GIAMBIAGI

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GIAMBIAGI

O pós-Guerra (1945 - 1955)


Introdução: Contexto Histórico.

Este período foi marcado por mudanças políticas e econômicas significativas após o fim da
Segunda Guerra Mundial. Em todo o mundo, houve um afastamento dos princípios
econômicos liberais estabelecidos em Bretton Woods. No Brasil, essa década testemunhou
a transição de um modelo econômico liberal para um modelo de desenvolvimento industrial
com uma participação mais significativa do Estado.

Getúlio Vargas, um líder político proeminente, desempenhou um papel central nesse


cenário. Durante seu longo governo, ele implementou uma legislação social abrangente,
ampliou a influência do Estado na economia e envolveu a classe trabalhadora na política,
contribuindo para o fortalecimento da democracia.

Houve um conflito político entre o projeto de Vargas e uma abordagem mais liberal e
conservadora representada por diferentes partidos. A política econômica durante esse
período refletiu tanto os interesses domésticos quanto as pressões internas e externas.

O governo Dutra enfrentou mudanças na política econômica durante seu mandato.


Inicialmente, houve uma mudança na política de comércio exterior, com o fim do mercado
de câmbio livre e a adoção de contingenciamento de importações. Posteriormente, ocorreu
uma transição mais flexível na política econômica, influenciada pelo cenário internacional,
especialmente pelas ideias iniciais de Bretton Woods.

Dutra inicialmente tinha a perspectiva de promover uma rápida reorganização da economia


global com base em princípios liberais, mas esses princípios não se concretizaram como
planejado. As autoridades monetárias e cambiais do Brasil acreditaram que o país estava
em uma posição favorável devido às relações internacionais, à colaboração durante a
guerra e à esperança de aumento nos preços do café. No entanto, o governo se concentrou
em questões de inflação, buscando resolver o problema por meio de políticas monetárias e
fiscais contracionistas, culpando fatores internos e externos pela alta dos preços.

Política econômica externa

No início do governo Dutra, as políticas cambiais e de comércio exterior foram moldadas


pela crença de que o Brasil tinha reservas internacionais substanciais e pela necessidade
de controlar a inflação. A taxa de câmbio foi mantida em um nível elevado, tornando a
moeda brasileira mais forte do que seu valor real. Isso tinha vários objetivos, incluindo a
satisfação da demanda por matérias-primas e equipamentos industriais, a redução dos
preços internos importando produtos estrangeiros mais baratos e a atração de
investimentos estrangeiros.

Essa estratégia, no entanto, baseou-se em uma avaliação incorreta das reservas


internacionais do Brasil. Grande parte dessas reservas estava em ouro e libras esterlinas
bloqueadas, tornando-as inacessíveis para as transações comerciais. Além disso, o Brasil
estava enfrentando déficits comerciais crescentes com os EUA e outros países que tinham
moedas fortes. Isso significa que o Brasil não tinha realmente as reservas disponíveis que a
política cambial sugeria, e o país estava enfrentando desequilíbrios crescentes em sua
balança comercial.

As esperanças de obter ajuda financeira dos EUA não se concretizaram devido a mudanças
na política global dos EUA, que estavam mais focados na reconstrução da Europa. Isso
deixou o Brasil dependente de investimentos privados para financiar seu desenvolvimento
econômico.

A decisão do governo Dutra de não desvalorizar a moeda foi motivada por várias razões.
Primeiro, a demanda estrangeira por café era insensível às mudanças de preço, e uma
moeda sobrevalorizada ajudaria a manter os preços internacionais do café elevados.
Segundo, temiam que alterações na taxa de câmbio pudessem afetar os preços internos e
prejudicar a política de combate à inflação. Terceiro, a maior parte das exportações
brasileiras ia para áreas com moedas não conversíveis ou bloqueadas, e o café
representava a maior parte das exportações para essas áreas com moedas não
conversíveis.

O governo implementou controles cambiais e de importações em julho de 1947 como parte


de sua estratégia para evitar a desvalorização da moeda. Os bancos que operam com
câmbio foram obrigados a vender uma parte de sua moeda estrangeira ao Banco do Brasil,
que alocava as divisas de acordo com as prioridades de importação estabelecidas pelo
governo. Embora esses controles não fossem inicialmente rígidos, eles foram considerados
temporários. Em 1948, foi introduzido um sistema de licenciamento de importação baseado
nas prioridades do governo, que permaneceu em vigor até o início do governo de Vargas
em 1951.

Essas medidas reduziram o déficit com a área de moeda conversível, mas resultaram na
perda de competitividade das exportações brasileiras, principalmente em relação aos
mercados europeus, devido às desvalorizações das moedas europeias em 1949 e ao
cenário econômico mundial. Além disso, a reorganização da economia brasileira causou
impactos significativos, incluindo a contração das exportações de café entre 1947 e 1950.

Substituicao de Importacoes e crescimento industrial

O período pós-Segunda Guerra Mundial no Brasil testemunhou a implementação de


controles cambiais e restrições à importação para lidar com os problemas do balanço de
pagamentos. Isso levou a uma taxa de câmbio sobrevalorizada e incentivou o
desenvolvimento da indústria nacional. Os principais efeitos dessa abordagem foram o
subsídio, a proteção da indústria local e uma mudança na estrutura de rentabilidade das
empresas. Além disso, o crédito à indústria aumentou significativamente.

Como resultado, o processo de industrialização acelerou consideravelmente entre 1946 e


1950, especialmente em setores como Material Elétrico, Material de Transporte e
Metalurgia. No entanto, esses setores ainda representavam uma pequena parte da indústria
total (apenas 10% do valor adicionado em 1980). O processo de industrialização foi liderado
principalmente pelo setor privado, com políticas de controle de importação.

Durante o governo Dutra, o Plano Salte foi uma tentativa de coordenação dos gastos
públicos, mas enfrentou desafios de financiamento e acabou sendo encerrado na
administração Café Filho.

Política econômica interna

Até 1949, o governo Dutra adotou uma política econômica ortodoxa para combater a
inflação, incluindo políticas monetárias contracionistas e austeridade fiscal. Isso resultou em
pequenos superávits em 1947 e 1948, e uma expansão do crédito pelo Banco do Brasil em
1948 levou a um crescimento econômico significativo, embora a inflação tenha aumentado
novamente.

Em 1949, houve uma reversão na política econômica devido a um grande déficit no


orçamento público e à inflação, que já ocorreu devido à proximidade das eleições
presidenciais, ao aumento na demanda industrial e econômica, com uma inflação de dois
dígitos, e à desvalorização das moedas estrangeiras.

Essas mudanças indicaram o abandono das políticas econômicas ortodoxas e uma


transição para políticas mais expansionistas.

Governo Vargas 1951 - 1954

No plano doméstico, Vargas enfrentou inflação e desequilíbrio financeiro do setor público.


No entanto, o setor externo mostrou perspectivas favoráveis devido ao aumento dos preços
do café e à colaboração dos EUA. A vitória de Getúlio em 1950 aceitou o apoio dos EUA a
programas de infraestrutura no Brasil.
A Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (CMBEU) foi criada para financiar projetos de
infraestrutura essenciais para o desenvolvimento econômico. O plano de governo tinha
duas fases: estabilização econômica e realização de empreendimentos.

Getúlio Vargas criou duas empresas estatais significativas, o Banco Nacional de


Desenvolvimento (BNDE - 1952) e a Petrobras (1953). Essas ações desempenharam um
papel crucial no Brasil no que diz respeito ao desenvolvimento a longo prazo.

Rumo ao colapso cambial 1951 - 1952

Durante o governo de Campos Sales, os objetivos da política econômica eram reduzir


drasticamente as despesas governamentais, aumentar a arrecadação e adotar políticas
monetárias contracionistas para conter a inflação. Isso resultou em uma redução nas
despesas públicas em 1951 e 1952, levando a um superávit orçamentário considerável. A
política monetária seguiu uma abordagem ortodoxa, mas a situação fiscal contrariou essa
tendência. A taxa de inflação permaneceu alta, crescendo 4,9% e 1,3% em termos reais nos
dois anos mencionados, e a economia enfrentou desafios significativos.

No início do governo Vargas, as perspectivas eram positivas devido ao aumento do preço


internacional do café e às boas relações com os EUA. A política de comércio exterior
manteve uma taxa de câmbio fixa e sobrevalorizada, facilitando as importações para
prevenir uma possível guerra mundial e combater a inflação.

No entanto, a situação mudou quando a receita das exportações de café caiu em 1952,
levando a um déficit na balança comercial. O governo restringiu as concessões de
importação, mas o alto nível de importações persistiu, esgotando as reservas internacionais
e causando uma crise cambial. O projeto de estabilização "Campos Sales Rodrigo Alves" foi
afetado negativamente por essa crise.

A Instrução 70 da SUMOC (Superintendência da Moeda e do Crédito) foi um elemento


importante na política econômica do Brasil na época. Além disso, a nova eleição nos EUA e
o fim do programa de colaboração com o Brasil pelo CMBEU (Comissão Mista
Brasil-Estados Unidos) em 1953 indicam mudanças significativas na relação entre os dois
países e suas políticas externas em relação à América Latina. Essas mudanças tiveram
impacto na situação econômica do Brasil, que enfrentava problemas cambiais e inflação
naquele período.

Para lidar com a situação econômica desafiadora, o presidente Vargas realizou uma
reforma ministerial e nomeou João Goulart como Ministro do Trabalho e Osvaldo Aranha
como Ministro da Fazenda. Nesse contexto, Osvaldo Aranha tentou estabilizar a economia,
implementando um ajuste cambial como parte das medidas para enfrentar a crise
econômica.

Em outubro de 1953, o governo implementou a Instrução 70 da SUMOC, reintroduzindo o


monopólio cambial do Banco do Brasil (BB) e estabelecendo um sistema institucional de
leilões de câmbio para importações. Essas medidas permitiram desvalorizações cambiais e
um controle mais rígido sobre as importações, além de conceder bônus às exportações.
Isso foi parte das ações tomadas para lidar com os desafios econômicos, como a crise
cambial e a inflação.

O governo enfrentou dificuldades em manter a disciplina fiscal devido aos crescentes gastos
públicos em infraestrutura. Além disso, a economia foi impactada por fatores como o
crescimento do PIB, que excedeu as expectativas, e condições adversas, como a
ocorrência de uma seca. Isso contribuiu para o aumento da inflação na agricultura, que por
sua vez estava relacionado ao déficit público e às desvalorizações cambiais.

1954 - Novas Dificuldade: salários e café

Em 1954, a economia brasileira estava globalmente em boa situação, com um superávit de


US$400 milhões. No entanto, as preocupações se voltaram para a estabilização da inflação.
As principais dificuldades do programa econômico liderado por Osvaldo Aranha estavam
relacionadas ao aumento do salário mínimo. Houve um debate acirrado sobre o valor do
aumento, com João Goulart propondo um aumento de 100%, enquanto outros sugeriram
33%. A UDN (União Democrática Nacional) e outros setores se opuseram fortemente ao
aumento proposto. Além disso, o "Manifesto dos Coronéis" alegou inquietação no Exército,
o que resultou na destituição de João Goulart e de outros funcionários. Vargas anunciou um
aumento de 100% no salário mínimo em maio, o que contrariou profundamente Osvaldo
Aranha e complicou o programa de estabilização econômica. Problemas nas exportações
de café e mudanças na inflação também afetaram a situação econômica do Brasil.

O desfecho trágico desse período foi influenciado por vários fatores. Setores conservadores
da sociedade estavam contra Vargas, acusando-o de ser populista, corrupto e simpático aos
sindicatos. A oposição, liderada pela UDN, intensificou seus ataques a Vargas. Um atentado
contra o jornalista Carlos Lacerda em 1954 levou as Forças Armadas a exigirem a renúncia
de Vargas.

Vargas aceitou o afastamento temporário, mas um grupo de generais exigiu sua renúncia
imediata, o que o levou a cometer suicídio. O aumento de 100% no salário mínimo e a
insatisfação de setores empresariais contribuíram para a crise. O suicídio de Vargas teve
repercussões históricas, levando à ruptura da ordem constitucional e à eleição de seu vice,
Café Filho, seguido pela eleição de Juscelino Kubitschek à Presidência da República.

O intervalo Café Filho (1954 - 1955)

O novo governo enfrentou uma crise cambial devido à queda nos preços do café e à
necessidade de créditos de curto prazo. O Ministro da Fazenda, Eugênio Gudin, procurou
apoio internacional, mas só conseguiu obter US$ 80 milhões de forma oficial. Ele buscou
mais US$ 200 milhões da iniciativa privada, usando as reservas estrangeiras como garantia.

Gudin tentou atrair capital estrangeiro removendo obstáculos à entrada de investimentos. A


Instrução nº 113 da SUMOC permitia importações de equipamentos e bens de produção
sem cobertura cambial, facilitando investimentos estrangeiros.

No entanto, seu programa de estabilização econômica gerou uma crise de liquidez e afetou
os investimentos. O descontentamento na cafeicultura e as pressões políticas levaram
Getúlio a renunciar. José Maria Whitaker o substituiu e buscou unificar as taxas de câmbio e
desvalorizar a moeda. O FMI apoiou o projeto, mas o Congresso rejeitou, levando à
renúncia de Whitaker. Seu sucessor, Mário Câmara, teve pouco tempo para agir.

Conclusões

Nos dez anos após a Segunda Guerra Mundial, o Brasil experimentou um forte crescimento
do PIB e pressões inflacionárias. Houve um aumento na taxa de investimento, refletindo
avanços tecnológicos e investimentos públicos em infraestrutura. As exportações, durante o
governo Dutra, diminuíram devido à queda nas receitas do café e das exportações. A
economia voltou mais para o mercado interno com o avanço da substituição de
importações.

Embora os lados de repartição do PIB não mostrem mudanças significativas na participação


da agropecuária e da indústria, houve um aumento notável no setor industrial, indicando um
avanço na substituição de importações. Isso é evidenciado pelo aumento das importações
industriais e pela maior produção interna.

O principal legado desse período foi a estratégia de industrialização baseada na


substituição de importações e o fortalecimento da industrialização no Brasil. Houve também
uma continuidade do nacionalismo pragmático na política econômica. No entanto, o ideário
econômico liberal se tornou impopular, levando a políticas intervencionistas que nem
sempre foram eficazes. Essas tendências tiveram um impacto duradouro na economia e na
política do Brasil nos anos seguintes.

Dos anos dourados de JK à crise não resolvida 1956 - 1963

Esse período político que se iniciou após a Segunda Guerra Mundial no Brasil, envolvendo
os governos de Dutra, Vargas e Café Filho, teve início de forma democrática e populista. No
entanto, o ambiente político começou a se deteriorar com a renúncia de Jânio Quadros em
1961 e a subsequente disputa em torno da posse de seu vice, João Goulart. As mudanças
econômicas e sociais também desempenharam um papel importante, incluindo o
crescimento das áreas urbanas e o fenômeno da migração.

A descontinuidade no crescimento econômico começou a se manifestar no Brasil em


meados de 1963, agravada pela crise política. A renúncia de João Goulart em 1964 levou
ao golpe militar de 1964, encerrando o período político populista, mas a retomada do
crescimento econômico só ocorreu em 1968.

Serão discutidas as políticas econômicas dos governos de Juscelino Kubitschek, Jânio


Quadros e João Goulart, bem como as transformações econômicas e estruturais resultantes
dessas políticas

Crescimento e transformações econômicas

Crescimento e Transformações Econômicas de 1955: Nas eleições presidenciais de 1955,


Juscelino Kubitschek era representante do PSD e PTB, defendendo um discurso
desenvolvimentista. Seu plano de governo buscava transformar a nação, enfatizando o
desenvolvimentismo. Juscelino visava acelerar o desenvolvimento econômico, industrial e
urbano. Seu programa de governo, conhecido como Plano de Metas, tinha como objetivo
impulsionar o desenvolvimento por meio de investimentos públicos e privados nos setores
industrial e de infraestrutura.

Crescimento Econômico: O período entre 1957 e 1961 testemunhou um notável


crescimento do PIB, com taxas de 7%, 10,8%, 9,8% e 9,4%, respectivamente. Essa fase é
frequentemente considerada a 'áurea do desenvolvimentismo' no país.

Inflação e Finanças Públicas: Apesar do sucesso no crescimento econômico, a inflação


aumentou durante o governo JK. Inicialmente, a inflação estava em 12,2%, mas no final do
seu mandato, subiu para cerca de 30% a 40%. As finanças públicas também pioraram, com
o déficit no governo federal crescendo em termos reais entre 1956 e 1963.
Contexto Político: Além de ter sido marcado por turbulências e desafios econômicos, o
período também enfrentou questões políticas, incluindo a renúncia de Jânio Quadros e
crises políticas que tornaram tumultuada a presidência do Brasil de João Goulart, entre
1962 e 1963.

Durante o governo JK, os indicadores macroeconômicos foram melhores em geral em


comparação com os períodos de Jânio Quadros e João Goulart. No entanto, as exportações
foram uma exceção, diminuindo mais de 10%. A gestão macroeconômica de JK deixou um
legado inflacionário e um aumento na razão dívida externa líquida/exportações nos anos
seguintes.

Em relação aos indicadores sociais, houve melhorias notáveis na década de 1950, incluindo
um aumento na expectativa de vida, redução da taxa de mortalidade infantil e diminuição do
analfabetismo.

Em termos de mudanças estruturais durante o expressivo crescimento da economia, houve


um aumento notável do PIB. No entanto, também surgiram desafios, como a inflação e a
deterioração da situação externa. A participação dos setores de agropecuária, indústria e
serviços no PIB passou por alterações significativas ao longo desse período.

Em 1950, os setores agropecuário e industrial tinham participações quase iguais no PIB,


com 24,3% e 24,1%, respectivamente. Em 1955, antes do governo JK, houve pouca
mudança nesses números. No entanto, com a implementação do Plano de Metas, a
indústria cresceu significativamente em relação ao setor agropecuário. Em 1960, a indústria
representava 32,2% do PIB, enquanto a agropecuária tinha apenas 17,8%. Essa tendência
continuou, e em 1963, o setor agropecuário caiu para 16,5%, enquanto a indústria atingiu
32,5% do PIB. Os serviços mantiveram uma participação constante de cerca de 50% do PIB
nesse período.

A industrialização substitutiva de importações começou sem grande ajuda do governo e se


concentrou em bens de consumo não duráveis, como têxteis e alimentos. Com o tempo,
surgiu a necessidade de produzir insumos industriais e máquinas no país, o que se
intensificou a partir da década de 1940.

O governo de JK aprofundou o Plano de Metas da indústria, investindo em infraestrutura. A


taxa de investimento aumentou, passando de 13,5% em 1955 para 17% em 1963. As
mudanças na estrutura industrial entre 1952 e 1961 podem ser observadas ao comparar o
valor adicionado ao PIB.

No período de 1956-1963, o setor industrial cresceu significativamente, com uma taxa


média de crescimento de 11,6% ao ano, superando o crescimento do PIB. Isso se deveu em
grande parte ao avanço dos subsetores de bens duráveis e de capital, impulsionado pela
chegada de montadoras estrangeiras e desenvolvimento de fornecedores de autopeças. O
subsetor de bens intermediários manteve sua participação constante, enquanto os
manufaturados leves perderam participação. Essas mudanças foram influenciadas por
políticas econômicas, fatores domésticos e internacionais.

Os anos JK - A política cambial


Na década de 1950, devido a desafios fiscais e monetários, o Brasil adotou uma política
cambial como o principal instrumento econômico, devido à escassez de divisas após a 2ª
Guerra Mundial. A Instrução 70 de 1953 introduziu um sistema de leilões de divisas e
controle de importações, substituindo a política de taxas de câmbio múltiplas. Esse sistema
vigorou até 1961 e foi complementado pela Instrução 113, que permitia a importação de
bens sem cobertura cambial, atraindo investimentos de capital estrangeiro e financiamentos
significativos para o Brasil.

A política cambial da época era criticada pela esquerda em um período em que setores
empresariais também faziam críticas. Essa crítica se deve ao fato de que a política de
câmbio favorecia subsídios indiretos ao capital estrangeiro, facilitando investimentos diretos
com uma taxa de câmbio favorável, o que, por sua vez, facilitava a remessa de lucros para
o exterior. Apesar de todas as críticas, essa política cambial tinha o propósito de enfrentar a
escassez de divisas e impulsionar o desenvolvimento econômico por meio do Plano de
Metas.

O plano de Metas

O Plano de Metas teve origem após a 2ª Guerra Mundial com a influência de missões
estrangeiras e a criação do BNDE pela Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (CMBEU) em
1952, ainda no governo Vargas.

O presidente JK estabeleceu o Conselho de Desenvolvimento em 1956, que identificou


setores econômicos promissores e elaborou o Plano de Metas.

O Plano de Metas destinou cerca de 6% do PIB para investimentos em cinco áreas-chave:


energia, transporte, indústria de base, educação e alimentação.

A maior parte dos investimentos (71,3%) concentrou-se em energia e transporte,


financiados principalmente pelo setor público.

As indústrias de base receberam 22,3% dos investimentos, sendo financiadas tanto pela
iniciativa privada quanto com o apoio de financiamento público.

As áreas de educação e alimentação receberam o restante dos recursos, totalizando 6,4%


dos investimentos.

O Plano de Metas de JK destacou Brasília como uma meta prioritária. Este programa
estimulou setores econômicos como o automobilístico, construção civil, mecânica pesada e
equipamentos elétricos, com supervisão dos grupos executivos. JK implementou uma tarifa
aduaneira (alfândega) protecionista e um sistema cambial favorável ao investimento
estrangeiro. A execução do Plano foi coordenada pelo Conselho de Desenvolvimento
(1956), e as metas eram ajustadas conforme o progresso era alcançado. Para JK, Brasília
era vista como a chave para um continente integrado.

O governo alcançou muitas de suas metas, notavelmente na produção de veículos e


expansão da capacidade na construção de rodovias e geração de energia elétrica. A
produção de automóveis desempenhou um papel crucial no combate às importações. No
entanto, os setores ferroviário e de produção de carvão mineral tiveram um desempenho
abaixo do esperado. É importante mencionar que o governo lançou programas sem uma
proposta de financiamento detalhada, dependendo de diversas fontes de recursos, tanto
nacionais como externas.

O Plano de Metas utilizou a inflação como fonte de financiamento, resultante da expansão


monetária, do aumento dos gastos públicos e da ampliação do crédito para promover
investimentos públicos. Isso envolvia extrair uma poupança "forçada" da sociedade por
meio da inflação e redirecioná-la para os agentes públicos e privados encarregados de
realizar os investimentos no programa. O Banco do Brasil desempenhava um papel
complexo, atuando como banco central e comercial.

Na prática, o Banco do Brasil expandia o crédito em parte para cobrir o déficit do Tesouro
federal, que era causado pelos subsídios às empresas de transporte no governo. Para
interromper essa expansão monetária indesejada, o governo tinha três opções, ou uma
combinação delas: aumentar a tributação, emitir títulos da dívida ou conter gastos.

No período de 1956 a 1960, o governo não conseguiu aumentar as receitas devido à


estrutura tributária desatualizada. Tentativas de emitir títulos da dívida foram prejudicadas
pelas leis que limitavam as taxas de juros e proibiam a indexação na economia, resultando
em juros reais negativos.

Portanto, o governo teve que atrasar as despesas, principalmente os pagamentos aos


fornecedores do Plano de Metas. Embora o programa tenha desempenhado um papel
significativo no crescimento da economia, as previsões iniciais não acompanharam os
resultados reais. A economia cresceu mais do que o esperado, as importações diminuíram,
mas a inflação superou as expectativas, atingindo 25% ao ano, em vez dos 13,5%
previstos.

Plano de Estabilização monetária PEM

Durante o governo JK, as políticas monetária e fiscal foram subordinadas ao objetivo de


transformar a estrutura da economia brasileira, priorizando o desenvolvimento industrial.

No entanto, o financiamento inflacionário utilizado para promover esse desenvolvimento


causou um aumento significativo na inflação. Entre 1957 e 1958, a taxa de inflação saltou
de 9,0% para 24,4%.

Em resposta a essa situação, o governo apresentou ao Congresso, em outubro de 1958, o


Plano de Estabilização Monetária (PEM). Esse plano foi elaborado pelo ministro da
Fazenda, Lucas Lopes, e pelo presidente do Banco de Crédito e Pagamentos Internacionais
(BIPE), Roberto Campos.

As origens do PGM estão relacionadas à tentativa do Brasil de obter um empréstimo do


Export-Import Bank (Eximbank) dos EUA no início de 1958. O Eximbank condicionou o
empréstimo ao aval do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O FMI, por sua vez, exigiu que o Brasil tomasse uma série de medidas para conter a
inflação e reduzir o crescente déficit do balanço de pagamentos do país.

Essas medidas incluíram a implementação de políticas de estabilização monetária, como o


controle dos gastos públicos, a redução do financiamento inflacionário e o controle das
taxas de câmbio, com o objetivo de restaurar a estabilidade econômica.

O PEM representou um esforço do governo para equilibrar a economia e lidar com os


desafios econômicos da época, especialmente em relação à alta inflação e ao balanço de
pagamentos.

O PEM enfrentou críticas no Congresso e desafios em sua implementação. JK optou por


uma abordagem gradual em oposição ao tratamento de choque de estabilização monetária,
como exigido pelo FMI. O presidente do Banco do Brasil, Sebastião Paes de Almeida, se
opôs ao corte de crédito concedido às indústrias.

No início de 1959, Juscelino Kubitschek iniciou a aplicação do Plano de Estabilização


Monetária (PEM), que incluiu a eliminação dos subsídios à importação de trigo e gasolina, o
que impactou os custos de vida.

Em vez de buscar a estabilização monetária como prioridade, Juscelino Kubitschek


escolheu priorizar o crescimento econômico, apresentando o Plano de Metas e o projeto de
construir Brasília, enquanto deixava ao seu sucessor um cenário de deterioração dos
indicadores macroeconômicos.

Durante seu governo, as exportações caíram significativamente devido à dívida externa


crescente, à diminuição das compras de excedentes de café e aos altos gastos em obras
públicas. O governo de Juscelino Kubitschek enfrentou vários desafios econômicos nesse
período, e o Plano de Estabilização Monetária (PEM) foi uma tentativa de lidar com a alta
inflação e os desequilíbrios econômicos. Você gostaria de continuar discutindo mais sobre o
governo de Kubitschek e suas políticas econômicas?

O financiamento inflacionário, que ocorreu durante o governo de Juscelino Kubitschek,


deixou um legado de déficits e inflação para seu sucessor. Essa prática de financiamento
inflacionário, juntamente com os altos gastos em obras públicas e o aumento da dívida
externa, acabou tendo impactos significativos na economia brasileira e nos anos seguintes.
Se você tiver mais perguntas ou quiser discutir outros aspectos desse período ou de
qualquer outro tópico, fique à vontade para perguntar. Estou aqui para ajudar!

Os governos Jânio quadros e João goulart

Jânio Quadros, conhecido por sua campanha com uma vassoura como símbolo, prometia
combater a corrupção e governar tomando conta do país.

Após assumir a presidência em 1961, Jânio Quadros lançou um pacote de medidas


econômicas contracionistas: desvalorização cambial, contenção dos gastos públicos,
medidas bem recebidas pelo FMI, e reescalonamento da dívida externa do Brasil.
No entanto, Jânio renunciou ao cargo em 1961, ocasionando uma crise política. De acordo
com a Constituição, João Goulart deveria assumir o cargo, sob forte oposição dos setores
militares.

Para resolver a crise, o sistema governamental passou a ser parlamentarista, tendo Goulart
como o presidente e Tancredo Neves como primeiro-ministro.

Walter Moreira Salles foi nomeado Ministro da Fazenda, liderando os setores mais
conservadores que eram contrários a Goulart, em desacordo com as demandas
trabalhistas.

Houve um crescimento econômico positivo de 8,6% no PIB em 1951, impulsionado pelos


investimentos na gestão de JK. No entanto, a inflação aumentou, com uma variação de
30,5% em 1958 para 47,8% em 1960, enquanto a taxa de investimento caiu de 13,1% do
PIB para 8,2%, indicando uma redução nos investimentos em setores pesados.

Houve um pequeno aumento nas exportações, mas a relação dívida externa líquida /
exportações também aumentou. O Brasil experimentou o sistema parlamentarista até o final
de 1962 devido a divergências entre o presidente e os três primeiros-ministros sobre a
direção política do país.

João Goulart defendia um plano de governo mais à esquerda e, em 1963, pressionou pelo
plebiscito sobre o regime do governo, o que resultou na volta do regime presidencialista.

Durante a deterioração econômica, foi lançado o Plano Trienal de Desenvolvimento


Econômico e Social, liderado por Celso Furtado. O plano visava conciliar crescimento
econômico, reformas sociais e combate à inflação. Seus objetivos incluíam alcançar um
crescimento de 4% ao ano no PIB, reduzir a inflação para 25% em 1963, garantir o
crescimento real dos salários, implementar a reforma agrária e renegociar a dívida externa
para aliviar a pressão sobre o balanço de pagamentos.

Medidas para conter a inflação: Furtado propôs medidas ortodoxas, incluindo a correção de
preços públicos defasados, realismo cambial, corte de despesas, controle da expansão do
crédito ao setor privado e aumento do compulsório sobre depósitos à vista.

Estratégias de desenvolvimento: Baseado na tradição cepalina, enfatizando a


industrialização pela substituição de importações. Ele via a esiso econômica como uma
crise do modelo de desenvolvimento e propunha o aprofundamento desse modelo, incluindo
a ampliação do mercado interno, reforma agrária e políticas de redistribuição de renda.

Questão de balanço de pagamentos e dívida externa: O governo brasileiro enfrentou


questões relacionadas ao balanço de pagamentos e à dívida externa e enviou uma missão
a Washington, com o Ministro da Fazenda, San Tiago Dantas, para negociar a dívida
externa e obter ajuda financeira.

Os Estados Unidos não estavam dispostos a fornecer ajuda adicional devido à deterioração
da situação política no Brasil, incluindo a Lei de Remessa de Lucros de 1962, que limitava
as remessas de lucros para o exterior em 10%, o que afetou negativamente os
investimentos estrangeiros no Brasil.

A pouca receptividade aos investimentos externos no Brasil pode ser atribuída à


insatisfação com a Política Externa Independente do Brasil. Essa política aproximou o Brasil
de Cuba, no apoio ao anticolonialismo, e também envolveu o ingresso da China na ONU.

João Goulart abandonou a ortodoxia econômica devido ao fracasso da missão de San Tiago
Dantas e às críticas internas. Ele reintroduziu o subsídio ao trigo e ao petróleo, aumentou os
vencimentos do funcionalismo público e reajustou os salários, mas sem eficácia em relação
à inflação.

Em meados de 1963, houve uma reforma ministerial com a substituição dos responsáveis
pelo Plano Trienal. O descontrole das contas públicas, o déficit do balanço de pagamentos e
a desaceleração da atividade econômica se agravaram.

Politicamente, o país se polarizou, com invasões de terras e expropriação de empresas


estrangeiras, bem como conspirações militares contra João Goulart. A esquerda clamava
por "reformas de base", enquanto os setores conservadores organizaram manifestações de
massa, como a Marcha da Família com Deus pela Liberdade.

Nas Forças Armadas, houve uma crescente politização, com a ideologia de esquerda
infiltrando-se entre o pessoal, incluindo os oficiais graduados. Isso culminou no golpe
civil-militar em março de 1964, que derrubou João Goulart.

A melhoria do quadro econômico esperada pelos "revolucionários" teve que esperar o


governo de Castello Branco e o subsequente "milagre econômico".

A restauração da normalidade institucional, também prometida pelo governo, levou muito


tempo para se concretizar.

Conclusões:

O período de 1956 a 1963 pode ser dividido em dois subperíodos distintos: os anos de JK
(1956-1960) e os governos Quadros e João Goulart (1961-1964).

Governo Juscelino Kubitschek


Elogiado por um governo que combinou crescimento econômico rápido, transformação da
economia brasileira e preservação das liberdades democráticas.

Seu Plano de Metas estabeleceu objetivos ambiciosos para o crescimento da produção e da


infraestrutura econômica, incluindo a construção de Brasília.

No entanto, o Plano de Metas também agravou a concentração regional da produção e


negligenciou setores como agricultura e educação básicos, o que teve consequências
negativas para a distribuição de renda no país.
Críticas do período JK

Além dos sucessos econômicos, o período de JK também é associado à ideia de


"macroeconomia do homem cordial", que sugere uma crença otimista de que o governo
poderia realizar qualquer coisa.

A estratégia do governo foi acelerar o crescimento econômico, mas enfrentou os custos


políticos das medidas de estabilização.

Governo Quadros e Goulart

Enfrentaram dificuldades em formar coalizões anti-inflacionárias.

Herdaram uma situação econômica pior do que a de JK.

A economia estava ainda mais complexa com a herança do Plano de Metas de JK.

Enfrentam desequilíbrios econômicos decorrentes do rápido crescimento econômico.

A renúncia e o Plano Trienal de Jânio Quadros, em 1961, não conseguiram resolver os


problemas econômicos, agravando o cenário.

A renúncia e o Plano Trienal de Jânio Quadros, em 1961, não conseguiram resolver os


problemas econômicos, agravando o cenário.

A persistência dos problemas econômicos contribuiu para a instabilidade política que


culminou no golpe civil-militar de 1964.

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