O Reencontro - Pratica - de - Leitura

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ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL PROFESSORA MIZINHA

LÍNGUA PORTUGUESA
Prof. Heloisa Targino

TEXTO: O REENCONTRO

Julia chegou ofegante, atrasada, mas em tempo de ver quem ela queria. No final de um longo corredor,
encontrou a sala onde todos estavam reunidos. Ficou por alguns instantes plantada na porta. Mostrava-se vacilante,
afinal não fora convidada. Após um breve período de hesitação, entrou no recinto, mesmo porque já era tarde pra
voltar atrás.
Estava discretamente linda, a brancura da sua pele contrastava com seus longos cabelos negros e com seu
vestido preto. Os grossos lábios eram delineados por um batom quase sem cor, como aquela manhã de outono. A
cada rosto conhecido, a cada voz familiar, Julia sentia o passado presente, igual a musica que ouvira dias antes e que
lhe trouxera infinitas recordações. Uma imagem, uma canção de amor, símbolos aparentemente tão inocentes são
retratos da vida, tais como aquelas pessoas que fizeram parte da sua. No entanto, agora todos pareciam ilustres
estranhos, saudosos desconhecidos.
A jovem limitava-se a cumprimentos rápidos. Seu coração parecia uma bomba prestes a explodir.
Decididamente, ela continuava a adentrar naquele ambiente. A missão estava clara na sua cabeça, precisava ser
suficientemente corajosa. Finalmente avistou Rodrigo, o seu Rodrigo de antigamente. O semblante sereno do rapaz
lhe dizia tantas coisas, trazia tantas lembranças da adolescência... Era estranho vê-lo outra vez.
Já havia passado quatro anos desde o ultimo encontro, desde o adeus sem beijo de despedida. As dores que
pareciam já superadas voltavam com intensidade naqueles instantes. Como aquilo poderia estar acontecendo? O
tempo, de repente, não existia, o hoje era o sempre, a paixão renascia ironicamente. Ele permanecia com a mesma
calma, não apresentava sinais de emoção.
Julia sabia que a moça ao lado de Rodrigo era a mãe do filho que ela poderia ter tido, ainda assim ela
continuava, desafiadoramente, se aproximando, cada vez mais devagar. Carecia lentidão para reestruturar-se. Na
sucessão de seus passos, sentia que uma serie de imagens e sensações tornavam à sua cabeça, um filme passava
numa questão de milésimos.
Rodrigo fora seu primeiro amor, sua primeira lágrima de amor, sua primeira vez. No principio era meio
desajeitado, suas cartas de concordância duvidosa revelavam-se inocentemente apaixonantes, algumas ela ainda
tinha guardadas. Uma rosa seca também fazia parte do memorial da época de namoro. Depois da festa de
aniversario na qual foram apresentados, uma atração irresistível traçou-lhes o destino em comum. Começaram a se
encontrar, a fazer planos, a dividir problemas, enfim, a viver um romance... E foi um belo romance! A felicidade que
sentiam prometia ser eterna. Todavia, promessas se quebram com o peso da rotina. Iniciaram-se as cobranças que a
imaturidade da juventude não soube responder.
A separação se fez dolorosa para ambos. Também pudera, foi uma não tão longa, mas intensa convivência.
Entretanto, as mágoas do jovem casal foram guardadas no continente deserto da alma e, assim, puderam seguir
seus caminhos. Às vezes, pensavam em ligar ou escrever um para o outro, porém os laços físicos continuavam
cortados e o orgulho permaneceu predominante. O globo insistiu em girar, e cada vida tomou seu rumo. Ele,
cansado da solidão, conheceu outro alguém e se casou, ela foi morar no exterior.
Mas voltara, agora estava ali, frente a frente, depois de um longo período. A tranquilidade na face de
Rodrigo prosseguia imutável, enquanto Julia sentia as lágrimas rolarem, contrariando sua vontade.
A esposa do moço repentinamente levantou-se, não podia impedir aquele encontro. Soluçando, Julia chegou
ao ouvido dele e sussurrou algumas palavras, em seguida beijou-lhe a testa. O momento deu a certeza que o
sentimento de outrora vinha como uma Fênix, revivendo das cinzas. Ela sentia que, por alguns segundos, os dois
eram novamente um do outro. Seria um sonho?
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Já não era tempo de sonhar; a realidade despertou cruel e sombria quando, depois da “Ave Maria”, o padre
mandou que fechassem a porta da ultima morada do amor de Julia. Seguiu o cortejo. Não havia esperanças.

(Leandro Gomes – Letras – PUCRS – Nível II, 2º semestre, 1998.)

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