Forma e Exegese
Forma e Exegese
Forma e Exegese
E EXEGESE
1935
E
ARIANA,
A MULHER
1936
VINICIUS
DE MORAES
coleção
vinicius de moraes
coordenação
editorial
eucanaã ferraz
Copyright © 2011 by V. M. Empreendimentos Artísticos e Culturais Ltda.
isbn 978-85-359-1890-8
[2011]
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sumário
FORMA E EXEGESE 9
I
O olhar para trás 17
Sursum 21
Ilha do Governador 23
O prisioneiro 25
O bom ladrão 26
Ausência 28
II
O Incriado 31
A volta da mulher morena 38
A queda 39
O cadafalso 40
A mulher na noite 42
Agonia 43
III
A Legião dos Úrias 47
A última parábola 51
Alba 53
Uma mulher no meio do mar 55
O escravo 56
O outro 59
A música das almas 62
IV
O bergantim da aurora 65
A impossível partida 70
Três respostas em face de Deus 72
Variações sobre o tema da essência 74
A lenda da maldição 80
V
Os malditos 83
O nascimento do homem 87
A criação na poesia 92
Ariana, a mulher
Ariana, a mulher 97
posfácio
Uma poesia subjuntiva,
por Noemi Jaffe 109
arquivo
A transfiguração da montanha,
por Otávio de Faria 117
cronologia 135
17
Rumores chegariam a mim, distintos como passos
[na madrugada
Uma voz cantou, foi a irmã, foi a irmã vestida de branco!
[— a sua voz é fresca como o orvalho…
Beijam-me a face — irmã vestida de azul, por que estás triste?
Deu-te a vida a velar um passado também?
18
É que ela vai sofrer o instante que me falta
Esse instante de amor, de sonho, de esquecimento
E quando chega, a horas mortas, deixa em meu ser uma
[braçada de lembranças
Que eu desfolho saudoso sobre o corpo embalsamado
[do eterno ausente.
19
Agora porém estou vivendo da tua chama como a cera
O infinito nada poderá contra mim porque de mim quer tudo
Ele ama no teu sereno cadáver o terrível cadáver que eu seria
O belo cadáver nu cheio de cicatriz e de úlceras.
20
SURSUM
21
No branco lajedo os passos caminham, os anjos farfalham
[as vestes de seda
Homens, derramai-vos como a semente pelo chão!
[O triste é o que não pode ter amor…
Do órgão como uma colmeia os sons são abelhas eternas
[fugindo, zumbindo, parando no ar
Homens, crescei da terra como as sementes e cantai velhas
[canções lembradas…
Vejo chegar a procissão de arcanjos — seus olhos fixam
[a cruz da consagração que se iluminou no espaço
Cantam seus olhos azuis, tantum ergo! — de suas cabeleiras
[louras brota o incêndio impalpável da destinação
Queimam… alongam em êxtase os corpos de cera,
[e crepitando serenamente a cabeça em chamas
Voam — sobre o mistério voam os círios alados cruzando o ar
[um frêmito de fogo!…
Oh, foi outrora, quando nascia o sol — Tudo volta, eu dizia —
[e olhava o céu onde eu não via Deus suspenso
[sobre o caos como o impossível equilíbrio
Balançando o imenso turíbulo do tempo sobre a inexistência
[da humana serenidade.
22