A Vida Da Mente Sistemas de Funcionamento

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AUFKLÄRUNG, João Pessoa, v.9, n.1., Jan.­Abr., 2022, p.

127­146
https://doi.org/10.18012/arf.v9i1.61289
Recebido: 30/11/2021 | Aceito: 30/03/2022
Licença: Creative Commons 4.0 International (CC BY 4.0)

A VIDA DA MENTE: SISTEMAS DE FUNCIONAMENTO DO ENCÉFALO,


MEDITAÇÃO
[THE LIFE OF THE MIND: SYSTEMS OF OPERATION OF THE ENCEPHALON, MEDITATION]

Amâncio Maurício Xavier Rêgo*


Universidade Púnguè, Moçambique

RESUMO: O artigo apresenta uma abordagem ABSTRACT: The article presents a philosophical
filosófica sobre ‘a Vida da Mente’ e tem como approach about ‘the Life of the Mind’ and has
principal objectivo de descrever o percurso e o as main objective of describing the course and
ciclo de Vida da Mente, para tal recorreu­se a the cycle of Life of the Mind, for such the
pesquisa bibliográfica e a reflexões pessoais. O bibliographical research and the personal
estudo permitiu compreender que, a Mente reflections was appealed. The study allowed to
constitui a segunda entidade do Organismo understand that, the Mind constitutes the second
Humano que emerge do Esp rito para o servir, entity of the Human Organism that emerges of
no princ pio a Mente encontra­se ligada ao the Spirit to serve him, in the beginning the
Esp rito e contempla o mundo com alegria, mas Mind is linked to the Spirit and it contemplates
pelo desejo desliga­se do Esp rito passando a the world with happiness, but because of the
experimentar o bem e o mal e a preocupar­se desire the Mind lose the connection with the
com a sua própria existência separada do Spirit starting to try the good and the badly and
Esp rito o que culmina com um medo que a faz getting worry with her own existence far of the
voltar a se ligar e a se dissolver completamente Spirit that culminates with a fear that makes the
no Esp rito onde finalmente encontra a Mind to return the link and being dissolved
verdadeira felicidade. completely in the Spirit where finally she finds
PALAVRAS­CHAVE: Esp rito; Mente; Corpo; the true happiness.
Funcionamento do Encéfalo; Meditação KEYWORDS: Spirit; Mind; Body; Operation of
the encephalon; Meditation

INTRODUÇÃO

A Mente é uma parte do Organismo Humano de extrema importância, é através


da Mente que o Ser Humano inventou e tem inventado as várias coisas que
utiliza na sua vida quotidiana; as habitações, os alimentos, os vestuários, os
medicamentos, os utens lios, os meios de transporte, as artes, entre as várias outras
coisas, são inventadas através da Mente Humana. Contudo, a Mente Humana constitui
também a causa de vários problemas que se registam neste lindo e maravilhoso Planeta
Terra, como no caso das guerras, das mudanças climáticas, da poluição, da fome, do
estresse, do pânico e das doenças.
Por essa razão, a Mente deve conhecer­se a si mesma e compreender­se
profundamente de modo a servir correctamente ao Esp rito, ao Corpo, aos outros
* Professor no Departamento de Psicologia e Pedagogia da Universidade Púnguè em Manica.
Mestre em Gestão e Administração da Educação pela Universidade Católica de Moçambique.
Investigador de matérias sobre Educação e Espiritualidade. E­mail: amancior59@gmail.com
Amâncio Maurício Xavier Rêgo

Organismos e ao Planeta Terra no geral. Ela pode ser abordada sob o olhar de diferentes
áreas de conhecimento, como a psicologia, a neurologia, a filosofia, a religião e a
espiritualidade; Neste texto, a Mente é abordada no âmbito filosófico e da
espiritualidade, na medida em que, foram efectuadas reflexões acuradas sobre a Mente
com base na análise de obras literárias, resultantes essencialmente de Wu Hsin,
128 Bhagavan Sri Ramana Maharshi e a B blia Sagrada, bem como nas experiências
pessoais durante as meditações profundas.
Assim, este texto apresenta respostas filosóficas de questões fundamentais sobre
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a Mente, a saber: Qual é a posição da Mente no Organismo? Qual é o substrato central


da Mente no Organismo? O que é a Mente? Como se origina a Mente? Qual é a função
da Mente? Como se transforma a Mente? Quais são os estados da Mente? Qual é o
percurso da Mente? Como é o ciclo de vida da Mente? O que acontece com a Mente na
sua fase de velhice? Quando é que a Mente retorna ao estado de percepção e de
silêncio?
Os conhecimentos patentes neste texto podem inspirar o leitor a tomar atitudes
favoráveis para o autoconhecimento, o bem­estar da sua Mente e consequentemente do
seu Corpo e, ainda para o desenvolvimento de qualidades como sabedoria, compaixão e
amor.

1.A POSIÇÃO DA MENTE NO ORGANISMO


O Organismo Humano é composto por três entidades, nomeadamente, o Espírito,
a Mente e o Corpo. Em primeira posição encontra­se o Esp rito ou Esp rito Humano,
que se origina do Esp rito Cósmico, neste caso, é o Co­criador e representante do
Espírito Cósmico ou do Supremo Criador do Cosmos, que não tem forma mas emite
partes de si com essências e formas específicas que se materializam para cumprir um
propósito. O Esp rito, por sua vez, origina e orienta a Mente bem como cria, constrói e
administra o Corpo. Essa sequência em que uma entidade origina a outra entidade pode
ser observada nas seguintes palavras de Wu Hsin, “Aquilo que é conhecido é sustentado
pelo desconhecido, que, por sua vez, é sustentado pelo incognosc vel. Ignorar isso é a
loucura dos homens” (ANÓNIMO, 2018, p. 44). O incognosc vel é o Esp rito Cósmico,
o desconhecido é o Esp rito Humano, o conhecido é a Mente, a Personalidade, o traço
t pico de uma pessoa que determina a disposição do vis vel ou Corpo. Espírito é a
entidade invisível que cria, constrói e administra o que cria; É ainda o seu poder criador
ou vivificante. Analogamente, é o sol e a sua luz ou o soprador e o seu vento.
O Esp rito Humano é semelhante ao Esp rito Cósmico, pois constitui uma
pequenininha saliência integral do próprio Esp rito Cósmico, essa semelhança significa
que o Ser Humano também é perfeito, Pura Consciência e Puro Criador como o
Supremo Criador do Cosmos, assim, o Esp rito Humano tem poderes semelhantes aos
do Supremo Criador, por isso se diz que o Homem foi feito a imagem e semelhança de
Deus, como narra a B blia, “Então disse Deus: "Façamos o homem à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança […] Criou Deus […] homem e mulher os criou” (Gn. 1,
26­27). Todavia, embora ajude a obter os meios necessários para o Esp rito fazer crescer
e curar o Corpo, a Mente do Esp rito Humano, quando está separada deste, impede a
manifestação do poder do seu Esp rito, limitando a acção do Esp rito na administração
do Corpo, ou seja, com a Mente não fundida no seu Esp rito, este limita­se a manter o
Corpo imperfeito vivo fazendo­o crescer, curando­o, revigorando­o e regenerando­o,
sobretudo durante sonos profundos.
Uma Mente separada, apenas gere o Corpo, não participa na construção do Corpo
A Vida da Mente: sistemas de funcionamento do encéfalo, meditação

por estar em desarmonia com o Esp rito, por isso este aproveita momentos de sono
profundo, quando a Mente está completamente integrada nele, para construir e regenerar
o Corpo. Num súbito perigo real o Esp rito integra automaticamente em si a Mente
separada e age logo, depois a Mente emerge e exclama, ‘Afinal Deus existe!’. Nesse
caso, o Esp rito preservou o Organismo sozinho, mas se a Mente estivesse ligada
agiriam juntos e não exclamaria por conhecer e ser fiel ao Esp rito que a originou e no 129
qual vive e descansa. A Mente deve ficar ligada ao Esp rito e confiar só nele, tal como
diz o próprio Esp rito, “ […] não tema, pois estou com você; […] o fortalecerei […]; Eu

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o segurarei com a minha mão direita” (Is. 41, 10).
O Esp rito pode manifestar o poder semelhante ao do Esp rito Cósmico somente
quando a sua Mente estiver no Estado de Silêncio Acabado (ESA). Nos estados de
Percepção e de Pensamento o Esp rito Humano não manifesta o seu poder divino.
Diferentemente do estado de Percepção no qual a pessoa compreende a verdade sobre a
vida, o que a liberta e a faz sentir a Paz, no estado de Pensamento a pessoa não
compreende a verdade sobre a vida, o que a escraviza e a faz sentir o sofrimento.
É isso que acontece com as pessoas iluminadas comparativamente às não
iluminadas, as pessoas iluminadas percebem a verdade pelo facto das suas Mentes
estarem ligadas aos respectivos Esp ritos mas não conseguem manifestar o poder divino
porque ainda não são perfeitas ou as suas Mentes ainda não estão fundidas nos seus
Esp ritos, por outro lado, as pessoas não iluminadas não percebem a verdade pelo facto
das suas Mentes estarem separadas dos respectivos Esp ritos e também não conseguem
manifestar o poder divino porque são igualmente imperfeitas. Assim, o Esp rito Humano
e o Esp rito Cósmico são semelhantes no seu poder, porque o Esp rito humano é
saliência integral do Esp rito Cósmico, mas o poder do Esp rito Humano é obstru do
pela sua Mente impura, segundo o trecho abaixo:
De acordo com o ensinamento da Vedanta, esta realização de Deus ou
reconciliação com Ele, é a meta da vida humana; […]. O esquecimento de nossa
verdadeira natureza ou Divindade é a fonte de todo o sofrimento. Não há diferença
real entre Jivatman (ser individual) e Paramatman (Ser Supremo), […] É o mesmo
esp rito consciente que existe em ambos; apenas que em um caso ele brilha
parcialmente, devido às limitações, […] no outro ele brilha livre e completamente.
Portanto quando pela pureza e sabedoria o homem encontra seu Ser real, então este
véu cai e homem e Deus tornam­se um e inseparáveis (PARAMANANDA, 1910,
p. 4).
Desse modo, encontramos três categorias de pessoas, a saber, pessoas iluminadas
perfeitas, pessoas iluminadas imperfeitas e pessoas não iluminadas imperfeitas. As
pessoas iluminadas perfeitas já existiram neste mundo mas de forma esporádica, é o
caso de Jesus Cristo, nelas a Mente está perfeitamente fundida no seu Esp rito, o que as
possibilita compreender plenamente a verdade e manifestar plenamente o poder divino,
elas compreendem a estrutura e o funcionamento do Cosmos e de cada ser no Cosmos
bem como a vida e os fenómenos naturais, por isso, apenas com base num simples
desejo seu harmonizado com os princ pios Cósmicos, conseguem manifestar os poderes
divinos de curar os outros, ressuscitar os outros, dominar os fenómenos naturais,
transfigurar­se, entre outras manifestações.
As pessoas iluminadas imperfeitas existem no nosso mundo, mas ainda são
muito poucas e vão aumentando lenta e progressivamente, nelas a Mente está ligada ao
seu Esp rito, o que as possibilita sentir a Paz e compreender de que a sua essência é
Espiritual, compreender as verdadeiras causas e soluções do sofrimento no mundo, e
tentar alguma acção que contribua para acabar com o sofrimento no mundo. As pessoas
Amâncio Maurício Xavier Rêgo

não iluminadas imperfeitas constituem a maioria, nelas a Mente está separada do seu
Esp rito, o que as possibilita sentir o sofrimento e não perceber de que a sua essência é
Espiritual, elas não entendem as verdadeiras causas e soluções do sofrimento no mundo,
preocupam­se com a satisfação dos desejos do Corpo, a satisfação do orgulho e a
demonstração da sua capacidade de dominar os outros.
130 O Esp rito pode ser encontrado no Estágio Passivo, Revelado ou Activo. O
Estágio Passivo é aquele no qual a Mente gere o Corpo seguindo apenas informações de
fontes diferentes do Esp rito, corresponde ao estado mental de pensamento, em que a
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Mente desconhece perfeitamente o Esp rito considerando­o como ser de outro mundo,
nesse Estágio predomina o uso da força, a preocupação para a satisfação dos desejos, o
medo da morte, o ódio, os conflitos, as acções de autodestruição e de destruição do
próximo e do ambiente. Fazem parte desse estágio a maioria das pessoas do mundo em
que vivemos.
O Estágio Revelado é aquele no qual a Mente gere o Corpo seguindo algumas
informações do Esp rito, corresponde ao estado mental de percepção, em que o Esp rito
começa a se revelar para a Mente, que passa a ter noção de Esp rito e a reconhecer a sua
existência no Organismo, nesse Estágio predomina o dom nio dos desejos, o abandono
do interesse pelas coisas do mundo e a prática sistemática da meditação, começam a
surgir e a prevalecer os sentimentos e as acções de amor, compaixão, e vontade de fazer
qualquer coisa para ajudar a humanidade a compreender a verdade e a livrar­se do
sofrimento. Nesse Estágio temos exemplos de pessoas iluminadas, como João Batista
(Jo. 1, 8) e Sidarta Gautama (ALENCAR; MOREIRA, 1999).
O Estágio Activo é aquele no qual a Mente gere o Corpo seguindo apenas
informações do Esp rito, equivale ao estado mental de silêncio, em que a Mente conhece
perfeitamente o Esp rito e o serve de forma plena, nesse Estágio predomina o usufruto
da imortalidade, o puro amor e o uso do poder divino, podendo curar ou ressuscitar os
outros usando simples palavras como ‘levante­se’, tal como relata a B blia, “disse ao
paral tico – eu lhe digo: Levante­se, […] Ele se levantou, pegou a maca e saiu à vista de
todos” (Mc. 2, 10­12) e “ […] sabiam que ela estava morta. Mas ele a tomou pela mão e
disse: "Menina, levante­se! " O esp rito dela voltou, e ela se levantou
imediatamente” (Lc. 8, 53­55). Nesse Estágio o exemplo é Jesus Cristo.
Em segunda posição encontra­se a Mente, que emerge do Esp rito. A Mente serve
como base para a construção do Corpo, assim, a qualidade da Mente determina a
qualidade do Corpo. O plano original de construção do Corpo criado pelo Espírito é
inicialmente implementado numa Mente pura, mas na medida em que ela vai sendo
influenciada por informações diferentes do Esp rito, a originalidade do plano de
construção do Corpo vai se perdendo de vida em vida até que se proceda o retorno à
originalidade ou perfeição, conforme recomenda a B blia, “Portanto, sejam perfeitos
como perfeito é o Pai celestial de vocês” (Mt. 5, 48). Nesse caso, o Pai celestial é o
Supremo Criador do Cosmos que originou o Esp rito ou o Ser Humano, por isso,
quando se alcança o Estágio máximo de evolução humana passa­se a ter capacidades
semelhantes com as do Pai celestial. Os verdadeiros filhos do Pai celestial são aqueles
que andam no Esp rito, amam a todos e respeitam o livre arb trio dos outros, vivem na
plena fé e graça divina, tem o dom nio dos seus desejos e não fazem parte do mundo.
A Mente serve também como gestora do Corpo, podendo gerir o Corpo segundo
ordens do Esp rito ou ordens externas ao Organismo. Um dos exemplos mais notórios
no qual a Mente funciona como gestora do Corpo é quando ela informa ao Corpo de que
há perigo e este, por sua vez, mobiliza­se para a protecção, defesa ou fuga; Por outro
lado, quando a Mente informa ao Corpo de que o perigo já passou e não há mais
nenhum problema, o Corpo entra em relaxamento e tranquiliza­se. Quando os avisos de
A Vida da Mente: sistemas de funcionamento do encéfalo, meditação

perigo que a Mente transmite ao Corpo forem frequentes, acabam causando a s ndrome
de pânico e o definhamento do Corpo.
Em terceira posição está o Corpo, que serve de instrumento de manifestação do
Espírito através da Mente. Cabe ao Corpo cumprir obrigatoriamente as ordens da
Mente, não importa se são ordens boas ou ruins, quando as ordens ou informações
frequentes forem de paz e amor, então o Corpo enche­se de felicidade e vitalidade, 131
todavia se as informações forem de conflito e ódio, o Corpo enche­se de infelicidade e
mortalidade.

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A estrutura do Organismo assemelha­se à estrutura básica de uma fam lia nuclear,
na qual existe Pai, Mãe e Filhos. O Pai corresponde ao Esp rito, ele origina e orienta a
Mãe, cria e administra os Filhos. A Mãe corresponde a Mente, ela emerge do Pai, ou
seja, a Mãe (mulher) forma­se pela costela do Pai (homem), como refere a B blia, “Com
a costela que havia tirado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher e a trouxe a
ele” (Gn. 2, 22), no ventre dela constroem­se os Filhos e ela gere os Filhos durante o seu
crescimento. Por sua vez, os Filhos equivalem ao Corpo, cujo plano de criação vem do
Pai.
O Esp rito é o mesmo em todas as pessoas, o que as torna mais espec ficas ou o
que as distingue é a caracter stica das suas Mentes que, por sua vez, determina a
caracter stica dos seus Corpos. As Mentes são diferentes porque o Esp rito fornece dons
ou habilidades diferentes em algumas pessoas comparativamente às outras, o que
permite a realização de diversidades de acções úteis para todos. Mas, apesar dos dons
espec ficos importantes para acções espec ficas úteis para todos, quando a Mente de
todas as pessoas for Pura, ela produzirá os frutos do Esp rito e todas as pessoas viverão
no pleno amor, paz e felicidade.

2.O SUBSTRATO CENTRAL DA MENTE NO ORGANISMO


No Organismo o substrato central da Mente é o Encéfalo (ROQUE; CASTRO,
1983). Este apresenta basicamente três regiões, nomeadamente, o Sistema L mbico, o
Cérebro e o Cerebelo, que se encontram descritas abaixo considerando a palavra – chave
que as define, a condição para a sua vitalização e a sequência correcta de
funcionamento.
A palavra – chave que define cada uma dessas regiões é:

• Sistema L mbico: Atenção, é o que o Esp rito precisa realizar para se


potencializar.

• Cérebro: Reflexão ou Pensamento, necessidade da Mente para se


potencializar.

• Cerebelo: Acção, é o que o Corpo precisa realizar para se potencializar.

A condição para a vitalização de cada uma dessas regiões é:

• Sistema L mbico: Prática frequente da Atenção, direcionada pela Mente.

• Cérebro: Prática sistemática da Reflexão, realizada pela Mente.

• Cerebelo: Prática regular da Acção, programada pela Mente.


Amâncio Maurício Xavier Rêgo

A Mente, na sua função de gerir o Corpo, deve fazer funcionar essas três regiões
de forma equitativa para que não haja desequil brios no Organismo, por exemplo,
pensamento sem acção nem atenção acaba causando estresse, acção sem reflexão nem
atenção acaba causando desordens de crescimento e de inteligência, por outro lado,
atenção sem reflexão nem acção acaba causando torpor e agnosia; Mas se existir um
132 dano no substrato da Mente, esta pode não conseguir tratar adequadamente as
informações, tanto externas como internas ao Organismo.
As informações do dono do Corpo, que é o Esp rito, sempre são verdadeiras e
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construtivas e, embora possam ser percebidas de forma escassa e intuitiva por uma
Mente em estado de percepção, não são percebidas por uma Mente em estado de
pensamento; Apenas uma Mente em estado de silêncio pode perceber plenamente as
informações do Esp rito. Contudo, as informações externas ao Organismo podem ser
verdadeiras ou destrutivas, por exemplo, a Mente pode receber do exterior a informação
de que ‘fumar cigarro e beber álcool é relaxante’ ou ‘boxe é um desporto para pessoas
valentes’, essas informações são destrutivas, porque o cigarro e o álcool causam
problemas sérios no Organismo e boxe causa hematomas e sequelas no Corpo, essas não
são acções de amor a si mesmo nem amor ao próximo, uma pessoa com consciência de
amor a si mesmo e ao próximo jamais praticaria esse tipo de acções.
A pessoa que pratica as más acções não se ama a si mesma, e não sabe disso, ou
seja, essa pessoa não sabe de que não si ama a si mesma, pois uma pessoa que si ama a
si mesma é incapaz de fazer mal a si e ao seu próximo, por isso, Jesus Cristo curou
automaticamente a orelha do soldado que ia prendê­lo cortada pelo seu apóstolo, como
conta a B blia, “ […] um deles feriu o servo do sumo sacerdote, decepando­lhe a orelha
direita. Jesus, porém, respondeu: "Basta! " E tocando na orelha do homem, ele o
curou” (Lc. 22, 49­51). Entretanto, o Corpo obedece qualquer informação da Mente;
Mas, se a Mente estiver minimamente ligada ao Esp rito ela será observada pelo Esp rito
e a informação será reconhecida, se for informação destrutiva será descartada e se for
informação construtiva pode ser executada pelo Corpo caso haja necessidade.
As más acções devem ser perdoadas porque as Mentes originam­se do mesmo
Esp rito cuja natureza é o perdão e ofendem­se por ignorância. A Mente separada ou
ignorante ofende e não consegue perdoar por não saber que o Esp rito Humano é um só
para todas Mentes, de tal modo que odiando ou amando o próximo está se odiando ou
amando a si mesmo. A Mente ligada sente compaixão e perdoa facilmente por saber que
todos somos um embora com traços Mentais diferentes. Enquanto, a Mente fundida é o
próprio perdão e não sente nenhuma ofensa mas tranquiliza, cura e cicatriza os danos
causados pela Mente ignorante, segundo a B blia, “tocou em seu manto, […]
Imediatamente cessou sua hemorragia […] fé a curou! […]” (Mc. 5, 27­34); Uma Mente
fundida participa na construção do Corpo por estar em harmonia com o Esp rito e a
construção ocorre também em momentos acordados ou atentos.
A sequência correcta do funcionamento do Encéfalo é: Sistema L mbico –
Cérebro – Cerebelo ou seja, Atenção – Reflexão – Acção. Porém, há muitas pessoas cujo
funcionamento do seu Encéfalo limita­se à sequência: Cérebro – Cerebelo. Essas
pessoas não tem o hábito de prestar atenção e reflectir antes de agir, vivem apenas no
ciclo de Pensamento – Acção, neste caso, a Mente faz funcionar apenas o Cérebro e o
Cerebelo tornando o Sistema L mbico cada vez mais inactivo e disfuncional, o que, caso
não seja corrigido nesta vida, será transferido para a vida posterior da pessoa até que ela
empreenda mecanismos que tornem o funcionamento do Encéfalo correcto e
equilibrado.
Outrossim, o desenvolvimento integral de uma pessoa implica o funcionamento
equilibrado dessas três regiões do Encéfalo, na medida em que, o Sistema Límbico
A Vida da Mente: sistemas de funcionamento do encéfalo, meditação

corresponde a dimensão afectiva relacionada ao saber sentir, o Cérebro corresponde a


dimensão cognitiva relacionada ao saber pensar ou reflectir e o Cerebelo corresponde a
dimensão psicomotora relacionada ao saber fazer. Desse modo, a Filosofia Materialista
Dialéctica com Pedagogia Sócio – Cognitiva, onde o Homem é Espírito ou Intersujeito,
enfatiza o exerc cio do Sistema L mbico e a intersubjectividade; A Filosofia
Fenomenológica com Pedagogia Psico – Cognitiva, onde o Homem é Mente ou Sujeito, 133
enfatiza o exerc cio do Cérebro e a subjectividade; A Filosofia Positivista com
Pedagogia Comportamentalista, onde o Homem é Corpo ou Objecto, enfatiza o

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funcionamento do Cerebelo e a objectividade (RÊGO, 2018).
A Educação deve enfatizar o funcionamento equilibrado dessas três regiões na
sequência de, saber sentir, saber reflectir e saber fazer, assim, a Meditação é
indispensável na Educação, porque desenvolve o saber sentir, perdido quando a Mente
se separou do Esp rito, que é a condição essencial para o saber reflectir e o saber fazer.
Por isso, não se deve ensinar apenas a pensar e a fazer, levando ao ciclo do pensamento
– acção que culmina no estresse e estafa, mas, deve­se ensinar a Meditar para resgatar o
saber sentir ou o poder de perceber a verdade, ensinar a reflectir e a fazer; Pois, de nada
vale ter muita Ciência e menos Consciência!
Organizando as sequências de diversas maneiras pode­se derivar sistemas
c clicos de funcionamento do Encéfalo. Os sistemas c clicos de funcionamento do
Encéfalo têm como critério a sequência das suas regiões básicas e a função
predominante do Cérebro. Cada sistema é c clico porque há repetição da sequência.
Destacam­se quatro sistemas:

1o. Sistema Natural Inferior (SNI)


O Encéfalo funciona na seguinte sequência: Sistema L mbico – Cerebelo ou
Atenção – Acção. Este sistema verifica­se em pessoas que agem apenas com a
percepção, como no caso do feto e do recém­nascido.

2o. Sistema Artificial Inferior (SAI)


O Encéfalo funciona na sequência de: Cérebro – Cerebelo ou Pensamento –
Acção. Verifica­se em pessoas que agem sem compreensão e que não chegam a perceber
nem a se corrigir.

3o. Sistema Artificial Superior (SAS)


O Encéfalo funciona na sequência: Cérebro – Cerebelo – Sistema L mbico ou
Pensamento – Acção – Atenção. Verifica­se em pessoas que agem sem compreensão,
mas que chegam a perceber e a se corrigir.

4o. Sistema Natural Superior (SNS)


O Encéfalo funciona na sequência: Sistema L mbico – Cérebro – Cerebelo ou
Atenção – Reflexão – Acção.
Este sistema verifica­se em pessoas que agem com plena percepção e
compreensão; A percepção vem da Atenção na sensação e a compreensão vem da
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Reflexão sobre a percepção. Portanto, primeiro é a Atenção, depois segue a Reflexão e


por último vem a Acção, isto é, ‘seja diligente no ouvir e moroso no agir!’, de acordo
com a B blia, “tenham isto em mente: Sejam todos prontos para ouvir, tardios para falar
e tardios para irar­se (Tg. 1, 19).

134
3.O CONCEITO E A TRANSFORMAÇÃO DA MENTE
A Mente1 é a parte subtil do Organismo que emerge do Esp rito para construção e
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gestão do Corpo segundo informações do Esp rito e de fontes diferentes do Esp rito. Ela,
consciousness, é a consciência variável, significa ‘com conhecimento’, sendo ‘com
conhecimento da Aparência’ quando separada do Esp rito ou ‘com conhecimento da
Verdade’ quando ligada, mas quando dissolvida ela é a Verdade; A Mente é pensamento
ou a percepção, que pode ser irreal ou real. O Esp rito, awareness, é a consciência
invariável, significa o ‘Ser’, a Verdade, o ‘Estar Vivo’, ele é o alfa e o ômega, o que
existe antes e depois da Mente, conforme Wu Hsin, “A consciência é a condição anterior
para toda a percepção” (ANÓNIMO, 2018, p. 33).
As informações do Esp rito são de carácter energético puro, dócil, edificante,
vitalizante e regenerativo. As informações que a Mente recebe de fontes diferentes do
Esp rito podem ser de origem interna e externa ao Organismo, as de origem interna
encontram­se impl citas na matéria­prima que se utiliza na construção do Corpo e
geralmente são de ndole qu mico, enquanto as de origem externa encontram­se no
ambiente em que o Organismo está inserido e podem ser de diversos tipos tais como
qu mico, f sico ou táctil, sonoro, visual, térmico e luminoso. Quando o Organismo se
encontra em construção ou formação no ventre da Mãe, as informações são mormente
do Esp rito e de ndole qu mico, pois neste momento procura­se cumprir com o plano de
construção do Corpo, que pode variar de nascimento para nascimento, por exemplo, se
em um nascimento o Esp rito criou o plano de construção de um Corpo masculino,
depois da morte deste Corpo masculino, para outro nascimento o Esp rito pode criar o
plano de construção de um Corpo feminino; Porém, a situação em que a Mente se
encontra e os outros factores derivados de fontes diferentes do Esp rito podem afectar o
processo de construção do Corpo e determinar o género, bem como o destino do
Organismo.
O que o Esp rito procura fazer é experienciar uma diversidade de situações por
meio da Mente e do Corpo, mas o que o Esp rito reforma quando está fora de um Corpo
f sico é o plano de construção do Corpo e as principais experiências que irá passar. A
Mente, por sua vez, deve reformar­se ainda num Corpo f sico vivo, porque a sua
reforma deve ser voluntária e consciente no sentido de finalmente ela estar repleta de
sabedoria e paz real. Aquando da morte do Corpo f sico a Mente integra­se no seu
Esp rito e com ele abandonam o Corpo, e em caso de haver uma ressurreição dentro de
alguns dias o Esp rito juntamente com aquela mesma Mente voltam a entrar no Corpo e
restabelecem o funcionamento do Corpo, segundo a descrição da B blia, “ […] sabiam
que ela estava morta. Mas ele a tomou pela mão e disse: "Menina, levante­se! " O
esp rito dela voltou, e ela se levantou imediatamente” (Lc. 8, 53­55).
A partir do momento em que o Organismo é nascido, a Mente passa a ser
influenciada tanto por informações do Esp rito como por informações de fonte externa
ao Organismo que pode ser natural ou artificial. Na situação em que a Mente é
influenciada apenas por informações do Esp rito, ela é considerada pura ou mesmo não­
Mente e encontra­se em estado de Silêncio dissolvida no Esp rito. Mas, quando o
Organismo nasce com defeitos é sinal de que ou a Mente já estava impura devido às
A Vida da Mente: sistemas de funcionamento do encéfalo, meditação

influências que recebeu nas vidas anteriores a esta ou o Organismo foi sendo afectado
por certos factores durante a sua formação no ventre da Mãe.
Uma Mente impura integrada, mas não dissolvida, no seu Esp rito após a morte
do Corpo acaba fazendo com que o Esp rito seja também considerado de impuro,
naqueles que são designados de Esp ritos impuros ou maus, quando na verdade um
Esp rito nunca é impuro, assim como uma luz nunca é escuridão, ele sempre é 135
imaculado ou santo e puro Co­criador, apenas a Mente se torna impura ao ser
influenciada por informações diferentes do seu Esp rito, por isso, é a Mente que

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necessita de ser purificada para se tornar um com o Esp rito.
Quando a Mente é influenciada sobretudo por informações de fonte natural, é
considerada natural e encontra­se em estado de percepção ligada ao Esp rito. Porém, na
situação em que é influenciada principalmente por informações de fonte artificial, é
considerada artificial e encontra­se em estado de pensamento, neste caso, a Mente está
separada e distante do Esp rito, podendo mais tarde voltar a se ligar e fundir no Esp rito
caso a pessoa empreenda mecanismos de união com o Esp rito, segundo a B blia, “Antes
vocês estavam separados de Deus e, em suas mentes, eram inimigos por causa do mau
procedimento de vocês” (Cl. 1, 21).
A Mente influenciada por informações do Esp rito está sob o governo do
Esp rito, isto é, sob o Reino de Deus, que significa “guiados pelo Esp rito” (Gl. 5, 18),
assim, o Reino de Deus é basicamente a acção do Espírito sobre a Mente, por isso,
concretiza­se dentro do Organismo de cada Pessoa e reflecte­se fora nas relações
harmoniosas e salutares com as outras Pessoas e os outros Seres. Para uma Mente
influenciada por informações diferentes do Esp rito, o Reino de Deus é um tesouro
escondido, pois, essa Mente desconhece o seu Esp rito que constrói e administra o seu
Corpo. Pessoas com Mente ligada ou fundida (Pura) no Esp rito conhecem ou vêem o
Esp rito, conforme a B blia, “Bem­aventurados os puros de coração, pois verão a
Deus” (Mt. 5, 8), nelas o Reino de Deus já opera oferecendo Paz ou imortalidade.
Diz­se que uma Mente está separada e distante do Esp rito quando é impura. Não
significa que se encontra literalmente separada do Esp rito, até porque na morte do
Corpo a Mente maculada se integra no seu Esp rito imaculado porém sem se conectar
nem se dissolver nele, mas sim, a Mente separada significa impura porque, de tanto ser
influenciada por informações diferentes do Esp rito, ela se torna corrompida,
completamente ignorante e inconsciente, incapaz de perceber a realidade como ela é, por
isso, essa Mente não se torna um com o seu Esp rito e é capaz de ser manipulada de
várias formas, podendo ser moldada, atacada, mudada ou afastada do Organismo por
forças externas e diferentes do seu Esp rito.
Quando a Mente está separada do Esp rito, nas suas aventuras distante deste, ela
é suscept vel de sofrer muitas mudanças, ataques e até substituições por outras Mentes, é
o que acontece por exemplo com os curandeiros, quando se incorpora neles a Mente de
um ente querido e passando a se comportar como o ente querido durante o momento da
incorporação. Neste caso, o curandeiro faz um esforço ou correspondência mental que
leva a Mente de ente querido a se projectar e a afastar e substituir temporariamente a
Mente do curandeiro que, nesse nterim, passa a se comportar como o ente querido
(BHAJAN; KHALSA, 2011). A Mente do ente querido que é projectada, pelo esforço
mental do curandeiro ou mesmo por um pensamento que é quase impercept vel ao
próprio curandeiro, para afastar e substituir temporariamente a Mente do curandeiro,
também é impura ou separada do seu Esp rito, porque uma Mente completamente
conectada ou dissolvida no seu Esp rito não se envolve em questões de superstição.
Portanto, é a Mente com o quê os Médiuns Esp ritas trabalham, e não o Esp rito, pois o
Esp rito é imaculado, embora receba a Mente maculada na morte do Corpo.
Amâncio Maurício Xavier Rêgo

O que as pessoas designam de alma é a Mente ou o Eu – Individual, e não o


Esp rito. O Esp rito é designado por Atman ou o Eu – Colectivo, o Ser Humano,
segundo Maharshi:
Quando a mente sai para fora do Self, o mundo aparece. Por isso, quando o mundo
136 aparece (como sendo real), o Self não aparece; e quando o Self aparece (brilha), o
mundo não aparece. […]. O que é referido como o Self é Atman. […]. É a mente
que é chamada de corpo subtil ou alma (jiva) (RAMANAN, 2015, p. 7).
AUFKLÄRUNG, João Pessoa, v.9, n.1., Jan.­Abr., 2022, p.127­146

Assim sendo, por exemplo, quando as pessoas dizem, ‘Que a sua alma descanse
em paz no esplendor da luz perpétua’, estão se referindo a integração da Mente no seu
Esp rito aquando da morte do Corpo, porque o Esp rito é luz, neste caso, a Mente
descansa mas se ela é impura não vai se purificar durante a integração, o mesmo
acontece no momento em que uma pessoa está a dormir num sono sem sonho, no qual a
sua Mente descansa mas acaba acordando com a mesma Mente, desse modo, essa
integração não significa dissolução da Mente no seu Esp rito, pois, a Mente integrada
ainda está separada, apenas a Mente dissolvida é que se torna um com o seu Esp rito.
Por conseguinte, a integração da Mente no Esp rito é diferente da dissolução da Mente
no Esp rito, na integração a Mente por ser impura não se funde no Esp rito e não se
torna um com ele, enquanto na dissolução a Mente passa a ser pura pela influência
evidente e gradual do Esp rito até que se funde completamente no Esp rito tornando­se
um com ele.
A integração é um processo inconsciente, rápido e directo que geralmente se
verifica quando o Corpo dorme ou morre; Num Corpo dormindo a Mente está ausente e
o Esp rito está presente pois vê­se apenas suas acções como as respiratórias e do
coração, num Corpo morto a Mente e o Esp rito estão ausentes. Por outro lado, a
dissolução é um processo voluntário, lento e indirecto porque implica acções
conscientes na pessoa, tais como a renúncia ao mundo e a prática da meditação, ela
permite que a Mente nasça de novo no mesmo Corpo em que ainda se encontra.
Portanto, uma Mente impura só pode se purificar quando passar a ser dominada ou
ungida pelo Espírito ainda num Corpo f sico vivo, assim como se recomenda na B blia,
que se deve revestir da mentalidade do Esp rito – Cristo, “revistam­se de…compaixão,
bondade, […]” (Cl. 3, 12), “A mentalidade da carne é morte, mas a mentalidade do
Esp rito é vida e paz”(Rm. 8, 6). Na mentalidade da carne a Mente se identifica com o
Corpo – carne – mundo, na do Esp rito com o Esp rito. Jesus destacou­se por ter a sua
Mente dissolvida no seu Esp rito, por isso, quando disse que, “Eu e o Pai somos
um” (Jo. 10, 30), ele revelou que a sua Meditação consistia em atenção na sensação da
sua unidade com o Esp rito Cósmico.

4.ESTADOS DA MENTE
A Mente pode ser encontrada no estado de silêncio, de percepção ou de
pensamento.

4.1.Estado de Silêncio
É o estado original da Mente, quando ela está em casa, isto é, fundida no Esp rito
ou na Consciência Pura. Isso assemelha­se a uma porção de água antes de emergir,
quando se encontra na imensidão do oceano. Nesse estado não há mundo nem há tempo,
não há coisas nem situações, não há presente, passado, nem futuro; Não há o querer, o
A Vida da Mente: sistemas de funcionamento do encéfalo, meditação

fazer, nem o ter; Só há o Ser, que pode se tornar o favorável ou o desfavorável. Trata­se
de um estado perfeito, o Estado de Silêncio Acabado (ESA), existente nas pessoas
iluminadas perfeitas cujo Esp rito está no Estágio Activo, em que há paz com capacidade
de manifestação do poder divino. Constitui um estado em que a Mente é o Esp rito, pois,
em analogia com a porção de água ajuntada no oceano, ela se torna o próprio oceano na
medida em que se vê apenas o oceano. Nesse estado a pessoa é a luz que ilumina as 137
outras pessoas, é a luz do mundo, de acordo com a B blia, “Eu sou a luz do mundo.
Quem me segue, nunca andará em trevas, […]” (Jo. 8, 12).

AUFKLÄRUNG, João Pessoa, v.9, n.1., Jan.­Abr., 2022, p.127­146


4.2.Estado de Percepção
É o estado em que a Mente acaba de sobressair do Esp rito. Isso assemelha­se a
porção de água quando constitui uma coluna emergindo do oceano, neste caso, a coluna
de água emergida ainda encontra­se ligada ao oceano, mas já pode sentir de forma
particular o mundo fora do oceano. Nesse estado há apenas o mundo natural e o tempo
presente, há somente o fazer desapegado. Trata­se de um estado em que o Ser se tornou
o favorável, um estado de harmonia com a natureza e de pleno relaxamento, no qual a
Mente está no presente em plena absorção do que está exactamente acontecendo dentro
e fora do Organismo. Significa Estado de Silêncio Inacabado (ESI), existente nas
pessoas iluminadas imperfeitas cujo Esp rito está no Estágio Revelado, em que há paz
sem capacidade de manifestação do poder divino. Constitui um estado em que a Mente,
embora distante, está ligada ao Esp rito e a pessoa é considerada como sendo iluminada,
visto que, a sua Mente recebe a luz do Esp rito ao estar ligada com ele que é a fonte de
luz tornando­se iluminada, cheia de percepção e sabedoria.

4.3.Estado de Pensamento
É o estado em que a Mente está separada do Esp rito. Isso assemelha­se a porção
de água em forma de coluna quando está totalmente solta e separada do oceano, neste
caso, a coluna de água já não se encontra ligada ao oceano e, consequentemente, está
por sua conta, já não pode perceber nem compreender o oceano. Nesse estado há o
mundo artificial, o tempo passado e futuro, há o querer, o fazer e o ter interessado. Trata­
se de um estado em que o Ser se tornou o desfavorável, um estado imperfeito e de
preocupação com o bem­estar na vida. Constitui um estado em que a Mente,
extremamente distante, não está ligada ao Esp rito e a pessoa é considerada como sendo
ignorante, como estando na escuridão, segundo a B blia, “os homens amaram as trevas,
e não a luz, porque as suas obras eram más” (Jo. 3, 19).

5.O Percurso da Mente


No princ pio a Mente encontra­se fundida no Esp rito, onde goza da plena
felicidade. Em seguida, pela vontade do próprio Esp rito, a Mente é nascida emergindo
do Esp rito, começando assim o processo do experienciar. No per odo de infância da
Mente, vigora a contemplação involuntária das coisas e dos fenómenos intr nsecos e
extr nsecos ao Organismo, por ser um per odo de contemplação, a Mente vive em
harmonia com a natureza, relaxada e alegre. Contemplação significa observação com
admiração e sem julgamento.
Depois de muito tempo de contemplação, surge na Mente a curiosidade e o
Amâncio Maurício Xavier Rêgo

desejo que a impelem para a análise, o julgamento e a produção própria, desligando­se


por completo do Esp rito e passando para a independência, que é a caracter stica
marcante da sua fase adulta ou separada, conforme sustenta o trecho abaixo:
O aparentemente separado eu é um mal­entendido criado pela mente que divide
138 tudo em um pseudossujeito (eu) e um objeto […], essa sensação de estar separado
e à parte, é a causa básica da infelicidade. O retorno à integridade nada mais é do
que o fim dessa divisão. É uma apercepção da unidade entre o numênico e o
fenomenal, […]. Então, o pseudossujeito é finalmente visto como apenas um outro
AUFKLÄRUNG, João Pessoa, v.9, n.1., Jan.­Abr., 2022, p.127­146

objeto, enquanto a verdadeira subjetividade […] é a fonte deles (ANÓNIMO,


2018, p. 6).
No per odo de separação ou adulto da Mente, vigora a análise, a selecção e a
produção de tudo aquilo que ela acredita ser bom para si, que se vê como sendo o
próprio Corpo, já que se encontra totalmente separada do Esp rito. Por ser um per odo
de julgamento e produção, a Mente vive em constante não e preocupação; A Mente diz
não a tudo o que acha ser ameaça para a sua existência separada e preocupa­se
incessantemente em ter tudo o que acha ser fortaleza para a sua existência separada;
Com isso, a Mente vai se desgastando e trazendo muito sofrimento ao Corpo, causando
assim o medo, que se torna insuportável. Quando se chega no pico do medo
insuportável, a Mente começa seriamente a procurar a sua origem, até descobrir que se
origina do Esp rito e que devia servir ao Esp rito e não a si própria. É na fase separada
que a Mente experimenta verdadeiramente várias coisas e situações, como o prazer, a
dor, a alegria, a tristeza, o bem e o mal; Assim como a porção de água separada do
oceano experimenta directamente o calor, o frio, o estado gasoso, a queda em chuva, o
estado sólido, o isolamento em lagoa, a correria em rios, até ser acolhida no oceano,
onde alcança novamente a sua plenitude; E ainda, como a parábola do filho pródigo (Lc.
15, 11­32).
Quando a Mente descobre que se originou do Esp rito, ela começa a procurar
formas de voltar para o Esp rito, procura renunciar ao mundo ou negar­se a si mesma,
como disse Jesus Cristo, “negue­se a si mesmo” (Mt. 16, 24), passando assim para a fase
de velhice, que é semelhante à fase de infância, porém rica em experiências e sabedoria.
No in cio da fase de velhice da Mente, ela própria faz muito esforço para se ligar ao
Esp rito, mas depois, o Esp rito passa a facilitar o processo até se concretizar a ligação e
a dissolução da Mente no Espírito, tornando­se um só em plena perfeição, o que
significa nascer de novo do Espírito, segundo a B blia, “O que nasce da carne é carne,
mas o que nasce do Esp rito é esp rito” (Jo. 3,6).

6.A MENTE COMO OLHO DO ESPÍRITO


A Mente é o olho do Esp rito, o terceiro olho do Corpo e o sexto sentido do
Organismo, como mostra a B blia, “Mas se os seus olhos forem maus, todo o seu corpo
será cheio de trevas.” (Mt. 6, 23), assim, o Esp rito vê por meio da Mente. Por isso, o
Esp rito necessita de fazer emergir de si a Mente para poder contemplar a si e a Natureza
sem nenhum apego, também para ajuda­lo a obter os meios necessários para fazer
crescer, curar e regenerar o Corpo e cumprir seu propósito; Portanto, é em nome do seu
Esp rito que a Mente deve fazer algo ou pedir algo ao Pai celestial, pois o programa para
a vontade do Pai celestial está no Esp rito.
Os actos, as situações, os objectos e os fenómenos precisam só de ser
contemplados, sem apego, até mesmo o acto de mastigar alimento precisa de ser
contemplado; O Esp rito não precisa se apegar a nada porque é capaz de criar qualquer
A Vida da Mente: sistemas de funcionamento do encéfalo, meditação

coisa que necessitar. O Esp rito vê a si mesmo e ao mundo através da sua criação, isto é,
vê através da sua Mente que, por sua vez, utiliza os órgãos de sentido do seu Corpo.
Deste modo, a Mente deve estar ligada ao Esp rito, caso contrário, já não servirá como
olho do Esp rito, mas como escrava dos desejos do Corpo.
139
7.A VELHICE DA MENTE

AUFKLÄRUNG, João Pessoa, v.9, n.1., Jan.­Abr., 2022, p.127­146


O per odo de velhice da Mente é marcado por dois momentos, o de ligação e o de
dissolução no Esp rito. O de ligação tem como requisitos o reconhecimento de que a
Mente se origina emergindo do Esp rito e de que tudo que se vê, ouve e sente constitui
apenas experiências passageiras que se percebem e devem ser percebidas dentro do
Organismo; O reconhecimento destes dois aspectos conduz ao Estado de Silêncio
Inacabado (ESI), no qual a Mente liga­se ao Esp rito e permanece em plena percepção
do que está a acontecer dentro e fora do Organismo, tanto acontecimentos prazerosos
como dolorosos são apenas observados pela Mente em plena percepção, neste caso é o
próprio Esp rito que observa por meio da Mente.
O segundo momento, que é de dissolução no Esp rito, tem como requisitos o
reconhecimento de que tudo o que existe é concepção da Mente e de que existe apenas o
Esp rito com as suas várias formas de apresentação; O reconhecimento destes dois
aspectos conduz ao Estado de Silêncio Acabado (ESA), no qual a Mente funde­se no
Esp rito, passando a haver somente o Esp rito em pleno cumprimento do propósito da
sua existência.

8.O CICLO DE VIDA DA MENTE


A Mente vive e tem um ciclo de vida bem definido, na medida em que ela nasce,
cresce, desenvolve­se, reproduz­se e morre. O ciclo começa com o nascimento, no qual
a Mente emerge do Esp rito; A Mente é formada no Esp rito e de lá emerge passando a
realizar a contemplação involuntária e a experimentar a alegria durante o seu
crescimento. O fim do crescimento da Mente é marcado pelo amadurecimento do desejo
de independência.
Consumado o desejo de independência, a Mente solta­se e passa para o per odo
de desenvolvimento e reprodução, onde realiza a análise do mundo e a produção de
nova Mente diferente da Mente Espiritual, é a Mente considerada Carnal na B blia e que
produz frutos da Carne, “imoralidade sexual, […]; idolatria […]; ódio, discórdia, […],
ego smo, […] inveja; embriaguez, […]” (Gl. 5, 19­21). A Mente Carnal experimenta o
bem e o mal, o prazeroso e o doloroso e, luta para ter apenas o prazeroso até perceber de
que é uma luta vã, pois, por traz do prazeroso aparece­lhe sempre o doloroso. O fim
desse per odo é marcado pela percepção de que a fonte real de felicidade está no “ser
interior” e não nas coisas materiais (I Pe. 3, 4).
Desse modo, a Mente começa a empreender a busca interna pela felicidade
passando para o per odo de velhice que é o inverno da vida, em que há repouso,
contemplação e Meditação que significa Atenção global ou parcial, nesse per odo a
Mente liga­se novamente ao Esp rito, realiza a contemplação voluntária e experimenta a
paz real, por fim a Mente morre fundindo­se no Esp rito e tornando­se um com ele, de
tal modo que se faz sentir apenas o Esp rito. A Mente que morre é a Mente separada ou
inconsciente. Uma Mente fundida ou bem ligada no Esp rito ou na Consciência Pura
está plenamente Consciente; Ela não teme nem percebe a morte, permanece Consciente
Amâncio Maurício Xavier Rêgo

no momento em que o Corpo adormece ou morre, por isso Jesus Cristo disse, “ […] se
alguém guardar a minha palavra, jamais verá a morte” (Jo. 8, 51).
Não ver a morte significa estar realmente vivo ou ter vida eterna. Estar vivo é
estar em plena percepção de realidades internas e externas do Organismo exactamente
no momento de suas ocorrências e estar eternamente vivo é estar permanentemente em
140 plena percepção de realidades no momento de suas ocorrências. Assim, uma pessoa com
a Mente separada do seu Esp rito é considerada morta, porque não consegue perceber a
verdade, tal como Jesus Cristo considerou ao dizer, “deixe que os mortos sepultem os
AUFKLÄRUNG, João Pessoa, v.9, n.1., Jan.­Abr., 2022, p.127­146

seus próprios mortos” (Mt. 8, 22). Pessoas com a Mente separada do Esp rito pensam
que estão vivas, mas na verdade estão mortas, pois, estar apartado do Esp rito é estar em
pecado e estar em pecado é estar morto, segundo a B blia, “não coma da árvore do
conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você
morrerá" (Gn. 2, 17), “[…] meu filho estava morto e voltou à vida (Lc. 15, 24) e “Vocês
estavam mortos em suas transgressões e pecados” (Ef. 2, 1). A Mente é livre de escolher
estar ligada ou separada do Esp rito, mas não escapa da consequência de sua escolha.
Então, a Mente separada do Espírito, que pensa estar viva e não percebe que está
morta, precisa morrer dissolvendo­se no Espírito para renascer e ter vida real, conforme
Jesus, “É necessário que vocês nasçam de novo. […] do Esp rito” (Jo. 3, 7­8).

9.A PERCA DA IDENTIDADE ORIGINAL DA MENTE


No princ pio a Mente encontra­se fundida no Esp rito e segue apenas orientações
do Esp rito, nesse per odo a Mente identifica­se plenamente com o Esp rito, ela e o
Esp rito constituem uma só entidade na medida em que está no Esp rito e o Esp rito
nela, é o per odo do ‘Eu Sou’ ou da identidade original da Mente, no qual a Mente vê­se
como sendo o próprio Esp rito.
Depois segue o per odo em que a Mente emerge e passa a ser influenciada em
parte por informações de fontes diferentes do Esp rito, é o per odo em que ela não se
identifica com o Esp rito, ela perde a sua identidade original mas sente que pertence ao
Esp rito por se encontrar ainda ligada a ele, nesse per odo ela percebe­se como alguém
diferente do Esp rito, mas que funciona com plena fé e graça no Esp rito, ela vê­se como
sendo o filho do Esp rito.
Em seguida a Mente separa­se e segue uma longa viagem distante do Esp rito,
por estar desligada ela perde a fé e a graça no Esp rito passando a confiar apenas em si
mesma e nas informações externas ao Esp rito, torna­se completamente alheia
considerando Esp rito como ser do outro mundo, é o per odo em que a Mente vê­se
como sendo o Corpo. Nesse per odo a Mente é influenciada apenas por informações de
fontes diferentes do Esp rito e acaba assumindo formas que as influências
proporcionam, ela identifica­se com cada uma das situações que vive, dependendo da
situação, ela pode dizer, por exemplo, eu sou pobre, eu sou rico, eu sou médico, eu sou
engenheiro, eu sou raivoso, entre outras identificações, ela vai se identificando com
situações da sua vida até chegar o momento de se questionar e descobrir sobre quem
realmente é e, assim, voltar a se ligar até se fundir no Esp rito e ser um com ele.
Isso assemelha­se com a porção de água que no princ pio encontra­se ajuntada no
oceano considerando­se como o próprio oceano, depois emerge do oceano e passa a ser
influenciada parcialmente pelas condições externas ao oceano, em seguida ela separa­se
e distancia­se do oceano passando a ser moldada apenas por condições externas ao
oceano, dependendo dessas condições, identifica­se com cada uma delas, neste caso, ela
pode dizer, eu sou vapor, eu sou nuvem, eu sou gelo, eu sou quente, eu sou frio, eu sou
A Vida da Mente: sistemas de funcionamento do encéfalo, meditação

chuva, eu sou estagnado, eu sou limpo, eu sou sujo, eu sou corrente, até voltar a se
ajuntar novamente no oceano e ser um com ele.
A Mente perde a sua identidade original ao se afastar e desligar do Esp rito
passando a assumir diversas formas consoante a situação da vida em que se encontra, ela
cai na ignorância e no orgulho, causando muitos conflitos entre as pessoas, assim, torna­
se essencial compreender esse facto para tomar a atitude de parar de se identificar com 141
situações da vida.

AUFKLÄRUNG, João Pessoa, v.9, n.1., Jan.­Abr., 2022, p.127­146


10.O REGRESSO DA MENTE AO ESTADO DE PERCEPÇÃO E DE SILÊNCIO
No estado de Pensamento a Mente encontra­se separada e apartada do Esp rito,
nesse estado ela não consegue conhecer, sentir nem compreender o Esp rito. É um
estado em que a Mente gere o Corpo seguindo apenas informações de fonte artificial que
são contraditórias com informações do Esp rito, isso produz atritos dentro do
Organismo, na medida em que a energia do Esp rito que necessita fluir normalmente no
Organismo para dar vida e inteligência é obstru da pela energia da Mente separada, esses
atritos manifestam­se sob a forma de dores e doenças que por sua vez acabam
condicionando a própria Mente e ao Corpo com mais problemas e defeitos, como expõe
a B blia, “vivam pelo Esp rito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne. Pois a
carne deseja o que é contrário ao Esp rito; e o Esp rito, o que é contrário à carne. Eles
estão em conflito um com o outro, de modo que vocês não fazem o que desejam” (Gl. 5,
16­17).
Os problemas e os defeitos resultantes de atritos entre a energia do Esp rito e da
Mente falsa vão se acrescendo com novas experiências de nascimento a nascimento, por
isso, existem pessoas que são nascidas com defeitos que resultam de atritos que o
Organismo sofreu nas vidas passadas. Enquanto o estado de Pensamento continuar, a
pessoa vai nascendo sempre ignorante e com defeitos, até que um medo inexplicável
tome conta dela e decida seguir uma forma de vida mais harmoniosa com a natureza, até
que desperte, ou até que caia “em si” (Lc. 15, 17). A partir do momento em que a pessoa
decide seguir uma vida harmoniosa, então, começa o regresso da Mente aos estados de
Percepção e de Silêncio; Contudo, para a pessoa chegar até esse ponto, é necessário que
se sacie com experiências no mundo e que perca o interesse com as coisas do mundo,
caso contrário, dificilmente chegará até esse ponto.
Saciada de experiências e sem mais interesse com as coisas do mundo, a pessoa
inicia seriamente a busca da verdade sobre a vida e acaba percebendo a necessidade de
praticar incessantemente a Meditação. A Meditação é entendida como sendo “um
treinamento da percepção” (ALENCAR; MOREIRA, 1999, p. 67), ela consiste na
prática sistemática da Atenção para o revigoramento do Sistema Límbico e o
aperfeiçoamento da presença e da actividade do Espírito. Com o Esp rito revelado ou
presente e activo, tudo, seja objecto, fenómeno, acção, sensação, percepção, pensamento
ou Mente, é observado com Atenção e desapego, as acções ocorrem naturalmente sem
esforço e a vida torna­se Meditação.
A Meditação é diferente da Oração. Meditação é Atenção para ter paz e
percepção; Ela traz o Esp rito à tona e torna­o cada vez mais presente e activo; A
Meditação correcta é aquela que produz paz, compreensão e Esp rito Activo, por isso,
deve ser coadjuvada por reflexão e acção, caso contrário terminará sempre em torpor e
agnosia. Equipara­se a vigia (Mt. 26, 41).
Oração é comunicação entre Esp ritos, mormente com o Esp rito Cósmico.
Consiste na Atenção com intenção direcionada ao Esp rito; A intenção pode ser simpatia,
Amâncio Maurício Xavier Rêgo

agradecimento, pedido ou louvor. Assim, a Oração deve ser feita em Meditação,


direcionando a Atenção com intenção na sensação do Eu Sou, ou na sensação de estar
imerso na imensidão do ar atmosférico ou do espaço cósmico, sem imaginar figura
alguma, pois o Esp rito Cósmico está em todos os seres vivos e todos estão nele de
forma especificada, conforme Jesus Cristo, “o Pai está em mim, e eu no Pai” (Jo. 10,
142 38), e o apóstolo Paulo, “nele vivemos, nos movemos e existimos” (At. 17, 28). Por isso,
deve­se orar em Esp rito, como diz a B blia, “[…] está chegando a hora, […] em que os
verdadeiros adoradores adorarão o Pai em esp rito e em verdade. São estes os
AUFKLÄRUNG, João Pessoa, v.9, n.1., Jan.­Abr., 2022, p.127­146

adoradores que o Pai procura. Deus é esp rito […]” (Jo. 4, 23­24). A Oração permite
reconhecer a existência do Esp rito Cósmico e dos Esp ritos Activos, ter mais afinidade e
cooperação com eles e receber orientação necessária no processo evolutivo.
Então, o que passa a ser percebido na medida em que a percepção vai se tornando
aguçada, pela prática correcta da Meditação, é a Verdade, porque a Mente liga­se e
dissolve­se no seu Esp rito que é a Pura Verdade e a Luz; Respostas de grandes questões
sobre a vida, a natureza, o universo e o cosmos começam a ser reveladas pouco a pouco
com impacto directo na mudança de atitudes e de modo de vida na pessoa que percebe.
A pessoa passa a perceber que ela é essencialmente um Esp rito, que há nela uma Mente
condicionada ou impura e que precisa de ser purificada, que o que morre é apenas o
Corpo, que se deve viver no amor a si, ao próximo e ao Planeta Terra, que é por
ignorância que as pessoas praticam acções do mal tanto a si como aos outros e ao
Planeta Terra, entre outros aspectos percebidos. A pessoa percebe que deve mudar
radicalmente a sua vida passando a praticar apenas acções do bem tanto a si mesma
como aos outros, ela deixa de consumir substâncias prejudiciais ao Organismo, deixa de
praticar esporte que prejudica a si e ao outro, deixa de competir, deixa de ser part cipe
no maltrato e na matança de animais para fins Humanos, ela passa a sentir amor por
todos e por tudo e a ter compaixão pelo sofrimento Humano e começa a fazer qualquer
coisa para ajudar a humanidade a compreender a verdade e acabar com o sofrimento; A
sua principal tarefa passa a ser de harmonizar­se e sintonizar­se com as leis e as energias
da Natureza. Assim, com a prática sistemática e ininterrupta da Meditação pode­se
alcançar um estado interior de plena sintonia com as vibrações subtis do cosmos.
Portanto, a entrada ao estado de Percepção e de Silêncio só é poss vel pela
prática cont nua da Meditação. Existem várias formas de Meditação2, todavia, neste
texto são apresentadas duas formas que se acredita serem as que tornam rápido o
processo de entrada respectivamente no estado de Percepção e de Silêncio
(RAMANAN, 2015). Essas duas formas designam­se por Meditação da Imersão na
Matriz Atmosférica e Meditação da Auto – investigação.

a)Meditação da Imersão na Matriz Atmosférica (MIMA)


A Meditação da Imersão na Matriz Atmosférica (MIMA), também designada por
Meditação do Mergulho no Ar, foi percebida e tem sido praticada pelo Autor deste texto
desde os finais do ano 2019 na cidade de Chimoio em Moçambique. Essa forma de
Meditação fundamenta­se na visão do Homem como um ser vivo aéreo e não terrestre,
visto que, este vive mergulhado na imensidão do ar atmosférico que é a sua fonte de
oxigénio.
A nova visão do Homem como um ser vivo aéreo e não terrestre remete para um
novo sistema de classificação dos seres vivos, em seres vivos aéreos e seres vivos
aquáticos, tendo como critério a fonte de oxigénio para a respiração. Este sistema de
classificação também resultou das reflexões do Autor deste texto. Tais reflexões partiram
A Vida da Mente: sistemas de funcionamento do encéfalo, meditação

da análise de três categorias de conteúdos, a saber, o local onde um ser vivo pode crescer
e se sentir seguro, os conceitos de terra, solo e subsolo, e a classificação dos animais
feita por Teofrasto disc pulo de Aristóteles.
Assim, em relação ao local verificou­se que, a toupeira vive no solo, porque é
onde pode crescer e se sentir seguro; O Homem vive sobre o solo; O peixe vive na água;
A mangueira vive no solo, porque é onde crescem as suas ra zes que a conferem 143
estabilidade; O hipopótamo, golfinho, vivem na água; A águia, o pássaro vivem nas
árvores; A avestruz, o elefante, vivem sobre o solo. Quanto aos conceitos, terra é o nome

AUFKLÄRUNG, João Pessoa, v.9, n.1., Jan.­Abr., 2022, p.127­146


do Planeta, superf cie do solo é a parte acima do solo ou é sobre o solo, solo é a camada
superficial da crosta do Planeta, subsolo é a camada que está entre o solo e a rocha –
mãe (FREITAS; LIMA, 1990).
Quanto a classificação dos animais feita por Teofrasto (ROQUE; CASTRO,
1983), verificou­se que este classificou os animais em aéreos, terrestres e aquáticos,
porém, essa classificação apresenta equ vocos, porque, com o seu racioc nio discute­se
que: Os animais aéreos vivem no ambiente aéreo, tem sacos aéreos e asas para voar,
contudo, podemos observar animais que tem asas mas que não voam como no caso da
avestruz que caminha sobre o solo, há animais que não tem asas mas que vivem no
ambiente aéreo, como a gala – gala e até mesmo alguns seres humanos que constroem
suas casas nas árvores. Os animais aquáticos são os que vivem no ambiente aquático e
tem órgãos natatórios que usam para nadar, porém, podemos observar animais como o
jacaré e o hipopótamo que vivem na água mas não tem órgãos natatórios. Os animais
terrestres são os que vivem no ambiente terrestre e que caminham, rastejam ou saltam
sobre o solo ou no solo (tido erroneamente como sinónimo de terra), todavia, muitas são
as aves que, apesar de voarem e nadarem, caminham e saltam sobre o solo.
Consequentemente, sob o ponto de vista pessoal, num esforço de
minimizar todos esses equ vocos, convém, em relação a classificação de
Teofrasto, adoptar – se o critério de fonte de oxigénio para a respiração,
o que permite classificar os seres vivos em dois grupos:
• Aquáticos, que na sua respiração, utilizam o oxigénio dissolvido na água.

• Aéreos, que utilizam o oxigénio do ar atmosférico na sua respiração.

Desse modo, no Planeta Terra há seres vivos aquáticos e aéreos, os seres vivos
aquáticos são todos aqueles que, na sua respiração, utilizam o oxigénio dissolvido na
água, é o caso dos peixes; Na água não existe ar, mas alguns componentes do ar
dissolvidos, por isso podemos ver as bolhas que se libertam da água. Os seres vivos
aéreos são todos aqueles que utilizam o oxigénio do ar atmosférico na sua respiração, é
o caso de Homem, baleia, árvores e aves. Por conseguinte, seres vivos terrestres são
todos aqueles que vivem no Planeta Terra, dentre eles, os peixes vivem imersos na água,
a toupeira vive imersa no solo e o Homem vive sobre o solo imerso na imensidão do ar
atmosférico, pois a parte da superf cie do solo é a Atmosfera.
Esse modo de se ver no Planeta Terra muda radicalmente a relação com o ar e a
forma de se sentir no mundo, pois, melhora a respiração tornando­a natural, isto é,
calma, profunda, diafragmática e abdominal, e garantindo o consumo necessário do
oxigénio, o que revigora o Organismo; Contribui para o desenvolvimento da
compreensão, autodom nio e compaixão, que são dons do Esp rito conforme a B blia,
visto que, “o fruto do Esp rito é amor, […], mansidão e dom nio próprio” (Gl. 5, 22­23).
A Vida é Respiração e Percepção, a qualidade da Vida depende da qualidade da
Amâncio Maurício Xavier Rêgo

Respiração e da Percepção, assim, complementando a MIMA com Exerc cios de


Respiração e de Reflexão pode­se potencializar o Diafragma e a Consciência. A Técnica
de Meditação do Mergulho no Ar funciona tanto em repouso como em movimento,
sendo adequada ainda durante qualquer actividade f sica. Tais são argumentos da prática
da Meditação do Mergulho no Ar, Ar que em curso é vento – pneûma – esp rito.
144 A MIMA requer observar – se e sentir­se imerso na imensidão do ar atmosférico e
consiste em prestar Atenção na sensação de estar mergulhado na imensidão do ar
atmosférico. É concretizada quando a pessoa procura estar ciente de que se encontra
AUFKLÄRUNG, João Pessoa, v.9, n.1., Jan.­Abr., 2022, p.127­146

num meio aéreo e procura sentir­se imersa no ar atmosférico. Assim, existem três passos
na sua prática, a saber:

• 1o. Passo: Sentar – se direito ao ar livre num lugar calmo, para iniciantes;

• 2o. Passo: Ver – se e sentir – se mergulhado na imensidão do ar atmosférico;

• 3o. Passo: Prestar Atenção na sensação de estar imerso na imensidão do ar


atmosférico ou do vento – pneûma – ‘sopro divino’ – esp rito (Gn. 2, 7), onde
“vivemos” (At. 17, 28).

A MIMA é a Meditação apropriada para se entrar no estado de Percepção ou


Estado de Silêncio Inacabado (ESI), visto que, envolve sentir­se imerso na imensidão do
ar atmosférico.

b)Meditação da Auto – investigação


A Meditação da Auto – investigação é da autoria de Bhagavan Sri Ramana
Maharshi da Índia por volta de 1902, ela consiste essencialmente em manter a Mente no
Esp rito através de uma série de perguntas que permitem discriminar ou separar o
Esp rito de todas outras coisas que não são Esp rito, fazendo com que a Mente
permaneça no Esp rito ou fazendo com que a Mente “esteja no ser interior” (I Pe. 3, 4).
Conforme Maharshi:
Quando surgem outros pensamentos, […] colocar a questão ‘A quem é
que eles surgem?’[…] deve inquirir­se com diligência ‘A quem surgiu este
pensamento?’. A resposta que irá emergir será ‘A mim’. De seguida, se se
perguntar ‘Quem sou Eu?’, a mente voltará para a sua fonte; […] Com uma prática
assim repetida, a mente irá desenvolver a capacidade de ficar na sua fonte
(RAMANAN, 2015, p.7)
Portanto, através da pergunta ‘Quem Sou Eu?’, todas as coisas diferentes do
Esp rito, tais como, a Mente, o Corpo, os sentimentos, os objectos e os fenómenos
externos ao Corpo, são negadas e separadas pelo uso da expressão ‘Eu não sou’ ou ‘não
– isto’, o que equivale ao ‘negue­se a si mesmo’, até que permaneça apenas o Eu Sou,
que é o Esp rito, no qual a Mente se liga e mais tarde se dissolve, concretizando­se deste
modo primeiramente o Estado de Silêncio Inacabado (ESI) e posteriormente, após outras
vidas, o Estado de Silêncio Acabado (ESA). Após outras vidas porque na vida em que se
inicia a santidade, em que ocorre a iluminação e a beatitude – nirvana, o Corpo ainda
está imperfeito, sendo necessário outras vidas de intensa santidade até que o Corpo se
torne perfeito, segundo a B blia, “E não só isso, mas nós mesmos, que temos os
primeiros frutos do Esp rito, gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa
adoção como filhos, a redenção do nosso corpo” (Rm. 8, 23).
A Vida da Mente: sistemas de funcionamento do encéfalo, meditação

Assim, a Meditação da Auto – investigação é apropriada para se entrar no Estado


de Silêncio Inacabado ou de Percepção e alcançar o Estado de Silêncio Acabado ou
perfeito, visto que, implica a não identificação com tudo o que aparece ao Esp rito e a
contemplação ininterrupta do Esp rito até que a sua luz passe a dominar no Organismo
em substituição total da Mente que esteve apartada durante muitas vidas, desse modo, no
fim a Mente dissolve­se no Esp rito tornando­se um com ele e servindo­o em plena 145
harmonia e felicidade num Corpo glorioso.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este texto não é um fim em si, mas um meio com o qual se pretende ver todas as
Mentes ligadas aos seus Esp ritos para que todas as pessoas sintam eternamente a paz
real apesar de terem dons diferentes. A sua escrita não foi premeditada, mas resultante de
anotações de insights durante meditações, assim, foi poss vel escreve­lo seguindo a
sequência de procedimentos de, meditação, recepção e anotação de insights,
confrontação de insights com informações e factos existentes, escrita de s nteses.
Na sua essência, o texto mostra que o Esp rito Cósmico origina o Esp rito
Humano, por sua vez, este origina e orienta a Mente que serve como base para a
construção e gestão do Corpo. Uma Mente pode estar separada, ligada ou fundida no seu
Esp rito; Quando está separada o Esp rito é Passivo e a pessoa sente o sofrimento,
quando está ligada o Esp rito é Revelado e se sente a Paz, quando está fundida o Esp rito
é Activo com poder divino e se sente a plena Paz.
A Mente é inicialmente formada no Esp rito, de onde emerge para servi­lo, ligada
ao Esp rito contempla o mundo com alegria na sua fase de infância e, pelo desejo
desliga­se do Esp rito passando para a sua fase adulta, onde experimenta o bem e o mal
e preocupa­se com a sua própria existência culminando com um medo insuportável, que
a leva para a sua fase de velhice, na qual luta para voltar a se ligar e fundir no Esp rito,
por fim dissolve­se no Esp rito e passa a servi­lo numa plenitude de felicidade rica de
experiências, sabedoria e poder divino.
Para a Mente se ligar e se dissolver no Esp rito é necessário se saciar com
experiências, perder o interesse com coisas do mundo e passar a praticar de forma
regular e cont nua a Meditação, que pode ser a Meditação do Mergulho no Ar e a
Meditação da Auto – investigação, até que se dissolva no seu Esp rito e com ele se
tornem um em plena felicidade e poder divino.

REFERÊNCIAS
ALENCAR, Fábio Rapello; MOREIRA, Nelson Brito. Meditação, técnicas para evitar o stress,
ter mais saúde, encontrar a paz e ser mais feliz. 1ª Edição. Rio de Janeiro: Tama Ltda
suma económica. 1999.
ANÓNIMO. Escritos de Wu Hsin projeto luz do oriente. 1ª Edição. 2018.
BHAJAN, Yogi; KHALSA, Gurucharan Singh. A mente: suas projecções e múltiplas facetas. La s
Maria V. P. Moreira, Serkoui Djanian e Vera Franco. São Paulo: Editora Gobinde. 2011.
BÍBLIA. Português. Nova Versão Internacional (NVI). São Paulo: Editora Vida. 2001.
FREITAS, Mário; LIMA, Jorge. Ciências da natureza 7ᵒ ano de escolaridade. 2ª Edição. Lisboa:
Edições ASA. 1990.
PARAMANANDA, swami. Princípios e Propósito da Vedanta. 1910. Dispon vel em: https://
estudantedavedanta.net/Principios_e_Proposito_da_Vedanta.pdf. Acesso em: 08 de
Outubro de 2021.
RAMANAN, V.S. Quem sou eu? Os ensinamentos de Bhagavan Sri Ramana Maharshi. 24ª
Edição. Centros de Retiro Karuna. Portugal. 2015.
Amâncio Maurício Xavier Rêgo

RÊGO, Amâncio Maur cio Xavier. Educação: conceitos, finalidades e modalidades. Scientia cum
Industria. 6(1) (2018) 38­47.
ROQUE, Mercês; CASTRO, Adalmiro. Biologia 12º ano de escolaridade. 1º Volume. Lisboa:
Porto Editora Lda. 1983.
ROQUE, Mercês; CASTRO, Adalmiro. Biologia 12º ano de escolaridade. 2º Volume. Lisboa:
Porto Editora Lda. 1983.
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NOTAS
AUFKLÄRUNG, João Pessoa, v.9, n.1., Jan.­Abr., 2022, p.127­146

1 A Mente é como um solo fértil onde pode germinar e se desenvolver qualquer


semente, quer do Esp rito quer diferente do Esp rito, tanto do trigo como do joio;
É como o Estigma de uma Flor onde pode germinar um grão de pólen, autêntico
ou adulterado; É como um campo de todas as possibilidades, tanto boas como
ruins. A própria Mente deve saber disso, para saber o que se tem semeado em si e
o que deve semear em si mesma!
2 Exemplos de Técnicas de Meditação e praticantes destacados: Atenção Plena (Gautama);
Sentada em frente a parede (Bodidarma e Dogen); Auto­investigação (Maharshi);
Observação do observador (Krishnamurti); Observação da respiração (Osho); Mergulho
interno (Goenka) (ALENCAR; MOREIRA, 1999).

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