Boletim N° 090

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CAO – Crim

Boletim Criminal Comentado n° 090

Procurador-Geral de Justiça
Mário Luiz Sarrubbo

Coordenador do CAO Criminal


Arthur Pinto Lemos Junior

Assessores
Fernanda Narezi Pimentel Rosa
Paulo José de Palma
Ricardo José Gasques de Almeida Silvares
Rogério Sanches Cunha
Valéria Scarance

Analista Jurídica
Ana Karenina Saura Rodrigues
Boletim Criminal Comentado n° 090 - Maio 2020

SUMÁRIO

SUMÁRIO .................................................................................................................................. 2
ESTUDOS DO CAOCRIM .............................................................................................................. 3
1- Tema: Execução penal provisória no Tribunal do Júri (artigo escrito pelo Procurador-Geral de
Justiça em coautoria com dois PGJs). .................................................................................................... 3

2- Tema: Ações e estratégias adotadas no MPSP em razão do


Covid19............................................................................................................................................... 13

3 -Tema: Sentenciados em meio aberto - Recom n.º 62/20 CNJ e Ofício n.º 559 DMF-CNJ ............... 15

4 - Tema: Execução da multa. Esclarecendo as dúvidas mais frequentes da semana. ...................... 15

STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM ................................ 18


DIREITO PROCESSUAL PENAL ................................................................................................... 18
1-Tema: Decisão colegiada que confirma sentença condenatória interrompe prazo da prescrição 18

DIREITO PENAL: ........................................................................................................................21


1-Tema: Homicídio culposo na direção de veículo automotor. Perda do controle do carro.
Atropelamento na calçada. Causa especial de aumento de pena. Art. 302, § 1º, II, da Lei n.
9.503/1997 .......................................................................................................................................... 21

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ESTUDOS DO CAOCRIM
1- Tema: Execução penal provisória no Tribunal do Júri (artigo escrito pelo procurador-geral de
Justiça em coautoria com dois PGJs).

EMENTA: 1. Um julgamento histórico no STF. 2. Princípio da proporcionalidade em sentido amplo.


3. A soberania do júri e jurisprudência do STF. 4. Os crimes de homicídio e a facilidade de
concretização de impunidade através da prescrição. 5. A soberania dos veredictos e o princípio
da razoabilidade. 6. Relatividade do princípio da soberania dos vereditos. 7. Uma conclusão
inevitável.

1. UM JULGAMENTO HISTÓRICO NO STF

O Supremo Tribunal Federal (STF) julga de forma virtual um caso de feminicídio ocorrido em Santa
Catarina que pode mudar o entendimento sobre a prisão de condenados pelo Tribunal do Júri em
todo o País.

Historicamente, sempre houve um grande confronto entre o principio da soberania dos veredictos
e o princípio da não culpabilidade antecipada.

Para os defensores da prevalência do princípio da soberania dos veredictos, é possível a execução


provisória da pena logo após o veredicto do tribunal do júri. Esta tese foi, inclusive, o voto do
relator, o ministro Luis Roberto Barroso. O presidente do STF, Dias Toffoli, o acompanhou.

Para os defensores da prevalência do princípio da não culpabilidade antecipada, somente será


possível executar a pena após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Este foi o voto
do Min. Gilmar Mendes.

O ministro Ricardo Lewandowski pediu vista.

2. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE EM SENTIDO AMPLO

O princípio da proporcionalidade é operado por meio da verificação, pelo Juiz, de determinado caso
concreto, no qual surja o conflito de dois interesses juridicamente protegidos. Em caso afirmativo,
deverão esses interesses, postos em causa, ser pesados e ponderados. A partir daí estabelecer-se-
ão os limites de atuação das normas, na verificação do interesse predominante. Desse modo, o
magistrado, mediante minuciosa valoração dos interesses, decidirá em que medida deve-se fazer
prevalecer um ou outro interesse, impondo as restrições necessárias ao resguardo de outros bens
jurídicos.

Stinmetz (2001, p. 142-143) elucida que:

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“A colisão de direitos fundamentais e bens constitucionalmente protegidos, na qual a realização


ou otimização de um implica a afetação, a restrição ou até mesmo a não realização do outro, a
inexistência de uma hierarquia abstrata entre direitos em colisão, isto é, a impossibilidade de
construção de uma regra de prevalência definitiva”.

Realmente, com frequência, o julgador depara-se com dilemas em que a solução de um problema
processual implica o sacrifício de um valor conflitante com outro, não obstante ambos tenham
proteção legal. Nesse caso, devemos valorar os princípios em conflito, estabelecendo, em cada
caso, que direito ou prerrogativa deve prevalecer. Na solução do conflito é preciso desvendar o
seguinte paradigma: se quaisquer das soluções afrontarão direitos, qual a solução menos injusta,
ou seja, qual a solução que, dentro das desvantagens, apresentará mais vantagem à solução do
litígio, de modo a dar-se a solução concreta mais justa?

A ponderação é a forma de argumentação jurídica que mais intimamente se encontra associada à


necessidade de comparação entre dois ou mais valores (ou princípios, direitos, bens, interesses,
como se prefira) para o estabelecimento da decisão correta num determinado caso.

Para Robert Alexy, o “caminho do constitucionalismo discursivo, que começa com os direitos
fundamentais e segue com a ponderação, o discurso e a jurisdição constitucional terminará com
uma ilusão, na qual a legitimação de qualquer coisa é possível”.

A ponderação ou balancing, nesse contexto, assume a função de instrumentalizar a racionalidade


no constitucionalismo discursivo em torno da máxima da proporcionalidade.

Sua formulação estrutural é sintetizada pela lei da ponderação, segundo a qual “quanto maior for o
grau de não-satisfação ou de afetação de um princípio, tanto maior terá que ser a importância da
satisfação do outro”.

A lei da ponderação, portanto, é uma estrutura racional concebida para estabelecer a correção, ou
valoração, do juízo jurídico de um discurso, o que significa dizer que a ponderação é uma forma de
argumentação própria do constitucionalismo discursivo, instrumentalizada em torno da máxima da
proporcionalidade.

E ainda que a ponderação não possa ser tida por si mesma como um modelo suscetível de conduzir
o intérprete à melhor decisão em todos os casos, o modelo da ponderação como um todo, ao
associar a lei da colisão à teoria da argumentação jurídica, pode ser aceito como um modelo
discursivo confiável, em cuja essência consiste a busca pela fundamentação racional de enunciados
de precedências condicionadas entre dois ou mais valores, interesses ou princípios colidentes.

Nesse sentido, é certo que os enunciados de precedências condicionadas decorrentes da


ponderação de dois ou mais princípios no caso concreto consubstanciam regras atribuídas aos

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direitos fundamentais as quais, diante de determinadas condições, estabelecem a consequência


jurídica em relação ao princípio prevalente.

No processo de criação e fundamentação de tais enunciados, no entanto, todos os argumentos


possíveis na argumentação constitucional podem ser utilizados. Desse modo, para a
fundamentação de um enunciado de preferência condicionada e, com isso, para a justificação da
regra a que ele corresponde, pode-se recorrer a todos os cânones da interpretação e argumentos
dogmáticos, precedentes, argumentos práticos e empíricos em geral, além de formas específicas de
argumentação jurídica.

É indiscutivelmente aceito pela jurisprudência dessa Suprema Corte o entendimento de que os


direitos fundamentais previstos na Constituição não se revestem de caráter absoluto, estando
sujeitos, portanto, a juízos de ponderação no caso concreto, definidores de relações de precedência
condicionadas entre os demais princípios fundamentais concorrentes.

Nesse sentido, para uma adequada colocação normativa do problema, deve-se desde logo registrar
que culpa e prisão não podem ser consideradas como entidades caracterizadoras do mesmo
mandado normativo perante a Constituição, pois decorre da própria ordem constitucional a
possibilidade de segregação sem declaração inequívoca de culpa, “em flagrante delito ou por
ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente” (art. 5º, LXI, CRFB).

Resulta importante, aqui, a advertência do Ministro Eros Roberto Grau, segundo o qual a
Constituição não pode simplesmente ser lida em tiras, aos pedaços isolados.

O traço materialmente diferenciador entre a sentença do magistrado singular em um julgamento


de crime comum, e aquela decorrente de um crime contra a vida pelo Tribunal do Júri, está
plasmado na expressão “soberania dos vereditos”.

A expressão “soberania” é mencionada no texto constitucional somente em três hipóteses:

1ª) referindo-se à soberania nacional como fundamento da república;

2) à soberania popular exercida por meio do sufrágio universal;

3) e à soberania dos veredictos nos julgamentos dos crimes dolosos contra a vida.

Nessa lógica, ao contrário dos demais crimes comuns, a Carta Magna conferiu ao próprio povo a
prerrogativa de julgar seus pares pelo cometimento de crimes contra a vida, e o fez não apenas na
perspectiva de uma cláusula institucional de soberania, mas também como uma garantia
fundamental do próprio indivíduo contra o Estado, vez que, no julgamento comum de crimes
contra a vida, não é dado a nenhum integrante da Magistratura nacional interferir no mérito dessa
decisão (5º, XXXVIII, alínea “c”, da CRFB).

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O tratamento diferenciado no plano normativo-constitucional corrobora a necessidade de


diferenciação no plano da concordância prática.

Tal revela que a Constituição da República, ao atribuir ao Tribunal do Júri a competência para o
julgamento de crimes dolosos contra a vida e qualificá-los sob a cláusula da “soberania dos
veredictos”, retirou dos tribunais a possibilidade de substituição da decisão proferida pelo Conselho
de Sentença, sendo vedado ao órgão do Poder Judiciário reapreciar os fatos e as provas que
assentaram a responsabilidade penal do réu reconhecida soberanamente pelo Júri.

Não cabendo aos Tribunais a reapreciação dos fatos e provas – ressalvada apenas a hipótese de
decisão manifestamente contrária à prova dos autos -, não há se falar em violação ao princípio da
presunção de inocência ou de não culpabilidade na execução imediata da condenação imposta pelo
Tribunal do Júri.

3. A SOBERANIA DO JÚRI E JURISPRUDÊNCIA DO STF

A questão da prevalência do princípio da soberania do júri na resolução do antagonismo normativo


concreto decorrente da aplicação do princípio da não culpabilidade não é matéria não é estranha à
jurisprudência desse Supremo Tribunal Federal.

Nos autos do HC n. 118.770/SP, de relatoria para acórdão do Eminente Ministro Luís Roberto
Barroso, a Primeira Turma firmou a tese de que: “A prisão de réu condenado por decisão do
Tribunal do Júri, ainda que sujeita a recurso, não viola o princípio constitucional da presunção de
inocência ou não-culpabilidade”.

De acordo com esse julgamento, a “Constituição Federal prevê a competência do Tribunal do Júri
para o julgamento de crimes dolosos contra a vida (art. 5º, inciso XXXVIII, d). Prevê, ademais, a
soberania dos veredictos (art. 5º, inciso XXXVIII, c), a significar que os tribunais não podem
substituir a decisão proferida pelo júri popular”. Diante disso, “não viola o princípio da presunção
de inocência ou da não culpabilidade a execução da condenação pelo Tribunal do Júri,
independentemente do julgamento da apelação ou de qualquer outro recurso. Essa decisão está
em consonância com a lógica do precedente firmado em repercussão geral no ARE 964.246-RG, Rel.
Min. TeoriZavascki, já que, também no caso de decisão do Júri, o Tribunal não poderá reapreciar os
fatos e provas, na medida em que a responsabilidade penal do réu já foi assentada soberanamente
pelo Júri. 3. Caso haja fortes indícios de nulidade ou de condenação manifestamente contrária à
prova dos autos, hipóteses incomuns, o Tribunal poderá suspender a execução da decisão até o
julgamento do recurso”.

Além disso, em outro precedente do mesmo órgão julgador decidiu-se favoravelmente à


prevalência do princípio da soberania dos veredictos, ao afirmar-se que a “custódia lastreada em
decisão do Tribunal do Júri, ainda que pendente recurso especial, não viola o princípio

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constitucional da inocência” (Habeas Corpus nº 133528/PA, 1ª Turma do STF, Rel. Marco Aurélio. j.
06.06.2017, maioria, DJe 21.08.2017).

4. OS CRIMES DE HOMICÍDIO E A FACILIDADE DE CONCRETIZAÇÃO DE IMPUNIDADE ATRAVÉS DA


PRESCRIÇÃO

No ano de 2019, em primoroso trabalho coordenado pelo Conselho Nacional de Justiça, foi
elaborado o “Diagnóstico das Ações Penais de Competência do Tribunal do Júri”.

Esse relatório concluiu que: “o desfecho mais recorrente nos processos de competência do Tribunal
do Júri foi acondenação (47,9% dos casos decididos). Em seguida, vieram as decisões pela extinção
da punibilidade (32,4%) e, em menor proporção, as decisões absolutórias (19,6%)”.

Além disso, na comparação da natureza da decisão final em relação à duração dos processos,
referido estudo demonstrou que “a prescrição ocorreu em 14% dos julgamentos e representa 42%
dos casos de extinção da punibilidade. O tempo médio decorrido entre o início da ação penal e a
decisão pela extinção da punibilidade é de oito anos e seis meses, porém, nas prescrições, a média
sobe para treze anos. Cerca de 64% das decisões que reconhecem a prescrição ocorrem justamente
nos processos mais longevos, com mais de oito anos de tramitação”.

Quando se condiciona o cumprimento da pena definida no veredicto do Conselho de Sentença ao


trânsito em julgado da condenação, facilita-se a famigerada prescrição, além de transmutar-se a
exceção que decorre da mutabilidade fundada na decisão contrária à prova dos autos (que se
verifica em hipóteses muito incomuns e bem delimitadas), em cláusula de barreira da eficácia
normativa do princípio da soberania dos veredictos (firmados normativamente em torno do
pressuposto fático condenatório, segundo o levantamento do CNJ).

5. A SOBERANIA DOS VEREDICTOS E O PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE

Atuamos muito tempo no Tribunal do Júri, precisamos muitas injustiças fáticas, mas a pior das
injustiças é a denominada “injustiça hermenêutica”, que pode ser revelada como “o dedo riste e o
riso cínico na cara da justiça”. Como?

Réu assassino confesso de jovens e mulheres, ganha como prêmio um longo procedimento e um
belo dia podem ir a julgamento. Após uma longa batalha de debates, enfim a justiça demonstra seu
veredito: “Condenado”. O alívio é total por parte daqueles que sonhavam com esse momento, as
frases que suspiram no plenário do júri é: “enfim, a justiça foi feita”, mas a alegria logo é arrefecida
quando o juiz ao concluir a sentença diz: “defiro o pedido para que o réu recorra em liberdade”.

Nesse contexto, questiona-se: É razoável? É proporcional que ainda aguarde o réu em liberdade o
desfecho de seus subsequentes artifícios recursais? Quantos julgamentos de feminicídios Brasil

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afora estão em condições mais morosas do que o presente caso? Quantos assassinatos vinculados
ao tráfico de drogas e à guerra entre facções criminosas?

Nesse cenário de conflituosidade normativa, não se pode perder de vista, ainda, o princípio da
razoabilidade, na sua propriedade de conexão e sentido entre o Direito e a Justiça. Oliveira (2003,
p. 92) conceitua o princípio da razoabilidade como:

O razoável é conforme a razão, racionável. Apresenta moderação, lógica, aceitação, sensatez. A


razão enseja conhecer e julgar. Expõe o bom senso, a justiça, o equilíbrio. Promove a explicação,
isto é, a conexão entre um efeito e uma causa. É contraposto ao capricho, à arbitrariedade. Tem a
ver com a prudência, com as virtudes morais, com o senso comum, com valores superiores
propugnado em data comunidade.

O pensamento de Kant buscou uma compreensão ética da natureza humana, conforme descreve
(1785, apud LÔBO, 2009, p.37):

“No reino dos fins tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço,
pode-se pôr em vez dela qualquer outra como equivalente, mas quando uma coisa está acima de
todo o preço, e, portanto, não permite equivalente, então tem ela dignidade”.

Mas qual seria o verdadeiro “pano de fundo” da superação do princípio da soberania dos
julgamentos do júri ao condicioná-lo ao voluntarismo recursal do acusado?

A hipótese coloca em risco não apenas a efetivação da própria justiça, hoje em fase de total
descrédito pelas constantes efetivações de “injustiça hermenêutica” patrocinada por um
doutrinamento “garantista hiperbólico monocular”, mas, igualmente, enfraquece e esvazia o
sentido do próprio Estado Democrático de Direito, que tem na soberania dos veredictos um de seus
postulados mais evidentes de expressão, ao atribuir ao povo o poder de intervenção direta nos
domínios da Justiça.

Não por outra razão, o princípio da soberania dos veredictos foi introduzido no catálogo dos
direitos fundamentais, basicamente vinculado à defesa da VIDA, bem nuclear que reclamou o
estabelecimento de um degrau de proteção constitucional maior que os demais valores e princípios
constitucionais, porque, na invocação de Kant, o ser humano deve estar no centro do
conhecimento, como um fim em si mesmo, o que faz com que a proteção de sua existência seja
gravada com especial nível de proteção na ordem constitucional.

Usando como alicerce o garantismo integral, o promotor de Justiça Caio Márcio Loureiro destaca
que o modelo ideal de direito penal garantista é o que busca não apenas evitar a hipertrofia da
punição, mas também, com a mesma ênfase, impedir a intervenção insuficiente do Estado na tutela

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do bem jurídico apontado como indispensável para a convivência harmônica do homem em


sociedade (O princípio da plenitude da vida no tribunal do júri: Carlini e Caniato, 2017).

6. RELATIVIDADE DO PRINCÍPIO DA SOBERANIA DOS VEREDICTOS

O denominado “Pacote Anticrime” (Lei nº 13.964/2019) promoveu alterações no artigo 492 do CPP,
ao instituir a letra “e”, no inciso “I”, do art. 492, bem como dos parágrafos 3o, 4o, 5o e 6o, in verbis:

Art. 492. Em seguida, o presidente proferirá sentença que:

I – no caso de condenação:

(…)

e) mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se encontra, se presentes os


requisitos da prisão preventiva, ou, no caso de condenação a uma pena igual ou superior a 15
(quinze) anos de reclusão,determinará a execução provisória das penas, com expedição do
mandado de prisão, se for o caso, sem prejuízo do conhecimento de recursos que vierem a ser
interpostos;

(…)

§ 3º O presidente poderá, excepcionalmente, deixar de autorizar a execução provisória das penas


de que trata a alínea e do inciso I do caput deste artigo, se houver questão substancial cuja
resolução pelo tribunal ao qual competir o julgamento possa plausivelmente levar à revisão da
condenação.

§ 4º A apelação interposta contra decisão condenatória do Tribunal do Júri a uma pena igual ou
superior a 15 (quinze) anos de reclusão não terá efeito suspensivo.

§ 5º Excepcionalmente, poderá o tribunal atribuir efeito suspensivo à apelação de que trata o § 4º


deste artigo, quando verificado cumulativamente que o recurso:

I – não tem propósito meramente protelatório; e

II – levanta questão substancial e que pode resultar em absolvição, anulação da sentença, novo
julgamento ou redução da pena para patamar inferior a 15 (quinze) anos de reclusão.

§ 6º O pedido de concessão de efeito suspensivo poderá ser feito incidentemente na apelação ou


por meio de petição em separado dirigida diretamente ao relator, instruída com cópias da sentença
condenatória, das razões da apelação e de prova da tempestividade, das contrarrazões e das
demais peças necessárias à compreensão da controvérsia.

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Rodrigo Faucz Pereira e Silva no artigo “A execução provisória em condenações no Tribunal do


Júri” defende a inconstitucionalidade do artigo supramencionado argumentado que:

Isto é, não obstante as discussões recentes sobre a antecipação do cumprimento da pena a partir
do segundo grau de jurisdição, cria-se a execução da pena a partir de decisão em primeiro grau de
jurisdição, tendo como justificativa a condenação pelo conselho de sentença a uma pena elevada.
Todavia, ao determinar a prisão do condenado sem o trânsito em julgado de sentença penal, viola-
se o princípio constitucional da presunção de inocência previsto no inciso LVII da Constituição
Federal (“ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória”), bem como o princípio do duplo grau de jurisdição, expresso como garantia judicial
mínima no Pacto de San José da Costa Rica no artigo 8, II, h (“direito de recorrer da sentença para
juiz ou tribunal superior”).

Entendemos a inovação legislativa padece de vício de inconstitucionalidade, não por eventual


ofensa ao princípio da não culpabilidade, mas, sim, porque relativiza o principio da soberania dos
vereditos, ao ampliar a única exceção definida de revisão dos veredictos do Tribunal do Júri (aquela
decorrente de condenação manifestamente contrária à prova dos autos), para afastar a
aplicabilidade imediata da norma constitucional que recomenda pronto cumprimento da pena
privativa de liberdade aplicada. Com isso, verifica-se inconstitucionalidade em pelo menos 3 (três)
das hipóteses de aplicação da norma em questão:

a) Condenados pelo tribunal do júri em pena menor que 15 anos, o juiz mandará o acusado
recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se encontra, se presentes os requisitos da prisão
preventiva= afronta ao princípio da soberania dos vereditos.

b) Condenados pelo tribunal do júri em uma pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão,
determinará a execução provisória das penas, com expedição do mandado de prisão, se for o caso,
sem prejuízo do conhecimento de recursos que vierem a ser interpostos = preserva o princípio da
soberania dos vereditos.

c) O presidente poderá, excepcionalmente, deixar de autorizar a execução provisória das penas, se


houver questão substancial cuja resolução pelo tribunal ao qual competir o julgamento possa
plausivelmente levar à revisão da condenação = afronta ao princípio da soberania dos vereditos.

d) Excepcionalmente, poderá o tribunal atribuir efeito suspensivo à apelação = afronta ao princípio


da soberania dos vereditos.

Em realidade, só hipótese de manifesta incompatibilidade da condenação com a prova dos autos é


que o princípio da soberania dos vereditos pode ser relativizado, levando-se o acusado a novo
julgamento, o que encontra lógica com a própria concordância prática com a correção dos
julgamentos, numa expressão da própria Justiça.

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A anulação de decisão do tribunal do júri, por manifestamente contrária à prova dos autos, não
viola a regra constitucional que assegura a soberania dos veredictos do júri (CF, art. 5º, XXXVIII, c),
pois, in casu, a soberania dos vereditos é relativizada ante à possibilidade concreta de efetivação de
uma injustiça, que seria a condenação de uma pessoa sem provas contundentes ou erro formal
grave. A relativização do princípio da soberania dos veredictos, na hipótese, encontra razões
materiais no próprio texto constitucional. Fora daí, não há margem para restrições formais no plano
infraconstitucional à aplicabilidade do princípio constitucional da soberania dos veredictos,
condicionando-o à quantidade da pena ou à natureza de “questão substancial” não identificada
com a contrariedade manifesta da prova.

Assim vem decidido reiteradamente o STF:

“O Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento de que a submissão do acusado a novo


julgamento popular não contraria a garantia constitucional da soberania dos veredictos”.
Precedentes. Habeas Corpus nº 115977/DF, 1ª Turma do STF, Rel. Marco Aurélio. j. 24.10.2017,
unânime, DJe 22.02.2018. Ag. Reg. no Recurso Extraordinário com Agravo nº 1142744/SP, 1ª Turma
do STF, Rel. Alexandre de Moraes. j. 10.09.2018, unânime, DJe 19.09.2018, AI nº 728.023/RS-AgR,
Segunda Turma, Relator o Ministro Joaquim Barbosa, DJe de 28.02.11). Ag. Reg. no Recurso
Extraordinário com Agravo nº 1031372/SP, 2ª Turma do STF, Rel. Dias Toffoli. j. 29.09.2017,
unânime, DJe25.10.2017. Ag. Reg. no Habeas Corpus nº 130690/SP, 1ª Turma do STF, Rel. Roberto
Barroso. j. 11.11.2016, maioria, DJe 24.11.2016).

7. UMA CONCLUSÃO INEVITÁVEL

Assim como a aplicação de uma norma constitucional deve se realizar em conexão com a totalidade
das normas constitucionais em busca de uma concordância prática, não se pode conceber a
existência de um princípio constitucional sem o reconhecimento de um espaço normativo que lhe
confira eficácia jurídica na ordem vigente.

Por essa razão, condicionar a aplicação do princípio da soberania dos veredictos ao trânsito em
julgado da sentença penal condenatória equivale ao próprio esvaziamento do conteúdo nele
impregnado – porque de ínfima interferência na eficácia social -, além da caracterização de patente
violação à proibição de proteção insuficiente dos direitos fundamentais em matéria criminal.

Nesse sentido, vale lembrar a lição do Ministro Gilmar Mendes em relação aos “mandatos
constitucionais de criminalização”, no julgamento do HC 104.410/RS, julgado 06.03.2012, segundo
o qual, “os direitos fundamentais expressam não apenas uma proibição do excesso
(Übermassverbote), como também podem ser traduzidoscomo proibições de proteção insuficiente
ou imperativos de tutela (Untermassverbote). Os mandatos constitucionais de criminalização,
portanto, impõem ao legislador, para o seu devido cumprimento, o dever de observância do

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princípio da proporcionalidade como proibição de excesso e como proibição de proteção


insuficiente”.

Dentro desse espírito, é fundamental que nossa Suprema Corte, no julgamento histórico que se
desenvolve em plenário virtual, dentro de sua competência constitucional, faça a
devida ponderação entre os princípios da não culpabilidade e da soberania dos veredictos,
conferindo, a este último a sua devida efetividade, à luz da necessária concordância prática com as
demais normas constitucionalmente convergentes na aplicação do caso concreto, reconhecendo-se
a plena constitucionalidade da imediata execução do veredicto condenatório proferido pelo
Tribunal do Júri, por inexistir afronta, na hipótese, ao princípio da presunção de não culpabilidade.

Nos processos dos crimes dolosos contra a vida, mais que a ampla defesa, exigida em todo e
qualquer processo criminal (art. 5º, inc. LV, da CF), vigora a plenitude de defesa. No júri, não apenas
a defesa técnica, relativa aos aspectos jurídicos do fato, pode ser produzida. Mais que isso,
dadas as peculiaridades do processo e o fato de que são leigos os juízes, permite-se a
argumentação não jurídica, com referências a questões sociológicas, religiosas, morais, ou seja,
argumentos que, normalmente, não seriam considerados se o julgamento fosse proferido por um
juiz togado.

Ainda como consequência desse princípio, ressalta Pontes de Miranda (Comentários à Constituição
de 1946, p. 270), inclui-se o fato de os jurados serem tirados de todas as classes sociais para
julgamento de seus pares, o que confere um tom democrático ao julgamento, em que sete pessoas
decidem conforme as nuances da ideia de justiça presente em vários segmentos da sociedade.

A plena oportunidade para que o acusado exerça sua defesa no julgamento é, portanto, outro fator
que se agrega para justificar a execução imediata da pena. A plenitude de defesa é algo que não se
repete nas fases recursais, que, se insista, não revisitam o mérito a não ser em
casos excecionalíssimos. A apelação, que na regra geral é ampla e pode provocar a reanálise de
tudo o que foi objeto do processo na primeira instância, no júri é muito restrita devido ao princípio
da soberania dos veredictos. E os recursos especial e extraordinário, no júri como em qualquer
outra situação, só podem ser interpostos se rigorosamente cumpridos seus diversos requisitos
restritivos.

Consignamos, por fim, um dado histórico que não pode ser ignorado, principalmente num
julgamento emblemático aqui comentado. A doutrina alerta que, em governos ditatoriais, umas das
primeiras atitudes do governante é extinguir a soberania dos veredictos. Essa providência
sintomática serve para ocultar de todos a lembrança viva de que o poder emana do povo. Vivemos
esse cenário sombrio na nossa história recente, mais precisamente em duas oportunidades: em
1937 e em 1969. Na primeira supressão, a garantia foi restaurada apenas no final da década
seguinte. Na segunda, a garantia retornou somente com a redemocratização (1988).

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Boletim Criminal Comentado n° 090 - Maio 2020

Fernando da Silva Comin

Procurador-Geral de Justiça do Ministério Público de Santa Catarina

Francisco Dirceu de Barros

Procurador-Geral de Justiça do Ministério Público de Pernambuco

Mário Luiz Sarrubbo

Procurador-Geral de Justiça do Ministério Público de São Paulo

2- Tema: Ações e estratégias adotadas no MPSP em razão do Covid19

Monitoramento da violência doméstica e dos processos envolvendo violência doméstica e


familiar

O Núcleo de Gênero e o CAOCrim elaboraram a Nota Técnica “Raio X da violência doméstica


durante isolamento: Um retrato de São Paulo” (clique aqui). Neste estudo, foram realizados
levantamentos no período de 1 ano antes da pandemia e no período de 1 mês após a pandemia.

Constatou-se o aumento de 29,2% dos processos de medidas protetivas urgentes em um mês,


muito superior ao aumento de 23,5% registrado durante um ano. Em relação às prisões em
flagrante, constatou-se o aumento de 51,4% no primeiro mês de pandemia, sendo que no ano
anterior houve queda de 10% das prisões em flagrante.

Um aspecto positivo do levantamento foi a constatação de que houve apenas 2 (dois) casos de
prisão em flagrante por descumprimento de medida protetiva de urgência, o que revela a
efetividade dessas medidas.

Atuação do Ministério Público na Casa da Mulher Brasileira

Na Capital de São Paulo, a Casa da Mulher Brasileira concentra todos os serviços e atores do
sistema de Justiça. O Ministério Público, representado pela Dra. Juliana Tucunduva, atua no
atendimento a vítimas, presencial e virtual, bem como em pedidos de medidas protetivas de
urgência, que podem ser concedidas para mulheres de todo o país, independentemente de registro
de boletim de ocorrência.

Recomendação Administrativa – violência contra mulher e serviços essenciais

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Boletim Criminal Comentado n° 090 - Maio 2020

A Promotoria Central de Enfrentamento à Violência Doméstica (GEVID Central) elaborou


Recomendação Administrativa para assegurar, durante o período de situação de emergência,
medidas em diversos âmbitos.

No âmbito da Assistência Social: informar os profissionais quanto aos riscos de agravamento da


violência, manter o atendimento pelos serviços especializados, orientar profissionais que realizam
abordagem social, manter o funcionamento das Casas de Acolhimento Provisório, garantir a
celeridade do acolhimento institucional sigiloso, viabilizar a distribuição de equipamentos de
proteção.

No âmbito da Política de Saúde: manter o atendimento pelos serviços de atenção à saúde sexual e
reprodutiva, esclarecer profissionais quanto aos riscos de agravamento da violência doméstica,
garantir serviços de saúde mental, adotar medidas de conscientização pública, aprimorar os canais
de disseminação de informações da prefeitura, garantir repasses financeiros para os serviços.

Por fim, recomenda-se que a Municipalidade adote Protocolos de Atendimento às Situações de


Violência de Gênero no espaço doméstico e familiar.

Atuação à distância em processos urgentes

Desde o decreto de calamidade pública em São Paulo, em 21 de março de 2020, as Promotoras e


Promotores de Justiça continuam a atuar à distância em todos os processos urgentes relacionados
à violência doméstica e familiar contra a mulher.

Divulgação e acompanhamento da implementação do Boletim de Ocorrência Eletrônico

Desde março, criou-se em São Paulo a possibilidade de registro de Boletim de Ocorrência Eletrônico
para casos envolvendo violência doméstica e familiar contra a mulher. O Ministério Público tem
acompanhado essa implementação e encaminhado sugestões à Secretaria de Segurança Pública de
São Paulo para aperfeiçoamento do sistema.

Recomendação da Corregedoria Geral de Justiça quanto às medidas protetivas urgentes.

A Corregedoria Geral emitiu Recomendação com o seguinte teor:

“RECOMENDA, sem caráter vinculativo e respeitada a independência funcional e observadas as


peculiaridades do caso concreto, que os membros do Ministério Público do Estado de São Paulo
com atribuição para atuar em casos de violência doméstica e familiar, de natureza civil ou criminal,
considerando o potencial risco de violência para mulheres em quarentena, adotem providências
para assegurar a prorrogação das medidas protetivas de urgência concedidas com prazo
determinado, independentemente de requerimento expresso da vítima, tendo-se por parâmetro o

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Boletim Criminal Comentado n° 090 - Maio 2020

Formulário Nacional de Avaliação de Risco (Resolução Conjunta nº 5, de 3 de março de 2020 – CNJ


e CNMP)

Recomenda, ainda, que atentem nos referidos procedimentos, que a concessão das medidas
protetivas não está condicionada ao registro da ocorrência ou mesmo à instauração de inquérito
policial”.

3 -Tema: Sentenciados em meio aberto - Recomendação n.º 62/20 CNJ e Ofício n.º 559 DMF-CNJ

O Conselho Nacional de Justiça recomendou aos juízes de execução a suspensão do dever de


apresentação periódica ao juízo das pessoas em liberdade provisória ou suspensão condicional do
processo, além da suspensão temporária do dever de apresentação regular em juízo das pessoas
em cumprimento de pena no regime aberto, prisão domiciliar, livramento condicional e penas
restritivas, pelo prazo de 90 dias, em virtude da situação de pandemia decorrente da propagação
do novo coronavírus (COVID-19) – Recomendação n.º 62, de 17 de março de 2020.

Por meio do Ofício n.º 559 - DMF (0860143) o CNJ sugeriu aos Tribunais avaliarem a possibilidade
de dispensar as atividades presenciais no âmbito das prestações de serviços à comunidade,
decorrentes de condenação a penas restritivas de direitos, celebração de suspensão condicional do
processo ou de acordo de não persecução penal, durante o prazo de 90 dias, ou enquanto perdurar
a situação de emergência de saúde pública.

Contudo, o Corregedor Geral da Justiça do TJSP entendeu que eventual suspensão no cumprimento
de condições de medidas cautelares e outras benesses ou mesmo da própria pena restritiva de
direitos envolve matéria jurisdicional, e determinou a comunicação do ofício-recomendação aos
magistrados com competência criminal, juizado especial criminal e execução criminal para
conhecimento e eventual adoção.

Desse modo, é importante verificar em cada comarca qual foi a deliberação do juízo no tocante à
matéria, pois não raras vezes, sentenciados recorrem ao Ministério Público, por e-mail ou telefone,
a fim de obter informação sobre o cumprimento das condições fixadas nos benefícios referidos
durante o período da pandemia.

4-Tema: Execução da pena de multa. Esclarecendo as dúvidas mais frequentes da semana

Na última semana inúmeros colegas nos informaram que o local da prisão do sentenciado
constante da certidão de sentença expedida no Juízo de Conhecimento não está atualizado.

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Boletim Criminal Comentado n° 090 - Maio 2020

Na tentativa de resolver o problema, realizamos contato com a Juíza Assessora da Corregedoria-


Geral da Justiça indagando a possibilidade do Corregedor-Geral expedir norma determinando ao
cartório a realização de consulta no SIVEC antes da expedição da certidão; estamos aguardando
resposta.

Sem prejuízo, sugerimos aos colegas do processo de conhecimento conversarem com os juízes
respectivos sobre essa possibilidade, pois temos notícia de que em algumas comarcas esse diálogo
solucionou a questão e o cartório passou consultar o SIVEC e informar na certidão o local da
custódia atual do sentenciado.

De outro norte, é importante mencionar que o Provimento n.º 04/2020, que alterou as disposições
das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça atinentes à execução da multa, não
disciplinou o modo como o Ministério Público encaminhará a certidão ao Promotor das Execuções,
sendo certo que não há no ESAJ campo próprio para tal encaminhamento.

O §1.º do artigo 479-B nas NSCGJ preconiza apenas que expedida a certidão no processo de
conhecimento o oficial de justiça abrirá vista ao Ministério Público.

Desse modo, o Promotor que atuou no processo de conhecimento deverá salvar a certidão em PDF
e encaminhá-la por e-mail para a Promotoria das Execuções Criminais do domicílio do sentenciado
(se solto, onde declarou residir; se preso, na cidade onde está situado o estabelecimento em que se
encontre custodiado, ainda que a execução da pena privativa de liberdade tramite em juízo diverso,
por ex., sentenciado preso no CDP de São Bernardo do Campo, processo de execução da pena
privativa de liberdade em tramite no DEECRIM da Capital, a certidão de sentença deve ser
encaminhada à PJ das Execuções de São Bernardo do Campo).

Somente nos casos em que o sentenciado está solto não é encontrado no endereço informado nos
autos (ou possui endereço desconhecido, morador de rua, por ex.) é que a certidão deve ser
encaminhada por e-mail para a Promotoria das Execuções Criminais do Juízo da Condenação.

Importante aqui salientar que o Promotor do Conhecimento deve diligenciar junto ao Juízo para
que na certidão de sentença constem as informações imprescindíveis para o ajuizamento da
execução, tais como o valor da multa, a data do trânsito em julgado da condenação, o local da
prisão e o endereço do sentenciado.

Nos termos do Aviso n.º 146/2020-PGJ-CGMP, a execução da multa será feita em ação autônoma,
mediante peticionamento eletrônico inicial de primeiro grau, razão pela qual, não é obrigatório
constar da certidão o número do processo de execução da pena privativa de liberdade do
sentenciado.

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Boletim Criminal Comentado n° 090 - Maio 2020

Estando sentenciado preso, caso o Promotor das Execuções que recebeu a certidão opte por não
executar a multa imediatamente, precisará diligenciar para obter o número do processo da
execução da pena privativa de liberdade, a fim de peticionar postulando a juntada da certidão nos
autos respectivos.

Na referida petição deverá constar expressamente que o Ministério Público quer apenas que a
certidão permaneça nos autos, para futura execução da multa, quando o sentenciado obtiver o
regime aberto, o livramento condicional ou terminar de cumprir a pena privativa de liberdade.

Fazemos tal observação porque juízes do DEECRIM de Ribeirão Preto costumavam devolver
certidões de sentença que recebiam, invocando o artigo 8.º da Resolução n.º 616/2013, que exclui
da competência das Unidades Regionais do Departamento Estadual de Execuções Criminais a
execução de multa. Daí a necessidade de ficar bem claro na petição a intenção ministerial de
apenas anexar a certidão nos autos para execução futura da multa, em processo autônomo.

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Boletim Criminal Comentado n° 090 - Maio 2020

STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM

DIREITO PROCESSUAL PENAL:


1 -Tema: Decisão colegiada que confirma sentença condenatória interrompe prazo da prescrição

DECISÃO DO STF- Publicado em notícias do STF

O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) fixou o entendimento de que o Código Penal não faz
distinção entre acórdão condenatório inicial ou confirmatório da decisão para fins de interrupção
da prescrição. Por isso, o acórdão (decisão colegiada do Tribunal) que confirma a sentença
condenatória, por revelar pleno exercício da jurisdição penal, interrompe o prazo prescricional, nos
termos do artigo 117, inciso IV, do Código Penal. A decisão, por maioria, foi tomada no julgamento
do Habeas Corpus (HC 176473), de relatoria do ministro Alexandre de Moraes.

Devido processo legal

De acordo com o artigo 117 do Código Penal – que, segundo o relator, deve ser interpretado de
forma sistemática –, todas as causas interruptivas da prescrição demonstram, em cada inciso, que o
Estado não está inerte. Assim, a decisão da pronúncia, em que o réu é submetido ao tribunal do júri
(inciso II), a decisão confirmatória da pronúncia (inciso III) e “a publicação da sentença ou acórdão
condenatórios recorríveis” (inciso IV) interrompem a prescrição.

"A ideia de prescrição está vinculada à inércia estatal, e o que existe na confirmação da
condenação, muito pelo contrário, é a atuação do Tribunal”, afirmou o ministro Alexandre de
Moraes. “Consequentemente, se o Estado não está inerte, há necessidade de se interromper a
prescrição para o cumprimento do devido processo legal".

Caso concreto

O habeas corpus no qual a tese foi fixada foi impetrado pela Defensoria Pública da União (DPU) em
favor de um homem condenado em Roraima pela prática do crime de tráfico transnacional de
drogas à pena de 1 ano, 11 meses e 10 dias de reclusão, em regime aberto, substituída por
restritivas de direitos. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) manteve a íntegra da
sentença, e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) rejeitou o argumento da Defensoria de prescrição
da pretensão punitiva.

Segundo a DPU, na época dos fatos (17/4/2015), o réu tinha 20 anos e, por isso, o prazo de
prescrição deveria ser reduzido à metade. Como a sentença condenatória foi proferida em
13/4/2016, tendo em conta a pena em concreto e o lapso de dois anos a contar do último marco
interruptivo (publicação da sentença), a prescrição da pretensão punitiva teria se dado em
13/4/2018. Para a Defensoria, o TRF-1 apenas chancelou a sentença condenatória e, portanto, o

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Boletim Criminal Comentado n° 090 - Maio 2020

acórdão não poderia interromper a prescrição. Essa tese foi reiterada no HC impetrado no
Supremo.

Divergência

Entre outros argumentos, a DPU sustentou ainda que há divergência de entendimento entre a
Primeira Turma e a Segunda Turma do STF. Por isso, pediu que a questão fosse submetida ao
Plenário.

Tendo em vista a complexidade e importância da matéria, o ministro Alexandre de Moraes então


reconsiderou a decisão monocrática pela qual havia indeferido o HC, para que o tema fosse
discutido pelo Plenário na sessão virtual realizada entre 17 e 24/4.

Tese

A tese fixada no julgamento foi a seguinte: "Nos termos do inciso IV do artigo 117 do Código Penal,
o acórdão condenatório sempre interrompe a prescrição, inclusive quando confirmatório da
sentença de 1º grau, seja mantendo, reduzindo ou aumentando a pena anteriormente imposta".

Ficaram vencidos os ministros Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Celso de Mello.

Leia a íntegra do voto do ministro Alexandre de Moraes.

COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM

O art. 117, inciso IV, do Código Penal foi modificado pela Lei nº 11.596/07 para anunciar que, além
da sentença condenatória, também o acórdão condenatório interrompe o curso da prescrição.
Antes, tão somente a sentença condenatória recorrível era causa de interrupção.

De acordo com a nova redação legal, além da inclusão do acórdão como causa interruptiva
estabeleceu-se que a interrupção ocorre pela publicação da decisão, não pelo julgamento.
“Publicação” não deve ser confundida com divulgação na imprensa oficial, sendo compreendida
nos termos do artigo 389 do Código de Processo Penal. Desse modo, considera-se publicada a
sentença quando o escrivão procede à juntada desta aos autos – na sentença ou acórdão
proferidos na própria audiência ou sessão, a publicação ocorre neste ato.

Com a edição da lei, duas orientações passaram a debater qual espécie de acórdão condenatório
recorrível teria efeito interruptivo. Há quem sustente que a alteração, alinhando-se a decisões
judicias recorrentes, contempla somente os acórdãos condenatórios em ações penais originárias e
os reformatórios da absolvição em primeira instância. Por isso, tendo havido condenação em
primeira instância, o acórdão que simplesmente a confirme, negando provimento ao recurso da
defesa, ou que somente majore a pena, não interrompe o prazo prescricional. Aqueles adeptos

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Boletim Criminal Comentado n° 090 - Maio 2020

desta orientação se alicerçam no fato de que a lei lança mão da partícula “ou” entre as expressões
“publicação de sentença” e “acórdão condenatório”; logo, exclui-se a possibilidade de que ambos
irradiem efeitos interruptivos do prazo fatal.

Outra orientação sustenta que a interrupção do prazo prescricional se dá inclusive pelo acórdão
que se limita a confirmar a condenação de primeira instância, diminuir ou a aumentar a pena,
segundo, aliás, deixou claro o relatório do projeto da lei que viria a alterar o Código Penal:

“O texto atual do Código Penal se refere à sentença condenatória recorrível. O Projeto passa a fixar
a data da publicação, não deixando margem a dúvidas quanto ao momento da sentença, que será o
da publicação, e não o de sua prolação. Também o Projeto inclui, nesse inciso, a publicação do
acórdão condenatório recorrível, contemplando a hipótese de confirmação de condenação de
primeira instância em grau recursal”.

Esta é a orientação adotada pelo STF.

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Boletim Criminal Comentado n° 090 - Maio 2020

DIREITO PENAL:
1- Tema: Homicídio culposo na direção de veículo automotor. Perda do controle do carro.
Atropelamento na calçada. Causa especial de aumento de pena. Art. 302, § 1º, II, da Lei n.
9.503/1997.

INFORMATIVO 668 STJ- QUINTA TURMA

A causa de aumento prevista no art. 302, § 1°, II, do Código de Trânsito Brasileiro não exige que o
agente esteja trafegando na calçada, sendo suficiente que o ilícito ocorra nesse local.

No presente caso, o recorrente transitava pela via pública e, ao efetuar manobra, perdeu o controle
do veículo subindo na calçada e atropelando as vítimas.

Alegou-se que a causa de aumento de pena deve estar dirigida aos casos em que o motorista sabe
que, transitando pela calçada, deve ter maior atenção aos pedestres, e se não aplicando àqueles
em que, ao perder o controle do veículo na rua, termina por atingir pedestre na calçada por mero
infortúnio, cuja previsibilidade não era possível antever.

Ocorre que, sobre o tema, a doutrina leciona que "o aumento previsto no art. 302, parágrafo único,
II, do Código de Trânsito Brasileiro será aplicado tanto quando o agente estiver conduzindo o seu
veículo pela via pública e perder o controle do veículo automotor, vindo a adentrar na calçada e
atingir a vítima, como quando estiver saindo de uma garagem ou efetuando qualquer manobra e,
em razão de sua desatenção, acabar por colher o pedestre".

Nesse contexto, a norma não exige que o agente esteja trafegando na calçada, sendo suficiente que
o ilícito ocorra nesse local, o que reveste a conduta de maior reprovabilidade, pois vem atingir o
pedestre em lugar presumidamente seguro.

PROCESSO: AgRg nos EDcl no REsp 1.499.912-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por
unanimidade, julgado em 05/03/2020, DJe 23/03/2020

COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM

O homicídio culposo na direção de veículo automotor é tipificado no art. 302 do Código de Trânsito.
O caput trata da forma básica e o § 1º elenca quatro majorantes, dentre as quais se insere a prática
do crime na calçada. Como calçada se entende, nos termos do anexo I do CTB, a “parte da via,
normalmente segregada e em nível diferente, não destinada à circulação de veículos, reservada ao
trânsito de pedestres e, quando possível, à implantação de mobiliário urbano, sinalização,
vegetação e outros fins”.

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Boletim Criminal Comentado n° 090 - Maio 2020

O motivo que justifica a exasperação da pena do crime praticado sobre a calçada (ou mesmo sobre
a faixa de pedestres) é a preocupação do Código de Trânsito com os transeuntes, conforme
observou Geraldo de Faria Lemos Pinheiro, membro da comissão que elaborou a Lei 9.503/97, ao
consignar que “os pedestres não foram esquecidos e terão maior proteção, especialmente quando
estiverem nas faixas a eles destinadas na via pública. É considerada infração gravíssima deixar de
reduzir a velocidade do veículo de forma compatível com a segurança onde haja intensa
movimentação de pedestres (art. 220, XIV), e também é gravíssima a infração quando o condutor
deixar de dar preferência de passagem a pedestre que se encontre na faixa a ele destinada, que
não tenha concluído a travessia, mesmo que ocorra sinal verde para o veículo (art. 214, I e II). Tem
preferência o pedestre quando houver iniciado a travessia, mesmo que não haja sinalização a ele
destinada (art. 214, IV), ou que esteja atravessando a via transversal para onde se dirige o veículo
(art. 214, V)” (Enfim, o código: lei n. 9503, de 23.09.1997. Boletim IBCCRIM. São Paulo, n. 60, p. 14-
15, nov. 1997).

A incidência da majorante no crime cometido sobre a calçada não pressupõe que o motorista esteja
de fato trafegando sobre ela; basta que, por qualquer razão, o veículo se projete sobre a calçada e
atinja o pedestre. De fato, o texto do art. 302, § 1º, inc. II não traz nenhum requisito a respeito do
tráfego do veículo, limitando-se a punir mais gravemente o crime praticado sobre a calçada. Neste
sentido, decidiu o STJ:

“No presente caso, o recorrente transitava pela via pública e, ao efetuar manobra, perdeu o
controle do veículo subindo na calçada e atropelando as vítimas.

Alegou-se que a causa de aumento de pena deve estar dirigida aos casos em que o motorista sabe
que, transitando pela calçada, deve ter maior atenção aos pedestres, e se não aplicando àqueles
em que, ao perder o controle do veículo na rua, termina por atingir pedestre na calçada por mero
infortúnio, cuja previsibilidade não era possível antever.

Ocorre que, sobre o tema, a doutrina leciona que “o aumento previsto no art. 302, parágrafo único,
II, do Código de Trânsito Brasileiro será aplicado tanto quando o agente estiver conduzindo o seu
veículo pela via pública e perder o controle do veículo automotor, vindo a adentrar na calçada e
atingir a vítima, como quando estiver saindo de uma garagem ou efetuando qualquer manobra e,
em razão de sua desatenção, acabar por colher o pedestre”.

Nesse contexto, a norma não exige que o agente esteja trafegando na calçada, sendo suficiente que
o ilícito ocorra nesse local, o que reveste a conduta de maior reprovabilidade, pois vem atingir o
pedestre em lugar presumidamente seguro” (AgRg nos EDcl no REsp 1.499.912/SP, j. 5/3/2020).

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