Trabalho - Vertedouro - Ota - SBRH2013 - Pap013126
Trabalho - Vertedouro - Ota - SBRH2013 - Pap013126
Trabalho - Vertedouro - Ota - SBRH2013 - Pap013126
INTRODUÇÃO
O vertedouro caracteriza-se por uma estrutura que permite a passagem segura das enchentes,
protegendo a obra e garantindo a sua integridade. É muito natural que se aproveite primeiro os
melhores locais para se instalar as grandes usinas hidrelétricas. Isto é, locais onde há grandes
quedas com grandes vazões, em vales estreitos para que a área inundada seja a menor possível.
Hoje, no entanto, há necessidade de se aproveitar locais menos favoráveis em termos de queda, mas
felizmente temos grande potencial a desenvolver considerando a abundância de vazão nos rios
brasileiros. Surge com isso a necessidade de se projetar vertedouros com baixas quedas, alguns com
considerável submergência por jusante. A submergência por jusante pode pressurizar a crista e
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UFPR, LACTEC – Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento; paulo.cabral@lactec.org.br*
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UFPR, LACTEC – Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento; ota.dhs@ufpr.br
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UFPR, LACTEC – Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento; andre@lactec.org.br
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ELETRONORTE – Centrais Elétricas do Norte do Brasil; alvaro@eln.gov.br
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ELETRONORTE – Centrais Elétricas do Norte do Brasil; hfranco@eln.gov.br
XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1
consequentemente reduzir a capacidade de descarga do vertedouro dificultando o seu
dimensionamento.
MATERIAL E MÉTODOS
A geometria da soleira vertedoura utilizada neste estudo segue o perfil padrão sugerido em
UNITED STATES BUREAU OF RECLAMATION (2006) para uma carga de projeto de 17,00 m.
O paramento de montante foi construído com inclinação de 3:3, devido à alta velocidade de
aproximação que existe em vertedouros desse tipo. A adoção do paramento de montante inclinado
(2:3 ou 3:3) é comum nesse tipo de vertedouro, tendo em vista as condições de estabilidade
estrutural da soleira (no protótipo) e que hidraulicamente, essa inclinação diminui a formação de
vórtices.
Modelos Numéricos
Enfocando o fluxo potencial, Ota (1986) utilizou o método dos elementos de contorno para
explicar o efeito da contracurva entre o perfil Creager e a calha do vertedouro de Segredo. Esse
trabalho mostrou que o escoamento na contracurva pode aumentar a pressão na crista e diminuir a
capacidade de descarga. Inoue (2005) apresentou os resultados da utilização do modelo
computacional CFX (v.5.7) em diferentes casos de obras hidráulicas. O objetivo principal foi
verificar a eficiência de uma ferramenta que utiliza CFD em trabalhos práticos. Um desses casos foi
o do escoamento sobre crista de vertedouro, onde o modelo CFX (v.5.7) se mostrou eficiente na
determinação do campo de pressões e perfis de linha da água. Povh et al. (2013) obtiveram
resultados satisfatórios comparando resultados do modelo físico bidimensional da UHE Santo
Antônio com modelo numérico desenvolvido com o software FLOW-3D.
XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 3
Modelo Numérico Ansys CFX
Figura 4 – Malha numérica do modelo matemático (detalhe dos elementos refinados próximo à soleira).
O software Ansys CFX oferece vários modelos de turbulência, no presente trabalho foi
utilizado o modelo k-ε, que oferece uma boa relação entre esforço computacional e precisão
numérica.
O problema a ser estudado envolve escoamento multifásico que engloba o escoamento de dois
fluidos (água e ar), como simplificação o modelo foi configurado como homogêneo. Esta
configuração assume que o ar e água compartilham o mesmo campo de velocidades, diminuindo o
esforço computacional a ser realizado pelo solver.
Saída
(Outlet)
Alimentação
(Inlet)
Soleira
(wall)
Após uma resolução prévia, o solver do software refina a malha automaticamente na região da
interface entre a água e o ar, obtendo-se mais precisão na determinação da superfície livre da água.
A malha refinada automaticamente pelo software é apresentada na Figura 6.
O perfil da superfície livre obtida pelo modelo matemático mostrou-se bastante razoável.
Comparando-se os perfis de linha de água percebe-se uma pequena descontinuidade no ressalto
hidráulico no modelo matemático (ver Figura 7). Essa descontinuidade possivelmente se deve ao
fato de que no modelo matemático o ar e a água compartilham o mesmo campo de velocidades,
dificultando a aeração do fluxo (entrada de bolhas de ar no modelo matemático). Talvez esta
descontinuidade possa ser eliminada alterando-se as configurações do modelo matemático fazendo
campos de velocidades separados para água e ar. Infelizmente essa configuração demandaria um
esforço computacional maior, incompatível com o tempo disponível para a realização do projeto.
Descontinuidade
Figura 7 – Superfície livre do escoamento obtida pelo modelo físico e pelo modelo matemático.
Tabela 1 – Confronto dos níveis de água e capacidade de descarga dos modelos matemático e físico
Vazão Nível a Velocidade de Coeficiente de
Nível de Energia
Modelo específica montante Aproximação descarga
(m)
(m³/s m) (m) (m/s) (m1/2/s)
CFX 149,40 95,20 6,44 97,31 2,07
Físico 149,40 95,47 6,36 97,54 2,03
Conclui-se que o modelo computacional CFX foi capaz de fornecer resultados razoavelmente
satisfatórios quando comparados ao modelo físico. Os perfis de linha de água, pressões e aspecto do
escoamento obtidos no modelo computacional foram semelhantes ao obtidos no modelo físico,
exceto por uma pequena descontinuidade no ressalto hidráulico, que ocasionou mudanças no perfil
de linha de água e pressões. Essa descontinuidade foi aparentemente ocasionada por uma
simplificação dos parâmetros no modelo matemático, que admitiu que água e o ar compartilhavam
o mesmo campo de velocidades no modelo computacional.
O nível de energia resultante a montante do vertedouro apresentou uma diferença de 0,23 cm,
que é considerável no caso do projeto de usinas de médio e grande porte, fazendo com que o
modelo físico ainda seja referência para determinação da capacidade de descarga de grandes obras
hidráulicas. No entanto, pode-se concluir que o modelo computacional é uma ferramenta muito útil
na fase de pré-dimensionamento de um vertedouro, mesmo que afogado por jusante, mas há muito
para se desenvolver para garantir o nível de confiabilidade que tem os modelos físicos.
REFERÊNCIAS
BENAY, R.; CHANETZ, B.; DÉLERY, J. (2003). Code verification/validation with respect to
experimental data banks. Aerospace Science and Technology, v.7, n.4, pp.239 – 262.
IKEGAWA, M.; WASHIZU, K. (1973) Finite element method applied to analysis of flow over a
spillway crest. International Journal for Numerical Methods in Engineering, v.6, n.2, p.179-189.
OTA, J.J. (1986) Considerações sobre capacidade de descarga e pressões na região da crista de
vertedouros de encosta. In Anais do Congresso Latino-americano de Hidráulica, Dezembro 1986,
São Paulo. v.4, p.142 – 148.
POVH, P.H.; ARAUJO, M.F.; VANZ, A.L. (2013) Simulação numérica do Vertedouro da UHE
Santo Antônio In Anais do XXIX Seminário Nacional de Grandes Barragens, Abril 2013, Porto de
Galinhas. T 107 – A21.
ROMKES, S.J.P. et al. (2003). CFD modeling and experimental validation of particle-to-fluid mass
and heat transfer in a packed bed at very low channel to particle diameter ratio. Chemical
Engineering Journal, v.96, p.3 – 13.
UNITED STATES BUREAU OF RECLAMATION (2006). Spillways. In: Design of small dams.
New Delhi, SBS Publishers & Distributors, pp.339 – 434.