Art 122 CP Crimes em Espécie

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DA REGIÃO DA CAMPANHA

CURSO DE DIREITO ALEGRETE


Módulo II
Aluno: Fernanda de Vargas Lucho
Crimes em Espécie
Professor(a):Daniela Barbosa de Borba
Data: 13/09/2023
Escolha a seu critério um dos delitos já estudados na disciplina crimes em Espécie e
aborde, de forma exaustiva, todas as suas classificações:
O crime de induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação (Código
Penal, art. 122) Crimes suicídio de classificação para homicídio de classificação para
lesão corporal gravíssima automutilação:
O Art.122 cp. tem como finalidade apresentar uma análise jurídica ao crime de
induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação. A Lei nº 13.968 de 26
de dezembro de 2019, modificou o delito, incriminando também as condutas de induzir
ou instigar a automutilação e prestar auxílio a quem a pratique. Desse modo, o tipo
penal apresenta a modalidade simples, com duas figuras qualificadoras e a possibilidade
de três aumentos de pena (podendo ser em diversas causas).
O suicídio é a destruição da própria vida. Sendo a vida um bem jurídico indisponível
dessa forma o direito não pune aquele que tira ou tenta tirar aquilo que lhe é precioso,
ou seja, sua própria vida. Ademais o suicida não é considerado autor de crime e sim
vítima. Embora esse fato seja considerado antijurídico porque ninguém tem o direito de
dispor a própria vida. Ademais, o objeto material é a pessoa sobre a qual recai a conduta
criminosa do agente que consiste no induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a
automutilação.
Outrossim, a automutilação (ou lesão autoprovocada intencionalmente) consiste em
qualquer lesão intencional e direta dos tecidos do corpo provocada pela própria pessoa,
sem que esta tenha a intenção de cometer suicídio. O desejo reiterado de provocar lesões
em si próprio é considerado uma doença de acordo com a Classificação Estatística
Internacional de Doenças (CID-10). Todavia, a participação em suicídio ou
automutilação, é punida nos termos do art. 122, do CP com pena de reclusão, de 6
(meses) a 2 (dois) anos.

Classificação doutrinária:
Trata-se de crime comum (aquele que pode ser praticado por qualquer
pessoa), plurissubsistente (costuma se realizar por meio de vários
atos), comissivo (decorre de uma atividade positiva do agente “induzir, instigar ou
auxiliar”), de forma livre (pode ser cometido por qualquer meio de execução, menos a
omissiva), de ação múltipla (ou de conteúdo variado, porque o tipo penal descreve três
modalidades de realização: induzir, instigar e auxiliar), formal (se consuma sem a
produção do resultado naturalístico previsto no tipo penal: morte ou lesão corporal de
qualquer natureza), instantâneo (uma vez consumado, está encerrado, ou seja, a
consumação não se prolonga), monossubjetivo (pode ser praticado por um único
agente), simples (atinge dois bens jurídicos alternativos: vida ou integridade corporal
e, por isso, não é crime complexo), doloso (o agente quer ou assume o risco de produzir
o resultado morte ou lesão corporal de qualquer natureza sendo).

O sujeito ativo do crime de participação em suicídio ou a automutilação pode ser


qualquer pessoa, não se exigindo nenhuma condição especial, pois, trata-se de crime
comum. O sujeito passivo será a pessoa induzida, instigada ou auxiliada. Pode ser, da
mesma forma, qualquer pessoa com plena capacidade de discernimento, pois, caso
contrário é crime de homicídio ou de lesão corporal, praticado por meio de autoria
mediata. Embora seja o crime de participação em suicídio ou a automutilação, verifica-
se que ele admite tanto a coautoria quanto a participação em sentido estrito. Exemplos:
(a) Se A induz B a se automutilar. A será autor do crime de participação em suicídio ou
a automutilação; (b) Se A e B induzem C a suicidar-se. A e B serão coautores do crime
de participação em suicídio ou a automutilação; (c) Se A induz B a instigar C a se
automutilar. Teremos, A (indutor) como partícipe, e B (instigador) como autor do crime
de participação em suicídio ou a automutilação, pois este realizou uma das condutas
típicas do delito em estudo. No crime de participação em suicídio ou a automutilação,
essas atividades constituem o núcleo do tipo penal, ou seja, quem as práticas será autor
ou coautor e não partícipe, de acordo com a concepção restritiva, onde autor é somente
aquele que realiza a conduta típica.

Figuras típicas qualificadas:


São aquelas em que a lei acrescenta alguma circunstância ao tipo básico com a
finalidade de agravar a pena. No crime de participação em suicídio ou a automutilação,
em estudo, existem duas figuras qualificadas, a saber:
1- Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima:
Nos termos do § 1º, do art. 122, do Código Penal, a pena é de reclusão, de 1 (um) a 3
(três) anos, “Se dá automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de
natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código”.
As lesões corporais de natureza grave, estão previstas nos quatro incisos do § 1º, do
art. 129, do Código Penal, e são elas: I – incapacidade para as ocupações habituais, por
mais de 30 (trinta) dias; II – perigo de vida; III – debilidade permanente de membro,
sentido ou função; IV – aceleração de parto.
As lesões corporais de natureza gravíssima, estão previstas nos cinco incisos do § 2º,
do art. 129, do Código Penal, e são elas: I – incapacidade permanente para o trabalho;
II – enfermidade incurável; III – perda ou inutilização de membro, sentido ou função;
IV – deformidade permanente; V – aborto.
Desclassificação para lesão corporal gravíssima: nos termos do § 6º, do art. 122,
do Código Penal, se dá automutilação ou da tentativa de suicídio que resulta lesão
corporal natureza gravíssima (observa-se que não inclui a lesão de natureza grave) e o
delito é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade
ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que,
por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, o agente não responde por este
crime qualificado de participação em suicídio ou a automutilação (que tem pena prevista
de reclusão, de 1 a 3 anos) e, sim, pelo crime de lesão corporal gravíssima (CP,
art. 129, § 2º), cuja pena é sensivelmente superior: reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.

2- Se resulta morte em razão do suicídio ou da automutilação:


Nos termos do § 2º, do art. 122, do Código Penal, a pena é de reclusão, de 2 (dois) a 6
(seis) anos, “Se o suicídio se consuma ou se dá automutilação resulta morte”.
Desclassificação para homicídio: nos termos do § 7º, do art. 122, do Código Penal, se o
suicídio se consuma ou se dá automutilação resulta morte e o delito é cometido contra
menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário discernimento para
a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, o
agente não responde por este crime qualificado de participação em suicídio ou a
automutilação (que tem pena prevista de reclusão, de 2 a 6 anos) e, sim, pelo crime de
homicídio (CP, art. 121), cuja pena é sensivelmente superior: reclusão, de 6 (seis) a 20
(vinte) anos.

Causas de aumento de pena:


No crime de participação em suicídio ou a automutilação, em estudo, existe e a
possibilidade de três aumentos de pena, aplicados distintamente em diversas causas de
aumento, a saber:
Nos termos do § 3º, do art. 122, do Código Penal, “a pena é duplicada: I – se o crime
é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil; II – se a vítima é menor ou tem
diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência”. Verifica-se, então, as
seguintes hipóteses:
(a) Motivo egoístico – entende-se o motivo que decorre do exclusivismo que faz o
sujeito referir tudo a si próprio, sem consideração aos interesses alheios. Exemplo:
agente induz a vítima ao suicídio para ficar com a sua herança, com seu cargo, com sua
esposa, para receber o seguro de vida etc. Guilherme de Souza Nucci define o motivo
egoístico como sendo o de “excessivo apego a si mesmo, o que evidencia o desprezo
pela vida alheia, desde que algum benefício concreto advenha ao agente”.
(b) Motivo torpe – é aquele baixo, desprezível (que inspira horror do ponto de vista
moral) e repugnante que deixa perplexa a coletividade.
(c) Motivo fútil – é aquele insignificante, banal, sem importância, totalmente
desproporcional em relação ao crime praticado.
(d) Vítima menor – quando a lei fala de vítima menor, está se referindo àquela maior
de 14 anos e menor de 18 anos, que ainda não atingiram a maioridade penal (CP,
art. 27). Se a vítima for menor de 14 anos, haverá presunção da sua incapacidade de
discernimento.
(e) Vítima com diminuída capacidade de resistência – em razão de enfermidade
física ou mental (vítima embriagada, sob o efeito de tóxicos, angustiada, deprimida,
com idade avançada, com algum tipo de enfermidade grave etc.)
É necessário que a capacidade de resistência da vítima esteja diminuída. Exemplo: o
agente induz ao suicídio alguém embriagado. Entretanto, se a vítima tiver totalmente
sem capacidade de discernimento e resistência, estará configurado o crime de homicídio
e não de participação em suicídio ou a automutilação qualificada.

Nos termos do § 4º, do art. 122, do Código Penal, “A pena é aumentada até o dobro se
a conduta é realizada por meio da rede de computadores, de rede social ou transmitida
em tempo real”. Verifica-se, então, as seguintes hipóteses:
(a) Rede de computadores – neste caso, o agente pratica a conduta típica por meio
de um conjunto de dois ou mais computadores que usam determinadas regras
(protocolo) em comum para compartilhar, especialmente, a troca de mensagens entre
si, utilizando-se de uma conexão por meio de fio de cobre, fibra ótica, ondas de rádio e
via satélite. Exemplos: a internet; a intranet de uma empresa; uma rede local doméstica
etc.

(b) Rede social – é uma estrutura social composta por pessoas ou organizações,
conectadas por um ou vários tipos de relações, que compartilham valores e objetivos
comuns. Uma das fundamentais características na definição das redes é a sua abertura,
possibilitando relacionamentos horizontais e não hierárquicos entre os participantes.
Exemplos: Facebook, YouTube, WhatsApp, Messenger, Instagram, Twitter, Snapchat,
LinkedIn etc.

(c) Transmitida em tempo real - é uma expressão utilizada na reportagem, no meio


televisivo ou radiofónico para indicar que um programa ou evento está sendo
transmitido em tempo real, simultaneamente enquanto ocorre. No caso do delito em
estudo, o agente se utiliza de qualquer meio de comunicação (falado ou escrito) para
praticar a conduta delituosa em tempo real.
Nos termos do § 5º, do art. 122, do Código Penal, “Aumenta-se a pena em metade
se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual”. Verifica-se, então, as
seguintes hipóteses:

(a) Líder ou coordenador – é o indivíduo que tem autoridade para comandar ou


coordenar outros, ou seja, é a pessoa cujas ações e palavras exercem influência sobre o
pensamento e comportamento de outras.

(b) Grupo ou rede virtual – é um espaço específico na Internet que permite


compartilhar, aos respectivos participantes, dados e informações sendo estas de caráter
geral ou específico, das mais diversas formas (textos, arquivos, imagens, fotografias,
vídeos etc.).

HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal – Volume V. Rio de Janeiro:


Forense, 4ª ed., 1958, p. 236.
PEDROSO, Fernando de A. Homicídio, Participação em Suicídio, Infanticídio e
Aborto. Rio de Janeiro: Aide, 1ª ed., 1995, p. 217.
JESUS, Damásio E. de. Direito Penal – Parte Especial – Volume 2. São Paulo: Saraiva,
32ª ed., 2012, p. 128.
JESUS, Damásio E. de. Direito Penal – Parte Especial – Volume 2. São Paulo: Saraiva,
32ª ed., 2012, p. 130.
NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal – Volume 2. São Paulo: Saraiva, 30ª ed.,
1999, p. 42.

Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/o-crime-de-induzimento-


instigacao-ou-auxilio-a-suicidio-ou-a-automutilacao-codigo-penal-art-122/795190165
<acesso em 12 de setembro de 2023 >

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