Chartier e Foucautl - Poder, Cultura e Representação
Chartier e Foucautl - Poder, Cultura e Representação
Chartier e Foucautl - Poder, Cultura e Representação
RESUMO
O texto parte de uma abordagem introdutória ao âmbito da História Cultural crí-
tica, como a encontramos no pensamento de Roger Chartier acerca da represen-
tação e da prática social enquanto polos de articulação da cultura e do mundo
social, para em seguida explorar algumas das articulações possíveis com a gene-
alogia do poder empreendida por Michel Foucault. Para este último propósito in-
dicaremos que os conceitos de lutas de representações e poder, respectivamente
relativos aos pensamentos de Chartier e Foucault, constituem superfície de con-
tato privilegiada entre a História Cultural, assim compreendida, e a genealogia
ABSTRACT
The text starts from an introductory approach to the scope of Critical Cultural
and social practice as poles of articulation of the culture and the social world, and
then to explore some of the possible articulations With the genealogy of power
undertaken by Michel Foucault. For this latter purpose we will indicate that the
concepts of struggles of representations and power, respectively relating to the
thoughts of Chartier and Foucault, constitute a privileged contact between the
Cultural History, thus understood, and the Foucaultian philosophical genealogy in
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* Professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB, Amargosa-BA, Brasil; cicerojsoliveira@ufrb.edu.br
1990, p. 66-67)
-
tabelece a primazia do econômico, se mostra mais adequada à pluralidade
das clivagens que trespassam a ordem social e à diversidade de conexões
dos códigos partilhados.
-
fabetização das populações” como eixos de uma nova realidade compósita
e decisiva para o advento do Estado moderno enquanto forma política
original.
Para Chartier, há portanto que examinar as condições culturais
que se colocam lado a lado com outro setores sociais e que possibilitam
o Estado moderno, e não simplesmente como um resíduo ou algo deriva-
tivo deste processo de constituição. Quando numa nova esfera de gestão
política a “palavra escrita” passa a ser os “signos do poder” e mesmo seu
-
sobre as populações.
Para este propósito, Chartier destaca a necessidade de enfoque
sobre as “políticas escolares”, a saber, os projetos formativos com os quais
os Estados modernos visam controlar as instituições em função da forma-
-
sita, não monolítica ou como realidade política original constituída (dentre
1990, p. 65)
de processos biológicos sujeito a condições internas e externas que podem fazê-lo variar.
-
critos anti-Maquiavel, concebidos no mesmo espírito das transformações
políticas em curso, que encontramos as primeiras elaborações acerca de
uma teoria política relativa à compreensão do sentido de “governar” que
se fez absolutamente decisiva para o modo como ainda compreendemos o
exercício do poder político6.
Em todo caso, trata-se de variáveis que podem obstar ou compor os controles regulares de
sua otimização e de seu melhor proveito econômico. Em suma, trata-se das componentes
-
lações globalmente “afetadas por processos de conjunto próprios da vida”. (FOUCAULT,
-
mente deslocada de um registo jurídico-territorial para o novo registro
“biopolítico”.
-
-poder político.
-
sentativo vinculador do domínio econômico ao domínio político, que a
justaposição “economia-política” passou a referir a “gestão” ou a “boa
condução” (e a ciência da boa condução) dos homens e das coisas na for-
ma da economia.
A arte do governo, tal como aparece em toda essa literatura, deve res-
ponder essencialmente a esta pergunta: como introduzir a economia
– isto e, a maneira de administrar corretamente os indivíduos, os bens,
as riquezas, como fazê-lo no seio de uma família, como pode fazê-lo
criadagem, que sabe fazer prosperar a fortuna da sua família, que sabe
-
ção, essa meticulosidade, esse tipo de relação do pai de família com
sua família na gestão de um Estado? A introdução da economia no seio
-
ma, diz Rousseau: como esse sábio governo da família poderá, mutatis
implicados no longo processo moderno dos que julgam operar uma “ra-
francês propõe uma releitura crítica não apenas do domínio político mo-
-
CHADO, Roberto (org.). Microfísica do poder. São Paulo: Edições
-
ro, Editora Vozes: 1997.