o livro de pontos
Perdeu-se vinte mil contos
'Somente em mercadoria. .
Reclamavo Lucifer:
_ Ho~ror maior n60 precisa / .
.>: Os anos ruins de-sofro
Agora rndis esta pisa .
.Se não houver 'bom inverno
Tãa cedo aqui. no inferno I

Ninguém compra uma camisa.


LEANDRO GOMES DE BARROS

CiÕSTO COM .DESCiÔSIQ J

(O CASAMENTO DO SAPO)

~
. pireitos adquiridos e registrGdos de acôrdo como lei no
Biblioteca Nacional
/'

. RUA VISCONDE DE 'PARNAtBA:, 3042/50


FONE: 93-3897 - SÃO PAULO-6
Inscrição' C. G. C. N.· 60.856.994 , /

,.
LEANDRO GOMES DE BARROS

GOSTO COM DESGOSTO,

(O Casamento do Sapo)

*
-
No tempo do ccrrcnslsrnc
"
Tempo que os bichos fà19vam' -
Como hoje vivem os 'homens
Êles tornbém transitavam'
Havia ,muitas questões
Casos fundos que se davam.
Na cidade da Caipora
Perto da Tábua Lascada
Munidpio-da Re~ugem
Freguesia de S. Nada
Rua de não sei se há
Esquina da sorte minguadçl.

/
Morava nesse chalet
. Um sapo velho caldereiro
-Ti,nha uma grande família
Um filho ainda solteiro'
( O velho era arrumado
-E o filho tinha dinheiro,
'A filho. caçula dêle
Sapa também .qrrumcdó
Filha dcquele lugar
Por todo mundo estirnada
Por amar 'muito a seu pai
Ainda nõo ero casada.
OÔSTO COM DESG~STO
15
14 LEANDRO GOMES DE BARROS

o visconde Cururu
o visconde Cururu Deu parte ao caldereiro
Barão da cria quebrad~ Êsse com gôsto aceitou
Morava na Vila Nojento Quase recusa primeiro
Rua da Esfarrapada Mas depois se resolveu
Travessa do Alagodiço Contrataram para janeiro.
Na casa número nada.
Disse o sapo calde[eiro:
o visconde tinha um filho _ É preciso eu prepcrcr
Um rcpoz também solteiro Um Y,;estido muito fino.
Não era lá dêsses ricos Poro o noiva se casar
Mos também tinha 'dinhéi~o 'EuqllJe~o: dar um banqu~te
Eqgraçou-se da sopinha Para ninguém censúrar ..
A fllho dó caldereiro.
Compróu vestido de sêda
A víscondêsso dona Gio . Espartilhoecapela
Conhecendo que o filho amava Guarda-sol,' luvas, scpctos
A sapinha ccldereirc : Tudo, que agradasse a ela
Com vergonha não falava E disse que convidasse
Respeitava muito 00 pai Tôdas as amigas dela.
Por isso nada trotava.
Tinham tratado o casamento
Disse. a Gia ao Cururu: Para doze de janeiro
- Seu filho quer se casar - Em dezembro choveu muito
Mas tem-lhe muito respeito 'Quase que enche o barreiro
Acanhou-se ern lhe falar Resolveram o casamento
Venho consultar a você ,Devido a êsse aguaceiro.
Acha bom se ela cceitor?
Reuni.ram-se ,as famílias
Acho: ,Respondeu o sapo E derem, logo andamento
A sopa é bem arranjada . Saiu da Vi'la NOjenta
Filho de um homem distinto .Um g'rqnde acempanharnento
Um bellssimo comcrado Sapos de tôdes
., os- clnsses
.
, Ela e .o pai aceitando Que vinham ao cosomento.
Sé faz eu não digo nc:da.,
, 16 LEA'NDRO GOMES DE BARROS GÔSTO COM DESGÔSTO 17

Dessas três recém-chegadas


<: O visconde Cururu Foi um Jcrorccuçu
Metido em um casacão . Diriqiu-se ao gabinete
O noivo todo de prêto Do visconde Cururu
Trczic um bom correntão Olhem o desgôsto no gôzo
Um pencenês de cristal Quem quis mais comer peru?
Em. cada dedo um anelão.
Uma das cobras de campo
Deram corrrêço \ao banquete
Foi ao major' coldereiro ,
O ccldereiro tocava Não respeitou-lhe a patente ,
O sapo-boi que era noivo Nem se importofl com dinheiro
J unto da noiva berrovo .A noiva e os convidados
O visconde Cururu Ganharam logo o barreiro.
Um violão afinava.
A outra ficou por fora
A mulher do caldereiro Corno quem fica de espia
Ajudando a vestir a filha .'
Saiu beirando o barreiro
Dona Gio e outras damas Pôde agarrar dona Gia
Éstavam dançando quadrilha Já viram que festa essa
O caldereiro gritava Sem graça e sem poesia?
A festa brilha ou não brilha.
, A noiva pôde evadir-se
Estava o cunhado do, noivo -O noivo também fugiu
Tocando numrabecão Dos convidados só um
O sapo sunga Nenén Por feliz escopolíu
Descorria um violão A mãe da noiva danou-se
O Cururu no pleno Nem o noivo mais a viu.
A Gia no botijão.
Festa de sapo em bárreiro
Já o altar. estava armado Bicho de rumo em vasculho
. Estava a noiva se 'Ç1prontando -Hercnco de. 'filhos pobres
I
Os, copei ros pondo a mesa MHf:tó~em lugar cl'e gorgulho \'
. Perus e porcos assando 'É' como côco de negro
Quãndo de súbito viram Vem se acabar em barulho,
Três cobras virem chegando.
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A PELEJA DE- LEANDRO CiOMES


COM
'. ,

UMA .VELHA DE SERCiIPE


Direitos adquiridos e reqlstrodos de acôrdo com a lei na
Biblioteca Nacional
/'

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"

RUA VISCONDE DE PARNArBA, 3042L50


FONE: 93-3891 - SÃO PAULO-6
Inscrição C. G. C. ~.o 60.856.994
I

Â. PELEJA DE LEANDRO GOMES COM


UMA VELHA Df SERGIPE

*
Eu' ainda 'estovo orelhudo
Com êstes versos que faço
Porque nunca achei poeta
Que me fizesse embaraço
Porém uma velha -agora
Quase me quebro o cachaço.
A-velha /fêz-me subir
Onde nem urubu vai
-Andei n'uma dependuro
. Já esteve cai ou não col
'\
Ainda chamei tio ..a gato
- (
Trotei ~achorro por pai.
Quando partiu Joibabando
c corpo vinho tremendo
Antes de dar boa noite
De Iqnge me foi dizendo:
- "Méu amigo eu venho metê-Ia
Entre um' quente e dois fervendo".
Eu sei que o senhor é duro
Eu cá sou da mansidão -
Porém 'só: pode salvar-se
Se eu. 'lhe der 'a certidão'
Pois ó boi no terra at'heia
Até osvocos lhe dão.

--~~-~~===
22 LEANDRO GOMES E A VELHA DE SERGlPR LEANDRO GOMES E A VELHA DE SERGIPE 23

Eu. andava nos meus negocios A velho disse: - Já vou


No Estado de Serqipe E com pouco mais saiu
Uma noite me hospedei Então chegando na solo
Em casa de um tal Felipe Torceu a cara e cuspiu
Aonde havia uma velha - Sentou-se num bcnco velho
Da' Serro do Araripe. Tomou tabaco e tossiu.
Dlsse-rne o dono da cdsc: ,_ Eu quando :vi a marmota
_ Eu aqui :tenho um colosso Alta, sêco. e corroncudo "
Uma poetisa velha Tirar-me, uns olhos cinzentos
Que dá em poefa moço Se conservcndo sizuda
Quem faz verso nesta terra Eu disse com meus botões:
I ' . Está hoje comendo grosso. , Não há santo que me ácuda.
, 'Eu disse: - Sr. Fel'ipe r Então .. perguntou ál i., ,
Garanto à vossa mercê - Félipe para q4e me" quer?
Que neste planeta terra, Chamou-me com tal vexame
Não há mulher que, me' dê Que nem aprontei-me siquer!
O .velho olhou para rnlm - Para mostrar-lhe o escritor
E perguntou-me: - Por quê? Do pêso de uma mulher.
E disse: - Diqo-lbe Ja A velha cravou-me a vista
Moleque não me dá vaia E fêz um caltarejadó -'
Parola não me intimida Olhou-me de baixo acima
" Nem pabulagens me anseio Botou os quartos de um lado
E nas' unhas dessa velha' - Rosnou e partiu a mim
Não há duro que não caia. De chapéu de sol armado,
Disse o velho: - Sr. Barros Chegou e disse: - Senhor Barros
A velha é prova de fogo 'Eu desejava encontrá-I o
Discute com qualquer um Porque pelos seus escritos
E não precisa de rôgo Não deixo' de censúrá-Io ,
Eu disse: - Traga ela cá . 'Só quem não tern cohsciêncio
.A bôca é quem faz o [ôqo. Deixará de criticá-Io.
O velho Felipe disse: , Eu disse: -'- Minha senhorc:
_ Venha cá' dono marlhosa São os revezes da sorte
Se apronte pára ver.: , O gênio tem dois destinos: r

, A questão mais perigosa 'É um fraco e outro forte' ,'


A velha de :Iá soltou Uns blasf.emam contra a vida
Uma risada 'gostosa: / Outros aplaudem e morte.
"
- \

LEANDR{) GOMES E A VEL~A DE SERGIPE,

, 24 . LEANDRO GOMES' E A VELHA DE SERGIPE


Sai logo de madrugado
-Perquntou ela: - Por que? Vai ao campo trabalhar
Fala o senhor de mulher? A mulher fica deitada
/
Não aprendeu desculpor . Sem nada a incomodor
As faltas que uma tiver? De nove para dez .horcs
Nem. a sua .própria mãe- _É que vai se levantar.
Você não tira siquer. A velha diz isto assim:
Respondi: -- Minha senhora / - É coisa que não convém
Isto não quer dizer nada , Quem trabalha o' dia inteiro
Eu nõo falo sôbre a honra Há de descansar tombém
De uma donzelo ou casaca A mulher h60 é de ferro
Digo apenas, a mulher I Nem escrevo de ninguém.
É uma carga pesada. "- A senhora fique certa
Ela suspirou e disse: . (
O que digo é com razão
- Fique certo meu amigo. A mulher geme sem dor
Que para qualquer mulher , E gesta, sem precisõo
Casamento é um perigo Ccsornento pore o' homem
Casar-se com certos homens É ascarosa prisão. " -
Não dar-se maior castigo.' Disse a velha: - Meu senhor
Eu disse a ela: - Colega Não há metido que sirva
Você pode calcular Por melhor que a mulher seja
Uma mulher fica em casa Trabalhadora e ativa
O homem vai trabalhar ~Ie traz a vista nela
Com o suor de seu rosto ~ capaz de a comer viva.
Ganha para _ela estragar. Eu disse: - Minha senhora
A velha disse: - Não há Marido nenhum faz isso
Marido sem mau cóstume Sacrificar-se por elo
Quando não é cochccelro ·Isso é claro e bém visto
É vadio e tem ciúme Ela diz com -seus botões '
. Nestas condicões ássirri Correço o madeiro, Cristo .
Nõo há mulh~r que se arrume. Disse a velha: - Vossa mercê
Eu disse: - Minha. senhora. Não parece ser casado
O homem é um inocente Se achou mulher que caísse
Trabalhei'" porq, viver , Eu lamento o seu estado,
Até morrer' ou' ficar doente Como també;n me parece
Ela que ficá em casa • Que O senhor foi enjeitado .
Estraga doncdomente, '
26 LEANDRO GOMES ,RA YELHA DE SERGIPE
'.
LEANDRO GOMES E A -V.ELHA DE SERGIPE 27
Eu aí pensei um poUCO. Lhe disse: - A senhora sabe
E disse com meus botões;" Que a mulher é uma cruz
Essa cabra velha tem E sofre mais do que Cristo
Miseráveis expressões a marido que a conduz I
Agora me deu o título É um cego no deserto -
De filho de dez tostões. , Vaga sem guia e sem luz.
Disse a velha: - Porque 'acha Disse ela: - E a mulher-
Pesada assim a mulher
A que ponto vem cheqcr?
E diz que é um onimol
Haveró major sentença
Que nêle não h~ mister
Do ~ue umo se casar?
Só por ela lhe pedir
í Só ela pensa no genro
a que em casa nã~ _tiver? , Que a mãe tem que suportar:
Levanto que- a mulher pede -
Eu disse: - Minha senhora .
Verdura fruta e toucinho .
Ãinda não ouvi dizer' ,
Sanha, massa de tomcte "
Que um' genro neste mundo
Alho, pimenta, cuminho
Fizesse a sogra sofrer
Se não pedir ao marido -
Só êsse nome de sogra
Há de pedir ao yizinho?
Faz êle todo tremer.
a senhor-xíiz que a mulher A velha disse: - a senhor
De tôdas formas, atrasa
É muito livre em falar
Porque o pi res quebrou-se>'
Põe defeito em quem criou'
a bule largou a asa l)ma filha para te dar
A chaleira estó velha
Você agradece 1tonto
No fogo fura-se e vasa.
Que paga em maltratar.
Não -querendo essa despesa
Procure ·U!!! 'jeito qualquer ,J a Sr. chora a despesa
Que com O família tom
Faça de uma cuia um prato
E de um espêto talher '
Paro que foi se casar?
Não obrigou ninguém
Deixe de comprar fazenda
A .mulher está na razõo
Viva nú com a mulher.
D.e fazer queixa também.
Eu disse dentro.de mim
Êle vai poro o trabalho
a que serpente assanhada Volta. C!. hora que quiser
Qucl seria o coscovel.
,'Quem pa!-iue'ssô danada Deixondo com que em coso
Fiz log.0.sinal da cruz' /'- .Pode ordenar o mulher
E escolher -00 cozjnho
Disse: votes excomungado,
A comida que quiser.
28 LEANDRO GOMES E A VELHA ,DE SERGIPE LEANDRO GOMES E A VELHA DE S'ERGIPB 29

Vem cansado chega em casa' Eu disse: - Minha senhora-


Deita-se e vai descansar / Eu quero lhe confessar
Ela vai para cozinha Infeliz de um dêsses quatro
Fazer ,almôço ou jcntor Que chegasse a escapar
Depois. da meso está posta Os sofrimentos de todos
A mulher vai o chamar. . Qualquer po_de calcular.
. Acordo-o com muito jeito Ela disse: - Sim senhor
Trata-o com muito carinho No brando o Sr. se estende
Diz o jantar está pronto Não venha com penes mornos
Vamos Jantar rneurteqrinho Aonde tem quem entende
Eu esperei por você Quem por si julgar a mim
Você não janta sozinho. . Já vê que-qssim não me ofende.
,Me diga agora senhor . Eu não fu i tão mal 'casada .
, O que quer que a mulher faça Como Sr. está pensando'
Além de criar família Tive pouca? desavenças
Suportar mais a desgraça' Sempre estava tolerando
Ter um. marido vadio Tive muita paciência
Que jogue e beba cachaça.' Meu gêJ1io sempre foi brando.
Quando no fim da semana Mas meu primeiro marido
Vai o homem fazer feira Fêz-me demais esta as 1m:
Gasta o dinheiro dos compras Para casar-se com utra
No jôgo e na bebedeira Tencionava mo d r fim
A mulher "possondo em coso O s gund nv n n u-
Com fome a semana' inteira. não ra moi ruim.
Porque êle não traz QC1da' O terceiro desgo tou
A pobre infeliz nõo come Por eu não ser muito alva
/
Se os pais não morassem perto Dizia sempre por fora
'Ela teria que passar fome / Que eu o envergonhava
Pois o marido lhe trouxe Sabe o que fêz uma vez?
Cachaça empurrão e nome. Quis me vender como escrava.
. I
Eu pergunto-lhe: - A .Src.' o quarto era homem' sério
Teve em algum-tempo marido? . Dizia ser bom' marido
- Tive quatro disse ela Ê,sse só faltou fazer-me
Cada qucl mcls atrevido Beber chumbo âerr.etido
Ainda dou graças a Deus Roubou-me para'jogar
~Ies já terem morri do. , . Sapatos, chcle e vestido
\
30 LEANDRO GOMES E A VELHA DE SERGIPE J,EANDRO GOMES E A VELHA DE. SERGIPE 31

E assim mesmo o senhor . Mulher é o objeto


Só se 'refere à mulher A quem eu quero màis bem
Não há quem conte os mcildades
Contar-as faltas do homem
Isso o Sr. não quer . Que a mulher consigo tem
Eu tenho lembrança, Todos acreditam nela
Ela nõo crê em ninguém.'
Digo tudo que um tiver.
Então a velha me disse:
Eu-disse: - Vossa mercê' -.- O .homem é molicjoso
É uma fero no campo'
Entre os homens verdadeiro
Bafêjo de sua. bôca Tirá-se o mais mentiroso
'Onde.boter tirà o tampo Cheio de sofismoções
Seu pensornenro '8 a colero ' Impuro, pecqminoso.
E suo língua sarampó~, Quondo a velha se calou
Di~se <ri velha: -'- Sim senhor , Que deu-se fim a contendo
'Você gosta de ferir Eu disse: Só no inferno
- Agrava a quem não lhe ofende Se achará desta fazendo
É pode até lhe servir Foi o Diabo sem dúvida
É dêsses que quer dizer Que mondou-me este encomendo.
Porém não gosta de ouvir., 'Eu olndo não tinha achàdo
Então _eu. lhe -perquntei: Quem fizesse 'eu me calar '
- Já acabou de falar? Mas a demanda da velha ,
- Não, principiei agora Fêz âté eu me engasgar
Inda tenho '0 que falàr Botou-me em cantos tão feios
Eu sou velha neste mundo Que eu nõo julguei mais voltar.
Não ando por ver andar. Quando foi no outro dia
Eu disse': -,Também sou velho Arrumei-me, fui embora
Sou corrido e troquejcdo Com mêdo que a tal serpente
Eu .tenho visto as misérias Torna a vir cá fora
Que no mundo tem se dado Jur I y ltor moi
E milhares de mulheres Aond o t I I moro.
As manhas tem me ensinado.
, Uma mocinha solteiro
Dana-se 'poro, nomoror
.Com misuros e' ccrinhos
Fez'o homem' se. levar
Para' iludi-to, choro
*
E sorri- para o-motor .
. ,
VOCÊ DEVE LER?!-
O'rnundo moderno of.erece novos veículos de educação.
O rádio e a televisão levam aos mais distantes recantos do
mundo, sons e imagens de todos os acontecimentos.
Mas a pedra básica da educação ainda repousa 'sôbre
os livros: São os melhores amigos. Qualquer livro bom.
Qualquer leitura sadia. Tanto uma obra filosófica, pesada
e grandiosa corno a simples literatura em versos.
A.litE;!ratura em versos, ou literatura de cordel, é a
que mais encontra penetração, por 'ser mais suave, mais
fácil de assimilar e mais gostoso de ser lida, pois ela nosce
'da olmu do povo. Nela, além das idéias, encontramos o
embc!o dos versos ,e o éco das, rlrrios: 'Seus autores são
homens simples, que refletem no trabalho o sabor incon-
fundível da vida e da poesia que existe nos temas mais
. belos, por vêzes até mesmo ingênuos, São livros preclosls-
simos que podem alegrar qualquer tipo de espírito. .
Por isso, não nos custa ler mais e mais. Ler sempre
para alimenfar o que temos de precioso: aquilo que é a
verdadeira essência do sêr humano: o espírito.
Nas páginas dos livros desfilam paisagens bem des-
critas, situações maravilhosas, tesouros infinitos' de conhe-
cimento, variedades incalculáveis de novas palavras e ensi-
ncmentos-essencícís. Os ú?kos monumentos que o tempo
não consegue destruir nem corroer são os construldospelo
mente humana. São os feitos com o espirito. O ferro, o
mármore e o bronze. desgastam-se com o passar dos
séculos. Mas há um atualismo indestrutível em tudo que
foi construído com o 'espírito, com o material eterno das
idéias.. Por isso, um dos '-'nossos grqndes poetas, Castro
.
Alves.recomendou num. dos seus mais empolgantes poemqs:
"Ah! Bendito quem-semeio
Livros, livros a mcncheios ~.
e faz o pOV0pensar.- .
-, O livro coindo na alma
É fôlha que faz a palma,
é chuvo que foz o mar. /I •
•. é fácil aprender
violão aulas
em 7· sonoras
dias Ldísco
grátís

·,F PROFESSOR
~/ AUGUSTINHO
zACCAA:J

"~I

Adquira seu exemplar nas coses de mUSICa, livrarias ou


bancas de jornais. Se não o encontrar, envie a importância
de NCr$ 15,00 em cheque visado, valor declarado ou
vale postal pagóvel em São Paulo, em nome da Editôra
Prelúdio Ltda. - Rua Visconde de Parnaíba, 3042 -
Caixo Postcl, 10.640 - São Paulo

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