Acórdão TJSP - Caso Lindemberg

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 32

fls.

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2013.0000318219

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº


9000016-07.2008.8.26.0554, da Comarca de Santo André, em que é apelante
LINDEMBERG ALVES FERNANDES, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DE SÃO PAULO.

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de
São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Após a sustentação oral do Ilmo. Dr. Fábio
Tofic Simantob e uso da palavra pelo Exmo. Sr. Procurador de Justiça, Dr. Roberto
Tardelli, deram provimento parcial ao recurso, nos termos que constarão do acórdão.
V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores OTÁVIO


DE ALMEIDA TOLEDO (Presidente sem voto), ALBERTO MARIZ DE
OLIVEIRA E BORGES PEREIRA.

São Paulo, 4 de junho de 2013.

Pedro Menin
RELATOR
Assinatura Eletrônica

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
fls. 2

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

Apelação Criminal com Revisão nº


9000016-07.2008.8.26.0554
Apelante: LINDEMBERG ALVES FERNANDES
Apelado: Ministério Público
Comarca de Santo André Vara do Júri e Execuções
Criminais

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
Voto nº 16.416

Ementa:

Júri - Homicídios duplamente qualificados consumado e


tentado (motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa
da vítima) Homicídio qualificado tentado (praticado para
assegurar a execução de outro crime) - Cárcere privado
(cinco vezes) Disparo de arma de fogo (quatro vezes)
1. Preliminares de nulidade Não cabimento Teses que
foram apresentadas em sua grande maioria em diversas
oportunidades no curso do processo e não reconhecidas,
bem como as demais ora levantadas Afastamento Não
constatação do alegado prejuízo.

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
2. Condenação Necessidade - Provas que não contrariam
as evidências dos autos Manutenção Anulação do
julgamento e submissão do acusado a um novo
Impossibilidade.
3. Penas Correção Necessidade Penas-base fixadas no
máximo legal para todos os crimes indistintamente Não
observância das circunstâncias judiciais do artigo 59 do
Código Penal Afronta ao princípio da individualização da
pena Adequação - Afastamento do concurso material de
crimes e reconhecimento da continuidade delitiva para cada
espécie de delito (bloco de crimes) Possibilidade Crimes
praticados nas mesmas condições de tempo, lugar e maneira
de execução Contexto fático único Desdobramento dos
fatos Reconhecimento.
4. Regime inicial de pena - Fechado para os crimes de
homicídio Manutenção Alteração para o semiaberto para
os delitos de cárcere privado e disparo de arma de fogo
Adequação - Necessidade - Recurso parcialmente provido.

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 2
fls. 3

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

A respeitável sentença de fls. 2369/2377, cujo


relatório se adota, com base no julgamento realizado pelo
Tribunal do Júri de Santo André, condenou LINDENBERG
ALVES FERNANDES, como incurso nos artigos 121, §2º,
incisos I e IV (vítima Eloá), 121, §2º, incisos I e IV,
combinado com 14, inciso II (vítima Nayara), 121, §2º, inciso
V, combinado com 14, inciso II (vítima Atos), 148, §1º, inciso

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
IV, por cinco vezes (vítimas Eloá, Victor, Iago e Nayara, esta
por duas vezes), todos do Código Penal, às penas de 98 anos e
10 meses de reclusão e pagamento de 1320 dias-multa, no
valor mínimo legal, negado o direito de recorrer em liberdade,
por ter, por motivo torpe, mediante uso de arma de fogo e
utilizando-se de recurso que dificultou a defesa da vítima,
matado Eloá Cristina Pimentel da Silva; pelos mesmos
motivos e mediante disparos de arma de fogo, ter tentado
matar Nayara Rodrigues da Silva, causando-lhe ferimentos
descritos no laudo pericial, só não consumando o crime por
circunstâncias alheias à sua vontade; por ter efetuado disparos
de arma de fogo objetivando assegurar a execução de outros
crimes; ter efetuado, com ânimo homicida, disparo de arma de
fogo contra o policial militar Atos Antonio Valeriano, não
consumando o crime por circunstâncias alheias à sua vontade,
vez que errou o alvo; por ter privado a liberdade dos menores
de 18 anos de idade, mediante cárcere privado, Eloá Cristina

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
Pimentel da Silva, Victor Lopes de Campos, Iago Vilera de
Oliveira e Nayara Rodrigues da Silva, esta por duas vezes e,
por possuir arma de fogo com numeração raspada, disparando-
a, em lugar habitado, por quatro vezes.

Inconformado, o nobre Defensor apelou,


aduzindo, em preliminares: (i) nulidade do Júri, em virtude do
clima de comoção e indignação da comunidade local que
impediu um julgamento justo; (ii) nulidade decorrente do
comportamento da Juíza Presidente, em Plenário, tendo em
vista a quebra da imparcialidade, acarretando cerceamento de
defesa, já que indeferiu todas as perguntas formuladas pela
Defesa; (iii) nulidade consistente na recusa da Magistrada do
pedido de transcrição dos depoimentos colhidos por
estenotipia a tempo de poderem ser usados nos debates e, (iv)

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 3
fls. 4

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

nulidade da sentença de pronúncia, vez que se limitou a


mencionar as qualificadoras dos crimes, sem contudo,
fundamentá-las, tampouco, mencionar as circunstâncias em
que se deram os fatos, as quais devem ser analisadas e
devidamente fundamentadas nas provas contidas nos autos,
culminando na elaboração de quesitos genéricos, gerando
incontornáveis prejuízos ao acusado. No mérito, alegou que a
condenação foi manifestamente contrária à prova dos autos,

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
postulando a submissão de Lindemberg a novo julgamento
pelo Tribunal do Júri, com fundamento nas nulidades acima
descritas, bem como quanto à dosimetria das penas, no que
toca ao afastamento do concurso material de crimes, para os
delitos de cárceres privado e disparos de arma de fogo. Por
fim, insurgiu-se quanto a pena-base, fixada no máximo legal
de forma indistinta para todos os crimes, em patente
demonstração de ausência de individualização da pena,
configurando ilegalidade, bem como nulidade. Ainda com
relação a pena, em especial no que toca aos delitos de cárcere
privado, pediu o reconhecimento de crime único, tendo em
vista a pluralidade de vítimas e, subsidiariamente, o
reconhecimento do concurso formal ou da continuidade
delitiva para todos os delitos, especialmente para os crimes
contra a vida e de disparo de arma de fogo, assim como o
crime único para o delito de cárcere privado, ou na pior das
hipóteses, o concurso formal, respeitadas, no mais, as

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
diretrizes do artigo 59 do Código Penal para fixação das penas-
base (fls. 3057/3093).

O Ministério Público respondeu, se batendo


pelo improvimento da apelação (fls. 3136/3164), tendo a douta
Procuradoria Geral de Justiça, oferecido respeitável parecer na
igual tecla ministerial, ou seja, pelo não provimento do
reclamo, seja em relação às preliminares ou quanto ao mérito,
e, ainda, quanto à manutenção das reprimendas impostas na
respeitável sentença (fls. 3167/3195).

É o relatório do essencial.

Consta na denúncia que no dia 17 de outubro


de 2008, por volta das 18h00min., na Rua Oito, bloco 24,

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 4
fls. 5

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

apartamento 24, CDHU, bairro Jardim Santo André,


LINDEMBERG ALVES FERNANDES, agindo com intenção
de matar, mediante uso de arma de fogo, por motivo torpe e
utilizando-se de recurso que dificultou a defesa da vítima,
efetuou disparos contra Eloá Cristina Pimentel da Silva,
causando-lhe ferimentos que foram a causa eficiente de sua
morte.

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
Consta também, que nas mesmas circunstâncias
de local e horário, Lindemberg, mediante disparo de arma de
fogo, por motivo torpe e utilizando-se de recurso que
dificultou a defesa da vítima, atirou contra Nayara Rodrigues
da Silva, causando-lhe ferimentos descritos no laudo de exame
de corpo de delito, os quais não foram à causa da sua morte
por circunstâncias alheias à sua vontade.

Consta ainda, que em data anterior, no local já


declinado, o réu, agindo com intenção de matar, mediante uso
de arma de fogo e objetivando assegurar a execução de outros
crimes, efetuou disparo contra o policial militar Atos Antônio
Valeriano, só não consumando o crime, por circunstâncias
alheias à vontade do agente.

Na mesma data, no período compreendido


entre as 13h15min., até as 18:00 horas do dia 17 de outubro de
2008, no mesmo endereço, o acusado privou a liberdade,

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
mediante cárcere privado, das vítimas menores de 18 anos de
idade, Eloá Cristina Pimentel da Silva, Nayara Rodrigues da
Silva, Victor Lopes de Campos e Iago Vilera de Oliveira.

Por fim, consta que no local supramencionado,


lugar habitado, o réu disparou por quatro vezes arma de fogo.

Apurou-se que Lindemberg e a vítima Eloá,


mantiveram relacionamento amoroso por cerca de dois anos e
sete meses. Por motivo de ciúmes e brigas, Eloá resolveu
encerrar o namoro, comunicando a decisão ao acusado que
não a aceitou. Durante aproximadamente um mês, o réu
perseguiu Eloá, tentando a reconciliação. Há nos autos,
inclusive, notícias de que Lindemberg a teria agredido
fisicamente.
Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 5
fls. 6

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

No dia 13 de outubro de 2008, por volta do


meio dia, o réu encontrou-se com Everton Douglas, irmão
caçula de Eloá, dizendo-lhe que ele era seu melhor amigo e
que nunca o esqueceria, o que chamou atenção de Everton, já
que mais parecia uma despedida. Em seguida, de motocicleta,
dirigiram-se a uma pastelaria na Vila Luzita e por volta das
13h00min., o acusado avistou os adolescentes Nayara, Victor

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
e Iago juntamente com Eloá, vez que iriam se reunir a fim de
realizar um trabalho escolar, pois estudavam na mesma classe.
Indignado com tal situação, Lindemberg disse a Everton que
“iria mandar aqueles moleques para fora de casa”, para que
pudesse ficar a sós com Eloá. Na sequência, levou o garoto
para o “Parque do Pedroso”, deixando-o lá e pegando o celular
de Everton, dizendo-lhe que iria buscar um lanche para ambos.

Contudo, ao invés disso, o réu foi buscar arma


de fogo, um revólver calibre 32, com uma quantidade razoável
de munição correspondente e dirigiu-se ao apartamento de
Eloá, onde os menores encontravam-se reunidos. Ao chegar lá,
invadiu a casa, agredindo com socos as vítimas Iago e Victor
além de Eloá, com tapas, chutes e puxões de cabelo,
demonstrando nervosismo e transtorno mental. Nesse estado,
mantendo todos como reféns, ameaçando-os com arma de
fogo e dizendo-lhes que “não tinha mais o que perder” e que

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
por isso, mataria a todos.

A polícia militar tomou conhecimento dos fatos


por meio dos familiares das vítimas, as quais tentavam falar
com elas, sem, contudo, obter êxito, e para lá se dirigiram,
iniciando as negociações.

Por volta das 22h:00min., do dia 13, a vítima,


Victor, passou mal e, com a intermediação de Nayara,
Lindemberg concordou em soltá-lo. Após trinta minutos, o
policial militar Atos tentou negociar a libertação dos reféns,
bem como a rendição do réu, que não se mostrava disposto em
concordar com as propostas oferecidas pelo policial. Nesse
contexto, na tentativa de impedir que policiais se
aproximassem do “cativeiro” e, para assim garantir a execução

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 6
fls. 7

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

dos crimes que estava predisposto a praticar, apontou a arma


de fogo na direção do policial Atos, atirando em seguida, mas
errou o alvo.

Na sequência, ao observar que chegou


mensagem de texto no aparelho de telefonia móvel de Eloá, o
acusado irritou-se, já que teria sido enviada por outro rapaz.
Em virtude de tal fato, interrogou Eloá e Nayara a fim de saber

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
quem seria o indivíduo e sem qualquer controle dirigiu-se até a
janela, disparando a arma de fogo, sem, contudo, atingir
alguém.

Perto das 23h:00min., do mesmo dia, a vítima


Iago também passou mal e, Nayara convenceu Lindemberg a
soltá-lo, o que foi feito.

Já, à noite, para que pudesse dormir, ele


amarrou Eloá e Nayara com camisetas e fita adesiva.

Segundo consta, o réu tinha alternância


constante de humor; - em alguns momentos comportava-se
cordialmente, em outros, era agressivo, tanto é que, em um de
seus acessos de fúria, atirou contra a tela do computador de
Eloá, além de disparar no interior do banheiro da casa.

No dia seguinte, 14 de outubro, no período da

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
noite, como parte da estratégia militar, o fornecimento de
energia foi interrompido, no sentido de dissuadir o acusado a
soltar as vítimas, mas Lindemberg exigiu que fosse religada e
foi atendido. Às 23 horas desse mesmo dia, após vinte e três
horas de cativeiro, ele libertou Nayara.

As negociações continuaram no dia 15, mas


sem êxito. Na manhã do dia 16, o réu exigiu a vinda de
Everton e Nayara para que se entregasse. Nesse sentido,
conforme as exigências do acusado foram tomadas as
providências para que ambos os adolescentes estivessem no
local. Segundo suas imposições, Everton deveria ficar no
andar debaixo do apartamento, enquanto Nayara dirigir-se até
o meio do corredor do andar em que ele se encontrava
juntamente com Eloá.
Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 7
fls. 8

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

Visando trazê-la para o interior do imóvel, com


a desculpa de que não a estaria enxergando, Lindemberg pediu
que Nayara se aproximasse, o que após, abriu a porta,
ordenando que ela ingressasse no imóvel sob pena de atirar em
Eloá, a quem mantinha como escudo, sob a mira do revólver.
Diante disso, Nayara entrou no apartamento. Em seguida, os
policiais ligaram para o réu exigindo sua rendição, mas ele

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
dizia que em breve se renderia. Contudo, não cumpriu com o
acordo, mantendo as duas como reféns, submetendo-as a
intenso sofrimento psicológico, oportunidade em que Eloá
perdeu o controle emocional, passando a gritar: “não aguento
mais, me mate, me mate, não aguento mais ficar aqui”.

Foi nesse contexto que Lindemberg agarrou


Nayara pelo pescoço, apontando a arma contra sua cabeça e
perguntando a Eloá se ela queria ver sua amiga morta, a qual
respondeu que não, se acalmando.

Segundo a denúncia, o acusado nutria “ódio


por Nayara” (fls. 09-d), pois supunha que ela servia como
conselheira sentimental de Eloá e, portanto, responsável pelo
rompimento do namoro de ambos, o que foi desmentido por
esta última.

Durante o dia 17, Lindemberg relembrou os

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
momentos que passou ao lado de Eloá, irritando-se,
disparando arma de fogo contra o teto do imóvel e exigindo
garantias quanto à sua incolumidade física em caso de
rendição, solicitando, inclusive, a presença de um Promotor de
Justiça, no que foi atendido, na pessoa do Dr. Augusto
Rossini, para que ajudasse nas negociações que continuavam
infrutíferas.

Para tranquilizar o réu, quanto sua segurança


física, o culto Representante Ministerial firmou um
documento, o qual lhe foi entregue, mas mesmo assim,
Lindemberg voltou atrás e não se rendeu conforme se
esperava.

Por volta das 18 horas desse mesmo dia, o

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 8
fls. 9

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

acusado percebeu que uma invasão no apartamento estava


sendo preparada e por esse motivo, empurrou uma mesa
bloqueando a porta de entrada do imóvel, para evitar que
policiais entrassem, postando-se de arma em punho ao lado
das duas vítimas, as quais encontravam-se deitadas, uma no
sofá e a outra sob um colchonete no chão. Nesse ínterim, os
agentes estouraram a porta, explodindo-a, mas antes que eles
ingressassem no apartamento, Lindemberg atirou contra as

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
vítimas, acertando-as. Alguns segundos após, os policiais
militares entraram na residência, dominando o acusado que
relutava em se entregar.

Segundo consta, Eloá foi atingida no rosto e na


virilha, morrendo no mesmo dia, por volta das 23 horas, em
virtude dos ferimentos sofridos e Nayara recebeu um disparo
contra o rosto, mas que antes atingiu sua mão direita, mas foi
socorrida, recebendo pronto atendimento médico, não se
consumando o crime, com relação a ela, por circunstâncias
alheias à vontade do agente.

A exordial descreve que Lindemberg matou


Eloá impelido por motivo torpe, consistente em vingança, já
que ela se recusava em reatar o relacionamento com ele.

Igualmente, quanto o mote do crime praticado


contra Nayara, já que supunha ser ela a responsável pelo

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
término do namoro.

Além disso, o acusado praticou tais crimes,


utilizando-se de recurso que dificultou a defesa das vítimas,
vez que elas foram mantidas suas reféns e, por isso, não
podiam oferecer resistência, inclusive quanto ao fato de que
ele estava armado e que quando foram alvejadas, estavam
deitadas.

O feito foi desmembrado em relação ao


acusado Everaldo Pereira dos Santos (fls. 797), em virtude de
ter sido citado por edital, o qual nomeou Defesa Técnica que
não apresentou Defesa Preliminar, porquanto não foi
encontrada para ser citada, prosseguindo-se os autos com
relação à Lindemberg.
Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 9
fls. 10

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

Estes são os fatos.

Primeiramente, quanto as preliminares arguidas


pela Defesa, menciona-se, por oportuno, que algumas delas já
foram anteriormente levantadas e igualmente rebatidas por
inúmeras vezes no curso do processo.

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
Seja como for, a fim de se evitar eventuais
alegações de omissão por parte deste Julgado, elas serão
novamente rebatidas, a saber:

Menciona-se, por oportuno, que a Defesa


concordou com o veredicto condenatório quanto aos crimes
dolosos contra a vida, insurgindo-se, tão somente, quanto ao
mérito, pelos crimes de cárcere privado e disparos de arma de
arma de fogo, restringindo-se quanto aos primeiros às questões
processuais e pretendendo o reconhecimento da nulidade da
sentença de pronúncia, alegando ausência de fundamentação
quanto às qualificadoras e também do julgamento, decorrente
de deficiente formulação dos quesitos referentes ás mesmas.

Indiscutível se mostra a insurgência do apelante


quanto à sentença de pronúncia, a qual já foi em um primeiro
momento declarada nula, refeitos os atos do processo que se
julgaram necessários e a partir de então, não há nada nos autos

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
que macule o processo. A fundamentação sobre as
qualificadoras se mostram, embora sucinta, suficiente. Além
disso, elas se confundem com o mérito e com ele serão
analisadas. Menciona-se que quanto a nova decisão de
pronúncia, o apelante declinou do seu direito de recorrer (fls.
2150).

Sobre as demais nulidades aventadas, em


especial a quesitação exercida, segundo o apelante, de maneira
mal fundamentada e de forma genérica, elaborados ainda que
protestos feitos pela Defesa extrai-se que deve ser afastada de
plano, pois segundo o termo de votação dos quesitos, vê-se
que eles estão de acordo com a decisão de pronúncia, em
ordem, uma série para cada crime imputado ao acusado,
justamente para não confundir os senhores jurados.

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 10
fls. 11

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

Quanto a este ponto, destaca-se que não se


exige formulação de quesito específico, admitindo-se a
fórmula genérica. Seja como for, ao contrário do alegado, os
quesitos estão de acordo com o que a lei exige, o mesmo se
diga, quanto às qualificadoras, já que ficou consignado nas
séries dos quesitos qual teria sido o motivo torpe, bem como
porque as vítimas não teriam conseguido se defender.

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
Salienta-se que há controvérsia doutrinária
acerca da necessidade ou não de formulação de quesito sobre a
continuidade delitiva ou do reconhecimento de concurso
formal, ou se tal assunto está afeto apenas à apreciação do
Magistrado. Mesmo os autores que sustentam que a matéria
deve ser levada ao Conselho de Sentença, entendem que caso
não haja manifestação dos jurados sobre o tema, compete ao
Juiz Presidente sobre ele decidir ou ao Tribunal de Justiça
examiná-lo quando do julgamento da apelação de maneira
que, a esse respeito, os fatos igualmente serão analisados
juntamente com o mérito.

A comoção social, na hipótese, não merece ser


considerada prejudicial ao réu, além do normal, até porque, os
fatos foram veiculados em rede nacional e qualquer que fosse
a Comarca que ele fosse julgado, ainda assim, a comoção
persistiria. Além disso, deve-se considerar que a noção do que

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
é certo ou errado ou ilegal é fator inerente que se espera do
homem probo, independentemente do local onde está
ocorrendo o julgamento, tornando, no caso, desnecessário o
desaforamento.

Não se reconhece igualmente nulidade


ocasionada decorrente do comportamento da Magistrada. Os
fatos transcorreram dentro do limite da normalidade, esperada
para casos com tais contornos e desdobramentos. A predileção
alegada, não restou configurada.

Por fim, não há falar que a Sentenciante


indeferiu todos os pedidos formulados pela Defesa, que
serviriam em favor do acusado, pois como se vislumbra nos
autos, foram indeferidas algumas reperguntas formuladas pela
Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 11
fls. 12

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

Defesa, porquanto impertinentes ou descabidas (fls.


2482/2483; 2626; 2681; 2689; 2797 e 2807).

O Código de Processo Penal expressamente


impõe ao Juiz que não permita que a testemunha manifeste
apreciações pessoais, salvo quando indissociáveis do fato, o
que não ocorreu na hipótese dos autos (artigo 213 Código de
Processo Penal).

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
Por outro lado, foram diversos os
requerimentos formulados pela defesa que foram aceitos pela
Magistrada, não obstante as manifestações Ministeriais em
contrário, fato, aliás, aventado pelo digno Procurador Geral de
Justiça (fls. 3140 e 3181).

Derradeiramente, quanto à ausência de


transcrição dos depoimentos por estenotipia, o que no caso,
segundo a Defesa teria gerado nulidade absoluta por
cerceamento de defesa, observa-se que tanto as testemunhas
como as vítimas já tinham sido ouvidas tanto na fase de
instrução processual como na extrajudicial, de modo que as
partes dispunham de material, elementos existentes nos autos,
suficientes para suas teses, as quais puderam fazer uso durante
os debates.

Ressalta-se que a própria Defesa concordou

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
com o emprego da técnica de estenotipia para registro dos
depoimentos, conforme se vê na ata de julgamento.

Seja como for, a Defesa não consegiu


comprovar o prejuízo advindo das alegadas nulidades,
afirmando, de forma genérica, a ocorrência delas, sem,
contudo, demonstrar o efetivo prejuízo (artigo 563 do Código
de Processo Penal).

As preliminares de nulidade ficam, dessa


forma, rejeitadas.

Quanto à análise do mérito, para melhor


entendimento dos autos, observo a necessidade de se fazer
uma digressão histórica dos atos processuais, o que passo a

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 12
fls. 13

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

fazer nos parágrafos seguintes.

As materialidades dos crimes estão


comprovadas pelo laudo de exame necroscópico de fls.
452/453 (vítima Eloá), auto de exibição e apreensão de objetos
apreendidos na residência dessa vítima (fls. 389/392, 466/467,
512/516 e 519/521), laudos periciais das armas de fogo
(calibres ponto 40, 12, 22 e 32 fls. 235/237, 238/240,

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
241/243, 244/246, 249/251, 252/254, 255/257, 258/260,
261/263 e 417/510), do computador (fls. 523/540), do
aparelho celular (fls. 542/550), exames grafológico e
residuográfico (fls. 552/556 e 557/560), do local dos fatos (fls.
561/629), dos exames médicos realizados em Eloá (fls.
455/464 e 631/633), cronologia de ocorrência com reféns (fls.
665/672), laudo de lesões corporais da vítima Nayara (fls. fls.
441 e 678/679 ) , de fls. 442, da vítima Victor e fls. 440, da
vítima Iago, exames de confronto balístico (fls. 366/387 e
703/726), auto de entrega dos bens retirados da casa de Eloá
que foram periciados (fls. 750/751), degravação da negociação
(fls. 393/406), transcrições oferecidas pela “Rede Gazeta de
Televisão” (fls. 804/817), pelo “Jornal da Band” (fls. 819/835)
e pela “Rede Record” (fls. 819/879 e fls. 1215/1231), pela
“Rede Globo” (fls. 1279/1289), dos exames de reconstituição
dos crimes (fls. 881/910) e residuográfico (fls. 1332/1337 e
1339/1343), além do laudo pericial complementar do DVD,

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
para degravação de som (fls. 1381/1398).

Autoria inconteste. Preso em flagrante (fls.


361/ 365), tanto perante a autoridade policial, como em juízo,
Lindemberg permaneceu em silêncio (fls. 744/745, 1146/1148
e 2069/2071), mas ao ser interrogado perante o Conselho de
Sentença, contou sua versão dos fatos (2885/3031).

Em síntese, Lindemberg narrou os


acontecimentos, em discurso coerente, dizendo que teria ido
até o apartamento de Eloá para conversar com ela sobre
possível reconciliação, mas que não esperava encontrar os
demais no local. Contou ter adquirido arma de fogo de um
indivíduo desconhecido, em um parque existente na
localidade, pois vinha sendo ameaçado de morte, por meio de

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 13
fls. 14

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

mensagens telefônicas, embora não tenha conseguido


identificar o autor das alegadas mensagens de texto. Disse
ainda, que Eloá o teria enganado, vez que estava tendo um
caso com um dos rapazes, de nome Vitor, o qual estava na
casa dela sob o pretexto de fazer trabalho de classe junto com
os demais. Por outro lado, asseverou que em momento algum
impediu que eles descessem, com exceção de Eloá e que em
dado momento, até sugeriu que fossem embora, o que foi

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
prontamente recusado por todos, sob o argumento de que só
iriam se ele liberasse Eloá também. Negou ter agredido
qualquer uma das vítimas e narrou como estava nervoso,
“perdido”, sem saber o que fazer, nem como agir, tendo, por
isso atirado na tela do computador. Relatou não ter disparado,
efetivamente, objetivando acertar alguém, muito menos
policiais, já que os tiros foram dados a ermo, em momento de
desespero e como forma de represália por eles estarem
avançando o espaço da casa, ameaçando invadi-la. Disse não
ter saído antes do apartamento por não confiar na polícia,
temer represálias e retaliações por parte do público que ali
estava, bem como e principalmente dos policiais, temendo que
eles atirassem como costumam fazer em casos semelhantes.
Contou que ficava nervoso, igualmente, com o descontrole e
berros de Eloá, mas que tinham momentos de paz,
relaxamento, se alimentavam e dormiam.

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
Ao final, Lindemberg Alves confirmou ter
atirado em Eloá, justamente no momento que ocorreu a
explosão seguida da invasão policial no apartamento, mais
como um impulso, reflexo de que ela viria em sua direção,
mas negou ter disparado a arma contra Nayara. Por fim,
demonstrou arrependimento e tristeza por todo o corrido,
pedindo perdão aos familiares das vítimas.

A denúncia oferecida (fls. 187 1º vol.) foi


recebida em 28/10/2008 (fls. 189), oportunidade em que foi
juntada Folha de Antecedentes Criminais do acusado, de onde
se constata sua primariedade. A Defesa prévia foi oferecida,
com resposta e Nayara Rodrigues da Silva ingressou nos autos
como assistente da acusação (fls. 316/318), sendo a audiência
de instrução, debates e interrogatório designada para o dia

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 14
fls. 15

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

08/01/2009 (fls. 280, 1º vol.).

Sobreveio sentença de pronúncia (fls. 915/925),


submetendo o réu a julgamento pelo Tribunal do Júri. Contra
essa decisão foi interposto recurso em sentido estrito (fls. 927
e 1312/1326), o qual foi recebido (fls. 1291) e contrarrazoado
pelo Ministério Público (fls. 1345/1354), se batendo pelo
afastamento das preliminares arguidas pela Defesa e, no

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
mérito, por seu improvimento. Em igual tecla, opinou o douto
Procurador Geral de Justiça (fls. 1422/1426).

Ana Cristina Pimentel também ingressou nos


autos como Assistente de Acusação, apresentando
contrarrazões de recurso em sentido estrito (fls. 1377/1380 e
1402/1406).

Já em segunda instância, a Colenda 16ª Câmara


Criminal deste Egrégio Tribunal de Justiça, negaram
provimento ao recurso, mantendo a sentença de pronúncia em
seus ulteriores termos (fls. 1432/1445, 6º vol.). Contra o
Aresto foram opostos embargos de declaração (fls. 1454/1457,
6º vol.), os quais foram rejeitados (fls. 1461/1465), com
fundamento de que ausente a alegada omissão constante no
venerando, tendo sido designado o julgamento do acusado
para dia 21/02/2011 (fls. 1524/1527).

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
Contudo, destaca-se que, o processo foi
anulado a partir da audiência de instrução e interrogatório
anteriormente realizada, através de julgamento do HC n.
4592008 554012008 0387557 990090071150 990090072250,
realizado em 26/10/2010, por decisão proferida pela 6ª Turma
do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, relatado pela Min.
Maria Thereza de Assis Moura que após leitura dos autos,
entendeu que a prolação da sentença de pronúncia assim como
a designação de audiência, sem que a Defensoria tivesse
acesso à prova produzida (laudos e DVDs juntados antes da
audiência final) incorreu em cerceamento de defesa, em
patente prejuízo para o acusado, daí porque tais provas não
poderiam deixar de ser consideradas para efeito de pronúncia,
ainda que em respeito à nova redação trazida pelos artigos 410

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 15
fls. 16

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

e 411, ambos do Código de Processo Penal, que impingiu


maior celeridade aos julgamentos realizados pelo Tribunal do
Júri (fls. 1563/1585).

Nesse passo, as provas foram refeitas, ouvidas


as testemunhas de acusação, de defesa e do juízo, bem como
realizado o interrogatório do réu em 13/04/2011, para somente
após, ser encerrada a instrução (fls. 1832).

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
Importante destacar o depoimento das vítimas.
Nayara Rodrigues da Silva contou os fatos com detalhes, tais
como descritos na denúncia. Disse que Lindemberg não se
conformava com a separação e insistia para que Eloá voltasse,
alegando que ela teria sido “injusta” e “desonesta” com ele.
Ao ingressar na casa, o acusado lhes dizia que eles tinham
estragado tudo, pois ele queria estar só com Eloá. Asseverou
que foi o sargento Atos quem teria dado início as negociações
e que o réu, ao perceber sua aproximação, disse para que ele se
afastasse, disparando em sua direção. Confirmou que na
segunda-feira à noite, com sua intervenção, Vitor e Iago foram
liberados para saírem da casa, acrescentando, ainda, que
Lindemberg tinha alternâncias de humor e que nos “momentos
de fúria”, sem motivo aparente, chegou a atirar contra tela do
computador e contra o teto. Por fim, aduziu que foi liberada na
terça-feira à noite, mas que na quinta-feira, pela manhã, um

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
policial compareceu em sua residência, lhe dizendo para que
ela e Everton voltassem para participar das negociações já que
se tratava de pessoas de confiança do acusado, mas ao
estender as mãos para Eloá que se encontrava atrás da porta,
com uma arma apontada para cabeça, acabou ingressando no
imóvel novamente. Sobre a invasão policial, Nayara disse que
houve uma explosão, cujo barulho acabou por atordoar todos
que estavam no interior da casa, além da fumaça que se
dissipou no local. Em seguida, percebeu que policiais
tentavam ingressar no imóvel e para isso, empurraram a mesa
que segurava a porta, momento em que cobriu o rosto com um
“edredom”, nada mais presenciando, apenas ouvindo um
barulho forte e sentindo algo escorrer por sobre seu rosto,
oportunidade em que descobriu os olhos e viu Lindemberg se
debatendo e Eloá desacordada no sofá (fls. 932/1003 e

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 16
fls. 17

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

1698/1766).

Ewerton Douglas Pimentel da Silva, irmão de


Eloá, contou que considerava Lindemberg como um irmão e
que embora tenha insistido para que os policiais o deixassem
falar com ele, não o deixaram, sendo chamado somente no
final para ajudar nas negociações juntamente com Nayara.
Disse que o réu tinha lhe prometido que iria libertar Eloá, sem,

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
contudo, cumprir com o combinado. Asseverou não ter
presenciado o acusado bater em sua irmã e que só a via
chorando algumas vezes (fls. 1769/1790).

A vítima Victor Lopes de Campos disse que


frequentava a mesma escola e a mesma classe de Eloá e que
no dia dos fatos, juntamente com Nayara e Iago dirigiram-se
até a casa dela, a fim de fazerem um trabalho escolar. Contou
que, quando estavam no “cativeiro”, ninguém teria pedido
para sair (fls. 1004/1047 e 1791/1802).

Iago Vilera de Oliveira, o menor que se


encontrava na residência de Eloá quando ela foi invadida por
Lindemberg confirmou os fatos narrados por Victor,
acrescentando que tanto ele, como Victor, levaram uma
“coronhada” no rosto e que embora tenha pedido para sair do
local, fora impedido por “Liso”, apelido do réu (fls.
1803/1816).

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
O policial militar Atos Antonio Valeriano foi
quem teria dado início as negociações, substituído,
posteriormente, por decisão do GATE, por outro agente, de
nome Giovanini, já que a negociação, com ele, não estava
progredindo, mas presenciou a liberação de Nayara, na quarta-
feira, apresentando a ocorrência, bem como a levando para
fazer exame de corpo de delito. Acrescentou que no primeiro
dia, não viu para que lado Lindemberg disparou a arma de
fogo, ouvindo apenas o barulho (fls. 1048/1076 e 1817/1828).

Daylson Moreira Pereira, agente policial,


acrescentou que “a negociação com Lindemberg ficou
estressante”, ou seja, perdeu-se o controle das negociações que
caminhava para outro desfecho. Quando da invasão, ele foi o
Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 17
fls. 18

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

primeiro homem a adentrar no apartamento, segurando um


escudo e viu, ao entrar, que Lindemberg estava em pé,
correndo para a cozinha, tentando abrigar-se, atirando contra
os policiais e que as vítimas se encontravam deitadas,
observando que Nayara tinha sangue na boca. Contou que o
acusado foi detido, mediante força física, logo após ter jogado
a arma ao chão, já sem munição (fls. 1077/1101 e 1991/2012).

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
Mario Magalhães Neto, testemunha do juízo e
policial do GATE, contou como se deu a operação, dizendo ter
recebido, juntamente com outros policiais, determinação de
ingressar no imóvel caso em que houvesse novo disparo de
arma de fogo dentro da casa, ocupada por Lindemberg e as
vítimas. Contou que ao ingressar na residência, sua visão era
bastante limitada e que após ultrapassar a barreira, viu as mãos
de Lindemberg encostadas na parede, sem, contudo, ter
condições de vê-lo, afirmando que ele teria se rendido a partir
de então (fls. 1102/ 1115).

Outro policial do GATE, Mauricio Martins de


Oliveira disse não se lembrar de detalhes ocorridos na data dos
fatos, mas que no momento da invasão, o réu estava agressivo,
demorando a ser contido (fls. 1952/1967).

Igualmente os depoimentos apresentados por


Frederico Mastria e Paulo Sérgio Schiavo, outros policiais do

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
GATE (fls. 1968/1991 e 2016/2034).

Avelino Nascimento da Silva testemunha de


defesa, depôs a favor do réu, dizendo tratar-se de pessoa boa,
honesta e trabalhadora, confirmando que ele entregava pizzas
e morava com sua mãe (fls. 1116/ 1126 e 1870/1872).

No mesmo sentido foram os depoimentos de


Robson Muriel dos Santos (fls. 1873/1875), Romério
Francisco dos Santos (fls. 1127/1135 e 1876/1878), Diego
Cordeiro dos Santos Silva (fls. 1879/1881), Robson Moirato
de Oliveira (fls. 1882/1884), Dari Rodrigues da Silva (fls.
1885/1887).

Nesse passo, depois de apresentadas alegações

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 18
fls. 19

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

finais pelas partes, sobreveio sentença de pronúncia,


submetendo Lindemberg Alves a julgamento pelo Conselho de
Sentença, como incurso no artigo 121, §2º, incisos I e IV
(vítima Eloá); artigo 121, §2º, incisos I e IV, combinado com
artigo 14, inciso II (vítima Nayara); artigo 121, §2º, inciso V,
combinado com artigo 14, inciso II (vítima Atos); artigo 148,
§1º, inciso IV, por cinco vezes (vítimas Eloá, Victor, Iago e
Nayara, esta por duas vezes), todos do Código Penal e artigo

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
15 caput, da Lei n. 10.826/2003, por quatro vezes, tendo sido
negado o direito de recorrer em liberdade (fls. 2138/2144).

A Defesa manifestou seu desinteresse em


recorrer da respeitável decisão (fls. 2150), transitada em
julgado em 26/10/2011 (fls. 2189), mas impetrou a ordem de
Habeas Corpus n. 0586041-64.2010.8.26.0000, pleiteando a
concessão de liberdade provisória, o qual aportou na Colenda
16ª Câmara deste Egrégio Tribunal de Justiça, por mim
relatado, que por votação unânime, denegou a ordem, em
decisão proferida em 12/04/2011 (fls. 2159/2165).

Por fim, foi designado julgamento pelo


Tribunal do Júri para o dia 13/02/2012 (fls. 2185/2187), a qual
foi realizada na data aprazada, proferida sentença pela MMª
Juíza Presidente do Tribunal do Júri de Santo André, Doutora
Milena Dias, julgando procedente a pretensão punitiva do

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
Estado, condenando Lindemberg Alves Fernandes, como
incurso nas sanções dos artigos 121, §2º, incisos I e IV (vítima
Eloá), 121, §2º, incisos I e IV, combinado com o artigo 14,
inciso II (vítima Nayara); artigo 121, §2º, inciso V, combinado
com o artigo 14, inciso II (vítima Atos); artigo 148, §1º, inciso
IV, por cinco vezes (vítimas Eloá, Victor, Iago e Nayara, esta
por duas vezes), todos do Código Penal e artigo 15 caput, da
Lei n. 10.826/2003, por quatro vezes, as penas de 98 anos e 10
meses de reclusão e pagamento de 1320 dias-multa, no valor
unitário mínimo legal, negado o seu direito de recorrer em
liberdade (fls. 2369/2377). Contra essa decisão foi interposto
recurso de apelação pela Defesa (fls. 2399 e 3057/3093), o
qual foi recebido (fls. 3055).

Este foi o drástico e lamentável desfecho do

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 19
fls. 20

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

caso aqui tratado.

Passo a análise do mérito.

Diante dos fatos exaustivamente narrados, bem


como da vasta prova produzida nos presentes autos, extrai-se
que a condenação do acusado é medida que se impõe.

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
Destaca-se que as provas não são contrárias as
evidências e todo o contexto converge para a
responsabilização do réu pelos atos criminosos que vitimaram
fatalmente Eloá, que causou lesões corporais graves em
Nayara, bem como pelos disparados de arma de fogo
proferidos em direção à via pública, local habitado e que quase
atingiu o policial Atos. Igualmente no que toca a privação da
liberdade das vítimas Eloá, Nayara, Vitor e Iago, motivo pelo
qual, não poderia ser outro o desfecho do processo que não a
condenação que não se mostra, portanto, contrária à prova dos
autos.

Desse modo, de se acolher a opção feita pelos


Jurados, a qual não se afasta das provas colhidas ao longo do
processo, merecendo ela ser prestigiada pela construção
pretoriana:

“Júri. Crime de homicídio qualificado.

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
Pretendida anulação do julgamento, sob o
argumento de que a decisão dos jurados
contraria a prova dos autos. Impossibilidade. A
decisão não é manifestamente contrária à
prova dos autos, porque encontra respaldo em
uma das versões verossímeis existentes.
Precedentes citados”. (9000004671995826 SP
9000004-67.1995.8.26.0224, Relator: Souza
Nery - Data de Julgamento: 13/09/2012, 9ª
Câmara de Direito Criminal, Data de
Publicação: 19/09/2012).

“Apelação Criminal – Homicídio. Defesa


requer novo Julgamento, alegado que a
decisão dos Senhores Jurados foi

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 20
fls. 21

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

manifestamente contrária à prova dos autos.


Impossibilidade. Decisão acertada do
Conselho de Sentença. Apelo não provido”.
(4669168919988260011 SP
0466916-89.1998.8.26.0011, Relator: Sérgio
Ribas - Data de Julgamento: 04/10/2012, 5ª
Câmara de Direito Criminal, Data de
Publicação: 10/10/2012).

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
Igualmente quanto às qualificadoras do motivo
torpe e do emprego de recurso que dificultou a defesa das
vítimas, no que toca aos crimes de homicídios consumado
(vítima Eloá) e tentado (vítima Nayara), vez que foram
reconhecidas pelo Conselho de Sentença, com base no
conteúdo das provas amealhadas aos autos.

Descreve-se que por motivo torpe compreende-


se ser o motivo vil, imoral, desprezível e que contrasta com a
moralidade média (v. Código Penal Anotado, Andreucci,
Ricardo Antonio, 2010, 4ª ed., Ed. Saraiva), que na hipótese
dos autos, seria a vingança, seu inconformismo com o término
do relacionamento.

Quanto ao uso de recurso que dificultou a


defesa das vítimas, denota-se que “deve ser apto a dificultar ou

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
tornar impossível a defesa da vítima” (apud, pg. 296). No
caso, o acusado estava armado, mostrava-se agressivo e muitas
vezes fora de controle, além de ter atirado contra as vítimas
Nayara e Eloá quando se encontravam deitadas.

O mesmo quanto ao crime de homicídio


tentado praticado contra a vítima Atos, quanto à qualificadora
consistente em assegurar a execução de outro crime, vez que
foi confirmada pelo Júri Popular e se encontra consentânea
com os fatos narrados na denúncia e demonstrados no
conjunto probatório dos autos.

Assim, as qualificadoras se encontram


devidamente fundamentadas, adequadas e cabíveis na espécie.

Quanto a manifesta irresignação da Defesa no


Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 21
fls. 22

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

que toca às condenações pelos crimes de cárcere privado, ao


argumento de que somente a vítima Eloá teria sido privada de
sua liberdade e os demais tiveram a opção de sair, o que não
fizeram por livre e espontânea vontade, destaca-se que ao
contrário do alegado, segundo se extrai do depoimento das
vítimas, todas foram mantidas em cárcere privado e que
somente após 10 horas de “confinamento” o réu permitiu que
Vitor saísse, porque estava passando mal e só depois de uma

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
hora de sua saída, pelo mesmo motivo, teria libertado Iago.

Nesse sentido, destaca-se o depoimento de


Nayara quando disse que ao argumentar com o acusado sobre
a possível libertação de Iago, ele teria lhe respondido: “tudo
bem, eu solto, mas você tem consciência que se eu soltar ele,
você e a Eloá não vão sair daqui” (fls. 942).

Nessa linha, como se assentou acima, foram os


relatos das vítimas Victor e Iago (fls. 1004/1024 e 1025/1047).

As provas desses crimes foram amplamente


discutidas em Plenário, deixando claro que Lindemberg
manteve, em cárcere privado, os ofendidos, por longo tempo
contra suas vontades e mediante grave ameaça exercida com
emprego de arma de fogo.

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
Por outro lado, no que tange a aplicação da
pena, cuja competência era da Juíza Presidente do Júri
realizado, a mesma merece reparos, porquanto, respeitado o
trabalho da zelosa e culta Magistrada, a sentença apresenta
diversas “falhas técnicas”, sob o ponto de vista técnico-
jurídico, além de se mostrar desproporcional e desarrazoada.

Consigna-se que não se questiona como acima


aventado, a condenação do réu pelos crimes que cometeu,
tampouco a necessidade de sua apenação, decorrência lógica
da primeira, mas a fundamentação dada no tocante à aplicação
da pena para cada um dos crimes.

Inicialmente, pode-se citar a questão relativa às


penas-base que foram fixadas no valor máximo para todos os

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 22
fls. 23

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

crimes (homicídio consumado, homicídio tentado, por duas


vezes, cárcere privado, por cinco vezes e disparo de arma de
fogo, por quatro vezes), vez que, como é sabido, a única
hipótese de se fixar a pena em grau máximo seria no caso em
que todas as circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código
Penal (culpabilidade, conduta social, personalidade do agente,
motivos do crime, suas circunstâncias e consequências, bem
como o comportamento da vítima) ou a grande maioria delas,

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
fossem desfavoráveis ao réu, o que não ocorre no presente
caso, já que pelo menos duas das circunstâncias acima
mencionadas militam em seu favor, quais sejam: a conduta
social, vez que se trata de pessoa trabalhadora, responsável ou
pelo menos contribuinte pelo sustento da família e os
antecedentes, pois Lindemberg é primário e de bons
antecedentes, circunstâncias que não podem ser
desconsideradas quando da dosimetria sob pena de ao se
exacerbar o quantum a ser fixado, condená-lo duas vezes pelos
mesmos crimes, o que seria inadmissível, além de injusto, na
acepção da palavra. A fixação das penas-base na fração
máxima para todos os crimes, da forma como se operou, feriu
frontalmente o princípio da individualização da pena.

Menciona-se que, mesmo tendo afirmado que


as circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código Penal, não
eram totalmente desfavoráveis ao acusado, paradoxalmente

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
e de maneira contraditória desconsiderou tão fato, fixando as
penas-base acima do mínimo legal, em patamar máximo, para
cada crime. (fls. 2370) - grifei

A contradição se repete ao afirmar, ao final


que, “como fundamento na primeira etapa da dosimetria da
pena, as circunstâncias judiciais totalmente desfavoráveis ao
réu”. (fls. 2375) - grifei

E não é só. Ao fazer uma única apreciação das


circunstâncias judiciais constantes no artigo 59 do Código
Penal para aferir o quantum de pena na primeira fase da
dosimetria, maculou o princípio da individualização da pena,
já que o réu deve receber uma reprimenda pelos delitos
cometidos, na exata medida de sua culpabilidade,

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 23
fls. 24

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

considerando a sua pluralidade e não todos eles como um


conjunto. Assim agindo, a sentenciante negou fatores
determinantes que interferem na análise das circunstâncias
judiciais para elevar a pena-base acima do mínimo legal para
cada um dos crimes.

Ainda quanto à fixação da pena-base relativa


ao crime de homicídio tentado praticado contra o policial

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
Atos, a exacerbação foge dos princípios da proporcionalidade
e razoabilidade, vez que a vítima não sofreu qualquer lesão
corporal. Recorda-se que referidos princípios devem nortear o
Magistrado quando da aplicação da pena, a qual deve se
apresentar em medida suficiente para a reprovação e
prevenção da conduta. Não se pode olvidar ainda, o precípuo
caráter ressocializador da pena.

Pode-se citar outro deslize quando, na segunda


fase da dosimetria das penas, a MMª Juíza afirmou inexistir
agravantes a serem consideradas. Ressalta-se que quando o
homicídio possui mais de uma qualificadora, hipótese dos
autos, uma serve para qualificar o crime, outra para ser usada
como circunstância negativa (judicial ou agravante). No caso,
a circunstância judicial negativa foi sopesada para dosar as
penas, contudo sem a devida motivação correspondente.

Além disso, destacam-se as palavras da

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
Sentenciante quando ao considerar os motivos dos crimes para
majorar a pena-base, dizendo: “os seus egoísticos e abjetos
motivos (...)”, se olvidou a Magistrada de aplicar regra básica,
ou seja, se os homicídios foram praticados de forma
duplamente qualificada e na hipótese, menciona-se o motivo
torpe no que toca a motivação dos delitos, nesse caso, a
reprimenda não poderia sofrer novo aumento, sob pena de se
incorrer no odioso bis in iden que, como é sabido, é vedado
pelo ordenamento jurídico pátrio.

A comoção social bem como o sofrimento


impingido à mãe da vítima Eloá, que foram consideradas,
também para fundamentar a exasperação da pena-base, de sua
vez, não podem ser usadas, visto que não se encaixam nas

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 24
fls. 25

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

circunstâncias judiciais do mencionado artigo 59 do Código


Repressivo. Tal fato é fator alheio aos crimes propriamente
ditos.

Relembra-se que circunstâncias do crime são


aquelas que o tornam mais grave e que de alguma forma,
repercutirão, em regra, em suas conseqüências. Na nossa
sociedade, a mídia e o direito penal se interagem em relação

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
bem próxima. Isso porque as pessoas costumam ter interesse
por casos desse jaez, razão pela qual ela funciona como “olhos
da sociedade”, não tendo como ficar alheia ao interesse que os
crimes causam. Mas muitas vezes, ao se veicular notícia de tal
porte, cria-se, de forma inerente e involuntária, a falsa
realidade que foge aos reais números e aspectos da
criminalidade, em especial, do caso que está sendo veiculado.

A função da mídia é sem dúvida, uma


demonstração do Estado Democrático de Direito, mas que
deve ser neutralizada, pelo Julgador, quando da aplicação da
pena, principalmente nos casos que tratam de crimes contra a
vida, já que os Jurados são pessoas leigas do universo jurídico,
principalmente no que toca as regras da aplicação de pena,
matéria afeta ao Juiz Presidente da Sessão Plenária de
Julgamento.

O mesmo se diga quanto ao sofrimento

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
impingido à mãe e parentes das vítimas, principalmente a de
Eloá, como mencionado pela Magistrada, vez que vida é
sempre vida, a dor e o desequilíbrio causado em decorrência
dos delitos praticados pelo réu não é fator que por si só, enseja
aumento da pena, já que não pode ser considerado como
circunstância desfavorável do crime, em desfavor do
sentenciado. Diferente seria na hipótese em que o crime fosse
cometido contra arrimo de família ou contra os pais de vítimas
menores que, no caso, não teriam como sobreviver
dignamente ao lado de sua família, em termos de sustento,
educação etc. Nesses casos, as consequências dos crimes
seriam gravíssimas para os menores, circunstância em que
deveria ser considerada para majorar a pena-base.

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 25
fls. 26

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

A premeditação sustentada não se mostrou


presente. O acusado, ao que tudo indica, sequer sabia o que
fazer. Os fatos foram se desenrolando de maneira desastrosa e
infelizmente acabou drasticamente. Dessa forma, o dolo não
superou o comumente usado para os crimes análogos aos aqui
tratados, até porque a reprovação da conduta já se encontra
esculpida na própria regra legislativa.

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
A interação entre mídia e acusado, na hipótese,
de modo algum pode caracterizar personalidade desvirtuada.
Ali se viu interesses comuns. De um lado, o de garantir sua
própria vida além das garantias processuais e de outro, manter
a sociedade informada, buscar detalhes sobre o que
verdadeiramente ocorria no “cativeiro”.

Superada a questão da fixação das penas-base,


assim como a segunda fase da dosimetria, merece reparo a
respeitável sentença quanto à aplicação do concurso material
de crimes, considerado pela MMª Juíza, sob o fundamento de
que o acusado, ao praticar os delitos, assim o fez com
desígnios autônomos, ou seja, com intenção individual de
praticar cada um dos delitos a ele imputados, o que não me
parece ser o caso dos autos. Ao contrário, na hipótese, deve-se
aplicar a continuidade delitiva, com base no artigo 71 do
Código Penal, já que os crimes foram praticados em um

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
mesmo contexto fático, em iguais circunstâncias de tempo,
lugar, modo de execução e em um curto espaço de tempo (no
caso, menos de 05 dias). Dessa forma, ficam também afastado
o reconhecimento de concurso formal de crimes ou crime
único, para qualquer dos delitos, requeridos pela Defensoria.

Igualmente no que toca aos delitos de cárcere


privado, já compuseram a série de quesitos, os quais foram
amplamente analisados, discutidos e confirmados em sua
ocorrência, devendo ser considerados, de igual forma, em
continuidade delitiva, com o mesmo fundamento acima
aventado.

O mesmo ocorreu para os crimes de disparo de


arma de fogo (quatro tiros), regra contida no artigo 15 do

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 26
fls. 27

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

Estatuto do Desarmamento, mas que deve ser reconhecida a


continuidade delitiva para esses crimes, vez que os requisitos
constantes no artigo 71 do Código Penal estão igualmente
preenchidos.

A diminuição operada pela tentativa no que


toca aos crimes de homicídios tentados (vítimas Nayara e
Atos) deve ser mantida, já que foi aplicada em percentual

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
condizente para cada caso, em 1/3 com relação a Nayara e 2/3
no que toca a vítima Atos.

O reconhecimento da confissão espontânea


quanto aos crimes de disparos de arma de fogo (nona série de
quesitos) e de cárcere privado (décima série de quesitos),
embora parcial, deve ser mantido, porquanto condiz com a
verdade dos fatos e deve ser aplicado.

Por fim, o regime inicial fixado foi o fechado,


único compatível com as ações, com o quantum de pena e
condizente com as finalidades ressocializadoras do condenado,
bem como para prevenção e repressão dos crimes, devendo o
mesmo ser mantido.

Não há mencionar substituição das penas


privativas de liberdade por restritivas de direitos, tampouco a
sua substituição. As circunstâncias dos fatos, suas

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
consequências, ou seja, a ausência dos requisitos previstos no
inciso III, do artigo 44 e inciso II, do artigo 77, ambos do
Código Penal, não permitem a substituição ou suspensão.

Derradeiramente, ad argumentandum,
inoportuna a determinação da Magistrada para que os autos
fossem remetidos ao Ministério Público, a fim de que fossem
tomadas eventuais providências cabíveis quanto ao fato da
Sentenciante ter se sentido violada em sua honra, no caso, por
parte da Defesa.

Destaca-se, inicialmente que apesar de não


compactuar com alguns dos métodos utilizados nos debates,
em Plenária do Júri, é sabido que no calor da discussão, que
por sua natureza dialética, frequentemente, acaba por gerar

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 27
fls. 28

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

situações em que as partes lançam mão de argumentos


ásperos, até mesmo ofensivos, muitas vezes até “afrontosos”, o
que pode ser tecnicamente tolerado.

Justamente visando possibilitar que os


representantes técnicos das partes possam assumir suas
funções de forma a expressar suas convicções, o legislador
prevê a imunidade profissional do Advogado, afastando a

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
tipicidade penal da injúria, difamação eventualmente originada
por "ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela
parte ou por seu procurador", o que não afasta, diga-se, a
possibilidade de punição administrativa por parte do órgão
responsável, no caso, o Conselho de Ética da Ordem dos
Advogados do Brasil.

Visto tais questões, passo a dosagem das penas


de forma enumerada para melhor compreensão:

1) Vítima Eloá:

Para o crime de homicídio consumado,


consideradas as circunstâncias judiciais do artigo 59 do
Código Penal, como a culpabilidade de Lindemberg, já que
sua conduta teve um grau elevado de censurabilidade, as
circunstâncias e consequências do crime, cujos

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
desdobramentos culminaram na morte de uma jovem, bem
como a personalidade do acusado, que na hipótese,
demonstrou periculosidade diante da alternância de
comportamento, tornando-se muitas vezes agressivo, assim
como as circunstâncias favoráveis ao réu (primariedade e boa
conduta social), vez que era trabalhador e vivia com sua
família, além de considerar uma das qualificadoras (motivo
torpe) como circunstância judicial desfavorável, fixa-se a pena-
base em 1/2, acima do mínimo legal, perfazendo 18 anos de
reclusão. Na segunda fase, tendo em vista a qualificadora do
uso de recurso que dificultou a defesa da vítima, aumenta-se a
pena em 1/6, totalizando 21 anos de reclusão. Na terceira fase,
não há causas de aumento nem de diminuição de pena.

2) Vítima Nayara:

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 28
fls. 29

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

Para o delito de homicídio tentado contra essa


vítima, praticado por motivo torpe e uso de recurso que teria
dificultado a defesa da ofendida, considerando as
circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código Penal, bem
como a qualificadora do motivo torpe como circunstância
judicial negativa, fixo a pena-base em 1/6 acima do mínimo,
ou seja, 14 anos de reclusão. Na segunda fase, levando-se em

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
conta a outra qualificadora (recurso que dificultou a defesa da
vítima) aumento a pena em 1/6, totalizando 16 anos e 04
meses de reclusão. Pela tentativa, considerando-se o iter
criminis percorrido (laudo de fls. 678/679), diminuo a pena em
1/3, totalizando 10 anos, 10 meses e 20 dias de reclusão, assim
permanecendo.

3) Vítima Atos:

Diante das circunstâncias judiciais do artigo 59


do Código Penal, mais propriamente as consequências do
crime, já que o ofendido não sofreu qualquer lesão,
diminuindo de certa forma, a censurabilidade da conduta do
réu, e ainda, não nos olvidando de sua primariedade e conduta
social favoráveis, fixo a pena-base no mínimo legal, em 12
anos de reclusão, aumentada na segunda fase em 1/6, levando-
se em conta a qualificadora contida no inciso V, do §2º, do
artigo 121 do Código Penal (o fato de que o crime foi

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
praticado visando assegurar a execução de dos cárceres
privados), perfazendo 14 anos de reclusão. Por fim, quanto à
tentativa e reconhecendo-se que o crime, in casu, ficou
distante de sua consumação, reduzo a sanção em grau máximo
de 2/3, totalizando 04 anos e 08 meses de reclusão.

Tratando a espécie de delitos praticados na


forma do artigo 71, parágrafo único, do Código Penal
(continuidade delitiva específica) como acima já aventado
afastando-se, dessa forma, o concurso material e considerando
a avaliação da culpabilidade do agente, dos motivos,
circunstâncias e consequências dos crimes como acima
detalhadamente expostos, aumento a pena do crime mais grave
(21 anos de reclusão), pela ½, tornando-a definitiva quanto aos

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 29
fls. 30

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

crimes de homicídio consumado e homicídios tentados em 31


anos e 06 meses de reclusão, no regime inicial fechado.

Passo a dosar as penas relativas aos crimes de


cárceres privados e nesse passo, considerando-se as
circunstâncias judicias do artigo 59 do Código Penal, como o
grau de culpabilidade, circunstâncias e consequências do
crime, que culminaram na restrição da liberdade de quatro

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
vítimas menores de 18 anos de idade e, ainda, considerando-se
que duas delas foram libertadas horas após o ingresso de
Lindemberg na residência de Eloá, fixo a pena-base, acima do
mínimo, para cada um dos delitos de cárcere privado,
elevando-as em 1/3, culminando em uma pena de 02 anos e 08
meses de reclusão, assim permanecendo, à mingua de
alterações, exceção feita ao delito de cárcere privado cometido
contra a vítima Eloá, pelo qual Lindemberg confessou, razão
pela qual, com relação a ela, reduzo as penas em 1/6,
totalizando 02 anos, 02 meses e 20 dias.

Igualmente, diante do reconhecimento da


continuidade delitiva para esses crimes e, considerando-se a
fixação de penas desiguais, pega-se a mais grave, nesse caso,
02 anos e 08 meses de reclusão e aumenta-se em grau
máximo, em 2/3, perfazendo o total de 04 anos, 05 meses e 10
dias de reclusão.

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
Por fim, quanto aos crimes de disparos de arma
de fogo (por quatro vezes), considerando-se as circunstâncias
judiciais aplicadas para o crime de cárcere privado e ainda,
que dois deles foram praticados no interior da residência,
atingindo o teto do imóvel e a tela do computador, este último,
propositadamente, fixo a pena-base no mínimo, para cada um
dos delitos em 02 anos de reclusão, além do pagamento de 10
dias-multa, no piso. Igualmente, forçoso aplicar a atenuante da
confissão, reconhecida pela respeitável sentença quanto aos
delitos de disparos de arma de fogo, porquanto confirmados
pelo acusado quando ouvido em Juízo. Contudo, em nada
alterando as penas tendo em vista que já foram estabelecidas
no mínimo, não podendo ir aquém, em conformidade com
jurisprudência consolidada pela Súmula n. 231 do Superior

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 30
fls. 31

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

Tribunal de Justiça.

Como nos demais crimes, a continuidade


delitiva deve ser reconhecida e aplicada e, na hipótese, como
as penas fixadas são iguais para cada um dos quatro crimes de
disparo de arma de fogo praticados, utilizando-se de igual
critério utilizado, pega-se a pena de um deles, já que iguais, ou
seja, 02 anos de reclusão, aumentando-se em 2/3, totalizando

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
03 anos e 04 meses de reclusão e pagamento de 16 dias-
multa, no piso mínimo.

Na sequência, os blocos de penas devem ser


somadas (dos homicídios, cárceres e disparos de armas de
fogo), totalizando 39 anos e 03 meses de reclusão e pagamento
de 16 dias-multa, no piso legal.

Nos termos do artigo 33, §2º, alínea “a”, do


Código Penal, artigo 1º, incisos I e II, §1º, da lei n.
8.072/1990, fixo o regime inicial fechado para os crimes
dolosos contra a vida.

Para os demais crimes, levando-se em conta o


quantum de pena fixado, ou seja, inferior a 04 anos, o regime a
ser aplicado seria o aberto, mas considerando as circunstâncias
em que se deram os fatos, fixo o semiaberto como o regime
inicial para tais delitos.

Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.
Ante o exposto, rejeito as preliminares e dou
parcial provimento a apelação interposta, para, nos termos
acima estabelecidos, diminuir as penas de LINDEMBERG
ALVES para 39 anos e 03 meses de reclusão e pagamento de
16 dias-multa, no piso legal, pela prática dos crimes
descritos nos artigos 121, §2º, incisos I e IV (vítima Eloá),
artigo 121, §2º, incisos I e IV, combinado com artigo 14,
inciso II (vítima Nayara), artigo 121, §2º, inciso V, combinado
com artigo 14, inciso II (vítima Atos), artigo 148, §1º, inciso
IV, por cinco vezes (vítimas Eloá, Victor, Iago e Nayara, esta
por duas vezes), todos do Código Penal e artigo 15 caput, da
Lei n. 10.826/2003, por quatro vezes, todos na forma do artigo
71, parágrafo único e 69, do Código Penal, mantendo, no

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 31
fls. 32

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
16ª Câmara de Direito Criminal

mais, os termos da respeitável sentença, por seus próprios e


jurídicos fundamentos.

PEDRO Luiz Aguirre MENIN


Relator

Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 9000016-07.2008.8.26.0554 e o código RI000000GS5UX.
Este documento foi assinado digitalmente por PEDRO LUIZ AGUIRRE MENIN.

Apelação nº 9000016-07.2008.8.26.0554 32

Você também pode gostar