PDF - Vagna Lucia Salviano de Gois

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 39

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO:

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INTERDISCIPLINARES

VAGNA LÚCIA SALVIANO DE GÓIS

DIFICULDADES DE LEITURA E ESCRITA NO 6º ANO E A


RESPONSABILIDADE DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA

ITAPORANGA-PB

2014
VAGNA LÚCIA SALVIANO DE GÓIS

DIFICULDADES DE LEITURA E ESCRITA NO 6º ANO E A RESPONSABILIDADE


DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA

Monografia de conclusão de curso de Especialização


apresentada como requisito para a obtenção de título de
Especialista em Fundamentos da Educação: Práticas
Pedagógicas Interdisciplinares pela Universidade Estadual
da Paraíba/Governo do Estado.

Orientação: Profº. Ms. Adalberto Teixeira Rodrigues.

ITAPORANGA-PB

2014
Esta Monografia é dedicada a você, criança, que muitas vezes passa
despercebida por algum professor e até se torna esquecida por não
conseguir aprender, pois tenho a obrigação como educadora de
escrever sobre o assunto e tentar com isso, colher informações para
subsidiar estudos e pesquisadores futuros nesta problemática tão
antiga e ao mesmo tempo tão recente em que se tenta resolver, mas
nem todos os responsáveis se dedicam a tal questão.
AGRADECIMENTOS

Quero antes de qualquer coisa agradecer a Deus por poder estar aqui diante de mais
um curso e ter forças para continuar, apesar dos inúmeros obstáculos que surgem a cada dia
na vida. Quero também poder lembrar-me dos familiares, amigos, namorado que muitas vezes
abriram mão de algo importante para estarem ao meu lado quando precisei. A todos os
coordenadores de curso. Ao coordenador do pólo de Itaporanga, o professor Alberto que com
sua simplicidade e humildade soube desempenhar o seu papel como ninguém. Aos
professores das aulas presenciais e aos das aulas virtuais que não mediram esforços para tirar
nossas dúvidas e fazer um bom trabalho. Aos colegas de turma que souberam compartilhar
cada momento, fosse de descontração ou de dificuldades o meu mais profundo e sincero
obrigada a todos.
RESUMO

O Brasil é um país que vem lutando há anos por uma educação de qualidade, criando
programas e investindo em bons projetos para conseguir este objetivo, embora os resultados
nem sempre têm sido positivos nem os esperados pela sociedade. Os problemas de
dificuldades de aprendizagem surgem principalmente na transição da criança do ensino
fundamental I para o 6º ano do ensino fundamental II tendo em vista que as crianças chegam a
esta série com um nível de aprendizagem muito abaixo do esperado. Foi pensando nesta
problemática que esta pesquisa se realizou, através de questionários aplicados a professores,
análise e observações de quatro turmas: duas do 5º ano e duas do 6º ano visando
especificamente Língua Portuguesa nos eixos de leitura e escrita. Observamos o meio
cultural, familiar, escolar e, principalmente, a metodologia e didáticas empregadas pelo
educador. Este trabalho torna-se de grande importância, partindo da constatação de que a
aprendizagem começa muito cedo e a alfabetização se desenvolve principalmente nos
primeiros anos de escola. Por isso a observação no 5º ano que é a série final desse processo
para ingresso no 6º ano, momento em que é detectado o problema de aprendizagem em leitura
e escrita cujos reflexos, se não trabalhado e corrigido a tempo, se darão nas séries seguintes.

Palavras-chaves: Educação; Dificuldades; Aprendizagem; Leitura; Escrita.


ABSTRACT

Brazil is a country that comes fighting there re years for an Education of quality, it is creating
programmers and it is investing in good project to get this objective, the results neither always
having be positives, neither the hoped for society. The problems of difficulties of learning
appear leadenly in the translation of child from fundamental teaching one to sixth year of the
fundamental teaching two where the children arrive this series with a level of learning very
down hoped. It went thinking in this problematic that search happened, through of interview
with teachers, analysis and observation of four groups: two in the fifth and two in the sixth
year are arming specify Portuguese Language in the axle of reading and writing. We observe
at cultural way, familiar, school and, principally, the method and didactics invested for
educator. This work becomes of great importance, it is parting of the consisting of that
learning begins very early and the literacy grows principally in the first years of school, for
that observation in the fifth year it is the end series of this process to admission in the sixth
year, moment in that it is detected the problems of learning in reading and writing whose the
reflexes of that, if did not work and corrected will give in the future series.

Key Words: Education; Difficulties; Learning; Reading; Writing.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO......................................................................................................... 09

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................................... 12

2.1 Alfabetização e letramento: conceitos e práticas pedagógicas nos anos

iniciais ............................................................................................................................ 12

2.2 PNAIC – Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa .................................. 15

2.3 Ensinar a ler e a escrever não é responsabilidade apenas do professor de Língua

Portuguesa ...................................................................................................................... 17

2.3.1 Interdisciplinaridades a serviço do professor ........................................................ 20

3. ACERCA DOS DADOS COLETADOS................................................................ 22


3.1 Questionários aplicados aos professores ................................................................. 22
3.2 Análises dos dados .................................................................................................. 25

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 30

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 32

APÊNDICES................................................................................................................. 33

QUESTIONÁRIOS...................................................................................................... 34
9

1 INTRODUÇÃO

A educação é o bem mais precioso que se pode conseguir ou deixar na vida de alguém,
mas infelizmente nossos jovens e crianças, apesar de tantas oportunidades que estão a
disposição deles, a realidade é que poucos estão interessados em estudar e terminam ficando
no meio do caminho sem objetivos nem perspectivas e sem interesse fica complicado um
trabalho de qualidade e com bons resultados.
Segundo Sônia Kramer (2010, p.13),

Ao longo de toda sua história, a alfabetização tem se consolidado entre nós como
um problema social, um impasse, um obstáculo de difícil superação: O Brasil ainda
é um dos dez países com índices mais altos de analfabetismo em todo o mundo. Essa
situação alarmante enseja especialistas, de um lado, a falarem em erradicação,
reforçando o ultrajante preconceito e a discriminação em relação à quem não lê. De
outro, grupos profissionais, sistemas de ensino e gestores da administração pública a
envolverem-se freqüente e insistentemente na busca de políticas, metodologias e
estratégias que trariam alguma solução para tão grave problema.

Segundo Sônia Kramer (2010) essa busca tem gerado alternativas equivocadas. Seja
implementando projetos arquitetônicos, tais como os Centros Integrados de Educação
Pública/Cieps-1980 ou os Centros Integrados de Apoio a Criança/Ciacs-1990, seja delineando
programas que envolvem aparatos tecnológicos inovadores, mas em contextos que acabam
reproduzindo práticas convencionais ao fazer uso de equipamentos de informática,
multimídia, Internet, em programas semipresenciais ou de educação à distância. O fato é que
há quase vinte anos a educação tem sido colocada no centro da disputa política no país
mobilizando ações em diversas instâncias da vida social e institucional.
Desde alguns anos, no que se referem às propostas nacionais, prédios são construídos,
equipamentos fornecidos, materiais didáticos distribuídos, enquanto a vida educativa
contemporânea cada vez mais se distancia daquilo que é efetivamente necessário para que
todos tenham acesso à leitura e à escrita. De equívoco em equívoco, vai sendo feita uma
educação que se afasta mais e mais dos interesses e das necessidades da maioria da
população.
Sem condições materiais, objetivos para nossos professores e sem possibilidades
concretas de que se tornem intelectuais, críticos de seu tempo, da sociedade em que vivem e
dos contextos específicos em que atuam como leitores do mundo e de textos parece ser difícil
10

superar as marcas do analfabetismo. Certamente não será com prédios, aparelhos de TV, kits
multimídias ou novas alternativas metodológicas de ensino que se conseguirá esse feito: os
tijolos, o coração e o cérebro das nossas ações escolares foram, são e continuarão a serem os
professores e as professoras que ano após ano convivem com crianças, jovens e adultos nas
escolas concretas existentes nas esquinas das cidades, nas fazendas do campo, nos bairros
pobres e sofridos das periferias.
Garantir o acesso à leitura e à escrita é um direito de cidadania. A escola tem um papel
importante a desempenhar na concretização desse direito, contribuindo na construção do
conhecimento de crianças ajudando-as a nunca esquecer a história, a sempre rememorar o
esquecido, para que se torne possível mais do que nunca mudá-la. Para isso, ler a história é
crucial. Por isso, escrever e reescrever os textos é essencial. Ler, escrever e reescrever os
textos e a história, enquanto sujeitos dela.
A origem de um problema de aprendizagem pode ser multicausal, podendo estar no
educando ou em seu ambiente seja ele: cultural, familiar, escolar e, principalmente, na
metodologia e didática empregada pelo educador.
Este trabalho torna-se de grande importância, sabendo-se que a aprendizagem começa
muito cedo, quando somos bebês e a alfabetização se desenvolve principalmente nos
primeiros anos da escola, as crianças estão chegando ao 6º ano do ensino fundamental II com
um nível muito baixo de aprendizagem em leitura e escrita.
Este trabalho está dividido em dois capítulos: o primeiro a Fundamentação Teórica
(Alfabetização e Letramento: conceitos e práticas pedagógicas nos anos iniciais; PNAIC
Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (2014) e Ensinar a ler e escrever não é
apenas responsabilidade do professor de Língua Portuguesa) e o segundo acerca dos dados
coletados (Questionários aplicados aos professores do 5º e 6º anos e Análise dos dados).
Duas vertentes foram adotadas quanto às estratégias utilizadas nas investigações: de
um lado, questionários com dois professores do 5º ano do ensino fundamental I e dois com
professores de Língua Portuguesa do 6º ano do ensino fundamental II, de outro; observações e
análise de aulas nessas turmas que estão distribuídas em duas escolas públicas do município
de Curral Velho-PB. Este tem caráter exploratório.
A pesquisa se deu em duas escolas públicas que apresentaram índices altos de alunos
no 6º ano com problemas na leitura e escrita. O interesse recaiu nessas escolas em particular
pelo fato da maioria de sua clientela ser proveniente das camadas populares, com alunos
vindos de várias áreas da zona rural tanto deste município como também de municípios
11

vizinhos como também por existir apenas essas duas escolas analisadas. Uma das escolas com
quinze alunos no 6º ano e deste número seis apresentam dificuldades em leitura e escrita; já
na outra escola em questão, de quarenta alunos do 6º ano cerca de vinte não estão no nível da
série. (Dados cedidos pelos responsáveis pelas escolas e professores das turmas)
Durante o período de dezembro de 2013 a março de 2014, entrei no cotidiano da
escola especificamente no 5º e 6º anos, observando atividades de classe, momentos de
merenda e recreação, entrada e saída dos alunos na classe, questionários aplicados aos
professores das turmas observadas, conversas informais com mães e profissionais da escola,
conselhos e participação em reuniões de pais e professores.
As crianças desde cedo devem ser alfabetizadas de maneira correta para que não
sofram com esta dificuldade no futuro. Neste contexto este trabalho propicia momentos de
análise, reflexão, questionamentos sobre a importância do trabalho da escola e dos professores
no processo de alfabetização e letramento tendo como objetivo identificar e analisar as
principais dificuldades vivenciadas pelos professores de língua portuguesa, no trabalho com
leitura e escrita no 6º ano do ensino fundamental das escolas públicas em questão para assim
conseguir algumas respostas para uma problemática que vem preocupando muito: o porquê de
um grande número de crianças chegarem ao 6º ano do ensino fundamental II com dificuldades
na leitura e escrita destas escolas observadas. Coletando dados e buscando resultados para ver
onde estar este problema, se é na escola, no trabalho desenvolvido pelo professor, na falta de
participação e apoio dos pais ou na própria falta de habilidade do próprio aluno para assim
tentar melhorar estas dificuldades.
12

CAPÍTULO I

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Alfabetização e Letramento: pressupostos da aprendizagem e do ensino

A Língua é um sistema que tem como centro a introdução verbal, que se faz através de
textos ou discursos, falados ou escritos. Uma proposta de ensino de língua deve valorizar o
uso da língua em diferentes situações ou contextos sociais, com sua diversidade de funções e
sua variedade de estilos e modos de falar. Para isso é importante que o trabalho em sala de
aula se organize em torno do uso e que privilegie a reflexão dos alunos sobre as diferentes
possibilidades de emprego da língua.
Segundo Naspolin (2009, p.70)

O conceito de alfabetização foi ampliado com as contribuições dos estudos sobre a


psicogênese da aquisição da língua escrita, particularmente com os trabalhos de
Emília Ferreiro e Ana Teberosky.

Emília Ferreiro, grande pesquisadora na área da aprendizagem da língua, é argentina,


fez sua tese de doutorado em Psicologia sob a orientação de Jean Piaget; Ana Teberosky,
pesquisadora argentina e autora de diversos livros sobre alfabetização, em 1984, publicaram o
livro Los sistemas de escritura em el desarollo del niño (traduzido para o português em 1985
sob o título Psicogênese da língua escrita), no qual expõe as conclusões de sua pesquisa na
área. A partir da divulgação dessa obra juntamente com encontros e palestras em várias partes
do mundo, houve o início de uma reflexão sobre o processo de aquisição da escrita e uma
renovação da metodologia do ensino da língua, sobretudo na alfabetização.
De acordo com esses estudos, o aprendizado do sistema de escrita não se reduziria ao
domínio de correspondências entre grafemas e fonemas, mas se caracterizaria como um
processo ativo por meio do qual a criança, desde seus primeiros contatos com a escrita,
construiria e reconstruiria hipóteses sobre a natureza e o funcionamento da língua escrita,
compreendida como um sistema de representação.
Com o surgimento dos termos letramento e alfabetização, muitos pesquisadores
passaram a preferir distingui-los. Passaram a utilizar o termo alfabetização em seu sentido
restrito, para designar o aprendizado inicial da leitura e da escrita, da natureza e do
13

funcionamento do sistema de escrita. Passaram, correspondentemente, a reservar os termos


letramento ou analfabetismo funcional para designar os usos da língua escrita. Outros
pesquisadores tendem a preferir utilizar o termo alfabetização para significar tanto o domínio
do sistema de escrita quanto os usos da língua escrita em práticas sociais. Nesse caso, quando
sentem a necessidade de estabelecer distinções, tendem a utilizar as expressões “aprendizado
do sistema de escrita” e “aprendizado da linguagem escrita”.
É sabido por todos os professores que as crianças desde cedo já estão em contato com
a língua oral e escrita em diferentes situações do dia a dia e cabe à escola organizar estes
conhecimentos prévios das crianças de forma organizada e sistemática.
No livro: Ensino Fundamental de Nove Anos: orientações para a inclusão da criança
de seis anos de idade (2006, p.70), há uma colocação (cf. Morais e Albuquerque 2004),

as crianças que vivem em ambientes ricos em experiências de leitura e escrita, não


só se motivam para ler e escrever, mas começam, desde cedo, a refletir sobre as
características dos diferentes textos que circulam ao redor, sobre seus estilos, usos e
finalidades.

Alfabetização e Letramento são dois processos diferentes, mas ambos devem andar
juntos para que haja um resultado satisfatório de aprendizagem. A professora Magda Soares
(1998, p. 47) distingue bem esses dois processos. A alfabetização corresponderia ao processo
pelo qual se adquire uma tecnologia – a escrita alfabética e as habilidades de utilizá-la para ler
e para escrever. Dominar tal tecnologia envolve conhecimentos e destrezas variadas, como
compreender o funcionamento do alfabeto, memorizar as convenções letra-som e dominar
seus traçados, usando instrumentos como lápis, papel ou outros que os substituam. Já o
letramento, relaciona-se ao exercício efetivo e competente daquela tecnologia da escrita, nas
situações em que precisamos ler e produzir textos reais.
Alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao contrário: o ideal seria
alfabetizar letrando, ou seja, ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da
escrita.
Alfabetizar letrando é um grande desafio para os professores ainda, porque exige
reflexão sobre suas práticas diárias em sala de aula e não somente esta reflexão, mas também
garantir de maneira eficaz a possibilidade das crianças não somente ler e registrar
automaticamente palavras numa escrita alfabética, como também ter a capacidade de ler,
compreender e produzir textos que sejam compartilhados socialmente.
14

Para a professora em Educação pela UFMG, Ceris Salete Ribas da Silva (Explorando
o Ensino de Língua Portuguesa 2010, p. 38-39), o desafio que se coloca para os professores
que atuam nos primeiros anos de escolarização é o de conciliar esses dois processos-
alfabetização e letramento _, assegurando aos alunos tanto a apropriação do sistema
alfabético-ortográfico da língua, quanto o domínio das práticas de leitura e escrita socialmente
relevantes.
Segundo Silva (2010, p.38-39),

o desafio que se coloca para os professores que atuam nos primeiros anos de
escolarização o de conciliar esses dois processos: alfabetização e letramento,
assegurando aos alunos tanto a apropriação do sistema alfabético-ortográfico da
língua, quanto o domínio das práticas de leitura e escrita socialmente relevantes.

O trabalho de alfabetização e letramento nas práticas pedagógicas exige que os


professores trabalhem metodologias e procedimentos didáticos diferenciados. De acordo
ainda com a professora Ceris Salete R. da Silva, os professores devem ter atenção a algumas
especificidades do ensino do sistema alfabético, nos seguintes eixos:
 Os conhecimentos que devem ser ensinados aos alunos nos primeiros anos de
escolarização;
 Os procedimentos didáticos específicos do ensino dos conhecimentos lingüísticos;
 Os materiais didáticos que podem auxiliar o processo de alfabetização. (Explorando o
ensino- Língua Portuguesa 2010, v.19, p.39)
O processo de alfabetização deve ser iniciado no primeiro ano de escolaridade da criança
e ser consolidado no final do 2º ou 3º ano do ensino fundamental. Isso vai depender da
organização da escola e das turmas e dos alunos.
É fundamental, no primeiro ano de escolarização, propor diariamente à criança diversas
atividades voltadas para o desenvolvimento da consciência fonológica. Para Silva (2010,
p. 49),

O conceito de consciência fonológica abrange habilidades que vão desde a simples


percepção global do tamanho das palavras e/ou de semelhanças fonológicas entre
elas, até a efetiva segmentação e manipulação de sílabas e fonemas. A partir disso,
alguns autores têm sugerido a existência de diferentes níveis de consciência
fonológica, alguns dos quais provavelmente precedem a aprendizagem da leitura e
escrita, enquanto outros parecem ser mais um resultado dessa aprendizagem.
15

As atividades de alfabetização e letramento se diferenciam tanto em relação às


operações cognitivas quanto os procedimentos metodológicos e didáticos que as orientam,
essas atividades devem desenvolver-se articuladamente, pois só assim haverá o
desenvolvimento da aprendizagem na leitura e escrita. O fundamental mesmo é que as
crianças estejam sempre em contato diário com contextos letrados, para que assim haja um
aproveitamento, de forma planejada e sistemática de todas as oportunidades para a
continuação dos processos de alfabetização e letramento que elas já trazem da sua vivência
antes de chegar a escola.

2.2 PNAIC – Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa

O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa é um compromisso formal


assumido pelo Governo Federal, Distrito Federal, Estados, Municípios e entidades para
assegurar que todas as crianças estejam alfabetizadas até oito anos de Idade, ao final do ciclo
de alfabetização do 3º ano do Ensino Fundamental (PNAIC 2014, p.8).
Na história do Brasil, temos vivenciado a dura realidade de identificar que muitas
crianças têm concluído o ensino fundamental sem estarem plenamente alfabetizadas, assim
este Pacto surge como uma luta para garantir o direito de alfabetização plena a meninas e
meninos, até o 3º ano do ciclo de alfabetização. Busca-se, para tal, contribuir para o
aperfeiçoamento e formação dos professores alfabetizadores. Este Pacto é constituído por um
conjunto integrado de ações materiais e referências curriculares e pedagógicas a serem
disponibilizadas pelo MEC, tendo como eixo principal a formação continuada de professores
alfabetizadores.
A Educação no Brasil vem passando por grandes transformações isto é fato, mas a
passos lentos e este programa veio justamente para que novos passos sejam dados na
alfabetização e letramento em Linguagem e Matemática nos anos iniciais do Ensino
Fundamental.
Segundo dados do Ministério da Educação a realidade é que muitos jovens no Brasil,
têm concluído o Ensino Médio sem estarem plenamente alfabetizados e que brasileiros com
idade entre 15 e 17 anos que efetivamente estão matriculados neste nível de ensino é de
43,1%, segundo dados de 2003. Em 2001, por exemplo, dos brasileiros com idade ideal para
cursar o ensino médio, 1 milhão cursava ainda o ensino fundamental ou cursos
16

profissionalizantes e aproximadamente 5 milhões estavam fora da escola (Português no ensino


médio e formação de professores 2006, p.13) e foi pensando nesta problemática que este
acordo se firmou entre as esferas governamentais para garantir que as crianças sejam
alfabetizadas e letradas na Idade Certa.
O Pacto tem como objetivo principal a formação continuada de professores
alfabetizadores, é composto por um conjunto de ações, materiais e referências curriculares e
pedagógicas a serem disponibilizados pelo MEC (Ministério da Educação) a todas as escolas
e professores inscritos no programa.
A formação continuada de professores alfabetizadores se dá através de um curso, que
apresenta uma estrutura de funcionamento na qual as Universidades, Secretarias de Educação
e Escolas devem se articular para a realização do processo formativo dos professores
alfabetizadores que estão atuando nas escolas, nas salas de aulas.
O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (2014) se organiza em quatro
princípios centrais que serão considerados ao longo do desenvolvimento de trabalho
pedagógico:
1. O sistema de escrita alfabética é complexo e exige um ensino sistemático e
problematizador;
2. O desenvolvimento das capacidades de leitura e produção de textos ocorre durante
todo o processo de escolarização, mas deve ser iniciado logo no início da Educação
Básica, garantindo acesso precoce a gêneros discursivos de circulação social e a
situações de interação em que as crianças se reconheçam como protagonistas de suas
próprias histórias;
3. Conhecimentos oriundos das diferentes áreas de conhecimento podem ser apropriados
pelas crianças, de modo que elas possam ouvir, falar, ler, escrever sobre temas
diversos e agir na sociedade;
4. A ludicidade e o cuidado com as crianças são condições básicas nos processos de
ensino e de aprendizagem.
A formação do Pacto na Paraíba está sendo dada pela UFPB sob a coordenação geral
da professora Angelina; tendo como coordenadora de Linguagem a professora Mariane e na
coordenação de Matemática Maria Azeredo. Cada município dispõe de no mínimo um
coordenador local e um orientador de estudo e o número de professores alfabetizadores é de
acordo com o censo escolar do ano anterior, onde este deve está cadastrado e lecionando no
1º, 2º ou 3º ano do ensino fundamental.
17

São dezesseis turmas de Orientadores distribuídas em três polos: João Pessoa,


Campina Grande e Sousa; estes participam da formação no seu polo e fazem os encontros
com os professores alfabetizadores nos seus municípios e esses professores passam a usar as
novas estratégias nas práticas diárias na sala de aula.
A mobilização e união de todas essas pessoas farão a diferença na aplicação de
metodologias nos anos iniciais de alfabetização em várias escolas públicas do Brasil e vai
desenvolver diferentes habilidades que se tornarão concretizados nas práticas escolares que
devem ter como resultado efetivo o conhecimento das crianças.
Desse modo, no Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (2014), são
desenvolvidas ações que contribuem para o debate acerca dos direitos de aprendizagem das
crianças no ciclo de alfabetização; para os processos de avaliação e acompanhamento da
aprendizagem das crianças; para o planejamento e avaliação das situações didáticas; para o
conhecimento e uso dos materiais distribuídos pelo Ministério da Educação, voltados para a
melhoria da qualidade do ensino no ciclo de alfabetização.

2.3 Ensinar a ler e escrever não é responsabilidade apenas do professor de Língua


Portuguesa

O professor de Língua Portuguesa geralmente é visto como o único responsável pelo


desempenho do aluno nesta disciplina e muitas vezes é tachado de vilão quando o aluno não
consegue aprender ou não tem um bom desempenho, mas na verdade a aprendizagem e
formação do aluno é responsabilidade de todos os professores que atuam em sua turma e
muitas vezes até na escola, pois as práticas de leitura e escrita não cabem somente ao
professor de português, porque de toda disciplina exige-se a compreensão e análise que
devem ser trabalhadas e levadas a sério tanto quanto em português.

“O professor que trabalha com os conteúdos de história, de biologia, de matemática


ou de outra disciplina qualquer, precisa pensar-se como professor (a) de linguagem –
é principalmente com a linguagem verbal que as relações de ensino-aprendizagem
acontecem, por meio de diálogos, exposições orais, atividades de leitura e de escrita,
análise de imagens, de quadros, gráficos e problemas, entre outras atividades. Todos
nós somos responsáveis pelo trabalho com a linguagem, seja na primeira série/ano
escolar ou nas últimas séries/anos do ensino fundamental. (Ens. Fund. De Nove
Anos – CECÍLIA GOULART, 2006, p. 92)
18

Analisando a fala de Cecília Goulart na colocação acima, o professor de português


passa de vilão a vítima, pois se todo professor deve trabalhar a leitura e a escrita, todo e
qualquer professor, de qualquer nível de ensino, é um professor de linguagem ou pelo menos
deveria ser.
O professor, seja ele de qual nível de ensino ou disciplina, deve ter em primeiro lugar
compromisso com o seu papel que é o de ensinar e este compromisso é algo que ele vai
construindo dia após dia, com a sua competência técnica tem que vir somada a afetividade,
para que assim haja um bom trabalho, pois o bom professor deve cumprir seu currículo, mas
não deve esquecer que está trabalhando com seres humanos e formando cidadão. Dessa forma
ele não pode ser simplesmente um conhecedor dos conteúdos, mas sim, acima de tudo, um
conhecedor de almas.
Trechos de um depoimento de uma professora de escola municipal do Rio de Janeiro
(LIVRO: Alfabetização, leitura e escrita – Sônia Kramer 2010, p. 65)
Este trecho desse relato tem como objetivo deixar transparente uma das diversas
formas em que o papel do profissional do professor pode se expressar.
“Tem três coisas que as crianças precisam aprender, antes mesmo de aprender a ler e
escrever – direitos, deveres, limites. Elas têm o direito de aprender a ler e escrever, que eu
tenho o dever de ensinar. Mas elas têm o dever de estudar, todo dia, sempre. O que eu acho
importante mesmo é dizer para as crianças que elas precisam saber ler e escrever, e que para
isso precisam estudar. Eu me esforço, preparo aulas. O meu esforço é vir, ensinar o máximo;
o delas é estudar”.
Eu queria saber em que pontos eu pego que elas aprendem. Têm dificuldades? Eu sei
que podem superar. Todas, todas. Se tem alimentação ruim, problemas em casa, pobreza de
todo jeito, eu sei que podem superar.
Não sei se consigo, mas tento sempre deixar claro para as crianças que eu tenho
certeza de que elas vão aprender. Até o último dia de aula eu chego à escola achando que tem
criança que ainda pode aprender. Dou sempre esta esperança para elas.
Se eu fosse arquiteta, eu não podia descuidar do desenho da planta ou do trabalho da
obra. Mas eu não sou arquiteta. Sou professora. E professora é profissional do ensinar a ler e
escrever. Então, não posso descuidar dessa tarefa. Esse é o meu papel. É para isso que estou
na escola e é isso que eu devo fazer, e fazer bem”. (ANA LÚCIA, professora de escola
pública, Rio de Janeiro, 1985)
19

O relato mostra de um lado, o caráter profissional com que a professora encara o seu
papel na escola e, como este papel está relacionado – do seu ponto de vista- ao papel
desempenhado pelas próprias crianças.
Segundo Sônia Kramer (2010, p. 66),

há muitas formas do professor manifestar seu papel na escola, e elas não são
passíveis de rótulos ou categorizações enganosas. É preciso identificar que formas
são essas, expandi-las e fornecer as respostas às indagações para o conjunto dos
professores que no seu dia a dia lutam por ensinar as crianças a ler, escrever e
contar.

O exercício profissional do professor é determinado por uma série de fatores que


passam pela formação escolar desse professor, pelas suas condições objetivas de trabalho e
pelas formas com que a escola que atua assume, junto com ele, a tarefa de alfabetizar,
fornecendo-lhe o apoio administrativo e pedagógico necessário. Outro ponto não menos
importante para que este papel se assuma de maneira positiva é a formação em serviço,
permanente, continuada.

A organização do trabalho de leitura e escrita nos primeiros anos de escolarização


deve estar em sintonia com o que é próprio dessa faixa etária, considerando-se tanto
a experiência prévia das crianças com o mundo da escrita, em seus espaços
familiares, sociais e escolares, com as particularidades de seu desenvolvimento. A
elaboração de uma proposta de alfabetização pelos professores precisa privilegiar a
criação de contextos significativos de ensino e aprendizagem que são decorrentes do
trabalho com temas de interesse do universo infantil e com modelos de atividades
que privilegiam o ludismo e que desafiam as crianças a lidar com a diversidade de
textos que conhecem e de outros que precisam conhecer como os textos literários,
sem perder de vista os conteúdos a serem ensinados. É fundamental que os
professores se conscientizem de que as crianças das escolas públicas, em sua maior
parte expostas a processos de exclusão social, são capazes de aprender como
quaisquer outras, não possuindo, deficiências cognitivas, lingüísticas, culturais ou
comportamentais. É responsabilidade de todos nós educadores assegurar a essas
crianças que chegam à escola mais cedo oportunidades de acesso e domínio da
leitura e da escrita. (Ceris Salete Ribas da Silva - Coleção Explorando o ensino.
Língua Portuguesa 2010, p.42)

A Língua é um sistema que se estrutura no uso, escrito e falado, sempre


contextualizado. A condição básica para o uso escrito da língua, que é a apropriação do
sistema alfabético, envolve, da parte dos alunos, aprendizados muito específicos,
independentes do contexto de uso, relativos aos componentes do sistema fonológico da língua
e as suas inter-relações.
20

A Língua Escrita está presente de maneira visível e marcante nas atividades


cotidianas, assim os alfabetizadores terão contato com textos escritos e formulação de
hipóteses sobre sua utilidade, seu funcionamento, sua configuração. Assim a ação pedagógica
torna-se produtiva e contempla de maneira articulada a aprendizagem.
Segundo Sônia Kramer (2010, p.188),

É importante lembrar que, no Brasil, muitas crianças e jovens das camadas


populares permanecem anos na escola sem se tornarem leitores, sem adquirir
familiaridade com os processos de escrita, ou mesmo sem aprender a resolver
problemas simples de matemática. “Muitos são estudos sobre o chamado fracasso
escolar no Brasil que apontam a inadequação da escola: professores e equipes com
frequência não sabem lidar com diferentes culturas, valores, classes sociais, práticas,
hábitos e linguagens, tendo enorme dificuldade de ensinar crianças que provêm das
famílias pobres, com pouco acesso a contextos, produtos e materiais escritos. Esses
conflitos pedagógicos, os baixos salários, as inovações tecnológicas e as condições
precárias de trabalho historicamente vêm contribuindo para gerar o fracasso escolar
e suas consequências sociais e educacionais.

2.3.1 A Interdisciplinaridade a serviço dos professores

Os grandes projetos interdisciplinares da escola, os que atendem interesses específicos


da turma, aqueles que atendem necessidades de inserção dos alunos nas práticas pré-requisito
do currículo, são estratégias pedagógicas centradas na prática social. Adotar esta prática como
ponto de partida do trabalho escolar, além de acarretar a mobilização de gêneros de diversas
instituições, pelos diversos participantes, para realizar a ação, promove o desenvolvimento de
competências básicas para a ação; assim o trabalho escolar pode vir a ser estruturado tendo
essas competências como elemento estruturante; é a experiência em situações diversificadas
da vida social que põe o educando no papel de sujeito produtor de conhecimento, de
participante dos mundos do trabalho, do estudo e do lazer de protagonista. (PCNEM, 1999)
A Interdisciplinaridade deixa claro que todas as disciplinas podem desenvolver todas
as competências e habilidades. Sendo uma concepção atual convida a uma nova concepção do
homem e do conhecimento e vai além, promove a troca de metodologia entre as disciplinas, as
novas propostas educacionais de cada uma delas com base na interdisciplinaridade podem
desenvolver o raciocínio, o pensamento, o sentimento tanto quanto a Matemática, a Arte
dependendo da maneira como elas forem trabalhadas nas práticas pedagógicas em sala de
aula.
Quando o professor começar a trabalhar as disciplinas de forma conjunta, estará
também desenvolvendo as mesmas competências e habilidades dos educandos e
21

estabelecendo relações entre si assim, estará trabalhando a interdisciplinaridade. Assim, fica


clara a compreensão de que todas as disciplinas têm a mesma importância quando estão
envolvidas, comprometidas em desenvolver as mesmas competências e habilidades em nossos
educandos.

Precisamos nos atualizar, tomar consciência das mudanças que se realizam sob
nossos olhos, mas que muitas vezes não queremos enxergar porque se enxergarmos,
vamos ter que mudar, inovar, ler, pesquisar, buscar constantemente. ( Tânia Dias
Queiroz em PEDAGOGIA DE PROJETOS INTERDISCIPLINARES 2001, p. 27)

O trabalho interdisciplinar é algo recente e tudo que é novo causa desconforto porque
nem todos estão dispostos a acompanhar as mudanças e essas mudanças quase sempre exigem
estudo, preparação, superação, mas o medo do novo muitas vezes atrapalha as transformações
que poderiam acontecer; outros preferem não sair da sua zona de conforto ou do comodismo,
porque mudar além de tudo isso exige principalmente trabalho duro.
22

CAPÍTULO II

3. ACERCA DOS DADOS COLETADOS

Pofessora 1

Esta professora está cursando Pedagogia pela Faculdade Cristo Rei, mas quando
começou a lecionar, há sete anos, tinha apenas o Ensino Médio e iniciou sua profissão docente
nesta escola pública a qual foi observada. A educadora trata seu trabalho com muita seriedade
e muito amor à profissão; A construção da aprendizagem de seus alunos é de suma
importância, pois a mesma determina a fase que a criança se encontra para que seja feito um
trabalho de qualidade e avançar no desenvolvimento da criança.
Segundo ela, quando começou a trabalhar, tudo era muito difícil, pois faltava-lhe a
experiência, a didática...mas hoje, os sete anos vividos em sala de aula com as crianças e a
prática pedagógica aplicada em suas aulas, tornou seu ofício mais fácil, interessante e
prazeroso, pois se comparando ao início de sua prática e agora, a experiência faz toda
diferença.
Quando perguntada sobre Interdisciplinaridade, alfabetização e Letramento, respondeu
que costuma trabalhar na prática estes termos, pois ambos vieram com o mesmo objetivo: a
aprendizagem, mas apesar de usá-los, ver nos alunos uma grande falta de interesse e vai mais,
além disso, tentando envolver os alunos de forma lúdica e atrativa mesmo assim, encontra
dificuldades, pois para ela a heterogeneidade da turma complica e a interdisciplinaridade,
alfabetização e letramento são ainda elementos recentes, e tudo que é novo assusta. Para ter
resultados necessita que sejam trabalhados por todos, mas não é o que se ver, porque enquanto
eu trabalho dessa forma há outros que não o fazem.
A indisciplina, segundo a educadora, é outro fator que atrapalha o desenvolvimento de
sua turma, pois suas aulas são planejadas para que os alunos se sintam a vontade para errar e
aprender, mas a falta de socialização e o comportamento os prejudicam, embora este fator não
interfira na sua vontade e responsabilidade de fazer o seu trabalho de forma coerente para a
aprendizagem dos seus alunos, ou seja, mesmo com tantas dificuldades, não deixa de fazer
sua parte corretamente, porque eles são crianças e existe muitas vezes por trás desse
comportamento rebelde, a falta da família.
Sobre as dificuldades que as crianças apresentam em leitura e escrita, no ponto de
vista desta professora não ocorre por falta de bons professores, pois a escola tem ótimos
educadores, mas muitos nem sempre são compromissados com o seu papel de alfabetizador e
23

aponta outros itens que fazem com que não ocorra uma boa aprendizagem: a ausência dos
pais, empenho dos alunos, cumprimentos dos horários e deveres, participação nas atividades
de sala e eventos da escola, problemas familiares e apesar das escolas receberem muitos
recursos materiais, mas ainda não são suficientes para a demanda dos alunos em sala de aula.

Professor 2:

Quanto a professora em questão é formada em Pedagogia pela UVA (Universidade


Vale do Acaraú-CE), leciona há vinte e oito anos de idade. Hoje, segundo ela, a falta de
interesse por parte dos alunos é muito grande, como também a falta de respeito.
“Antigamente, na minha época de aluna, costumava respeitar e admirar meus professores,
coisa que pouco se ver nos dias de hoje”, diz a professora.
Outra questão apontada pela educadora é o descaso da família em relação ao
desempenho dos filhos na escola e na sala de aula, onde a maioria dos pais não se dedica nem
se importa como acontecia anos atrás. Nos dias de hoje os pais deixam os filhos por conta da
escola, tirando o corpo fora e fugindo da responsabilidade que lhes cabem.
Em relação a Interdisciplinaridade, Alfabetização e Letramento acha que são termos
que estão interligados e tenta dentro do possível aplicá-los a sua prática pedagógica buscando
alcançar seus objetivos para beneficiar a aprendizagem dos seus alunos.
Quando perguntada sobre a coerência de sua prática e as necessidades dos alunos, a
professora foi enfática em dizer que isso é difícil de ocorrer por conta da Instituição não
oferecer materiais e outros recursos necessários para subsidiar o seu trabalho, mesmo assim
não deixa de dá o seu melhor para os resultados acontecerem, embora estes sejam difíceis por
conta de tantos pontos negativos.
Para a professora, um dos problemas centrais que a escola e professores enfrentam é a
ausência dos pais nos compromissos de casa e da escola, pois muitos não acompanham o
desenvolvimento dos filhos, não olham nem ajudam nas tarefas de casa, não procuram a
escola nem tão pouco o professor para saber sobre o desempenho das crianças. “Se temos um
bom acompanhamento, com certeza seria bem mais fácil se desenvolver a leitura e escrita
com mais habilidades e desenvolvimento da turma”. (M.S.L. Escola Pública, 2014)
24

Professora de Língua Portuguesa do 6º ano 1

A professora de Língua Portuguesa é formada em Letras com habilitação em


Português e inglês e ensina esta disciplina (Língua Portuguesa) há dez anos, nesta mesma
escola.
Para a professora, se houvesse ajuda dos outros colegas, a aprendizagem dos alunos
seria diferente, porque quando se une forças, os resultados são bem melhores, mas segundo
ela, mesmo não sendo responsabilidade apenas sua como professora de português, muitos
colocam esta “carga” em suas costas, tirando o corpo fora.
“A interdisciplinaridade é a maneira que os professores têm de trabalhar de forma
interativa uns com os outros” diz a professora, pois quando o educador aprende a intercalar as
disciplinas, a prática em sala de aula melhora em todos os aspectos principalmente para o
professor porque ele vai poder interagir com os colegas e vice-versa e para o aluno porque as
vezes um texto em português pode ser desenvolvido em outras disciplinas de outros
professores e isso livraria o aluno do excesso de tarefas e trabalhos.
Segundo a educadora, um dos fatores principais para que haja aprendizagem é um bom
planejamento; quando este é aplicado em sala de aula de forma coerente com as necessidades
dos alunos. Outro fator apontado também é a falta de acompanhamento da família que usa
várias desculpas para não está presente na escola dos seus filhos.
O trabalho da professora é feito a base de diversos gêneros textuais, de maneira
contextualizada, principalmente levando para a realidade de seus alunos, embora com turmas
heterogêneas procura sempre atingir o máximo deles em aprendizagem, mesmo assim os
resultados nem sempre são os melhores.
A professora falou antes de qualquer outra coisa da falta de disciplina que a maioria
dos alunos tem em sala de aula e muitas vezes em todo o ambiente escolar, que segundo ela é
uma das causas dos alunos chegarem ao 6º ano com um nível abaixo do esperado para alunos
nesta série. Diz a professora: “precisamos de disciplina para tudo na vida, até para escovar os
dentes”. E continua: temos alunos desatentos e que não tem autonomia para escolher um
horário em casa para rever e refazer o que foi visto nas aulas. Isso segundo ela tem
prejudicado bastante o processo de ensino e aprendizagem. Sendo estas dificuldades
encontradas na realização de atividades de leitura expressivas e principalmente de
interpretações. “Ler para entender”, esta é a dificuldade crucial comenta a professora.
Neste contexto, constata-se também a ausência dos pais na vida estudantil dos filhos,
tornando assim ainda mais difícil esse processo e dificultando cada vez mais o cumprimento
dos conteúdos programáticos previstos na grade curricular. Outro fator que influencia para o
25

não cumprimento desses conteúdos são os eventos que acontecem na escola e o próprio ritmo
de aprendizagem de alguns alunos.
A escola é um espaço privilegiado para se aprender ler e escrever, mas tem suas
limitações referentes ao espaço físico, o que não é adequado para o alunado desenvolver
algumas atividades físicas e recreativas; fatores importantes para um bom desempenho nas
atividades da sala de aula. Acredita a professora que é possível mudar essa situação que se
encontra na educação, conscientizando os alunos da importância da aquisição da leitura e
escrita de forma proficiente. Depois o professor e a escola devem promover atividades que os
envolvam com empenho e compromisso na realização com leitura e escrita.

Professor de Língua Portuguesa do 6º ano 2:

A professora tem curso superior. Formada em Economia pela FIP (Fundação


Francisco Mascarenhas, Patos-PB), mas hoje está cursando Letras pela UFPB (Universidade
Federal da Paraíba - virtual).
Para a professora a responsabilidade de se trabalhar linguagem na sala de aula não é
apenas sua como professora de Português, mas que este aprendizado depende mais da
vivência que o aluno tem no seu cotidiano e do que ele expressa. Além deste fator, uma
mudança expressiva deveria ocorrer também na linguagem que é empregada, exposta e
trabalhada nos livros didáticos e nas mídias.
Quando perguntada sobre a Interdisciplinaridade disse: “Seria uma estreita
convivência entre as diversas disciplinas”. Assim sendo, para ela fala-se muito nisso, mas não
é o que acontece. Não é uma garantia de nada, mas talvez houvesse resultados bons se todos
se unissem num mesmo objetivo. Mesmo assim, ainda segundo a educadora, são muitas
teorias e regras a serem seguidas, mas pouca base de aprendizagem.
No ponto de vista da professora de Língua Portuguesa em questão, as crianças têm
uma base de alfabetização errada, pois muitas não conseguem sair dos anos iniciais (Ensino
Fundamental I) com o mínimo de conhecimento e domínio dos códigos lingüísticos. Mesmo
assim, tenta incentivá-los a desenvolver o hábito de leitura de vários gêneros textuais com
temas atuais e da realidade dos alunos para que estes textos além de objetivos lingüísticos
tenham também função social na vida dessas crianças.
Mesmo com tanto incentivo e dedicação, ver também que os alunos se saem muito
bem na oralidade, mas quando partem para a produção escrita poucos conseguem progredir.
26

Deixa a seguinte frase: “É como lhe entregar uma máquina sem manual de instrução e não
houvesse ninguém para fazê-la funcionar”.

3.2 Análises dos dados

A alfabetização é o período mais importante da formação escolar de uma pessoa, tendo


insucesso o aluno desiste, aumentando as estatísticas de evasão escolar nos anos iniciais.
Porém a escola, muitas vezes, não atribui o valor que ela merece, ensinando mecanicamente a
decodificação do código linguístico, sem desenvolver nos alunos, estruturas cognitivas
indispensáveis para a leitura e a escrita. Por isso surgem as dificuldades quando os alunos
ingressam no 6º ano, pois os mesmos não são capazes de construir habilidades de leitura e da
escrita de uma determinada língua, sendo que a alfabetização envolve o desenvolvimento de
compreensão e capacidade de interpretar, de criticar, de resignificar e de produzir
conhecimento. Nesse âmbito foram aplicados questionários a dois professores de língua
portuguesa do 6º ano do ensino fundamental II e dois a professores do 5º ano do ensino
fundamental I, através dos quais eles expõem seus métodos de trabalhar as dificuldades
trazidas pelos alunos, como também as dificuldades encontradas em relação aos recursos
oferecidos.
Entre os professores do 5º ano do ensino fundamental, um deles já tem o curso de
Pedagogia e faz vinte e oito anos que leciona para crianças, o outro está cursando Pedagogia e
há sete trabalha com crianças. Ambos encontram muitas dificuldades em alfabetizar,
principalmente pela falta de materiais, acompanhamento dos pais e compromisso das próprias
crianças que muitas vezes não trazem suas tarefas e não cumprem com todas as obrigações
que lhes são atribuídas.
Para os professores de Língua Portuguesa que responderam ao questionário um dos
fatores mais negativos pelo qual as crianças chegam ao 6º ano com tantas dificuldades e até
sem muita noção de leitura e escrita é algum professor da base deixar de fazer o seu trabalho
bem ou não dá continuidade ao que o colega do ano anterior começou, ou seja, às vezes o
egoísmo de alguns prejudica a vida de muitos. Outros fatores apontados também e não tão
diferentes dos professores do 5º ano são a falta de materiais, o não acompanhamento dos pais,
a própria criança que deixa suas responsabilidades de lado, mas o principal e fundamental
fator para eles é a falta de um trabalho interdisciplinar com outros colegas que se negam a
compartilhar suas disciplinas, idéias e dificuldades.
27

A preocupação para que as crianças tenham uma educação de qualidade e venham a


aprender e crescer profissionalmente é clara, mas ainda se busca muito a colaboração de
outros grupos como a sociedade, como os pais, os gestores, os professores e o principal – o
aluno, pois sem ele nenhuma dessas discussões e declarações tem sentido de existir. Tratando
da escola em particular, pelos questionários aplicados aos professores, as visitas ás escolas e
as turmas em questão, fica nítida a necessidade que se tem de haver um trabalho
interdisciplinar em que todos devam assumir sua responsabilidade diante dos problemas e
dificuldades surgidos.
Diante dessas observações e em conversas informais com algumas mães, professores,
nessas duas escolas, sempre identificam a problemática que neste caso em particular é a
dificuldade que o professor de língua portuguesa encontra em trabalhar leitura e escrita
quando não pode contar com ajuda e apoio de outros colegas, pois este é um problema que se
estende até o ensino médio, mas que se responsabiliza sempre o professor de português
quando este na verdade não é o único responsável.
Depois de muito se observar nas escolas em questão, alguns dados ficaram claros
como uma grande maioria das crianças das turmas de 6º anos vem da zona rural do município
em questão e até de outros municípios também; outra parte fica na troca de escola para escola,
pois só existem essas duas que foram observadas na zona urbana. Isso é prejudicial para o
desenvolvimento das crianças e complicado para o professor trabalhar porque forma-se nessa
tudo turma muito heterogênea, aonde cada grupo desses alunos vem de um histórico escolar
muito diversificado, deixando assim o professor meio perdido e com este fato ele também
perde tempo em descobrir que estratégias usar para trabalhar com esses alunos.
Algumas crianças tiveram pedagogos como professores até o 5º ano, outras estudaram
com professores apenas com ensino médio; um dado muito relativo, pois quantas vezes não
ouvimos relatos de grandes profissionais hoje que foram alfabetizados pela mãe, por uma tia
ou por uma irmã mais velha que havia terminado o primário (naquela época), mas sabemos
que é fundamental hoje o professor ter um curso superior na sua área e dominar o seu trabalho
para ser reconhecido como um bom profissional, porque os desafios de mudanças na
Educação são muitos e cabe a ele procurar meios para melhorar suas práticas em sala de aula.
28

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Educação passa hoje por um processo de transformação que vai das mais simples
propostas às mais complexas mídias e tecnologias avançadas que vem surgindo a cada dia.
Essas transformações estão aí para que também haja uma melhora neste campo, embora é
clara a deficiência de aprendizagem que os estudantes vêm sentindo principalmente ao
chegarem ao 6º ano do ensino fundamental II, onde no ensino fundamental I deveriam sair
alfabetizadas, mas a realidade é bem diferente do que se ver e foi neste sentido que esta
pesquisa se desenvolveu.
O Ministério da Educação vem criando programas federais para que estas dificuldades
de aprendizagem em leitura e escrita sejam sanadas, mas é sabido que deve haver a
colaboração de todos que fazem a Educação e na verdade não é o que se ver, pois o professor
de Língua Portuguesa na maioria das vezes se encontra sozinho com a responsabilidade de
ensinar a ler e escrever e quando isso não ocorre a culpa sempre recai sobre ele. Outro fator
agravante é que hoje temos no Brasil professores que não acompanham a evolução dos
recursos didáticos e passam a viver a sombra de outros colegas, ou por medo do novo ou pelo
próprio comodismo que afeta uma grande parte dos profissionais que atuam na Educação.
O problema da dificuldade de aprendizagem das crianças desde as séries iniciais e se
estende por uma vida começa a ser notado no 6º ano e é muito sério e o que se observou é que
a escola não caminha sozinha e os seguimentos e parceiros que poderiam estar juntos, muitas
vezes ignoram esta problemática. Isto é observado com mais freqüência na própria família
que fica alheia a situação e assim, cada um joga o problema para o outro, ou seja, o sistema
joga para a escola; a escola joga para a família; a família para a escola; em fim vira uma bola
de neve em que ninguém se ajuda e o principal prejudicado é a criança.
Diante deste trabalho que foi desenvolvido no período de dezembro de 2013 a
fevereiro de 2014 em duas escolas públicas, uma municipal e a outra estadual e busca-se que
alunos, professores, pais, e a escola como um todo se conscientizem e cumpram seus papéis
de forma responsável para que as crianças não cheguem mais ao 6º ano com dificuldades que
não são regulares para este nível, mas que mesmo acontecendo, o professor de Língua
Portuguesa principalmente, ao diagnosticar o problema use estratégias para mudar esta
realidade, buscando a parceria de todos que necessite e que outros professores de outras
disciplinas se conscientizem de que eles são tão responsáveis quanto o professor de português
da aprendizagem ou não dos seus alunos
29

Muito importante, também foi observar, nessa mesma escola, que há alunos com
desempenho positivo também. Sendo o contexto escolar até certo ponto adverso e não
facilitador da atuação do professor, pois este nem sempre tem recursos materiais disponíveis
para manuseio de todos os alunos, a falta de parceria com colegas de outras disciplinas, a
influência do mundo fora da sala de aula, como também a falta de apoio e ajuda de alguns
familiares e até mesmo a falta de uma equipe pedagógica para acompanhamento e subsidiá-
los no planejamento de suas aulas. Talvez não sejam fatores decisivos, mas alguns dos
principais, já que se pretendia identificar o que, na prática, determina e favorece a
concretização da leitura e da escrita, portanto, se todos estes fatores caminhassem juntos para
o mesmo objetivo que seria o desenvolvimento da aprendizagem das crianças.
As mudanças estão chegando a passos lentos, mas já é um grande começo para a
transformação das nossas crianças e isso só acontecerá se a maioria dos educadores tentarem
lutar pelos seus alunos, buscando de alguma forma, resolver ou pelo menos amenizar suas
dificuldades e necessidades, procurando fazer sempre o melhor por eles. Não procurar
culpados pelos seus fracassos, mas encontrar sentido para o sucesso deles.
30

REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério da Educação. Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a


inclusão da criança de seis anos de idade. Brasília: FNDE, 2006.

BRASIL, Ministério da Educação. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.


Caderno de Apresentação. Brasília: MEC, SEB, 2014.

FERREIRO, Emília e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre:


Artmed, 2008.

KRAMER, Sônia. Alfabetização, Leitura e Escrita: formação de professores em curso. São


Paulo: Ática, 2010.

Ministério da Educação. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Formação de


Professores. Brasília: CEBEC, 2012.

PENIN, S. T. S. Uma escola primária na periferia de São Paulo. In: Cadernos de Pesquisa,
São Paulo: 1983.

QUEIROZ, Tânia Dias; BRAGA, Márcia M. V; ELAINE Penha. Pedagogia de Projetos


Interdisciplinares. São Paulo: Rideel, 2001.

RANGEL, E. O; ROJO, R. H. R. Língua Portuguesa: ensino fundamental. In: BRASIL,


Ministério da Educação – Secretaria da Educação Básica. Coleção explorando o ensino v. 19.
Brasília, 2010.

ROMANELLI, O. História da Educação no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1978.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 23. ed. ver. e atual.
São Paulo: Cortez, 2007.

SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2003.


31

APÊNDICES
32
33
34
35
36
37
38

Você também pode gostar