Uma Visão Panorâmica Na História de Rute Lição 02

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UMA VISÃO PANORÂMICA DO LIVRO DE RUTE, LIÇÃO 02

INTRODUÇÃO:

1. Importância do livro de Rute.

Este nos ensina que o Senhor também trabalha nos bastidores. "Não há nenhuma guerra nem
conquistas militares. Não há sarças ardentes nem divisão do mar Vermelho. Na verdade, Deus
nunca fala de forma explícita em nenhum momento no livro. Há apenas uma história poderosa
e comovente sobre duas mulheres lutando para sobreviver em uma época difícil. Dessa história
surge a percepção de que Deus age e dirige discretamente os acontecimentos nos bastidores
para realizar o livramento da confusão criada por Israel no livro de Juízes" (HAYS; DUVALL, p.
157).

2. Objetivo do livro de Rute.

Além de retratar o ânimo religioso e o amor de duas mulheres de países diferentes numa época
de idolatria, violência e rivalidade entre povos, esse livro, aparentemente, tem como objetivo
lembrar "a relação genealógica de Davi com Moabe [...]. Incidentalmente, mostra a linhagem
marcadamente gentia na linha genealógica do Messias, vindo através de Raabe, a cananeia, e
Rute, a moabita, pelo lado materno. [...] No livro de Rute, a simpatia de Noemi em difíceis
provações traz sua nora para o Deus de Israel. O amor de Rute transcende laços raciais, e as
duas virtuosas mulheres cumprem a lei dos judeus. Assim fazendo, contribuem para o
nascimento de Davi" (ELLISEN, p. 86).

I. A ORGANIZAÇÃO DO LIVRO

1. Na Bíblia Hebraica.

Rute pertence à terceira seção da Tanakh, como são conhecidas as Escrituras judaicas. As
suas três divisões são: Ensinos (hb. Torah, Pentateuco), Profetas (hb. Neviim) e Escritos (gr.
Kethubim). Esta terceira seção é formada por onze livros: Jó, Salmos, Provérbios (poéticos);
Cantares, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester (rolos lidos nas festas; Rute é lido no
Pentecostes); Daniel, Esdras-Neemias e 1-2 Crônicas (história). Como se vê, no cânon hebraico,
Rute fica logo depois de Provérbios e Cantares. "Provavelmente isso se deve à expressão 'uma
esposa exemplar'. Em Provérbios 31.10, faz-se a seguinte exclamação: 'Uma esposa exemplar;
feliz quem a encontrar!' O restante de Provérbios 31 descreve essa mulher/esposa (a palavra
hebraica é a mesma) virtuosa. Em Rute: 3.11, Boaz diz a Rute que todos reconhecem que ela
era uma 'mulher virtuosa', usando exatamente a mesma expressão de Provérbios 31.10" (HAYS;
DUVALL, p. 159). A palavra original para "virtuosa" (hb. chayil) denota força, eficiência,
capacidade de produzir riqueza etc.
2. Na Bíblia Cristã.

Se a Bíblia hebraica tem três seções (com 24 livros; alguns são agrupamentos, como os
Profetas Menores), o Antigo Testamento, na Bíblia cristã, mantendo o mesmo conteúdo, mas
com 39 livros, dispõe - nos da seguinte forma: Pentateuco (equivale à Torah), Históricos (Josué
a Ester), Poéticos (Jó a Cantares) e Proféticos (Isaías a Malaquias). Nesse chamado cânon
cristão, o livro de Rute figura entre Juízes e 1 Samuel, a solução de Deus para a terrível
situação vista no tempo dos Juízes.

3. Autoria e data:

a) Autoria. O autor mais provável de Rute é Samuel, especialmente por causa da maneira como
o autor do livro se refere a Davi e sua ascendência (Rt 4.17). "Samuel, provável autor de Juízes,
pode também ter escrito Rute. Muitos classificam esse livro como um terceiro apêndice a
Juízes 1-16, que proporciona um agradável lenitivo de fé e amor numa época de infidelidade,
idolatria e violência. Como a genealogia do capítulo 4 vai até Davi, mas não até Salomão, o livro
foi provavelmente escrito depois de Davi ser ungido rei, mas antes de ele subir ao trono, ou
antes de Salomão. Samuel ainda vivia, e é ele o escritor mais provável do livro, na época em que
os pais de Davi se encontravam em Moabe" (ELLISEN, p. 84).

b) Data. Esta é incerta.

Mas, "considerando a provável autoria de Samuel, o livro teria sido escrito no século X a.C. Um
dos principais argumentos para essa conclusão [...] diz respeito ao estilo e à linguagem
presentes na obra, pertencentes ao hebraico clássico, o que indica uma época primitiva, ou seja,
dos dias de Samuel, logo após os fatos narrados no livro, bem distante do estilo visto em livros
escritos no período pós-exílico (segunda metade do século V a.C.)" (QUEIROZ, p. 26).

II. O CONTEXTO HISTÓRICO

1. No tempo dos juízes.

Os fatos narrados em Rute são, de modo geral, datados de 1100 a.C., aproximadamente, visto
que Boaz é o bisavô de Davi. Mas alguns eruditos argumentam, que, entre Obede e Jessé
haveria uma lacuna (cf. Rt 4.17). Ou seja, supondo que Boaz, filho de Salmon e Raabe, nasceu
por volta de 1390 a.C., a data aproximada do nascimento de Obede, filho de Rute e Boaz, seria
1340 a.C. No tempo dos juízes (homens que lideravam e também julgavam o povo), havia
apostasia, infidelidade e anarquia (Jz 1.7-19; 17.6). E nem todos os líderes do povo eram
tementes a Deus, como os mencionados na lista dos heróis da fé: "Falar-me-ia o tempo
contando de Gideão, e de Baraque, e de Sansão, e de Jefté, [...] e de Samuel" (Hb 11.32). O autor
de Hebreus diz que estes "praticaram a justiça" (v. 33), embora alguns deles não tenham sido
justos o tempo todo.
2. Secularismo, hedonismo e idolatria.

Se Israel, conforme Deuteronômio 28, "permanecesse fiel a Deus e obedecesse à Lei [...], seria
abençoado; se abandonasse a Deus e voltasse aos ídolos, seria amaldiçoado [...]. Ao final de
Juízes, a aliança, encontrada em Deuteronômio, parece estar completamente esquecida, e
Israel adorando ídolos. A pergunta que surge ao final de Juízes é: 'Há alguma esperança para
Israel?"" (HAYS; DUVALL, p.158). ESPIRITO SANTO.

a) Secularismo.

Quando lemos o livro de Juízes, vemos logo no segundo capítulo que, após a morte de Josué e
sua geração, a próxima já "não conhecia ao Senhor, nem tampouco a obra que ele fizera a
Israel" (v. 10). Secularismo implica exclusão, rejeição ou indiferença à religião e a ponderações
teológicas.

b) Hedonismo.

O distanciamento do Senhor levou os israelitas a descerem mais um degrau, e eles se


tornaram hedonistas. Isto é, passaram a adotar um modo de vida ou comportamento que evoca
o prazer pelo prazer. Eles passaram a se dedicar ao prazer como estilo de vida e não mais
falavam do Deus de Israel, que tirou o seu povo do Egito com mão forte. Viviam como nos dias
de Noé anteriores ao dilúvio, comendo, bebendo, casando e dando-se em casamento (cf. Mt
24.37,38).

c) Idolatria.

Não demorou muito para os israelitas descerem mais um degrau: "Então fizeram os filhos de
Israel o que era mau aos olhos do Senhor; e serviram aos baalins. E deixaram ao Senhor Deus
de seus pais, que os tirara da terra do Egito, e foram-se após outros deuses, dentre os deuses
dos povos, que havia ao redor deles, e adoraram a eles; e provocaram o Senhor à ira" (Jz 2.11,
12). Eles não só passaram a adorar a Baal e a Astarote, como também casaram com as filhas
dos cananeus, heteus, amorreus, perizeus, heveus e jebuseus, inimigos figadais de Israel (vv. 13
-23; 3.5-8; cf. Êx 33.2).

3. Opressão, clamor e livramento.

Estas eram três marcas dos tempos dos juízes, período da História de Israel marcado pela
oscilação (Jz 21.25). Cada um fazia o que bem entendia como certo. Deus os castigava,
permitindo a opressão por parte dos inimigos. Os israelitas, então, clamavam ao Senhor,
arrependidos, e Ele levantava juízes ou guias. Estes, quando mantinham sua fidelidade, eram
soluções temporárias. O livro de Rute apresenta uma solução que deveria ser definitiva: a
ascensão de Davi, um rei segundo o coração de Deus. Mas a solução final para Israel só virá
quando o herdeiro do trono davídico, que já foi rejeitado pelos seus (Jo 1.11,12), mas
consumou a obra redentora (19.30; 1 Co.15.1,2,17-20), voltar ao mundo para reinar em
Jerusalém (Zc 14.1-4; Ez 40-48).
III.PROPÓSITO E MENSAGEM

1.O cetro de Judá.

O propósito principal do livro de Rute é apresentar Davi como descendente de Judá, a tribo do
Senhor Jesus, o Leão da Tribo de Judá: "Estas são, pois, as gerações de Perez: Perez gerou a
Hezrom, e Hezrom gerou a Rão, e Rão gerou a Aminadabe, e Aminadabe gerou a Naassom, e
Naassom gerou a Salmom, e Salmom gerou a Boaz,e Boaz gerou a Obede,e Obede gerou a
Jessé, e Jessé gerou a Davi "(Rt 4.18-22). Perez, que também tinha uma mãe estrangeira, era
filho de Judá (v.12), acerca do qual Jacó profetizou: O cetro não se arredará de Judá (Gn:49.10).
Esse protagonismo de Judá prevalece até o fim da História, como vemos no último livro da
Biblia, em duas passagens proféticas (Ap 5.5:7.5).

a) Judá em Apocalipse 5:5.

Jesus é o Leāo da tribo de Judá. Temos aqui uma alusão a Genesis 49.9,10.Sabemos, à luz da
literatura judaica contemporânca, que "a referência em Gênesis nāo é a um Messias humilde e
sofredor, mas a um que brande o cetro como um rei que governa"(LADD,p 64)."O leão
invariavelmente se apresenta como um simbolo de forca. Ele é o rei dos animais do campo e,
portanto, um símbolo adequado de poder conquistador "(BROOKS, p.87).

Jesus é a Raiz de Davi. Trata-se de uma alusão a Isaias 11.1-10:"brotará um rebento do tronco
de Jessé, e das suas raizes um renovo frutificará.[...] E acontecerá naquele dia que a raiz de
Jessé,a qual estará posta por estandarte dos povos,será buscada pelos gentios;e o lugar do
seu repouso será glorioso".Sendo Jesus o herdeiro do trono davidico,o rebento ou o renovo que
brotou de Davi,em Apocalipse vemos uma atualização da profecia,pois o filho de Jessé
substitui o nome do seu pai.Dai Jesus ser a raiz de Davi.Isso é significativo,pois no versiculo 2
da profecia de Isaías 11 se menciona o sétuplo Paráclito,que repousa sobre o Messias, isto é,
"os sete espiritos de Dues enviados a tada a terra"

b)Judá em Apocalipse 7.5.

Na lista dos 144 mil israelitas selados (doze mil de cada tribo) para atuar durante o periodo
tribulacional, Judá é o primeiro, precedendo a Rúben. Considerando que este é o filho
primogênito de Jacó, deveria ser o primeiro da lista. Entretanto, Judá é a tribo de Jesus,que,
evidentemente, tem a primazia, já que Apocalipse é a Revelação de Jesus Cristo (Ap 1.1), o
Leão da tribo de Judá (5.5). Rúben já tinha perdido a primogenitura para José por causa de um
pecado cometido em sua juventude (Jz 1.1-19;1 Cr 2.1-3; cf.Gn 35.22; 49.4).Quanto à liderança,
"esteve sempre com Judá por causa de sua força espiritual. Ele foi aquele que se oferecera a
substituir Benjamim (Gn 44.18-34)"(HORTON.n.108).
2.Amor e redenção:

a) Amor. Destacam-se, em Rute, o amor a Deus e o amor de Deus. O primeiro é exemplificado


pela conduta de Rute, que poderia voltar para casa de seu pai quando ficou viúva, mas preferiu
dizer a Noemi:"Não me instes para que te abandone,e deixe de seguir-te; porque aonde quer que
tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus
é o meu Deus "(Rt 1.16). O amor de Deus é expresso por meio da inclusão dos gentios,
representados por Rute, na linhagem do Salvador, o qual derrubaria a parede da separação, ao
morrer por toda a humanidade (Hb 2.9;2 Co 5.14-21;Ef2.11-16).

b) Redenção. Vemos duas referências a Cristo no livro de Rute, ambas referentes a Boaz, cujo
nome está registrado na genealogia de Jesus (Mt 1.5,6;Lc 3.32). Como parente redentor,
qualificado para redimir seu povo e disposto a isso, Boaz é um tipo de Cristo. Esse aspecto da
obra de Cristo só é ilustrado em Rute, onde o verbo "resgatar" (hb.gaal) aparece várias vezes
(Rt 2.20;3.9,12,13;4.1,3,4,6,7,14). Como Redentor do crente (cf.Is 59.20;Lc: 1.68; Ef 1.7; Tt 2.14),
Cristo é "seu Redentor para pagar todais as suas dívidas, seu Vingador para lefendê-lo de todos
os adversários, seu Mediador para conseguir reconciliação, e seu Noivo para união e comunhão
perpétua" (ELLISEN.p.88).

3. Fidelidade e altruísmo.

No tempo dos juízes de Israel, prevaleciam o secularismo, o hedonismo e a idolatria.Mas,em


meio a tudo isso, vemos duas mulheres tementes a Deus, uma judia, outra gentia. Rute e Noemi
representam o remanescente fiel, a reserva de Deus em mundo cheio de iniquidade(cf.Sl
12.1;101.6;Mt 7.13,14,21-23;24.5,10,11,13 etc.). No tempo dos juízes, o egoísmo imperava, pois
"cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos" (Jz 21.25). Rute não abandonou a sua sogra,
que também já demonstrara amá-la profundamente. Elas deixaram de lado os interesses
pessoais e batalharam juntas, alcançando a benevolência do Senhor. Sejamos,pois,fiéis ao
Senhor e altruísta, fazendo bem a todos (Gl 6.10).

CONCLUSÃO

O livro de Rute nos ensina que, a despeito da incredulidade e dos pecados do homem, Deus
sempre trabalha para cumprir os seus desígnios. Sem violar o princípio do livre-arbítrio humano,
o Todo-poderoso conduz a história e exe cuta seu plano eterno de redenção. 0 livro também
nos mostra como a fidelidade de Deus se aplica às circunstâncias comuns da vida. Em tudo Ele
é fiel (Is 64.4).

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