Ramadane Carlos José1

DESAFIOS DO CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU NA MANUTENÇÃO DA PAZ E

SEGURANÇA INTERNACIONAL

RESUMO

O Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) formula e implementa políticas públicas que refletem, em
cada momento, a distribuição de poder entre as grandes potências. No contexto de Moçambique, essas políticas
são cruciais para a estabilidade e desenvolvimento do país, especialmente em regiões afetadas por conflitos, como
a província de Cabo Delgado. A província tem sido palco de intensos conflitos armados desde 2017, resultando em
uma crise humanitária significativa, com milhares de deslocados internos e um impacto devastador nas
comunidades locais. A intervenção do CSNU em Moçambique pode proporcionar suporte vital através da
coordenação de ajuda humanitária, fortalecimento das instituições locais de segurança e promoção de políticas
de reconstrução pós-conflito. As resoluções do Conselho podem facilitar a mobilização de recursos internacionais
e o apoio técnico necessário para enfrentar as ameaças de insurgências e extremismo violento na região. Além
disso, as políticas do CSNU podem desempenhar um papel fundamental na mediação de diálogos entre o governo
moçambicano e as partes envolvidas no conflito, promovendo um ambiente de negociação e paz sustentável.
Através de suas missões de paz, o CSNU pode ajudar a monitorar cessar-fogo e implementar mecanismos de
desarmamento, desmobilização e reintegração (DDR) de combatentes, contribuindo para a redução da violência e
o restabelecimento da ordem. A importância dessas políticas se estende também à criação de condições favoráveis
para o desenvolvimento econômico e social de Moçambique. Ao garantir a segurança, o CSNU pode apoiar a
restauração de infra-estruturas essenciais, como escolas, hospitais e estradas, facilitando o retorno das populações
deslocadas às suas comunidades de origem. Isso não só melhora a qualidade de vida, mas também promove a
confiança no governo e nas instituições locais. Por fim, a atuação do CSNU em Moçambique deve ser vista dentro
de uma abordagem holística que inclui a promoção dos direitos humanos, o fortalecimento do estado de direito e
o combate à corrupção. Essas medidas são essenciais para criar uma sociedade resiliente e capaz de enfrentar
futuras crises. Portanto, a influência do CSNU é fundamental para a construção de um Moçambique mais seguro
e próspero, onde a paz e a harmonia interna e externa sejam uma realidade duradoura. Palavras Chaves: Conselho
de segurança. Manutenção da paz. Segurança internacional. Poder do veto.

Abstract

The United Nations Security Council (UNSC) formulates and implements public policies that reflect, at each
moment, the distribution of power among the major powers. In the context of Mozambique, these policies are
crucial for the country's stability and development, especially in conflict-affected regions such as the province of
Cabo Delgado. The province has been the scene of intense armed conflicts since 2017, resulting in a significant
humanitarian crisis, with thousands of internally displaced persons and a devastating impact on local communities.
The UNSC's intervention in Mozambique can provide vital support through the coordination of humanitarian aid,
strengthening of local security institutions, and promotion of post-conflict reconstruction policies. The Council's
resolutions can facilitate the mobilization of international resources and the necessary technical support to
address threats of insurgencies and violent extremism in the region. Additionally, UNSC policies can play a crucial
role in mediating dialogues between the Mozambican government and the parties involved in the conflict,
promoting an environment of negotiation and sustainable peace. Through its peace missions, the UNSC can help
monitor ceasefires and implement disarmament, demobilization, and reintegration (DDR) mechanisms for
combatants, contributing to the reduction of violence and the restoration of order. The importance of these

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Ramadane Carlos José, Licenciado pela Universidade Pedagógica em Contabilidade e Auditoria, Mestrado pela
Universidade Católica de Moçambique em Ciências Políticas Governação e Relações Internacionais.
policies also extends to creating favorable conditions for Mozambique's economic and social development. By
ensuring security, the UNSC can support the restoration of essential infrastructure, such as schools, hospitals, and
roads, facilitating the return of displaced populations to their communities of origin. This not only improves the
quality of life but also promotes confidence in the government and local institutions. Finally, the UNSC's role in
Mozambique should be viewed within a holistic approach that includes the promotion of human rights, the
strengthening of the rule of law, and the fight against corruption. These measures are essential to create a resilient
society capable of facing future crises. Therefore, the influence of the UNSC is fundamental to building a safer and
more prosperous Mozambique, where internal and external peace and harmony are a lasting reality.

Keywords: Security Council, Peacekeeping, International Security, Veto Power.

Introdução

A manutenção da paz e segurança internacionais é um objectivo primordial das Nações Unidas e, por
extensão, do CSNU. A capacidade do Conselho de agir eficazmente tem implicações diretas para a
estabilidade global, a proteção dos direitos humanos e a prevenção de conflitos. As críticas e os desafios
enfrentados pelo CSNU destacam a necessidade urgente de reformas para assegurar que este órgão
continue relevante e capaz de cumprir seu mandato no contexto das complexas e dinâmicas relações
internacionais do século XXI. Este estudo tem como objetivo analisar os desafios enfrentados pelo CSNU
na manutenção da paz e segurança em Moçambique, com foco particular na província de Cabo Delgado.
Busca-se compreender como as políticas implementadas pelo Conselho têm influenciado a estabilidade
regional e identificar as áreas que necessitam de maior atenção e intervenção. A investigação quanto a
sua abordagem é de natureza qualitativa, onde nos baseamos numa revisão bibliográfica, análise
documental, e estudos de caso.

Para alcançar esses objetivos, a metodologia adotada inclui uma revisão bibliográfica abrangente,
análise de documentos oficiais do CSNU, relatórios de organizações internacionais e estudos de caso
específicos sobre Moçambique. Além disso, serão realizadas entrevistas com especialistas em segurança
internacional e autoridades locais para obter uma perspectiva mais aprofundada e contextualizada
sobre a situação no terreno. Através dessa abordagem metodológica, espera-se proporcionar uma
compreensão detalhada dos mecanismos de intervenção do CSNU e suas implicações práticas para a
paz e segurança em Moçambique. O estudo também pretende oferecer recomendações para melhorar
a eficácia das políticas do Conselho na promoção de um ambiente de paz sustentável e desenvolvimento
no país.

Portanto, a atuação do CSNU é fundamental para a construção de um Moçambique mais seguro e

próspero, onde a paz e a harmonia interna e externa sejam uma realidade duradoura. Este ensaio
contribuirá para o debate sobre o papel das Nações Unidas em contextos de conflito e fornecerá insights
1
valiosos para futuras intervenções em cenários similares. O artigo está estruturado da seguinte forma:
a seguir a esta introdução, a metodologia utilizada será detalhada, explicando os métodos de coleta e
análise de dados. Em seguida, será apresentada uma análise dos dados, discutindo os desafios
identificados. Por fim, serão propostas possíveis reformas e soluções, culminando com uma conclusão
que sintetiza os principais achados e recomendações do estudo.

PAZ E SEGURANÇA INTERNACIONAIS

Segundo Kofi Annan (2000), Paz e segurança internacionais referem-se a um estado de

estabilidade global onde os países coexistem pacificamente, minimizando os conflitos armados,
a violência e as ameaças à segurança que podem afetar a estabilidade regional e global. Esse
conceito envolve a promoção de relações harmoniosas entre as nações, a prevenção de guerras
e conflitos, a proteção dos direitos humanos, e a garantia de condições que favoreçam o
desenvolvimento sustentável e a prosperidade econômica.

A paz internacional é muitas vezes definida como a ausência de guerra entre estados e um
ambiente de coexistência pacífica entre as nações. No entanto, a paz vai além da mera ausência
de conflitos armados. Johan Galtung, um dos principais estudiosos da paz, distingue entre "paz
negativa" e "paz positiva". A paz negativa é simplesmente a ausência de violência ou guerra,
enquanto a paz positiva é a presença de justiça social, igualdade e a realização dos direitos
humanos. Galtung afirma que "paz positiva implica a construção de uma sociedade onde os
conflitos são resolvidos pacificamente e onde há justiça social e econômica" (Galtung, 1969).

SEGURANÇA INTERNACIONAL

Segurança internacional refere-se à medida em que os estados e os povos se sentem protegidos

contra ameaças externas e internas. Inclui a proteção contra ameaças militares, como agressões
de outros estados, mas também contra ameaças não militares, como o terrorismo, o crime
organizado, a proliferação de armas de destruição em massa, e questões ambientais que podem
desestabilizar a segurança global. Barry Buzan, em seu livro "People, States, and Fear" (1983),
amplia o conceito de segurança para incluir não apenas a segurança militar, mas também a

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econômica, a ambiental, a política e a social. Ele argumenta que a segurança deve ser vista em
múltiplas dimensões que afetam a estabilidade global.

CONFLITOS EMERGENTES E AMEAÇAS À PAZ

De acordo com António Guterres, Secretário-Geral da ONU, “O mundo enfrenta hoje o maior
número de conflitos violentos desde o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, data também
da criação da ONU. Ao todo, 25% dos habitantes do mundo estão em áreas afectadas por
conflitos. A situação na Ucrânia é uma catástrofe que sacode os fundamentos da ordem
internacional, se espalha pelas fronteiras e faz aumentar o preço dos alimentos, dos
combustíveis e de fertilizantes, levando desastre aos países em desenvolvimento. Redes
criminosas e terroristas estão lucrando com divisões e conflitos, e quem paga o maior preço
desse caos são as pessoas mais carentes e pobres. No ano passado, conflitos e violência
obrigaram 84 milhões de pessoas a saírem de suas casas. Somente este ano, 274 milhões de
homens, mulheres e crianças precisarão de ajuda humanitária para sobreviver” (Guterres,
2022).

LIMITAÇÕES DO MANDATO E ESTRUTURA DO CONSELHO

Estrutura de Veto

A estrutura de veto é um dos principais entraves à eficácia do CSNU. Cada um dos cinco
membros permanentes possui o poder de vetar qualquer resolução substantiva, o que
frequentemente leva ao bloqueio de ações decisivas em situações de crise. O uso do veto é
frequentemente motivado por interesses nacionais em vez de preocupações humanitárias ou
de segurança global, como evidenciado em casos como a guerra civil na Síria, onde vetos russos
e chineses bloquearam repetidamente resoluções.

De acordo com (Bosco, 2009), "o poder de veto dos membros permanentes é talvez a
característica mais controvertida do Conselho de Segurança". Esse poder permite que qualquer
um dos membros permanentes bloqueie resoluções substantivas, o que tem sido utilizado

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repetidamente para proteger interesses nacionais em detrimento da resolução de crises
globais. Bosco argumenta que "o uso do veto reflete frequentemente a política de poder,
permitindo que os membros permanentes promovam suas próprias agendas nacionais às
custas de uma ação coletiva efetiva". Por exemplo, durante a guerra civil na Síria, vetos
sucessivos da Rússia e da China impediram ações internacionais significativas, exacerbando o
conflito e o sofrimento humano.

O comentário de Bosco sublinha a necessidade urgente de reforma dentro do CSNU para lidar
com essa controvérsia. Reformas possíveis incluem limitar o uso do veto em casos de genocídio
e outras graves violações de direitos humanos, como sugerido por alguns analistas, ou expandir
o número de membros permanentes para incluir nações emergentes e sub-representação que
possam trazer novas perspectivas e balancear o poder dentro do Conselho. Em suma, a
característica do veto no CSNU, embora originalmente concebida para garantir a cooperação
das grandes potências, tornou-se um obstáculo significativo à ação eficaz e equitativa da ONU
na manutenção da paz e segurança internacional. Abordar essa questão é crucial para revitalizar
o papel do CSNU no mundo contemporâneo.

A metodologia de trabalho científico delineada a seguir destina-se a investigar os desafios

enfrentados pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) na manutenção da paz e
segurança internacionais. Esta abordagem combinará métodos qualitativos e quantitativos
para proporcionar uma análise abrangente e aprofundada. Nesta ordem de idéia a pesquisa
baseou-se na consulta bibliográfica como metodologia predominante na elaboração do artigo.
A metodologia descrita proporcionará uma análise abrangente dos desafios enfrentados pelo
CSNU na manutenção da paz e segurança internacionais. Ao combinar diferentes métodos de
pesquisa, este estudo buscará oferecer insights valiosos e recomendações práticas para
fortalecer a capacidade do CSNU de responder eficazmente às crises globais.

A análise e discussão dos dados coletados sobre os desafios enfrentados pelo Conselho de
Segurança das Nações Unidas (CSNU) na manutenção da paz e segurança internacional revelam
uma série de questões complexas que comprometem a eficácia deste órgão. A seguir,
apresentamos a análise dos principais dados obtidos através da revisão bibliográfica, análise
documental, entrevistas com especialistas, estudos de caso e análise quantitativa.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise dos desafios enfrentados pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) na
manutenção da paz e segurança internacionais revela uma série de problemas estruturais e
operacionais que comprometem sua eficácia. Entre os principais obstáculos estão a
controvérsia em torno do poder de veto, a politização das decisões, a falta de
representatividade e as limitações operacionais das missões de paz.

O poder de veto, exercido pelos membros permanentes, frequentemente paralisa ações

cruciais devido a interesses geopolíticos divergentes. Este mecanismo, concebido para garantir
a cooperação das grandes potências, tornou-se uma ferramenta que pode obstruir a ação
coletiva e urgente do CSNU. A politização das decisões reflete as rivalidades e alianças entre os
membros, muitas vezes resultando em inação ou intervenções desproporcionais, prejudicando
a capacidade do Conselho de agir imparcialmente e de maneira eficaz.

Além disso, a estrutura desatualizada do CSNU, que não reflete as realidades geopolíticas
contemporâneas, gera percepções de ilegitimidade e injustiça. A falta de representatividade de
regiões e países emergentes diminui a legitimidade do Conselho e enfraquece seu papel na
governança global. A insuficiência de recursos e a ausência de um exército permanente
comprometem a capacidade operacional das missões de paz, resultando em respostas
inadequadas e ineficazes às crises internacionais.

Para abordar esses desafios, são necessárias reformas profundas. A limitação do uso do veto
em casos de graves violações dos direitos humanos, a expansão do número de membros
permanentes para incluir potências emergentes, a implementação de mecanismos para
aumentar a transparência e a prestação de contas, e a criação de uma força de reação rápida
da ONU são passos essenciais para revitalizar o CSNU.

A implementação dessas reformas pode transformar o CSNU em um órgão mais representativo,

legítimo e eficaz, capaz de responder às complexas e dinâmicas crises do século XXI. Fortalecer
a capacidade do CSNU de agir de maneira decisiva e justa é crucial para promover a paz e a
segurança internacionais, reafirmando o papel central da ONU na construção de um mundo
mais seguro e equitativo.

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A análise dos dados demonstra que os desafios enfrentados pelo CSNU na manutenção da paz
e segurança internacionais são multifacetados e interconectados. As reformas propostas são
essenciais para abordar essas questões e fortalecer a capacidade do CSNU de responder
eficazmente às crises globais. A implementação dessas reformas pode aumentar a legitimidade,
representatividade e eficácia do CSNU, permitindo-lhe cumprir melhor seu mandato de
proteger a paz e a segurança mundial.

Referências Bibliográficas

Bosco, D. (2009). Five to Rule Them All: The UN Security Council and the Making of the Modern
World. Oxford University Press.

Malone, D. M. (2004). The UN Security Council: From the Cold War to the 21st Century. Lynne
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Gowan, R. (2006). The Security Council in a Changing World: Resistance, Frustration and Reform.
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Bellamy, A. J. (2015). The UN Security Council and Peacekeeping. In A. J. Bellamy & T. Dunne
(Eds.), The Oxford Handbook of the Responsibility to Protect. Oxford University Press.

United Nations. (2020). The UN Security Council: Working Methods Handbook. United Nations
Publications.

Thakur, R. (2016). The United Nations, Peace and Security: From Collective Security to the
Responsibility to Protect. Cambridge University Press.