GIAMBIAGI
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Este período foi marcado por mudanças políticas e econômicas significativas após o fim da
Segunda Guerra Mundial. Em todo o mundo, houve um afastamento dos princípios
econômicos liberais estabelecidos em Bretton Woods. No Brasil, essa década testemunhou
a transição de um modelo econômico liberal para um modelo de desenvolvimento industrial
com uma participação mais significativa do Estado.
Houve um conflito político entre o projeto de Vargas e uma abordagem mais liberal e
conservadora representada por diferentes partidos. A política econômica durante esse
período refletiu tanto os interesses domésticos quanto as pressões internas e externas.
As esperanças de obter ajuda financeira dos EUA não se concretizaram devido a mudanças
na política global dos EUA, que estavam mais focados na reconstrução da Europa. Isso
deixou o Brasil dependente de investimentos privados para financiar seu desenvolvimento
econômico.
A decisão do governo Dutra de não desvalorizar a moeda foi motivada por várias razões.
Primeiro, a demanda estrangeira por café era insensível às mudanças de preço, e uma
moeda sobrevalorizada ajudaria a manter os preços internacionais do café elevados.
Segundo, temiam que alterações na taxa de câmbio pudessem afetar os preços internos e
prejudicar a política de combate à inflação. Terceiro, a maior parte das exportações
brasileiras ia para áreas com moedas não conversíveis ou bloqueadas, e o café
representava a maior parte das exportações para essas áreas com moedas não
conversíveis.
Essas medidas reduziram o déficit com a área de moeda conversível, mas resultaram na
perda de competitividade das exportações brasileiras, principalmente em relação aos
mercados europeus, devido às desvalorizações das moedas europeias em 1949 e ao
cenário econômico mundial. Além disso, a reorganização da economia brasileira causou
impactos significativos, incluindo a contração das exportações de café entre 1947 e 1950.
Durante o governo Dutra, o Plano Salte foi uma tentativa de coordenação dos gastos
públicos, mas enfrentou desafios de financiamento e acabou sendo encerrado na
administração Café Filho.
Até 1949, o governo Dutra adotou uma política econômica ortodoxa para combater a
inflação, incluindo políticas monetárias contracionistas e austeridade fiscal. Isso resultou em
pequenos superávits em 1947 e 1948, e uma expansão do crédito pelo Banco do Brasil em
1948 levou a um crescimento econômico significativo, embora a inflação tenha aumentado
novamente.
No entanto, a situação mudou quando a receita das exportações de café caiu em 1952,
levando a um déficit na balança comercial. O governo restringiu as concessões de
importação, mas o alto nível de importações persistiu, esgotando as reservas internacionais
e causando uma crise cambial. O projeto de estabilização "Campos Sales Rodrigo Alves" foi
afetado negativamente por essa crise.
Para lidar com a situação econômica desafiadora, o presidente Vargas realizou uma
reforma ministerial e nomeou João Goulart como Ministro do Trabalho e Osvaldo Aranha
como Ministro da Fazenda. Nesse contexto, Osvaldo Aranha tentou estabilizar a economia,
implementando um ajuste cambial como parte das medidas para enfrentar a crise
econômica.
O governo enfrentou dificuldades em manter a disciplina fiscal devido aos crescentes gastos
públicos em infraestrutura. Além disso, a economia foi impactada por fatores como o
crescimento do PIB, que excedeu as expectativas, e condições adversas, como a
ocorrência de uma seca. Isso contribuiu para o aumento da inflação na agricultura, que por
sua vez estava relacionado ao déficit público e às desvalorizações cambiais.
O desfecho trágico desse período foi influenciado por vários fatores. Setores conservadores
da sociedade estavam contra Vargas, acusando-o de ser populista, corrupto e simpático aos
sindicatos. A oposição, liderada pela UDN, intensificou seus ataques a Vargas. Um atentado
contra o jornalista Carlos Lacerda em 1954 levou as Forças Armadas a exigirem a renúncia
de Vargas.
Vargas aceitou o afastamento temporário, mas um grupo de generais exigiu sua renúncia
imediata, o que o levou a cometer suicídio. O aumento de 100% no salário mínimo e a
insatisfação de setores empresariais contribuíram para a crise. O suicídio de Vargas teve
repercussões históricas, levando à ruptura da ordem constitucional e à eleição de seu vice,
Café Filho, seguido pela eleição de Juscelino Kubitschek à Presidência da República.
O novo governo enfrentou uma crise cambial devido à queda nos preços do café e à
necessidade de créditos de curto prazo. O Ministro da Fazenda, Eugênio Gudin, procurou
apoio internacional, mas só conseguiu obter US$ 80 milhões de forma oficial. Ele buscou
mais US$ 200 milhões da iniciativa privada, usando as reservas estrangeiras como garantia.
No entanto, seu programa de estabilização econômica gerou uma crise de liquidez e afetou
os investimentos. O descontentamento na cafeicultura e as pressões políticas levaram
Getúlio a renunciar. José Maria Whitaker o substituiu e buscou unificar as taxas de câmbio e
desvalorizar a moeda. O FMI apoiou o projeto, mas o Congresso rejeitou, levando à
renúncia de Whitaker. Seu sucessor, Mário Câmara, teve pouco tempo para agir.
Conclusões
Nos dez anos após a Segunda Guerra Mundial, o Brasil experimentou um forte crescimento
do PIB e pressões inflacionárias. Houve um aumento na taxa de investimento, refletindo
avanços tecnológicos e investimentos públicos em infraestrutura. As exportações, durante o
governo Dutra, diminuíram devido à queda nas receitas do café e das exportações. A
economia voltou mais para o mercado interno com o avanço da substituição de
importações.
Esse período político que se iniciou após a Segunda Guerra Mundial no Brasil, envolvendo
os governos de Dutra, Vargas e Café Filho, teve início de forma democrática e populista. No
entanto, o ambiente político começou a se deteriorar com a renúncia de Jânio Quadros em
1961 e a subsequente disputa em torno da posse de seu vice, João Goulart. As mudanças
econômicas e sociais também desempenharam um papel importante, incluindo o
crescimento das áreas urbanas e o fenômeno da migração.
Em relação aos indicadores sociais, houve melhorias notáveis na década de 1950, incluindo
um aumento na expectativa de vida, redução da taxa de mortalidade infantil e diminuição do
analfabetismo.
A política cambial da época era criticada pela esquerda em um período em que setores
empresariais também faziam críticas. Essa crítica se deve ao fato de que a política de
câmbio favorecia subsídios indiretos ao capital estrangeiro, facilitando investimentos diretos
com uma taxa de câmbio favorável, o que, por sua vez, facilitava a remessa de lucros para
o exterior. Apesar de todas as críticas, essa política cambial tinha o propósito de enfrentar a
escassez de divisas e impulsionar o desenvolvimento econômico por meio do Plano de
Metas.
O plano de Metas
O Plano de Metas teve origem após a 2ª Guerra Mundial com a influência de missões
estrangeiras e a criação do BNDE pela Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (CMBEU) em
1952, ainda no governo Vargas.
As indústrias de base receberam 22,3% dos investimentos, sendo financiadas tanto pela
iniciativa privada quanto com o apoio de financiamento público.
O Plano de Metas de JK destacou Brasília como uma meta prioritária. Este programa
estimulou setores econômicos como o automobilístico, construção civil, mecânica pesada e
equipamentos elétricos, com supervisão dos grupos executivos. JK implementou uma tarifa
aduaneira (alfândega) protecionista e um sistema cambial favorável ao investimento
estrangeiro. A execução do Plano foi coordenada pelo Conselho de Desenvolvimento
(1956), e as metas eram ajustadas conforme o progresso era alcançado. Para JK, Brasília
era vista como a chave para um continente integrado.
Na prática, o Banco do Brasil expandia o crédito em parte para cobrir o déficit do Tesouro
federal, que era causado pelos subsídios às empresas de transporte no governo. Para
interromper essa expansão monetária indesejada, o governo tinha três opções, ou uma
combinação delas: aumentar a tributação, emitir títulos da dívida ou conter gastos.
Jânio Quadros, conhecido por sua campanha com uma vassoura como símbolo, prometia
combater a corrupção e governar tomando conta do país.
Para resolver a crise, o sistema governamental passou a ser parlamentarista, tendo Goulart
como o presidente e Tancredo Neves como primeiro-ministro.
Walter Moreira Salles foi nomeado Ministro da Fazenda, liderando os setores mais
conservadores que eram contrários a Goulart, em desacordo com as demandas
trabalhistas.
Houve um pequeno aumento nas exportações, mas a relação dívida externa líquida /
exportações também aumentou. O Brasil experimentou o sistema parlamentarista até o final
de 1962 devido a divergências entre o presidente e os três primeiros-ministros sobre a
direção política do país.
João Goulart defendia um plano de governo mais à esquerda e, em 1963, pressionou pelo
plebiscito sobre o regime do governo, o que resultou na volta do regime presidencialista.
Medidas para conter a inflação: Furtado propôs medidas ortodoxas, incluindo a correção de
preços públicos defasados, realismo cambial, corte de despesas, controle da expansão do
crédito ao setor privado e aumento do compulsório sobre depósitos à vista.
Os Estados Unidos não estavam dispostos a fornecer ajuda adicional devido à deterioração
da situação política no Brasil, incluindo a Lei de Remessa de Lucros de 1962, que limitava
as remessas de lucros para o exterior em 10%, o que afetou negativamente os
investimentos estrangeiros no Brasil.
João Goulart abandonou a ortodoxia econômica devido ao fracasso da missão de San Tiago
Dantas e às críticas internas. Ele reintroduziu o subsídio ao trigo e ao petróleo, aumentou os
vencimentos do funcionalismo público e reajustou os salários, mas sem eficácia em relação
à inflação.
Em meados de 1963, houve uma reforma ministerial com a substituição dos responsáveis
pelo Plano Trienal. O descontrole das contas públicas, o déficit do balanço de pagamentos e
a desaceleração da atividade econômica se agravaram.
Nas Forças Armadas, houve uma crescente politização, com a ideologia de esquerda
infiltrando-se entre o pessoal, incluindo os oficiais graduados. Isso culminou no golpe
civil-militar em março de 1964, que derrubou João Goulart.
Conclusões:
O período de 1956 a 1963 pode ser dividido em dois subperíodos distintos: os anos de JK
(1956-1960) e os governos Quadros e João Goulart (1961-1964).
A economia estava ainda mais complexa com a herança do Plano de Metas de JK.