1001301-26.2023.8.11.0050

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ESTADO DE MATO GROSSO

PODER JUDICIÁRIO

SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL

Número Único: 1001301-26.2023.8.11.0050


Classe: APELAÇÃO CRIMINAL (417)
Assunto: [Tráfico de Drogas e Condutas Afins, Associação para a Produção
e Tráfico e Condutas Afins]
Relator: Des(a). MARCOS REGENOLD FERNANDES

Turma Julgadora: [DES(A). MARCOS REGENOLD FERNANDES, DES(A).


JORGE LUIZ TADEU RODRIGUES, DES(A). RUI RAMOS RIBEIRO]

Parte(s):
[POLÍCIA JUDICIÁRIA CIVIL DO ESTADO DE MATO GROSSO - CNPJ:
03.507.415/0029-45 (APELADO), MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE
MATO GROSSO - CNPJ: 14.921.092/0001-57 (APELADO), EMERSON JOSE
DA SILVA - CPF: 116.116.964-45 (APELANTE), IVAN DO CARMO GOMES -
CPF: 903.277.481-68 (TERCEIRO INTERESSADO), DIEGO SOARES DA
SILVA - CPF: 025.015.471-44 (TERCEIRO INTERESSADO), MYRELLE
MARIA DA SILVA (ASSISTENTE), FERNANDA MAGALHAES
FIGUEIREDO - CPF: 062.170.941-77 (TERCEIRO INTERESSADO),
MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO - CNPJ:
14.921.092/0001-57 (CUSTOS LEGIS), EDSON FELIPE TONIASSO VEIGA -
CPF: 025.653.061-05 (ADVOGADO)]

A CÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a SEGUNDA
CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a
Presidência Des(a). RUI RAMOS RIBEIRO, por meio da Turma Julgadora,
proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE, DESPROVEU O
RECURSO.

E MENTA
RECURSO DE APELAÇÃO CRIMINAL– TRÁFICO DE DROGAS –
PRELIMINARES– NULIDADE DO PROCESSO EM RAZÃO DA ILICITUDE
DA PROVA OBTIDA MEDIANTE BUSCA DOMICILIAR – EXISTÊNCIA DE
JUSTA CAUSA E FUNDADAS RAZÕES – EXCEÇÃO CONSTITUCIONALÀ
GARANTIA DA INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO – NULIDADE POR
AUSÊNCIA DE ADVERTÊNCIASOBRE O DIREITO AO SILÊNCIO – NÃO
COMPROVAÇÃO – ADVERTÊNCIA EXIGIDA APENAS NO
INTERROGATÓRIOPOLICIALE JUDICIAL – NULIDADE DO TESTEMUNHO
OFERTADO PELO POLICIAL MILITAR – ALEGAÇÃO DE LEITURA DO
BOLETIM DE OCORRÊNCIA – POSSIBILIDADE DE CONSULTA A
APONTAMENTOS – ADVERTÊNCIA DURANTE A AUDIÊNCIA – NÃO
DEMONSTRAÇÃO DO PREJUÍZO – PRELIMINARES REJEITADAS –
MÉRITO: ABSOLVIÇÃOPOR SUPOSTAINCIDÊNCIADE EXCLUDENTEDE
CULPABILIDADE– INEXIBILIDADEDE CONDUTA DIVERSA – COAÇÃO
MORAL IRRESISTÍVELNÃO COMPROVADANOS AUTOS – ART. 156 DO
CÓDIGO DE PROCESSOPENAL – RECURSO DESPROVIDO.

1. O Supremo Tribunal Federal, em repercussão geral (Tema 280), já


decidiu que o ingresso forçado em domicílio sem mandado judicial apenas se
revela legítimo – a qualquer hora do dia, inclusive durante o período noturno –
quando amparado em fundadas razões, devidamente justificadas pelas
circunstâncias do caso concreto, que indiquem estar ocorrendo, no interior da
casa, situação de flagrante delito.

2. O Superior Tribunal de Justiça sedimentou o entendimento de que


“A legislação processual penal não exige que os policiais, no momento da
abordagem, cientifiquem o abordado quanto ao seu direito em permanecer em
silêncio (Aviso de Miranda), uma vez que tal prática somente é exigida nos
interrogatórios policial e judicial." (AgRg no HC n. 809.283/GO, Quinta
Turma, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, DJe de 24/5/2023) e, no caso,
constam todas as advertências e garantias constitucionais no Termo de
qualificação, vida pregressa e interrogatório.

3. Inviável reconhecer a nulidade do depoimento testemunhal, tendo


em vista que, para além de não restar demonstrado o prejuízo ao recorrente
(princípio pas de nulitté sans grief), o policial militar foi advertido durante a
audiência sobre a impossibilidade de ler o boletim de ocorrência, muito embora
o art. 204, do CPP autorize que a testemunha realize consultas a apontamentos
na audiência de instrução.

4. A excludente de culpabilidade relativa à coação moral irresistível


somente pode ser admitida quando demonstrada nos autos a sua efetiva
ocorrência, sendo, pois, impossível o seu reconhecimento com base na mera
alegação da apelante que não se desincumbiu do ônus probatório previsto no
art. 156 do Código de Processo Penal.

R E LAT ÓRIO

Egrégia Câmara:

Trata-se de recurso de apelação criminal interposto por Emerson


José da Silva contra a sentença proferida pelo Juízo da Segunda Vara da Comarca de
Campo Novo do Parecis-MT, que o condenou à pena de 06 (seis) anos de reclusão, em
regime inicial fechado, além de 500 (quinhentos) dias-multa, em razão da prática do delito
previsto no artigo 33, caput, da Lei n.º 11.343/06.
Preliminarmente, a Defesa sustenta a nulidade das provas por
violação de domicílio, alegando que não há nos autos elementos de convicção razoáveis a
comprovar que o réu estava em qualquer situação de flagrante a autorizar a busca
domiciliar.

Ainda em sede preliminar, pleiteia a nulidade de todos os elementos


probatórios e informativos, bem como as demais provas obtidas por derivação, por
violação ao princípio Nemo Tenetur Se Detegere, previsto no art. 5º, LXIII, da Constituição
Federal.

Também almeja a reforma da sentença para que seja declarada a


nulidade do testemunho policial, a nulidade dos atos processuais e o trancamento da ação
penal, sob o argumento que o depoimento prestado consistiu em uma narrativa ipsis
litteris do boletim de ocorrência.

No mérito, requer seja excluída a culpabilidade do recorrente em


razão da inexigibilidade de conduta diversa, porquanto coagido moralmente de maneira
irresistível a armazenar o material entorpecente.

Contrarrazões ao ID 197803889, em que o Ministério Público se


manifesta pelo desprovimento do apelo.

Nesta instância, a Procuradoria-Geral de Justiça sinaliza o


desprovimento do recurso.
É o relatório.

Encaminhe-se à revisão.

V OT O RE LAT OR
Data da sessão: Cuiabá-MT, 23/04/2024

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