2023 EmmanuelVictorMirandaDeOliveira TCC

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MODELAGEM E ANÁLISES DE SISTEMAS

DE ATERRAMENTO DE LINHAS DE
TRANSMISSÃO UTILIZANDO O ATP

EMMANUEL VICTOR MIRANDA DE OLIVEIRA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO


EM ENGENHARIA ELÉTRICA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

FACULDADE DE TECNOLOGIA

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Universidade de Brasília
Faculdade de Tecnologia
Departamento de Engenharia Elétrica

Modelagem e análises de sistemas de aterramento de linhas de


transmissão utilizando o ATP
Emmanuel Victor Miranda de Oliveira

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO SUBMETIDO AO DEPARTAMENTO


DE ENGENHARIA ELÉTRICA DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA COMO
PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU
DE ENGENHEIRO ELETRICISTA.

APROVADA POR:

Prof. Amauri Gutierrez Martins Britto, D.Sc. (ENE-UnB)


(Orientador)

Prof. Francisco Damasceno Freitas, D.Sc. (ENE-UnB)


(Examinador Externo)

Prof. Kleber Melo e Silva, D.Sc (ENE-UnB)


(Examinador Externo)

Brasília/DF, fevereiro de 2023.


FICHA CATALOGRÁFICA
OLIVEIRA, EMMANUEL
Modelagem e análises de sistemas de aterramento de linhas de transmissão utilizando o ATP.
[Brasília/DF] 2023.
xxx, nnnp., 210 x 297 mm (ENE/FT/UnB, Engenheiro Eletricista, Trabalho de Conclusão de
Curso, 2023).
Universidade de Brasília, Faculdade de Tecnologia, Departamento de Engenharia Elétrica.
Departamento de Engenharia Elétrica
1. Acoplamento Indutivo 2. Acoplamento Condutivo
3. Interferências Eletromagnéticas 4. Tubulações Metálicas
5. Curto-Circuito 6. ATP
7. Resistividade do Solo 8. Linhas de Transmissão
I. ENE/FT/UnB II. Engenheiro Eletricista

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
OLIVEIRA, EMMANUEL (2023). Modelagem e análises de sistemas de aterramento de
linhas de transmissão utilizando o ATP. Trabalho de Conclusão de Curso, Publicação
PPGEE.XXXXX/2023, Departamento de Engenharia Elétrica, Universidade de Brasília,
Brasília, DF, xxxxp.

CESSÃO DE DIREITOS
AUTOR: Emmanuel Oliveira
TÍTULO: Modelagem e análises de sistemas de aterramento de linhas de transmissão
utilizando o ATP.
GRAU: Engenheiro Eletricista ANO: 2023

É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta Trabalho de


Conclusão de Curso e para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos
acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte deste
Trabalho de Conclusão de Curso pode ser reproduzido sem autorização por escrito do autor.

Emmanuel Oliveira
Universidade de Brasília (UnB)
Campus Darcy Ribeiro
Faculdade de Tecnologia - FT
Departamento de Engenharia Elétrica(ENE)
Brasília - DF CEP 70919-970
AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, à Deus pela oportunidade de ter conseguido chegar até aqui.

Agradeço à minha família, minha mãe Marilda, meu pai Wender e minha irmã Yasmin, que
representam minha base, e me deram a oportunidade de traçar meu caminho. Agradeço pela
paciência e por estarem sempre ao meu lado prestando apoio em todos os momentos.

Agradeço ao meu orientador, professor Amauri, pelo tempo e acompanhamento constante.


Este ano de trabalho representou um período de grande aprendizado que não seria possível sem
sua ajuda.

Agradeço à minha namorada, amiga e minha companheira, Carolina Braga. Seu compa-
nheirismo, apoio e amizade foram essenciais para superar com leveza os desafios encontrados
durante a graduação.

Agradeço aos meus colegas de curso, que representaram grande apoio, indicando o caminho
e dando suporte desde o início da graduação. Em especial aos amigos, Andrey Otacílio, Gabriel
César, Patrick Ahotondji, Marcelo Souza, Ivan Cunha, Kleber Lucas, Luís Gustavo e vários
outros que prestaram apoio e ajuda em tempos de pandemia.

Por fim, agradeço à todos aqui não citados que de alguma forma participaram de minha
formação.
RESUMO

É apresentada neste trabalho uma implementação de um modelo de circuito baseado na


ferramenta Alternative Transients Program (ATP), destinado à simulação do fenômeno de aco-
plamento condutivo pelo solo causado pela dispersão de corrente por um eletrodo ou malha de
aterramento. Este modelo tem por objetivo a análise de interferências eletromagnéticas entre
linhas de transmissão e tubulações metálicas, em regime de faltas envolvendo a terra. Preli-
minarmente, foi desenvolvido e validado um modelo representativo do acoplamento indutivo
entre a linha interferente e a instalação alvo, com o intuito de se estabelecer um cenário base de
interferências eletromagnéticas e representar o primeiro fenômeno relevante em tais condições.
Em seguida, foi construído um modelo capaz de simular o efeito condutivo das interferências,
o que, associado à componente indutiva, resulta na ocorrência de tensões de estresse potencial-
mente perigosas ao longo da estrutura observada. O trabalho demonstra as devidas validações
para cada modelo. Os modelos são aplicados ao estudo de um caso real e apresentam resul-
tados satisfatórios com erros na faixa dos 13% em relação ao software de referência, CDEGS.
Considera-se este trabalho de grande aplicabilidade tanto para a comunidade acadêmica quanto
para a indústria, uma vez que possibilita a predição de cenários de risco e a avaliação de pro-
jetos de soluções de mitigação.

Palavras-chave: acoplamento indutivo, acoplamento condutivo, interferências eletromagnéticas,


tubulações metálicas, curto-circuito, ATP, resistividade do solo, Linhas de Transmissão.
ABSTRACT

This work presents an implementation of a circuit model based on the Alternative Tran-
sients Program (ATP) tool, designed to simulate the phenomenon of conductive coupling by
the ground caused by current dispersion by an electrode or grounding mesh. This model aims
at the analysis of electromagnetic interference between transmission lines and metallic pipes,
in the regime of faults involving earth. Preliminarily, a representative model of the inductive
coupling between the interfering line and the target installation was developed and validated,
with the aim of establishing a baseline scenario of electromagnetic interference and represen-
ting the first relevant phenomenon in such conditions. Next, a model capable of simulating
the conductive effect of interference was built, which, associated with the inductive component,
results in the occurrence of potentially dangerous stress voltages along the observed structure.
The work demonstrates the proper validations for each model. The models are applied to the
study of a real case and present satisfactory results with errors in the range of 13% in relation
to the reference software, CDEGS. This work is considered of great applicability both for the
academic community and for the industry, since it allows the prediction of risk scenarios and
the evaluation of projects of mitigation solutions..

Keywords: inductive coupling, conductive coupling, electromagnetic interference, metallic pi-


pes, short circuit, ATP, soil resistivity, transmission lines.
SUMÁRIO

Sumário i

Lista de figuras iii

Lista de tabelas v

Lista de símbolos vi

Glossário viii

Capítulo 1 – Introdução 1

1.1 Objetivos do trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2


1.2 Metodologia geral de simulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.3 Contribuições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.4 Estrutura do trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

Capítulo 2 – Fundamentação teórica 6

2.1 Resistividade do solo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6


2.1.1 Método de Wenner . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.1.2 Estratificação do solo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.1.3 Proposta de aproximação para um modelo multicamadas . . . . . . . . . 10
2.2 Acoplamento indutivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.2.1 Impedância mútua de Carson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2.2 Zona de interferência eletromagnética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.2.3 Distâncias equivalentes em paralelismos oblíquos e em cruzamentos . . . 16
2.2.4 Modelo de circuito para a representação do duto afetado . . . . . . . . . 18
2.3 Acoplamento capacitivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.4 Acoplamento condutivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.5 Riscos provocados pelas interferências eletromagnéticas . . . . . . . . . . . . . . 25
2.5.1 Tensão de toque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.5.2 Tensão de passo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Sumário ii

2.5.3 Danos ao duto metálico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26


2.6 Síntese do capítulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

Capítulo 3 – Modelagem circuital do acoplamento condutivo 27

3.1 Construção do modelo para o acoplamento indutivo . . . . . . . . . . . . . . . . 27


3.1.1 Modelagem do sistema em forma de circuito via ATPDraw . . . . . . . . 29
3.1.1.1 Resposta em regime permanente . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.1.1.2 Resposta indutiva em regime de falta . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.1.1.3 Resposta condutiva obtida analiticamente . . . . . . . . . . . . 34
3.2 Idealização e construção do modelo para o acoplamento condutivo . . . . . . . . 36
3.2.1 Limitação de caracteres no cartão ATP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.2.2 Implementação com a utilização do bloco MODELS . . . . . . . . . . . . 38
3.3 Síntese do capítulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

Capítulo 4 – Estudo de caso 43

4.1 Integração do modelo condutivo ao EMISimu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43


4.1.1 Resultados encontrados após integração ao EMISimu . . . . . . . . . . . 44
4.1.1.1 Resposta em regime permanente . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
4.1.1.2 Resposta em regime de falta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
4.1.1.3 Resposta condutiva realizada dentro do ambiente EMTP/ATP . 46
4.2 Discussões a respeito do resultado encontrado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.3 Síntese do capítulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

Capítulo 5 – Conclusões e trabalhos futuros 52

Referências 54
LISTA DE FIGURAS

2.1 Diagrama para a medida feita pelo método de Wenner . . . . . . . . . . . . . . 7

2.2 Ilustração para exemplificar o processo de estratificação do solo


a: Solo real
b: Solo estratificado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

2.3 Ilustração para o efeito de acoplamento indutivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

2.4 Ilustração para a descrição a impedância mútua de Carson para dois condutores
aéreos em solo uniforme. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

2.5 Zona de interferência eletromagnética. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

2.6 Exemplo de obliquidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

2.7 Ilustração para a aproximação realizada por (2.9) e (2.10). . . . . . . . . . . . . 17

2.8 Ilustração para o circuito equivalente proposto em (CIGRÉ WG-36.02, 1995) . . 18

2.9 Representação transversal de um duto com uma camada metálica e um revesti-


mento de espessura δrev . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

2.10 Ilustração para o efeito de acoplamento capacitivo. . . . . . . . . . . . . . . . . 20

2.11 Ilustração para o efeito de acoplamento condutivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

2.12 Modelo de circuito para o efeito de acoplamento condutivo. . . . . . . . . . . . . 24

3.1 Geometria escolhida para análise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3.2 Sistema escolhido para análise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

3.3 Bloco LCC utilizado para a representação de uma seção com 3 condutores de
fase, 1 para-raio e uma tubulação metálica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

3.4 Circuito no ATPDraw para a simulação do sistema apresentado . . . . . . . . . 31


Lista de Figuras iv

3.5 Tensão induzida na tubulação devido ao acoplamento indutivo em regime per-


manente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

3.6 Tensão induzida na tubulação devido ao acoplamento indutivo com a presença


de um curto-circuito na LT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

3.7 Efeitos do acoplamento condutivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

3.8 Modelo de circuito idealizado em (MATOS, 2021), capaz de simular a compo-


nente condutiva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

3.9 Bloco MODELS disponível no ATPDraw . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

3.10 Bloco ATPDraw correspondente a uma fonte de tensão controlada por corrente . 39

3.11 Inserção da fonte controlada no modelo apresentado em 3.4 . . . . . . . . . . . . 40

3.12 Efeito do acoplamento condutivo com apenas 12 subdivisões . . . . . . . . . . . 41

4.1 Fluxograma de implementação proposta no ATP . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

4.2 Tensão induzida devido ao acoplamento indutivo entre a LT e a tubulação . . . 45

4.3 Tensão induzida na tubulação devido ao acoplamento indutivo com a presença


de um curto-circuito na LT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

4.4 Tensão induzida na tubulação devido ao acoplamento condutivo . . . . . . . . . 47

4.5 Tensão induzida na tubulação devido ao acoplamento condutivo com a presença


de um curto-circuito na LT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

4.6 Ilustração de um curto-circuito monofásico, em que há distribuição das correntes


de falta e elevação do potencial no solo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

4.7 Distribuição de potencial no decorrer do tempo, ao londo do percurso da tubulação 50


LISTA DE TABELAS

3.1 Especificação dos condutores utilizados no modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

3.2 Ilustração de um código em ATP e seu limite de caracteres . . . . . . . . . . . . 37


LISTA DE SÍMBOLOS

Ra Resistência aparente [Ω]

Vint Tensão medida pelo método de Wenner [V]

IExt Corrente medida pelo método de Wenner [A]

a Distância entre as hastes no método de Wenner [m]

b Profundidade em que está inserida a haste no método de Wenner [m]

ρ Resistividade elétrica do solo [Ω.m]

ρm
a Resistividade aparente medida no solo [Ω.m]

ρeq Resistividade equivalente de um solo multicamadas [Ω.m]

Zij Impedância mútua de Carson para dois condutores aéreos [Ω/m]

ω Frequência angular [Rad/s]

Dij Distância entre o condutor i e o j [m]


Dij Distância entre o condutor i e a imagem do condutor j [m]

ε0 Permissividade elétrica do vácuo (≈ 8,8542 x 10− 12) [F/m]

εr Permissividade elétrica relativa do solo [F/m]

µ0 Permeabilidade magnética no vácuo (≈4π·10− 7) [H/m]

Zmutua Impedância mútua de Carson [Ω/m]

deq Distância equivalente para uma obliquidade [m]

a1 Distanciamento em relação ao eixo do circuito fonte [m]

a2 Distanciamento em relação ao eixo do circuito fonte [m]

Zd Impedância do segmento [Ω/m]


Lista de Símbolos vii

Zd,int Impedância interna do duto [Ω/m]

Zd,ext Impedância externa do duto [Ω/m]

rext Raio externo do duto [m]

δr ev Espessura do revestimento isolante [m]

ρc Resistividade da camada isolante [Ω.m]

ϵc Permissividade elétrica relativa do revestimento [F/m]

ρp Resistividade do metal presente no duto [Ω.m]

µp Permeabilidade magnética relativa do metal presente no duto [H/m]

rint Raio interno do duto [m]

ref Raio efetivo do duto [m]

yi Altura do condutor em relação à superfície do solo [m]

Pi,j Coeficientes de potencial de Maxwell entre os condutores i e j [m/F]

Us Elevação de potencial do solo [V]

Oj Coordenadas (x,y,z) do ponto fonte [m]

Pi Coordenadas (x,y,z) do ponto de observação [m]

Gˆk,i Função de Green [Ω]


GLOSSÁRIO

ATP Alternative Transients Program

LT Linha de Transmissão

CDEGS Currente Distribuition, Electromagnetic Fields, Grounding and Soil Structure


Analysis

EMTP Electromagnetic Transients Program

FEM Força eletromotriz

LCC Line/Cable Constants

NBR Norma Técnica Brasileira

TACS Transient Analysis of Control Systems

EMISimu Electromagnetic Interferences Simulator


CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

Este trabalho trata de um estudo a respeito de interferências eletromagnéticas. Em especial


o comportamento destas interferências em estruturas metálicas, como tubulações utilizadas
para o transporte de gás, óleo e minérios.

Este tipo de interferência se torna comum à medida que há uma expansão da malha dutoviá-
ria existente no país (ESTEVES, 2021), como também um aumento constante na infraestrutura
e na potência instalada do sistema elétrico. Motivos pelos quais, associados a requisitos am-
bientais cada vez mais restritivos, verifica-se um crescente compartilhamento nas de faixas de
servidão entre as malhas dutoviárias e elétricas. O que ocasiona proximidade e interações
mútuas entre estes dois tipos de sistema.

A análise da proximidade entre tubulações metálicas e linhas de transmissão são de grande


interesse técnico, regulatório e econômico para a indústria. Devido à natureza crítica de cada
sistema, seu funcionamento não pode ser interrompido, e qualquer dano causado gera alto
custo e perda para as empresas responsáveis. Além da questão relacionada à segurança e
riscos associados à operação e manutenção destes sistemas. Dessa forma, faz-se necessário e
atrativo financeiramente, o estudo e a identificação de potenciais regiões de risco, que podem
acarretar prejuízos tanto às tubulações quanto ao sistema elétrico. A proximidade entre as
distintas instalações condutoras ocasiona alguns tipos de interferências, sendo as principais:
acoplamento indutivo, capacitivo e o condutivo. Em regime permanente, há a presença das
pertubações indutivas e capacitivas, inerentes ao sistema. Já em regime transitório, quando
há ocorrência de falta na linha envolvendo o terra, há a presença de pertubações condutivas.
Estes tipos de interferências variam para cada situação em estudo, tendo dependência de vários
fatores, como a geometria em que estão dispostos o duto e a linha, o tipo de condutor utilizado
na linha, níveis de corrente e tensão, resistividade elétrica do solo, dentre outros.

É base para o desenvolvimento e estudo do tema proposto neste trabalho, teorias e modelos
1.1 – Objetivos do trabalho 2

apresentados em trabalhos como (MARTINS-BRITTO, 2017) e (MARTINS-BRITTO, 2020),


nos quais são apresentadas contribuições para análises mais realistas para interferências

1.1 OBJETIVOS DO TRABALHO

O objetivo principal deste trabalho é o aprimoramento de um modelo circuital que possibilite


simular a influência condutiva de uma interferência eletromagnética. Tendo como base um
conjunto de métodos já implementados e validados em estudos anteriores (MORAES et al.,
2020), que se destinam à análise da geometria das linhas envolvidas, construção dos circuitos
equivalentes de acoplamento e representação no domínio modal das componentes indutiva e
capacitiva. Com isto, aborda-se uma importante lacuna reportada pelos autores dos trabalhos
citados, que é a subdivisão dos condutores da estrutura afetada e a representação de múltiplas
fontes de acoplamento condutivo em segmentos suficientemente pequenos para retratar com
precisão a elevação de potencial do solo local ao longo da instalação interferida (MARTINS-
BRITTO et al., 2021b).

O programa utilizado para o desenvolvimento das simulações e do modelo circuital foi o


Alternative Transients Program (ATP), que foi escolhido por ser amplamente utilizado no meio
científico,e na indústria de energia bem como por apresentar a vantagem de ser disponibilizado
gratuitamente, o que viabiliza uma maior divulgação do tema e futuros estudos.

O modelo implementado neste trabalho se insere no contexto de um projeto maior, mantido


pelo professor Orientador e em constante desenvolvimento, provisoriamente denominado como
EMISimu. Cujo propósito é construir um conjunto de ferramentas ("toolbox ") em ambiente
computacional Matlab® para simulação realista, em regimes transitório e permanente, de
casos de interferências eletromagnéticas. Com a inclusão de um modelo mais preciso para
representação do acoplamento condutivo, espera-se expandir o horizonte de aplicabilidade da
ferramenta em estudos práticos e, também, de possibilidades de pesquisa na área, eis que os
efeitos condutivos pelo solo desempenham um papel fundamental em uma série de fenômenos
relevantes envolvendo linhas de transmissão, a exemplo de descargas atmosféricas, ionização
do solo em correntes impulsivas de alta intensidade, transitórios em solos com propriedades
variantes na frequência, dentre outros.
1.2 – Metodologia geral de simulação 3

Para a execução das simulações de interesse, é necessária a aquisição de dados de entrada


para cada caso, como as características da tubulação, dados dos condutores da linha, parâmetros
elétricos do solo, entre outros dados interessantes para a análise. Após essa aquisição e pré-
processamento, são determinadas as regiões de acoplamento (interferente/interferido), a partir
do que é construído um circuito equivalente no formato e observando a sintaxe de um cartão
ATP. A escrita direta do cartão ATP apresenta uma vantagem na construção do modelo, pelo
fato de ser apenas um arquivo em texto, dessa forma, pode ser criado e editado de forma simples
por qualquer editor, o que facilita a implementação da ferramenta. Porém, sua criação exige um
série de critérios e regras, pois para sua execução há uma estrutura rigidamente estabelecida,
em que a posição dos termos escritos indicam parâmetros a serem considerados na execução do
programa, nos moldes dos antigos cartões perfurados FORTRAN.

Dessa forma, com o desenvolvimento e implementação deste modelo circuital para a com-
ponente condutiva de interferências eletromagnéticas, espera-se contribuir com o conjunto de
técnicas disponíveis no âmbito do projeto EMISimu. O que possibilitará uma maior fidelidade
na simulação de modelos reais, além de proporcionar uma maior divulgação e ampliação desta
área de estudo, devido ao fato de ser proposta uma implementação via software gratuito, e de
grande interesse da indústria em casos práticos. .

1.2 METODOLOGIA GERAL DE SIMULAÇÃO

Para um melhor entendimento do fluxo de implementação a ser executado, faz-se necessário


o entendimento de como é a estrutura utilizada para o processamento e modelagem da situação
a ser desenvolvida.

Primeiramente há a entrada dos dados do sistema analisado, como características da tu-


bulação, e dos condutores a serem utilizados na linha, assim como sua geometria e disposição
espacial. Normalmente os pontos onde há intersecção entre os dois sistemas (interferente e
interferido), são os de particular importância para observação.

Após a entrada dos dados iniciais, há o seu processamento, para determinação das sub-
divisões dos sistemas interferente e interferido em termos de paralelismos equivalentes, das
impedâncias shunt, das impedâncias mútuas e próprias de condutores, efeito pelicular, dentre
1.3 – Contribuições 4

outros valores necessários para a próxima etapa, que é a construção do cartão Line Constants
(LCC).

Para esta construção, é necessário seguir de forma criteriosa a linguagem de construção do


cartão LCC, pois o posicionamento de cada termo incluído é parte da lógica de escrita. Dessa
forma, foi criada uma rotina por meio da linguagem Matlab® que cria estes cartões e retorna
o cartão LCC criado.

Então, constrói-se o cartão ATP principal, em que são identificados as conexões de cada nó
presente no circuito, inserção de fontes, ramos de circuitos, elementos de medição de tensão e
corrente, e inclusão dos arquivos LCC construídos na etapa anterior. Para sua escrita é feito o
mesmo procedimento citado acima.

Em posse dos cartões ATP criados, é possível fazer sua execução, e assim fazer a leitura dos
dados, ajustando-as em função da distância de cada torre.

1.3 CONTRIBUIÇÕES

Este trabalho espera apresentar algumas contribuições para a comunidade acadêmica e para
a indústria, dentre as quais é possível citar:

• O emprego do software ATP, que possibilita uma maior divulgação e complementação


em trabalhos posteriores, por ser distribuído de forma gratuita e bem difundido no meio
de estudos eletromagnéticos. Outra vantagem relacionada ao uso do ATP se refere à
possibilidade de executar estudos de transitórios eletromagnéticos diretamente no domínio
do tempo, o que possibilita uma análise mais aprofundada dos efeitos a serem estudados.

• Implementação de um circuito capaz de modelar comportamentos de interferências eletro-


magnéticas de linhas de transmissão em dutos metálicos, como a simulação de uma inter-
ferência indutiva (que ocorre em regime permanente e em virtude das correntes circulantes
nos condutores da LT em regime de falta), e uma interferência condutiva (predominante
em regime de falta).

• Aprimoramento e contribuição com o projeto EMISImu, que está em construção. Cujo


objetivo maior é tornar possível uma análise completa e detalhada deste tipo de interfe-
1.4 – Estrutura do trabalho 5

rência em quaisquer tipos de estruturas metálicas, proporcionando melhor resolução para


os resultados encontrados.

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO

No presente capítulo expõe-se o contexto no qual se inclui o trabalho desenvolvido, sua


importância para a área, os objetivos a serem alcançados com o estudo, e possíveis contribuições
para a comunidade acadêmica.

O Capítulo 2 traz conceitos teóricos necessários para o desenvolvimento deste trabalho,


e que vão além dos apresentados no decorrer do curso, como conceitos a respeito de resisti-
vidade do solo, especificidades de cada tipo de acoplamento, como também as formulações
matemáticas necessárias para o desenvolvimento do trabalho. Além de demonstrar alguns ris-
cos associados aos problemas de interferências eletromagnéticas de linhas de transmissão em
tubulações metálicas.

O Capítulo 3 discute a metodologia utilizada para a confecção do trabalho, como os


softwares utilizados para construção dos modelos de circuito e as ferramentas utilizadas para
validação dos modelos. Além disso, expõe os desafios enfrentados na elaboração do trabalho e
os resultados obtidos em seu desenvolvimento.

O Capitulo 4 apresenta os resultados referentes à integração com o projeto em desenvolvi-


mento (EMISimu), e como no capítulo anterior, traz os resultados obtidos com esta integração
e sua devida validação, além de discussões relevantes a respeito.

O Capítulo 5 oferece um panorama geral a respeito do desenvolvimento e resultados obti-


dos com as implementações propostas e do trabalho como um todo, além de propor possíveis
melhorias e propostas para aperfeiçoamento e continuidade da pesquisa.
CAPÍTULO 2

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo discute os conceitos necessários para o estudo de interferências eletromagné-


ticas, que não foram contemplados durante o curso de graduação. São abordados os tipos de
acoplamentos ocorridos durante interferências eletromagnéticas: indutivo, capacitivo e condu-
tivo, métodos para a modelagem da resistividade do solo e riscos oferecidos aos sistemas elétrico
e dutoviário, devido às interferências ocorridas.

2.1 RESISTIVIDADE DO SOLO

O solo é caracterizado por não ser de simples análise, podendo ser constituído por vários
tipos de elementos, como elementos sólidos, líquidos e gasosos (ZENG et al., 2012). Normal-
mente são compartimentados em camadas, cada qual descrita por uma determinada espessura
e resistividade própria. Sua análise é de grande importância para estudos de natureza elétrica,
principalmente àqueles referentes ao estudo de aterramentos elétricos, distribuições de corrente
e potenciais no solo.

A resistividade do solo é um parâmetro de extrema importância a depender do tipo de


estudo e análise a ser aplicada. Uma vez que para alguns tipos de problemas, esse parâmetro
pode influenciar significativamente nas respostas obtidas e efeitos simulados. Como o foco
deste trabalho é o acoplamento condutivo ocorrido entre a LT e o duto metálico, as correntes
ocasionadas por curtos circuitos ou descargas atmosféricas, são diretamente influenciados pela
resistividade do solo presente no contexto. Dessa forma, é importante expor como é feita tal
medição para encontrar a resistividade do solo.
2.1 – Resistividade do solo 7

2.1.1 Método de Wenner

O método de Wenner é usualmente aceito e o mais utilizado quando o assunto é a medição


de resistividades do solo. Foi proposto pelo Dr. Frank Wenner em 1916 (WENNER, 1916). O
método consiste na inserção de quatro hastes no solo ao longo de uma linha reta, igualmente
espaçadas. Dessa forma, é medida uma tensão entre as duas hastes internas e injetada uma
corrente entre as duas hastes externas, sendo possível encontrar o valor para uma resistência
aparente Ra , definida da seguinte forma:

Vint
Ra = [Ω] (2.1)
IExt

Figura 2.1. Diagrama para a medida feita pelo método de Wenner

Fonte: (WENNER, 1916).

Definindo alguns parâmetros para este método como:

• a: Distância entre as hastes [m];

• b: Profundidade na qual está inserida a haste [m]; e

• Ra : Resistividade aparente definida em (2.1);


2.1 – Resistividade do solo 8

é possível descrever uma expressão para a resistividade aparente no solo:

4πaRa
ρm
a = q [Ω.m] (2.2)
1 + √a22a+4b2 − √a2a+b2

a corresponde à resistividade medida no solo em uma profundidade equivalente


em que ρm
expressa por a.

Para uma melhor precisão na medida são necessárias várias amostras, a norma ABNT
BNR-7117 (ABNT, 2012) estabelece o mínimo de duas coletas de dados ao longo de eixos
perpendiculares, em intervalos distintos, até a profundidade em que será estabelecido o sistema
de aterramento.

2.1.2 Estratificação do solo

Após a obtenção de dados para a resistividade aparente do solo, a próxima etapa e de maior
dificuldade, é a obtenção de um modelo que consiga ser fiel e expressar o comportamento real
do solo estudado. Como a maior parte dos solos são compostos por várias camadas (ABNT,
2012), cada uma com uma resistividade e espessura específica, é adequado modelar o solo dessa
mesma maneira.

Figura 2.2. Ilustração para exemplificar o processo de estratificação do solo


a: Solo real
b: Solo estratificado.

Fonte: (ABNT, 2012).

Como visto na Figura (2.2), é possível estratificar o solo em várias camadas, buscando assim,
maior fidelidade à geofísica do local em estudo. Uma possibilidade é considerar o solo como
homogêneo e utilizar apenas uma camada no modelo, porém, ao fazer esta consideração, a fide-
2.1 – Resistividade do solo 9

lidade do modelo pode ser prejudicada, vindo a conduzir a resultados imprecisos nas avaliações
do desempenho de malhas de terra. A norma (ABNT, 2012) cita que, para algumas finali-
dades, o modelo de duas camadas pode ser suficiente para chegar em resultados satisfatórios.
Porém, se for necessária grande fidelidade à constituição real do solo, como é o caso de apli-
cações críticas de aterramento de subestações e/ou eletrodos HVDC, o modelo multicamadas
deve ser utilizado. No entanto, a complexidade e dificuldade da estratificação do solo aumenta
significativamente e requer a utilização de métodos numéricos de ajuste de curvas.

A seguir são descritas as expressões capazes de fornecer a resistividade elétrica para cada
tipo de modelo:

• Modelo uniforme: corresponde a média aritmética simples dos valores de resistividade


aparente encontrados (IEEE, 2000)

Pn
ρm
a,i
i=1
(2.3)
n

• Modelo de duas camadas: o modelo de duas camadas pressupõe uma camada superficial
com resistividade ρ1 e comprimento h, e uma camada infinita, com resistividade ρ2 e
comprimento infinito. Dessa forma, a resistividade de um solo de duas camadas é definida
como:

∞ ∞
ρa X kn X kn
=1+ q −2 q [Ω.m]
ρ1 1 + ( 2nh )2 1 + ( nh )2
n=1 a n=1 a (2.4)
ρ2 − ρ1
k=
ρ2 + ρ1

O modelo em duas camadas apresenta uma vantagem, pois há a possibilidade de ser


reduzido a um modelo uniforme equivalente. Esta abordagem é apresentada em (MA et
al., 1996), em que é proposto um modelo equivalente que permite a mesma resposta para
um certo parâmetro que se queira simular, como impedância e tensão de toque. A relação
desenvolvida em (TSIAMITROS et al., 2006), para esta resistividade equivalente pode
ser expressa por:
2.1 – Resistividade do solo 10

 q q q q q
πf µ1
2
−2h
( ρ11 + ρ12 ) + ( ρ11 − ρ12 )e ρ1

ρeq = ρ1  q [Ω.m] (2.5)


 
q
πf µ1
q q q 
−2h
( ρ11 + ρ12 ) + ( ρ11 − ρ12 )e ρ1

Esta técnica de simplificação é útil para a implementação da componente indutiva, como


também para o desenvolvimento deste trabalho, pois os modelos utilizados neste tipo de
acoplamento baseiam-se em modelos de solo uniforme incorporados à rotina Line Cons-
tants do ATP

• Modelo multicamadas: o modelo de múltiplas camadas segue o mesmo princípio aplicado


ao modelo de duas camadas, em que o solo em questão é subdividido em N camadas
com seus devidos valores de resistividade e espessura, e a última camada é definida com
resistividade ρN e espessura infinita. Para modelos com um maior número de camadas, o
processamento e a necessidade de se utilizar técnicas complexas de integração numérica
fazem com que o processo fique muito complicado e custoso. Para este trabalho não será
necessária a apresentação matemática para a modelagem de um modelo multicamadas,
uma vez que a metodologia proposta, baseada em funções de Green, não está relacionada
com o número de camadas constitutivas do solo.

2.1.3 Proposta de aproximação para um modelo multicamadas

Há uma situação particular no contexto de modelagem do acoplamento indutivo, quando se é


utilizada a descrição de impedância mútua de Carson, nesta descrição, o solo é considerado como
um solo uniforme, e ao depender do objetivo do estudo, podem ocorrer inconsistências nesta
consideração. Como apresentado em 2.2, a grande maioria dos solos reais são compostos por
várias camadas, porém, ao aumentar-se o número de camadas, a complexidade e dificuldade da
estratificação do solo aumenta de modo expressivo e necessita a utilização de métodos numéricos
de ajustes de curvas.

É proposta em (MARTINS-BRITTO, 2020) uma estratégia para mitigar estes problemas


apresentados e manter o uso da consideração de um modelo uniforme, conseguindo alcançar
resultados mais fiéis aos apresentados em solos reais. Esta estratégia consiste em uma extensão
do caso particular de duas camadas (2.5), foi feita a obtenção de uma expressão capaz de
2.2 – Acoplamento indutivo 11

apresentar uma resistividade equivalente para o caso geral de N camadas, por meio de uma
substituição sucessiva de pares de camadas, de baixo para cima, considerando seus equivalentes
homogêneos, calculados em função de seus coeficientes de penetração de corrente em cada
camada (MARTINS-BRITTO, 2020).

A relação desenvolvida em (MARTINS-BRITTO, 2020) para esta resistividade equivalente


em relação a um número N de camadas pode ser expressa por:

" √ √ √ √ √ #2
1 ( ρ1 + ρm−1,m ) + ( ρ1 − ρm−1,m )e−2h1 πf µ1 ρ1
ρeq = √ √ √ √ √ ,(1 ≤ m ≤ N − 2) (2.6)
ρ1 ( ρ1 + ρm−1,m ) − ( ρ1 − ρm−1,m )e−2h1 πf µ1 ρ1

Essa expressão foi devidamente testada e validada dentro do trabalho mencionado, trazendo
assim a possibilidade de manter a utilização de um modelo uniforme. Porém agora, com re-
sultados mais significativos e fiéis aos encontrados em solos reais. Dessa forma, essa estratégia
colabora com a confecção do presente trabalho, pelo fato deste ter sido feito com a hipótese de
um solo homogêneo, porém sem perda de generalidade devido à teoria apresentada.

2.2 ACOPLAMENTO INDUTIVO

O acoplamento indutivo ocorre devido à proximidade entre linhas de transmissões e o ponto


analisado, no caso, tubulações subterrâneas. As tubulações em questão sofrem a ação de tensões
induzidas derivadas dos campos magnéticos produzidos pelas linhas de transmissão (MARTINS-
BRITTO, 2017). Este fenômeno pode ser visualizado na figura 2.3
2.2 – Acoplamento indutivo 12

Figura 2.3. Ilustração para o efeito de acoplamento indutivo.

Fonte: (MARTINS-BRITTO, 2017).

O acoplamento indutivo ocorre devido aos seguintes parâmetros (JACQUET et al., 1995):

• As correntes da linha de transmissão e suas condições de operação:

– Em regime permanente as tensões induzidas pela linha dependem apenas das


correntes presentes nas fases

– Em uma situação de curto-circuito as tensões induzidas pela linha dependem


da corrente de curto-circuito vindas tanto das subestações como dos condutores
para-raios.

• Distância entre a linha de transmissão e a tubulação: com o aumento da distância entre


a linha e a tubulação, esta interferência diminui.

• Comprimento da exposição: este comprimento corresponde à região do duto em que ocorre


a interferência e esta componente tem uma influência significativa, pois quanto maior o
comprimento da região exposta, maior será a tensão induzida na tubulação.

• Natureza do circuito de alta tensão: vários fatores como o modo de instalação, a forma em
2.2 – Acoplamento indutivo 13

que os condutores estão organizados, transposição da linha, e a presença de para-raios,


podem resultar em tensões induzidas diferentes na tubulação.

• Resistividade elétrica do solo: é determinante para as impedâncias do sistema, como


também para a influência no comprimento da exposição. Com o aumento da resistividade
a tensão induzida também tende a aumentar.

• Características da tubulação: é visto também em (LAFOREST, 1981), que o tipo de


material utilizado no revestimento do duto influencia diretamente na tensão induzida no
mesmo.

2.2.1 Impedância mútua de Carson

Para a confecção deste trabalho é necessário o entendimento de alguns conceitos interpre-


tados dentro do ambiente ATP, um destes é a determinação da impedância mútua com retorno
de corrente pelo solo.

O ATP segue como base as teorias apresentadas em (CARSON, 1926), trabalho em que, é
apresentada uma formulação matemática para descrever a impedância mútua entre dois con-
dutores aéreos:

′ ∞
Di,j 2 exp−Hλ
  Z
jωµ0 jωµ0
Zij = ln + q cos(λD)dλ, [Ω/m] (2.7)
2π Di,j 2π 0 λ + λ2 + j ωµρ 0 − ω 2 µ0 ϵ0 ϵr

A imagem abaixo ilustra a solução proposta em (2.7):


2.2 – Acoplamento indutivo 14

Figura 2.4. Ilustração para a descrição a impedância mútua de Carson para dois condutores aéreos em solo
uniforme.

Fonte: Adaptado de (MARTINS-BRITTO, 2020).

A Figura 2.7 ilustra dois condutores aéreos i e j em um solo uniforme com valor resistividade
ρ, permeabilidade ε e permeabilidade magnética µ.

A equação (2.7) tem os seguintes parâmetros:

• Dij [m] e Dij



[m]: distância entre o condutor i e o j e a distância entre o condutor i e a
imagem do condutor j, respectivamente;

• D [m]: distância horizontal entre os dois condutores;

• H [m]: diferença das alturas dos dois condutores;

• ε0 [F/m] : permissividade elétrica do vácuo, tem o valor de aproximadamente 8.85×10− 12;

• εr [F/m]: permissividade relativa do solo;

• µ0 [H/m]: permeabilidade magnética no vácuo, tem o valor de aproximadamente 4π ×


10− 7;

• ρ [Ω.m]: resistividade do solo; e


2.2 – Acoplamento indutivo 15

• ω [rad/s]: frequência angular do sistema.

Na expressão (2.7) o primeiro termo da soma tem a função de representar a impedância


mútua devido ao retorno de corrente pelo solo de condutividade infinita. O segundo termo
desta soma representa o solo com resistividade finita e considera as perdas causadas pelo solo.
O ATP utiliza esta teoria por meio de uma técnica apresentada em (DOMMEL, 1996), que
consiste em representar a integral imprópria da transformada inversa de Fourier da variável λ
na forma de uma série de potências adaptativas.

Por meio desta formulação para a impedância mútua é possível encontrar a expressão para
a força eletromotriz devido ao acoplamento indutivo, sendo ela:

F EM = Zij · I, (2.8)

sendo I a corrente no condutor fonte em amperes, Zij a impedância mútua de Carson em


Ω/m, e FEM a força eletromotriz no condutor de interesse em V /m.

2.2.2 Zona de interferência eletromagnética

Em problemas de interferência eletromagnética é importante definir a distância em que tal


interferência é significativa. Como para este trabalho o objetivo é o estudo de interferências de
linhas de transmissão em dutos metálicos, a zona de interferência eletromagnética será a zona
em que a a LT tem a capacidade de influir significativamente no duto. O manual (CIGRÉ WG-
36.02, 1995) considera a interferência significativa quando a FEM induzida no condutor alvo é
maior que 10 V/km para cada 1 kA de corrente de falta. O tamanho da zona de interferência

pode ser aproximado por d = 200 ρ, sendo ρ a resistividade do solo em Ω.m e d o comprimento
da zona de interferência, em metros.
2.2 – Acoplamento indutivo 16

Figura 2.5. Zona de interferência eletromagnética.

Fonte: (CIGRÉ WG-36.02, 1995).

2.2.3 Distâncias equivalentes em paralelismos oblíquos e em cruzamentos

Como visto em (2.7), a descrição de Carson para encontrar a impedância mútua entre dois
condutores considera um paralelismo constante entre condutores durante todo o trajeto em
análise. Porém, em situações práticas, esse paralelismo não constante não é mantido, surgindo
assim as situações de obliquidade. Para estas situações, é usual representar a geometria de
aproximação em termos de distâncias equivalentes e subdivisões do caminho total.

Figura 2.6. Exemplo de obliquidade.

Fonte: Autoria própria.


2.2 – Acoplamento indutivo 17

Como dito, os casos de obliquidades são frequentes em situações práticas, dessa forma, é
necessário uma certa aproximação, em (MARTINS-BRITTO et al., 2021a) é apresentado uma
opção para esta aproximação:

p
Deq = d1 d2 (2.9)

p
Leq = L1 L2 | cos θ| (2.10)

Na qual Deq , Leq ,d1 ,d2 ,L1 , L2 em metros, e θ em graus. Esta aproximação tem como
objetivo a subdivisão da instalação em segmentos menores que podem ser aproximados por
trechos paralelos. A Figura (2.7) demonstra o efeito desta aproximação.

Figura 2.7. Ilustração para a aproximação realizada por (2.9) e (2.10).

Fonte: Adaptado de (MARTINS-BRITTO et al., 2021a).

O esquema de subdivisão é um fator de grande importância tanto para a precisão da resposta,


quanto para a melhoria do desempenho computacional da simulação.

Este método apresenta uma melhor solução para a construção destas subdivisões em com-
paração com o apresentado em (CIGRÉ WG-36.02, 1995), pois neste manual é apresentada
uma consideração de que a linha de transmissão é perfeitamente reta, o que em casos práticos
2.2 – Acoplamento indutivo 18

não acontece. Além de necessitar de um grande número de subdivisões para situações com um
ângulo de cruzamento agudos.

A técnica demonstrada acima proposta em (MARTINS-BRITTO, 2020) traz a possibilidade


de se trabalhar com caminhos arbitrários e diminui o número de segmentos necessários para a
simulação.

2.2.4 Modelo de circuito para a representação do duto afetado

O modelo proposto no manual (CIGRÉ WG-36.02, 1995) permite a modelagem de um duto


subterrâneo sendo afetado por um condutor fonte. O circuito proposto para esta modelagem é
Yd,i
composto de uma impedância Zd,i , duas admitâncias em paralelo 2
e uma fonte de tensão de
valor calculado por meio da expressão (2.8).

Figura 2.8. Ilustração para o circuito equivalente proposto em (CIGRÉ WG-36.02, 1995)

Fonte: Adaptado de (CIGRÉ WG-36.02, 1995).

Para encontrar os valores referentes à Zd e Yd são utilizadas as seguintes expressões:

Zd = Zd,int + Zd,ext (2.11)

2πrext ϵ0 εc 2πrext
Yd = + jω (2.12)
ρ c δc δc

Os termos destas expressões têm os seguintes significados:

• Zd,int e Zd,ext [Ω/m]: são as impedâncias interna e externa do duto analisado, respectiva-
mente;
2.2 – Acoplamento indutivo 19

• rext [m]: raio externo do duto, ilustrado em 2.9;

• δrev [m]: espessura do revestimento isolante;

• ρc [Ω.m]: resistividade da camada isolante;

• ε0 [F/m]: permissividade elétrica no vácuo; e

• εc [F/m]: permissividade elétrica relativa do revestimento.

Alguns destes parâmetros são retirados de características do duto, constituído por uma
parede metálica e, normalmente, um revestimento isolante externo, como pode ser visto na
imagem abaixo:

Figura 2.9. Representação transversal de um duto com uma camada metálica e um revestimento de espessura
δrev

Fonte: Autoria própria.

Para encontrar os valores das impedâncias interna e externa tem-se as seguintes expressões,
respectivamente:


ρp µ0 µp ω
Zd,int = √ (1 + j) (2.13)
2πrext 2


2e−2|yi |λ
 
2|yi |
Z
jωµ0 jωµ0
Zd,ext = ln + q dλ (2.14)
2π eef 2π 0 λ + λ2 + j ωµρ 0 − ω 2 µ0 ϵ0 ϵr

Para o cálculo das impedâncias próprias e mútuas do condutor tubular oco é necessária a
utilização da seguinte expressão:
2.3 – Acoplamento capacitivo 20

4
h  i
rext 2 2 4 3 rext
4
− rext · rint + rint 4
+ ln rint
ln(ref ) = ln(rext ) − 2 2 2
(2.15)
(rext − rint )

Nestas expressões existem os seguintes parâmetros:

• ρp [Ω.m]: resistividade elétrica do metal presente no duto;

• µ0 [H/m]: permeabilidade magnética no vácuo;

• µp [H/m]: permeabilidade magnética relativa do metal presente no duto;

• rint [m]: raio interno do duto, ilustrado em 2.9;

• ref [m]: raio efetivo; e

• yj [m]: altura do condutor em relação à superfície do solo.

2.3 ACOPLAMENTO CAPACITIVO

O acoplamento capacitivo ocorre devido ao acúmulo de cargas elétricas na tubulação metá-


lica, em decorrência do campo elétrico ao redor dos condutores da linha de transmissão imersos
no ar atmosférico, que corresponde a um meio dielétrico. Este fenômeno pode ser observado na
figura 2.10.

Figura 2.10. Ilustração para o efeito de acoplamento capacitivo.

Fonte: (MARTINS-BRITTO, 2017).


2.4 – Acoplamento condutivo 21

Como o solo possui uma capacidade de blindagem eletrostática (DJEKIDEL; MAHI, 2014),
o acoplamento capacitivo não atua de forma significativa nas tubulações subterrâneas. Porém
ainda é necessário se atentar para a segurança das tubulações.

Para encontrar-se as tensões induzidas vindas do acoplamento capacitivo, é necessário o


cálculo por meio dos coeficientes de potencial de Maxwell, descritos em (DABKOWSKI; TA-
FLOVE, 1978):


Di,j
 
1
Pi,j = ln (2.16)
2πϵ0 ϵr Di,j

 s 
1 |yi | |yi | 2
Pi,i = ln  + ( ) − 1 (2.17)
2πϵ0 ϵr rext rext

• Dij [m] e Dij



[m]: distância entre o condutor i e o j e a distância entre o condutor i e a
imagem do condutor j, respectivamente;

• ϵ0 [F/m] : permissividade elétrica do vácuo, tem o valor de aproximadamente 8.85x10− 12;

• ϵr [F/m]: permissividade relativa do solo;

• yi [m]: altura do condutor i em relação ao solo; e

• rext [m]: raio externo do duto.

Dessa forma, o acoplamento capacitivo não tem um comportamento significativo nas tensões
induzidas na tubulação, sendo preocupante apenas uma possível descarga de corrente entre a
terra e a tubulação.

2.4 ACOPLAMENTO CONDUTIVO

O acoplamento condutivo ocorre quando de um curto-circuito na linha de transmissão. Este


acoplamento ocorre entre os condutores de aterramento das torres e as tubulações. Quando
há a ocorrência de curto-circuito, uma corrente é drenada ao solo por meio do aterramento
das torres, originando uma elevação de potencial no solo, chamada de GPR. Esta elevação de
potencial afeta uma área de influência com abrangência proporcional ao inverso da distância,
2.4 – Acoplamento condutivo 22

que pode representar riscos à pessoas e instalações próximas. Este fenômeno é ilustrado na
Figura (2.11)

Figura 2.11. Ilustração para o efeito de acoplamento condutivo.

Fonte: (MARTINS-BRITTO, 2017).

O acoplamento condutivo é determinado, predominantemente, por (JACQUET et al., 1995):

• Corrente de curto-circuito: os curtos circuitos ocorridos nas subestações determinam as


correntes drenadas pelo solo. A tensão transferida à tubulação depende significativamente
desta corrente, pois ela também determina a elevação de potencial no solo.

• Quantidade e tipos de condutores para raio: esta quantidade interfere na tensão induzida
na tubulação pelo fato de as correntes de curto-circuito fornecidas pelas subestações
voltarem por estes condutores.

• Distância entre o eletrodo de aterramento e a tubulação: os potenciais no solo dependem


inversamente da distância entre o aterramento e o duto (ZOU et al., 2004).

• Resistividade elétrica do solo: solos mais resistivos podem produzir maiores elevações de
potencial.

Em (STEFANESCO et al., 1930) é assumido um contexto de baixa frequência, e um modelo


de solo uniforme, premissas sob as quais se desenvolve uma expressão para determinar a elevação
2.4 – Acoplamento condutivo 23

de potencial no solo produzida por uma fonte de corrente pontual presente na superfície do solo
com resistividade homogênea ρ:

ρ·I
Us (P,O) = (2.18)
2πr

Nesta expressão são avaliados os seguintes parâmetros:

• Us (P,O) [V]: corresponde a elevação de potencial no ponto O, devido a uma corrente


injetada no ponto P;

• r= (x − x0 )2 + (y − y0 )2 + z 2 [m]: distância cartesiana entre o ponto O e o ponto P;


p

• ρ [Ω.m]: resistividade do solo; e

• I [A]: corrente injetada no solo.

A elevação de potencial total em um dado ponto pode ser calculada pelo princípio da
superposição valendo-se do fato que a expressão (2.18) representa a função de Green, isto é, a
resposta ao impulso unitário da fonte de corrente ideal imersa no solo uniforme (LI et al., 2007).
Conhecida a função de Green que descreve o meio e/ou a geometria do eletrodo de aterramento,
seu valor numérico pode ser utilizado em uma modificação do circuito apresentado na Figura
(2.8), como proposto em (MARTINS-BRITTO, 2020).

Tal modelo é composto pela adição de uma fonte de tensão controlada por corrente em série
com a admitância shunt do revestimento:
2.4 – Acoplamento condutivo 24

Figura 2.12. Modelo de circuito para o efeito de acoplamento condutivo.

Fonte: Autoria Própria.

A elevação de potencial no solo em um ponto específico do duto, por uma corrente injetada
em um outro ponto, na maioria dos casos, nas torres, pode ser calculada pela seguinte expressão:

USij = Ij · Ĝ(Pi ,Oj ) (2.19)

Sendo:

• USij [V]: o potencial no solo;

• Pi : um ponto no duto metálico;

• Oj : um ponto de injeção de corrente, usualmente uma torre;

• Ij [A]: corrente injetada no ponto Oj ;

• Ĝ [Ω]: função de Green, que corresponde a resposta ao impulso de uma corrente no ponto
Oj observada em um ponto Pi

Enfim, a elevação de potencial total em um dado ponto, pode ser calculada pelo princípio
da superposição, por meio da seguinte expressão:

n
X
USi = USij (2.20)
j=1
2.5 – Riscos provocados pelas interferências eletromagnéticas 25

2.5 RISCOS PROVOCADOS PELAS INTERFERÊNCIAS ELETROMAGNÉTICAS

Os riscos causados pelas interferências eletromagnéticas são associados tanto ao risco rela-
cionado à vida de pessoas próximas às estruturas metálicas, como também à integridade da
própria tubulação, como ruptura do revestimento isolante e danos em equipamentos conectados
ao duto interferido.

2.5.1 Tensão de toque

A tensão de toque é um dos principais riscos associados à vida humana, pois existe o contato
direto com o duto energizado. De acordo com a norma (ABNT, 2009), a tensão de toque pode
ser definida como: "diferença de potencial entre um objeto metálico aterrado ou não e um ponto
da superfície do solo separado por uma distância horizontal equivalente ao alcance normal do
braço de uma pessoa; essa distância é convencionada igual a 1,0 m".

Dessa forma, todas as análises em função das respostas encontradas para os diferentes tipos
de acoplamentos, devem levar em consideração este risco.

2.5.2 Tensão de passo

A tensão de passo também apresenta riscos à vida de pessoas próximas à regiões afetadas
por faltas ou surtos elétricos, pois alguns destes podem ocasionar uma elevação de potencial no
solo, e expor indivíduos à tensão de passo.

De acordo com a norma (ABNT, 2009), a tensão de passo pode ser definida como: "diferença
de potencial entre dois pontos da superfície do solo separados pela distância de um passo de
uma pessoa, considerada igual a 1,0 m". O principal risco provocado pela tensão de passo é a
criação de um caminho para a corrente elétrica percorrer o corpo do sujeito e assim provocar
eletrocussão.
2.6 – Síntese do capítulo 26

2.5.3 Danos ao duto metálico

Como pode ser visto pela Figura (2.9), o duto metálico é composto por duas camadas, uma
camada superficial que corresponde a um revestimento isolante que protege a tubulação e a
parte metálica do duto. As tensões induzidas por meio da interferência eletromagnética no
duto, pode ocasionar possíveis danos a este revestimento, o que consequentemente irá expor a
parte metálica à corrosão e possível, no limite, perfuração do metal.

2.6 SÍNTESE DO CAPÍTULO

Neste capítulo foram abordados temas fundamentais para a compreensão do trabalho desen-
volvido. Como formulações para modelagem e estratificação de solos, como ocorrem os efeitos
dos acoplamentos indutivos, capacitivos e condutivos, e suas respectivas expressões matemáti-
cas.

Foram abordados aspectos sobre a resistividade do solo, como as diferentes formas de mo-
delagem utilizadas. Foi citada uma estratégia para a aproximação de solos multi camadas por
um solo homogêneo, como também foi citado o principal tipo de ensaio utilizado em campo
para a obtenção de dados utilizados na modelagem.

Foram abordados pontos referentes aos três tipos de acoplamento: indutivo, capacitivo e
condutivo. Em que se descreveu os correspondentes aspectos teóricos e matemáticos para a
possível modelagem em circuitos.

Outro aspecto abordado foram os riscos associados às interferências eletromagnéticas em


dutos metálicos, que podem motivar danos patrimoniais, bem como riscos à vida.

Nos capítulos subsequentes serão abordadas contribuições e estudos de caso a respeito da


teoria apresentada, com o objetivo principal de desenvolver uma melhoria significativa para a
análise do acoplamento condutivo.
CAPÍTULO 3

MODELAGEM CIRCUITAL DO ACOPLAMENTO


CONDUTIVO

Este capítulo tem como objetivo a apresentação de todo o desenvolvimento prático feito neste
trabalho, seguindo os pressupostos teóricos abordados na seção anterior. Como a construção de
modelos de circuito por meio do ATP, utilização de softwares especializados para a validação
dos circuitos simulados e melhorias em modelos já estabelecidos em estudos anteriores.

O objetivo final do trabalho consiste na implementação de um modelo de circuito para a o


acoplamento condutivo e sua respectiva adequação ao projeto EMISimu em desenvolvimento.
Entretanto, para que seja alcançada esta etapa de desenvolvimento, é necessária a construção e
validação de circuitos elementares para as outras formas de acoplamento, em especial o indutivo.

3.1 CONSTRUÇÃO DO MODELO PARA O ACOPLAMENTO INDUTIVO

Figura 3.1. Geometria escolhida para análise

Fonte: (MARTINS-BRITTO et al., 2021b).


3.1 – Construção do modelo para o acoplamento indutivo 28

Primeiramente foi escolhida uma geometria para o início dos estudos do acoplamento indu-
tivo. Sendo considerada uma variante de um caso real que já havia sido utilizado em estudos
anteriores, o que proporcionou uma referência para comparar os resultados que vieram a ser
encontrados. Além de apresentar uma estrutura interessante, capaz de abordar vários assuntos
sobre o tema.

O sistema estudado corresponde a um trecho de uma linha de transmissão com aproxima-


damente 1 km de extensão, com a presença de um duto metálico subterrâneo com diâmetro de
14 polegadas compartilhando a faixa de servidão, e posicionado a 1,2 m abaixo do solo. Este
sistema traz algumas situações de interesse para a análise, pois o percurso envolve um caminho
paralelo entre os dois sistemas e também traz um cruzamento entre os dois.

As torres presentes neste sistema tem a disposição representada na figura abaixo:

Figura 3.2. Sistema escolhido para análise

4,9 m 4,9 m
Condutor Para Raio
2m

Condutores Fonte para cada Fase


20 m

1,2 m
Deq

Tubulação
Metálica

Fonte: Adaptado de (MARTINS-BRITTO et al., 2021b).

A linha de transmissão que compõe o sistema é caracterizada por três condutores fase
dispostos de forma horizontal, separados por uma distância lateral de 4,9 m, e por um condutor
para-raios posicionado 2 m acima dos condutores fase, e horizontalmente no centro dos três.
A linha tem valores nominais de 88 kV, com uma corrente de aproximadamente 90 A em cada
3.1 – Construção do modelo para o acoplamento indutivo 29

fase. A frequência de operação do sistema é a frequência padrão utilizada no Brasil, 60 Hz.

Para a modelagem das subestações foram utilizadas resistências de aterramento iguais a 1


Ω, já para as extremidades do duto foram utilizadas resistências de 10 Ω. Para as resistências
de aterramento das torres foram utilizados valores de 15Ω.

Para a modelagem apropriada do sistema necessário conhecer os parâmetros elétricos dos


condutores e do duto utilizados, cujos valores estão presentes na tabela 3.1:

Tabela 3.1. Especificação dos condutores utilizados no modelo


Condutor Nome Raio int. [m] Raio Ext. [m] Resist. [ohm/km]
Fase Grosbeak 0,0126 0,0046 0,0917
Para-raio Aço 3/8 EHS-AG 0.004572 0.001524 4.18804
Duto metálico Tubo 14"STD 0.1778 0.168275 0.099516
Fonte: Autoria Própria.

Como exposto anteriormente na seção (2.1.3), a representação do solo por um meio uniforme
não constitui perda de generalidade e de fidelidade do modelo. Caso seja necessário representar
estruturas estratificadas em múltiplas camadas, é possível utilizar a mesma metodologia apre-
sentada neste trabalho associada à estratégia proposta em (MARTINS-BRITTO, 2020). Para
fenômenos de baixa frequência, como é o caso em 60 Hz, oferece uma aproximação razoável
de modelos multicamadas por um modelo uniforme. Para os propósitos buscados neste tra-
balho foi utilizada uma resistividade uniforme nos modelos apresentados, tanto para o estudo
do acoplamento indutivo apresentado nesta seção, como para o modelo condutivo apresentado
posteriormente, com valor de resistividade elétrica obtido a partir de medições reais em campo
e igual a 427,36 Ω.m.

Uma vez definido o sistema objeto de estudo, a próxima etapa do projeto é a modelagem
por meio do ambiente ATP/ATPDraw. Visando a familiarização com o software e primeiro
contato com o tema de modelagem de linhas de transmissão.

3.1.1 Modelagem do sistema em forma de circuito via ATPDraw

O ATP foi a ferramenta escolhida para as simulações e desenvolvimento deste trabalho,


pois é possível a simulação de transitórios eletromagnéticos em circuitos polifásicos, com vários
tipos de configurações, por um método que utiliza a matriz de admitância de barras (FILHO;
3.1 – Construção do modelo para o acoplamento indutivo 30

PEREIRA, 2001).

Para a utilização inicial do ATP, foi utilizado o ATPDraw, que consiste em uma interface
gráfica para a implementação de circuitos. Sem ela é necessário uma codificação dos dados
que precisam obedecer uma formatação específica (para seções posteriores será comentada a
implementação via código em cartões ATP).

Para as análises do estudo, foi necessária também a utilização de blocos LCC, que são
utilizados para o cálculo de parâmetros de linhas de transmissão. O LCC é um bloco que
facilita a criação do arquivo de dados para o processamento e determinação das matrizes de
impedância e admitância da LT em estudo com base nas características físicas e modelo de
linha desejado. A Figura 3.3 mostra o bloco LCC.

Figura 3.3. Bloco LCC utilizado para a representação de uma seção com 3 condutores de fase, 1 para-raio e
uma tubulação metálica

Fonte: Autoria própria.

Neste bloco é possível entrar com os dados referentes à linha de transmissão de forma fácil
e rápida, como parâmetros geométricos da torre, características físicas dos condutores elétricos
e parâmetros de resistividade do solo e frequência de operação. Cada bloco LCC tem a função
de representar os parâmetros de linha correspondentes aos vãos existentes entre as torres.

Para a validação deste modelo, foram utilizadas duas análises, uma com o sistema em re-
gime permanente e outra com a inserção de uma falta no sistema. As respostas encontradas
foram comparadas utilizando um software de referência, o CDEGS (Current Distribuition, Ele-
tromagnetic Fields, Grounding and Soil Structure Analysis), validado e amplamente utilizado
de forma profissional na indústria. Em (DAWALIBI; DONOSO, 1993) são documentados os
módulos e principais métodos numéricos presentes no software.

Para a modelagem do sistema apresentado na Figura (3.1), foram utilizadas uma série de
blocos LCC, em um total de 12. Representando assim, uma divisão em 12 seções do trecho de
3.1 – Construção do modelo para o acoplamento indutivo 31

aproximadamente 1,2 km.

A imagem a seguir representa o circuito de acoplamento equivalente, incluindo uma chave


na região da Torre 7, que será utilizada nas análises subsequentes de curto-circuito. Os resul-
tados discutidos nesta seção correspondem ao regime permanente em condições nominais de
operação, em outras palavras, a chave representativa da falta é mantida aberta durante todas
as simulações.

Figura 3.4. Circuito no ATPDraw para a simulação do sistema apresentado


Torre 0 Torre 1 Torre 2 Torre 3
I

I LCC LCC LCC LCC


V

UI

UI

UI

UI

UI

UI
V 0.099 km V 0.096 km V 0.099 km V 0.098 km

Seção 0 Seção 1 Seção 2 Seção 3


UI

Torre 7
Torre 4 Torre 5 Torre 6
I

LCC LCC LCC LCC


UI

UI

UI

V 0.086 km V 0.09 km V 0.087 km V 0.099 km UI

Seção 4 Seção 5 Seção 6 Seção 7 Seção 8

Torre 12
Torre 8 Torre 9 Torre 10 Torre 11
UI

LCC LCC LCC LCC


I
UI

UI

UI

UI

V 0.072 km V 0.093 km V 0.086 km V 0.064 km


UI

Seção 9 Seção 10 Seção 11


Seção 12

Fonte: Autoria própria.

Neste modelo, são avaliadas apenas interferências causadas pela LT na tubulação. Contudo,
3.1 – Construção do modelo para o acoplamento indutivo 32

os eventuais efeitos da presença do duto metálico próximo à LT, em especial as alterações das
impedâncias de sequência zero causadas pela interferência, são consideradas implicitamente
nos modelos LCC, o que configura uma vantagem e ganho adicional de precisão no modelo
implementado.

3.1.1.1 Resposta em regime permanente

Após a construção do circuito e considerando o sistema operando em regime permanente,


foi realizada a simulação via EMTP/ATP, e os resultados foram comparados com o software
de referência (CDEGS) para validação, o que se ilustra na figura seguinte:

Figura 3.5. Tensão induzida na tubulação devido ao acoplamento indutivo em regime permanente

Tensão no Duto - Regime Permanente


0.6

0.5

0.4
Tensão [V]

eNRMS = 13.22%
0.3 Modelo ATPDraw
Referência
0.2

0.1

0
0 200 400 600 800 1000 1200
Distância do Duto [m]

Fonte: Autoria própria.

A Figura (3.5) descreve o comportamento da tensão induzida ao longo do comprimento do


duto. É possível perceber que o ponto de maior influência indutiva corresponde também ao
ponto de cruzamento entre a LT e a tubulação, sendo verificados valores próximos de 0,6 V.

O modelo via ATP/ATPDraw apresenta uma variação pequena em relação à referência ado-
tada, com erro RMS de 13,22%, justificado em função de fatores tais como, como a diferença
na quantidade de subdivisões efetuadas, o CDEGS permite uma quantidade alta de subdi-
3.1 – Construção do modelo para o acoplamento indutivo 33

visões, enquanto que para a simulação via ATP/ATPDraw, em que o circuito foi construído
manualmente,foram feitas apenas 12 subdivisões, equivalente ao número de torres no sistema.
Outro fator de influência a dar importância, são possíveis considerações e cálculos diferentes
dos apresentados pelo EMTP/ATP, em especial no que diz respeito às impedâncias mútuas com
caminho de retorno pela terra. Levando em consideração estas possíveis diferenças, o resultado
encontrado é considerado satisfatório para o prosseguimento e desenvolvimento dos objetivos
do trabalho.

3.1.1.2 Resposta indutiva em regime de falta

Estando o modelo em regime permanente testado e comparado com referência, o próximo


passo foi a avaliação da resposta deste modelo para um regime com a presença de um curto-
circuito, pois em regime de falta podem haver ampliações nestas diferenças encontradas.

Como pode ser visto pela Figura (3.4), foi incluído um curto-circuito monofásico nas imedi-
ações da Torre 7, torre esta que apresenta a maior proximidade ao ponto de cruzamento entre
a LT e a tubulação. Visando assim a simulação de um caso crítico, que seria o pior cenário em
situações reais de falta.
3.1 – Construção do modelo para o acoplamento indutivo 34

Figura 3.6. Tensão induzida na tubulação devido ao acoplamento indutivo com a presença de um curto-circuito
na LT

Tensão no Duto - Indutiva com Falta na Torre 7


800

700

600

500
Tensão [V]

400

300

200 eNRMS = 13.64%


Modelo ATPDraw
100
Referência
0
0 200 400 600 800 1000 1200
Distância do Duto [m]

Fonte: Autoria própria.

A Figura (3.6) apresenta um erro aproximadamente igual ao caso anterior em regime per-
manente, representando assim que não houveram alterações e ampliações nas diferenças en-
contradas anteriormente. Como o objetivo do trabalho é a obtenção de um novo modelo de
circuito, capaz de simular a resposta para o acoplamento condutivo, a resposta indutiva em
regime permanente de falta tem presença significativa no objetivo final do trabalho.

Além da validação do modelo, este ensaio também evidencia algumas características a res-
peito do comportamento de interferências nos dutos: é possível notar que com a presença de
um curto-circuito, o sistema tem uma grande elevação de potencial, em contraste com o caso
em regime permanente, que não superou 1 V em nenhum ponto ao longo do duto. Por outro
lado, no cenário de curto-circuito, os potenciais no metal do duto decorrentes do acoplamento
indutivo foram elevados à faixa dos 600 a 800 V.

3.1.1.3 Resposta condutiva obtida analiticamente

Com a simulação dos ensaios demonstrados, é possível obter as correntes fluindo por cada
torre em regime de falta, pois estas correntes já são calculadas pelo modelo apresentado. Ex-
3.1 – Construção do modelo para o acoplamento indutivo 35

traindo essas correntes do ambiente EMPT/ATP e analisando-as em ambiente computacional


Matlab®, há a possibilidade de obter uma estimativa do resultado esperado da resposta con-
dutiva.

Para a obtenção da resposta condutiva, como expresso nas equações (2.19), (2.18) e (2.20),
são necessárias apenas as correntes fluindo pelas torres e a correspondente função de Green

Figura 3.7. Efeitos do acoplamento condutivo

Efeitos do acoplamento condutivo


8000
Elevação de potencial no solo
7000 Indutivo com falta
Estresse no revestimento
6000

5000

4000

3000

2000

1000

0
0 200 400 600 800 1000 1200

Fonte: Autoria própria.

A partir dos valores das correntes em cada torre do sistema, das coordenadas geográficas
dos pontos das torres e ao longo do duto, e utilizando a expressão da função de Green (2.18),
implementa-se um código em ambiente externo ao EMTP/ATP. Por meio do qual são feitas
outras subdivisões do sistema, dessa forma, não havendo impeditivo prático para uma grande
quantidade de subdivisões, enquanto que no ambiente ATPDraw existe a limitação inerente à
construção manual do circuito, e mesmo que o circuito seja simulado diretamente via cartões
ATP, há o impedimento prático de construção dos circuitos manualmente.

A subdivisão escolhida foi de 10 em 10 m, sendo este um valor de referência para a conclusão


final do projeto. Como pode ser visto na figura (3.7), com os resultados extraídos do ATP para o
acoplamento indutivo. É possível calcular analiticamente a elevação de potencial do solo (GPR)
e, por meio da diferença fasorial entre as duas grandezas, a tensão de estresse resultante. Porém,
3.2 – Idealização e construção do modelo para o acoplamento condutivo 36

com o cálculo realizado analiticamente em ambiente computacional externo, verifica-se a perda


de informações potencialmente importantes quando utilizado o ambiente EMTP/ATP.

A principal vantagem na utilização do ATP é a obtenção de respostas ao longo do tempo, o


que possibilita uma visualização não apenas do momento da falta. Mas também o comporta-
mento transitório da distribuição destas correntes ao longo do percurso analisado, o que motiva
a construção de um modelo capaz de trazer resultados diretamente do ambiente ATP.

Feitas as simulações dos circuitos e suas respectivas validações a respeito das correntes e
tensões induzidas na tubulação metálica, o próximo passo é a idealização e implementação de
um modelo de circuito capaz de emular o acoplamento condutivo diretamente por meio do ATP.

3.2 IDEALIZAÇÃO E CONSTRUÇÃO DO MODELO PARA O ACOPLAMENTO


CONDUTIVO

Baseando-se nos conceitos teóricos já mencionados, é possível transcrever as funções men-


cionadas por meio de circuitos presentes no ATPDraw. A primeira dificuldade a ser superada
é a implementação das três expressões (2.19), (2.18) e (2.20). Para simular esta elevação de
potencial no solo, é necessária a utilização de fontes de tensão controladas por corrente, sendo
estas correntes as injetadas em cada torre.

Em (MATOS, 2021) é proposto um modelo de circuito capaz de fazer este somatório de


tensões controladas por corrente e injetá-las em um dado ponto do circuito, a solução encontrada
neste trabalho é ilustrada a seguir:
3.2 – Idealização e construção do modelo para o acoplamento condutivo 37

Figura 3.8. Modelo de circuito idealizado em (MATOS, 2021), capaz de simular a componente condutiva.

Fontes Circuito Somador

T T
n: 1
F
P S
Ponto de injeção de corrente
T

n: 1
F V
P S
T

n: 1
F
P S
T

Fonte: Adaptado de (MATOS, 2021).

3.2.1 Limitação de caracteres no cartão ATP

Este modelo foi criado levando em conta uma limitação existente na forma de escrita dos
cartões ATP. A escrita de um cartão ATP tem a limitação de 80 caracteres por linha, após esse
limite, o ATP exclui todos os caracteres sobressalentes. Este fator deve ser levado em conta,
pois a finalidade do projeto é a possibilidade de se simular e projetar sistemas com grandes
extensões e um grande número de subdivisões. O que aumentaria o número de fontes e termos
presentes nestas fontes (correntes para cada torre) e dessa forma, aumentaria o número de
caracteres, ultrapassando o limite estabelecido.

C 1 2 3 4 5 6 7 8
98XX0005 =T0001*0.123+ T0002*0.123+ T0003*0.123+ T0004*0.123+ T0005*0.123+ T0006*0.123+ T0007*0.123+ T0009*0.123+ T0009*0.123
98XX0006 =T0004

Tabela 3.2. Ilustração de um código em ATP e seu limite de caracteres

Os termos iniciados por "T"presentes na Tabela (3.2), representam as correntes que seguem
para o solo. É possível observar este termo na Figura (3.4), onde esta corrente corresponde à
corrente que flui pelos resistores posicionados acima dos condutores.

O exemplo apresentado é apenas uma ilustração para efeito de visualização da limitação


presente no cartão ATP e não faz parte da simulação realizada. Porém, é possível notar que
3.2 – Idealização e construção do modelo para o acoplamento condutivo 38

neste exemplo o termo referente à Torre 9 (T0009) seria excluído do cartão ATP.

Esta limitação no cartão ATP explica a presença dos transformadores ideais e das fontes
controladas no circuito somador, pois com a utilização deste transformador o ATP permite a
soma de várias variáveis, todas multiplicadas pela função de Green.

Em (MATOS, 2021) são demonstrados os resultados obtidos e as respectivas validações, po-


rém esta implementação tem algumas dificuldades práticas de incorporação ao projeto EMISimu
em construção, pois esta abordagem implica no acréscimo de nós de circuito, o que pode invi-
abilizar a simulação de sistemas muito extensos ou com grande número de subdivisões. Dessa
forma, o presente estudo procurou encontrar uma outra abordagem para a implementação de
uma solução equivalente.

3.2.2 Implementação com a utilização do bloco MODELS

O bloco MODELS consiste em uma linguagem de descrição técnica utilizada pelo simulador
ATP, orientada a simulações no domínio do tempo. No ambiente EMTP/ATP a linguagem
MODELS pode ser utilizada para a confecção de novos blocos que podem representar operações
feitas por componentes de circuitos dentro do bloco, além de possibilitar a mediação entre
ambientes externos e o ATP.

Figura 3.9. Bloco MODELS disponível no ATPDraw

MODEL
calc_gpr
Fonte: Autoria Própria.

O bloco MODELS permite várias possibilidades de modificações e utilidades, tanto na mo-


dificação de seu bloco, como a quantidade de portas de entradas e saídas disponíveis, como
também seu funcionamento interno. Internamente o bloco MODELS dispõe de uma interface
programável, por meio de linguagem própria.

O bloco MODELS é integrante principal neste projeto, pois nele se constrói toda a lógica
3.2 – Idealização e construção do modelo para o acoplamento condutivo 39

necessária para a implementação da tensão gerada pelo acoplamento condutivo.

Para as entradas deste bloco são utilizadas as correntes de cada torre, já validadas na seção
(3.1.1.1). Após a entrada de dados no bloco, é necessária a inserção da função de Green para
cada ponto calculado, como constante de ganho em cada fonte controlada, por meio da equação
(2.18). O cálculo necessário para encontrar os valores da função de Green leva em conta o
número de subdivisões feitas no modelo, dessa forma, quanto maior o número de subdivisões,
maior será a resolução e, consequentemente, a precisão dos resultados do modelo. Para este
primeiro teste via ATPDraw, foram encontrados valores para a função de Green para um modelo
equivalente a 12 subdivisões, e introduzidos no bloco MODELS.

Tendo como entradas as correntes que fluem pelas torres, os valores da função de Green
para cada ponto, e utilizando as expressões (2.19) e (2.20), que são possíveis de implementar
diretamente pela linguagem MODELS, é possível obter como saída do bloco as tensões geradas
por meio das correntes injetadas pelas torres.

Em posse dos valores de tensão, a próxima dificuldade a ser superada é a inserção destes
valores no circuito, para isso, foi feito uso da mesma fonte de tensão controlada por corrente
representada na Figura (3.8), porém agora vinculado a uma fonte TACS MODELS.

A fonte TACS MODELS permite a inserção no circuito de uma variável não necessariamente
pertencente às grandezas elétricas medidas nos elementos de circuito, como corrente e tensão.
A fonte de tensão controlada por corrente tem o papel de converter esta variável não circuital
para uma variável de circuito, neste caso, para uma tensão elétrica correspondente ao potencial
escalar expresso na equação (2.19).

Figura 3.10. Bloco ATPDraw correspondente a uma fonte de tensão controlada por corrente
M

Fonte: Autoria Própria.

Esta topologia possibilita a inserção das tensões no circuito para o acoplamento condutivo
ilustrado na Figura (3.4), sendo a fonte interligada nas impedâncias shunt de cada ponto do
3.2 – Idealização e construção do modelo para o acoplamento condutivo 40

duto, como mostra a imagem abaixo:

Figura 3.11. Inserção da fonte controlada no modelo apresentado em 3.4


Torre 0 Torre 1

I
M

M
I

I
VI
LCC
I
MI
M

UI
0.099 km V
UI

UI

Seção 0 V Seção 1

Fonte: Autoria Própria.

Visto que pelo ATPDraw foram feitas apenas 12 subdivisões, o resultado encontrado não
corresponde à curva analiticamente obtida e representada na Figura (3.7). O número de subdi-
visões determina diretamente a precisão do resultado obtido, com 12 subdivisões o número de
pontos corresponde a apenas o número de torres, tornando a curva sem uma grande definição,
ocasionando uma perda de informações entre os pontos não amostrados.

Como pode ser visto pela Figura (3.12), a baixa resolução neste modelo é evidente, pois
há grandes lacunas entre os pontos, podendo haver picos e vales de tensão não identificados.
Além disso, há que se considerar o fato de que com a diminuição no número de pontos, há
também uma diminuição no pico de tensão encontrado, o que em projetos reais pode levar ao
subdimensionamento das estruturas de mitigação de riscos do sistema, podendo levar à danos
à tubulação e a exposição de pessoas ao risco.
3.3 – Síntese do capítulo 41

Figura 3.12. Efeito do acoplamento condutivo com apenas 12 subdivisões

Efeito do acoplamento condutivo com apenas 12 subdivisões


6000

5000

4000
Tensão [v]

3000

2000

1000

0
0 200 400 600 800 1000
Distância ao longo do duto [m]

Fonte: Autoria Própria.

3.3 SÍNTESE DO CAPÍTULO

Neste capítulo foi apresentado o processo metodológico feito para a confecção dos modelos
referentes às interferências ocorridas entre linhas de transmissão e dutos metálicos. Foi apresen-
tado primeiramente o processo decisório para escolha da geometria e do sistema a ser analisado,
tendo em consideração um sistema capaz de trazer efeitos relevantes para o desenvolvimento
do trabalho, como a ocorrência de um cruzamento.

Após a escolha e apresentação do sistema a ser analisado, foi construído o circuito para a
avaliação dos efeitos para o acoplamento indutivo, com a descrição dos softwares utilizados,
tanto para a construção como para a referência utilizada para comprovações, além de demons-
trações de blocos utilizados na modelagem.

Foram realizadas duas simulações para a análise do sistema, uma em regime permanente,
em que foram atingidos resultados satisfatórios para o modelo, com erros RMS na faixa de
13,22%. Para a comprovação e teste em regime de falta, foi realizada também uma simulação
para o efeito indutivo em regime de falta, em que foi constatada uma mesma faixa de erro, além
de proporcionar a visualização dos impactos decorrentes de um curto-circuito na LT sobre as
tensões induzidas na instalação interferida.
3.3 – Síntese do capítulo 42

Após a validação dos modelos indutivos, foi demonstrada a abordagem a respeito da cons-
trução de um modelo condutivo, baseado em trabalhos anteriores sobre o tema. Foram demons-
tradas limitações a serem superadas a respeito da escrita e utilização dos softwares utilizados,
no caso o EMTP/ATP. Além disso, foi proposta uma nova abordagem buscando maior eficiência
computacional e melhor integração futura com o projeto EMISimu em desenvolvimento.
CAPÍTULO 4

ESTUDO DE CASO

4.1 INTEGRAÇÃO DO MODELO CONDUTIVO AO EMISIMU

Como visto na seção anterior, o modelo produzido pelo ATPDraw não possibilita um fácil
desenvolvimento para uma grande quantidade de subdivisões. Porém, já existe a plataforma
EMISimu que implementa tanto o procedimento de subdivisões quanto a modelagem automa-
tizada para cartões ATP, visando o acoplamento indutivo. Que é complementada e estendida
com a integração dos modelos de acoplamento condutivo desenvolvidos ao longo deste trabalho
de conclusão de curso.

Para esta implementação, é preciso o conhecimento a respeito do funcionamento e proce-


dimentos necessários para o funcionamento do EMISimu. Primeiramente é apresentado um
fluxograma de implementação da proposta no ATP:

Figura 4.1. Fluxograma de implementação proposta no ATP

Entrada e Leitura de Dados: Pré-Processamento dos dados de entrada


* Coordenadas da Linha de Transmissão;
* Cálculo da subdivisão da tubulação em
* Cordenadas da Tubulação;
paralelismos equivalentes;
* Disposição dos condutores na Torre;
* Cálculo das impedâncias mútuas entre os
* Parâmetros dos condutores;
condutores da linha e o duto;
* Resistividades das torres e subestações;
* Cálculo das impedâncias shunt e série do duto;
* Estruturra e Resistividade do solo;
* Cálculo da função generalizada de Green;
* Características do revestimento isolante;
* Dados do sistema de potência;
* Aterramento do duto metálico; e
* Torre de ocorrência da falta.

Construção do cartão Line Constants (LCC): Construção do cartão ATP principal:


* Escrita do cartão LCC para cada subdivisão;
* Adição da energização;
* Execução do cartão ATP; e
* Inclusão do arquivo .lib LCC;
* Obtensão do Arquivo .lib;
* Adição das resistências de aterramento das torres e do duto;
* Inclusão das impedâncias shunt e série da tubulação;
* Adição das fontes de tensão série controladas pelas correntes
de cada fase no modelo da tubulação;
* Adição das fontes de tensão shunt controladas pelas correntes
Pós -processamento que fluem para o solo no modelo da tubulação;
* Leitura dos dados; e * Escrita dos valores de saída desejados;
* Ajuste das respostas em função da distância * Execução do ATP; e
ao longo do trecho; * Obtenção das saídas em um arquivo .mat;

Fonte: Adaptado de (MARTINS-BRITTO, 2020).


4.1 – Integração do modelo condutivo ao EMISimu 44

As modificações necessárias foram feitas principalmente na etapa de construção do cartão


ATP principal. Estas modificações constituíram basicamente da inserção de mais algumas
etapas na lógica de construção dos cartões ATP. Para o funcionamento do bloco MODELS
responsável pelo cálculo das tensões condutivas, apresentado na Figura (3.9). Primeiro foram
adicionadas as fontes TACS responsáveis por recolher a entrada do bloco MODELS, que cor-
respondem às correntes que fluem pelas torres. Feita a adição das fontes TACS, foi adicionado
o bloco MODELS, utilizando sempre a lógica apresentada anteriormente e tendo em mente a
limitação já exposta existente no ATP, de 80 caracteres por coluna.

Incluídos estes blocos de circuito, foram feitas pequenas modificações nos nós gerais do
circuito. Para o ambiente ATP, o bloco de programação designado para estes nós gerais recebe
o nome de "Branch". Além disso, foram incluídos também medidores de corrente para cada
torre, visando à utilização no bloco MODELS. Como também foi incluída ao fluxo de escrita
dos cartões, a inserção das fontes de tensão controladas por corrente em cada resistência shunt,
como indicado na Figura (3.11).

4.1.1 Resultados encontrados após integração ao EMISimu

Feita a integração do circuito idealizado com a plataforma de simulação EMISimu, foram


feitos os mesmos ensaios produzidos anteriormente para atestar a confiabilidade na integração
proposta. Dessa forma, foram feitos 3 ensaios após a integração, um em regime permanente,
um ensaio com falta mas visando a resposta apenas do acoplamento indutivo, e outro ensaio
para encontrar a resposta com falta mas visando a resposta para o acoplamento condutivo.
Porém, agora com todos os resultados obtidos diretamente no domínio do tempo, por meio do
ATP, sem processamento externo.

4.1.1.1 Resposta em regime permanente

Após a integração, foi utilizado o EMISimu para obter-se a resposta em regime permanente,
e foi comparada com a resposta encontrada anteriormente. A resposta obtida pelo EMISimu
para a componente indutiva já havia sido validada em estudos anteriores, o objetivo desta
demonstração é aferir que a inclusão de novos componentes e métodos de simulação não afeta os
4.1 – Integração do modelo condutivo ao EMISimu 45

métodos originais de cálculo de acoplamento indutivo, que já haviam sido testados e validados.
A referência adotada é, novamente, o software CDEGS

Figura 4.2. Tensão induzida devido ao acoplamento indutivo entre a LT e a tubulação

Tensão induzida na tubulação - Regime Permanente


0.6

0.5

0.4
Tensão [V]

eNRMS = 13.22%

0.3 Modelo ATPDraw


Referência
EmiSimu
0.2

0.1

0
0 200 400 600 800 1000 1200
Distância do Duto [m]

Fonte: Autoria própria.

Como pode ser visto, o comportamento se manteve igual ao apresentado anteriormente,


assim como o percentual de erro RMS obtido anteriormente foi mantido na mesma faixa. Este
resultado foi satisfatório pois não houveram alterações no modelo indutivo ao fazer a integração
dos novos parâmetros de acoplamento condutivo.

4.1.1.2 Resposta em regime de falta

Como o objetivo final é a implementação para a componente condutiva, o regime permanente


de falta tem grande influência neste resultado. Sendo necessária a validação destes resultados,
para a confiabilidade do resultado final. Do mesmo modo feito anteriormente, foram compara-
das três respostas, uma com o software de referência, o CDEGS, outra com o modelo feito via
ATPDraw, e também o modelo feito via EMISimu.

A resposta representada na figura (4.3), mostra novamente que a integração com os códigos
originais não acarretou em erros de processamento. O resultado encontrado é próximo ao
4.1 – Integração do modelo condutivo ao EMISimu 46

encontrado anteriormente, e apresenta um percentual de erro RMS menor que o do modelo


construído manualmente via ATPDraw.

Figura 4.3. Tensão induzida na tubulação devido ao acoplamento indutivo com a presença de um curto-circuito
na LT

Tensão induzida na Tubulação - Com a presença de Falta na Torre 7


800

700

600

500
Tensão [V]

400

300
eNRMS = 11.26%
200
Modelo ATPDraw
100 Referência
Emisimu
0
0 200 400 600 800 1000 1200
Distância do Duto [m]

Fonte: Autoria própria.

Tendo estes resultados, é possível ir para a próxima etapa, a análise da resposta encontrada
para o acoplamento condutivo.

4.1.1.3 Resposta condutiva realizada dentro do ambiente EMTP/ATP

Tendo os outros resultados validados, e visto que as novas implementações não modificaram
o funcionamento do EMISimu, foi feita a simulação para a componente condutiva e comparada
com o resultado obtido na Figura (3.7).

Como pode ser visto na Figura 4.4, houve uma leve diferença entre os resultados encontrados,
que pode ser explicada pelo uso de diferentes métodos de subdivisão, em cada abordagem.
Porém, o resultado seguiu o mesmo formato, indicando praticamente os mesmos valores para
os picos de máximo e os vales de mínimo.
4.1 – Integração do modelo condutivo ao EMISimu 47

Figura 4.4. Tensão induzida na tubulação devido ao acoplamento condutivo

Efeitos do acoplamento condutivo


8000
Estresse no revestimento - Amb. externo
7000 Estresse no revestimento - EMIsimu

6000

5000

4000

3000

2000

1000

0
0 200 400 600 800 1000 1200

Fonte: Autoria própria.

Para uma melhor visualização do software utilizado como referência, o CDEGS, e para obter
uma validação para o modelo implementado, foi feita também a análise via este software.

Figura 4.5. Tensão induzida na tubulação devido ao acoplamento condutivo com a presença de um curto-
circuito na LT

Fonte: Autoria própria.


4.2 – Discussões a respeito do resultado encontrado 48

Ao se comparar as Figuras, (4.4) e (4.5), é possível notar que as duas seguem o mesmo
formato. Indicando que o modelo projetado está correto em termos teóricos, além de apresentar
picos e vales também próximos um do outro, o que valida a implementação proposta.

Além da validação para o circuito modelado, a Figura (4.5) também traz um exemplo de
um software amplamente utilizado em pesquisas e estudos reais sobre interferências eletromag-
néticas, o que demonstra o valor aplicado a este trabalho. Dado que a plataforma EMTP/ATP
é disponibilizada gratuitamente, este trabalho permite que haja uma maior divulgação para
estudos sobre o tema, o que traz ganhos para a área e para análises e mitigações em casos reais.

4.2 DISCUSSÕES A RESPEITO DO RESULTADO ENCONTRADO

O acoplamento condutivo ocorre quando há a influência de uma falta na LT. Neste panorama
a magnitude das correntes que fluem para o solo pelos aterramentos presentes nas torres são
bastante expressivas. Esta injeção de corrente no solo é a responsável pelo potencial de estresse,
capaz de causar rupturas no revestimento isolante da tubulação e provocar riscos à vida de
funcionários atuantes na operação da tubulação.

Durante o evento simulado, um curto-circuito monofásico entre uma das fases e o ater-
ramento de uma das torres, elevados valores de corrente fluem através da fase em falta das
subestações terminais até o ponto de falta. Uma parte das correntes de curto circuito retornam
para as subestações terminais por meio dos condutores para raio. A outra parte da corrente
provocada pelo curto circuito flui para o solo por meio dos condutores de aterramento pre-
sente nas torres. As correntes que fluem pelo solo acarretam uma elevação de potencial, que é
conhecida como GPR e dada em volts (MARTINS-BRITTO, 2017).

Nesta situação, ocorre a predominância de dois efeitos estudados, a saber:

• Acoplamento indutivo: causa a elevação de potencial no metal presente na tubulação,


pois ocorre um acoplamento indutivo entre a fase em falta, entre os condutores para raios
e as fases sãs

• Acoplamento condutivo: causa o aumento do potencial elétrico no solo próximo à tubu-


lação, este aumento ocorre devido à injeção de corrente descrita acima.
4.2 – Discussões a respeito do resultado encontrado 49

Por estes dois efeitos ocorrerem no mesmo momento na tubulação, há uma diferença de
potencial presente no duto, efeito este que causa a presença de um estresse elétrico na instalação
interferida.

Figura 4.6. Ilustração de um curto-circuito monofásico, em que há distribuição das correntes de falta e elevação
do potencial no solo

Fonte: Retirado de (MARTINS-BRITTO, 2017).

Outro ponto interessante a ser analisado é a presença de uma distribuição de corrente e de


potenciais ao longo do trecho. Quando há a ocorrência de falta, há também uma distribuição
de corrente e de potenciais elétricos que percorrem o caminho iniciado do ponto de falta até as
subestações terminais por meio dos condutores para raio, provocando, assim, uma interferência
ao longo de todo o percurso e não apenas no ponto de falta.

Dessa forma, uma das vantagens da implementação deste modelo condutivo por meio do
EMISimu e também da plataforma EMTP/ATP, é a possibilidade da obtenção desta distri-
buição de potencial no decorrer do caminho da linha, o que não seria possível por meio da
técnica apresentada na seção (3.1.1.3), pois seriam necessárias várias iterações com um volume
de dados extenso, o que não seria fácil de efetuar computacionalmente.

Por meio da implementação via EMTP/ATP, ao final da simulação, é retornado um vetor


compondo todo o comportamento das variáveis elétricas no dado intervalo de tempo especifi-
4.3 – Síntese do capítulo 50

cado, o que traz uma melhor eficiência computacional à implementação.

Abaixo é demonstrado o efeito citado, a respeito da distribuição de potencial e de correntes


ao longo do percurso da tubulação.

Figura 4.7. Distribuição de potencial no decorrer do tempo, ao londo do percurso da tubulação

Tensão Induzida,Instante 1 Tensão Induzida,Instante 2 Tensão Induzida,Instante 3 Tensão Induzida,Instante 4


0.5 12000 12000 12000

10000 10000 10000


0.4

8000 8000 8000


Tensão [v]

Tensão [v]

Tensão [v]

Tensão [v]
0.3
6000 6000 6000
0.2
4000 4000 4000

0.1
2000 2000 2000

0 0 0 0
0 200 400 600 800 1000 0 200 400 600 800 1000 0 200 400 600 800 1000 0 200 400 600 800 1000
Distância [m] Distância [m] Distância [m] Distância [m]

Tensão Induzida,Instante 5 Tensão Induzida,Instante 6 Tensão Induzida,Instante 7 Tensão Induzida,Instante 8


14000 12000 14000 14000

12000 10000 12000 12000

10000 10000 10000


8000
Tensão [v]

Tensão [v]

Tensão [v]

Tensão [v]
8000 8000 8000
6000
6000 6000 6000
4000
4000 4000 4000

2000 2000 2000 2000

0 0 0 0
0 200 400 600 800 1000 0 200 400 600 800 1000 0 200 400 600 800 1000 0 200 400 600 800 1000
Distância [m] Distância [m] Distância [m] Distância [m]

Fonte: Autoria Própria.

Como se observa na Figura (4.7), a implementação por meio do EMTP/ATP, proporciona


uma visualização detalhada, no domínio do tempo, da propagação de correntes e tensões, com
a distribuição ocorrida após o momento da falta.

4.3 SÍNTESE DO CAPÍTULO

Neste capítulo foi apresentada primeiramente a integração do modelo proposto na seção


anterior ao projeto EMISimu. Foi demonstrado como ocorre o fluxo de dados e os processos
implementados dentro da ferramenta, para melhor compreensão dos métodos utilizados, e,
assim, a integração adequada entre o modelo proposto neste trabalho e os desenvolvimentos
anteriores.
4.3 – Síntese do capítulo 51

Após a demonstração de como ocorreu a implementação do modelo, foi iniciada a etapa


de comparação e validação dos resultados encontrados. Novamente foi utilizado o software
CDEGS como referência. Além de fazer a comparação com os resultados obtidos por meio
da implementação via o ATPDraw, para as influências referentes ao acoplamento indutivo,
foram encontrados resultados semelhantes, pois nestes casos, o número de subdivisões não tem
grande influência nos resultados. Porém, ao comparar o resultado obtido para o acoplamento
condutivo, observa-se uma grande influência da adição de subdivisões ao circuito. como pode
ser visto na comparação entre as figuras (4.4) e (3.12).

Feita a validação dos resultados obtidos, foi iniciada uma discussão a respeito da aplicação
do modelo proposto, onde foi demonstrado que a implementação via EMTP/ATP oferece um
grande diferencial ao resultado encontrado, pois permite a análise de sistemas ao longo do
tempo, facilitando assim, análises e mitigações de problemas práticos.
CAPÍTULO 5

CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS

Neste trabalho foram expostos conceitos fundamentais para o entendimento de interferên-


cias eletromagnéticas ocorridas entre linhas de transmissão e tubulações metálicas, bem como
possíveis riscos à vidas e à estrutura da tubulação.

Foram modelados e construídos circuitos capazes de emular o comportamento do acopla-


mento indutivo de interferências. Estes circuitos foram testados e validades, apresentando erros
na faixa de 13%, o que se considera satisfatório. Os circuitos foram construídos utilizando um
modelo de solo uniforme, utilizando como base teórica conceitos desenvolvidos em (MARTINS-
BRITTO et al., 2021b), que propôs uma técnica para aproximação do modelo multicamadas,
por meio de um equivalente homogêneo. Esta base teórica garantiu que o projeto não perdesse
generalidade, confiabilidade e precisão.

A respeito da implementação do acoplamento condutivo e introdução nos modelos de circuito


já existentes, foram obtidos bons resultados, tendo variações pequenas em relação ao software
referência utilizado. Considera-se que isto agrega grande valor ao atual projeto, pois viabiliza
a obtenção de resultados equiparáveis ao da ferramenta paga considerada referência mundial,
utilizando o ATP, de modo que o presente trabalho tem usabilidade e importância tanto para
o meio acadêmico quanto para a indústria.

Para a obtenção destes modelos finais foram superadas diversas dificuldades que necessi-
taram o desenvolvimento de soluções de engenharia que proporcionaram resultados válidos e
confiáveis.

Por fim, existe a possibilidade de aprimoramento deste trabalho para a implementação em


projetos futuros, alguns pontos interessantes a serem abordados:

• Aplicação do modelo projetado para ocorrências de descargas atmosféricas;

• Testes do modelo para diferentes valores de frequência, possibilitando outras aplicações


53

do simulador; e

• Substituição das resistências estáticas nos pés de cada torre por circuitos equivalentes
(funções de transferência) representativos do comportamento transitório, também, da
impedância de aterramento, o que se espera possibilitar predições ainda mais precisas dos
potenciais transferidos pelo solo à instalação interferida.
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