01 - O Italiano - Série O Italiano - M. Lins

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Copyright© 2019 M.

Lins
Copyright© 2019 Spartacus Editora
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Qualquer meio existente sem autorização por escrito dos editores.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos de imaginação do autor. Qualquer semelhança com
Nomes, datas e acontecimentos reais é mera conhecidência.
Produção Editorial: Spartacus Editora
Capa: Barbara Dameto
Revisão: Hellen Caroline
Copidesque: Hellen Caroline
Criação de e –book: Deane Ramos
Este livro segue as regras da nova Ortografia da Língua Portuguesa.
O Italiano
Duologia - Livro I
M. Lins
Sinopse
Lucca Marconni é um italiano cheio de charme, bonito, forte e bom de lábia,
dono de um sorriso de lado capaz de bambear as pernas de qualquer mulher por
onde passa. Apesar de seus 38 anos, Marconni, como gosta de ser chamado, sabe
o efeito que tem nas mulheres que passaram por sua vida. Com ele não tem essa
de uma noite. Se o sexo foi bom, por que não repetir? Afinal, se um quer, o outro
não reclama. Esse é seu lema.
Marconni é marcado pela morte de sua única namorada. Ele era fiel, mas
Camilla nem tanto. A mulher morreu em um trágico acidente, no qual estava
acompanhada de seu amante, bêbado demais e pouco consciente do que fazia.
Ele sentiu sua morte, mas hoje não passa de uma lembrança. Se Deus resolveu
levar Camilla, é porque estava na hora dela. Sua lei de vida é não namorar.
Depois que percebeu que poderia ter todas e não apenas uma, decidiu que sua
vida seria de todas. Até uma garota despreocupada e cheia de vida cruzar-lhe o
caminho.
Melissa Ferraz, mais conhecida como Mel, é uma menina de 17 anos, bonita,
espontânea, alegre e sorridente. Não conhece tudo da vida, mas viveu o bastante
para saber a dor que é não ter seus pais ao lado. Abandonada pelo pai biológico
logo após o nascimento, foi criada pela mãe, Carla, e Alfredo, o homem que
considera um pai. Ele a ensinou a ser o que é. Infelizmente os perdeu cedo
demais em um assalto, o que fez com que seu irmão de criação não pensasse
duas vezes, indo morar com o tio na Itália. Mel viveu muito bem, por sete anos,
com uma tia, até que ela veio a falecer.
A menina viu seu mundo desmoronar sem que pudesse evitar. Era sua vez de ir
para a Itália, onde teria que passar a morar com o irmão nada amigável e o tio até
então desconhecido. Ela nunca havia visto ou falado com o homem, pois sempre
que sua presença foi solicitada, ele mandou um exército de advogados. Agora
Mel viveria em um país estranho, o qual nem entendia a língua, sem conhecer
ninguém, e sozinha. Ela vai descobrir que nem tudo é como pensava e planos são
apenas planos, afinal, eles sempre podem ser modificados.
Capítulo 1
Melissa Ferraz

Quando desembarquei no aeroporto Leonardo da Vinci-Fiumicino, em Roma,


era como se tivesse acabado de pular e a forca estivesse apertando meu pescoço.
Tudo o que eu não queria era estar nesse lugar. Não me entenda mal. Nada
contra a Itália e as pessoas de sotaque perfeito e os homens lindos. Adoro assistir
a seleção italiana jogar, inclusive, mas eu preferia ficar na minha terra que tanto
amo. Acontece que o desejo do meu pai de criação era que, caso ele, minha mãe
ou tia faltassem — Que Deus os tenha em um bom lugar! — e eu ainda fosse
menor de idade, fosse morar no país europeu. Eu ainda tinha 17 anos e, por isso,
segundo os advogados desse homem que se auto intitula meu tio, eu não poderia
viver por mim mesma, o que significava ter viver com um homem que nunca vi,
nunca falei, e para ficar ainda pior, teria que viver com meu irmão de criação,
que não via há sete anos. Desde que ele se mandou, assim que nossos país
faleceram em um assalto. Eu bati o pé, pois não queria ter que ir para a Itália,
afinal, não me agradava em nada ter que viver com esse irmão que não hesitou
em ir embora durante uma fase tão complicada.
Nunca tivemos uma boa relação. Ele era mais velho e pegava muito no meu pé.
Sempre estragava minhas bonecas e um dia até fez com que seu cachorro
matasse meu gato.
Como conviver novamente com uma pessoa assim?
Não era nada agradável!
Nessa época escolhi ficar com minha tia, irmã do meu pai de criação. Ela eu
considerava como se fosse minha mãe. Minha amada tia Simone morreu de
velhice e tudo que me restou foi atender ao desejo do homem que me criou.
No aeroporto, avistei um senhor aparentando ter cinquenta anos, que segurava
uma placa com meu nome.
Por Deus! O que diabos tinha feito nas gerações anteriores para merecer aquilo?
Dei um pequeno aceno para o homem, a fim de lhe mostrar que eu era a Melissa,
a pessoa por quem ele aguardava.
Eu estava nervosa! Afinal de contas eu mal falava o português e agora teria que
entender e falar italiano. Me sentia literalmente fodida. Eu estava ferrada por
malditos três meses.
O senhor sorriu abertamente, de um jeito muito acolhedor comparado às pessoas
que vinha lidando há dias, nada amigáveis, por assim dizer.
— Olá, senhorita Ferraz. Eu sou Carlos Pereira, o motorista designado para
conduzi-la até a mansão dos Marconni. — Por Deus! Soltei a respiração que nem
sabia que estava segurando. Ele falava minha língua.
— Oi. — Sorri de volta, com mais tranquilidade. — Podemos ir na hora que o
senhor achar melhor. Estou tão feliz que você fala português. Eu posso te chamar
de você, né?! Aliás, você pode me chamar pelo meu nome, ou melhor, me chame
de Mel. Todos me chamam assim em casa. Eu sei que você é uma pessoa de
idade, mas te chamar de senhor fica muito formal. Sério! Você é uma das
primeiras pessoas que, durante essa viagem, me trata como uma pessoa e não
como algum objeto que está sendo transportado. Aqueles homens com suas
gravatas e ternos sob medida, se achando os donos do mundo... Por Deus! Eu
não merecia tanto, sabe, seu Carlos?! Não quero ser uma obrigação para
ninguém. Nunca pedi para vir para cá. Sendo sincera, sem querer ofender, a
cidade é linda, mas eu estava muito bem em minha casa, mesmo estando sozinha
devido à ausência das pessoas que tanto amei.
Eu sei, estava tagarelando. Mas é que era o nervoso falando por mim, afinal,
cidade nova, idioma novo e por fim, uma "família" nova. Já tinha tudo em minha
cabeça. Seriam apenas três meses e depois eu poderia correr para bem longe de
tudo. O que poderia acontecer em um período tão curto? Passaria esse tempo
sem dar muita intimidade para as pessoas, porque me conhecendo, sabia que me
apegaria rápido e isso não seria necessário, então não teria que me preocupar
quando meu prazo de validade vencesse. O senhor Carlos insistiu que eu
sentasse no banco de trás do veículo, o que eu prontamente recusei, claro. Por
que eu iria atrás se podia conversar com ele no banco da frente? Além disso, ele
poderia me mostrar tudo o que Roma tinha a oferecer. A cidade era linda!
Minha nossa! Era tão movimenta quanto São Paulo. Eu ficava imaginando como
devia ser à noite, e se era tão badalada como São Paulo.
Que saudade de todos. Da minha escola, dos vizinhos fofoqueiros, dos meus
amigos...
Já suspeitava que os três meses seriam como se fosse, na verdade, um ano. Não
via a hora de tudo acabar. À meia noite do meu aniversário, quando já tivesse
dezoito anos, minha parte da herança seria liberada, assim como foi com a parte
do meu irmão. Compraria minha passagem e sairia tão rápido da casa, que nem
mesmo o vento iria presenciar minha saída.
— Já estamos chegando, senhorita.
— Ah, cara, sério? Por favor, apenas Mel. Vamos ser grandes amigos, senhor
Carlos — disse e sorri. Não queria intimidade com ninguém, mas precisava de
aliados.
— Bom, Mel, o senhor Marconni não vai gostar que eu a trate dessa forma.
Precisamos ser profissionais e o patrão gosta que seja assim.
— Tudo bem — concordei. — Se quer manter as aparências, está certo. Mas
com o senhor Marconni longe, nada de senhorita Ferraz, ok?!
— Está bem, menina Melissa. Esse vai ser o nosso segredo. — Só então me dei
conta que, mesmo tendo um pouco do sotaque, Carlos não falava como um
legítimo italiano.
— Você não é daqui, né?
— Não, sou brasileiro. Mas saí de casa muito cedo — explicava Carlos. — Cedo
o bastante para quase não lembrar de minha terra.
— Eu sou de São Paulo, capital e você?
— Eu sou do Sul, você conhece?
— Só ouvi falar, mas tenho vontade de conhecer. Um dia eu irei! Simplesmente
amo o sotaque gaúcho. É lindo e um lugar onde eu...
Minha linha de raciocínio foi quebrada quando o senhor Carlos puxou o carro
para o meio fio e entrou por grandes portões de ferro.
Nossa, se eu achava que estava fodida, teria que confirmar que estava fodida em
um grau que nem se desenhasse alguém seria capaz de entender! Além de ter que
lidar com a morte da minha tia, uma cidade nova, um idioma novo e um cara que
deseja que o chame pelo sobrenome, moraria em uma casa enorme. A impressão
que dava era de que ele seria o velho mais ranzinza e esnobe que se pode
encontrar na terra. Quem viveria em uma casa tão grande? Eu provavelmente iria
me perder dentro dela. Estaria lascada. Seriam os três piores meses imagináveis.
Um velho ranzinza e um irmão de criação que sempre me odiou.
Papai, muito obrigada... Por nada!
Me perdi tanto nos pensamentos, que não vi que o senhor Carlos havia aberto a
porta do carro.
— Senhorita Ferraz.
Peguei sua mão e recebi um aperto e um sorriso encorajador. Desci do carro
olhando tudo em volta, notando que o lugar era enorme e tinha segurança para
tudo que era lado.
Eu moraria na casa de um velho ranzinza e esnobe, repeti o pensamento.
A sensação era de ter jogado pedra na cruz e depois sambado em cima.
Senhor Carlos acenou, já com a mala na mão, então ajeitei minha mochila nas
costas e o segui. Subimos a escada e logo a porta se abriu. Uma moça sorria para
o senhor Carlos, enquanto eu estava muito sem graça.
Alguém poderia abrir um buraco para eu entrar dentro?
Adentramos a casa e Carlos me apresentou à simpática moça, Graziella. Ela
pegou minha mala e fugiu dali o mais rápido possível, informando que o senhor
Marconni havia dado uma saída, mas que não demoraria.
— Senhor Carlos, o Igor está em casa? — perguntei.
— Não, Mel, senhor Igor não mora mais nessa casa. Ele mora em um dos hotéis
do senhor Marconni.
— Entendi. Será que é muito abuso eu querer tomar um banho? A viagem foi
puxada, e já que o patrão não está em casa, eu poderia descansar um pouco.
— Claro, venha comigo. Irei te mostrar o seu quarto. Graziella arrumará suas
coisas.
Senhor Carlos saiu na minha frente e eu o segui, observando todo o lugar. Era
tudo grande, porém, muito elegante para a casa de um velho caquético e
ranzinza. A sala tinha um grande sofá preto, as janelas iam do chão ao teto com
elegantes cortinas, nas paredes havia alguns quadros e uma televisão que parecia
mais uma tela de cinema. Tinha também uma lareira em um canto, com uma
poltrona perto. Subimos a escada de madeira que dava em um corredor, onde
havia muitas portas, pelo menos cinco. Meu queixo caiu e rolou escada abaixo.
No meu interior, eu ainda não sabia o que estava fazendo em uma casa assim.
Isso só poderia ser algum tipo de castigo divino, pelas vezes que mentia para
minha santa tia.
Carlos abriu uma porta, me dando espaço para entrar.
Era um quarto todo branco, com uma grande cama no centro e ao lado dela um
criado mudo no qual acima havia um lindo abajur. Pude perceber duas portas,
imaginando que uma, provavelmente, devia ser a do banheiro. Carlos chegou a
sumir por uma das portas. Andei um pouco pelo cômodo, soltando a mochila no
chão e sentando na grande cama que era macia e confortável. Carlos voltou com
Graziella pouco tempo depois. Reparando melhor, apesar da expressão cansada e
meio mal arrumada, Graziella era uma jovem que devia ter por volta de trinta
anos no máximo.
— Senhorita. — Entortei a cabeça e fiz uma careta para Carlos, que sorriu. —
Mel, fique à vontade. Ali é o banheiro, que está abastecido com o que precisar.
Caso não esteja do seu agrado, fale com Graziella e ela deixará como você achar
melhor. Inclusive, já arrumou as coisas no closet — ele disse isso apontando
para a porta na qual havia entrado. — Ela vai ficar com você — continuou. —
Ela é tímida, mas fala sua língua. Não tanto quanto eu, mas o bastante para vocês
se comunicarem. Eu não estou sempre dentro da casa, porém, pode me encontrar
pelo quintal ou na garagem, se precisar de alguma coisa. Graziella está sempre
na cozinha ou nos aposentos dos empregados. Depois que obtiver seu descanso,
ela irá mostrar toda a residência. O senhor Marconni provavelmente estará de
volta a qualquer momento. Fique à vontade, menina Melissa, e o que precisar
estaremos à disposição.
— Obrigada, Carlos. Você é muito gentil. Eu só preciso de um banho e descansar
um pouco para recarregar as energias.
Sorri amigavelmente enquanto eles saíam do quarto. Em seguida, andei até o
banheiro que era grande e luxuoso, nas cores bege e branco; o box enorme, com
uma bancada e um espelho, abastecido com todo o tipo de produto de higiene
feminina.
Alguém havia se preocupado ou apenas tinham isso caso tivessem visitas? Dei
de ombros e comecei a tirar a roupa, deixando a porta entreaberta, afinal, nunca
gostei de tomar banho de porta fechada e em minha casa nunca houve essa
necessidade, já que éramos apenas minha tia e eu. Na minha cabeça, eu poderia
passar mal e morrer para nunca mais ser encontrada, então preferia deixar aberto
para que se tal coisa acontecesse, pudessem escutar o barulho e viriam me
socorrer. É um pensamento absurdo, eu sei, mas não posso fazer nada. Já diz o
ditado, “melhor prevenir que remediar”.
Entrei debaixo do chuveiro e meu corpo reclamou quando a água gelada bateu
nele, mas logo relaxou ao sentir a água quente. Há dias não descansava e sentia
meu corpo protestar. Chorei muito a morte da minha tia, mas Deus sabe o que
faz. Se era hora de ela partir, me restava entender. Sabia que ela estaria em um
bom lugar, até porque morreu dormindo no mundo dos sonhos e acho que não há
jeito melhor de seguir o caminho para a luz.
Terminei meu banho, afundada em pensamentos. Saí do banheiro e me sequei
em uma toalha enorme e felpuda. Peguei um roupão que encontrei no armário de
toalhas, e o coloquei. Deixei a toalha no gancho atrás da porta e não hesitei em
aproveitar para me deitar naquela cama enorme e macia, tentando ainda
assimilar a nova vida. Pedindo que Deus, meus pais e minha tia, me dessem
forças naqueles meses para aguentar tudo que viria.
Lembrei-me de uma conversa que tive com titia alguns dias antes de sua morte,
na qual ela disse que não tinha medo de morrer, e que quando alguém vem a
falecer é porque já cumpriu seu dever na terra e está na hora de ter um descanso
merecido. Ela pediu para que se isso acontecesse antes de eu ter meus dezoito
anos, que eu não batesse o pé novamente e aceitasse o desejo de meu pai, que era
ter seus filhos aos cuidados do irmão, o que passou a também ser o desejo dela.
Eu não gostei daquela conversa! Mas olhando para trás, tudo que tinha de
melhor veio da minha mãe e do meu pai de criação, que mesmo sem ter tido
obrigação alguma, me criou, me educou e me deu todo seu amor, até quando
pôde. Em sequência, a minha tia me ensinou a escolher o caminho certo e a
saber enxergar o errado, pois segundo ela o duvidoso existia, mas cabia a nós
acertá-lo. Me perdi em meus pensamentos até pegar no sono.
Acordei com algumas pequenas batidas na porta. Espreguicei-me, vendo que já
era noite e o quarto já estava escuro. Levantei da cama, ajeitando o roupão ao
corpo e indo até a porta. Ainda sonolenta, acendi a luz e abri a porta.
— Desculpe incomodar, senhorita, não sabia que estava dormindo. — Era
Graziella, e seu jeito tímido e recatado.
— Que isso! Entre. Na verdade, deitei apenas para descansar e acabei dormindo
demais. — Sorri, dando espaço para que ela entrasse. Ela o fez e eu voltei a
fechar a porta. — Então, no que posso te ajudar?
— Senhor Marconni pediu que avisasse que adoraria que a senhorita se juntasse
a ele no jantar que será servido daqui a meia hora.
— Claro que irei jantar com ele. Eu dormi demais e nem falei com o senhor
Marconni ainda. Espero não tê-lo feito esperar muito. Afinal, pessoas de idade
têm que ter os horários regulares, mas é que eu estava tão cansada. — Graziella,
ao me ouvir, me olhou de um modo estranho, como se tivesse crescido dois
chifres e um rabo em mim. Eu não entendi, mas também não perguntei nada. O
jantar era daqui a meia hora e não queria me atrasar.
— Ok, senhorita, vou avisar ao patrão que a senhorita se juntará a ele para o
jantar. — Sorri para ela.
O português dela não era lá aquelas coisas, mas a entendia muito bem. A chamei
e ela parou na porta, se virando para me olhar.
— Sim, senhorita?
— Graziella, por favor, me chame apenas de Mel. Você é só um pouco mais
velha do que eu, essa coisa de senhorita deixe para quando estivermos com
Senhor Marconni. Eu não quero uma empregada, quero uma amiga. Você e o
Carlos foram os primeiros a demonstrar um pouco de calor humano comigo. —
Ela sorriu e assentiu.
— Claro, senhorita. Quero dizer... Mel. Como desejar.
Ela saiu, me deixando sozinha. Entrei pela outra porta onde haviam colocado
minhas roupas. Era um espaço grande e as roupas que trouxe não ocupavam nem
a metade do cômodo. O que me fez pensar em qual a necessidade de ter tanto
espaço para se guardar apenas roupas e sapatos. Graziella tinha feito um ótimo
trabalho. Guardou tudo em ordem, por tonalidade, do claro ao escuro. Pendurou
as calças e as blusas de frio. É, ela deveria ter algum tipo de toque, porque aquilo
não era normal.
Escolhi um jeans meio velho, mas que era confortável e fazia eu me sentir bem
vestida. Peguei uma blusinha de manga fina, optei por uma lingerie que tinha o
Mickey por toda a calcinha, e um sutiã. Terminei de me vestir e fui até o
banheiro, pendurei o roupão e passei a escova pelo cabelo, fazendo um coque
bagunçado acima da cabeça, deixando alguns fios soltos e rebeldes. Saí do
quarto, fazendo o único caminho que conhecia.
Desci as escadas até a grande sala, analisando tudo, um pouco perdida, não
sabendo para onde ir. Um cheiro delicioso invadiu o meu nariz e minha barriga
protestou, avisando que tinha tempos que ela não via comida. Segui o cheiro,
passando por uma grande sala de jantar com uma mesa para umas doze pessoas.
O velho era exagerado, pensei.
Entrei na cozinha e encontrei Carlos e Graziella conversando. Enquanto
jantavam, eles falavam em italiano. Tossi para chamar a atenção deles, que me
olharam e sorriram, o que era uma boa coisa. Talvez não estivessem falando mal
de mim.
— Eu acho que desci antes da hora. A propósito, o cheiro está delicioso.
— Mel, você descansou bem?
— Sim, Carlos, consegui descansar. Graziella foi me avisar que o jantar seria
servido e o Senhor Marconni me queria presente.
— Senhor Marconni teve que sair, Mel. Ele pediu desculpas, mas disse que
amanhã vocês conversam.
— Poxa, que chato! — reclamei. — Eu estou faminta. Vocês se importam se eu
comer aqui com vocês? — Os dois se olharam antes de responder.
— Eu não sei se o Senhor Marconni iria gostar de ver você jantando com a
criadagem e na cozinha. — Sorri para Carlos, que subia em meu conceito,
enquanto o Senhor Marconni, que eu nem havia conhecido, continuava descendo
ladeira abaixo.
Me sentei em uma das bancadas, pegando um prato.
— Ah, você mesmo acabou de dizer que ele saiu. Estou com fome e é horrível
comer sozinha. Enquanto isso, vocês me contam um pouco das coisas da casa e
sobre vocês. Eu realmente não preciso de empregados e sim de amigos sinceros
com quem possa conversar.
Abri um sorriso largo, querendo muito ser convincente.
— Então tudo bem, vamos comer juntos — Carlos deu o veredito final e se
sentou novamente.
Depois de um jantar muito agradável e uma ótima conversa, combinamos de eles
me levarem aos pontos turísticos no dia seguinte, depois que eu encontrasse o
tiozão.
Estava sentada na sala, olhando para o nada e tentando decidir se esperava o
velho carrancudo ou se voltava para o quarto a fim de dormir novamente.
Mesmo tendo dormido mais cedo, ainda me sentia cansada. Confesso que o
pensamento de dormir estava ganhando. Eu não queria e não estava muito
animada em encontrar o tal Marconni.
— Mel — Carlos chamou, me puxando de meus pensamentos.
— Sim, Carlos.
— Graziella gostaria de saber se você vai precisar de mais alguma coisa. O
patrão não deve mais voltar hoje, já está tarde.
— Não, ela pode ir dormir. Eu já vou subir, também. Acho que não dormi o
bastante, e você também deveria ir se deitar. Amanhã temos um grande dia.
Me calei no momento em que um homem alto, de aproximadamente dois metros,
com ombros largos, cabelos negros e uma barba por fazer, entrou na sala. Era o
homem mais lindo que eu já havia visto, e os pelos brancos em sua barba me
chamou atenção. Eu estava salivando por aquela espécie de homem que devia ter
mais que o dobro da minha idade. Ele falou em italiano com o Carlos, numa voz
grossa e rouca, que fazia os pelos do meu corpo se arrepiarem.
— Questo è il bambino?
— Sí signore.
Merda de língua que eu não entendia nada, a não ser bambino, que eu sabia que
significava “criança”. Ele havia me chamado de criança?
Não era possível! Eu não era uma criança. O homem alto me lançou um sorriso
torto e eu senti minhas pernas bambearem quando meus olhos se perderam nos
dele.
Quem diabos era o deus grego e onde estava o velho caquético que não aparecia
logo?
Capítulo 2
Lucca Marconni

Se havia uma coisa que não suportava, era mulher mimada. Eu ainda não
conseguia entender o porquê mantinha Giovanna em minha vida. Ô mulher
mimada!
Me deixava cada vez mais com raiva e irritado, e para piorar o dia, ainda tinha a
filha que meu irmão criou, que estava para chegar. Ele jogou essa
responsabilidade no meu colo sem mais nem menos, e não era apenas um, mas
sim dois filhos.
Igor eu já criava há sete anos, e sempre foi muito parecido comigo, então nos
dávamos bem. A menina não quis vir, preferiu ficar no Brasil com a minha irmã,
a quem eu espero que Deus tenha em um bom lugar. Eu realmente fiquei feliz
quando a garota recusou. Não queria uma responsabilidade dessas em minhas
costas, principalmente por estar passando por uma fase em que ampliava minha
herança e estava entrando, com todo o vapor, no ramo de hotelaria.
Vim para a Itália apenas para estudar gastronomia. Queria me especializar nessa
culinária, mas por obra do destino, conheci Camilla. Nós namoramos por um
tempo e chegamos a ficar noivos, até que descobri sua traição. Terminei com ela
e dias depois seu pai me procurou, dizendo que ela havia sofrido um acidente e
queria conversar comigo. Fui até o hospital, encontrando-a muito mal. Os
médicos me aconselharam a aproveitar o tempo que tinha com ela, pois o
acidente havia sido muito grave. O motorista morreu na hora e naquele dia
descobri que o tal homem, além de bêbado, era seu amante. Ela me pediu perdão
por tudo que me fez passar, e eu a perdoei. Todos erram e com ela não poderia
ser diferente.
No dia seguinte veio a notícia de seu falecimento. Fui ao velório e dei todo o
apoio necessário ao meu ex-sogro, que não aguentou e morreu de tristeza algum
tempo depois. Ele já havia perdido a esposa e perder a única filha, de forma
trágica, foi o limite. Para minha surpresa, fui declarado como herdeiro de seu
único hotel, ao qual transformei em uma rede de hotéis, de nome Marconni, que
cobriam toda a Itália. Antes de morrer, por não ter nenhum herdeiro necessário,
ele elaborou um testamento que me qualificava como detentor de suas posses em
caso de vir a faltar, o que não demorou.
Estávamos em negociação para abrir mais algumas filias nos Estados Unidos,
mas já não era mais comigo. Quem cuidava de tudo era meu sobrinho Igor.
Trabalhei demais. Estava na hora de curtir a vida.
Quando os portões da minha casa se abriram e fui informado pela segurança que
meu motorista já havia retornado com a tal menina, levei o carro até a garagem,
sabendo que encontraria meu motorista lá. Estacionei e ele veio até o carro,
abrindo a porta para que eu descesse.
— Boa noite, senhor.
— Boa noite, Carlos! E a menina, chegou? Ocorreu tudo bem hoje? Demorei
mais que o necessário na rua. Sabe como é Giovanna.
— Ocorreu tudo bem — ele respondeu. — Peguei a senhorita Ferraz no
aeroporto e a deixei aos cuidados de Graziela, como o senhor havia solicitado.
— Está certo.
Entrei em casa e Graziela esperava para pegar meu casaco. Ela não era tão velha,
mas era prestativa. Estava noiva e prestes a se casar. Amava seu noivo, o que foi
um dos motivos que me fez contratá-la. Ela não vivia pelos cantos suspirando
por mim, nem cheirando minhas roupas. Foi contratada porque cozinhava muito
bem e falava português, e isso ajudaria muito com a menina, assim não
precisaria ficar com uma criança presa em mim como se fosse algum tipo de
chaveiro.
— Boa noite, senhor! Quer que pendure seu casaco?
— Boa noite! Não, obrigado, subirei com ele. Onde se encontra a menina que o
Carlos trouxe hoje?
— Senhorita Ferraz se encontra no quarto que o senhor solicitou que a instalasse.
— Graziela, irei tomar um banho. Vá ao quarto dela e peça que me encontre em
meia hora para jantar e quando eu descer pode servir o jantar.
— Sim, senhor.
Ela deu um pequeno aceno e foi em direção as escadas. Não sabia o que esperar
da menina, não a conhecia e o Igor mal falava dela. Enquanto subia as escadas, o
telefone tocou e voltei alguns degraus, o atendendo.
— Alô!
— Lucca, sou eu, Giovanna. — Bufei alto. Ela a cada dia estava mais grudenta e
eu tinha que acabar com isso.
— Primeiro, não me chame de Lucca. Segundo, o que quer? A deixei em sua
casa há pouco tempo.
— É que estava com saudade, amore mio.
— Diz de uma vez o que precisa. — Às vezes, o melhor era ignorar.
— Eu estava indo até aí, mas meu carro não está pegando e estou no meio da
rua. Já está escuro, preciso da sua ajuda — ela falava chorosa e cheia de manha.
— Onde você está? Eu vou mandar alguém para ajudá-la.
— Não, eu quero você, meu amor. — Respirei fundo, vendo minha paciência
escorrer mais e mais.
— Me passe logo o endereço de onde está.
Anotei o endereço e desliguei o telefone. Iria buscá-la porque estava em uma
região perigosa da nossa cidade. Entrei na garagem e avistei Carlos, pedindo que
ele avisasse à menina que precisei sair e não a acompanharia no jantar. Entrei no
carro e saí. Percorri as ruas de Roma de uma forma até que rápida. Não queria
chegar ao meu destino, mas também não deixaria Giovanna correndo algum tipo
de perigo. Encostei meu carro atrás do dela alguns minutos depois e desci do
carro no mesmo instante em que ela saiu do dela.
Giovanna era uma mulher belíssima, alta, magra, cabelos negros, longos, e fodia
como uma cachorra. Fora de uma cama ela era o exemplar de classe e elegância,
mas em cima dela, se esquecia de todos os modos. Talvez fosse esse o motivo
por ainda não tê-la afastado da minha vida. Nunca dispensei um bom sexo. Não
importava se seria a primeira, segunda ou milésima vez. Sexo era sexo e não
havia pelo que brigar, caso uma bela mulher desejasse se satisfazer em minha
cama.
— Meu amor! Que bom que veio. Já estava ficando com medo.
— O que aconteceu com o carro?
— Não sei, Lucca, ele só parou. Até liga, mas não anda. — Dirigi apenas um
olhar a ela.
Giovanna insistia em me chamar de Lucca, mesmo eu pedindo para que não me
chamasse assim. Ela queria pular essa formalidade e eu estava pensando que
seria muito bom pedir que ela colocasse o senhor na frente, assim ela veria que
não era diferente de ninguém.
Entrei no carro e posicionei a chave na ignição. Quando o painel se acendeu,
descobri o que estava impedindo que o veículo andasse. Sem gasolina!
— Giovanna, o carro está sem gasolina. Como não olhou antes de sair de casa?
Saquei meu celular e liguei para um guincho ir rebocar o veículo. Esperamos o
guincho com ela pendurada em meu pescoço, e pouco tempo depois o carro já
estava na plataforma, seguindo para a casa dela. Entramos em meu carro e eu
peguei o trajeto que deixaria Giovanna em sua residência.
— Mas Lucca, não vamos para sua casa? Pensei que iríamos fazer algumas
coisinhas hoje.
— Giovanna, é Marconni, pela milésima vez, não esqueça! Você já dormiu em
minha casa ontem, hoje quero sossego. Te falei da filha do meu irmão. Ela
chegou e ainda nem vi a cara dela. Você tomou todo meu tempo hoje, portanto, a
deixarei em casa e voltarei para a minha.
Ela fez um bico enorme, mais parecendo um elefante com uma tromba. O resto
do caminho foi feito em silêncio, graças aos céus. Estacionei o carro em frente à
sua casa.
— Boa noite, Giovanna. Eu te ligo se precisar de alguma coisa.
— Está bom, Marconni.
Ela saiu batendo a porta do carro. Pedi a Deus que me desse paciência, porque a
mulher era pior que uma criança.
O guincho já baixava o carro, então dei partida no meu e saí de lá. Era tarde e
estava morrendo de fome. Parti para casa, esperando que a menina ainda
estivesse acordada. Queria impor algumas regras e deixar algumas coisas
acordadas, pois ela tinha que saber de uma cláusula do testamento, a qual tinha
certeza que a faria dar um chilique. Eu teria que ser firme, já que meu irmão
havia escolhido daquele jeito. Seria feito como a vontade dele, nem que eu fosse
babá para o resto da vida.
Sim, eu estava em um beco sem saída.
Uma promessa e havia ficado preso novamente.
Passei pelos portões de casa e deixei o carro ali mesmo, entregando a chave para
um dos meus seguranças e seguindo para a porta da frente.
É, Marconni, hora de virar a babá mais uma vez, disse a mim mesma.
Por Deus! Eu estava muito sheggiato.
Entrei em casa, encontrando meu motorista conversando com uma menina. A
princípio, só consegui ver seus cabelos loiros que estavam em um coque
bagunçado. Me aproximei ainda mais e meu motorista me deu boa-noite.
Perguntei a ele se aquela era a menina e ele confirmou. Ela era linda, não tinha
uma curva fora do lugar. Parecia o tipo de menina perfeita e tinha tudo o que
uma brasileira podia oferecer, mas não era nada exagerado para seu tamanho. Se
ela batia na altura do meu peito, era muita coisa. Percebi quando ela fincou a
testa diante da minha pergunta. Até então, a informação que eu tinha, era de que
ela não falava italiano. Sorri para ela, vendo o modo como corou, e foi
magnífico.
— Prazer, Lucca Marconni — falei meu nome, chegando mais perto e
estendendo minha mão para cumprimentá-la. A sua era pequena, delicada, e
usava um esmalte rosa chamativo. O aperto foi forte, do tipo que aquece todo
nosso corpo. Senti um choque em seu toque enquanto me perdia naqueles olhos.
Ela puxou a mão mais rápido do que eu queria.
— Melissa Ferraz. — Sua voz estava um pouco trêmula. Não sabia se era por
medo ou excitação. Os olhos da menina me analisaram como se não esperasse
nada do que via.
— Se tiver um tempo, e não estiver muito cansada, gostaria de conversar um
pouco com você. Se preferir, conversaremos amanhã. — Ela limpou a garganta,
desviou os olhos dos meus e se afastou.
— Na verdade, eu estava esperando o senhor, então por mim tudo bem. — Sorri
pelo modo que ela se referia a mim.
— Me chame de Marconni! Obrigado por me esperar, temos muito o que
conversar, criança.
Indiquei para que fosse a minha frente, seguindo até onde ficavam os sofás. Já
tinha a olhado de frente e não fiquei desanimado quando a vi de costas. Ela tinha
uma bunda redondinha, arrebitada, boa para dar umas boas palmadas. Fiquei
imaginando a marca da minha mão naquela linda bunda, e esperava que ela não
pensasse que era minha sobrinha de verdade. Nem de longe eu a considero
assim. Na verdade, via um grande potencial para considerá-la, sim, porém, nada
parecido com o que um tio podia ter com uma sobrinha.
Passei a imaginar que seria divertido tê-la em casa.
— Melissa — ela disse do nada.
— O quê?
— Meu nome é Melissa, não criança — rebateu com firmeza.
— Sim, eu escutei da primeira vez — retruquei e iniciei a conversa. — Primeiro
gostaria de saber por que desta vez resolveu vir para cá, já que na primeira vez,
não titubeou em dizer não — perguntei, me sentando na poltrona logo depois
que ela se acomodou no sofá, com uma cara um tanto fechada.
— Bom, não foi como se eu tivesse uma escolha. Na verdade, seu exército de
ternos não me deu opção alguma, já que eles agiam e deixavam claro que só
estavam cumprindo suas ordens.
— Só queria assegurar que dessa vez você viria mesmo. Eu cumpro minhas
promessas e havia prometido ao meu irmão que cuidaria dos filhos dele, e depois
acabei prometendo o mesmo a minha irmã. — Dei de ombros.
Ela deixou claro que não gostaria de estar aqui. Também não era algo que me
agradasse, até eu pôr os olhos nela, claro. Se as brasileiras eram lindas, porque
deixaria passar logo a que estaria ao alcance do meu braço e embaixo do meu
teto por algum tempo.
— Senhor Marconni, isso já não importa mais. Eu estou aqui e pretendo ficar o
tempo necessário. Era um desejo de papai e depois da minha tia, que me pediu
que dessa vez não batesse o pé. Para falar a verdade, não se tratou de eu ter
batido o pé na primeira vez.
— Não?
— Não. Eu apenas não tive a vontade de conviver com um irmão de criação que
não gostava de mim, e um cara que dizia ser meu tio, mas que eu nunca tinha
visto, nem falado, então logo, não poderia considerá-lo como um tio. Quero
dizer, você como um tio.
— Certo, entendo. Boa conclusão. — Sorri. O pensamento era ótimo e muito me
agradou. — Bom, quero que fique à vontade, afinal, essa casa também vai ser
sua nos próximos meses.
— Obrigada. Você me ensinando a mexer nessa grande televisão e tendo acesso
à internet, com o resto me viro, não pretendo ficar no seu caminho. — Na
verdade, eu a queria no meu caminho. Com toda a certeza eu queria.
— Não se preocupe. No que precisar, vou te auxiliar, é só dizer. Usar a TV não é
difícil. Basta apertar o botão de ligar e desligar no controle — disse e dei um
sorriso, ela fez o mesmo.
Minha nossa! Até a risada dela era linda e não parecia com o barulho de uma
hiena.
— Ok. Muito obrigada por avisar.
— Bom, você vai ficar aqui por um tempo, então tomei a liberdade de matriculá-
la em uma das melhores, ou quem sabe a melhor, escola de idioma de Roma, a
Escola Leonardo da Vinci. Assim você pode aprender o italiano e não vai ter que
ficar trancada nessa casa. A senha da internet está na gaveta do criado mudo ao
lado da sua cama, e na segunda-feira deve estar chegando um cartão adicional da
minha conta no seu nome. Em questão de dinheiro, não precisa se preocupar. Na
segunda também começam as suas aulas. O senhor Carlos e Graziela estarão à
sua disposição.
— Nossa, por essa eu não esperava! Mas acho que aprender o idioma é uma boa
ideia. Os dois me ajudaram muito e foram gentis desde a hora que cheguei. O
dinheiro não me importa tanto, não preciso de muito.
— Não se preocupe com isso. Bom, você deve estar cansada. Se quiser se
recolher, fique à vontade.
— Ah, obrigada. Vou subir, sim. Estou mesmo com sono.
— Tenha um boa noite.
— Buonanotte.
Ela sorriu e se afastou, subindo a escada e logo sumindo de meu campo de visão.
Levantei e andei até o pequeno bar que tinha em casa, me servindo de uma dose
de uísque. Notei que Melissa, além de linda, era uma menina inteligente e astuta.
Ela tinha força, carisma, petulância. Essa era a postura de uma boa moça, que
acatou tudo o que eu disse. Simples assim. Não me enganava.
Tinha algum ponto solto e eu ia amarrá-lo. Com certeza eu iria. Tomei meu
uísque e subi para o meu quarto. A porta do quarto dela estava fechada e fiquei
tentado a abrir e espiar como ela dormia, imaginando que pudesse ser usando
uma camisola de seda, ou apenas de lingerie. Mas seria bem interessante se fosse
nua. Pensando nessa visão, suspirei ao sentir meu pau reclamar, afinal, seria
lindo ver tal cena. Mas eu estava em casa e sozinho, não iria me masturbar por
causa de uma menina. Não mesmo! Segui para o meu quarto, direto para o
banheiro, onde tomei um banho demorado. Assim que terminei, não demorei a
me jogar na cama. Tinha um compromisso inadiável no dia seguinte. Este, por
sinal, estava sendo a melhor coisa que passei a fazer desde que parei de
trabalhar, e não poderia faltar um domingo sequer.
Acordei com o despertador, mas antes de desligá-lo constatei que marcava cinco
da manhã. Me levantei para tomar um banho e me troquei. Escolhi um relógio da
minha coleção, peguei a carteira e o celular, então desci para tomar meu café da
manhã. A mesa, como sempre, já estava posta e Graziela estava em pé ao lado.
Trocamos um bom-dia enquanto ela servia meu café.
— Graziela, peça que Carlos me encontre no escritório daqui a vinte minutos,
por favor.
— Sim, senhor.

Ela se retirou e fiz meu desjejum tranquilamente. Considerava uma refeição


importante e sempre me alimentava bem a essa hora da manhã. Quando terminei,
fui até o escritório, abri o cofre que ficava na estante atrás de livros e tirei alguns
euros, colocando em um envelope. Era domingo e não voltava antes do
anoitecer, então se Melissa precisasse sair, teria dinheiro para isso.
Bateram na porta e eu pedi que entrasse.
— Bom dia, senhor. Precisa dos meus serviços? Quer que eu o leve hoje?
— Bom dia, Carlos. Não. Eu irei dirigindo, mesmo. Entregue esse envelope à
Melissa. Hoje ficarei fora o dia todo, e se ela quiser sair, conhecer alguma coisa,
providencie e não a deixe sozinha. Peça que Graziela prepare o almoço da
equipe mais cedo, assim, se tiver que sair, a leve junto com vocês — expliquei.
— Era apenas isso. Estou de saída. Me incomode apenas se for algo de extrema
urgência.
Logo saí de casa para meu destino. O sol da manhã bateu em meu rosto, me
dando bom-dia. Entrei no carro, colocando meus óculos escuros, e dei partida. O
dia ia ser longo, mas seria prazeroso, como sempre, e me faria muito bem.
Capítulo 3
Melissa Ferraz

Foi complicado dormir no primeiro dia na casa nova. Muitas informações a


serem processadas. Esperava um velho caquético e sem humor algum, mas me
deparei com um homem lindo, alto, forte, com um olhar e um sorriso que não
saíam da minha mente.
Quando me olhou, era como se todo meu corpo se aquecesse; quando toquei
aquela mão grande, senti um choque que atingiu todo o meu corpo.
Me assustei com aquilo, mas foi uma sensação boa. Senti que estava no lugar
certo. Ele me passou calma e segurança apenas com seu toque. Adorei a
iniciativa de ter me matriculado na escola. Não havia pensado nisso, mas
concordei sem pensar duas vezes. Quanto mais longe da casa ficasse, melhor.
Assim, teria uma rota de fuga. Ele confiaria em mim o bastante para me deixar
sair e já havia começado disponibilizando um cartão vinculado a sua conta, o
que poderia me ajudar a ter a passagem de volta mais rápido. Claro que não
usaria o cartão na tal escola. Faria amigos e uma mão lavaria a outra.
Acordei completamente animada, pois iria conhecer a cidade. Queria ir até o
Coliseu e em algum bom museu, afinal, Roma é conhecida por sua arquitetura
que contradiz com o antigo e o novo, o Coliseu é o mais popular.
Quem não quer tirar uma foto com ele atrás?
Decidi convidar Marconni para ir com a gente, imaginando que seria é um bom
modo de começar a conquistar a confiança dele.
Depois do banho, escolhi um vestido soltinho, um pouco a cima do joelho,
passei um perfume, peguei os óculos e a bolsa. Lá tinha alguns euros que o
exército de ternos havia me dado antes de embarcar. Eu iria guardar, mas já que,
segundo ele, não precisava me preocupar com isso... Bom, era o que eu ia fazer.
Não me preocuparia. Eu e minha tia vivíamos bem, mas sempre nos
preocupando com o amanhã. Já que eu tive que vir para cá, queria poder
conhecer a cidade, agora aprender um pouco do idioma e sumir por aí, logo
depois, quem sabe um dia eu não voltaria, sorri olhando para o espelho enquanto
calçava uma sapatilha, saí do quarto e desci. Como a sala estava vazia, fui direto
para cozinha, afinal em uma casa não há lugar melhor.
— Graziela, bom dia. — Ela soltou o copo dentro da pia, dando um pulinho de
susto. Não me aguentei e tive que dar risada. — Que isso, mulher, está assustada
por quê?
— Me desculpe, senhorita. Estava distraída. A senhorita deseja seu desjejum
agora?
— Sim, por favor. Estou morta de fome. E, por favor, apenas Mel, certo?!
Lembre-se que somos amigas.
— Tudo bem, senhorita. Digo... Mel. Pode deixar, irei servi-la na sala de jantar.
— Oh, não, aqui mesmo. Assim podemos conversar. Você está um tanto
ocupada.
— Como vou acompanhar você e o Carlos, estou adiantando o almoço dos
outros empregados.
— Que bom! Estou tão animada! Quando estava vindo para cá, o Carlos me
mostrou de longe o Coliseu. Gostaria de começar por lá. A propósito, senhor
Marconni já se levantou?
— Já, Mel — respondeu ela. — Dia de domingo ele se levanta bem cedo para
seu compromisso de todo domingo.
— Queria convidá-lo para ir com a gente, mas quem tem compromisso dia de
domingo? Hoje é dia de ficar em casa, sair com os amigos ou com a família.
— Bom, eu não faço ideia. Mas todo domingo é assim. Ele sai cedo e só volta à
noite para jantar, isso quando volta.
— Hum... entendi — murmurei mais para mim do que para ela.
A cidade era grande, mas o que a pessoa faria tantas horas na rua em pleno
domingo? Isso era um tanto estranho, eu achava.
Aos domingos sempre fiquei em casa, já que na segunda tinha aula. Usava o dia
para estar com minha tia e nada mais.
Comi tudo que ela me serviu. Bolo, cereal, pão, além dos frios. Terminei e a
ajudei a pôr tudo em ordem, mesmo em meio a protestos. Depois de ter
organizado tudo, ela se retirou, dizendo que voltaria logo, então pedi que me
encontrasse na garagem, para onde eu me encaminhava, ao encontro de Carlos.
Saí pela sala e logo que abri a porta, me deparei com o sol forte. Tive que piscar
várias vezes até me acostumar com a luz. Estava muito quente, o que eu não
imaginava para a Itália. Sinceramente, sempre pensei que era uma cidade gelada.
Tinha alguns homens de ternos andando para lá e para cá, alguns sorriam e
acenavam, outros diziam algum tipo de cumprimento. Passei por um deles e
parei na sua frente.
— Buongiorno, signorina, ha bisogno di aiuto?
Ele abriu um sorriso, lindo e branco. Era forte e até bonito, com cabelos de um
louro escuro. Poderia ser um modelo e não um segurança. Sorri, sem jeito, não o
entendendo. Ele parecia ser gentil, o que me deixava ainda mais sem graça.
Cocei a cabeça, olhando ao redor como se pedisse socorro.
— Hum, Carlos onde... — Não terminei a frase. Carlos vinha se aproximando de
nós e disse algo ao cara, que sorriu e com um aceno de cabeça, se afastou.
— Bom dia, Mel. Como está essa manhã? — ele perguntou, cordialmente, e eu o
abracei, não fazendo cerimônia.
— Bom dia, Carlos. Estou muito bem e muito animada para nosso passeio.
Quando o soltei, vi o tanto que estava vermelho.
— Podemos ir a hora que preferir.
— Tudo bem. Quero ir primeiro ao Coliseu. A Graziela foi se trocar, então é só o
tempo de ela vir e podemos sair.
— Eu vou buscar o carro, então. Já volto.
Ele acenou e saiu. Andei até uma fonte que ficava no meio do jardim e me sentei
lá. O sol esquentava minha pele, deixando-me ainda mais animada.
Principalmente pelo dia lindo e convidativo que fazia. Mesmo não entendendo o
que eles dizem, eu estava alegre, fui bem recebida. Se bem que ainda não tinha
visto Igor. Não sei como seria sua reação ao me encontrar novamente. Ele
sempre fez questão de brigar comigo, de me bater, matou o meu gato. Não
passava de uma sombra mal-humorada desde o primeiro segundo que entrei
naquela casa. Depois que ele veio para a Itália, não teve mais isso. Eu vivia em
paz com a minha tia, mas depois de seu falecimento, não sabia se poderia
encontrar isso de novo.
Não que estivesse em paz como me sentia ao lado dela, mas pelo menos
começava a ficar bem, mesmo com todos os obstáculos. Eu estava bem e talvez
esse tempo fora do Brasil seria bom.
O carro encostou um pouco depois, no mesmo instante em que Graziela vinha. O
segurança que havia falado comigo mais cedo se aproximou, cumprimentando
Graziela em italiano, em seguida ele abriu a porta de trás para que eu entrasse,
sempre com um sorriso no rosto.
— Buona giornata. — Olhei para Graziela como se pedisse ajuda, ela me
explicou que ele estava desejando que tivéssemos um bom-dia, e também me
ensinou como se agradecia. Sorrindo, me virei para aquele homem alto e forte.
— Grazie.
O agradeci e entrei no carro. Puxei Graziela pela mão, para que fosse junto
comigo na parte de trás. Não queria ser colocada naquele momento como
alguém superior que ela. Fomos conversando animadamente até o Coliseu.
Graziela me disse que seus amigos costumavam chamá-la de Grazi e que já que
eu teria a autorizado a me chamar pelo meu apelido, que eu poderia a chamar
pelo seu. Contou-me também que o nome do segurança era Pietro e que era um
bom rapaz. Muito alegre e divertido, e que apesar de ter servido o exército, não
tinha perdido a alegria em seu coração. Quando Carlos encostou o carro em
frente aquele monumento lindo, fiquei estarrecida ao olhar o Coliseu tão de
perto. Era ainda mais magnífico. Tão grande e glorioso. Carlos me deu um
envelope e disse que o poderoso chefão havia deixado para que ele me
entregasse. Quando abri o envelope, encontrei uma quantia grande em euros.
Não recusei, mas fiz uma nota mental de pagar tudo para ele antes de ir embora.
Descemos do carro e tive que praticamente implorar que Carlos entrasse com a
gente. Eu não via a hora de conhecer um pouco mais dessa cidade.
O que dizer do pouco que conheci dessa cidade? Por Deus, era tudo lindo!
Clássico, rústico, mágico, qualquer um se apaixonaria por essa cidade.
Começamos no glorioso Coliseu, passamos pelo Arco de Constantino que fica
entre o Coliseu e o Palatino, que foi onde paramos. Segundo a lenda, Roma teve
origem exatamente na colina do Palatin. Era gratificante para os olhos, para a
mente, para o conhecimento geral dessa cidade, que muitas vezes girava apenas
em torno do imponente Coliseu por suas batalhas, e hoje, pode-se ver que é
muito mais, e eu iria aproveitar cada segundo, com certeza.
A noite já havia caído e o vento gelado se fazia presente na cidade. Jantamos em
uma pizzaria onde, tenho que falar, comi mais que um boi. Era simplesmente
maravilhoso, a massa macia, o molho nem se fala, leve. Comi até não conseguir
respirar. Já estava faminta de novo quando voltamos para a mansão, afinal,
passava de dez da noite. Grazi ficou apavorada por não ter feito o jantar. A casa
tinha mil empregadas, então me perguntei o porquê de só ela ter que cozinhar.
Mesmo Carlos dizendo que tinha resolvido e nada iria acontecer, ela permaneceu
apavorada. Ri da situação. O Marconni que conheci no dia anterior, nada tinha a
ver com esse cara que ela tanto temia. Pelo jeito teria muito que descobrir do
homem.
Chegamos e fui direto para o quarto. Tomei um banho, coloquei uma camisa
com a cara do pato Donald na frente e a palavra “Genius” em baixo. Ela era
grande e ótima para dormir, pois me deixava bastante confortável. Sentei na
cama e abri meu notebook. Passei as fotos do meu celular para ele e deitei para
dormir. Estava exausta e no dia seguinte teria o primeiro dia de aula. Acordei
meio desorientada, olhei em volta e vi que ainda estava escuro. Peguei meu
celular e no visor marcava dez para às cinco da manhã. Minha boca estava seca,
o que costumava muito me acontecer no meio da noite. Normalmente mantinha
uma garrafinha no quarto para beber durante à noite. Levantei e desci,
iluminando meu caminho com a lanterna do celular, evitando fazer barulho e
acender as luzes para não acordar ninguém. Quando me aproximei da cozinha,
percebi que a luz estava acesa, mas continuei andando.
Grazi já devia estar acordada fazendo suas coisas, depois de ter ficado tão
assustada por ter passado o dia fora. Entrei e parei abruptamente assim que
passei da porta.
Ele estava, lá sem camisa, seu peito reluzindo contra a luz. A barriga tinha
gominhos perfeitos, seus músculos tencionavam cada vez que ele apertava
alguma coisa que estava em cima do balcão, estava de chinelo, bermuda e um
avental em sua cintura. Por Deus! Ele era o próprio Adônis. Parou o que fazia
quando percebeu que eu estava ali, então virou-se para mim e pude ver que em
sua barriga tinha um pó branco, assim como suas mãos estavam sujas do mesmo
pó. Ele me olhou dos pés à cabeça e sorriu de lado, o que fez minhas pernas
bambearem.
— Criança. — Sua voz grossa irrompeu pelos meus ouvidos, quebrando aquele
tipo de feitiço, me fazendo franzir a testa.
Capítulo 4
Lucca Marconni

O domingo foi magnífico, como o esperado. A sensação era de ter renovado as


minhas forças. O relógio indicava quatro da manhã e eu estava completamente
disposto. Levantei da cama e tomei um banho, vestindo apenas uma bermuda e
passando o pente no cabelo. Segunda-feira sempre acordava cedo, então decidi
preparar uma massa de pão. Amava cozinhar, principalmente massas. Era
maravilhoso tudo o que se fazia com um punhado de farinha e ovos. Depois que
deixei a gerência dos hotéis com meu sobrinho, me especializei em gastronomia,
especificamente na cozinha italiana. O que posso fazer? Sou apaixonado pela
culinária da Itália, país que tomou meu coração. Sou brasileiro, mas realmente
me sinto um italiano, depois de viver por mais de vinte anos nesse lugar
magnífico. Só voltei ao Brasil para o enterro dos meus pais e nunca mais
coloquei os pés naquele país, e não pretendo pôr nunca mais.
A casa estava escura e silenciosa, todos dormiam ainda. Os empregados
costumavam começar seus afazeres do dia às seis da manhã, os de dentro depois
das sete. Peguei tudo que ia precisar e coloquei um avental na cintura para
começar a preparar a massa, espalhando farinha de trigo no mármore para não
grudar. Estava entretido, amassando a massa, quando senti que alguém me
olhava. Não sabia há quanto tempo estava atento na tarefa, ou quanto tempo ela
estava ali me olhando, mas me virei para olhá-la e sorri com a cena. Mel estava
com uma pantufa do Pluto, as longas pernas de fora, uma camisa grande para seu
corpo que batia apenas na altura de seus joelhos e que tinha o pato Donald na
frente. Meu pau se contorceu com a visão de suas belas pernas torneadas. Sabia
que o modo que a olhei era lascivo e carregado de desejo, eu não queria
esconder, e nem iria. Quanto mais rápido ela percebesse meu interesse, mais
rápido a teria na minha cama.
— Criança.
Disse como uma forma de chamar sua atenção. Ela estava lá, babando no meu
peitoral sujo de farinha, e tê-la em minha cama seria muito, muito fácil. Sorri
mais uma vez, porque essa ideia muito me agradava. Sua testa franziu e ela ficou
vermelha, mas não parecia ser por estar tímida, e sim por estar com raiva. Não
gostava que eu a chamasse assim, e isso me dava ainda mais vontade de irritá-la.
Sim, ela conseguia ficar mais linda brava. Me virei para continuar o que estava
fazendo, a massa já estava quase no ponto.
— Em que posso ajudar?
— Hmmm... em nada. Vim pegar apenas um copo d’água. Sinto muita sede
durante a madrugada.
— Fique à vontade. Longe de mim ficar na frente do pluto.
Ergui uma sobrancelha sarcástica para ela, que bufou e passou por trás de mim
para chegar até a geladeira. Dei uma boa olhada na sua bunda e para minha
surpresa, consegui visualizar a parte de baixo de sua bunda quando ela ergueu o
braço para abrir a geladeira. Ela estava sem calcinha. Céus! Eu ia ter que passar
mais um ano amassando esse pão até meu pau baixar. Ela pegou a jarra de água e
fiz uma nota mental de deixá-las mais abaixo na geladeira, só para ter uma visão
mais apropriada. Eu estava parecendo a porra de um adolescente que nunca viu
uma bunda na vida, não era possível. Ela seguiu pela cozinha, pegando um copo
e se sentando na minha frente. Desejei que não houvesse uma bancada entre nós
dois.
— O que você faz na cozinha uma hora dessas? — ela perguntou, curiosa.
— Estou fazendo massa para um pão caseiro.
— E você sabe o que está fazendo? Nada contra, mas você não parece o cara que
gosta de ficar na cozinha. — Soltei uma gargalhada e ela se remexeu no banco.
Ahh, Mel. Há tanta coisa que você não sabe.
— Bom, criança, acho que você não me conhece muito para supor qualquer
coisa a meu respeito. — Ela murmurou algo que não foi possível entender, mas
pela cara que fez, devia estar me xingando. — Mas tenho certeza que você irá
adorar descobrir o quanto sei segurar com força e apertar até estar no ponto
certo. — Sorri e ela desviou seus olhos do meu.
— Bom, não quero tomar ainda mais o seu tempo. Vou dormir um pouco mais.
Ela saiu sem esperar que eu respondesse sua afirmação. Analisei um pouco mais
aquela bunda redonda e voltei a me concentrar no preparo do pão, dividindo
corretamente os pedaços da massa e em seguida os colocando na bandeja. Cobri
para descansar um pouco e enquanto isso lavei o que havia sujado a fim de
deixar a cozinha em ordem. Por fim, liguei o forno e coloquei a massa para assar.
Já eram seis e meia da manhã, tomaria um banho e ainda teria o prazer de
acordá-la.
Depois do banho, vesti uma roupa de esporte para ir até a academia. Precisava
dissipar toda aquela energia que estava me consumindo. As aulas dela no curso
começariam às nove, e ela não iria querer, de forma alguma, se atrasar. Calcei
meu tênis e saí do quarto, indo até sua porta. Bati uma única vez antes de girar a
maçaneta e entrar.
Ela estava de barriga para baixo, a camiseta que tinha subido revelava um pouco
de suas costas, mas sua bunda estava coberta pelo edredom, e o cabelo
mantinha-se espalhado pelo seu rosto. Melissa realmente era linda, dormindo
parecia um anjo. Seus lábios rosas eram convidativos e me abaixei o bastante
para afastar seu cabelo, roçando meus dedos em sua face. De repente os olhos se
abriram devagar e eu sorri quando eles encontraram os meus. Já ela deu um
salto, se sentando rapidamente com o susto.
— O que você está fazendo no meu quarto? Não sabe bater?
— Eu bati, você que não acordou, criança.
Ela revirou os olhos, fazendo-me sorrir ainda mais. Afastei-me, colocando as
mãos no bolso da bermuda enquanto a encarava.
— Melissa — ela disse. — Meu nome é Melissa, não criança.
Um bico enorme se formou nos lábios dela, e eu desejei poder mordê-lo, abrindo
passagem com a minha língua para enfim sentir o gosto de sua boca.
Pensamento errado, Marconni.
Não dava pra ficar pensando essas coisas da garota o tempo todo, mas não podia
me culpar. Ela era um convite ambulante para o sexo.
— Eu sei seu nome, criança — rebati. — Enfim, vim avisar que sua aula começa
hoje, às nove. Não se esqueça de que é feio chegar atrasada. Eu estou saindo
agora, acho que só vamos nos encontrar mais tarde, então tenha um bom dia,
criança.
Saí sem esperar que ela retrucasse. A menina era linda essa é verdade, mas
gostava de rebater e eu adorava provocar. Isso não ia dar certo.
Quando ia saindo, Pietro já me esperava na porta. Ele era o segurança que me
acompanhava nas corridas. Pietro serviu o exército, era forte e seguro com
qualquer coisa imposta para ele, por isso sempre me acompanhava nas saídas
para correr ou malhar. O homem era bom em lutas e nós praticamos MMA
juntos. Apesar de dez anos mais novo do que eu, chegávamos a conversar,
embora não pudesse qualificá-lo como amigo. Eu diria que éramos bons
conhecidos. Nosso contato ia além de segurança e patrão. Pietro era um cara
bom de papo e me divertia com suas histórias. O considerava um bom rapaz, que
sabia a hora de se posicionar e a hora ficar em silêncio.
— Bom dia, senhor.
— Bom dia, Pietro, está pronto?
— Sim, estava só a sua espera.
— Então vamos correndo até a academia. Lá fazemos uma série e lutamos.
Espero que esteja preparado para tomar uma surra hoje.
— Nunca estou preparado para tal coisa, senhor.
Sorrimos e saímos pelo jardim. O portão foi aberto quando chegamos perto, e
fechado assim que passamos por ele. Tive um domingo que não poderia pôr em
palavras, e era para estar totalmente relaxado, mas aquela menina estava
tomando cada vez mais os meus pensamentos. Estava sendo difícil tirar da
minha cabeça o som da sua voz, sua imagem, a polpa de sua bunda... Suspirei
quando paramos na porta da academia. Minha mente estava numa confusão tão
grande que eu nem percebi o quão rápido chegamos. A verdade era que eu a
queria com cada parte do meu corpo.
E ela? Será que iria me querer? Lembrei do jeito com que ela me olhou mais
cedo na cozinha e suspeitava que talvez esse fosse o caminho: provocar. Iria
deixá-la sem saída e ela iria se jogar em meus braços.
— Marconni, vamos ou não? — Olhei para Pietro, ainda parado na porta.
— Claro, Pietro, mas só vamos malhar um pouco e voltamos correndo para casa.
Tinha planos para o caminho de volta. Olhei o relógio da academia e vi que teria
uma hora para malhar. Caminhamos juntos até os aparelhos e começamos cada
um a sua série de musculação. Eu malhava e a imagem de Melissa não saía da
minha cabeça. Volta e meia o peso da diferença de idade pairava sobre mim, mas
por alguma razão ou falta dela, o colocava para correr o mais rápido possível.
Sim, ela era mais nova. Por Deus! Nem dezoito anos ela tinha ainda, mas como
podia uma menina envolver tanto a cabeça de um homem como eu? Eu tive
muitas mulheres, só que não me lembro de nenhuma que tenha mexido de tal
forma comigo. Talvez Camilla, mas já fazia tantos anos que eu não poderia
comparar o que sentia. No fundo com Melissa fosse diferente. Era um desejo
feito um imã, que me impulsionava a fazer coisas idiotas, como ficar chamando-
a de criança a todo instante. Ela podia ser qualquer coisa, menos uma criança.
Malhei, sempre de olho no relógio, e o suor já se fazia presente quando acabei a
série. No queria ficar muito cansado, afinal, ainda teria que correr alguns
quilômetros.
Olhei para Pietro, que bebia uma garrafa de água.
— Pietro, vou até o vestiário e podemos ir logo depois. Faremos um caminho
mais longo na volta e encontraremos o Carlos no caminho, então voltaremos
para casa com ele.
Fiz meu caminho até os vestiários, pensando que se eu visse desejo nos olhos
dela de novo, nem que fosse um pouco, eu iria para cima sem dó alguma e ela
teria que aguentar. Eu simplesmente não estava disposto a recuar. Nunca recuava
e não seria uma menina qualquer que estaria imune a mim. Elas nunca eram, não
importava a idade. Sempre me bastou um sorriso e... Boom! Eu sabia que
transaria com elas.
Com um aperto no braço, alguém me parou antes que conseguisse entrar no
vestiário segurando.
— Oi, Marconni. — Me virei para saber quem era a dona da voz melosa que
interrompeu meus passos e meus pensamentos.
— Valéria — disse, sorrindo. Ela se derreteu, mesmo fazendo uma cara estranha.
Dormi com ela duas ou três vezes, eu acho.
— Valquíria, querido — corrigiu-me ela.
— Claro... Valquíria.
— Faz tempo que não saímos. — Ela ficou me olhando por um longo tempo,
enquanto eu puxava na minha mente as memórias de quando estivemos juntos. O
sexo com ela não tinha sido ruim. — Estou de bobeira. Depois daqui, se tiver
afim de dar uma esticada até seu hotel aqui perto... — ela continuou, mas viu
que eu não iria dizer nada.
Por um momento ponderei seu convite. Uma tarde de sexo ou um dia vendo
aquela mulher que está em minha casa ficando vermelha de raiva ou tímida?
— Desculpe, mas hoje tenho um compromisso.
Ela fez um bico, que, naquele instante me fez decidir não transar com ela nunca
mais. Pietro vinha em nossa direção. Olhei para ele e entendeu perfeitamente que
tudo o que eu queria era sumir dali.
— Senhor, está tudo pronto, podemos ir — anunciou ele e olhou para ela,
cumprimentando-o com um aceno de cabeça. — Senhora.
— Bom, deu minha hora, linda, preciso ir. Nos vemos por aí.
Ela sorriu, pedindo que eu ligasse para ela a fim de marcarmos alguma coisa.
Chamar de linda sempre resolvia quando me esquecia dos nomes. Saí depressa,
deixando a mulher para trás, lembrando que ela atrapalhou minha ida ao
vestiário. Pedi que Pietro comprasse uma garrafa de água na lanchonete da
academia e eu o aguardei do lado de fora. Ele voltou logo depois, abri a garrafa e
bebi um pouco da água, joguei o restante em meu cabelo e em meu rosto. O
calor estava infernal.
Voltamos para nossa corrida. Liderei o caminho o tempo todo, e quando parei do
outro lado da rua da escola Leonardo da Vinci, suspirei. Meu corpo já estava
pedindo um descanso. Corri meus olhos por todas aquelas crianças conversando
e não a encontrei. Provavelmente não havia chegado ainda. Meu carro estava
parado pouco depois na esquina, e parou rente a calçada onde eu estava. Pietro
se adiantou e abriu a porta do carro para que ela descesse, e deu um grande
sorriso branco quando a menina saiu do carro.
Ah, meu amigo, essa daí tem dono e vou pôr você em seu devido lugar. Bom,
hora do show, Marconni!
Tirei minha camisa e joguei no ombro. Seus olhos focaram em mim assim que o
Pietro fechou a porta do carro.
— Criança, nos encontramos de novo. — Sorri ainda mais quando seus olhos se
focaram no meu. Ela fez um bico sem tamanho, o que eu aprovei de tão lindo
que ficava. Os olhos cintilavam irritação, mas tinha a tentação também.
— É, nos encontramos de novo — disse sem humor.
— Você não teve um bom café da manhã? Parece-me um tanto irritada —
comentei, passando a mão pelo meu peitoral e vendo seus olhos seguirem cada
movimento.
Ela umedeceu os lábios e mordeu em seguida quando apertei meu pau por cima
da bermuda. Eu queria, e muito, lamber e experimentar cada pedacinho de
Melissa.
— Hmm... eu... É, tive sim. A Grazi sempre é muito agradável e parabéns pelo
pão. A massa estava deliciosa.
— Fico muito feliz que tenha gostado. Como eu disse mais cedo, temos que
pegar e apertar com força para ficar no ponto certo. Depois é só prazer.
— Tenho certeza que sim.
Ela já estava falando mole. Podia ver as engrenagens na sua cabeça girando. Eu
só esperava que ela tivesse entendido cada palavra minha, e que tudo aquilo não
tinha nada a ver com o pão. Melissa me olhava desejosa, seus olhos passeando
pelo meu corpo. Agora não tinha volta. Eu a teria e a faria gemer muito. Ia lhe
dar um bom tempo de estadia em minha casa, e não ia passar dessa semana.
Afinal, o que são três meses?
— Mas criança, o pessoal já está entrando — observei, analisando os demais
alunos. — Longe de mim querer que você se atrase. Talvez possamos pegar uma
piscina quando chegar em casa.
— Sim, claro, eu preciso ir. — Agora ela estava vermelha de vergonha, não de
raiva. — Hmm... pode ser. Quando chegar em casa veremos.
— Me procure.
Ela deu um pequeno aceno de cabeça para mim e para Pietro, abraçando Carlos
que disse que voltava para pegá-la mais tarde.
— Vamos para casa, estou exausto.
Entramos todos no carro e o ar condicionado foi mais que bem-vindo. Meu
corpo estava quente, mas não sei se era somete pelo calor, ou se era ela que me
deixava pegando fogo. Fomos em silêncio, estava afundado em meus
pensamentos. Uma tarde na piscina e à noite na minha cama. Era um ótimo
plano. Só esperava que ela não corresse de mim assustada. Chegamos pouco
depois em casa, eu e Pietro descemos próximo a porta da frente.
— Obrigado, Pietro, foi uma ótima corrida.
— Claro, senhor, mas está me devendo um mano a mano no tatame.
— Não seja por isso. Temos amanhã. Esteja pronto com o carro no primeiro
horário — comuniquei.
— Como preferir, senhor.
Acenei com a cabeça, o dispensando, e segui o meu caminho para dentro de
casa. Graziela abriu a porta, me dando passagem, e pedi que me preparasse algo
leve para o almoço. Avisei que ia subir para descansar antes e fui direto para o
meu quarto. Tomei meu banho e já seco, deitei para descansar um pouco,
jogando um lençol em cima de mim. Dormi pensando na doce menina que estava
prestes a ser a minha refeição principal.
Capítulo 5
Melissa Ferraz

Cheguei em casa por volta das duas horas da tarde. A escola era ótima e já tinha
feito amizade com algumas pessoas, como o Leo, a Nanda e a Clara. O Leo era
um espanhol lindo, porém gay, mas muito alegre e divertido; já a Nanda e Clara
eram brasileiras. Por sentarmos próximos, formamos um grupo muito legal.
Quem diria que estaria achando bom viver nessa cidade? A aula foi muito
engraçada para um primeiro dia, tirando quando eu não me distraía com a
imagem de um grande peitoral.
A cada dia gostava ainda mais daquele lugar e isso estava me assustando.
Subi as escadas e entrei em meu quarto, joguei a mochila no chão. Carlos havia
me levado em uma loja de materiais escolares e pude comprar algumas coisas.
Na volta pedi que ele me levasse até uma loja que vendesse biquíni. Eu não sei
ao certo o que o Marconni estava querendo, mas se ele estava pensando que me
teria em sua cama, estava muito enganado. Ele é lindo, charmoso, e se fosse em
outras circunstâncias eu até pularia em seu colo, mas tudo que podia fazer era
fugir o máximo possível. Tomei um banho e me joguei na cama. Peguei no
notebook e comecei as pesquisas. Precisava saber quem era Lucca Marconni,
antes que me queimasse nesse fogo todo que ele estava jogando em mim.
Abri a página do Google, digitei seu nome e cliquei em buscar. Apareceram
muitas informações ligadas ao seu nome, bem como várias imagens, a maioria
em eventos em hotéis que deviam ser os dele, sempre com mulheres diferentes à
tira colo, mas uma me chamou a atenção. Ela aparecia em mais de uma foto ao
lado dele. Era linda, com longos cabelos negros, alta e magra. Abri a foto que
me direcionou a um site, constatando que a foto havia sido tirada a alguns meses
atrás, e na legenda dizia: “Não foi dessa vez que o rei dos hotéis Marconni
assumiu o seu relacionamento com a socialite Giovanna Bertelline. Com toda
sua simpatia, ele se esquivou das perguntas pessoais, respondendo apenas sobre
os negócios. E então, meu povo, rola ou não rola?”. Olhei novamente a foto.
Eles formavam um belo casal e isso me incomodou. Abri uma foto seguinte que
ele estava sozinho entrando em uma casa de shows, nessa a legenda dizia: “O
Rei de Roma se soltou na night. O italiano mais cobiçado dos últimos tempos
estava curtindo sozinho à noite de ontem. Simpático como sempre, e lindo de
morrer para variar. Ufa! Que homem! Alguém me explica como ele consegue
ainda estar solteiro?!”.
Era isso. Ele era algum tipo de famosinho na cidade. A biografia no Wikipédia
não dizia nada além do que já de domínio público. Explicava que a rede de
hotéis começou apenas com um pequeno hotel em Roma, mesmo, e que após ele
assumir, já se passava de mais de 500 hotéis espalhados por toda a Itália. Dizia
também que ele era brasileiro, mas que já tinha se naturalizado italiano.
Levantei-me e fui até a janela. O sol ainda era forte e ele ainda não havia
aparecido, então decidi ir sozinha para a piscina. Ele nem devia estar em casa.
Fui até a mochila e pequei o biquíni que havia comprado na volta para casa.
Corri até o banheiro e me troquei, colocando um roupão e pegando uma toalha.
Desci rapidamente e fui para a cozinha. Sempre achava a Grazi lá.
— Ei você! — eu disse assim que entrei.
Ela estava sentada assistindo alguma coisa na TV da cozinha.
— Mel, está com fome? Posso arrumar alguma coisa para você.
— Não, Grazi, obrigada. Você sabe do Marconni?
— Ele chegou, subiu para o quarto e não desceu mais.
— Eu estava pensando em pegar uma piscina. Você me leva até lá, por favor?
— Claro, vem comigo.
Ela se levantou e eu a segui. Passamos por um corredor e chegamos na parte de
trás da casa. Tinha um deque de madeira com algumas espreguiçadeiras, umas
almofadas grandes e a piscina. O visual terminava com alguns vasos de plantas,
todos bem organizados. A piscina era enorme, com uma pequena queda d'água.
De um lado da varanda havia uma churrasqueira com uma grande bancada e
bancos, embaixo da cobertura, mais próximo a uma porta lateral, tinha uma
piscina menor, redonda, onde devia caber no máximo quatro pessoas. Era tudo
lindo.
— Ali é o banheiro. Tem toalhas e filtro solar.
— Está bem, obrigada.
— Eu vou fazer um lanche para você — ela falou, sempre solícita.
— Muito obrigada. Você sempre é a melhor.
Então saiu, me deixando sozinha. Fui até o banheiro e peguei o protetor,
seguindo em seguida para o deque, onde tirei o roupão do corpo e comecei a
passar em mim o protetor. O sol estava ardendo na pele de tão forte que estava.
Quando terminei, me sentei em uma das espreguiçadeiras e liguei meu celular,
escolhendo uma música do Cristiano Araújo, Sabe Como Me Prender. Comecei
a escutá-la e senti como se estivesse em casa novamente. Meus olhos se
encheram de lágrimas, a saudade batendo forte. Fechei os olhos, me
concentrando nas músicas que iam tocando. Em uma semana era uma coisa, e
em outra tudo mudou. Agora tinha que ficar na mesma casa esse homem que
estava virando um ponto de interrogação na minha cabeça.
Os empregados pareciam idolatrá-lo, seguindo tudo que ele ditava à risca; na
imprensa era tido como “O Rei de Roma” e era famoso por seu reinado nos
hotéis; ainda tinha esse joguinho de sedução, de palavras de duplo sentido. Ele
era lindo, não dava para negar. Um corpo no qual me perderia facilmente, mas
até aonde iria o interesse dele? Desse joguinho eu não estava disposta a
participar. Me envolver seria o certo, mas será que eu devia pagar para ver, ou
seria melhor continuar evitando? Eram tantas perguntas sem respostas. Ainda
tinha a morena da foto que ele podia não assumir. Só que eram muitas fotos
deles juntos e alguma coisa com certeza tinha.
Não sabia o que fazer!
Sentia-me tão perdida, sem ninguém para conversar. Não sabia se podia
realmente confiar na Grazi, apesar de ela parecer ser uma boa pessoa. Acontece
que trabalhava para ele. Será que ela seria a melhor pessoa para contas as coisas?
Decidi levantar e ir até a piscina. Nadar sempre me fez bem e talvez clareasse
minha mente. Mergulhei na piscina e comecei a dar braçadas, indo de um lado
para outro na piscina. Precisava pensar menos. Não sabia quantas vezes fui e
voltei, mas quando resolvi sair da água, ele estava lá parado, me olhando, usando
uma bermuda branca e sem camisa.
— Criança, pensei que tínhamos um combinado. É tão feio não cumprir com o
que se fala. — Ele sorriu, me analisando. — Eu acho que você está precisando
de um castigo.
Saí da piscina sem respondê-lo. Ele me irritava muito quando me tratava como
criança, pois eu não era uma. Virei, olhando para ele e tentando muito
fortemente não focar em seu peito e sim em seus olhos.
— E quem vai me castigar? Você?
— Eu posso fazer esse esforço, criança.
Ele se aproximou de mim, ficando próximo o bastante para que eu pudesse
correr a mão pelo seu peito, passando por cada gomo de sua barriga. Suspirei e
forcei a me focar apenas em seu rosto, e aquele sorriso torto de todas as fotos,
que já tinha visto pessoalmente, estava lá também. Ele me olhava com um olhar
carregado de malícia, deu um passo mais à frente e nossos corpos quase se
colaram. Umedeci os lábios com minha língua e seus olhos focaram na minha
boca, foi quando ouvimos um barulho e me afastei rapidamente, recolhendo a
toalha. O escutei praguejar alguma coisa e se virar.
— Senhor Marconni, o senhor Igor está no telefone e deseja falar com o senhor
— anunciou Grazi.
— Obrigado, Graziela. Transfira a ligação para o escritório e peça que espere, já
vou atendê-lo.
— Sim senhor. Mel, deixarei seu lanche aqui na mesinha.
— Obrigada.
Ela saiu rapidamente, com o olhar de Marconni queimando em cima dela.
— Eu pedi que ela me chamasse assim. Não preciso de tanta formalidade — me
apressei em explicar, afinal, não queria que ele brigasse com ninguém por
minhas atitudes. Ele estava com cara de bravo. — Acho melhor você ir atender o
Igor.
— Claro, criança. Mas essa conversa ainda não acabou.
Ele saiu, passando a mão no cabelo, e eu vesti o roupão, enrolando meu cabelo
na toalha em seguida. Fui até a mesinha e tomei o suco, comendo o lanche que a
Grazi tinha feito.
Meu Deus, o que eu quase tinha feito?
Ele ia me beijar e eu ia corresponder. Pelo menos Igor fez algo de útil na vida.
Peguei a bandeja e voltei para dentro da casa. Grazi não estava na cozinha, então
coloquei a bandeja na pia e fui para o meu quarto tomar um banho. Quando desci
novamente, liguei a TV e estava passando um programa italiano, ao qual fiquei
assistindo, deitada no sofá. Eu não entendia nada, mas era bom tentar me distrair
com alguma coisa.
— Posso me juntar a você, criança?
Lá estava ele atrás de mim de novo. Será que não tinha nada para fazer além de
me importunar?
— Claro.
— Quando você quiser pôr a legenda em português, é só apertar aqui — me
orientou. — E então, como foi sua aula?
— Foi bom. As pessoas são bem simpáticas.
— Que bom que gostou.
— Você não precisa bancar o atencioso — soltei de repente. Ele não precisava
ficar colado em mim o tempo todo.
— Por que acha que estou bancando o atencioso, criança? — perguntou ele,
erguendo uma das sobrancelhas como se não entendesse o que eu disse.
— Melissa. Meu nome é Melissa. — Mais uma vez eu o lembrava do meu nome.
— Você não respondeu a minha pergunta.
— Na internet parece que você tem uma vida muito agitada.
— Ah, criança, não te ensinaram que nem tudo que está na internet é verdade?
— São mentiras?
— Andou procurando a meu respeito? — indagou. — O que você quiser saber
sobre mim, é só perguntar.
— Por que você veio para a Itália?
Nem de longe era isso que eu queria realmente perguntar, mas precisei pensar
algo muito rápido, antes que eu questionasse quem era a tal Giovanna.
— Porque queria estudar.
Nossa! Tanto lugar no mundo e a pessoa vem estudar na Itália? Podendo ir para
Nova York, ou qualquer outro lugar cobiçado, afinal, a Itália sempre me remetia
a um passeio sofisticado.
— Por que a Itália? E meio incomum.
— Somos descendentes de italianos. Sempre quis conhecer mais desse lugar. —
Ele deu de ombros, como se não se importasse com isso.
— E só por isso veio e nunca mais voltou?
— Não, eu vim conhecer e estudar. Me apaixonei pelo lugar. É totalmente
impossível não se apaixonar por essa cidade tão linda.
— Sim, é um país maravilhoso. Fui com Carlos e a Grazi em alguns lugares e
estou encantada.
Ele sorriu abertamente enquanto falava da cidade. Amava o país que escolheu
como residência e isso era evidente. Ele não sairia daqui para nada, realmente o
sangue Italiano que corria em suas veias só fez ficar ainda mais forte quando
veio para cá. Dava para ver em seus olhos a paixão que tinha.
— É sério. Se continuar assim, você vai ver, não irá mais embora.
O silêncio se fez. Desviei meus olhos dos dele, não querendo falar sobre ficar,
afinal, eu queria ir embora. Não queria me prender aqui. Diferente dele, esse não
era o meu lugar.
— Eu vou subir, amanhã preciso levantar cedo — eu disse, já me levantando do
sofá e calçando os chinelos. Ele olhou meio confuso para mim.
— Você não quer jantar? — perguntou, levantando-se também.
Ele tinha que ficar sem camisa sempre?
— Você vive assim?
— Assim como?
— Sem camisa — esclareci e ele soltou uma gargalhada, sua mão deslizando do
seu peito até a barriga.
— Criança, eu estou em casa, então fico como desejo. Isso te incomoda?
— Não, a casa é sua. Vou subir agora.
Saí sem olhar para ele. Aquilo não era normal. O homem conseguia acabar até
com uma conversa. Quando cheguei ao quarto tirei a roupa, ficando só com a
calcinha da Minnie e vestindo minha camisa do Donald. Eu tentei uma conversa
normal, mas ele não conseguia. Tinha sempre que me provocar. Sentei na cama e
liguei o notebook. Há dias não entrava no meu Facebook. Não sei quanto tempo
fiquei navegando na internet, estava tão distraída conversando com algumas
pessoas e carregando as fotos do meu passeio, que levei um susto quando
bateram na porta. No entanto, o intruso não esperou autorização para entrar.
Aquele corpo grande passou pela porta segurando um copo e uma garrafa de
água. Fechei o notebook e olhei para ele.
— Você disse que tinha sede durante a madrugada, então resolvi trazer para
você.
Fiquei chocada por ele ter lembrado.
— Ah, obrigada.
Foi tudo que consegui dizer antes de me levantar da cama e pegar sua mão, me
virando para colocar a garrafa na mesinha. Ao virar de volta, colidi com um
peito que mais parecia uma parede. Me apoiei com as mãos em seus ombros
largos e seus braços se rodearam minha cintura para que eu não caísse. Marconni
me puxou para mais perto e nossos olhares se encontraram. Estávamos presos
um ao outro. Eu podia sentir sua respiração e me surpreendi quando mão alisou
meu rosto, colocando uma mexa do meu cabelo atrás da orelha.
— Você é linda!
Ele disse em um sussurro e segundos depois senti seus lábios nos meus. Eram
macios e convidativos, sua língua passava pelo meu lábio inferior como se me
provasse antes de pedir passagem para dentro da minha boca. Quando nossas
línguas se tocaram, foi como uma explosão. Ele apertou ainda mais meu corpo
no dele, nossas bocas duelando, explorando cada canto uma da outra. Minhas
mãos subiram de seus ombros até seus cabelos, e eu gemi quando ele chupou
minha língua com um pouco mais de força. Senti sua mão em meu cabelo e um
aperto firme no lugar. O beijo era forte e intenso. Sua língua não cessava os
movimentos, eu sentia meu corpo pegando fogo. Ele parou o beijo com uma
mordida em meu lábio inferior, o puxando e sorrindo torto em seguida.
— Dorme bem, criança — disse com a voz rouca.
E assim ele saiu do quarto, do nada. Deixei meu corpo cair na cama, pois era
tudo o que eu podia fazer. Minhas pernas pareciam duas gelatinas e sentia minha
calcinha úmida. Nenhum outro tinha feito isso com apenas um beijo.
Apenas um beijo.
Eu toquei meus lábios ainda inchados pela intensidade do beijo. O homem sabia
como deixar uma mulher fora do prumo, imagino o que faria em uma cama. Por
Deus, eu devia estar ficando louca! Mas foi tão gostoso, tão diferente... Uma
sensação que nem podia explicar, porque não se comparava a qualquer outra
coisa que já havia sentido. Tudo o que eu pensava era em viver essa sensação de
novo, eu só não sabia se era correto.
Capítulo 6
Melissa Ferraz

Nunca me arrumei tão rápido para ir à escola. Eu não sabia se estava correndo de
mim ou dele. Quando me beijou e depois saiu por aquela porta, todo vitorioso,
me senti uma burra sem rumo. Não poderia ter deixado que ele invadisse meu
espaço. Se bem que procurei. Deveria ter ficado em meu quarto, mas a tentação
de ir até aquela piscina foi maior. A tentação de querer outro beijo daquele
também estava martelando na minha mente. Eu seria forte. Ele não foi o
primeiro a me tentar assim, e não seria o último.
Respirei fundo, coloquei a mochila nas costas e abri a porta com cuidado. Desci
as escadas o mais rápido possível, alcancei a maçaneta da porta e a girei.
— Mel, bom dia. — Era a Grazi.
— Bom dia, Grazi. Está tudo bem?
— Sim. E você, está bem? Não vai tomar café hoje?
— Eu estou bem. Não, hoje eu estou muito atra-atra-atrasada.
Me perdi no que estava falando porque lá estava ele, descendo as escadas, com
os olhos fixos em mim. Não pude disfarçar a conferida que dei nele, era
impossível. Ele estava totalmente lindo, minha nossa! Vestia um terno de três
peças, mas o paletó estava em sua mão. A camisa se agarrava em seus músculos,
seu peito e seus ombros pareciam ainda maiores. Ele estava tão imponente no
terno totalmente alinhado e feito sob medida, que se encaixava perfeitamente.
Salivei, vendo o quanto parecia aqueles CEOs megalomaníacos que eu
costumava ler nos livros. Magnífico talvez fosse a palavra adequada para Lucca
Marconni naquele momento.
— Respira, criança, vai ficar roxa desse jeito. — Pisquei várias vezes, me
fixando em seu rosto. Agora eu estava feito idiota idolatrando o imbecil.
— Se eu respirar mais, acabarei com o oxigênio da casa.
Eu não queria respirar o cheiro dele, embora fosse delicioso. Pensei que ele
cheirava bem, mas tive a certeza de que ele podia até modificar o ar que
respirava.
— Bom, Grazi eu já estou indo — falei. — Como disse, estou atrasada hoje. Nos
vemos mais tarde.
— Tenha um bom dia — ela me disse e se afastou apenas com a olhada que
recebeu do Senhor Magnífico à minha frente.
— Você não tem nada para me dizer?
Será que ele se referia ao seu ataque de ontem?
— Por que eu teria? — devolvi a pergunta. Ele não ouviria um “ai” de mim
sobre seu ataque.
— Como foi sua noite?
— Foi ótima e, mais uma vez, obrigada pela água. Evitou que eu descesse tudo
isso à noite — respondi. -Preciso ir. Tchau!
Saí antes que ele falasse alguma coisa. Não dava para querer ganhar uma guerra
com ele vestido daquele jeito.
— Melissa — Alguém me chamou e eu procurei à minha volta, encontrando o
dono da voz firme, mas suave.
— Pietro.
O reconheci. Seu sorriso se ampliou ainda mais e eu sorri também, vendo-o
estender meu celular.
Onde ele encontrou meu telefone?
Ele pareceu entender a minha confusão e estendeu outro aparelho no qual havia
uma aba do Google Tradutor e no visor estava escrito:
“Encontrei ontem à noite no deque da piscina”
Digitei minha resposta.
“Obrigada. Não estava me lembrando dele”
Ele sorriu com o que escrevi, enquanto eu pensava no quanto aquele maldito
homem havia mexido com meu cérebro para me fazer esquecer até do meu
celular. Carlos encostou o carro perto de nós e Pietro continuava a digitar alguma
coisa, o que me permitiu olhar melhor para ele.
Além de muito bonito, era simpático. Ele poderia ser um bom amigo, pelo
menos tentou se comunicar comigo e foi gentil em se preocupar em devolver o
aparelho.
— Criança, você vai se atrasar se continuar com essa conversa fiada.
Marconni se aproximou de nós como uma cobra pronta para dar o bote, rápido e
sorrateiro. Não percebemos, até ele proferir, com aquela voz grossa que saiu
gélida:
— Pietro, vieni con me, stiamo passando la giornata in ufficio oggi. Prendi
l'auto.
Ele esticou a chave do carro para Pietro, que as pegou sem reclamar. Apenas
concordou e saiu em seguida.
Marconni abriu a porta do carro para que eu pudesse entrar. Não precisava ser
tão rude assim. O que aconteceu com ele em dez minutos?
— Você é um grosso! — acusei.
— Você não sabe o quanto.
Então bateu forte a porta do carro quando eu já estava dentro, o impacto me
fazendo dar um pulo. Ele ficou parado como tivesse comido algo que não
gostou. O olhei enquanto o carro se afastava.
Qual era o problema dele?
Estava lá todo-todo quando saí, e depois ficou um grosso. Eu nunca ouvi esse
tom de voz vindo dele, o que me fazia pensar que só podia ser doido, não era
possível. Suspirei e deixei a minha mente vagar para fora da janela. Ele estava
ocupando minha cabeça mais do que deveria, e isso estava me assustando.
Lucca Marconni
Merda, merda, merda!
Era o demônio possuindo o meu corpo.
Porra, Marconni!
Que merda estava acontecendo comigo?
Primeiro aquele beijo que me fez sair correndo daquele quarto como se fugisse
dos cães do inferno. Como pode um beijo mexer tanto com uma pessoa, com um
cara como eu? Além de ela simplesmente se jogar em meus braços, depois ela
não disse nada, nem uma única e maldita palavra. E ainda para piorar, estava
flertando com meu segurança. Vê se pode?! Eu quase arranquei a cabeça do
Pietro com minhas próprias mãos. Puta que pariu! Isso era algo que não sentia há
muito tempo: ciúmes. E de uma pessoa que nem era minha. Eu estava ficando
fora da minha mente por uma menina. Isso não podia estar acontecendo.
— Senhor Marconni, uísque logo cedo? Algo não está bem no “harém” esta
manhã — Igor comentou ao passar pela porta, me arrancando um sorriso.
— Finalmente, Igor, já não era sem tempo.
Me levantei e abracei o meu sobrinho, que estava há mais de dois meses fora,
viajando por tudo o que era lugar nos Estados Unidos. Ele era como um filho
para mim. O vi crescer e o ensinei tudo o que eu sabia.
— Tio Lucca, quanto tempo longe. Não via a hora de poder voltar — disse ele,
me abraçando.
— Muito tempo mesmo. Mas pelo menos foi um tempo muito bem aproveitado.
— Sim, tio, mais que isso. Vamos tomar conta do Estados Unidos também.
Consegui dois prédios no centro de Nova York que são perfeitos.
— Tenho certeza que sim. Fora a parceria com as pousadas e campus de
universidades. Se conseguirmos ampliar nosso trabalho para esse lado, vamos ter
muito trabalho e cresceremos ainda mais.
Disse enquanto nós sentávamos. Ele estava fazendo um trabalho perfeito, era
competente em tudo. Eu havia deixado tudo em suas mãos, apesar de ainda ser o
presidente e ter a assinatura final. Ele cuidava de todo o resto, mas nossa equipe
era muito competente e quando era necessário eu estava presente.
— Fora o lucro que vamos obter. Mas temos a semana toda para falar disso tudo,
certo? Para as assinaturas de sexta-feira e coroar com a festa no sábado.
— Claro, tem razão. Você disse que iria me contar alguma coisa, mas não queria
que fosse por telefone.
— Vamos conversar sim, tio. Acontece que estou morrendo de fome.
Poderíamos ir comer naquele restaurante do centro? Saudades de uma boa
massa.
— Vamos sim.
Peguei o telefone e apertei o ramal da secretária.
— Sì, signore?
— La signorina Vanessa, prenotare un tavolo per due al ristorante La nostra
Fetuchinni a mio nome per il pranzo.
— Farò la prenotazione in questo momento, signore.
— Vamos, Igor — chamei. — Vanessa irá reservar uma mesa e estamos
totalmente fora de mão.
— Claro, tio, vamos.
Ele disse, se levantando. Eu me levantei também e coloquei o paletó, então
seguimos para a porta e a secretária informou que já havia feito a reserva.
Pegamos o elevador e descemos até o estacionamento, entrei no carro e Igor
também. Liguei o carro e o som de Tiziano Ferro, Indietro, invadiu o veículo.
Ele era um dos meus cantores favoritos e assim dirigimos pela cidade, em um
completo silêncio. Apenas ouvindo a música.
— Então, tio, e a pentelha?
— Pensei que tivesse superado isso, Igor.
— Claro que superei — garantiu ele. — Foi difícil, mas compreendi que a garota
nunca teve nada e quando conseguiu uma família, eu era o demônio com ela.
Tão linda, pequena e frágil, e eu um chute no saco.
Ele sorriu, o pensamento longe, se perdendo no que dizia.
Ela continuava linda e pequena. Já frágil, eu não sabia dizer. Parecia tão forte.
Mesmo quando se perdia em meu peitoral, ela resistia firmemente. Ainda não
conseguia entender como pôde. Porra! Além do nosso beijo, ao qual ela não deu
importância alguma, ainda estava flertando com o Pietro, que eu deixei para trás
depois de ele ir pegar o carro. O dispensei. Se ficasse no mesmo lugar com ele
naquele momento, era capaz de eu matá-lo com requintes de crueldade.
— Sabe, tio, pensei em ficar na sua casa hoje. Acho que eu e aquela peste
devíamos conversar, ela deve me odiar, mas às vezes precisamos pôr um ponto
final no passado. Estou em paz com o meu presente e meu futuro talvez seja
igual, e isso depende de mim.
— Você sempre é bem-vindo à minha casa, meu filho.
— Ela está gata. Eu vi as fotos dela no Coliseu. Ela era tão mirradinha quando
chegou lá em casa e agora está um mulherão.
— Sim, ela é linda.
Confirmei, deixando meus olhos vagarem pela via. Ela era completamente linda,
em todos os ângulos, não importa o que vestia. Se era um jeans ou a camisa do
pato da Disney ou aquele biquíni minúsculo que deixa sua bunda redonda e linda
à mostra, era uma espécie de mulher que eu não lembrava de ter em minha vida.
Me encantava, literalmente.
— Ei, tio! Terra chamando. Passamos pelo restaurante.
— Porca puttana.
Até nisso. Ela estava tomando a minha mente. Ah, criança! De mim você não
escapa. Não mesmo. Fiz o retorno mais à frente e logo estacionei na frente do
restaurante, descendo logo depois do carro. Entreguei a chave ao manobrista e
quando ia entrando, um paparazzi me chamou.
— Signori una foto per favore?
— Sì chiaro.
Nos posicionamos para que ele batesse a foto. O mesmo agradeceu e entramos
minutos depois. A recepcionista nos levou para nossa mesa, que já se encontrava
reservada. Igor se encarregou de fazer os pedidos enquanto eu ia ao toalete.
Quando voltei o vinho já tinha sido servido e Igor estava entretido com seu
celular.
— E então, o que tem a me contar, Igor? Não aguento mais de tanto suspense.
— Sabe, tio, aconteceram muitas coisas nessa viagem, conheci muitas pessoas
de diferentes classes. Entre essas pessoas, conheci uma que me encantou muito
assim que coloquei meus olhos nela. — Ele suspirou e coçou o cabelo.
— E o que tem essa pessoa?
— Ela é linda. É como a lua e o sol, brilha e encanta qualquer homem que a vê.
— Claro, e o que tem de diferente nisso, Igor? Já tivemos tantas conversas sobre
isso, não estou compreendendo.
— Tio, é que... Hum...
Ele se mexeu, desconfortável, o garçom se aproximou e serviu aquela deliciosa
macarronada. O macarrão do lugar era simplesmente divino. Quando o garçom
se afastou, ele voltou a falar.
— Eu estou completamente apaixonado por ela, é isso.
— E por que esse nervosismo todo? Apenas para dizer que está apaixonado?
— Você sempre diz que essas coisas não existem e que mulheres são todas
iguais.
— As coisas mudam, meu filho.
— O italiano mais cobiçado foi agarrado! Não me diz que a Giovanna
conseguiu?
— Pelo amor de Deus, Igor. Você sabe muito bem qual é o tipo de relação que
tenho com a Giovanna. Mas, fale mais dessa garota. Qual o nome dela?
— O nome dela é Ângela e ela é linda, tio, você precisa conhecê-la. Só tem uma
coisa...
— O quê?
— Ela é pobre, tio, e não sabe a minha posição no hotel. Ela pensa que sou
algum tipo de gerente.
— Ela ser pobre não é um problema, Igor. Se ela é interessante como diz e tem
sentimentos por você, que mal tem? E por que não contou que você é o dono?
— Porque ela se acha inferior a todos — explicou. — Eu irei contar, mas tive
medo. Ela é tão maravilhosa e meiga.
Conversamos da tal garota por todo o almoço, de lá fomos direto para casa, pois
já estava tarde para voltar para a empresa.
Chegamos e Melissa estava deitada. Passei pela porta e ela se levantou, estava
com um short curto — muito curto, por sinal — e uma camisa regata.
— Boa tarde, Melissa — disse quando entrei.
Ela sorriu de uma forma que nunca tinha visto, e parecia que falaria alguma
coisa, mas quando Igor saiu de trás de mim, o sangue pareceu ser drenado de seu
rosto. Ela ficou branca como um papel. Corri a tempo de sustentá-la em meus
braços.
— Cazzo.
A segurei em meus braços e a deitei no sofá, chamando seu nome e dando tapas
leves em seu rosto.
— Parla con me Melissa.
— Tio, fale em português. Assim ela não entenderá.
— Ei, Mel. — Ela olhou para mim, piscando várias vezes. — Você está bem?
— Eu estou bem. Acho que caiu minha pressão, talvez seja fome — disse ela,
meio devagar, meio grogue.
— Você tem certeza?
— Sim. O que ele está fazendo aqui? — ela perguntou baixinho.
— Ele veio para conversar com você, mas se não quiser mesmo que fique por
aqui, peço para que fique fora do seu caminho.
— Não, deixe. Está tudo bem. Se ele quer falar, eu o escutarei.
— Como você quiser — eu disse, me levantando, enquanto Igor se aproximou
com cautela.
— Melissa, eu sei que não tenho o direito de te pedir nada, mas gostaria de
conversar com você. Não somos mais crianças e acho que podemos resolver isso
— Igor falava, calmo e com cautela, como se fosse para não assustar. Ela se
levantou e arrumou o cabelo.
— Claro — foi tudo que ela disse, sendo firme.
— Eu vou para o meu quarto, te espero lá — avisou Igor, que se afastou subindo
as escadas.
— Você está bem mesmo? — perguntei, querendo ter certeza.
— Sim, eu acho que está na hora de resolver isso de um jeito ou de outro.
— Você está certa. Bom, se precisar, estarei em meu quarto.
Ela apenas concordou com um aceno de cabeça, subimos as escadas juntos e em
silêncio, até que chegamos ao topo. O quarto de Igor ficava ao lado do dela, e eu
lhe mostrei. Melissa agradeceu e seguiu, batendo na porta de Igor que logo a
abriu. Ainda vi quando ela entrou, em seguida fui para o meu quarto, sabendo
que o assunto era somente deles e eu não tinha nada a ver com aquilo.
Capítulo 7
Melissa Ferraz

— Posso entrar?
Foi tudo que saiu da minha boca quando Igor abriu a porta. Nem de longe
esperava estar no mesmo lugar que ele, principalmente nesse lugar sendo tão
pequeno. Mas ele estava certo, estava na hora de pôr uma pedra no passado.
ainda o via como um demônio, aquele que me infernizou durante anos. Ele nada
disse, apenas deu espaço para que eu entrasse. Tinha tirado o paletó e a gravata,
as mangas da camisa estavam enroladas até seu cotovelo. O quarto era do
tamanho do meu, mas em uma versão masculina, tudo azul escuro e branco. Os
móveis eram de cor marrom mais escuro. Sentei na poltrona esperando que ele
falasse alguma coisa, porém, ele caminhou e se sentou à minha frente, no chão.
Seus ombros estavam caídos e ele parecia cansado.
— Melissa, sei que talvez não mereça seu perdão, talvez mesmo com essa
conversa você não esqueça tudo o que aconteceu. — Ele suspirou e fitou o chão
antes de seus olhos azuis ficarem fixos nos meus. — Não é uma coisa fácil de
falar, não justifica nada do que já fiz para você. Mas pode ser que explique.
Espero que esteja preparada para conhecer o cara que te criou, como eu conheço.
Seus olhos não saíram dos meus e mesmo estando com medo do que viria saber,
eu também não disse nada. Ele ficou ali, me olhando, talvez esperando uma
negativa minha, mas no fundo eu queria ouvi-lo. Queria conhecer esse homem
de olhos castanhos claros, calmo e em uma posição tão vulnerável. Não lembro
de vê-lo assim antes. Apenas assenti para que ele continuasse, afinal, eu não
tinha nada o que falar.
— Bom, vamos do começo. Antes de perder minha mãe com dois anos de idade,
minha vida era boa, mamãe e papai me amavam, eles brincavam comigo. Mas
tudo mudou naquela tarde. Eu queria brincar no quintal e papai não deixou,
mesmo assim, eu fugi. Meu cachorro estava lá fora e queria brincar com ele no
quintal, nunca era perigoso, mas papai não viu que eu saí. Eu e canelinha
brincávamos, mas joguei a bolinha muito forte e ele foi para o lado de fora. O
portão estava aberto, mesmo que não pudesse estar aberto, e eu sabia que não
podia ir à rua sozinho, mas meu cachorro estava lá, então corri atrás dele.
Canelinha brincava no gramado da casa em frente. Ele sempre gostava de correr.
Olhei os dois lados e achei seguro atravessar, então corri, mas mamãe gritou, me
fazendo parar. Ela corria em minha direção e tudo que senti foi ela me
empurrando forte. Quando percebi estava caído na calçada. Ouvi um barulho
muito alto, papai gritava e chorava muito, mamãe estava ali deitada e não se
mexia. Tentei me levantar, mas não consegui. Meu braço doía muito. Meu papai
chorava e gritava comigo sem parar.
Igor fechou forte seus olhos, como se visse a mesma cena naquele momento. Eu
sentia sua dor, uma lágrima rolou por seu olho e depois outra, e eu queria fazer
alguma coisa, mas não podia, era uma história tão triste. Papai nunca dizia como
aconteceu, eu apenas sabia que tinha sido um acidente.
Igor continuou:
— Eu quebrei o braço naquele dia. Papai não queria mais saber de mim, ele me
culpava. Apanhei muito, ficava sem comida, ele batia com força, revoltado com
a morte da mamãe e até matou meu cachorro. Vivi o inferno na Terra por alguns
anos. Até que sua mãe apareceu. Ela era bonita e gentil comigo, eu não apanhava
mais e sempre tinha comida. Papai não gritava e nem bebia, eu pensei que estava
salvo. Mas não durou muito. Pouco tempo depois sua mãe mudou para nossa
casa e você veio junto. Eu te odiei no mesmo instante que passou pela porta.
Papai cuidava e brincava com você, como fazia antes comigo. Mas depois que
chegou, ele nem ligava mais para mim. Só lembrava de falar comigo quando
chegava a data do falecimento da minha mãe. Você deve se lembrar que saímos
todos os anos no mesmo dia. Ele dizia que era para ir visitar mamãe, mas era
tudo mentira, íamos para uma casa onde ele bebia e eu apanhava mais e mais. Eu
o via te idolatrando e me chutando. Eu era o filho dele e não queria que mamãe
morresse. Eu fazia para você cada dor que ele me causava. Ele te amava. Se você
ficasse triste, ele também ficaria, e esse era o modo que eu pensava, mas engano
meu.
Ele ia dizendo as coisas e realmente se encaixavam perfeitamente. Lembro-me
desses dias. Quando isso acontecia eu tinha uma semana de folga, porque Igor
ficava trancado em seu quarto o tempo todo. Papai dizia que era saudades da
mamãe dele que havia falecido.
— Ele gostava apenas dele — continuou. — Um dia antes do acidente você
estava na escola, papai achou que eu ainda estivesse dormindo. Ele disse a sua
mãe que tinha outra e que havia se cansado dela, se cansado de ter que bancar o
papai amoroso para a garotinha que nem o próprio pai quis. Ele disse coisas
horríveis, mandou que ela cuidasse de mim, mas ele não era tão ruim assim.
Deixaria-me amparado quando tivesse idade. Na verdade, ele havia pensado em
tudo. Deixou uma pequena parte da herança de mamãe para mim, e outra metade
para você. Colocou tudo em um testamento e deixou tio Lucca como
responsável. O tio Lucca só soube de você depois do que aconteceu. Você
preferiu ficar com a tia, eu não queria ficar perto de você, assim como papai me
culpou pela morte da mamãe, te culpei por tirar a atenção e o amor que ele
deveria ter por mim.
As lágrimas dele desciam pelo rosto. Aquela história toda o machucava, tanto
quanto machucava a mim.
— Eu sei que um erro não justifica outro, mas te peço perdão. Você, no fundo,
era tão rejeitada e sozinha quanto eu fui. A diferença é que você tinha o amor da
sua mãe que era verdadeiro e eu só fui descobrir e entender o que era isso
quando vim para cá. Tio Lucca é como um pai. Ele foi mais pai do que aquele
homem. Eu te peço perdão, sei que isso não traz seu gato de volta, não deve
acabar com a dor que você sentiu quando quebrei seu braço, nem o tanto quando
te batia, mas é de coração aberto. Quero ser para você aquele irmão que nunca
fui. Se você estiver disposta, quero te mostrar isso. A cada dia que estiver aqui,
quero mostrar que posso ser seu irmão, sua família.
Eu já estava chorando como quando era criança, quando ele me ameaçava. Mas
hoje não era de medo, era de dó. Eu podia sentir a dor dele, pois sei como é se
sentir sozinha no mundo. Ele precisou de muito tempo e de estar bem longe para
aprender o que era amor, mas eu sempre tive. Ajoelhei-me a sua frente e o
abracei, pegando-o de surpresa. Ele demorou para reagir, mas logo me abraçou.
O som do nosso choro podia ser escutado, se misturando. Era o fim de uma
infância dolorida, era o fim de lembranças que ainda sangravam.
— Isso é um sim para o meu pedido?
— Isso é sim para um recomeço, e sim para um presente sem sentimentos ruins,
sem lembranças. Colocamos um ponto final em tudo.
— Está certo, pentelha.
Eu sorri, enxugando as lágrimas e saindo de cima dele. Igor se levantou e me
ajudou.
— Te prometo ser o melhor irmão de criação. Quero saber de tudo sobre você.
— Vamos com calma — falei. — Acho que tenho muita coisa para digerir ainda.
— Você está certa — concordou ele, sorrindo e beijando minha testa.
— Eu vou deitar. Minha cabeça está doendo, afinal, não é fácil descobrir que o
herói era o vilão e o vilão era alguém tão machucado quanto eu.
Beijei seu rosto e saí dali com o seu sorriso. Um sorriso que nunca vi na minha
vida. Parei no corredor e senti que não queria ficar sozinha. Estava com medo
de ficar pensando em tudo isso. Amei o pior cara do mundo, que me via como
uma rejeitada. Sei que eu era uma, mas sempre achei também que ele me
amasse, que amava mamãe, mas a minha felicidade foi a dor de outra pessoa e
isso não era certo. Igor sofreu e viu em mim seu refúgio, mas não entendi ou
compreendi papai ter feito tudo isso. Ele parecia um homem tão bom. Eu
realmente acreditava que ele era outra pessoa.
Bati na porta sem saber se era o certo, mas não queria ficar naquele quarto
sozinha. A porta se abriu um pouco depois. Ele estava apenas com a calça social,
sem sapatos e sem camisa, me olhou por um momento e franziu as sobrancelhas,
me puxando para seus braços. Ele me abraçou apertado e eu o agarrei como se
fosse meu bote salva-vidas. Escutei a porta bater atrás de mim, mas não queria
abrir meus olhos naquele momento. Ele me afastou e fitou meus olhos por um
momento, limpando minhas lágrimas que teimavam cair. e levou até a cama e
me fez sentar, sentou ao meu lado e acariciou meu cabelo. Ficamos em silêncio
por mais tempo que o necessário.
— Você quer conversar? — Marconni perguntou, quebrando o silêncio.
— Na verdade, eu não sei. Não sei nem porque bati em sua porta, só pensei que
poderia ficar um tempo. Sabe, é ruim ficar sozinha quando a cabeça está tão
cheia.
— Eu entendo. Deite um pouco — ofereceu. — Estava indo tomar banho. Se
não se importar em esperar um momento.
— Eu não quero incomodá-lo. Vou para o meu quarto.
— Não, por favor, fique. É só um banho.
Ele sorriu, estava sendo gentil e ainda não tinha me chamado de criança, nem
uma única vez. Para falar a verdade, me chamou de Melissa hoje e acho que foi a
primeira vez desde que cheguei.
— Tudo bem, eu espero. Mas não demore.
Ele assentiu e foi para o banheiro, pouco tempo depois ouvi o barulho da água
caindo e fiz como ele mandou, me deitei. Sentia-me cansada.
Por que será que chorar causava cansaço e sono nas pessoas?
Por que a vida tinha que ser como era?
Talvez pudesse ter sido diferente. A morte da mãe do Igor foi uma fatalidade.
Não era culpa dele, afinal, não passava de uma criança pequena e sem noção do
certo e o errado. Como pode um pai fazer tudo isso para um filho? Por outro
lado, eu não sabia se era certo ou não pôr o homem que me criou como vilão de
tudo. O que Igor disse não justificava tudo que ele fez para mim, mas
novamente, ele tinha seus motivos e achava que estava certo, e o que era certo
ou errado para uma criança que nunca sentiu ou teve nada de bom? Era só dor e
rejeição.
— Um centavo por seus pensamentos.
Quase pulei da cama de susto. Ele estava deitado ao meu lado, com aquele
peitoral descoberto, e com uma calça de seda escura.
— Você quase me mata de susto — reclamei.
— Eu percebi. Devo ser realmente feio. — Ele sorriu de lado, sabendo muito
bem que nem de longe era feio. Não aguentei e sorri também. — Você quer
colocar para fora tudo o que escutou do Igor? Afinal, não deve ter sido fácil
descobrir que nem tudo é o que parece.
— Realmente, não foi fácil. Como pode uma pessoa ser duas?
— Isso não pode, mas acho que a vida nos dá dois caminhos a se seguir e basta
escolhermos se vamos viver como se foi ensinado ou se escrevemos nossa
própria história. Eu resolvi escrever a minha, meu irmão decidiu seguir a vida
que nosso pai nos ensinou.
— O que você quer dizer com isso?
— Quero dizer que meu irmão encontrou a felicidade quando se casou com a
mãe do Igor, mas a perdeu quando ocorreu uma fatalidade, assim como nosso pai
fez. Ele escolheu infringir a dor ao invés de amar quem o amava. Igor foi pelo
mesmo caminho que meu irmão.
— Você mostrou a ele que podia ser diferente.
— Sim, eu fiz meu caminho como todos podem. Não culpe meu irmão. Ele te
deu tudo que podia dar, porque tinha a felicidade com sua mãe até ele achar que
tudo era demais para ele.
— Eu sei que ele não pode ser culpado, ele não poderia nem se defender.
— E como foi com Igor?
— Nós conversamos e meio que nos entendemos — respondi. — Não quero
continuar com essa mágoa, mas não posso dizer que confio plenamente nele.
— Isso só o tempo irá te provar.
— Você tem razão.
Bocejei e ele sorriu de novo.
— Estou cansando você?
— Não, eu acordei cedo e chorei, sempre fico cansada depois — eu disse, sem
graça, e ele acariciou meu rosto.
— Tudo bem, vou buscar algo para comer e então você dorme.
— Que isso?! Não precisa, Marconni.
— Me chame de Lucca e eu faço questão. Fique aqui, por favor, não irei
demorar.
Ele não esperou que eu falasse mais nada. Se levantou e saiu para buscar algo
para eu comer, deixando-me ainda mais confusa. Ele estava cuidando e sendo
amoro comigo, porque queria transar ou por pena de ver tudo o que estava
acontecendo? Ele era mais complicado do que imaginei, mas gostei de poder
conhecer o outro lado dele. Já havia conhecido o irritante, o grosso, o famoso,
agora o gentil. Queria saber o que mais ele escondia por trás daquele sorriso e
belo corpo. Realmente era um grande mistério e eu não ia me aprofundar nisso
mais do que já fiz. Não devia tê-lo procurado, foi errado e louco. Precisava
manter o foco, pois a reaproximação do Igor não mudava nada. Completaria a
maioridade e sumiria dali o mais rápido possível, afinal, era o que mais queria
para seguir minha vida.
Ele estava demorando e eu tentava manter meus olhos abertos, mas era
praticamente impossível. Aconcheguei-me mais naquela cama que era ainda
maior e mais macia que a minha, meus olhos pesaram mais e mais até que me
deixei levar pelo sono.
Acordei com a claridade em meu rosto, era um lugar diferente e, pior, havia uma
perna cabeluda e rígida encostada na minha. Tinha outra coisa rígida na minha
coxa também e eu estava praticamente em cima de um peitoral. Rolei para o lado
tentando me desvencilhar daquele corpo grande, mas tudo que consegui foi me
atrapalhar com o lençol e cair da cama. Grunhi de dor, passando a mão na minha
bunda.
Meu Deus! Onde estava meu shorts? O que diabos eu havia feito no dia anterior?
— A criança caiu da cama, machucou?
Olhei para cima e ele estava debruçado na cama, sorrindo.
— Você dormiu comigo? Tirou minha roupa?
— Sim e sim. Você dormiu enquanto eu desci e, bom, é o meu quarto, a minha
cama. Eu não iria dormir em outro lugar, e pensei que ia ser mais confortável
tirar aquele pano que você estava usando.
— Você está... está nu?
— Estou de boxer porque sou legal, pois costumo dormir sem nada.
Me levantei do chão rapidamente, juntei o pouco que restava de dignidade,
afinal, eu procurei por isso, o olhei e ele estava lá, lindo com o cabelo
bagunçado, a barba maior do que ontem. Constatei que ele era maravilhoso de
qualquer jeito, de roupa ou sem, só não sabia qual eu preferia. Peguei o shorts e
vesti mais rápido que pude. Ele me olhava e sorria. Sentia minhas bochechas
pegando fogo, me virei para sair e o olhei novamente quando ele falou:
— Obrigado pela noite, criança, mas da próxima vez você não irá dormir.
Saí sem olhar para trás, entrei no quarto correndo e fui direto para o banheiro.
Meu corpo parecia pegar fogo em tudo que era local, então tomei um banho frio
para poder voltar a minha faculdade mental. Saí do banho depois de me lavar e
lavar o meu cabelo, me enrolei em uma toalha e fui para o closet, coloquei um
conjunto de lingerie e um vestido que ia até o joelho, calcei uma sapatilha e
penteei o cabelo. Peguei a mochila e desci, estava morta de fome. Deixei a
mochila no sofá e segui para a sala de jantar, onde Igor e Marconni já estavam,
alinhados em seus ternos que deviam custar os olhos da cara.
— Bom dia, Mel — Igor falou, se levantando e puxando a cadeira para que me
sentasse.
— Bom dia, Igor. Obrigada — agradeci, me sentando.
— Bom dia! Dormiu bem? Você me parece ótima essa manhã — Marconni se
manifestou.
— Bom dia.
Apenas respondi o cumprimento dele, achando melhor ignorar, afinal, eu tinha
dormido bem. Muito bem, por sinal. Não tive nem sede durante a noite. Grazi se
aproximou e dei bom-dia a ela, que me respondeu com um sorriso, me servindo
um copo de suco. Aproveitei para fitá-lo nesse momento. Ele comia seu café da
manhã em silêncio, analisei seu belo rosto, a barba estava menor desde mais
cedo, então concluí que havia aparado. Já o cabelo, roçava na gola da camisa.
Ele me encarou e sorriu de canto. Me atrapalhei com o copo e acabei derrubando
todo o suco em cima do meu café da manhã. Aquilo já estava ficando deplorável.
— Ai, merda! Desculpa, desculpa! Acho que acordei atrapalhada hoje. É melhor
eu ir para a aula de uma vez — eu disse, me levantando, enquanto a Grazi
colocava um pano em cima do suco que caiu na mesa.
Parei com seu olhar em mim. Ele não escondia o sorriso presunçoso que
brincava em seus lábios.
— Sente-se e tome seu café. Não tem porque ter pressa. Só tente se manter viva
hoje. Você está muito desastrada, já caiu e agora o suco.
— Meu Deu! Caiu onde? Você se machucou? — Igor perguntou, todo
preocupado.
— E-eu...
— Um tombo à toa — respondeu Marconni por mim. — Tomem o café os dois e
parem com essa conversa mole, odeio me atrasar. Vou escovar os dentes e
saímos em seguida.
E saiu sem dizer mais nada. Comemos sem questionar a sua ordem e
conversamos amenidades sobre o tempo e como seria o dia. Marconni voltou um
pouco depois com a minha mochila e uma maleta. Ele nos chamou e levantamos,
nos despedimos da Grazi e saímos. Era mais um dia quente e eu me perguntava
como eles aguentavam aquele calor. Carlos estava perto de um carro, mas não
era o mesmo de todos os dias e sim um sedan preto. Ele abriu a porta do
passageiro, Igor o cumprimentou e entrou no carro. Marconni lhe deu bom-dia e
deu a volta no carro enquanto ele abria a porta para mim.
— Te busco mais tarde, senhorita.
Fiz uma careta e o abracei.
— Até mais tarde, Carlos.
Entrei no carro e logo ele estava em movimento. O silêncio se fazia presente
naquele espaço pequeno, às vezes me perdia no olhar de Marconni pelo
retrovisor e Igor parecia estar alheio a tudo, prestando atenção em seu celular.
— Mel, sábado tem uma festa para comemorar a conquista de alguns grandes
contratos, e você é a convidada de honra. Será apresentada à sociedade italiana.
Eu não sei se você já conhece alguém, mas se quiser convidar é só me passar
mais tarde o endereço, nome, e se vão levar acompanhantes.
— Que legal! Mas eu não tenho roupa para isso, Igor.
— Esse não é o problema. Podemos sair e procurar algo — disse ele, todo
animado. — Pode ser no sábado mesmo. A casa estará uma bagunça. Você topa,
tio?
— Claro, Igor. Podemos ir na parte da manhã.
— Não quero dar trabalho para vocês.
— Isso não é dar trabalho. Nós vamos e pronto.
Marconni decretou, sem deixar margem para ser contestado. Eu só não entendi
porque eu estava concordando sem ao menos tentar discordar, mas ele dizia e
falava tão firme que não achava viável falar alguma coisa.
O carro foi estacionado na frente da escola, Igor desceu e abriu a porta.
Marconni apenas abaixou o vidro, desci do carro e abracei Igor. Dei a volta no
carro e parei perto de Marconni, que me olhou e sorriu daquele jeito torto, dando
uma piscadinha e arrancando com o carro. Eu apenas sorri. O cara era uma
avalanche ambulante e estava passando por cima de mim sem dó alguma.
Eu, Leo, Nanda e Clara estávamos sentados na praça que tinha perto da escola, a
aula tinha acabado mais cedo e obriguei-os a ficarem comigo até Carlos chegar.
Eu ainda não sabia andar pelas ruas de Roma e provavelmente acabaria me
perdendo de alguma forma. O Leo, apesar de ser gay, não demonstrava para
quem não o conhecia. Era muito bonito, mas estava sozinho, justificando que
não gosta de se sentir preso a ninguém e que purpurina costuma ser mais
grudenta que mulher de TPM. Se de longe ninguém diria que ele era gay, quando
abre a boca não há dúvidas. Ele é um amor de pessoa, sendo impossível não se
encantar com seu jeito fácil de fazer a amizade.
— Não me olha assim não, gata. Da fruta que você gosta eu como até o caroço
— Leo brincou e foi impossível segurar o riso.
— Seu besta! Não estava te olhando, chato. Vocês já escreveram os endereços,
nomes completos e se vão com acompanhantes? Igor disse que mandará os
convites.
— Sim, está tudo aqui, Mel. Mas é uma festa de quê? O que devo vestir? —
perguntou Clara.
— Não sei, mas vou perguntar e aviso a vocês pelo facebook mais tarde. Mas
deve ser de gala. Ele disse que é para celebrar alguns contratos fechados.
— Eles trabalham no que mesmo?
— Com hotéis, até onde eu sei.
Carlos chegou, o vi encostar o carro e descer um pouco depois, sorrindo e vindo
em nossa direção. Me levantei e joguei a mochila nas costas, dei um abraço no
Leo e beijei as meninas.
— Vejo vocês amanhã e não esqueçam, a festa é no sábado. Se vocês não forem
será uma morte lenta e dolorida.
Pisquei e saí rápido, encontrando Carlos no meio do caminho. Ele pegou minha
bolsa e fomos para o carro. Ele disse que em casa estava tudo bem, que o Igor e
Marconni estavam na empresa e não voltariam antes do anoitecer. Fomos
conversando e combinamos de marcar para ir visitar outros lugares. Eu queria
ver cada monumento dessa cidade e só tinha alguns meses para isso. Não
demorou muito e chegamos em casa. Ele me deixou perto da porta e seguiu para
a garagem. Pietro estava distante, mas sorriu e acenou para mim, simpático
como sempre, mesmo nesse terno preto com esse calor de mil graus. Acenei de
volta e entrei, larguei a bolsa no chão da sala e fui para a cozinha.
— Grazi.
Ela virou para mim, indicando que estava no telefone. Esperei que ela terminasse
tomando um copo d’água.
— Pronto, Mel — disse quando encerrou a ligação. — Me desculpe, era meu
noivo.
Sorri com o sorriso bobo que ela tinha no rosto.
— Que legal! E como vocês estão?
— Está tudo bem. Ele ligou para avisar que já comprou nossa casa e que na
minha próxima folga iremos comprar os móveis e ver os convites.
— Nossa! Está tudo dando certo, graças a Deus. Você merece. Só espero receber
esse convite.
— Nem me fale. Estava tudo muito complicado até eu conseguir esse emprego.
Senhor Marconni paga muito bem aos funcionários e graças a ele estou
conseguindo realizar o meu sonho.
— Fico muito feliz por você. É tão bom ver as pessoas felizes por amar e serem
correspondidas. Acho que nunca na vida senti todo esse amor.
— Eu encontrei o meu para sempre, Mel, e você vai encontrar o seu. Isso se já
não encontrou.
— O que você quer dizer com isso?
— Eu não quero dizer nada. Você acha que senhor Marconni aceitaria ser meu
padrinho?
— Talvez. Você o conhece melhor do que eu. O homem parece ser um monte
dentro de uma pessoa só.
— Como assim?
— Ele apenas me confundiu, nada mais.
— Eu vou perguntar a ele, afinal, não ofende e ele está sendo um bem-feitor para
que meu casamento se realize.
— Sabe o que você faz antes? Conversa com Carlos. Ele parece compreender o
senhor magnífico melhor do que ninguém.
— Você tem razão, é isso que vou fazer. Como você diz, o senhor magnífico
pode ser uma pessoa difícil.
Eu não aguentei e comecei a rir. Não acredito que estava colocando os meus
pensamentos em voz alta.
— Grazi, pelo amor de Deus! Você não ouviu nada do que eu disse. Isso é culpa
do sol que peguei na cabeça hoje.
Ela estava rindo e eu podia sentir minhas bochechas vermelhas. Ela respirou
fundo depois de seu ataque de riso.
— Certo. Isso será um segredo de estado. Você quer almoçar agora?
— Não, irei subir para tomar um banho e depois podemos almoçar aqui. Carlos
disse que o Igor e Marconni não voltam mais, então posso comer aqui na
cozinha mesmo, não se preocupe.
— Está bem, então.
Saí da cozinha ainda rindo. Como posso falar essas coisas em voz alta? Preciso
limpar minha mente. Esse cara está me deixando louca. Passei direto para a sala
e estava quase subindo as escadas quando uma mão forte agarrou meu braço, me
puxando e me enfiando dentro de outra sala. A porta bateu e fui encostada nela
um pouco forte. Um “ui” escapou da minha boca, enquanto aquele corpo se
encostava ao meu, me mantendo imóvel.
— Então eu sou magnífico, criança? — perguntou ele.
— Você não devia escutar as conversas atrás da porta.
— Você quem estava gritando.
— Eu não estava gritando, aliás, o que você está fazendo aqui? Não deveria estar
no escritório?
— Vim almoçar na minha casa, porque meu sobrinho não quer deixar a irmã de
criação sozinha. Ela é só uma criança.
Ele sorriu daquele jeito safado e torto que parecia fazer parte do seu rosto. Eu ia
responder, mas perdi o fôlego quando sua língua traçou o meu lábio inferior.
Marconni mordiscou e puxou meu lábio, pressionando sua ereção em minha
intimidade. Dei um gemido involuntário, Marconni aproveitou para me beijar
como queria, sua língua varreu a minha com intensidade e minhas mãos
correram por seus braços até seu cabelo macio. Ele me beijava com desejo, sua
língua trabalhava junto com a minha, parecendo se moldar uma na outra. Sua
mão passeou pelo meu corpo, apertando meu seio com força. Ele chupou minha
língua, pressionando ainda mais seu corpo ao meu.
Podia sentir sua ereção dura na minha barriga, puxei o cabelo dele e chupei sua
língua como ele fez com a minha. Os beijos desceram para meu pescoço, senti
sua língua e uma pequena mordida. A mão dele brincou com a barra do meu
vestido e senti a ponta dos seus dedos roçar a pele da minha coxa, me trazendo
para fora daquela nuvem de desejo. O empurrei como pude, nossas respirações
se misturando, pesadas e ofegantes. Ele deslocou um pouco, me dando a
oportunidade de abrir a porta.
— Vo-você. — Suspirei para conseguir encontrar minha respiração e tentar
normalizar, enquanto um sorriso de satisfação brilhava em seu rosto. — Você
precisa parar de me agarrar desse jeito.
Falei e saí, batendo a porta atrás de mim e encostando-me a ela para poder
centralizar o meu mundo novamente. Fechei os olhos e toquei meus lábios.
— Você está bem, Mel? — Grazi perguntou, me fazendo pular de susto.
— Não, não muito. Eu estou um pouco tonta, acho que é o calor. Está muito
quente hoje. Eu não vou descer para o almoço. Por favor, você pode me levar um
lanche? Vou deitar um pouco.
— Claro. Irei levar seu lanche, não se preocupe. Toma um banho morno ou frio.
Você está toda vermelha. Está muito quente mesmo.
— Sim, obrigada.
Passei por ela o mais rápido possível. Eu não estava quente, estava pegando
fogo, literalmente. Se continuar assim, irei rapidamente acabar com a água dessa
casa, ou ficando doente de tanto banho frio que teria que tomar.
Capítulo 8
Melissa Ferraz

Pelo resto da semana me mantive longe dos olhos dele. Não aguentava mais ter
que tomar banho frio cada vez que esbarrava com ele pela casa. Igor foi me
lembrar que no dia seguinte iríamos sair para poder comprar um vestido e disse
que umas pessoas iriam a mansão arrumar meu cabelo e fazer maquiagem para a
festa. Me vesti com uma roupa fresca e, mais uma vez me perguntei onde estava
o frio da Itália. Estava descendo as escadas quando uma voz melosa, que me deu
um enjoo tremendo, ecoou pelos meus ouvidos. Parei no alto da escada, de onde
não era possível que quem estivesse na sala me visse.
— Lucca amore mio, è stata una settimana da quando non ci vediamo, sei
scomparso, non rispondi alle mie chiamate — a voz melosa disse.
Marconni estava de costas para a mulher alta e morena. Ele passou a mão pelo
cabelo e bufou em frustração, parecendo estar irritado.
— Giovanna è Marconni per la millesima volta, ho detto che ti ho chiamato, non
so proprio quello che stai facendo qui.
— Sono venuto a trovarti Marconni scomparso, e ho imparato dagli altri che stai
offrendo un partito stasera e penso che il mio invito sia stato smarrito.
Eu não entendia nada do que eles falavam. Ela parecia aqueles cachorros que são
esquecidos na casa quando os donos se mudam. Marconni estava com uma
postura rígida e visivelmente incomodado com a tal Giovanna.
Nossa, era a mulher das fotos!
Esse era o nome que tinha a tal namorada. Do jeito que as coisas estavam
acontecendo, com ele me agarrando a toda hora e os olhares famintos que dirigia
a mim, achava meio impossível ela ser namorada dele. Resolvi descer e ver
aquilo de perto. Queria saber como ele me apresentaria a ela.
— Lucca, estou pronta, podemos ir a hora que achar melhor — eu disse quando
terminei de descer as escadas. O palito girou em seus saltos, me olhando.
Marconni também me olhou e sorriu, parecendo aliviado por eu chegar naquele
momento.
— Melissa, já não era sem tempo. Cadê o Igor?
— Estou aqui, pronto.
— Giovanna come ho detto sono fuori tempo, ho un appuntamento, come il
partito si può vedere il tuo nome sarà sulla lista se avete bisogno di Carlos vi
porterà a casa per più bye pomeriggio.
— Lucca — a estranha no ninho choramingou.
— Marconni vediamo più tardi.
Ele disse a ela e saiu colocando os óculos, sem ao menos dar atenção ao bico de
rejeição que a mulher estava fazendo. Igor parecia querer rir, mas reprimiu a
risada, acenou para ela e me puxou pela mão. Ele não se dignou nem a me
apresentar a ela e eu não estava entendo nada. Apenas saiu e foi o velho
Marconni, grosso como sempre. Não sei como ela atura ser tratada assim por um
homem. Eu não a conhecia e isso realmente não importava. Também não fui
muito com a cara dela, afinal, não gostei nem um pouco de como ela me olhou.
Sabia qual era a relação dos dois, mas ninguém merece ser tratada dessa forma.
A parte de fora da casa estava cheia, tinham homens para lá e para cá, uma
mulher montando as mesas e decorações, e outros homens que pareciam montar
um palco e uma pista de dança. Pelo jeito, a festa seria boa. Eu estava rezando
mentalmente para que meus amigos viessem, não queria me sentir sozinha. Igor
abriu a porta do carro indicando para que eu entrasse, eu entrei e os dois falaram
alguma coisa antes de entrar. O carro já estava em movimento e realmente estava
um clima estranho. Os dois estavam calados, portanto, me manter calada
também era o melhor a se fazer, mas eles me arrastaram para isso e não ia ficar
andando com os dois e suas caras de bunda.
— Vocês vão me levar para onde? — Marconni me olhou pelo retrovisor e
sorriu, Igor virou-se para mim.
— Vamos até o Piazza di Spagna, é uma rua onde tem várias lojas de roupas,
vestidos, sapatos e joias. Você vai gostar.
— Eu estou precisando comprar outras coisas, se você não se importar, Igor.
— Claro que não, se você me ajudar com o smoking.
— Sim, será magnífico.
Sorri, animada, realmente gostando desse novo Igor. Ele era muito legal e
simpático, seríamos muito amigos. Chegamos a tal rua um pouco depois. Era
longa e tinham muitas e muitas lojas de tudo o que poderia imaginar. Marconni
apenas nos deixou e disse que tinha um compromisso, mas que voltava logo.
Não gostei muito, pois eu realmente achava que ele ia passar o dia comigo e
Igor.
Andamos de loja em loja, compramos muitas coisas, roupas de tudo que eu achei
que iria precisar, mas o vestido que estava procurando não achávamos. Todos
que eu experimentava ficavam estranhos e Igor não gostava. Já tinha até
comprado o da Grazi, que ficaria comigo na festa, mas um para mim estava
impossível. Já me sentia cansada de tanto andar com aquelas sacolas, até a roupa
do Igor tínhamos comprado e a minha, nada. Entramos em outra loja e a
vendedora foi mais atenciosa que o normal, acabei experimentando um monte de
vestidos até que, por fim, um azul havia me agradado. Vi os olhos do Igor
brilharem.
— Magnífico! Ficou perfeito. Tem que ser esse, Mel.
Olhei no espelho e ficou realmente lindo. As costas eram nuas, decidi que seria
aquele e enquanto fui trocar de roupa novamente, ele foi fechar a compra. Me
juntei ao Igor um pouco depois.
— O tio já está chegando. Vamos encontrá-lo na rua de baixo.
— Claro. Espero que ele esteja menos mal-humorado. Qual é daquela mulher
que estava lá? Eles são namorados?
— Não mesmo. Esse é o sonho dela, mas o tio não é do tipo que namora, sabe?!
— E por que não?
— Ele nunca encontrou a mulher certa, é o que acho. Acha que é melhor ter
todas do que apenas uma.
— Porque ele tem tudo fácil demais.
Deixamos o assunto morrer porque chegamos perto do carro. Ele estava
encostando, nos esperando, e sorri quando nos aproximamos, abrindo o porta-
malas para que guardasse as sacolas. Sua mão roçou minha cintura, apertando-a.
— Compraram tudo que era necessário, Melissa?
— Sim, compramos tudo e mais um pouco — respondi, me afastando de sua
mão, que fez meu corpo esquentar ainda mais.
— Então vamos — Igor falou, abrindo a porta do carro. Logo estávamos com o
veículo em movimento pela rua.
— Eu comprei um vestido para a Grazi. Se você não se importar, gostaria que
ela me acompanhasse hoje, Marconni. Não quero ficar sozinha. Assim, ela ajuda
a me arrumar e já fica na festa comigo.
— Claro, ela pode se arrumar com você.
— Obrigada.
Chegamos a casa pouco tempo depois. Eles disseram que iam levar tudo para o
meu quarto, então, fui para a cozinha achar a Grazi. Ela estava lá doida com
tanta gente, para lá e para cá.
— Grazi? — Ela me olhou, sorrindo.
— Vem, vamos subir para o meu quarto. Você está liberada para me acompanhar
hoje.
— Você está falando sério?
— Sim, vem. Hoje você é minha convidada de honra.
Abri um sorriso e segurei na sua mão. Ela falou alguma coisa com os outros
empregados da casa, saí “rebocando-a casa afora”. Pietro estava saindo da
mesma porta que Marconni me agarrou, onde depois descobri que era o
escritório. Ele sorriu e eu sorri de volta. Subi as escadas correndo junto com a
Grazi, entramos no meu quarto e as sacolas estavam espalhadas por todo o lugar.
Comecei a mexer nelas e encontrei o vestido vermelho que comprei para ela. Era
lindo, longo, com uma abertura na perna.
— Olha, esse é seu. Vai ficar lindo esse vermelho nessa pele tão branca. Ia
comprar um sapato, mas não sabia o tamanho. Podemos ver se alguns do que
tenho aqui servem.
— Sério, ele é tão lindo. Eu não posso aceitar. Deve ter sido muito caro.
Os olhos dela brilhavam.
— Claro que pode. Não se recusa um presente. Somos ou não somos amigas?
Ela me abraçou apertado e eu retribuí.
— Obrigada, Mel. Você é tão generosa.
— Não sou coisa nenhuma. Agora vai lá no seu quarto e pega o que você precisa
que daqui a pouco os cabeleireiros e maquiadores estarão aqui. Vou aproveitar
para tomar um banho e quando você voltar, será sua vez. Traga o sapato que
você acha que combinará com o vestido.
— Está bem. Eu já volto.
— Não demore.
Depois que ela saiu e ajeitei as sacolas no quarto, tirei de uma delas o vestido
que eu usaria e a pulseira azul que achei linda, colocando-a ao lado. Também
tirei mais algumas sacolas da cama e vi uma caixa quadrada de veludo na cama,
a qual tinha um papel em cima com palavras escritas em uma caligrafia linda,
que dizia:
“Melissa, use-o.”
Abri a caixa com cautela, afinal, eu não sabia o que tinha ali dentro. Ao abrir,
encontrei um colar e um par de brincos que fez minha boca cair no chão e rolar
Roma inteira. O colar era feito de uma pedraria branca que parecia diamante, e
no centro uma pedra de topázio azul que era rodeada pelas pedras que pareciam
diamante, e tinha o par de brincos, com a mesma pedraria do colar.
Sorri, encantada com o conjunto. Igor estava doido. Como podia ter comprado
um conjunto assim para mim? E em que momento fez isso? Combinava
perfeitamente com o vestido e só conseguia pensar que ele tinha mesmo
mudado. De qualquer forma, usaria o colar e os brincos na festa, e depois
devolveria para ele. Levantei e fui para o banheiro, tomei um banho, lavei os
cabelos, me depilei e hidratei toda a minha pele, me secando e colocando um
roupão. Quando saí do banho, Grazi estava parada no meio do quarto, meio sem
jeito.
— Está aqui há muito tempo? Você poderia ter se sentado. De verdade, Grazi,
não preciso de uma empregada só minha ou coisa do tipo. Quero realmente que
você fique à vontade quando estiver comigo. Não quero tratá-la como uma
empregada e não quero que você me veja como sua patroa. Desejo realmente ser
uma amiga para você e quero que seja uma amiga com quem posso confiar.
— Isso é meio difícil. Em todas as casas que trabalhei isso nunca aconteceu, mas
gosto de você, Mel. Vejo que é verdadeira.
— Só quero que fique à vontade, nada mais.
— Está bem. Vou dar o meu melhor para pôr de lado essa barreira.
— Isso! Começando por hoje. Você trouxe o sapato?
— Sim, está aqui.
Ela me mostrou e era lindo. Preto com o solado vermelho. Ficaria ótimo.

— Certo, agora pode ir tomar seu banho. Vamos estar lindas hoje.
Optei por uma calcinha fio dental azul e não pus sutiã, afinal, o vestido não
permitia usar um. Arrumei a toalha no cabelo quando bateram à porta, coloquei
o roupão e fui atender, deparando-me com Carlos acompanhado de um rapaz e
mais três mulheres com maletas em suas mãos.
— Mel, essa é a equipe do salão de beleza que o senhor Igor contratou.
— Ah, claro. Podem entrar. Eles falam minha língua?
— Sim, amiga — o homem disse, passando pela porta. — Aliás, foi uma das
exigências do seu namorado.
Olhei para o Carlos e ele sorriu, dando de ombros e saindo. Fechei a porta depois
que as duas mulheres entraram.
— Ele não é meu namorado, apenas irmão de criação.
— Amiga, ele deve te amar muito, viu?! Queria um irmão de criação assim,
também. Ele não teria sossego.
— Paulo! — uma das mulheres o repreendeu.
Eu estava rindo de toda a situação. O cara era uma figura.
A mulher sorriu, se virando para mim.
— Eu sou Clarisse. Essas são Carla e Maria. Elas falam italiano, apenas, e esse é
o Paulo.
— Eu sou Melissa, é um prazer conhecer vocês. Bom, nunca fui boa em nada
disso, então o que vocês acharem melhor, estará ótimo. Eu não saindo daqui feito
palhaça... — Eles riram e em seguida Grazi abriu a porta do banheiro, ficando
vermelha de vergonha.
— Se você não é a namorada, com certeza é ela — Paulo disse, olhando a Grazi
em um roupão. Ela me olhou sem entender nada.
— Namorada de quem? — Grazi perguntou.
— Do Igor.
Ela tossiu tanto que quase morreu engasgada. Fui acudi-la, batendo em suas
costas.
— Não, ela também não é. Ela é minha amiga Graziela e vocês também vão
fazer suas magias nela.
— Certo. Então vamos lá, meninas. O que cada uma vai usar? — perguntou
Paulo, batendo palmas, e tomando conta da situação.
— Bom, o meu é o azul, o dela o vermelho.
— Então vamos começar os afazeres e deixar essas moças ainda mais lindas do
que são.
Depois de algumas horas eu me olhava no espelho e não me reconhecia. Estava
linda. Cara, eu estava realmente gata e não sabia como aquilo era possível. Eles
tinham realmente o dom para tal serviço. Grazi também estava linda, o vestido
caiu perfeitamente nela. Minha maquiagem estava bem leve e, segundo Paulo, eu
tinha uma pele de pêssego e não era difícil de me deixar ainda mais perfeita, por
isso, ele optou por deixar meus olhos chamativos e marcantes. A Grazi ainda
estava terminando de arrumar o cabelo.
— Você irá usar alguma joia, Mel? — perguntou Paulo, com quem já tinha
criando uma amizade. Ele me passou seu número e até combinamos de nos
encontrar em breve.
— Sim, irei usar esses brincos e esse colar — respondi, pegando a caixa de cima
da mesinha que ficava ao lado da minha cama. — Você me ajuda?
Ele abriu a caixa e seus olhos brilharam.
— Minha virgem santíssima! Que coisa mais maravilhosa e perfeita.
— Que isso! É só um colar.
— Mel, Melzinha, minha flor de só um colar. Isso aqui não tem nada, são só
diamantes, minha cara, e uma pedra de topázio. Custa a minha vida e a de todos
dentro desse quarto.
Eu ri. Na verdade, eu gargalhei.
— Claro que não. É só um colar, você deve estar confundindo.
— Impossível, eu conheceria de longe. Já tive um bofe dono de joalheria e ele
me ensinou algumas coisas, como saber se é verdadeiro ou não, e, minha
amiga... isso aqui é muito verdadeiro.
Ele pôs em mim o colar e os brincos. Tudo pesava mais do que era realmente
necessário e estava tentada a deixar no quarto, mas eu precisava aceitar o pedido
de desculpas do Igor e queria mostrar para ele que aceitava.
Eles terminaram e saíram assim que guardaram suas coisas. A casa já começava
a encher, da janela do quarto dava para ver a movimentação lá em baixo. Eram
muitos carros e fotógrafos, Grazi disse que as festas da mansão dos Marconni
sempre saem em todas as colunas sociais de Roma, e às vezes para outras
cidades da Itália, onde ficavam os hotéis.
— Grazi, eu acho que não vou descer. Nem entendo o que esse povo fala.
— Você está linda, Mel. Vamos descer. Você, eles não conhecem, agora imagina
como vai ser para mim, que todos sabem que trabalho na casa?
— Mas é muita gente.
— Eu vou estar sempre ao seu lado, prometo te falar tudo, completamente tudo.
— Está bem. Acha que podemos ir? Estou bem mesmo?
— Sim, está linda. Não vai ter um homem que não te olhará hoje à noite, minha
amiga. Você vai derrubar corações.
— Você não fica atrás, também. Está maravilhosa. Se seu namorado pudesse te
ver agora, ele casaria com você mais de mil vezes.
Abri a porta e dei espaço para Grazi passar, respirei fundo e fomos as duas.
Descemos as escadas, dentro da casa tinham poucas pessoas, algumas olhavam e
sorriam cumprimentando com a cabeça, meu estômago parecia ter mil borboletas
dentro dele. Eu diria que estava suando até frio, corri meus olhos por todo o
jardim e tinha muitas pessoas, algumas sentadas na mesa e outras em pé
conversando. Tentei achar algum rosto conhecido, mas a verdade é que agora eu
estava me sentindo a estranha no ninho. Caminhei ao lado da Grazi até mais ao
centro.
— Acho melhor encontrarmos uma mesa para ficar, de preferência uma bem
discreta, que ninguém nos veja a noite toda. — Ela riu.
— Eu concordo. Nunca fiquei tão desconfortável, espero que estejamos
realmente lindas.
— Também espero. Que esse seja o motivo para todos estarem nos olhando.
Acho que aquela mesa está perfeita.
Apontei e ela me puxou para que eu virasse para o outro lado. Igor vinha em
nossa direção. Ele estava lindo de black tie, seu sorriso era grande.
— Meu Deus! Eu acho que vou colocar dois seguranças para vigiar as duas.
Vocês estão maravilhosas.
Grazi ficou da cor do vestido e eu ri.
— Deixe de ser bobo, Igor. — Ele me abraçou e aproveitei para agradecer pelo
colar. — Obrigada pela joia, mas não era necessário.
Ele se afastou e me olhou, antes de falar:
— Mas não te dei esse conjunto de joia, não tenho esse poder todo ainda.
Igor riu da minha cara confusa e eu passei a mão na pedra azul. Marconni vinha
atrás dele e sorriu torto, caminhando em nossa direção. Um grupo de homens o
parou para falar alguma coisa, ele me olhou novamente, também lindo de black
tie. Ele chamava a atenção de todos na festa. Gargalhou, jogando a cabeça para
trás, e era uma visão linda de se ver. Igor seguiu meu olhar.
— Ele, sim, tem cacife para isso. Deve ter sido um presente.
Ele murmurou alguma coisa, complementando, mas não consegui compreender.
— O que você disse?
Ele ia responder, mas Pietro apareceu e disse a Grazi alguma coisa.
— Mel, seus amigos chegaram e pediram para avisar.
— Onde eles estão?
Ele pediu que eu o acompanhasse e fiquei entusiasmada.
— Igor, meus convidados chegaram, vou até lá. Depois quero apresentá-los a
você.
— Claro, Mel, vai lá. Eu vou dar um giro e te acho. Depois precisamos tirar
algumas fotos, tudo bem?
— Se você me achar, tiramos sim.
Sorri para ele e olhei por cima do seu ombro. Marconni fitava nosso grupo, sem
prestar atenção no que os homens diziam. Ele estava em pé com um copo na
mão e a outra mão no bolso da calça. Me afastei junto com Pietro e a Grazi.
Capítulo 9
Lucca Marconni

Eu a vi assim que passou pela porta que dava no jardim. Estava magnífica, linda,
o vestido azul caindo perfeitamente em seu corpo. Ele tinha uma transparência
nos seios que ia até as costas em uma tira apenas. As joias brilhavam sob a luz
da lua. Brilhavam como minha Melissa. Só ela podia ser radiante assim.
Conseguia ofuscar qualquer uma nessa festa. Graziela não estava feia, estava
muito bonita, mas era impossível ela se destacar andando perto de Melissa. Era
impossível. Elas pararam como se procurassem algo. Continuei onde estava, a
casa estava lotada, mentalizei as piores coisas do mundo para que meu amigo
ficasse no seu lugar. Ele se contrariou assim que pus os olhos nela. Quando eu
andei um pouco mais e pude visualizar suas costas nuas, ele reclamou por estar
preso dentro das calças.
Igor se aproximou das duas, então resolvi chegar perto também. Estava na hora
de deixar minha criança confusa. Esperei o dia inteiro dentro de uma joalheria,
aguardando Igor me avisar a cor do vestido. Ele questionou, se empertigou, mas
fez como eu mandei. Tudo bem que ele queria fazer as pazes e eu estava feliz
por isso, mas ele não precisava virar um cão de guarda. Eu não faria nada que ela
não quisesse. Para falar a verdade, eu poderia a induzir a todas as coisas
obscenas que ficavam dançando em minha mente, e essa noite eu iria empurrá-la
cada vez mais para a borda do abismo e ela pularia com toda certeza em cima da
minha cama.
Alguém me chamou, me fazendo quebrar meu contado com ela. Virei-me para
atender Antônio e alguns outros parceiros de negócio. Bebi um pouco do meu
uísque, fingindo interesse no que eles falavam, mas mantive meus olhos fixos
nos três. Pietro se aproximou e disse alguma coisa a eles, que conversaram por
um tempo até ela me lançar um olhar e sair com ele. Igor se virou em nossa
direção e veio caminhando. A perdi de vista no meio da multidão.
— Tio, podemos conversar por um momento? — Igor solicitou assim que
chegou perto.
— Claro, Igor, vamos até o escritório. — Segui à sua frente, parando para falar
com algumas pessoas, as quais Igor cumprimentou também. Mas no fundo ele
estava calado e, se conhecia bem meu sobrinho, sabia que viria chumbo grosso.
Entramos no escritório e ele fechou a porta enquanto eu me sentava. — Então,
em que posso ajudar?
— Assim como o senhor bem me conhece, eu não vou ficar dando volta para
chegar ao meu objetivo. Que porra de colar é aquele que você deu para a
Melissa, e por quê?
Estreitei meus olhos para ele e inclinei minha cabeça. Ele poderia contestar
minhas atitudes, mas não dessa forma. Vi o modo como ele engoliu em seco.
Igor sabia que tinha pisado fora da linha e até poderia ficar putinho com os
outros, mas não comigo.
— Primeiro baixe o tom e olhe a forma que fala comigo. Escuto suas opiniões e
somos amigos, mas ainda sou seu tio.
— Desculpa, meu tio. Eu só estou confuso. Você não é um cara que dá esse tipo
de coisa para as mulheres, no máximo algumas flores e olhe lá. Eu já machuquei
muito aquela menina, e por mais que te respeite e te ame como um pai, não
deixarei você machucá-la também.
— Quem disse que irei machucar alguém? Primeiro, de onde você tirou essa
merda toda, Igor? É um colar, nada mais que isso.
— Um colar que é bem caro, por sinal. Tio, diamantes e safira?!
— Sei lá... — Dei de ombros. — Foi apenas uma coisa de “seja bem-vinda”.
Eu não sabia se estava mentindo para o Igor, ou para mim mesmo. Não sei de
onde tirei a ideia de dar uma joia daquela para ela e eu sabia que, no fundo, era
demais. Mas, porra, eu estava me sentindo o cara.
— Não, tio. Safira e diamante é tipo “eu te amo” — ele replicou. — Você não é
um cara de “eu te amo”, a não ser que...
— Bebeu o que hoje, Igor? Ou voltou a usar drogas? Porque isso não é normal.
Foi apenas uma joia e uma festa importante. Ela tem que estar bem em um todo.
Não amor, apenas boa aparência.
Eu o cortei sem deixar que ele terminasse seu raciocínio. Igor ficou me olhando
sem entender.
Nem eu mesmo entendia o que estava dizendo, nem eu mesmo acreditava
naquela merda toda. Mas não era amor. Mesmo que parecesse, não era. Eu
queria só atormentar aquela cabecinha, deixá-la louca e sem rumo algum, e
estava dando certo. Ela iria ceder, mais cedo ou mais tarde. Sabia que ela pararia
de correr e de me evitar e viria direto para mim. Giovanna tinha razão. Talvez,
uma noite com ela descarregaria a tensão toda, e conseguiria levar a Mel por
mais um tempo no banho-maria. Giovanna estaria na festa e então poderia levá-
la para casa e ficar por lá mesmo o resto da noite. Isso soava como um bom
plano. Só tinha que atormentar minha criança um pouco mais.
— Era só isso, Igor? — questionei, impaciente. — Vamos voltar. Não podemos
ficar ausentes hoje por besteiras.
Levantei e passei pela mesa, Igor também se ergueu e segurou meu braço.
— Tio, não fode com ela. Melissa e só uma menina e todas que passam segundos
na sua cama acabam fodidas pelo resto da vida.
— Olha quem fala — ironizei. — Só porque está apaixonadinho acha que o
mundo mudou. Igor, eu vou dizer apenas uma vez, porque você deve ter
esquecido. Nunca me meti na sua vida além do que achei necessário, portanto,
não fique imaginando quem eu fodo ou deixo de foder. A porra do pau é meu e
espero que estejamos entendidos.
Soltei meu braço bruscamente de sua mão e saí. Era só o que me faltava, um
moleque que mal sabe o que é o mundo, querer me dizer quem devo e quem não
devo foder. Pelo amor de Deus!
Peguei um uísque e avistei Giovanna um pouco à frente no meu caminho.
Aproveitei que ela estava de costas e fui para o outro lado, afinal, não havia
necessidade de falar com ela naquele instante. A festa estava indo muito bem, eu
estava contente. Igor tinha conseguido contratos fabulosos. O garoto era ótimo
no que fazia e só me dava orgulho, mas não iria me embarreirar. Eu teria Mel
comigo em minha cama, completamente nua, antes mesmo que ele pensasse.
Rodei a festa por fora, desejando encontrá-la, mas não queria ser achado pela
Giovanna. Giovanna gostava dos holofotes e jamais sairia de perto de qualquer
máquina fotográfica ou filmadora.
Andei mais um pouco e encontrei meu alvo. Ela estava junto com uma turma
que continha duas moças e um rapaz que eu não conhecia. Eles riam muito, na
verdade gargalhavam. Tomei o resto do meu uísque e deixei o copo em uma
mesa próxima, me encaminhando até o grupo. Ela estava em pé, de costas para
mim, tentando falar coisas em italiano, e qual não foi minha surpresa quando tais
palavras eram xingamentos. Todos os possíveis e os piores também. Escondi um
sorriso quando ela tentou falar e repetia por diversas vezes “vadia”,
“vagabunda”, “piranha”, entre outros. Todos estavam eriçados quando cheguei
perto. As moças ficaram vermelhas e o rapaz, para minha surpresa, me olhou da
mesma forma que as meninas. Graziela ficou vermelha por ser quem ensinava as
palavras.
— Boa noite, senhoritas — disse com a voz grave e rouca. Estava próximo dela
e seu cheiro invadiu meu nariz, fazendo todo meu corpo acordar naquele
momento. Porra, ela estava me levando à loucura. Senti seu corpo ficar tenso
com a minha proximidade e todos responderam meu cumprimento, mas já não
me importava, também. — Vou roubá-la por alguns minutos — avisei. — Aceita
dançar comigo, Melissa?
— E-eu — ela gaguejou e peguei sua mão, seguindo para a pista de dança,
afinal, ela não tinha escolha alguma.
Os acordes de Witchcraft, de Frank Sinatra, soaram e não poderia ser uma
música melhor. Juntei seu corpo ao meu e deixei minha mão descer por suas
costas nua até a base onde acabava o vestido. Olhei em seus olhos e ela me
olhava fixamente. Dançamos no ritmo daquela música envolvente, a rodei por
todo o salão e logo a tensão tinha saído de seu corpo. Ela sorria e eu sorria para
ela.
— Você está linda, criança, e dança maravilhosamente bem.
— Obrigada pelas duas coisas, e obrigada pelas joias, mas não posso ficar com
elas. Devem ser muito...
— Silêncio — exijo. — Não vamos falar disso agora. Vamos curtir essa dança e
a próxima.
— Tá bom. E, bem, você não está tão mal, também.
— Um elogio, pelo menos. Mas prefiro quando estou magnífico, criança.
Ela ficou vermelha na mesma hora e eu sabia que era exatamente isso que ela
estava pensando.
— Eu já disse que não estava falando de você naquele momento.
— Sim, eu sei que não estava. — Sorri torto e ela revirou os olhos. — Quando
você faz essas caras, só me dá ainda mais vontade de beijar sua boca e deixá-la
toda quente e ofegante.
— Isso está virando uma mania feia, você não acha?
— Se é feia eu não sei, mas é bem gostosa e muito prazerosa.
Apertei seu corpo mais no meu, podendo sentir suas curvas se moldando ao meu
corpo. Começava a pensar como seria em cima de uma cama, mas reprimi esse
pensamento. Ela não precisava sentir meu pau dando o ar da graça. Dançamos
mais umas duas músicas, até ela dizer que estava cansada e com calor. Beijei sua
mão e agradeci pela dança. Um dos fotógrafos se aproximou e pediu uma foto.
Mel ia sair, mas a puxei de encontro ao meu corpo e a olhei. Ela sorriu e sorri de
volta. Tive que admitir que não havia ninguém além dela magnífica naquela
noite. Ficamos ali nos olhando por alguns minutos, até a gente se virar para que
o fotografo batesse a tal foto. Ele agradeceu e saiu, sorrindo com travessura e
voltando para perto de seus amigos. Permaneci no meio do salão a olhando e
sorrindo. Eu estava virando um idiota.
— Tio — Igor me chamou, se aproximando. Não o tinha visto desde que o
deixei plantado em meu escritório. Eu não tinha mais idade para escutar certas
coisas.
— Sim, Igor.
— Me desculpe por mais cedo. O senhor tem razão, não voltará a acontecer.
— Você quer proteger sua irmã e eu entendo, Igor, até acho a coisa mais sensata
a se fazer, afinal, o começo de vocês dois não foi bom. Mas eu sou grande o
suficiente para saber onde colocar o meu pé.
Era uma noite gloriosa. Nunca tinha mentido tanto na vida.
— Eu sei, tio. O colar me assustou. Mas sei que você não brincaria com alguém
tão próximo a nós dois. — Bufei, irritado. Na verdade, já estava numa
brincadeira bem gostosa com minha criança, então era melhor me calar e parar
de mentir. — Giovanna está como louca atrás de você, e aí vem ela.
— Então vamos por esse lado aqui.
Saí pelo lado oposto. Tudo estava bom demais para escutar Giovanna
ronronando meu nome o tempo todo. A noite seguiu agitada, fiquei em um canto
estratégico onde via cada passo da minha Mel, e ficava longe, bem longe, da
Giovanna.
Melissa dançou com o rapaz que convidou, depois com Igor. Não podia abordá-
la de novo para todo lado que ela ia. O leão de chácara da minha empregada ia
junto, ela estava feliz e às vezes sua mente e seus olhos vagavam pelo amplo
jardim, como se procurasse algo.
Em dado momento se afastou do grupo, sozinha, o que entendi que era minha
deixa. A segui até dentro da casa, ela foi para a cozinha e perguntou algo ao
garçom, que vinha com uma bandeja em suas mãos. Ele indicou o local e ela
seguiu. Estava indo ao banheiro, mas não iria me escapar dessa vez. Eu vi
quando ela entrou e parei perto da porta, esperando que ela abrisse, e qual não
foi a surpresa dela quando me viu parado ali. Seu rosto tornou-se vermelho e
seus olhos dilataram quando puxou uma respiração fundo.
— Eu vim jogar uma água no rosto, está quente.
— Agora vai pegar fogo, criança — determinei.
A empurrei mais para dentro do banheiro e fechei a porta atrás de mim. Ela
estava perto da bancada e tudo que pude fazer foi sorrir. Eu teria o que vinha
almejando, pois era o dia perfeito. Quem daria conta do nosso sumiço? Me
aproximei mais e ela espalmou a palma das mãos em meu peito.
— Eu acho que você deveria abrir aquela porta e me deixar sair.
— Eu acho — disse, segurando seus pulsos, tirando do meu peito suas mãos.
Segurei com uma das mãos seus braços atrás de seu corpo, me inclinei e passei a
língua pelo seu pescoço, indo até sua orelha. — Eu acho que você quer isso tanto
quanto eu, criança.
Enrosquei minha mão entre seu cabelo, segurei firme trazendo sua boca até a
minha. No início ela resistiu, mas sempre era assim. Depois que enfiava minha
língua em sua boca ela relaxava, então invadi sua boca com minha língua com
intensidade. Ela puxou os braços e a deixei se soltar do meu aperto. As mãos de
Melissa foram direto para meu cabelo. Ela retribuiu meu beijo com a mesma
intensidade, chupei sua língua, minhas mãos passaram pelo seu corpo, apertei
mais meu corpo no dela e fui puxando seu vestido até ele estar enrolado em sua
cintura. Apertei-lhe a bunda e a levantei, sentando-a na bancada. Puxei seu corpo
de encontro ao meu, fazendo nossos sexos se encostarem. Mexi meu quadril e
ela gemeu ao me sentir tão duro.
— Sente, Mel — pedi. — Eu quero você... estou tão duro por você.
Mordi seu lábio e puxei, a olhando, roçando nossos sexos. Ela gemeu, rolando os
olhos, perdida no prazer que o atrito de nossas roupas causava. Continuei a me
movimentar como se a fodesse mesmo estando de roupa, tomei sua boca na
minha novamente num beijo urgente. Ela gemeu na minha boca quando apertei
suas coxas, subindo a minha mão até a lateral de sua calcinha. Puxei a lateral e
não demorou a estourar. Parecia mais uma tira do que uma calcinha. Aquela
porra não cobria nada. Olhei para o pequeno pano na minha mão e sorri,
colocando em meu bolso.
— Hum... por que não ficou sem essa tira? Teria ajudado muito.
Ela ia falar alguma coisa, mas voltei a beijar aquela boca que já estava virando
um vício. Foi um beijo mais lento, no qual acariciava sua língua com a minha,
enquanto minha mão encontrava o centro das suas pernas. Quando meu dedo
tocou aquela boceta toda molhadinha e pronta para mim, não consegui reprimir
um gemido. Mel chupou minha língua, deixando o beijo mais intenso. Com meu
dedo circulei seu clitóris em uma carícia leve, e ele pulsava, implorando por
atenção. Escorreguei meu dedo e fui enfiando lentamente em sua boceta, com o
meu dedão pressionava seu clitóris fazendo círculos. A boceta dela estava
encharcada, por isso não tive dificuldade em acomodar dois dedos dentro.
Aumentei o ritmo com o dedo em seu clitóris, a respiração dela estava ofegante.
Melissa se afastou, mordendo meu lábio e puxando. Ela choramingava meu
nome, seus quadris movendo-se junto com os meus.
— Vou te foder tão duro que quando você sentar, vai lembrar quem te levou a
gozar tão gostoso.
— Lucca, eu vou... Ahhh... — ela gemeu mais alto, seu corpo tencionando.
Xingou um palavrão e gozou, se desfazendo à minha frente. Continuei a mover
meus dedos até as ondas do orgasmo deixarem seu corpo, ela me olhou e sorriu,
satisfeita. Não tinha visão melhor no mundo que aquela. Ela estava linda, toda
aberta, suada, o rosto ainda mais corado e o cabelo uma bagunça. Ela sorria e eu
sabia ela era minha e não tinha mais volta.
— Agora quero sentir como é bom estar dentro de você.
Ela saiu e se sentou na bancada, a mão indo para o cós da minha calça, me
puxando para si.
— Agora eu que quero sentir se você é mesmo tudo isso.
Melissa mordeu meu lábio, passando a língua pelo inferior, assim como eu já
havia feito com ela. Tomou minha boca na sua em um beijo totalmente quente,
meu pau pulsava de tão duro. A mão dela desceu e apertou meu pau por cima da
calça, gemendo em aprovação ao sentir o quanto ele estava duro por ela. Achei
que gozaria na calça, afinal, estava na borda. Ela voltou sua mão ao cinto e
começou a desafivelar, seguindo para abrir o botão da calça. Desci um beijo pelo
seu pescoço, dando algumas mordidas e lambendo, até que minha calça caiu aos
meus pés.
— Vai, baby. Estou louco para estar bem fundo em você.
— Não vejo a hora de sentir você dentro de mim.
Me afastei o bastante para poder pegar a camisinha no bolso da calça, sua mão
ainda apertava meu pau, dessa vez por cima da cueca. Aquela porra ia ter que ser
rápido e com força para saciar nós dois. Quando a mão dela parou no cós da
boxer, a olhei com confusão, até que bateram novamente na porta.
— Mel, amiga, você está aí? Já te procurei pela casa inteira. Porra, que casa
enorme! — a voz do lado de fora disse.
— E-eu estou saindo. — A encarei ainda mais confuso, e ambos olhamos para
onde sua mão estava.
— Você não pode me deixar assim.
— Eu preciso ir agora. É a minha amiga, ela está esperando por mim e... Ah,
merda eu tenho que ir!
Melissa me empurrou, descendo da bancada e arrumando o vestido no lugar.
Olhou no espelho e tentou a arrumar o cabelo, mas, por fim, optou por um coque
bagunçado. Ela foi em direção à porta e eu segurei seu braço, ainda não
acreditando que ela me deixaria a ponto de gozar.
— Foi um prazer, senhor Marconni.
E assim ela saiu.
Ainda pude ouvi-la dizer para a amiga não entrar porque uma das convidadas
estava passando mal e já havia vomitado tudo. Enquanto eu, estava em um
banheiro feminino, com as calças, literalmente arriadas, morrendo de tesão. Não
poderia sair daquele modo. O jeito era me aliviar sozinho mesmo.
É, meu amigo, somos só nos dois.
Tranquei a porta e me virei, baixando minha boxer e segurando minha ereção.
Passei o dedo pela cabeça, espalhando o pré-gozo, começando a me estimular
com o pensamento na maldita que havia me deixado naquela situação. Apertei
meu pau e passei a movimentar minha mão ainda mais rápido. Pude sentir
quando o primeiro jato de prazer saiu, caindo na lixeira que estava próxima.
Apoiei a mão na parede e fui voltando a controlar a respiração. Enquanto me
limpava, pensei no quanto Melissa estava perdida na minha mão. Ela pagaria
caro pela brincadeirinha.
O resto da noite realmente não foi bom. Estava frustrado, cheio de tesão e tinha
que ficar arrumando a calça e manter as mãos no bolso para esconder o tamanho
da minha ereção. Mesmo tendo me masturbado, de nada adiantou. Não era
minha mão que meu amigo desejava. Ele estava sonhando com um lugar bem
diferente.
As pessoas começaram a ir embora já passava das duas da manhã. Mel
continuou com seus amigos e Graziela devia ter se recolhido, porque eu não a
tinha visto mais. Estava entrando em casa, subiria para descansar um pouco,
porém, Giovanna tinha planos diferentes.
— Lucca, meu amor... Aonde você estava à noite toda.
Dei o meu melhor sorriso e me virei, ela estava com uma taça na mão.
— Marconni! — relembrei. — Sabe como é... Muita gente, muito difícil de
conseguir falar com todos.
Ela espalmou a mão em meu peito, alisando-o.
— Não importa, amor. Te encontrei no melhor momento. Vamos subir?
— Giovanna, eu... Sabe que tenho que...
Fui interrompido com um vulto loiro de vestido azul que afastou a Giovanna um
tanto bruscamente. Sua boca colou na minha e sem demora a língua serpenteou
para dentro da minha boca. Fui pego de surpresa, mas logo a abracei e a beijei
com a mesma intensidade. Ela mordeu meu lábio e puxou, se virando para
Giovanna em seguida.
— E la mia cagna — declarou Melissa.
Como ela aprendeu a falar tão rápido uma frase em italiano?
O queixo de Giovanna caiu e rolou. Ela ficou vermelha e pareceu que sairia
fumaça de sua face. Mel a olhou de novo e bateu na taça, derrubando tudo sobre
Giovanna. Tentei reprimir o riso, mas foi impossível.
— Marconni — Giovanna ralhou, saindo como um foguete. Mel ia subindo
rápido as escadas, eu corri atrás e tentei a alcança-la, mas quando cheguei à porta
e tentei abri-la, estava trancada.
— Melissa, abra a porta!
Bati mais uma vez, mas não tive resposta.
Porra de mulher! Ia me deixa louco. Saí e fui para o meu quarto, direto para o
banheiro, onde tomei um banho e me masturbei novamente. Eu tinha voltado à
adolescência.
Ah, Marconni. No que você se transformou?
Saí do banho e fui para o closet, vesti um jeans surrado, uma camiseta, e peguei
a jaqueta, completando com minha bota. Na garagem, montei em minha Harley,
precisando limpar a mente. Ainda bem que o domingo havia chegado e tudo
sempre ficava calmo. Era o dia em que sentia minha alma em paz.
Capítulo 10
Melissa Ferraz

Eu estava deitada em uma das almofadas do deque da piscina, ainda pensando


em tudo que tinha acontecido na noite passada. Não sabia quanto tempo fiquei
olhando para o nada, a imagem daquela loucura no banheiro ainda estava vívida.
Poderia senti-lo em cada parte do meu corpo. Lucca havia me levado à loucura, e
se não fosse Clara chegar na porta do toalete naquele momento, eu teria caído
em seus encantos. Era definitivo. O homem era quente como o inferno, e me deu
um orgasmo que jamais esqueceria. Ele apagou da minha mente tudo que um dia
pensei que era prazer, simplesmente me levando ao auge. Aquela expressão “irei
te levar aos céus” cabia como luva, porque ele me levou além disso. De qualquer
forma, ainda não sabia como saí do banheiro. Para coroar a noite, ainda xinguei
a Susy plastificada — que mulher odiosa. Eu havia sentindo dó dela naquele
mesmo dia. Mas de dó, passou para raiva, e foi tão rápido... A mulher era uma
puta de fábrica e de caráter, e, pior ainda, talvez não devesse nem comparar com
putas, porque putas pelo menos têm caráter, coisa que essa mulher não tinha.
Clara disse que se não fosse Igor chegar naquele momento, Giovanna não teria
parado de humilhar a Grazi. Mesmo assim, Grazi optou por se recolher. Aquele
italiano tarado monopolizou todo meu tempo e não pude defender minha amiga,
mas pelo menos estraguei seus planos quando entrei na sala onde eles estavam.
Quis morrer ou matar alguém com aquela cena patética diante dos meus olhos.
Ela estava com a mão em seu peito e o safado ostentava um sorriso de molhar a
calcinha. Que ódio me deu. Ele estava com minha calcinha em seu bolso,
querendo conseguir outra. O álcool correu pelas minhas veias mais rápido que
meus pensamentos, e quando percebi, já o havia beijado e jogado todo o
conteúdo da taça em cima dela. Só ouvi sua gargalhada em seguida. Subi o mais
rápido possível e me tranquei no quarto. Ele bateu em minha porta pouco tempo
depois, mas continuei muda e sem atendê-lo. Marconni não me perdoaria por ter
feito aquilo. Ainda por cima disse que ele era meu.
Por Deus! Aquela merda não poderia ser pior.
— Ei, você.
Sorri quando me virei e vi Igor se aproximando. Ele tinha um corpo bonito, era
magro, mas muito bem definido. Estava de bermuda, sem camisa, o sorriso
poderia iluminar qualquer coisa, até uma cidade inteira. Ele se deitou ao meu
lado.
— Boa tarde, gato, como está? Você me parece tão feliz. — Ele também sorriu e
se inclinou para beijar meu rosto.
— Quanto tempo ninguém me chamava assim.
— Mamãe sempre te chamou assim — lembrei a ele. — Ela dizia que você era
como um gato, esperto e manhoso.
— Você lembra disso?
— Como não vou lembrar? Foi uma das últimas coisas que a ouvi dizer.
— Sua mãe era maravilhosa. Pena que se apaixonou pelo cara errado.
— Talvez não. Afinal, você precisava dela, que acabou sendo o seu anjo.
— É sim — concordou ele. — Ela era muito boa comigo, mesmo eu sendo ruim
com você.
— Mas isso é passado. Quero saber quem é a responsável por esse sorriso do
gato da Alice em seu rosto.
— Está tão na cara assim, pirralha?
— Sim, está escrito na sua testa. Anda, desembucha!
A tarde seguiu assim. Igor me contou tudo sobre sua quase namorada,
demonstrando estar perdidamente apaixonado, e eu gostaria muito conhecer a tal
moça. Ele disse que Grazi havia pedido para ter seu dia de folga, já que no
domingo Marconni não era visto pela casa. Eu queria saber o que ele fazia em
um domingo. Igor desconversou e não disse nada, me chamou para assistir um
filme com ele, fez a pipoca e assim passamos um tempo juntos. O filme era um
de comédia antigo que eu ainda não conhecia. Mas ainda que sendo italiano e de
época, nunca ri tanto. Assistimos apenas com a legenda. Igor disse que, quando
chegou à Itália, era o que ele mais assistia, mesmo sem entender nada. Segundo
ele, trazia a felicidade quando as lembranças ruins tomavam conta.
Depois do filme, subi para meu quarto, tomei um banho e fiquei mexendo na
internet até começar a me dar sono. Resolvi descer até a cozinha para pegar um
pouco de água para a madrugada ser tranquila, vestindo apenas minha camiseta
do Mickey e um shorts de lycra. Não queria ser pega, de novo, sem calcinha.
Estava inclinada para pegar uma garrafa na geladeira, quando uma voz soou
atrás de mim, fazendo-me dar um pulo.
— Estou começando a achar que você veio parar aqui a fim de acabar com o
pouco de sanidade que eu ainda tenho.
Antes de me virar, inspirei profundamente, salivando com a visão que tive. Ele
estava simplesmente maravilhoso, parecia um rockeiro rebelde e sem causa. O
cabelo numa perfeita bagunça só o deixava ainda mais sexy enquanto acariciava
o pau. Ele soltou um risinho baixo, me trazendo de volta à consciência, tirando
os pensamentos pecaminosos que começavam a se formar em minha mente. Fui
até a pia e peguei um copo que ficava nos armários logo em cima.
— Eu não sei do que você está falando — menti. — Nem queria estar aqui.
Me servi de suco, mas logo senti seu corpo rente ao meu. Lucca começou a roçar
sua grande ereção em minha bunda, a mão segurando firme meu cabelo, o
puxando com força. Arqueei minhas costas, deixando o corpo dele se encaixar
ao meu.
— Sabe, criança, acho que vou ter que lhe ensinar muitas coisas, porque sei que
você quer, tanto quanto eu, estar aqui agora, desse jeito, podendo sentir meu
corpo no seu. Quando eu enterrar meu pau tão fundo em sua buceta, você vai
parar de ter dúvidas sobre onde é o seu devido lugar.
Ele sussurrou cada palavra no pé do meu ouvido, puxando ainda mais o meu
cabelo para que pudesse ter acesso a minha boca. Empurrou meu corpo contra a
pia e beijou-me intensamente, sua língua passando por cada canto da minha
boca, enquanto ele pressionava sua ereção grande e dura na fenda da minha
bunda. Gemi na sua boca quando ele chupou minha língua, sentindo suas mãos
começaram a entrar pelo cós do meu shorts, quando meu nome foi dito por
alguém. Lucca saiu rapidamente de trás de mim e abriu a geladeira, enfiando a
cara dentro dela.
— Mel, até quem enfim te achei — Igor disse, entrando na cozinha. — Tio, já
está em casa? — Dessa vez se dirigiu ao Lucca, olhando no relógio de pulso. —
Meio cedo para um domingo.
— Pois é, Igor. Estava cansado da festa, nem dormi ainda, sabe como é... Festa,
beijos e mãos, copos derrubando uma coisa ou outra. — Ele me olhou e sorriu,
passando por mim. Já perto de Igor, murmurou algo para ele, bagunçando-lhe o
cabelo e saindo da cozinha.
— Você está bem? — Igor perguntou, encostando na pia ao meu lado.
— Sim, por que não estaria?
— Se ele estiver deixando-a desconfortável, é só dizer.
— Não é isso. Só que é tudo diferente e às vezes é complicado assimilar, sabe?!
Disse a primeira coisa que veio em minha mente, pois eu já nem sabia se aquilo
era um incômodo ou não. Tudo que sentia naquele momento era vontade de
subir e acabar de uma vez com tudo, escapando de todo o fogo que me
consumia. Teria que tomar mais um banho gelado, o que já estava virando rotina.
— Entendo — falou Igor, em concordância.
— Mas então, o que te fez me caçar pela casa toda?
— Eu achei alguns CDs e livros na biblioteca que vão te ajudar a aprender o
idioma daqui, e eu irei te ajudar também, junto com as aulas. Em um mês e
meio, no máximo, você estará entendendo praticamente tudo.
— Vocês têm uma biblioteca aqui? — Ele me encarou com um sorriso. De tudo
que havia falado, o que escutei foi a palavra “biblioteca”.
— Sim, temos. Vem comigo. Vou lhe mostrar.
Fomos até a sala e seguimos para um canto atrás da escada, onde havia uma
porta. Ele a abriu e me deu espaço para que entrasse. O lugar não era grande,
porém, as estantes iam do chão ao teto. Eram muitos livros, tinha um aparelho de
som, uma poltrona, um sofá, uma mesa e uma cadeira, nada mais. As paredes
pareciam torres de livros sem fim e eu me sentia maravilhada com aquela cena
diante dos meus olhos. Era simplesmente lindo. Andei tocando alguns livros e
olhando os títulos, todos em italiano, fazendo meu ânimo murchar bastante.
— Esses daqui são com títulos em português, e alguns traduzidos também — ele
explicava, apontando uma das estantes. — Tem tudo que imaginar, desde
Monteiro Lobato a Paulo Coelho, passando por romances, entre outros. Vem dar
uma olhada nesses, são os que estava te falando.
Me aproximei e ele começou a me mostrar tudo que havia separado.
Passamos a próxima hora assim. Ele me mostrou muitos livros e me deu alguns
CDs, disse que se precisasse era só o procurar que ele me ajudava sem problema
nenhum. Subimos juntos para o quarto, o sono já estava me rondando, demos
boa-noite e ele entrou para o quarto dele e eu no meu. Estava tudo escuro e ao
acender a luz do quarto, me deparei com ele deitado na cama. Estava com o
braço por cima dos olhos e a outra mão espalmada no abdômen. Respirava
calmamente e parecia dormir. Ao me aproximar devagar, notei que ostentava
apenas um samba canção e tinha as coxas grossas de fora. Parei ao lado da cama
e o chamei, mas não respondeu. Cutuquei seu peito, ele agarrou meu pulso e me
puxou, acabei caindo em cima do seu grande corpo, soltando um gritinho de
surpresa. Lucca virou nossos corpos juntos, se pondo em cima de mim, sorriu
quando tirou o cabelo do meu rosto.
— Pensei que não subiria mais. Estou aqui há horas.
— O que está fazendo aqui? — perguntei. — E pior, está nu.
— Eu estava te esperando. E não estou nu, mas posso sempre ficar.
— Você é um tarado, sabia?! Não pode me ver que sai me agarrando —
resmunguei. — Agora saia de cima de mim e fora do meu quarto.
Ele apenas gargalhou, me olhando, e o mais absurdo é que ficava ainda mais
delicioso rindo assim.
— Eu saio de cima de você, mas não vou embora. Vamos dormir juntos hoje —
decretou.
— O quê? — praticamente gritei. Ele não podia estar falando sério.
— Isso que ouviu. Você foi até meu quarto porque procurava conforto.
— E você veio aqui por que quer conforto? Praticamente nu e com essa ereção
pressionando minha coxa?
— Só conforto, prometo.
— Você não vai tentar transar comigo?
— Prometo que não tentarei nada. Pelo menos por hoje, iremos só dormir. Se
você prometer ficar quieta e sem gritar, porque daqui a pouco o Igor pode estar
aqui.
— Ele não viria até aqui.
— Ele sempre viria para socorrer a criança em defesa.
— Sai de cima de mim, vai. — Ele apenas rolou para o lado, e eu me levantei.
— Você fica, mas se mantenha longe de mim.
Lucca apenas sorriu, passando a mão pelo próprio peito. Fui até a luz e a
apaguei, deitando na cama o mais longe possível dele.
— Você quer conversar sobre isso que o trouxe até aqui?
— Não é necessário.
— Às vezes, falar ajuda. Desabafa.

Estávamos deitados, um olhando o outro. Ele apenas me observou por alguns


minutos antes de falar:
— Obrigado pela preocupação, mas está tudo bem.
— Boa noite, então.
Virei, me ajeitando na cama para dormir. Sua mão passou pela minha barriga e
me puxou para perto dele. Ele inspirou meu perfume com o rosto enterrado em
meu cabelo.
— Agora, sim, boa noite — ele disse.
Simplesmente fiquei esperando, olhando para o teto, não entendendo sua atitude.
Mas não contrariei. Com o tempo percebi que não adiantava contestar, ele era
igual criança birrenta. Não sei quanto tempo passei acordada, meus olhos logo
pesaram e me deixei levar pelo sono.
Acordei com Summer, do Calvin Harris, enchendo o quarto. Era muito bom
acordar na batida das músicas do Calvin. Já levantava no ritmo. Me virei e a
cama ao meu lado estava vazia. Uma pontinha de desapontamento surgiu, mas
empurrei-a para bem fundo, afinal, ele queria dormir aqui e conseguiu. Eu só
queria entender o porquê disto. Me levantei e fui para o banheiro, tomei um
banho e fui para o closet, coloquei um jeans com uma blusinha e um sapa tênis.
Peguei a mochila e desci para a sala de jantar. Eu ainda não tinha encontrado
com a Grazi depois da festa. Marconni já tomava seu café e lia seu jornal, mas
diferente dos outros dias, ele não usava um terno. Na verdade, estava pronto para
ir malhar. Já Grazi estava como sempre, trajada em seu uniforme e prostrada ao
lado da mesa a fim de atender tudo que ele solicitasse.
— Bom dia, Lucca, Bom dia, Grazi.
Sorri para ela, que sorriu de volta, vindo servir um pouco de suco e café para
mim. Marconni me deu bom-dia, mas continuou entretido com sua leitura.
Comecei a comer o que Grazi havia me servido, e permanecemos em silêncio o
tempo todo. Seja lá o que ele estava vendo, parecia muito interessante.
— Vocês precisam ver isso — Igor disse, adentrando o cômodo com um tablet
na mão, morrendo de dar risada. — Saíram as fotos da festa de sábado.
Marconni baixou o jornal e se virou, e eu podia jurar que ele escondia um
sorriso.
— Qual a crítica do evento, Igor? — ele perguntou.
— As críticas são as de sempre, tio, mas todas muito boas. O interessante é a
foto de vocês dois que está rolando na rede. Está em todos os lugares. Revistas,
blogs, jornais... todos os tabloides estão noticiando.
Igor mostrou uma foto, virando o tablet para que víssemos também. Era uma
foto de nós dois, de quando nos olhávamos depois de dançar. Eu me lembro que
o fotógrafo pediu uma foto, eu ia sair de fininho, mas ele me puxou de volta. Em
um quadro pequeno ao lado, em cima da foto, tinha uma da Susy plastificada.
— O que está escrito aí? — perguntei, embora para mim parecesse uma foto
normal.
— “O italiano mais cobiçado de toda a Roma, desfilou com sua nova conquista
na festa realizada na mansão dos Marconni, nesse sábado. A festa foi promovida
para festejar o fechamento de grandes parcerias no lado americano do mundo,
mas o que anda “bombando” na web é essa foto. Ninguém sabe quem é a moça,
mas, fontes seguras afirmam que ela está morando na mansão e foi vista por aí
com o príncipe de Roma. A socialite Giovanna também foi vista nas
dependências da mansão, mas em momento algum ao lado de Marconni. Será
que a loirinha roubou o posto da morena? Será que nosso italiano foi finalmente
fisgado?”
Minha boca caiu aberta e rolou.
Nova conquista? De onde tiraram isso?
Igor trocou a foto, indo para outro site, o qual tinham mais fotos, continuando a
ler a manchete que dizia: “O nosso italiano finalmente foi fisgado por uma
misteriosa loira que estava na festa, na mansão dos Marconni. Ele está ou não
está com cara de apaixonado?”.
Quando procurei por Lucca, percebi que ele me olhava com atenção. Minha vista
baixou, indo até a primeira página do jornal. Tinha uma foto minha sozinha e
outra ao lado dele. Dessa vez olhávamos para o fotógrafo.
— E o que está escrito aqui? — questionei, olhando sua cara de satisfação.
— “O italiano mais cobiçado, o rei dos hotéis, se dedicou a apenas uma pessoa
na noite de sábado. A loira ainda misteriosa parece ter dado um jeito no rei dos
hotéis. Marconni não foi visto dançando ou circulando com outra mulher, nem
mesmo com a linda socialite Giovanna, que estava linda como sempre e presente
no local. E então, quem será a tal loira que roubou o coração do nosso Italiano?”
Eu estava abismada com as notícias sobre minha pessoa, enquanto os dois
morriam de dar risada. Igor puxou uma cadeira e se sentou. Ele não parava de ler
as notícias sobre a festa. Terminei meu café da manhã e pedi licença da mesa,
desejando a eles um bom-dia.
Saí para a escola chocada com tanta coisa que saiu sobre mim. No carro, todas
aquelas informações bombeavam em minha cabeça. Não demorou muito para
chegar na escola, ou eu me desliguei tanto que parecia que o caminho tinha
encurtado.
— Mel, você se sente bem? Está tão quieta.
— Sim estou ótima — respondi ao motorista, dando um sorriso amarelo.
Encontrei Leo logo perto do portão de entrada. Ele parecia um tanto agitado, e
assim que me avistou foi ao meu encontrando, me para dentro da escola e depois
para um lado menos habitado.
— O que deu em você? Não precisa me arrastar assim.
— Que porra deu em você, flor, de aparecer aqui hoje?
— Hoje tem curso, por que não viria?
— Você não viu suas fotos que estão circulando por aí? Você e o Lucca tesudo,
gostoso, maravilhoso Marconni.
— É claro que vi, mas são apenas fotos. Você sabe que nada daquilo é
verdadeiro.
— Gata, eu sei, mas os outros que não sabem. Você virou tipo a celebridade
instantânea — explicava ele. — Está todo mundo querendo saber se esse namoro
é de verdade.
— Saco — resmunguei e avistei as meninas vindo ao nosso encontro.
— Amiga, eu acho melhor você não entrar na sala. Eles estão feito urubus atrás
da carniça — avisou Clara.
— E o que vamos fazer? Onde vou ficar até o Carlos voltar?
— Liga para ele voltar.
— Mas eu não tenho o número dele.
— Já sei! Vamos até a secretaria. Eles devem ter o contato de alguém da casa.
Leo teve a ideia e foi me levando. Quando passamos pelo corredor, o buchicho
estava grande e todos me olhavam como se eu fosse alguém importante.
Conseguimos chegar quase até a secretaria, quando um cara se aproximou e
começou a falar italiano comigo. Outro veio com o celular na mão e tirava
algumas fotos, enquanto Leo fazia de tudo para me tirar daquela confusão que se
juntava ao nosso redor. Todos falavam muito rápido e juntos. Eu já nem entendia
mais e nem de onde vinham tantas coisas. Meu amigo conseguiu me arrastar até
entrarmos dentro da secretaria. A mulher se ergueu, assustada, perguntando o
que estava acontecendo, o que foi Leo quem explicou, porque eu simplesmente
não achava minha voz. Joguei-me em uma cadeira e parecia estar em órbita.
Alguém me estendeu um copo d’água e eu o tomei, ainda tremendo feito vara
verde.
— Gata... Vem, amor. Eles já estão aí para te pegar.
Me levantei como pude até que a porta estourou aberta, e aquele homem entrou
como um furacão dentro da sala, vindo até mim.
— Caramba, Mel, você está pálida. Vem! Levarei você para a casa.
Ele me abraçou, segurando meu corpo junto ao seu. Eu sabia que devia me
afastar, mas minhas pernas estavam muito bambas. Ele perguntou para o Leo o
que havia acontecido e meu amigo foi explicando enquanto nos
encaminhávamos para o carro.
Estava tão assustada que me encolhi no banco do automóvel. Com o carro em
movimento, eu apenas olhava tudo passando. Fechei meus olhos, não querendo
olhar nada, não querendo pensar em nada.
— Mel, chegamos — Lucca anunciou, se inclinando para me ajudar a sair do
carro. Ele me pegou no colo e entrou em casa. Continuei com os olhos fechados,
tentando absorver o furacão inesperado, até que senti que estava sendo posta em
uma cama macia. — Você precisa de alguma coisa?
— Eu preciso. Preciso que você suma daqui. Preciso que você pare de me beijar
a todo momento, preciso que você me deixe em paz. Eu não sei o que você quer
comigo, mas me deixe em paz.
Eu esbravejava, mas sua boca bateu na minha tão rápido quanto um pensamento.
Ele me beijou em uma intensidade fora do normal e o corpo estava em cima do
meu no momento seguinte. Deixei me levar pelo beijo e me perdi, mais uma vez,
naquele homem.
Capítulo 11
Lucca Marconni

Ela estava lá, toda fragilizada e assustada, nem parecendo a minha criança de
sempre. Eu estava acostumado com toda essa fama que inventaram para mim,
essa importância sem medida que haviam me dado, afinal, eu era apenas um cara
que não queria me prender a ninguém. Isso não havia me incomodado em
momento algum. As fotos que saíram na mídia, de certa forma, me fizeram feliz.
Estava linda e radiante, bem como segura em meus braços. Seu sorriso
demonstrava o quanto ela parecia bem de estar ali comigo.
Não percebi em um primeiro momento o quanto aquilo havia a afetado, até o
meu celular tocar com a direção do colégio pedindo para que comparecesse até a
escola para buscá-la. Ela estava assustada e, pelo que entendi, não tinha outro
assusto na escola, a não ser as tais fotos. Por isso ela se encontrava à minha
frente, gritando histericamente, mandando eu sair e parar com tudo, mas eu não
podia. De maneira nenhuma eu iria recuar, então fiz a minha jogada, afinal, era
tudo ou nada. Se eu saísse do quarto naquele instante, iria me afastar. Mesmo se
depois do que fosse acontecer, ela me mandasse embora, pelo menos eu teria
matado o que estava me matando.
Não pensei duas vezes e a beijei, calando-a de uma vez por todas. Eu não
recuaria. A teria e sentiria seu gosto como sempre quis sentir. Ela demorou a
corresponder o beijo, mas logo suas mãos foram para meus cabelos e ali eu sabia
que tinha quebrado toda aquela tensão que ela estava sentindo. Abracei sua
cintura, erguendo seu corpo, deitando-a com cuidado e cobrindo seu corpo com
o meu. Minha língua serpenteava dentro da boca dela e eu a chupei,
pressionando minha ereção em sua boceta. Ela gemeu em minha boca e o som
reverberou por todo meu corpo. Afastei-me o bastante para me livrar de sua
blusinha e da minha camiseta, mas logo voltei a beijá-la, mordendo seu lábio e
puxando-o. Desci com pequenos beijos pela sua mandíbula até seu pescoço,
beijei, chupei e mordisquei, traçando um caminho com a minha língua até o
início do seu sutiã, mordendo a parte superior de seu seio. A ergui um pouco e
lhe tirei o sutiã enquanto dava alguns beijos, revezando entre seu queixo e seus
lábios. Voltei ao pescoço, onde espalhei beijos e pequenas chupadas. As mãos
dela espalmaram meu peito e ela gemeu quando mordi o lóbulo de sua orelha.
— Por favor... Ah... Você não... Para. — Sua voz era coberta de desejo,
denunciando o quanto ela me queria, mas ainda estava pensando nas
consequências.
— Eu sei que você quer — eu disse, sussurrando em seu ouvido. — Me deixa
senti-la, me deixa te ajudar a esquecer tudo. — Segurei os seios dela com as
mãos, rolando seus mamilos já duros pelos meus dedos. — Deixe-me levá-la
onde jamais você já foi, Melissa.
— Lucca.
Ela gemeu meu nome e puxou meu cabelo para que olhasse dentro de seus olhos.
As pupilas de Melissa estavam dilatadas, num verde incrível, e acho que nunca
tinha visto algo tão perfeito e maravilhoso. Sua boca tomou a minha com
intensidade e ela me beijou com total entrega. A deitei novamente e ela havia
cedido mais uma vez. Agora não iria perder tempo. Estava louco para sentir seu
gosto. Chupei cada um dos seios, abocanhando um dos mamilos rosados e
durinho, por onde minha língua deslizou em círculos. Enquanto mordia um
mamilo, fitei seu rosto. Ela estava de olhos fechados, o lábio inferior no cativeiro
de seus dentes. Troquei de mamilo, dando o mesmo tratamento a ele. Soltei seus
seios e comecei a desabotoar sua calça, abaixando-a o bastante para que tivesse
acesso livre à sua boceta. Acariciei por cima da calcinha que já estava molhada,
podendo sentir sua excitação. Eu estava dominado pela vontade de tomar o
corpo dela para mim.
Quando me desfiz dos sapatos e meias de Melissa, erguendo-lhe as pernas, tirei a
calça por completo, dando pequenos beijos em cada parte de sua pele branca que
ia ficando visível. A próxima a deixar seu corpo foi a calcinha, que me permitiu
voltar a salpicar beijos pela extensão de suas pernas até a linha do joelho. Já
sentia o cheiro de sua excitação, o que estava me deixando maluco. Meu pau
apertava dentro da calça, implorando por libertação. Chegando em sua
intimidade, passei meu dedo para separar os lábios de sua boceta que brilhava de
tão excitada que ela estava. Minha língua tocou seu clitóris, fazendo o corpo dela
vibrar. Embalado pelo prazer, chupei, pressionando minha língua e fazendo Mel
arquear as costas. Segurei firme em sua cintura, a mantendo parada, e chupei
com mais vontade ainda. Minha língua não parava seus movimentos. Seguidas
de algumas chupadas, subi umas das mãos, alcançando o seu seio e apertando-o
com força. Passei minha língua por toda sua boceta, voltando a dar atenção ao
seu clitóris, notando o corpo dela tensionar. Melissa tentou fechar as pernas e ela
xingou alguma coisa, segurando firme em meu cabelo. Seu quadril dava
pequenas reboladas enquanto minha língua a lambia, fazendo círculos em sua
intimidade. Ela se deixou levar em um orgasmo intenso, o corpo se contorcendo
enquanto ela perdia as forças sob minha língua.
— Humm... Você é uma delícia! Poderia passar o dia assim, só chupando essa
sua boceta gostosa, mas agora irei fodê-la de um jeito que você jamais vai
esquecer.
Peguei minha carteira e tirei algumas camisinhas que estavam lá dentro. Ela se
sentou, abrindo minha calça, a língua correndo por minha barriga, dando
algumas mordidas de leve. Minha calça caiu junto com a minha boxer, então ela
apertou meu pau, passando o dedo pela cabeça e limpando o pré-gozo. Os olhos
de Melissa fitaram os meus, e com uma expressão safada no rosto ela passou a
língua por seu dedo, o chupando. Pensei que iria gozar naquele momento. Porra,
ela era perfeita! Toquei seu rosto e segurei-lhe queixo, me inclinando para beijá-
la com mais cuidado e carinho, colando minha testa na dela, chupando seu lábio
e mordendo-o de leve. Ela sorriu quando se deitou e suas mãos apertaram os
seios, apertando os próprios mamilos. Coloquei uma camisinha e em seguida
passei meu pau por sua boceta, enfiando-me lentamente nela, que gemeu,
deliciada, ao sentir-me.
Mel era apertada, quente, escorregadia... Porra, sentia meu pau vibrar dentro de
sua boceta! Me inclinei por cima dela e chupei seu mamilo quando comecei a me
movimentar dentro dela. Suas pernas cruzaram em volta da minha cintura,
permitindo-me ir ainda mais fundo. Comecei lentamente, mas logo peguei o
ritmo, dando estocadas rápidas. Ergui meu corpo para olhá-la, seu quadril
investindo contra minhas estocadas. Coloquei uma de suas pernas sobre meu
ombro e comecei a estocar com força, me inclinando e a deixando ainda mais
aberta. Com a mão apertava seu seio, passando minha língua por seu lábio e a
beijando. Ela gemeu em minha boca quando diminuí a intensidade das minhas
estocadas, que passaram a ser lentas e profundas.
— Que boceta deliciosa. Você é tão apertadinha. Vou gozar tanto, amor. — Ela
apertou meu pau, me sugando ainda mais para dentro. — Caralho, amor, porra!
— resmunguei, erguendo meu corpo, voltando a investir contra sua boceta em
um ritmo mais rápido e forte. Levei minha mão até seu clitóris e comecei a
acariciar. Estava duro e delicioso para chupar novamente.
Caralho!
Por mim, passava minha vida trancado naquele quarto com ela.
— Lucca, oh, por Deus!
Sua boceta apertou de novo e senti que o corpo ficava tenso. Ela estava
chegando novamente no auge do prazer, por isso aumentei ainda mais meu
ritmo, acariciando seu clitóris mais rápido, também.
— Goza! — incentivei. — Vai, amor, vem para mim.
— Porra! — ela xingou mais uma vez, se deixando levar pelo prazer.
O corpo dela se contorceu em baixo do meu e seus olhos rolaram. Os lábios
estavam presos nos dentes e foi a visão mais prazerosa que já tinha visto. Senti o
fogo do prazer beliscar o meu corpo e me deixei levar, sentindo minha ereção
inchar e liberar todo meu prazer em seguida. Desabei em cima dela e a beijei
com carinho, afastando o cabelo que havia grudado em seu rosto. Nossas
respirações se misturavam enquanto iam se normalizando.
— Meus Deus! — ela disse enquanto eu saía de dentro dela e tirava a camisinha.
— Venha tomar um banho comigo. — Ela estendeu a mão e segurou a minha
que havia estendido. Sorriu e o cabelo estava lindo, assim como corada e com
cara de quem teve a melhor foda da vida. Ponto para mim.
Entramos no banheiro e joguei a camisinha fora. Ela entrou no box e ligou o
chuveiro, deixando a água cair pelo seu corpo. Me juntei a ela, a abraçando por
trás. Meu pau já estava pronto para a próxima rodada e Mel parecia um
afrodisíaco natural. Perto dela meu pau parecia ter a porra de uma vida, me
fazendo virar um louco insaciável.
Trilhei beijos pelo seu ombro, passando as mãos por sua barriga até seus seios,
os apertando. Enfiei minha mão por dentro do seu cabelo, segurando firme e
fazendo-a entortar a cabeça para o lado, me dando acesso ao seu pescoço, onde
tracei minha língua, dando leves chupadas.
— Está pronta para tomar mais um banho de língua, criança? — sussurrei em
seu ouvido e ela esfregou a bunda em meu pau. A minha criança era uma
diabinha quando se tratava de sexo. — Está, né, minha gostosa?! Pois então vou
te dar e depois você vai montar bem gostoso no meu pau e me engolir por
inteiro.
A virei para mim, ajoelhando à sua frente e colocando sua perna sobre meu
ombro. Passei minha língua pelo clitóris dela, podendo sentir o gosto dela em
minha língua novamente. Eu jurava que no mundo não havia nada mais
saboroso. Chupei e lambi cada gota de sua excitação, não me importando com a
mão fechada sobre os fios do meu cabelo, forçando meu rosto contra sua boceta.
Ela gemia meu nome e soltava sons. Enfiei minha língua mais fundo, a fodendo
com ela. Mel rebolava em meu rosto, fazendo minha língua se mover por toda
sua boceta. Senti quando seu corpo tensionou e fui parando de chupar aos
poucos, querendo vê-la gozar enquanto me montava. Me sentei no chão, a
olhando.
— Venha, amor, me monta. Goza no meu pau.
Ela não pensou duas vezes e sentou sobre minhas pernas, pondo-as uma de cada
lado do meu corpo. Segurou meu pau e foi encaixando vagarosamente. Porra! A
sentir daquele jeito, pele com pele, foi descomunal. Gemi de uma forma
animalesca e ela começou a subir e descer no meu pau, dando algumas
reboladas. Segurei em sua cintura, arrumando o ângulo para que eu pudesse ir
ainda mais fundo, controlando o ritmo de suas investidas. Apertava sua bunda e
sentia sua boceta escorregar pelo meu pau cada vez mais rápido. A deitei no
chão e ela se apoiou em meu peito, me montando com força. Seus cabelos loiros
caíram pelo meu peito e eu a puxei para mim, a prendendo junto ao meu corpo e
começando a estocar em um ritmo mais forte. Segurei firme seu cabelo, trazendo
a boca de Melissa até a minha e beijando-a com vontade, chupando sua língua,
que brincava e dançava junto à minha, em sincronia. Nossos corpos
escorregavam e se mexiam no mesmo ritmo. Ela apertou meu pau e gemeu alto,
deixando seu corpo ser dominado pelo prazer. Continuei a estocar no mesmo
ritmo, sentindo seu corpo se contrair mais uma vez. Ela xingou e gemeu meu
nome quando um segundo orgasmo a atingiu novamente. A sentei no chão e
segurei minha ereção, me masturbando. O primeiro jato de esperma explodiu em
sua barriga e foi levado pela água. Gozei com ela me olhando atentamente.
Nossos olhos estavam presos um no outro enquanto liberava em seu corpo todo
o prazer que ela havia me dado.
— Porra, você é mesmo um tarado!
Eu ri, me aproximando e lhe dando um beijo rápido. Levantei e a ajudei a ficar
de pé, lavando-a com um sabonete líquido. Passei meu dedo por sua boceta e
pressionei seu clitóris em círculos.
— Você vai me matar assim.
— Você está aí toda molinha, louca para me sentir de novo — declarei.
— Eu preciso é dormir, estou morta.
— Tudo bem, vou te deixar dormir um pouco. Mas não muito. Esperei muito
tempo para ter você e agora quero muito levá-la ainda mais até o precipício e ter
o prazer de te ver pular.
Eu já estava ficando duro de novo e ela me empurrou, sorrindo, saindo de meu
alcance. Pegou uma toalha e pôs em seu cabelo, se enrolando em outra enquanto
me encarava. Passei a mão pela extensão do meu pai enquanto me ensaboava. Eu
havia virado um animal que só pensava em foder o tempo todo, e a culpa era
dela.
Ela sorriu para mim e saiu.
Terminei o meu banho, peguei uma toalha e fui até o quarto, encontrando-a já
dormindo. A tinha deixado exausta, mas precisava ainda mais, muito mais.
Passei um tempo olhando-a, não sabendo exatamente o que estava acontecendo
comigo. Apenas tinha certeza de que ela era tudo o que eu queria.
A noite começava a cair quando fui ao meu quarto trocar de roupa. Tínhamos
ficado por horas trancados naquele quarto. Resolvi descer para conseguir algo
que pudéssemos comer, afinal, voltaríamos a foder sem sentido. Preparei, eu
mesmo, uma bandeja reforçada, com pães, queijo, frutas e suco. Ia subindo
quando a porta da frente se abriu e Igor passou por ela.
— Boa noite, tio — ele disse, olhando para a bandeja.
— Boa noite, Igor. Tudo bem, você parece meio...
— Cansado — ele me cortou e percebi que poderia estar tudo, menos cansado.
— Quer conversar?
— Você deve estar acompanhado, não quero atrapalhar em nada. — Ele apontou
para a bandeja em minha mão.
— Isso é para Melissa. Ela ficou meio assustada com as fotos que saíram na
mídia e acabou tendo um colapso nervoso. Não comeu nada durante o dia.
— Meu Deus! — ele lamentou. — E por que ninguém me avisou? Eu teria
voltado.
— Não foi necessário. Cuidei de tudo, como pode ver. Ela está dormindo agora,
então podemos conversar, sem problemas. — Coloquei a bandeja em cima da
bancada do bar e me sentei em minha poltrona. — Anda, me diga. O que está te
atormentando?

Melissa Ferraz

Eu havia sonhado que tinha feito o sexo mais gostoso de toda a minha vida e
ainda podia sentir aquele homem em cima de mim. Seu pau entrando e saindo
lentamente, fazendo meu corpo pegar fogo novamente.
— Acorde, criança, você já dormiu demais.
A voz dele era um sussurro no pé do meu ouvido. Ele mordeu meu ombro e senti
sua mão juntar em meu cabelo e apertá-lo com força. O pau entrava e saía de
mim lentamente. Gemi, deliciada. Podia sentir seu corpo roçando em minha pele
e ele beijava meu pescoço, dando algumas mordidas. Meu cabelo foi puxado e
eu gemi mais uma vez.
— Hoje à noite vai ser assim. Vou passar a noite toda dentro de você, dessa
boceta quentinha e gostosa.
Ele começou a estocar com força e a mão circulou meu pescoço. Empinei mais a
minha bunda, lhe dando um acesso mais fácil para que pudesse estocar
profundamente. Ele estocava com força, falando o quanto eu era linda, o quanto
ele gostava de estar me fodendo daquele jeito... Sua mão apertou minha
garganta, me fazendo erguer ainda mais meu corpo. Senti-lo entrar e sair era tão
gostoso. A respiração em meu pescoço, sua mão descendo entre meu corpo e a
cama, ele tocando minha boceta, seu dedo acariciando meu clitóris... Todas essas
investidas começaram a ficar ainda mais forte e minha barriga se apertou. Meu
corpo se contraiu e, mais uma vez, me vi no abismo do prazer e não pensei duas
vezes em me deixar levar. Finquei minhas unhas no lençol da cama e me
entreguei de novo a um orgasmo delicioso.
— Isso, amor, aperta meu pau. Porra, Melissa, vou gozar.
Ele gemeu, gozando em seguida. O barulho dos nossos corpos se batendo foi
substituído por nossas respirações irregulares. Seu corpo caiu sobre o meu e ele
rolou para o lado, saindo de dentro de mim. Me senti vazia sem tê-lo ali, com o
corpo grudado ao meu. Lucca se levantou e foi até o banheiro, mas antes tive um
vislumbre da sua bunda, que era dura e linda empinada, dando-me vontade de
morder. Suas costas eram largas e fortes, o pau grande e grosso, de forma que
dava água na boca só de olhar. Quando voltou pouco tempo depois, não parecia
que tinha acabado de gozar.
— Se continuar me olhando assim, não deixarei você se alimentar, e nem eu
poderei me alimentar. Farei de você o meu jantar.
Ele estava em pé perto da cama e sorriu para mim, piscando. Me arrumei na
cama e ele pegou uma bandeja que estava no criado mudo, a pondo na cama. Só
então meu estômago e percebi o quanto estava com fome.
— Fome?
— Estou faminta, para dizer a verdade.
Ele sentou ao meu lado e pegou uma camisa do chão.
— Vista isso porque está começando a ficar difícil me concentrar aqui.
Sorri e fiz o que ele pediu. A camisa era maior do que as que eu costumava usar
para dormir, mas eu não a devolveria. Ele serviu um copo de suco, que iríamos
dividir, presumi, já que só havia um copo. Peguei um pedaço de pão e coloquei
queijo dentro, mordendo-o em seguida.
— Como você lida com isso? — perguntei de repente.
Naquele momento gostoso eu havia esquecido do quanto aquelas fotos tinha
repercutido.
— Lido com o quê?
— Com essa coisa de ser famoso. — Ele gargalhou, jogando a cabeça para trás,
então suspirou e bebeu um pouco do suco e comeu uma fatia de queijo antes de
me responder.
— Primeiro, eu não sou famoso em coisa alguma. Não sou nem artista.
Inclusive, também não canto. Na verdade, sou horrível cantando. Segundo, eu
não lido com nada. No início até me incomodava, mas depois eu preferi deixar
falarem, dizer que é mentira era pior que confirmar, então aprendi a fingir que
não era comigo.
— Isso parece ser fácil. Mas hoje na escola, eram tantos...
— Com isso você não precisa se preocupar. Eu darei um jeito.
— Aí é que vão achar ainda mais que somos namorados.
— Esquece esse assunto. Quando falarem, se faça de boba. Se você achar que
deve dizer que não é, pode, também. Porém, só vai abrir mais pontas.
Eu preferi não responder, afinal, não era porque tínhamos feito sexo que tudo ia
mudar. No dia seguinte provavelmente ele nem olharia em minha cara, quer
dizer, olharia, mas não com segundas intenções, e já que seria assim, por que não
aproveitar? Afinal, Lucca me mostrou que além de forte, inteligente, lindo,
atraente, ele era muito melhor de cama do que todos que já tive intimidade, o
que foi apenas dois. Meu ex-namorado, que era um pouco mais velho do que eu,
me ensinou algumas coisas; e o meu melhor amigo, quem tirou minha
virgindade, foi tão ruim que decidi que ele só podia realmente ser meu amigo.
— Está pensando em quê? — perguntou ele, me tirando dos meus pensamentos e
levando um morango até minha boca. Mordi um pedaço e ele comeu o outro.
— Na verdade, em nada específico.
— Eu estava pensando que você é uma delícia. Seu gosto é algo viciante. O
morango é uma fruta deliciosa e suculenta como você — ele disse, tirando a
bandeja de cima da cama, projetando seu corpo em cima do meu. — Está na
hora de juntar o útil ao agradável.
Então me beijou, passando a língua em meu lábio. Dei uma pequena mordida no
dele e puxei, fazendo-o sorrir. Aprofundamos o beijo, passando minhas mãos por
suas costas até seu cabelo macio. Nossas línguas travaram uma batalha deliciosa
e assim conseguia sentir minha boceta umedecer. Lucca se levantou e tirou a
camisa que eu estava vestindo, pegou um morango na bandeja e o aproximou da
minha boca.
— Morda.
Eu fiz o que ele pediu, sentindo o gosto do morango, que estava doce e gelado.
Uma delícia! Ele se instalou entre minhas pernas, chupando minha língua e
parando nosso beijo com um selinho. Lucca passou o morango em volta do meu
mamilo, o deixando ainda mais rígido com o contato gelado em minha pele, que
parecia estar pegando fogo. A língua dele circulou lentamente, não deixando
escapar sequer um pouco do suco do morango que ficou em minha pele. Ele teve
seu tempo em meu mamilo, chupando e lambendo, prendendo-o entre seus
dentes. Soltei um gemido abalado e ele largou meu bico saliente, se virando para
o outro mamilo e dando a ele o mesmo tratamento.
Lucca passou o morango pela minha barriga, lambendo cada rastro que ele ia
deixando, mordendo minha barriga e circulando com a língua o mesmo lugar.
Ele abriu mais minhas pernas, as dobrando, comendo o morango que estava em
sua mão e pegando outro, mordendo-o em seguida.
— Agora é hora do banquete que está virando o meu predileto. — Gemi quando
o morango gelado tocou os meus grandes lábios. Ele passou o morango, os
separando, pressionando sobre meu clitóris.
Eu estava entregue àquele prazer. Sua língua veio em seguida, fazendo círculos,
e logo o morango novamente. Me contorci, levando as mãos aos meus seios e os
apertando.
— Coma, princesa — disse ele, pondo o morango em minha boca. — Veja o
quanto você é gostosa.
Abri a boca e comi o morango. Parecia tão errado, mas ao mesmo tempo tão
certo. Uma mistura do doce do morango com a minha excitação. Ele me olhou
atento, depois sorriu, resmungando alguma coisa que não consegui entender e
passando a língua por toda minha boceta, chupando em seguida, me deixando
perdida na névoa de luxúria.
Acordei com o celular tocando em algum lugar do quarto. O dia já havia
clareado e a cama estava vazia. Não havia mais nada nem ninguém, mas eu
devia saber que seria assim. Ele saciou sua cede e sumiu antes mesmo de o dia
clarear. Levantei e fui para o banho, sentindo meu corpo doer um pouco. Tinha
sido uma noite incrível, que poderia não ter acabado.
Melissa, você perdeu o foco. Lembre-se que é apenas esperar o tempo certo e ir
embora, nada mais, nada menos. Pense em tudo como um bônus gostoso e
perfeito que você ganhou, mas é só.
Isso era o que eu recitava em minha mente. Terminei meu banho e fui ao closet,
me vestindo com um vestido soltinho e uma rasteirinha. Não encontrei ninguém
na sala de estar, mesmo a mesa estando posta. Grazi voltava da cozinha com
suco e uma bandeja cheia de morangos, tudo que eu não precisava ver agora.
— Bom dia, Mel.
— Bom dia, Grazi, como você está?
— Estou bem, e você? Já vou servir seu café.
— Na verdade, não vou comer nada. Já estou de saída e quando voltar,
precisamos conversar.
— Claro, vamos conversar. Eu sei que precisamos. Senhor Marconni pediu para
que passasse no escritório antes de sair.
— Tá ok! Vou até lá. Tenha um bom dia, Grazi.
Com isso fui em direção ao escritório e bati de leve na porta, que se abriu e fui
puxada para dentro.
— Pensei que você não viria nunca. Já estava cheio de saudades.
— E por que saiu do quarto antes que eu acordasse?
— Porque tenho certeza que você não gostaria que Igor me visse saindo de lá
junto com você.
— E não quero que ninguém saiba.
— Como quiser. Desde que você não me evite, pra mim está bom.
Ele não me deixou responder, apenas me beijou intensamente, chupando minha
língua e apertando seu corpo contra o meu. Eu o beijei com a mesma vontade.
No fundo estava triste por achar que havia sido dispensada.
— Hoje vou passar o dia fora e não sei a que hora volto, mas passo para te dar
boa-noite — ele avisou. — Agora vá, antes que eu a foda em minha mesa.
— Tenha um bom dia, também.
Sorri e saí apresada de lá, ou eu mesma imploraria para que ele me colocasse em
cima daquela mesa.
A manhã na escola havia sido muito melhor que o dia anterior. Não sei o que
tinha acontecido, mas estava feliz de não ter tantas pessoas ao meu redor. Alguns
até perguntaram sobre Lucca e eu, o que neguei, claro. Não queria dar margem
para bagunçar ainda mais.
Cheguei a casa no horário de sempre, mas não achei a Grazi, então resolvi me
aventurar até o outro lado da casa, no qual vagamente seu Carlos disse que era
onde os funcionários ficavam. Entrei em um corredor grande com várias portas,
fui andando até onde me parecia ter pessoas falando, quando uma das portas se
abriu e de lá saiu um cara bem malhado e sem camisa. Estava com a cabeça
baixa, olhando no celular. Andei até mais próximo do rapaz, que levantou a
cabeça e sorriu para mim. Era Pietro. Fiquei mais relaxada ao encontrar um
quase conhecido. Sorri de volta para ele, que mais uma vez voltou sua atenção
para o celular e depois o guardou no bolso da bermuda. Nunca o tinha visto
assim tão relaxado e sem aqueles ternos. Ele parecia morar aqui, assim como a
Grazi.
— Oi, sabe onde está a Grazi? — perguntei a ele.
Pietro apenas segurou minha mão e me arrastou de volta pelo corredor, me
levando a uma porta que constatei ser uma cozinha. Era bem ampla, com tudo o
cômodo exigia ter. Lá tinham dois homens comendo, enquanto Grazi mexia nas
panelas. Os dois homens viraram para nos olhar assim que entramos. Um deles
era negro e grande, muito grande. Ele me deu um sorriso branco e gentil, me
cumprimentando com um aceno de cabeça; o outro era moreno, forte, porém,
mais baixo que todos que já tinha visto pela propriedade. Ele me olhou de cima a
baixo e sorriu de forma maliciosa, perguntando alguma coisa em voz alta.
— Nuova carne sul pezzo? Molto buona a proposito.
— Questo non è di tuo interesse, finisci il tuo pranzo e torna al tuo post, non sei
pagato per parlare.
— Grazi, eu estava te procurando. Ainda bem que encontrei o Pietro, porque
estava um tanto perdida.
— Desculpe. Vim servir os meninos e acabei me demorando. Venha! Vamos até
meu quarto e lá conversamos.
— Grazie per l'aiuto. — agradeci a Pietro e segui Grazi novamente pelo
corredor. — Todos moram aqui?
— Não, só eu e o Pietro. Seu Carlos mora em outra propriedade da família com a
esposa, que fica um pouco distante da cidade.
— Mas aquele corredor tem tantas portas — comentei.
— Sim — ela disse, abrindo uma das portas e entrando, me dando espaço para
que entrasse também, então trancou a porta e continuou: — Aqui só tem o meu
quarto e o quarto do Pietro. As outras portas são para que os outros descansem e
se trocarem. Quando é necessário eles pernoitam, mas é difícil acontecer, porque
aqui se troca de turno. De dia são uns e a noite são outros.
— Entendo. Que bom! Assim eles têm um conforto melhor.
— É, não podemos reclamar. O patrão é fechado, mas é uma boa pessoa.
O quarto era até grande. Tinha uma cama, televisão, um sonzinho, um guarda-
roupa, um criado mudo, uma mesinha, e uma porta que devia ser do banheiro. O
cômodo era branco e amarelo, mas tinha um grande e aconchegante.
Sentei na cadeira e elogiei.
— Adorei seu cantinho. É lindo.
Ela sorriu ao me olhar.
— Eu gosto daqui. Depois que meu dia acaba, fico por aqui e não chega a ser
tedioso. Tenho a minha privacidade.
— Com tanto homem por aqui, ter sua privacidade já é alguma coisa.
— Verdade — concordou ela, sentando-se na cama e fitando meus olhos.
Eu não precisava dizer porque estava ali naquele momento. Ela sabia muito bem
o que eu queria.
— Eu sei que você quer conversar sobre a festa. Você deve ter ficado sabendo do
que aconteceu.
— Sim, eu fiquei, mas não gostei de você ter deixado aquela louca falar de você
daquele modo que o Igor me contou. Ela foi tão baixa...
— Ela só falou a verdade, Mel. Eu não tinha nada que estar no meio dos
convidados como uma “normal”. Sou apenas uma serviçal da casa.
— Você é completamente normal, como todos que estavam ali, e era uma
convidada. Da próxima vez a enfrente. Não deixe ninguém te tratar de modo
inferior. Todos somos pessoas, independentemente de qualquer coisa, somos
iguais não importa gênero, cor ou o trabalho, no fim vamos todos para o mesmo
lugar, em baixo da terra.
— Eu não sei. Não preciso de problemas. Como já havia comentado com você,
esse emprego está me ajudando muito, e não é fácil conseguir algo tão bom.
— Isso não é problema, é solução. Todos merecemos ser bem tratados.
— Obrigada, Mel. Fiquei tão pra baixo. Ainda bem que pude ficar de folga no
dia seguinte, pois aproveitei para ir com meu noivo conhecer o lugar que ele
comprou pra nós.
— Então me conte como foi.
Ela começou a contar e era lindo ver a empolgação com tudo aquilo. Ela
realmente amava o noivo e faria qualquer coisa por ele. Pensei naquele
momento, se um dia encontraria um amor assim. Grande o bastante para me
fazer tão bem, tão feliz. A minha experiência com namorado não era das
melhores. Depois do único namorado que tive, preferi não ter mais nenhum.
Encontrar o cara que te jura amor, com outra na cama, realmente não faz bem
para ninguém. Não que eu tenha ficado sozinha. Tinha alguns namorinhos
bobos, mas não passou disso. Eram apenas beijos e abraços, para nunca mais.
Não queria me apegar. Não queria aquilo para mim de novo, afinal, o homem
trair não era segredo para ninguém. Ele apenas estava sendo homem. Nunca
entendi essa lógica do “eu posso porque sou homem”. Na verdade, nunca
respeitei isso. Acho que a vida está aí para ser vivida e não é o seu sexo que vai
mudar isso. De forma nenhuma.
Conversamos durante boa parte da tarde. Voltamos para casa porque Grazi tinha
que começar a fazer o jantar, mas avisei que não jantaria e que depois comeria
algo leve, afinal, eu tinha comido um lanche do tamanho de um boi inteiro
depois da aula, incentivada pelo Leo, que era magrinho, mas comia bastante, e
desfrutou de dois. Meu Deus!
Depois de um banho e de vestir uma roupa leve, peguei as coisas que o Igor
havia me dado e pus um dos CDs no notebook. Ele ensinava realmente o básico,
mas era muito bom porque falava o português e traduzia para o italiano. Fui
fazendo anotações e escutando por diversas vezes, também pegando as coisas da
escola para que eu pudesse fazer os exercícios que havia ficado para terminar. As
coisas deixadas pelo Igor me ajudaram muito. Aproveitei o ensejo e baixei
algumas coisas no celular.
Não sei quanto tempo fiquei no quarto afundada em todas as aquelas coisas e
anotações, mas ainda estava empacada com algumas coisas. A língua não era
difícil, mas também não tinha nada de fácil. Algumas davam para compreender,
outras eram bem complicadas. Sabia que ao final, aprenderia tudo, por mais
complexas que fossem.
— Mel. — Ouvi Igor me chamar por cima do som e sorri, olhando para cima.
— Ei, você. Se achar um lugar nessa bagunça, sente aí.
Ele riu, juntou alguns papéis e se sentou.
— Eu bati, mas como você não respondeu, entrei. Como foi seu dia hoje? Fiquei
sabendo que ontem não foi um dia muito bom.
— Ontem foi um dia diferente. — Eu não sabia como classificar o dia anterior,
então achei que “diferente” ficaria bom, já que não queria que ele soubesse que
passei o dia e a noite perdida em um certo peitoral.
— O tio disse que foi estressante para você na escola.
— Sim, foi completamente chato todos falando que estávamos namorando, que
eu o amava e tantas outras coisas. Já nem sei mais. Preferi esquecer tudo o que
foi dito, ou, sei lá, simplesmente aconteceu um bloqueio, sabe?
— Sei — ele respondeu. — O tio disse que conversou com você e que estava
melhor.
— Sim, estou. Mas ainda não sei como vocês conseguem conviver com tudo
isso.
— Realmente, não é fácil. No início eu odiava, mas foi passando o tempo e vi
que quanto mais a gente se importar, se incomodar com todo o assédio, eles não
saem de cima.
— Então, o melhor é se fazer de bobo e não responder?
— Sim — confirmou. — Se respondemos é muito pior, porque se sai uma
resposta muito invasiva, eles vão se afundar mais. Se sai com informações
demais, eles procuram ainda mais. Então, o melhor é deixá-los inventar, afinal, a
nossa verdade só a gente sabe.
— Lucca disse a mesma coisa.
Igor sorriu e coçou a cabeça.
— Eu tenho certeza que você vai tirar de letra e logo tudo isso nem vai ser mais
incômodo.
— Obrigado, Igor. Bom, você disse que me ajudaria a aprender essa língua e
tudo isso me ajudou muito, mas tem umas dissertações que estão me deixando de
cabelo em pé.
— Claro, vamos lá.
Igor tirou cada dúvida que eu tinha, tornando tudo mais fácil para mim. Ele
estava completamente empolgado com cada coisa que me mostrava. Realmente
eu conseguia enxergar outra pessoa nele. Passaria a abrir mais meu coração para
o cara à minha frente. Eu o havia perdoado de coração, mas tinha receio de que
tudo voltasse. Igor me dava calafrios só com o pronunciamento de seu nome.
Ele me explicava algumas coisas que me ajudariam a pegar ainda mais fácil o
entendimento das palavras, quando a porta se abriu.
— Ainda bem que te peguei a... — Era Lucca. Ele engoliu em seco e seus olhos
passaram de mim para Igor — ... aqui — ele concluiu o que estava dizendo e
continuou: — Já o procurei pela casa toda, Igor. Você devia andar com o celular.
Boa noite, Melissa.
Foi curto e grosso comigo, que apenas assenti com um aceno de cabeça.
— Oi, tio, está precisando de mim?
— Sim, eu preciso conversar com você. Depois passe no meu quarto.
E saiu sem dizer mais nada, ou sem esperar uma resposta de Igor. Ele tinha
voltado a ser o cara esquisito que eu conhecia.
— Ele sempre entra assim no seu quarto? — Igor indagou.
— Assim como?
— Sem bater.
— Não, ele sempre bate. Não que ele venha aqui muitas vezes, mas devia ter
certeza de que você estava aqui. Deve ter sido por isso.
— Entendi. Mas é sério. Se ele começar a te encher demais, é só dizer que irei
conversar com ele.
— Obrigado, Igor, você é um anjo.
— Eu estou cheio de fome. Está afim de um lanche?
— Claro. Estou faminta. Vou fazer alguma coisa para nós dois.
— Nada disso. Eu vou até lá — decretou. — Continue aí lendo isso aí, que eu já
volto.
Igor saiu do quarto e continuei lendo o que ele havia marcado. Tudo pareceu
bem mais fácil com a ajuda dele.
Capítulo 12
Melissa Ferraz

Despertei com Calvin Harris gritando no meu ouvido. Desliguei o celular e olhei
ao redor, notando que os livros e todo o resto estavam arrumados, e o cheiro dele
pelo quarto. Sonhei que ele apareceu durante à noite e talvez não fosse sonho.
Será que ele esteve lá?
Levantei-me e fui direto para o banheiro, tomei meu banho e lavei meu cabelo.
Peguei minha mochila e desci para a sala de jantar, onde a Grazi estava sozinha,
tirando as coisas sujas.
— Bom dia, Grazi, cadê todo mundo?
— Bom dia, Mel. Seu Igor já saiu para a empresa, seu Marconni foi para a
academia.
— Estou atrasada hoje ou eles caíram da cama?
— Eles caíram da cama, mesmo. Você vai querer tomar seu café?
— Sim. Hoje vai ser puxado.
Me servi e comi tudo que estava na mesa, como sempre, muito delicioso.
Do lado de fora encontrei seu Carlos e o cumprimentei com um abraço, que,
como sempre, o deixou sem graça.
— Bom dia, seu Carlos!
— Bom dia, menina Melissa. Me parece muito animada hoje.
— Sim, tive uma ótima noite, seu Carlos. Vamos?
Ele sorriu e abriu a porta para mim. Seguimos nosso caminho e não demoramos
muito para chegar. Na escola estava tudo estranho. Antes ninguém me olhava,
mas passaram a ser todos sorrisos. O único que não mudou comigo foi o Leo.
Ele era uma pessoa maravilhosa, que muito me alegrava. Até as meninas senti
estavam forçando uma leveza que antes não tinha. Éramos amigas, mas não
como aquelas amigas que eu iria contar a minha vida toda. Tivemos um teste
oral e fui muito bem, graças a tudo que o Igor me ensinou. Ele me tirou de uma
enrascada sem nem ao menos saber.
Na saída, me surpreendi por seu Carlos já estar no meu aguardo.
— O senhor veio tão cedo hoje — comentei.
— Eu estava aqui perto e resolvi esperar.
Ele estava, de certa forma, estranho, e não sorria como costumava fazer. Havia
uma nuvem de preocupação em seus olhos. Ele abriu a porta do carro e eu entrei,
quase pulando para fora quando vi que Lucca estava lá dentro, com aquele
sorriso lindo. Me puxou para ele e me beijou intensamente, porém, muito rápido
para o meu gosto. Estava sentindo saudade de o sentir assim. Sorri, olhando para
ele, mas quando seu Carlos entrou, me senti um pouco confusa.
— Eu tive que contar para alguém — esclareceu Lucca, sobre não escondermos
nossa aproximação de seu Carlos. — É muito difícil ficar longe de você.
— Mas...
— La mia principessa. — Eu sabia o que aquilo significava, minha princesa,
sorri sem poder evitar. Ele beijou meu rosto e sussurrou em meu ouvido: — Hoje
você é só minha. Vamos curtir o dia juntos. Não vejo a hora de sentir seu gosto
novamente em minha língua.
As palavras dele fizeram meus pelo se arrepiar. Tudo o que mais queria era
poder senti-lo novamente, e já que ele confiava tanto em seu Carlos, eu também
podia. Dessa vez, quem deu início a um beijo longo e delicioso fui eu. Poderia
estar até assustada e confusa com aquela situação, porém, a verdade era que por
dentro eu sabia o quanto aquele gesto de Lucca me fazia feliz. Ele me encantava
e tirava o fôlego.
Capítulo 13
Lucca Marconni

Por Deus! Eu estou vivendo um inferno desde que enfiei meu pau em Melissa.
Minha mente não pensava em outra coisa. Por mais que tentasse, sempre me
pegava pensando em cada parte daquele corpo delicioso. Mesmo com tantas e
tantas coisas que tinha para resolver, tudo o que conseguia pensar era em chegar
em casa, e se tudo desse certo, ela estaria acordada, então poderíamos ficar
juntos até cansar um do outro. Quando cheguei, foi como imã para os meus
olhos, que seguiram uma linha reta até a janela do quarto dela. A luz ainda
estava acesa e era tudo o que eu desejava. Subi as escadas correndo, me sentindo
um adolescente ou sei lá. Aquele entusiasmo de estar com ela, de nem que fosse
apenas ouvir sua voz, fazia meu peito inflar de tanta felicidade. Abri a porta e,
para minha surpresa, dei de cara com Igor. Por Deus! Ele estava virando um
empata foda do caralho. Inventei uma desculpa qualquer e saí correndo de lá.
Tive que ouvir mais um pouco do tanto que Melissa era frágil, que eu não
poderia magoá-la e aquilo estava enchendo o saco. Eu entendia o porquê da
proteção toda do Igor, afinal, ele me conhecia melhor do que ninguém. Porém,
sexo era bom. Quando foi que sexo se tornou ruim para alguém?
Eu sei que ela só veio a passeio, que quando descobrisse a verdade pularia fora
sem pensar duas vezes. Ela era linda e cativante, tinha aquele sorriso que
encantava por onde passava, então por que diabos eu iria deixá-la escapar? Mas
nem em pensamento ela estava longe de mim. Imagina dormindo na porta ao
lado do meu quarto. E todo aquele sexo só estava começando. Se antes ela me
deixava completamente cheio de desejo, depois que experimentei, então, queria
muito, muito mais. O tempo todo se fosse possível.
Eu teria um dia inteiro com ela e não via a hora daquilo acontecer.
Convencer seu Carlos não foi fácil. Dizer para ele que estava conhecendo
Melissa melhor foi como pedir a mão dela em casamento para seu pai. Tomei um
sermão que parecia que não ia acabar nunca mais. Eu era um cara de trinta e oito
anos e fiquei, pacientemente, ouvindo tudo que meu motorista tinha para dizer.
Apesar de ele ser apenas mais um empregado para alguns, para mim era
diferente. Seu Carlos tinha meu respeito e não era pouco. Diferente de Igor, que
mesmo todo protetor não conseguia me pôr medo, pois se eu tinha rabo preso,
ele estava no mesmo patamar que eu.
O meu plano não tinha como dar errado.
Saí cedo com Pietro, como de costume, e voltei no horário habitual. Pedi para
não ser incomodado em momento algum. Não estava bem. Seu Carlos conseguiu
arrastar os funcionários para a área dos fundos. Eles não poderiam me ver
saindo.
Quando chegamos na frente da escola dela, contei os segundos para ela passar
pelo portão de saída. Ela surgiu pouco depois, conversado com seu amigo e
outras duas meninas, de quem me lembro ter visto na festa. Ela falou alguma
coisa com seu Carlos e entrou em seguida, quase voltando para trás quando
percebeu que não era a única dentro do carro. A puxei para mim, podendo
finalmente sentir o gosto de seus lábios novamente.
— Eu tive que contar para alguém. É muito difícil ficar longe de você.
— Mas...
— La mia principessa. — Eu vi em seus olhos que ela havia entendido o que eu
falei. O brilho de seus olhos denunciou a satisfação. — Hoje você é só minha.
Vamos curtir o dia juntos. Não vejo a hora de sentir seu gosto novamente em
minha língua.
E não precisei a agarrar como sempre fazia. Ela me beijou, tomando meus lábios
nos seus. Foi um beijo intenso, de quem tinha a mesma cede que eu, a mesma
saudade. Mordisquei seu lábio inferior e dei um selinho demorado, em seguida
ela sorriu e não pude deixar de sorrir junto. Estava muito feliz de tê-la em meus
braços novamente.
— E então, para onde estamos indo? — perguntou, se aconchegando na curva do
meu pescoço. A abracei e meus dedos roçavam sua pele macia acima do cós da
calça.
— Segredo de estado.
— Segredo? Isso é tipo um sequestro?
— É tipo isso. Fique quietinha e aproveite a paisagem, criança.
Sua mão alisava minha coxa vagarosamente e ficamos em silencio até chegar à
propriedade que eu mantinha afastada. Não era grande como a mansão, mas era
tudo o que eu precisava naquele momento. Um lugar calmo e pouco habitado.
Era onde seu Carlos morava com a esposa. Eles não tinham filhos, pois a esposa
do meu motorista não podia engravidar. Ele optou em continuar nessa casa, que
ficava em uma área calma. Uma casa bem distante da outra. Eles gostavam da
calmaria que tinha lá.
O carro encostou um pouco depois de passar por uma estrada de terra, e seu
Carlos abriu o portão e puxou o carro para dentro, parando na frente da casa
principal. No imóvel havia uma varanda, com um banco do lado de fora. Dentro
tinha uma sala não muito grande, dois quartos, um banheiro e uma cozinha.
A casa de seu Carlos ficava um pouco distante da principal, e embora o lugar não
fosse grande, possuía muitas árvores e um belo jardim. Desci do carro e a ajudei
a descer também, peguei uma mochila com roupas no porta-malas para que
Melissa pudesse trocar, apesar de desejar que ela ficasse nua o dia todo. Seria
perfeito ter um livre acesso a ela. Fazia tempo que não ia até lá, afinal, gostava
muito de todo o espaço que tinha em minha casa. Era tudo grande. Na
propriedade mais afastada, era tudo muito menor. A impressão era que duas salas
da mansão formavam a casa toda.
Quando entramos, os olhos de Mel passaram por todo os lados. Eu não sabia o
que ela pensava, não sabia se estava abismada ou assustada.
— E aí, tudo bem para você se ficarmos por aqui hoje? — Me virei para olhá-la.
Ela estava calada, seus olhos lacrimejaram, e uma lágrima escorreu livre. —
Você está se sentindo bem? Podemos voltar para a mansão, se não gostou daqui.
— Não, não é isso. É que aqui parece tanto com a minha casa — ela disse. — A
casa que vivia em São Paulo.
Eu sabia que casa era essa que ela falava, pois vivi minha vida quase toda
naquele lugar e, se Deus permitisse, jamais voltaria.
— Eu pensei que o lugar te faria bem, mas é melhor voltarmos.
— Não. Não é necessário. Foram são só lembranças.
— Está certo. Vem conhecer meu quarto.
— Claro, vamos.
Ela sorriu, mas não era o sorriso que eu estava acostumado a receber. Aquele era
um sorriso carregado de lembranças, que não chegava a ser triste, porém, não era
um feliz. Peguei sua mão e fui andando em direção ao quarto.
— Não tem nada a ver com o quarto da mansão — comentou ela. — Nada aqui é
tão confortável como lá, mas vamos ter um bom momento aqui.
Abri a porta, dando espaço para que ela entrasse. Entrei em seguida e colei meu
corpo ao seu. Estava esperando esse momento sozinho com ela o dia inteiro.
Passei minha ereção em sua bunda e ela suspirou, deitando a cabeça em meu
ombro. Coloquei seu cabelo para o lado e trilhei beijos por todo o pescoço,
dando algumas mordidas, passando minha língua. Me afastei o bastante para
tirar sua blusa e ela se virou para mim, suas pupilas dilatadas. Ela já havia
esquecido todo o resto e em sua mente só tinha eu e ela, junto à toda a
expectativa. Tracei a maçã do seu rosto com a ponta do meu dedo, tendo à minha
frente a pessoa mais linda que eu já havia visto na vida. A pessoa que me trouxe
um colorido que eu não sabia que existia.
— Ah, Melissa, que porra você está fazendo comigo?
A beijei, abraçando seu corpo pela cintura, colando-a a mim. Os braços de
Melissa circularam meu pescoço e a mão passou calmamente pelo meu cabelo. A
empurrei para trás até bater na cama, onde ela caiu, me puxando junto. Nosso
beijo não foi interrompido e eu continuei até nossos pulmões suplicarem por ar.
Mordisquei seu lábio, descendo com beijos por sua mandíbula. Ela gemeu
quando uma das minhas mãos se fechou em seu seio, ao qual apertei e puxei seu
sutiã, liberando-o. Passei minha língua pelo mamilo rígido antes de o levar entre
meus lábios, levantando-a um pouco para tirar o sutiã. Sorri, olhando em seus
olhos e chupando o outro mamilo. Passei a língua em baixo do seu outro seio,
trançando devagar de um seio ao outro. Ela gemia e puxava meu cabelo, seu
corpo roçando no meu. Ela parecia estar perdida em seu próprio desejo.
Abocanhei o mamilo e chupei novamente, prendendo-o em meus dentes.
Pressionei minha língua e ela gemeu meu nome.
Assim demos continuidade em nossa dança sensual na cama, onde nossos corpos
clamavam um pelo outro, levando-nos ao topo do desejo.
— Eu não aguento mais Lucca — ela gemeu no meu ouvido, sua voz rouca e
pesada em meio àquela excitação.
— Pede. Diga o que quer e eu te darei. — A unha de Melissa fincou ainda mais
em minhas costas e ela se esfregou no meu pau sem qualquer pudor.
— Eu quero você.
Porra! Ela estava fodendo comigo em tudo que era sentido. A olhei e Mel apenas
sorriu, um sorriso sapeca de menina travessa. Desembalei a camisinha e preparei
para estar dentro dela. Mas antes, passei meu dedo por sua boceta e pressionei
seu clitóris, fazendo movimentos circulares. Melissa respondeu mordendo o
lábio inferior, nitidamente louca de tesão. Depois do dedo, foi a vez do meu pau
roçar em sua intimidade, antes de lentamente invadir seu sexo, que se alargava
para abrigar meu membro duro. Mais uma vez Melissa gemeu e eu tive a plena
certeza de que a queria e estava perdido e viciado na boceta gostosa dela.
Me enterrei por inteiro e não queria mais sair. Me afoguei no mar verde de seus
olhos e ela enrolou as pernas em minha cintura, fazendo enterrar-me ainda mais.
Me inclinei por cima do corpo dela e a beijei, não querendo que ela visse a
confusão que estava se formando dentro de mim. Comecei a investir contra seu
corpo calmo e lentamente minha língua passeava por sua boca, mordiscando seu
lábio e aumentando o ritmo das minhas estocadas. Abocanhei seu mamilo e
chupei, enquanto meu pau entrava e saía de sua boceta, indo fundo. Ela apertava
meu pau, o engolindo todo. Que boceta mágica! Comecei a estocar cada vez
mais rápido, forte. Mel sincronizou nossos movimentos, me acompanhando, sua
unha descendo pelo meu peitoral, chegando até seu clitóris. Ela começou a se
tocar, gemendo deliciosamente meu nome. A cada investida que eu dava, sentia
seu corpo tensionar. Ela apertou meu quadril com as pernas e sua boceta apertou
ainda mais meu pau, então gozou gritando meu nome ferozmente.
Nunca gostei tanto de ouvir meu nome, ainda mais na voz deliciosa de Melissa.
Continuei meus movimentos lentamente e ela sorriu quando foi voltando à
normalidade. Desci da cama e a coloquei de quatro, arrumando seu corpo do
jeito que eu gostava. Alisei sua bunda e dei um tapa bem dado, que a fez pular e
dar um gritinho adorável. Ela era branquinha feito neve e com a palmada forte,
rapidamente a pele começou a vermelhar. Caralho, aquilo era magnífico! Apertei
sua bunda e fui abrindo espaço, me agachando atrás dela e passando a língua do
ânus até a boceta.
— Branquinha, não vejo a hora de comer esse outro buraquinho. — Passei
minha língua pelo seu ânus e senti o corpo dela enrijecer. Eu seria o primeiro a
estar ali. — Mas não hoje, branquinha. Hoje vou desfrutar dessa boceta
deliciosa. — Segurei meu pau e estoquei de uma só vez em sua boceta, a
preenchendo por completo.
— Porra!
Ela xingou e acertei outro tapa e apertei sua bunda, como punição por sua boca
suja. Comecei a estocar com força e rápido, ela empinou mais a bunda, ficando
mais aberta, com os seios encostando na cama. Enrolei minha mão em seu
cabelo, que entrava dentro de Melissa cada vez mais rápido, cada vez mais
fundo. Senti seu corpo responder de imediato às minhas investidas, mas logo a
puxei para mim, fazendo seu corpo curvar-se ainda mais. Grunhi quando ela
apertou meu pau, minha espinha se arrepiando. Aumentei o ritmo das minhas
estocadas, indo fundo, me enfiando por completo na boceta dela. Seu corpo
contraiu e mais uma vez ela gozou, engolindo meu pau, gemendo, fazendo
aqueles sons que me deixavam maluco. Deixei o prazer esvair-se pelo meu
corpo, enchendo a camisinha. Beijei suas costas e ela desabou na cama.
— Puta que pariu! Você é tão gostosa. Me deixa louco.
— Você acaba comigo. Por Deus!
Saí de dentro dela e após me desfazer da camisa, me aninhei junto a ela na cama.
Ela se acomodou em meus braços e logo depois senti sua respiração se acalmar.
Era bom demais tê-la em meus braços ou gritando meu nome.
A deixei descansando calmamente na cama, segui para um banho e, quando
retornei, tentei afastar os pensamentos, mas era difícil. Martelava em minha
mente a pergunta:
Além de sexo, o que mais poderíamos ter?
Tive a ideia de ir até a cozinha e preparar o melhor almoço que Melissa comeria.
Nada melhor do que cozinhar para refrescar a cabeça.

Melissa Ferraz

Mais tarde, quando acordei, ouvi uma canção em italiano que eu não conhecia,
mas era uma linda melodia. Levantei, peguei a camisa dele que estava no chão, e
vesti. O cheiro do Lucca me alcançou e eu estava tão feliz que parecia que não ia
caber dentro do meu peito. O cheiro que estava pela casa também era delicioso e
fez minha barriga resmungar, avisando que também concordava com aquilo.
Levantei-me e segui até onde vinha o som. A música anterior havia acabado, e
uma conhecida iniciou. It's My Life, do Bom Jovi, preenchia meus ouvidos.
Encontrei Lucca, que estava de costas, entretido com o que estava no fogo,
usando 0apenas uma cueca boxer. Ele cantava junto à música, e embora não
fosse cantor, a voz era grossa e o gingado que seu corpo fazia acompanhando a
música era perfeito, afinal, não era uma canção para quem estava com o coração
partido.
A música encerrou e logo em seguida uma guitarra soou, com o som de Guns
N'Roses. O corpo grande e musculoso dele acompanhou o som, suas coxas
grossas e bumbum perfeitos balançaram ao som da música. Quando a música
estava no auge, ele se virou e sorriu ao me ver ali, assistindo seu show particular,
mas não perdeu o gingado e cantou junto com o Axl Rose, Sweet Child O' Mine.
Ele colocava tanta alma na música, que parecia realmente haver um significado
para ele. Lucca apertou um botão no controle e a música parou, então caminhei e
sentei no banco do outro lado da bancada, onde estava cheio de coisas deliciosas
e uma massa comprida.
— Você é um péssimo cantor, mas como dançarino, dá um caldo...
— Não era eu que estava parado, babando.
— Convencido. — Ele sorriu e se esticou, me dando um selinho.
— Com fome, branquinha?
— Branquinha?
— O que tem? Eu sempre preferi “criança”.
— Prefiro branquinha — admiti. — Estou faminta.
— Que bom! Estou terminando a massa para o nosso macarrão.
Ele pegou na geladeira um vinho e nos serviu.
— Você está fazendo tipo... tudo? — perguntei, admirada, olhando as coisas que
estavam na bancada.
— Tipo tudo. O molho está pronto, só falta desmanchar a massa.
Ele pegou a massa, a esticou, e começou a abrir e enrolar. Ela começou a ganhar
forma e ele continuou a preparação, mexendo, enrolando... até começar a se
transformar em tiras. Por Deus! O homem era bom na cozinha. Realmente bom.
Depois de jogar a massa na panela, ele se virou para mim, sujando meu nariz de
farinha. Peguei a que estava em excesso na bancada e joguei nele, que revidou,
jogando mais mim.
— Isso não vale.
— Foi você quem começou — ele retrucou.
— Sim, claro, eu sujei o meu nariz.
Ele deu a volta na bancada, parando à minha frente. Estava delicioso todo sujo
de farinha e apenas de boxer.
— Adivinha quem vai limpar essa bagunça toda, criança?
— Você — respondi. — Afinal, quem está cozinhando é você.
— Você está muito folgada.
— Estou, é?
— Está sim.
Ele foi se aproximando e sorrindo. Fechei meus olhos, esperando que me
beijasse, e, no entanto, tomei um banho de farinha, literalmente.
— Seu filho da mãe, eu vou matar você!
Ele gargalhava enquanto me olhava, deu a volta pela bancada, desligou o fogão e
colocou o macarrão para escorrer. Tudo sem deixar o sorriso.
— Ah, Melissa... Você está ainda mais linda, branquinha.
— Você acha, senhor Marconni?
Virei toda a taça de vinho em sua cabeça e seu corpo ficou rígido quando o
líquido gelado caiu sobre sua pele. Ele me encarou com um olhar nada amigável,
mas não o esperei falar nada e disparei para longe, porém, não consegui chegar
nem perto da porta do corredor.
— Ah, criança. Você está tão malcriada. Eu vou te ensinar a se comportar
direito.
Soltei um gritinho quando ele me jogou por cima do ombro e saiu andando para
o corredor. Eu estava perdida. Tomamos um banho juntos, ele me fez mais uma
vez me perder em um orgasmo maravilhoso, comemos, e estava divino. Comi
tanto que achei que ia passar mal, depois arrumamos a bagunça que tínhamos
feito. Passei um dia maravilhoso ao lado dele, e isso estava começando a me
confundir. Eu já não pensava em ir embora, nem sabia se queria um dia sair dali.
Lucca estava me enredando de um jeito que não era normal. Ele era lindo e
parecia que a cada hora que passava, conseguia me deixar ainda mais confusa.
Depois do almoço ficamos conversando deitados no sofá, assistindo qualquer
coisa na tv, e quem visse pensaria se tratar de um casal normal, parecia até que
nos amávamos. Eu sabia que era loucura da minha cabeça, e não que eu fosse
querer isso, afinal, iria embora. Isso era o certo. Passaria por aquela porta e não
me lembraria de mais nada, e por incrível que pudesse parecer, chegar à essa
conclusão me doía o coração.
Fomos embora assim que a noite começou a cair, mas aquele dia não saía da
minha mente. Eu ainda estava encantada com tudo o que vivemos naquele único
dia. Lucca estava diferente e me mostrava ser outra pessoa. Um outro lado seu
que fazia eu me perguntar quantos Lucca haviam dentro de um apenas. Ele era
diferente e já me chamava poucas vezes de criança, passando a usar apenas
apelidos carinhosos. Parecia gostar de mim, mas não sabia se gostava mesmo.
Aquela confusão na minha mente ficava cada vez pior. Eu queria realmente olhar
da forma que vinha encarando. Sexo, apenas sexo, mas depois do dia que
tivemos, eu já não sabia. Foram risadas, brincadeiras e cuidados para uma pessoa
que pensava ou queria que fosse apenas sexo. Uma pessoa assim não se
preocupa em fazer nada além do prazer garantido, e ele estava me dando o
pacote completo de tudo que desejamos em um homem.
— Mel, Terra chamando. — Pulei quando uma mão encostou no meu ombro.
— Meu Deus, Igor! Quase me mata! — Ele riu, me olhando.
— Estou aqui há horas falando sozinho.
— Ai, desculpa. Estava meio longe.
— Eu percebi. Continua contando sobre a escola.
— Então, teve o teste oral. Se a gente não tivesse ficado ontem estudando e você
insistindo para que eu pudesse pegar aquelas coisas, teria passado vergonha.
— Fico muito feliz que tenha ajudado. Mesmo que seja meio sem querer.
— Fica muito feliz com o que, Igor? — A voz de Lucca tomou conta da cozinha.
Ele estava de bermuda e sem camisa.
— Mel estava me contando que foi muito bem em um teste surpresa na escola
hoje.
— Parabéns! Bom saber que você está se esforçando.
Me levantei e fui até a pia, onde comecei a lavar o que havia sujado para fazer
meu lanche. Ele passou por mim para ir até a geladeira e foi como se todos os
pelos do meu corpo se arrepiassem.
— Eu preciso que o senhor dê uma olhada em uma documentação — disse Igor.
— Vou buscar, pois preciso levar assinada amanhã.
— Claro, Igor. Vou apenas tomar uma água e leio tudo no quarto.
Igor se levantou e saiu. Logo Lucca estava com o corpo colado ao meu. Ele
beijou meu pescoço e mordiscou, fazendo eu sentir minhas pernas bambearem.
— Vem tomar banho comigo. Prometo que você não vai se arrepender.
— A gente já passou o dia juntos.
— E o que tem, branquinha? Sente como eu estou te esperando no meu quarto.
Ele saiu de trás de mim, mas antes roçou a ereção em mim para se fazer
entender, ficando ao meu lado, enchendo um copo com água. Tão perto do meu
corpo que nem um papel passaria por nós dois. Ele se afastou rapidamente
quando passos ficaram perto demais.
— É esse documento aqui, tio — Igor disse, entrando. — Está tudo bem aqui?
— Por que não estaria? Estava apenas pedindo para que Melissa lavasse o copo
para mim. — Ele se virou e piscou para mim, colocando o copo na pia.
— Você andou brigando com uma gata, tio?
— Sim, uma gata muito selvagem, Igor. Gostosa na medida certa, safada quando
tem que ser... Ela faz gostoso. — Derrubei o copo na pia e me engasguei,
tossindo, para em seguida sentir sua mão alisando minhas costas.
— Você está bem?
— Eu estou bem.
— Certeza? Você está tão vermelha, parece com o corpo em chamas.
— Estou ótima.
— Está bem. Igor, irei tomar um banho e depois vou ler isso, nos vemos na
empresa amanhã. Cuide da sua irmãzinha, ela não me parece bem.
O filho da puta descarado saio em seguida. Como ele fazia tais coisas? Era um
tarado mesmo. Parecia que queria me matar. Procurei focar no que estava
fazendo, afinal, achava que nunca mais encararia o Igor na minha vida.
Capítulo 14
Melissa Ferraz

A semana passou em um piscar de olhos. Tudo andava muito bem, as fofocas


tinham acabado e talvez eles tenham percebido que não passava de um boato
mal explicado, apesar de ter arrumado mais “amigos” depois da fofoca sem
cabimento. O silêncio realmente ajudava em um todo. O que na verdade
acontecia entre mim e Lucca ninguém saberia. Afastei-me das meninas. Na
verdade, de amigos mesmo, só tinha o Leo. Ele, com seu jeito espontâneo, me
deixava à vontade. Para ele, não importava se eu transava ou não com Lucca. Eu
realmente gostava do Leo. Ele era todo amável quando tinha que ser, e me
deixava doida também. Insinuou que sabia o que Lucca e eu tínhamos, que não
era apenas coisa de hóspede e bom anfitrião, porém, não foi a fundo.
Apesar de estar correndo tudo bem entre Lucca e eu, o que eu sentia por ele
estava começando a me sufocar. Eu precisava saber uma opinião ou apenas
desabafar com alguém. Lucca era um homem intenso, diferente de todos que
conheci na vida. Ele não me deixava uma noite sozinha, mas às vezes sumia o
dia inteiro. Eu não perguntava onde esteve, e ele, por sua vez, também não dizia
nada. Soube que ele não era muito de ficar em casa, porém, não era de sumir o
dia todo. Seu Carlos me pediu para tomar cuidado, disse que apesar de Marconni
ser do mundo, andava diferente, o que me trouxe um sorriso. Disse que não saía
mais à noite, como antes, nem estava bebendo. Seu nome não saía tantas vezes
nos tabloides de fofoca, mas que ele também era homem de várias mulheres e
não apenas uma, me aconselhando a não criar esperanças, porque homens assim
não mudavam nunca. Mas comigo ele era tão diferente desse homem que o seu
Carlos e o Igor pintavam. Eles não falavam mal, isso nunca, e eu também não
permitiria. Era como um aviso. “Ali tem fogo e você vai se queimar, e não vai
ser pouco”.
— Leo, precisamos conversar.
— Diz, florzinha, sou todo ouvido.
— Não aqui. Sabe, as paredes têm ouvidos.
— Então é um segredo? Adoro segredo. — Ele bateu palmas como uma criança.
Como era bobo.
— Eu preciso conversar, preciso desabafar.
— Até que enfim, florzinha. Eu estava mesmo querendo saber até quando ia
guardar isso só para você.
— Pois é, está pesando.
— Pena que não vai ser hoje que vou escutar essa história, porque acho que você
tem um novo motorista.
Ele fez um gesto com a cabeça para que eu olhasse para frente. Na porta da
escola parecia que tinha algum astro de televisão. As meninas estavam todas em
alvoroço, parecendo urubu em cima de carniça, e ele estava lá, no meio, sendo o
centro das atenções. Eram fotos e abraços para todos os lados.
— Mas que porra ele está fazendo aqui?
— Eu acho que o segredo não sabe guardar segredo — brincou Leo.
— Engraçadinho, você.
— É um dos meus incríveis talentos.
Tinha uma vaca pendurada no pescoço dele, e quando chegamos mais perto, ele
sorriu daquele jeito perfeito para ela, e que ódio eu senti. Entendi porque
algumas pessoas não podiam andar armadas.
— Senhor Marconni, que surpresa o senhor por aqui! — eu disse quando ele se
despediu da vaca, nos encarando. Cruzei os braços e ele sorriu. — O seu Carlos
não veio por quê?
— Uma boa tarde para você também. Leonardo, é sempre um prazer encontrar
com você — cumprimentou, olhando para o Leo e estendendo a mão. O Leo o
cumprimentou de volta e parecia meio afetado por Lucca e seu sorriso, que podia
matar qualquer pessoa a quem era direcionado. — Hoje é sexta pensei que
gostaria de fazer algo diferente.
— Por exemplo?
— Vamos encontrar o Igor e almoçar. Quem sabe eu não te levo para visitar o
Vaticano? Claro que o convite se estende a você, Leonardo. Será muito bem-
vindo para nos acompanhar.
— Eu agradeço, senhor Marconni, mas tenho um compromisso e nem por um
decreto entro no mesmo carro que ela hoje! — Bufei, olhando para o Leo e o
descarado apenas sorriu.
— Até você?
— Eu estou apenas dizendo a verdade, florzinha.
O Leo me abraçou, se despediu de mim e acenou para o Lucca, saindo.
Entramos no carro e assim que saímos em direção à estrada, uma música suave
soou nos alto-falantes.
— Você está bem? — perguntou, um pouco depois do silêncio tomar conta do
carro.
— Está tudo ótimo.
— E por que essa tromba?
— Por quê? Porque você é um babaca.
Eu estava morrendo de raiva por ele ter aparecido na escola e estava com raiva
por ele ter ficado se achando a estrela no meio de tantas meninas juntas.
— Isso não é ciúme, é, branquinha?
— Ciúmes? — Gargalhei, zombeteira. — Faça-me rir, Marconni.
Ciúmes? Como ele podia ser tão pretencioso?
— Agora que tinham esquecido dessa história toda de namoro você vai me
buscar. Ainda mais com tantas “fãs”.
Ele riu de mim, sem acreditar no que eu dizia.
— Toda essa tromba por conta de algumas fotos? — indagou e virou para mim
quando o carro parou no farol. Sua mão veio para tocar minha coxa nua, já que
estava usando uma saia. Olhei bem para seu rosto e notei uma mancha enorme
de batom, bufei e afastei sua mão.
— Você está parecendo que saiu de um cabaré — afirmei, irritada. — Olha a
mistura desses perfumes? A propósito, sua bochecha está sujinha.
Cruzei meus braços e virei-me para a janela. Ele abriu o porta-luvas, pegou um
lenço de papel e limpou a mancha.
— Foram só fotos, criança. Elas não passam de meninas deslumbradas e você é a
minha criança preferida.
— Vai à merda, Marconni!
Filho da puta! Eu não devia ir para porra de lugar nenhum com ele. Deveria
nunca ter entrado naquele jogo ridículo. Ele me chamava de criança e ficava com
essas gracinhas. Lucca dirigiu o resto do caminho em silêncio. Entramos em um
prédio pouco tempo depois, fui abrindo a porta do carro assim que ele
estacionou, pensando em só aturá-lo pelo Igor, mas planejando que à noite ele
encontraria a porta do meu quarto fechada. Estava na hora de eu parar de ser
fraca quando se tratava dele. Ele segurou meu braço, interrompendo minha
saída, virei para olhá-lo.
— Desculpa, branquinha. Eu estava brincando, não fica assim, por favor. Hoje é
para ser um dia especial para você.
— E por que faz isso? Por que fica jogando na minha cara que você é o fodão?
— Ele tentou esconder o sorriso e o palhaço estava muito engraçadinho para o
meu gosto.
— Desculpa, eu não vou rir.
— Não sei por que essa felicidade toda.
— Eu recebi uma boa notícia, e quero passar o dia com você e o Igor. Sei que
não deveria ter ido à escola, mas não vou ficar me policiando porque querem
falar de mim.
— Mas não se trata só de você. Agora vou ter que aturar esse povo todo me
olhando e especulando novamente.
— Deixa falar. Eu já te disse que o melhor é não dar atenção.
— Está bem — concordei, por fim. — Cadê o Igor? Estou com fome.
— Ele deve estar na sala dele. Aqui é a empresa onde gerenciamos a cadeia de
hotéis.
— Sério?
— Sim, você vai conhecer. Outro dia te levo em um dos hotéis para conhecer a
suíte presidencial.
— Por que você é tão tarado? Não pensa em outra coisa além de sexo?
— Não quando você está assim, toda bravinha e ciumenta.
— Idiota!
Ele colocou a mão em minha nuca e trouxe sua boca na minha, me beijando com
calma. O dedo traçou meu rosto, fazendo um carinho de leve, mas não demorou
muito e ele recuou, saiu do carro e abriu a minha porta para que saísse,
trancando o carro e nos encaminhando até o elevador. Lucca usava algum tipo de
feitiço comigo, não era possível. Ele me levava da raiva, com vontade de matar,
para a calmaria, com apenas um beijo leve e sem segundas intenções. Entramos
no elevador e ele se manteve calado, graças a Deus. Daquela boca só está saindo
asneiras. Virei meu rosto para olhá-lo, todo relaxado e calmo. Ele também me
olhou e sorriu torto, me dando uma piscadinha. Saímos do elevador e seguimos
por um corredor com várias salas, onde as pessoas trabalhavam concentradas.
Todos nos cumprimentaram enquanto andávamos. Como era de se esperar, todas
as mulheres o seguiram com os olhos.
Passamos por uma porta de vidro grande que tinha seu sobrenome gravado em
letras bem ornamentadas na cor prata. Uma moça se levantou e o cumprimentou.
Ele foi cordial com ela, me apresentou à sua secretária e pediu algo em italiano
para ela, que sorriu e concordou com um aceno de cabeça. Ainda era complicado
entender o que eles falavam, mas eu ia chegar lá. Ele acenou para que eu o
seguisse e tinham apenas duas portas naquele espaço amplo.
— Ali é minha sala, mas não vai conhecê-la hoje. Vamos pegar o Igor e sair. O
restaurante é um pouco distante.
— Aqui é amplo, muito bonito e clássico, com um toque imperial, diferente. Se
o escritório é assim, imagina os hotéis.
— Sim, eu não quis sair do clássico que são os escritórios, mas também queria
esse toque imperial de poder, então deu para encaixar uma coisa na outra e não
ficar um ambiente pesado para quem olha.
— É, foi muito bem organizado para ficar um lugar de seriedade e calmo ao
mesmo tempo.
Ele abriu uma das portas e entrou à minha frente. Seu grande corpo tensionou no
mesmo momento, e com os olhos deu para ver sua postura de calmo e relaxado
mudar radicalmente para tenso e furioso, até que uma voz melosa que não era
estranha aos meus ouvidos, proferiu seu nome. Ele falou alguma coisa em
italiano.
— Igor, o que ela está fazendo aqui?
— Eu espero que não se importe. Como sei que toda a sexta o senhor vem para
que a gente almoce junto, a convidei.
Marconni não respondeu, apenas deu um passo para o lado, me dando a visão de
todos que estavam na sala. Igor abriu um belo sorriso quando me viu, sua sala
era clássica, com móveis marrom escuro e branco, um sofá no canto e algumas
obras de arte na parede. Era clássico, porém, muito sofisticado. O que me
chamou atenção mesmo foi a Suzy plastifica sentada à sua frente.
— Esse almoço vai ser bem interessante — murmurei para ninguém em especial.
A Suzy me olhou dos pés à cabeça e torceu o nariz em desgosto.
— Mel, que surpresa boa. — Igor se levantou e veio até mim, dando-me um
beijo no rosto.
— Ele foi me buscar para que fôssemos almoçar juntos.
— É... uma tarde cheia de surpresas. Acho melhor irmos. Odeio me atrasar.
Lucca foi completamente irônico e grosso em uma frase pequena. A Suzy se
levantou e veio até nós, parando ao lado de Lucca feito um cachorrinho.
— Quindi andiamo meglio.
— Sì.
Igor disse algo e ela respondeu com um sorriso no rosto, quase que
imediatamente. Marconni simplesmente saiu pela porta enquanto ela o seguia.
Esperei Igor pegar o paletó e se arrumar, quando saímos da sala ele parecia estar
falando algo e ela cabisbaixa. Quando nos viu se aproximar, sorriu. Era uma
cobra mesmo. Entramos todos no elevador e a tensão era tão grande que parecia
ter umas cem pessoas dentro daquele espaço minúsculo.
Durante o trajeto, Igor e a Suzy plastificada conversavam animadamente,
enquanto eu estava quieta olhando para fora. Lucca não disse uma única palavra
e quando o carro parou no sinal, nossos olhares se encontraram. Ele baixou os
olhos e eu segui para onde ele olhava. Giovanna estava com a mão em sua coxa,
falando alguma coisa baixo em seu ouvido, ao que ele respondeu, recolhendo a
mão e calando a boca. O resto do caminho seguiu em pleno silêncio.
Chegamos no tal restaurante um tempo depois e pulei do carro o mais rápido
possível. Aquela situação era ridícula. Um fotógrafo se aproximou e Lucca o
dispensou com um aceno de mão. Nunca o vi ser tão ríspido com uma pessoa.
Entramos e logo fomos recebidos por uma moça que nos indicou nossa mesa.
Quando nos sentamos, ele pediu um vinho e foi tudo o que falou durante o
almoço. A louca falava o tempo todo e escutava os resmungos do Lucca,
enquanto Igor parecia alheio a tudo, grudado em seu celular. Às vezes falava
comigo uma coisa ou outra, mas tudo que eu queria era sair correndo dali o mais
rápido. Se a intenção do Lucca era um dia agradável, ele falhou completamente.
— Igor, eu não estou me sentindo muito bem. Podemos ir embora? Ou você
chama um táxi para me levar para casa?
Inventei qualquer desculpa, pois tudo que eu queria era ir pra casa.
— O que você tem?
— Cólica — falei a primeira coisa que veio à minha mente.
— O que tanto os dois estão cochichando? — Marconni perguntou.
— Melissa está com dor, vou levá-la para casa, tio. — Os dois se levantaram ao
mesmo tempo.
— Eu levo — disse Lucca.
— Não é necessário, tio. O senhor pode ficar e curtir o resto da tarde com a
Giovanna. — Lucca trincou os dentes e seu punho fechou. Ele fechou os olhos e
eu poderia jurar que estava contando.
— Cosa sta succedendo?
— Melissa non è bene, devo portarla a casa. Spero che non ti dispiaccia se mio
zio ti porta a casa Giovanna.
— Prenditi cura di tua sorella Igor, non ti preoccupare, so che sono in buone
mani.
Marconni chamou o garçom, que veio com a conta. Ele pegou a carteira e passou
o cartão. A “plastificada mor” estava com um sorriso que não cabia no rosto.
Saímos do restaurante e Igor pediu que aguardasse um pouco. Ele andou até a
lateral do restaurante e voltou, então um táxi logo encostou. Igor abriu a porta
para mim. Entendi porque ela tinha um sorriso tão grande no rosto. Eu estava
indo embora e ela ficou com ele. Merda!
— Vamos, Mel.
— Claro, Igor.
Acenei com a cabeça e entrei, Igor entrou logo em seguida. Fechei meus olhos,
pensando no quanto fui burra de ter saído de lá e os deixado sozinhos. Tentei não
imaginar o que aconteceria com eles àquela tarde, e quem sabe a noite toda.
Senti uma lágrima descer pelo meu rosto, não sabendo por que tudo estava me
afetando daquele jeito. Igor me chamou quando chegamos em casa, agradeci por
me levar e disse que subiria para tomar um banho e descansar, foi o que fiz.
Depois da ducha, não demorei a pegar no sono. Estava exausta, física e
emocionalmente.
Lucca Marconni
Eu havia me metido em uma situação patética. Tudo o que eu menos desejei era
estar sentado naquele carro com Giovanna ao meu lado, me falando um milhão
de coisas sem sentido. Minha cabeça estava em Melissa e sua indisposição. Eu
devia estar com ela, cuidando dela. Não compreendia exatamente o que Igor
pretendia com tudo aquilo, mas iria perguntar, com toda certeza. Não demorou
muito para que chegássemos a casa de Giovanna. Estacionei a frente e desci do
carro, dando a volta e abrindo a porta para que ela descesse. Eu estava adiando a
conversa com Giovanna, e já havia dado sinais de que não estava mais afim do
que tínhamos, afinal, não tinha porque continuar com aquilo, a mantendo em
banho maria. Eu realmente estava cansado.
— Podemos conversar, Giovanna? Ou você tem algum compromisso?
— Claro que podemos, meu amor. Vamos entrar. Estou com a tarde livre, sou
toda sua.
Ela sorriu de forma provocante, e se fosse a um tempo atrás, eu teria devolvido o
sorriso, porque estaria com o mesmo objetivo que ela. Mas naquele momento,
tudo o que eu queria era deixar claro, sem sombra de dúvida, que o que tínhamos
havia acabado de vez.
Entramos na casa dela, que era muito bonita — Giovanna tinha um bom gosto e
gostava de viver no luxo, então ela tinha tudo que achava que precisava para se
sentir confortável —, andamos até a sala e ela foi tirando o casaco que usava e
jogando no sofá junto com sua bolsa. Quando parou, ela passou os braços pelo
meu pescoço, aproveitando-se do salto alto que usava, que a ajudava a ficar em
minha altura. Sentia nojo daquela situação. Não nojo dela, e sim por estar
naquela cena. Eu havia colocado-a naquela posição. Segurei em sua cintura e a
afastei, ao que ela me olhou, intrigada.
— Prefere no quarto, amor?
— Quando eu disse conversa, Giovanna, quis dizer que queria falar com você,
não transar.
— Podemos conversar tudo que você quiser depois que você me fizer
enlouquecer de amor, bebê. —Ela sorriu, se aproximando novamente e abrindo o
zíper na lateral de seu vestido.
Dei alguns passos para trás, indicando que aquilo não iria acontecer.
— Giovanna, eu já falei algumas vezes, já me afastei, porém, pelo visto, você
ainda não compreendeu, então acho melhor ser claro quanto a isso. O que
tínhamos acabou. Não quero mais nada com você, além de sua amizade.
— Mas por que, Lucca? Nós somos tão boas juntos.
— Porque eu estou com uma pessoa e quero levar isso a sério. Não existia nós,
Giovanna. Isso foi sempre em sua cabeça. Você sabe que era apenas sexo, mas
acabou.
— Mas você não pode fazer isso.
— A decisão está tomada. Se a minha amizade não bastar para você, não posso
fazer nada, mas saiba que sempre poderá contar com a minha.
Saí de lá sem olhar para trás. A deixei chorando no sofá e implorando para que
não acabasse, mas não tinha nada para acabar, visto que não havíamos começado
nada. Ela teria que entender o meu lado e aceitar minha amizade. Apesar de
tudo, eu gostava da amizade dela. No fundo, ela era uma boa pessoa.
(...)

Melissa Ferraz

Acordei com um barulho de duas pessoas discutindo e fui saber o que estava
acontecendo. Vi do topo da escada, Igor e Lucca falando de uma forma muito
acalorada. Antes de começar a descer, tentei entender o teor da discussão, pois
talvez fosse melhor voltar para o quarto e não me meter. Mas se a coisa ficasse
feia e eles acabassem por se agredirem, eu iria me sentir muito culpada depois.
Marconni falava alguma coisa que eu não conseguia compreender, mas me
aproximando mais conseguir ouvir algumas coisas.
— Eu só fiz isso para ajudar você — replicou Igor.
— Ajudar em quê? Você nunca gostou da Giovanna. Mal falava com ela e agora
virou o que, um cupido? — Marconni gritou de volta.
— Não, eu...
— Eu estou falando, Igor. Você não é mais criança para ter atitudes assim. Por
que diabos resolveu se meter na minha vida agora? — ele cortou o Igor e o
silêncio se fez presente por um momento. — Eu estou te fazendo uma pergunta.
— Você sabe porque fiz isso, tio. Eu não pensei. Ela chegou lá no escritório, toda
chorosa porque você havia sumido e não atendia as ligações, sumiu do mapa, e
queria saber se estava com a Melissa. Eu neguei e ela contou do beijo que viu.
— E você foi logo acreditando em uma pessoa que você odeia? Pelo amor de
Deus, Igor!
— Mas, tio, você me disse que não teria nada com ela.
— Eu disse que não a machucaria. Eu já te falei e vou repetir pela última vez:
não se meta em minha vida! Eu não me meto na sua. Não importa com quem eu
saio ou deixo de sair. Não sou nenhum moleque. Sou homem o bastante para
assumir alguém quando eu bem entender, então não jogue ninguém em cima de
mim, principalmente a Giovanna. Se você está com dó, pegue para você e cuide,
mas não repita a merda de hoje ou vou te ensinar novamente quem é quem nessa
casa. Estamos entendidos?
— Sim senhor.
Igor parecia um adolescente que fez a pior burrada da vida e estava sendo
repreendido pelo pai. Lucca, por sua vez, foi firme e duro em cada uma de suas
palavras. Terminei de descer as escadas e os dois me olharam. Igor estava
claramente arrependido, dava para ver em seus olhos; já Marconni, brilhava em
desapontamento e raiva. Ele apenas deu as costas e saiu, depois Igor se jogou no
sofá. Eu não sabia o que tinha acontecido, não sei se a briga era por causa do
almoço, ou por causa de mim. Além de ser toda de mentira, aquela Susy ainda
era fofoqueira. Eu não sabia se voltava para o meu quarto, falava com Igor ou ia
atrás do Lucca. Decidi não ser covarde e não voltar para o quarto. Lucca estava
bravo e precisava de um tempo sozinho, então era melhor eu cuidar do Igor,
afinal, ele estava mais perto. Cheguei perto e sentei ao seu lado.
— Você quer conversar?
— Eu fiz tudo errado — ele disse. — Jurei que estava agindo de forma certa,
Mel, e olha o que fiz. Ele está completamente decepcionado comigo.
— Ele só está bravo, vai passar.
— Nós somos amigos, sabe?! Sempre conversamos, porém, temos linha de
limite, e eu ultrapassei de novo.
— Igor, eu não sei o que aconteceu direito, mas suba, tome um banho e vá
descansar. Amanhã, com mais calma, você conversa com ele e pede desculpas.
— Você tem razão. Obrigado por me ouvir.
— Imagina, irmãozinho. Depois te levo um lanche, prometo.
— Obrigado, anjo.
Ele beijou minha testa e subiu. Um já tinha ido, faltava a fera brava.
Andei até a cozinha e Lucca estava lá, com a cabeça entre as mãos, os cotovelos
apoiados nas coxas. Aproximei-me devagar, ficando à sua frente. Ele levantou os
olhos e segurou na minha cintura, me puxando mais para perto, apoiando a testa
em minha barriga. Passei a ponta dos dedos em seu cabelo, percebendo que ele
não queria falar, e não seria eu a perguntar.
Capítulo 15
Lucca Marconni

Vê-la dormir havia virado minha rotina. Às vezes ela conseguia me esperar
acordada, como no dia anterior. Quando isso acontecia, tínhamos um sexo
delicioso, mas quando não conseguia esperar, apenas me juntava a ela na cama e
me entregava ao sono. Por mais que eu tentasse ficar em meu quarto, era
impossível. Meu corpo parecia um ímã, puxando-me para ela, mesmo que fosse
apenas para dormir. O importante era estar ali com ela.
Ali estava eu, apenas olhando-a dormir. O relógio marcava cinco da manhã, e
apesar do sexo que fizemos, não consegui relaxar e dormir. Brigar com o Igor
não era bom, mexia comigo. A atitude dele foi horrível. Me forçar a uma
situação daquela, logo ele, que sempre pediu para eu me afastar da Giovanna,
querer me empurrar para ela, era difícil de entender. Fiquei tão puto que minha
vontade era matar alguém. É tão foda quando as pessoas acham que têm direito
de se meter na vida das outras. Minha conversa com Giovanna também não tinha
sido nada fácil, mas era preciso ser claro e objetivo naquele momento.
Levantei da cama e saí do quarto dela como todos os dias, indo direto para o
meu banheiro, onde tomei um banho longo e demorado. Tinha que tirar aquela
raiva de mim, o incômodo em minha mente. Odiava mentir, odiava ter que viver
como se estivesse fazendo algo errado. Tudo estava pesando na minha cabeça.
Porra, eu não era nenhuma criança para viver daquele jeito. Saí do banho
decidido a conversar com ela e dar um jeito naquela situação. Eu, com 38 anos
nas costas, vivendo daquele jeito?! Não mesmo. Nunca dei e não seria daquela
vez que daria satisfação da minha vida para alguém. Eu queria apenas a
liberdade de estar com ela, onde e como eu quisesse. Mais nada. Coloquei a
boxer e uma bermuda, preparando-me parra sair para correr. Precisava esquecer
de algum modo a coisa toda com o Igor. Estava terminando de me arrumar
quando bateram na porta, que logo se abriu, mostrando a figura do meu
sobrinho.
— Se o senhor não estiver muito ocupado, eu gostaria de conversar.
— Entre e fale, mas sem demora, pois estou de saída. — Ele parou na minha
frente, meio incerto. Eu odiava ter que tratá-lo friamente, mas ele agiu como um
moleque, então seria tratado como tal.
— Eu quero pedir desculpas. Eu passei do ponto, não devia ter feito o que fiz, e
te forçar a uma situação constrangedora.
— Você sabe muito bem o que você fez, Igor. Você tomou uma atitude ridícula.
E se esse beijo realmente aconteceu? Melissa não é mais criança. Ela sabe muito
bem o que quer para ela.
— Eu fui imprudente — admitiu ele. — Sei que não deveria ter feito isso, mas
eu não pensei. Ela falou do beijo e fiquei sem reação. Me incomodou e não sei
explicar.
— Por que você deseja tanto proteger Melissa? Não é possível que seja apenas
pelos acontecimentos do passado. Isso infelizmente não pode ser mudado.
— Claro que é! — ele afirmou rapidamente, e pela primeira vez tive dúvida do
que ele disse.
— Tem certeza, Igor? Parece que tem algo mais. — Não podia ser. Seria possível
que ele estivesse afim dela? Isso era demais para mim. — Você gosta dela? Você
quer ficar com ela? Por isso todos esses avisos, esse receio de eu me envolver
com ela?
— Claro que não, tio! Ela é como uma irmã e tudo o que não quero é vê-la mal.
Eu o conheço e o que sei, foi o senhor que me ensinou. Não se apaixonar, não
amar, curtir, que mulher foi feita para curtir e nada mais, quanto mais melhor...
Foi o que fiz até hoje. A lei que segui. — Me levantei e joguei a camisa no
ombro.
— Pois é, Igor. Mas hoje é isso que você vem fazendo?
— Não, eu mudei.
— Então. Eu tenho um motivo para ter agido assim durante todos esses anos, e
não foi ruim. Você se arrependeu, acha que jogou tudo fora?
— Não, tio. Eu vivi e curti como bem quis. Você me mostrou o lado bom de ser
solteiro, mas estou precisando de mais, então mudei.
— Você me pinta como um monstro, mas seguiu na mesma linha sua vida toda e
agora diz que mudou. Será mesmo que só você pode mudar? Tudo muda um dia,
basta querer.
Deixei o quarto, pois ele precisava pensar. Tudo muda, porque eu não podia
mudar também? Mel estava parada na porta do quarto, o cabelo ainda uma
bagunça, mas abriu um sorriso quando me viu. Andei até ela e lhe dei um
selinho.
— Lucca! Você quer que alguém nos veja? — Dei de ombros, pouco me fodendo
para que vissem.
— Precisamos conversar.
— Vocês brigaram de novo?
— Não. Igor está precisando pensar nas coisas que vem falando e fazendo.
— Entendi. O que quer conversar?
— Nos falamos mais tarde. Agora preciso sair.
— Para onde você vai?
— Vou correr um pouco. Até mais tarde.
Dei outro selinho nela e desci, saindo de casa.
Pela primeira vez em anos, alguém era mais que uma transa. Acontece que em
contrapartida, não assumiria nada sério, pelo menos não naquele momento. Tudo
que queria era poder ir até o quarto dela a qualquer hora, sem ter que sair antes
que a casa toda acordasse. Quis admitir quando, mais uma vez, o Igor me
questionou sobre esse assunto. A verdade era que estava de saco cheio de toda a
merda.
Corri por quilômetros, acabei chegando em frente à praça onde ficava o colégio
de Mel, comprei uma água e sentei em um banco por ali. O tempo estava bom,
embora o sol não estivesse forte. Batia um vento refrescante. Olhei para frente e
vi aquelas pessoas indo e vindo, todos presos em seu próprio pensamento,
tentando decidir suas próprias vidas sem olhar para o lado. Todos tinham uma
pequena história que lhes atormentavam.
A minha história nunca me fez mal, afinal, foi uma parte importante da minha
vida.
Mas a discussão com a Giovanna e principalmente com Igor, mexeram muito
com lembranças que não eram necessárias. Passado é passado e não importa o
que foi dito ou feito, nada seria capaz de mudar, fiz minhas escolhas. O meu
estilo de vida após a morte de Camilla estava cobrando seu preço. Um preço alto
demais. Estava encantado por uma menina de dezoito anos e odiava ter que
admitir. Mas estava fascinado pelo seu jeito doce de menina, e ao mesmo tempo
firme de mulher. Eu não queria viver novamente isso. Estava bem com a minha
vida, sem regra, sem limite.
Olhei para a garrafa na minha mão como se aquela água fosse me dar a resposta
da minha vida.
— Lucca — alguém me chamou, me tirando da minha conversa com a garrafa.
— Giulia. — Me levantei para cumprimentá-la. Fazia muito tempo que não a
via. Sentia saudade de tê-la por perto. — Não sabia que tinha chegado.
— Na verdade, acabei de chegar, mas não consegui te avisar. Você parece não ler
mais seus e-mails.
— Senta aí. Você aceita água ou um suco? Posso pegar para você.
— Não, obrigado. Como vê, acabei de chegar. Te vi aqui sentado com essa
nuvem negra na cabeça. O que está acontecendo, Lucca?
Ela fez um gesto vago, mostrando as malas que estavam ao seu lado.
— Você parece sentir quando é necessário aparecer — comentei.
— Lucca, te mandei mais de cinco e-mails e não obtive resposta de nenhum.
Você não gosta dessas novas tecnologias, então deduzi que tinha algo muito
errado ou muito bom.
— Estou totalmente perdido, confuso e sem direção alguma.
— Vamos até o hotel onde vou ficar e lá conversamos — ela sugeriu. — Aqui
não é o melhor lugar para isso.
— Você tem razão, não é mesmo.
A ajudei com as malas e chamamos um táxi.
Ela continuava a mesma mulher, linda e deslumbrante que eu conhecia. O tempo
só tinha a deixado ainda mais bonita. Giulia sorriu quando me pegou a
encarando. Ela esticou a mão e acariciou o meu rosto devagar enquanto
conversava no celular, avisando a alguém que já tinha pousado e que estava indo
para o hotel. Giulia havia passado cinco anos fora e a nossa amizade nunca se
quebrou por conta da distância. Para falar a verdade ela sempre foi firme e
sólida, não importava o que acontecesse. Ela sabia quando eu precisava dela, e
quantas vezes eu não fiz o mesmo, pegando um avião e indo a encontrar sei lá
onde. Ela estava expondo suas pinturas pelo mundo. Apesar de ser formada em
administração, ela nunca quis exercer a profissão. Sempre foi apaixonada por
pintura e foi esse o caminho que ela seguiu assim que acabou a faculdade.
Chegamos um pouco depois a um dos meus hotéis, ela foi fazer os
procedimentos necessários, enquanto isso conversei com o gerente do hotel.
Giulia subiu para seu quarto, dizendo que mandaria me chamar quando estivesse
pronta. Solicitei nosso almoço e fiquei esperando no bar do hotel. Nada melhor
que um pouco de uísque para espairecer. Não demorou muito para ser informado
que poderia subir.
— E então, Lucca, você não veio até aqui para comer e ficar aí me olhando.
— Será que consigo finalmente arrastá-la para a cama se te olhar mais uns
minutos?
— Engraçadinho você. Nós nos conhecemos há uns quinze, vinte anos, e até
hoje você não conseguiu me arrastar para sua cama, e não vai ser agora.
— Culpa sua! Não sabe o que está perdendo — brinquei.
— Amor, da fruta que você gosta eu como até o caroço.
— Isso é porque você ainda não aceitou ir para a cama comigo.
— Para de ser tarado, Marconni. Diz logo o que está te incomodando tanto. Não
vai me dizer que tem a ver com a loirinha misteriosa que está em tudo que é
jornal e tabloide.
— Em tudo que é jornal? Pensei que isso tinha ficado para trás depois da festa.
— Hoje já bombou milhões de coisas sobre vocês dois. Depois dá uma olhada.
— Merda! Ela vai pirar novamente.
— Então é ela mesmo?
— Sim, Giu, a coisa é com ela. Lembra que te falei que viria para minha casa a
irmã de criação do Igor?
— Lembro que você estava bufando por ter que cuidar dela.
— Pois é. O nome dela é Melissa. Ela não é uma criança, mas sim uma mulher
linda, inteligente, brava, tem um sorriso que encanta, e fica linda quando faz
bicos enormes. Mel é perfeita.
— Para o mundo que eu preciso descer.
— O que foi? Falei alguma coisa de errado?
— Para continuar essa conversa eu preciso de algo para beber — ela disse. —
Aceita uma dose de uísque?
— Não, obrigado.
Giulia deu um grande gole na bebida antes de voltar a falar.
— Lucca, não pensei que viveria para ver isso novamente.
— Ver o quê?
— Você apaixonado por uma mulher. Está completamente apaixonado pela
menina.
— Apaixonado? Claro que não! Acho melhor você parar de beber, pois já está
imaginando coisa.
— É você que não está vendo o que está na sua cara, mas tudo bem. Essa fase de
negação passa.
— Fase de negação... — Bufei. — Você é muito besta, sabia?!
— Já que não é nada disso e eu estou louca, como é o sexo com ela?
— Não tenho como explicar, é simplesmente maravilhoso, viciante.
— Que bom. Se passou pelo seu teste, tenho certeza que não há problema de eu
investir nela também.
— Você está louca? Bateu com a cabeça no avião?
— Louca, por que amor? Não seria a primeira vez que dividimos uma mulher.
— Melissa está fora dos limites.
— Por que você está apaixonado?
— Não estou apaixonado. Sei muito bem o que quero de Melissa. — Pelo menos
era isso que eu imaginava. — O problema é o Igor, ele estar em parafuso com
tudo isso, e olha que ele nem sabe que que estamos nos conhecendo melhor.
— Sabe o que é mais engraçado? Você sabe exatamente o que está sentindo, mas
eu entendo, meu amigo. Afirmar em voz alta é complicado mesmo. Só torna
ainda mais verdadeiro quando é dito. Vamos esperar o momento certo, meu
amigo. O que Igor anda fazendo? Quero saber de tudo.
Contei a Giu várias coisas, inclusive o que estava na minha mente, me
perturbando. Conversamos sobre Camilla e ela me disse mais uma vez que nem
todas as mulheres são iguais, e insistiu que eu estava apaixonado. Claro que não
estava apaixonado, ou estava? Não, isso não era possível. Eu apaixonado... só
rindo mesmo. Giu devia ter batido a cabeça em algum lugar. Ela nunca falou
tanta asneira em anos de amizade. Cheguei em casa e encontrei o Igor saindo da
cozinha, falando no celular. Ele sorriu e eu sorri de volta, porque não era
necessário continuar com aquele clima ruim. Encontrei Mel tentando amassar
algo no balcão da cozinha.
— Oi — eu disse, parando no batente da porta. Ela me olhou e sorriu. — O que
está aprontando?
— Igor está me ensinando a fazer pizza, mas a namorada dele ligou e eu fiquei
amassando isso aqui.
— Você não está amassando, branquinha, você está alisando-a.
— E como eu faço?
— Deixe lavar as mãos que eu te mostro. Mas não pare o que está fazendo. Onde
está Graziela?
— Igor a dispensou pelo final de semana.
— Bom — disse, passei farinha nas mãos e me coloquei atrás dela, colando
nossos corpos e juntando nossas mãos, fazendo-a apertar firme a massa.
Enquanto isso, pressionava minha ereção contra sua bunda. — É assim que
aperta. Com força. Está sentindo como a textura vai mudando?
— Sim, estou sentindo. — Ela respirou fundo e apertava a massa mais forte.
— Isso... Assim... desse jeito — sussurrei em seu ouvido, beijando seu pescoço.
— Agora você coloca mais farinha, mas não pare de amassar, branquinha, ou sai
do ponto.
Continuei esfregando minha ereção, que estava dura igual pedra, e tudo o que eu
queria era deitá-la na bancada e fazer dela a minha massa. Amassar, apertar,
comer... porra! Ela começou a rebolar no meu pau, subindo e descendo. Minha
bermuda a deixava sentir o quanto meu pau estava duro para ela, por ela. Enfiei
minha mão em seu cabelo, fechando os dedos no coque, fazendo-a olhar para
mim, então a beijei.
Ah, que saudade de sentir sua boca na minha novamente. De nossas línguas
dançando juntas...
Continuei a pressionar meu pau em sua bunda e ela se empinou para sentir
melhor. Esse short de academia que ela usava era o demônio e estava me
deixando louco. Chupei sua língua e ela gemeu, totalmente entregue. Terminei o
beijo com um selinho. Mel estava ofegante e eu podia apostar que estava toda
molhadinha e deliciosa, pronta para ser comida.
— Eu quero comer você — anunciei. — Nessa bancada. Sentir o quanto você
está molhada para me receber.
— Lucca, por favor.
— Pena que não podemos.
— O quê? — A nuvem de excitação havia passado, ela virou para me olhar. —
Você não pode me deixar desse jeito e parar. Eu estou pegando fogo.
— Na verdade, eu posso. Senta aqui que eu vou terminar essa massa antes que
não tenha jantar.
Saí de perto, me virando e lavando minhas mãos novamente. Ela ficou lá, com
aquele bico lindo formado em seu rosto.
— Estou pouco me importando com comida. Preferiria ser seu jantar.
— Vai ser minha sobremesa! — Dei uma piscada e ela não resistiu, me dando
um sorriso. Comecei a mexer a massa novamente, que já estava quase pronta. —
E precisamos de um jantar, afinal, teremos visita.
— Visita? Posso saber quem? — perguntou Igor, entrando na cozinha. —
Desistiu? — Ele se dirigiu a Melissa.
— Ele que tomou conta de tudo.
— Claro! — me pronunciei. — Cheguei e você estava alisando a massa. Ia ter
que fazer outra. Já está boa agora. É só abrir e rechear. Acho melhor fazer
aquelas pequenas, porque rendem mais, ou você pode fazer outra massa, Igor.
— Faz você, tio. Foi difícil acertar essa. Mesmo assim só ficou desse jeito
porque você chegou.
— Está certo, eu faço. Vocês abrem e recheiam.
Enquanto começava a preparar a massa, notei o quanto Igor era paciente,
mostrando a Melissa o que fazia. Ocasionalmente eles sorriam um para o outro.
Me sentia puto, ainda mais depois de tudo que ele fez a ela. Eles têm uma
diferença de idade, porém, nada que desse para comparar a diferença de idade
entre mim e ela. Era muito maior. Será que teria que me preocupar com os dois?
Não era possível! E por que diabos estava pensando nisso? Ela era livre e
tínhamos só um sexo ocasional certo. Acontece que ela não podia se relacionar
com outra pessoa, ainda mais essa pessoa sendo Igor. A verdade é que estava
fodido!
— Tio?
— Oi, Igor.
Afastei qualquer pensamento que me desagradava naquele momento.
— Você ia dizer quem está vindo e entrou nesse mundo paralelo, mas se
esqueceu de falar.
— É a Giulia. Encontrei com ela hoje.
— Por isso passou o dia fora — deduziu ele.
— Sim — confirmei. — Estava correndo e a encontrei chegando do aeroporto.
Acabei a acompanhando até o hotel.
Notei quando Melissa parou o que estava fazendo e passou a prestar atenção na
conversa.
— Ela é maravilhosa. Que bom que está de volta, senti saudade.
— Passei o dia com ela, almoçamos e colocamos o papo em dia.
— Ela veio para ficar?
— Não, ela vai passar apenas alguns dias. Tem uma exposição em Paris e depois
volta para expor as obras em um dos nossos hotéis.
— Giu é demais, Mel. Você vai ver, ela é maravilhosa — Igor falou, todo
animado.
— Como a Giu não há igual — concordei, provocando-a. Ela focou em mim,
que sorri. — Bom, vou deixar o restante por conta de vocês dois. A massa está
pronta. Igor, passe no meu quarto quando subir, por favor.
— Claro, tio.
— Nos vemos mais tarde, Melissa.
Saí da cozinha sem saber se provocar Melissa daquele jeito era certo, mas eu
tinha que ser realista ver o ciúme brilhar em seus olhos foi bem gratificante, ela
teria uma grande surpresa, subi para meu quarto tomei um banho e me deitei
para descansar o resto da tarde, afinal eu também merecia.
Capítulo 16

Melissa

A noite não começou bem e por mim nem descia para conhecer essa tal mulher.
O tarado “mor” disse que passou o dia inteiro na casa dela, mas o pior era os
dois babando pela mulher. Depois que Lucca saiu da cozinha, Igor não parou de
tecer elogios para a tal Giulia. Saco! Não sabia porque estava tão irritada com
isso. O que esperar do Marconni, tarado do jeito que era? Nem idosa passava por
ele sem receber um de seus sorrisos de merda.
Passei a mão no cabelo e fiz um coque bagunçado, escolhi um jeans e uma
blusinha regata solta, com o símbolo do Kiss na frente. Sorri, me olhando no
espelho. Estava ótimo! Não tinha e nem queria ter que fazer bonito para
ninguém. Meu humor estava prestes a cair ladeira abaixo.
Saí do quarto sem vontade alguma, esperando que ficasse bem visível no meu
rosto. Ouvi a risada dos três patetas quando me aproximei e eles pareciam
bastante animados. Lucca em sua poltrona, como de costume, e Igor grudado
com a loira, sentada ao seu lado. Eles conversavam sobre as exposições que
seriam realizadas na rede de hotéis. Cheguei mais perto e tossi, chamando a
atenção de todos. Lucca sorriu daquele jeito torto e me olhou de cima abaixo, me
despindo com os olhos, enquanto Igor continuou de mãos dadas com a loira
magnífica.
Giovanna era bonita, isso é fato, não podia negar. Mas a mulher à minha frente
era ainda mais linda. Magra, com tudo em seu devido lugar. Ela usava um jeans,
botas e uma blusinha soltinha. Sorriu para mim de uma maneira diferente, olhou
para Lucca e apenas acenou com a cabeça. Ela se levantou e veio até mim, me
envolvendo em um abraço de urso que me pegou totalmente de surpresa.
Demorei, mas retribuí seu abraço, meio sem jeito.
— Olá, Melissa. — Ela sorriu e beijou o meu rosto. — É, Lucca, ela é realmente
linda. Você tinha razão. Muito encantadora. Ouvi tanto de você em um dia, que
não via a hora de te conhecer. Eu sou Giulia.
— Olá! Acho que posso dizer o mesmo de você.
— Venha. Sente aqui comigo, faço questão. — Ela me pôs sentada entre ela e
Igor e passei a entender uma coisa: a mulher era a versão masculina do Lucca.
Ela tomava todo o lugar sem fazer nenhum esforço. Olhei para Lucca sentado
com seu copo de uísque na mão e vi que seu sorriso sumiu. Ele estava
completamente tenso.
— Então você ouviu muito sobre a Mel? — Igor perguntou ao meu lado, se
dirigindo a Giulia.
— Sim. Quando cheguei aqui e quando abri as notícias sobre minha cidade natal.
— É, a gente sempre chamou muita atenção da mídia. Isso às vezes irrita —
Marconni se pronunciou, com o olhar queimando sobre mim.
Tinha alguma coisa errada. Parecia que só eu não sabia o que estava
acontecendo.
— Pois é, Lucca. Nem tudo sai como a gente planeja. Você não acha, Melissa?
— Giulia se virou para mim, tocando minha perna com a sua mão, e aquilo me
incomodou. Ela estava forçando uma intimidade entre nós que não existia.
— É, eu concordo com você — eu disse. — Aprendi recentemente que tudo
pode mudar, mesmo que a gente não queira.
— Você está certa, querida. Ainda mais nessa família. Tudo sempre muda. Te
contaram que ajudei o Lucca a pôr rédea nesse menino sapeca aí do lado? Era
tão rebelde quando chegou do Brasil...
— Isso eles deixaram de fora, dentre os muitos outros feitos seus.
— Eu e Lucca somos praticamente pais do Igor. A diferença é que quando nos
separamos, o pai ficou com o pequeno. — Fiquei totalmente alerta com essa
frase. Eu realmente havia perdido algo. Acho que o espanto estava estampado na
minha cara, o que fez todos rirem. — Pode respirar, afinal, é só modo de dizer.
Ela sorriu e o ponto que tinha feito comigo se esvaiu. Lucca esticou a mão,
tocando a de Giulia.
— Se não fosse a Giu e seu jeito maravilhoso, nós dois não teríamos
sobrevivido.
Precisava que alguém me levasse um balde para que eu vomitasse.
— Sempre perfeito, meu lindo. Você é que teve força o bastante.
Mais uma vez ela sorriu, em resposta ao que Lucca havia dito. Os dois trocaram
sorrisos e eu imaginei o quanto eles faziam um casal bonito. Tinham
praticamente a mesma idade e Igor foi como um filho para eles, pelo que
entendi. Afinal, os dois criaram Igor juntos, e tudo o que ele é hoje,
possivelmente, foi de ensinamento dos dois.
Eles voltaram à conversa animada e eu parecia mais uma intrusa no meio dos
três. Os dois babavam por aquela mulher, a cada palavra e em cada gesto que ela
fazia. O modo como eles interagiam mostrava tinham muito carinho, amor,
cumplicidade e intimidade. olhando bem, eles formavam uma família perfeita.
— Mel, você me ajuda com as pizzas?
— Claro, Igor.
Levantei meio relutante. Deixar os dois sozinhos não me parecia uma boa ideia.
No fundo eu estava com medo de voltar e encontrar os dois atracados no sofá.
Não sabia o porquê de aquilo me incomodar, afinal, era apenas sexo.
Sexo, repeti para mim mesma, sentindo meu coração protestar.
Giulia tinha razão. As coisas mudavam muito nessa família.
— E então, o que achou dela? Ela é demais, não é? — Olhei para Igor sem saber
exatamente o que responder. Minha mente dava voltas, imaginando o que se
passava na sala.
— Acho que é um pouco cedo para se dizer — me limitei a responder, não
querendo falar sobre meus pensamentos homicidas.
Ele foi tirando as pizzas do forno onde estavam sendo aquecidas. Modéstia parte,
estava tudo lindo. Tínhamos feito um belo trabalho. Fui colocando devagar as
pizzas para que tudo estivesse perfeito, e da cozinha dava para ouvir as risadas
dos dois.
Mas que merda! Queria matar alguém, mas nem devia estar me sentindo assim.
Nunca foi como um compromisso. A cada dia que passava, pensava que o
melhor era me afastar dele, mas ao mesmo tempo, quando pensava em deixar
tudo o que tínhamos, doía. Não precisava ser assim. Nós mulheres devíamos
pensar com a cabeça, sentir com o corpo e o coração. Bom, o coração devia
servir apenas para pulsar o sangue e nos manter vivos, não guardar sentimentos
tão profundos, que deveriam surgir de algo bem pensado e calculado, não de um
sorriso, um toque, ou do prazer do corpo. Amor deveria ser algo calculado e
avaliar o risco comandado pelo cérebro e não pelo coração, que é tão frágil.
— Eu levo as bandejas. Acho que o melhor seria um vinho, o que acha?
— Acho que combina com massa. Vai ficar bom.
Sorri para Igor e seu jeito atencioso com as coisas. Pensava realmente em tudo.
Peguei uma das bandejas e ele as outras duas. Estava começando a achar que
tínhamos exagerado. Aquela mulher magra daquele jeito, não devia nem comer
direito. Entramos na sala e desejei correr para as colinas e não voltar mais. Lucca
estava sentado no sofá, próximo a Giulia, com a mão sobre a coxa dela e ela rindo
de algo que ele disse. Estavam tão entretidos na conversa, que nem perceberam
que havíamos voltado.
Porra, que raiva!
— Tio — chamei, irônica, e Lucca se virou para mim. Os olhos dele poderiam
soltar adagas naquele momento. — Você pode escolher um vinho? Tenho certeza
que você sabe o predileto da Giulia.
Que merda! Por que eu não sabia guardar a merda da minha língua na boca? Ele
me olhou e levantou muito puto. Giulia gargalhou ainda mais alto, e eu não pude
deixar de sorrir da cara que ele fez. Giulia parecia não ter se afetado.
— Sente-se aqui, Melissa. Tenho certeza que o Lucca conseguirá um ótimo
vinho para acompanhar essa pizza, que, por sinal, está com uma cara ótima.
Ela se sentou, me puxando para seu lado novamente.
— Igor me disse que vocês que fizeram. O Lucca só deu uma ajuda na massa.
— Sim, o Igor tentou me ensinar. Não sei se saiu muito bom. E me chame de
Mel.
— Só se você me chamar de Giu.
Até que ela parecia ser uma pessoa agradável. Se não tivesse querendo acabar a
noite na cama do tarado sem rumo...
— Espero que goste. Posso perguntar uma coisa?
— Claro.
— Você é italiana mesmo? É que fala o português tão bem.
— Sim, eu sou italiana, mas tive um bom professor para apreender o português.
Lucca sempre foi muito paciente em ensinar. — Engoli em seco com a resposta
dela, já imaginando as diversas coisas que ele ensinava para ela.
— Bom, acho que encontrei o vinho perfeito. Chianti Rùfina, um clássico —
Lucca disse, sentando-se entre nós duas.
— Boa escolha. Nada melhor que os clássicos. — Os dois se entreolharam e
aquilo já está me dando nos nervos.
— Eu sinceramente espero que vocês gostem. Não é nenhuma pizza feita pelo
tio, mas dá para enganar — Igor falou, pegando um pedaço de pizza, fiz o
mesmo.
Era melhor manter a boca cheia, antes que eu perguntasse mais alguma coisa
desnecessária.
— Eu estava aqui pensado, Mel... Será que você pode me ajudar a escolher qual
dos hotéis irei expor meus quadros? Será daqui mais ou menos um mês e meio.
O Lucca me ajudaria nisso, mas ele escolheria o primeiro dos hotéis, porém, já
fiz algumas exposições nele e é onde estou hospedada atualmente, mas quero
uma coisa diferente.
Ouvimos um sonoro “não” vindo do Lucca. O pedaço da pizza ficou preso em
minha garganta e eu comecei a tossir. O que aquela mulher estava pensando?
Além de trepar com meu homem, ainda tinha que ser sua empregadinha? Como
eu desejava dar na cara dela naquele momento... E o Lucca? De onde ele tirou a
ideia de que podia mandar em mim?
— Toma, Mel. O vinho para ajudar a descer — Igor disse, me estendendo uma
taça. Peguei de bom grado tomando todo o líquido.
— Por que eu não poderia? — indaguei, olhando para ele.
Diz, seu tarado!
— Porque... porque você mal fala italiano e isso iria atrapalhar.
— Vai ser uma forma de aprender mais — argumentei. — Giu, eu aceito!
Obrigada pelo convite.
— Oba! A gente se vê ainda essa semana para poder combinar tudo.
— Está combinado.
Eu não sabia que merda estava fazendo ou onde estava me metendo. Pela cara
que Lucca ficou durante todo o resto do jantar, imaginei que estivesse bem
ferrada. Eu não disse nada mais. Era melhor me manter de boca fechada.
Giu adorou a pizza. A mulher parecia que estava com uma fome de mil
mendigos. Com ela não tinha miséria. Gostaria de saber para onde ia tanta
comida.
Os três continuaram conversando amenidades, enquanto eu fiquei apenas
observando e tomando vinho. Já estava meio tonta e agradeci aos céus pelo fato
de no dia seguinte não precisar acordar cedo.
— Já está tarde, Lucca. Você me leva ao hotel?
Credo, que mulher mais oferecida! Já queria arrastá-lo para sua cama mais uma
vez. Não bastava ter ficado com ele o dia inteiro? Levantei-me junto com todos e
quando fui cumprimentá-la, esbarrei acidentalmente na taça de vinho do Lucca,
sujando toda a sua roupa.
— Merda! — Lucca xingou e fiz minha melhor cara de inocente.
— Oh, me desculpa! Eu nunca tive senso de espaço. Foi um prazer lhe conhecer,
Giu, e não vejo a hora de trabalharmos juntas. Sei que vou adorar.
— Ah, sim, querida, será um prazer de todas as formas possíveis, tenho
completa certeza disso.
Oi?! Ela estava dando em cima de mim ou era efeito do álcool? Provavelmente
era o efeito do álcool.
— Espere um momento, Giu. Vou trocar de camisa, é coisa rápida.
— Não é necessário. Tenho certeza que Igor não se importa de me levar. Não é
mesmo, querido?
— Claro que não! Assim podemos conversar mais um pouco. Vamos?
— Vamos.
Ela me deu um beijo e abraçou Lucca, dizendo que o esperava no horário
combinado no dia seguinte.
Deus! Ela era patética.
Girei em meus calcanhares e subi as escadas antes que ele soltasse qualquer
gracinha. Queria mais que se lascasse. Cretino, cafajeste, idiota, tarado!
Entrei no quarto e fui tirando minha roupa. Tudo que queria era cair na cama e
dormir, pois minha cabeça estava pesando por conta do vinho. Deitei apenas de
calcinha, não demorou muito e senti a cama afundar. Tentei ao máximo acalmar
minha respiração, assim ele iria embora ao perceber que já estava dormindo, mas
não consegui manter minha respiração calma quando seu corpo encostou no
meu, quando sua ereção pressionou minha bunda e sua língua traçou a linha do
meu pescoço até meu ouvido.
— Não via a hora de poder ficar sozinho com você, minha branquinha. Que
saudade estava — ele sussurrou em me ouvido, como o cafajeste de marca maior
que era. Passou o dia inteiro com outra e quer vir com aquela de saudade.
— Você pode sair do meu quarto? Estou cansada e quero dormir. — Foi um
momento de silêncio, uma batida do coração, até que ele se afastou, mas não o
bastante.
— O que você disse? Eu sei que você quer. Me sujou de vinho de propósito, só
para conseguir ficar sozinha comigo.
Ele se deitou novamente em cima de mim, beijando meu pescoço, dando
algumas lambidas. Fechei os olhos, dando graças a Deus pela luz apagada. Eu
não deixaria o desejo me consumir.
— Você me ouviu muito bem. Saia do meu quarto, e, por favor, bata a porta.
Ele não disse mais nada. Saiu de cima de mim e escutei quando recolheu sua
roupa e saiu batendo a porta. Senti um vazio instantâneo, mas as coisas tinham
que ser assim. Eu não podia deixá-lo achar que sou como as outras. Virei-me na
cama e fiquei olhando para o alto, tentando entender tudo que estava
acontecendo comigo. Não sabia quanto tempo havia se passado, até ouvir o
barulho de moto. Me levantei e pude ver quando ele saiu pelo portão principal.
Peguei meu celular, olhando o relógio, que marcava quase cinco da manhã.
Lucca era um grande ponto de interrogação.
— Mel, acorda — alguém me chamava, mas eu não queria acordar.
— Não, me deixe dormir.
— É sério, Mel. Acorda, vai.
— Que foi, Igor? Que seja algo muito importante para você me acordar! —
reclamei, passando a mão no rosto e segurando firme o lençol perto do meu
corpo. Eu não havia dormido a noite toda e quando consegui cochilar, alguém
me chamava.
— Quero te levar no Vaticano — ele disse. — Vamos pegar a missa do meio dia,
se você levantar esse rabo da cama logo.
— Se você sair do meu quarto eu posso me levantar e me arrumar.
— Hum... ok! Te espero lá em baixo.
— Obrigado, gato.
Me arrumei com o pensamento de que era mais um domingo que eu não saberia
o paradeiro do Lucca. Fazer o quê? Paciência...
Desci e encontrei Igor esperando por mim enquanto mexia no celular, sentado no
sofá.
— Estou pronta, gato. Vamos?
— Gata está você. — Ele segurou minha mão e me rodou. — Eu vou ser muito
invejado.
— Vai ser coisa nenhuma, seu chato — rebati. — Vamos de uma vez, antes que
eu volte para aquela cama. Eu preciso passar em uma farmácia para tomar minha
injeção. Só não sei como vou fazer. Eu tenho receita, mas é do médico do Brasil.
— Não se preocupe. Tenho um amigo farmacêutico. Ele vai quebrar essa para
mim.
Segurei a mão do Igor e saí o arrastando para fora. De certa forma sabia que o
dia prometia, apenas não sabia o quanto ele prometia, ou se era bom ou ruim. Eu
estava ansiosa para conhecer o Vaticano e poder assistir uma missa lá. Pelas
fotos, tudo parecia ser muito bonito.
Capítulo 17
Melissa Ferraz

Ir ao Vaticano com Igor foi maravilhoso. Conversamos bastante e nos


conhecemos melhor. Ele me contou mais da sua vida e qual sua posição na
empresa, me contou o quanto estudou para chegar no cargo que está e disse que
já não dependia mais do dinheiro do Lucca. Ele se sustentava com a própria
grana, e estava pensando em comprar uma casa em Nova York para poder ficar
mais à vontade. Os hotéis são luxuosos e tem tudo que ele necessita, mas por ser
criado em casa, ele sentia falta de privacidade, e já que ia ter que viver um tempo
por lá, queria estar bem estabelecido. Até porque, estava cansado de viver de
curtição e pensava em formar uma família.
Às vezes pensamos que a missa é igual em qualquer local do mundo, mas
estamos enganados. Para um devoto, a missa que é celebrada nas dependências
do Vaticano tem uma importância muito maior, e é simplesmente linda. Apesar
de não entender o que o padre dizia, consegui sentir a paz transmitida. Tudo era
perfeito. A Basílica de São Pedro maravilhosa, de uma beleza extraordinária.
Estava terminando de me arrumar quando ouvi vozes alteradas vindas do quarto
ao lado. Vesti a blusinha que tinha nas mãos e saí do quarto para ver o que estava
acontecendo. Lucca não gritava, porém, seu tom era duro. Igor tentava dizer
alguma coisa, mas ele o interrompeu. Cheguei na porta e Igor me olhou por cima
do ombro de Lucca, que logo se virou para me olhar. Sua expressão era dura. Ele
estava com muita raiva, dava para ver em seus olhos.
— Vocês estão brigando de novo? Por que dessa vez? — perguntei, sem
entender toda aquela raiva. Lucca jogou o jornal nas minhas mãos de forma
brusca.
— Veja você mesma.
Foi tudo o que ele disse antes de sair batendo a porta. Olhei para Igor, que tinha
no rosto uma expressão triste. O jornal estava todo amassado e amarrotado, com
algumas folhas espalhadas pelo chão do quarto. Na capa havia uma foto minha
com Igor, na qual ele me segurava pela cintura enquanto eu olhava toda a
paisagem maravilhosa de Roma. Nós sorríamos e estávamos perto demais, mas
não era para tanto.
— Essa briga toda foi por causa dessa foto?
— Sim. Ele está furioso. Parece até que está com ciúmes.
— Ciúmes? Que ideia, Igor! Bebeu logo cedo, foi?
Lucca jamais sentiria ciúmes de mim. Ou sentiria?
— Não sei... — comentou ele, incerto. — Mas pelo menos estamos bonitos —
emendou, se referindo a foto do jornal.
— Pelo menos ele gritou com você e não comigo. Deixe eu ir terminar de me
arrumar, ou vou me atrasar.
A foto não dizia nada. Pelo menos, não para mim. Não entendia toda aquela
fúria. Se eu estava com ele, não estaria com o Igor ao mesmo tempo, isso era
óbvio. Afastei esses pensamentos e voltei para o que interessava: a minha vida.
Tomei minha injeção e estava mais relaxada. Mesmo me prevenindo, não
gostava de esquecer, afinal, já tinha que ter tomado, mas com tudo acontecendo,
havia me esquecido. Então era melhor seguir prevenida, porque Lucca era um
tarado de marca maior.
Encontrei Grazi na sala.
— Ei, você! Senti sua falta.
— Oi, Mel. Também senti a sua.
— Como você está? Deu tempo de fazer bastante coisa?
— Sim, já está tudo arrumado. Agora só falta casar.
— Isso será muito em breve, tenho certeza. Fico tão feliz por você.
— Obrigada. Você é um anjo.
— Que nada — falei e sorri. — Igor e Lucca, onde estão?
— Senhor Marconni saiu soltando fogo pelas ventas, o Senhor Igor ainda não
desceu. Você vai querer o seu café agora ou vai esperar por ele?
— Nem uma coisa nem outra. Eu já vou indo porque estou em cima da hora.
Depois conversamos e quero saber de tudo.
— Está bem, depois conversamos. Tenha uma boa aula.
A escola foi relativamente calma, tirando o Leo, que me largou sozinha. Mas não
aconteceu nada demais.
Quando ia saindo, Clara me parou, com o jornal em mãos.
— Você viu isso?
— Sim, e não me importo, não tem nada demais aí.
— Não é o que estão dizendo.
— Eu não ligo para o que estão falando. Sei a minha verdade, então deixe que
falem.
— Amiga — Odiava quando ela me chamava assim. Muita falsidade — se você
não está com nenhum dos dois, podia me levar para passar o dia na mansão com
você. Quem sabe assim eu não consiga um deles?
— Eu preciso pedir autorização para levar alguém lá, afinal, não é minha casa.
Inventei qualquer desculpa que veio na minha cabeça. Se já vinha a achando
muito interesseira, isso só me confirmou.
— Claro. E não é qualquer um que tem passe livre naquela casa. — Olhei bem
para ela e decidi não dizer o que ela merecia ouvir.
— Pois é, preciso ir. A gente se vê.
A segunda-feira começou com tudo e estava apenas na metade do dia. Depois de
andar até o carro e avistar seu Carlos, de repente a porta de trás se abriu e para
minha surpresa, quem apareceu foi Giulia, que desceu e sorriu para mim. Forcei
um sorriso, pensando que a história de que tudo que estava ruim sempre podia
piorar. Era uma verdade, com certeza. Quem escreveu tinha plena ciência disto.
— Mel.
— Giu.
— Aposto que não esperava me ver tão cedo — ela disse assim que me
aproximei mais.
— Isso é verdade, não imaginava.
— Não era essa minha intenção, mas acho que precisamos conversar e colocar
alguns pingos nos lugares certo.
— Tenho certeza que sim.
Como por exemplo, ela voltar para onde saiu e me deixar em paz com meu
italiano. Pensei, mas não daria o gostinho de dizer isso a ela.
— Que bom que concorda. Aceita almoçar comigo onde estou hospedada?
— Aceito.
Seguimos para o destino dela, mas notei que antes de pegar a estrada, seu Carlos
me deu rápido olhar através do espelho retrovisor. Ele estava mais calado que o
normal, apesar de ser uma pessoa de poucas palavras. Se limitou a dar um bom-
dia e nada mais. Fizemos o trajeto pelas ruas de Roma em silêncio, pensando nos
assuntos que ela queria poder tratar, mas também não me importando muito. Se
ela queria acertar as coisas, iríamos acertar tudo.
Paramos pouco depois, em frente a um hotel com uma fachada antiga, mas bem
estruturada, cuidada e muito elegante. O interior era bonito e clássico, com uma
vista linda e aconchegante. De algum jeito conseguiram deixar com jeito de casa
e dava realmente vontade de ficar hospedado em um lugar tão maravilhoso.
A segui até o elevador todo espelhado, onde ela apertou o botão e as portas se
fecharam, abrindo depois em um espaço amplo, com apenas duas portas em
lados opostos. A porta de um se abriu e de lá saiu uma mulher baixinha, com os
cabelos encaracolados, que logo imaginei ser brasileira. Impossível não ser. Era
uma bela mulata, que sorriu quando nos viu, e Giu sorriu de volta. Nos
aproximamos e, para minha incrível surpresa, elas se beijaram na boca. O meu
queixo caiu e rolou pelo hotel inteiro. Por Deus! Ela era lésbica e por que
ninguém havia me dito? Como eu era tonta.
— Mel, essa é Marcela, minha namorada.
Procurei na minha mente a parte que me obrigava a abrir a boca, e então
cumprimentei a moça.
— Prazer, Marcela.
— Essa é a Melissa do Lucca.
— A namorada que não é namorada. A famosa loirinha dos jornais. O prazer é
meu. — Ela sorriu adoravelmente, mas não precisava me lembrar do jornal. —
Eu estou de saída, bebê. Assim vocês ficam à vontade. Mel, espero poder te
encontrar outras vezes. — Ela beijou a Giu e acenou para mim, seguindo para o
elevador.
— Entra, Mel.
Entrei e era bem espaçoso. Diferente da parte externa, era um quarto bem
moderno, bem decorado, mas sem a sofisticação do antigo mesclado com o
novo, ele é totalmente moderno. Grandes janelas levavam à varanda, os sofás em
tom creme, onde me sentei e ela também. Mas antes de falar qualquer coisa,
pegou o telefone e fez um pedido, desligando em seguida.
— Acho que pela sua cara de surpresa, não te contaram minha sexualidade.
— É, não contaram — confirmei. — Só não sei qual o motivo para esconderem
isso de mim.
— Eu também não faço ideia, mas pelo menos agora, isso já ficou esclarecido.
— E por que você me convidou para estar aqui hoje?
— Bom, eu não sou muito de rodeios, então vou direto ao ponto. Eu sou muito
bem resolvida nas escolhas que faço. Ontem saí da casa de vocês com a certeza
de que você está completamente louca pela Lucca, até acordar hoje de manhã e
me deparar com essa foto. — Ela se esticou, pegou uma revista e me deu, lá
estava a maldita foto de novo. — Você está jogando com os dois, ou está em
dúvida e deixou tudo correndo solto? Me diz, Melissa, qual é o seu jogo? Foi pra
cama com o Lucca e agora quer experimentar o sobrinho, ou quer apenas jogar
com os dois deixando-os apaixonados por você? Me diz qual é a sua.
A princípio esperei meu cérebro registrar tudo o que ela disse. Quem diabos ela
pensava que era, para me confrontar assim? O que importava a ela com quem eu
me deitava ou não? Alguém precisava avisar para ela que não somos amigas,
nem colegas. Não a considero como nada. Levantei-me do sofá calmamente, mas
a vontade era encher a cara dela de porrada.
— Primeiro de tudo, quem você pensa que é para me questionar dessa forma?
Não te conheço, você não tem nada a ver com minha vida, então pondere suas
palavras.
— Eu sou uma pessoa que está vendo você manipular direitinho dois caras, só
que não vou deixar você machucar os dois. Não vou deixar que você quebre dois
corações que já foram muito machucados.
Eu ri sem humor. Aquilo só podia ser pegadinha, e de muito mau gosto, por
sinal.
— Olha aqui, você não fale dessa maneira comigo. Não me julgue por outras
pessoas ou atos que não são meus — esbravejei e fui saindo em direção a porta.
— Para que não fique dúvidas, não que eu te deva algum tipo de explicação, o
que sinto pelo Igor é meramente um sentimento de irmãos, que vim a aprender
há pouco tempo. Gosto sim, dele, mas não vou dizer que o amo, porque seria
hipocrisia da minha parte. Acontece que ele se tornou importante na minha vida,
sim, mas não do modo malicioso que vocês estão jugando. Eu não sou essa
pessoa que você descreveu.
Tentei não deixar transparecer o quanto aquilo me incomodou e fiquei ainda
mais irritada quando minha voz falhou. Já estava para abrir a porta, quando no
mesmo instante, a campainha tocou. Abri e lá estava Lucca, parado, olhando
para mim.
— O que você está fazendo aqui?
— Isso não é da sua conta. — Passei por ele, o empurrando para me dar
passagem. Ele segurou em meu braço fazendo com que eu o olhasse. — O que
você tem?
— Como se você se importasse.
Puxei o meu braço mais forte e agradeci a Deus pelas portas do elevador estarem
abertas. Corri e deu tempo de usá-lo, pois um homem segurou a porta aberta até
que eu estivesse segura lá dentro. Lucca continuava parado no meio do corredor,
me olhando sem entender nada. Ele que fosse perguntar para a idiota da amiga
dele.
Que ódio daquela mulher! Que ódio de mim mesma!
Saí correndo pelo hall do hotel, e seu Carlos, que conversava com um dos
seguranças, quando me viu sair sem rumo, veio em minha direção.
— O que aconteceu, Mel?
— Eu só quero ir para casa. O senhor me leva?
— Claro. Venha.
Ele abriu a porta do carro e eu entrei.
Como as pessoas julgavam as outras, sem conhecer, por causa de uma maldita
foto? Meu Deus! Eu sabia que existiam pessoas que eram assim, mas eu não era.
Porra, não era uma pessoa tão baixa para estar me deitando com dois homens,
ainda mais sendo sobrinho e tio. Olhei para o retrovisor e seu Carlos me olhava,
atento. Entendi porque ele estava estranho comigo. Também achava que eu
estava dormindo com os dois. Fiquei olhando a rua enquanto os carros
passavam, as pessoas indo e vindo.
— O senhor está pensando de mim o mesmo que todos os outros, não é mesmo?
— Sobre o que está falando?
— Sobre a foto do jornal. O senhor acha que estou dormindo com os dois?
— Eu não acho, menina Melissa, mas a foto ficou estranha, isso não posso negar.
O silêncio tomou conta do carro até que ele passou pelos portões da mansão.
— Eu aprendi a gostar do Igor, mas como um irmão.
— Você não precisa me dizer isso, meu anjo. Pelo pouco que te conheço, sei que
não seria capaz de estar com os dois. Porém, menina Melissa, seja o que você e
seu Marconni têm, eu não tenho nada a ver com isso, mas o Igor merece saber,
até porque, ele pode criar falsas esperanças.
— Eu não posso oferecer mais do que já dou para o Igor, seu Carlos, e um
sentimento fraterno apenas isso. Já com Lucca e diferente, eu tentei, tentei
muito, mas amo aquele italiano tarado.
— Isso dá para ver sempre que seus olhos passem por ele, e posso dizer que ele
sente o mesmo por você.
— Isso é completamente impossível. Ele gosta do que eu proporciono a ele, nada
mais. Enfim, eu estou perdida — admiti. — Obrigada por conversar comigo, seu
Carlos. Vou subir.
Já no quarto, deixei todas as lágrimas de frustração que estava sentindo virem
abaixo. Eu o amava e isso não valia nada para ninguém. Por mais que eu
quisesse encarar como apenas sexo e nada mais, eu deveria saber que ia ser
impossível me envolver com um homem como Lucca e não sair machucada. A
verdade era que, com um homem com a intensidade dele, era impossível não se
envolver por completo. Não sabia há quanto tempo estava ali deitada, mas as
lágrimas já haviam cessado e a vontade de voltar para minha verdadeira casa se
fazia muito presente em minha mente, afinal, fazia um tempo que ela tinha
sumido.
— Eu posso saber o que aconteceu com você hoje? — Quase caí da cama
quando a voz dele preencheu o quarto. Não ouvi quando entrou.
— Você não perguntou para sua amiga?
— Eu não tive tempo. Você saiu de lá feito uma louca.
Me virei e levantei da cama. Louca? Ele não havia visto nada.
— Louca é aquela sua amiga. Sabe o que ela queria comigo? Me chamar de
vadia interesseira. Ela queria saber se eu não estava satisfeita em trepar com
você e queria trepar com o Igor também. Como ela pôde dizer isso para mim?
Ela nem me conhece e vem com esse papo todo. Se ela é assim ou conhece
pessoas assim, não é problema meu. Estou cansada de ser apontada por aí como
uma vadia que transa com o sobrinho e o tio. Ainda bem que mal entendo esse
maldito idioma que vocês falam. Eu estou exausta com tudo isso.
— Melissa.
— Nada de Melissa! Eu não terminei de falar. Estou cansada também de ter que
omitir uma situação que é consensual.
— Melissa, eu...
— Não terminei, Lucca. Se eu resolvi trepar com você, é por que eu quero. E
não me deitaria com outro, muito menos esse outro sendo o Igor. — Ele abriu a
boca para tentar falar de novo e eu apenas fiz um gesto indicando que ainda não
havia terminado de falar. — Quer saber, Lucca Marconni? Vá a merda! Eu nem
sei porque estou falando tudo isso. Você pouco se importa.
— Eu me importo, Melissa. Me importo mais do que deveria e você sabe o
porquê disto?
Eu não respondi, apenas o olhei.
— Porque eu te amo, criança.
O olhei sem acreditar, sem ao menos saber se tinha mesmo escutado
corretamente.
— Vo-você o quê?
— Sim, branquinha, exatamente isso. Eu te amo. Te amo desde a primeira vez
que te vi, e te amei ainda mais na primeira vez que enfiei meu pau em você.
— Mas... — Ele deu dois passos, ficando colado no meu corpo e pôde segurar
minha cintura. — Mas e os outros?
— Foda-se os outros, Melissa! A única pessoa que me importa é você. Melissa
Ferraz, você aceita ser minha namorada?
Procurei o chão em baixo dos meus pés, e parecia que ele havia sumido. Se ele
não tivesse me abraçando, provavelmente estaria caída no chão.
— Eu aceito — falei. — Aceito ser sua namorada, Lucca Marconni.
— Eu te amo, criança.
— Eu te amo, seu tarado.
Selamos nosso relacionamento, que havia acabado de começar de verdade, com
um beijo que logo evoluiu para dois corpos suados em cima da cama. Não era a
primeira vez que nos entregávamos um ao outro ali, mas mesmo no enlace
sexual, parecia que muita coisa havia mudado, e tinha. Passamos a ser um casal
de fato, e eu me sentia ainda mais excitada, porque ser a namorada de Lucca
Marconni era ainda melhor que ser apenas o casinho escondido dele.
— Você é minha, Melissa — declarou ele em dado momento do prazer. —
Apenas minha!
— Sua. Toda sua, Marconni — garanti.
As estocadas intercalavam entre lentas e intensas, e a sensação era de que
explodiria a qualquer momento.
Quando o prazer nos alcançou, sorrimos um para o outro, completamente
satisfeitos e apaixonados.
— Eu te amo — ele sussurrou próximo à minha boca. — Vem, branquinha. Eu
vou te dar um banho gostoso, e um orgasmo maravilhoso com minha boca.
Era apenas uma promessa, mas acendeu novamente a fogueira dentro de mim.
Era incrível como Lucca conseguia tirar o meu foco, como ele sabia dizer a coisa
certa no momento certo. Havia o medo de que as palavras dele fossem da boca
pra fora, mas naquele momento não me importava.
Capítulo 18

Lucca Marconni

Eu estava deitado, com Melissa dormindo em meu peito, completamente saciada. Tentei pôr em ordem tudo
que estava na minha mente, pois no começo foi tudo tão confuso. Bastou a merda de uma foto maliciosa
para eu chegar ao meu limite. Pela primeira vez fui dispensado por uma mulher e aquilo me deixou com um
sentimento estranho no peito. A princípio imaginei que a intenção dela em derrubar vinho em minha roupa
era um pretexto para estar a sós comigo, mas descobri, para minha irritação, que não era.
Quando me deparei com aquela foto do Igor com ela, cheios de intimidade, quase surtei. Ou melhor, eu
surtei. Não consegui me controlar e acabei explodindo com o Igor.
A maneira como ele a olhava despertou algo em mim.
No fundo eu sabia que ficar sem ela não era uma opção, mas a verdade era que estava apaixonado, com os
quatro pneus arriados. Achei que fosse só sexo, mas isso nunca existiu. Porque em meu coração, foi amor
desde o primeiro dia que a olhei. Meu coração bateu descompassado, e se eu não tivesse pensando apenas
com a cabeça de baixo, naquele momento eu saberia que nada com ela seria fácil.
Saí de casa sem rumo, rodei e rodei, andei em círculos, até que a imagem da Giu veio em minha mente. Ela
ia saber o que fazer, afinal, sempre me socorria quando algo não ia certo. Cheguei e fui direto até ela. A
coisa de estar apaixonado me deixava extremamente pilhado. Eu amei Camilla e isso nunca foi uma dúvida
na minha mente até conhecer Melissa. Será mesmo que amei Camilla verdadeiramente, ou só pensei que era
esse o sentimento? Será que é possível o amor ter tantas definições e ao mesmo tempo não ter nenhuma? Eu
imaginava ter vivido, afinal, não era mais jovem e beirava os quarenta anos. Não sabia como uma menina
tão nova, sem experiência alguma de vida, podia mexer daquele modo comigo.
Depois de tantos ocorridos, brigas, desavenças... Ouvir de Melissa que não me importava com ela foi como
se algo pontudo perfurasse meu coração. Ela era importante para mim e eu precisava que soubesse disso.
Levantei com cuidado para não acordá-la, a fim de providenciar algo para comermos, pois já era quase
noite, mas não deixando de pensar que precisava contar para Igor sobre Melissa e eu. Ainda não sabia seus
reais sentimentos por ela, nem queria ter como rival meu próprio sobrinho. Mal cheguei à sala e, justamente
ele, entrou.
— Boa noite, tio — ele falou, receoso, testando o meu humor.
— Boa noite, Igor. Precisamos conversar.
É melhor que certas coisas sejam ditas no susto.
— Claro, tio. Está mais calmo?
— Sim, estou bem mais calmo. Podemos conversar agora?
— Podemos. Também preciso falar com você sobre as reformas nos hotéis de Nova York.
— Problemas?
— Sim. Vou precisar voar para lá o mais rápido possível. Reservei uma passagem para hoje mesmo, no
último voo que sai para Nova York. Quero me reunir amanhã no primeiro horário.
— Tão rápido assim? Mas qual o problema?
— O arquiteto, o engenheiro e a empresa que está gerenciando a reforma, não estão se entendendo. Não tem
jeito, o senhor sabe como é. Ou a gente está em cima, ou desanda tudo.
— É verdade — concordei. — Você vai ficar por quanto tempo dessa vez?
— O tempo necessário para conseguir organizar tudo.
— Fico feliz que posso contar com você. Sei que nas suas mãos tudo vai se resolver.
— Obrigado pela confiança, tio. Sobre o que você quer conversar?
— Primeiro queria me desculpar por hoje mais cedo. Você sabe, eu ando meio na linha com meu humor, e
todos esses problemas que vêm acontecendo, mas não deveria ter falado com você daquele jeito. Não é
nenhum moleque para que eu o trate daquela forma e isso não vai acontecer novamente.
— Eu sei que as coisas não estão boas. E como ela está?
— Estive com ela ontem o dia inteiro. Está bem. Tenho outra coisa também para te falar.
— Tomara que continue assim. Quando voltar irei com você em um domingo desses. O que mais precisa
dizer?
— Isso não vai ser muito fácil. Sabe, Igor, às vezes, quando menos esperamos, as coisas acontecem. Eu
nunca imaginei estar sentindo isso novamente, desde a morte de Camilla, mas eu mudei meu jeito de viver,
de ver as mulheres, e o que quero dizer é o seguinte...
— Diz de uma vez — ele pediu. — Estou ficando nervoso e ansioso.
— Melissa.
— O que tem a Mel? — Igor perguntou e no mesmo instante notei a Mel entrando no cômodo.
— Vem aqui, Mel — a chamei. — Que bom que acordou. Eu estava aqui conversando com o Igor sobre o
que falamos mais cedo.
— O que a Mel tem a ver com seu modo de ver as coisas?
— O que ele está querendo dizer é referente a foto do jornal. Ele me pediu
desculpas e já está tudo bem.
O que diabos ela estava fazendo?
Era o momento certo de contar, afinal, ela aceitou namorar comigo.
— Não.
— Não é isso, tio?
— É isso, Igor, mas não é só.
Uma tosse chamou nossa atenção.
— Sim, Graziela?
— Desculpe interromper, senhor Marconni, mas a senhorita Giulia está no
portão. Posso autorizar a entrada dela?
Era tudo o que eu não precisava no momento. Melissa fez uma cara estranha e
saiu, dizendo que não estava muito bem e ia voltar para o quarto. Igor autorizou
a entrada dela e pouco depois Graziela abriu a porta para que ela entrasse.
— Boa noite, meninos. — Ela se aproximou, me deu um beijo no rosto, e
abraçou o Igor.
— Boa noite, Giu. Aconteceu alguma coisa para você estar aqui?
— Que isso, tio?! Parece até que ela não é bem-vinda — Igor disse, me
recriminando.
— Não é isso. Só que é muita visita em pouco tempo.
— Lucca está certo, Igor — Giulia disse. — Eu só precisava falar com você e
depois, se puder, dar uma palavra com você, Lucca. Se não estiver ocupado,
claro.
— Claro, Giu. Você sabe que sempre tenho tempo para você — afirmei.
— Giu, se você não se importa de termos essa conversa no meu quarto... Eu
preciso fazer minhas malas.
— Malas?
— Sim, estou voltando para Nova York.
Fiquei um pouco confuso quando eles dois se foram, pois o meu plano de
esclarecer as coisas com Igor foi por água abaixo e as desculpas de Melissa
diante dele, meio que me incomodaram, afinal, também partiu dela a questão de
insatisfação por omitirmos nosso relacionamento.
Pedi a Grazi que preparasse um lanche para Melissa e fui tomar um banho,
decidido a conversar com Igor antes de sua viagem.

(...)

Melissa Ferraz

Voltei para o quarto e lá diversas dúvidas passaram pela minha cabeça.


Não sabia se aquela história de namoro era séria, não sabia se devia confiar nas
juras de amor do Lucca... Mas me chateava mesmo a vinda inesperada da visita
dele. Foi ela quem me ofendeu naquele dia mesmo, e ter que lidar com sua
presença me deixava irritada.

Igor bateu na porta pouco tempo depois, depositando em cima do criado-mudo


uma bandeja com um lanche. Ele me passou várias recomendações para os dias
que estaria fora, realmente preocupado.

— Eu já entendi, Igor. Se acontecer qualquer coisa eu... — Parei de falar quando


olhei a figura que entrava em meu quarto.

— Sei que provavelmente você não quer me ver e nem me ouvir, mas preciso me
desculpar.
— Que bom que você já sabe de tudo isso, Giulia. Você pode voltar daí mesmo.
— Calma, Melissa. Eu errei e tive meus motivos para isso, mas não queria te
magoar. Gostei de você de verdade.

— Gostou tanto que me intitulou uma vadia golpista por causa da merda de uma
foto. Me julgou sem ao menos me conhecer.

— Eu sei disso e só percebi o quanto a agi de um modo grotesco, depois que vi


em seus olhos o amor pelo Lucca. Te julguei por um passado no qual você nem
estava.

— Olha, Giulia, você está aí falando e falando, e não sei por que ainda não deu
meia volta e saiu. Não preciso e não quero escutar suas desculpas.

— Eu sei que você deve estar chateada comigo, mas preciso dizer o quanto o
passado me induziu a isso, e se você não quiser realmente mais falar comigo,
então eu saio desse quarto e do seu caminho. Não sou aquela pessoa que te
acusou, e se a Marcela não me mostrasse isso, talvez ainda estaria sendo injusta
com você.
— Está bem. Diz de uma vez porque estou vendo que não vai sair daqui.
— Eu te falei muita coisa. Me desculpe, agi por impulso. Talvez o sentimento de
família que tenho por esses dois, possa ter falado mais alto do que o necessário.
Eu iria, sim, te encontrar hoje, porém era para falar sobre a exposição. Até
encontrar aquela revista. Não consegui ver nada além da foto, só quando você e
a Marcela apontaram o quanto eu estava sendo injusta com você.
Ela ia falando e eu apenas a observando. Nada do que dizia fazia sentindo.
— Eu já vi o Lucca sofrer por causa de uma traição — continuou —, e olha que
ele nem amava Camilla, na verdade, era mais um namoro acomodado. Todos
naquela época eram muito jovens. Não posso dizer que era amor. — Isso muito
me importava. — Sabe, Melissa, quando a gente escolhe amigos que viram
família, a gente quer defender de toda forma. Mesmo sem Lucca perceber, ele te
ama mais do que qualquer outra coisa que ele amou na vida. No sábado eu tinha
saído com essa certeza. Ele e uma ótima pessoa, mas quando está nervoso faz
muita besteira, principalmente quando começa a falar.
— É, eu já percebi isso — concordei, mas com o pensamento na tal Camilla que
ela mencionou.
— Camilla era muito encantadora — começou ela, como se tivesse lido meus
pensamentos. — Poderia ter sido diferente, mas ela preferiu jogar tudo para o
alto e depois pedir perdão. Mas isso não sou eu quem devo contar. Tudo o que
quero, Mel, é que vocês se entendam. Se te acusei de algo, foi infundado. Lucca
e Igor só têm um ao outro e ninguém mais. Se os dois brigam e se separam, e
depois você resolver ir embora, estarão sozinhos. Errei em não acreditar no que
meu coração dizia e segui minha razão. Desculpe por ter falado aquelas coisas.
— Não sei quem é essa Camilla, muito menos o que houve, mas você deveria
saber que não se pode comparar as pessoas. Você me machucou ao me acusar de
uma coisa que não sou.

— Eu sei, e por isso quero realmente me desculpar com você. Agi de uma forma
ridícula, e se você for capaz de me perdoar, eu ficarei grata.
— Olha, Giulia, eu não sou uma pessoa que guarda rancor, mas também não
posso dizer que não estou com raiva de você. Entendo seus pontos e te desculpo,
fica em paz, mas não vou fingir para ninguém que somos melhores amigas.
— Eu te entendo... Bom, era só isso mesmo, eu já vou indo. Espero que possa
deixar isso para trás.

Ela saiu e a partir dali eu sabia que meu coração já estava com menos raiva.
Nunca fui de guardar rancor e Igor era a prova disso. Se fui capaz de perdoar a
ele, que me apresentou o inferno, com certeza seria capaz de perdoá-la, que não
fez nem metade.

Meu próximo ponto era abrir o notebook e pesquisar sobre a tal Camilla na vida
do Lucca.

(...)

Lucca Marconni
Giulia me pediu desculpas por ter confrontado Melissa com relação às notícias
que saíram, relacionando Igor e ela. Não fiquei no hotel para saber dela o que
Melissa fazia ali, embora estivesse achando muito estranho. Mas tudo que eu
menos queria era briga. Bastava a possibilidade do que poderia acontecer quando
Igor descobrisse de nós dois.
— Quando casar, prometo que você será a madrinha dos meus filhos, Giu —
brinquei com ela para desanuviar a tensão. — Não se preocupe. Eu sei que você
não fez por mal. Uma hora a Melissa vai entender isso também.
— Espero que não demore. Deixe-me ir embora porque já baguncei demais tudo
por aqui.
— Quando você viaja? — perguntei, me levantando da cadeira e a
acompanhando até a porta.
— Fico por aqui no máximo até quinta, meu amor. A exposição em Paris é no
final de semana, depois volto e passo pelo menos um mês aqui.
— Entendo. Vai ser bom ter você aqui por mais tempo. É mais fácil de vocês se
entenderem.
Igor vinha descendo as escadas, já pronto para sair, e Melissa o acompanhava.
Ela mal me olhou e aquilo estava começando a ficar estranho de verdade.
Primeiro interrompeu uma coisa que ela mesmo estava reclamando por não
poder falar, e depois parecia distante.
— Tio, me desculpe, mas não vai dar tempo de terminamos nossa conversa. A
gente se fala na volta. Eu preciso ir. Já estou em cima da hora.
— Igor, eu disse que era importante.
— Eu sei, tio, mas ficou tudo enrolado. Vou indo. Qualquer coisa e só me ligar e
te mantenho informado de tudo que está acontecendo lá.
— Está certo. Conversamos quando voltar. Me ligue assim que chegar lá. Faça
uma boa viagem.
— Eu vou aproveitar o bonde — disse Giu. — Estou indo também. Tenham uma
boa noite.
Nos despedimos e os dois se foram, deixando um silêncio desconfortável entre a
Mel e eu.
Mas, de repente, ela me olhou e sorriu.
— Enfim sós — falei para ver se quebrava aquele silêncio todo.
— E então, o que quer fazer? — Melissa indagou, me olhando.
— Quero ficar com você a noite toda.
— Para isso você vai ter que me pegar primeiro, seu tarado.
Ela disse sorrindo e disparou para a escada. Pelo menos estava indo para onde eu
realmente desejava tê-la a noite toda, em cima da cama, dentro do banheiro e em
todo lugar possível. Tínhamos algum tempo sozinhos para explorar a casa, sem
medo de sermos pegos, e eu aproveitaria com a minha namorada. Sorri
abertamente ante a possibilidade. Quem diria que eu estaria feliz por ter uma
namorada? Subi as escadas correndo atrás dela, e ainda consegui pegá-la antes
de ela entrar no quarto. A joguei sobre meu ombro e fui andando para o meu
quarto, escutando suas gargalhadas e a sentindo puxar minha camisa, tentando se
erguer.
— Agora, criança, vou te ensinar a não correr de mim de novo.
Capítulo 19

Melissa Ferraz

Pela primeira vez acordei antes dele. Tivemos uma noite maravilhosa e perdi as
contas de quantas vezes ele me fez gozar. Deitada em seu peito, sentindo seus
batimentos contra meu rosto e sua respiração suave, sentia-me leve.
Depois de fazer minha higiene matinal, ao voltar para o quarto levei um tempo
admirando a beleza incomparável de Lucca. Seu corpo perfeito, a feição de
quem detinha o poder sempre, e a ereção matinal se fazendo presente, num belo
conjunto de tudo que me atraía.
Focada em seu pênis ereto e delicioso, lambi os lábios e cheguei perto a ponto de
segurá-lo. Não perdi tempo e o coloquei em minha boca, pronta para retribuir
todo o prazer que ele já havia me dado com a sua.
Comecei lambendo devagar e aos poucos fui aumentando meus movimentos, até
que senti a mão dele segurando firme em meus cabelos. Nem havia percebido
que a respiração dele havia se alterado, mas lá estava ele, desperto, com os olhos
injetados de prazer, cravados em mim, com as pupilas dilatadas. Um gemido
rouco escapou de sua boca, e incentivada por isso, o segurei pela base e engoli o
máximo que pude. Lucca era grande e parecia crescer cada vez mais. A mão em
meus cabelos ficou mais apertada e o olhei justamente no momento em que
jogava a cabeça pra trás, já louco de tesão.
— Porra, Melissa... Isso! — elogiou. — Eu vou encher sua boca com a minha
porra, se você não parar agora.
Estava decidida a ir até o fim, por isso continuei chupando cada vez mais rápido,
sentindo-o empurrar seu pau para dento da minha boca com força. Parecia que
eu perderia o fôlego, mas estava motivada a lhe dar tudo que merecia.
— Você vai ser acostumar, branquinha — afirmou ele. — Logo você não vai
mais perder o fôlego quando eu estiver dentro da sua boca. Agora chupa.
Atendi ao seu pedido prontamente, voltando a chupá-lo e masturbá-lo. Eu nunca
pensei que chupar uma pessoa me deixaria tão excitada, mas a umidade entre
minhas pernas não deixava restar dúvidas.
— Que boca gostosa! Porra! Você vai ter que me chupar todo dia agora. Caralho,
que delícia!
Suas palavras me deixaram ainda mais confiante, então me deixei levar pelos
meus instintos. Tudo que queria era sentir o gosto de sua libertação. Seu pau
pareceu que inchou e ficou ainda maior em minha boca, ele rugiu parecendo um
animal enjaulado e rosnou meu nome quando o primeiro jato grosso desceu por
minha garganta. Apertei seu pau com a minha mão, movendo para cima e para
baixo, chupando até a última gota. Olhei para ele e um sorriso maravilhoso se
arrastou por seus lábios. Lucca me puxou para cima de seu corpo e me beijou, a
língua invadindo minha boca sem aviso, em um beijo urgente. Senti a ereção
dele endurecer novamente entre nossos corpos.
— Ahh, branquinha, você quer foder com meu sistema? — Eu sorri.
— Quero.
— Você é uma safada, branquinha.
Ele me abraçou pela cintura e me deitou na cama, sorrindo de maneira maliciosa,
então disse:
— Agora é a minha vez de me divertir.
Nossos corpos se uniram e mais uma vez fizemos amor magicamente. Lucca
provou que ainda tinha mais para me dar.
— Eu te amo! — ele disse com um brilho nos olhos, saiu de dentro de mim e me
puxou para que deitasse em seu peito, acariciando meu cabelo por um tempo. O
silêncio tomou conta do quarto, e minhas dúvidas retornaram com força.
— Tudo bem com você? — ele perguntou. — Espero não ter te usado demais.
Eu ia te dar um descanso, mas acordar com sua boca no meu pau me fez perder o
juízo. — Sorri, agradecendo a todos os pornôs que eu já tinha assistido.
— Você gostou? Quero dizer, não é isso que...
Senti minhas bochechas quentes pela vergonha.
— Se eu gostei? Ahhh, branquinha, você pode me acordar assim todos os dias.
Posso me acostumar.
— Você é tão tarado. Só pensa nisso.
— Eu penso em tanta coisa, Melissa. — O silêncio tomou conta do quarto mais
uma vez. Nem queria imaginar as coisas que ele tanto pensava. — Vou preparar
o banho para você.
Dito isso, Lucca caminhou até o banheiro e eu fui de volta aos meus devaneios,
pensando que estava ferrada por ter me perdido tanto no amor por ele.
— Você não vai entrar? — perguntei, já dentro da banheira.
— Não, branquinha. Preciso providenciar algumas coisas para poder ficar à
vontade com você.
— Tipo o quê?
— Dispensar os funcionários que normalmente estão dentro da casa.
— E por que isso?
— Porque você não me deixou contar para o Igor, e não pense que esqueci.
Ainda vamos conversar sobre isso.
Deixei o assunto morrer, vendo-o tomar sua ducha.
Antes de deixar o banheiro, ele sorriu e disse que eu poderia ficar o tempo que
quisesse, o que eu faria de bom grado. Precisava mesmo relaxar e tirar um tempo
para clarear os pensamentos. Lucca estava sendo atencioso comigo e eu o
julgando o tempo todo.
Acontece que eu detestava mentiras e sempre fiz de tudo para ser franca nas
coisas que fazia.
O ouvi ao telefone quando desci, conversando em um tom carinhoso com
alguém. Amaldiçoei o idioma que ainda não entendia bem, mas logo ele
encerrou a chamada e saiu, indo em direção à cozinha. Mais uma vez a sombra
da dúvida se fez presente em minha mente. Esperei um pouco e o segui,
passando pela sala de jantar onde a mesa estava posta.
Quando me viu, abriu um sorriso largo. Em suas mãos havia uma bandeja com
quitutes de café da manhã.
— Quem vai tomar dois cafés da manhã? — perguntei, escondendo meu sorriso.
— Bom, esse era para nós dois. Eu ainda não sei porque você saiu do quarto.
— Porque eu quis. — Ele fez uma careta engraçada.
— Estragou a surpresa. Se bem, que a única coisa que fiz foi tirar da mesa e pôr
na bandeja.
— Cadê a Grazi?
— A dispensei pelos próximos dias.
— E quem vai deixar a casa em ordem, arrumar as refeições?
Ele colocou a bandeja na bancada, pegou a rosa e andou até onde eu estava
encostada. Me olhou por um minuto, beijou a rosa e me entregou.
— Eu cuidarei de tudo esses dias, branquinha. Irei te mostrar que, apesar de não
ter sua confiança por completo, de ver uma confusão passar por seus olhos a
cada vez que digo que te amo, vou fazer você entender aqui. — Ele apontou para
minha cabeça, sua mão desceu e parou em cima do meu coração. — E farei você
sentir aqui.
Lucca se inclinou até que seus lábios tocaram os meus, num beijo calmo e suave,
diferente de todos que já havia me dado.
— Eu... sabe, é que...
Ele me calou com um dedo em meus lábios.
— Não diga nada, apenas sinta. Vem, vamos comer.
Me levou até em um dos bancos da bancada, coloquei a rosa ao lado enquanto
ele ia me servindo com panquecas, ovos, pães e frios. Serviu-se com um copo de
suco e a xícara de café, tanto para mim quanto para ele, então se sentou ao meu
lado e me observou. Continuei quieta. Se eu já estava confusa, piorou ainda
mais.
— Coma. Espero que esteja tudo a seu gosto.
— Claro, sempre está.
Sorri, ele se aproximou e beijou minha têmpora, e voltou para seu prato,
comendo tudo. Me obriguei a prestar atenção em outra coisa que não fosse o seu
perfil bonito, tentando guardar as palavras em algum lugar especial.
— E então, por que não me deixou contar para o Igor? — ele perguntou quando
comecei a comer.
— Não achei conveniente contar naquele momento.
— Era o melhor momento. Pensei que a gente tinha chegado a um acordo sobre
isso.
— Sim, isso é verdade, mas eu não estava preparada.
O que era uma mentira. Eu não aguentava mais aquilo.
— Eu espero o tempo que for necessário, mas você sabe que ele precisa saber o
quanto antes.
— Sim, eu sei, e vamos resolver isso logo.
Forcei um sorriso e torci para que ele engolisse aquilo tudo, sem mais perguntas.
Estava em sua expressão o incômodo, mas ele não disse mais nada.
Lucca terminou de comer e disse que ia ligar para o Igor. Levantou e saiu, me
deixando sozinha com meus pensamentos perturbados. Estava com medo de
estar certa sobre meus medos e preocupada com as consequências. Primeiro
soube de Camilla por outra pessoa, depois teve a ligação esquisita... Algo não se
encaixava.
Lucca Marconni
Preferi deixá-la por alguns momentos, visando não brigar mais uma vez, e
aproveitando para falar com Igor sobre como estavam as coisas por lá.
Eu sabia o modo “não convencional” que vivi por anos, fazia com que incertezas
sobre as minhas intenções surgissem, mas eu esperava que ela fosse inteligente o
bastante para enxergar meus sentimentos, que eram verdadeiros.
Passado um tempo, fui em busca dela, seguindo o som de suas risadas. Quando a
encontrei, levei um tempo inspecionando sua beleza nas pernas à mostra, toda
branquinha e delicada enquanto soltava altas gargalhadas ao assistir um desenho
animado. Tom e Jerry.
— Se divertindo, branquinha?
— Sim. Tom e Jerry são os melhores e eles nem falam.
— Eu imagino o quanto você gosta.
— Falou com o Igor? — ela me perguntou enquanto eu acariciava seus cabelos.
— Sim. Ele vai ficar por lá durante algumas semanas.
— Foi tão ruim assim os problemas lá?
— Um pouco. Mas o Igor é competente o bastante para arrumar toda a bagunça.
— Que bom que você o tem para te ajudar, né?!
— Bom mesmo é ter você aqui comigo.
— O que você quer fazer?
Ela quis saber.
— Eu quero apenas ficar com você, Mel, mais nada. O resto é com você. — Ela
sorriu e me deu um beijo rápido, saltando do meu colo.
— Piscina. — Sorri com sua animação.
— Vou adorar comer você na piscina.
— Pare de ser tão tarado. Vou pôr uma roupa e já volto. Esteja preparado —
disse ela, indo em direção às escadas.
— Branquinha, para você eu estou sempre preparado.
Capítulo 20

Melissa Ferraz

Os dias sozinha com Lucca eram realmente ótimos. Ele passou a me mostrar um
outro lado dele, carinhoso e atencioso, apesar de continuar pensando
constantemente em sexo. Tudo que fazíamos juntos acabava em sexo, até mesmo
uma simples conversa. Percebi que essa era a maneira de me mostrar que tudo
estava bem. Ele às vezes pedia comida, mas preferia cozinhar, coisa pela qual
tinha paixão por fazer.
A mansão virou uma fortaleza para o nosso amor, e o único que tinha
autorização para andar pela casa era seu Carlos. Continuei minhas aulas como
todos os dias e ele sumia o dia todo, só retornando quando já era noite. Resolvi
parar de pensar nisso depois que seu Carlos me contou que Camilla havia
morrido em um acidente de carro. Não sei como foi que isso aconteceu e nem o
porquê, mas isso não importava. Eu sabia o quanto era doloroso perder alguém
que amamos, e acho que no mundo não há dor pior. Decidi me deixar levar,
independente de todo o mistério em torno dele, afinal, dia após dia, ele me
mostrava o seu amor, então resolvi me doar do mesmo jeito que ele, porém, não
com a mesma intensidade, porque eu tinha o péssimo hábito de perder todos que
eu amava, e pensar em perdê-lo de alguma forma era ridiculamente doloroso.
Em algumas semanas completaria três meses que estava na cidade, e tudo era tão
diferente... Na minha mente tudo mudou. No começo eu não via a hora de chegar
meu aniversário para poder ir embora, mas com o tempo a ideia não passava
mais pela minha cabeça.
Não estava sendo um dia fácil, era véspera do meu aniversário e estava chegando
a data que faria três meses que minha amada tia havia morrido. Eu sabia que
quando chegava a hora, não tinha jeito. Sabia também que ela estava em um
ótimo lugar, mas ainda doía muito não tê-la ao meu lado.
Era domingo e Lucca, como de costume, sumiu. No mês anterior ele ficou ao
meu lado quando senti essa angústia causada pela data, mas por ser o dia em que
ele nunca ficava em casa, parecia nem ter se lembrado. Não era um problema
dele e sim meu. Mesmo meu coração estando pequeno de tão apertado, eu não
sabia se podia cobrar isso dele. Sempre que perguntava ou comentava, ele se
esquivava do assunto ou simplesmente não respondia. Passei a não perguntar
mais nada.
Mas depois de estar entendendo melhor o idioma, consegui traduzir melhor as
coisas que falava quando estava ao telefone, e o tom meigo, muitas vezes mais
do que a forma como me tratava, intrigava-me.
Estava no deque da piscina, observando a noite cair, e pensando no quanto as
noites e os dias tinham passado a ser mais gelados. Às vezes, por mais que
colocasse roupas de frio, aquele gelo ainda assim me incomodava. Pietro se
aproximou com um sorriso. Ele virou um bom amigo, e mesmo sabendo que ele
não queria só a minha amizade, o mantinha a uma distância segura. Ele era um
bom rapaz, e quando deixou claro na primeira vez o que queria, eu o dispensei e
ele não tocou mais no assunto.
Ele ficou mais perto, mas não se sentou. Apenas sorriu de um jeito que faria
qualquer uma se encantar. Bonito como era, eu duvidava que não tivesse muitas
moças correndo atrás. Além de tudo, era um bom rapaz, mesmo não falando
muito de sua vida e do que já havia vivido.
— Boa noite, Mel. Está tudo bem?
— Boa noite. Sim, está tudo bem, e com você?
— Eu estou ótimo. Se está tudo bem, por que está há tanto tempo aí olhando
para o nada?
— Estou apenas pensando. Às vezes as coisas mudam tão rápido.
— E isso é de alguma forma ruim?
— Não, claro que não.
— E por que essa tristeza em seu olhar?
— Estou assim porque passei por mudanças muito drásticas na vida. Mesmo
agora eu sabendo que algumas foram necessárias, ainda sim causa uma certa
aflição. Passei a ver as olhar as coisas de outro modo.
— E agora olha como?
— Bom, perder minha tia foi muito doloroso para mim. Sabe, Pietro, eu já não
tinha meus pais e de repente o que eu tinha de família se foi, e ainda tive que vir
morar aqui. No começo eu não aceitei, pois não foi fácil deixar tudo para trás,
mas hoje eu penso que se estivesse naquela casa onde vivi com minha tia, junto
com suas lembranças, eu poderia ter morrido junto com ela.
— Eu entendo, Mel. Não é fácil perder alguém, ainda mais uma pessoa tão
querida. — Ele se inclinou e colocou a mão em meu ombro, dando um pequeno
aperto. Olhei em seus olhos e não havia pena, apenas entendimento e conforto.
— Sei que nos conhecemos há pouco tempo, e que só agora passamos a
conversar, mas saiba que você se tornou uma grande amiga, e que sempre que
precisar, estarei aqui ao seu lado.
— Ela não precisa de ninguém ao lado dela, Pietro. Melissa tem tudo que
precisa. Mantenha sua mão para si! Não precisa tocá-la. — A voz cortante de
Lucca preencheu o ambiente, e seu tom era tão gelado que fez meu sangue gelar.
— E mais uma vez você está fora do seu posto, e está no meu caminho. Está
ficando muito difícil.
— Senhor, eu... — Lucca fez um gesto com a mão, dispensando qualquer coisa
que Pietro fosse dizer.
— Não me importa. Conversamos amanhã pela manhã. Agora vá fazer o seu
serviço.
Depois que Pietro se foi, o olhar duro do Lucca era todo para mim. Ele passou
um tempo apenas me encarando, como se não encontrasse palavras ou
simplesmente esperando a raiva escorrer pelo seu sangue. Ele era assim aos
domingos. Ou chegava irritado demais que qualquer coisa era motivo para
entrarmos numa discussão, ou com um sorriso de orelha a orelha.
— Que merda foi essa? Desde quando você é “amiga” dos meus seguranças?
Ele cuspiu cada palavra, sendo desdenhoso na palavra “amiga”.
— Desde que eu sou dona da minha vida e tenho amizade com quem eu bem
entender. — Cruzei meus braços e ele sorriu, mas um sorriso amargo, totalmente
sem vontade.
— Não que isso seja da minha conta, mas deve ser uma amizade bem íntima.
Estava até te tocando.
Respirei fundo, engolindo o nó que se formou em minha garganta. Passei por ele
sem responder a sua provocação, sabendo que estava apenas procurando
confusão e iria encontrar se continuasse me acusando. Ele segurou meu braço
quando passei ao seu lado e disse:
— Você é tão íntima assim dele, Melissa? Não basta apenas me ter?
— E você, não basta apenas me ter? Precisa sumir todos os dias como vem
fazendo? Me diz, Marconni, onde você esteve até essa hora. Não sei nem a hora
que você saiu.
— Não jogue para mim seus erros.
— Meus erros? Eu estava apenas conversando com ele e você foi muito
estúpido, tratando-o daquela forma. — Puxei meu braço do seu aperto e o olhei.
— Então, onde esteve? Onde você vai todos os dias?
— Por que só agora você quer saber? Eu faço isso todos os dias e você nunca
perguntou, agora quer saber só porque te peguei de papo com ele?
— Eu nunca perguntei? Você que é um idiota e se faz de desentendido. Então
farei igual! — decretei.
Lhe dei as costas e saí. Ele precisava aprender que a moeda tinha dois lados e eu
fazia questão de mostrar a ele. Ainda o escutei proferindo um monte de
palavrões, mas não dei atenção. Entrei na cozinha e separei algumas coisas para
fazer um lanche. Pude ouvir quando ele mergulhou na piscina, e talvez com a
água gelada esfriasse a cabeça e parasse com suas acusações infundadas. Sorri
ao lembrar sua cara quando viu Pietro tão perto. Aquilo era mais do que a raiva
que ele trouxe da rua. Só podia ser ciúmes, o que era bom, afinal, esse
sentimento me corroía por dentro, que fizesse o mesmo com ele. Fiz meu lanche
rapidamente, coloquei em um prato e subi para o quarto. Lucca me irritava com
sua mania de tomar todo o espaço possível.
Acostumei-me tanto a dormir com ele, que no meio da noite despertei,
estranhando o fato de não o ter ao meu lado na cama. Decidi caminhar pela casa
e não me espantei de encontrar todas as luzes da casa acesas, e entrando na
cozinha lá estava ele, amassando uma massa. Estava tão concentrado que nem
percebeu a minha presença. Ele apertava com tanta força, que parecia que estava
apertando a mim. Parecia que eu sentia sua mão tocando meu corpo, apertando
minhas coxas enquanto abria minhas pernas para me chupar, falando aquelas
coisas excitantes que tanto me deixavam louca de tesão. Apertei minhas pernas
juntas, sentindo minha umidade só de pensar em suas mãos em meu corpo.
— Gostando do show, criança? — ele questionou de repente.
— Eu vim apenas beber uma água. Você sabe tenho sede à noite.
— Engraçado que esses dias todos que dormimos juntos, você não acordou uma
só vez.
— E você não teve a necessidade de ficar fazendo pão de madrugada. — Passei
por ele e senti seus olhos em mim enquanto pegava um copo com água na
geladeira. Mal havia terminado de guardar a garrafa, quando senti seu corpo
atrás do meu, o peito nu e forte em minhas costas.
— Quando decidi que você seria minha sem ao menos me importar com as
consequências, foi dessa mesma forma, você nessa cozinha, me mostrando o
quanto podia foder minha mente. Meu pau ficou tão duro quanto agora, amor.
Ele encostou mais seu corpo no meu, me pressionando na geladeira. Senti sua
ereção na curva da minha bunda e ele roçou o corpo no meu, afastando meu
cabelo, abrindo espaço para beijar meu pescoço. Não consegui segurar um
gemido quando ele apertou os dentes em minha carne com certa força e sugando
em seguida. Aquilo marcaria, mas eu não estava me importando. Ele virou meu
corpo e tirou o copo da minha mão, tomando minha boca na sua. Uma mão
apertava minha cintura, fazendo com que impulsionasse o corpo, segurando em
seus ombros e enrolando minhas pernas em sua cintura. Gemi quando minha
intimidade tocou sua ereção ainda coberta pela bermuda. Ele me encostou na
geladeira e ouvi o protesto das garrafas lá dentro. Sugando minha língua e seus
dedos cravados em minhas nádegas, sua língua tomou conta da minha boca e eu
me esfreguei como pude em sua ereção, sentindo-o ficar ainda mais duro.
Ele nos afastou da geladeira e logo senti o gelado da bancada na minha bunda,
uma fumaça branca subiu ao nosso arredor.
Do nada ele se afastou para me livrar da minha camiseta, sua mão fazendo
trilhas de farinha de trigo pela minha perna. Lucca pôs para o lado as coisas que
estava usando, e me puxando mais para perto, abocanhou meu mamilo e
começou a chupar com força. Passei minha mão em seu cabelo e puxei,
deixando-o se fartar com meus seios. Com sua característica cara de tarado, ele
decretou:
— Hoje você vai ser minha massa. Vou apertar e amassar com força, saborear
seu gosto, e depois te comer.
— Então vem que estou pronta para ser seu prato principal.
— Criança safada.
— Italiano tarado.
Seus ataques de beijos, lambidas e esfregações continuaram, até que Lucca fez
uma exigência.
— Eu quero que você suba na bancada e fique de quatro para mim. Vou te ajudar
impulsionando seu corpo. Então, amor, está pronta para receber minha língua?
Me virei o bastante para que pudesse olhar para ele, sorri e assenti. Ele fez
exatamente o que disse que faria, me colocando na bancada. Fiquei de quatro e
ele abriu minhas pernas até onde quis, me deixando totalmente aberta. O vi
olhando minha boceta com fome, apertando o pau por cima da roupa que estava
completamente suja de farinha. Lucca se aproximou, sustentando meu olhar, se
inclinou e senti um choque tomar meu corpo quando sua língua vagarosamente
tocou meu clitóris, movimentando de cima para baixo. Uma tortura de beijos,
chupadas, sugadas começou. Gemi sem pudor, aproveitando cada detalhe do
prazer que ele me proporcionava. Gozei e tinha a sensação de que iria explodia a
qualquer momento.
— Porra, branquinha, que delícia! Gozou tão gostoso que quase gozei também,
te vendo se contorcer e chamando meu nome.
Lucca me pegou no colo e tirou da bancada. Felizmente, porque sozinha eu não
conseguiria, de tanto que minhas pernas estavam trêmulas.
— Você está querendo me matar, é? — perguntei, ofegante.
— Seria uma ótima maneira de morrer, você não acha?
Ele falou com aquele sorriso torto, e eu ia dizer que era porque ele era um tarado
incorrigível, porém, perdi o raciocínio quando percebi que ele estava já todo nu,
pronto para me preencher com seu pau grande e grosso. Ele segurou e passou a
mão por toda sua extensão, mostrando que a cabeça estava molhadinha. Lucca se
aproximou, me fazendo abrir ainda mais a perna, apoiando-a no balcão. Antes de
se enfiar em mim ele ainda mexeu com meus sentidos, mas logo foi invadindo
minha intimidade e xingando pelo prazer que também sentia. Depois de nos
levar à loucura e me fazer gozar mais uma vez, ele chegou ao seu ápice, soltando
uma maldição. Quando estávamos mais calmos, ele me beijou com calma dando
uma mordidinha em meu lábio, se esticou, pegou um pano e me limpou quando
saiu de dentro de mim, me fazendo estremecer um pouco.
— Agora vamos tomar um banho bem gostoso. Não vejo a hora de ter você
quicando no meu pau.
— Você quer me matar! Preciso dormir um pouco antes de começar tudo de
novo.
— Vou te dar umas vitaminas, criança — zombou. ¬ - Está muito devagar.
— E você precisa parar de tomar as suas.
Ele soltou uma gargalhada e me deliciei com o som. Sorrindo ele conseguia ficar
ainda mais lindo. Meu coração tropeçou nas batidas e eu sabia que só estava me
apaixonando cada vez mais por ele.

(...)

Levei um susto e dei um pulo da cama quando vi que no relógio da mesinha de


cabeceira marcava duas e meia da tarde. Praguejei quando percebi que perdi, de
novo, mais um dia de aula, e tudo porque o senhor tarado vitaminado não
conseguia deitar na cama e dormir com um simples mortal.
Trajando apenas uma camisa social do Lucca, saí do quarto, mas antes mesmo de
chegar ao final da escada, ouvi a voz da lambisgoia plastificada. Aquilo estava
se tornando uma coisa totalmente estranha. Não era a primeira vez que ficava
nessa mesma posição, ouvindo uma conversa que não era minha. Parei pra
prestar atenção e dei graças a Deus pelos ensinamentos de Igor, seus livros e os
CDs de estudo.
— Lucca, não é possível que você esteja falando sério — a Susy Plastificada
choramingou com aquela voz esganiçada dela.
— Marconni, Giovanna! Me chame de Marconni. Já disse sei lá quantas vezes
isso para você, e o que não é possível é você não entender essa conversa pela
milésima vez. — Seu tom era de impaciência.
— Lucca... Desculpe, Marconni. Você não pode me dispensar sem um motivo.
— Eu te dei um motivo. Um, não... Vários! Eu estou apaixonado, Giovanna,
entenda. Estou namorando e desejo muito que dê certo.
— Não é possível que ela seja melhor que eu. Você sempre disse que é bom
fazer amor comigo. — Meu sangue gelou naquele momento, e em seguida ouvi
o riso cheio de falso humor do Lucca. — Olha, Lucca, não é possível que sinta
mais desejo por essa... essa... essa daí.
— Giovanna, eu tentei ser educado, tentei não te magoar, mas odeio ficar
repetindo as coisas como papagaio. Eu vou ser mais claro ainda. Em uma coisa
você tem razão. Ela nem de longe é parecida com você, até porque, com ela não
é apenas uma trepada convencional que tenho. É mais. É amor! Você era apenas
alguém que eu poderia ir lá e foder quando não achava outra coisa, mas nunca te
prometi mais que isso. Sim, o sexo com você era bom, mas acabou. Não haverá
mais nada do que a gente fazia. Com ela eu faço amor, eu trepo, faço sexo, tudo
junto, porque é por ela que meu coração bate. Eu não quero nada nem com você
nem com outra pessoa. Eu a amo e ponto final. —Sua voz saiu calma, mas o tom
de impaciência predominava. Meu coração rolou escada abaixo. Ele se negou a
estar com ela e deixou claro que estava com outra pessoa, e que a amava. Que
me amava.
— Lu... Marconni, olha pra mim. Me toca e você vai ver que sempre fui eu. Eu
sou o melhor para você.
Me aproximei mais, porque não conseguiria ouvir mais nada. Ele me amava de
verdade, tanto quanto eu o amava. Lucca estava sentado em sua poltrona, com a
cara mais tediosa que já vi na vida, e ela apenas de cinta liga preta. Até onde
uma mulher é capaz de ir por um homem? Uma de suas pernas estava apoiando
o joelho na poltrona e ele a olhava com uma mão sustentando a cabeça, e a outra
segurando um copo.
— Entenda, Giovanna o melhor para a minha pessoa eu já achei. Você pode, por
gentileza, se vestir e ir embora? Está me incomodando.
Ela se inclinou sobre ele e tentou beijar sua boca, foi então que senti meu sangue
ferver ainda mais. Ele apenas a parou, sustentando seu olhar.
— Sinceramente, querida, amor próprio é bom. — Falei entrando na sala, Lucca
apenas se afastou. Ele continuou sentado, como se aquela cena fosse algo normal
de seu cotidiano.
— O que ela está fazendo aqui? Por que ela está com a sua camisa? — ela
perguntou, me olhou como se eu tivesse criado duas cabeças e uma cauda.
— Depois as loiras que são burras — eu disse, irônica.
Caminhei até a poltrona e me sentei no colo dele, feliz por saber que seu pau
estava dormindo, bem quietinho. Ai dele se a cara de tédio não correspondesse
ao pau, afinal, querendo ou não, Giovanna podia ser plastificada, mas era muito
bonita. A mão que apoiava a cabeça desceu para minha coxa.
— Sabe, Giovanna, acho que a única pessoa que está sobrando aqui é você. —
Passei a mão pelo peito nu de Lucca, indicando que tudo aquilo era real.
— Não creio que você está me trocando por ela, Marconni! Ela é uma criança!
— Uma criança que está aqui há quase três meses e conseguiu o que você tentou
por anos. Ele já foi bem claro com você, mas o entendimento está difícil, então
chegou a minha vez. Ele é meu! Meu namorado, meu homem! Não fique nua
para ele de novo, não fale com ele desse jeito, ou então vou ser obrigada a
mostrar para você o que a criança aqui é capaz de fazer.
— Você... vocês dois... inferno! — Ela catou o casaco no chão, se vestiu e saiu
porta afora pisando duro.
Ela o amava e no fundo eu sabia que não havia acabou ali.
Capítulo 21

Lucca Marconni

Os dias sozinhos com Melissa estavam sendo maravilhosos. Não me lembrava


de estar me sentindo tão feliz e esse sentimento parecia encher meu peito de
tanta alegria e amor. Às vezes me perguntava por que esperei tanto para me
envolver desse jeito forte, porém, não houve outra que me deixasse dessa forma.
Melissa me encantava em cada sorriso, em cada gesto que fazia. Quando sentava
e me observava cozinhar, ou quando morria de rir assistindo seus desenhos
animados. Até disso eu andava gostando. Sei que errei ao acusá-la por estar com
o Pietro, mas ver aquela cena fez meu sangue trepidar em minhas veias. Já havia
tido um dia dos infernos, e chegar em casa e me deparar com aquilo só piorou
tudo. Tudo o que eu queria era abraçá-la e amá-la, mas ele estava lá, tão íntimo...
Apesar das coisas que falei, ela amoleceu em meus braços assim que sentiu meu
corpo perto dela e nos amamos pelo resto da noite. Não tinha coisa melhor que
estar com ela. Sentir seu toque, sua respiração ofegante e deliciosa junto a
minha... Ah, merda! Eu estava mesmo virando um tarado. Não conseguia mais
parar. Apenas pensava em estar com ela o tempo todo. Uma tosse me tirou dos
meus pensamentos. Ergui o rosto para encontrar o senhor Carlos no limiar da
porta.
— Boa tarde, senhor Marconni. Me desculpe incomodar, mas a senhorita
Bertellinni está no portão principal. Sei de sua ordem proibindo a entrada dela,
mas é que ela me parece um pouco alterada e disse que armaria um barraco no
portão se o senhor não a atendesse.
— Mande-a entrar, Carlos. Não preciso de mais confusão na mídia.
— Sim, senhor.
Quando ele saiu, a primeira coisa que pensei foi que estava muito bom pra ser
verdade. Já estava acreditando que havia deixado claro para Giovanna que eu
não estava mais na jogada, que tudo foi bom, mas estava acabado, só que pelo
visto me enganei.
Servi-me de um copo de uísque e sentei em minha poltrona, esperando mais uma
vez suas lamúrias. Aquilo estava me cansando. Odiava ficar repetindo as coisas.
E foi como eu imaginei. A mesma ladainha cansativa de que ela era o melhor
para mim e isso e aquilo. Sei que fui duro, peguei pesado, porém, estava na hora
de ela entender de alguma forma, que nada ia acontecer. Giovanna estava tão
sem noção, que ficou nua na minha frente, na vã tentativa de me fazer mudar de
ideia. Mas foi como se não tivesse ninguém. Até meu pau amava Melissa o
bastante para continuar adormecido.
É, Marconni, você está literalmente fodido, pensei.
Ela ainda tentou me beijar, mas parou seu movimento quando dirigi a ela um
olhar duro. No fundo ela sabia que está passando do limite.
No momento em que a voz de Melissa ecoou pela sala, meu coração parou de
bater. Não esbocei reação, mas pedi internamente para que ela tivesse chegado
bem antes da cena com a Giovanna praticamente em cima de mim e tentando me
beijar. Giovanna saltou para trás, olhando para Melissa, que estava maravilhosa
em minha camisa. Ela caminhou em minha direção e parecia que o mundo todo
estava parado. Ela falava qualquer coisa ou era a Giovanna, eu já nem sabia.
Meu Deus, eu estava hipnotizado. Ela sentou em meu colo e automaticamente
coloquei minha mão em sua coxa. Peguei apenas o final da discussão, com
Giovanna gaguejando alguma coisa e saindo contrariada da casa.
— Então eu sou seu homem? — perguntei, beijando abaixo de sua orelha.
— Que merda é essa de uma mulher se esfregando em você? — reclamou
Melissa, e em seguida deu um beliscão em meu peito.
Eu não sabia se ficava feliz ou puto com seus ciúmes.
— Eu não tive culpa, branquinha — argumentei. — Estava quieto esperando
você acordar, até que anunciaram que se encontrava histérica no portão,
ameaçando dar vexame. A deixei entrar só para repetir o que venho dizendo
desde aquele almoço com o Igor, mas acho que finalmente ela entendeu.
— Entendeu?
— Entendeu que eu amo você, e que ela pode ficar nua e se abrir para mim,
porque ainda assim, não vai adiantar. — Melissa jogou a cabeça para trás e
soltou uma linda gargalhada.
— Acho bom mesmo! Você todo ciumento porque eu estava conversando com o
Pietro, e eu chego aqui e tem uma mulher nua na sua frente.
— Sobre isso quero te pedir desculpas. Eu não tive um bom dia e me alterei.
— Sim, foi sem necessidade insinuar aquilo.
— Eu sei, fui infantil.
— Ainda bem que você sabe.
— Está com fome? — Mudei de assunto.
— Faminta! Você vai acabar me engordando.
— Impossível. Tudo que te dou para comer queimamos depois fazendo muito
sexo, e se você não estivesse com tanta fome, iria te comer agora mesmo, por ser
tão abusada e estar sem calcinha — falei, sentindo a ausência da lingerie em seu
corpo.
— Culpa sua! Se você não quisesse rasgar as calcinhas que uso, eu estaria
usando uma agora.
— Você é muito descarada, criança — acusei. — Está louca para me sentir te
tocando, te preenchendo, e vem com esse papo. — Ela riu novamente e acariciou
meu peito, foi até meu rosto e me deu um beijo casto nos lábios.
— Se eu não tivesse com tanta fome, iria concordar com você — disse ela. —
Mas estou morrendo de fome.
Nos levantamos juntos e eu preparei uma comida leve para nós.
Era aniversário dela, e eu não tinha certeza se ela havia esquecido ou estivesse
fingindo que não tinha importância, afinal, para ela eu nem sabia. Fato era que
estava chegando a hora de ela descobrir coisas que me deixavam temeroso. Não
podia negar que a possibilidade de ela querer voltar para o Brasil me assustava.
Fiquei feliz por sua reação quando pus a comida simples que havia preparado
para ela na mesa. Mel parecia uma criança, animada com a visão dos pratos de
batata-frita, estrogonofe, entre as outras coisas. Minha menina se encantava pelo
pouco, e era isso que mais me encantava nela.
— Você é maravilhoso, sabia?! Lindo, bom de cama, e perfeito na cozinha. Não
sei como ainda não se casou.
— Porque a mulher certa demorou um pouco para aparecer.
Ela ficou toda vermelha com minha resposta e desviou o olhar do meu. Não era
o dia nem o momento para se falar daquilo, então apenas deixei que ela nos
servisse e comemos em silêncio.
Após o almoço, enquanto aguardava Melissa tomar um banho, peguei o bolo
pequeno que preparei para ela, a fim de que soubesse que me lembrei de seu dia,
e o deixei no deque, onde fiquei esperando por ela.
Estava de olhos fechados, deitado em uma das cadeiras, quando ouvi a voz dela.
— Meu Deus! — ela exclamou e me virei para encontrá-la com a mão sobre a
boca, os olhos marejados e vermelhos, como se tivesse chorado antes. — Você...
Oh, meu Deus! Você lembrou... —
Cautelosamente ela se aproximou.
— Feliz aniversário, branquinha. — Sorri para ela, que se jogou nos meus
braços, também rindo e dando vários beijos por todo o meu rosto.
— Você é maravilhoso! Obrigada.
— Eu apenas te amo. Mais nada. — Com isso ela passou o dedo na cobertura de
chocolate e levou à boca, chupando e gemendo quando o gosto do chocolate
tocou sua língua.
— Está uma delícia — elogiou. — Obrigada por lembrar e por ter feito esse
bolo. Isso é tão importante para mim — ela disse e uma lágrima escorreu por seu
rosto, a qual eu rapidamente tratei de secar.
— Não fiz isso para que chorasse.
— Não estou chorando por isso. Sei que vai parecer idiotice minha, mas é meu
primeiro aniversario sem a tia, e daqui a uns dias vai fazer três meses que ela se
foi.
Ela fungou e fez meu coração se apertar. Eu me lembrava, mas não costumava
ficar focado em morte.
— Não fique assim, amor — pedi. — Tenho certeza que minha irmã iria querer
você sorrindo no dia de hoje.
— Eu sei, mas está tão difícil.
— Eu estou aqui com você e para você — finalizei com um beijo, na tentativa de
depositar naquele gesto, todo o meu amor. Não a queria triste.
Passamos o dia no deque da piscina e comemos o bolo juntos. Ela me contou
como era sua vida em São Paulo e como tinha sido seus últimos aniversários.
Melissa era feliz, e pelo pouco que me contou, percebi o quanto sua vida girava
em torno de alegria e satisfação.
— Vamos assistir um filme hoje? — ela perguntou enquanto lavávamos a louça.
— Vamos! Mas antes eu queria te dar o seu presente, pode ser?
— Mas você já fez o bolo, já me deu tanta coisa... não precisa.
— Eu faço questão — garanti. — Me espera na sala. Vou subir para pegar.
Dei um beijo ela e saí para pegar seu presente, com o coração batendo
fortemente. Fazia tempo que eu não fazia coisas como aquelas, mas sentia que
com ela tudo seria diferente.
Melissa me mostrava constantemente, que viver fora da comodidade era bom.
Minha vida “perfeita” poderia ser melhor, e com ela estava sendo.
No quarto, fui até o cofre onde guardava coisas de valor, digitei o código e tirei
de lá a caixinha de veludo que estava sem coragem de entregar a ela, mas que
naquele momento parecia o oportuno.
Melissa já era minha e eu queria que todos vissem e soubessem disso. E eu, era,
irrevogavelmente, dela.
Quando retornei, a encontrei sentada, com um balde de pipoca entre as pernas,
assistindo algo na televisão. Anunciei minha presença com um pigarro, e ela
imediatamente pausou o filme, com um sorriso no rosto.
— Pensei que ia passar a noite lá em cima — brincou ela.
— Engraçadinha.
Sentei ao seu lado, peguei a caixinha no bolso da bermuda e seus olhos quase
entraram em órbita.
— Calma! Não estou aqui para te pedir em casamento — a tranquilizei. — Pelo
menos não agora. É só uma aliança de compromisso. Eu te amo, Melissa, e
quero que todos saibam que tenho alguém em minha vida, assim como quero que
todos tenham certeza que você é minha. Pensei muito antes de finalmente
entregar esse anel para você, mas acho que hoje, e depois de tudo que estamos
vivendo, não há momento melhor para te entregar.
Com as mãos trêmula ela pegou a caixinha de minha mão, a abriu, e seus olhos
se encheram de lágrimas no mesmo instante, fazendo meu peito se apertar.
Odiava vê-la chorar, mas o pior era não saber se estava feliz ou triste por meu
gesto, ou qual seria sua reposta. Comecei a pensar que poderia estar me
precipitando e o silêncio que se seguiu durou uma eternidade.
Os anéis em ouro branco não eram chamativos, apesar de um pouco grosso. O
dela tinha algumas pedras de diamante em cima, e o meu era liso. Na parte de
dentro mandei gravar a inicial dos nossos nomes.
— Eu... — tentou falar. — Lucca, são lindos. Eu não sei se é certo.
— O que você não sabe, branquinha? Eu sou seu namorado, você a minha
namorada, tudo que quero é gritar para o mundo e não deixar dúvidas.
— Mas e o Igor?
— Para o Igor iremos contar assim que ele voltar. Somos adultos. Você agora é
maior de idade e pode fazer o que bem entender. Ele talvez grite e fiquei
chateado, mas não vai ser com você e sim comigo. Só que passará quando ele
ver que é sincero o que sinto por você. — Ela mordeu o lábio, absorvendo
minhas palavras. — Seja minha, Melissa. Eu te amo e venho mostrando isso há
dias e vou mostrar cada dia mais que você foi feita para mim.
Ela se jogou em cima de mim, me abraçando apertado, e disse:
— Eu aceito, Lucca. Aceito ser tudo para você, e você será tudo para mim.
Me afastei um pouco para olhar em seus olhos e só encontrei seu amor e a
verdade em cada palavra. Soltei a respiração que nem sabia que estava
segurando, peguei o anel da caixinha e o encaixei no dedo de Melissa. Seus
olhos brilhavam, uma lágrima desceu por ele e eu me inclinei para capturá-la em
meus lábios. Quando ela colocou o outro em meu dedo, ao sentir o metal gelado,
percebi que era para sempre e não havia volta. Aquele anel só sairia quando
fosse para trocar pelo de noivado, e posteriormente pelo que levaria seu nome
gravado e a data do nosso casamento. Prometi a mim mesmo, que jamais
deixaria Melissa sair da minha vida.
— Eu te prometo, Melissa, que esse anel nunca sairá do meu dedo. Ele
representa o começo do meu amor, que será infinito. Posso não ser o melhor, sou
bruto, às vezes, falo sem pensar na hora da raiva, quero transar com você a todo
momento, mas saiba que você é e sempre será meu porto seguro. A amo e vou
amar cada dia mais. Meu coração é seu, sou completamente seu.
— Eu te amo, Lucca. No começo foi difícil de acreditar ou aceitar, mas esse
tempo ao seu lado apenas me confirmou o homem maravilhoso que é. Estou
muito feliz por me permitir ver, estar e amar você.
— Ah, minha doce criança.
A beijei, tomando sua boca na minha com carinho, respeito e todo o amor que
martelava em meu peito, que às vezes parecia que iria explodir. Puxei seu corpo
para cima do meu, sentando-a em meu colo.
Mais uma vez nos entregamos um ao outro, revelando, como sempre, a paixão
que sentíamos. Línguas duelando, beijos sendo espalhados por toda parte, mãos
que só queriam tocar e absorver a cada pedaço de pele e calor. Queria manter o
romantismo, mas eu pegava fogo por Melissa e eu tinha absoluta certeza que ela
queimava por mim também, tamanha era a fome com a qual se movimentava em
cima de mim. Parecia que eu ia entrar em combustão a qualquer minuto.
— Eu não vejo a hora de poder estar dentro de você de novo — sussurrei em seu
ouvido, antes de deitá-la no sofá, ficando entre suas pernas.
Depois de muito excitá-la, Melissa não aguentava mais a espera.
— Eu quero você dentro de mim, amor. Não aguento mais — ela choramingou, a
olhei e sorri.
— Você me tem. Eu vou te dar tudo do jeito que você gosta.
Voltei a beijá-la e já estava puxando seu shorts para baixo, quando ouvi uma voz
que soava irritada.
— Que merda é essa?
Senti meu coração falhar uma batida depois de reconhecer o dono daquela voz, e
ele não estava sozinho.
Aquilo não podia estar acontecendo, lamentei em pensamento.
Capítulo 22
Lucca Marconni

Tudo que não poderia acontecer, estava acontecendo. Melissa levantou de


sobressalto, pondo o shorts no lugar e tentando se recompor o máximo que
podia. Me ergui também e encarei os recém-chegados. Igor com aquela falsa
calma, me culpando com os olhos, Giu um pouco mais atrás, esboçando aquela
cara de “eu te avisei”, escondendo um sorriso. Filha da puta! Que momento mais
constrangedor.
— Não sabia que chegaria hoje, Igor. Não estava programado para retornar só
semana que vem? —perguntei, testando seu temperamento.
— Ainda bem que antecipei a minha volta, ou ia continuar fazendo papel de
palhaço para vocês dois. — Igor disse de forma dura, sua voz carregada de
ressentimento.
— Não é bem assim, Igor — Melissa falou e senti sua voz vacilar.
Ela estava com medo. Apesar de os dois estarem mais próximos, ela conheceu
primeiro o lado desagradável e violento dele.
— Não foi isso o que, Melissa? Para mim tem muito “isso” aqui. Tem muito de
tudo, principalmente mentira — Igor cuspia cada palavra.
— Chega! Não desconte nela a raiva que você está de mim. — Virei para
Melissa e segurei seu rosto para que seus olhos cheios de medo focassem em
mim.
— Não se preocupe. Eu vou resolver tudo. Suba com a Giu e não tenha medo. —
Ela assentiu com os olhos cheios de lágrimas. Toda sua felicidade havia sumido.
— Giu, você pode subir junto com a Melissa? Preciso de um momento com o
Igor.
— Claro, Lucca — concordou minha amiga. — A propósito, fecha a braguilha.
O passarinho está escapando. Vamos, Mel.
As duas se afastaram e Mel ainda me olhou enquanto eu fechava minha
bermuda. Igor, por sua vez, esperava eu falar alguma coisa, mas o que eu diria?
Afinal, eu não estava errado... ou estava? Eu a amo isso e disso não tenho
dúvida. Porém, a mágoa nos olhos do Igor me mostrava que não era só eu que
nutria esse sentimento. Ou isso era coisa da minha cabeça?
— O senhor pode começar explicando porque não me contou. Eu te perguntei
por diversas vezes, pedi para que não fizesse isso. Ela é só uma menina e você
vai foder com ela do mesmo jeito que fez com todas — ele disse, se segurando e
tentando não se alterar. Sabia tão bem quanto eu, que a raiva não levava a lugar
nenhum.
— Não é bem assim, Igor.
— Como não e bem assim, tio? Você, ela... vocês... — Ele fez um gesto com as
mãos, apontando para o sofá, sem terminar a frase. — Poxa, tio, custava falar?
Eu chego aqui e me deparo com essa cena, que acho que nunca mais vai sair da
minha mente.
— Igor, eu tentei contar antes de você viajar, mas fomos atropelados —
justifiquei com a verdade. — Todos chegaram e de repente você já tinha ido.
— Tio, o senhor não pode. Eu pedi, eu falei.
— Por que não posso, Igor? Somos adultos e solteiros. Você gosta dela? Você a
ama?
Nossas vozes já estavam alteradas. Era para ser uma coisa simples, mas não
estava sendo assim. Merda! Eu fiz a pergunta e não sabia se queria ouvir a
resposta. Tinha medo do que ele poderia dizer. E se ele a amasse? O olhei,
suplicando silenciosamente para que negasse.
— Claro que não, porra! Eu aprendi a amar Melissa, é verdade, mas não dessa
forma. Ela é uma menina encantadora e eu não vi isso quando éramos pequenos.
Acontece que ela me deixou conhecer esse lado agora e tudo que quero é a
felicidade dela.
— Pois é, Igor, muito encantadora, tanto que eu a amo — admiti de uma vez. —
Por Deus! Eu a amo mais do que eu já amei qualquer outra coisa ou pessoa. Não
vou mentir, me encantei por Melissa quando passei por aquela porta no primeiro
dia em que ela chegou. Ela é linda, inteligente, tem aquele sorriso iluminado...
Tentei investir, sabendo o que posso fazer com a mente de uma mulher, e para
uma menina como Melissa, não seria diferente. Eu sei que a afeto. — Sorri, me
lembrando de quantos beijos roubados, quantas conversas de duplo sentido
tivemos. — E então foi acontecendo, fluindo, que quando percebi, já estava
envolvido o bastante para não querer recuar. Ela me fez vivo, me fez ver a vida
de uma forma diferente, e tudo o que eu quero é fazê-la tão feliz, mas tão feliz,
que eu não sou capaz de explicar.
Ele me olhou como se eu tivesse duas cabeças e um rabo, só então percebi que
estava andando pela sala como um animal enjaulado.
— Tio, isso é uma aliança? Você a pediu em casamento?
— Não, Igor. A gente ia te contar assim que você chegasse. Porém, você
resolveu chegar mais cedo e... por que veio antes do combinado?
— Hoje é aniversário dela, eu queria fazer uma surpresa. Mas então chego aqui,
e encontro vocês trepando no sofá. A surpresa foi toda minha.
— A gente não estava trepando.
Agradeci por ele não ter chegado uns quinze minutos depois, ou eu estaria
realmente dando tudo o que ela queria.

— Por que eu cheguei, né?! Tio, eu sei que te devo respeito acima de tudo, mas
se você a machucar, esquecerei isso. Ela é minha família.
— Se eu machucar, juro que eu mesmo me mato. Eu nunca a machucaria, nem
deixaria ninguém fazer isso. Melissa é minha e sempre darei tudo para vê-la
sorrindo como algumas horas atrás.
Igor se calou por instantes e eu preferi não forçar nada, por isso sentei na
poltrona para aguardar o que viria em seguida.
— Certo — ele finalmente disse. — Você a ama e não estou duvidando disso,
quero deixar claro. Mas e a Giovanna e as tantas outras?
— Igor, eu renuncio a tudo e a todas sem pensar. No momento que quis Melissa
para mim e ela me quis, não havia mais ninguém no mundo.
— Ela já sabe sobre tudo? — ele perguntou, se referindo aos assuntos pendentes
que tínhamos que resolver. — Afinal, hoje é aniversário dela.
— Não, claro que não.
— Mas você sabe que vamos ter que falar uma hora ou outra.
— Eu não pensei nesse assunto ainda.
— Então pense nisso, tio. Pensa bem, porque conhecendo Melissa como
conheço, ela não trocaria de roupa para sair dessa casa e sumir.
Ele deu um tapa em minhas costas, pegou a mala que havia deixado no chão e
saiu da sala deixando-me com meus pensamentos conflitantes.
Será que depois de tudo, ela seria capaz de ir embora? Não era possível. Ela não
faria isso. Não depois desses dias juntos. Fiquei ali pensando no que Igor havia
dito. Tinha tantas coisas para contar para ela, as quais não poderia saber por
terceiros, pois poderia soar de um modo estranho vindo de uma outra pessoa. E
se queria realmente manter um relacionamento sério com ela, não podia
continuar omitindo as coisas, ou tudo se voltaria contra mim, eu tinha certeza.
— E então, como foi? — Saí dos meus devaneios ao ouvir a voz da Giu. — Só
pra deixar claro. Pedi para que a gente ligasse antes de vir.
— Tudo bem, Giu. Uma hora ia acontecer mesmo. Não foi tão ruim, mas ele
ainda está chateado.
— Vai passar, meu amigo. Os dois vão conversar e tudo vai ficar bem.
— Tomara, Giu.
— Então o solteirão mais cobiçado da Itália está em um relacionamento sério?
— Pois é — confirmei. — E estou muito feliz por estar nesse relacionamento.
— Eu estou vendo. Fico muito feliz. Você merece isso e muito mais, meu amigo.
— Sabe, Giu, tenho certeza que estou no caminho certo. Pela primeira vez em
muitos e muitos anos.
— Eu estarei sempre ao seu lado.
— Obrigado.
— Espero não incomodar, mas Igor me convidou para passar uns tempos aqui —
ela disse. — Daqui uns dias acontecerá minha exposição e o Igor acha que não
devo ficar em um hotel. A Ma vai ter que ficar aqui também.
— Tudo bem. A casa é enorme e vocês podem ficar no quarto do final do
corredor.
— Está certo.
— Bem, vamos subir. Espero que eles estejam vivos lá em cima.
Subi um degrau de cada vez e meu coração parecia estar em um compasso
estranho. Giu deu um beijo no meu rosto, me desejou boa-noite e seguiu para o
quarto onde ficaria. Pensei muito sobre para onde ir, mas no fim decidi ir para
meu quarto mesmo. Os dois ainda estavam conversando e era um momento
deles. O dia tinha sido cheio de muitos sentimentos, nem todos de alegria,
porém, era bem verdade que contar tudo para o Igor tirou uma tonelada das
minhas costas. Ele ficaria emburrado por alguns dias, mas acabaria se
acostumando.
Deitei em minha cama, que passou a ter o cheirinho dela junto com o meu. Não
era mais necessário permanecermos em casa escondidos do mundo, e isso me
deixava muito feliz.
Acabei pegando no sono e acordei com a luz do dia invadindo meu quarto,
sentindo um peso maravilhoso em meu peito. Era tão bom acordar com ela
agarrada em meu corpo, ainda mais sabendo que veio por contra própria dormir
comigo.
Melissa Ferraz

Quando vi o Igor parado naquela sala, meu sangue congelou. Eu e Lucca


naquela situação constrangedora, e para piorar, Giulia com ele. Nada poderia ser
mais constrangedor. Deixei os dois na sala e fui com ela para o meu quarto, onde
conversamos e ela me acalmou. Meu medo era que os dois brigassem e
acabassem por não se falarem mais. Além do medo de que Igor fosse violento.
Seu olhar era o mesmo de quando éramos criança. Aquele olhar eu não
esqueceria nunca.
Conversamos pelo que pareceram horas, então Igor chegou e pediu que ela nos
desse licença. Diferente do que imaginei, ele não brigou, apenas disse estar
chateado pela mentira e me fez prometer que o procuraria caso Lucca fizesse
algo comigo.
Depois que ele se foi, passei um tempo processando as últimas horas, até que
decidi ir até o quarto de Lucca, onde o encontrei dormindo ainda vestido, o que
indicava que provavelmente até tentou me esperar, mas não conseguiu e acabou
caindo no sono. Me deitei ao seu lado e imediatamente seus braços se
enroscaram em mim, puxando-me para mais perto. Não sei quanto tempo fiquei
ali sentindo seu cheiro, mas adormeci com um sentimento de alívio instalado em
meu peito.
Apesar de acordar sozinha na cama, não me importei, pois isso já era quase
normal. Levei um tempo admirando o anel que ele havia me dado, coisa que não
consegui fazer no dia anterior. Era lindo e elegante. Apesar de achar um pouco
grande, acabou ficando perfeito. Não via a hora de encontrar o Leo e contar para
ele as novidades.
Já estava indo para o andar de baixo, arrumada para mais um dia de aula, quando
Lucca chegou, todo suado.
— Bom dia, meu amor.
Ele me saudou da escada, um degrau abaixo de mim, que estava no topo, e assim
ficava praticamente do seu tamanho. Lucca segurou em minha cintura com
carinho e eu quase derreti.
— Bom dia, amor. — Ele sorriu todo lindo e não resisti, acabando por beijá-lo.
Estava com o cabelo úmido pelo suor e aquele sorriso torto que era difícil de
resistir.
— Sério, isso não é necessário logo cedo. — A voz do Igor entrou em meus
ouvidos e senti meu corpo ficar tenso, afastando-me rapidamente.
— Bom dia, Igor — Lucca o cumprimentou, escondendo um sorriso. —
Branquinha, vou tomar banho e volto para tomar café com você.
— Está bem, amor, eu espero.
Depois que ele saiu corredor adentro, olhei para Igor, que sorriu. Ele já estava
em seu terno, pronto para mais um dia. Igor parecia viver apenas para isso. Mal
chegou de viagem e já estava pronto para assumir seu posto aqui.
— Mel, depois eu quero saber o que você vem dado para ele. Esse daí não é meu
tio, é um clone.
Sorri com a firmação dele e descemos.
A manhã foi boa e podermos tomar o café juntos, sem nenhum clima ruim ou de
omissão, foi excelente. Antes de sair, encontrei a Giu e a Marcela descendo as
escadas. Enquanto Marcela estava em um elegante vestido azul-bebê, Giu ainda
vestia uma camiseta enorme e um shorts de malhar. Definitivamente, ela tinha
acabado de acordar.
Igor me levou, aproveitando para me contar como foi em Nova York e de sua
quase namorada. Eles estavam indo bem, porém, ele tinha receio de dizer para
ela qual sua função no quadro de funcionários da rede de hotéis.
— Eu não acredito que ele pegou vocês nessa situação! Que babado! — Leo
exclamou quando contei a ele os últimos acontecimentos. — Se bem que deve
ter sido um pecado ter que esperar aquele tesão todo acabar sem sentir o homem
gostoso em cima de você. Tenho tanta inveja de você, flor.
— Ai, Leo, só você mesmo. Apesar de tudo isso, estou feliz. Eu amo o Lucca e
ainda ganhei essa aliança linda.
— Amor, papo sério. Você arrasou. Pegou o bofe mais gato e ainda o deixou de
quatro por você.
— É muita felicidade, Leo. Parece até mentira. — Vi quando o carro virou a
esquina e encostou onde nós estávamos. — Vamos lá pra casa, Leo. Está sol e a
gente pode pegar uma piscina — convidei e pensei em uma coisa para convencê-
lo. — Se quer ou não ir, você quem sabe... Mas tem a chance de vê-lo sem
camisa. Juro que até deixo você babar um pouco.
— Apesar de você estar esfregando o gostoso na minha cara, eu aceito, porque
não irei fazer nada. Pelo menos posso ter a sua companhia, e quem sabe te
convença a me contar o que aquele boy faz na cama para te deixar tão alegrinha
assim.
— Definitivamente, você não presta!
— Eu nunca disse o contrário, flor.
Leo passou todo o caminho fazendo piadas e brincadeiras, o que não livrou nem
o seu Carlos de dar risadas. Ele era muito de bem com a vida e era bom demais
tê-lo ao meu lado. Apesar das dificuldades que enfrentava por ser gay, ele nunca
deixava de mostrar sua alegria. Nesse mundo ainda era muito difícil assumir a
sexualidade, e nem seu pai aceitava sua condição. A mãe fazia o possível para
conseguir manter os estudos dele fora do país, e os planos dele eram terminar o
curso e arrumar um trabalho que o desse a oportunidade de levar a mãe para
morar com ele na Itália.
— Boa tarde, senhorita. Senhor... — Pietro nos saudou com um sorriso e fiquei
aliviada por não ter ficado chateado comigo por conta das grosserias de Lucca.
Ele se referiu a mim como “senhorita”, e nisso tinha dedo de um certo italiano
tarado.
— Boa tarde, Pietro. Esse é o Leo, um amigo. Não sei se você lembra dele da
festa. Leo, esse é o Pietro, chefe da segurança da mansão.
Os dois se cumprimentaram e Pietro saiu rapidamente, o que era estranho. Seu
normal era puxar um assunto qualquer e prolongar para que eu ficasse ali mais
tempo que o necessário e acabássemos dando boas risadas. O observei de longe,
pensando sobre seu comportamento, mas não disse nada.
Giulia estava jogada no sofá assistindo alguma coisa na televisão, e seus trajes
mostravam que era do tipo que ficava o dia inteiro do mesmo jeito que acordou.
Ela se levantou do sofá para olhar quem havia chegado.
— Oh, meu Deus! — Leo exclamou ao meu lado e quase fiquei surda. — Giulia
Matarazzo? A pintora mais badalada do momento? A artista mais cobiçada? Eu
sou fã!
Giulia soltou uma gargalhada com a euforia do meu amigo e eu não deixei de rir
também. Leo era mesmo uma figura.
— Esse é meu amigo Leo. E, bom... Leo, essa é a Giulia. Ele veio passar o dia
aqui comigo, mas não sabia que você estaria em casa. Espero que não se
incomode.
— Claro que não — ela garantiu. — Estava mesmo esperando você chegar.
Queria que me ajudasse a decidir o que vou expor nesse fim de semana.
— Flor, você arrasa — Leo se pronunciou, dirigindo-se a mim. — Pega o cara
mais gostoso e ainda vai ajudar a escolher os quadros mais perfeitos para a
exposição perfeita. — Ele fez um bico adorável. — É, eu não vou estar lá para
prestigiar essa diva.
— Não seja por isso, gato — disse Giulia. — Vamos sentar os três e escolher as
fotos. Se você é amigo da Mel, é meu amigo também.
— Já que estamos todos amigos, vou subir para trocar de roupa e você fica na
companhia da Giulia, Leo. Podemos fazer essas coisas todas depois que eu
comer.
Deixei os dois tricotando, imaginando que a tarde tinha tudo para ser ótima. Eu
não era melhor amiga da Giu, mas ela vinha se mostrando uma pessoa agradável,
o que provava que tínhamos tudo para fazer crescer uma amizade. O melhor era
deixar qualquer desconfiança de lado e me dar a chance de conhecê-la melhor.
Capítulo 23

Melissa Ferraz

Os dias passaram rápido nessa semana, e acho que foi o fato de me manter tão
ocupada com Leo me fazendo companhia todos os dias. Ele e Giu, como era de
se esperar, se deram muito bem. Eu precisava confessar que a mulher era tudo e
mais um pouco dos elogios que escutei desde que ouvi seu nome a primeira vez.
Comecei a entender perfeitamente a adoração que Lucca e Igor mantinham por
ela. Depois de toda a ajuda que demos com a exposição, ela disse que ia
estabelecer um escritório em Roma, pois estava cansada de viver sem rumo pelo
mundo. Ela idealizava formar uma família, afinal, segundo ela, idade estava
chegando e Giulia tinha pavor ao pensamento de ficar ainda mais velha e não
poder criar uma criança. A sua primeira contratação foi Leo. Ela garantiu que ele
poderia trazer a família dele sem medo, pois ela daria total suporte. Acho que
nunca havia visto um homem chorar tanto. Ele finalmente poderia dar a sua mãe
tudo o que sempre quis. Nesses dias conheci um outro lado do Leo. Sério e firme
quando tinha que ser. Decidido no que dizia, o que só confirmava que era um
grande homem, sem dúvida.
Até Lucca tinha se acostumado com ele perambulando pela casa, apesar de as
vezes reclamar por eu ficar tanto tempo com ele no quarto, ou permitir que me
visse trocando de roupa. Ele não entendia que Leo pouco se importava se estava
vestida ou nua. O interessante para ele era ficar admirando o Lucca, não a mim.
Mas tudo sem resquícios de maldade. Bem como adorava se deliciar com a visão
de Igor, que andava sem camisa, ou ficar todo alegrinho quando Pietro lhe
dirigia a palavra ou apenas um sorriso.
Giu insistiu que tínhamos que ir ao shopping comprar um vestido, afinal,
tínhamos que estar divas para sua exposição, assim como comprar um smoking
digno de um divo como o Leo, palavras dela. Passar o dia com esses dois era
sempre maravilhoso.
Eu estou feliz, mesmo sendo um dia triste. Completava três meses que minha tia
havia me deixado. Ela me ensinou a nunca chorar pela morte, mas também
nunca festejar. Segundo ela, morrer era renascer, era o fim de mais um livro e o
começo de outra história. “Morrer não significava perder o que tínhamos ou o
que amamos, e sim aprender a amar novamente a vida que temos.” Conseguia
ouvi-la dizendo isso ainda quando era uma menina, e chorava muito por não ter
pai e nem mãe.
“Minha querida menina Melissa... Um dia você irá entender que morrer é o
momento de nosso descanso, para que estejamos preparados para reviver e viver
mais uma vez.”
Eu sabia que ficar remoendo isso só me deixaria mal. Quando a morte a levou de
mim, tudo que ela me pediu foi que eu fosse feliz. Que não importasse como,
quando ou onde, em alguma vida iríamos nos encontrar. Ela tinha o dom das
palavras, de fazer as coisas ruins ter um lado pelo menos coerente.
— Queria saber onde você está, apenas para te encontrar.
Sorri para Lucca, que se aproximava de mim. Estava deitada no deque da
piscina, ainda com sua camiseta e um shorts de lycra, enquanto ele já estava de
banho tomado e imponente em um de seus ternos. Igor tinha dito que ele teria
que ir a empresa assinar alguns papéis.
— Eu estou bem aqui, meu amor — falei e ele se sentou ao meu lado, me
puxando para o seu colo. Fui de bom grado, pois não tinha lugar melhor no
mundo para estar. Me aconcheguei e inspirei seu cheiro, beijando sua mandíbula.
— Você não vai se juntar a nós para o café? Sinto sua falta — ele perguntou.
— Mas passamos a noite toda juntos.
— E o que importa? Por mim te amarrava em mim e te levaria para todos os
lugares. Por que está aqui tão pensativa?
— Nada, amor. Apenas cabeça cheia.
Não queria entrar no assunto, por isso juntei meus lábios aos dele. Nada melhor
que o beijo do homem que amava para trazer novamente à tona os motivos que
me traziam felicidade. Não demorou uma só batida do coração para sua língua
pedir passagem e eu abri minha boca, sentindo sua língua enroscar-se à minha
em um beijo calmo e lento.
— Sério, cara, vocês não conseguem ficar um segundo sem essa agarração toda.
Esse melaço está me dando diabetes, já. — A voz da Giu chegou até nossos
ouvidos, quebrando a magia do beijo. Lucca jogou a cabeça para trás e gargalhou
alto. — Não, sério. Ainda bem que não moro aqui.
— Acordou do lado errado da cama hoje, Giu? — ele zombou dela. — Eu não
tenho culpa se minha língua funciona toda noite. — Senti meu rosto ficar
completamente vermelho e queimar de vergonha. Levantei do colo dele e dei um
tapa em seu braço, murmurando um “para com isso”. — Você devia ter
experimentado enquanto teve chance — continuou. — Agora só a Mel pode
sentir o poder da minha língua.
— Lucca! — o repreendi.
— Se ela experimentar o poder da minha língua, amor, não seria no seu colo que
ela estaria sentada. — Giu rebateu e acabei me acostumando com um
provocando o outro. Eram piores que dois homens.
— Giu! Vocês dois são dois pervertidos, sabia? — Tentei levantar, mas Lucca
segurou meu braço, me fazendo olhar para ele. Giu gargalhava e ele ostentava
um sorriso lindo no rosto.

— Seu pervertido, amor — Lucca afirmou e me beijou em seguida mais


intensamente.
Escutamos um “desisto de vocês dois e o café está pronto” da Giu, porém, dessa
vez Lucca não parou o beijo, chupando minha língua e suas duas mãos descendo
pelas minhas costas, apertando minha bunda com força, o que me fazia roçar em
sua ereção. Gemi abafado em sua boca e ele mordeu meu lábio, o puxando. Com
um último olhar, me deu um daqueles sorrisos tortos.
— Vamos entrar, antes que eu te foda aqui. Até porque, estou pouco me
importando se alguém vai ver alguma coisa.
— Você é um tarado, sabia?!
— E você é uma criança muito safada!
Giu e Marcela fizeram nossa refeição, pois Grazi só voltaria na semana seguinte.
À mesa, nos divertimos em conversas animadas. Igor contou uma história
ocorrida em um restaurante famoso de Milão, onde Giu deu “piti” para cima de
uma mulher linda que estava claramente se jogando no colo de Lucca. Ele disse
que no outro dia estava em tudo que era site, jornal, revista. Todos rimos muito,
porque a tal mulher saiu tão rápido do restaurante que Lucca teve que pagar as
duas contas. Isso por conta de uma aposta boba. Leo entrou e, como sempre,
chamando a atenção de todos para si. Ele era o homem mais centrado e alegre
que conheci na minha vida.
— Babado e confusão nas ruas de Roma. — Ele vinha com algumas revistas e
jornais na mão. — Ai, meu Deus, assim vocês me matam um pouco mais a cada
dia que venho nessa casa. Até entrar tenho pelo menos uns seis infartos. Aí
chego aqui dentro e quem sabe estou salvo dos homens de preto lá fora, mas
vocês dois estão assim, parecendo aqueles CEOs sexys e mandões que tem nos
livros. Por favor, me amarrem e me chamem de “minha”.
Ele se abanou e todos riram. A pessoa era impossível.
— E então, qual a novidade que você nos traz hoje? — Giu perguntou, saindo de
sua cadeira e indo até o Leo, pegando uma das revistas que ele havia levado, e
lendo para todos o que tinha na capa.
— “O rei dos hotéis foi laçado”. — Meu corpo tensionou na mesma hora. Eu
evitava olhar qualquer notícia sobre Lucca, ela abriu a revista e começou a ler a
matéria. — “Lucca Marconni em mais uma de suas corridas matinais, foi visto
com algo nada normal na mão. Ele ostentava uma linda aliança grande e grossa
no dedo.”
Giu parou e o Leo continuou lendo a outra revista que tinha na mão.
— “O italiano mais cobiçado está desfilando por aí com uma grande aliança no
dedo. Meu Deus, o meu coração não resistiu. #Luto.” — dizia a matéria.
— Meu Deus — murmurei mais para mim do que para qualquer outra pessoa
naquela sala.
— E não para por aí. Esse jornal estampa a foto do Marconni na capa, uma da
Giovanna, uma da Mel ao lado, a da aliança no dedo do majestoso, e a manchete
diz o seguinte: “O rei dos hotéis, o solteirão mais cobiçado da Itália, finalmente
foi pego. Resta sabermos quem é a escolhida. A loirinha que, por fontes seguras
descobrimos que se chama Melissa e vive atualmente na mansão dos Marconni,
apesar de estar em dúvida entre o rei e o príncipe, pelo jeito, parece ter escolhido
a fortuna maior. Se é que tem diferença. Ou será que rola um troca-troca dentro
daquela fortaleza? Ou será que Marconni escolheu a patricinha de Roma, que
sempre esteve ali assistindo de perto a cada movimento de seu amado? Façam
suas apostas! — Leo concluiu, e eu saí em disparada para meu quarto, não
querendo chorar na frente deles. Odiava aqueles jornais, odiava tais notícias de
baixo calão, que julgavam as pessoas. Não era culpa de nenhum dos que estavam
ali, e até preferia ouvir deles. Pelo menos eram sinceros e me conheciam o
bastante para saber que nada daquilo era verdade. Entrei no quarto e me joguei
na cama, deixando as lágrimas caírem livremente. Mas logo senti um peso na
cama. Lucca me puxou para si e eu me agarrei em seu corpo, sentindo o carinho
de seu consolo. Aproveitei para pôr pra fora não só o peso das notícias, mas da
falta que minha tia fazia. Lucca apenas acariciou meu cabelo e deixou que eu
chorasse em seu colo.
— Branquinha, você precisa se acostumar com esse tipo de notícia. Com o
tempo vai perceber o quanto é normal.
— Normal, Lucca? Eles falam coisas horríveis, inventam histórias descabidas
sobre mim, e você me diz que isso é normal?
— Eu sei que é errado, mas esse é o veneno que chama atenção.
— É, no fundo eu sei. — Funguei, me apertando ainda mais nele.
— Esse choro todo não é apenas por conta dessa notícia infundada. Me diz o que
está acontecendo?
— Hoje faz três meses que a tia faleceu — disse, baixinho torcendo meus dedos
em sua camisa.
— Não fique assim. Pense que ela está feliz em te ver bem.
— Eu sei, mas é que dói.
— Eu sei, amor. Mas a morte não é o fim, e sim o nosso descanso para estarmos
preparados para um novo livro, uma nova vida.
— Ela dizia a mesma coisa.
— Nossa mãe nos ensinou isso muito cedo. Pensar assim nos faz encarar a morte
de uma pessoa querida de um modo diferente.
— Esses pensamentos te ajudaram quando Camilla morreu? — perguntei e senti
o corpo dele ficar tenso em baixo do meu. Fiquei arrependida imediatamente por
ter entrado no assunto. — Desculpa! Isso é assunto seu, não meu. Eu não devia
nem ter falado, mas juro que minha intenção não foi te ferir de algum modo.
— Tudo bem. Uma hora eu teria que falar, de qualquer forma. Só não queria que
soubesse pelos outros — ele falou, continuando em seguida. — Sim, esse
pensamento e ensinamento me fizeram encarar a morte de Camilla de uma forma
diferente. Não só a dela, mas também a de meu irmão, amigos próximos, e dos
meus pais. Os que me ensinaram tudo.
— Eu realmente queria saber um pouco de vocês dois. Ninguém me disse nada e
eu ouvi um pouco aqui, outro pouco ali, mas nada que mostrasse como era a
relação de vocês.
— Você quer mesmo saber? Sem ficar com raiva ou ciúme bobo?
— Sim, eu quero saber. Mas quero que me conte por vontade sua, não porque
sou curiosa.
— Tudo bem, criança. Vou lhe contar uma história. Só não durma. — Sorri e me
virei para que pudesse o olhar nos olhos. — Quando cheguei a Roma, logo me
encantei por Camilla. Ela era filha do dono da pensão onde eu ficava. Eu tinha
só dezoito anos e estava bobo com a cidade e com a beleza de Camilla. Os
primeiros dias foram complicados, mas eu falava italiano por causa da minha
família. Ainda assim, não era muito fácil. Camilla me ajudou muito no início e
não foi difícil para nos tornarmos amigos, até que eu acabei me apaixonando por
ela. Convivemos bastante na faculdade. Ela fazia administração e eu
gastronomia. Conheci Giovanna porque elas eram muito amigas e nós três
sempre estávamos juntos. Eu a amava mesmo sabendo que o sentimento não era
recíproco.
Mas mesmo assim, escolhi Camilla ao invés de Giovanna, que sempre foi muito
patricinha, com seus trejeitos e manias de se achar superior aos outros, o que não
me fazia a olhar com interesse. No segundo semestre conheci Giu. As três eram
as mais bonitas da faculdade. Enfim, o tempo foi passando e acabei me
envolvendo com Camilla. Eu não era rico, na verdade meio que deixava o
almoço pra comer na jantar, até conseguir um emprego como garçom em um
restaurante e tudo começou a mudar na minha vida.
Ele sorriu, lembrando-se daquele tempo. Era visível que foi uma época feliz para
ele.
— Engano meu — prosseguiu. — Acho que é um engano do ser humano achar
que tudo são flores. Eu estava namorando com a menina que eu julgava ser a
melhor pessoa do mundo, tinha arrumado um emprego e estava indo bem na
faculdade. Camilla foi aquele lado bom e ruim ao mesmo tempo. Ela me
mostrou a alegria de amar e ser amado, e me tirou tudo isso com a mesma mão.
Certo dia eu havia ido para a faculdade, como de costume, mas não tive a última
aula e decidi passar na pensão antes de seguir para o restaurante. Queria ver a
Camilla, pois era nosso aniversário de namoro, então decidi que com seis meses
juntos, estava na hora de noivar e casar. Passei no meu quarto e peguei a aliança
que com muita luta havia comprado, e embora fosse simples, era de coração.
Desci, fui até os fundos da pensão onde ficava a casa dela, e para minha surpresa
a encontrei em cima de outro cara. Ela o montava com uma certa experiência
que me surpreendeu, já que alegava ter vergonha de fazer certas coisas no
momento do sexo.
Dava pra ver que Lucca era realmente apaixonado. Depois de tanto tempo, ainda
era visível a dor em seus olhos ao falar sobre o assunto. O que demonstrava que
a ferida ainda não havia se fechado.
— Eu a deixei pra trás e todo o resto. Não quis explicação, não quis nada. Tudo
o que eu queria era sumir. Meses depois eu ainda estava mal, ainda doía, até que
Giu se aproximou de mim na faculdade. Eu dava em cima dela praticamente
todos os dias e ela me dava todos os foras possíveis. Eu bebia demais, saía
demais, minhas notas caíram, perdi meu emprego, cheguei no fundo do poço,
mas Giu me puxou sem querer nada em troca. Ela me contou que era lésbica e
por isso me dava tantos foras, mas sabia que eu era uma boa pessoa, só estava
perdido por quem não merecia, e foi assim que seguimos juntos. Ela se tornou
uma irmã e uma amiga para mim. Fui morar com ela no apartamento que o pai
dela custeava para ela, e quando consegui um emprego, passei a ajudar em tudo
na casa. Acho que um ano depois, Giovanna me procurou na faculdade e disse
que Camilla havia sofrido um acidente. Não vou mentir para você, Mel. Doeu
saber que ela estava tão mal. Parei tudo, fui até a pensão e encontrei seu
Francisco indo visitá-la. Conversamos e ele me contou o que havia acontecido.
Ela havia sofrido um acidente com o amante dela e ele não resistiu. Ela estava
entre a vida e a morte e queria me ver, então fui até o hospital com ele, e a dor
naquele homem era dilacerante. Tinha perdido a esposa e estava prestes a perder
a filha. Camilla pediu perdão e eu aceitei. Ela morreu dias depois, mas demorou
muito e seu Francisco também veio a falecer. Passei a ficar mais com ele depois
que Camilla morreu, simplesmente não conseguindo dar as costas para o homem
que um dia havia me estendido a mão. Então ele me deixou a pensão como
herança, e foi assim que a Hotelaria Marconni surgiu.
— Isso ainda te machuca — afirmei. — Dá pra ver em seus olhos.
— O que me machucou foi a traição. Eu dava o céu para ela e recebi o inferno.
Perdoei de coração, mas não fui capaz de confiar em mulher nenhuma. Até
agora, pelo menos. — Ele sorriu e acariciou meu rosto. — Você me mostrou que
as mulheres não são todas iguais. Algumas valem a pena.
— Claro — concordei. — Ela te traiu porque não soube ver o homem
maravilhoso que você é, e nem o que poderia ser quando estivesse mais velho.
— Não, amor, ela me traiu porque era uma pessoa pequena. Queria muito e
muito e muito. Quis tanto que se perdeu em si mesmo, e o amor para ela não era
tão intenso quanto era para mim. Hoje com você, não consigo confirmar se o
meu amor por ela era tudo o que eu imaginava.
— Então tudo mudou depois que nos entendemos?
— Claro que tudo mudou, meu amor. Você me mostrou que a vida pode ser
colorida.
Eu sorri e o beijei. Ele também havia mudado tudo na minha vida, dando o
mesmo colorido para minha vida e a cada conversa nossa eu o amava ainda
mais. Parecia que nunca deixaria de crescer. Lucca tinha virado, em pouco
tempo, tudo de mais importante que já tive na minha vida.
Ele me deu um selinho demorado e perguntou:
— Você está bem com tudo isso?
— É uma parte da sua vida, amor. Eu não vou ficar com raiva de alguém que já
morreu, é passado.
— Hoje você é meu verdadeiro amor e isso não irá mudar nunca.
— Eu te amo muito, Lucca.
— Se você disser que me ama de novo, vou ter que te foder, branquinha, e não
estou podendo. Igor está me esperando. Vamos descer, amor.
— Vamos. Preciso pedir desculpas pelo meu rompante. Agi como uma criança.
— Ele ia dizer alguma coisa, mas o cortei. — Se você falar alguma coisa hoje,
nada de sexo mais tarde.
— Não correria esse risco — ele disse me deu um beijo rápido.
Na sala estava somente Giu e um Leo com cara de quem tinha feito besteira.
Tadinho!
— Onde está o Igor? — Lucca perguntou para ninguém em particular, e a Giu se
apressou a responder.
— Ele foi na frente. Disse para você encontrá-lo lá.
— Claro. Tenham um bom dia. Já vou indo.
Antes de sair Lucca ainda me deu um beijo e fez uma piadinha.
— Mel, minha flor, me desculpe. Achei tão absurda aquela notícia, que esqueci o
quanto isso te deixa mal, gata.
— Não precisa me pedir desculpas, Leo. Eu que estava guardando as coisas e
acabou que juntou tudo e explodi. Mas Lucca conversou comigo e estou me
sentindo melhor. Além disso, isso é uma coisa que vou precisar me acostumar,
não é mesmo?!
Ele expressou seu alívio me dando um abraço.
— Você é um anjo, Mel.
— Chega desse baixo astral — falou Giulia. — Vamos tirar essa roupinha, dona
Mel, e vamos brilhar e exibir a melhor escolha que o rei dos hotéis poderia ter
feito.
Ela estava certa. Eu não devia me deixar abalar tanto, afinal, tinha um homem
que me amava, um irmão que eu sabia que faria tudo por mim, e amigos
verdadeiros. Estava feliz por ter uma família. Diferente do convencional, mas
pessoas que amava demais.

*******

Quando chegamos em casa eu estava acabada, um caco, só o pó. Nunca andei


tanto em um shopping. Não sabia quem era o mais indeciso, Giu ou Leo. Quase
larguei os dois e fui embora sozinha, mas estava tão divertido que não fui capaz
de sair assim. Os dois era uma comédia. Giu era conhecida por seus quadros, e
virava e mexia alguém pedia autógrafo e uma foto. Fiquei imaginando como
uma pessoa conseguia viver com toda aquela atenção. Não me parecia algo fácil.
Estava jogada na minha cama, esperando a coragem para levantar e ir caçar
alguma coisa para comer, pois meu estômago já protestava, quando uma batida
na minha porta me tirou dos meus pensamentos. Segundos depois, Igor entrou
em meu quarto, sem camisa e uma caixinha azul royal na mão.
— Podemos conversar um minuto? Aproveitar que o “sombra” está entretido
numa conversa com as meninas.
Como “sombra” ele se referia ao Lucca.
— Não o chame assim, Igor. Lucca gosta de estar ao meu lado, só isso —
defendi meu namorado e mostrei a língua para ele. — Claro que podemos. Senta
aí. Em que posso te ajudar?
— Na verdade, já era para eu ter entregue e o seu presente. Demorei muito para
conseguir pensar em algo para comprar, pois queria que, de alguma forma,
mostrasse que mudar é bom, que podemos ser diferentes, não importa quando,
que horas e por quê. O importante é que podemos ser diferentes a hora que
quisermos.
— Tudo isso só para me deixar ainda mais curiosa, né?!
— Credo! Tantos anos e você ainda continua a mesma fofoqueira de sempre —
brincou ele, me entregando a caixa. — Feliz aniversário! Primeiro aniversário de
verdade juntos e foi meio conturbado, mas não como o último que passamos em
baixo do mesmo teto.
Abri a caixa enquanto ele falava, e só então entendi tudo o que havia explicado
antes. Em um dos meus aniversários, ainda criança, pedi muito que me dessem
um relógio. Não queria mais nada, penas aquele relógio que vi na televisão.
Demorou quase o ano todo, mas papai o comprou e eu fiquei imensamente feliz.
Acontece que no dia seguinte Igor pegou o relógio, quebrou com um martelo e
disse que se eu contasse ele ia fazer o mesmo comigo. Claro fiquei de castigo e
nunca mais quis um relógio na vida.
— Eu sei, Mel, que isso, esse relógio, representa muita coisa. Coisas essas que
não são boas. Assim como o relógio que faz o tempo andar, o tempo passou e eu
mudei. Com esse relógio quero que apague qualquer lágrima daquele dia.
Quando percebi já estava chorando. Não sabia que merda estava acontecendo
comigo, porque andava muito emotiva. Me joguei nos braços de Igor, o
abraçando apertado. Não importava mais o que havia acontecido no passado. O
importante era o que ele me mostrava no presente, o homem adorável que se
tornou.
— Esse relógio também representa o presente e o futuro — declarei. —
Obrigada, Igor. Você mudou e eu mudei, não somos mais crianças e o passado
ficou lá no passado. Vamos continuar mudando-o.
— Você é a melhor — disse ele, que limpou meu rosto e sorriu, se aproximando
e beijando meu rosto.
—Espero que essas lágrimas sejam de alegria — falou Lucca, entrando no
quarto.
— Pronto, o “sombra” chegou.
Lucca soltou uma risada, bagunçando o cabelo de Igor.
— Olha que relógio lindo que ganhei do meu maninho gato.
Mostrei a ele.
— Isso é para te controlar, você sabe, branquinha — brincou meu namorado. —
Realmente é muito bonito.
— Eu já vou indo. Vocês dois juntos não são normais.
Antes de sair, Igor beijou minha testa e nos desejou boa-noite.
— E então, como foi no escritório hoje? — perguntei.
— Horrível! Pensei em você o dia todo.
— É mesmo? Posso saber por quê?
— Eu posso te contar, mas depois. Não vejo a hora de me enterrar por inteiro em
você.
Com isso ele não perdeu tempo em me tomar em um beijo, e todo o mais foi
esquecido. Desse jeito meu coração, corpo e alma eram de Lucca, e tudo que eu
desejava era que durasse para sempre.
Capítulo 24
Lucca Marconni

Cheguei da minha corrida matinal e subi para o meu quarto, indo direto ao
banheiro. Correr me fazia bem, me ajudava a descarregar a tensão. Apesar das
noites movimentas que tinha com Melissa, gostava de passar alguns momentos
sozinho. Contar para ela de Camilla foi algo que devia ter feito há muito tempo.
Camilla foi uma parte importante da minha vida, porém, não mais do que
Melissa se tornou. Adiei até demais. Achava que ela não voltaria a tocar no
assunto, e não era algo que eu gostasse de falar. Fui traído por uma pessoa por
quem eu tinha um grande sentimento, por isso não era agradável lembrar. Por
incrível que pudesse parecer, depois de vinte anos eu não havia esquecido. Não
que me importasse tanto quanto na época, mas a dor de uma traição jamais é
esquecida. Ela fica ali em algum canto do seu subconsciente, pronta para atacar.
Essa era a verdade. Então, por todos aqueles anos, consciente ou não, eu evitei
qualquer tipo de relacionamento mais sério, mesmo tendo sexo mais de uma vez
com a mesma mulher. Não considerava como relacionamento, mas apenas sexo
gostoso e bem feito.
Após ter me trocado, fui até o quarto de Melissa, onde havíamos dormido na
noite passada, pensando que na semana seguinte acabaria essa coisa de estarmos
instalados em quartos separados. Estava cansado disso. Ela já era minha mulher
de todas as formas, todos sabiam, portanto, não tinha porque continuarmos
assim.
A encontrei dormindo, coberta apenas por um fino lençol que só escondia sua
bela bunda, idealizando que um dia ela também seria minha. Desejava possuir
cada canto do corpo de Melissa, alma e coração. Desejava fazer dela, tão
dependente de mim quanto eu era dela.
No relógio da mesinha ao lado ainda marcava sete e meia da manhã, por isso
resolvi não a acordar. Ela não vinha dormindo muito bem na semana, então
deitei ao seu lado e a puxei para mim. Melissa resmungou alguma coisa, mas se
aconchegou em meu peito, enrolando as pernas na minha e não acordando.
Fiquei ali acariciando seu cabelo e pensando o quanto era bom, o quanto me
fazia feliz tê-la em meus braços.
Olhei para a cama e vi Melissa de quatro, com aquela bunda maravilhosa bem
empinada. Estávamos suados, seu rosto encostado na cama e suas pernas
entreabertas, numa visão gloriosa. Eu tinha uma grande ereção, duro igual pedra.
— Vem, amor. Estou pronta para você, Lucca — ela me convidou.
Porra! Melissa ronronava cada palavra feito uma gata manhosa, fazendo eu
sentir meu pau se contrair. Esperei tanto para tê-la por completo e ela estava
pedindo daquela forma. Eu iria enlouquecer. Parece que explodiria antes mesmo
de me enterrar nela.
— Porra, branquinha, assim você me fode.
Segurei meu pau e a vi passar a língua pelos lábios, desejando-o no fundo de sua
garganta. Ela já estava acostumada a engoli-lo, por isso me aproximei e acariciei
sua boceta, sentindo aquele líquido quente entre meus dedos. Mordi meu lábio,
abafando um rugido, e acabei cedendo por seu gosto mais uma vez. Era delicioso
poder me saciar de seu mel. Ela gritava meu nome num êxtase incontrolável de
prazer, e eu adorava ouvi-la gritar por ele. Melissa repetia e repetia, cada vez
mais alto, me deixando louco para tê-la de todas as maneiras possíveis.
— Lucca... Lucca... Lucca, acorda!
Acordei num sobressalto, respirando ofegante. Olhei em volta, tentando me
situar, e passei o olho pelo ambiente, tentando me lembrar onde estava. Deparei-
me com Melissa sentada na cama, me olhando com expressão de espanto. Porra!
Eu dormi e tive a merda do sonho mais erótico da minha vida. Sonhei com ela
pronta para me dar tudo que eu mais queria, e ela havia me acordado. Até no
sonho ela se recusava a me dar o que por direito já era meu.
— Você está legal? — ela perguntou, me olhando.
— Estou ótimo — respondi com um sorriso sem jeito, não sabendo qual era
minha situação antes de acordar, mas não daria nada de graça para ela.
— Com o que estava sonhando?
— Você quer mesmo saber, Melissa? — Me ajoelhei, ficando na sua frente.
— Sim. Você estava sorrindo e gemendo. Imagino que era de prazer, afinal,
parecia feliz.
— Estava sonhando com a sua boceta toda molhadinha, você implorando para
que eu te comesse por trás. Fiquei na dúvida se chupava sua bocetinha ou
enterrava meu pau no seu buraco apertadinho.
Fui honesto em minha resposta e vi sua respiração falhar e ficar pesada. A
agarrei pela cintura, deitando-a na cama, provocando com minha boca. Entre
toques e beijos, passei a mão por sua intimidade, sentindo já a umidade que
escorria por ali, mas descendo para o ponto proibido dela, que se contorceu em
baixo de mim, gemendo alto meu nome. Passei a masturbá-la enquanto me
fartava de seus seios. Quando Melissa chegou ao ápice, falei em tom de
comunicado:
— Branquinha, agora vou fazer o que estava prestes a fazer no meu sonho.
Chupar sua boceta até você gozar gritando meu nome.
Desci com beijos pela sua barriga, dando mordidas e abrindo mais suas pernas.
Passei a língua por toda sua boceta, lambendo de cima abaixo e sentindo seu
gosto delicioso em minha língua. Fechei a boca em seu clitóris já duro e o
chupei, passando minha língua com movimentos circulares. Ela xingou e
segurou meu cabelo, puxando-o com força. Suguei mais uma vez, pincelando de
leve, o que a fez gemer, tentando fechar as pernas. Mantive-as bem abertas e
mergulhei cada vez mais forte, descendo minha língua novamente e circulando
por seu buraquinho. Mel rebolou na minha boca, esfregando a boceta na minha
língua. Voltei a dar atenção ao seu clitóris, prendendo-o contra meus dentes. A
senti se contorcer e gritar em alto e bom som meu nome quando se desmanchou
em minha boca.
— Não há coisa mais gostosa nesse mundo. Você é uma iguaria, e olha que já
tive muitas experiências
Eu disse, deitando por cima de seu corpo e a beijando, deixando-a sentir o
quanto seu gosto era divino e viciante. Me livrei das minhas roupas, jogando-as
para algum lugar do quarto. Ela sorriu e passou a unha pelo meu peito e
abdômen, chegando em minha ereção. Melissa rodeou sua mão por ele,
segurando firme na base antes de passar a língua pela cabeça. Ajoelhei sobre a
cama e ela se arrumou, ficando de quatro, me engolindo. Gemi, sentindo sua
língua passear por todo o meu pênis. O senti crescer ainda mais ao passo que ela
ia chupando e com sua mão na base me masturbando. Segurei seu cabelo e movi
meu quadril, enterrando mais meu pau dentro da boca dela, o que me fazia
perder o controle. Ela fitou meus olhos como se pedisse em silêncio que eu a
fodesse. Gozar em sua boca era uma tentação, mas gozar enterrado na boceta de
Melissa não tinha comparação. A puxei em direção a minha boca, beijando-a
intensamente. Passei a cabeça do meu pau por sua boceta, acariciando seu
clitóris, até que ouvi sua súplica.
— Por favor, Lucca, não judie de mim.
Ri de suas palavras choramingadas, sentindo o prazer que era ouvi-la implorar
por mim. Não me fiz de rogado e me enfiei lá dentro, senti-a apertar em torno de
mim, molhada e quente. O paraíso na vida de um homem é estar enterrado
profundamente na mulher que ele ama e ouvir seu gemido de satisfação. Eu não
sabia como era para os outros, mas para mim, o meu paraíso, com toda certeza,
era Melissa. Morreria ali, sendo o homem mais feliz do mundo.
Me curvei e abocanhei seu mamilo, chupando no mesmo instante em que
comecei a investir contra seu corpo. Tirei meu pau por inteiro e em uma estocada
mais forte a preenchi. Suas unhas cravaram-se em minhas costas, arranhando a
cada estocada profunda. Melissa se movimentava de encontro às minhas
investidas, segurei em seu quadril arrumando o ângulo, sentindo minhas bolas
pesarem e meu pau inchar. Estava próximo de gozar, então comecei a estocar
cada vez mais rápido e fundo, com a boceta de Melissa me apertando ainda mais,
seu corpo se contraindo. Ela proferiu algumas palavras desconexas, se deixando
levar pelo orgasmo intenso que lhe abateu o corpo, se contorcendo em baixo de
mim, revirando os olhos. Era a cena mais erótica de se ver, e eu adorava poder
assisti-la totalmente entregue ao prazer.
Me deixei levar, rugindo feito um animal dentro da nossa deliciosa bolha de
prazer, onde nossas respirações ofegantes se misturavam.
Passamos um tempo apenas acomodados um sobre o calor do outo, Melissa
arranhando meu peito levemente com sua unha, eu aproveitando da sensação de
tê-la ao meu lado e o êxtase após termos feito amor, sentindo a maciez de seus
fios sedosos em meus dedos, numa mistura de seu cheiro natural e o cheiro de
seu shampoo.
Pensava seriamente em recomeçar aquela brincadeira gostosa, mas uma batida
na porta interrompeu meus planos.
— Posso entrar? — A voz de Igor soou através da porta.
Mel se levantou tão rápido que tive que segurar o riso. Ela murmurou um “só um
momento” e correu para o banheiro, batendo a porta atrás dela. Pedi que entrasse
assim que ouvi a água vindo do chuveiro.
— Meu Deus! Vocês vão sair dessa cama hoje? A casa já está toda em um ritmo
frenético e vocês trancados aqui.
— Estávamos conversando — respondi e sorri de canto. Por mim passava o dia
inteiro tendo esse tipo de conversa.
— Eu sei bem essa conversa — ironizou ele. — Giu quer saber se a Mel vai com
ela terminar de fazer as coisas no hotel. Onde está ela?
— Está tomando banho.
— E o senhor? Vai sair hoje antes da festa?
— Não sei. Acho que não vai dar tempo de ir e voltar.
— Isso não é bom, tio. Sabe como são as coisas por lá.
— Eu sei, mas já está muito tarde.
Doía saber que ficaria um dia sem ir até lá, mas por outro, era domingo no dia
seguinte e poderia passar o dia todo. Ligaria mais tarde para ver se conseguiria
acalmá-la.
— E então, vai ficar todo mundo preso nesse quarto hoje? — Giu perguntou,
interrompendo o que Igor ia dizer, entrando no quarto, seguida por Marcela e
Leonardo.
— Me diz que você está pelo menos de cueca em baixo desse lençol... Ai, eu
acho que vou desmaiar! Me segura, Igor. — Leonardo era uma figura. Ele não
tinha filtro. — Olhando assim dá pra entender o porquê de a Mel andar tão
sorridente.
Ele se abanou teatralmente e não se incomodou de dar uma boa conferida em
mim. Nunca me importei com isso. Já fui visto em situações bem piores.
— Posso saber qual é da comitiva? — Melissa zombou, saindo do banheiro
vestindo um roupão e com uma toalha enrolada nos cabelos.
— Nada, amiga! Juro que eu nem olhei — Leo disse, rindo.
— Estou ouvindo lá do banheiro o que vocês estão falando — Melissa rebateu.
— Quero saber se você vai com a gente para o hotel. A Ma está saindo agora e
podíamos aproveitar para irmos juntas.
— Claro que sim. Vou apenas colocar uma roupa e todos podem esperar lá em
baixo. Eu não demoro — disse Melissa, dispensando todo mundo. Ela não estava
brava, mas dava para sentir a insatisfação por estarem todos no quarto.
— Certeza, amiga? Eu posso ajudar com seu modelito.
— Sim, Leonardo, tenho certeza. Pode parar de olhar e limpa a boca, porque
você está babando.
— Ai, como você é tirana! — ele a acusou. — Passa a noite e a manhã toda com
esse delícia em cima de uma cama, e não me deixa nem olhar.
Eu gargalhei alto assim como todos os que estavam no quarto. O cara era
impossível quando queria provocar Melissa.
— Vamos ou não saímos de casa hoje — Marcela chamou, empurrando
Leonardo para fora do quarto, e todos a seguiram.
— E você fica sorrindo... — reclamou a Mel. — Você sabe que vou ter que
aturá-lo o dia inteiro falando de você, ainda mais com esse volume todo aí que
está fazendo no lençol.
Fui atrás dela no closet, e a encontrei já começando a se vestir com uma lingerie,
mas não perdi tempo em provocá-la, passando meu pau em sua bunda, sentindo
o corpo de Melissa amolecer aos poucos.
— Acho melhor você terminar de se arrumar. Estão lhe esperando lá em baixo
— falei, me afastando.
— Vo-Você não pode me acender desse jeito e depois sair, Lucca! Como vou
ficar o dia todo excitada desse jeito?
— E mais uma coisa. — Puxei seu corpo contra o meu, tocando minha ereção
em sua barriga. Me inclinei o bastante para sussurrar uma ordem em seu ouvido.
— Não se toque, amor. Quero você pegando fogo mais tarde.
Dei as costas para ela e saí do closet com meu corpo protestando por fazer
aquilo. Peguei minha bermuda no chão e a vesti, deixando o quarto sob os
resmungos de Melissa, que dizia que eu não poderia fazer aquilo com ela, que
não era certo. Sorri e fechei a porta atrás de mim, sabendo que estava jogando
sujo, mas precisava usar de artimanhas para tirar dela mais rapidamente, aquilo
que tanto desejava. Precisava deixá-la bem cansada à noite, a fim de sair de casa
sem que ela percebesse. Sabia que tinha que contar, porém, não sabia como,
então o melhor era prolongar a situação até eu achar um jeito de falar.

***********

Já estava vestido em meu smoking, junto com Igor na sala, esperando que
Melissa descesse junto com Giu e o Leonardo. Não mentiria. Mesmo sabendo a
orientação sexual do Leo, ainda me incomodava saber que ele estava se
arrumando com ela, vendo-a de lingerie ou completamente nua. Passei o dia
ocupado com Igor resolvendo algumas coisas, pois ele retornaria para Nova York
a fim de buscar um lugar para instalar a empresa. Ele teria que ficar por lá,
porque tínhamos bastante trabalho e eu voltaria a assumir a presidência da
empresa. Com ele fora, não poderia deixar a matriz sem os meus olhos.
Decidimos isso naquele dia e a merda estava consumindo meu humor por
inteiro. Tomei meu uísque em um gole só, deixando o copo em cima da mesa, no
instante que o falatório e risadas que vinham da escada chamou minha atenção e
me virei para olhar. Meus olhos caíram nela e foi como se tudo parasse ao meu
arredor. Não existia nada, nem ninguém, apenas ela em um vestido branco, seu
cabelo loiro caído pelos ombros e a maquiagem destacando seus olhos. Me perdi
na imensidão de seus olhos, caminhei em linha reta até ela e sorri. Ela estava
maravilhosa, parecendo um anjo loiro.
— Você está maravilhosa — elogiei. — Não haverá mulher mais bonita do que
você nessa festa. Vai acabar com a porra do meu juízo.
Ela sorriu, fitando meus olhos e o rosto ficando vermelho. Melissa piscou
algumas vezes com a intensidade do meu olhar.
— Eu só queria dizer que a anfitriã da festa sou eu! — Giu protestou,
empurrando meu ombro e me tirando daquela magia estranha que havia me
prendido.
Olhei para ela em seu vestido vermelho com uma abertura na coxa. Giu sempre
foi uma mulher linda, de parar tudo por onde passava.
— Você está muito bonita. Se eu não fosse comprometido, juro que dava em
cima de você e dessa vez a teria em minha cama.
— Marconni, nem que você fosse o último homem da Terra, seu pervertido de
merda.
Ela saiu andando na frente e dando o braço para Igor. Olhei para Leonardo, que
estava em um smoking cinza chumbo.
— Leonardo, você também está lindo. Ah, se eu gostasse...
Dei o meu melhor sorriso e ele se desmanchou à nossa frente, dizendo que era
jogo baixo. Segurei a mão de Melissa e saímos todos em direção às limusines
que nos aguardavam em frente ao portão principal da mansão.
Chegamos ao evento e estava tudo como esperado. A empresa de Roma e
arredores em peso, e apesar de apenas uma rede de televisão ter o privilégio de
cobrir o evento, senti Mel apertar minha mão antes mesmo de o carro parar na
frente da entrada principal. Quando o carro estacionou, foi cercado por
fotógrafos e jornalistas. Pietro e mais alguns seguranças da equipe se
aproximaram para abrir a porta, de onde saiu eu e Melissa, que viemos apena0s
com o Leonardo. Preferi deixar que a grande estrela chegasse depois. Sabia que
o interesse dessas pessoas era quem estaria me acompanhando. Pietro abriu a
porta e pedi que Leonardo saísse primeiro, e assim ele o fez. Como disse, estava
na hora de ele “divar” pelo tapete vermelho.
— Apenas sorria, amor — sugeri para Melissa. — Não responda nenhuma
pergunta. A assessoria de imprensa vai soltar uma nota, então não se preocupe,
vão sair perguntas que vão te chatear e irritar, mas não se importe, apenas sorria
e pose para as fotos.
— Eu estou bem nervosa, Lucca.
— Eu prometo te relaxar bastante quando estivermos indo para casa, e depois em
nossa cama.
— Está bem. É só sorrir, certo?! — Ela respirou fundo e acenou
afirmativamente.
— Isso. Mostre esse sorriso lindo, pelo qual sou completamente apaixonado.
Me inclinei e dei um selinho um pouco demorado nela, que limpou o vestígio de
seu batom vermelho que ficou sobre meus lábios quando me afastei. Desci do
carro e os flashes começaram a pipocar de todas as direções. Estendi minha mão,
ajudando-a descer, e a abracei pela cintura, posando para as fotos. As perguntas
eram muitas. Senti o corpo de Melissa ficar tenso ao meu lado avançávamos pelo
tapete vermelho, vendo Leonardo se exibindo para várias fotos. Uma jornalista
se aproximou de nós enquanto aguardávamos o show dele acabar. Ela era a única
jornalista da festa e sua emissora tinha total liberdade para cobrir o evento.
— Senhor Marconni, poderia dar uma palavra para o “Estrelas da Noite”?
Parei, sorrindo para a repórter, confirmando que sim.
— Mais uma exposição de sucesso em um de seus hotéis. Como é para você,
ceder o espaço para mais esse grande evento?
— É sempre um prazer inenarrável para mim e todos da Hotelaria Marconni,
poder ter esse tipo de evento realizado em nosso hotel, ainda mais um evento de
grande porte como esse. Além de lisonjeado, fico um pouco mais rico. —
Pisquei, dando meu sorriso de lado infalível, e foi engraçado ver a repórter corar
e suspirar antes de sua próxima pergunta.
— Hoje o senhor está aberto às perguntas pessoais? — a repórter indagou,
chegando em seu furo de reportagem. Estava disposto a dar tal declaração sem
medo.
— Hoje, por ser um dia tão alegre, podendo mais uma vez prestigiar uma pessoa
muito querida em minha vida, estarei respondendo apenas a uma pergunta.
— Essa linda mulher ao seu lado é a namorada que arrematou o coração do
italiano mais cobiçado dos últimos tempos?
Sorri com a parte do “mais cobiçado”, que era ótimo. O povo tinha cada uma.
— Essa é Melissa Ferraz, minha noiva.

Houve um minuto de silêncio, parecendo que todos aguardavam aquela resposta.


Sabia que era loucura, mas não consegui dizer “ela é minha namorada”. A
palavra “noiva” saiu tão naturalmente... Melissa me olhou tão espantada quanto
todos que estavam ali. Dei meu melhor sorriso e posamos para os fotógrafos
oficiais da festa.
— Felicidades ao casal — disse a repórter, a qual agradecemos, continuando
nosso caminho.
— Senhor Marconni, o senhor e a senhorita poderiam posar dando um beijo? —
pediu um fotógrafo. — É para o “Estrelas da Noite”, senhor.
Olhei para Melissa, que sustentava aquele sorriso radiante no rosto, mas sabia
que estava pronta para rosnar para mim.
— Você aceita, branquinha? — perguntei em um sussurro no pé do seu ouvido.
A nossa proximidade fez com que os flashes pipocassem cada vez mais rápido.
— Claro, noivo.
Ela respondeu com tanto deboche que tive vontade de gargalhar naquele
momento. Segurei em seu queixo com meu dedo, fazendo sua cabeça se erguer.
Olhei nos olhos dela e vi o amor ali refletido, portanto encostei nossos lábios,
sentindo o quanto era perfeito ter sua boca na minha. Me afastei e ela tornou a
limpar o vestígio de batom. O fotógrafo agradeceu e segurei sua mão, enfim
seguindo para o salão de festas do hotel.
— Que história é essa de noiva? Você é maluco?
— Na verdade eu sou, branquinha. Maluco de amor por você! — Ela me deu um
tapa no braço, sorrindo.
— Você é um cafajeste.
— Eu prefiro ser o tarado.
— Ai, Marconni, você não tem jeito mesmo.
Melissa me fazia amá-la mais a cada segundo que se passava.
— Vocês são tão lindos juntos — Leonardo disse assim que nos aproximamos
dele.
Meu telefone vibrou em meu bolso e o peguei, soltando um praguejo quando vi
no visor quem era.
Merda!, xinguei por ter me esqueci de telefonar.
— Vocês me dão licença? Eu preciso atender.
Dei um beijo na testa da Mel e saí, entrando em um corredor mais silencioso
para retornar a ligação, esperando que atendesse. Liguei mais duas vezes e nada
de conseguir. Virei-me para sair e encontrei Melissa em pé atrás de mim. Eu
estava tão longe em meus pensamentos, que não ouvi quando ela se aproximou.
— Conseguiu resolver? — ela me perguntou.
— Resolver o quê?
— O telefonema. Pareceu importante.
— Não. Perdi a ligação. Mas amanhã eu resolvo isso. Vem! Vamos dar uma
olhada nos quadros. Quero te dar um de presente.
Mudei de assunto, torcendo para que ela esquecesse. Andamos pelo salão e
cumprimentei algumas pessoas, apresentando Melissa para muita gente
importante da Itália. Ela me disse que estava com sede, então me afastei para
buscar duas taças de champanhe. Acabei sendo interrompido no meio do trajeto
por um dos convidados. Tinha feito alguns negócios com ele e ficamos de
marcar uma reunião logo depois. Era o dono de alguns restaurantes do mundo, e
queria trazer para nossa rede de hotéis o seu restaurante.
Andei pela festa e demorei um pouco para achar Melissa, a encontrando ao lado
de Pietro. Ela olhava umas das obras enquanto conversava animadamente com
ele. Que porra! Não podia me afastar um momento, que ele ficava a rodeando o
tempo todo. Já havia conversado com ele, mas pelo jeito não surtiu efeito.
Quando ele passou a mão pelas pontas do cabelo de Melissa, quase estourei as
taças em minhas mãos.
— Atrapalho? — Minha voz saiu mais truculenta do que devia. Estava com
raiva, mas precisava controlar o ciúme louco que ela fazia crescer em mim.
— Claro que não. Você demorou. Já estava ficando entediada.
— Não é o que parece.
Falei, olhando para Pietro, que no mesmo instante se afastou. Melissa pegou a
taça da minha mão e tomou um gole. Segurei sua mão e fomos em direção aos
banheiros. Leonardo e Igor se aproximaram, porém, os detive com apenas um
olhar. Não queria papo. Ela estava me provocando deliberadamente, e eu
acabaria com suas gracinhas naquele instante.

Melissa Ferraz

Ele mal respirava, enquanto atravessávamos todo o salão onde estavam as


pinturas, que eram lindíssimas, por sinal. Igor e Leo pararam no caminho e eu
apenas encolhi meus ombros, sabendo que ele estava com raiva por conta do
Pietro. Mas eu também estava. Primeiro foi aquela coisa de noiva, que ele não
me explicou direito, e depois o telefonema misterioso. Ele ficou bem tenso
quando me viu por perto. Se queria explicações, também me daria algumas.
Lucca empurrou a porta do banheiro, muito elegante, diga-se de passagem, e
fiquei ali parada perto da bancada, enquanto ele andava de um lado ao outro,
resmungando coisas que eu não conseguia entender. Fiquei o olhando enquanto
respirava fundo e bagunçava seu próprio cabelo. Estava lindo naquele smoking.
Realmente comestível e eu excitada desde mais cedo, quando ele resolveu me
atiçar e simplesmente me deixou na mão. Sim, eu estava furiosa por aquilo
também. Marconni estava no meu caderninho.
— Melissa, eu sei que você faz de propósito — ele disse, virando-se para mim e
caminhando em minha direção. Andei para trás e senti a bancada gelada em
minhas costas. — Tudo o que você quer é que eu brigue e fale um monte de
merda que vou me arrepender depois, mas não hoje, Melissa. Irei ter você aqui e
agora. Vou te possuir de um jeito que você não irá esquecer. Você jamais vai
permitir que um homem toque em você de novo, que respire perto de você, que
lhe beije. Sabe por quê? Porque você é minha!
Lucca me tomou em um beijo intenso e bruto, o corpo fortemente pressionado
sobre o meu, de forma que eu sentisse sua ereção cutucando minha barriga,
mesmo sob a calça social. Gemi em sua boca e o abracei pelo pescoço,
deslizando minhas mãos por seu cabelo. Ele dedilhava meu vestido até encontrar
sua roupa, deixando minha respiração presa e calcinha arruinada de tão molhada
que já estava. Uma batida na porta chamou minha atenção, mas Lucca pareceu
não se importar. Ele não diminuiu suas carícias até a voz de Igor invadir o lugar.
— Tio, a Giu está chamando. Ela vai mostrar o quadro surpresa.
Lucca xingou uma maldição e se afastou rapidamente.
— Já estamos indo, Igor.
Então segurou meu rosto e me deu um selinho demorado, me ajudando a arrumar
minha roupa e meu cabelo e eu limpar seu rosto sujo de batom. Ele fez o mesmo
comigo. O homem ficou me olhando enquanto eu tentava me deixar um pouco
mais apresentável, até que abriu a porta, me dando passagem. Passei por ele e
nós não trocamos nenhuma palavra. Não achava que tivesse alguma coisa a ser
dita. Ele segurou minha mão e seguimos para o salão onde todos estavam
esperando o pano do quadro ser erguido. Eu tinha visto todos os quadros, menos
aquele. Ela disse que era único e que tinha certeza que eu o veria para sempre.
— Bom, agora que estão todos presentes, iremos revelar o quadro. O nome da
obra é “Amores Improváveis”. E como todos sabem, o que será arrecado com a
venda desta pintura, que hoje será vendido em um leilão e todos vão poder
contribuir, e o dinheiro irá para uma ONG que cuida de crianças portadoras do
câncer.
Giu anunciou no microfone, chamando toda a atenção para si. Ela fez um aceno
para que levantassem o pano e pensei que meus olhos iam entrar em órbita. Meu
queixo caiu e rolou pelo chão, sentindo o aperto de Lucca na minha mão e seu
suspiro pesado. Era a sombra de um casal refletida na água de uma piscina. O
casal em si era Lucca e eu. Lembrava-me desse dia muito bem, no qual
estávamos conversando sobre qualquer coisa irrelevante e ele fazia mais uma das
suas gracinhas e eu sorria. Ele estava sentado com as pernas cruzadas como
índio, enquanto eu estava deitada de frente, olhando para seu sorriso, quando ele
se curvou e beijou a ponta do meu nariz. A imagem de nós dois era tão
maravilhosa, tão bem feita, que qualquer um que prestasse mais atenção, iria
reconhecer. Era uma imagem agraciada por Deus. A pintura de um casal mais
realista que eu já tinha visto, e o nome era algo perfeito, que se encaixava muito
bem. A Giu falou mais alguma coisa, porém, não conseguia deixar de olhar
aquele quadro.
— Vamos começar com o lance mínimo de cem mil euros — informou Marcela
e alguém deu os cem mil, passando para duzentos, e muito rapidamente já estava
no um milhão de euros.
Lucca não havia dito nada. Ele apenas pegou um copo de uísque e uma taça de
champanhe para mim. As ofertas só aumentavam e aumentam, até que a voz
forte e controlada de Lucca foi ouvida por todos no salão.
— Dois milhões e meio.
Um silêncio ensurdecedor foi a próxima coisa a acontecer. Marcela fez aquela
coisa de “dou-lhe uma, dou-lhe duas e dou-lhe três”, então declarou que o quatro
havia sido vendido. O salão teve uma salva de palmas, e se eu já estava pasma,
fiquei ainda mais. Não sabia quanto dois milhões e meio de euros representava,
mas pelo jeito era muita coisa. Ele se virou e sorriu para mim com aquele sorriso
torto que me derrubava. Giu se aproximou sorrindo, até que palmas foram
ouvidas de uma única pessoa, chamando a atenção de todos, que se viraram e a
Susy plastificada estava lá, de pé com um sorriso de escárnio no rosto.
— Que cena mais comovente. A lésbica, a criança, e o sem vergonha.
Capítulo 25

Melissa Ferraz

Olhamos em direção ao meio do salão e nos deparamos com uma cena


degradante. Giovanna fora de si, com uma taça de champanhe na mão, a voz um
pouco falha e sua postura mostrando que já havia bebido demais. Ela nos
observava totalmente transtornada. Não era para ela estar ali e não lembro de ter
visto seu nome na lista, afinal, era um evento fechado e só a entrada de pessoas
convidadas eram permitidas.
— Giovanna, acho melhor você se retirar. Você não foi convidada, não deveria
estar aqui — Giu disse com total desconforto.
— Eu quero apenas parabenizá-los — Giovanna falou, levantando a taça. — A
lésbica mais sensacional e famosa da Itália. Você sempre esteve no meu
caminho, Giulia. Sempre me afastando do cara mais sem caráter que eu conheço.
É isso mesmo. Pessoas da alta sociedade da Itália, Marconni não é quem vocês
imaginam. — Ela deu um sorriso diabólico e cada palavra que saía de sua boca
era com amargura e ressentimento. A mulher estava descontrolada.
— Giovanna, não seria melhor você parar de besteira e sair daqui? — Lucca
sugeriu, tentando manter a voz em um tom leve.
— N-não! Você acabou com a minha vida, Lucca Marconni, e nada mais justo eu
acabar com a sua também.
Sabia que ela estava demorando a aparecer. Estava bom demais para ser verdade.
— Giovanna, o Lucca tem razão, é melhor você parar, já está ficando feio — eu
disse e me arrependi na mesma hora. Quando seus olhos focaram os meus,
engoli em seco. Ela me olhava dos pés à cabeça, esvaziando todo o conteúdo de
sua taça.
— Falou a pior de todas. Feio é você estar trepando com ele, com o homem que
era para ser meu. Você vai para a cama com o próprio tio!
Ela cuspiu cada palavra, na intenção de me atingir e conseguindo. Já havia
passado raiva e frustração demais. Se ela falasse mais alguma merda, seria capaz
de arrancar o silicone dela com as minhas próprias mãos.
— Você sabe muito bem que ela não é minha sobrinha, Giovanna. Pelo amor de
Deus! O que aconteceu com você? — Lucca tentou trazer a atenção dela de volta
para ele, sem sucesso algum. Giovanna se aproximou mais de nós três em passos
lentos e vacilantes.
— Não pense que você será diferente para ele, pequena coisa insignificante. No
final é comigo que ele vai ficar. Você só é o mais novo brinquedinho, mas
quando ele se cansar de trepar com você, Melissa, é na minha cama que vai estar.
Eu respirei fundo, procurando ar em meus pulmões, sentindo meu sangue correr
mais rápido em minhas veias e o ódio se fazendo presente. Suas palavras foram
como um soco no estômago e um nó se formou em minha garganta.
— Querida, essa é a realidade — continuou ela. — Você é só mais uma para a
grande coleção dele. Só mais uma putinha que ele vai comer e depois nem seu
nome vai lembrar.
Meu corpo tremeu de raiva, e sem pensar, caminhei e pulei em cima dela. Foi tão
rápido que só senti o baque dos nossos corpos no chão. Acertei três tapas na cara
daquela vaca recalcada e minha vontade era quebrar todos os dentes, para ela
aprender a nunca mais abrir a boca para falar mal de mim.
Senti puxarem minha cintura, mas não cedi, pelo contrário. Grudei a mão
naqueles cabelos falsificados, puxando-os até perder as forças.
— Sua louca! — ela gritava.
— Isso é para você aprender a não sair por aí difamando as pessoas. Ele pode até
cansar de trepar comigo, mas jamais vai enfiar o pau em você novamente. Já te
avisei e vou falar mais uma vez: ele é meu! Não chegue perto dele nunca mais
ou eu termino de arrancar esse seu aplique mal feito.
— Melissa, já chega, por favor. — Escutei a voz do Lucca em meu ouvido. Um
dos seguranças puxou Giovanna para longe de mim, e só então me dei conta do
tufo de cabelo que ficou em minha mão.
— Essa garota é louca! — Ela chorou para os seguranças.
— Você vai ver a louca quando eu enfiar minha mão na sua cara de novo, sua
mal-amada iludida.
Fiz menção de atacá-la novamente, mas um corpo forte que eu conhecia bem,
parou na minha frente. Olhei para ele e vi raiva em seus olhos. Lucca estava
muito puto, resmungando um “você está impossível hoje”. Ele me jogou em
cima do ombro e deixou o ambiente em passos largos. O cabelo da vadia ainda
estava comigo, mas limpei minhas mãos, deixando um rastro de cabelo por onde
o ogro italiano me levava. Entramos no elevador e me olhei no espelho, vendo-
me descabelada, o rosto vermelho e os braços cheios de marcas de unha. Por ser
muito branca, tudo me marcava facilmente, mas com certeza deixei aquela vaca
muito pior. Descontei nela toda a minha raiva acumulada, cada nota de jornal,
cada raiva que passei no evento, a frustação por Lucca ter me deixado na mão
naquela manhã e o pior de todos, o maldito mistério que o cercava. Mas isso
estava com dias contados. Iria descobrir para onde ele ia todos os dias, e, o mais
importante, aonde se enfiava todo domingo. Saímos do elevador já na garagem.
— Me ponha no chão.
Ele não retrucou e meu corpo escorregou pelo seu. Tão logo meus pés firmaram
no chão, ele se afastou e tirou o paletó. A raiva escorreu de dentro de mim e se
transformou em uma grande excitação. Aquele peito duro e forte preso naquela
camisa, a gravata borboleta que o deixava ainda mais lindo... Lucca andava de
um lado para o outro, segurando o paletó sem me olhar. Dava para ver pelo jeito
de seu peito inflar quando ele respirava fundo, tentando se acalmar, e pelo visto
não estava se saindo muito bem. Não sabia porque ele estava com tanta raiva,
afinal, aquela louca desenfreada saiu falando aquelas coisas desagradáveis sobre
todos nós e ele queria o quê? Que eu ficasse quieta? Não tinha sangue de barata
e ela fez por merecer. Praticamente me obrigou a enfiar a mão na sua cara.
Olhei minha mão ainda um pouco vermelha, e com o sangue esfriando, percebi
que bati na susy plastificada muito forte. Minha mão ardia e numa delas tinha
um rastro de sangue.
Onde será que a acertei para minha mão estar daquele jeito?, pensei.
Esperava que tivesse quebrado o nariz dela. Aí seria mais uma cirurgia plástica
para a lista dela.
— Não me olhe assim quando eu estou puto com você.
Foquei no animal à minha frente, o qual não me deixava pensar em outra coisa, a
não ser sexo. Quando meu corpo estava próximo ao seu, parecia um imã me
puxando para ele. Não conseguia entender como a raiva virava excitação tão
rápido. Mordi meu lábio, evitando um gemido. Ele me deixava ainda mais
excitada quando falava firme e autoritário comigo.
— Assim como? — perguntei e ele abriu um sorriso de canto com meu tom de
fingida inocência.
— Com essa cara de “me foda”! — disse ele, ainda com resquícios de raiva na
voz.
— Eu não fiz nada. Estou apenas te observando.
— Você é impossível, Melissa.
Apenas sorri, principalmente por ouvir sua voz mais suave.
Um SUV preto parou perto de nós e Igor desceu dele, com uma cara de
preocupação. Ele me olhou, depois para Lucca e novamente para mim. Soltou a
respiração que estava segurando, o barulho do elevador soou e saiu de lá Giu e o
Leo, com a mesma cara de preocupação. Me senti culpada vendo a expressão de
todos ali. Não devia ter me deixado levar por aquela louca. Estava em uma
avalanche de sentimentos. Respirei fundo, sentindo novamente um aperto em
meu peito. Eu podia ter estragado tudo e a triste tristeza tomou conta de mim. De
repente me senti cansada demais.
— Você está bem, Mel? — Giulia me perguntou quando se aproximou.
— Sim, estou. Desculpa ter estragado tudo. Sei que desculpa não resolve nada.
Acabei destruindo a sua grande noite.
— Não se preocupe. Você só fez o que eu desejei fazer por anos — admitiu ela
com um sorriso. — Aquele demônio de mulher mereceu. Como pode ser tão
desagradável? Eu ainda não entendo como ela conseguiu entrar.
— Amiga, você parecia um demônio loiro — Leo comentou. — Parece que
passou um caminhão por cima da suzy plastificada.
— Susy plastificada, Leonardo? — indagou Lucca, interessado. Leo, por sua
vez, deu de ombros e sorriu abertamente para mim. Olhei para Lucca que estava
com as sobrancelhas juntas. Ele sabia que isso era coisa minha.
— Eu fico feliz que você tenha acertado aquela vadia, Mel, e que esteja muito
melhor do que ela, mas Giovanna prometeu sair daqui e ir direto para a delegacia
fazer uma queixa por agressão.
Igor nos observava calado até aquele momento. Senti minhas pernas bambearem,
afinal, não sabia como eram as leis na Itália, e algo me dizia que, com certeza,
eram mais rígidas que no Brasil.
— Não se preocupe com isso, vou resolver tudo. Giovanna não vai dar queixa.
Lucca se aproximou, passando a mão pela minha cintura, e com isso deixei meu
corpo cair sobre o seu.
— Acho melhor irmos. Já tivemos muita agitação para um dia só.
Relutantemente, Lucca me soltou e foi até Igor, com quem falou algo que não fui
capaz de ouvir. Giu me abraçou e disse para que eu não me preocupasse com
nada, porque na festa ninguém podia utilizar celulares, e a rede de televisão que
estava cobrindo o evento não iria divulgar nada sobre a briga. Ela prometeu fazer
de tudo para não vazar nada para a imprensa.
Leo me abraçou e sussurrou ao pé do meu ouvido:
— Fique bem, minha flor.
— Eu vou ficar. Não se esqueça do nosso combinado.
— Farei tudo que combinamos — ele prometeu. — Espero que o gato do
segurança não dê para trás.
— Não se preocupe, já está tudo certo. Estou confiando em você.
— Se é isso que você quer, é isso que vou fazer. Amo você.
— Amo você, meu amigo. — Ele me deu um beijo no rosto e me abraçou mais
apertado.
— Posso saber o que vocês tanto cochicham? — Lucca perguntou, fazendo Leo
me soltar.
— Segredo! Que homem mais controlador... tão sexy. — disse Leo e eu sorri
para ele, que estava sempre me tirando das perguntas de Lucca.
— Vamos, branquinha?
— Vamos, amor.
Não conversamos no carro durante o trajeto. Estava me sentindo cansada para
qualquer coisa. Ele acariciou de leve minha coxa, me dando o carinho que eu
tanto precisava. Olhei pela janela e pensei em tudo o que aconteceu. No fundo, o
ódio de Giovanna só aumentou. Por que me deixei levar por suas palavras
baixas, pelo ciúme enorme que tenho do “meu homem”? Inspirei profundamente
e fechei os olhos, me entregando ao cansaço.
Acordei com meu celular tocando em algum lugar, olhei para os lados e me
assustei com o dia já claro. Quando encontrei o celular, que tocava
incessantemente dentro da minha mochila, vi que haviam dez ligações perdidas e
uma mensagem do Leo, que dizia:
“Babado e confusão. Tô morta e enterrada. Levante esse rabo da cama e venha
logo. Te encontro no lugar combinado!”
Meu coração falhou com a mensagem dele. Leo havia conseguido seguir o
Lucca e sabia onde meu italiano se escondia, pelo visto. Rapidamente segui para
o banho. Queria muito descobrir o que ele fazia na rua, mas no fundo estava
morrendo de medo. Ele podia estar apenas em um passatempo normal, mas
também podia estar com outra mulher. Seu tom carinhoso quando falava ao
telefone nos dias em que não saía deixava evidente que era uma pessoa
importante para ele. Apesar de tudo o que aconteceu no dia anterior, de todo
aquele reboliço, ele saiu sem pensar duas vezes. O mundo podia cair, mas o
domingo para ele era especial. Nada mais importava do que esse lugar, ou essa
pessoa que ele ia ver.
Demorei muito tempo sem ter coragem de pedir a alguém para segui-lo, mas
enfim me decidi. Se ele não queria me contar por bem, descobriria do meu jeito.
Depois de pronta, disquei o número de Pietro.
— Ora, ora, a futura pugilista, ligando para seu mero serviçal — Pietro disse
assim que atendeu, sua voz cheia de humor.
— Se você não parar de gracinha, eu vou te mostrar a pugilista.
— Ui, fiquei até com medo! — Ele gargalhou.
— Pietro, foca!
— Diz, anjo, o que você precisa?
— Sabe aquele favor em que você ficou de me ajudar? Eu preciso dele agora.
— Te tirar da mansão sem que ninguém veja? Vai ser complicado. Estão todos
em casa.
— Eles provavelmente ainda estão dormindo, e mesmo que estivessem
acordados, por eles eu conseguiria passar. Não quero que os seguranças, nem seu
Carlos, me vejam sair.
— Tudo bem, Melissa. Me encontre no jardim dos fundos da mansão. Se você
for pedir um taxi, peça que pare na rua de trás da mansão, entendeu?
— Sim. Te encontro lá daqui vinte minutos.
Encerrei a chamada com ele e liguei para a companhia de taxi, fiz o pedido de
um e fui saindo do quarto com o coração batendo forte, devagar e em silêncio,
sentindo-me aliviada quando finalmente encontrei Pietro.
— Meus Deus! Se eu perder meu emprego, a culpa é sua, você sabe, né?! — ele
falou baixo, em um tom de quem não estava muito feliz com a situação. — Você
vai sair por ali. Seu taxi já chegou. Procure ir por dentro do mato, onde as
câmeras não vão te pegar. Olhe o muro, conte três roseiras, na terceira você
passa a mão que vai sentir o ferro do portão. É só puxar e sair. Esse portão fica
sempre aberto, se você precisar de novo.
— Obrigada, Pietro. Você é o melhor.
O Abracei e saí pelo caminho indicado. Não era longe, mas tomei total cuidado
para que as câmeras não me vissem. Fiz o que ele me explicou e deu tudo certo.
Logo eu estava dentro do taxi, passando o endereço para o motorista. O homem
me informou que era um lugar longe e que levaríamos cerca de duas a três horas
para chegar, mas disse que me deixaria o mais próximo possível, o que já era
alguma coisa. Só esperava não me magoar com o que veria. Já bastava aquela
louca em minha vida e suas palavras, que não saíam de minha mente.
Procurei pelo celular na bolsa e percebi que o havia esquecido em casa. Me bati
em pensamento, mas agradeci por ter tido a ideia de anotar o endereço num
papel, caso contrário, tudo teria sido em vão.
O importante era manter o foco e me acalmar. Com a mente livre não tiraria
conclusões precipitadas e não faria nada sem pensar. Só pedia a Deus que me
protegesse.
Capítulo 26

Lucca Marconni

Muito puto me resumia. Com Giovanna, Melissa, com a merda dos seguranças, e
comigo mesmo. Não era normal atrair tantos problemas. O dia começou muito
bem, mas foi ficando ruim e ruim, até que chegou ao ápice. Giovanna
descontrolada, falando merda em cima de merda, fora que, querendo ou não, no
dia seguinte sairiam notas na imprensa de quem era Melissa. Ela disse em alto e
bom som tudo que estava preso em sua garganta. Giovanna jogou toda a merda
no ventilador e isso podia me dar um problema de proporções gigantescas.
Melissa, pra variar, se deixou levar pela provocação e partiu para cima de
Giovanna. Minha criança tinha a mão bem pesada e eu teria que me lembrar
disso.
Em casa, deitei Melissa — que pegou no sono ainda no carro — na cama, a
puxando contra meu peito. Apesar de toda aquela bagunça, estava feliz. O
quadro misterioso que sempre havia nas exposições de Giu, me surpreendeu, e
eu gastei uma pequena fortuna para tê-lo enfeitando minha sala principal.
Ninguém além de mim e Melissa sabia o real valor daquela pintura.
Estava com o tempo apertado e sabia que já deveria ter saído de casa, mas
simplesmente não consegui. Era tão bom quando podíamos ter o amor de nossa
vida segura em nossos braços.
Me levantei com cuidado para não acordar Melissa, e apesar de tudo que
aconteceu, ela dormiu serenamente, com o rosto leve, encostado no meu
travesseiro, os cabelos espalhados sobre a cama. Ela era a mulher mais linda que
eu já tive em minha vida.
Relutante, saí do quarto dela e me troquei no meu. A casa estava um breu
completo, o que me fez lembrar de enviar uma mensagem para Igor e pedir que
ele não demorasse. Não queria Melissa muito tempo sozinha em casa, embora
soubesse que a obrigação era minha. Acontece que não podia ficar, mas tentar
voltar mais cedo. O vento frio tocou meu rosto, caminhei até a garagem
rapidamente, coloquei meu capacete e montei em minha Hayabusa. Depois de
fechar a jaqueta e ligar o motor, saí estra afora.
Era o meu momento e iria me concentrar para que tudo saísse perfeito. Meus
problemas eu deixaria na estrada e teria uma conversa muito séria com
Giovanna. Ela passou dos limites com toda a bobagem do amor sem tamanho
que dizia sentir. No entanto, tinha razão quando falava que depois de todas as
mulheres com quem eu transava, no final, era em sua cama que eu parava. Como
fui idiota! Pior de tudo foi que ainda levei Igor pelo mesmo buraco por pelo
menos por uma década.
Acelerei a moto, sentindo o vendo percorrer meu corpo, o que me dava uma
sensação de liberdade. Fazia um sentimento bom se espalhar por meu corpo.
Quando pegava a estrada, deixava de ser de Lucca Marconni, o rei dos hotéis, e
passava a ser simplesmente Lucca. Sorri com meus pensamentos. Parei em
frente aos portões, que foram abertos em seguida. Estava na hora de ser apenas
Lucca.

(...)

Melissa Ferraz

Estava muito assustada, com mil coisas em minha mente. Não queria me deixar
levar, afinal, ele sempre me pareceu alguém correto e decidido. Não podia estar
me enganando esse tempo todo. Eu sentia e podia ver em seus olhos o quanto me
amava. Mas, por outro lado, ele fazia questão de não me contar nada quando eu
perguntava. Ou ele se alterava, ou mudava de assunto, sem deixar margem
alguma para indagações. Perguntei a Igor e Giu, que logo desconversaram. Claro
que os dois sabiam onde ou com quem ele passava as tardes e posteriormente o
domingo inteiro. Seu Carlos fez o mesmo, dizendo que não cabeia a ele
responder a minha pergunta. Já Grazi e Pietro, não sabiam onde ele se enfiava.
Suspirei pesadamente enquanto o carro passava por lugares desconhecidos. Já
havia se passado mais de uma hora naquela estrada, e nada de chegar ao tal
lugar. O motorista puxou o carro para uma estradinha com muitas árvores, me
explicando que naquele lugar da cidade ficavam muitas chácaras e fazendas.
Segundo ele, já estávamos chegando ao local. A corrida ia ficar bem cara, mas
dinheiro era o menor dos meus problemas, diferente de quando eu vivia em São
Paulo com a minha tia. Nós nunca passamos fome ou dificuldade, minha tia
sempre cuidou de tudo com a pensão que recebia, e eu fazia o máximo para não
dar despesas.
De repente o motorista diminuiu a velocidade do carro, parando no meio do
nada.
— Senhorita, eu só posso levá-la até aqui.
— O senhor sabe me dizer se passa taxi ou ônibus por aqui?
— Provavelmente não. A senhora vai ter que andar os próximos dois
quilômetros ou ligar para que alguém venha lhe buscar.
— O senhor não pode me levar até um pouco mais próximo? Eu pago, não tem
problema.
— Não, senhorita, eu não posso. É só ir reto que a senhora encontrará a fazenda
mais adiante.
Tive que fazer o que ele sugeriu, mesmo sabendo que era muita coisa. Respirei
fundo, olhando para os lados. O sol já estava quente, comecei a andar e o suor se
fez presente em minha pele, me fazendo perceber que escolhi a roupa errada.
Droga! Felizmente, a rasteirinha ajudava na caminhada.
Cheguei em uma parte da rua onde, graças a Deus, vi um carro parado. Pensei
que talvez o dono do veículo pudesse me dar alguma coordenada.
Apressei o passo até o carro, e quando fui chegando mais perto, reconheci o
carro do Leo. Me encostei e respirei fundo, imaginando que se o carro dele
estava ali, era sinal de que não estava muito longe. Respirei fundo mais uma vez
e continuei a andar. Corri quando um portão se abriu do nada e uma senhorinha
apareceu na rua.
— Boa tarde! A senhora pode me dar uma informação? — perguntei, puxando o
ar com força, exausta de tanto andar.
Ela sorriu, me olhando. A senhora italiana parecia aquele tipo de avó acolhedora,
com seu sorriso gentil.
Ela assentiu, em resposta à minha pergunta.
— Obrigada. Já estou andando há um tempo e o taxista disse que não poderia vir
por esse lado.
— Ah, minha filha, é muito difícil eles subirem por aqui. Mas em que posso lhe
ajudar?
Disse o endereço e pedi mentalmente que eu estivesse perto.
— Minha filha, você está no lugar certo. É só seguir mais à frente que você
encontra o portão principal.
— Muito obrigada. A senhora é um anjo.
Sorri para ela e saí rapidamente até onde me indicou. Um portão de uma
garagem estava aberto e algumas pessoas andavam pela parte interna. Olhei,
procurando um conhecido, e avistei o Leo conversando com um rapaz.
Comecei a caminhar ao seu encontro e ele logo me avistou. Dispensou o rapaz e
veio em minha direção.
— Gata, que demora! Pensei que tivesse desistido.
— Caraca, Leo! Esse lugar é no fim do mundo — reclamei. — Você o viu?
— Ver, ainda não. Mas parece que vai ter uma festa, só que o bofe não soube me
explicar direito. Ele não trabalha aqui.
— É, pela arrumação dá pra perceber que vai ocorrer alguma festa. Vamos até lá
antes que esse povo perceba que nós não somos daqui.
Peguei na mão do Leo e o arrastei até umas cadeiras meio afastadas.
— Meu Deus — Leo exclamou ao meu lado, levando a mão ao coração.
— O que foi?
— Olha quem está vindo de lá de dentro.
Quando me virei para olhar na direção em que Leo indicou, avistei Lucca vindo
de dentro da casa grande, vestido de príncipe. Pisquei algumas vezes para ter
certeza do que estava vendo. Não estávamos distantes dele, que parecia procurar
alguém ou alguma coisa. Em câmera lenta, vi a cena.
Meu coração perdeu uma batida, senti meu corpo estremecer e as lágrimas
rolarem por meu rosto.
Uma linda menina loirinha saiu correndo de dentro da casa, Lucca se abaixou e
abriu os braços para recebê-la.
— PAPAI! — ela gritou, toda feliz, com um sorriso enorme, pulando nos braços
dele, que a abraçou com força, e sorriu ainda mais quando a menininha beijou
seu rosto.
— Papai — repeti as palavras da garotinha, sentindo meu coração se apertar, me
apoiando em um Leo tão chocado quanto eu.
Uma senhora se aproximou dos dois, e eles a seguiram, até que uma mulher ao
microfone pediu que todos se sentassem para dar início a apresentação. Não
consegui registrar mais nada. Apenas a garotinha chamando-o de “papai” não
saía da minha mente. Como ele podia esconder uma filha?
Quem era Lucca Marconni?
Um cara que tinha duas vidas, baixo e sem escrúpulos. Isso não era normal. Um
estalo me fez pensar na possibilidade de todos na mansão saberem da criança e
ninguém ter se dignado a me contar. O que significava que Igor não havia
mudado em nada e era um baita mentiroso.
Haviam dois tronos e tudo indicava que aconteceria uma peça de teatro. Lucca
surgiu de trás das árvores e não podia negar que ele estava lindo nos trajes de
príncipe. Pena que de príncipe não tinha nada. Era um maldito cretino sem
coração que escondia uma filha do mundo.
Leo apertou minha mão e escorreguei na cadeira para que ele não me visse.
Lucca sentou imponente em seu trono e a moça foi narrando a história de uma
princesa. A menininha loirinha entrou correndo e mulher a apresentou como
princesa Sophia. Quando ela se sentou ao lado de Lucca, procurei alguma
semelhança entre eles, a ouvindo falar alto o bastante para que todos ouvissem:
— Papai, o meu vestido está abrindo. — Ele sorriu, completamente relaxado.
Nunca o imaginei daquela forma.
— Não é “papai” — ele falou, mantendo o sorriso. — Aqui sou o príncipe da
Sophia.
A menina lançou lhe um sorriso radiante e bateu a mãozinha em sua própria
testa, gargalhando. Não teve como não sorrir do gesto fofo que fez quando foi
corrigida. Os olhos de Lucca brilhavam. A menina não tinha culpa de ter o pior
pai do mundo.
O teatro continuou quando outras crianças fantasiadas entraram, mas meus olhos
não desgrudavam deles dois, o coração apertado em uma dor absurda, uma
vontade de fugir daquele lugar, mas no fundo queria ficar para tentar absorver
tudo.
— Mel, acabou.
Saí dos meus pensamentos, ouvindo a voz do Leo.
— Acho que você já viu demais. É melhor irmos embora.
— Não, Leo. Eu vim até aqui procurando algo e achei. Posso estar com meu
coração sangrando, mas quero ouvir dele.
Fui caminhando até o centro onde todos estavam elogiando a atuação. Lucca e
Sophia foram centro das atenções e ele parecia um pai muito orgulhoso por ela
ter atuado tão bem, mesmo o chamando de papai ao invés de príncipe. Quando
ela errava, soltava cada gargalhada...
Ele estava de costas com a menininha em seu colo, que passava as mãozinhas
em sua barba quando me aproximei. Ela me olhou e sorriu. Um sorriso sincero,
como se me conhece há mil anos. Lucca virou para ver o que chamou a atenção
da garotinha e deparou-se comigo.
— Melissa. — Meu nome saiu como um sussurro de sua boca. Ele engoliu em
seco, cruzei os braços e o encarei.
— Quando iria me contar?
— Não é isso que você está pensando.
— Não venha com essa.
— Olha, eu posso explicar. Lembre-se que nada é como você imagina. Confia
em mim.
— Como posso confiar em você, Lucca? Me diz!
A menininha olhava de mim para ele, e em seu rosto dava para ver uma certa
confusão.
— Lucca. — Um rapaz vestido de garçom apareceu.
— Sim, Mathias?
— Pode nos dar uma mão na cozinha? Estamos um pouco perdidos.
— Claro. Já estou indo.
O rapaz saiu em seguida e ele se aproximou de mim.
— Confie em mim, por favor. Eu irei resolver isso e podemos conversar. Só te
peço isso.
Minha intenção era que ele se espantasse com minha chegada, que se alterasse
por ter sido descoberto, mas ele se manteve calmo e controlado, como se tudo
aquilo fosse normal.
— Sophia, você pode cuidar da tia Mel enquanto vou até a cozinha? — Sophia
me olhou desconfiada.
— O nome dela é igual aquilo que tem em cima das panquecas. Mel... Eu gosto
de mel — comentou ela e eu sorri. — Eu cuido, papai. Já sou mocinha.
— Não a deixe ir embora.
Ele a colocou no chão e sorriu para mim, pedindo que o aguardasse. Me deu as
costas e me deixou com aquela garotinha loirinha dos olhos azuis, linda, com um
rosto angelical. Ela me encarou, parecendo tão interessada em mim quanto eu
nela. Sophia tomou a iniciativa, pegando em minha mão e me puxando até as
cadeiras. Ela me pediu ajudá-la a sentar e eu sentei ao seu lado, não sabendo o
que dizer.
— Mel, Mel, Mel... Eu gosto muito. Você gosta de mel? — ela me perguntou
inocentemente. — Mel fica muito gostoso com panquecas.
— Sim, eu gosto de mel. — Ela me olhou e sorriu.
— Você é namorada do papai? A moça que está fazendo ele feliz?
— Ele está feliz?
— Sim. Papai agora sorri sempre e eu gosto quando ele sorri.
— Sophia seu nome, certo? — Ela assentiu muito rapidamente e me corrigiu em
seguida.
— Princesa Sophia.
— Claro, princesa Sophia. Você estava muito linda sentada em seu trono.
— Obrigada.
— Você mora aqui, Sophia? Nessa casa bonita?
Eu sabia que era errado o que eu estava fazendo ao tentar arrancar informações
de uma criança.
— Sim, eu moro aqui.
— Eu não vi a sua mamãe.
— Papai disse que mamãe agora é uma estrelinha, que cuida de mim lá do céu.
Papai disse que se eu sentir saudade é só olhar lá no céu que ela sempre estará
olhando por mim, e que um dia eu irei encontrar com ela de novo, mesmo que
demore.
Me espantei com a clareza com a qual aquela criança com cara de anjo falava da
morte de sua mãe. Claramente era o ensinamento que Lucca recebeu de sua
própria, e passou para ela, sua filha escondida do mundo. Ele não merecia nada
daquilo, muito menos o meu amor. Era um cretino e iria ouvi-lo só para ter o
prazer de enfiar minha mão em sua cara.
— Sim. querida, sua mamãe sempre estará com você, aqui no seu coraçãozinho.
Ela sempre vai estar e mesmo que você esteja bem velhinha, irá lembrar-se de
sua mamãe.
— Gostei de você, Mel. Assim como eu gosto do outro mel da panqueca. —
Sophia se esticou e deu um beijo em meu rosto. — Eu espero que você seja a
namorada do papai. Ele merece a mulher mais linda do mundo, e você pode ser a
rainha do nosso reino. Você quer ser a rainha do nosso reino? — ela me
perguntou com um tom doce e inocente, e pela primeira vez desde que havia
chegado, senti vontade de sorrir de um modo verdadeiro.
Não tinha como negar, a menina era um doce. Não tinha apenas uma cara de
anjo, mas era um anjo, de alma inocente. Ela me olhava com expectativa quando
Lucca se aproximou com um menininho no colo. Ele sorria e sentia sua alegria
pelo corpo relaxado, como se nada estivesse acontecendo. Eu seria capaz de
surtar se o menino o chamasse de pai também. Já estava sendo difícil com o
anjinho loiro, com mais um eu morreria.
— Sophia, Phiter quer brincar com você. — Sophia sorriu e saltou do banco.
— Sim, papai, vou brincar com ele agora. Eu já cuidei da tia. — Ela me olhou,
me dando um sorriso. Lucca também me olhou e deu de ombros, se abaixando
para colocar o menino no chão.
— A tia Leticia está te esperando para tomar seu remedinho. Phiter vai te
acompanhar, certo?
— Mas papai, hoje é meu aniversário e eu sou princesa. Não posso tomar
remédio ruim — a menina disse, fazendo um grande bico. Era o aniversário dela
e a cada minuto que passava ali dentro, me sentia pior.
— Sim, mas você prometeu que iria fazer tudo certo para ficar bem logo, e ainda
precisamos comer aquele bolo enorme que fiz para você.
— Bolo! Eu amo bolo! — Ela bateu palmas e deu alguns pulinhos de alegria. —
Está bem, papai. Vamos, Phiter. Depois vamos comer bolo.
Quando saiu e ficamos sozinhos, mais que depressa levantei da cadeira e Lucca
pegou em minha mão, a apertando com carinho. Tudo que eu não queria, era o
afeto dele naquele momento.
— Você pode me acompanhar?
— Para onde? Por que não para de enrolar, Lucca? Droga, está na cara! Você é
um cretino que esconde uma filha. Uma filha, Lucca! Você tem noção disso?
Você achou mesmo que eu não precisava saber desse detalhe? Não é possível!
Ela não é qualquer coisa. É uma garotinha encantadora, que tem que viver entre
os seus familiares e não escondida em uma casa no meio do nada. Você não tem
coração?
Ele passou a mão no cabelo e respirou fundo.
— Venha, vamos para um lugar mais calmo.
— Está bem — concordei. — Mas não vou entrar nessa casa. Não pense que vai
me levar para um quarto e me impedir de obter minhas respostas.
— Não vamos para um quarto. Até porque, não tenho um quarto aqui. Só vamos
até o escritório.
— Não vou entrar nesse lugar.
— É só um hospital — ele rebateu e fiquei sem entender.
— Vo-você...
— Não me julgue sem saber das coisas. Você está cheia de suposições e as
coisas não são como está imaginando.
Ele me cortou e segurou firme em minha mão, me puxando para dentro do
casarão, que na verdade era um hospital, segundo ele. Passamos entre as pessoas,
que o cumprimentavam pelo primeiro nome. Ele não dava essa intimidade para
ninguém, mas, pelo jeito, ali não importava como as pessoas o chamavam.
Atravessamos um corredor e entre ele havia alguns espaços. Cada porta tinha
uma palavra motivadora presa com desenhos de animais, flores, desenhos
animados. Ele não me explicou nada. Apenas andou até uma porta onde estava
escrito escritório, bateu e aguardamos que alguém atendesse. A porta se abriu e
uma senhora sorriu para nós dois. Era a mesma senhora que me indicou o
endereço dali.
— Dona Francisca, será que posso usar seu escritório por um momento?
— Claro, meu filho, fique à vontade. Estou apenas me escondendo de toda essa
gente. Não tenho mais idade para festas.
Antes de sair, ela me olhou e sorriu, como se soubesse de tudo. Via em seus
olhos que no final tudo ficaria bem, mas era impossível que aquela bagunça
terminasse positivamente.
Lucca me puxou para dentro do escritório, onde era bem colorido, com muitos
desenhos espalhados pelas paredes, em porta-retratos, num ambiente elegante,
em nada parecido com os escritórios brancos e sem vida que estava acostumada.
— Bom, Melissa, eu não sei como você chegou aqui, e sim, eu pretendia te
contar sobre Sophia, apenas não sabia como.
— Não importa como eu vim parar aqui. O importante é a sua mentira.
— Eu sei que estou errado, mas aquelas coisas que você disse são infundadas.
Nada do que viu é o que está na sua cabeça.
— Você quer me contar ou vai ficar aí mentindo e mentindo? Já estou por aqui
de tanta mentira, Lucca. Não aguento mais isso! — disse, fazendo um gesto no
pescoço.
— Eu conheci esse lugar quando ainda estava na faculdade, logo que terminei
com Camilla. Eu disse a você que me perdi naquela época e quem me ajudou a
me endireitar foi a Giu. Ela me apresentou esse hospital, aqui eles cuidam de
crianças que são portadores de Câncer. Eu estava choramingando, bebendo e
perdendo tudo por causa de um amor, até que Giu me arrastou pra cá e me
mostrou que a vida não é o que eu esperava. Não que minha dor fosse menor que
qualquer outra, mas eles, mesmo sendo crianças, lutam com força e garra para
continuarem a viver, não importa como. Eles nascem e amam a vida com a força
que um adulto não é capaz. Um coração partido não é nada perto do que eles
sentem, mas um sorriso aqui nunca falta.
Eu caí sentada em uma poltrona, engolindo em seco e abraçando meu próprio
corpo, temendo que ele visse o quanto fiquei abalada com suas palavras.
— Eu venci a minha dor, e vi muitos vencerem a deles aqui dentro — continuou.
— Mas vi muitos perderem também. Sophia veio para cá com um ano de idade.
Ela foi diagnosticada com leucemia, mas não daquelas severas, e como foi
diagnosticada no início, apenas com o tratamento seria possível reverter. Eles
cuidaram dela e obtiveram sucesso em dois anos de tratamento. Sophia e sua
mãe foram para casa felizes, com a perspectiva de terem uma vida nova. Pouco
depois o pai de Sophia teve um AVC e não resistiu, bem como Sophia fez novos
exames seis meses depois e eles mostraram que a doença havia voltado, dessa
vez de uma forma mais severa, chamada leucemia LLA. Sophia agora é uma
paciente de alto risco, com uma contagem de glóbulos brancos muito elevada.
Ela poderia ser submetida à radioterapia, além de quimioterapia intratecal. Mas
os médicos fazem o possível pra evitarem o procedimento, porque a radioterapia
no cérebro, mesmo em doses baixas, causa pequenos problemas de raciocínio,
crescimento e desenvolvimento. Por enquanto eles ainda estão fazendo em
Sophia apenas quimioterapia intratecal.
Ele parou a explicação, olhando pra fora, e eu sentia uma tristeza tão profunda...
A dor nos olhos de Lucca esmagava meu coração. Ele era apegado à garotinha e
tudo o que eu disse fez eu me sentir mal. Me senti culpada por julgar pelo que
meus olhos viram, por pensar e não deixá-lo se explicar. Ele me olhou,
esperando-me falar alguma coisa, mas o que eu diria? Sinto muito? Acho que
não era o que ele gostaria de ouvir naquele momento.
— Você a vê hoje toda feliz e não imagina o que ela passa pelo menos quatro
vezes por semana. O cabelo está começando a cair novamente, e ela apenas não
se importa com isso. Me aproximei dela alguns meses antes de sua chegada,
Mel. Depois que conheci esse lugar, não tive vontade de sair mais e me mantive
como voluntário na cozinha. Eu consegui vencer lá fora, comprei esse lugar,
montei tudo com doações de parceiros de negócios, com a ajuda da Giu, enfim...
A mãe de Sophia vivia com ela aqui, mas certa vez ela disse que ia em casa
buscar umas roupas e não voltou mais. — Essa informação me deixou
impressionada. — Um dia caminhando por aqui, fui até a sala de quimioterapia,
e não vou mentir, evito entrar naquele lugar porque é muito triste, e Sophia
estava deitada e recebia seu tratamento. Ela chorava em silêncio e ver aquela
cena foi como ser cortado com uma faca de serra. Meu coração sangrou. Me
aproximei e segurei sua mãozinha pequena, ela se virou, me olhou, e suas
lágrimas foram substituídas por um sorriso. Os olhos dela brilharam em meio às
lágrimas.
Ele respirou fundo, parecendo recordar a cena como se tudo estivesse
acontecendo naquele momento.
— Ela me olhou com aqueles grandes olhos azuis e me perguntou se eu era o
príncipe que ela havia sonhado. O príncipe da Bela e a Fera, uma história que
sua mãe sempre contava. Não tive coragem de desmentir, pois não quis quebrar
aquele sorriso. Ela adormeceu e eu passei horas velando seu sono calmo e
tranquilo. Uma das enfermeiras se aproximou, retirando o soro e o substituindo
por outro. Perguntei pela mãe e ela disse que havia su1mido há uma semana.
Conversei com dona Francisca e consegui o endereço da residência delas, pedi
que Pietro fosse verificar para mim, sentindo a necessidade de estar ao lado
daquela garotinha com cara de anjo. Ela deixou uma carta que eu guardo em
casa, e se você quiser ler, posso te mostrar. Quando Sophia estiver maior, lhe
darei a carta. Ela tem que conhecer a mulher forte e guerreira que sua mãe foi.
— Lucca, isso não é vergonha, é um gesto lindo. Por que esconder?
A raiva havia passado por completo. Eu só lutava contra a avalanche de lágrimas
que se insistiam em querer me vencer.
— Eu não deixo que ninguém saiba sobre este local simplesmente porque não
quero que isso tudo venha a público. A impressa faz de mim uma celebridade, o
rei dos hotéis, e não quero que a minha vida pública engula o único lugar que me
traz paz e alegria. Aqui sinto o Lucca de vinte anos, onde eu era apenas mais um
cara nessa cidade, Mel. Talvez você não aceite isso muito bem, mas eu prometi a
Sophia que ela nunca estará sozinha. Entrei com o pedido de guarda e ela passou
a me chamar de pai. A cada vez que escuto isso vindo dela, é como se meu
coração fosse pequeno demais, sabe?! É uma felicidade que não consigo pôr em
palavras. Domingo aqui é sempre um dia especial para eles, para pelo menos
amenizar a dor. A diferença é que Sophia está completando quatro anos, e ela
disse que queria uma festa de princesa com uma história onde eu era o príncipe,
ela a princesa.
Ele sorriu, denotando que o amor pela menininha era realmente grande.
Pensando bem, devia ser difícil para ele conseguir manter esse lugar em segredo.
— Eu fiquei muito triste, Lucca — comecei. — Não sabia o que pensar, e
quando a vi te chamando de pai, pensei o pior de você, coisas que eu me
arrependo e me faz sentir culpada. Não vou mentir que me magoa muito ter
descoberto isso dessa forma. Quantas vezes você teve a oportunidade de me
contar e, no entanto, não o fez?
— Eu sei que eu deveria ter dito, mas essas coisas não funcionam assim, chegar
e dizer: olha, amor, eu sou voluntário em um hospital, louco por uma garotinha
com cara de anjo, e resolvi ser o pai dela. Não é uma coisa fácil, convenhamos.
— É, realmente ia soar estranho, mas não ia ser pior do que saber como soube.
Porém, saiba que eu estou aqui com você e sempre vou estar. Vou te apoiar nessa
decisão. Sophia é um encanto e só quero te pedir uma coisa.
— Qualquer coisa, minha branquinha.
— Eu quero conhecer melhor a Sophia, o hospital, e essa doença que ela tem.
Quero saber de tudo.
— Tudo bem, amor, eu vou te contar tudo e mostrar todo o lugar.
Lucca se aproximou, acariciou meu rosto e juntou os lábios nos meus, passando
a língua pelo meu lábio, pedindo passagem. Avançávamos num beijo de perdão,
quando a porta se abriu em um solavanco. Me afastei dele rapidamente e um
“ops” foi ouvido. Olhamos na direção e Sophia estava parada, com a mão na
boca, junto com outras crianças, muitas delas carecas, mas todas escondendo o
riso com a mão na boca.
— Papai — ela disse como se estivesse o repreendendo. — Você estava
escondido? Eu e meus amigos queremos bolo.
— Vocês querem bolo? Então vamos comer bolo!
Enquanto íamos de mãos dada para fora do cômodo, as crianças cantavam,
divertidas, o famoso “tá namorando...”. Em meu coração habitava um
sentimento diferente. Claro que acreditava em tudo que ele havia me dito e de
certa forma isso fez com que me acalmasse, mas minhas mãos permaneciam
suadas, só que não por medo e sim uma certa ansiedade. Segurei firme a mão de
Lucca e garanti a mim mesma que me doaria para tê-lo sempre naquele estado de
plenitude.
Capítulo 27

Lucca Marconni

Melissa foi para casa com o Leonardo, o detetive da vez. Depois de tudo
esclarecido, o dia transcorreu de forma maravilhosa.
Sophia adorou a Mel, e a fez prometer que voltaria para vê-la em breve.
Colocamos uma Sophia muito insatisfeita para dormir, mas nada podia me fazer
mais feliz que ver as duas bem. Parecia que se conheciam há muitos anos. Meu
coração estava em festa e menos um peso em minhas costas.
Apesar do meu medo, percebi que não foi tão difícil como imaginei. Melissa
assimilava bem as coisas, bastava só eu falar. Conversar, para mim, não era
muito fácil, mas era o melhor caminho para tudo. Às vezes me sentia tão culpado
por coisas que deixei de falar por medo de perder, ou fazer merda ainda maior.
Melissa não sabia a real situação de Sophia e isso eu não deixaria de lado.
Contaria tudo. Sophia era muito encantadora com aquela cara de anjo, e mesmo
não sendo pai biológico dela, moveria o mundo para ver seu sorriso e a alegria
dançando em seus olhos.
Chegamos em casa juntos fui seguindo o carro deles. Leonardo deixou Mel no
portão, prometendo voltar no dia seguinte. Estava pensando seriamente em
deixá-lo viver na mansão, já que passava muito tempo com Melissa. Ele a
amava. Seu carinho e devoção por ela era demais, mesmo sendo homem e eu não
gostando da intimidade tão grande com ela. Entendia que ela era como uma irmã
para ele, e ele faria de tudo para proteger e mantê-la segura.
Melissa estava em pé na soleira da porta, olhando o céu com minha jaqueta no
corpo. A noite já havia caído e o vento frio se fazia presente. Ela não ainda não
havia se acostumado com o frio europeu. Chegou em uma época quente, e
estranhou quando começou a esfriar. Me aproximei, passando meu braço pela
sua cintura.
— Dou tudo para saber em que você está pensando.
— Não estou pensando em nada, apenas observando o quanto o céu está lindo.
Olhei no fundo dos seus olhos, e um sorriso puxou meus lábios para o canto.
Lindo mesmo era aquele verde dentro de seus olhos, onde eu tinha o prazer de
me perder.
— Nada é mais lindo que seus olhos.
Me curvei, encostando meus lábios nos seus. Sua mão correu por meu braço,
onde segurava o capacete, subindo até meu rosto e o acariciando lentamente,
dando passagem para que minha língua pudesse finalmente fazer contato com a
sua. Senti falta de tê-la assim, sem reservas. Sua mão foi para minha nuca,
acariciando, provocando... Chupei sua língua, deixando o beijo mais íntimo. Ela
gemeu em minha boca, puxando meu cabelo, e diminuí o ritmo do beijo,
mordendo seu lábio inferior e o puxando. Fitei seus olhos cheios de desejo.
— Vamos subir, amor. Não vejo a hora de ter você só para mim.
Ela sorriu de um jeito safado e beijou meu queixo.
— Também estou com saudade.
Entramos em casa e tinha uma comissão nos esperando. Giu, Igor e Marcela.
Melissa disse que saiu sem avisar e que esqueceu o celular, o meu aparelho
descarregou ainda na parte da manhã. Depois de toda aquela tensão, apenas não
me importei com mais nada e ainda era a festa da minha anjinha, e eu não
poderia prestar atenção em nada além dela naquela tarde.
— Boa noite, aconteceu alguma coisa? É meio tarde para estar todo mundo
acordado.
— O mundo desabando e os dois sumidos! — Igor exclamou. Ele sempre foi
exagerado, não tem jeito.
— O que de tão importante? A casa pegou fogo ou algo do tipo? Você sabia onde
eu estava.
— Tio, vazaram algumas coisas na internet. Giovanna fez um escândalo na
impressa depois de fazer o corpo delito. Tentamos abafar o caso de todo jeito
possível, mas foi complicado, fora a queixa-crime que ela fez na delegacia.
Um dia de paz era muito para um mero casal. Isso não era normal na vida das
pessoas. Senti o corpo de Melissa ficar tenso no mesmo instante que Igor
proferiu cada palavra. Querendo ou não, também fiquei tenso. Isso podia
resvalar em mim de muitas maneiras. Não me importo com a minha imagem e
nem sei quais foram as merdas que Giovanna falou. Mas tinha o processo com a
guarda da Sophia e isso tudo podia me atrapalhar. Engoli em seco e me virei para
pôr o capacete em cima da mesinha, sentindo meu corpo gelar ao pensar na
possibilidade de perder Sophia de algum modo. Respirei fundo enquanto Igor
continuava sua sentença.
— Além do mais, todos nós sabemos como Melissa pira com as coisas que saem
na impressa. Eu cheguei e ela estava dormindo, acordei e não tinha vestígio dela
pela casa, celular largado na cama. Os seguranças não a viram ou falaram com
ela, câmera nenhuma da casa a pegou saindo.
Eu sabia que ela tinha saído de casa, e que foi de táxi para o hospital, mas isso
tudo era novidade e só duas pessoas poderiam ter tirado Melissa de casa sem ser
vista. Igor e Pietro. Igor estava dormindo e só sobrou meu segurança urubu. Ele
estava testando a minha paciência. Abracei a cintura dela, puxando-a para mim,
olhei em seu rosto e ela mastigava o lábio, apreensiva. Dei a ela o meu melhor
sorriso. A queria bem e faria de tudo para não perder as duas mulheres mais
importantes da minha vida.
— Melissa estava comigo.
Contemplei o minuto de silêncio que se seguiu. Todos sabiam que não contei a
Melissa sobre Sophia.
— Com o senhor? — Igor indagou.
— Sim. Agora vamos subir porque o dia foi puxado e estamos cansados. Igor,
marque uma reunião com o Dr. Norberto amanhã aqui em casa mesmo. Vamos
resolver essa questão da Giovanna. Melissa se excedeu, mas não fez isso
sozinha. Marcela, consiga tudo sobre a briga com a empresa que cobriu o evento.
Boa noite.
Passei meus olhos por Giu, que apenas acenou com a cabeça, sem comentar
nada. Ela sabia que tudo que envolvia Sophia me deixava um pouco perturbado.
Sabia que teria que dar uma longa explicação para ela, mas isso não me
importava muito.
Segurei a mão de Melissa e saí rebocando-a para o quarto, exausto. Tudo o que
eu queria era me perder nela, fazer a alegria voltar para seus olhos, mesmo que
momentaneamente. Depois conversaria com ela sobre o resto. Entramos no
quarto e logo puxei seu corpo. Melissa tinha a mania de pensar demais e se eu a
deixasse pensar muito, teria problemas. Afastei seu cabelo, beijei seu pescoço e
tirei a jaqueta, jogando-a no chão. Antes de jogá-la na cama, rocei minha ereção
em sua bunda.
— Lucca... — ela choramingou meu nome, me deixando satisfeito. Totalmente
envolvida.
— Sim, Melissa?
— A gente precisa conversar antes de... — Ela engoliu em seco quando meus
dedos brincaram no cós de sua calça, abri o botão e a virei para que me olhasse
nos olhos.
— Agora tudo o que eu quero é te fazer minha novamente, e depois, se você
ainda tiver força, conversamos sobre tudo o que quiser.
Tomei sua boca na minha e nossas línguas se entrelaçaram. Ela gemeu quando
pressionei meu sexo no seu, suas pernas se enrolando em torno da minha cintura.
Mexi meu quadril devagar e suas mãos dentro da minha camisa arranharam
minhas costas. A batalha já estava ganha, e com certeza seria muito prazerosa.
Capítulo 28

Lucca Marconni

Nada melhor que muito sexo para descarregar toda a tensão. Isso não é uma
teoria boba. Sempre funcionou. Mais uma vez consegui evitar a tal conversa com
Mel, mas na hora certa ela saberia de tudo.
Acordei assim que o dia clareou. Nunca fui de ficar por horas na cama.
Estava preparando uma bandeja com café da manhã para nós dois. Quando usava
a cozinha, os empregados não ficavam no meu caminho. Graziela entrou, deu
bom-dia e se retirou. Sei que isso era rude da minha parte, mas a verdade é que
não gostava de aproximação com as mulheres que trabalhavam para mim. Elas
se apaixonavam e fodiam todo o resto depois, então eu evitava ao máximo.
Estava distraído, pegando alguns morangos na geladeira. Eles viraram meus
preferidos. Me virei e encontrei Igor na cozinha, já arrumado para o trabalho.
— Bom dia, tio. Como está?
— Bom dia, Igor. Estou ótimo e você?
— Estou bem. Falei com o Dr. Norberto, mas ele está fora da cidade e só volta
na quarta. Se tiver tudo bem para você, ele passa aqui.
— Está ótimo. Não quero que Melissa se apresente na delegacia sem a presença
dele. Vou falar com Giovanna para ver se ela retira a queixa.
— O senhor acha que ela faria isso?
— Não sei. Para falar a verdade, ela anda tão esquisita. Nem parece a Giovanna
que conheço.
— Aquela é a Giovanna. O senhor que nunca parou para olhar melhor, nunca
pensou com a cabeça de cima quando se trata dela.
Olhei para Igor sem poder afirmar que aquilo era verdade ou não.
— Ela é mimada, Igor. Sempre teve tudo o que quis, e comigo não foi assim.
Você está exagerando por não gostar dela.
— Não feche seus olhos de novo para toda a estupidez de Giovanna. Ela só
piora, mas não é dessa louca sem causa que eu queria falar.
— E do que quer falar?
— Melissa e Sophia. Juntas em uma frase, é tenso.
— Nem tanto. Meus dois anjos loiros se entenderam e foi melhor do que eu
podia imaginar. A princípio ela ficou furiosa, pensei que estava fodido. Porra, eu
fiquei com medo!
— Eu imagino, tio. Não deve ter sido fácil.
— Impossível de imaginar. Quando vi Melissa ali parada na minha frente, perdi
o chão, senti meu corpo tremer. Foi uma situação apavorante. Fui salvo pelo
gongo quando me pediram ajuda. Respirei aliviado, porque eu simplesmente não
sabia o que fazer.
— Aí contou a verdade?
— Parcialmente. Ela não sabe a situação real de Sophia, mas sabe todo o resto.
Quero que ela leia a carta da mãe de Sophia. Não vou esconder isso dela.
— Você está certo, tio. Eu acho que é o melhor a se fazer. Ela merece saber de
tudo.
— Eu sei, e vou contar, mas não agora. É melhor ver o que o Dr. Norberto tem
para dizer. Eu converso com Giovanna, então eu conto.
Eu sabia que esconder as coisas de Melissa era doideira. Ela era inteligente e
capaz de descobrir tudo sozinha, mas não seria qualquer besteira a tiraria do meu
lado. Acontece que não podia jogar todos os problemas em seu colo sem ao
menos deixá-la respirar.
— Eu vou subir. Ela deve ter acordado ou acordará em breve.
— Café na cama, é? — Igor perguntou com um sorriso nos lábios. Maldito filho
da puta.
— Sim — respondi, curto.
— Alguém, por favor, traz o meu tio de volta. Isso é uma réplica malfeita. — Ele
riu, jogando a cabeça para trás. — É, o romantismo não morreu dentro desse
homem — completou sarcasticamente.
— Por que você não pega seu caminho e vai trabalhar?
Peguei a bandeja e passei por ele. Meu romantismo nunca morreu, embora eu
tenha pensado que ele havia ido junto com Camilla, mas ele estava esperando a
pessoa certa para recebê-lo.
Quando voltei ao quarto, como já imaginava, Melissa ainda dormia
tranquilamente. Seu cabelo espalhando pelo travesseiro e o sol batendo em sua
pele. Coloquei a bandeja na mesa e saí do quarto para pegar a carta que a mãe de
Sophia havia escrito. Voltei e encontrei Melissa de joelhos na cama, saboreando
um morango. Ela me olhou e sorriu.
— Bom dia, meu amor — disse, me aproximei e beijei seus lábios, sentindo o
gosto do morango. — Está tudo bem, amor?
— Sim. Apenas com muita fome. Você acaba comigo!
— Eu gosto de acabar com você.
Ela sorriu da maneira que fazia eu me apaixonar cada vez mais.
— Tarado!
— Coma que vou te mostrar do que o tarado aqui é capaz.
Comemos em silêncio e deu pra perceber que ela estava mesmo com muita
fome. Dividíamos tudo. Ora eu dava na boca dela, ora ela me alimentava. Nossa
cumplicidade era tão boa que me deixava maravilhado.
— Você disse que ia conversar comigo e só me enrolou ontem — ela disse
enquanto terminava de tomar seu suco. Eu já havia terminado meu desjejum.
— Você que dormiu, branquinha.
Sorri, mas ela desviou seus olhos dos meus, o que indicava que vinha bomba.
— Você acha que a Giovanna vai levar essa história de queixa-crime longe
demais?
— Para falar a verdade, acho que não. Giovanna sempre foi muito mimada. Mas
eu vou falar com ela.
— Não!
— Por que não?
— Não quero você com ela. Ela só quer chamar atenção.
Eu amava tanto Melissa, que até seu ciúme era gratificante.
— Mas eu preciso — rebati. — Se eu falar com Giovanna, tenho certeza que ela
para com essa besteira.
— Lucca, eu já disse que não! — exclamou ela, firme, torcendo o nariz.
— Isso é ciúme?
— Não, claro que não. Só que esse é o objetivo dela, e não quero isso.
— Tá bom — fingi concordar. — Não falarei com ela.
Claro que falaria, ela querendo ou não. Iria procurar Giovanna, mas Melissa não
precisava saber.
— Se ela quer levar isso pra frente, levaremos. Se ela acha que vou correr, está
muito enganada.
Melissa jamais dava o braço a torcer e não daria naquele momento. Mas eu tinha
negócios que podiam ser prejudicados caso isso fosse muito a diante. Diferente
do Brasil, as leis na Itália são seguidas à risca.
— Tudo bem, vamos lidar com isso juntos.
— Amor, eu queria saber mais da doença da Sofi.
— Eu não entendo muito, amor, mas pelo o que o médico disse, o tipo de
leucemia dela é muito forte. Hoje ela faz pelo menos quatro sessões de
quimioterapia por semana, mas não vem dando muito resultado.
— Nossa, mas é tão ruim assim?
— Infelizmente sim, amor. O corpo dela já não está respondendo muito ao
tratamento e era o que temíamos, o que a mãe dela temia. Vai ser necessário
mudar para a radioterapia e fazer o transplante.
— É o único jeito?
— Sim. Ela precisa do transplante. Já fizemos os testes eu, Igor, Giu, Marcela,
acontece que nenhum de nós é compatível. No banco de doações ainda não
encontramos nenhum doador.
Estava soando frio, sentindo meu corpo tremer por medo da possibilidade de
perder Sophia. Me apeguei a ela de uma tal maneira... Aquela garotinha loirinha,
por quem eu não poderia colocar em palavras o amor que sentia. Ela podia não
ter meu sangue correndo em suas veias, mas tinha tudo o que eu podia oferecer.
Não apenas financeiramente. Eu amava Sophia com todas as minhas forças, e
daria minha vida por aquele pequeno anjo, se fosse necessário.
— Coitada! Uma criança não merece isso. Ela com aquela carinha de anjo, tão
inocente... Não sei como a mãe pôde deixá-la — Melissa lamentou e eu pensava
o mesmo.
Li a carta que a mãe dela deixou e isso não tirava sua culpa por ter sido tão fraca,
mas mostrava o quanto a mulher já estava morta. Tirei a carta do bolso e
entreguei a Melissa.
— Essa foi a carta que achamos junto com o corpo da mãe da Sophia. Não apaga
nem um pouco a fraqueza dela por deixar Sophia sozinha, mas, sinceramente, dá
para entender o sofrimento. Fique à vontade para ler.
Melissa pegou o papel da minha mão e dava para ver em seus olhos como estava
em dúvida se lia ou não. Queria que ela lesse, pois era uma parte importante na
vida de Sophia, e eu desejava do fundo do meu coração que Melissa a amasse
tão infinitamente quanto eu. Se um dia sonhei formar uma família, com elas duas
não poderia ser mais perfeito. Teria filhos com Melissa, que seriam o fruto do
nosso amor, mas eu desejava fortemente que o amor de Sophia e Melissa fosse
como o meu, incondicional e verdadeiro.

(...)

Melissa Ferraz

Segurei a carta, mas incerta se deveria ou não ler. Era difícil de compreender
como uma mãe podia tomar tais atitudes.
Depois de pensar e ver na expressão de Lucca que era aquilo que ele queria que
eu fizesse, abri a carta...
“Sophia,
Oi, meu anjinho, aqui é a mamãe. Talvez você nunca leia essa carta, talvez você
nunca vá saber porque mamãe não voltou para ficar ao seu lado em um momento
difícil. Mamãe agiu de forma errada, minha filha. Sou fraca e dói saber que
teríamos que enfrentar tudo de novo. Dói saber que talvez você não sobreviva e
dói ainda mais saber que eu não sou capaz, ou melhor, que eu não fui capaz, de
estar ao seu lado em mais essa batalha.
Filha, você foi o anjo que bateu na minha porta quando perdemos seu pai. Sem
você eu não estaria aqui, mas eu não tenho forças para seguir com você nessa
batalha. Sei que onde te deixei, tem pessoas muito boas e que te darão todo o
suporte necessário, e eu agradeço de coração a todos. Meu amor por você é o
maior do mundo. Hoje você pode não acreditar, mas ver sua dor novamente me
matou aos poucos. A dor de te perder... isso é demais para o que restou do meu
coração. Te deixar me dói muito, mas sei que ao seu lado não irei servir de muita
coisa. Eu pensei em acabar com o sofrimento das duas de uma maneira sórdida,
mas tenho fé que você conseguirá se curar e seguirá ao lado de pessoas boas.
Espero que um dia você me perdoe.
Sophia, minha anjinha, mamãe se despede através dessa carta, pois sou fraca
demais para olhar em seus olhos. Sempre vou olhar por você, serei seu anjo da
guarda, e lá ao lado de Deus, estarei torcendo para que você vença essa batalha e
seja feliz.
Me perdoe por ser uma pessoa tão ruim e sem alma, mas o pouco de coração que
me restou e a minha fé, são todos seus, minha filha. Sei que Deus tem o poder de
te dar a cura, e vou estar orando por você, seja aonde for. Um dia, tenho certeza
que vamos estar juntas. Mamãe te ama muito.
Francisca.”
De alguma forma consegui sentir a dor daquela mãe. Ler aquelas palavras foi
sufocante, mas entendi que ela apenas não suportou a dor de ter que viver tudo
aquilo novamente. Não deve ser fácil para uma mãe, ouvir que pode perder sua
filha, que todo seu esforço foi em vão. Perder alguém não é fácil, conhecia essa
dor, mas o tempo me ajudou e me mostrou como lidar com ela. Ela perdeu o
marido, encontrou na gravidez a força, lutou junto com Sophia, porém, já não se
sentia capaz de estar ao lado da filha naquela batalha. Isso não a libertava do erro
ou da fraqueza, mas eu não sabia como era ser mãe ou o que era perder um filho.
A dor de perder uma mãe, sim. É uma dor que jamais passa. Ainda assim, dizem
que a dor de uma mãe é incorporável à perda de um filho. A de Sophia perdeu a
fé em Deus e em si mesmo.
Senti os braços de Lucca em torno do meu corpo, entendendo ainda mais a sua
forma de agir e seu cuidado com Sophia. A menina estava sofrendo com a
doença, mas a cada dia lutava por sua vida. Sophia talvez não tivesse plena
certeza de tudo o que aconteceu com ela ou a sua volta, mas já era uma grande
guerreira.
— Eu sei que não é fácil, mas não chore, amor. Sophia é a pessoa mais forte que
eu já conheci. Tenho fé que acharemos um doador para ela, nem que seja a
última coisa que eu faça.
— É tão lindo o que você faz por ela.
— Obrigado. Vamos esquecer isso, por ora. Não gosto de você assim chorosa.
— Desculpa. Eu ando muito chorona nos últimos dias. É muita coisa
acontecendo ao mesmo tempo.
— O que acha de sairmos hoje? — Lucca me perguntou com um brilho no olhar,
como se escondesse alguma coisa.
— Eu acho maravilhoso.
— Então se arrume. Vou tomar banho no meu quarto.
— Por que não toma banho aqui comigo? — indaguei, dando um pequeno
sorriso.
— Porque se eu entrar nesse banheiro com você, não vamos sair dessa casa hoje
— ele disse, beijando logo abaixo da minha orelha, fazendo meu corpo
estremecer e se arrepiar. — Você sabe que não consigo resistir a você, amor.
Ainda mais nua.
— É apenas um banho, amor — falei, correndo meus dedos por seu peito.
— Nunca é!
Ele sorriu, segurou me rosto e me beijou. Sua língua passeou por minha boca,
brincando com a minha. Levei minhas mãos ao seu cabelo e chupei sua língua,
fazendo-o gemer em minha boca. Suas mãos desceram para minha cintura, me
imprensando em seu corpo. Ele mordeu meu lábio e me olhou intensamente.
— Se arrume, amor. Te espero lá em baixo.
Lucca levantou com todo seu autocontrole, enquanto eu estava toda derretida.
Ele ainda me olhou da porta e piscou, dizendo que me amava. Olhei para a cama
e vi a carta, então a coloquei dentro da gaveta do criado mudo, mas rapidamente
segui para me arrumar, querendo estar linda para o homem da minha vida.
Quando desci, encontrei a oitava maravilha do mundo esperando por mim,
vestindo uma bermuda e uma regata que deixava seus braços à mostra. Lucca
estava em uma conversa animada com Giu, mas quando sentiu minha presença,
virou para me olhar. Seu olhar me queimou por dentro, ele sorriu e eu sorri de
volta.
— Bom dia, Giu — eu disse, chegando perto para poder beijar o rosto dela, mas
Lucca enlaçou minha cintura, me puxando para ele.
— Nada de beijinho! — exclamou ele, brincalhão.
— Bom dia, Mel! Que isso, meu amigo? Um pouco de concorrência não faz mal
— Giu respondeu a provocação sem titubear.
— Não é concorrência, ela já tem o melhor. Não é mesmo, amor?
— Vocês dois podem parar. Sabe, Giu, meu namorado é muito ciumento —
brinquei.
— Isso eu sou mesmo — Lucca disse, apertando minha cintura. — Ainda bem
que você sabe disso.
Ele continuou e foi impossível não rir pelo seu tom de voz. Já estava ficando um
pouco mais alterado.
— E vocês dois, vão para onde?
— Boa pergunta, Giu. Eu também não faço ideia.
— Vou levar Melissa para conhecer a cidade. Vamos até a fonte dos desejos.
— Eu não voltei lá depois da reforma, mas dizem que ficou linda — comentou
Giu, me deixando animada. Eu já havia assistido um filme com essa fonte.
— Então vamos, Lucca. Não quero perder um segundo desse dia. Vamos, Giu?
— Não, linda, vão vocês. Curtir um pouco de paz é sempre bom e vocês
merecem.
— Então tchau. Tenha um bom dia.
Lucca não era de dirigir com frequência, mas às vezes ele deixava claro que
tinha o poder das coisas, e foi assim que dispensou seu Carlos da função de
motorista pelo dia, após o homem, como sempre, ficar sem jeito com minhas
demonstrações de afeto. Meu namorado até riu do meu abraço apertado em seu
funcionário.
Fiquei observando-o conduzir o carro e cantarolar uma música. Ele estava
distraído, com uma mão sobre minha coxa e outra no volante. Eu ficava
deslumbrada com sua beleza. Ele entrou em um estacionamento um pouco
depois que chegamos ao centro da cidade, e lá deixamos o carro. Lucca me deu
uns óculos de sol e pegou um para ele. Meu italiano tarado era prevenido. Ele
segurou em minha mão e andamos juntos lado a lado, conversando amenidades.
Estava feliz por estar de mãos dadas com ele, sem me preocupar. Às vezes
alguém se aproximava e pedia para tirar uma foto com ele, e acabei virando a
fotógrafa da vez, não que isso me incomodasse. Mas ainda não compreendia esse
símbolo que Lucca era para a cidade. Acontece que, sinceramente, para mim, sua
beleza contava muito, até porque, a maioria das fotos pedidas era por pessoas do
sexo feminino, e no fundo aquilo estava começando a me irritar.
— Eu não entendo por que você tem que dar tanta atenção para essas pessoas —
eu disse após bater mais uma foto.
— O que posso fazer, amor? Não é uma coisa que eu pedi. Eu queria apenas
poder andar pela cidade e não ser interrompido a cada cem passos. A empresa
criou essa coisa “o rei dos hotéis”, “o solteiro mais cobiçado”.
— Você não é mais solteiro!
— Ciúmes de novo, amor? — ele perguntou com um sorriso presunçoso no
rosto.
— Nada disso, Senhor Marconni. Estou apenas contestando um fato.
— O único fato aqui, é que eu te amo.
Ele me puxou junto a seu corpo e me beijou, dando por encerrado o assunto.
— Essa é a fonte dos desejos.
Lucca apontou para um ponto do local, onde se via uma fonte muito linda. Toda
a arquitetura da cidade era de encher os olhos. Sorri e andamos mais para perto,
dando para visualizar melhor a água azul cristalina, cheia de moedas. Cada
detalhe era simplesmente perfeito. O tipo de lugar que você com certeza sempre
vai querer voltar. Ela enchia os olhos e o coração de felicidade. A placa indica
que a fonte se chamava “Fontana di Trevi”.
— É linda e muito grande. Realmente é um monumento.
— Sim. De todas as arquiteturas daqui de Roma, eu sou completamente
apaixonado nessa fonte. É uma das maiores. Ela tem em cerca de vinte e seis
metros de altura e 20 de largura, é a coisa mais linda de se ver.
Ele falava e em seu tom dava para ver o quanto Lucca admirava aquele
monumento, o quanto ele era orgulhoso por morar em uma cidade que tinha algo
tão perfeito.
— Nossa, você conhece mesmo! — Sorri e virei para olhar em seus olhos.
— Todo turista que vem a Roma passa por essa fonte.
— Pensei que todos fossem sempre no Coliseu.
— Também. Mas como toda fonte, essa daqui tem sua história.
— E qual é essa história? — perguntei, curiosa.
— Bom, as mais famosas são, que se você jogar uma moeda de costas para a
fonte, você assegura um retorno a Roma; a outra é que se você jogar duas
moedas, você encontra seu príncipe nas ruas de Roma.
Ele sorriu, como se lembrasse de algum fato.
— Mas essas duas não são necessárias você fazer — ele concluiu o seu
pensamento.
— E por quê?
— Primeiro que de Roma você não vai sair. Segundo, você encontrou mais que
um príncipe, você encontrou o rei de Roma.
Afirmou ele com aquele sorriso torto nos lábios.
— Convencido. Você disse que essas são as mais conhecidas. E as menos
conhecidas?
— A outra lenda se refere a um casal de namorados. Todas as moças que querem
garantir o amor eterno, mesmo que seus amados estejam longe, seja viajando a
trabalho ou os que foram para a guerra, têm que beber um copo de água da fonte
e depois quebrá-lo, assim ele nunca mais se esquecerá de você, o que você
também não vai de precisar. Estou bem aqui e nem se eu fizer um esforço
extremo, conseguiria te esquecer.
— Assim eu espero. Mas também não sou capaz de me esquecer de você.
— A outra forma de fazer juras de amor eterno, é aonde eu quero chegar. — Ele
sorriu e apertou minha mão devagar. — Beber da fonte dos apaixonados. Uma
pequena fonte chamada “Fontanina degli Innamorati”, que fica perto do vaso.
Diz a lenda que se você e seu amado beberem juntos da água, vão garantir
fidelidade para toda a vida.
Dito isso, caminhamos para perto do monumento parecido com um vaso.
— Eu confio em você e você confia em mim, mas eu quero fidelidade para vida
toda. Se essa lenda for realmente verdade e eu acredito que seja, você vai ter a
minha fidelidade eternamente. Você se tornou a mulher mais importante na
minha vida, Melissa, e eu irei te amar eternamente.
Senti as lágrimas brotarem em meus olhos com suas palavras.
— Eu amo você, Lucca. Com tudo de mim, eu te amo.
Ele juntou as mãos e pegou um punhado de água, fiz igual e bebemos, olhando
um nos olhos do outro. Vi em seu olhar o quanto suas palavras foram
verdadeiras, e tinha certeza que os meus refletiam o mesmo que havia em seus
olhos. Lucca me puxou para seus braços assim que terminamos de beber a água,
juntamos nossas bocas em um beijo delicioso e selamos aquele acordo de
fidelidade eterna.
Capítulo 29

Melissa Ferraz

Chegamos do passeio e dizer que o dia foi lindo era muito pouco. Dizer que a
minha felicidade não cabia em meu peito, também era pouco. Estava
simplesmente radiante. Passamos o dia juntos, almoçamos e jantamos fora. Ele
me levou para conhecer muitos lugares, mas a fonte ficaria marcada para sempre
em minha vida, não importava onde estivesse.
— Eu não acredito que você ainda vai comer, amor — falou Lucca, pela
milésima vez.
Apesar de ter comido uma pizza deliciosa, eu ainda me sentia com fome.
— Eu já disse que estou com fome. Você não está?
— Estou, amor, cheio de fome.
Senti seu corpo quente atrás de mim e ele roçou a ereção em minha bunda,
mostrando qual seu tipo de fome. Ele afastou meu cabelo e trilhou beijos pelo
me pescoço, apertando o corpo contra o meu. Meu corpo se acendeu e um fogo
parecia vir de dentro. A língua de Lucca circulou um ponto em meu pescoço,
sugando em seguida. Ele moveu os quadris como se dançasse uma música que
estava apenas em sua cabeça, a língua subindo e indo até a minha orelha. A voz
rouca entrou pelos meus ouvidos.
— Vamos, branquinha, deixa eu acabar com toda essa fome no quarto. — Senti
meu corpo ceder aos seus apelos e minha calcinha ficando cada vez mais úmida.
— Arrumem um quarto, por favor — Igor disse, fazendo Lucca se afastar. Meu
rosto ardeu de vergonha.
— Exatamente isso que estou tentando fazer — Lucca rebateu com um sorriso.
Tinha certeza que ele estava sorrindo, mesmo sem olhar em seu rosto. — E
você? Pensei que estivesse dormindo.
— Eu estava apenas olhando alguns papéis da empresa.
— Problemas?
Os dois começaram a falar de negócios e eu me concentrei inteiramente em meu
sanduíche, sentada em um dos bancos da bancada. Lucca parecia calmo e
relaxado enquanto falava dos hotéis. Ele se orgulhava por ter montado toda a
rede de hotéis e dava para ver em seu rosto o quanto aquilo o fazia bem, mesmo
ele não estando completamente ativo. Já Igor, o deixava a par de tudo o que
acontecia. Terminei de comer e lavei a louça que havia sujado.
— Pronto, podemos subir a hora que você quiser, amor.
— Então vamos. A gente vai subir, Igor. O dia foi muito agitado hoje.
— Boa noite para vocês. Eu vou fazer algumas coisas ainda.
Beijei o rosto do Igor e desejei uma boa-noite. Lucca segurou minha mão e
subimos para o quarto dele. Mal passamos pela porta e ele me puxou para si, me
beijando com urgência. Ele me encostou na parede próxima à porta e sua língua
invadiu a minha boca com como se precisasse do meu beijo para sobreviver. As
mãos estavam por todos os lados do meu corpo, acariciando, apertando,
reivindicando o que o pertencia. Sua mão acariciou minha coxa e subiu entre
minhas pernas, me fazendo as abrir um pouco mais. Ele acariciou meu ponto de
desejo por cima do shorts e eu gemi enquanto ele chupava minha língua de
forma erótica, me deixando ainda mais envolvida naquela nuvem de prazer. Ele
se afastou o bastante para me livrar da blusinha que estava usando e eu fitei seus
olhos, que tinha as pupilas dilatadas, o maxilar tenso. Ele estava perdido em
nosso momento e tudo o que eu desejava era que ele me levasse para aquela
mesma perdição.
— Melissa, estou louco de saudade de me enterrar bem fundo em você — ele
disse com sua voz rouca.
Em seguida Lucca nos encaminhou até a cama e me deitou nela com cuidado,
me olhando nos olhos e sorrindo, mostrando o quanto seu tesão e o amor
andavam lado a lado. Não importava quantas vezes fizéssemos isso, sempre
parecia a primeira vez.
Os beijos pelo meu corpo continuaram e Lucca não poupou nenhum pedaço de
pele, deixando-me louca de prazer. Era alucinante sentir o toque de sua língua,
em conjunto com a ereção, que se movia fazendo movimentos de fricção em
minha intimidade.
Sem delongas ele foi entrando lentamente em mim, preenchendo-me por inteiro.
As paredes do meu sexo iam se alargando, abrindo passagem para que ele se
acomodasse. Um gemido reverberou pela minha garganta.
— Branquinha, você me deixa louco. Porra! Tão apertadinha... — Lucca gemeu
junto a minha pele, sua voz rouca e seu hálito quente fazendo meu mamilo ficar
ainda mais rígido.
— Sou sua. Apenas sua. Para sempre.
Ele fitou meus olhos e começou a se mover dentro de mim. Lucca saía e entrava
quase que inteiro, me preenchendo por completo. Arrastei minhas unhas pelas
suas costas e ele gemeu, acendendo ainda mais o meu corpo. Comecei a rebolar
junto com suas investidas que ficavam cada vez mais rápidas e fortes. Ele se
curvou e chupou meu mamilo com força, o prendendo entre os dentes e
puxando. Senti as lambidas do prazer tomando o meu corpo em cada investida
que ele dava. Lucca mudou o ângulo de suas investidas e foi a minha perdição.
Meu corpo parecia quebrar em pedaços. Ele xingou e se deixou levar junto
comigo, o corpo caindo sobre o meu. Antes de rolar para o lado ele espalhou
pequenos beijos pelo meu rosto e me puxou para o seu peito. Sorri, fitando seus
olhos.
— Você ainda vai me matar — eu disse para quebrar aquele silêncio que se
instalou em torno de nós dois.
— Eu já disse para você que morreria feliz se estivesse enterrado dentro de você,
ouvindo seus gemidos.
— Você é tão tarado.
Ele gargalhou alto, acariciando meu cabelo.
— Eu nunca disse o contrário. Acho melhor você descansar um pouco. Não
quero você reclamando quando te acordar no meio da madrugada.
— Você não cansa, amor?
— Não, e acho melhor você ir se acostumando com isso, amor.
— Por que eu deveria?
— Porque eu pretendo passar muitas e muitas horas dentro de você.
Acordei e o quarto já estava claro. Lucca estava sentado ao meu lado, com o
notebook no colo, digitando alguma coisa. Estava sem camisa e apenas o lençol
cobria sua nudez. Ele era lindo de qualquer jeito e eu achava que a sua beleza
sempre me surpreenderia. Nunca tinha visto um homem tão bonito na minha
vida e achava impossível homens tão bonitos como Lucca estarem vagando por
aí. Eu o amava tanto que sua beleza me encantava mais do que deveria. Eu não
via defeitos nele. Pelo menos não por fora.
— Bom dia, criança. — Ele sorriu, tirando os olhos da tela do computador.
— Como sabe que já acordei? Estava aí todo concentrado.
— Sua respiração muda, amor. Ela estava calma enquanto você dormia.
— Você é um metido, sabia?!
Ele fechou o notebook e o colocou na mesinha ao lado.
— Eu sou o que você quiser, amor.
Lucca então se colocou em cima de mim, me dando um selinho e iniciando um
beijo calmo e lento, só se afastando quando nossos pulmões pediram por um
pouco de ar.
— Assim fico sem ar — fingi reclamar. — Você mal me deixou dormir.
Ele deu aquele sorriso torto que eu amava.
— O que eu posso fazer? — Lucca deu de ombros. Era um descarado mesmo. —
Vem! Estava esperando você acordar pra gente tomar um banho e descer.
— Eu preciso pegar minhas coisas no meu quarto ou tomamos banho lá. Eu
prefiro.
— Não é necessário. Mandei colocar suas coisas aqui. Não tem porque continuar
em quartos separados — ele disse simplesmente e se levantou.
Fiquei olhando-o por um momento, querendo entender essa mania que tinha de
tomar as decisões por mim, e isso estava começando a me deixar nervosa.
— Você não acha que está muito cedo para isso, Lucca?
— Cedo pra que, Melissa?
— Para vivermos juntos, dividir o mesmo espaço.
Ele passou a mão pelo cabelo, me olhando, e se sentou novamente na cama.
— São apenas roupas, Melissa. Não sei o que isso vai mudar.
— São as minhas coisas. Isso tinha que ser uma decisão minha, ou pelo menos
em conjunto.
— Não dificulte as coisas. Se você não quer ficar no meu quarto, não fique, o
outro continua da mesma forma. Não se preocupe, vou mandar colocar tudo lá
novamente.
Ele se levantou e foi para o banheiro, a voz soando irritada como se estivesse
conversando realmente com uma criança. Eram coisas simples, eu sei, porém,
são as minhas coisas. Ele tinha que respeitar. Mesmo me mordendo de raiva, me
levantei e caminhei até o banheiro quando ouvi a água do chuveiro ser ligada.
Ele estava em baixo d'agua, os olhos fechados, sentido a água cair por sua pele.
Me aproximei dele, o abraçando pela cintura, e o Lucca relaxado foi embora.
Estava totalmente tenso.
— Desculpa — disse junto a sua pele. — Não queria te chatear de forma
nenhuma.
— Desculpa por não ter perguntado, mas me separar de você toda manhã porque
minhas roupas ou as suas estão em lugares diferente estava me enchendo.
— Tudo bem, Lucca, mas não tome decisão por mim, porque eu realmente não
gosto disto, de ser forçada a fazer alguma coisa.
— Não vai acontecer de novo, branquinha.
— Está bem, amor.
— Agora me deixe te mostrar o quanto é maravilhoso tomar banho comigo.
Depois do banho, muita troca de carinho e cumplicidade, seguimos para nossos
afazeres do dia.
O passeio na fonte parecia ser necessário e saber de Sophia tinha sido um
sentimento conflitante, mas não foi ruim, essa era a verdade. Acontece que doía
saber que ele escondeu aquilo durante meses. Eu pensei que ele confiava em
mim para tudo, mas por outro lado, eu o entendia, e sinceramente amava sua
atitude de querer proteger e amar aquela garotinha tanto quanto se fosse pai dela
de verdade. Lucca seria um pai maravilhoso, e se um dia eu tivesse filhos,
esperava que fosse com o homem maravilho que é o Lucca. Ao lado dele sabia
que teria uma família linda e honrada com o mais puro dos amores que poderia
existir. Eu o amava e sabia o quanto Lucca me amava, e aquele enlace na fonte
me fez ficar ainda mais confiante ao seu lado. Podia parecer até doido, mas,
sinceramente, eu estava torcendo para aquela lenda ser verdadeira.
Sorri, olhando meu rosto ser refletido na água da piscina, onde eu estava. Olhava
e procurava a menina que chegou ali, com medo e com o pensamento de ir
embora na primeira oportunidade, e ela já não estava mais lá. Essa Melissa não
saberia viver longe desse país, não saberia viver longe dessas pessoas, que
juntos, formaram uma família, e não saberia viver longe de um certo italiano
tarado.
Levantei a cabeça e o Leo se aproximava. Ele estava sem camisa e Giu vinha
seguindo-o em um lindo biquíni. Os dois seguravam as bebidas que tinham ido
preparar, assim como meu suco de laranja. Eu não queria beber nada forte,
porque não estava acostumada.
— Posso saber aonde você estava, flor? — perguntou meu amigo, me
entregando o copo.
— Estava bem aqui.
— Impossível! Seus olhos estão aí, perdidos nessa água há tanto tempo... Algum
problema?
— Nenhum, Leo. Estava apenas pensando nos últimos acontecimentos, em tudo
o que minha vida virou em poucos meses, e é bem louco.
— Por que acha isso, Mel? — Giu se sentou próximo de nós dois, com um
sorriso.
— Só que quando tive que vir para cá, obrigada por aqueles advogados que
Lucca mandou, era como se eu estivesse indo para a forca.
— Eu nunca entendi muito porque você teve que vir — disse Giulia. — Os
meninos sempre falaram pouco de você, e tudo o que eu sabia era que o irmão
mais velho de Lucca tinha uma irmã no Brasil e com ela vivia a irmã de criação
do Igor. Lembro que no início foi muito difícil. O Lucca estava se levantando e o
Igor era uma destruição ambulante. Foi muita terapia e muitas idas do Lucca
para buscá-lo na delegacia. No fim, Lucca fez o que tinha que ser feito.
Emancipou o Igor e ele teve que tomar jeito, pois responderia pelos seus atos
dali por diante. Foi então que ele se tornou o homem que é hoje. Mesmo com
tudo, Lucca nunca levantou a mão para Igor. Foi um ano bem complicado e eu
segui de perto toda aquele tsunami.
— Era para eu ter vindo com o Igor nessa época — contei. — Mas minha
convivência com Igor era um tormento e o Lucca não era mais que um estranho.
Eu achava que ele era algum tipo de velho, caquético e egocêntrico.
— Pelo jeito você mudou de opinião rapidinho e foi tratando de dar uma chave
de coxa no italiano gostosão — brincou Leo. — Quem me dera ter a chance com
um homem daquele. — Suspirou meu amigo, para minha diversão. — Meu
Deus, alguém me abana!
Revirei os olhos para o exagero do meu amigo. Suas provocações não me
incomodavam nem um pouco. Ele era o melhor cara que podia existir nesse
mundo, e o amigo que eu podia confiar até mesmo de olhos fechados.
— Claro, meu italiano não é só lindo por fora, mas também é maravilhoso por
dentro.
— Eita! Melhor mudar de assunto. Se a melação começar, estaremos perdidos —
disse Giulia e rimos, afinal, ela tinha razão. Eu era encantada pelo meu italiano e
podia seguir o dia inteiro falando dele.
— Mas com um homem daquele, quem não quer fazer uma resenha?
Leo falou e tomou um pouco de sua bebida enquanto se abanava com as próprias
mãos.
— Meu homem! — decretei. — Só lembrando, meu amigo.
A tarde passou entre brincadeiras e risadas e muito banho de piscina, porque a
gente precisava dar uma relaxada. Lucca tinha ido para a empresa com Igor. Em
breve meu irmão passaria um tempo em Nova York. Além de cuidar dos
negócios da empresa por lá, enfim ele reencontraria Ângela, a garota pela qual
ele havia se apaixonado. Confesso que não via a hora de poder conhecer a tal
moça. Ele me mostrou uma foto e ela era uma linda moça, de cabelos negros
escorridos e parecia ter por volta de vinte ou vinte e dois anos, o que me levou a
pensar: o que há com essa linhagem dos Marconnis? Pelo jeito era de família
gostar de meninas mais novas.
Eu estava mergulhando, nadando de uma ponta a outra da piscina que tanto
adorava. Sempre gostei, desde muito nova, de nadar. Me ajudava a limpar a
mente.
Apesar de tudo, eu estava feliz, e meus pensamentos sempre iam de encontro ao
meu italiano. Parecia até coisa feita, de tanto que eu pensava naquele homem
maravilhoso.
Dei mais algumas voltas e quando resolvi sair, encontrei um par de sapatos
italianos, um terno de três partes e um sorriso torto que me encantava até demais.
Sorri de volta e ele me aceitou sair da piscina quando estendi a mão. Lucca me
puxou de encontro a ele, tomando sua boca na minha em um beijo rápido e
intenso o bastante para fazer minhas pernas bambearem.
— Eu estava com saudade, branquinha. Muita saudade.
— Eu também estava, meu pretinho — afirmei, apaixonada. — Molhei seu terno
todo, amor, me desculpe.
— Quem se importa, desde que você o tire todo daqui a pouco? — ele disse,
bem próximo da minha boca, com seu sorriso safado.
— Eu terei todo o prazer de tirar você todinho de dentro dessa roupa, que me
deixa louca por você.
— Louca, criança? Gosto disso.
— Vai gostar ainda mais quando estivermos a sós.
Ele sorriu e me aproximou ainda mais de seu corpo para poder sentir o que
minhas palavras e seu beijo lascivo haviam feito com ele. Minha excitação não
poderia ser sentida por outros, mas sentia entre as minhas pernas o que Lucca
causava comigo. Nos despedimos de todos e Lucca praticamente me rebocou da
parte externa da casa.
Capítulo 30

Lucca Marconni

Tudo estava tão bem em nossas vidas, eu que pensava que minha história com
Sophia poderia atrapalhar em alguma coisa, as vezes acho que esqueço o grande
coração que Melissa carrega no peito. Ela dormia tranquilamente ao meu lado
ela estava com um rosto sereno devia estar sonhando algo bom, e internamente
torcia para que fosse comigo, que eu tomasse seus pensamentos acordada e
dormindo assim como ela faz comigo, me levantei com cuidado para não acorda,
eu estava indo para empresa ficando a par de tudo o que tinha acontecido com
meus hotéis, não é como se eu tivesse me afastado por completo algumas
decisões ainda cabiam apenas a mim mesmo Igor sendo um CEO da empresa
tento autonomia para muitas coisas, algumas eu deixei da minha
responsabilidade, agora que ele ficaria fora por um tempo indeterminado, eu
tinha que ficar a par de suas coisas também. Fui para o banheiro e tomei meu
banho, tirei o excesso da minha barba e arrumei meu cabelo sai do banheiro e fui
para o closet escolhi um terno e fui acorda Melissa, distribui beijos por todo seu
rosto.
— Acorde criança vamos, estou cheio de saudade.
— Me deixe dormi Lucca, por favor, não está cansado você acabou comigo noite
passada. ‘Ela resmungou ainda de olhos fechados, dei um risinho baixo e
insistir.
— Então me de apenas um beijo de bom dia eu preciso ir branquinha. ‘Ela abriu
os olhos e sorrio me puxando para ela, e me beijou com todo o desejo que
queimava dentro de nós dois, retribui seu beijo com a mesma intensidade,
agarrei sua cintura e a trouxe para o meu colo, eu estava totalmente vestido
enquanto ela estava gloriosamente nua, ela mordeu o lábio e puxou sorrindo.
— Pronto meu amor você já tem o meu beijo.
— Um beijo delicioso, a sua sorte é que preciso mesmo ir, ou te deixaria ainda
mais cansada. ‘Pisquei e ela sorrio ficando um pouco vermelha.
— Que pena amor, você vai demorar na empresa hoje?
— Não sei querida tenho duas reuniões hoje, se não se tornarem longas demais
acho que chegou cedo, porque?
— Queria saber amor. Você irá ver a Sofia hoje?
— Não hoje não, como disse preciso resolver essas coisas é não tenho muitos
horários abertos hoje.
— Você se importaria se eu for? ‘Ela disse descendo do meu colo e indo até o
banheiro, ela já não tinha vergonha nenhum de andar nua na minha frente.
— Claro que não amor, ela vai adorar ter alguém lá. ‘Falei um pouco alto para
que ela pudesse me ouvir, ouve um silencio e o barulho da torneira ela saiu de lá
pouco tempo depois, o cabelo em um coque desarrumado
— Hoje é dia de quimioterapia?
— Não amor, se fosse não mandaria você até lá, eu já vi muitas vezes e ainda
acho muito doloroso.
— Não sei se estou pronta para isso. ‘Ela disse vestindo uma camiseta minha, e
um short desses de lycra.
— Sinceramente acho que ninguém fica pronto para essas sessões nunca.
‘Não tinha mais o que ser dito, era tão doloroso esse tratamento para quem o
recebia e para seu acompanhante, era sofrido demais para ambos e eu sabia disso
muito bem. Descemos logo que ela terminou de se arrumar, chegamos na sala de
jantar a mesa de café da manhã já estava posta, demos bom dia para todos e nos
sentamos para fazer nosso desjejum. Tomamos café em silêncio, estavam todos
calmos, a cumplicidade de ver a Giu e a Marcela juntas é maravilhoso, as duas
conversavam e brincavam dividindo o café da manhã. Não sei por que motivo
comecei a imaginar como seria se as duas tivessem um filho, o amor delas é tão
grande que tenho certeza que a criança ia ser muito amada. Melissas estava com
os olhos fixo em um ponto, sua cabeça parecia não parar um segundo se quer.
— Você está bem? ‘Perguntei chamando sua atenção apenas.
— Sim, estava só pensando, não vejo a hora de ver a Sophia. ‘Sorriu e beijei a
mão dela.
— Seu Carlos vai te levar até lá, vá com ele e na hora de voltar você liga para
que ele vá te pegar.
— Está bem, pode deixar.
— Não quero você sozinha por aí, nosso namoro é novidade e os fotógrafos
estão à solta.
— Eu vou me cuidar, prometo. ‘Dei um beijo casto em seus lábios.
— Diga a ela que mais tarde eu ligo para falar com ela.
— Pode deixar, eu amo você.
— Eu amo você.
Eu e Igor nos despedimos das mulheres da casa e saímos em seguida, instruir
Seu Carlos para que levasse Melissa, e que Pietro fosse junto para fazer a
segurança e pede que evitasse a imprensa a todo custo Melissa não era a melhor
pessoa para lidar com a imprensa especuladora.
Capítulo 31

Melissa Ferraz

Passar o dia com aquelas crianças nos fez esquecer qualquer problema que
tínhamos e que teríamos. Era tão bonito ver a superação, a alegria delas com tão
pouco. Alguns brinquedos e logo o dia delas ficaria perfeito. Esperamos muito
da vida, mas a verdade é que esperamos o impossível. Nenhum problema é igual,
a gente nunca sabe onde o sapato de alguém aperta, porém, ver uma criança lutar
pela vida, é mágico, e nos faz acreditar que nunca devemos desistir. Saí do
hospital já tarde e demorei mais ainda para chegar em casa. Passei a
compreender porque Lucca chegava tão tarde em casa. O hospital era muito
longe. Entrei em casa e encontrei Lucca deitado no sofá dormindo. Fiquei ali
parada um momento, admirando-o. Senti meu peito apertar. Ele parecia muito
tranquilo, apesar dos últimos acontecimentos. Me aproximei e sentei ao seu lado,
me curvando e beijando seu peito. Ele resmungou alguma coisa, abrindo os
olhos, e sorriu ao me ver.
— Boa noite, amor.
— Boa noite, branquinha. Estava te esperando e acabei cochilando.
— Por que você não subiu?
— Preferi aguardar por aqui. Você deve estar com fome. Vem, vou preparar algo.
— Ele tentou levantar, mas não permiti.
— Eu jantei com Sophia, não se preocupe.
— E como foi lá?
Sorri com as lembranças. Era impossível não me sentir de alma leve.
— Foi ótimo. Apesar que “ótimo” não deve ser uma palavra adequada, porque
foi magnífico. É um lugar que, apesar de ser um hospital, com muitas histórias
tristes, é também um lugar mágico. São crianças maravilhosas que nos mostram
como a vida é preciosa.
— Sim, me sinto tão bem quando fico lá. É como se nada existisse. Apenas eu,
as crianças, e suas travessuras.
Olhei para Lucca e o amor que ele sentia pelo lugar estava estampado em seu
rosto. Ele amava fazer parte de tudo aquilo, de poder estar perto vivendo cada
minuto. Ele tinha prazer e fazia sem olhar a quem. Pelo jeito que falava, dava
para sentir que tinha amor e não era pouco. Ele amava cada pessoa daquele
hospital, o que me fez compreender o porquê de querer deixar isso em segredo,
sem que ninguém soubesse. A imprensa era uma merda. Inventavam cada
história sem motivo, imagine tendo um. Era como ele dizia: lá com todas aquelas
crianças, não temos necessidade de ser mais que nós mesmos.
— Já ia me esquecendo. Encontrei o médico da Sophia e conversamos bastante.
— Tirou suas dúvidas?
— Sim, ele me explicou, e disse também que agora vão adicionar radioterapia
nela, para tentar segurar um pouco mais. Para ele, o transplante de medula óssea
seria o ideal.
— Ele me disse. Torço todos os dias para conseguir um doador.
— Eu me candidatei — anunciei. — Amanhã farei o exame de sangue para saber
se posso ser doadora.
Seu sorriso abriu caminho pela ruga de preocupação que surgiu em seu rosto.
— Você vai mesmo fazer isso? Não quero que faça por mim.
— Não, Lucca, não estou fazendo isso por você, e sim pela Sophia, que é uma
criança adorável. Mas também por mim mesma. Se posso, por que não? É só
uma possibilidade. Que seja compatível.
— Eu sei, amor, mas quem sabe, se você não for compatível com ela, pode ser
com outra criança ou adulto. Se todos soubessem o quando é importante ser um
doador, seja de Medula Óssea ou de sangue, e até mesmo de órgão, tantas e
tantas vidas poderiam ser salvas. Só temos que ter a informação certa ou ter mais
campanhas de divulgação para o quanto as doações são importantes.
— Você está certo, amor. O médico me disse que não há quase restrições para
esse tipo de doação. O mais importante é estarmos bem de saúde, por isso é
necessário colher uma amostra de sangue.
— É o que digo, amor. Falta muita informação ou falta de interesse em procurar.
— Mas a falta de informação ainda acho que é o pior. Muitas pessoas pensam
que uma doação dessa pode prejudicar a saúde, ter alguma doença ou coisa do
tipo.
— É, branquinha, o problema poderia ser bem menor se pelo menos metade da
população tivesse informação, vontade de apreender, de ajudar, de fazer
diferente, nem que seja uma coisa que achamos banal. Para outros, esses gestos
são muito importantes.
Lucca era um homem entre mil. Eu me apaixonava por ele todos os dias, e ele
não precisava fazer nada de especial. Eu podia ser nova, mas o amor que sentia
era verdadeiro. Sem aquele sentimento, talvez eu me perdesse dentro de mim e
isso me assustava muito.
— Você vai comigo amanhã fazer o exame? — perguntei enquanto ele estava
perdido em pensamentos.
— Amanhã eu não posso. Meu advogado vem aqui para conversamos. Seria bom
se você estivesse em casa. Ele quer conversar sobre a briga com a Giovanna.
— Terei que adiar o exame.
— Não. O exame é mais importante. Ele espera você chegar.
— Você tem certeza, Lucca? Não quero te atrasar nas suas coisas.
— Não é atraso algum. — Ele me deu um selinho e levantou, me puxando junto.
— Vamos continuar essa conversa lá em cima.
— Lá em cima a gente faz tudo, menos conversar — afirmei enquanto ele me
empurrava em direção à escada, beijando meu pescoço.
— Então vou te mostrar como senti saudade de você.
— Eu não vejo a hora.
Ele me virou e me encostou na parede, olhando em meus olhos.
— Eu tenho plena certeza disto.
Então me beijou daquela forma intensa, que me fazia perder o pensamento. Já
sabia que a noite seria longa. Mais uma vez ele suspendeu meu corpo pela
cintura, entrelacei minhas pernas em seu tronco e ele subiu as escadas sem
dificuldade alguma. Enfim eu estava em casa, nos braços do meu italiano, no
meu paraíso particular.

(...)

Eu já estava há horas sentada nessa sala, esperando o resultado do exame. Soava


frio, mas não sabia se era de nervoso ou medo, talvez ansiedade. Tomei um
pouco d’água, sentindo minha garganta seca, arranhando cada vez que engolia.
O médico disse que em uma hora sairia o resultado, mas já estou ali há quase
três horas. Com certeza tinha alguma coisa de errado. Aquela demora era
torturante.
Me levantei para ir até a rua tomar um ar, pois a espera estava me sufocando.
— Senhorita Ferraz. — O Doutor Marcelo Marchioretto veio em minha direção.
— Me desculpe a demora, tive problemas com um paciente.
— Imagina, doutor Marchioretto, eu entendo. O senhor já tem o resultado?
— Sim. Vamos até a minha sala.
— Claro.
Seguimos pelo corredor até a sua sala, que não era muito grande, porém, tinha
tudo o que um médico necessitava. Era uma sala estéril como toda a sala de
hospital, e àquela altura até aquilo me incomodava. Ele olhava uns papéis
atentamente, enquanto eu, segurava minhas mãos unidas, tentando disfarçar o
quanto aquela espera estava mexendo com os meus nervos.
— Bom, Senhorita, sua saúde está perfeita, as taxas estão ótimas, colesterol,
tiroide... Bom, estão todos ótimos. — Soltei a respiração que nem sabia estava
segurando, pois graças a Deus estava tudo bem. — Porém...
— Eu não sou compatível com a Sophia? — perguntei, cortando seja lá o que ele
diria.
— Não é isso. Para saber se é ou não, será feito um exame mais detalhado
amanhã. O exame de hoje foi apenas para termos certeza da sua saúde.
— Então, qual o problema?
Não sabia se realmente queria saber, mas fiz a pergunta mesmo assim.
— O exame mostrou uma alteração na produção de HCG, então pedi que
repetissem o exame, e foi esse um dos porquês dessa demora.
— E isso quer dizer o quê?
— Vai ser preciso um exame mais detalhado, talvez uma ultrassonografia, mas
tudo indica que você está grávida. Esse exame mostra exatamente a
concentração do HCG no sangue. Uma gravidez é considerada quando a mulher
tem pelo menos 25 IU/l de hCG no sangue, e o seu está acima de 50 IU/I.
— Gra-Grávida?!
Minha voz saiu quase que em um sussurro. Era tudo o que eu não precisava
nesse momento.
Meu mundo parou e senti a sala rodar e minha respiração parar. Provavelmente
perdi algumas batidas do meu coração. O médico me empurrou um copo e eu o
peguei, tremendo. O pavor tomou conta do meu corpo.
— A senhorita está se sentindo melhor?
Eu não sabia como responder àquela pergunta.
— O senhor tem certeza disso? — perguntei, tentando me manter coerente.
— Como eu disse, precisa ser feito um exame mais detalhado para determinar de
quantas semanas você está, porém, tenho total certeza de que está grávida. O
exame de sangue tem 99% de chance de estar correto. Seu hCG está muito alto,
o que o torna praticamente incontestável.
Eu não sabia o que estava sentindo. Na verdade, me sentia mais sufocada do que
minutos atrás.
Precisava sair dali e pôr minha mente em ordem. Não sabia se contava para o
Lucca ou esperava ter 100% de certeza. Ou eu já tinha toda a certeza que
precisava e estava apenas deixando o medo me domar?
— Eu preciso ir Doutor — disse, já me levantando, obrigando minha mente a dar
os comandos corretos para minhas pernas, mas parei no caminho. — Dr. preciso
que mantenha esse resultado em total sigilo. Quero eu mesma contar ao pai.
— Claro. Sigilo de médico e paciente. A senhorita tem todo o direito.
— Obrigada por tudo, doutor Marchioretto. Tenha um bom dia.
— Não esqueça de procurar um obstetra a fim de poder cuidar da gravidez e
tomar as devidas precauções.
— Claro, Doutor, farei isso. Obrigada.
— Tenha um bom dia, senhorita. Se precisar de alguma coisa, me procure.
Ligarei avisando o resultado de compatibilidade.
— Obrigada, Dr.
Saí da sala ainda atordoada.
Grávida. Eu estava grávida.
Meu Deus, o que seria de mim? Eu não estava pronta para isso. Não sabia se
conseguiria encarar tal responsabilidade.
Fui até o banheiro e lavei meu rosto. Olhando-me no espelho, constatei que era a
mesma Melissa de mais cedo.
Claro que você é a mesma. Está gravida, não criando chifres, minha consciência
ralhou comigo.
Acariciei minha barriga, onde havia um bebê. Estava perdida.
Saí do banheiro e quase trombei com uma mulher perto de mim.
— Me desculpe. — Levantei o rosto para olhar a moça e congelei. Era só o que
me faltava.
Giovanna me olhava com um sorriso no rosto.
— Precisamos conversar — ela disse polidamente.
— Não tenho nada para falar com você.
— Sim, você tem.
Ela olhou por cima do meu ombro, segui seu olhar e vi um homem alto, forte e
careca se aproximar. Giovanna saiu e o homem parou ao meu lado.
— Não faça escândalo, vamos agora.
O homem disse, segurando meu cotovelo, abriu o paletó e me mostrou a arma.
Senti meus joelhos fraquejarem e meu corpo tremer. Cruzei os braços para tentar
esconder meu medo e saí andando com aquele homem. Justo naquele dia, seu
Carlos não pôde ir comigo, e a idiota, no caso eu, dispensei o segurança. O tanto
que Lucca me avisou para não sair sozinha... Mas eu tinha que ser teimosa.
Capítulo 32

Melissa Ferraz

Estava de cabeça cheia, já não sabia o que fazer da minha vida com a notícia da
gravidez. Havia acabado de ser deixada pela Suzy plastificada e seu enorme
segurança armado a um quarteirão da mansão. Admito que morri de medo de ela
fazer algo contra mim, afinal, já tinha mostrado o quanto era desequilibrada, mas
meu filho e o amor de Lucca me fizeram concordar com tudo o que ela quis.
Lucca era o homem que eu amava e sentia que esse grande amor era recíproco.
Ele me amava. Tudo o que Giovanna disse podia ser mentira. Eu contaria tudo
para ele e acharíamos um jeito de resolver, e com toda certeza ele aceitaria o
nosso pequeno. Não viria em uma hora boa, mas ele não tinha culpa, não nos
protegemos. Com tanta coisa na cabeça, esqueci da minha injeção de
anticoncepcional.
Olhei os portões grandes da mansão e respirei fundo. Eles se abriram e fui
entrando a passos lentos até a porta da frente. Mais uma vez inspirei e soltei o ar,
entrando e encontrei a Grazi, que limpava a casa.
— Grazi, boa tarde — Sorri para deixar transparecer meu desespero.
— Boa tarde, Mel.
— Você sabe do Lucca?
— Ele está no escritório.
— Obrigada, Grazi.
Caminhei até o escritório com medo, mas precisando resolver tudo, ou acabaria
ficando louca. Não queria ter que fazer o que Giovanna mandou, não queria dar
as costas e deixar Lucca. Torcia para que desse certo arrumar tudo sem estragos.
A porta estava entreaberta, hesitei em bater, até ouvir um pouco do que eles
falavam.
— Tio, você sabe que já deveríamos ter contado.
— Eu sei muito bem disso, Igor, só não encontrei o momento certo para falar.
— Melissa não foi embora quando descobriu de Sophia, por que iria agora?
Igor cobrava alguma coisa de Lucca e, seja o que fosse, parecia temer muito a
minha reação. Depois de tudo, não seria fácil sair dali, ainda mais com um
pedaço do nosso amor crescendo dentro de mim. Uma outra voz me chamou a
atenção.
— Não é possível que a menina vá embora por ter vindo viver aqui, apesar de
não ser uma escolha dela.
— Acontece que impus que ela fizesse isso. Ela tinha uma escolha e eu fiz essa
escolha acontecer.
— Mas Marconni, a menina foi emancipada ainda no Brasil. Quem deveria ter
contado foi a tutora que você deixou cuidado dela lá, não era uma obrigação sua.
— O nome dela é Melissa, não a chame de menina — reclamou Lucca. —
Vamos voltar ao assunto. Eu vou conversar com ela no momento certo.
— Certo. A acusação existe. Melissa tem que comparecer para dar explicações
na delegacia. O correto era Giovanna retirar a queixa.
Fiquei estática ao ouvir que já era emancipada e todos sabiam. Eu não precisava
passar o que passei. Me empurraram para a Itália quando eu poderia escolher o
que fazer da minha vida. Mas que merda! Por que não me contaram? Por que
minha tia fez isso comigo?
— Marconni, o fato é que você assumiu publicamente um relacionamento com
essa menina, e isso pode resvalar no processo de adoção da Sophia. Não é
qualquer juiz que vai te dar a guarda, você sabe o quanto já está difícil. Ou a
Giovanna tira a queixa ou esse relacionamento volta a ser segredo.
O homem dizia cada palavra e fazia meu coração parar literalmente. Me afastei
da porta com minha respiração presa. As coisas eram, de fato, como Giovanna
disse. Ela tinha total razão. Minha atitude podia tirar Sophia do Lucca. Esbarrei
em um vaso e ele caiu, me fazendo pular. Saí em disparado para a cozinha,
sabendo que eles sairiam com o barulho e eu não queria ser vista naquele estado.
Acabei encontrando Grazi no caminho.
— O que aconteceu, Mel? Ouvi o barulho de algo quebrando.
Respirei fundo, precisando sair dali e tinha que ser rápido.
— Derrubei um vaso. Você recolhe os cacos grandes, por favor? Vou pegar a
vassoura.
— Claro.
— Vai lá. Não quero que ninguém se machuque.
Grazi saiu para a sala principal e eu corri para o lado de fora, pois pela frente eu
não conseguiria sair, então usei o portão de trás. Pietro disse que ele sempre
ficava aberto, então aproveitei. Corri, passando pelos arbustos, onde achei o
portão. Corri o mais rápido que pude e na pressa acabei o deixando-o aberto.
Tudo o que queria era sumir. As coisas estavam uma bagunça em minha cabeça.
Sentia as lágrimas rolarem pelo meu rosto logo que alcancei a avenida, e, por
sorte, passava um táxi que parou assim que acenei. Entrei no carro, me
derramando em cima do banco.
— Para onde, senhorita?
Essa era a pergunta de um milhão de dólares. Para onde eu iria?
— Só dirija. Eu já te falo para onde.
Não conhecia muita gente na cidade, mas em dado momento o rosto de Leo
brilho em minha mente.
Claro!
Saquei o telefone e disquei o número dele, que chamava continuamente, mas
sem atender. Tentei mais algumas vezes, até que ele finalmente atendeu, com a
voz ofegante.
— Leo, sou eu. Preciso do seu endereço.
— Aconteceu alguma coisa? — Sua voz mudou e ele ficou totalmente alerta.
— Eu te explico quando chegar — prometi. — O endereço, Leo, pelo amor de
Deus!
Minha voz estava muito alterada e eu percebi que gritava enquanto passava o
endereço para o motorista. Desliguei meu celular e me afundei no banco,
perdida. Acordei com uma vida, e no meio da tarde passou a porra de um
furacão que levou tudo. Por Deus! Era uma merda minha vida. Uma confusão de
mentira e chantagem.
— Senhorita, chegamos.
Limpei meu rosto com as costas da mão, peguei o dinheiro na bolsa e dei ao
taxista.
Desci do táxi e senti meu corpo reclamar, cansada e com fome. Não aguentava
mais chorar, afinal, já havia feito isso por uma vida inteira, apenas em um dia.
Toquei a campainha da casa, que ficava em um bairro de classe mais baixa, mas
parecia um lugar ótimo de se morar. Um rapaz moreno de barba foi quem
apareceu. Ele era alto e tinha um sorriso lindo, que foi dirigido a mim. Se eu
tivesse algum motivo, teria sorrido de volta, mas não consegui. Quando meu
amigo entrou na minha linha de visão, tudo o que consegui foi abraçá-lo e chorar
ainda mais.
Não sei como cheguei até o sofá, mas Leo me deitou em seu colo e acariciou
meu cabelo enquanto meu choro ecoava pela casa. Ele não disse nada. Apenas
me confortou independente de saber ou não o que estava acontecendo. Me
levantei, fitei seus olhos e ele sorriu.
— Leo... — Respirei fundo, tentando saber por onde começar.
— Não precisa dizer nada. Só estou aqui, minha flor.
— Eu preciso dizer, mas é tanta coisa que nem sei por onde começar.
— Pelo começo — ele disse com aquele sorriso cheio de conforto, diferente do
meu amigo espevitado. Naquele momento ali, estava seu lado de homem sério.
— Eu estou grávida — soltei e ele me olhou por um segundo, me puxando para
um abraço apertado em seguida.
— Isso é divino e maravilhoso. Por que essa tristeza toda?
— Sim, meu amigo — concordei, passando a mão por minha barriga. Estava
assustada, mas já amava o pequeno bebê. Talvez fosse a minha melhor
lembrança do Lucca. — Você será o melhor padrinho que ele, ou ela, vai ter. —
Sorri em meio as lágrimas.
— Você é minha diva, sabia? Vou amar ser o padrinho desse bebê lindo.
— Mas essa é a notícia boa. Quando eu estava deixando o hospital, a Giovanna
apareceu lá e disse que tínhamos que conversar. Claro que eu não quis, mas ela
estava com um segurança que parecia um armário e, para piorar, ainda estava
armado.
— Meu Deus, que perigo! — Leo falou, com a mão na boca. — Mas o italiano
gostoso não te deixa sair sozinha.
— Pois é. Seu Carlos não podia ir comigo e eu dispensei o segurança.
— E o que aquela louca queria?
— Ela disse que por eu tê-la atacado na exposição, poderia fazer o Lucca perder
a guarda da Sophia. Ela disse que se eu o deixar, retira a queixa, mas para isso eu
preciso voltar para o Brasil.
— Ela é louca. Isso é impossível. Mel, pelo amor de Deus, vamos para a mansão
resolver tudo isso. O Lucca e o Igor vão encontrar uma solução.
— Leo, ela está certa, não é loucura dela. Ele pode perder a Sophia por minha
culpa e não vou permitir isso.
— Amiga, as coisas não são assim.
— São sim! Eu pensei o mesmo que você, mas quando cheguei a casa, tudo o
que queria era contar para ele e tentar resolver as coisas, por isso fui até o
escritório e acabei escutando Lucca e o Igor conversando com um cara acho que
é o advogado dele.
— Você ouviu a conversa, mas o que que tem? O que diziam?
— Ele confirmou isso. O Lucca me assumiu publicamente e ninguém, nenhum
juiz, vai entregar uma criança para viver em uma casa que tem uma pessoa
desequilibrada.
— Você não é desequilibrada. Aquela mulher que é louca e te provocou.
— E não acaba aí. Eu descobri que sou emancipada, e não sei desde quando, ou
como isso aconteceu, mas minha tia sabia e nunca disse nada. — Eu já andava
pela sala, de um lado para o outro. — Eles me obrigaram a vir. Pelo que entendi,
eu tinha a escolha, mas os advogados não me disseram nada, apenas me
obrigaram a vir, e tudo a mando do Lucca. Eles deixaram claro, Leo, que
cumpriam ordens e as coisas iam ser daquele jeito. Você entende, Leo? Ele me
obrigou a estar aqui, e simplesmente resolveu que não era o momento certo de
me contar. Eu merecia saber e escolher.
— Eu sei Mel, mas o que é isso comparado a chantagem da Giovanna? Nada!
Você está grávida, viveu coisas lindas, encontrou o amor da sua vida, homem
esse que te ama.
— Ele me ama, mas não confia em contar as coisas para mim.
— Minha flor, seu desejo sempre foi ir embora. O que acha que passa na cabeça
dele? Aposto que ele acha que você precisava apenas de um motivo, mais nada,
para ir embora.
Leo tinha razão. Se eu soubesse, teria ido embora e talvez nada daquilo teria
acontecido. Eu não o conheceria e não viveria nossa história.
A campainha tocou, nos interrompendo.
— Deixe-me ver quem chegou.
Enquanto Leo foi abrir a porta, parei para prestar atenção em sua casa. Na sala
continha um conjunto de sofá, uma televisão e uma cozinha americana. Tudo
estava muito bem arrumado e limpo, com muita cor. Era um ambiente cheio de
vida, assim como meu amigo.
— Temos visita, minha linda.
Leo disse, voltando. Meus olhos ardiam e eu me sentia completamente esgotada.
O dia havia sido absolutamente enorme e o relógio não marcava mais do que
sete da noite. Tudo o que desejava era dormir e não acordar. Não suportaria ter
que fazer aquilo. Só de pensar, já me matava a cada segundo, mas era necessário
e seria feito. Olhei para Leo e nossa visita, que era uma pessoa que eu realmente
não precisava ver.
Depois de muita conversa com Leo, a omissão de Igor e Lucca era quase nada
comparado a todo o resto, mas era a minha única válvula de escape.
— Precisamos conversar, Melissa.
Igor estava parado, me olhando, parecendo cansado. Seu cabelo uma bagunça e a
respiração ofegante, como se tivesse corrido uma maratona. Estava com raiva,
mas ao mesmo tempo tão perdido... E, mais uma vez, minhas lágrimas se
fizeram presentes. Já havia chorando tanto que pensei que não teria mais
lágrimas. Eu devia gritar, devia mandá-lo à merda com suas desculpas, mas tudo
que fiz foi me jogar em seus braços e chorar. Ele me apertou em seus braços,
alisando meu cabelo, o corpo estava tenso. Leo murmurou uma desculpa e saiu
da sala dizendo que iria tomar um banho ou coisa do tipo.
— Calma, Mel, não precisa chorar tanto assim. Nada vai mudar. Eu vou te
explicar tudo.
Me afastei sem fitar seus olhos, não querendo que ele percebesse o tamanho da
minha dor. Sentei no sofá novamente e Igor sentou-se à minha frente.
— Não sei se tem algo para ser explicado — eu disse. — Ouvi o bastante sobre o
jogo de todos vocês, inclusive da tia que eu amava como uma mãe.
— Não é como você está pensando, Mel. Você ouviu apenas uma parte, então me
deixe explicar e depois você toma qualquer atitude.
— Fala, Igor. Eu estou cansada de tudo isso e tudo o que quero é dormir e
conseguir uma passagem de volta para o Brasil.
Os olhos dele quase entraram em órbita de tanto que os arregalou. Sua
mandíbula ficou em uma linha reta.
— Você não pode fazer isso, Melissa. Mataria o tio e, pior, morreria junto de
tanta culpa.
Eu tentei realmente soar indiferente com aquelas palavras, mas a verdade era que
eu os amava tanto que só de dizer tudo aquilo, tinha certeza que havia perdido,
pelo menos, mais um pouco da minha vida. Algumas batidas do meu coração eu
havia perdido ao ver a dor em seus olhos.
— Tudo o que ele fez foi ao meu pedido. Eu precisava de um motivo para ter
você perto, para poder me redimir. Sim, eu poderia ter ido até o Brasil, mas
quem me garantiria que você me receberia ou que me ouviria? A princípio, sim,
tudo é verdade. Depois que eles morreram, o certo era nós dois termos vindo
para a Itália, mas enfim, você não quis e eu achei ótimo. Na época, não tinha
coisa melhor do que me livrar de você.
Tudo sempre voltava à morte de minha mãe e do pai do Igor. Não importava
como, mas essa história girava e girava, e a gente parava no mesmo lugar.
— Essa história toda eu já sei, Igor.
— Eu sei, só deixe-me terminar — pediu. — Quando você completou 15 anos,
ele resolveu te emancipar. A tia foi contra e, por lei, menores de 16 anos são
pessoas incapazes de tomar decisões por si só. O tio era o nosso tutor legal,
mesmo assim, quando você resolveu não vir, ele não se importou muito. Fez uma
procuração lavrada em cartório de que, na ausência dele, a tia seria legalmente
responsável por você. Quando você completou os 16 anos, conseguiram, com a
ajuda de ótimos advogados, tanto os daqui quanto alguns do Brasil, sua
emancipação total. Dias antes de a tia morrer, ela ligou para o tio Lucca
contando que você não sabia da emancipação e que o desejo dela se morresse
antes de você ter seus 18 anos completos, era que ele trouxesse você para morar
aqui.
As coisas começaram a se encaixar na minha cabeça e todas as conversas que
tive com minha tia desde que ela ficou doente. Ela conseguiu manipular todos
como bem desejou, e eu não conseguia acreditar naquilo tudo. Ela me fez
prometer que viria para a Itália.
— Ela estava doente, Mel — ele continuou — e esse foi seu último pedido para
o tio. Quando ele me contou o que estava acontecendo, vi a oportunidade
perfeita em poder pelo menos conversar com você. Nosso plano era contar assim
que você completasse a maioridade e então você já teria convivido com a gente e
poderia escolher.
— E por que não contaram? Já se passou um mês.
— Eu sei, mas aí é que está. As coisas foram acontecendo e o tio achou que era
muita coisa para você lidar.
— O Lucca acha demais, Igor — acusei. — Talvez nada disso estaria
acontecendo se ele achasse menos.
Eu estava sendo dura. Sabia que a emancipação era apenas um detalhe no meio
de tudo, mas talvez, se eu tivesse sido informada antes, teria seguido o meu
desejo de voltar para o Brasil e viver a minha vida sozinha da melhor maneira
possível. Mas esse detalhe não me faria voltar, isso seria impossível de
acontecer. Estava feliz na Itália, prestes a construir uma família com o homem
por quem me apaixonei perdidamente. O resto era apenas o resto. Eu só
precisava pôr a cabeça no lugar.
— Eu entendo o que você quer dizer, mas se ele errou foi por me amar, Mel. E se
ele persistiu no erro, foi por amar você.
—Eu sei, Igor. Preciso pôr a cabeça no lugar, tentar entender as coisas. Mas não
quero vê-lo. Como você descobriu que eu estava aqui?
— Simples — começou. — Você não conhece ninguém além do Leo. Liguei pra
cá e ele disse que você estava vindo, então saí atrás de você.
— Entendo. Você se importa de ir agora e não dizer a ele onde estou?
— Ele precisa saber.
— Eu sei, mas apenas por hoje, eu te aviso quando você puder falar para ele
onde estou.
Igor não ficou nem um pouco satisfeito com meu pedido, mas teria que ser
daquele jeito. Levantei do sofá e ele também, abracei-o e pedi mais uma vez que
fosse embora. Caminhei até o portão com ele e permaneci por um tempo
olhando-o se afastar. Quando voltei para a sala, Leo estava me esperando, mas
logo foi até a cozinha.
— Flor, você precisa comer. Meu afilhado deve estar a horas sem se alimentar.
Fitei os olhos do meu amigo e confirmei com a cabeça. Sentei em um dos bancos
enquanto ele esquentava uma lasanha que estava com a cara ótima.
— Você acha que eu devo voltar para o Brasil?
— Eu acho, gata, que você deve comer, tomar um banho e dormir. O dia foi
longo, flor. Amanhã você pensa nisso com calma — ele aconselhou, sorriu e
beijou o topo da minha cabeça. — Só saiba que não importa o que decidir, você
terá o meu apoio.
— Obrigado.
Eu fiz exatamente o que meu amigo disse. Comi, tomei um banho e me deitei no
sofá. Apesar de o Leo insistir para que eu fosse para a cama, recusei, precisando
ficar sozinha para pensar. Assisti a noite virar dia, e eu já sabia o que fazer.
Precisava apenas da ajuda de algumas pessoas. Peguei o celular e mandei uma
mensagem para o Igor, pedindo que ele fosse até a casa do Leo junto com o
Lucca. Precisávamos conversar e ele disse que ia localizar o Lucca e avisar para
encontrá-lo lá.
Tomei um banho e vesti minha roupa, resolvendo sair para achar uma padaria.
Imaginando que os bairros italianos não fossem tão diferentes do Brasil, não
seria difícil. Leo ainda estava dormindo e eu, para variar, estava morrendo de
fome. Na rua, logo avistei uma padaria e comprei tudo o que tinha que comprar.
Quando estava chegando na casa do Leo, quase caí pisando em falso na calçada,
mas senti uma mão me segurar antes que desse de cara no chão. Olhei para o
meu salvador e sorri.
— Você sempre diz que tem dois pés esquerdos. Agora eu entendi o porquê.
— Viu? Eu não menti, Pietro.
— Eu estava preocupado, garota. A mansão está uma bagunça.
Eu o abracei. Pietro era um cara incrível.
— Claro que está.
Escutamos um barulho de moto arrancando dali de perto, e Pietro foi tão rápido
ao me colocar para trás e me segurar para que não caísse, que fiquei
impressionada com sua agilidade.
— Merda — ele resmungou.
— O que foi?
— Era o chefe.
— O Lucca?
Meu celular tocou na bolsa antes que Pietro respondesse. Era o médico,
provavelmente para me dar o resultado do exame de compatibilidade. Atendi
rapidamente o celular. Só esperava que ele tivesse uma boa notícia. Minha cota
de coisas ruins já havia acabado.
Capítulo 33
Lucca Marconni

Estava tão feliz que comecei a ficar com medo. Por algum motivo, tudo estava
caminhando bem com Melissa, e, mesmo com todos os problemas agregados,
estávamos conseguindo nos entender. Sentia-me de um jeito que não conseguia
explicar, pelo simples fato de nunca ter me sentindo daquele jeito antes. Um
sentimento diferente. Amor demais, cuidado demais, paixão demais, felicidade
demais, tudo com Mel parecia ser demais. Ou era oito ou oitenta. Minha menina
era muito intensa, mas tinha que dizer, que, quando ela saiu pela manhã, meu
coração parou de bater e me senti sufocado. Ela foi fazer o exame de
compatibilidade com Sophia, e isso me deixou muito ansioso. Conversei com
Sophia pelo telefone e ela estava radiante, não falou mais nada, além do quanto
Melissa era legal, de que deu uma boneca linda para ela e brinquedos para todos
os seus amigos. Ficou triste por saber que eu não a visitaria, mas era uma menina
tão boa que no minuto seguinte estava sorrindo. Quando confirmei que iria no
dia seguinte e íamos fazer muitos biscoitos, e se tudo desse certo, Melissa iria
também aprender a fazer biscoito, ela sorriu e desligou o telefone com uma
enorme felicidade. Essas duas mulheres são meu ponto de paz.
Tomei uma decisão olhando Melissa dormir tranquilamente em meu braço na
noite anterior. Iria contar de sua emancipação e, se ela ficasse brava demais, eu a
acalmaria e faria o pedido de casamento. O fato era que eu não podia mais viver
sem Melissa, e Sophia precisava de uma mãe. Eu amava as duas
incondicionalmente e não viveria sem uma, muito menos sem a outra. Estava
decidido a parar de tratar Melissa como criança e diria a verdade, torcendo para
que ela entendesse tudo. Se isso não acontecesse, eu a prenderia no quarto e a
faria entender o quanto eu a amava.
— Tio, tem alguém aí?
Igor está parado na minha frente, me trazendo de volta de meus pensamentos.
— Sim, Igor.
— O Dr. Norberto está vindo pra cá. Vou apenas tirar este terno. Eu gostaria de
participar dessa conversa.
— Claro. Vou ficar aqui no escritório mesmo. Avise a Graziela que o Dr.
Norberto está vindo e peça para ela encaminhá-lo pra cá assim que chegar.
— Claro, tio. Está tudo bem?
Ele me fitou pouco antes de sair e confirmei sua pergunta com um aceno de
cabeça.
Dr. Norberto era um dos advogados mais competentes que eu conhecia. O cara
dava nó em pingo d'água e eu não pensei duas vezes quando o chamei para
cuidar da adoção de Sophia. Ficou acertado que eu conseguiria a guarda dela
primeiro e em seguida daríamos entrada no processo de adoção. Estava contando
com isso, afinal, quando resolvi que Sophia seria minha filha de verdade, foi
pensando em construir minha família, apesar da minha fama de baladeiro e uma
vida cheia de mulheres.
Tudo mudou quando coloquei meus olhos em Mel. Ela fez a minha vida toda
mudar.
Uma batida na porta me tirou novamente da confusão que estava a minha mente.
— Senhor Marconni, o Dr. Norberto acabou de chegar.
— Mande-o entrar, Graziela, e chame o Igor, por favor.
— Sim senhor.
Ela deu espaço e meu advogado entrou em meu escritório. Norberto não tinha
mais que 45 anos, e era um dos advogados mais procurados de toda a Itália. Ele
tinha um escritório em cada ponto do país.
— Boa tarde, Marconni.
— Boa tarde, doutor. Vamos apenas esperar o Igor.
Igor não demorou a aparecer. Eles se cumprimentaram e conversamos sobre
alguns processos que estavam em andamento, referente aos hotéis. Começamos
com coisas que não eram necessárias, mas para todos aqui parecia um bom
começo. Amenidades e depois o que realmente importava. Como até onde a
loucura da Giovanna foi capaz de chegar. Eu conversei com ela, e era uma das
muitas coisas que tinha que contar para Melissa. Liguei e ela estava
completamente fora de si, mal me ouviu, apenas me xingou de todos os nomes
possíveis, faltando só me chamar de santo. Sorri com o pensamento. Eu não
conseguia entender a que ponto ela chegou por um cara como eu, que sempre fez
o favor de falar em sua cara que era apenas sexo.
O assunto mudou e caiu na emancipação. Claro, eu enrolei para contar, querendo
achar o momento certo. Sabia que estava sendo infantil. Para completar a merda
toda, ainda tinha a denúncia da Giovanna. Precisava fazer com que ela retirasse a
queixa contra Mel, tendo a certeza de que passaria por esse processo sem pensar
duas vezes, porém, tinha Sophia. Estava entre as mulheres que mais amo e não
me sentia disposto a perder nenhuma das duas. Me remexi na minha cadeira,
tenso demais, sentindo meu sangue correr bem mais rápido em minhas veias.
Reverteria isso nem que fosse a última coisa que eu fizesse, nem que tivesse que
enrolar Giovanna de uma maneira mais sórdida.
Eu não mediria esforços.
Um barulho na sala nos assustou. Por Deus, estavam colocando minha casa
abaixo, não era possível.
Saímos do escritório para ver o que estava acontecendo e encontramos Graziela
ajoelhada pegando os cacos do vaso que ficava em uma das mesinhas da sala.
— O que aconteceu aqui, Graziela? — Igor perguntou, se abaixando para ajudá-
la.
— A Srta. Melissa derrubou o vaso, seu Igor. Ela foi pegar uma vassoura,
mesmo eu insistindo para que deixasse. Ela fez questão de ajudar. — Ela me
fitava, ainda que falando diretamente com o Igor.
— Melissa estava aqui? — perguntei apreensivo.
— Sim, senhor. Ela chegou da rua e foi até o escritório falar com o senhor.
— Ela não estava no escritório, Graziela! — Minha voz saiu mais alto do que o
necessário, até mesmo dura. A menina não tinha culpa. — Para onde ela foi?
— E-Ela foi para a lavanderia, senhor.
Ela gaguejou para poder me responder e eu saí a passos largos para a lavanderia,
não a encontrando. Procurei no deque e nada, também. A raiva lambendo minha
sanidade devagar e lentamente, e o pior, não era dela que eu estava com raiva.
Olhei além do deque e lembrei do portão que ficava na parte de trás da mansão.
Corri para lá sem me preocupar com as câmeras, passei pelos arbustos sentindo o
espinho das rosas, mas o sentimento de desespero que estava tomando conta do
meu corpo era bem maior que essas beliscadas dos espinhos.
Tinha um caminho certo para chegar no portão sem se machucar, mas não estava
pensando nisso. Quando cheguei ao portão, o encontrei aberto e fui direto para a
rua, olhando para os dois lados e não encontrando sinal de Melissa. Corri para a
avenida na esperança de encontrá-la, mas foi em vão. Voltei para casa correndo,
ainda não havia sinal de Melissa.
Porra. Fodi com tudo de novo. Como eu era imbecil. Idiota demais.
O que faria? Melissa não conhecia nada nem ninguém na cidade, e além de tudo
tinha dinheiro e era maior de idade, podia voltar para o Brasil quando quisesse.
Entrei em casa e encontrei Igor ao telefone, e Pietro me olhando com
desconfiança.
— Quem foi o segurança que saiu com Melissa?
Eu estava me segurando para não acertar a cara do filho da puta. Ele não tinha
nada que mostrar aquela saída para ela, a qual não tinha nenhuma câmera. Ela
soube exatamente por onde passar e não se machucar.
— Ela dispensou o segurança, senhor.
— Que porra! Como ela dispensou o segurança e você deixou?
— Senhor, eu não estava presente no momento.
— Porra! Eu pago para você cuidar da equipe de segurança, Pietro, não para
ficar passeando pela a casa.
— Desculpa, senhor — ele disse, desconfortável, se mexendo em seu lugar.
— Junte uma equipe. Quero todos procurando por ela, quero as imagens das
câmeras que a filmaram chegando, ela saindo... tudo! Todas as imagens que
tenha Melissa, de todos os lados da mansão.
— Tio...
— Agora não, Igor. Eu estou saindo e você vai procurar por ela também. Melissa
pode ter ouvido tudo e a agora é possível que esteja na porra do aeroporto.
Saí sem esperar que ele respondesse e subi para meu quarto correndo, sentindo
meu corpo tremer. Estava com uma vontade enorme de chorar, mas não iria. Isso
não estava perdido, eu precisava encontrá-la e então poderia me explicar e,
talvez, apenas talvez, conseguisse arrumar toda a bagunça.
Coloquei meu tênis, respirei fundo e deixei o quarto, pronto para dar um jeito em
tudo e trazê-la de volta. Igor já não estava mais em casa, o segurança me avisou
que Pietro e ele já haviam saído e que as imagens das câmeras estavam sendo
recolhidas. Saí com a minha moto, não sabendo ao certo por onde começar, mas
precisando resolver o problema.
Meu Deus!
Eu tinha que achá-la.
Virei Roma de cabeça para baixo e não a encontrei. Estava parado no posto de
gasolina, meu relógio marcando três da manhã e já não tinha mais rumo. Não
queria ir para casa, não queria chegar lá e não encontrá-la. Não queria entrar em
meu quarto e não ver seu sorriso. Merda!
Meu celular tocou novamente pela milésima vez naquele dia. Olhei no visor e o
rosto de Igor estava lá. Eu o amava, mas não queria falar com ninguém. Se não
haviam a encontrado, para que ficar me ligando a todo momento? Ignorei
novamente e olhei para o nada, passando um tempo a encarar o céu. O frio da
noite não me incomodava. Meu corpo estava ficando mais gelado a cada golpe
do vento e sentia meu coração apertado, parecendo que eu morreria a qualquer
instante. O dia foi clareando e a cidade foi acordando. Tudo o que eu queria era
saber onde ela estava, como passou a noite... Talvez ela estivesse com frio e com
fome, e a culpa era toda minha. Eu não merecia o amor daquela mulher. Meu
celular tocou novamente e já passava de sete da manhã. O número do médico de
Sophia apareceu e tive a sensação de que meu coração perdeu uma batida.
Atendi logo que consegui respirar novamente.
— Aconteceu alguma coisa com a Sophia? — perguntei assim que atendi a
ligação.
Que Deus permitisse que pelo menos ela estivesse bem.
— Bom dia, Senhor Marconni. Sim, está tudo bem com a Sophia. Na verdade,
estou ligando para conversar com o senhor. Eu sei que é cedo, mas tenho certeza
que o senhor gostaria de dar essa notícia para a menina Sophia pessoalmente.
— Doutor, não estou entendendo. Será que o senhor pode ir direto ao ponto? —
Toda a minha impaciência e frustração com certeza ficou evidente.
— Bom, senhor, estou ligando para dizer que finalmente conseguimos alguém
compatível com Sophia. Vamos poder fazer a operação.
Aquelas palavras me deram a motivação que eu tanto precisava para continuar.
— Que ótima notícia, doutor — comemorei. — Quando faremos a operação? O
doador, quem é?
— Então... O senhor sabe que a doação vem de todo o lugar, e essa foi mantida
em sigilo. O doador não quer ter seu nome revelado quanto ao procedimento.
— Isso não importa. Me diga como vamos proceder agora.
Pela primeira vez desde que acordei no dia anterior, senti felicidade. Pela
primeira vez senti vontade de sorrir. Fiquei com o médico no telefone por mais
de uma hora e ele me explicou como seria o procedimento. Para completar
minha felicidade, só precisava encontrar Mel, a nova mãe da Sophia. A mãe que
eu escolhi. Ela amaria a notícia de que nossa menina ficaria bem.
Entrei na loja de conveniência e pedi um café. Voltaria a procurar Melissa e iria
até o hospital nem que fosse à noite. Veria Sophia ainda naquele dia.
Quando meu telefone tocou novamente, antes de eu partir com a moto, resolvi
atender.
— Achou a Melissa?
Não tinha porque fazer rodeios.
— Sim, graças a Deus.
— Me manda por mensagem o endereço de onde ela está. Estou indo para lá.
Desliguei o telefone sem esperar pela resposta dele. Deus escutou minhas preces.
Sophia seria curada e Melissa estava a salvo. Nem tudo estava perdido e
agradeci a Deus por me escutar. Quando olhei o celular e li o endereço, o
reconheci e vi que era do outro lado da cidade, num bairro de classe baixa.
Aonde você foi se meter, meu amor?
Subi na moto e segui no meu caminho, meu corpo pedindo descanso. O cansaço
da noite em claro começava a se fazer presente. Acelerei mais a moto, esperando
que o vento levasse com ele a exaustão. Tinha que estar bem para conversar com
ela e explicar tudo. Não era digno de seu perdão, e sabia disso. Não merecia seu
amor, não confiei nela por duas vezes, agindo de forma infantil. Mas eu a amava
e queria me casar com ela. Para que tudo fosse real, não podia haver mentiras.
Eu teria que contar tudo, até o que eu achava irrelevante. Ela viveria o resto de
sua vida ao meu lado e merecia saber de absolutamente tudo.
Parei a moto quando cheguei na tal rua. Conferi o número da casa no celular, e,
quando ergui a cabeça, foi como ter meu coração cortado em pedaços. Senti
como se enfiassem uma faca em meu peito, numa dor que já conhecia, pois havia
experimentado antes, a um tempo atrás.
Mas dizem que a dor da traição jamais é esquecida. Ela pode até não ser
lembrada com frequência, mas você sempre a terá em seu peito.
Melissa estava com Pietro. Ele a segurava pelos braços e eles sorriam, felizes,
como um casal perfeito. Senti meu corpo tremer, a raiva tomou conta de mim.
Talvez eu fosse o motivo do sorriso deles, ou talvez ela tivesse feito a melhor
escolha de sua vida, trocando o errado pelo certo.
A quem eu queria enganar?
Eu não era o cara bom que pintavam. Giovanna era quem estava mais próxima
da realidade de quem era Lucca Marconni. Liguei a moto e saí dali o mais rápido
possível. Veria Sophia, a única mulher que valia a pena confiar. Eu a ensinaria a
nunca confiar em ninguém. Sophia seria menos idiota que o pai.
Acelerei a moto, sentindo as lágrimas que eu tanto segurava nublarem minha
visão. Engoli em seco, empurrando-as para longe, cortando os carros à minha
frente. Se eu tivesse feito diferente, talvez não a tivesse perdido. Talvez, se eu
tivesse falado antes, ela não o teria escolhido, porra!
Cortei mais um carro e minha visão foi bloqueada por um caminhão que vinha
na outra mão. Consegui puxar a moto antes que batesse e escutei um estrondo.
Pneus cantaram ao meu redor e escutei um grito quando a moto colidiu com um
dos carros. Meu corpo foi projetado para frente, passei por cima do carro, senti o
impacto da minha cabeça batendo contra o chão e algo quente escorrer pelo meu
rosto. De repente, tudo começou a escurecer. Ouvi vozes altas gritando ao meu
redor, meus olhos pesaram, respirei fundo e tentei atender a voz que me dizia
para não dormir, mas o cansaço dominou a minha mente e tudo que conseguia
ver foi o sorriso dos meus dois anjos, Melissa e Sophia.

(...)

Acordei com minha cabeça latejando, pisquei algumas vezes para me acostumar
com a claridade do lugar e senti minha boca seca. Precisava tomar água
rapidamente. Um bip ritmado soava em meus ouvidos, e quando consegui
finalmente firmar os olhos abertos, dei de cara com a minha perna levantada em
uma tipoia, um gesso e o que parecia ser ferros. Que merda era essa? Fechei os
olhos novamente e a cena veio claramente em minha cabeça. Um caminhão, um
carro rodando na pista, muitas buzinas, eu andando muito rápido... Não deu
tempo nem de pensar em freia ou pular. Só me lembrava de voar por cima do
carro. Meu Deus! Eu poderia ter morrido. O bip perdeu o compasso, soando
mais rápido, meu coração também bateu mais rápido. Eu quase morri. Melissa e
Pietro surgiram juntos na minha mente e eu não entendia. Ela era minha ou não?
A confusão se fez presente, tentei puxar a perna, mas senti uma dor aguda que
me fez parar no mesmo instante.
— Tio.
Igor apareceu no meu campo de visão. Eu queria falar, mas o cano que estava na
minha boca não deixava.
— Calma, tio.
Calma? Como ele me pedia calma?
Eu estava com minha cabeça doendo. Na verdade, todo o meu corpo doía. Estava
com sede e o maldito bip não parava. Estava alto demais, rápido demais. Pessoas
de branco apareceram ao meu arredor, todos falando juntos que eu não conseguia
compreender uma só palavra. Eu ainda ouvia Igor falando em algum lugar, mas
logo o sono retornou e uma névoa preta tomou conta da minha mente de novo,
me arrastando para a escuridão.

(...)
— O que a médica disse?
— Ela disse que ele vai ficar bem. Teve muita sorte por ter quebrado apenas uma
perna e só um corte no supercílio.
— Foi tão grave assim?
— Sim, Giu. Ele poderia ter morrido. Estava a quase 300 quilômetros por hora, e
se não fosse o capacete e a mão de Deus que o segurou, ele provavelmente não
estaria aqui nesse momento.
— Ele deu alguma resposta?
— Ele acordou, mas ficou muito agitado e a médica achou melhor sedar
novamente. Vão retirar o tubo amanhã de manhã e provavelmente quando ele
acordar novamente, já poderá falar. Não sei o que passou. Talvez, se eu estivesse
perto dele... Ele sempre olhou por mim, e agora eu que preciso olhar por ele.
Escuto essas vozes como um sussurro, mas posso ouvir. Se não fosse esse
maldito bip, eu poderia entender do que aquelas pessoas diziam. Senti uma mão
em cima da minha, minha boca tão seca que minha garganta arranhava. Apertei a
mão que segurava a minha, abri meus olhos devagar, a claridade queimando
meus olhos e minha cabeça continuava a latejar. O rosto do Igor apareceu na
minha frente, ele parecia não ter dormido, estava com os olhos vermelhos.
— Tio, tenha calma, eu estou aqui e está tudo bem.
— Parece que ele quer fala algo. — Giulia se fez presente também no meu
campo de visão.
— Água.
Os dois se afastaram e tentei levantar a cabeça, mas ela estava doendo tanto que
parecia ter uma placa de aço em cima. Algumas pessoas apareceram ao meu
redor, uma mulher loira do cabelo escorrido chegou mais perto de mim e sorriu.
— Bem-vindo de volta, senhor Marconni. Eu sou a Doutora Anna Albertini. O
senhor está em um hospital.
Olhei para aquela mulher, e, se eu pudesse falar, diria para ela pular aquela parte
porque isso eu já havia entendido.
— Vou lhe dar dois goles de água assim que retirar esses aparelhos do seu corpo
— ela prometeu, para meu alívio.
Apenas assenti com os olhos e eles começaram a tirar todas aquelas coisas do
meu corpo. Fiquei quieto, apenas esperando aquilo tudo acabar. Eu me lembrava
do acidente, mas não entendia a imagem de Mel e Pietro tão juntos. Aquilo não
era normal, a gente estava bem.
Eles terminaram de retirar todas aquelas coisas e finalmente a merda do bip
parou.
— O senhor está se sentindo bem? — a tal mulher perguntou e só poderia ser
uma retórica.
— Estou com sede e a minha cabeça dói.
— Certo. Vou te dar um pouco de água, mas tome aos poucos. Vou lhe dar um
remédio para cessar sua dor. Irei refazer alguns exames.
Uma outra mulher apareceu com um copo de água e me deu aos poucos. Parecia
que estava uma vida inteira sem água. A Dra. Começou a me examinar, ergueu
um pouco a cama, fez os exames de reflexos e tudo o que achou necessário.
Quando ela terminou, autorizou a enfermeira a me dar um medicamento, ao qual
tomei com total prazer, já não aguentando minha cabeça latejar daquele jeito.
— Bom, senhor, seus reflexos estão ótimos, a pancada na cabeça parece não ter
afetado nada. Os exames feitos anteriormente não mostraram presença de
coágulo, e, tirando a perna, está tudo ótimo.
— E quanto à minha memória? Eu lembro do acidente, mas não consigo lembrar
o porquê?
— O senhor chegou até o hospital desacordado, com um ferimento em seu
supercilio. Fraturou a tíbia da perna direita e foi implantado uma haste
intramedular, juntando assim o local que foi rompido.
Ela falava e falava, e tudo o que eu entendia era que eu tinha pinos em minha
perna.
Merda! Aonde diabos eu estava com a cabeça?
— E quando poderei sair daqui?
— Será realizado outros exames e se tudo correr bem, amanhã o senhor terá alta.
A recuperação dura em média de 3 a 6 meses, as primeiras semanas o senhor
ficará andando de muleta sem forçar a perna, até começar a fisioterapia. Depois é
vida normal.
— Doutora, eu não consigo me lembrar com clareza o que aconteceu antes do
acidente.
— Isso pode ser reflexo da forte pancada na cabeça, mas o senhor se lembrará de
tudo.
— Obrigado, doutora.
— Estou aqui apenas fazendo o meu trabalho. O senhor tem uma dívida maior
com Deus. Se tem algum responsável por nós estarmos tendo essa conversa, esse
alguém é Deus. Ele com certeza salvou a sua vida, senhor Marconni. Seus
familiares estão aqui para vê-lo, com licença.
Ela se afastou e eu só conseguia pensar que poderia ter morrido. Deus me deu
mais uma chance, talvez em algum momento dessa vida estranha que tive eu
realmente tenha feito algo bom para alguém.
Igor e Giulia entraram no quarto após a saída da equipe médica. Ele me abraçou
apertado e a dor e desespero em seus olhos fizeram meu coração apertar. Ele era
o filho que nunca tive, mas o que me doía era ser o motivo dessa dor. Igor era
um homem forte em muitas coisas, mas nunca superou o medo da perda. Giu
apenas me fitou de longe, vi o alívio em seus olhos, mas a preocupação também
estava presente.
— Há quanto tempo estou aqui? — perguntei assim que Igor se afastou.
— Desde ontem. Umas vinte e quatro horas, pelo menos.
— Deus, parece uma eternidade — reclamei. — Vocês sabem alguma coisa do
acidente? A minha mente está meio falha.
— Sabemos, Marconni. Sabemos que você estava a quase 300 quilômetros por
hora. Estava tentando se matar? O que seria de nós? O que seria de Sophia?
Puta que pariu! Eu devia estar mesmo fora da minha mente. Sophia precisava
tanto de mim e eu brincando. Onde eu estava com a cabeça? Tinha que lembrar.
Eu precisava lembrar de tudo que aconteceu antes daquele acidente.
— Onde eu estava? Para onde eu estava indo quando tudo aconteceu? — Encarei
Giu, que trocou olhares com Igor.
— Vamos por partes. Primeiro vamos voltar para casa, meu caro. Você já deu
problemas demais em dois dias — Giu disse, usando o mesmo tom calmo e
controlado que ela usou quando quase destruí minha vida por causa de Camilla.
— A Giu está certa, tio. A médica disse que o melhor é não se agitar muito,
apesar do problema ser apenas a perna. Você colidiu muito forte com o carro e a
moto deu perda total.
— Foi tão grave assim?
— Sim, tio. As testemunhas disseram que você pilotava como um louco,
cortando os carros, até que um caminhão surgiu na outra mão. Você, apesar de
ter conseguido voltar, o caminhoneiro freou, o carro de trás colidiu nele e
rodopiou para a outra mão. Outro carro bateu e sua velocidade era tão alta que
não teve como frear.
Dava para sentir o medo na voz trêmula do Igor.
— Me perdoe, Igor. Eu... merda! Eu realmente não sei o que fiz. Não sei para
onde estava indo.
— Certo, Lucca precisa descansar. Depois, em casa, vamos sentar e conversar.
Tenho certeza que tudo vai ficar mais claro.
— E Melissa, onde está? — Eu havia acordado há horas, e os dois não tinham
tocado no nome dela ainda. — Ela sabe que estou aqui?
— Ela está com Sophia agora, e, sim, ela sabe. Todos sabem, está em todos os
jornais.
Fechei meus olhos fortemente, desejando que a escuridão me engolisse de novo.
Eu machuquei as pessoas que amo. Era uma colisão ambulante, desde muito
jovem.

(...)

Chegamos em casa depois de três dias naquele hospital. Eu ainda não lembrava
de muita coisa, Igor e Giu se revezavam para que eu não ficasse nenhum
momento sozinho. Mesmo eu falando que estava bem, os dois estavam lá. A Dra.
Albertini me garantiu que na recuperação era fazer tudo certo e daqui a pouco
estaria andando novamente. Melissa não apareceu em momento nenhum no
hospital, quando eu perguntava eles sempre tinham alguma desculpa para sua
ausência.
Entramos em casa e lá estava ela. Sorri quando seus olhos cruzaram com o meu,
mas Pietro apareceu junto com Graziela, e foi como um solavanco em minha
cabeça. Tudo voltou rápido demais. O escritório, meu advogado, o vaso
quebrado, a emancipação, o posto de gasolina, a ligação do médico de Sophia, e
Melissa sorrindo para Pietro.
Felizes. Eles estavam felizes.
Traição!
Foi isso que desencadeou a coisa toda e eu estava saindo de lá, indo ver Sophia e
contar que ela ia ser curada, mas tudo aconteceu tão rápido e depois o hospital.
— Lucca — Melissa falou, sorrindo. — Que bom que está em nossa casa.
— Na minha casa você quer dizer, né?!
— Tio! — Igor disse, me repreendendo.
— Igor, eu estou cansado. Pode me ajudar a ir para meu quarto.
Igor me olhou, incrédulo. Dava para ver em seus olhos.
— Claro, tio.
— Eu ajudo com a cadeira — Pietro ofereceu, se aproximando.
— Não preciso de ajuda sua. Você está demitido.
— Lucca, por que está demitindo-o? — Melissa perguntou. Que pergunta mais
imbecil. Por que seria, hein?!
— E você está fazendo o que aqui ainda, Melissa?
— Lucca por que está falando assim comigo?
— Porque você é como todas as outras. Pior, você é igual a Camilla. Por que não
volta para o Brasil? Você não precisa do meu dinheiro, você tem o bastante para
sumir daqui.
— Eu não vim para cá atrás do seu dinheiro, eu fui obrigada.
— Pois é. Por mim. Menti e omiti, está esperando o que para sumir e voltar para
o Brasil? Não é o que você sempre quis, desde que pôs os pés dentro da minha
casa?
— Sim, era tudo o que eu desejava, mas tudo mudou. Mesmo você me
escondendo fatos, as coisas mudam. Eu te amo e além de tudo, eu...
Soltei uma gargalhada sem humor.
— Me ama?! Muito conveniente. Volte para o Brasil, vá para onde você quiser,
mas suma da minha casa junto com esse aí.
— Lucca! — A voz de Giovanna foi ouvida por todos quando ela entrou na sala.
— Me perdoe não ter vindo antes, eu só consegui chegar em Roma agora.
Olhei para ela e dei meu melhor sorriso, aquele que ia fazê-la imaginar muitas
coisas.
— Giovanna, querida, bom te ver.
— Oh, Lucca.
— Vamos até o escritório. Precisamos conversar. Você está me devendo algumas
coisas.
Ela sorriu de forma sexy e em outros tempos sentiria meu pau responder no
mesmo instante, mas ele pertencia a outra pessoa. Dei espaço para que ela fosse
para o escritório, me virei para olhar Melissa, encontrando seus olhos tristes e
cheios de mágoa. Estava agindo de forma infantil e ridícula, não sabia o que
havia dado em mim, mas precisava pensar em Sophia, e Melissa poderia ser
muito mais feliz ao lado de Pietro. Sem mentiras, sem a tratarem como uma
criança ingênua. Ela é muito mais e merece muito mais.
— Tenha uma boa viagem, Melissa.
Me virei, dando-lhe as costas, e uma lágrima rolou pelo meu rosto.
Estava jogando fora a pessoa mais importante da minha vida. Senti meu coração
se apertar de uma forma esquisita, logo depois a porta bateu atrás de mim. O
barulho não sei se vinha da porta ou do meu coração, que estilhaçou-se
instantaneamente.
Continua...
O Italiano
Chamas do amor
Duologia Livro II

Capítulo 1
Melissa Ferraz

Olhei pela janela do avião e vi aquela imensidão sem fim, igual a minha dor.
Fechei meus olhos e mais uma lágrima rolou pelo meu rosto ao me lembrar das
conversas que tive com Igor, Pietro, Leo e Giu, que era a única coisa que me
dava força. Minha mente estava uma bagunça total, bem como meu coração
quebrado. Ouvir aquelas coisas não foi fácil, principalmente vê-lo totalmente à
vontade, se insinuando para aquela vaca plastificada. Eu vi a dor em seus olhos
quando ouvi todas aquelas palavras saindo de sua boca. Eu sei que ele e
Giovanna já não tinham nada, mas isso não me impediu de ter sentimentos
homicidas pelos dois.
Saí da casa do Lucca decidida a cumprir minha parte no trato com meus amigos.
Seria bom para mim e para o bebê. Aquela víbora não podia se voltar contra
mim. Quando deixei a casa do Leo indo até a mansão, estava decidida a contar
tudo para Lucca. Igor disse que ele não se lembrava de muita coisa, mas a
médica garantiu que a memória voltaria a qualquer momento. Eu queria contar
tudo, na esperança de que ele entendesse e me deixasse falar. No entanto, cuspiu
aquelas palavras que não sei se eram possíveis de esquecer.
Respirei fundo, ainda focada no céu azul e suas lindas nuvens, e foi como se pela
milésima vez aquela tarde voltasse à minha mente.

(...) Flashback on

Estávamos todos na casa do Leo naquele dia fatídico. Eu queria ir atrás do


Lucca, sabendo que ele havia pensado besteira. Ele sempre fazia esse bando de
burrice quando sentia ciúmes. Por ciúmes de Pietro, então, virava uma
calamidade ambulante e falava um monte de coisas desnecessárias.
— Mel, você precisa contar tudo, amiga, eles merecem saber.
Leo disse, chamando minha atenção. Olhei para todos que estavam naquela sala
e que eu mandei chamar. Depois que Lucca saiu, meu coração apertou e minha
mente esvaziou. Tentava entender o porquê de eu não conseguir falar, então Giu
sentou e segurou minha mão, a apertando.
— Mel, estamos aqui para te ajudar. Não achamos que o melhor caminho é a
volta para o Brasil. Eles mentiram e omitiram, mas as coisas mudaram — ela
opinou.
— Eu sei que estou no meio desse rolo — disse Leo. — Mas não vai adiantar
muito você ir embora. Ele já está pensando besteira pelo jeito que saiu daqui.
Olhei para os dois e respirei fundo. Leo tinha razão. Eles mereciam saber de
tudo, afinal, chamei Igor e Lucca para contar toda a história. O nosso bebê e
Sophia eram muito mais importantes que qualquer outra coisa que foi passado.
Dizer que confiava plenamente em Lucca era estar enganando a mim mesma.
Porém, o amava e isso bastava. A minha confiança ele conseguiria de volta.
Lucca era o homem que escolhi para a minha vida.
— Bom, ontem antes de ouvir a conversa de vocês, eu havia ido ao médico,
como todos sabem. Fui fazer o exame de compatibilidade para saber se poderia
ser doadora de Sophia.
Eles me olhavam atentamente e eu fiz uma oração mental para que não parecesse
interesse da minha parte, e que não pensassem que eu queria apenas dar o golpe
da barriga.
— Esperei por horas e horas até o médico voltar — continuei. — Ele me disse
que o resultado da compatibilidade só sairia no dia seguinte, mas que tinha outra
notícia. Disse que o exame de sangue havia dado uma alteração no nível de
produção de hCG, que não era um especialista, porém, tudo indica que eu estou
grávida. Eu não queria engravidar, não estava nem com isso na cabeça, não e
algum tipo de golpe da barriga, a gente foi ate o seu amigo na farmácia, e não
consegui toma a injeção você se lembra Igor, e depois eu me esqueci
simplesmente esquece de ir ao médico, Lucca e intenso demais, digamos que
ativo ao estremo, e tudo aconteceu, eu não planejei nada excondido eu juro.
A sala toda morreu em um silêncio profundo. Igor caiu sentado no chão,
literalmente agachado a minha frente, já Giu levou a mão a boca e seus olhos
brilharam. Leo apertou meu ombro, passando-me força. Umedeci os lábios com
aquela sensação esquisita voltando a aperta meu peito e secar minha boca. Não
conseguia ver o Pietro de onde estava. Quando entramos em casa ele se sentou
em um dos bancos da ilha da cozinha e lá se manteve, mas não o deixei ir
embora.
— Meus Deus! — Giu exclamou, tirando a mão da boca. — Isso é maravilhoso.
Então ela se jogou em cima de mim, me abraçando apertado. Retribuí como
pude, sorrindo da sua alegria, parecendo até o Leo. Igor se manteve calado, me
fitando ainda sentado no chão. Ele abriu a boca um par de vezes, mas nada disse.
Piscou e balançou a cabeça para limpar algum pensamento, no entanto, de
repente um sorriso lindo se espalhou pelo seu rosto. Ele ficou calado por tanto
tempo que fiquei com medo de sua reação. Se aproximou e tocou minha barriga
de leve, seus olhos brilhando pelas lágrimas não derramadas. Ele se esticou, deu
um beijo em minha barriga e outro em minha testa, então levantou.
— Essa criança é mais do que bem-vinda. Jamais imaginaria que isso é algum
golpe. Há tantas coisas para você saber ainda. Vocês se amam muito e essa
criança vai ser muito amada. O tio vai ficar louco... Só estou pensando o que vou
ser dela. Tio ou primo. — Foi impossível não rir com sua cara confusa.
— Meu irmão, ela vai ser o que você quiser — garanti. — O que importa é que
eu posso ver em seus olhos o quanto ela ou ele vai ser amada.
— Muito, Mel. Estou tão feliz. Porra! Tão feliz que parece que sou o pai.
— Louco ele já é, Igor. Vai dar perda total — Giu disse e mais uma vez todos
nós rimos.
Parecia que era apenas uma conversa normal, sem toda a intensidade que
começou.
— Realmente a gravidez é algo maravilhoso, mas não foi só isso que aconteceu.
— Olhei para Leo e ele sorriu, me encorajando. A susy plastificada foi muito
clara quando disse que se eu contasse para alguém ela não retiraria a queixa e eu
sofreria as consequências dos meus atos. — Quando eu estava saindo do
consultório, ainda muito assustada com a notícia, fui até o banheiro para lavar o
rosto e respirar um pouco. Na saída a Giovanna me abordou, dizendo que queria
conversar. Apesar de eu dizer que não tinha nada pra falar, ela chamou um
homem grande e alto, e me levou junto com eles. O cara estava armado, então eu
apenas fui.
Contei tudo o que Giovanna havia me dito, e que a conversa de Lucca e Igor
com o advogado, além de confirmar, me apavorou ainda mais. Igor ficou louco
de raiva. Ele queria confrontá-la e se não fosse o Leo e o Pietro, não teríamos
conseguidos segurá-lo naquela casa.
— O jeito é fazer com que ela acredite que tudo acabou e que de fato a Mel está
no Brasil — Pietro falou pela primeira vez.
— Você está louco! Ela tem um bebê na barriga, não pode passar por tudo isso
— Igor rebateu, passando a mão pelo cabelo.
— Não, Igor, estou pensando com minha cabeça e você deveria fazer o mesmo.
Giovanna quer o caminho livre com o chefe, então atacar Melissa é a melhor
maneira para ela.
— Só se for para você ter seu caminho livre com ela também — Igor disse,
cheio de sarcasmo em sua voz.
— Chega disso! Por Deus. Já basta Lucca achar que tenho algo com Pietro, você
também, não! Somos apenas amigos e nada mais — eu disse, exasperada.
— A Mel tem razão, Igor. Cale a boca e deixe-o falar — Giu exigiu, Igor jogou
os braços no ar e deixou que Pietro continuasse.

(...) Flashback off

Senti Leo apertar minha mão de leve, trazendo-me de volta dos pensamentos.
Depois dessa conversa dançar tanto em minha mente, consegui ver que o que
realmente é importante. Tudo o que aconteceu quando Lucca voltou do hospital
mostrou e me confirmou que caminho seguir, mesmo suas palavras tendo me
magoado de um jeito que jamais esqueceria. Lucca me marcou de muitas formas,
e nem sempre foram agradáveis.
— Flor, chegamos — Leo avisou, olhando para mim e sorrindo.
Ele tinha sido minha família.
Sorri para meu amigo, que se levantou e pegou as malas, então o segui até
descermos do avião.
Mais uma vez estava naquele aeroporto que não me trazia boas recordações. O
aeroporto Leonardo da Vinci-Fiumicino realmente não era um dos meus
preferidos. A única diferencia era que eu estava ali porque eu queria. Estava para
fazer a coisa certa, afinal, foram três meses de espera.
Passei a mão em minha barriga, sentindo meu bebê que estava crescendo
saudável. Entrava no quarto mês de uma gravidez tranquila. Ir ao médico
sozinha sem Lucca me machucava, pois era o nosso bebê e ele tinha direito de
participar, de ouvir o coração e saber que estava tudo bem com o nosso bebê. Me
recusei a saber o sexo da criança, querendo ter ele ao meu lado quando isso
acontecesse. Nem que fosse no dia do parto. Eu e o Leo fomos para o Brasil e
depois até a Espanha conhecer sua mãe. Ele iria ajudar a família a retirar os
passaportes e toda a documentação necessária para trazer todos para morar com
ele na Itália. Leo foi o meu alicerce. Me manteve em pé quando eu passei dias
chorando, me obrigou a me alimentar e ficar firme.
Coloquei a casa onde morei para alugar. Aquela não era mais a minha casa,
afinal, não me sentia segura.
Olhei ao redor e avistei o Pietro nos aguardando. Caminhamos até ele, que
estava em pé perto da esteira onde se pegava as malas.
— Mel. — Ele deu aquele sorriso de dentes brancos, em seguida um abraço de
urso. — Você conseguiu ficar ainda mais linda com essa barriga.
— Obrigado, Pietro.
Sorri, pensando na saudade que senti de falar e escutar italiano. Houveram dias
que falei italiano com os meus vizinhos do Brasil e só me lembrava que não
estava nessa terra quando olhava em seus rostos confusos, porque eles não
entendiam o que eu dizia.
— Leo — Pietro o cumprimentou, ajudando com as malas.
— É disso que senti falta. No Brasil não tem homens desse porte. Jesus apaga a
luz, senão eu morro!
— Pelo visto, além da barriga da Mel, nada mais mudou — Pietro comentou
com um sorriso, continuando a nos conduzir até um carro preto que estava no
estacionamento.
— Não, Pietro — confirmei. — Esse daí só piorou depois da estadia no Brasil.
— Você é uma mentirosa, Melissa. Eu só estou ainda mais diva.
Um sorriso brotou em meus lábios. Meu amigo sabia me agradar como ninguém
e tirar a nuvenzinha preta que vivia em cima da minha cabeça. Entramos no
carro e Pietro seguiu para a avenida.
— Para onde estamos indo, Pietro?
— Para uma casa que o senhor Igor alugou para vocês dois.
Igor era outro. Eu falava com ele todos os dias, assim como falava com a Giu.
Mesmo distantes, não deixamos de nos falar. Foram três meses longe, que mais
pareceram anos. Eles não me falavam muito de Lucca, apenas que ele estava se
recuperando bem. A minha ida para o Brasil não passou de uma farsa, mas
depois das coisas que Lucca disse e depois que o vi ir atrás de Giovanna,
aceitando-a na casa dele depois de tudo, precisei correr para bem longe e foi o
que fiz. Fiquei exatamente há 9.434 km de distância dele por meses. Ele mereceu
isso.
Não sei se sofreu ou não, mas não importava. Lucca vivia me chamando de
criança, e a verdade era que ele ainda não havia crescido. Mas vou ensiná-lo, não
importa quanto tempo ele levará para aprender. Sei que ele me ama com a
mesma intensidade.
O ciúme nos cega de uma maneira que é difícil pôr em palavras. Nos faz burros,
inconsequentes, imaturos e maldosos. São tantos adjetivos e Lucca se encaixa
em cada um deles, bem como em outros.
— Ah, sim. E na mansão, como estão as coisas? A empresa? — questionei.
Igor não havia demitido Pietro. Apenas o realocou para chefiar todas as equipes
de cada hotel.
— Bom, Melissa, se você quer saber do Lucca, eu não tenho notícias. Ele só sai
de casa para ver a menina Sophia, e o tratamento da perna faz em casa mesmo.
Enfim, essa pergunta eu não posso te responder.
Olhei para a rua, pensativa.
De quem eu queria esconder que era dele que eu queria saber?
Não achei nada dele durante todos esses meses. A mídia na Itália até levantou a
questão, sobre onde ele poderia estar após o acidente.
Pietro parou em frente a uma casa grande o bastante para uma família inteira,
não apenas duas pessoas. Ela ficava a alguns quarteirões da mansão. Descemos
do carro e Leo deu pulinhos de alegria por estar ali. Eu apenas sorri quando ele
abriu a porta do carro, me ajudando a descer.
— Esse Igor arrasou. O lugar é lindo! — ele exclamou, ainda admirando a casa.
— Sim, é muito linda mesmo — concordei.
Era uma casa toda branca por fora, com cercado e um quintal com um jardim
muito bem cuidado.
— Vem, vamos entrar — ele chamou. — Não vejo a hora de tomar um banho.
Doze horas de viagem não é fácil.
— Realmente, Leo. Estou cansada e tudo o quero é um banho e uma cama.
Seguimos para dentro da casa, Pietro abriu a porta e nos deu espaço para que
pudéssemos entrar. A casa era tão linda por fora quanto por dentro. Uma sala
ampla onde havia uma grande televisão, tudo de cor clara, mas muito bonito,
com um piso de madeira brilhante. Saltos clicando nele me fizeram virar o rosto
em direção ao barulho. Giulia, Marcela e Igor vinham conversando de um outro
cômodo da casa e abriram um enorme sorriso quando me viram ali parada. A
saudade apertou meu coração.
Como era bom vê-los.
Igor andou de maneira mais rápida, me engolindo em um abraço de urso tão
forte que pensei que ficaria sem ar.
— Que Saudade de você, Mel.
— Eu também estava morta de saudade, Igor, mas preciso respirar. — Ele se
afastou, rindo, e acariciou minha barriga.
— Está crescendo. Não vejo a hora de saber o sexo.
— Sai da minha frente que eu também quero abraço.
Giu disse, me abraçando após soltar o Leo. Igor o cumprimentou também,
depois de Marcela o largar. Elas eram apaixonadas por ele. Para falar a verdade,
era difícil não se apaixonar por ele.
— Como foi a viagem?
— Cansativa, Igor. Doze horas não é fácil.
— Eu imagino que não seja mesmo. Vocês querem comer?
— Eu aceito — Leo respondeu e eu sorri. — Estou morto de fome.
— E quando você não está morto de fome?
— Não faz assim, Mel.
Ele fez beicinho e eu beijei a sua bochecha.
— Se vocês não se importam, eu preciso mesmo de um banho e descansar.
— Claro que não, meu anjo — Igor respondeu, beijando o topo da minha cabeça.
— Vem, Mel, eu te levo até o quarto — disse a Giu, segurando-me pela mão.
— Obrigada, Giu.
Subimos em silêncio. Eu queria fazer mil perguntas para ela, mas não disse nada.
Ela me olhou como se também quisesse falar alguma coisa, porém, fez o mesmo
que eu e nada disse, também. Ela abriu umas das portas e entramos.
— Mel, o quarto está abastecido com tudo que você usa. Peguei indicações do
que ficou na mansão, então se você precisar de qualquer outra coisa, estamos lá
em baixo.
— Obrigada. Tenho certeza que tenho tudo o que preciso aqui.
Ela sorriu e saiu. O quarto era amplo, com grandes janelas, uma cama de casal,
um closet e um banheiro. Entrei no banheiro e tirei minha roupa, colocando
minha bolsa na bancada e pegando meu celular para acionar a música que virou
um hino na minha vida. Os primeiros acordes de Bring Me to Life, do
Evanescence, tomou conta do cômodo e dos meus ouvidos. Entrei embaixo do
chuveiro e deixei a água quente levar meu cansaço. Tomei um banho longo,
enquanto aquela música se repetia como foi por meses. Saí do banho e me
enrolei em um roupão que estava atrás da porta, o qual estava bordado com a
letra M em seu bolso, o que mostra claramente que veio da mansão. Tracei meus
dedos pela letra e meus olhos se encheram de lágrimas mais uma vez. Peguei
minha bolsa e celular, deitei na cama e chorei como sempre fazia. Foram dias e
dias assim. Eu me acostumei. Me sentia como Amy quando cantava aquela
música. Eu só renascerei quando ele me encontrar.
“Agora que sei o que me falta, você não pode simplesmente me deixar. Respire
dentro de mim e me torne real, traga-me para a vida.”
Era tudo o que esperava, era onde eu me agarrava. Torcia para que Lucca me
encontrasse e me trouxesse de volta à vida.

Até a próxima!
Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus, que me forneceu, como sempre, a força


necessária para seguir com esse projeto, me fazendo finalmente encontrar o meu
caminho.
Agradeço à minha família, e principalmente aos meus amigos, que não foram
poucos, e os que sabem exatamente quem são, que sempre me deram força e um
empurrão para nunca desistir. E muito, muito obrigada às minhas leitoras, que
fizeram com que esse sonho enfim se realizasse. Muito obrigada de coração.
Essa obra foi escrita com muito carinho e muito amor, e espero que vocês
tenham se apaixonado por esse casal, assim como eu sou louca por eles.
Obrigada! Obrigada! Obrigada!

M. Lins.
Table of Contents
O Italiano Duologia - Livro I M . Lins
Capítulo 1 Melissa Ferraz
Capítulo 2 Lucca Marconni
Capítulo 3 Melissa Ferraz
Capítulo 4 Lucca Marconni
Capítulo 5 Melissa Ferraz
Capítulo 6 Melissa Ferraz
Capítulo 7 Melissa Ferraz
Capítulo 8 Melissa Ferraz
Capítulo 9 Lucca Marconni
Capítulo 10 Melissa Ferraz
Capítulo 11 Lucca Marconni
Capítulo 12 Melissa Ferraz
Capítulo 13 Lucca Marconni
Capítulo 14 Melissa Ferraz
Capítulo 15 Lucca Marconni
Capítulo 16 Melissa
Capítulo 17 Melissa Ferraz
Capítulo 18 Lucca Marconni
Capítulo 19 Melissa Ferraz
Capítulo 20 Melissa Ferraz
Capítulo 21 Lucca Marconni
Capítulo 22 Lucca Marconni
Capítulo 23 Melissa Ferraz
Capítulo 24 Lucca Marconni
Capítulo 25 Melissa Ferraz
Capítulo 26 Lucca Marconni
Capítulo 27 Lucca Marconni
Capítulo 28 Lucca Marconni
Capítulo 29 Melissa Ferraz
Capítulo 30 Lucca Marconni
Capítulo 31 Melissa Ferraz
Capítulo 32 Melissa Ferraz
Capítulo 33 Lucca Marconni

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