Dissertação - Italo Bruno (2022)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA DO BRASIL

ÍTALO BRUNO ARAÚJO DAMASCENO

Antônio Coelho Rodrigues na transição entre a Monarquia e a República:


Movimentações políticas e jurídicas de um sujeito histórico contraditório.

Teresina-PI
2022
1

ÍTALO BRUNO ARAÚJO DAMASCENO

Antônio Coelho Rodrigues na transição entre a Monarquia e a República:


Movimentações políticas e jurídicas de um sujeito histórico contraditório.

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Programa de Pós-Graduação em História do
Brasil da Universidade Federal do Piauí,
Campus Ministro Petrônio Portella, para
obtenção do título de Mestre em História do
Brasil.
Área de Concentração: História, Cultura e Arte.
Orientador: Prof. Dr. Edwar de Alencar Castelo
Branco.

Teresina-PI
2022
2

FICHA CATALOGRÁFICA
Universidade Federal do Piauí
Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello Branco
Divisão de Representação da Informação

D155a Damasceno, Ítalo Bruno Araújo.


Antônio Coelho Rodrigues na transição entre a Monarquia e a
República : movimentações políticas e jurídicas de um sujeito
histórico contraditório / Ítalo Bruno Araújo Damasceno. -- 2022.
176 f.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Piauí,


Programa de Pós-Graduação em História do Brasil, Teresina, 2022.
“Orientador: Prof. Dr. Edwar de Alencar Castelo Branco”.

1. História do Piauí. 2. Disputas Políticas. 3. Rodrigues, Antônio


Coelho. 4. Código Civil. I. Castelo Branco, Edwar de Alencar. II.
Título.

CDD 981.22

Bibliotecária: Milane Batista da Silva - CRB3/1005


3

ÍTALO BRUNO ARAÚJO DAMASCENO

Antônio Coelho Rodrigues na transição entre a Monarquia e a República:


Movimentações políticas e jurídicas de um sujeito histórico contraditório.

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Programa de Pós-Graduação em História do
Brasil da Universidade Federal do Piauí,
Campus Ministro Petrônio Portella, para
obtenção do título de Mestre em História do
Brasil.
Área de Concentração: História, Cultura e Arte.
Orientador: Prof. Dr. Edwar de Alencar Castelo
Branco.

Data de aprovação: 11/04/2022

BANCA EXAMINADORA

____________________________________
Prof. Dr. Edwar de Alencar Castelo Branco
Universidade Federal de Piauí – UFPI
Orientador

______________________________________
Prof. Dr. Alcebíades Costa Filho
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA
Examinador Externo

_______________________________________
Profa. Dra. Teresinha de Jesus Mesquita Queiroz
Universidade Federal do Piauí - UFPI
Examinador Interno

____________________________________________________
Prof. Dr. Francisco Gleison da Costa Monteiro
Universidade Federal do Piauí - UFPI
Suplente

Teresina-PI
2022
4

A minha morte terá a cor da minha vida.


Antônio Coelho Rodrigues.
5

AGRADECIMENTOS

A caminhada durante o período de execução desse trabalho não foi nada fácil. Durante
o processo, por vezes, pensei seriamente em desistir. Sentia-me fraco, com o psicológico
abalado, sobretudo pelos tempos distópicos vividos nesses dois anos de mestrado.
Em meio a esse árduo percurso, porém, construí vínculos pessoais que foram
fundamentais para seguir em frente diante das dificuldades. As pessoas que fizeram parte do
meu processo acadêmico e que a seguir deixarei expressos os sinceros agradecimentos
contribuíram muito para que essa dissertação pudesse ser desenvolvida e para que eu pudesse
conquistar mais um objetivo em minha trajetória de vida.
Essa parte da escrita foi aquela que mais me renderam lágrimas, mas lágrimas de uma
felicidade gritante. Somente quem esteve perto sabe o quanto foi difícil para que eu pudesse
conseguir atingir esse objetivo. Agora com toda a felicidade que comporto no meu íntimo
posso dizer que conquistei o meu título de mestre! Contudo, faço considerações àqueles que
foram essenciais na minha caminhada para esse fim.
Um agradecimento mais que especial ao meu avô Raimundo que, como lavrador,
nunca deixou de acreditar no estudo como caminho para adquirir conquistas, e com suas
sábias palavras sempre externou a todos o valor que merece o educador: “O professor devia
ser o profissional mais valorizado, porque o professor é a base de tudo. Todas as outras
profissões, tudo passa pelas mãos do professor!” Meu avô, suas palavras foram as que mais
me motivaram a seguir em frente!
Dedico meus agradecimentos a minha vó Lúcia, que também sempre me apoio durante
esse percurso. Marcam-me as suas palavras toda vez que chegava para fazer uma visita em
casa, olhando para mim dentro do quarto, em frente ao computador, dizendo: “Tá só
estudando, né, meu filho?” E em resposta lhe falava: “Tô aqui pelejando!”. A peleja no estudo
rendeu os frutos de que hoje estou colhendo, minha vó! Obrigado pela força de sempre!
Agradeço imensamente aos meus pais, Francisco e Veridiana, que apesar das
dificuldades já enfrentadas, nunca deixaram de me prover o bem-estar e a educação. Foram
sempre pais presentes a mim e a meu irmão, Iago. Espero muito um dia poder recompensá-los
pelo que me fizeram e me fazem! Obrigado por tudo, minha base!
Sou grato ao meu irmão, Iago, que tem um coração enorme e, apesar de mais novo,
acaba me ensinando lições lindas. Acalmou-me por várias vezes com suas palavras
confortadoras nos momentos de aflição em meio à escrita das páginas deste trabalho.
Obrigado, meu companheiro!
6

Apesar de não ser irmão, a Romário emprego a consideração de como se fosse. Amigo
que tive a honra de adquirir na graduação, e aqui estamos nós novamente conquistando mais
um sonho juntos. Sou muito grato pelas palavras sábias e incentivo que a mim sempre deu,
não me deixando cair, mas antes dando forças para que eu pudesse prosseguir. Espelho-me
muito na pessoa que possui uma inteligência, sobretudo para a vida, admirável. Obrigado,
grande amigo!
Faço também um agradecimento ao meu amigo Caio. Nas nossas conversas
compartilhadas externamos um pouco dos pesares, mas também das conquistas da produção,
durante o processo de realização da dissertação. Valeu meu amigo! Nesse mesmo sentido
quero agradecer a outras colegas do curso. A Neta, Nara, Izadora e Tânia, pessoas com quem
foram trocados poucos contatos físicos, mas contatos virtuais importantes. Obrigado!
Institucionalmente, agradeço ao PPGHB da Universidade Federal do Piauí pela
possibilidade que me proporcionou de adquirir experiência como pesquisador dentro do seu
espaço acadêmico, em meio a um quadro docente amplamente competente. No mesmo
sentido quero agradecer ao financiamento proporcionado pela CAPES, incentivando no
desenvolvimento deste trabalho científico e valorizando assim a pesquisa.
Dentre os professores do programa faço agradecimento mais que especial a duas
mulheres incríveis que tive a honra de conhecer, profa. Dra. Elizângela e profa. Dra.
Teresinha. A primeira na disciplina de seminário de linha e a segunda pela sua participação
em minha banca de qualificação. Deram-me valorosíssimos ensinamentos e importantes
orientações para que esse trabalho pudesse seguir um rumo e chegar a uma conclusão. Meu
muito obrigado!
Faço um agradecimento não menos especial ao meu orientador na graduação e
integrante da minha banca de qualificação, prof. Dr. Gleison. Para além de excelente
profissional, um exemplo de ser humano. A você, professor, devo muito! Na graduação,
quando lhe procurei para me orientar, já atrasado, na disciplina de TCC I, acolheu-me de uma
forma calorosa. Apresentou-me o objeto de estudo sobre o qual me debrucei, conquistei com
ele a seleção do mestrado e sobre ele entrego agora este trabalho. Por tudo e por tanto, meu
muito obrigado!
Deixo aqui também registrada a gratidão ao meu orientador no mestrado, prof. Dr.
Edwar. Profissional com uma experiência salutar. Interessou-se na minha orientação apesar
de, aparentemente, a pesquisa ser de área diferente e recorte diverso do seu. No decorrer do
processo proporcionou-me a ampliação dos horizontes enquanto professor/pesquisador.
Obrigado, mestre!
7

Por fim, agradeço de maneira geral a todos aqueles que contribuíram direta ou
indiretamente para que essa dissertação fosse concluída. Muito obrigado!
8

RESUMO

O presente trabalho desenvolveu estudo sobre Antônio Coelho Rodrigues, político e


jurisconsulto brasileiro, que viveu de 1846 a 1912. Coelho Rodrigues foi um dos principais
representantes políticos do Piauí como deputado e senador, tanto no Império como na
República brasileira. Sua representatividade no cenário nacional da política e a afamada
carreira como professor de direito, sobretudo direito civil, proporcionaram ao mesmo, quando
instalado o novo regime, que fosse contratado para a redação do primeiro projeto de código
civil da República, no ano de 1890. O problema da nossa pesquisa gira em torno de um
suposto silenciamento e relativo esquecimento histórico de Coelho Rodrigues, o qual abre a
possibilidade de discussão historiográfica, como sujeito signo da pesquisa, pela ampliação do
conhecimento sobre as disputas políticas nacionais, e como no período de transformações
pelas quais passava a sociedade brasileira, Coelho Rodrigues vai ser importante, sobretudo
enquanto intelectual na condução de um trabalho de época reclamado pelo tempo, o código
civil, onde a renovação do aparato legislativo de direito privado tornava-se necessidade
urgente como elemento material e simbólico fundamental para a construção da nação que se
pretendia criar. Suas movimentações políticas e jurídicas favorecem um pouco a compreensão
quanto à transição da Monarquia a República, e nesse meio revelam as contradições de um
tempo que empurraram Coelho Rodrigues à condição de fracassado dentro do seu espaço de
atuação e, consequentemente, na historiografia.
Palavras-chave: Antônio Coelho Rodrigues; disputas politicas; código civil.
9

ABSTRACT
The present work developed a study on Antônio Coelho Rodrigues, a Brazilian politician and
jurisconsult, who lived from 1846 to 1912. Coelho Rodrigues was one of the main political
representatives of Piauí as a deputy and senator, both in the Empire and in the Brazilian
Republic. His representation on the national political scene and his famous career as a
professor of law, especially civil law, allowed him, when the new regime was installed, to be
hired to write the first draft of the civil code of the Republic, in 1890. The problem of our
research revolves around a supposed silencing and relative historical oblivion of Coelho
Rodrigues, which opens the possibility of historiographical discussion, as a sign subject of
research, for the expansion of knowledge about national political disputes, and how in the
period of transformations that Brazilian society was going through, Coelho Rodrigues will be
important, especially as an intellectual in conducting a work of the time demanded by time,
the civil code, where the renewal of the legislative apparatus of private law became an urgent
need as a material and fundamental symbol for the construction of the nation that was
intended to be created. His political and legal movements somewhat favor the understanding
of the transition from Monarchy to Republic, and in this environment they reveal the
contradictions of a time that pushed Coelho Rodrigues to the condition of failure within his
space of action and, consequently, in historiography.
Keywords: Antônio Coelho Rodrigues; political disputes; civil code.
10

LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura. 1. Coelho Rodrigues em sua juventude/Fonte: Acervo Digital da FUNDAJ 30

Figura. 2. Conselheiro Antônio Coelho Rodrigues em 1899/Fonte: Senado Federal 56

Figura. 3. Antônio Coelho Rodrigues idoso/Foto reprodução do livro “Coelho Rodrigues e a


ordem de silêncio” 62
11

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 12

CAPÍTULO 1 – A constituição do sujeito Antônio Coelho Rodrigues 18

1.1. Família, nascimento e educação 19


1.2. Ingresso na Faculdade de Direito do Recife e primeiras atuações profissionais 26
1.3. Político, professor e jurisconsulto 34

CAPÍTULO 2 – Os reveses políticos de Antônio Coelho Rodrigues no decorrer da


Monarquia à República 63

2.1. Coelho Rodrigues e as arregimentações político-partidárias no Piauí imperial do final do


século XIX 64
2.2. O coelhado no Piauí como reflexo do sucesso político de Coelho Rodrigues no despontar
da República 87
2.3. O fracasso político de Coelho Rodrigues e sua desilusão republicana 104

CAPÍTULO 3 – Antônio Coelho Rodrigues e o processo de codificação civil no Brasil


118

3.1. Coelho Rodrigues e o histórico da codificação civil no Império 120


3.2. Coelho Rodrigues e o contrato para execução do primeiro projeto de código civil da
República 134
3.3. Coelho Rodrigues e Clóvis Beviláqua, uma possível relação 150

CONSIDERAÇÕES FINAIS 164

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 167


12

INTRODUÇÃO

A História se ancora na representação feita sobre os discursos do passado a partir de


uma visão que o historiador tem sobre aquilo que estabeleceu como seu objeto de pesquisa.1
Na representação que fazemos desse passado selecionamos aquilo que mais se adequa às
nossas pretensões para compor a narrativa que construímos na linha de sentido que buscamos
dar àquela estrutura textual que chamaremos de História. Enquanto tecelões dos tempos,
mediante Albuquerque Júnior, os historiadores costuram a sua narrativa recortando eventos e
acontecimentos do passado, entrecruzando sua análise com outras interpretações, tornando
assim o passado morto na forma de documentos desorganizados em uma obra-prima viva,
tragável de sentido, um sentido histórico.2
A narrativa que desenvolvemos nesse estudo contribui para a ampliação do
conhecimento sobre uma personalidade histórica do final do século XIX e início do XX,
Antônio Coelho Rodrigues, político e jurisconsulto brasileiro. Apesar de ser um dos ilustres
piauienses com destaque no cenário nacional do Império e da República, Coelho Rodrigues é
relativamente pouco conhecido dentro da historiografia. As representações acerca da sua
pessoa não exploram a riqueza dos elementos que consagram o sujeito como uma
personalidade que deve ser lembrada e celebrada,3 fazendo-o figurar na historiografia por
meio de esparsos registros desorganizados do seu passado.
Não pretendemos dentro do trabalho que segue simplesmente canoniza-lo como um
mártir, ou algo parecido, mas sim pensarmos no fato de que a partir desta personalidade
podemos perceber uma variedade de temáticas que contribuem para a formação de um
conhecimento histórico sobre a viragem de século. Ao passo disso, buscamos visualizá-lo
como o sujeito signo com ação na época que muito contribuiu, ao lado de personalidades
consagradas historicamente, no decorrer da Monarquia à República em suas investidas como
1
O conceito de representação de que nos utilizamos está baseado no trabalho de Roger Chartier. Para mais
informações, ver: CHARTIER, Roger. O mundo como Representação. In: A beira da falésia: a História entre as
incertezas e inquietudes. Porto Alegre: UFRGS, 2002.
2
Durval Muniz de Albuquerque Junior no seu livro faz uma analogia do trabalho do historiador com a atividade
manual exercida por tecelões, bordadeiras, rendeiras, dentre outros. O historiador como o tecelão acaba
atribuindo sentido aos materiais que possui ao seu alcance. O tecelão, a partir dos materiais de que dispõe no seu
trabalho laboral, tecendo fios, atribui forma a um artefato. O historiador acaba produzindo a partir do caos que
são os materiais do passado um sentido narrativo coerente, ordenado e com aparente coesão, a narrativa
histórica. Para mais informações, ver: ALBUQUERQUE Jr, Durval Muniz de. O tecelão dos tempos: novos
ensaios de teoria da História. São Paulo: Intermeios, 2019. 276 p.
3
Por celebração, ou celebração móvel, nos apropriamos da ideia de que, no decorrer do tempo, o homem está
sempre celebrando, lembrando determinados eventos, acontecimentos, por meio das suas narrativas históricas
sobre esses eventos, acontecimentos. Nesse sentido, Coelho Rodrigues acaba tornando-se um sujeito celebrado
e/ou lembrado no decorrer do tempo por aqueles que o querem fazer ser lembrado e/ou celebrado. Para mais
informações, ver: HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução: Tomaz Tadeu da Silva &
Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro: Lamparina, 2014.
13

político, jurista e, em linhas gerais, intelectual. Coelho Rodrigues pode ser considerado um
sujeito histórico onde as suas movimentações políticas e jurídicas colaboraram para a
construção da nação brasileira, em meio aos reveses políticos da viragem de um regime ao
outro, e onde as transformações exigiam mudanças políticas e legislativas necessárias para a
manutenção do sistema político e social brasileiro.
História relativamente pouco explorada, a vida e obra de Coelho Rodrigues foram
sendo esquecidas no decorrer do tempo não fossem aqueles que se interessassem por lembrá-
lo. Segundo Aguiar, os pesquisadores estão em débito com o sujeito, pois muitos
desconhecem o que o autor considera a grandiosidade da sua obra.4 Nesse sentido, a nossa
pesquisa tem como pretensão ampliar as discussões que não deixaram morrer, mas antes
contribuíram com as suas análises que giram em torno de Coelho Rodrigues no decorrer do
tempo, não permitindo cair no esquecimento um dos ilustres do Piauí da sua época, com
notoriedade nacional.
Para tanto a pesquisa torna-se um conhecimento que, acrescente-se, não pretende
erguer um mito como muito tente a cristalização e monumentalização das personalidades, mas
tornar visível nessa abordagem historiográfica suas contradições de sujeito, suas relações para
com os rumos da política e direito civil no Brasil, entre outros aspectos, de modo que a
visibilidade histórica aqui elencada diz respeito ao terreno fértil que Coelho Rodrigues, sua
trajetória e produção intelectual, contribuem para a historiografia.
A pretensão do trabalho não é esgotar o tema, o que é humanamente impossível, mas
antes contribuir com uma representação feita em torno de eventos explorados nos esfacelados
registros do passado de Coelho Rodrigues pelo olhar de um historiador por vezes desatento.
Buscamos no decorrer do texto construir uma proposta narrativa que foi devidamente
costurada pelos fios daquele que, como o tecelão, pretende dar sentido a um complexo
emaranhado de elementos imersos no seu estojo de materiais para uso. Por fim, entregamos
mais uma proposta com esforços empreendidos no sentido de costurar uma narrativa em torno
do notável político e jurisconsulto da sua época.
Tendo em vista a problemática, é necessário nos situarmos no tempo e no espaço que
compreenderam a vida e obra de Coelho Rodrigues. Como a pretensão do primeiro capítulo é
fazermos um estudo que contempla eventos da vida do sujeito, o recorte temporal inicial sobre
o qual nos debruçamos é o do seu nascimento, ano de 1846. Como recorte final, temos o ano
da sua morte, que ocorreu em 1912, quando, voltando ao Brasil depois de uma viagem que fez

4
AGUIAR, Antonio Chrysippo. Coelho Rodrigues e a ordem de silêncio. 1. ed. Teresina: 2006.
14

à Europa para tratar da saúde não pôde mais em vida visualizar a terra de onde se fez homem
de talento. Certamente que dentro desse período selecionamos momentos considerados
salutares para o desenvolvimento dos demais capítulos.
O recorte que compreende a sua atuação política, de que nos atemos no segundo
capítulo, se estabelece desde sua ascensão ao primeiro cargo como representante do Piauí no
cenário nacional, em 1869, até a escrita do seu livro de cunho político “A República na
América do Sul”,5 do ano de 1906. No terceiro capítulo damos ênfase ao recorte que
compreende a escrita e discussões em torno da sua maior obra legislativa, o projeto de código
civil,6 realizado na década de 1890, com início neste mesmo ano, até 1893.7 Em 1897, Coelho
Rodrigues publicou uma segunda versão do seu projeto com uma história documentada sobre
o processo de codificação, que também entrou na análise.8 Anos posteriores também são
considerados, foi onde se envolveu em amplos debates como convidado para dar parecer
sobre o projeto do seu sucessor na tentativa de dotar o Brasil de um código civil, Clóvis
Beviláqua, com discussão inédita no Jornal do Comércio.9
Quanto ao recorte espacial nos debruçamos sobre os principais percursos nacionais,
com eventuais considerações internacionais, de deslocamento de Coelho Rodrigues. Para
tanto, o estudo compreende desde o seu nascimento nos sertões do Piauí, e seus primeiros
passos e desenvolvimento dentro de localidades na então província. Quando jovem e
estudante do ensino superior, Coelho Rodrigues encontrou-se localizado no Recife, capital do
Pernambuco, um dos principais centros de ensino para onde convergiam os filhos de famílias
abastadas do Império. Após a formatura, retornou ao Piauí, onde se encontrou atuando
inicialmente como jornalista e advogado.

5
Utilizamos como fonte a edição do livro de Antônio Coelho Rodrigues publicada pelo Senado Federal no ano de
2016. Para mais informações, ver: RODRIGUES, Antônio Coelho. A República na América do Sul ou um pouco
de história e crítica oferecida aos latino-americanos, 1906. Brasília: Senado Federal, 2016.
6
O Código Civil é um conjunto organizado de leis que serve para regular os direitos dos cidadãos,
principalmente no tocante às questões de ordem nacional privada. No século XIX, com o liberalismo em
expansão e a instalação de um regime com princípios democráticos, a República, esse ordenamento civil foi
considerado de grande importância para a garantia dos direitos individuais, com relação à propriedade, direitos
de gerir seus negócios, liberdade de testamento e contrato, direitos familiares, além de significar a ampliação de
direitos para os setores sociais menos favorecidos, pelo menos em tese, dentro do quadro de relações da
sociedade em processo de aburguesamento. Para mais informações, ver: GRINBERG, Keila. Código Civil e
cidadania. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
7
Quanto ao projeto de Código Civil de Coelho Rodrigues concluído neste ano, ver: RODRIGUES, Antônio
Coelho. Projecto do Código Civil Brazileiro precedido de um projecto de lei preliminar. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, 1893.
8
RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos
anteriores. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commércio, 1897.
9
O Jornal do Comércio foi um dos mais importantes e tradicionais periódicos nacionais, estabelecido no Rio de
Janeiro desde 1827. As informações colhidas nesse periódico foram retiradas do acervo da Biblioteca Nacional
Digital.
15

Assim que ingressou na política como deputado pelo Piauí foi na capital do Brasil à
época, Rio de Janeiro, onde encontramos Coelho Rodrigues. Sobretudo a partir década de
1870 deslocou-se bastante do Rio para o Recife, período em que se doutorava, além de
estabelecer morada na capital pernambucana quando esteve atuando como professor pela
Faculdade de Direito do Recife. Viagens ao Piauí eram recorrentes. O eixo então de onde se
deslocou foi, principalmente entre Piauí, Pernambuco e Rio de Janeiro. No início da
República, quando contratado para realizar o projeto de Código Civil, Coelho Rodrigues fez
morada por uns dois anos na capital da Suíça, Genebra, de 1890 ao final de 1892.
“A constituição do sujeito Antônio Coelho Rodrigues”. Abaixo do título que pensamos
para abrir a discussão do nosso trabalho no capítulo I, a ideia foi construirmos uma
representação histórica sobre quem foi o sujeito signo de nossa pesquisa. Alguns estudiosos
ocuparam-se de lembrar Coelho Rodrigues no decorrer do tempo, lançando suas
interpretações com base nas pesquisas que fizeram em torno do mesmo, a exemplo de
Carvalho,10 Castello Branco,11 e Coelho e Brandão.12 Nossa pretensão é contribuir com um
estudo que trata, sobretudo, da biografia de vida do ser humano que foi Coelho Rodrigues,
suas contradições dentro das condições de existência em que viveu, visto que as análises sobre
o mesmo são desordenadas e não contemplam a riqueza historiográfica em torno dessa
personalidade. Para tanto, buscamos embasamento nas informações que conseguimos por
meio da literatura construída sobre o seu percurso de vida e nos dados empíricos, muitos
inéditos, e disponíveis em jornais importantes do período, como o Jornal do Comércio,
Diário de Pernambuco, A Imprensa e O Piauhy.
“Os reveses políticos de Antônio Coelho Rodrigues no decorrer da Monarquia à
República”. A partir deste título, que encampana o segundo capítulo, buscamos compreender
as relações políticas de Coelho Rodrigues, sobretudo em torno do Piauí, território de onde
surgiu esta personalidade, e o qual vai representar no cenário nacional da política como
deputado e senador. Partindo das disputas político-partidárias, a pretensão é compreender de
que maneira Coelho Rodrigues vai localizar-se no cenário dessas lutas, e como vai
ascendendo na política até se tornar uma representação forte da sua terra. Isso é salutar para
pensarmos Coelho Rodrigues como detentor de um relativo poder e domínio como político no

10
CARVALHO, Abimael Clementino Ferreira de. Família Coelho Rodrigues: Passado e Presente. Fortaleza:
Impr. Oficial do Ceará. 1987.
11
CASTELLO BRANCO, Francisco de Assis Couto. Antônio Coelho Rodrigues: Vida e Obra. TERESINA:
UFPI, 1987.
12
COELHO, Celso Barros (Org.); FRANÇA, R. Limongi; BRANDÃO, Wilson de Andrade. et al. Coelho
Rodrigues e o código civil, comemoração do sesquicentenário de nascimento. Teresina/PI: Gráfica do Povo.
1998.
16

despontar da República sobre o qual foi atribuída a tentativa de forjamento de um marquesado


no Piauí, por meio daquilo que seus opositores intitularam de coelhado, referente,
obviamente, ao sobrenome Coelho do mesmo.
Este coelhado nada mais foi do que uma política oligárquica de exercício de poder que
o partido de Coelho Rodrigues, Partido Federal, exerceu sobre os excluídos da política no
Piauí, como parte daquilo que nacionalmente estava sendo praticado pelo governo provisório
da República. Enxergando o coelhado como reflexo do sucesso político de Coelho Rodrigues
no despontar deste regime, atemo-nos à sua influência, sobretudo nos primeiros governos
provisórios, para compreendermos de que maneira os opositores enxergaram o exercício dessa
política considerada de exclusão em terras piauienses, a ponto de Clodoaldo Freitas escrever o
livro crítico “Os fatores do coelhado”.13 Por outro lado, com o decorrer da República, nos
deparamos com um Coelho Rodrigues relativamente fracassado e desiludido com os rumos
pelos quais a sociedade brasileira dita republicana estava tomando. A escrita do seu livro “A
República na América do Sul” reflete um pouco do seu desapontamento para com a República
que não foi,14 o que também é algo que buscamos discutir no capítulo.
“Antônio Coelho Rodrigues e o processo de codificação civil no Brasil”. Como
proposta para o último capítulo abaixo do titulo expresso buscamos fazer uma análise
tomando por base a maior obra de cunho jurídico de Antônio Coelho Rodrigues no auge da
sua carreira política e jurídica, e como um dos mais consagrados professores de direito de sua
época. Assim que instalada a República, Coelho Rodrigues foi o sujeito contratado para dar
sentido jurídico ao Brasil republicano em vias de transformação do seu aparato legislativo.
Como jurista que fechou acordo com o Governo Provisório do Marechal Deodoro da Fonseca
para a redação do primeiro projeto de código civil da República em 1890, a este sujeito foi
destinada a tarefa mais complexa do seu tempo, pelo fato de ter que adequar a legislação civil
às exigências da transição de um regime centralizado e monárquico para outro livre e
republicano.
Em linhas gerais, Coelho Rodrigues pode ser considerado um sujeito histórico
contraditório. Porém, essa contradição esteve envolvida em um processo em que as condições
da sua existência impulsionaram o mesmo a assumir determinadas posturas. A sua
contradição é reflexa das próprias controvérsias do período em que viveu. Isso posto,
pretendemos enxergar as movimentações políticas e jurídicas de Antônio Coelho Rodrigues e

13
FREITAS, Clodoaldo. Os fatores do coelhado: Escorço de história. 2. ed. Teresina: Academia Piauiense de
Letras, 2018.
14
CARVALHO, J. M. Os bestializados: O Rio de Janeiro e a república que não foi. São Paulo: Companhia das
Letras, 1987.
17

a maneira como no decorrer da Monarquia à República brasileira o mesmo foi participe como
um dos sujeitos de ação pelas transformações do seu tempo.
18

CAPÍTULO 1 – A constituição do sujeito Antônio Coelho Rodrigues

Duas comunas piauienses podem reivindicar para si terem sido o palco de nascimento
de Antônio Coelho Rodrigues. Afirmamos isso pelo fato de que a Fazenda em que veio ao
mundo, conhecida como Boqueirão, fazia parte de uma região pertencente a Oeiras, no Piauí.
Essa condição mudou quando, com a resolução provincial n° 397, de 17 de dezembro de
1855, Picos-PI é elevado à categoria de município e são definidos seus limites, tornando-se
aquela Fazenda oficialmente pertencente a esta cidade.15
Hoje em dia o casarão da Fazenda Boqueirão, imerso no interior de Picos, num lugar
conhecido como Boqueirão dos Rodrigues, encontra-se quase totalmente esfacelado pelo
tempo. Passados mais de 175 anos do nascimento de Antônio Coelho Rodrigues,
evidentemente mais tempo ainda da construção do casarão, aquele local que foi o cerne da
vida de um dos ilustres piauienses, relativamente conhecido dentro da historiografia,
encontra-se abandonado pelas autoridades públicas. Um dos poucos registros físicos
memorialísticos da nossa história quase não pode mais ser apreciado como monumento
representativo do passado de uma das personalidades expressivas do seu tempo.
No estudo que se segue no decorrer desse capítulo pretendemos dar um sentido, a
partir dos esparsos registro do seu passado, à trajetória de vida de um dos sujeitos filhos da
terra, ilustre do Piauí, de destaque nacional, Antônio Coelho Rodrigues. Como a história é
pensada como representação em torno daquilo que se passou, o primeiro momento da
dissertação é uma tentativa de construir um sentido narrativo sobre a imagem lembrada e
celebrada de Coelho Rodrigues, casando bibliografia e empiria. Esse é um esforço com
pretensão de oferecer uma proposta inicial de valorização da história biográfica de uma
personalidade que merece ser lembrada por aquilo que legou à sociedade brasileira.
Ao fazer uma consideração inicial em torno de Coelho Rodrigues na sua obra Coelho
Rodrigues e a ordem de silêncio, Aguiar considera que os estudiosos estão em débito com o
sujeito. Afirma que a obra de Coelho Rodrigues é de grande valia para compreendermos a
história do Brasil, sobretudo os embates jurídicos em torno do processo de codificação das
leis civis, na viragem da Monarquia para a República, final do século XIX e início do XX.
Coelho Rodrigues, em linhas gerais foi advogado, jornalista, político, professor, jurista

15
CASTELLO BRANCO, Francisco de Assis Couto. Antônio Coelho Rodrigues: Vida e Obra. TERESINA:
UFPI, 1987.
19

contratado para redigir o primeiro projeto de código civil da República recém-instalada.16 A


sua trajetória de vida torna-se objeto de análise preliminar nessa dissertação.

1.1. Família, nascimento e educação

No dia 04 de abril de 1846 veio ao mundo o primogênito de Manuel Rodrigues Coelho


Filho e Ana Joaquina de Souza Martins. Nascido na então Fazenda Boqueirão, Antônio
Coelho Rodrigues fora batizado em 15 de agosto de 1846, na Freguesia de Nossa Senhora dos
Remédios de Picos, na então província do Piauí, sendo registrado inicialmente com o
sobrenome da família da sua mãe, assim como todos os seus irmãos. Seguindo a ordem de
nascença, os irmãos de Coelho Rodrigues foram: Ricardo Rodrigues de Souza Martins,
Silvana Rodrigues de Souza Martins, Joaquim Rodrigues de Souza Martins e Francisco
Rodrigues de Souza Martins.17
Aquele que passamos a conhecer por Antônio Coelho Rodrigues e que deu
legitimidade à marca familiar “Coelho Rodrigues”, caso não houvesse trocado o seu
sobrenome, poderia hoje estar sendo chamado de Antônio Rodrigues de Souza Martins, seu
primeiro nome de batismo. Porém, por questões de contrariedades familiares em vista das
disputas políticas da sua parentela liberal do lado materno, como forma de protesto, acabou
realizando uma mudança no seu registro anos mais tarde, logo que se formou na Faculdade de
Direito do Recife e retornou ao Piauí, adotando os sobrenomes do desbravador português,
possuidor de gado bovino, que se instalou na província piauiense em meados do século XVIII,
Valério Coelho Rodrigues,18 seu bisavô paterno e trisavô materno.
Valério Coelho Rodrigues ficou bastante conhecido por estabelecer um grande
domínio colonial sobre territórios que se estendiam para além do Piauí, contemplando terras
em Pernambuco, na Bahia, dentre outras províncias. Foi um dos grandes fornecedores de
carne bovina para diferentes regiões imperiais. Segundo Miranda, Valério fez grande fortuna
com a criação de gado e a ampliação de propriedades com o estabelecimento de currais,
gerando uma família que se projetou na política nacional desde então, até os dias de hoje.
Entre seus descendentes muitos foram abastados fazendeiros, coronéis no
Império e na Primeira República, líderes na política regional do Piauí,
Pernambuco, Bahia e outras unidades federativas, outros foram juristas,

16
AGUIAR, Antônio Chrysippo. Coelho Rodrigues e a ordem de silêncio. 1. ed. Teresina: 2006.
17
CARVALHO, Abimael C. Ferreira de. Família Coelho Rodrigues: Passado e presente. 1ª Ed. Fortaleza:
Imprensa Oficial do Ceará, OEIC, 1987.
18
Valério Coelho Rodrigues nasceu em 03 de setembro de 1713, na freguesia de São Salvador do Paço de Sousa,
Bispado do Porto, em Portugal, filho de Domingos Coelho e Águeda Rodrigues. Para mais informações, ver:
MIRANDA, Reginaldo. Piauienses Notáveis. Teresina: APL, 2019.
20

advogados, magistrados, escritores, jornalistas, médicos, profissionais


liberais em geral, clérigos, servidores públicos e, também, parlamentares,
presidentes de províncias, governadores de estados e até um presidente da
República.19
Dos descendentes de projeção do patriarca Valério Coelho Rodrigues podemos citar
alguns que no decorrer do tempo perpetuaram a dominância de uma das famílias tradicionais
do Piauí. Para além do seu trineto, Antônio Coelho Rodrigues, fazem parte da sua
descendência: Padre Marcos (neto), Padre Joaquim Damasceno Rodrigues (bisneto), médico
Isaías Coelho (pentaneto), governador Eurípedes de Aguiar (pentaneto), governador Nilo
Coelho (hexaneto), ex-presidente José Sarney (hexaneto), jurista Celso Barros Coelho
(hexaneto), ministro Fernando Bezerra (heptaneto) e o governador Wilson Martins
(heptaneto).
Valério Coelho Rodrigues convolou núpcias com distinta jovem, chamada Domiciana
Vieira de Carvalho, filha de abastados fazendeiros, José Vieira de Carvalho20 e Maria Freire
da Silva, paulistas de origem lusitana, que entraram no Piauí como líderes de uma bandeira
colonizadora, no ano de 1719.21 Na época, o casamento era fator importante para o
estabelecimento e ampliação do domínio das famílias abastadas. A extensão da legitimidade
da família do patriarca Valério é reflexa do casamento arranjado entre grupos de poder
aquisitivo, como forma de alargar a dominância e a influência desses grupos no território.22
Após as núpcias o casal fixou domicílio em fazenda que denominaram Paulista, em
homenagem à terra natal da então esposa de Valério, a província de São Paulo. É hoje
conhecida como a cidade de Paulistana, no sudeste do Piauí. Do casamento foram gerados 16
filhos, sendo oito homens e oito mulheres.23 Dentre um destes filhos o avô paterno de
Antônio Coelho Rodrigues, Manuel Coelho Rodrigues, que casou-se com Maria Aldonça
Micaela Freire de Andrade. Estes também estabeleceram numerosa família, foram 11 filhos,
dentre os quais o pai de Coelho Rodrigues, Manuel Rodrigues Coelho Filho.
Os seus avós por parte da sua mãe foram Joaquim de Souza Martins24 e Teresa de
Jesus Maria. Os mesmos tiveram um total de 13 filhos, contando com Ana Joaquina de Souza
Martins, a mãe de Coelho Rodrigues. O tronco familiar do lado materno possuiu também
vínculo com Valério Coelho Rodrigues, pois Joaquim de Souza Martins foi o terceiro filho da

19
MIRANDA, Reginaldo. Piauienses Notáveis. Teresina: APL, 2019.
20
Era bandeirante paulista e patriarca da família Vieira de Carvalho, no Piauí. Para mais informações, ver:
CARVALHO, Abimael C. Ferreira de. Família Coelho Rodrigues: Passado e presente. 1ª Ed. Fortaleza:
Imprensa Oficial do Ceará, OEIC, 1987.
21
MIRANDA, op. cit.
22
BRANDÃO, Tanya Maria Pires. A elite colonial piauiense: familiar e poder. Teresina: FCMC, 1995.
23
MIRANDA, op. cit.
24
CARVALHO, op. cit.
21

primeira filha do patriarca Valério, de nome Ana Rodrigues de Santana, bisavó materna de
Coelho Rodrigues, e casada com Manuel de Souza Martins. Mediante diálogo com Silveira,
durante o decorrer do século XIX era bastante comum o entrecruzamento consanguíneo, onde
parentes próximos contraiam matrimônio com a finalidade de ampliação do exercício do
poder no território.25 Coelho Rodrigues adveio de uma relação ascendente em que um
tio/primo casou-se com uma sobrinha/prima.
O filho de Ana Rodrigues, seu avô materno, Joaquim de Souza Martins, exerceu
cargos administrativos de destaque dentro da província piauiense, como comandante das
armas do Piauí de 1823 a 1825, membro da Junta do Governo Provisório entre 1823 e 1824,
além de ser proprietário de fazendas, como as de Terra Nova e Carnaíba.26 O irmão do seu
avô Joaquim, portanto tio-avô de Coelho Rodrigues foi Manuel de Souza Martins Filho, o
Visconde da Parnaíba, considerado um dos políticos de maior representatividade dentro da
província na primeira metade do século XIX. O mesmo governou o Piauí dentre o período de
1823 a 1843. Além de ser responsável por organizar o Partido Conservador e garantir seu
domínio por um longo período no território piauiense, o Visconde da Parnaíba tornou-se
referência pela legitimação da ordem imperial na província.27
Com relação aos pais de Coelho Rodrigues poucos registros puderam ser encontrados
para melhor compreensão acerca de quem foram. O que podemos interpretar mediante a
análise feita em meio aos esparsos registros do passado é que certamente com as ampliações e
divisões das terras de Valério por suas gerações posteriores, aquela propriedade localizada no
interior da província piauiense, conhecida como Boqueirão, dentre tantas outras, inclusive em
outras províncias, acabou se tornando de posse de Manuel Rodrigues Coelho Filho, que era
capitão, e Ana Joaquina. Berço de seu nascimento, a Fazenda Boqueirão se tornou o lugar de
onde veio ao mundo e desenvolveu seus primeiros passos, dentro daquela sociedade
tradicional, Antônio Coelho Rodrigues.
Segundo Lima, historiador que trabalha o contexto econômico e social piauiense da
época, Coelho Rodrigues viveu um tempo infantil onde o Piauí era considerado pouco

25
SILVEIRA, Mona Ayala Saraiva da. As relações familiares e o matrimônio no Piauí oitocentista. IN: LIMA,
Nilsângela Cardoso (Org.). Páginas de História do Piauí colonial e provincial. 1. Ed. Teresina: EDUFPI, 2020.
p. 163 – 190. Disponível em:
https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/570203/2/P%C3%A1ginas%20da%20Hist%C3%B3ria%20do%20
Piau%C3%AD%20colonial%20e%20provincial_livro_Cead%20%5BE-book%5D.pdf. Acesso em: 20/jul./2021.
26
CARVALHO, Abimael C. Ferreira de. Família Coelho Rodrigues: Passado e presente. 1ª Ed. Fortaleza:
Imprensa Oficial do Ceará, OEIC, 1987.
27
CASTELO BRANCO, Pedro Vilarinho. O Visconde da Parnaíba e a construção da ordem imperial na
província do Piauí. CLIO: Revista de Pesquisa Histórica, Recife-PE, vol. 38, ISSN: 2525-5649, p. 205 – 230,
Jul./Dez., 2020. Disponível em: file:///C:/Users/win10/Downloads/245738-181416-1-PB.pdf. Acesso em:
22/jul./2021.
22

desenvolvido se fizermos uma comparação com as maiores províncias do Brasil da época. Na


província piauiense do século XIX predominavam em massa extensões territoriais privadas
sob domínio de fazendeiros.28 O que mais se desenvolvia era a atividade pecuária. A família
de Coelho Rodrigues foi uma das elites regionais que se desenvolveu partindo principalmente
dessa atividade, e da acumulação patrimonial advindo da aquisição de terras desde o
estabelecimento do patriarca da família Coelho Rodrigues, como vimos anteriormente.
Antônio Coelho Rodrigues nasceu em meados do século XIX. Nesse período a
sociedade piauiense em sua maioria era composta de analfabetos, relativamente à população
total. Esse era um fato que não se dava somente no âmbito local. Segundo Queiroz, “o
analfabetismo é um traço de continuidade na história do Brasil e, por conta disso, é possível
considerar tanto o século XIX como as primeiras décadas do século XX como um longo
período com características similares”.29 Essas características refletiam na maneira como a
sistemática social era desenhada nesse período e no Piauí os reflexos do analfabetismo
predominavam de forma bastante acentuada.
O Piauí dessa época se encontrava polarizado entre analfabetos e doutores, segundo
Queiroz.30 Isso significa que enquanto uma massa da população era inerte quanto ao ensino,
uma parcela populacional conseguia obter meios para desenvolver os seus estudos, o que
permitia assumirem determinadas funções na burocracia estatal. Este foi o caso de Coelho
Rodrigues, que, como advém de uma família tradicional e de destaque na província,
conseguiu adquirir os meios principais para, somados ao seu aparente interesse em conhecer,
desenvolver suas qualidades cognitivas e assim assumir os cargos políticos ou burocráticos na
época como representante, sobretudo do seu grupo familiar.
Essa formação intelectual dos setores abastados da sociedade desse período, somada
com o status da família na época era o principal, e exclusivo meio, para se conseguir ascender
na carreira política, administrativa, e nesse sentido defender os interesses do grupo no
território. O caminho percorrido por Coelho Rodrigues no início de sua vida é bem reflexo da
sua época, e do padrão social ao qual o mesmo esteve inserido. A preparação dos filhos para a
vida adulta desde a infância tornava-se prioridade dos grupos sociais abastados com a
finalidade principal de legar o nome da família e garantir a dominância principalmente dentro
da política no território.

28
LIMA, Solimar Oliveira. Fazenda: Pecuária, agricultura e trabalho no Piauí escravista (séc. XVII – séc. XIX).
Teresina: Edufpi, 2016.
29
QUEIROZ, Teresinha de Jesus Mesquita. Os literatos e a República: Clodoaldo Freitas, Higino Cunha e as
tiranias do tempo: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1994.
30
Idem.
23

No decorrer da primeira metade do século XIX, a educação se estabelecia como algo


definido pelas elites familiares, não como um serviço obrigatório gerido pelo setor público.
Segundo Queiroz, nesse período, “as aulas particulares de instrução primária e de matérias
isoladas da instrução secundária foram uma constante no panorama educacional do Piauí”.31
Essa possibilidade de escolarização privada que acontecia principalmente no interior da
província, nas próprias fazendas das famílias abastadas, pode ser exemplificada na trajetória
escolar de Coelho Rodrigues.
Brito argumenta que como havia pouca participação ativa do Estado no incentivo à
educação brasileira de modo geral, e na província do Piauí, de forma particular, sobretudo a
partir da segunda metade do século XIX, formaram-se iniciativas de clérigos e proprietários
rurais com interesses de garantir o ensino principalmente aos membros de famílias que tinham
condições de bancar os estudos dos seus filhos.32 Essa forma de ensino privado acompanhou
toda a instrução de Coelho Rodrigues enquanto criança e jovem. Desde as primeiras letras,
seu ensino primário e secundário, até pleitear uma vaga na Faculdade de Direito do Recife, foi
instruído baseado na forma de ensino tradicional imperial privada, de responsabilidade da
própria família, ao garantir um ensino pago.
Até os cinco anos de idade Coelho Rodrigues teve com professora a sua própria mãe,
Ana Joaquina, com quem foi iniciado às primeiras letras, isso na própria fazenda em que
residiam. Esse é um fato comum no período considerado, no seio das famílias abastadas.
Como até então nas fazendas interioranas, acompanhando os passos da própria capital, a
educação não tinha gerência por parte do poder público, ou quando tinha era ineficaz, os
próprios integrantes das famílias de elite letradas faziam a incursão dos mais jovens na
instrução.
Com essa idade Coelho Rodrigues já aprendera a escrever, realizar leituras e também
algumas operações matemáticas, segundo afirma Aguiar.33 Como o seu lugar social é de uma
elite, o desenvolvimento dessas atividades era comum para uma criança nas suas condições.
Quando advindos de base assentada para desenvolverem os seus estudos, numa sociedade que
com frequência vem caminhando no sentido de valorizar o ensino para o exercício de
determinadas funções administrativas, é normal que uma rica família acompanhe os passos
dessa sociedade em processo de aburguesamento. Coelho Rodrigues pode ser considerado um
garoto típico do seu tempo, a tirar pelo lugar que ocupa nesse meio, e que conseguiu cedo

31
QUEIROZ, Teresinha de Jesus Mesquita. Os literatos e a República: Clodoaldo Freitas, Higino Cunha e as
tiranias do tempo: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1994. p. 58.
32
BRITO, Itamar de Sousa. História da Educação no Piauí. Teresina: EDUFPI. 1996.
33
AGUIAR, Antônio Chrysippo. Coelho Rodrigues e a ordem de silêncio. 1. ed. Teresina: 2006.
24

adquirir notáveis habilidades, mediante a importância que a educação passou a ter na vida dos
futuros representantes da elite.
Mas certamente a sua infância não deve ser reduzida ao fator da sua educação. Assim
foram as representações que lembraram Coelho Rodrigues no decorrer do tempo. Para além
dessas versões da sua história, podemos pensar no mesmo como uma criança que gostava de
brincar ao relento com seus irmãos e amigos na fazenda em que viveu os primeiros anos da
sua vida. É possível imaginá-lo fazendo perguntas sobre tudo a sua volta, a tirar pelo fato de
que nessa fase todos são curiosos para conhecer os mais simples signos que os cercam. O
próprio Coelho Rodrigues ao relembrar sua infância em um discurso no Jornal do Comércio
apontou para a sua vivência na fazenda do interior onde se criou, em meio ao exercício do
trabalho escravo que acompanhou seus primeiros passos, nas condições da sua existência.34
Muito cedo Coelho Rodrigues foi acometido com a morte prematura do seu pai, o
capitão Manuel, em 02 de outubro de 1851. Com o abalo ocasionado pelo falecimento do
então patriarca, os seus estudos acabam sendo interrompidos.35 Não somente no quesito
educação, a sua própria vida tomou outro rumo. Esse acontecimento com certeza pôde ser
assimilado por Coelho Rodrigues no tempo em que se sucedeu.
Como o primogênito dos cinco filhos do casal o peso da ausência do patriarca foi
maior para aquele que próximo esteve de completar os seis anos e, mesmo sem entender
direito sobre a realidade da vida e do fim dela, não deixou de lamentar a perda do seu pai.
Certamente esse sentimento foi aflorado posteriormente, onde consciente da finitude do ser,
parou e refletiu acerca da morte daquele que lhe deu a vida, restando flashes de memórias
sobre momentos vividos com Manuel.
No ano seguinte à morte do seu pai, ao acabar de completar os seus seis anos, no mês
de abril, Coelho Rodrigues enfrentou um novo desafio para sua pouca idade. A matriarca,
dividida entre os cuidados com os irmãos menores e a administração familiar deixada pelo
patriarca ao falecer, optou por envia-lo aos cuidados de um tio, irmão da sua mãe, chamado
Elias de Souza Martins, que ajudou a cria-lo durante o período em que seu pai faleceu,
segundo o próprio Coelho Rodrigues relatou no Jornal do Comércio anos mais tarde, em
1890.

34
RODRIGUES, Antônio Coelho. Conferência da Glória. Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 10 de novembro
de 1883. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=9166.
35
CASTELLO BRANCO, Francisco de Assis Couto. Antônio Coelho Rodrigues: Vida e Obra. TERESINA:
UFPI, 1987.
25

Ainda no mesmo ano, Coelho Rodrigues acabou sendo mandado aos cuidados
pedagógicos do seu primo, o padre Joaquim Damasceno Rodrigues. Este era filho de Joaquina
Lindalva, irmã do pai de Coelho Rodrigues, o capitão Manuel Rodrigues. Foi estudando com
o seu primo Joaquim que Coelho Rodrigues passou parte da sua infância e juventude,
adquirindo conhecimentos importantes para uma formação primária e secundária.36 O padre
foi considerado um dos grandes educadores do Piauí na sua época e possuía uma instituição
de ensino na vila de Paulista, na fazenda do seu bisavô Valério.37
Quanto ao fato de que ainda muito dependente dos cuidados maternos Coelho
Rodrigues acabou sendo enviado para outra região, certamente foi algo difícil para o pequeno.
Não devemos pensar o acontecimento como total desvinculação da criança com a família, mas
conscientes da relativa distância regional, média de aproximadamente uns 150 quilômetros
entre Picos e Paulistana, e que nem sempre havia um encontro com a sua mãe, o peso da
separação foi grande.
Afastado dos cuidados e do carinho da sua mãe, a maior parte da sua infância
aconteceu em ambiente fora do lar doméstico. O pequeno Coelho Rodrigues teve que
acostumar-se com a vivência em outra região. Isso acabou contribuindo para o seu isolamento
em si mesmo, fator que posteriormente ele próprio apontou ser responsável pela fragilidade da
sua saúde. A vivência em outra região da província acabou acarretando problemas onde, já em
Pernambuco, afirmava que há cerca de vinte anos, ou seja, quando criança, vinha debilitada a
sua saúde.38
Coelho Rodrigues não foi um sujeito robusto na infância, nem mesmo na sua fase
adulta. Era de estatura baixa, um homem magro. Pelo que percebemos mediante
considerações no decorrer da sua vida, partindo da análise das fontes, sempre enfrentou
problemas com a sua saúde. Não que os seus problemas sejam resultantes exclusivamente da
sua separação quando criança do seio materno, mas é possível que isso possa ter contribuído
de alguma forma no seu processo de desenvolvimento. Apesar desse fator, supomos que um
dos reais motivos para a sua saúde frágil anos mais tarde foram acarretados por problemas

36
CASTELLO BRANCO, Francisco de Assis Couto. Antônio Coelho Rodrigues: Vida e Obra. TERESINA:
UFPI, 1987.
37
O padre Joaquim Damasceno Rodrigues, como muitos dos parentes de Coelho Rodrigues, descendentes de
Valério, foi uma personalidade de grandes posses e influente dentro dos espaços de poder político e econômico
na província piauiense. Mediante diálogo com Carvalho, esta aponta que o padre Joaquim, para além da sua
posição de pároco, foi o homem mais ilustre e poderoso da pequena vila de Jaicós no seu tempo. Para mais
informações, ver: CARVALHO, Mônica Valéria de. Senhores de gado: Relações de mandonismo no sertão do
Piauí, 1874-1888. Dissertação (Mestrado em história) – Universidade Federal do Piauí, Campus Teresina – PI, p.
110, 2015.
38
RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos
anteriores. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commércio, 1897.
26

relacionados ao fumo. Coelho Rodrigues foi fumante durante muitos anos e somente parou,
segundo o mesmo, quando foi recomendado por seu médico ao encontrar-se já em 1890 na
Europa, quando redigia o seu projeto de código civil.
Passada a dura fase de adaptação em outra localidade, foi na instituição do seu primo
que Coelho Rodrigues estudou diversas matérias que compuseram o seu currículo em início
da jovem carreira educativa. Português, aritmética, francês, latim e filosofia foram as
principais disciplinas que cursou até a sua juventude, aos seus 13 anos de idade, no ano de
1859. Por ser considerado aplicado com essa idade, sua mãe foi aconselhada a mandá-lo à
cidade do Recife, no Pernambuco, para realizar os preparatórios de ingresso na Faculdade de
Direto daquela região.39

1.2. O ingresso na Faculdade de Direito do Recife e primeiras atuações profissionais

No ano de 1860, já próximo de completar os seus 14 anos, Coelho Rodrigues viajou


para o Recife com pretensão de ingressar na Faculdade de Direito dessa cidade, instituição à
época mais reconhecida pela formação da intelectualidade brasileira.40 Como não havia nesse
período instituição de ensino superior no Piauí, as elites locais formavam os seus filhos,
principalmente, nessa academia.41 Os cursos de Direito, para os quais afluíam os filhos das
elites rurais, eram os meios pelos quais os formados bacharéis poderiam assumir cargos de
dirigentes do país, e intelectuais capazes de refletir e formular projetos para a nação. Foi em
um desses centros culturais de referência do Estado nacional que Coelho Rodrigues conseguiu
acesso em 1862, depois de dois anos de preparação para o ingresso.
Jovem tido como determinado, passou a conviver com personalidades marcantes de
dentro da Faculdade, formadores do pensamento da cultura nacional. Contato que certamente
rendeu conhecimentos acerca do Brasil de maneira geral, e dos pensamentos acadêmicos
compartilhados pelas experiências diversas dos jovens da sua geração. Coelho Rodrigues
estudou e foi amigo próximo de uma das personalidades que se tornou um dos mais
respeitados políticos de sua época, José Maria da Silva Paranhos Junior, o futuro Barão do

39
AGUIAR, Antônio Chrysippo. Coelho Rodrigues e a ordem de silêncio. 1. ed. Teresina: 2006.
40
ARAÚJO, Johny Santana de. Antônio Coelho Rodrigues: entre “o silêncio, a paciência e o tempo”. IN:
NASCIMENTO, F. A. S.; TAMANINI, P. A. História Culturas e Subjetividades: Abordagens e perspectivas.
Teresina: EDUFPI, 2015. p. 108 – 131.
41
QUEIROZ, Teresinha de Jesus Mesquita. Os literatos e a República: Clodoaldo Freitas, Higino Cunha e as
tiranias do tempo: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1994.
27

Rio Branco, considerado dentro da historiografia o pai da diplomacia brasileira, vindo de uma
elite do Rio de Janeiro para estudar na Faculdade do Recife.42
A instituição do Recife ganhou notoriedade pela formação de sujeitos que exerceram
papeis fundamentais dentro da história política, intelectual, artística e filosófica do Brasil.
Foram contemporâneos de Coelho Rodrigues nos espaços de exercício do poder
administrativo, também formados nessa instituição, além do futuro Barão do Rio Branco,
Joaquim Nabuco, considerado um dos principais líderes abolicionistas da escravidão no
Brasil; Tobias Barreto, um dos principais propagadores da filosofia positivista, foi amigo de
Coelho Rodrigues, apesar de que este possuía um pensamento diverso do positivismo. Além
de outros, como Epitácio Lindolfo da Silva Pessoa, Nilo Procópio Peçanha, Clóvis Beviláqua,
Ruy Barbosa de Oliveira, Antônio Frederico de Castro Alves.
Interessante notar que dos mais de 55 alunos que iniciaram o curso de formação em
Direito com Coelho Rodrigues, apenas dois da sua turma advinham do Piauí além dele. Eram
eles: Eliseu de Souza Martins, seu primo, e Segismundo Antônio Gonçalves.43 A esmagadora
maioria dos formandos da sua turma vinha das províncias mais desenvolvidas, como do
próprio Pernambuco e Rio de Janeiro, por exemplo. Isso é um indicativo que contribui para
justificar o fato de que no Piauí da época poucas eram as elites que tinham condição de
proporcionar aos filhos base para uma formação acadêmica, quando comparado com o
número de educandos pelas maiores províncias.
Podemos afirmar que Coelho Rodrigues foi um privilegiado, por advir da elite
piauiense da sua época, mas que também se fez pela genialidade. Não foi atoa que ao término
da sua formatura, dos 55 alunos que estavam concluindo o curso, apenas ele e outro colega,
Raymundo Honório da Silva, da província do Pernambuco, tenham obtido resultados exímios
em todas as matérias da formação. Isso é reflexo do afinco que Coelho Rodrigues tinha pelo
seu curso, e da importância devida à sua formação acadêmica. Por conta do seu desempenho,
além de uma excelente oratória, reconhecida pelos professores e colegas, recebeu merecida
honraria por parte destes sendo aclamado orador da turma, segundo nos informa Castello
Branco.44
A sua formatura aconteceu no ano de 1866, onde recebeu o título de Bacharel em
Direito com seus 20 anos de idade. Na época era comum que os jovens chegassem cedo à vida

42
O Barão do Rio Branco em linhas gerais foi diplomata, historiador, político e jornalista brasileiro. Para mais
informações, ver: VIANA FILHO, Luís. A vida do Barão do Rio Branco. São Paulo: Editora UNESP, 2008.
43
CASTELLO BRANCO, Francisco de Assis Couto. Antônio Coelho Rodrigues: Vida e Obra. TERESINA:
UFPI, 1987.
44
Idem.
28

adulta, se comparado com os padrões dos dias atuais. Coelho Rodrigues foi um dos mais
novos a se formar da sua turma. Dos colegas citados o mais velho foi o seu primo, Eliseu, que
ingressou na faculdade com a idade que Coelho Rodrigues saia formado dela, 20 anos.
Paranhos Júnior e Segismundo tinham idades próximas à de Coelho Rodrigues, ambos
praticamente um ano mais velhos que este.45
Segundo João Horácio, um contemporâneo de Coelho Rodrigues do tempo da
Faculdade, que escreveu sobre ele no Jornal do Comércio anos mais tarde, em 1890, este era
bastante reservado. Seu relato aponta que tímido, Coelho Rodrigues preferia se relacionar na
privacidade. Não tinha apreço por festas e badalações, segundo seu contemporâneo dos
tempos de faculdade. Pelo que afirmava Horácio, este não se recordava de ter visto Coelho
Rodrigues nos teatros, em bailes, “nem que houvesse dirigido um madrigal a alguma dama
galante”.46
Coelho Rodrigues achava melhor ficar no seu momento com os livros, estudando as
matérias do curso de direito da época da faculdade, e também aquelas discussões do seu
interesse pessoal, mediante relatado. Era daqueles estudantes que amavam mais aos livros do
que até mesmo seus próprios colegas de turma, segundo Horácio. Este afirmou que não era de
surpreender que em determinados momentos ele (Coelho Rodrigues) deixasse a sua república
de estudantes para se alojar em uma “cella do convento de Santo Antônio, no Recife, onde era
mais observador da regra da entrada pontual à noite do que os próprios religiosos”.47
Isso nos leva a pensar que para além de ser reservado quanto aos estudos, Coelho
Rodrigues poderia ter sido uma pessoa metódica e prática. Mais do que os clérigos, conforme
nos informou Horácio, ele estava atento às regras. Regras essas que eram ampliadas até
mesmo às suas relações com as mulheres, segundo o mesmo Horácio. Mediante relato deste,
quando soube que Coelho Rodrigues havia se casado, por conhecê-lo, já imaginou logo “que
elle não foi levado pelo attractivo de um primeiro romance, mas pela seducção que tem para
um professor de direito civil os actos e contratos”.48
Horácio enfatizou essas características como marcantes de Coelho Rodrigues. Este foi
representado pelo seu contemporâneo como uma pessoa de timidez visível quanto aos
relacionamentos, homem reservado e de muito apreço pelos livros. Tais determinações então
45
Para mais informações a respeito dos formandos em direito da Faculdade do Recife à época, ver: MARTINS,
Henrique. Lista geral dos bacharéis e doutores que tem obtido o respectivo grau na Faculdade de Direito do
Recife, 1828-1931. Recife: Diário da Manhã, 1931.
46
HORÁCIO, João. Cartas do Rio. Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 17 de julho de 1890. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=1449.
47
Idem.
48
Idem.
29

envoltas em um processo sociocultural complexo ao qual lançamos análise para


compreendermos um pouco acerca das supostas subjetividades de Coelho Rodrigues, e
também das possíveis intenções do seu amigo ao representa-lo dessa maneira.
Acompanhando os padrões de moralidade quanto aos relacionamentos pessoais e às
festas, Coelho Rodrigues esteve bastante imerso no universo das relações daquilo que
considerava moral dentro dos padrões da sua filosofia de vida. Isso pode contribuir para
explicar o fato das suas supostas posturas diante de determinadas situações envolvendo, por
exemplo, a maneira como se comportou diante do que eram seus atrativos românticos, o fato
de gostar de se relacionar na privacidade, além da pouca ou nenhuma participação em festas.
Por outro lado, a visão de Horácio ao representar dessa forma o seu amigo simplesmente pode
significar sua intensão de mostrar Coelho Rodrigues como uma personalidade apta ao
trabalho de que foi incumbido por supostamente ter os estudos como prioridade. João Horácio
escrevia sobre Coelho Rodrigues em 1890, momento em que foi nomeado pelo governo
provisório da República para a redação do primeiro projeto de código civil deste regime.
Essa interpretação, porém, não desconsidera a postura combativa de Coelho Rodrigues
a práticas tidas como libertinas numa visão de tradição religiosa. Os jogos e apostas,
atividades eminentemente noturnas, e que envolviam o que numa visão tradicional religiosa
seria o espaço do proibido, desviantes dos “bons costumes”, vão ser repudiados pelo
mesmo.49 Em determinadas publicações, como quando fez a sua exposição de motivos sobre o
projeto de código civil, falou a respeito dos supostos malefícios causados por essas atividades,
o que o fez incluir no seu projeto leis combativas aos jogos e apostas. Coelho Rodrigues foi
não somente tímido, segundo a intenção relatada por Horácio, mas possivelmente envolvido
pelos padrões morais da tradição religiosa que à época exerceu grande influência sobre os
moldes comportamentais a serem seguidos pelos homens de “bons costumes”, sobretudo em
torno dos sujeitos da sua geração, anterior à década de 1870, onde o positivismo e a
objetividade da ciência começaram a disputar maior espaço contra a religião e suas
explicações subjetivas da realidade.

49
Esse repúdio pessoal por jogos e apostas pode ser percebido em diversas falas de Coelho Rodrigues. No seu
próprio projeto de código civil ele destinou uma pequena parte para estabelecer o que seriam meios de controle
para o que considerava um mal da sociedade brasileira. Ver: RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do
Código Civil Brazileiro precedido de um projecto de lei preliminar. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1893.
30

Fig. 1. Coelho Rodrigues em sua juventude/Fonte: Acervo Digital da FUNDAJ.

Assim que Coelho Rodrigues concluiu a sua formação e com diploma em mãos,
regressou ao seu lugar de origem. Foi um período em que começou exercer a profissão para a
qual se preparou enquanto bacharel em direito. O mesmo passou a atuar como defensor
público, exercendo a profissão de advogado no Piauí. Muitas são as publicações nos jornais
piauienses da época, sobretudo no periódico O Piauhy divulgando o escritório de advocacia
de Coelho Rodrigues, oferecendo seus serviços de advogado, tanto criminal como quanto às
questões civis.50
Segundo relata Chaves, em um dos julgamentos públicos em que participou na capital
do Piauí, Teresina, no ano de 1866, pouco tempo após seu retorno do Recife, Coelho
Rodrigues foi observado pelo chefe do Partido Conservador da região à época, Simplício de
Souza Mendes, que teria destacado a sua genialidade.51 Simplício Mendes foi um dos
representantes mais respeitados da política conservadora no Piauí. Formado em medicina na
Faculdade da Bahia no ano de 1843, assumiu por quatro vezes o cargo de presidente da
província piauiense nas décadas de 1850 e 1860.

50
ANNUNCIOS. Jornal O Piauhy, Teresina, 10 de março de 1869. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=217204&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=1
7.
51
CHAVES, Joaquim. Obra completa. Teresina: FCMC, 1998.
31

Além da destacada atuação de Coelho Rodrigues na promotoria pública, outro fator


fundamental para o jovem ascender na vida política foi certamente a influência familiar.
Simplício Mendes era parente de Coelho Rodrigues. Mediante a sua genialidade e a
oportunidade proporcionada pelas redes de relações familiares que manteve com parentes
importantes no meio político foi convidado a participar da direção do Jornal A Moderação,
pelo então representante do Jornal, seu parente, Simplício, no ano de 1867.
Segundo Queiroz, a passagem dos jovens egressos da faculdade pelos jornais é um
percurso comum antes de ascenderem na carreira política da época. Todos os políticos
consagrados desse período, ou a maioria deles, passaram pelos jornais na sua fase juvenil.52
Não foi diferente com Coelho Rodrigues, que vai exercer importante função dentro das
colunas do Jornal citado, não somente como redator, a ele foi confiada a diretoria desse
importante meio de divulgação e comunicação da época.
Um fato curioso aconteceu quando Coelho Rodrigues foi designado para a função
conferida à frente da direção do Jornal A Moderação. Assim que tomou posse do cargo o
mesmo substituiu o nome desse periódico, que passou a se chamar O Piauhy. Esse jornal foi o
principal órgão de divulgação da propagada do partido ao qual Coelho Rodrigues foi filiado
durante toda a sua participação na política, o Partido Conservador, menos por um pequeno
período de dissidência quando se desentendeu com a ala conservadora do partido, e com o
próprio Simplício, como veremos posteriormente.
A mudança do nome do jornal pode significar algo interessante de analisarmos quanto
ao anseio de Coelho Rodrigues em enaltecer sua terra natal. Enquanto na época os jornais
possuíam nomes que faziam referências às tendências políticas dos envolvidos, a exemplo, no
Piauí dos Jornais o Liberal, o Conservador, o Amigo do Povo, o próprio a Moderação, Liga e
Progresso, Coelho Rodrigues inovou e acabou atribuindo certa identidade regional a um
órgão que foi tão importante na época como veículo de comunicação. Para além da tendência
política, o Jornal O Piauhy, pelo nome que lhe foi atribuído por Coelho Rodrigues, tornou-se
forte indicativo da pretensão que o mesmo tinha em homenagear a terra de onde se fez
homem de talento.
Na função de jornalista, além de se tornar o diretor, o mesmo foi redator e editor.
Araújo trabalha a atuação de Coelho Rodrigues no jornal como um período de militância
política do jovem que a pouco se formara em Direito. Apesar de ter exercido por pouco tempo
a direção e atuado na redação do periódico de 1866 a 1869, sua passagem pelo jornal foi um

52
QUEIROZ, Teresinha de Jesus Mesquita. Os literatos e a República: Clodoaldo Freitas, Higino Cunha e as
tiranias do tempo: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1994.
32

período onde o mesmo exerceu intensa mobilização no sentido de divulgar os acontecimentos


nacionais de grande repercussão. Um destes foi a Guerra contra o Paraguai, de 1864 a 1870,
período que coincidiu com parte da atuação de Coelho Rodrigues à frente do periódico O
Piauhy.53
Nas páginas desse Jornal, Coelho Rodrigues criticou veementemente o quão
prejudicial foi o recrutamento de piauienses para a guerra e o impacto causado pelo conflito
na província do Piauí. A política de recrutar homens para as frentes do conflito foi
responsável por ocasionar um déficit populacional masculino. Como estes eram os
responsáveis pelo provimento de alimento no lar, a consequência foi uma miséria social
gerada pela falta dos trabalhadores homens. Um dos fatores também mencionado por Coelho
Rodrigues e que acentuou a crise político-econômico-social foram as frequentes secas que
acompanhavam os anos da Guerra citada.54
Coelho Rodrigues fez amplas denúncias a respeito do suposto superfaturamento de 14
balsas responsáveis por conduzir 230 “voluntários da pátria” da região de Paranaguá à
Teresina.55 Tais críticas foram feitas enquanto o Piauí estava sob a administração do político
liberal Franklin Américo de Meneses Dória como presidente da província, entre 1864 e 1866.
O responsável por gerenciar os voluntários e os recursos para a manutenção dos corpos desses
recrutas foi o tenente-coronel José Lustosa da Cunha, futuro Barão de Santa Filomena, irmão
de um dos políticos liberais consolidados dentro da administração nacional na época, o
Conselheiro João Lustosa da Cunha Paranaguá, futuro Marquês de Paranaguá, na época
ministro da guerra de 1866 a 1868.
O tenente-coronel José Lustosa da Cunha, no Piauí, foi denunciado por Coelho
Rodrigues pelo fato de supostamente ter realizado desvios dos recursos que eram repassados
para a província e que deveriam ser aplicados nos corpos dos supostos voluntários. Tais
práticas corruptas, pelo que afirmou Coelho Rodrigues, acabaram sendo facilitadas pela ação
do presidente da província Franklin Dória, o qual foi acusado por malbaratar os dinheiros
públicos juntamente com o tenente-coronel. Ambos seriam da facção política do Marquês de

53
ARAÚJO, Johny Santana de. Antônio Coelho Rodrigues: entre “o silêncio, a paciência e o tempo”. IN:
NASCIMENTO, F. A. S.; TAMANINI, P. A. História Culturas e Subjetividades: Abordagens e perspectivas.
Teresina: EDUFPI, 2015. p. 108 – 131.
54
RODRIGUES, Antônio Coelho. Câmara dos Deputados. Jornal O Piauhy. Teresina, 20 de agosto de 1869.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=217204&pasta=ano%20187&pesq=%22Coelho%20Rodrig
ues%22&pagfis=89.
55
“Voluntários da pátria” foi o termo adotado para designar os recrutas piauienses enviados para combater na
guerra contra o Paraguai. ARAÚJO, Johny Santana de. Bravos do Piauí! Orgulhai-vos... A propaganda nos
jornais piauienses e a mobilização para a guerra do Paraguai. 2. Ed. Teresina: EDUFPI, 2015.
33

Paranaguá, que da capital do Brasil exercia grande influência sobre o Piauí por um longo
período durante a década de 1860.56
Coelho Rodrigues exerceu certa militância ao criticar a administração provincial e
questionar a pouca visibilidade dos órgãos públicos para com a província nesse período de
crise ocasionada pela guerra, generalizada pelas frequentes secas que castigavam a população.
Em vários dos seus discursos, tanto da época dos acontecimentos como posteriormente são
acidas as denúncias que fez do que considerava uma tirania em voga na sua província por
conta dos supostos desmandos administrativos e do domínio liberal-progressista. Para além da
militância de Coelho Rodrigues sobre o governo da província, as críticas foram motivadas,
sobretudo pela adversidade política na época em que o Partido Conservador encontrava-se
derrotado, e os liberais dominavam os postos de mando.
Na época em que o jovem Coelho Rodrigues atuou no meio jornalístico
constantemente foi criticado pelas posturas que assumia diante de políticos adversários,
sobretudo com relação aos partidários do Marquês de Paranaguá. Não são poucas as
referências feitas ao mesmo nos anos finais da década de 1860 pelo Jornal Liberal A
Imprensa. Isso é determinante do quanto Coelho Rodrigues incomodava os adversários, a
ponto de sempre ter espaço no Jornal para considerações a seu respeito.
Sua jovem entrada no meio político se deu no ano de 1869, deixando então a
administração do Jornal O Piauhy. Nessa época concorreu à eleição para Deputado Provincial
pelo Piauí, e conseguiu manter o primeiro lugar na disputa com um total de 591 votos. O
segundo e terceiro lugares foram, respectivamente, ocupados por Aureliano Ferreira de
Carvalho, com 281 votos, e Antônio Francisco de Salles, com um total de 275 votos.57
Segundo Castello Branco, Coelho Rodrigues por um tempo resistiu a atuar na política,
porém, por incentivo dos seus familiares, amigos e partidários, acabou concorrendo às
eleições. O mesmo já era considerado uma personalidade de grande capacidade de
representação do Piauí. Tanto os mais novos como os mais velhos o tinham como um líder na
província.58 Reflexo disso foi que na época recebeu mais que o dobro do número de votos em
relação ao segundo colocado na disputa pelo cargo de deputado, não desconsiderando

56
RODRIGUES, Antônio Coelho. Câmara dos Deputados. Jornal O Piauhy. Teresina, 20 de agosto de 1869.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=217204&pasta=ano%20187&pesq=%22Coelho%20Rodrig
ues%22&pagfis=89.
57
PIAUHY. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 03 de maio de 1869. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=364568_05&pasta=ano%20186&pesq=%22Coelho%20Ro
drigues%22&pagfis=15425.
58
CASTELLO BRANCO, Francisco de Assis Couto. Antônio Coelho Rodrigues: Vida e Obra. TERESINA:
UFPI, 1987.
34

certamente a virada dos ministérios imperiais no período de liberal para conservador, e a


influência exercida sobre as decisões político-partidárias nas províncias por conta das
mudanças.59
Certamente a sua eleição para um cargo que ocupou na capital do Brasil à época, Rio
de Janeiro, o causou assombro. Até então o jovem Coelho Rodrigues viveu os entornos da
província piauiense, tendo se deslocado para fora apenas para estudar na Faculdade de Direito
do Recife. Com a eleição vencida passou a conviver em uma região alienígena, onde
certamente a complexidade das relações que estabeleceu não se comparavam às velhas
relações políticas locais.
É esse o início do lançamento da sua imagem no cenário principal da política nacional
da época. O Rio de Janeiro era o coração da cultura brasileira, lugar para onde as
intelectualidades e políticos dos entornos provinciais visavam um dia conseguir acessar.60
Essa sua alçada no âmbito da capital do Brasil, ocupando função de deputado geral dentro da
maquina administrativa do Estado, foi fator decisivo para o nome de Coelho Rodrigues
figurar dentre as principais personalidades políticas e intelectuais reconhecidas
nacionalmente.

1.3. Político, professor e jurisconsulto

Torna-se objeto de análise deste tópico fazer um apanhado acerca do Coelho


Rodrigues político, professor e jurisconsulto. Assim que assumiu o seu primeiro cargo
elegível por piauienses para representar a sua província no cenário nacional, o jovem
deputado acabou ganhando notoriedade e ao mesmo tempo contraindo inimizades por conta
da sua postura combativa dentro da câmara dos deputados. Isso permitiu que Coelho
Rodrigues adquirisse notoriedade como um dos principais parlamentares da sua época.
Atemo-nos, sobretudo à maneira como o mesmo atuou nos cargos que ocupou e aos seus
pensamentos dentro das suas condições de existência.
Apesar de ter saído do interior da província do Piauí, Coelho Rodrigues não se
apresentou de maneira tímida diante dos políticos da capital. O mesmo mostrou-se com
aquele perfil de jovem militante até então atuante no meio jornalístico local. Tanto que no seu
59
Quando mudavam os ministérios imperiais a organização política nacional obedecia à ordem daquela facção
política que se encontrava no poder do país. Os ministros eram responsáveis por designar os presidentes de
província, que por sua vez faziam vencer as eleições aqueles políticos que fossem da situação do governo. Para
mais informações, ver: CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: a elite política. Teatro das
Sombras: a política imperial. 5ª edição – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
60
QUEIROZ, Teresinha de Jesus Mesquita. Os literatos e a República: Clodoaldo Freitas, Higino Cunha e as
tiranias do tempo: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1994.
35

primeiro discurso proferido na câmara atacou o já citado Conselheiro Paranaguá. O ocorrido


deu ampla visibilidade ao moço de 23 anos de idade que, segundo relatou João Horácio, em
fala de 1890, foi comentário de um senador chamado Otaviano. Este teria se expressado da
seguinte maneira ao escutar as críticas feitas por Coelho Rodrigues ao seu desafeto
Conselheiro Paranaguá: “É uma pena! Um rapaz tão moço e de tanto talento, já com esta
mania de suicídio!”.61
Não é de duvidar que realmente tal afirmação possa ter sido feita, a tirar pelo fato de
que Coelho Rodrigues era uma personalidade firme diante daquilo que sustentava, e contraiu
diversas inimizades no decorrer da vida por conta disso. João Horácio narrou que fazer o que
Coelho Rodrigues fez de entrar no Rio com a desavença contra o Conselheiro Paranaguá era o
mesmo que entrar em desavença com o próprio Imperador, por conta da alargada carreira
política do Conselheiro e o contato próximo que tinha do poder central do Império. O fato é
que Coelho Rodrigues não se deixava intimidar diante de dragões da política conservadora. 62
A sua atuação como deputado geral pelo Piauí foi acalorada, e bem reflexo dessa
postura. Dentre as discussões em que se envolveu na câmara, uma delas em 1870, conforme
dados do Jornal do Comércio, Coelho Rodrigues defendeu efetividade do poder público no
sentido de integrar as províncias menores, nisso incluiu o Piauí, dentro da economia nacional.
Para tanto teria discursado a respeito da importância da realização de obras públicas, como a
construção de vias de comércio mediante transporte ferroviário no sentido de dinamizar as
atividades econômicas locais.63 Coelho Rodrigues teria criticado o fato de o governo
privilegiar as províncias maiores, como São Paulo, Pernambuco e Bahia, em detrimento das
pequenas.64
Diante dos principais temas que o mesmo discutiu, muitos foram polêmicos e
divergentes da opinião geral, segundo os levantamentos do referido Jornal. Dentre um deles,
Coelho Rodrigues teria exposto uma opinião que percebemos durante toda a sua atuação na
política, referente aos direitos individuais, onde muitas vezes retorna essa questão em seus
discursos. A garantia dos direitos individuais foi uma constante no decorrer do Regime
Imperial. Estes eram direitos concedidos a determinados indivíduos ou sociedades

61
HORÁCIO, João. Cartas do Rio. Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 17 de julho de 1890. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=1449.
62
Idem.
63
DISCURSOS PRONUNCIADOS NA SESSÃO DE 09 DE AGOSTO DE 1870. Jornal do Comércio, Rio de
Janeiro, 28 de agosto de 1870. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_06&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=1190.
64
Idem.
36

empresariais por parte do poder público. Coelho Rodrigues criticava o fato de esses direitos
privilegiarem determinados indivíduos ou empresas em detrimento do bem geral, ou de
empresas menores. Para o mesmo o correto seria que fossem votadas medidas no sentido de
tornar esses privilégios isolados em uma lei que integrasse a sociedade de maneira comum.65
Nesse período em que esteve atuante como deputado geral com perfil militante, no ano
de 1870, Coelho Rodrigues muitas vezes esteve ausente nas sessões na câmara dos deputados.
Foi um período em que constantemente se deslocou do Rio de Janeiro para o Recife, em
Pernambuco. Isso se deu pelo fato de que o mesmo estava em processo de doutoramento pela
mesma instituição em que a pouco tempo havia concluído o curso de Direito. Assim que
acessou o cenário nacional como deputado pelo Piauí não demorou em aprofundar os seus
conhecimentos, por isso iniciou logo seu ingresso no doutorado.
A defesa de tese de Coelho Rodrigues aconteceu nos dias 03 e 04 de maio de 1870.66
A colação de grau foi marcada para o dia 07 do mesmo mês. No Diário de Pernambuco, um
dos principais periódicos do Recife, em Pernambuco à época, foi publicado o seu discurso
congrulatório após se tornar aquele que foi considerado o primeiro doutor de borla e capelo do
Brasil, tendo acabado de completar os seus 24 anos de idade no mês de abril.
No final do ano de 1870, Coelho Rodrigues fez uma viagem ao Piauí. Os jornais,
sobretudo o Jornal O Piauhy, fizeram a publicação da sua chegada.67 Mediante o que foi
relatado na publicação do Jornal citado, seus amigos quiseram lhe propor um baile de
recepção, acontecimento que não foi realizado no dia pretendido pelo fato de que Coelho
Rodrigues, ou Dr. Coelho, como era conhecido no Piauí principalmente pelos seus
correligionários, teria sido acometido com uma grave moléstia que o deixou impossibilitado
de participar do evento. Este acabou sendo adiado até a sua recuperação.68
Depois de alguns dias acamado, foi relatado no Jornal do Comércio que Coelho
Rodrigues havia se reestabelecido e com isso pôde então reunir-se com os amigos e
correligionários na festa preparada para a sua chegada. Segundo consta, houve uma

65
DISCURSOS PRONUNCIADOS NA SESSÃO DE 05 DE JULHO DE 1871. Jornal do Comércio. Rio de
Janeiro, 13 de julho de 1871. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_06&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=2867.
66
REVISTA DIÁRIA. Diário do Pernambuco. Recife, 28 de abril de 1870. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=029033_05&pasta=ano%20187&pesq=%22Coelho%20Ro
drigues%22&pagfis=745.
67
EMANCIPAÇÃO. Jornal O Piauhy. Teresina, 31 de outubro de 1870. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=217204&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=2
05.
68
INTERIOR. Jornal do Commércio. Rio de Janeiro, 15 de dezembro de 1870. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_06&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=1756.
37

arrecadação monetária por parte dos amigos do Dr. Coelho para a realização da festividade.
Parte do produto da arrecadação que havia sido feita foi requisitada por Coelho Rodrigues,
que pediu aos colegas que aplicassem a determinada quantia na libertação de seis a oito
crianças escravizadas do sexo feminino daquela localidade.69
Ainda segundo os relatores do Jornal, visto o aparente interesse de Coelho Rodrigues
em realizar o feito, seus colegas teriam o convidado para ser representante de uma sociedade
permanente em prol da libertação de escravos na província, a Associação Emancipadora
Piauiense. Mediante o que foi relatado pelos envolvidos ao Dr. Coelho, como proferido no
Jornal do Comércio, houve uma votação na sessão da assembleia legislativa provincial que
aprovou 5:000$ (Cinco contos de réis) para a finalidade da fundação desta sociedade. Constou
no relato que Coelho Rodrigues havia concordado em secundar os esforços da devida
associação, sendo ela criada, abaixo daquilo que a lei facultasse.70
Sobretudo a partir da segunda metade do século XIX no Brasil de maneira geral houve
grande aspiração pelo fim do regime escravo, gerando diversos movimentos associativos
criados nas províncias com essa finalidade, segundo informa Alonso.71 Pelo que se percebe
nas páginas do relato no Jornal do Comércio havia um interesse geral na capital do Piauí no
sentido de promover a fundação da Associação Emancipadora. Nesse sentido, resolveram
convidar por meio dos jornais além dos partidários cientes do que se planejava pela libertação
dos escravos, “a todos que desejassem auxiliar tão patriótico intento, para comparecerem no
dia 1° de novembro no paço da assembleia provincial, a fim de proceder-se alli à eleição dos
directores da Associação Emancipadora Piauhyense”.72
Como Coelho Rodrigues era considerado um dos principais representantes políticos
conservadores no Piauí nesse momento, foi um dos mais cotados para ser diretor da
associação e assinar com seu nome os convites que deveriam ser feitos pelos jornais aos
piauienses. A princípio teria havido uma recusa do Dr. Coelho em aceitar esse encargo,
segundo consta nos jornais. A sua justificativa foi de que sendo homem de ideias muito
definidas, e membro proeminente do seu partido, o Partido Conservador, era por isso o mais
suspeito perante os adversários de tomar a dianteira nesse convite. Posteriormente, por

69
INTERIOR. Jornal do Commércio. Rio de Janeiro, 15 de dezembro de 1870. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_06&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=1756.
70
Idem.
71
Para mais informações sobre os movimentos associativos em prol da abolição, ver: ALONSO, Ângela.
Associativismo avant la lettre – as sociedades pela abolição da escravidão no Brasil oitocentista. Sociologias,
Porto Alegre, ano 13, n° 28, set./dez. 2011, p. 166-199. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/soc/a/M5yHngkjXzwdQ6GFtfTtngN/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 02/jun./2021.
72
INTERIOR. op. cit.
38

insistência de Simplício Mendes, a pedido de Manoel José Espinola Jr., Coelho Rodrigues
teria assumido essa tarefa, oficiando um documento que o tornara principal idealizador do
movimento em prol da libertação dos escravos no Piauí.
Em pouco tempo de vigência da sociedade o Jornal do Comércio informou em
dezembro de 1870 que os números de escravos libertos no período foram significativos. Isso
fica perceptível em uma publicação onde foram apontados consideráveis números de escravos
alforriados por senhores na província piauiense:
Nesses últimos tempos foram libertados 41 escravos, a saber: por D. Rosaura
Moriz Barreto, de Marvão, 13; Pelo Sr. Francisco Xavier de Santo Euzébio,
de União, 14; pelo tenente-coronel José Amaro Machado, da Batalha, 8; pelo
cônego Mamede A. de Lima, 3; pelo major A. J. de Araújo Bacellar, 1; pelo
coronel Firmino Alves dos Santos, 1; pelo Dr. Francisco M. da Fonseca, 1;73
Apesar dessa iniciativa, Coelho Rodrigues não era partidário ao fim da escravidão
como uma medida imediata que deveria ser praticada oficialmente em todo o Império. Seu
feito em prol da libertação de escravos na província do Piauí não deve ser simplificado a
ponto de pensarmos que o mesmo foi um abolicionista, por exemplo. Sua maneira de pensar a
escravidão e o fim deste sistema não acompanhou a lógica do abolicionismo. Pelo contrário,
Coelho Rodrigues foi completamente adverso da maneira como os abolicionistas pensavam o
fim do regime. Mais adiante discutiremos esse ponto, quando na década de 1880 Coelho
Rodrigues, em discursos seus, fez criticas à maneira como a questão escravista estava sendo
tratada por aqueles que pretendiam o fim imediato do sistema.
Por hora pensemos a sua caminhada inicial dentro da política, percorrendo os espaços
do Rio de Janeiro, Pernambuco e Piauí, e os percalços da sua vida dentro desses espaços. No
ano de 1871, Coelho Rodrigues ainda na condição de Deputado Geral pelo Piauí, pretendeu
realizar no Recife o concurso que esteve aberto para a cadeira de lente substituto da Faculdade
de Direito daquela cidade, a mesma em que se formou, e a pouco se doutorou. Coelho
Rodrigues já figurava como um intelectual de sua época e deu mostras da sua capacidade
quando concorreu por uma das cadeiras mais disputadas na instrução, de professor do ensino
superior no Império.
O Jornal Diário de Pernambuco anunciou que em 07 de fevereiro de 1871, a
congregação dos lentes da Faculdade de Direito do Recife julgaram habilitados para
prestarem concurso para ocupar a cadeira de lente substituto, Antônio Coelho Rodrigues, José

73
INTERIOR. Jornal do Commércio. Rio de Janeiro, 15 de dezembro de 1870. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_06&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=1756.
39

Joaquim Tavares Belford e Graciliano de Paula Baptista Júnior.74 No dia 31 de março do


mesmo ano o referido Jornal publicou o resultado da prestação do concurso ao qual Coelho
Rodrigues conseguiu obter o maior número de votos e se tornou então o preferido para ocupar
a vaga.
Com relação à prestação do concurso o Diário de Pernambuco relatou que o exame a
que foram submetidos os candidatos, para além da argumentação entre os mesmos diante da
comissão responsável pela avaliação, levou em conta as próprias regras didáticas e educativas
de exposição de aulas, na forma do regulamento da instituição. Teria apontado ainda que o
resultado obtido esteve de acordo com a ampla opinião da maioria das pessoas que assistiram
à prestação do referido concurso. Coelho Rodrigues sempre foi muito referenciado como uma
personalidade que possuía uma oratória salutar, a qual foi aplaudida pelos examinadores e
demais presentes, mediante as considerações do Jornal citado.
Foi divulgado pelo mesmo Diário de Pernambuco o número de votos obtidos pelos
candidatos perante a avaliação dos 11 lentes. Para ocupar o primeiro lugar, quando aberta a
urna, Coelho Rodrigues havia conseguido adquirir nove votos e Tavares Belford, dois. Na
segunda votação, Tavares Belford ocupou o segundo lugar com um total de dez votos,
obtendo Baptista Júnior apenas um voto. No terceiro lugar ficou, consequentemente, Baptista
Júnior com nove votos, sendo que duas cédulas se encontraram em branco.75
Ao fazer considerações sobre os candidatos e os resultados obtidos, o dado Jornal
expôs o que seria uma opinião geral dos que assistiram o concurso. Em passagem do
Periódico foi considerado que: “o Sr. Dr. Coelho Rodrigues tem profundos conhecimentos das
matérias que formam o programa de ensino das nossas Faculdades de Direito, e no seu
concurso deu provas cabaes desses conhecimentos, agradando geralmente o seu modo de
argumentar”.76 A publicação foi finalizada apontando que a classificação, baseada nos exames
propostos, sancionou um ato que os assistentes já tinham lavrado, demonstrando que o
concurso foi digno dos merecimentos de Coelho Rodrigues, segundo considerado.
Após tomar posse do cargo ao qual prestou o concurso, Coelho Rodrigues por um
tempo ficou realizando viagens do Recife ao Rio de Janeiro, e vice-versa. Isso pelo fato de
que quando ingressou na faculdade como professor substituto ainda esteve atuante na política,

74
FACULDADE DE DIREITO. Diário de Pernambuco. Recife, 11 de fevereiro de 1871. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=029033_05&pasta=ano%20187&pesq=%22Coelho%20Ro
drigues%22&pagfis=2636.
75
REVISTA DIÁRIA. Diário de Pernambuco. Recife, 31 de março de 1871. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=029033_05&pasta=ano%20187&pesq=%22Coelho%20Ro
drigues%22&pagfis=2900.
76
Idem.
40

como deputado. Neste cargo, permaneceu até o ano de 1872. Esse é um período instável
dentro da política nacional a ponto da câmara ter sido dissolvida por meio de decreto imperial
baseado no poder moderador. Com as atividades políticas suspensas na capital do Brasil, foi
um momento em que Coelho Rodrigues embarcou no vapor Paraná com destino ao Recife,
para lá permanecer boa parte da década de 1870.
Durante essa década em que esteve mais presente no Recife, Coelho Rodrigues acabou
conhecendo Alcina Caldas da Silveira Lins, mulher com quem casou-se em 09 de janeiro de
1873, vivendo com a mesma por toda sua vida desde então. Alcina Lins Coelho Rodrigues,
como passou a se chamar após o casamento, advinha de uma família de nobres fazendeiros da
província do Pernambuco. Segundo informações do Jornal do Comércio, a mesma era neta de
Henrique Marques Lins, o Visconde de Utinga, pelo lado paterno e bisneta por parte da sua
mãe de dona Francisca Barretto, irmã de Francisco Pais Barretto, o Marquês do Recife.77
Ambos os lados da família de Alcina Lins era formada por influentes políticos e grandes
senhores de engenho da província.
Do casamento entre Coelho Rodrigues e Alcina Lins foram gerados 12 filhos, dentre
os quais houve advogado, engenheiro, tenente da armada, dentre outras funções, segundo
informação do Jornal do Comércio.78 Os filhos de Antônio Coelho Rodrigues foram: Manoel
Coelho Rodrigues, Anita Coelho Rodrigues, Ester Coelho Rodrigues, Elias Coelho Rodrigues
(acabou falecendo quando ainda era criança), Valério Coelho Rodrigues, Rubens Coelho
Rodrigues, Carlos Coelho Rodrigues, Zelma Coelho Rodrigues, Maria José Coelho
Rodrigues, Paulo Coelho Rodrigues, Helvécio Coelho Rodrigues e Elias Coelho Rodrigues (o
segundo a quem foi atribuído o nome).79
Apesar de ter estabelecido laços e constituído família no Recife, Coelho Rodrigues
não deixou de lado a política piauiense. No final do ano de 1872, apareceu concorrendo
novamente às eleições para o cargo de deputado pela sua província natal. Nessas eleições o
mesmo acabou perdendo força diante da ascensão liberal ao poder. A virada dos ministérios

77
GAZETILHA: CONSELHEIRO COELHO RODRIGUES. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 02 de abril de
1912. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_10&Pesq=%22codigo%20civil%22&pagfis=993
7.
78
Enquanto anunciava a morte de Antônio Coelho Rodrigues em 1912, o Jornal do Comércio apresentava as
funções que os filhos homens do mesmo desenvolviam até aquele momento. Segundo apresentado, Manoel
Coelho Rodrigues era advogado nos auditórios do Rio de Janeiro; Rubens Coelho Rodrigues, engenheiro; Carlos
Coelho Rodrigues, 1° Tenente da Armada; Helvécio Coelho Rodrigues, aspirante da armada; Valério Coelho
Rodrigues, funcionário da Estatística Comercial; Paulo Coelho Rodrigues, empregado no comércio. Para mais
informações, ver: Idem.
79
CARVALHO, Abimael Clementino Ferreira de. Família Coelho Rodrigues: Passado e Presente. Fortaleza:
Impr. Oficial do Ceará. 1987.
41

de Conservador para Liberal acabou prejudicando a sua ascensão política para o mandato que
se iniciava. Coelho Rodrigues ficou em quarto lugar na disputa com 104 votos. Os três mais
bem votados na eleição e, portanto, eleitos foram: Manoel Pinheiro de Miranda Osório com
186 votos; Padre Tomás de Morais Rêgo com 178 votos; e Agesiláo Pereira da Silva com 147
votos.80 Mesmo sem força política, onde a derrota era certa, Coelho Rodrigues conseguiu
angariar uma quantidade significativa de votos.
Acabando por perder essa eleição, durante determinado período, de 1873 em diante,
até o ano de 1876, Coelho Rodrigues esteve mais dedicado a viver no Recife atuando
exclusivamente como professor. É um período pacato para o mesmo no âmbito da política
nacional. No Jornal do Comércio são quase nulas as considerações a seu respeito dentro desse
recorte. As maiores movimentações da sua atuação no Recife como lente foram colhidas
principalmente no Diário de Pernambuco, pois o Jornal em questão esteve sempre publicando
notas a respeito de Coelho Rodrigues atuando como professor na Faculdade de Direito.
Nessa instituição, Coelho Rodrigues vai ser professor de Direito Romano, Direito
Internacional, Direito Natural e Direito Civil, segundo Aguiar.81 No período em que esteve
como professor na Faculdade de Direito do Recife, especificamente em 1875, aconteceu uma
das discussões filosóficas mais interessantes envolvendo o professor Coelho Rodrigues. Por
ser uma personalidade de convicções fortes, desde o berço familiar o mesmo carregava
consigo a filosofia cristã, e diferentemente da adesão em massa de muitos dos seus colegas às
ideias materialistas, racionalistas e positivistas em expansão na época, Coelho Rodrigues se
manteve crente das suas concepções religiosas. Segundo Santana:
As simpatias filosóficas de Coelho Rodrigues são determinantes para
compreender a fratura entre ele e as tendências da moda de então, lhe são
antipáticas o positivismo, o determinismo e o cientificismo. As perspectivas
citadas vinham se firmando cada vez mais na academia, e nos círculos
intelectuais de então. Coelho Rodrigues, por outro lado, possuía crenças
religiosas profundamente enraizadas, que o empurrava para outras
concepções contrárias ao cientificismo.82
A divergência de pensamento foi um fator que contribuiu para o embate ocorrido na
Faculdade do Recife. No referido episódio, Coelho Rodrigues esteve participando, juntamente
com o também professor José Joaquim Tavares Belfort, da banca de defesa da tese de

80
ELEIÇÕES NO PIAUHY. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1872. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_06&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=6258.
81
AGUIAR, Antônio Chrysippo. Coelho Rodrigues e a ordem de silêncio. 1. ed. Teresina: 2006.
82
ARAÚJO, Johny Santana de. Antônio Coelho Rodrigues: entre “o silêncio, a paciência e o tempo”. IN:
NASCIMENTO, F. A. S.; TAMANINI, P. A. História Culturas e Subjetividades: Abordagens e perspectivas.
Teresina: EDUFPI, 2015, p. 108 – 131, pp. 123-124.
42

doutorado de Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero.83 Este era um dos principais
propagadores da filosofia positivista e evolucionista na referida instituição, juntamente com
Tobias Barreto, além de Clóvis Beviláqua, formando a Escola do Recife com membros dessa
geração, sobretudo a partir da década de 1870.84 Na discussão, Silvio Romero criticou a
metafísica, apontando que a mesma já não existia mais, e nisso afirmou a predominância da
lógica, do progresso e da civilização, conceitos caros à filosofia positiva.85
No Jornal Diário de Pernambuco foi publicado o que teria se sucedido na defesa de
tese de Silvio Romero. Segundo consta nas suas páginas, no correr da discussão onde os
professores questionaram o doutorando quanto ao conteúdo do seu trabalho, este muitas vezes
deixou de responder. Em duas ocasiões Romero teria afirmado aos professores que a sua tese
era incompleta. Mediante o relato, assim que Coelho Rodrigues começou a argumentar
acabou colocando Romero em uma situação em que o mesmo, após diversas tentativas, não
conseguia sair.86
Em meio a retrucadas de uns e de outros, como sinal de protesto, Sílvio Romero teria
recolhido os livros e dito a Coelho Rodrigues “que fosse estudar para poder consigo
argumentar”87 e teria saído da sala chamando aos seus mestres de “canalhas ignorantes”. No
final, a congregação dos professores abriu processo contra o mesmo para que não obtivesse
aprovação.88 Foi enviada uma solicitação pela congregação dos lentes responsáveis pela
avaliação de Silvio Romero à presidência da província e ao governo para resolver se deveria o
examinando ser considerado reprovado.
Na Memória Histórica da Faculdade do Recife escrita por Coelho Rodrigues em 1876
acerca dos principais acontecimentos do ano letivo de 1875, o mesmo relembrou o ocorrido e
a lentidão do processo aberto contra Silvio Romero. Coelho Rodrigues apontou que o
ocorrido não deveria ficar impune como acabou se sucedendo. Afirmando não saber o motivo

83
DEFEZAS DE THESES. Diário de Pernambuco. Recife, 15 de março de 1875. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=029033_05&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=12364.
84
A Escola do Recife foi um movimento de difusão de um pensamento social calcado em concepções teóricas
que juntavam o positivismo com o evolucionismo determinista do darwinismo social e que tinha na questão da
raça e da miscigenação o foco de suas formulações doutrinárias, com pretensão de promover os melhoramentos
da nação partindo da mestiçagem como produto final da homogeneidade nacional. Para mais informações ver
em: SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil —
1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
85
Os propagadores da filosofia positivista na época, fortemente marcados pelo radicalismo científico, faziam
críticas à metafísica, à tradição supersticiosa e ao clericalismo conservador católico. Para mais informações ver
em: Idem.
86
DEFEZAS DE THESES, op. cit.
87
Idem.
88
AGUIAR, Antônio Chrysippo. Coelho Rodrigues e a ordem de silêncio. 1. ed. Teresina: 2006.
43

de o processo ter dormido longos meses, lamentou que a falta de provas tivesse sido utilizada
como justificativa para a não obrigatoriedade do réu se pronunciar pelo acontecido.89
Coelho Rodrigues na sua fala teria acrescentado com certa ironia que não soube como
tal justificativa foi possível. Isso pelo fato de que o comportamento de Romero apresentado
por Coelho Rodrigues como “descortês” foi presenciado por mais de cem testemunhas que
assistiam à ocasião solene. No fim das suas considerações, Coelho Rodrigues apelou para que
o novo ministro do Império conduzisse o caso com mais responsabilidade para que situações
como a ocorrida não tornassem a se repetir.90
Mesmo atuando como professor na Faculdade do Recife, no final do ano de 1876
Coelho Rodrigues concorreu às eleições para o cargo de Deputado Geral pelo Piauí. Esse foi
um período em que os conservadores estiveram divididos em facções. Considerados
dissidentes do Partido Conservador que concorreram às eleições, foram eles: Agesiláo Pereira
e Cônego Thomaz. Os dois membros oficiais lançados pelo Partido Conservador de centro
conseguiram se firmar nos primeiros lugares da disputa. Coelho Rodrigues com um total de
153 votos assumiu a primeira posição. O segundo lugar foi ocupado pelo seu correligionário,
Pires Ferreira com um total de 150 votos. Pelo Partido Liberal disputaram Franklin Dória e
Basson.91
Os anos posteriores da posse de Coelho Rodrigues em 1877 são de ampla participação
do mesmo em debates na câmara. Dentre um dos principais discursos proferidos, teria
criticado o fato de o governo imperial acabar destinando recursos para determinadas
províncias no norte que estavam enfrentando a seca desse período, enquanto outras não foram
contempladas com esses repasses. No Piauí, Coelho Rodrigues teria relatado que as
dificuldades quanto ao enfrentamento da seca foram enormes e existiu pouca ação do governo
ao olhar por aquela província.92
Em uma das sessões denunciou o estado de penúria por qual passavam alguns
municípios do Piauí. Não somente o Piauí, em linhas gerais o nordeste brasileiro enfrentava a
maior seca da sua história, por volta de 1876 a 1879. Secreto argumentou sobre o estado

89
RODRIGUES, Antônio Coelho. Memória Histórica da Faculdade de Direito do Recife. Rio de Janeiro:
Typografia Nacional, 1876.
90
Idem.
91
NOTÍCIAS DO NORTE DO IMPÉRIO. Diário de Pernambuco. Recife, 14 de dezembro de 1876. Disponível
em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=029033_05&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=16559.
92
CÂMARA DOS SRS. DEPUTADOS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 17 de maio de 1877. Disponível
em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_06&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=15886.
44

desolador pelo qual passava o nordeste e, sobretudo, a província do Ceará, em meio à seca.
Segundo a mesma, o número de mortos ocasionado pela fome e pela varíola foram
assustadores. Muitos retirantes saíam das zonas afetadas na tentativa de fugir da miséria.
Foram reclamadas pelos presidentes das províncias mais afetadas como Ceará, Rio Grande do
Norte, e pelo próprio Piauí, ajuda financeira ao governo imperial na tentativa de amenizar os
efeitos da seca.93
Segundo consta nas páginas do Jornal do Comércio, Coelho Rodrigues, em sessão na
câmara, afirmou ter recebido constantemente cartas particulares do presidente da província e
do chefe de polícia do Piauí nesse período, pedindo que na distribuição do socorro por parte
do governo imperial a província piauiense fosse contemplada. As consequências da falta de
ajuda do governo central e a seca na região foram, por exemplo, a diminuição das despesas
por conta da falta de dinheiro nos cofres provinciais, isso gerou redução das forças policiais,
extinção de diversas cadeiras de instrução primária, dentre outros fatores.94 Além disso, a seca
ocasionou a morte de grande número de piauienses, sobretudo aqueles que não tinham como
se alimentar por falta de recursos.
Em outra discussão, no ano de 1877, Coelho Rodrigues teria defendido aquilo que já
havia feito antes, quanto aos direitos individuais como empecilho para o desenvolvimento
nacional e prejudicial ao bem comum. Uma crítica feita ao governo foi com relação aos
privilégios destinados a determinadas empresas e indústrias que dominavam o mercado de
certos bens. Segundo consta no relatório do Jornal do Comércio da sessão da câmara dos
deputados, Coelho Rodrigues teria considerado essa ação do governo bastante prejudicial para
outras empresas concorrentes, sobretudo empresas nacionais, que não conseguiam se
desenvolver perante as grandes detentoras internacionais dos privilégios governamentais.95
Coelho Rodrigues foi favorável a um projeto discutido por Fernando Osório, segundo
relatado na sessão da câmara no mesmo Jornal, significativo para exemplificar as
considerações do parágrafo anterior. No seu discurso, Osório teria defendido que o governo
imperial devesse investir para que empresas nacionais desenvolvessem no Brasil a produção

93
SECRETO, María Verónica. A seca de 1877-1879 no Império do Brasil: dos ensinamentos do senador Pompeu
aos de André Rebouças: trabalhadores e mercado. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.27,
n.1, jan.-mar. 2020, p.33-51.
94
CÂMARA DOS SRS. DEPUTADOS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 17 de maio de 1877. Disponível
em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_06&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=15886.
95
CÂMARA DOS SRS. DEPUTADOS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 18 de maio de 1877. Disponível
em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_06&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=15894.
45

de enxofre e salitre, já que o país era rico nessas matérias primas. Segundo o mesmo, essa
seria uma oportunidade para que a nação se limitasse à dependência estrangeira, no caso às
empresas privilegiadas pelo governo, e assim desenvolvesse a sua indústria e,
consequentemente, o seu mercado interno.96
Já no final do ano de 1877, Coelho Rodrigues faltou em algumas sessões na câmara. O
motivo maior foi o falecimento da sua mãe, Ana Joaquina, em Picos, no Piauí. Tanto o Jornal
do Comércio como o Diário de Pernambuco lamentaram a morte da mãe de Coelho
Rodrigues. Foi um período em que deixou as suas atividades no Rio, se deslocando ao Piauí
para prestar homenagens no leito de morte àquela que lhe deu a vida.97
Retomando às suas atividades nos anos posteriores, Coelho Rodrigues passou a ser
pouco referenciado dentro da política. Foi um período em que esteve mais atuante na
Faculdade do Recife. No dia 20 de agosto de 1878 foi publicado no Diário de Pernambuco a
sua nomeação a lente catedrático da Faculdade de Direito daquela cidade, tornando-se
membro efetivo da instituição. Coelho Rodrigues se efetivou como professor de Direito Civil,
passando inicialmente a ocupar a primeira cadeira do quarto ano de ensino.98
Como catedrático e residente no Recife, Coelho Rodrigues passou a se dedicar com
apreço ao aprofundamento dos seus conhecimentos no campo do direito, sobretudo direito
civil pátrio, conforme observado nas publicações do Diário de Pernambuco. Partindo da
principal fonte tida como base para a consolidação de uma legislação nacional efetiva, o
Direito Romano, matéria de que era profundo conhecedor, Coelho Rodrigues foi responsável
pela tradução das Institutas do Imperador Justiniano, do latim, língua que como poucos na
época dominava bem, segundo as referências nos jornais, para o português.
A tradução das Institutas lhe rendeu merecido reconhecimento por parte de
personalidades importantes, e o alçou ao conhecimento do governo como um dos principais
intelectuais a contribuir com seus esforços em torno do aprimoramento legislativo da nação,
como veremos adiante. O fato é que pouco tempo depois de concluir a tradução, no Diário de
Pernambuco foi publicado um artigo onde Antônio Joaquim Ribas parabenizou Coelho

96
DISCURSO PRONUNCIADO NA SESSÃO DE 19 DE JUNHO DE 1877. Jornal do Comércio. Rio de
Janeiro, 29 de junho de 1877. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_06&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=16203.
97
NITHEROHY. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 05 de outubro de 1877. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_06&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=16902.
98
TELEGRAMMAS. Diário de Pernambuco. Recife, 20 de agosto de 1878. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=029033_05&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=20576.
46

Rodrigues acerca do que considerou um importante feito em matéria constitucional.99


Também foi enviado requerimento ao diretor da Faculdade do Recife para que se
reconhecesse e, nesse sentido, fosse Coelho Rodrigues premiado pelo serviço realizado à
nação.100
Dentro desse período, final da década de 1870, Coelho Rodrigues foi, além de
catedrático da Faculdade, um dos principais membros da Sociedade Auxiliadora da
Agricultura em Pernambuco. Essa Sociedade era responsável pelo incentivo ao setor agrícola
das províncias do norte em um período onde a crise econômica dessa atividade se acentuava,
generalizando-se com a seca. Coelho Rodrigues proferiu discursos importantes na
congregação que reunia diversos setores da agricultura, principalmente senhores de engenho,
como consta em publicação no Diário de Pernambuco, de 1879.101
No discurso de inauguração da Sociedade, Coelho Rodrigues teria externado opiniões
que, segundo os relatores do Jornal, agitaram o auditório pela sua eloquência em proferir os
assuntos. Ao iniciar sua fala, teria se desculpado por afirmar que seu discurso seria divergente
da opinião da maioria dos presentes. O mesmo teria acabado criticando duramente o que
considerou os maiores males do brasileiro, que seriam o luxo e a preguiça. Ao discursar a
respeito, Coelho Rodrigues teria apontado que os criadores desses males são a herança
necessária e a escravidão. Quanto à herança necessária, segundo relatado, acreditava que os
filhos acabavam, ao terem garantido o direito aos bens, tornando-se preguiçosos e não
valorizavam o que ganhavam dos ascendentes. Essa é uma crítica singular reflexa da sua
postura, principalmente pelo fato de se dirigir às elites ao proferir suas opiniões.102
O outro fator que Coelho Rodrigues teria considerado um mal do brasileiro foi a
escravidão. A dependência dos serviços dos escravos teria gerado indivíduos preguiçosos que
tudo tem nas mãos quando querem. Mediante relatado no seu discurso publicado no Jornal,
complementou que a escravidão estava praticamente morta na sua fonte, referindo-se ao fim
do tráfico, e que não deveria mais incomodar para o futuro, falando a respeito do seu fim.

99
REVISTA DIÁRIA. Diário de Pernambuco. Recife, 12 de agosto de 1879. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=029033_05&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=20576.
100
PARTE OFICIAL. Diário de Pernambuco. Recife, 20 de agosto de 1879. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=029033_05&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=22993.
101
CONGRESSO AGRÍCOLA. Diário de Pernambuco. Recife, 14 de novembro de1878. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=029033_05&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=21159.
102
CONGRESSO AGRÍCOLA. Diário de Pernambuco. Recife, 07 de dezembro de 1878. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=029033_05&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=21326.
47

Dentro do seu discurso publicado no Diário de Pernambuco ainda falou a respeito do


incentivo do governo à imigração estrangeira. Na opinião de Coelho Rodrigues a imigração
era um peso para os cofres públicos, e em nada contribuíam para o desenvolvimento nacional.
O mesmo acreditava que o dinheiro seria mais bem aplicado no incentivo à construção de
obras públicas, empregando aqueles que estavam desocupados em decorrência da seca no
norte.103 Esse era um período em que o governo estava, no sentido econômico, buscando
satisfazer os interesses sulistas de incentivo ao trabalho livre. Além disso, a imigração
serviria, em um sentido de teoria racial da época, para “embranquecer” a sociedade e,
portanto, torná-la “evoluída socialmente”, segundo nos informa Munanga.104
As lutas políticas de Coelho Rodrigues se intensificaram no decorrer da década de
1880. Nesse período as discussões em torno da vigência do regime escravista são ampliadas.
Além disso, foi um momento em que o mesmo começou a adquirir notoriedade para a
execução da obra legislativa de direito civil, como revisor da parte do projeto de código civil
de Joaquim Felício dos Santos referente aos direitos familiares.
Por partes, é importante salientar que Coelho Rodrigues iniciou a década de 1880
sendo agraciado com o título de Comendador da Ordem de Cristo. Esse título se constituía em
um aparato simbólico do regime imperial como uma demonstração de estima por parte do
monarca para com o sujeito que o recebia, por conta de feitos importantes deste à nação. O
título lhe foi conferido por traduzir as Institutas do Imperador Justiniano, que como vimos, era
um importante documento do Direito Romano tomado por base para o estabelecimento do
direito pátrio. Recebeu essa honraria juntamente com o lente da Faculdade do Recife, José
Joaquim Tavares Belfort, e outro professor da Faculdade de São Paulo, Francisco Justino
Gonçalves de Andrade.105
Já no ano de 1881, Coelho Rodrigues acabou se tornando um dos jurisconsultos
escolhidos para compor uma comissão responsável por dar parecer ao projeto de código civil
que foi incumbido pelo então ministro da justiça Manoel Pinto de Sousa Dantas à
responsabilidade de Joaquim Felício dos Santos. Além de Coelho Rodrigues, a comissão foi

103
CONGRESSO AGRÍCOLA. Diário de Pernambuco. Recife, 08 de dezembro de 1878. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=029033_05&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=21334.
104
Acerca das teorias do embranquecimento, sobretudo a respeito das políticas que viam um processo de
miscigenação como aspecto negativo para a formação nacional, ver: MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a
mestiçagem no Brasil: Identidade mestiça versus identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2020. Ver
também: SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil
— 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
105
GAZETILHA. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 03 de outubro de 1880. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=1730.
48

composta por: Conselheiros Lafayette Rodrigues Pereira e Antônio Joaquim Ribas, Francisco
Justino Gonçalves de Andrade e Antônio Ferreira Vianna.106 Lembrando que Joaquim Ribas
foi um dos políticos que havia reconhecido o feito de Coelho Rodrigues pela tradução das
Institutas de Justiniano, algo que certamente pode ter contribuído para a sua nomeação como
membro da comissão revisora.
Essa foi uma época de intensa mobilização no sentido de proporcionar ao Brasil uma
legislação renovada que contemplasse os direitos e obrigações civis da nação, e assim
atualizasse o seu sistema de leis baseado até então nas Ordenações Filipinas de Portugal. 107
Essa ampliação dos debates em torno da legislação civil encontrou um período também de
ampliação dos debates quanto à questão escravista. Como a discussão mais apurada em torno
do processo de codificação compõe o terceiro capítulo desse trabalho, nos atemos nesta parte,
sobretudo, aos eventos gerais em torno da participação de Coelho Rodrigues enquanto
jurisconsulto e, mais precisamente, aos seus pensamentos em torno da escravidão.
Segundo nos aponta Grinberg, durante muitos anos tanto no Império, desde a
Independência, como no início da República houve dificuldade no sentido de realizar um
projeto de codificação civil no Brasil. Isso se deu pelo fato das “disputas em torno da
definição do conceito de cidadania em fins do século XIX e início do XX”. 108 Enquanto na
sociedade a partir principalmente da década de 1870 havia uma grande aspiração pelos ideais
de liberdade e a construção de um Estado liberal e republicano,109 convivia-se
concomitantemente com um regime tradicional de trabalho escravo. Nesse sentido foi difícil
definir quem eram os cidadãos contemplados pela legislação civil na época.
Coelho Rodrigues foi um dos nomes da jurisprudência pátria e também da
intelectualidade jurídica, a fazer parte dos membros que tinham como finalidade prover a
nação de um projeto de legislação renovado. Por ser um dos principais professores de direito à
época, político e jurista reconhecido foi convidado a fazer parte, não somente da comissão
que deu parecer sobre o trabalho de Joaquim Felício, mas das duas comissões especiais
criadas posteriormente ainda no regime imperial para levar a efeito a execução da obra

106
GAZETILHA. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 05 de julho de 1881. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=3519.
107
As Ordenações Filipinas formavam a principal base teórica legislativa vigente no Brasil importada da Europa,
mais especificamente de Portugal e Espanha durante a União Ibérica, organizada para essas nações ainda no
século XVII, vigentes no Brasil até a promulgação do Código Civil pátrio, em 1916. Para mais informações, ver:
GOMES, Orlando. Raízes históricas e sociológicas do Código Civil brasileiro. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes,
2006.
108
GRINBERG, Keila. Código Civil e cidadania. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001, p. 10.
109
ALONSO, Ângela. Ideias em movimento: A geração 1870 na crise do Brasil-Império. São Paulo: Paz e Terra,
2002.
49

legislativa, processo que compreende toda a década de 1880, até o final do regime, como
veremos adiante.
No ano de 1882, Coelho Rodrigues apareceu participando na fundação da Faculdade
Livre de Ciências Sociais e Jurídicas do Rio de Janeiro. Nessa instituição vai também atuar
como professor, assim como conferencista pela Associação Promotora da Instrução, na
condição de Comendador. Em uma das conferências populares que fez por essa associação,
publicada no Jornal do Comércio, Coelho Rodrigues mais uma vez teria exposto seu
pensamento contrário à imigração como fator positivo para o país. O mesmo teria apontado
que em vez disso a mão-de-obra nacional seria o melhor meio para garantir que a população
não caísse na miséria absoluta. Assim como fez pela Sociedade Auxiliadora da Agricultura
em Pernambuco, Coelho Rodrigues teria sustentado no Rio de Janeiro o que seriam os vícios
crônicos que perseguiam a população e a economia: A preguiça e o luxo.110
Em 1883, Coelho Rodrigues apareceu ao lado das personalidades políticas de destaque
à época na fundação da Liga do Ensino no Brasil na corte imperial. A Liga do Ensino foi uma
associação criada para proporcionar os melhoramentos científicos do ensino na capital, assim
como pensar em estratégias para melhorar as condições de trabalho dos professores. Fizeram
parte dessa associação 50 membros. Alguns deles, além de Coelho Rodrigues, foram: Ruy
Barbosa, Capistrano de Abreu, o seu ex-aluno Silvio Romero, dentre outros.111
Como membro dessa associação, Coelho Rodrigues fez diversas conferências, as quais
foram importantes para compreendermos sua opinião a respeito, por exemplo, da crise que
assolava o regime imperial e o sistema escravista. Em uma destas conferências, no ano de
1883, publicada no Jornal do Comércio, intitulada “Transição do trabalho escravo para o
trabalho livre”, Coelho Rodrigues teria exposto o seu pensamento a respeito daquilo que
pretendeu que fosse estabelecido quanto à legitimidade do regime imperial e o escravismo.112
Como já adiantado anteriormente, Coelho Rodrigues nunca foi afeito ao
abolicionismo, apesar de haver determinadas medidas tomadas pelo mesmo que podem
parecer confusas, como a criação da Sociedade Emancipadora Piauiense. Na verdade, muitos

110
CONFERÊNCIAS POPULARES. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 01 de agosto de 1882. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=6114.
111
GAZETILHA: A LIGA DO ENSINO NO BRASIL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 13 de outubro de
1883. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=8982.
112
CONFERÊNCIA DA GLÓRIA. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 10 de novembro de 1883. Disponível
em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=9166.
50

abolicionistas como, por exemplo, Álvaro de Oliveira, vão tachar Coelho Rodrigues de
escravocrata por conta dos discursos que proferiu quando como foi conferencista, participante
na então associação Liga do Ensino no Brasil.113
O fato é que Coelho Rodrigues possuiu uma postura relativamente singular diante das
questões referentes a esse amplo movimento em torno da vigência do regime escravista.
Enquanto de um lado estavam os abolicionistas em sua maioria com pretensões de abolir a
escravidão, por outro os mais conservadores, e principalmente, beneficiários do sistema,
queriam a sua vigência. Coelho Rodrigues manteve uma posição conciliatória, porém com
tendências à defesa dos senhores de escravos.
O mesmo acreditava que a radicalidade com que os abolicionistas pretendiam acabar
com o regime convulsionaria a nação. Coelho Rodrigues não negava o fim do sistema
escravista, mas pretendia que esse ocorresse de forma gradual e lenta. Sua estratégia consistia
em que o governo adotasse medidas que amparassem tanto os senhores como os egressos da
condição de escravidão. Na conferência que realizou sob o título citado acima, o mesmo teria
apontado que os escravos deveriam continuar na condição de escravidão e que no decorrer do
tempo adquiririam a liberdade, passando a receber salários pelos seus serviços, tornando-se
trabalhadores assalariados.114
Coelho Rodrigues acreditava que essa seria a melhor maneira para sair da crise sem
que a população sofresse as consequências. O fim do regime de maneira imediata e impensada
acabaria, segundo o mesmo, lançando à miséria uma população de indivíduos que até então só
foram ensinados a prestar serviços aos seus senhores. Os escravos, na sua visão, deveriam
aprender a viver na sociedade civil e adquirir meios por parte do Estado para manterem-se pós
o fim do regime que até então os reduzia à condição dos serviços obrigatórios.
Por outro lado, e mais pendente a este, Coelho Rodrigues fez ampla defesa dos
senhores de escravos. O mesmo adveio da elite e certamente não assumiria postura diferente
ao defender interesses dos quais partilhou. No Recife, enquanto associado à Sociedade
Agrícola, esteve do lado dos grandes fazendeiros em prol da agricultura e, portanto, do
sistema que operava essa atividade no norte. Os familiares da sua esposa eram donos de
engenho em Pernambuco. Certamente que o lugar social ocupado por Coelho Rodrigues vai
113
AO CLUB DA LAVOURA E DO COMÉRCIO. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 02 de julho de 1884.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=10698.
114
CONFERÊNCIA DA GLÓRIA. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 10 de novembro de 1883. Disponível
em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=9166.
51

ser definidor para que o mesmo também saísse em defesa das elites escravocratas. Nesse
sentido, posteriormente, veremos o mesmo reclamando ao Estado que indenizasse os senhores
pela perda da sua propriedade escrava.115
Em 1884, com a publicação das “Cartas de um lavrador”, o mesmo criticou aquilo que
considerou fraqueza do Imperador para lidar com os abolicionistas, principalmente no Norte.
Denunciou que a abolição decretada no Ceará acarretou uma negociata de escravos para o sul,
antes que a garantia em si da liberdade. Novamente defendeu que o fim do regime não deveria
ocorrer de maneira imediata, mas que era importante para ambos os lados, senhores e
escravos, que estratégias fossem adotadas baseadas na libertação lenta dos escravizados, e
assim a sua incorporação na sociedade civil sem que prejuízos fossem gerados, sobretudo para
os senhores que, na visão de Coelho Rodrigues, eram os motores da economia.116
Mesmo não sendo favorável ao fim imediato da escravidão, Coelho Rodrigues não
deixou de votar a favor da extinção deste regime. No ano de 1888 quando foi posta em
discussão para ser votada a lei Áurea na câmara Coelho Rodrigues esteve atuando novamente
como Deputado pelo Piauí, desde 1886, quando disputando contra Joaquim Antônio da Cruz,
venceu a eleição.117 Com a maioria votando pelo fim da escravidão, a lei acabou sendo
aprovada, incluindo voto de Coelho Rodrigues, apesar de vencido nas suas opiniões.118
Mesmo com o fim do regime, Coelho Rodrigues não deixou de expor seus
pensamentos quanto ao que defendia. Isso é notório em um discurso seu publicado no Jornal
do Comércio, onde teria feito uma comparação entre seus pensamentos do ano em que
escreveu as “Cartas de um lavrador” (1884) e os de 1888 para mostrar que não mudaram. O
mesmo se defendeu de críticas de abolicionistas que o consideraram um escravista pelas
posições que assumiu. Segundo relatado no dado Jornal, Coelho Rodrigues acabara afirmando
que não possuiu escravos, e que participou até mesmo de movimentos em prol da libertação
destes, como principal membro da Sociedade Emancipadora Piauiense. Sua postura foi de
conciliador, tornando mesmo a afirmar que a divida do Estado era dupla: “é divida para o

115
CONFERÊNCIA DA GLÓRIA. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 10 de novembro de 1883. Disponível
em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=9166.
116
RODRIGUES, Antônio Coelho. Manual do Súbdito Fiel, ou Cartas de um Lavrador a sua majestade O
Imperador. Rio de Janeiro, 1884.
117
GAZETILHA. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 24 de janeiro de 1886. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=14561.
118
ASSEMBLEIA GERAL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 10 de maio de 1888. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=20268.
52

senhor que ficou privado do seu bem, e para o liberto, que não pode ser votado ao
abandono”.119
Já no final do ano de 1888, em um discurso proferido na câmara dos deputados,
Coelho Rodrigues teria feito algumas considerações a respeito da crise do regime político por
conta do fim da escravidão. Tais considerações são importantes para pensarmos a sua postura
política diante da ampla discussão em torno da vigência do Império. O mesmo se mostrou
tendente ao republicanismo, pois, segundo consta em publicação do Jornal do Comércio, teria
afirmado ser mais simpático a este regime do que à própria monarquia, porém no Brasil, o
mesmo conseguia ter maior confiança no regime monárquico. Coelho Rodrigues tinha medo
da indefinição republicana. O Império de certa forma, por já ser conhecido, era mais
confortável, garantidor da ordem, e, portanto, da integridade nacional, algo muito prezado
pelo mesmo.120
Ao mesmo tempo em que lançou suas considerações a respeito da crise imperial,
Coelho Rodrigues teria criticado a maneira como foi feita a representação em torno da
imagem da princesa Isabel como a salvadora dos escravos. O mesmo teria afirmado que não
foi o amor pelos escravizados que motivou a libertação. Ainda segundo consta no Jornal do
Comércio, questionou onde estava a intervenção dos partidários do abolicionismo e a
iniciativa papal dentro desse processo. O Jornal mostra que Coelho Rodrigues teria finalizado
sua fala criticando a falta de assistência aos recém-libertos que ficaram desassistidos pelo
governo, o qual destinava boa parte de seus recursos à contratação de “estrangeiros de olhos
azuis e cabelos de ouro”, em vez de olhar pela sua população nacional, sobretudo a população
desassistida, os egressos da escravidão.121
Aproximando-se do fim do regime imperial, no ano de 1889, podemos pensar
mediante passagens no Jornal do Comércio, que Coelho Rodrigues se empenhou em
promover a sua imagem ao governo enquanto jurisconsulto preocupado com a organização da
legislação civil. Em um discurso do mesmo no referido Jornal, teria feito considerações sobre
a história da codificação, detendo-se mais na ultima tentativa, a que participou como revisor,
no trabalho de Joaquim Felício. Nessa história relatada e publicada no Jornal do Comércio,
Coelho Rodrigues quis promover a sua imagem como o sujeito que dentro da comissão que se
119
ASSEMBLEIA GERAL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 24 de junho de 1888. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=20562.
120
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 18 de novembro de 1888. Disponível
em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=21636.
121
Idem.
53

criou após a tentativa de Joaquim Felício para a execução da obra de codificação, logo
realizou a sua parte referente aos direitos familiares, dando importância a essa matéria.
Além disso, o próprio sujeito teria narrado que criou um plano de execução da obra
por completo e tinha a intenção de apresenta-lo à ex-comissão, intitulado “Plano geral do
projeto de Código Civil Brasileiro”. Nesse plano, Coelho Rodrigues expôs em linhas gerais os
principais elementos necessários para a composição de um Código Civil, baseado na
experiência dos países que na sua visão seriam civilizados e as necessidades práticas do
Brasil, além da maneira como pretendia realizar o seu projeto. Dentre uma das ideias do
plano, o mesmo pretendia a eliminação de tudo que pudesse lembrar a escravidão.
Apresentando a proposta do plano na íntegra publicada no Jornal do Comércio, Coelho
Rodrigues teria afirmado ainda que caso o governo lhe confiasse a realização deste trabalho,
ele estaria disposto a se empenhar para a sua feitura.122
Adiante entraremos nessa discussão, para pensarmos o quanto Coelho Rodrigues foi
participe dentro do processo de codificação civil no Brasil. Apesar de relativamente
esquecido, o mesmo foi um dos principais responsáveis por dotar o Brasil de um corpo
legislativo renovado com direitos e obrigações aos cidadãos em um período onde as
codificações tornavam-se símbolo do progresso e do desenvolvimento nacional. No decorrer
do ano de 1889, Coelho Rodrigues vai participar de algumas reuniões com uma comissão de
jurisconsultos formada por: Ele (Coelho Rodrigues), Conselheiro Olegário Herculano de
Aquino e Castro, José da Silva Costa, José Júlio de Albuquerque e Conselheiro Affonso
Augusto Moreira Penna, sendo presidida pelo próprio imperador D. Pedro II e o Conselheiro
Manuel Pinto de Souza Dantas. É nesse período, bem próximo do fim do regime imperial, que
Coelho Rodrigues vai adquirir o título de Conselheiro de sua Majestade por conduzir um
trabalho de tanta importância à nação.123
Quando sobreveio o golpe que derrubou a monarquia o então Conselheiro Coelho
Rodrigues foi contratado pelo ministro da justiça Manoel Ferraz de Campos Salles, do
governo do Marechal Deodoro da Fonseca para a realização do projeto de código civil, o
primeiro da República no ano de 1890. Antes disso, Coelho Rodrigues já havia sido

122
JURISPRUDÊNCIA. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 1889. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=22065.
123
GAZETILHA: CÓDIGO CIVIL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 11 de setembro de 1889. Disponível
em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=23578.
54

incumbido pelo mesmo ministro da redação do projeto de lei que instituía o casamento civil
no Brasil ainda no final do ano de 1889.
Quando contratado para a redação do projeto de código civil, o nome de Coelho
Rodrigues foi cotado pelos correligionários do Piauí para assumir o cargo de senador como
um dos principais representantes do seu mais novo partido, o Partido Federal. Por haver
fechado contrato com o governo para a realização da obra legislativa, acabou dispensando
com pesar a sua indicação naquele ano. Esse foi um dos cargos que mais almejou dentro da
política, segundo o mesmo, mas ao se encarregar do contrato fechado com o governo acabou
sendo impedido de assumi-lo.124
Anos mais tarde, e com a obra próxima de ser concluída, no começo do ano de 1892,
formulou requerimento ao governo para que pudesse assumir o cargo de senador pelo Piauí
para o próximo mandato, já que seu nome era o mais cotado, segundo consta no Jornal do
Comércio. Em resposta ao pedido a licença teria sido negada pelo governo. Os impasses
políticos para a impugnação deram-se, segundo afirmação de Coelho Rodrigues, pelas
disputas políticas e intrigas envolvendo o ministro Fernando Lobo Leite Pereira, como
veremos adiante.125 Em 1893, novamente Coelho Rodrigues lançou requerimento pedindo que
fosse reconhecido senador pelo Piauí para o mandato que se iniciaria nesse ano. Acabou
sendo reconhecido com o trabalho de codificação findo, tomando assento no congresso em 09
de maio de 1893.126 Coelho Rodrigues permaneceu como senador até o ano de 1896, sendo
este o último cargo político que ocupou na vida.
Ainda em 1896, ultimo ano do seu mandato no senado, Coelho Rodrigues apareceu
como lente na Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais, instituição em que foi
fundador juntamente com outros nomes, como vimos anteriormente. Em 1897 participou
como acionista e membro da comissão responsável pela reorganização do Banco da
República.127 Seu nome ainda figurou, quando ex-senador, como um dos políticos principais
da época para assumir o cargo de ministro da pasta da Justiça e do Interior, o que não se

124
RODRIGUES, Antônio Coelho. Estado do Piauhy. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 19 de setembro de
1890. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=1949.
125
LICENÇA NEGADA. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 08 de abril de 1892. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=7113.
126
CONGRESSO NACIONAL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 10 de maio de 1893. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=10978.
127
VÁRIAS NOTÍCIAS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 26 de fevereiro de 1897. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=24078.
55

concretizou.128 Atuando na Faculdade Livre nesse período, Coelho Rodrigues foi professor na
primeira cadeira do segundo ano da disciplina de Direito Civil.129
Nesse mesmo ano de 1897, Coelho Rodrigues esteve atuando como sócio na
Associação Promotora da Instrução. Por essa associação foi nomeado superintendente da
Escola Santa Isabel. No ano seguinte, o nome de Coelho Rodrigues figurou dentre as
principais personalidades jurídicas, políticas e intelectuais que compuseram a Revista de
Jurisprudência da sua época. Dentre os principais nomes conhecidos na historiografia que
publicaram nessa importante revista jurídica e fizeram circular as principais ideias por meio
dela, podemos citar: Carlos de Carvalho, Ferreira Vianna, José Hygino, Lafayette Pereira,
Ruy Barbosa, Silvio Romero.130
No ano de 1898, Coelho Rodrigues apareceu em publicação do Jornal do Comércio
sendo convidado para dar parecer sobre o projeto do Direito da Família formulado pelo então
professor da Faculdade de Direito do Recife, Clóvis Beviláqua. 131 Este vai se tornar o sujeito
contratado pelo então ministro da Justiça e dos Negócios, Epitácio Lindolfo da Silva Pessoa,
no governo Campos Salles, para a execução da obra legislativa, o código civil. Veremos mais
tarde que houve uma relação entre Clóvis Beviláqua e Coelho Rodrigues que ultrapassou
reconhecimento. Este último, apesar de não constar na história sobre o processo de
codificação, foi partícipe como um dos principais jurisconsultos nacionais a fazer análise do
trabalho de Clóvis Beviláqua, que se amparou amplamente, segundo afirmação sua, no projeto
do seu antecessor.

128
VÁRIAS NOTÍCIAS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 08 de fevereiro de 1897. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=23593.
129
FACULDADE LIVRE DE SCIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS DO RIO DE JANEIRO. Jornal do
Comércio. Rio de Janeiro, 19 de maio de 1897. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=24823.
130
REVISTA DE JURISPRUDÊNCIA. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 20 de maio de 1898. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=28443.
131
HOMENAGEM AO DR. CLÓVIS BEVILÁQUA. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 22 de março de 1899.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=31616.
56

Fig. 2. Conselheiro Antônio Coelho Rodrigues em 1899/Fonte: Senado Federal.


O início da década de 1900 vai ser um período agitado para Coelho Rodrigues.
Nomeado Prefeito do Distrito Federal, o Rio de Janeiro à época, pelo presidente da República,
Campos Salles, enfrentou uma gestão complicada, cheia de reveses, o que não permitiu a
conclusão do seu mandato, ficando no poder da administração municipal durante um curto
período de tempo dentro do ano de 1900. Um dos principais fatores foi, segundo teria
mencionado o próprio Coelho Rodrigues, a “má administração” do seu antecessor, José
Cesário de Faria Alvim, que acabou supostamente repassando o governo com os cofres
públicos defasados e altas dívidas contraídas.132
Não foi por falta de planejamento que o seu governo não vingou. Coelho Rodrigues ao
ser empossado prefeito fez um pronunciamento na câmara municipal em que expunha os
objetivos principais que a sua administração visava alcançar. Tais objetivos foram publicados
na íntegra no Jornal do Comércio. O então prefeito Coelho Rodrigues teria reconhecido as
dificuldades pelas quais passava o Rio de Janeiro na época, com relação, por exemplo, à falta
de capital, crise sanitária, desorganização nos cargos públicos e as dívidas externas. No seu

132
GAZETILHA: RELATÓRIO DO PREFEITO. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 02 de março de 1900.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=11.
57

pronunciamento, segundo consta nas páginas do Periódico, aquilo que seria um dos maiores
problemas que enfrentaria na sua gestão era o funcionalismo público concedido de maneira
desordenada, por meio de apadrinhamentos, onde a falta de compromisso dos servidores
acabava acarretando em prejuízos para a capital, antes que o seu desenvolvimento.133
Em cima disso o prefeito Coelho Rodrigues teria proposto soluções que acreditava
sanarem os problemas. Uma delas seria a reorganização das repartições municipais, reduzindo
o pessoal e suprimindo aqueles cargos públicos que fossem dispensáveis. Essa era uma
medida das quais acreditava que acabaria contribuindo para o equilíbrio das finanças do
governo municipal. Outro fator que considerou de suma importância, mesmo que forçada,
seria a necessidade da administração ter que recorrer o mais rápido possível a novas
operações de créditos com os bancos e capitalistas. Essa medida, juntamente com a reforma
administrativa, era de necessidade urgente.
Para além dessas questões, Coelho Rodrigues ainda planejou que seria preciso reduzir
os vencimentos dos servidores públicos. Essa reforma planejada pelo prefeito seria
acompanhada de supressão dos privilégios exorbitantes do magistério, das acumulações
remuneradas, da contagem do serviço em duplicata e das aposentadorias para funcionários
válidos.134 Tais medidas contribuiriam com o decorrer do tempo, na visão de Coelho
Rodrigues, para que o Rio de Janeiro melhorasse o seu crédito público e, portanto, saísse da
crise financeira de que relatou o prefeito.
Ainda no seu pronunciamento tocou em diversos pontos que pretendia fazer cumprir
no seu governo. Quanto aos cargos vitalícios, Coelho Rodrigues propôs a necessidade de
reformas. Ao discursar sobre a Diretoria do Interior e Estatística, afirmava que o órgão era de
suma importância para se ter uma ideia quantitativa por meio de dados estatísticos dentro da
capital para melhor compreensão dos erros e vícios da administração municipal, o que
proporcionaria saber para onde direcionar reformas. Coelho Rodrigues teria falado da
importância da criação de um Código Florestal no sentido de regular as atividades dos
abusivos desmatamentos operacionalizados principalmente por grandes proprietários.135
Um dos pontos fortes em que Coelho Rodrigues direcionou atenção foi com relação à
higiene e assistência pública, segundo consta no Jornal do Comércio. Foi um incentivador da
vacinação contra a varíola, que na época era uma das maiores epidemias do Brasil. Pretendia
133
GAZETILHA: RELATÓRIO DO PREFEITO. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 02 de março de 1900.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=11.
134
Idem.
135
Idem.
58

acabar com a resistência e o preconceito da população quanto à vacinação. Apontava para a


importante atuação da Inspetoria do Serviço de Isolamento e Desinfecção no combate à febre
amarela por meio de isolamento dos doentes e desinfecção de ambientes contaminados.
Pretendia realizar a construção de postos de desinfecção e hospitais novos para doenças
infectocontagiosas tanto nas áreas urbanas quanto suburbanas da cidade, porém a falta de
verba na prefeitura o impedia no momento, segundo relatado na sua fala reproduzida no
Jornal. No período em que esteve no poder municipal, Oswaldo Gonçalves Cruz já figurava
dentre os sanitaristas que compunham o governo para propor reformas na higiene da cidade
do Rio.136
Infelizmente o pouco tempo em que ficou na prefeitura da capital não o permitiu
executar essas dentre as várias propostas que visava para a sua administração. A experiência
de Coelho Rodrigues como prefeito foi marcada por constantes instabilidades da sua gestão
com os setores contratados pela prefeitura. Um dos maiores problemas foi no fechamento de
contrato com uma empresa abastecedora de carnes verdes da capital. No impasse, Coelho
Rodrigues teria fechado contrato com um dos sócios da empresa Salgado, Cardoso, Lemos e
C., o coronel Horácio de Lemos, que teria rompido com os demais membros dessa
companhia, os quais fundaram a Salgado, Cardoso e C.137
Formalmente, a empresa até então reconhecida era a Salgado, Cardoso, Lemos e C..
Porém, por conta das desavenças internas envolvendo seus principais membros fundadores, a
empresa, de maneira informal, acabou se desassociando, ficando um dos membros de fora da
companhia, Horácio de Lemos. Com o rompimento da associação foi criada a Salgado,
Cardoso e C.
Os membros dessa ultima empresa na representação de Ulisses Vianna, teriam
procurado o prefeito para discutir a questão de contrato dessa empresa como abastecedora da
capital, já que um dos integrantes teria deixado a antiga Salgado, Cardoso, Lemos e C. No
entanto, Coelho Rodrigues, depois de ter conversado com Vianna decidiu por si mesmo
estabelecer acordo com Lemos, o qual aquele acreditava ainda estar representando a empresa
íntegra. Sua justificativa foi de que tinha em mente contratar com a empresa primária para que

136
GAZETILHA: RELATÓRIO DO PREFEITO. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 02 de março de 1900.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=11.
137
CALDAS, Honorato. Carnes verdes. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 18 de março de 1900. Disponível
em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=169.
59

fosse evitado ter que pagar possíveis indenizações posteriores para membros desassociados,
por isso o contrato com a Salgado, Cardoso, Lemos e C, e não com a Salgado, Cardoso e C.138
A confusão quanto ao abastecimento de carne gerou uma série de criticas à sua
administração por parte dos membros dessa empresa por meio dos jornais. O Jornal O Paiz,
por exemplo, teria feito uma publicação criticando o prefeito por deixar na responsabilidade
da assinatura do contrato um dos sócios que pouco teria atuado, com poucas rezes (gado),
pouco capital na empresa, em detrimento dos demais membros atuantes na companhia. 139 O
Jornal da Rua do Ouvidor lançou criticas no mesmo sentido. Essas críticas acarretaram a
revogação do contrato que o prefeito Coelho Rodrigues havia estabelecido com Lemos.140
Para além desse caso, houve também atrito entre o governo municipal e empresas do
setor de coleta de lixo. O fato decorrido foi de que o prefeito estaria considerando fechar
contrato com uma empresa de coleta, a Companhia Industrial Brasileira, de responsabilidade
do Sr. Carmo, diferente daquela que o município tinha contrato até então, sob administração
de Luiz de Mattos, a qual não teve nome citado no relato. Essa tentativa de negociação de
uma nova companhia de limpeza gerou revolta por parte da empresa de Mattos, que até então
era responsável pelo serviço de Limpeza Pública e Particular da cidade do Rio. Isso acabou
gerando criticas tanto ao Sr. Carmo quanto à administração do prefeito Coelho Rodrigues.141
No período em que esteve como prefeito do Rio, Coelho Rodrigues teria formulado
um processo direcionado ao governo da República. Neste o mesmo requereu que fosse pago o
prêmio final de 100:000$ (Cem contos de réis) pela execução dos termos do contrato firmado
para a realização da obra legislativa de codificação civil. Foi enviada ao governo uma
procuração por parte de Godofredo Xavier da Cunha, no sentido de que recebesse o prêmio
pelo código feito.142 Apesar da tentativa, não houve nenhum retorno do governo a respeito da
sua reclamação.

138
CARNES VERDES. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 22 de março de 1900. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=207.
139
NO DOMÍNIO DO ABSURDO. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 29 de março de 1900. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=277.
140
A CHARADA DO PREFEITO. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 10 de abril de 1900. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=398.
141
MATTOS, Luis de. Questão do lixo. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 21 de abril de 1900. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=497.
142
CUNHA, Godofredo Chavier da. Justitia que sera tamen. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 29 de abril de
1900. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=568.
60

Durante a década de 1900, para além da sua frequente atuação em meio aos trabalhos
referentes ao código civil, contribuindo no projeto de Clóvis Beviláqua, Coelho Rodrigues
ainda exerceu profissões diversas. Dentre as quais, a de superintendente da Escola Santa
Isabel pela Associação Promotora da Instrução, cargo que se demitiu em 1902 por ter que se
mudar para Petrópolis, no Rio. Quem o substituiu foi o comendador Henri Raffard. Na época
Coelho Rodrigues obteve honraria de benfeitor, recebendo uma corrente de prata e medalha
de ouro, sendo esta a segunda que obteve. Tal atribuição simbólica era concedida aos
membros que se destacavam nos seus feitos pela instituição.143
O ano de 1904 foi bastante agitado na capital do Brasil. Esse foi o ápice da política
higienista do governo Rodrigues Alves no Rio de Janeiro, que acarretou uma crise social e
política por conta das ações da prefeitura e do governo federal com as reformas urbanas e
sanitárias na cidade, mediante nos informa Chalhoub.144 Tais reformas vão ser sentidas pelos
setores sociais que moravam nos centros, em cortiços. Ocorreu revolta em meio aos donos de
prédios e imóveis quanto às cobranças de multas e impostos por parte do governo para
aqueles que não cumprissem as normas sanitárias dos seus prédios. Coelho Rodrigues foi
proprietário de prédios no centro do Rio de Janeiro à época e apareceu como presidente da
Sociedade União dos Proprietários, fazendo defesa dos donos de imóveis no centro da capital.
Um dos seus argumentos ao proferir discurso por essa sociedade foi o de que os proprietários
não poderiam arcar com as despesas de normatização dos espaços privados em que residiam
seus inquilinos, os quais muitas vezes não pagavam os impostos com regularidade.145
Nesse mesmo ano Coelho Rodrigues fez a publicação da primeira edição do seu livro
A República na América do Sul, obra essa de grande importância para entendermos um pouco
sobre a política da época e, sobretudo, as cobranças feitas sobre o regime que na prática não
teria executado seus princípios.146 Esteve anunciando no Jornal do Comércio a venda de
exemplares na papelaria da Rua do Ouvidor, n° 57.147 Além disso, esteve exercendo a sua

143
ASSOCIAÇÕES. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 1902. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=4083.
144
Para mais informações sobre as políticas públicas e seu impacto no Rio de Janeiro, sobretudo durante o
governo do presidente Rodrigues Alves, ver: CHALHOUB, Sidney. Cidade Febril: cortiços e epidemias na
Corte imperial. São Paulo, Cia da Letras, 1996.
145
VÁRIAS NOTÍCIAS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 07 de março de 1904. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=7504.
146
RODRIGUES, Antônio Coelho. A República na América do Sul ou um pouco de história e crítica oferecida
aos latino-americanos, 1906. Brasília: Senado Federal, 2016.
147
ANÚNCIO. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 01 de julho de 1902. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=7952.
61

função de advogado. Foi diretor da Associação Comercial em 1906148 e nos trabalhos do


Congresso Jurídico em 1908.149 Coelho Rodrigues esteve atuando ainda como professor na
Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais no Rio.150
Na política, não conseguiu obter mais sucesso, apesar das insistentes tentativas. Dentre
as eleições em que concorreu, o mesmo disputou o cargo de senador pelo Piauí por três vezes,
nos anos de 1903, ficando atrás de Affonso Penna e do General Pires Ferreira.151 Em 1909,
um boletim falso estaria divulgando dados imprecisos das eleições no Piauí, onde Coelho
Rodrigues estaria vencendo, porém apurando os reais resultados o mesmo se encontrava 1.397
votos atrás de Ribeiro Gonçalves.152 No ano de 1912, próximo da morte, concorreu ao ultimo
cargo da sua vida, perdendo a eleição para o então Marechal Pires Ferreira quando também
disputava eleição pelo senado como representante do seu estado natal.153
Após seu insucesso na política, e fazendo viagem à Europa certamente para tratar da
sua saúde, sentiu-se mal, pretendeu regressar à sua terra natal. O sujeito que tanto fez pela sua
nação, ou pretendeu fazer, dentro das condições da sua existência, não pôde mais em vida
visualizar a terra de onde veio ao mundo. Doente, de regresso da Suíça, na Europa, passando
pela ilha de São Vicente, no arquipélago de Cabo Verde, na África Ocidental, a Coelho
Rodrigues sobreveio o óbito no dia 01 de abril de 1912.154 Foi o fim da jornada de um dos
ilustres do Piauí que tivemos como pretensão narrar nessas páginas, como reforço à sua
história de vida.
Apesar da sua morte ter ocorrido no dia 01 de abril em território estrangeiro, o seu
corpo só chegou ao Brasil mais de um mês depois, no dia 07 de maio de 1912, segundo

148
VÁRIAS NOTÍCIAS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 18 de dezembro de 1906. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=11800.
149
CONGRESSO JURÍDICO. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 12 de setembro de 1908. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=15768.
150
VÁRIAS NOTÍCIAS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 28 de abril de 1907. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=12501.
151
GAZETILHA: ELEIÇÕES FEDERAES. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de 1903.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=5999.
152
THEREZINA. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 26 de fevereiro de 1909. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=16873.
153
GAZETILHA: AS ELEIÇÕES. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 06 de fevereiro de 1912. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_10&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=8941.
154
VÁRIAS NOTÍCIAS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 07 de maio de 1912. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_10&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=10545.
62

noticiado no Jornal do Comércio. Juntamente com o defunto estavam em viagem a sua


esposa Alcina Lins, suas filhas e netos. Quando morreu era nove a quantidade de netos que
Coelho Rodrigues deixava.
Um contemporâneo de Coelho Rodrigues chamado Escragnolle Dória, ao fazer uma
publicação sobre a morte daquele, nos deixou traços de como podemos lembrar o notável do
Piauí, logo abaixo finalizamos com uma imagem de Coelho Rodrigues idoso, em que as
características descritas podem ser percebidas e imaginadas. Escragnolle Dória lembrava de
Coelho Rodrigues desde o período em que trabalhava na redação dos debates do Senado no
ano de 1896, descrevendo-o:
Era pequeno de estatura, azougado de movimentos, com os olhos vivos e
indagadores, a tez alva, os cabellos e o bigode brancos..., com um todo
decidido e marolal, a lembrar os velhos soldados encanecidos. Ainda havia
nelle dignos de vista a palavra sibilante, a ironia acerada, a intelligência
disposta ao desafio e à justa, a voz cheia de inflexões mordazes, sublinhadas
não raro por uma risadinha zombeteira.155

156
Fig. 3. Antônio Coelho Rodrigues idoso/Foto reprodução do livro “Coelho Rodrigues e a ordem de silêncio”.

155
DORIA, Escragnolle. Coelho Rodrigues. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 01 de maio de 1912. Disponível
em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_10&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=10439.
156
Capa de ilustração do livro “Coelho Rodrigues e a ordem de silêncio”. Ver: AGUIAR, Antônio Chrysippo.
Coelho Rodrigues e a ordem de silêncio. 1. ed. Teresina: 2006.
63

CAPÍTULO 2 – Os reveses políticos de Antônio Coelho Rodrigues no decorrer da


Monarquia à República

Antônio Coelho Rodrigues dentro da política foi um sujeito singular no sentido que
atribuímos à sua participação como representante da sua província/estado natal, o Piauí. A
partir dessa personalidade podemos enxergar como se estabeleceram as relações políticas no
decorrer da viragem do século XIX para o XX e, consequentemente, do regime monárquico
para a República. Aqui pretendemos nos atentar para os grupos políticos no Piauí, e,
sobretudo, em um contexto nacional, e a maneira como se deram as relações entre partidos no
período em que Coelho Rodrigues esteve atuando como representante da sua
província/estado, quanto aos cargos políticos em que o mesmo ocupou como deputado e
senador.157
Para tanto, a linha lógica que buscamos desenvolver no decorrer do capítulo é
pensarmos inicialmente Coelho Rodrigues e suas relações de caráter político, no decorrer da
sua, por vezes gloriosa, mas também acidentada, carreira como representante do Piauí,
sobretudo no cenário nacional brasileiro. Nesse sentido, a ideia é compreender sua imersão e
atuação na política no decorrer do regime imperial. Logo, partimos do interesse de
perscrutarmos pela rede de relações que estabeleceu ao longo desse período, com início no
final da década de 1860. Pretendemos visualizar os embates políticos envolvendo os partidos
monárquicos, Liberal e Conservador, bem como a luta que Coelho Rodrigues estabeleceu
contra o liberal Marquês de Paranaguá e seus partidários.
Posteriormente, em um período de ápice da vida pública do político que foi, onde o
mesmo manteve relações próximas com o poder central da recém-instalada República, mais
precisamente com o então ministro da justiça, Manuel Ferráz de Campos Salles, do governo
provisório do Marechal Deodoro da Fonseca, a Coelho Rodrigues teria sido atribuída, por
parte dos seus inimigos políticos, a tentativa de estabelecimento de um potentado no Piauí,
aquilo que Clodoaldo Freitas, opositor partidário do mesmo, intitulou como “coelhado”, em
referência ao sobrenome Coelho de Antônio Coelho Rodrigues. Este termo significaria, por
parte dos seus adversários, uma prática de dominação que afirmavam estar sendo empregada

157
Com o fim do regime imperial e a ascensão ao poder do governo provisório da República do Marechal
Deodoro da Fonseca começaram a ser redefinidas muitas das nomenclaturas. Antes províncias, com o regime
republicano temos os Estados nacionais. O Piauí passou de província a Estado em questão de nomenclatura. Os
presidentes de província passam a ser chamados de Governadores (de Estado). É importante essa explicação pelo
fato de que essa viragem na história da política acaba mudando muitos termos que no decorrer da pesquisa vão
sendo alterados.
64

no estado piauiense pelo grupo político que tinha Coelho Rodrigues como representante
máximo.
É com relação a esse regime que pretendemos fechar o capítulo apresentando um
Coelho Rodrigues não mais em um posto de sucesso dentro da política, pelo contrário.
Relativamente fracassado em meio a muitas das suas atuações, a proposta é pensarmos a
maneira como enxergou a política nacional em um momento posterior da sua vida, onde,
desiludido com os caminhos reais que a República estava traçando, escreveu seu livro “A
República na América do Sul”, com críticas ferinas ao regime que se estabeleceu totalmente
oposto ao que pregavam os seus princípios, e aos quais o próprio Coelho Rodrigues teria sido
adepto, regime que se mostrou na verdade mais centralizado e autoritário que o próprio
Império, divergindo da prática democrática de uma república.

2.1. Coelho Rodrigues e as arregimentações político-partidárias no Piauí imperial do


final do século XIX

Antes de tudo, torna-se importante fazermos uma consideração acerca da maneira


como Coelho Rodrigues acabou atuando dentro da política em uma perspectiva geral de
personalidade política aos seus próprios olhos e de amigos. Um colega seu, o João Horácio,
mesmo estando envolvido pelo sentimento da amizade, não deixou de relatar aquilo que
acreditava com relação à atuação de Coelho Rodrigues dentro da política. Horácio teria se
expressado da seguinte maneira em artigo do Correio Paulistano, publicado no Jornal do
Comércio em 1890, quando escrevia sobre a nomeação de Coelho Rodrigues para a realização
do Projeto de Código Civil da nascente República:
Iamos perdendo um mestre de tanta aptidão e de tanto amor ao estudo, com
os laços que a política lhe armou e lhe arma constantemente. Para a política,
é força confessar, falta-lhe certa embocadora (faltaria freio do sujeito com
relação à política). Nunca deixa de estar em oposição, nunca deixa de ter
uma questão pelos jornaes. Quando entrou para a câmara já fazia uma guerra
declarada ao Marquez de Paranaguá, o que era o mesmo que entrar no Rio de
Janeiro em desavença pessoal com o Imperador. Não havia quem não
tomasse as dores pelo Marquez, que foi sempre um homem conciliador, uma
natureza avessa a violências e a rixas pessoaes, incapaz de expor o seu
prestígio aos azares de uma luta, porque a luta é sempre um escândalo na
corte. Na corte a regra é obedecer.158
Percebamos a maneira como Horácio finalizou a passagem para depois analisarmos o
restante: Na corte a regra é obedecer! Não importava qual partido político dentre os dois

158
HORÁCIO, João. Carta do Rio. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 22 de julho de 1890. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=1449.
65

partidos do Império, Liberal ou Conservador, estava no poder, até porque segundo Motta, o
Imperador tinha a plena liberdade para fazer circular os ministérios e, portanto, as facções
partidárias que se estabeleceriam no senado e na câmara dos deputados. Mediante o Poder
Moderador, como previsto na Constituição Imperial de 1824, ao Imperador era dada a
prerrogativa de indicar seus ministros, os quais eram responsáveis efetivos pela condução do
governo. “Escolhida a facção governante, enquanto ela gozasse da confiança de D. Pedro II,
continuaria no posto, ganhando as eleições para contar com maioria no parlamento.”159
Como vimos no capítulo anterior, Coelho Rodrigues despontou no meio político
inicialmente nas frentes de divulgação da propaganda conservadora. Como representante
máximo do Jornal O Piauhy, o sujeito fazia oposição à política liberal progressista que na
época em que atuou no periódico, de 1867 a 1869, dominava os postos de mando na província
do Piauí e, portanto, era o partido que encontrava maioria no ministério do Império e,
consequentemente, no parlamento, durante maior parte da década de 1860.
Araújo considera o período em que Coelho Rodrigues esteve à frente do periódico
como um momento de militância política do jovem piauiense.160 Sua militância política pelo
partido Conservador ao qual se filiou e manteve-se durante boa parte da sua vida, com
exceção de alguns momentos de dissidência como veremos mais adiante, foi reflexa da
maneira como a política se estabelecia em âmbito nacional e, sobretudo, local, e o modo como
o seu grupo esteve à mercê da política liberal que no Piauí era bastante forte como
organização partidária em torno da figura principal de João Lustosa da Cunha Paranaguá, o
Marquês de Paranaguá. Este esteve atuando como ministro da justiça, dos estrangeiros e da
guerra, de 1866 a 1868, pelo Gabinete Zacarias, que era liberal-progressista.
Como na época em que Coelho Rodrigues esteve como jornalista fazia parte do
Partido que se encontrava afastado da posição de liderança na província, empenhava-se em
expor as fragilidades políticas do partido oposto, o Partido Liberal. O fato narrado por
Horácio da oposição feita por Coelho Rodrigues ao Marquês de Paranaguá, que era uma
liderança liberal na província piauiense e político nacional de grande prestígio no Império, é
significativo para entendermos a posição de Coelho Rodrigues dentro da política no momento
em que exerceu a sua militância como jornalista pelo periódico O Piauhy.

159
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Introdução à História dos Partidos Políticos Brasileiros. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 1999.
160
ARAÚJO, Johny Santana de. Antônio Coelho Rodrigues: entre “o silêncio, a paciência e o tempo”. IN:
NASCIMENTO, F. A. S.; TAMANINI, P. A. História Culturas e Subjetividades: Abordagens e perspectivas.
Teresina: EDUFPI, 2015, p. 108 – 131.
66

Segundo o principal jornal Liberal da província no período, A Imprensa, Coelho


Rodrigues teria tentado uma aproximação com o Marquês de Paranaguá assim que chegou ao
Piauí depois da sua formatura no Recife no ano de 1866. Não obtendo sucesso após ter
enviado supostas cartas que teriam ficado sem respostas por parte do Marquês, e por não ter
sido nomeado para cargos que pretendia na sua província, Deolindo Mendes da Silva Moura,
redator do Jornal citado, teria afirmado que Coelho Rodrigues, enraivecido, passou a fazer
ferrenha oposição ao político liberal.161
De fato, Coelho Rodrigues tinha um grande anseio de acabar com a influência do
Marquês sobre a política no Piauí. A oposição chegava a ser tão grande a ponto de Coelho
Rodrigues supostamente ter dito em uma publicação n’O Piauhy sob o título Ultima Hora,
segundo denunciaram os seus oposicionistas d’A Imprensa, no ano de 1868, que tinha como
pretensão ir ao Rio de Janeiro introduzir uma bala na cabeça do Conselheiro Paranaguá para
lhe dar juízo.162 Não pudemos ter acesso à fonte do Jornal O Piauhy para confirmarmos a
veracidade da denúncia, mas é provável que tenha realmente ocorrido, pois o Jornal liberal fez
referências ao número 26 de O Piauhy do dia 28 de janeiro de 1868, de onde teria saído a
publicação por parte de Coelho Rodrigues.
Apesar das críticas e denúncias endereçadas de um partido de oposição ao outro,
muitos dos liberais não deixaram de reconhecer o que seria o talento e inteligência de Coelho
Rodrigues, mesmo este sendo taxado pelos opositores de “menino endiabrado”, “rapazote
enfezado”, “pequeno brutídio”. O mesmo Deolindo Mendes teria dito que Coelho Rodrigues à
frente do Jornal O Piauhy, estava cumprindo de fato o papel de um jornalista da oposição e
combatente do seu partido, preenchendo uma lacuna que julgava haver na província quanto a
uma oposição política forte.163 Até então a política encontrava-se supostamente sob total
domínio liberal, e, segundo Deolindo, o Jornal A Moderação, que foi substituído pelo O
Piauhy, não tinha a combatividade de um órgão oposicionista oficial do seu partido, o Partido
Conservador.
A situação política no Piauí começou a mudar quando no ano de 1868 são mudados os
ministérios, de progressista, que era formado por dissidentes liberais sobre os quais no Piauí
exercia influência o Marquês de Paranaguá, para conservador, mediante informa os dados
161
MOURA, Deolindo Mendes da Silva. O Sr. Dr. Antônio Coelho Rodrigues, e minha humilde pessoa. A
Imprensa. Teresina, 24 de fevereiro de 1869. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=4
88.
162
MOFINA: DOIS REVOLVERES. A Imprensa. Teresina, 01 de fevereiro de 1868. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=2
66.
163
MOURA, op. cit.
67

quantitativos levantados por Carvalho.164 Simplício de Sousa Mendes, chefe do partido


conservador à época na província piauiense, então como primeiro vice-presidente, assumiu a
administração provincial no lugar de Gomes de Castro, outro conservador que teria
conseguido se eleger para a câmara temporária como representante da província do Maranhão
no ano de 1869, segundo aquilo que aponta o Jornal do Comércio.165 Com a queda do
ministério progressista na corte e a ascensão do conservador, consequentemente o partido
conservador acabaria dominando a politica imperial com maioria nas casas legislativas, o que
refletiu no Piauí.
Ao ser feita a mudança dos presidentes de província por parte do ministério no poder
central, tais presidentes acabavam substituindo dos cargos burocráticos aquelas pessoas que
fossem da oposição, além de que a força daquele partido que se encontrava na situação
aumentava, seja pelo numero de adeptos votantes, ou por meio das fraudes que faziam vencer
o grupo que estava no poder, ou as coações. Isso acontecia de ambos os lados, tanto liberal
como conservador, dependendo da facção que se encontrava no poder, a sistemática de
funcionalidade do Estado era mudada, elevando-se os situacionistas.
Com os conservadores no poder da província desde 1868, estava aberta a arena de
disputa para a derrubada do domínio liberal. O acesso de Coelho Rodrigues ao seu primeiro
cargo eletivo pelo Piauí foi facilitado pela ascensão do seu partido. Para além do prestígio que
o mesmo tinha por parte tanto de jovens como dos mais experientes na província, o fato do
seu partido sob liderança conservadora, e do líder da sua facção se encontrar na presidência
provincial, tornou-se definidor do sucesso do político que estivesse na situação do governo,
caso de Coelho Rodrigues. Concorrendo às eleições para a deputação provincial em 1869
venceu com grande vantagem de votos.
Nessa eleição todas as três vagas disputadas para compor a câmara dos deputados
foram ocupadas por sujeitos da então facção política de Coelho Rodrigues, sob a liderança de
Simplício Mendes, como chefe do partido conservador no Piauí e então presidente da
província. Ao lado de Coelho Rodrigues foram eleitos os conservadores Aureliano Ferreira de
Carvalho e Antônio Francisco de Salles. Os políticos da facção oposta e, portanto, liberais que
concorreram nesse pleito foram: Antônio Borges Leal Castello Branco, Polydoro César
164
Em uma análise da origem provincial dos Ministros na formação dos Ministérios do Império, de 1840 a 1889,
José Murilo de Carvalho também evidencia os partidos aos quais os ministros eram filiados. Ver: CARVALHO,
José Murilo de. A Construção da Ordem: a elite política. Teatro das Sombras: a política imperial. 5ª edição –
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. p. 218.
165
JORNAL DO COMMÉRCIO: PIAUHY. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 03 de maio de 1869. Disponível
em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_05&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=15425.
68

Burlamaque, José Manoel de Freitas e Franklin Américo de Menezes Dória.166 Este último,
além de liberal da facção política do Marquês de Paranaguá, foi seu genro, casado com Maria
Amanda Lustosa Paranaguá.
Quando Coelho Rodrigues assumiu uma das cadeiras na câmara em 1869 ao discursar
em uma das primeiras sessões retomou debates sobre a administração anterior, lançando
criticas que já fazia desde quando foi redator nas páginas de O Piauhy. Denunciando o que
considerava uma tirania em voga na sua província, Coelho Rodrigues acabou expondo a
deplorável situação pela qual supostamente teria passado o Piauí sob a liderança da facção
progressista do Marquês de Paranaguá. Essa foi a discussão na câmara que Horácio narrou e
que consideramos acima como uma das várias disputas pelo poder em que se envolveu
Coelho Rodrigues criticando seus adversários.
Foi enfática a maneira como o jovem político teria se expressado ao apontar para o
fato de que o Conselheiro Paranaguá, ao ter tido conhecimento da queda do gabinete
ministerial liberal, realizou práticas supostamente corruptas por meio dos seus
correligionários políticos no Piauí. Em uma das sessões da câmara, divulgada no Jornal do
Comércio e republicada n’O Piauhy, Coelho Rodrigues teria dito que a facção do
Conselheiro:
Vendo que o poder lhe ia escapar das mãos, e não tendo meio de conservar a
administração, quis ao menos empregar todos os recursos, embora
reprovados, para auferir os últimos reaes dos cofres públicos, e manter-se
mais alguns dias na falsa posição que ocupava de esbanjadora dos dinheiros
da província.167
Além disso, na mesma fala Coelho Rodrigues teria defendido o seu correligionário e
então presidente da província, Simplício Mendes. Este teria sido acusado de interferir nas
supostas leis que haviam sido estabelecidas na província por parte da facção política do
Conselheiro Paranaguá, quando esta ainda esteve organizada como Assembleia Provincial,
nos dias em que se soube da queda do gabinete progressista. Dentre as leis teria havido duas
que estabeleciam, segundo Coelho Rodrigues, a vitaliciedade de todos os cargos provinciais,
inclusive os da secretaria da presidência, o que acabou sendo considerado como uma
interferência à própria execução da administração de Simplício. O fato foi ridicularizado por

166
JORNAL DO COMMÉRCIO: PIAUHY. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 03 de maio de 1869. Disponível
em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_05&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=15425.
167
RODRIGUES, Antônio Coelho. O Piauhy. O Piauhy, Teresina, 15 de agosto de 1869. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=217204&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=8
5.
69

Coelho Rodrigues no seu discurso, pois era algo, mediante o mesmo, “fútil e não resiste à
análise”.168
Muitas das exposições dos políticos quanto aos seus adversários tinham mesmo o
sentido de ridicularizá-los perante as casas legislativas. Essa era uma forma de expor aquilo
de que os grupos eram capazes para burlar o sistema e tentar sustentar-se no poder. Foi a
partir de estratégias como essa que políticos, como no caso de Coelho Rodrigues e seu grupo,
fizeram para minar as bases do domínio do Marquês de Paranaguá e do então Partido
Progressista no Piauí nessa virada dos ministérios a partir de 1868.
Em outra das sessões na câmara, como forma de desestabilizar as bases políticas do
Marquês de Paranaguá no Piauí, Coelho Rodrigues teria denunciado as ações do ex-presidente
da província, o liberal Franklin Dória e o tenente-coronel da Guarda Nacional José Lustosa da
Cunha, irmão do Marquês de Paranaguá. Ambos fazendo parte da maquina burocrática no
domínio progressista estariam sendo acusados pela prática de desvios de verba destinadas
para a manutenção do corpo de “voluntários da pátria”, no período em que o Brasil estava em
guerra contra o Paraguai. Além disso, teria mencionado o superfaturamento na compra de 14
balsas que conduziriam os voluntários de Parnaguá a Teresina.169 José Lustosa foi partícipe na
guerra contra o Paraguai, e responsável pela condução do segundo corpo de voluntários da
pátria para o front de batalha.
Com os conservadores exercendo domínio no Piauí foi sendo estabelecido o
fortalecimento do partido e da sua influência. Isso se dava principalmente por meio das
substituições de funcionários públicos da oposição de cargos que ocupavam. Em 1870, por
exemplo, o Jornal A Imprensa fez publicação de artigo onde questionava a atuação do vice-
presidente da província, o conservador Manoel José Espinola Júnior, pela prática de
perseguição e demissão de pessoas dos cargos que ocupavam pelo fato de serem adeptas ao
partido de oposição.
Mediante relato do mesmo Jornal, Coelho Rodrigues estaria aplaudindo da câmara as
decisões do seu correligionário. Posteriormente, o Jornal relatou que Coelho Rodrigues
tomando as forças que possuía, de um lado do vice-presidente da província e do outro de um
suplente da delegacia de polícia, acabou apresentando queixas ao parlamento do Império

168
RODRIGUES, Antônio Coelho. O Piauhy. O Piauhy, Teresina, 15 de agosto de 1869. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=217204&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=8
5.
169
CÂMARA DOS SRS. DEPUTADOS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 08 de julho de 1869. Disponível
em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_05&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=15755.
70

contra outro desafeto político, José de Araújo Costa, o qual, mediante considerou o jornal
liberal citado, era perseguido por Coelho Rodrigues a mais de quatro anos.170
O fato que teria ocorrido e motivou as queixas prestadas foi a suposta morte de um
escravo por parte de Araújo Costa. Este, então residente na vila do Poty, personalidade
influente na província piauiense, teria comprado do Maranhão um escravo de nome Victorino.
Segundo relatado por Franklin Dória no Jornal A Imprensa em 1870, o escravo era de “maus
costumes” e teria supostamente roubado da loja da fazenda do seu senhor uma peça de pano
de algodão. Sabendo do ocorrido, Araújo Costa teria mandado um soldado do destacamento
policial da vila punir o seu escravo. O castigo, mediante relato, consistiu em açoites. O
próprio relator se mostrou ressentido pelo fato de no Brasil ainda serem assim tratados os
escravos, porém continuando a fala, e buscando amenizar os efeitos dos maus tratos, afirmou
ter sido “branda” a punição.
Franklin Dória teria acrescentado que meses depois o escravo acabara sendo
acometido pelas febres endêmicas das margens do rio Poty. Em uma noite de inverno teria
contraído uma febre aguda, e se levantou às dez horas da noite, passou pelo quintal de onde
morava para beber água na cozinha. Quando amanheceu foi relatado que seu estado era
crítico. Na suposta falta de médico, como alegado, foi chamado para atender o escravo um
curandeiro de nome Collatino Cidronio Tavares da Silva. Este teria aplicado ao enfermo um
purgante de ricino com enxofre, mas o escravo acabou não sobrevivendo.171 Esse caso teria
ocorrido anos antes, porém fazia parte da política de oposição tornar a imagem do opositor, de
alguma forma, manchada perante a sociedade dentro da política.
No mesmo ano de 1870 ocorreu a fundação da sociedade emancipadora piauiense.
Espinola Jr., depois de concorrer eficazmente para a fundação da sociedade, teria recusado o
cargo de representante máximo da mesma. Após sua recusa formal foi proposto a Coelho
Rodrigues que o substituísse. Depois da intervenção de Simplício Mendes, a pedido de
Espinola Jr., Coelho Rodrigues teria aceitado o cargo de presidente honorário da sociedade.
Nesse ocorrido, o Jornal oposicionista deixou de lado as criticas a Coelho Rodrigues e aos
conservadores, para louvá-lo pela sua adesão ao cargo de representante nessa investida
considerada de grande valia para a humanidade.172

170
DÓRIA, Franklin Américo de Menezes. A Imprensa. A imprensa, 12 de novembro de 1870. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=8
44.
171
Idem.
172
SOCIEDADE EMANCIPADÔRA PIAUHYENSE. A Imprensa. Teresina, 23 de novembro de 1870.
Disponível em:
71

Apesar da pretensão do partido conservador no Piauí de exercer seu domínio, os


mesmos se depararam com um período instável na política imperial. Essa instabilidade foi
gerada pela dissolução da câmara dos deputados em 1872.173 Os reflexos dessa dissolução na
província do Piauí acabaram gerando atritos dentre os próprios membros conservadores,
partido que se encontrava em generalizada crise interna. Foi um momento de dissidência de
Coelho Rodrigues, onde, afastado da política conservadora, tentou se eleger desvencilhado do
partido de centro conservador.
O Jornal A Imprensa relatou que, após a dissolução da câmara e voltando para a
província, os deputados conservadores, seus correligionários, já os esperavam com má
vontade.174 Pelo que se pressupôs o Partido Conservador no Piauí, ao saber da dissolução da
câmara e que os seus representantes tinham votado contra o governo a respeito do adiamento
da discussão sobre o orçamento da marinha e questões nacionais, fato que teria gerado uma
reviravolta dentro da casa legislativa, inclusive com falas combativas de Coelho Rodrigues
em relação ao governo, afirmando que o país se encontrava em situação desastrada, os seus
correligionários ficaram com receio de que uma chapa formada com os mesmos nomes que
votaram contra o governo e, portanto, contribuintes para a dissolução da câmara fosse
prejudicial para a relação do partido piauiense com o governo imperial.
Os conservadores por meio do Jornal O Piauí teriam afirmado que a monarquia era um
dogma para o partido e que, portanto, a postura assumida pelos seus representantes na câmara
votando contra o ministério deveria ser reprovada pelos correligionários no Piauí, mesmo que
a atitude dos parlamentares tenha sido em concordância com os ideais do partido.175 Em um
discurso posterior de Simplício Mendes, chefe do Partido Conservador, este teria apontado
para o fato da desconfiança do gabinete do ministério do Império com relação à chapa
conservadora do Piauí, caso essa fosse mantida com os nomes dos políticos que votaram

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=8
52.
173
DISSOLUÇÃO DA CÂMARA. A Imprensa. Teresina, 26 de junho de 1872. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=1
141.
174
ONDE O CIVISMO? A Imprensa. Teresina, 06 de julho de 1872. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=1
145.
175
O MANIFESTO DO SR. DR. ANTÔNIO COELHO RODRIGUES. O Piauhy. Teresina, 14 de agosto de
1872. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=217204&pasta=ano%20186&pesq=%22Coelho%20Rodrig
ues%22&pagfis=453.
72

desfavoráveis ao governo. Simplício exigiu que os políticos da câmara dissolvida esperassem


a melhor hora para retornarem à política.176
Foi relatado pelo Jornal A Imprensa que no dia 28 do mês de julho teria sido
convocada uma reunião do grêmio conservador por parte de Coelho Rodrigues, na condição
de ex-deputado da legislatura dissolvida. O mesmo e seu companheiro Enéias Nogueira
tinham como pretensão realizar uma exposição de motivos do que os levaram a negar voto de
apoio e de confiança ao ministério que dissolveu a câmara de que faziam parte. O Jornal
narrou que não tiveram a honra de serem ouvidos.177 Com o acontecido, o partido conservador
resolveu montar chapa para as eleições de dezembro de 1872 com outros nomes. Os primeiros
nomes mencionados dos políticos conservadores que deveriam concorrer às eleições foram:
Antônio Mendes, Manoel Pinheiro e Licínio Soares.
Coelho Rodrigues disputou nessa eleição. No pleito teria concorrido como dissidente
conservador. Anos mais tarde falando a respeito da eleição de 1872, Coelho Rodrigues teria
dito que no período recebeu cartas do chefe do Partido Liberal na província, o qual havia lhe
comunicado a respeito da resolução tomada pelo seu partido de ajuda-lo na eleição com seus
votos. Sobre isso, em carta de resposta, Coelho Rodrigues teria aceitado discretamente o
apoio, mas acabou deixando clara a sua posição de político conservador. Segundo o mesmo,
anos mais tarde em discurso na câmara de 1877, apesar de ter recebido apoio considerável de
parte do eleitorado liberal nesse pleito, afirmou não ter estabelecido acordo ou transação com
o Partido Liberal em si.178
Segundo o Jornal O Piauhy, que fez oposição à Coelho Rodrigues no período da sua
dissidência, o mesmo teria estabelecido acordos com Joaquim Newton, político liberal de
influência na província, e também contado com ajuda dos seus parentes dos Picos, de maioria
liberal.179 Fato provável de ter ocorrido visto que o próprio Coelho Rodrigues afirmou que se

176
MANIFESTO. A Imprensa. Teresina, 11 de agosto de 1872. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=1
153.
177
DISSIDENTES. A Imprensa. Teresina, 31 de julho de 1872. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=1
149.
178
RODRIGUES, Antônio Coelho. Conclusão da sessão de 22 de fevereiro de 1877: O Sr. Coelho Rodrigues.
Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 1877. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_06&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=15290.
179
O MANIFESTO DO SR. DR. ANTÔNIO COELHO RODRIGUES. O Piauhy. Teresina, 14 de agosto de
1872. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=217204&pasta=ano%20186&pesq=%22Coelho%20Rodrig
ues%22&pagfis=453.
73

não fosse a ajuda que recebera dos liberais quase seria repelido da assembleia provincial em
1873.180
Apesar da tentativa, não logrou êxito na disputa como político dissidente. Gomes de
Castro, falando a respeito dessa eleição na câmara dos deputados já no ano de 1877, teria
afirmado que a dissidência no Piauí tendo por chefe Coelho Rodrigues não ganhou força. O
mesmo não teria tido apoio em várias administrações, desde 1872. A dissidência com Coelho
Rodrigues como chefe teria desaparecido após o processo eleitoral na província, ficando este
por um bom tempo de fora da política piauiense.181
Esse desaparecimento de que narrou Gomes de Castro teria se dado em partes,
mediante aquilo que relatou Coelho Rodrigues no Jornal do Comércio, por conta da oposição
que lhe teria feito na época o ministro do Império, Correia de Oliveira. Foi relatado que,
dissolvida a câmara em 1872, e tendo ele (Coelho Rodrigues) antes da partida de volta do Rio
ir falar com Oliveira, este teria comentado a respeito da organização da nova chapa do Partido
Conservador no Piauí. Na ocasião, o então ministro teria manifestado os melhores desejos a
respeito da reeleição de Coelho Rodrigues, mas não manifestou os mesmos desejos quanto à
reeleição dos outros dois colegas que com ele foram oposicionistas na moção de conferência
votada em 22 de maio de 1872, a que foi responsável pela dissolução da câmara.182
Coelho Rodrigues, continuando a fala, teria relatado que por negar a separação de seus
companheiros o ministro acabou o considerando inimigo e adversário. Afirmou que chegado à
província em 1872 o delegado a serviço do ministério acabara lhe hostilizando, estabelecendo
uma luta contra o mesmo desde então até 1875.183 De fato no período que compreendeu esse
mandato, Coelho Rodrigues esteve apagado na política, época em que se estabeleceu em
Recife, no Pernambuco, como professor na Faculdade de Direito. A situação mudou somente
quando novamente houve alteração no gabinete ministerial do governo imperial, passando a
ser composto de maioria conservadora, como veremos.
Gomes de Castro teria apontado que no período em que ascendeu ao poder o
ministério 25 de junho de 1875, Gabinete Caxias, em que o desembargador Delfino Augusto

180
RODRIGUES, Antônio Coelho. Conclusão da sessão de 22 de fevereiro de 1877: O Sr. Coelho Rodrigues.
Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 1877. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_06&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=15290.
181
ELEIÇÃO DO PIAUHY: O SR. GOMES DE CASTRO. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 21 de fevereiro
de 1877. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_06&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=15263.
182
RODRIGUES, op. cit.
183
Idem.
74

Cavalcanti foi presidir a província do Piauí, o mesmo procurou manter todos os meios para
que fosse possível a candidatura de um ex-deputado, que no caso seria Coelho Rodrigues. No
período da sua administração toda a maquina burocrática foi sendo substituída, o que
contribuiu para um fortalecimento inicial de um grupo de centro conservador, minando a
causa de Agesiláo Pereira da Silva, um dos candidatos que acabou se elegendo em 1872 pelo
Partido Conservador, com apoio de Simplício Mendes.184
No final do ano de 1876 ocorrem novamente eleições pelo Piauí para a composição da
câmara dos deputados em que Coelho Rodrigues, fazendo parte do Partido Conservador de
centro, teria disputado. O mesmo, juntamente com Gervásio Campello Pires Ferreira, estavam
recebendo apoio do presidente da província no período, Luís Eugênio Horta Barbosa, que
substituiu o desembargador Delfino e buscou continuar com a política de apoio ao grupo de
que Coelho Rodrigues e Pires Ferreira faziam parte. Eram os dois candidatos preferidos para a
ocupação dos cargos tendo em vista que estavam na situação do governo provincial.185
O Partido Conservador se encontrava dividido em facções, as quais sempre existiram
dentro desse grupo político. O centro, que como vimos, recebia influência do presidente de
província, Horta Barbosa, apoiando Coelho Rodrigues e Pires Ferreira. Como dissidentes de
facções opostas de dentro do Partido estavam, de um lado, Agesiláo, que recebia apoio de
Simplício Mendes, e o Cônego Thomás de Moraes Rêgo, que estava concorrendo por uma
facção conservadora com pouca influência visto que foi o menos votado na disputa eleitoral.
Enquanto isso o Partido Liberal neste ano de 1876 se encontrou unido com a pretensão de
eleger Franklin Dória. Esse partido era minoria nessa eleição, dividir-se entre mais candidatos
consequentemente acarretaria em derrota certa.
Com a eleição finda o Partido Liberal na representação de Franklin Dória teria
contestado a validade do processo eleitoral. Mediante publicação do Jornal do Comércio,
Dória teria afirmado que a Câmara Municipal de Teresina e o presidente da província em
acordo com os políticos adversários acabaram apurando “votos de uma eleição falsificada,
attribuída ao collegio de S. Raymundo Nonnato, e também incluiu no computo da apuração os
votos de uma eleição duplicada do collegio de Valença, manifestadamente nulla”.186

184
ELEIÇÃO DO PIAUHY: O SR. GOMES DE CASTRO. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 21 de fevereiro
de 1877. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_06&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=15263.
185
DÓRIA, Franklin. Eleição do Piauhy. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 10 de janeiro de 1877. Disponível
em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_06&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=14963.
186
Idem.
75

Como salientamos inicialmente as estratégias de manipulação das eleições foram


constantes no período. Aquele grupo regional que encontrava relativamente maior influência
do governo central e meios internos favoráveis para se estabelecerem no poder, faziam o
possível para que os adversários ficassem de fora dos postos de mando na política. Mediante o
que consideraram os liberais em publicação no Jornal do Comércio, teria ocorrido uma
combinação política entre o presidente da província Horta Barbosa, Pires Ferreira, Coelho
Rodrigues, tenente-coronel Odorico Rosa e o próprio Agesiláo Pereira, na tentativa de
congraçar a família conservadora que estaria profundamente dividida.187
Os conservadores estiveram por um bom tempo divididos em facções políticas como
vimos. Nesse período houve uma suposta interação entre os principais grupos conservadores
para a eleição dos seus representantes e, nesse sentido, uma possível união entre as facções.
Para tanto teriam sido forjados acordos entre chefes políticos regionais com a finalidade de
eleger Coelho Rodrigues e Pires Ferreira, como conservadores de centro, e Agesiláo Pereira,
dissidente supostamente em acordo com o centro conservador. Para a eleição deste último
teria ocorrido fraude eleitoral em determinados municípios da província.
Nesse sentido, a fraude de Valença, uma das freguesias supostamente escolhidas para
a realização do conluio, se deu em meio a um congraçamento entre os chefes políticos
conservadores da região. De um lado estaria o coronel Manoel Modesto de Assumpção, que
apoiava Agesiláo, e do outro um tio de Coelho Rodrigues que o auxiliava, o Coronel Cândido
de Souza Martins. Como Coelho Rodrigues se encontrava certamente eleito visto que gozava
da proteção oficial do presidente da província, não foi difícil que se estabelecesse o acordo
para a realização da suposta fraude que teria elevado os votos de Agesiláo Pereira em relação
a Franklin Dória.
Segundo relatou este último em publicação no Jornal do Comércio, o diretório do
Partido Liberal já tinha antes tido algumas conversas com o presidente da província. Horta
Barbosa teria garantido que o diploma de Dória seria preservado em vista da nova lei eleitoral
que assegurava que se o candidato conseguisse o terço do eleitorado era nomeado para o
cargo que estava concorrendo. O diretório afirmou que se surpreendeu com o suposto acordo
entre o presidente e as facções conservadoras, afirmando que Horta tinha um bom conceito
diante de Dória e do próprio chefe liberal da província, o Conselheiro Paranaguá.188

187
DÓRIA, Franklin. Eleição do Piauhy. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 10 de janeiro de 1877. Disponível
em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_06&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=14963.
188
Idem.
76

Pelo outro lado, na tentativa de provar a veracidade das eleições, Agesiláo escreveu
uma fala em defesa da sua candidatura no Jornal do Comércio. O suposto acordo que
Franklin Dória e os liberais afirmavam ter sido firmado entre as facções conservadoras foi
desmentido, na linha do que afirmava Agesiláo. Em sua fala, este teria apontado que seria
impossível um acordo entre as fações. De um lado, ele e Odorico Rosa teriam se afastado de
Horta Barbosa interinamente por este ter afirmado ser impossível sua candidatura, pois estaria
o presidente em favor de Coelho Rodrigues e Pires Ferreira. Afirmou que mais impossível era
um acordo com Coelho Rodrigues, de quem seria inimigo a perto de cinco anos. 189 Porém,
apesar da suposta inimizade, Coelho Rodrigues em discurso na câmara no período em que o
processo da apuração do caso estava em aberto mostrou-se relativamente do lado do candidato
da facção conservadora.190
Apesar da dificuldade de se conseguir reverter um processo eleitoral tido como
fraudulento, da maneira como pretendia provar o Partido Liberal a respeito da eleição de
Agesiláo em desfavor do liberal Franklin Dória, este partido conseguiu reunir os meios para
impugnar a eleição do político conservador. Foi formada uma comissão de inquérito
parlamentar para analisar o processo eleitoral da província. Posta em votação a validade ou
não da eleição na câmara, por dois votos de maioria foi anulado o diploma expedido pela
câmara municipal de Teresina no dia 08 de dezembro de 1876 a Agesiláo Pereira da Silva,
sendo reconhecido ao mesmo tempo Franklin Américo de Menezes Dória como um dos
deputados eleito pelo Piauí.191
No período, as facções imperiais se encontravam balanceadas dentro da casa
legislativa e do ministério. Apesar da pouca diferença para a decisão em torno da suposta
fraude, o fato do gabinete se encontrar formado em maioria por liberais nesse período pode ter
sido decisivo para a conclusão do inquérito. Mediante aquilo que nos informa Carvalho, o ano
de 1876 foi um período de transição de um ministério conservador para outro de tendência

189
SILVA, Agesiláo Pereira da. Eleição do Piauhy. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 1877.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_06&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=14968.
190
CÂMARA DOS SENHORES DEPUTADOS: CONCLUSÃO DA SESSÃO DE 19 DE FEVEREIRO DE
1877. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de 1877. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_06&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=15262.
191
CÂMARA DOS SENHORES DEPUTADOS: CONCLUSÃO DA SESSÃO DE 20 DE FEVEREIRO. Jornal
do Comércio. Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 1877. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_06&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=15270.
77

liberal.192 Não que o fato da mudança dos ministérios possa influenciar eminentemente nas
decisões políticas no Piauí, mas isso pode ser relativamente considerado como fator para que
a maioria no parlamento de tendência liberal tenha apoiado Dória, revertendo o processo
eleitoral tido como fraudulento.
No dia 05 de setembro de 1878 ocorreram novamente eleições para a composição da
câmara dos deputados. Nesse pleito concorreram muitos políticos conservadores, de facções
diferentes. Além de Coelho Rodrigues, foram os políticos que concorreram pelo Partido
Conservador: Agesiláo Pereira da Silva, Cônego Thomaz de Moraes Rêgo, Capitão Henrique
Carlos Santos e Helvídio Clementino de Aguiar. Enquanto isso o Partido Liberal se
encontrava unido indicando os três nomes dos políticos que obtiveram sucesso no pleito,
foram eles: José Manoel de Freitas, Franklin Américo de Menezes Dória e José Basson de
Miranda Osório.193
Segundo Carvalho, em 1878 o Partido Liberal se assentou na política nacional e
conseguiu ocupar maioria no gabinete ministerial, permanecendo os políticos dessa facção por
um bom tempo no poder, até 1885.194 Esse foi certamente um fator contribuinte para que no
Piauí acabasse sendo mudada a configuração dos políticos a assumirem os cargos
administrativos, de conservadores a liberais, como no caso para o pleito de deputados nesse
ano. A ascensão do Gabinete Sinimbu de orientação liberal no ministério do Império em 05 de
janeiro de 1878 teria sido motivo de desapontamento para Coelho Rodrigues como narrado
em carta particular no Jornal do Comércio.195 Quem estava na administração da província
piauiense no período dessa eleição era o político liberal Sancho de Barros Pimentel.
Mediante A Imprensa teriam comparecido no dia da votação para a eleição dos
deputados, no final de 1878, 70 eleitores, dentre os quais 50 eram liberais e 20 conservadores,
faltando nomes importantes desses últimos como Simplício de Souza Mendes, Gabriel Luiz
Ferreira e José Gonçalves Pedreira. Pelos dados percebe-se o domínio liberal para essa

192
CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: a elite política. Teatro das Sombras: a política
imperial. 5ª edição – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
193
ELEIÇÃO SECUNDÁRIA. A Imprensa. Teresina, 10 de setembro de 1878. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=1
488.
194
CARVALHO, op. cit.
195
O desapontamento narrado se deu pelo fato de que os conservadores se encontravam na oposição.
Desorganizados e sem bases fortes para se estabelecerem no poder com a ascensão do ministério liberal, o que
restava para Coelho Rodrigues e os seus correligionários era aceitar a derrota. INTERIOR: PIAUHY. Jornal do
Comércio. Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1878. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_06&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=19434.
78

eleição, onde a grande maioria era de adeptos ao Partido da situação, o Partido Liberal. 196
Essa eleição, mediante carta particular de um político liberal que não assinou com seu nome,
teria se dado de maneira calma, sem uso da violência, apesar de ter havido suposta tentativa
de fraude por parte dos conservadores, com Coelho Rodrigues à frente:
Respeitada pois a liberdade do voto, a violência deixou de ser exercida, não
assim a fraude, porque esta appareceu em Oeiras, onde os conservadores
forgicárão uma duplicata, graças á formal intimativa do Dr. Coelho
Rodrigues, feita em uma originalíssima circular, em que o ilustre ex-
deputado, [...], aconselhava positivamente aos seus correligionários o
emprego deste e outros meios para vencerem a eleição.197
Apesar da suposta tentativa de fraude para vencerem as eleições da qual reclamou o
político do Partido Liberal no fragmento da carta, a vitória se deu eminentemente de políticos
ligados a essa facção. Na mesma carta particular teria sido feita uma consideração sobre
Coelho Rodrigues como político que reconhecia sua derrota, diferentemente de Agesiláo. Isso
pelo fato de que este último, vendo aproximar-se a derrota certa, deixou o seu partido no
período para tentar compensar os seus interesses no Pará, enquanto isso Coelho Rodrigues
acabou, mesmo reconhecendo que não venceriam, permanecendo no seu partido, deslocando-
se posteriormente à eleição para o Pernambuco, lugar em que ficou por um bom tempo
durante o domínio liberal no Piauí a partir de 1878.198
Coelho Rodrigues ainda tentou se eleger no pleito que aconteceu no final do ano de
1881 para a deputação geral pelo Piauí. Antes disso, mediante anunciado no Jornal A
Imprensa, teria ocorrido no dia 21 do mês de abril, dentre uma parcela dos membros do
Partido Conservador, na casa de Simplício de Souza Mendes, uma reunião. A principal pauta
da discussão que teria ocorrido foi uma votação dentre os 15 membros presentes para
deliberar sobre a chapa do partido que deveria concorrer às eleições que se aproximavam.
Feita a votação, os mais cotados para o pleito foram: Coelho Rodrigues, Coelho de Resende e
Agesiláo. Uma pequena parte dos votantes, vencidos, queria que o lugar de Coelho Rodrigues
fosse ocupado por Polydoro César Burlamaque.199
Mediante publicação do Jornal A Época, comentado n’A Imprensa, estaria, a partir dos
nomes mencionados, montado o esquema que o centro do Partido Conservador havia feito

196
ELEIÇÃO SECUNDÁRIA. A Imprensa. Teresina, 10 de setembro de 1878. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=1
488.
197
INTERIOR: PIAUHY. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1878. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_06&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=19434.
198
Idem.
199
NOTICIÁRIO: REUNIÃO. A Imprensa. Teresina, 29 de abril de 1881. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%22&pagfis=2014.
79

com pretensão de eleger os seus políticos. O Jornal considerou a fragilidade do partido de


oposição, o Conservador, e o quanto o mesmo estava dividido, pois nomes importantes teriam
ficado de fora da disputa, eminentemente monopolizada pelo centro conservador. Teriam
ficado à margem como dissidentes: Polydoro Burlamaque, Pires Ferreira e o Cônego Thomáz
de Moraes Rêgo, demonstrando a profunda desarmonia do partido, segundo afirmação d’A
Imprensa.200
Com as eleições em curso no ano de 1881 dividiram-se os candidatos de acordo com
os distritos para os quais pretendiam se eleger. Nesse período ocorreu mudança na forma das
eleições, onde os políticos eram eleitos por distritos formados por determinadas freguesias da
província. Os candidatos concorriam agora não pela província como um todo, mas por um dos
seus distritos. O Piauí no período acabou sendo dividido em três distritos pelos quais
concorreram tanto os políticos de centro conservador, como dissidentes desse Partido, bem
como políticos liberais.
Disputando vaga para deputado geral concorrendo pelo primeiro distrito do Piauí
formado por províncias centrais, incluindo a capital Teresina, Coelho Rodrigues acabou
ocupando a segunda colocação com diferença de 37 votos com relação ao primeiro colocado.
Seu concorrente mais forte por esse distrito foi o candidato que se elegeu pelo Partido Liberal,
desembargador Candido Gil Castello Branco. Além desses nomes, concorreu como dissidente
conservador por esse distrito Polydoro César Burlamaque, que ocupou a terceira colocação. 201
Pelos outros dois distritos foram distribuídos os candidatos de acordo com o programa
dos seus partidos. Concorrendo pelo segundo distrito como conservador de centro esteve
Coelho de Resende, que acabaria ocupando a terceira posição na disputa. A concorrência
maior ficou entre Pires Ferreira como dissidente conservador e José Basson de Miranda
Osório, liberal. Apesar de se encontrar relativamente na frente como apontaram algumas
apurações, Pires Ferreira não conseguiu se eleger e vai questionar posteriormente isso.
Miranda Osório acabou ocupando a vaga.202 Por fim, a disputa pelo terceiro distrito ficou
concentrada entre o conservador Agesiláo e o liberal Franklin Dória, obtendo este ultimo a
vaga pleiteada.203

200
NOTICIÁRIO: REUNIÃO. A Imprensa. Teresina, 29 de abril de 1881. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%22&pagfis=2014.
201
ELEIÇÃO GERAL. A Imprensa. Teresina, 29 de dezembro de 1881. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%22&pagfis=2155.
202
VOTOS PARA DEPUTADOS GERAES. A Imprensa. Teresina, 05 de novembro de 1881. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%22&pagfis=2124.
203
VOTOS PARA DEPUTADOS GERAES. A Imprensa. Teresina, 15 de novembro de 1881. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%22&pagfis=2130.
80

Publicado o resultado final dessa eleição, obtiveram sucesso os três políticos do


Partido Liberal: Cândido Gil, Miranda Osório e Franklin Dória. Felicitando os políticos da
facção que defendiam, o Jornal A Imprensa apontou que chegadas as apurações das ultimas
comarcas, da casa do capitão Marianno Gil Castello Branco, onde reuniram-se os
correligionários liberais, saiu às sete horas da noite “uma grande passeata, ao som de música
pelas ruas da cidade”204 em comemoração à vitória.
As eleições como sempre geravam um ambiente de tensões entre os grupos que
disputavam. Isso pelo fato de que os políticos em disputa não queriam perder espaço dentro
da administração, o que acabava gerando as reclamações por parte de determinados grupos
quanto a supostas tentativas de fraude. Com o fim da eleição ocorreram diversas reclamações
quanto à validade do pleito por parte dos políticos conservadores.
Segundo publicação d’A Imprensa, teria sido contestado o processo eleitoral perante a
comissão de verificação de poderes da câmara dos deputados. Um dos contestadores, Coelho
Rodrigues, teria estabelecido larga discussão, de que tomou parte também o liberal eleito
Cândido Castello Branco, acusando o delegado do Gabinete 28 de Março (de 1882) do
governo imperial, Sinval Odorico de Moura, de ter supostamente intervindo na eleição. Isso
pelo fato de que esse era parente, segundo apontado, de integrantes liberais, sendo primo e
cunhado de Augusto Colim, que fazia parte do diretório do Partido Liberal no Piauí.205
O Jornal narrou que Coelho Rodrigues possuído de ódio contra os seus adversários
políticos teria lançado ainda varias críticas ao Partido Liberal do Piauí e aos seus integrantes
após a derrota. Mais uma vez contestando a procedência da eleição do desembargador
Cândido Gil, Coelho Rodrigues teria pedido juntamente com Manoel do Nascimento
Machado Portella, por meio de emenda, que fossem anuladas a eleição de Oeiras e o diploma
de Cândido Gil, bem como que se mandasse proceder novas eleições. O Jornal liberal
finalizou afirmando que “por mais que o illustre candidato conservador manejasse a arma da
dialectica, não conseguiu levar a crença ao espírito dos illustrados membros da comissão”.206
Enquanto isso, também foi feita contestação quanto à vitória do liberal José Basson de
Miranda Osório pelo segundo distrito do Piauí. A contestação levou em conta, mediante
publicado no Jornal do Comércio, a contabilização de votos supostamente somados ao
candidato pelo partido liberal de maneira improcedente. A suposta fraude teria dado vantagem

204
ELEIÇÃO GERAL. A Imprensa. Teresina, 29 de dezembro de 1881. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%22&pagfis=2155.
205
A IMPRENSA. A Imprensa. Teresina, 13 de abril de 1882. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=783765&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=22
12.
206
Idem.
81

a Miranda Osório, que não deveria ter sido considerado eleito. Reclamando por Pires Ferreira
estava também Machado Portella e Coelho Rodrigues, ambos tentaram provar por meio dos
dados quantitativos da eleição e mediante lei eleitoral que Osório não poderia ser
reconhecido, pois não teria conseguido atingir no primeiro escrutínio a maioria absoluta de
votos.207
Apresentada a contestação perante a comissão era esperado que o diploma pretendido
pelo candidato liberal fosse anulado. Apesar das tentativas, foram frustrados os esforços dos
adversários conservadores nesse pleito. A comissão acabou votando contra os apelantes.
Nesse caso foram validados os processos eleitorais que deram vitória aos liberais no Piauí, os
quais passaram a dominar a política na província por mais um mandato. A situação mudou
quando mais uma vez ascendeu ao poder do Império um gabinete ministerial de tendência
conservadora, com os quais conseguiram os políticos locais estabelecer acordos.208
Diante dos expostos até então, vimos que Coelho Rodrigues no decorrer da sua vida
política esteve em relativa estabilidade durante alguns mandatos, mas a grande maioria das
vezes acabava como derrotado. Isso pelo fato de que no Piauí os liberais sempre estiveram
mais organizados, além do mais contavam com uma representação nacional de grande poder
na província e de prestígio no Império, o Marquês de Paranaguá, que dominou a política
piauiense durante muitos anos. Os conservadores até então não conseguiam estabelecer força
para se sustentarem, sobretudo, com uma representação de peso e influência nacional.
Coelho Rodrigues somente irá retornar à política piauiense nas eleições para o
mandato de deputado do ano de 1886, momento em que os conservadores voltaram a dominar
o ministério, derrubando do poder o Gabinete Saraiva, estabelecendo o Ministério de João
Maurício Wanderley, o Barão de Cotegipe, fazendo reordenar as administrações provinciais.
Nesse ano Coelho Rodrigues disputou eleição contra o político liberal Joaquim Antônio da
Cruz. Os dois foram os candidatos mais votados para assumirem o cargo de representante
como deputado pelo primeiro distrito do Piauí, sobressaindo Coelho Rodrigues, vencendo o
pleito. Além dele foi eleito como representante pelo segundo distrito seu correligionário
Simplício Coelho de Resende.
Quanto à atuação pelo terceiro distrito, até então a vaga era preenchida pelo político
liberal Franklin Dória. Porém houve contestação dessa eleição perante a comissão de

207
PUBLICAÇÕES A PEDIDO: PIAUHY. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 07 de fevereiro de 1882.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=4949.
208
Idem.
82

inquérito da câmara, pois segundo acusação de Coelho Rodrigues teria ocorrido crime por
inclusões fraudulentas de eleitores das comarcas de Parnaguá e Corrente, localidades de
domínio do Partido Liberal sob a influência do conselheiro Paranaguá, então senador e a
maior representação dos liberais no Piauí, como vimos.209
Feita a verificação, foi aprovada a emenda de Coelho Rodrigues anulando o diploma
de Dória e sendo reconhecido deputado o político dissidente conservador Jayme de
Albuquerque Rosa. Este, apesar de ter ocupado a vaga como dissidente, já que o preferido
para o distrito pelos conservadores de centro era um primo de Coelho Rodrigues, Elizeu de
Souza Martins, não deixou de ser defendido por Coelho Rodrigues. Certamente que, como a
intensão dos conservadores para acabar com o domínio liberal no Piauí e também
reestabelecer a harmonia do Partido, no final das contas uniram-se para esse fim. Isso explica
a defesa de Coelho Rodrigues em prol de Albuquerque Rosa para que assumisse a vaga no
parlamento em detrimento do liberal Franklin Dória.210
Mediante publicação do juiz de direito responsável pela organização do alistamento
eleitoral da comarca de Parnaguá, José Lustosa de Souza, genro de José Lustosa da Cunha, o
Barão de Santa Filomena e irmão do Marquês de Paranaguá, não era de surpreender a
anulação do diploma pelo ato da câmara. Isso pelo fato de que, segundo apontava ter
observado Lustosa de Souza, a ascensão do Partido Conservador ao poder do Império,
consolidando-se em 1886, supostamente facilitava que acontecesse o que se sucedeu, a
respeito da impugnação do diploma do liberal Franklin Dória.211
Essa impugnação foi uma vitória para os conservadores no Piauí, pois era minado um
posto da administração liberal que resistia em se sustentar. O fato ocorrido contribuiu para a
fragilização dos liberais, sobretudo para a diminuição da influência e poder do conselheiro
Paranaguá sobre a província piauiense a partir desse período. Outros fatores foram
contribuintes nesse sentido. O Jornal A Imprensa narrou durante o ano de 1886 aquilo que
seriam práticas realizadas pelos conservadores para desfavorecerem os liberais de
conseguirem ascender na política por meio das eleições.

209
CÂMARA DOS DEPUTADOS: VERIFICAÇÃO DE PODERES. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 26 de
maio de 1886. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=15341.
210
Idem.
211
SOUZA, José Lustosa de. O juiz de direito organizador do alistamento eleitoral de Parnaguá. Jornal do
Comércio. Rio de Janeiro, 15 de julho de 1886. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=15711.
83

Diversas medidas teriam sido adotadas durante o período em que a facção política
conservadora se estabeleceu no poder a partir de 1886. O Jornal citado relembrou que no
propósito “firme e deliberado de favorecerem as candidaturas oficiais”, que no caso seriam as
conservadoras, teria sido praticado nas eleições “atos arbitrários, escandalosos e violentos”.212
Relatou-se que no governo do presidente de província Manuel José de Meneses Prado
ocorreram interferências no sentido de favorecer a eleição de Coelho Rodrigues, como
mediante a remoção do casal de professores de Picos, Raymundo Martins de Souza Ramos e
Maria Porcina dos Santos, influentes personalidades liberais.213
Os exemplos se multiplicavam em diversas outras práticas, consideradas pela
oposição, violentas e de ameaça. Dentre os atos teria sido deslocado o alferes do exército,
Cândido de Carvalho, para a corte, por não ter prestado voto ao candidato oficial; Aumento e
remessa de força policial para diversos destacamentos da província; A compra de votos,
tentada pelos agentes da polícia, em favor dos candidatos oficiais; Prisão e detenção em
cárcere privado do eleitor Pedro César Machado da Comarca da União, pelo delegado de
polícia do termo, por ter declarado que votava no candidato liberal; Ocultação do escrivão da
subdelegacia do Livramento, que tinha que servir na organização da mesa eleitoral, para que
não houvesse eleição ali, onde os liberais teriam maioria na votação, dentre outros exemplos
que o jornal apontou como prática dos situacionistas conservadores.214
O Jornal relatou ainda que Coelho Rodrigues assumindo o cargo de deputado em 1886
estaria conseguindo angariar forças importantes, forças essas que contribuiriam para o
estabelecimento dos seus interesses e do seu partido no Piauí. Segundo considerou José
Faustino da Silva, desafeto de Coelho Rodrigues que também concorreu à eleição em 1886,
em publicação n’A Imprensa, este último teria conseguido, “para satisfazer ódios pessoaes e
partidários”,215 estabelecer relações com ministros novos do Império e partidários no sentido
de realizar no Piauí a demissão de funcionários que seriam antigos e dedicados à causa
pública, os quais eram do partido da oposição. Faustino da Silva mencionou como teria se

212
A IMPRENSA: COMO CORRERÃO AS ELEIÇÕES ENTRE NÓS. A Imprensa. Teresina, 13 de fevereiro de
1886. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=3
084.
213
Raymundo Martins de Souza Ramos era chefe popular e prestigioso do partido liberal do município dos Picos.
Segundo A Imprensa Raymundo era “um grande estorvo à eleição do candidato oficial [que seria Coelho
Rodrigues], e, portanto, urgia que fosse ele deslocado [retirado da sua profissão]”. Ver: Idem.
214
Idem.
215
SILVA, João Faustino da. Ainda as eleições de 15 de janeiro. A Imprensa. Teresina, 20 de fevereiro de 1886.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=3
088.
84

dado na província o domínio conservador durante a aproximação do período eleitoral, e o


quanto foi prejudicial para os liberais:
[...] província pequena e pobre, em que o número de empregados é muito
menor do que de qualquer outra, forão, entretanto, demittidos cento e tantos
liberaes em menos de cinco horas, lançando-se na miséria muitas famílias
honradas, que ficárão sem pão, não escapando mesmo os lentes vitalícios do
Lyceu e da Escola Normal e os professores da instrucção primaria que foram
removidos apesar da lei provincial n. 1.062 de 15 de Junho de 1882, em
virtude da qual só poderião ser removidos a seu pedido; outros forão
rebaixados para empregos de inferior categoria, e, finalmente, dos que
escaparão ao diluvio universal, alguns foi porque tiverão ingresso na arca de
algum conservador caridoso, que lhes servio de padrinho, cobrindo-os com a
bandeira de misericordia, e outros porque tiverão a fraqueza de mudar de
partido, comprometendo-se a votar no Dr. Coelho.216
Os atos que teriam sido cometidos pelo partido conservador de demissões e cooptação
foram práticas recorrentes. Após a vitória conservadora o Jornal A Imprensa para além de
criticar a pessoa de Coelho Rodrigues e seu partido no Piauí, fez uma consideração ao próprio
governo imperial. Isso pelo fato de que o que ocorreu no Piauí estava sendo reflexo do
domínio considerado completo do Partido Conservador no Império por parte do Ministério 20
de agosto de 1885, do Barão de Cotegipe. Passando por cima de leis e da opinião pública,
mediante consideração d’A Imprensa, o Partido Conservador conseguia formar uma “câmara
compacta, filha da fraude, herdeira das glórias que esgrinaldarão a fronte dura, que passou a
esponja de uma “moção de confiança” no saltimbanco que a coroa fez sentar no seos
conselhos”.217
Montado o ministério conservador ao lado da coroa na capital do Império, as linhas de
relações iam se estabelecendo nas províncias. No caso do Piauí, a partir do Barão de
Cotegipe, foi estabelecida a mudança do governo provincial, que passou a ser ocupado por
Meneses Prado, o qual foi realizando mudanças na província a fim de favorecer Coelho
Rodrigues e os conservadores. As mudanças em curso como vimos se davam pelas alterações
dos cargos de responsabilidade ocupados em maioria por partidários da facção que até então
dominava, a liberal. Foi dessa maneira que o já citado Augusto Colin, além do coronel José

216
SILVA, João Faustino da. Ainda as eleições de 15 de janeiro. A Imprensa. Teresina, 20 de fevereiro de 1886.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=3
088.
217
COLLABORAÇÃO: A ELEIÇÃO DO DR. COELHO RODRIGUES. A Imprensa. Teresina, 27 de fevereiro
de 1886. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=3
092.
85

Avelino, teriam sido retirados por ordem de Cotegipe ao então presidente Prado, dos cargos,
respectivamente, de procurador fiscal e tesoureiro na província.218
Estabelecido o domínio dos conservadores no Piauí, foram narrados pelo Jornal da
oposição indicativos de que Coelho Rodrigues estabelecia-se como um político influente na
província, aumentando seu poder a partir deste mandato. Em nota no Jornal A Imprensa teria
sido considerado que o mesmo estaria com poder para estabelecer nomeações de presidentes e
vice-presidentes de província para o Piauí. Mediante as considerações do Jornal citado, a lista
dos vice-presidentes de província nomeados por Coelho Rodrigues para a composição do
cargo em 1886 foi montada com os nomes de Firmino Licínio Soares da Silva, coronel
Raimundo José de Carvalho e Souza, capitão José Ribeiro Gonçalves, coronel Gervásio de
Britto Passos e coronel Miranda.219
O Jornal lançou criticas tentando demonstrar que essas nomeações eram irresponsáveis
pelo que consideravam o despreparo dos nomeados. Da mesma maneira com a posse do filho
de Gomes de Castro, Viveiros de Castro, do cargo de presidente da província em 06 de julho
de 1886, também nomeação atribuída a mando de Coelho Rodrigues, A Imprensa considerou
que o jovem Viveiros não tinha habilidades e nem responsabilidade para um posto de
presidente. Foi relatado que o mesmo vivia em festas intermitentes, e que na verdade a
província seria governada por Theodoro Pacheco e o Cônego Thomáz, considerados como
mentores da presidência, e partidários de Coelho Rodrigues.220
Além disso, fatos envolvendo a família de Coelho Rodrigues estariam sendo
considerados nos jornais, contribuintes para percebermos o que seria o aumento do seu
domínio e do seu partido no Piauí, sobretudo a partir desse período. Por um lado podemos
pensar que os oposicionistas sempre faziam relatar questões que fossem importantes para
denigrir a imagem do seu opositor. Por outro lado, os relatos servem para pensarmos o
estabelecimento de práticas por parte de familiares de Coelho Rodrigues no sentido de se
fazer ser temido na localidade.

218
NOTICIÁRIO: DEIXARÃO O EXERCÍCIO. A Imprensa. Teresina, 27 de fevereiro de 1886. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=3
095.
219
OS VICE-PRESIDENTES. A Imprensa. Teresina, 07 de agosto de 1886. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=3
188.
220
O SR. VIVEIROS DE CASTRO E A SUA CÉLEBRE PORTARIA. A Imprensa. Teresina, 14 de julho de
1888. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=3
584.
86

Em escrito no Jornal A Imprensa, Severino Camello da Silva apontou ter sido vítima
daquilo que considerou prepotência do irmão de Coelho Rodrigues, o capitão Ricardo
Rodrigues de Souza Martins. Este último, ao ter vendido o sitio Roque, no termo de Valença,
que havia sido arrendado para Severino dentro do tempo de 05 anos, acabou endereçando uma
carta a este para que desocupasse o tal sitio imediatamente, pois tinha o vendido ao capitão
Francisco da Cunha Sobreira. Por ter colheitas a fazer, Severino escreveu que teria se dirigido
a Ricardo com pretensão de se fazer cumprir o contrato firmado dos 05 anos do arrendamento.
Diante disso, o autor do escrito narrou que Ricardo teria mandado três capangas para se fazer
cumprir a desocupação do sitio, sem diálogo acerca do cumprimento do tempo do contrato.
Na sua fala, Severino acrescentou que Coelho Rodrigues e sua família estavam se
estabelecendo como um potentado, ou ditadores, na província.221
Outro fator que marcou esse período do que seria a expansão do poder de Coelho
Rodrigues no Piauí se deu pela suposta tentativa de compra de fazendas nacionais do
departamento de Canindé do Piauí. Em discurso no Jornal do Comércio, mediante citado n’A
Imprensa, Pedro de Barros teria criticado duramente o “enorme jurisconsulto” por considerar
tal prática ilegal, escandalosa e abusiva. Isso pelo fato de que a compra e venda de fazendas
nacionais era proibida abaixo de lei para membros do governo, como no caso de Coelho
Rodrigues, que seria representante da nação e da província na condição de deputado.222
Um fato interessante de ser analisado é que em muitos dos escritos de Pedro, o mesmo
não assinou com o seu nome. Isso se torna um indicativo do receio do que poderia acontecer
ao levantar críticas sobre uma personalidade política que encontrava-se com força na época,
caso de Coelho Rodrigues. Lembrando que do mesmo modo Coelho Rodrigues fez antes,
como vimos no capítulo anterior, deixando de assinar alguns dos seus escritos, como as cartas
de um lavrador, com críticas ao Império e a pessoas importantes no poder, como o próprio
monarca.
O fato é que no final do período imperial, mais precisamente no ano de 1889,
enquanto dominaram os conservadores no Piauí, adentrando a década de 1890, Coelho
Rodrigues começou a adquirir importante notoriedade, sobretudo no âmbito nacional da
política. Isso se deu por diversos fatores, como a sua participação em comissão responsável
221
SILVA, Severino Camello da. Publicações a pedido: Ao Público. A Imprensa. Teresina, 31 de dezembro de
1886. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=3
270.
222
BARROS, Pedro de. Abuso inqualificável: Fazendas nacionais. A Imprensa. Teresina, 24 de março de 1888.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=3
520.
87

pela revisão do projeto de Código Civil de Joaquim Felício dos Santos, no ano de 1881, onde
teria dividido escritório com o conselheiro Lafayette, este na condição de ministro da
justiça;223 Sua própria ocupação profissional enquanto professor de Direito, sobretudo Civil,
na Faculdade de Direito do Recife e na Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais do
Rio de Janeiro; Seu contato próximo com políticos do centro da administração nacional tanto
ainda no Império como no início da República, dentre outros fatores.
Diante disso, passaremos ao tópico seguinte pretendendo perceber as relações,
sobretudo políticas, de Coelho Rodrigues na esfera nacional, realizando paralelo com a
política local piauiense. Com vistas ao que seria o sucesso do político, torna-se objeto
importante de análise questionar como a sua influência no espaço central do poder imperial
acabou dando brechas para que determinadas personalidades regionais intitulassem de
coelhado o que seria uma prática política de domínio de Coelho Rodrigues sobre a condução
dos negócios políticos no Piauí no despontar do regime republicano, desde que conseguiu
obter mais estabilidade na política, sobretudo a partir de 1886.

2.2. O coelhado no Piauí como reflexo do sucesso político de Coelho Rodrigues no


despontar da República

Adiantamos anteriormente que Coelho Rodrigues foi associado ao que se estabelecia


como um potentado. Tal potentado na província piauiense como relataram alguns dos seus
desafetos pode estar relacionado ao seu sucesso na política, sobretudo nacionalmente. Em
tempos idos da década de 1880, Coelho Rodrigues ascendia, como vimos, a postos
importantes na capital do Império, ao lado de personalidades políticas consagradas. Isso
certamente lhe rendeu influência e um relativo poder como político dentro do espaço da sua
província natal, principalmente.
Vimos no capítulo anterior que Coelho Rodrigues destacou-se com títulos e postos que
ocupava desde o Império. Como professor no Recife no final da década de 1870 adquiriu um
importante título imperial de Comendador da Ordem de Cristo pela tradução das Institutas de
Justiniano. A década de 1880 lhe conferiu maiores reconhecimentos. Foi, por exemplo, no
magistério, um dos principais nomes que apareceu como fundador da Faculdade Livre de
Ciências Sociais e Jurídicas do Rio, bem como da Liga do Ensino no Brasil, onde prestou

223
O DR. COELHO RODRIGUES E SEU DIPLOMA. A Imprensa. Teresina, 12 de junho de 1886. Disponível
em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=783765&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfis=3
152.
88

importantes serviços em diversas conferências nacionais na corte, tratando de temas caros à


época, como a questão escravista.
Pelo lado jurídico também foram prestados importantes serviços por Coelho Rodrigues
que lhe geraram reconhecimento nacional. Participou não somente da comissão que daria
parecer sobre o projeto de código civil de Joaquim Felício em 1881, mas da Comissão
Especial formada para a execução do código civil, posteriormente à reprovação do projeto
Felício, durante o correr da década de 1880, bem como da última comissão imperial criada em
1889 que tentou levar a efeito o código civil, porém foi surpreendida com o golpe que
derrubou a monarquia. Nesta última comissão, em conferências onde participou o próprio
Imperador, já no ano final do regime, Coelho Rodrigues foi agraciado com um dos maiores
símbolos titulares do Império, Conselheiro de Sua Majestade.
Além disso, foi o jurista que se dispôs a entregar um plano para execução do código
civil, intitulado “Plano geral do projeto de Código Civil Brasileiro”, e apareceu destinando à
extinta comissão em prol da legislação civil um trabalho que havia preparado para apresentar
à mesma. Quando sobreveio o golpe militar que depôs o Imperador, Coelho Rodrigues
apareceu entregando ao governo provisório da República, em dezembro de 1889, o projeto de
lei que instituía o casamento civil no Brasil, ao lado do ministro da Justiça, Manuel Ferraz de
Campos Sales, sendo no período, segundo Ferreira, assessor do então ministro.224
O resumo de fatores expressos com maior detalhe no primeiro capítulo torna-se
importante de ser rebuscado para entendermos a maneira como Coelho Rodrigues esteve bem
posicionado dentro das raias do governo nacional na viragem da monarquia à República. Isso
é fundamental para percebermos como vão ser redesenhadas as relações político-partidárias
partindo do centro da política da Nação para os Estados republicanos, e a maneira como no
Piauí se deram essas relações com um suposto sucesso de Coelho Rodrigues, mediante o que
se intitulou coelhado.
Faremos análise daquilo que foi chamado de coelhado relativizando a visão dos
políticos oposicionistas que criaram o termo para hostilizar aqueles que estavam na situação
do governo. O dito coelhado, partindo do sentido que lhe foi atribuído dentro do livro “Os
fatores do coelhado”, escrito por Clodoaldo Freitas, este, político da oposição ao Partido de
que Coelho Rodrigues fez parte, seria:
[...] o despotismo da força bruta; a confiscação total de todas as liberdades; o
exercício do capricho; o império do arbítrio; o predomínio das paixões; a

224
FERREIRA, Ronyere. Clodoaldo Freitas, historiador: história, política e ressentimentos. In: FREITAS,
Clodoaldo. História de Teresina. 2. ed. São Paulo: Mentes Abertas, 2020, pp. 377-419.
89

eliminação completa do direito; o banimento da justiça, em uma palavra, o


regime brutal do poder sem lei, sem peias da moral, do pudor e da religião.225
Esse foi o sentido do coelhado atribuído por aqueles que se encontravam
desfavorecidos pelo sistema republicano que se estabelecia no Piauí, à base daquilo que seria
“a prática de uma política de perseguição aos desafetos, patrimonialismo, parcialidade e busca
pelo enriquecimento corrupto” daqueles que estavam no poder.226 Por outro viés, o coelhado,
pelo lado dos políticos vencedores na disputa, pode ser ressignificado como o sucesso do
grupo que se encontrou no período mais forte, partindo supostamente de práticas de
perseguição e apadrinhamentos. Grupo este que teve como “fatores supremos”, como
apontado por Freitas no seu livro, Coelho Rodrigues, aquele ao qual foi dado o nome à obra, e
Manuel Ferraz de Campos Sales, que com a força que tinha como ministro da justiça do
governo provisório seria o executor do dito coelhado no Piauí.
Para adentrarmos na discussão, torna-se importante compreendermos como estão
posicionados os sujeitos dentro dos partidos criados no novo regime, sobretudo no Piauí.
Além disso, é imprescindível fazermos análise de quais foram os fatos que se desenrolaram
para que a oposição se dispusesse não somente às críticas que fizeram nos jornais, mas à
escrita de um livro com sentido de fazer ferrenha oposição ao domínio político do grupo de
Coelho Rodrigues no Piauí.
Foi relatado no livro de Clodoaldo Freitas que chegando ao Piauí, no dia 26 de
dezembro de 1890, Gregório Taumaturgo de Azevedo, primeiro governador nomeado pelo
presidente da República para o Estado, houve a tentativa de criação de um partido único. Até
então os partidos se encontravam indefinidos. Conservadores e liberais já não tinham o
sentido de ser com o fim do regime imperial. As arregimentações partidárias foram
redesenhadas no Piauí, não conseguindo Taumaturgo de Azevedo a união entre os principais
chefes dos partidos findos, de um lado o elemento conservador Theodoro Aves Pacheco e do
outro o elemento liberal representado pelo Barão de Castelo Branco, para a formação do tal
partido único.227
As oposições resistiram, sendo formados dois partidos, o Federal e o Democrata. A
formação do Partido Federal teria se dado por um acordo estabelecido entre Teodoro Alves
Pacheco e o ex-liberal, João da Cruz e Santos, o Barão de Uruçuí, ao qual também se filiou
Joaquim Nogueira Paranaguá, sobrinho do Marquês de Paranaguá. Estava posto os

225
FREITAS, Clodoaldo. Os fatores do coelhado: escorço de história. 2. ed. Teresina: Academia Piauiense de
Letras, 2019, p. 37.
226
FERREIRA, Ronyere. Clodoaldo Freitas, historiador: história, política e ressentimentos. In: FREITAS,
Clodoaldo. História de Teresina. 2. ed. São Paulo: Mentes Abertas, 2020, pp. 377-419. p. 409.
227
FREITAS, op. cit.
90

representantes principais do grupo alinhado aos interesses de Coelho Rodrigues. Essa


formação teria motivado por outro lado a fundação do Partido Democrata, que se constituiu de
um acordo entre o Barão de Castelo Branco e o ex-conservador, Simplício Coelho de
Resende. O barão de Castelo Branco era considerado pela oposição conveniente à influência
do Marquês de Paranaguá. Taumaturgo teria sido infenso à criação dos partidos, pois
pretendia a criação do partido único, certamente pelo fato de que lhe garantiria maior
governabilidade.
Não conseguindo o almejado, mediante narrou Clodoaldo Freitas, Taumaturgo de
Azevedo teria declarado que as nomeações que fosse fazer no seu governo deveriam passar
pelo clivo dos chefes dos diretórios dos dois partidos, nesse caso o Barão de Castelo Branco e
Joaquim Nogueira. Porém, segundo apresentado no livro de Freitas, por conta de uma intriga
gerada pela negação de suposta indicação por parte de Theodoro ao governador, que só
aceitava se o pedido viesse assinado por Joaquim Nogueira, que era por conveniência o chefe
do Partido Federal, aquele teria escrito varias cartas a Coelho Rodrigues, no Rio, para que
intervisse na administração de Taumaturgo.
Diante desse ocorrido teria se sucedido a quebra da tênue relação entre as forças
políticas de oposição no governo Taumaturgo de Azevedo. Foi narrado que o jornal do
Partido Federal rompeu em oposição ao governador. Taumaturgo teria entrado com pedido ao
governo federal para a substituição dos vice-governadores, cargos compostos por políticos de
ambos os partidos. O primeiro vice era Nogueira; o segundo, Theodoro; e o terceiro, Barão de
Castelo Branco.
Diante da oposição feita ao governador pelo Partido Federal, o que percebemos foi que
no momento houve uma tentativa do governo de cooptar com os políticos do Partido
Democrata, que foi o partido ao qual estabeleceu vínculos. Essa era a tentativa de Taumaturgo
para subjugar os federais, que se encontravam em desarmonia com o governo. Os nomes
pretendidos para a composição dos cargos de vice-governadores foram: Barão de Castelo
Branco como primeiro; Jesuíno Freitas como segundo; e Coelho de Resende como terceiro,
todos democratas. Porém, foi narrado que os federais “pegaram fogo e o patrão deles, o
conselheiro Coelho Rodrigues agarrou-se unguibus et rostro ao Sr. Campos Sales, até que
este conseguiu a reintegração dos vice-governadores”228 que haviam sido supostamente
substituídos.

228
FREITAS, Clodoaldo. Os fatores do coelhado: escorço de história. 2. ed. Teresina: Academia Piauiense de
Letras, 2019, p. 30.
91

Com o sucesso diante dessa investida contra o governo Taumaturgo, os federais no


Piauí teriam se levantado em grande oposição ao governador, representadas por meio de uma
passeata e reunião na casa do Barão de Uruçuí. Foi um momento tenso na capital Teresina,
em que as forças policiais sob ordens do chefe de polícia tiveram que dispersar manifestantes.
Organizados em frente à residência do Barão de Uruçuí, foi relatado que dois tiros de revólver
teriam sido disparados em direção à casa do Barão. O tenente-coronel João de Deus Moreira
Carvalho, irmão do governador Taumaturgo, e o Sr. Emídio Pedreira foram processados como
autores de suposta tentativa de homicídio contra aquele sujeito.
Com os fatos ocorridos pouco tempo depois Taumaturgo foi chamado ao Rio de
Janeiro. Era a sua derrota. Teria sido dada a ordem pelo governo da República para que
passasse a administração do estado para o político do Partido Federal, Joaquim Nogueira
Paranaguá. Este assumiu o governo do Piauí na tarde do dia 04 de junho de 1891.229 Na
tentativa de conseguir reverter a situação quanto à administração do estado, no Jornal do
Comércio travaram-se intensas discussões em que se envolveram Taumaturgo e
correligionários, como Clodoaldo Freitas.
Nessas discussões ocorridas no Rio de Janeiro, ainda em 1890, já intitularam de
coelhado o exercício do que seria a prática de domínio e de exclusão atribuída a Coelho
Rodrigues, como principal responsável, e que posteriormente, em 1892, tornou-se título da
obra de Clodoaldo Freitas. Nas palavras de Taumaturgo, o que havia acontecido para o
mesmo ter sido retirado do governo da província foi fruto da tentativa de forjamento de um
marquesado230, que na verdade se fazia predominar por aquilo que foi chamado de coelhado,
o qual mediante sua afirmação seria “a suma de todos os ódios argamassados com a inveja e a
vingança de um coração repleto de perversidade sem limites”.231
Essa denominação do coelhado reproduzida por Taumaturgo na sua fala, depois
utilizada por Clodoaldo, deu-se por conta das supostas interferências de Coelho Rodrigues
para impedir a ascensão desenfreada de partidários do Marquês de Paranaguá, adepto do

229
FREITAS, Clodoaldo. Os fatores do coelhado: escorço de história. 2. ed. Teresina: Academia Piauiense de
Letras, 2019.
230
Apesar de não ter adquirido título de marquês, esse forjamento de um marquesado que Taumaturgo considerou
acerca do domínio de Coelho Rodrigues é interessante no sentido de percebermos a força deste na política em
início do regime republicano, força essa que não somente se igualou, mas ultrapassou no momento, como
veremos, o domínio que estabeleceu por muito tempo o político liberal, Marquês de Paranaguá, no território. O
Marquês de Paranaguá, na república, vai ser adepto discreto do Partido Democrata, partido esse de oposição ao
Federal.
231
AZEVEDO, Gregório Taumaturgo de. Estado do Piauhy. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 10 de agosto de
1890. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=1597.
92

Partido Democrata. Neste sentido, mediante acusação, Coelho Rodrigues teria se dirigido em
diversas ocasiões ao ministro Campos Sales para que intervisse nas nomeações para a
magistratura no Piauí. Exemplo salutar foi a suposta impugnação da nomeação de Clodoaldo
Freitas para o cargo de juiz de direito da comarca de Campo Maior, impugnação atribuída a
Coelho Rodrigues e certamente o principal fator que motivou Clodoaldo à escrita do livro
crítico “Os fatores do coelhado”.
Alegando justiça, Coelho Rodrigues justificou-se em publicação no Jornal do
Comércio quanto às acusações adversárias daquilo que reproduziam como práticas do
coelhado. Apontou que teria enviado diversas cartas ao governador Taumaturgo para que não
tomasse partido em situação de nomear ou fazer alteração na magistratura, senão quando se
pudesse contemplar conjuntamente um membro de cada um dos antigos partidos. Em
resposta, segundo Coelho Rodrigues, o governador teria lhe telegrafado recomendando que
não perturbasse nas suas combinações. Posteriormente, Taumaturgo teria pedido a nomeação
de Clodoaldo Freitas para o cargo acima mencionado. Como negativa da sua posse, Coelho
Rodrigues destacou o perfil de Clodoaldo como antigo radical, de escritos antirreligiosos, e
que o mesmo teria escrito uma biografia a seu respeito, publicada sem o conhecer, o que
certamente gerou intriga, pois o conteúdo seria ofensivo.232
Em carta publicada no Jornal do Comércio sob a epígrafe Estado do Piauí,
Taumaturgo deu mostras da maneira como o dito coelhado foi se estabelecendo. Relatou
desde o início da sua administração e a forma como teriam os federais se indisposto contra o
mesmo para que acabasse sendo retirado do poder. Muitos daqueles que estiveram próximos
do governo e do partido democrata foram destituídos de cargos e removidos para outros
estados. Podemos ver isso em parte do relato transcrito abaixo, onde, ao mesmo tempo em
que criticava as práticas do dito coelhado, Taumaturgo procurou defender os oposicionistas do
domínio do Partido Federal e de Coelho Rodrigues no Piauí:
O republicano conselheiro, em satisfação à sua nefasta política de ódio e
exclusões, para formar seu coelhado, removeu o Dr. Souza Lima de
Therezina para a Bahia e deportou de Amarante para a comarca de
Morrinhos, em Goyáz, elevada adrede de categoria, o Dr. Jesuíno José de
Freitas, magistrado honesto, circunspecto e digno da consideração do
governo, mas que tem o defeito de ser irmão do benemérito e sempre
chorado desembargador José Manoel de Freitas, que era liberal, bemquisto

232
Curiosidade sobre a escrita dessa biografia, mediante o que afirmou Coelho Rodrigues, foi de que o Marquês
de Paranaguá, considerando “de valor” a obra, pretendia premiar Clodoaldo Freitas pela sua realização com uma
vara de direito, mas teria sido impedido pela República. RODRIGUES, Antônio Coelho. Estado do Piauí III.
Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 27 de julho de 1890. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=1486.
93

por todos que com elle tratárão, tanto quanto o Dr. Coelho Rodrigues é
odiado pelos bons piauyenses, justa quibus est ira, e por quantos o
conhecem, excepção dos que delle precisão para algum fim.233
O citado Jesuíno José de Freitas, para além de ser irmão de um desafeto antigo de
Coelho Rodrigues, foi um dos nomes que Taumaturgo enviou como solicitação ao governo
provisório da República para ocupar o lugar de Theodoro Pacheco, como segundo vice-
presidente, como vimos anteriormente. No período das remoções citadas encontrava-se no
governo do estado do Piauí o já citado Joaquim Nogueira Paranaguá. O mesmo foi duramente
criticado por Clodoaldo Freitas no seu livro, sendo taxado de “inaugurador do coelhado”.234
Em publicação posterior de Taumaturgo, em agosto de 1890, o mesmo procurou
denunciar o levantamento daquilo que considerou intriga e mentiras contadas tanto por
Coelho Rodrigues quanto pelo primo deste, Eliseu de Souza Martins, no Rio de Janeiro.
Dentre as supostas mentiras contadas para a sua destituição estava a de tentativa
antirrepublicana de restauração do domínio do marquesado de João Lustosa da Cunha
Paranaguá, o Marquês de Paranaguá.235 Antes disso, em conversa com Eliseu, apresentada no
Jornal do Comércio, Coelho Rodrigues já tinha demostrado seu suposto receio de que o
governador tentasse manter o marquesado, e que, portanto, era preciso toma-lo do marquês.236
Esse foi um dos fatores que Taumaturgo apontou como mentiras difamadas a seu
respeito para que fosse minada a sua administração. Isso pelo fato de que com a queda da
monarquia e a posterior instalação da República os políticos do centro do governo provisório
do Marechal Deodoro tinham como pretensão acabar com determinadas forças imperiais
ainda persistentes. Paranaguá era um dos políticos mais influentes e respeitados do regime
imperial, isso lhe rendeu o título de marquês, porém com a instalação da República cessou o
poder de onde vinha sua força. As denúncias feitas por Coelho Rodrigues e Eliseu Martins
poderiam de fato prejudicar a administração de Taumaturgo ao ser este associado à suposta

233
AZEVEDO, Gregório Taumaturgo de. Estado do Piauhy IV. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 12 de agosto
de 1890. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=1613.
234
FREITAS, Clodoaldo. Os fatores do coelhado: escorço de história. 2. ed. Teresina: Academia Piauiense de
Letras, 2019, p. 37.
235
AZEVEDO, Gregório Taumaturgo de. Estado do Piauhy. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 14 de agosto de
1890. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=1628.
236
RODRIGUES, Antônio Coelho. Estado do Piauhy II. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 25 de julho de
1890. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=1474.
94

restauração do marquesado de Paranaguá no Piauí, pois assim passava a se tornar suspeito aos
princípios da nova ordem republicana.
Em complemento a essa suposta mentira que Taumaturgo afirmou ter sido levantada a
seu respeito, o empossamento de Joaquim Nogueira no seu lugar seria, mediante o que teriam
afirmado os seus acusadores, o melhor meio de barrar o marquês de Paranaguá, que
supostamente estava de acordos com o governo do estado. A substituição se faria importante
pelo fato de que teria sido afirmado que nenhum adversário intransigente já teve o marquês do
que seu próprio sobrinho Joaquim Nogueira. Este seria digno de substituir Taumaturgo no
governo, como republicano histórico e chefe do partido republicano do estado, minando assim
a suposta política de revitalização do marquesado no Piauí. Taumaturgo negou a acusação
afirmando que Joaquim Nogueira foi amigo e protegido do marquês, e não seu “adversário
intransigente”, como afirmavam os acusadores.237
A relação entre o Marquês de Paranaguá e Joaquim Nogueira teria sido respeitosa.
Ambos faziam parte da mesma família, porém estariam separados pelo fato de que defendiam
princípios opostos, segundo afirmação deste último. Nogueira seria republicano, enquanto o
marquês, monarquista. Em carta enviada a Coelho Rodrigues e Eliseu Martins, publicada no
Jornal do Comércio, Joaquim Nogueira teria declarado que, com o advento da República,
empregou esforços para que “o mais notável acontecimento da pátria” fosse recebido no Piauí
com satisfação geral. Segundo o mesmo, pretendia entender-se com seus parentes com a
esperança de vê-los unidos para o mesmo fim.238
Nogueira teria exposto que, com a formação dos novos partidos, pretendia o apoio da
família, consequentemente do próprio Marquês de Paranaguá, para a sua causa dita
republicana. Segundo um fragmento da carta, Joaquim Nogueira acreditava que Paranaguá “se
resignasse ao papel que representou no Império, deixando liberdade aos parentes que o
acompanhárão, e que provavelmente virião todos comnosco (referindo-se aos parentes), como
já estão em grande número, se o marquês se tivesse abstido”. 239 Foi afirmando pelo próprio
Joaquim Nogueira em carta ao Marquês de Paranaguá que se a divergência entre ambos era
determinada por princípios políticos, sendo este último monarquista, e tendo triunfado a

237
AZEVEDO, Gregório Taumaturgo de. Estado do Piauhy. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 14 de agosto de
1890. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=1628.
238
PARANAGUÁ, Joaquim Nogueira. Exms. Srs. Drs. Coelho Rodrigues e Elizeu Martins. In: RODRIGUES, A.
Coelho. Estado do Piauhy. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 20 de agosto de 1890. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Estado%20do%20Piauhy%22&p
agfis=1680.
239
Idem.
95

República, à qual Nogueira advogava, era conveniente a união da família em torno deste
último.
Porém, não foi isso o que teria se sucedido. Afirmou Nogueira que sabendo mais tarde
que o Marquês desejava continuar a influir na política do Piauí, teria tomado a posição de
levar a público os fatos políticos que supostamente se estabeleciam sob a inspiração do então
ex-governador Taumaturgo.240 Tais fatos, pelo que se percebe, seriam aquilo que os
acusadores Coelho Rodrigues e Eliseu Martins apresentaram como uma tentativa de
revitalização do marquesado de Paranaguá no estado, levando o governo da República a
intervir na administração piauiense, o que Taumaturgo e Clodoaldo atribuíram à obra do dito
coelhado.
Considerando os fatos narrados, no dia 04 de junho de 1890, após as recomendações
advindas da capital do Brasil, Rio de Janeiro, Taumaturgo foi exonerado do seu cargo,
passando a administração do estado do Piauí a Joaquim Nogueira Paranaguá. Estava
definitivamente estabelecida aquilo que Clodoaldo Freitas posteriormente narrou no seu livro
“Os fatores do coelhado” como sendo a inauguração do domínio do coelhado no Piauí. Esta
forma de se fazer política iniciada em Joaquim Nogueira, teria sido continuada por um bom
período mediante a administração dos seus sucessores, Gabino Besouro, João da Cruz e
Santos (Barão de Uruçuí), Álvaro Moreira de Barros Oliveira Lima, Gabriel Luiz Ferreira e o
início da administração de Coriolano de Carvalho e Silva.241
Na narrativa de Clodoaldo acerca das administrações do dito coelhado, ainda que
afirmasse estar pautado em documentos e assegurando fidelidade dos fatos, utilizou-se da sua
obra, segundo Ferreira, para “restaurar verdades, vingar os derrotados e expor os vícios dos
vencedores”.242 Nesse sentido, ao construir a história o autor, partindo da sua própria
experiência fracassada dentro do período de domínio do coelhado, selecionou acontecimentos
e levantou argumentos com pretensões de desfavorecer e hostilizar os seus opositores. Nesse
sentido, vejamos como o autor narrou as administrações do dito coelhado no Piauí.
Ao tratar da passagem administrativa para Joaquim Nogueira, Clodoaldo narrou que
“o infeliz estado estava entregue à horda famélica e selvagem” 243 do coelhado. Sua

240
PARANAGUÁ, Joaquim Nogueira. Exms. Srs. Drs. Coelho Rodrigues e Elizeu Martins. In: RODRIGUES, A.
Coelho. Estado do Piauhy. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 20 de agosto de 1890. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Estado%20do%20Piauhy%22&p
agfis=1680.
241
FERREIRA, Ronyere. Clodoaldo Freitas, historiador: história, política e ressentimentos. In: FREITAS,
Clodoaldo. História de Teresina. 2. ed. São Paulo: Mentes Abertas, 2020, pp. 377-419.
242
Idem, p. 414.
243
FREITAS, Clodoaldo. Os fatores do coelhado: escorço de história. 2. ed. Teresina: Academia Piauiense de
Letras, 2019, p. 33.
96

administração acabou resumindo-se, nas palavras de Clodoaldo, como um governo que estaria
destruindo tudo aquilo que Taumaturgo teria iniciado. Dentre algumas das medidas, teria
dissolvido a polícia e criado o corpo de segurança, realizado reformas no ensino público, além
do número citado de mais de 300 supostas demissões de empregados públicos.244
Foi relatado por Clodoaldo um ato de perseguição que teria ocorrido contra a sua
pessoa. Isso pelo fato de que teria proferido discurso na comarca da União onde apresentava
Coelho Rodrigues como “inimigo da pátria e fator de todos os males no Piauí”.245 O
governador Joaquim Nogueira sabendo do ocorrido supostamente acabou mandando o chefe
de polícia abrir inquérito contra Clodoaldo. No mesmo discurso, este acusou de estelionato o
ato da anulação do decreto que o nomeava Juiz de Direito de Campo Maior. Muitas das
críticas de Clodoaldo giravam em torno do ressentimento ocasionado pela perca do cargo que
almejava no estado.
Além do suposto caso ocorrido contra a sua pessoa, o autor relatou suposta fraude
eleitoral que teria ocorrido para fazer vencer o próprio governador Joaquim Nogueira, quando
concorria à vaga de deputado para a formação do primeiro Congresso da República. Dentre as
práticas para garantir a vitória teria espalhado pelo estado as forças de linha do 35° Batalhão
de Infantaria e a polícia. Segundo relatado, títulos de eleitores democratas não eram
entregues, além de que supostamente votaram policiais disfarçados de eleitores democratas.246
Com o sucesso na eleição de Joaquim Nogueira para ocupar a vaga que almejou de deputado,
foi empossado em seu lugar como governador pelo Piauí, o capitão de engenheiros Gabino
Susano de Araújo Besouro.
Clodoaldo narrou que um dos primeiros atos de Gabino Besouro ao assumir o governo
em 23 de agosto de 1890 foi realizar os melhoramentos dos desterros infligidos a diversos
magistrados pelo seu antecessor. Porém, pouco tempo depois a oposição novamente teria
sofrido as pressões do governo. Por meio de suposta fraude eleitoral, o governador teria
elegido os quatro deputados e três senadores da situação, logo o total de vagas como
representantes pelo Piauí para as casas legislativas na capital da República. Além disso,
Besouro teria aplicado a política de perseguição aos críticos de sua administração.
Um dos casos narrados foi da crítica que Coelho de Resende, político de oposição na
época e redator-chefe do Jornal A Democracia, teria feito ao governador neste periódico.
Julgando-se ofendido, Besouro teria mandado prender Coelho de Resende, o qual somente

244
FREITAS, Clodoaldo. Os fatores do coelhado: escorço de história. 2. ed. Teresina: Academia Piauiense de
Letras, 2019.
245
Idem, p. 36.
246
Idem, p. 38.
97

acabou solto por iniciativa dos seus colegas em irem ao Rio de Janeiro solicitar sua liberdade.
Segundo passagem do próprio Clodoaldo quanto ao ocorrido, afirmou que “o capitão Besouro
não tolerava os ataques da oposição e pretendia governar sem que, nestes escuros domínios do
coelhado, uma voz se erguesse destemida para censurá-lo. Por honra do jornalismo piauiense,
o déspota não conseguiu amordaça-lo [no caso, a Coelho de Resende]”.247
Com uma administração curta, resumida por parte dos seus opositores a tais práticas,
assumiu o lugar de Gabino Besouro, o bacharel Álvaro Moreira Barros de Oliveira. Enquanto
este vinha da capital para tomar posse do governo do estado, administrou o Piauí por um curto
período, de 19 de outubro a 26 de dezembro de 1890, o Barão de Uruçuí. Apesar de pouco
tempo, em seu governo foram narradas diversas práticas tidas como antidemocráticas pela
oposição.
Dentre atos destacados da sua administração, Clodoaldo citou a remoção do “honrado”
Cirilo Mota, de juiz municipal das Barras-PI e a rescisão da concessão do privilégio da
estrada de ferro do Amarante ao rio de São Francisco, dado aos engenheiros Newton
Burlamaqui e Benjamin Franklin. Clodoaldo apontou que o Barão de Uruçuí, em acordo com
Firmino Pires Ferreira e Eliseu Martins, conseguindo para si os privilégios da estrada de ferro,
vendeu por grandes somas obtendo o enriquecimento a partir de suposta prática corrupta.
As críticas de Clodoaldo não se limitaram aos supostos acima, o autor mencionou que
na sua política o Barão barrou a atuação de jornais de oposição e supostamente superfaturou
obras públicas. Quanto a esta última acusação, apesar da construção da estrada que ligaria a
capital Teresina à Colônia da Gameleira ser considerado um melhoramento, Clodoaldo não
deixou de apontar como prática para gasto de dinheiro público. Isso pelo fato de que a dita
estrada já existia e as somas destinadas para sua suposta construção teriam sido exageradas, o
que com quantidade menor de dinheiro poderia simplesmente ser batida, 248 segundo
Clodoaldo.
Sempre apresentado como o político perverso ao qual estava servindo o governo do
Piauí, Clodoaldo afirmou que as práticas de violência sofridas por diversas pessoas na época
eram obra da política de Coelho Rodrigues, o qual mesmo encontrando-se na Europa
redigindo seu projeto de código civil, supostamente influenciava com seus representantes na
política piauiense. Nesse sentido, o autor teria apontado que “o nobre Barão, como um dos

247
FREITAS, Clodoaldo. Os fatores do coelhado: escorço de história. 2. ed. Teresina: Academia Piauiense de
Letras, 2019, p. 46.
248
Na época as estradas que ligavam lugares relativamente distantes eram de terra. Aplicavam-se recursos para
que determinadas empresas batessem essa terra no sentido dela ficar mais firme, por isso a referência de
Clodoaldo à estrada ser simplesmente “batida”.
98

fatores do coelhado, não podia transigir e o seu governo, triste seguimento e triste
prosseguimento dos outros, não devia desviar-se uma linha da direção traçada pelo espírito
infernalmente perverso do malvado a cujas ordens servia”.249 Exemplo das supostas
violências praticadas na administração do Barão foram relatados em Jaicós, onde Benedito de
Alencar teria feito seus “mais terríveis desatinos” contra opositores políticos. Citou ainda a
prática de violência supostamente exercida pelo parente de Coelho Rodrigues, o coronel
Clementino de Souza Martins contra Aproniano de Barros Cavalcante. Todos praticando a
suposta política do “chefe supremo” do dito coelhado.
Enfim teria chegado ao Piauí o bacharel Álvaro de Oliveira Lima para assumir o cargo
de governador para o qual havia sido nomeado. Entrando em exercício no dia 26 de dezembro
de 1890, Clodoaldo narrou que o seu governo trazia uma única recomendação da capital, a
qual seria “ser compadre do conselheiro Coelho Rodrigues”.250 A oposição definiu o seu
governo como sendo ausente de princípios morais e cheio de velhos hábitos corruptos. Isso
pelo fato de que, por exemplo, para eleger o congresso do estado com representantes
escolhidos a dedo, sendo a oposição “radicalmente batida”, teria destacado praças de oficiais
do 35° Batalhão de Infantaria para os diversos municípios do Piauí.
Segundo Clodoaldo, Álvaro Lima era “uma joia inventada pelo patrão-mor do
coelhado”,251 servindo a todos os seus desejos. O autor relatou que, na sua administração,
policiais disfarçados ou capangas utilizavam-se dos títulos eleitorais de democratas em
Teresina, União, Barras, Amarante e outros lugares para votarem nos candidatos oficiais.
Teria feito ainda prevalecer o sistema de eleições a bico de pena, onde a junta apuradora
lavrava os resultados eleitorais de acordo com as determinações do poder local.
Foi dessa forma que a oposição definiu a maneira como Gabriel Luís Ferreira foi
eleito. Até então os governadores empossados teriam sido nomeados diretamente pelo
governo federal. Gabriel Ferreira foi o primeiro governador eleito pelo sufrágio universal do
congresso do estado. Tomou posse do cargo no dia 27 de maio de 1891. Até então as
administrações do Piauí governaram por pouco tempo, Gabriel Ferreira, por outro lado,
sustentou-se no poder até o final deste ano, a 21 de dezembro.
Segundo Clodoaldo, Gabriel Ferreira recebeu o poder do estado em um período de
relativa estabilidade política, pois não encontrava nenhuma oposição forte, apesar de poucas
resistências do Partido Democrata. Nas palavras do autor, “nunca um partido conseguira

249
FREITAS, Clodoaldo. Os fatores do coelhado: escorço de história. 2. ed. Teresina: Academia Piauiense de
Letras, 2019, p. 48.
250
Idem, p. 48.
251
Idem, p. 50.
99

galgar o poder como o Federal. Todos os cargos públicos, toda a magistratura, toda a relação,
tudo lhe pertence”.252 Com a estabilidade e a força política do grupo da situação ao qual
esteve associado Gabriel, Clodoaldo apontou:
Seguro no poder, o governador não curou de nenhum melhoramento para
este infeliz Piauí. O serviço público correu da mesma forma que no tempo
dos outros, e, o que é mais grave, continuaram as mesmas depredações, as
mesmas ferozes violências das autoridades contra as garantias e liberdades
públicas sem coerção alguma de sua parte. Em Picos, o coronel Helvídio
Clementino de Souza Martins mandou publicamente, às cinco horas da tarde,
no meio da rua, capangas seus agredirem ao vigário Padre Dr. Benedito
Portela e o jornal oficial, O Piauí, de que era redator o ex-chefe de polícia,
Dr. Anísio de Abreu, criatura de Karnak, com um desembaraço vizinho do
cinismo, saiu em defesa do audaz criminoso, fazendo declaração expressa de
que estava obrigado a defender quantos federais resvalassem no abismo do
crime. Semelhante inaudita declaração do chefe de polícia do Estado mostra
o grau de desmoralização da administração do Dr. Gabriel Ferreira.253
Apesar de o autor apresentar o governo como condizente com as práticas de violência
exercidas por membros do grupo do governador, acrescentou fazer justiça em prol de Gabriel
Ferreira. Isso pelo fato de que este não teria feito diretamente violências a direitos adquiridos.
Apontou que o mesmo foi fraco no sentido de barrar os abusos, mas não teria se manchado do
que considerou crimes e vergonhas dos seus antecessores e sucessor. Apesar de ter feito jus
nesse sentido ao nome de Gabriel Ferreira, Clodoaldo considerou como “lado escuro e
criminoso” da sua administração o que seria o esbanjamento enorme que teria feito com
dinheiros públicos:
Ao Sr. Joaquim Santana deu só de uma vez 16:000$000 para consertos de
rampas e taludes no porto desta capital, serviço que não foi feito até hoje
como é notório; deu-lhe depois outras verbas sem que ele tivesse, como é de
lei, prestado contas das primeiras; deu ao Sr. João Mendes 20:000$000 para
fazer um alojamento nesta capital, para os colonos que se dirigissem para a
Gameleira; deu 3:000$000 a um caixeiro do Sr. José Martins Teixeira para
bater a estrada da Gameleira para União e 3:000$000 ao Sr. Raimundo
Gomes para bater a que vai daqui para a Gameleira; deu 3:000$000 ao Sr.
Gentil Pedreira para fazer uma ponte no grotão que fica à entrada da Estrada
Nova, nesta cidade; deu 5:000$000 ao Sr. Piauilino, para abrir uma estrada
entre São Raimundo Nonato e a fazenda Canto do Buriti. Acusado pela
oposição, o Dr Gabriel cassou algumas dessas verbas, declarando fazê-lo
para salvar a sua honra particular comprometida!254
Clodoaldo afirmou que se não fossem os esbanjamentos de dinheiros públicos
praticados na sua administração como os supostos acima, seu governo teria sido considerado
o melhor dos governos do coelhado. Isso pelo fato de que apesar da carência de atos de

252
FREITAS, Clodoaldo. Os fatores do coelhado: escorço de história. 2. ed. Teresina: Academia Piauiense de
Letras, 2019, p. 53.
253
Idem, p. 54.
254
Idem, p. 58-9.
100

violência diretos da sua parte cometidos contra a oposição, era um homem considerado por
Clodoaldo “de inteligência” que ocupou a cadeira administrativa.
Próximo do final da administração de Gabriel Ferreira ocorreu a mudança de governo
nacional. Com a ascensão de Floriano Peixoto como presidente do Brasil em 23 de novembro
de 1891, a oposição no Piauí pretendeu retirar do poder do estado o então governador e nesse
sentido acabar com a política de domínio do dito coelhado. Para Clodoaldo e os
oposicionistas esse período de crise era propício para se realizar a fusão de todos os grupos
que formavam oposição em um só partido, isolando assim o coelhado, considerado inimigo
comum das dissidências, resultando na sua queda, como reflexo da queda do Marechal
Deodoro da Fonseca do poder nacional.
Clodoaldo narrou que com a queda do Marechal Deodoro e a subsequente deposição
do governador do Maranhão, Lourenço de Sá, foi pensamento da oposição depor
imediatamente o governador Gabriel Ferreira. Reunindo-se com Firmino Martins foi decidido
organizar-se com indivíduos e grupos de força, como o Batalhão de Infantaria, para a
realização do movimento. Com o projeto organizado, só restava esperar o amadurecimento da
ideia na consciência popular, mediante considerado pelos lideres da oposição.255
Passados poucos dias, segundo Clodoaldo, o momento era propício. Gabriel Ferreira
se encontrava em ruptura das relações amistosas com o Barão de Uruçuí. A população da
capital estaria em grande acrimônia com relação ao governador. As forças da oposição
encontravam-se agitadas, por um lado os democratas, pelo outro o Partido Católico, estavam
em acordo pela realização da deposição de Gabriel Ferreira. O próprio genro do Barão de
Uruçuí, Elias Martins, encontrava-se associado ao movimento dos grupos dissidentes.
Com as forças unidas em torno do objetivo de depor o governador, foram realizadas
algumas conferências públicas com os principais representantes do movimento e populares.
Dentre as personalidades que tomaram a dianteira da revolta estavam o próprio Clodoaldo,
Higino Cunha, Francisco de Paula Alvelos, José Euzébio, Antônio Costa, Elias Martins, José
Lopes, Antônio Diniz, José Luís, dentre outros. Uma comissão formada por esses membros
ficou responsável por expor ao Quartel de Linha, na representação do Coronel José Ramos, os
intuitos do movimento organizado em prol da retirada do governador Gabriel Ferreira do
poder. Este, sem necessidade da utilização de força, depois de conferência com os militares,
teria renunciado do cargo. Quanto ao ocorrido, Clodoaldo narrou:

255
FREITAS, Clodoaldo. Os fatores do coelhado: escorço de história. 2. ed. Teresina: Academia Piauiense de
Letras, 2019, p. 61.
101

A conferência durou cerca de duas horas e quando findou-se e a comissão


apareceu na Praça do Marechal Deodoro com a notícia da deposição, ou,
melhor, do abandono do Dr. Gabriel, todos nós, com o Barão de Castelo
Branco à frente, saímos ao seu encontro, sendo levantados entusiásticos
vivas ao coronel Ramos, ao major Dantas e aos outros oficiais, ao marechal
Floriano, ao Barão de Castelo Branco, ao Partido Democrata, à República,
ao Piauí, tocando a música o Hino Nacional.256
O que se esperava diante do acontecimento era o reconhecimento da decisão dos
populares em movimento e que fosse empossado um governador a seu gosto, segundo
afirmaram os oposicionistas. Foi criada uma junta governativa com o Coronel José Ramos
como presidente, além de Higino Cunha, Elias Martins, José Euzébio, José Lopes e Clodoaldo
Freitas, até que o governo geral resolvesse a crise, fazendo-se eleger um representante de
acordo com o interesse geral. Porém, o que se sucedeu foi uma discórdia entre os principais
líderes e posterior ruptura dentre os membros dirigentes do movimento.
A união que havia sido estabelecida entre as dissidências formando um único partido
foi desfeita. Isso provocou medo de que os federais pudessem novamente retomar o poder do
estado. Estavam assim as coisas, segundo Clodoaldo, quando chegou ao Piauí em 1892 o
sujeito considerado “emissário supremo do marechal Floriano Peixoto”,257 o Coronel
Coriolano de Carvalho e Silva. Este, ao chegar, depois de descansar de viagem e já ter
conversado com federalistas, segundo Clodoaldo, teria solicitado uma conferência com o
Barão de Castelo Branco. Dentre as pautas da discussão estavam a eliminação do Marquês de
Paranaguá e do líder dos democratas, Coelho de Resende, da política, e que o poder do estado
ficasse em suas mãos.
Depois de algumas conferências, não chegando a acordo sobre a eliminação de Coelho
de Resende da política, e já sabendo que o Marquês de Paranaguá estava voluntariamente fora
de cena, propôs-se a eliminação de Firmino de Souza Martins, membro do Partido Legalista.
Segundo teria apontado Coriolano de Carvalho, trazia da capital da República ordens do
Marechal Floriano para que não chegasse a estabelecer acordo que prejudicasse o Partido
Federal. Após determinadas reuniões, sem resistência, teria tomado o poder das mãos do
coronel Ramos, então presidente da junta governativa criada após a deposição de Gabriel
Ferreira. Empossado no poder, teria declarado que viera ao Piauí para montar o Partido
Federal, fazendo tudo que o seu diretório exigisse. Segundo Clodoaldo, quando no poder,
começou a sua “adrede devastação”:
Demitiu o inspetor do Tesouro do Estado, empregado vitalício; demitiu
alguns oficiais de polícia; demitiu todos os tabeliães e escrivães adversários;
256
FREITAS, Clodoaldo. Os fatores do coelhado: escorço de história. 2. ed. Teresina: Academia Piauiense de
Letras, 2019, p. 69.
257
Idem, p. 72.
102

demitiu todos os professores e professoras; demitiu todos os outros


funcionários públicos dos partidos contrários e, para coroar a sua fúria
demissionária, reformou a magistratura unicamente para exonerar três Juízes
de Direito legalistas, sendo para notar que criou mais três comarcas, que
mandou oferecer a bacharéis no Maranhão e em Pernambuco!258
Mediante apontado por Clodoaldo foi completamente escandalosa e cínica a maneira
como teria sido realizada a legalização da sua posse. Posto em votação o processo de eleição
para o cargo do governo, as práticas de exclusão do eleitorado, fraudes e agressões teriam sido
gerais em todo o estado. Muitas pessoas eram mandadas para votar em lugares impossíveis de
acesso por conta da distância. A prática de eleição a bico de pena, onde a mesa contava votos
a mais em favor dos federais acabava lavrando resultados supostamente fraudulentos. Dessa
maneira teria sido “legalmente” eleito governador do Piauí em 11 de fevereiro de 1892.
A sua política foi narrada por Clodoaldo como a mais violenta de todas as
administrações do dito coelhado. Uma das justificativas foi a da mudança do regulamento que
havia abolido o recrutamento militar forçado. Muitas pessoas, sobretudo homens, eram
caçadas pela polícia e retiradas dos seus lares para compor o corpo do 35° Batalhão de
Infantaria e servirem nas linhas de frente do exército em outros estados, como Pará e
Maranhão. Foi relatado que muitos fugiam e embrenhavam-se nas matas, abandonando seus
negócios e familiares para não serem recrutados pelo governo.
A administração de Coriolano de Carvalho foi ainda considerada por Clodoaldo como
aquela que injetou sangue novo nas veias do Partido Federal e consequentemente alimentou a
política do coelhado. O governador teria se cercado de pessoas influentes ainda no regime
imperial. Conservador ao lado de Simplício Mendes no Império, Anísio Auto de Abreu, na
República, apareceu como apoiador de Coriolano e narrado como um dos “maiorais do
coelhado”. Anísio Auto e Raimundo Arthur de Vasconcelos foram considerados conselheiros
do capitão Coriolano. Este último foi o substituto do governador quando findo o seu mandato.
Para Clodoaldo e os oposicionistas do Partido Federal e da política do capitão
Coriolano, o governo deste foi considerado “a culminância de todas as misérias do
coelhado”.259 O livro “Os fatores do coelhado” fez considerações apenas sobre o primeiro ano
da sua administração, pois publicado em 1892. Coriolano se estabeleceu no poder do estado
do Piauí até 1896, cumprindo seus quatro anos de mandato.
Apesar da narrativa da oposição considerar somente o início da sua administração, este
sujeito já era representado como aquele que teria feito assentar “o domínio das trevas

258
FREITAS, Clodoaldo. Os fatores do coelhado: escorço de história. 2. ed. Teresina: Academia Piauiense de
Letras, 2019, p. 74-5.
259
Idem, p. 94.
103

absolutas do coelhado”, como regime “perverso e mau” de dominação da política que tinha
como “fator supremo” Coelho Rodrigues. Este, no ano de 1892, segundo Clodoaldo, da
Europa, onde estava residindo o último ano trabalhando na realização da escrita do projeto de
código civil da República desde 1890, não cessava de animar ao governador Coriolano o
exercício da sua administração.260
O governo de Coriolano correspondeu com o período em que Coelho Rodrigues, após
regressar da Europa, tornou-se senador pelo Piauí. Coelho Rodrigues estava cotado pelos seus
partidários no estado piauiense para assumir o cargo de senador da República desde o ano de
1890. O mesmo na época conseguiria facilmente se eleger, porém dispensou a candidatura
pelo fato de ter fechado contrato com o governo para a realização do projeto de código civil,
de exclusiva dedicação.
Com a morte de Theodoro Pacheco, segundo Joaquim Nogueira Paranaguá, o nome de
Coelho Rodrigues era o mais cotado para substituí-lo no senado.261 Houve alguns embaraços
por parte do governo para que fosse reconhecido candidato eleito, tendo em vista o
fechamento do contrato para a realização do trabalho de codificação. Com o seu retorno da
Europa no final do ano de 1892 foram abertos requerimentos junto aos seus partidários para
que fosse reconhecido senador eleito. Depois de algumas tentativas, com a justificativa de ter
terminado o projeto de código civil, a Comissão de Constituição e Poderes, formada por
Aristides da Silveira Lobo, Quintino Bocayuva e Nina Ribeiro, no dia 04 de maio de 1893,
apresentou o seguinte parecer:
A Commissão de Constituição e Poderes á que forão presentes as authenticas
e a apuração da eleição senatorial a que se procedeu, em 31 de janeiro do
corrente anno, no Estado do Piauhy, verifica que a maioria de votos, na
importância de 7.889, que constitue maioria sobre todos os votados, recahio
no cidadão Dr. Antônio Coelho Rodrigues, pelo que é a comissão de parecer
que seja reconhecido e proclamado senador pelo Estado do Piauhy, o Dr.
Antônio Coelho Rodrigues.262
Coelho Rodrigues tomou assento no senado no dia 09 de maio de 1893. A escrita dos
“fatores do coelhado” não contemplou o período da sua ascensão a esse importante cargo na
representação nacional, o que certamente teria rendido mais páginas da história do
ressentimento dos grupos de oposição que viam ascender aos principais cargos

260
FREITAS, Clodoaldo. Os fatores do coelhado: escorço de história. 2. ed. Teresina: Academia Piauiense de
Letras, 2019, p. 85.
261
ELEIÇÃO NO PIAUHY. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 24 de março de 1895. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=16723.
262
CONGRESSO NACIONAL: SENADO (pareceres). Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 05 de maio de 1893.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=10927.
104

administrativos nacionais personalidades “não republicanas” ou “republicanas por


conveniência”. Essa foi a maneira como Coelho Rodrigues acabou sendo acusado de ser pelo
autor da escrita sobre o regime de exclusão do dito coelhado no Piauí. Quanto a esse regime,
Clodoaldo finalizou:
O Coelhado ai fica esboçado na sua realidade terrível.
Regime político em que o capricho substitui a lei; em que a vontade é o
direito, o coelhado é o inimigo que urge bater por todos os meios e modos,
porque ele é a compressão, a fraude, a violência, o esbanjamento, o roubo de
direitos, a negação de tudo que a moral ensina e a justiça clareia.263
Clodoaldo Freitas, como sujeito que se desiludiu com o regime republicano que se
instalou, fez representar no seu livro, mediante aquilo que foi chamado de coelhado, a política
republicana que não teve o seu sentido de ser para os excluídos. Por isso é esboçado como um
regime político do capricho, da vontade, da compressão, da fraude, da violência, enfim. Por
outro lado, partindo da narrativa dos vencidos, o coelhado foi o sucesso do grupo político de
Coelho Rodrigues, revelando ter esse político um suposto domínio e influente poder sobre a
política piauiense, sobretudo nos anos iniciais da República. Tal consideração satisfaz pensa-
lo nesse momento como articulador da República, fazendo prevalecer no Piauí, sob aquilo que
a oposição intitulou como regime do coelhado, o interesse do grupo no poder da nação.
Porém, com o decorrer do tempo nos deparamos com situação adversa. Da condição
em que se encontrava de representante nacional e influente político que exercia certo domínio
sobre o Piauí, tornando-se alvo de duras críticas por parte dos adversários, o que lhe rendeu
ser considerado dono do dito coelhado e da sua política de exclusão, Coelho Rodrigues
passou a enfrentar dificuldade. A instalação da República lhe fizera por um momento estar
próximo das raias do poder nacional, porém no decorrer do regime nos deparamos com certo
fracasso do sujeito na política, sobretudo no Piauí, onde não conseguiu mais se eleger após o
final do seu mandato de senador em 1896. Os fatores decorrentes a partir daí o fazem
desacreditar do regime instalado, e a República não teve o sentido de ser para Coelho
Rodrigues.

2.3. O fracasso político de Coelho Rodrigues e sua desilusão republicana

Há perto de quinze anos foi proclamada no Brasil a República Federal


Representativa, e há mais de treze foi promulgada a sua constituição. Já é
tempo de pedir-lhe conta dos seus resultados.264

263
FREITAS, Clodoaldo. Os fatores do coelhado: escorço de história. 2. ed. Teresina: Academia Piauiense de
Letras, 2019, p. 99.
264
RODRIGUES, Antônio Coelho. A República na América do Sul ou um pouco de história e crítica oferecida
aos latino-americanos, 1906. Brasília: Senado Federal, 2016.
105

Essa passagem sugestiva de um tempo recente à instalação da República abre a


discussão do primeiro capítulo do livro de Antônio Coelho Rodrigues, “A República na
América do Sul”, publicado pela primeira vez em 1904 e republicado com algumas
atualizações em réplicas e tréplicas a seus críticos no ano de 1906. Trabalho ímpar para
entendermos um pouco sobre o período decorrente do início da República, Fernandes
estabelece como salutar a “contemporaneidade” do livro de Coelho Rodrigues, tanto no
sentido da sua vivência dos fatos operacionalizados na época, como por discutir questões,
sobretudo políticas, que perduram na fase atual da vida no nosso país.265
Tecendo um comentário sobre a passagem citada, a mesma deixa clara pela força da
sua expressão que a República que se instalou não teve o sentido de ser para aquele que a viu
nascer e até mesmo contribuiu para o seu nascimento. Coelho Rodrigues viveu de perto, no
Rio de Janeiro, o frenesi das disputas envolvendo os principais atores da política nacional, e
acabou se desiludindo com os rumos da sociedade brasileira dita republicana, pedindo poucos
anos depois de instalado o regime, a conta dos resultados operacionalizados.
Sabemos que a República na verdade se firmou como um regime de exclusão. Uma
república que não foi, na linguagem de Carvalho. O regime imposto estabeleceu limites entre
aqueles que assumiram a administração, e aqueles que de fato almejavam uma república com
os seus princípios. Coelho Rodrigues apontou no seu livro que a República se organizou a
partir da exclusão dos republicanos históricos, sobre os quais recaiu a “voracidade de alguns”,
em meio à passividade geral do povo inerte aos acontecimentos.266
Vimos pelo viés daqueles que se encontravam excluídos da política republicana no
território do Piauí que o coelhado nada mais foi do que o reflexo da política de exclusão e
apadrinhamento que estava sendo praticada em âmbito nacional. Nesse sentido, o coelhado
teria sido um regime oligárquico na escala local, mediante aqueles que enxergaram Coelho
Rodrigues como líder supremo do exercício desse domínio sobre o território piauiense. Nesse
caso, aquele que anos depois criticou o regime teve certo poder diante da máquina burocrática
nacional e influência dentro da política piauiense nos primeiros anos da República.
Porém no decorrer do tempo e, sobretudo, com as mudanças operacionalizadas na
capital do Brasil nos anos iniciais da República, nos deparamos com situação adversa
envolvendo a cúpula política da nação. Isso pode ser significativo para questionarmos o que
seria o fracasso político de Coelho Rodrigues durante o período em que os partidos

265
FERNANDES, Ronaldo Costa. In: RODRIGUES, Antônio Coelho. A República na América do Sul ou um
pouco de história e crítica oferecida aos latino-americanos, 1906. Brasília: Senado Federal, 2016.
266
RODRIGUES, Antônio Coelho. A República na América do Sul ou um pouco de história e crítica oferecida
aos latino-americanos, 1906. Brasília: Senado Federal, 2016, p. 92.
106

republicanos estão se desenhando na esfera nacional, e os grupos de exercício de poder do


Estado brasileiro são redefinidos. Isso refletiu na maneira como foram redesenhadas as
alianças políticas de Coelho Rodrigues e partidários piauienses. Tais considerações nos fazem
pensar não necessariamente em um Coelho Rodrigues desiludido com uma República que não
teve o seu real sentido republicano, mas por ferir interesses dos quais o mesmo partilhou e
que, pelas adversidades do tempo e do acaso, deixou de partilhar, nisso enxergamos o seu
fracasso.
Não temos como pretensão nas linhas que seguem discorrer puramente sobre a obra de
Coelho Rodrigues, mas enxergar nas entrelinhas daquilo que foi escrito, com olhar crítico, a
frustração do homem no seu tempo. Frustração essa pela maneira como a República foi sendo
moldada aos interesses de determinados grupos, mas claro pelas adversidades que
contribuíram para que Coelho Rodrigues não mais figurasse dentre os grupos no poder da
nação, o que certamente motivou-o a escrever o seu livro “A República na América do Sul”.
Inicialmente é importante termos uma ideia da maneira como os partidos políticos
nacionais foram sendo moldados, sobretudo quanto ao Partido Republicano Federal. Vimos
anteriormente que no Piauí as adesões aos partidos Federal e Democrata redefiniram as
relações dos grupos de interesses daqueles que no território lutavam pelas posições de mando.
Coelho Rodrigues foi além de um dos fundadores do Partido Federal em escala nacional,
aquele que mais influência exerceu sobre a política no Piauí como um dos principais membros
desse partido antes mesmo da sua fundação nacional oficial, principalmente por ser um dos
mais respeitados políticos, sobretudo nos anos iniciais da República em que o Partido Federal
exerceu certo poder sobre a nação.
Este partido teve fundação oficial no Rio de Janeiro em 1893, inicialmente sendo
chamado de Partido Republicano Constitucional (PRC), por meio de uma reunião convocada
pelo deputado Francisco Glicério e o senador Aristides Lobo, ambos membros do Partido
Republicano Paulista (PRP). A ideia era formar uma agremiação partidária que em tese
garantisse a governabilidade da República, respeitando e defendendo a sua constituição.
Segundo Chacon, as bases estatutárias do Partido Republicano Federal foram estabelecidas no
sentido de dar grande autonomia aos estados e municípios, para que estes organizassem
livremente suas convenções ou diretórios locais, incumbidos de escolher representantes para a
grande convenção nacional do partido.267

267
CHACON, Vamireh. História dos Partidos Brasileiros. Brasília: Universidade de Brasília, 1981.
107

Um dos representantes políticos pelo Piauí que compuseram a cúpula do partido foi
Coelho Rodrigues, ao lado de políticos correligionários como o próprio Joaquim Nogueira
Paranaguá, que do Piauí teria sido um dos executores da política do coelhado, segundo as
críticas de Clodoaldo Freitas. Dentre as personalidades que fizeram parte do PRF em escala
nacional, além dos já citados, mediante a lista dos representantes principais do Partido
publicada no Jornal do Comércio, estão: Quintino Bocayúva, Nina Ribeiro, Manoel Victorino
Pereira, Prudente de Morais Barros. Este último vai se tornar o primeiro presidente civil do
Brasil por esse partido, após o fim do governo militar de Floriano Peixoto.268
Apesar de eleger o presidente da República, Prudente de Morais, em 1894, mais pela
sua hegemonia do que pela sua organização, pois contava com o maior apoio dos federais dos
estados brasileiros, o PRF foi uma agremiação bastante diversificada e com posições políticas
antagônicas. Congregaram-se dentro do Partido elementos conservadores, liberais,
republicanos históricos e adventícios, além dos indivíduos que não tinham nenhum interesse
partidário. Isso certamente foi fator contribuinte para que a organização do PRF não durasse
muito tempo, o que levou ao fim do mesmo no ano de 1897, logo após a tentativa de golpe do
vice de Prudente, Manuel Victorino, em união com Francisco Glicério, pelo assentamento do
poder dos jacobinos florianistas.269
Coelho Rodrigues foi um dos políticos que operacionalizou dissidência do PRF no
final do ano de 1895 e início do ano de 1896, quando ainda ocupava uma das cadeiras no
senado da República como representante do Piauí em fins do seu mandato. Nacionalmente, as
relações de Coelho Rodrigues com o diretório do PRF e, sobretudo, com Francisco Glicério
foram abaladas. Mediante publicação de uma carta no Jornal do Comércio, Coelho Rodrigues
teria sinalizado ao governador do estado do Piauí em 1895, o capitão Coriolano de Carvalho,
até então seu partidário, sobre o fato do Partido Republicano Federal, ou simplesmente,
Partido Federal, encontrar-se dividido na capital da República. De um lado estariam aqueles
que o mesmo intitulou de jacobinos na representação de Quintino Bocayuva e Francisco
Glicério; e do outro os democratas, chefiados por Almeida Barreto, João Severiano, Virgílio
Damásio, Christiano Benedicto Ottoni, Matta Machado, Bezerra de Menezes e o próprio

268
PUBLICAÇÕES A PEDIDO: PARTIDO REPUBLICANO FEDERAL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro,
05 de janeiro de 1895. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=15949.
269
CHACON, Vamireh. História dos Partidos Brasileiros. Brasília: Universidade de Brasília, 1981.
108

Coelho Rodrigues, eleitos representantes da agremiação criada, o Partido Democrata


Federal.270
A formação dessa dissidência política era reflexa da grande discordância entre os
principais representantes nacionais tanto por parte do governo como dentro das casas
legislativas. Francisco Glicério, republicano histórico paulista, responsável ainda no governo
do Marechal Floriano por ser o líder da fundação do PRF, coordenou esforços onde o dado
partido passou a controlar a totalidade das bancadas estaduais no Congresso Nacional, lhe
valendo o título de “general das 21 brigadas”. Apesar de conseguir amplo apoio para a eleição
de Prudente de Morais, o PRF não conseguiu sustentar a variedade dos interesses políticos em
jogo dentro do partido. Lessa apontou que em meio à aparente unanimidade da câmara, o PRF
em 1895 na verdade dividia-se em três facções principais: “os radicais, ‘fanáticos de Floriano’
e vencedores das revoltas ocorridas no governo anterior; os ‘reacionários’, inimigos dos
jacobinos florianistas; e os ‘moderados’”.271
O PDF vai ser taxado como “partido revoltoso” por aqueles que exerceram o domínio
sobre a política nacional desde então, incluindo o próprio Francisco Glicério e Quintino
Bocayuva, líderes dos jacobinos no legislativo. Glicério era criticado por ser um dos políticos
que, na visão de Coelho Rodrigues, provocaria a dissolução do Brasil em prol dos estados
sulistas. O sentido de “partido revoltoso” era valido, segundo Coelho Rodrigues, por ir na
contramão daquilo que foi considerada “Constituição ditatorial do Rio Grande”.
Entenderemos o motivo disso mais tarde, o importante nesse momento é visualizarmos como
Coelho Rodrigues foi perdendo força ao tornar-se dissidente pelo PDF.
No Piauí, a transmissão da representação do PDF como “partido revoltoso” vai
contribuir para a eliminação de Coelho Rodrigues da política. Após este solicitar a Coriolano
em 1895 que apoiasse para sucedê-lo no governo do estado o desembargador Álvaro Mendes,
certamente pretendendo ampliar sua influência como representante no cenário nacional,
aquele teria rompido relações que até então mantinha com Coelho Rodrigues. Este atribuiu o
rompimento à prática de uma política de capitães-generais que se montava para o exercício do
poder no estado do Piauí. De um lado, Raymundo Arthur de Vasconcelos estaria alimentando
a eliminação de Coelho Rodrigues da política piauiense ao denunciar que este, como um dos
principais membros do diretório do suposto partido dissidente revoltoso na capital, estaria

270
RODRIGUES, Antônio Coelho. Os capitães-generaes do Piauhy e o Partido Democrata Federal. Jornal do
Comércio. Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 1896. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=20311.
271
LESSA, Renato. A Invenção Republicana: Campos Sales, as bases e a decadência da Primeira República
Brasileira. 3 ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 2015, p. 135.
109

proferindo violentos discursos contra o PRF, partido oficial ao qual o governo do estado foi
adepto.
Por outro lado, Coelho Rodrigues teria apontado que o Governo Federal, por meio da
pasta da guerra, estaria secundando esforços para a sua eliminação do meio político. Tal
assertiva se dava pelo fato de que o então general Pires Ferreira, seu ex-correligionário, após
conseguir ascender a um importante cargo de Comandante do 4° Distrito Militar, do estado de
São Paulo, e encontrar-se como adversário de Coelho Rodrigues, teria se disposto a pactuar
com o capitão Coriolano no Piauí por aquilo que supostamente se planejava estabelecer.
Trocando por miúdos, segundo Coelho Rodrigues, com interesses próprios de firmar sua
posição no Piauí, Coriolano, em acordo com Pires, rompeu sua aliança com Coelho
Rodrigues, partindo da suposta dissidência deste como uma justificativa para a eleição do
capitão Raymundo Arthur de Vasconcelos, o qual de fato acabou assumindo o cargo de
governador do Piauí em julho de 1896, substituindo Coriolano.
Pouco tempo após a ruptura entre Coelho Rodrigues e Coriolano de Carvalho, o
ministro da guerra cassava a nomeação do capitão Benovolo, até então responsável no Piauí
pelas obras militares. No seu lugar foi empossado Raymundo Arthur, que desde então
preparava juntamente com Coriolano, o caminho para as novas configurações políticas que
garantiriam o sucesso dos seus interesses e isolamento de determinados elementos, como no
caso de Coelho Rodrigues.272
A ascensão de Raymundo Arthur ao governo em 1896 significou uma quebra das
relações políticas entre a capital e o estado partindo de Coelho Rodrigues como personalidade
influente sobre o governo piauiense na representação nacional. As bases de apoio deste
estavam sendo minadas, de um lado pelo capitão Coriolano, o qual elegeu para substituí-lo no
governo do estado Raymundo Arthur, e por outro pelos ex-correligionários general Pires
Ferreira, como comandante do 4° distrito por São Paulo e próximo ao ministro da guerra, e o
próprio Joaquim Nogueira, que estava até então como deputado federal pelo Piauí, e também
rompeu relações com Coelho Rodrigues. Além disso, o próprio Francisco Glicério, que como
influente político durante os primeiros governos da República teria se indisposto contra
Coelho Rodrigues, haja vista a sua dissidência pelo PDF.
Logo, a partir de supostas interferências do governo central na política do Piauí, por
meio de acordo entre seus representantes João da Cruz, Anísio de Abreu, Pires Ferreira e

272
RODRIGUES, Antônio Coelho. Os capitães-generaes do Piauhy e o Partido Democrata Federal. Jornal do
Comércio. Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 1896. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=20311.
110

Joaquim Nogueira, converteram-se os interesses do estado a um novo grupo arregimentado.


Foi narrada em cartas publicadas no Jornal do Comércio escritas por Álvaro Mendes à
Coelho Rodrigues como teria se dado o processo eleitoral no Piauí para os cargos legislativos
nacionais, sobretudo à representação no senado para o mandato que se iniciava em 1897,
durante o governo piauiense de Raymundo Arthur. Álvaro afirmou na carta que diversas
demissões, inclusive do vice-governador do estado e de funcionários federais, além das
práticas de ameaças teriam sido realizadas.273 Foram eleitos senadores pelo Piauí para o
mandato, Pires Ferreira e Joaquim Nogueira, este último conseguiu se estabelecer no cargo
desde então até o ano de 1906.
Sem apoio político local e em nível nacional, Coelho Rodrigues acabou sendo afastado
da representação do Piauí após o fim do seu mandato em 1896. Desde então até o fim da sua
vida, apesar de algumas tentativas para se eleger senador, inclusive concorrendo contra Pires
Ferreira, não conseguiu mais retornar à política como representante do seu estado. Mais tarde,
em publicação no Jornal piauiense Estafeta, e deste publicado no Jornal do Comércio no ano
de 1899, Coelho Rodrigues atribuiu sua exclusão da política à deserção ou rompimento com
lideranças políticas nacionais, mesmo antes da fundação do PDF. Francisco Glicério,
apresentado como governador do governo da república foi citado como o principal
responsável pela exclusão de Coelho Rodrigues da cena política nacional. Segundo este,
Glicério tinha muita influência sobre o governo federal de Prudente de Morais, sobretudo nos
primeiros dois anos do seu governo.274
Para além disso, foram apresentadas questões de ordem maior que teriam contribuído
para o seu afastamento da política, em meio às desavenças políticas. Com a expansão do
positivismo, com influência das escolas militares, e sua grande aceitação pelo grupo no poder
da nação, a república foi convertida, mediante Coelho Rodrigues, aos interesses do grupo com
pretensão de se constituir uma burocracia oligárquica tomando por base os princípios
positivistas. Para legitimar tais interesses, com o passar do tempo substituíam-se aqueles
elementos que se posicionavam em desacordo com o poder e supostamente condizentes com o
regime monárquico, nas instâncias legislativas como senado e câmara.275

273
VÁRIAS NOTÍCIAS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 06 de novembro de 1896. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=22944.
274
RODRIGUES, Antônio Coelho. Ao Piauhy e aos piauhyenses. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 24 de
maio de 1899. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=32229
275
Idem.
111

Em escala geral, teria sido isso o que aconteceu com Coelho Rodrigues. O mesmo não
se encaixava como peça para a garantia do interesse de grupo que pretendia legitimar a
república, e por isso acabou excluído de um dos principais cargos da administração nacional,
o de senador. Resumindo, para a garantia do interesse de determinado grupo no poder da
nação, a república acabou sendo convertida em instrumento de certas personalidades políticas
do centro, das quais Coelho Rodrigues acabou sendo afastado, sobretudo por ser considerado
um ex-monarquista de que possivelmente viria a defender. Esse simbolismo em torno da
imagem de determinados políticos conservadores como condizentes com uma política
monárquica gerava a sua exclusão. Lembrando que Coelho Rodrigues foi bem próximo do
Imperador, a ponto de ter sido agraciado com o título de Conselheiro de Sua Majestade.
O fato é que o seu afastamento rendeu anos posteriores a escrita do livro “A República
na América do Sul”, onde certamente motivado pela frustração, tentou apresentar aos seus
contemporâneos o que na verdade a dita república estava se tornando. Desiludido com os
rumos do regime, Coelho Rodrigues na sua obra acabou expondo do seu ponto de vista a que
interesses a república que se formava servia, sobretudo a partir do governo Campos Sales.
Campos Sales foi o político que substituiu Prudente de Morais na presidência nacional
em 1898 e deu legitimidade ao que historicamente ficou conhecida como a república
oligárquica. Por meio da sua Política dos Estados, ou Política dos Governadores, conseguiu
estabelecer uma governabilidade para o regime. Segundo Lessa, os dez anos iniciais da
República, desde a sua instalação até o governo Campos Sales, foram de indefinição da
maneira como o regime deveria funcionar. Sales teria sido o presidente que conseguira
estabelecer um sentido para o funcionamento do sistema, mesmo que baseado em prática nada
republicana.276
O pacto oligárquico estabelecido por meio da Política dos Estados operacionalizou
uma sistemática que permitiu que a nação fosse controlada, evitando a suposta anarquia e
desordem social. Para tanto foi combinada, de um lado, a importância da unidade nacional, e
do outro, os particularismos regionais dos estados, sobretudo os estados maiores, como São
Paulo, Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco. Nesse sentido, as oligarquias
estaduais exerciam o poder local pleno e garantiriam por meio do voto, mesmo forçado, a
partir do sistema coronelista vigente nos municípios, um congresso que fosse plenamente de
acordo com os interesses do presidente da república. Por sua vez o exercício da presidência

276
LESSA, Renato. A Invenção Republicana: Campos Sales, as bases e a decadência da Primeira República
Brasileira. 3 ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 2015.
112

cabia aos representantes dos grandes estados, por meio de eleições presidenciais controladas.
Isso garantiria a unidade nacional.277
Pelo que se percebe, Coelho Rodrigues acabou se tornando parte do grupo das elites
que, por meio da nova sistemática vigente, esteve como dissonante do poder. Aqueles que
acompanharam o percurso de Coelho Rodrigues até então podem se perguntar sobre o fato da
sua anterior relação próxima com Campos Sales, ainda no governo provisório de Deodoro em
1889, onde foi incumbido da execução do projeto de Código Civil, e porque o mesmo esteve
afastado dessa atividade com um ex-colega posteriormente na presidência da república ou
mesmo da política. O fato é que no período que decorreu o governo Campos Sales, pelo que
percebemos, a relação entre ambos já não foi tão amistosa, apesar de Coelho Rodrigues ter
sido empossado como prefeito do Distrito Federal durante o governo Campos Sales.
Podemos supor que os domínios do regime não partem simplesmente de um indivíduo,
são grupos que dispõem de interesses para a partilha do poder. As relações de políticos da
cúpula do governo Campos Sales com elites piauienses podem ter mudado, o que acarretou
em uma exclusão do elemento Coelho Rodrigues daquela política local. Isso não desconsidera
os particularismos de uma inimizade acarretada por desentendimento entre ambos no correr
do tempo, haja vista que Coelho Rodrigues no seu livro apontou que um dos motivos por ter
rompido relações com Sales foi, supostamente, “o seu bairrismo selvagem, a sua política
parricida e o seu vampirismo financeiro”.278
O fato é que Coelho Rodrigues foi critico no seu livro, sobretudo da maneira como a
política republicana a partir de Sales, acabou sistematizando a organização nacional em prol
dos interesses, sobretudo das elites oligárquicas sulistas, que dominaram e deram sentido à
república. O mesmo partiu da própria ineficácia do sistema legislativo vigente, materializado
na Constituição, como inicial meio de questionar aquilo que teria se imposto desde o início do
regime, e que mencionamos anteriormente, uma “Constituição ditatorial do Rio Grande”.
Carregada do positivismo, do qual Coelho Rodrigues foi crítico ferrenho, a constituição
supostamente legitimava um domínio sulista sobre a República brasileira em detrimento da
união.
O motivo disso diz respeito, sobretudo, aos interesses dos indivíduos, mas que Coelho
Rodrigues justificou como algo ligado às suas convicções filosóficas. Os ideais da filosofia
positivista de Augusto Conte exerceram muita influência sobre o século XIX e, sobretudo, na

277
LESSA, Renato. A Invenção Republicana: Campos Sales, as bases e a decadência da Primeira República
Brasileira. 3 ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 2015.
278
RODRIGUES, Antônio Coelho. A República na América do Sul ou um pouco de história e crítica oferecida
aos latino-americanos, 1906. Brasília: Senado Federal, 2016.
113

instalação da República. O positivismo foi influente sobre o imaginário de consolidação da


nova ordem, principalmente em meio ao exército, onde os oficiais acreditavam na
modernidade e na cientificidade como condutores positivos para a sociedade que saia do seu
estado de atraso em meio ao regime deposto.
Setores civis também adeptos aos ideais positivistas inscreveram na legislação e nas
imagens definidoras do regime signos positivistas. A própria inscrição na bandeira brasileira
da frase “Ordem e progresso”, que inclusive perdura até hoje, espelhou-se no lema da
doutrina conteana. Curiosidade a respeito das disputas em torno da inscrição desse lema na
bandeira é que Coelho Rodrigues foi um dos principais políticos que lutou contra essa
inscrição. No Jornal do Comércio são várias as referências que mostram o mesmo como
idealizador do projeto que visava mudar o lema da bandeira do Brasil, e que em seu lugar
fosse inscrito “Lei e Liberdade”.279 Coelho Rodrigues como jurisconsulto acreditara na
importância da legislação como organizadora e definidora das liberdades individuais, isso
justifica sua predileção por este último lema.
Além disso, o lema se adequava mais aos princípios dos quais Coelho Rodrigues
sempre afirmou partilhar. Critico assíduo do positivismo e dos políticos que utilizavam-se da
doutrina como base para as explicações da sociedade, Coelho Rodrigues foi defensor dos
princípios religiosos como base moral de organização social. Nisso criticou a ação dos
reformadores, após a instalação da república ao abolirem, quando se redigia o texto
constitucional, a então religião oficial do Estado, a católica, e promoverem a liberdade de
culto. Juntamente com isso, apesar de ter mencionado alertar Campos Sales, quando na
condição de ministro do Governo Provisório sobre a matéria ser melindrosa, Coelho
Rodrigues acabou sendo responsável por formular projeto de reforma no mesmo sentido, ao
redigir o projeto de lei que estabeleceu o casamento civil no Brasil. Matérias legislativas
caras, segundo o mesmo, pois era arriscado a um governo provisório que dependia do voto de
uma nação ao seu ver eminentemente católica para se manter.280
Ao falar a respeito da Constituição de 24 de fevereiro de 1891, Coelho Rodrigues,
escrevendo anos mais tarde no seu livro, justificou que a mesma não teria dado os seus
resultados, e que na verdade acabou tornando-se inutilizada, caindo em desuso e morta. Isso
por causa do acordo que havia sido estabelecido sob o nome de Política dos Governadores,

279
VÁRIAS NOTÍCIAS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 30 de setembro de 1896. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=22579.
280
RODRIGUES, Antônio Coelho. A República na América do Sul ou um pouco de história e crítica oferecida
aos latino-americanos, 1906. Brasília: Senado Federal, 2016.
114

entre o presidente Campos Sales e os governos estaduais, os quais em nada seguiram os


preceitos legislativos da Constituição, mas sim uma política que preservou interesses
particulares, baseado em acordos extraoficiais, logo informais.
Não devemos pensar estritamente no fato de que Coelho Rodrigues foi crítico do
sistema por acreditar na ineficiência da república ou no não cumprimento da constituição.
Torna-se importante compreendermos que seus interesses políticos foram feridos. Seu
deslocamento do centro da política nacional no decorrer da república pode justificar sua
desilusão pelo regime estabelecido. Mas claro, apesar dos interesses, Coelho Rodrigues
contribuiu positivamente ao expor ideias criticas sobre o status quo, denunciando o fato das
grandes oligarquias nacionais estabelecerem-se no poder e, supostamente, explorarem o país
em prol dos seus interesses particulares.
Prova disso foram os diversos exemplos dos atos do governo em que Coelho
Rodrigues expôs os interesses aos quais o governo federal estava servindo. Apontou para o
fato da autorização feita para a organização de uma importante companhia para fazer a
cabotagem, ou transporte marítimo de produtos, entre São Paulo e o Rio Grande do Sul. A
iniciativa era importante para a dinâmica econômica entre os estados, porém mediante aquilo
que Coelho Rodrigues apontou, faltava atenção com relação aos estados do norte e a sua
integração ao conjunto econômico nacional, formando a verdadeira União.
Em uma grande zona do Norte reinam a seca, a fome e as pestes
concomitantes, agravando a permanência dos seus governos violentos ou
vorazes, e enquanto lá se morre de sede e à míngua de tudo, celebram-se na
da União festins de Nero, para solenizar-se a inauguração de obras de luxo,
de cujo preço criminosamente encarecido, bastaria deduzir uma fraca
porcentagem para aliviar todas aquelas misérias.281
Nessa passagem Coelho Rodrigues destacou um suposto fato em que o governo para
tratar uma calamidade no estado do Rio Grande do Norte e Paraíba destinou cem contos e
cinquenta contos, respectivamente aos estados, o que considerou pouco. Por outro lado, o
mesmo apontou que para o Rio de Janeiro o governo destinou grandes somas com a finalidade
de bancar a festa de inauguração das obras do porto do estado, e para São Paulo, sem motivos
expressos pelo governo, grandes somas teriam sido desviadas, por supostas práticas de
corrupção. Isso demostra a falta de compromisso do governo para com os estados, sobretudo
do norte, mais carentes de atenção, sobre os quais, segundo Coelho Rodrigues, reinavam a
seca, a fome e as pestes concomitantes.

281
RODRIGUES, Antônio Coelho. A República na América do Sul ou um pouco de história e crítica oferecida
aos latino-americanos, 1906. Brasília: Senado Federal, 2016, p. 62-63.
115

Para curar dos males causados pela instalação da República que preservava interesses
particulares e consolidava uma sistemática de domínio antirrepublicana e por tanto
inconstitucional, mediante Coelho Rodrigues, este expressou sua opinião. Antes que
monarquista ou republicano Coelho Rodrigues se dizia patriota. De fato, presou pela união
nacional da pátria e era avesso a separatismo. O mesmo dizia-se preocupado com a
possibilidade de dissolução do Brasil, por isso acreditava que a unidade da nação valia mais
do que a forma de governo. Porém, Coelho Rodrigues, desiludido com os rumos da política
republicana, no seu livro, se disse arrependido das criticas feitas ao antigo regime. O mesmo
afirmou ter tido mais segurança na monarquia e por isso nos deparamos com sua tendência à
restauração do sistema deposto como medida para salvar o Brasil de possível dissolução.
Tal possível dissolução supostamente ocorreria em meio ao assalto, em nome da união
nacional, feito por determinados grupos de interesses, sobretudo do Sul do Brasil escudados
pela dita República. Para Coelho Rodrigues, os grupos que compunham o centro do governo
da nação, incluindo Paulistas e os tradicionais do Rio, foram taxados como sendo aqueles que
seriam os exploradores do país, escondendo-se atrás daquilo que foi chamado de república
para praticar as suas "atrocidades" sobre o Brasil e os brasileiros.
Podemos enxergar nas entrelinhas os interesses que certamente estiveram para além da
sua luta política. Coelho Rodrigues encontrou-se em uma situação de vulnerabilidade diante
dos novos grupos, com interesses diversos, do centro do governo nacional. O mesmo não
mais se encaixou dentre os grupos no poder, a tirar pelo fato de que no decorrer do tempo
Coelho Rodrigues passou de uma situação de figura publica nacional de destaque, e
localmente um oligarca, ao qual foi atribuía a prática de domínio conhecida como coelhado
pelos seus opositores políticos, para uma situação de desiludido com os rumos tomados pela
política nacional e, sobretudo, pela dita república.
Coelho Rodrigues muitas vezes mostrou-se controverso, o que é justificável perante as
circunstâncias do seu tempo que tornaram possível sua postura. Sua estadia e viagens à
Europa o faziam inspirar-se nos regimes democráticos das repúblicas exteriores. Porém no
Brasil a prática da república não condisse com os reais significados de um regime que pregava
a democracia. Isso é passível de inspirar o sentimento de Coelho Rodrigues pelo retorno
monárquico, no sentido de que o mesmo acreditava na segurança e funcionalidade do regime
deposto, antes que a continuação de uma “república de fachada”.282

282
RODRIGUES, Antônio Coelho. A República na América do Sul ou um pouco de história e crítica oferecida
aos latino-americanos, 1906. Brasília: Senado Federal, 2016.
116

Porém, tal consideração não deve ser tomada como fim em si mesmo. O retorno à
monarquia configurava-se em um pensamento de Coelho Rodrigues não somente pelo fato de
que o regime deposto lhe proporcionava segurança em meio ao caos que foi a república em
seus começos. É eminente que sua posição social esteve mais segura enquanto reinou Pedro
II. As relações de Coelho Rodrigues no Império eram importantes para manter-se estável na
política nacional. Quando a nova forma de governo foi estabelecida, apesar de um suposto
sucesso inicial, as novas relações foram com o tempo mostrando-se instáveis. Isso é
perceptível na passagem do seu livro em que, com certa ironia, mostrou sua posição contrária
à Política dos Governadores:
O número dos nossos exploradores é relativamente pequeno, e apenas
mantém a sua indústria rendosa à sombra da tolerância da força armada.
No dia em que esta lhes faltar, não haverá inimigos a combater; porque os
mais graduados irão digerir no estrangeiro o fruto do nosso trabalho, e o
resto será capaz de proclamar a restauração da sra. d. Isabel, se não recear a
resistência dos que já tomaram o pulso ao seu Governo. Esses heróis da
política dos governadores só nos parecem gigantes, porque estamos de
joelhos, ou porque têm a seu lado a luz do poder, e nessa posição a sombra é
sempre maior do que o corpo.283
Na passagem Coelho Rodrigues deixou clara a sua posição diante da política nacional,
sobretudo com relação à Política dos Governadores. A passagem de 1904, logo no período do
governo Francisco de Paula Rodrigues Alves, mostra claramente um político que se desiludiu
com os rumos traçados pela República, certamente que com influência dos seus interesses.
Isso justifica o posicionamento de Coelho Rodrigues no sentido de restauração da monarquia,
antes que viver uma república de interesse de um grupo de políticos do bairrismo, como o
mesmo intitulou os grupos dominantes da política nacional, sobretudo no sul do país.
No caso em questão da sua desilusão republicana e tendência ao antigo regime
podemos pensar no seu fracasso durante o decorrer do tempo, fato que o motivou a preferir o
retorno monárquico. Em meio aos seus escritos, Coelho Rodrigues deixou transparecer as
adversidade pelas quais a política lhe fez passar, sobretudo na República. Podemos
mencionar, além de tudo o que foi discutido, o próprio fracasso, mesmo diante de várias
insistências durante vários anos no decorrer da República, para a aprovação do seu projeto de
Código Civil.
Isso está intrinsecamente ligado ao seu fracasso na política. O mesmo passou da
condição de representante nacional do Piauí reconhecido, para a de desiludido com o sistema.

283
RODRIGUES, Antônio Coelho. A República na América do Sul ou um pouco de história e crítica oferecida
aos latino-americanos, 1906. Brasília: Senado Federal, 2016, p. 93.
117

Isso pelo fato das adversidades que fizeram redefinir grupos, tornando-se Coelho Rodrigues
um sujeito relativamente esquecido no seu tempo, haja vista o seu fracasso.
118

CAPÍTULO 3 – Antônio Coelho Rodrigues e o processo de codificação civil no Brasil

Consideramos Antônio Coelho Rodrigues um dos jurisconsultos que mais se envolveu


com o processo de codificação das leis civis brasileiras, apesar de ser pouco reconhecido
historicamente dentro desse processo. Não temos como pretensão nas linhas que seguem
simplesmente dotá-lo de total importância como jurisconsulto, mas tornar visível a ampla
participação que teve dentro de um histórico que reduziu seu aparecimento como operador das
mudanças legislativas de uma nação que se criava, sobretudo com um sentido de República,
onde as transformações políticas e sociais reclamavam a necessidade de renovação das leis,
principalmente no tocante ao direito civil.
Segundo as considerações de Aguiar, os operadores do direito, e podemos acrescentar
os desbravadores da história, desconhecem a obra e a própria existência de Coelho Rodrigues.
Isso é reflexo da sua exclusão e um suposto silenciamento em meio ao desenrolar dos fatos da
sua contemporaneidade, onde as relações pessoais e políticas de Coelho Rodrigues acabaram
tornando o seu reconhecimento histórico dificultado no decorrer do tempo. Não fossem
aqueles que se ocupassem de estudar sua importância, hoje o piauiense de expressividade
nacional da sua época não chegaria a figurar dentre os grandes que a história anuncia,
mediante Aguiar.284
Nesse sentido, pretendemos com o capítulo ampliar a discussão em torno do
envolvimento de Coelho Rodrigues como um dos principais jurisconsultos nacionais que, ao
lado de diversas outras personalidades reconhecidas, a exemplo de Teixeira de Freitas, Duarte
de Azevedo, Lafayette Pereira, Rui Barbosa, Clóvis Beviláqua, dentre outros, tornou-se
contribuinte para a construção de um sentido de nação brasileira, sobretudo republicana, no
tocante à renovação do seu aparato legislativo. Em meio às disputas políticas de então,
pretendemos enxergar como Coelho Rodrigues esteve imerso nas relações referentes à
execução de obra tão cara no tocante ao direito privado.
Por direito privado nos referimos ao campo do direito que tem como pretensão regular
os interesses particulares dos integrantes de uma nação.285 Fazia parte dos projetos de
construção nacional ainda no Império, sobretudo a partir da década de 1870, a formulação de
um código que abarcasse uma legislação eminentemente nacional, daqueles que eram
considerados cidadãos brasileiros. O código civil, como símbolo da renovação do direito

284
AGUIAR, Antônio Chrysippo. Coelho Rodrigues e a ordem de silêncio. 1. ed. Teresina: 2006.
285
Para mais informações sobre direito privado e também sobre direito público, ver: REIS, Sebastião Alves dos.
Uma visão do Direito: Direito Público e Direito Privado. Revista de Informação Legislativa, Brasília, v. 35, n.
137, p. 63-68, jan./mar., 1998. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/332/r137-
06.pdf?sequence=4&isAllowed=y. Acesso em: 20/jan./2022.
119

privado brasileiro, reuniria em sua composição os elementos legislativos para garantia dos
direitos e obrigações da população civil, regulando relações familiares, patrimoniais e de
sucessão, relações de trabalho, direito de propriedade, dentre outras matérias.
Nesse sentido, faremos inicialmente um levantamento histórico de como se deu o
processo de codificação civil no Brasil, levando em consideração as informações que o
próprio Coelho Rodrigues levantou sobre o assunto e que compôs a segunda edição do seu
projeto de código civil, publicado em 1897 com uma história documentada abaixo do título
“Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos anteriores”. 286
Buscamos evidenciar nessa investida inicial a sua participação ainda no Império como um dos
jurisconsultos responsáveis pela revisão do texto legislativo civil escrito por Joaquim Felício
dos Santos, o terceiro a que foi confiado pelo governo imperial em 1881 a redação do código
civil.
Posteriormente, a intenção é perscrutarmos a sua própria contratação para a redação do
primeiro projeto de código civil da República a partir de 1890, logo que o novo regime foi
instalado. A intenção é discutirmos como se deu o processo que envolveu a aceitação ou não
do projeto escrito por Coelho Rodrigues como base para o código civil brasileiro.
Sustentamos que a investida de Coelho Rodrigues para a execução da sua obra legislativa
tornou-se a mais complexa das tentativas de codificação, isso pelo fato da dificuldade que
teve para, em meio às disputas de então, desenvolver um projeto que acompanhasse as
mudanças políticas operacionalizadas pela viragem da Monarquia à República, o que
demandava adequar a legislação ao que de mais novo exigia para ser executado no novo
regime.
Finalizamos a nossa discussão questionando e sustentando o quanto Coelho Rodrigues
foi participe dentro do processo de codificação civil, apesar de não constar na historiografia
como tal. Enquanto convidado especial, sua presença foi constante em reuniões que
aconteceram nas casas legislativas com a finalidade de discussão da procedência do projeto
daquele que o substituiu na empresa da codificação e o oficial codificador das leis civis
brasileiras, Clóvis Beviláqua. Este é um fato que não conta nos esparsos estudos sobre Coelho
Rodrigues. Isso nos fez pensa-lo como uma personalidade que muito fez por um trabalho de
época ao qual foi dada grande importância, e que no fim pouco reconhecimento teve quando

286
Para mais informações a respeito da segunda edição do trabalho realizado por Coelho Rodrigues, ver:
RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos
anteriores. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commércio, 1897.
120

comparado com outras personalidades históricas expressivas do seu tempo envolvidas nesse
processo.

3.1. Coelho Rodrigues e o histórico da codificação civil brasileira no Império

O século XIX é considerado pela historiografia, sobretudo historiografia jurídica,


como o século das codificações. Durante esse período ocorreram amplas movimentações em
torno da unificação legislativa do direito das nações. Movimento iniciado com o Code Civil
francês, ou Código Napoleão, na França, em 1804, esse sentimento de concentração do direito
dentro de um corpo normativo renovado vai ser ampliado para as mais variadas nações da
Europa e América, que buscavam também codificar as suas leis.
A implantação do código civil significava um importante passo para a sociedade no
sentido simbólico de garantia da unidade nacional. Abaixo da legislação estava preservada a
garantia de consolidação dos estados nacionais, desenvolvendo nos indivíduos um sentimento
de pertencimento nacional. Nesse sentido, o código civil tornava-se necessário como elemento
do direito privado para a garantia de direitos e obrigações às pessoas dentro de um território
nacional. Uma definição importante do que significava simbolicamente o código civil
proferida na década de 1880 dizia que “o código é o gráo mais elevado a que se ergue o
espirito jurídico de um povo, no empenho de reduzir à unidade as suas relações e instituições,
de ordenar em uma grande lei o seu direito positivo [...]”.287
O código civil fazia parte dos ordenamentos jurídicos das nações em processo de
modernização. A promulgação desse corpo legislativo no Brasil tornava-se necessário na
mente de políticos e juristas como importante passo para a realização da modernização liberal
brasileira, e para que o país pudesse acompanhar aquelas nações que eram consideradas
civilizadas, pelo fato de já terem codificado as suas leis civis. Mediante aquilo que nos
informa Grinberg:
Sem um Código Civil, era impossível legislar sobre relações de trabalho,
sobre questões de herança, sobre doações de bens. Ou seja, sem a
organização do direito civil, era impossível organizar e controlar todas as
situações e conflitos jurídicos passíveis de ocorrer entre os cidadãos da
economia moderna que o Brasil do século XIX pretendia ser.288
O código como reflexo do processo de modernização das sociedades acabava
tornando-se necessário para o próprio funcionamento sistemático da burocracia nacional em
um período de mudanças. A aplicação prática dava-se sobre todo o território nacional e

287
RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos
anteriores. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commércio, 1897.
288
GRINBERG, Keila. Código Civil e cidadania. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001, p. 9.
121

abarcava todos os habitantes do país, ao passo que o código tornava-se importante regulador
das relações de todos aqueles capazes de constituir direitos e obrigações civis, ou seja, de
todos os cidadãos. Portanto, o código civil deve compreender as situações jurídicas de direito
privado existente entre cidadãos, e regular suas relações, por exemplo, de “comprar, vender,
trabalhar, casar, fazer testamento, herdar, comparecer em juízo como autor, réu ou
testemunha”.289
Desde a independência surgiu no Brasil a necessidade de elaboração do código civil,
composto de leis eminentemente nacionais. A Constituição de 1824 quando promulgada
anunciou a urgência com que deveriam ser formulados o código civil e criminal. Em 1831 o
Código Criminal brasileiro entrou em vigor e perdurou durante todo o Império, somente
sendo revisado anos mais tarde quando sobreveio a República. Por outro lado, o civil não
passava de uma ideia não consolidada.
No tocante às questões civis, o Brasil continuava regido pelas Ordenações Filipinas de
Portugal. As Ordenações Filipinas faziam parte do corpo de leis civis promulgada por
monarcas dos séculos anteriores ao iluminismo e aos teóricos da revolução francesa.
Sobretudo a partir da década de 1870 aumentava-se a pressão sobre o governo brasileiro para
a renovação da legislação civil. As ordenações eram tidas como corpo normativo que
simbolizavam o atraso, por fazerem parte das normas jurídicas anteriores às codificações, que
simbolizavam o novo e moderno na construção dos estados nacionais. Mediante João
Horácio, contemporâneo que escreveu sobre Coelho Rodrigues em 1890, quando este foi
contratado para redigir o seu projeto de código:
Nós, separados de Portugal há 64 annos, tendo promettido na nossa
constituição jurada em 25 de Março de 1824, um código civil fundada nas
bases da justiça e da equidade, até hoje nos regemos pelo Código Filippino,
lei barbara, anachronica, repudiada pela própria nação a que servio, replecta
de paradoxos e de velharias impossíveis, que assignalárão o domínio
absoluto, o feudalismo, as castas, o fidalgo e o plebeu, enfim todas essas
infinitas desigualdades odiosas, que as revoluções modernas hão procurado
extirpar do organismo social dos povos!290
Apesar da escrita de João Horácio datar de um período pós-instalação da República,
desde meados do século XIX não faltaram referências quanto à importância da renovação do
aparato legislativo civil como necessidade de um país que pretendia se tornar uma nação forte
e consolidada. Francisco Ignácio de Carvalho Moreira, o Barão de Penedo, desde 1845,
quando presidia o Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, enfatizava o quão tenebroso

289
GRINBERG, Keila. Código Civil e cidadania. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001, p. 9.
290
HORÁCIO, João. Carta do Rio. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 22 de julho de 1890. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=1449.
122

era o quadro das nossas leis civis, a ponto de afirmar que “o país não tem legislação própria,
tal o seu estado de confusão”.291
Comentário no mesmo sentido teria feito anteriormente Francisco Jê Acaiaba de
Montezuma, o Visconde de Jequitinhonha, apontando ser urgente a discussão da matéria.
Segundo comentário de Manoel Pinto de Souza Dantas, quando senador, em discurso na
assembleia geral do senado em 1886, o mesmo teria afirmado que “nesta parte da América, a
Venezuela, o Chile, a República Argentina, todos tem o seu Código Civil. Só nós é que
estamos com estas leis vetustas, anachronicas e confusas da antiga metrópole”, referindo-se às
Ordenações. Concordando, Soares Brandão acabou concluindo que “não temos andado com
muito espirito prático nessa questão”.292
Mais tarde, com a publicação da história documentada do processo de codificação em
1897, Coelho Rodrigues reafirmou a importância de dotar o Brasil de um código civil. Tinha
tanto interesse na matéria que reuniu no seu histórico não apenas o processo que impugnou
sua obra, mas uma variedade de informações a respeito de todo o processo histórico
envolvendo a formulação de obra cara ao direito civil pátrio. Coelho Rodrigues quis externar
aos seus contemporâneos para além das frustrações envolvendo sua pessoa, muitos aspectos
que o colocam como um dos principais responsáveis por incitar as necessárias e urgentes
mudanças reclamadas pelas circunstâncias do seu tempo, que culminariam na formulação do
Código Civil de 1916.293
Em artigo publicado no Jornal do Comércio no ano de 1896, Coelho Rodrigues, ao
discursas sobre questões políticas, lembrou o quão custoso para determinados juristas
nacionais foi terem se envolvido com a obra legislativa de direito privado, o código civil.
Acabou relatando que para além de si próprio ter sido injustiçado com o fato de o seu projeto
tramitar sem sucesso nas casas legislativas, teria acometido a um dos iniciadores do processo
de codificação com a loucura e ao outro sobreveio a morte.294
Claro que o mesmo quis enfatizar o quão custoso foi no decorrer do tempo a
realização de uma obra até então inconclusa, e sem perspectiva para consolidação. As

291
RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos
anteriores. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commércio, 1897.
292
ASSEMBLEIA GERAL: SENADO. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 05 de agosto de 1886. Disponível
em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=15865.
293
RODRIGUES, op. cit.
294
RODRIGUES, Antônio Coelho. Os capitães-generaes do Piauhy e o Partido Democrata Federal. Jornal do
Comércio. Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 1896. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=20311.
123

discussões em torno do código civil percorreram um longo processo. Enquanto os vizinhos da


América já tinham codificado as suas leis civis, o Brasil continuava vivendo abaixo das
Ordenações Filipinas, as quais nem mesmo no país de origem, Portugal, vigoravam.
Segundo Grinberg, um dos principais fatores que dificultaram a realização do projeto
de codificação civil no Brasil está relacionado às disputas em torno da definição do conceito
de cidadania em fins do século XIX e início do XX. Isso pelo fato de que nas Américas e,
sobretudo no Brasil, ainda se praticava um regime de trabalho escravo. Nesse sentido,
tornava-se difícil para os juristas do Império e do início da República brasileira formular com
clareza essa definição, estabelecendo quem eram e quem não eram considerados cidadãos
para os quais recaiam direitos e obrigações.295
Isso contribuiu para levar ao fracasso diversas das tentativas de codificação do direito
civil pátrio. A primeira delas ficou a cargo de Augusto Teixeira de Freitas, quando em 1854
foi incumbido pelo então ministro da Justiça, José Thomaz Nabuco de Araújo, da
responsabilidade de elaborar o projeto que deveria tornar-se base para o código civil. Coelho
Rodrigues, na sua história documentada sobre o processo de codificação afirmou que firmado
contrato com o governo, aquele que considerou “notável jurisconsulto” deu início aos
trabalhos a partir de 1855, apresentando efetivamente seu projeto inicial no ano de 1858,
abaixo do título “Consolidação das Leis Civis”.296 Esse foi um trabalho preliminar em que
Teixeira de Freitas reuniu em um documento as normas civis brasileiras até então vigentes e
aproveitáveis para a composição do código.
Mediante Coelho Rodrigues, com louvores ao autor e à obra, o projeto acabou sendo
aprovado em 24 de dezembro de 1858. A comissão responsável por dar parecer sobre o
trabalho inicial de Teixeira de Freitas foi composta por Paulino José Soares de Sousa, o
Visconde de Uruguai, conselheiro Nabuco de Araújo e o advogado Caetano Alberto Soares.297
A partir de 1859, Teixeira de Freitas foi convocado para a redação oficial do código civil.
Porém, depois de ter escrito e publicado o seu “Esboço do Código Civil”, acabou desistido da
empreitada. Seu abandono deu-se anos mais tarde, em 1867, depois de longos embates entre o
mesmo e o governo. Um desses embates ocorreu assim que o projeto foi destinado em 1862 à
revisão por parte da comissão responsável pelo parecer. A mesma acabou sendo refeita com
novos nomes, além dos que fizeram parte da primeira.

295
GRINBERG, Keila. Código Civil e cidadania. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
296
RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos
anteriores. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commércio, 1897.
297
Idem.
124

Compuseram a comissão José Carlos de Almeida Arôas, Antônio Joaquim Ribas, Braz
Florentino Henriques de Souza, Joaquim Marcelino de Brito, Jerônymo Martiniano Figueira
de Mello, Francisco José Furtado e Caetano Alberto Soares, sob a presidência do Visconde de
Uruguai. Depois de apresentados os pareceres em separado a comissão dissolveu-se, pois o
projeto se achava em esboço e, portanto, incompleto. Alegando anos mais tarde
incompatibilidade entre sua concepção jurídica e a do governo, Teixeira de Freitas teria
abandonado o contrato.
Mediante as considerações de Grinberg, os reais motivos para a desistência de Freitas,
segundo alguns, teria sido por conta da suposta loucura que o acometia, causada pelo excesso
da dedicação sem descanso à codificação da legislação civil.298 O próprio Coelho Rodrigues
apresentou a sua opinião nesse sentido afirmando acreditar que o “famoso jurisconsulto” teria
entrado em um “estado de monotonia religiosa [...], provavelmente por excesso de
trabalho”,299 o que o fez desistir, mesmo após o governo ter ampliado o prazo de entrega do
trabalho contando mais dez anos sobre os três firmados em contrato. A tal “monotonia
religiosa”, segundo Ramos, foi um conceito utilizado à época que significava um estado de
doença mental.300
Outros acreditavam que o motivo da sua desistência foram os relacionamentos
pessoais e divergências políticas e jurídicas entre o mesmo e personalidades da época. O fato
é que em 1867, Teixeira de Freitas escreveu ao governo uma carta onde deixava claro que
havia desarmonia entre seu pensamento e as vistas do Governo Imperial. Segundo Grinberg,
enquanto Freitas pretendia que o código abarcasse tanto o direito civil quanto o comercial, o
governo pretendia que o código civil abordasse apenas aspectos que contemplassem a
legislação civil. Teixeira de Freitas acreditava que dessa forma o código nasceria com um
mal, tendo em vista que estaria sempre subordinado ao código comercial.301
Com a quebra da relação entre Teixeira de Freitas e o governo esfriaram-se os debates
em torno da codificação. Somente no ano de 1872 foi decretado o contrato celebrado com o
conselheiro e senador Nabuco de Araújo para que entregasse ao governo do Império um
projeto de código civil. Segundo consta na história documentada apresentada por Coelho

298
GRINBERG, Keila. Código Civil e cidadania. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
299
RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos
anteriores. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commércio, 1897.
300
RAMOS, Henrique Cesar Monteiro Barahona. O “mandato divino” de Teixeira de Freitas: O jurista entre a
loucura e a fé. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH, São Paulo, p. 1-14, julho, 2011.
Disponível em:
http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1308185621_ARQUIVO_omandatodivinodeteixeiradefreitas
_ojuristaentreareligiaoeafe.pdf.
301
GRINBERG, op. cit.
125

Rodrigues, Nabuco de Araújo era o político e jurisconsulto mais preparado para suceder
Teixeira de Freitas na obra. O mesmo tinha acompanhado de perto como integrante da
comissão primária o processo de construção do projeto do primeiro codificador, por isso era o
mais apto para realizar o trabalho.302
Nabuco de Araújo tornou-se o segundo na tentativa de proporcionar ao Brasil um
corpo legislativo civil. Com previsão para começar os trabalhos no ano de 1873, contando três
anos para a execução do projeto, Nabuco acabou se dispondo ao exercício depois de fechar
contrato por meio de Duarte de Azevedo, este enquanto Ministro da Justiça. Apesar do tempo
estipulado, o trabalho se estendeu até 1878, ano em que Nabuco de Araújo acabou falecendo,
sem que houvesse concluído a obra. Na verdade o mesmo ainda não tinha escrito nenhum
texto, apenas reunido uma grande quantidade de notas e apontamentos.303
Segundo consta na história documentada de Coelho Rodrigues, isso acabou tornando-
se reflexo da vida agitada de Nabuco na política. O mesmo, quando contratado para a redação
do projeto de código civil, não deixou de exercer suas funções como Conselheiro de Estado e
Senador. Coelho Rodrigues mencionou que apesar da capacidade e preparo, essa vida agitada
bastaria para esgotar a atividade de Nabuco, o qual acabava prestando poucas horas a serviço
da redação do código. No final, foi entregue pelo seu filho, Sizenando Nabuco, material ainda
não coordenado e apenas redigido o título preliminar com 188 artigos e mais 182 da parte
geral, isto é, ao todo 300 artigos, pela maior parte calcados sobre o Esboço de Teixeira de
Freitas.304
Coelho Rodrigues reuniu as informações transmitidas por Sizenando, quando este deu
conta de apresentar ao então Ministro da Justiça, Lafayette Rodrigues Pereira, em 1878, a
obra inconclusa do seu pai. O mesmo apontou que quando Nabuco tomou para si a empresa
da codificação era preciso reformar a obra inteira. Pela complexidade da feitura do código, foi
necessário empreender uma revisão sistemática de todo o direito civil para começar então a
escrita do seu projeto. Da mesma forma que Teixeira de Freitas teria feito com o seu esboço,
Nabuco o fez, dividindo a matéria, distribuindo por índices alfabéticos, tomando os

302
RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos
anteriores. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commércio, 1897.
303
Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, ou simplesmente Joaquim Nabuco, historiador, político e
diplomata brasileiro, filho de Nabuco de Araújo, produziu um livro biográfico a respeito do seu pai que, apesar
da proximidade do autor ao objeto de estudo, torna-se uma importante referência sobre a pessoa de Nabuco de
Araújo e, de maneira geral, sobre a política imperial brasileira. Para mais informações, ver: NABUCO, Joaquim.
Um estadista do Império: Nabuco de Araújo, sua vida, suas opiniões, sua época (1813-1857). Rio de Janeiro: H.
Garnier, Livreiro-editor, 1897.
304
RODRIGUES, op. cit.
126

apontamentos necessários, comparando os diversos códigos, logo, assentando as bases do


projeto, como afirmou Sizenando.305
Segundo o mesmo, esse trabalho preliminar acabou tomando quase todo o prazo do
contrato. Sizenando afirmou que a pretensão de Nabuco de Araújo seria entregar uma obra
que fosse condizente com as necessidades do país, e que para além de satisfazer interesses
econômicos próprios, o seu compromisso era com a nação, para zelar a imagem que tinha.
Isso teria sido o motivo do tempo ter deixado de ser uma preocupação. Sizenando expressou
essa justificativa para a demora do trabalho, sem que Nabuco chegasse a uma conclusão.306
Poucos meses após a morte de Nabuco de Araújo, Joaquim Felício dos Santos
ofereceu-se em junho de 1878 para redigir o trabalho de codificação do direito civil. Tornou-
se o terceiro na tentativa. Mediante a proximidade que tinha com o Ministro da Justiça
Lafayette e membros da sua família compondo o governo, caso do seu sobrinho, Antônio
Felício dos Santos, que no período esteve como deputado por Minas Gerais, a Joaquim foi
confiada a obra depois de aceito o acordo com o conselheiro Lafayette para a redação
espontânea do projeto. Este deveria ser entregue dentro de três anos contados a partir de julho
de 1878, devendo ser submetido a uma comissão de jurisconsultos para revisão em 1881.307
Caso fosse aprovado, Joaquim Felício receberia os honorários pela obra feita.
Encaminhado ao governo em 1881 os “Apontamentos para o Projeto de Código Civil
Brasileiro”, o Imperador junto ao então ministro da justiça à época, Manoel Pinto de Souza
Dantas, logo nomeou a comissão responsável pela análise do trabalho apresentado. A
comissão foi oficialmente formada em 04 de julho de 1881. Esse foi o momento em que
Coelho Rodrigues começou a aparecer de forma ativa nos trabalhos referentes ao processo de
codificação civil no Brasil. O mesmo vai ser chamado para compor a comissão, como um dos
principais jurisconsultos da época, que deveria dar parecer sobre o projeto apresentado por
Joaquim Felício. Dentre os membros que compuseram a referente comissão, como publicado
no Jornal do Comércio, além de Coelho Rodrigues, estavam o conselheiro Lafayette
Rodrigues Pereira como presidente, Antônio Joaquim Ribas, Antônio Justino Gonçalves de
Andrade e Antônio Ferreira Vianna.308

305
RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos
anteriores. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commércio, 1897.
306
Idem.
307
Para mais informações sobre Joaquim Felício dos Santos, ver: CARVALHO, Felipe Quintella Machado de.
Joaquim Felício dos Santos e a codificação do direito civil brasileiro. Revista Brasileira de Direito Civil –
RBDCivil, Belo Horizonte, v. 19, p. 63-96, jan./mar. 2019. Disponível em:
file:///C:/Users/win10/Downloads/362-965-1-PB.pdf.
308
GAZETILHA: CÓDIGO CIVIL BRAZILEIRO. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 05 de julho de 1881.
Disponível em:
127

Mediante as considerações do governo o projeto deveria estar de acordo com os


progressos da ciência e com as circunstancias peculiares do Império. A necessidade da
codificação tornava cada vez mais urgente para os dirigentes o trato com relação à matéria,
como forma de preencher a lacuna que faltava quanto ao direito civil. Essa falta de um corpo
legislativo renovado, segundo Souza Dantas, forçava a manter uma legislação esparsa,
antiquada e já sem vigor no próprio reino de onde havia sido transplantada há anos atrás,
reforçando a fala de muitos outros políticos além dos citados anteriormente.309
Apesar dos louvores ao autor e à sua obra, os “Apontamentos para o código civil” de
Joaquim Felício não possuía, segundo a comissão, base suficiente para revisão, depois de feito
um exame preliminar apresentado em parecer no dia 27 de setembro de 1881. A
complexidade da matéria exigia estudo acurado sobre os pontos tratados no projeto, dos quais
o autor acabou aos olhos da comissão exercendo pouco domínio. Como parecer final optou-se
pela não aprovação do projeto, sobre o qual animou o autor para que, fazendo retoques,
pudesse o trabalho ter suficiente base para franca revisão.310
Mediante decreto do ministro Souza Dantas, também publicado no Jornal do
Comércio, após a decisão da comissão revisora foi resolvido que esta se fizesse permanente, e
que o autor do anteprojeto, constituindo a mesma, formulasse um projeto seguindo o plano
que aludia o parecer. Com o devido acompanhamento dos jurisconsultos que compunham a
comissão foi então acertado que Joaquim Felício desse continuidade à obra para no fim levar
a efeito a organização do código civil. Determinou-se por fim que até a apresentação do
projeto final a comissão continuasse a funcionar com a participação do autor dos
Apontamentos.311
O parecer da comissão não animou determinados políticos que esperavam a aprovação
do trabalho entregue por Joaquim Felício. Foi o caso, por exemplo, do sobrinho deste, o então
deputado por Minas e mediador das negociações entre o governo e Joaquim Felício, Antônio
Felício dos Santos. Em publicação no Jornal do Comércio, já em março de 1882, este último
teria criticado duramente a comissão e, sobretudo, o presidente da mesma pela suposta inércia
com que conduzia os trabalhos. Quanto a Coelho Rodrigues, Antônio Felício demonstrou
clara conformidade com o seu interesse pelos trabalhos, afirmando no fim que seu tio “quando

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=3519.
309
Idem.
310
Idem.
311
GAZETILHA: PROJECTO DO CÓDIGO CIVIL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 15 de novembro de
1881. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=4391.
128

suppõe não haver propósito de trabalho sério na comissão não se refere a S. Ex. [a Coelho
Rodrigues]”.312
A comissão permanente foi oficialmente reconhecida em 09 de novembro de 1881,
quando expedido decreto do Ministério da Justiça. A partir de então teria ficado certo de que
os trabalhos em torno da codificação fossem conduzidos com a devida atenção. Porém, o que
de fato se sucedeu foi o suposto desinteresse por parte de membros da mesma, partindo do
próprio presidente Lafayette, que teria deixado Joaquim Felício sem resposta a respeito dos
trabalhos da codificação, quando este enviou àquele ofício pedindo conta dos resultados sobre
o processo. Segundo Antônio Felício, nem mesmo um cumprimento verbal adequado teria
sido dado quando o presidente encontrou-se pessoalmente com o seu tio.313
Na história documentada Coelho Rodrigues trouxe à tona os impasses entre os
membros da comissão, acarretando nas sucessivas saídas dos seus integrantes. Nela
apresentou a justificativa de Joaquim Felício para a suposta saída inicial do Conselheiro
Joaquim Ribas e Justino Gonçalves, os quais na sua visão teriam se sentido desautorizados
com o ato de 09 de novembro expedido pelo então ministro Souza Dantas. Tal ato previa que
a comissão não interrompesse os trabalhos de Joaquim Felício, mas antes acabasse se
constituindo como permanente e desse os devidos prosseguimentos aos trabalhos em torno da
codificação. Ficou a mesma funcionando a partir de então composta dos quatro demais
jurisconsultos, a citar: Joaquim Felício, Lafayette, Ferreira Vianna e Coelho Rodrigues. 314
Em março de 1882, portanto quatro meses depois de formada a comissão permanente,
Joaquim Felício acabou pedindo demissão do cargo que ocupava, o que gerou as críticas feitas
pelo seu sobrinho, Antônio Felício, à comissão. A principal justificativa apresentada pelo
próprio Joaquim Felício foi de que dentro desse período nenhuma reunião ou conferência
séria haviam sido realizadas, deixados os trabalhos jogados ao arbítrio do presidente da
mesma, Lafayette, que não estava dando a devida atenção, segundo Joaquim, a um serviço de
tanta importância.
No capítulo da história documentada sobre a história da comissão permanente, Coelho
Rodrigues escreveu que teria tentado a conciliação dos membros para que a comissão não se
desfizesse. Porém, tendo em vista o atrito entre Lafayette Pereira e Joaquim Felício,

312
SANTOS, Antônio Felício dos. Commissão do código civil. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 14 de março
de 1882. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=5178.
313
Idem.
314
RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos
anteriores. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commércio, 1897.
129

aumentado depois de trocas de ataques críticos nos jornais, este último teria deixado o cargo
ao qual foi confiado. A comissão ficou então reduzida a três integrantes: Lafayette, o então
conselheiro Ferreira Vianna e Coelho Rodrigues.315
A saída de Joaquim Felício acabou abalando a vigência da comissão que dissolveu-se
no ano seguinte, em maio de 1883, quando Lafayette Pereira foi chamado para compor a
presidência do Gabinete Ministerial de 24 daquele mês. Até esse período os trabalhos da
comissão se resumiram nas tentativas do próprio Coelho Rodrigues para a continuação da
obra. O mesmo teria apresentado aos outros dois membros o seu articulado sobre a matéria de
que havia ficado responsável, referente aos direitos da família, resolvendo o presidente
Lafayette na ocasião animá-lo, afirmando que continuasse independente de novas sessões da
comissão, o seu estudo sobre a matéria até que “o ministro recomposse a comissão, como
promettera fazer, logo que tivesse do parlamento o necessário crédito, de que, aliás, não
cogitou”.316
Coelho Rodrigues ainda teria tentado, depois de dissolvida a comissão, no início do
mês seguinte, em junho, falar com o novo Ministro da Justiça, Conselheiro Francisco Prisco
Paraíso, sobre o trabalho em torno da codificação. No momento teria sido ponderado pelo
ministro que diante da pouca duração dos ministérios da monarquia, na inconveniência de se
mudar a direção de um trabalho complexo como este, foi resolvido que se continuasse no
mesmo estado de inércia, até que o conselheiro Lafayette pudesse retornar à direção da
comissão como seu presidente.317 O retorno almejado do conselheiro Lafayette, porém, não se
consolidou e durante os anos seguintes a comissão caminhava para ser oficialmente desfeita,
apesar de insistências da parte de Coelho Rodrigues.
Mediante aquilo que este último afirmou na sua história documentada, em meados do
ano de 1885 o Barão de Cotegipe, pouco tempo antes de montado o seu ministério, após
questionar Coelho Rodrigues uma noite sobre suas ideias a respeito de um plano e execução
de um código civil, teria pedido que reduzisse as ideias em um escrito e lhe mostrasse. Coelho
Rodrigues acabou aceitando a proposta feita e no final de julho de 1885 teria apresentado ao
Barão de Cotegipe seu plano de execução. Este último, depois de fazer um breve questionário,
segundo Coelho Rodrigues, recomendou que o guardasse até segunda ordem.318

315
RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos
anteriores. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commércio, 1897.
316
Idem, p. 237.
317
Idem.
318
Idem.
130

Coelho Rodrigues, na condição de secretário da comissão, teria dirigido no dia 01 de


agosto de 1885 um ofício referente aos trabalhos em torno da codificação ao então Ministro
da Justiça Affonso Penna, do Gabinete de 06 de Junho. Ficando sem resposta por conta da
saída repentina deste Gabinete, Coelho Rodrigues acabou dirigindo outro ofício em 01 de
agosto, dessa vez ao mais novo Ministro da Justiça, Conselheiro Joaquim Delfino Ribeiro da
Luz, do Gabinete Ministerial de 20 de agosto, do Barão de Cotegipe. O mesmo só foi
respondido em 27 de fevereiro de 1886, no mesmo dia em que por decreto resolveu o ministro
dissolver oficialmente a comissão, que teve seu fim anunciado no diário oficial.319
Daí em diante ficaram oficialmente parados os trabalhos em torno da obra de
renovação legislativa almejada durante esse processo. As únicas movimentações referentes à
codificação durante o período após a dissolução oficial da comissão em 1886 dizem respeito à
apresentação do plano que já havia sido solicitado anteriormente pelo Barão de Cotegipe, ao
Conselheiro Samuel Wallace MacDowel. Este mandara, particularmente, pedir notícia dos
trabalhos em torno da codificação no início de 1887, com pretensão de impulsionar os debates
sobre a matéria dentro do governo. Apesar do seu ingresso como ministro da justiça no lugar
de Ribeiro da Luz em 10 de maio de 1887, o conselheiro MacDowel não conseguiu dar
sequencia à sua intenção de impulsionar os trabalhos referentes à obra de codificação.
No plano de Coelho Rodrigues, intitulado “Plano geral do projecto de código civil
brasileiro”, publicado no Jornal do Comércio, o autor dava mostras do interesse que tinha
para a realização do projeto de código civil. Tratou de apresentar nele inicialmente a
importância e ao mesmo tempo complexidade para o legislador codificar as leis civis em meio
a um período de transformações em que se achava a sociedade, tendo em vista a ampliação
dos debates no final da década de 1880 em torno da mudança de regime e a vigência da
escravidão, além da quebra de relação entre Estado e Igreja, por exemplo. Isso de certa forma
exigia daquele que se ocupasse da obra de direito privado acuidade para conseguir conciliar
de um lado a consolidação das leis que existiam e do outro a reforma daquilo que as
circunstâncias do tempo exigiam. Seguindo essa ideia Coelho Rodrigues afirmou no plano
quanto ao conteúdo para execução do projeto que:
O conteúdo do projecto limitar-se-ha, pois, ás regras gerais sobre as matérias
próprias do direito privado, deixando o maior desenvolvimento dessas regras
aos códigos especiais, como o do commercio, o rural, o florestal, etc., á

319
JURISPRUDÊNCIA: NOTÍCIA SOBRE AS TENTATIVAS DE ORGANISAÇÃO DO CÓDIGO CIVIL
BRAZILEIRO. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 1889. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=22065.
131

medida que o progresso do paiz e o consequente desenvolvimento das


relações jurídicas aconselharem a promulgação dellas.320
Seu plano previa que o projeto se constituísse eminentemente de assuntos relacionados
ao direito civil, divergindo, por exemplo, de Teixeira de Freitas, que no passado pretendia a
união do código civil ao comercial, matérias que apesar de distintas apresentavam relações.
Para tanto, a estrutura do projeto almejada por Coelho Rodrigues seria dividida em duas
partes, uma geral e a outra especial. A primeira seria subdividida em três livros: o primeiro,
das pessoas; o segundo, das coisas; e o terceiro, dos atos jurídicos. A segunda parte dividir-se-
ia em quatro livros: o primeiro, do direito da família; o segundo, do direito das coisas; o
terceiro, do direito das obrigações; o quarto, do direito das sucessões.321
Ponto salutar de se destacar no plano apresentado por Coelho Rodrigues relacionado à
escravidão e que tornava-se algo a se praticar de maneira geral pelos principais
representantes, foi a tentativa de apagamento, nesse caso particular da legislação, de tudo que
pudesse lembrar o sistema escravista. Desde Teixeira de Freitas a escravidão já era uma
problemática quando se falava na formulação do código civil. As leis existentes sobre
escravos deveriam ser omitidas desse corpo legislativo, além do fato de que da definição de
pessoas deveriam ser excluídos os cativos. A escravidão, para Teixeira de Freitas, era um
regime que acabaria com o decorrer do tempo, “ao passo que o código civil deveria ser, bem
ao espírito da época, um texto para a eternidade”.322
Apesar de referir-se dessa forma Teixeira de Freitas viu-se obrigado a fazer notas
explicativas no seu projeto referentes a escravos, visto que na sua época, o regime ainda era
uma realidade viva. No caso de Coelho Rodrigues, ao tratar sobre essa questão em seu plano,
acabou afirmando que do projeto “omittirá tudo quanto possa lembrar a existência do
elemento servil – instituição moribunda e bastante odiosa – para não dever ser admittida no
corpo de um monumento legislativo na natureza do de que se trata”. 323 A escravidão deveria,
na mentalidade da época, ser esquecida como instituição sinônima do atraso, e o código
deveria ser um monumento sobre o qual o progresso não permitiria lembrar a existência do
elemento servil.

320
JURISPRUDÊNCIA: NOTÍCIA SOBRE AS TENTATIVAS DE ORGANISAÇÃO DO CÓDIGO CIVIL
BRAZILEIRO. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 1889. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=22065.
321
Idem.
322
GRINBERG, Keila. Código Civil e cidadania. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001, p. 51.
323
JURISPRUDÊNCIA: NOTÍCIA SOBRE AS TENTATIVAS DE ORGANISAÇÃO DO CÓDIGO CIVIL
BRAZILEIRO, op. cit.
132

Um fato curioso de se destacar no mesmo plano foi a maneira como Coelho Rodrigues
pensou a regularização do casamento civil obrigatório para pessoas acatólicas. Apesar de ser
algo visado, não no sentido legítimo de justiça comum, pois continuava a obrigatoriedade do
casamento religioso para os católicos sem prejuízo do registro civil, essa acabou sendo a
estratégia pensada por Coelho Rodrigues como forma de incluir os praticantes de outras
crenças e religiosidades no quadro da justiça, garantindo assim a possibilidade de constituição
de família legítima e a legitimação dos seus direitos e obrigações como cidadãos nessa
sociedade em transformação.324 Outra curiosidade foi o fato de ter tocado na matéria do
casamento civil antes de ser formulada a lei que estabelecia o casamento civil no Brasil, obra
posterior e de sua própria autoria.
Mesmo com a apresentação do plano e a disposição de Coelho Rodrigues para se
ocupar do projeto de codificação, não houve mobilização do governo para dar fôlego à
redação do código civil até 1889. Nesse ano foi formada a última comissão no Império com a
pretensão de dotar o Brasil da obra de direito civil. Em julho, Cândido Luiz Maria de Oliveira,
que esteve como ministro da justiça, dirigiu ofício, publicado no Jornal do Comércio, ao
então Conselheiro Souza Dantas, informando sobre a organização da nova comissão nomeada
pelo Imperador para a elaboração de uma legislação civil que satisfizesse “as exigências do
progresso scientífico e as condições da civilisação do império”.325 Tal comissão deveria ser
composta pelo Conselheiro Souza Dantas, ao qual foi dirigido o ofício, Affonso Augusto
Moreira Penna, Olegário Herculano de Aquino e Castro, José Júlio de Albuquerque Barros, o
Barão de Sobral, José da Silva Costa e Antônio Coelho Rodrigues. Destaque para o fato de
que Coelho Rodrigues foi o único representante da original comissão de 1881, dissolvida em
1886, nomeado para compor a mais nova comissão de 1889.
Os trabalhos da última comissão imperial se deram em meio a algumas conferências,
muitas das quais presididas pelo próprio Imperador. Em uma das primeiras, depois de
divididos os pontos entre os membros, o ministro teria apresentado a matéria de que havia
ficado responsável, sobre o direito das sucessões. Na mesma ocasião o Conselheiro Olegário
apresentou o plano do primeiro livro da parte especial, o do direito das coisas. Foi discutido
ainda o Título Preliminar sobre a lei, seus efeitos e aplicação, de responsabilidade do Barão de

324
JURISPRUDÊNCIA: NOTÍCIA SOBRE AS TENTATIVAS DE ORGANISAÇÃO DO CÓDIGO CIVIL
BRAZILEIRO. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 1889. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=22065.
325
GAZETILHA: CODIGO CIVIL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 02 de julho de 1889. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=23086.
133

Sobral. Coelho Rodrigues havia ficado responsável pela matéria do direito de família, cuja
exposição e discussão haviam sido marcadas para a próxima sessão, do dia 21 de agosto.326
A sessão não aconteceu no dia 21, sendo remarcada para o dia 23 daquele mês.
Novamente sobre a presidência do Imperador, compareceram todos os membros na reunião,
menos Affonso Penna, que esteve ausente das conferências até então realizadas por estar de
viagem à província de Minas Gerais sem motivo expresso no Jornal do Comércio. Depois de
ser apresentado por Coelho Rodrigues o índice sobre o direito de família, e discutida dentre os
membros presentes, a matéria acabou sendo aprovada. A Coelho Rodrigues foi então decidido
que desse continuidade aos seus trabalhos.327
A comissão reuniu-se em torno de nove vezes em conferências com durações médias
de duas horas e meia cada. Os trabalhos estavam sendo conduzidos com a devida atenção,
mediante considerável número de reuniões feitas, o que logo poderia ter rendido a formulação
do trabalho de codificação, já que seus membros estiveram comprometidos. Porém, com
poucos meses de vigência a comissão acabou se desfazendo logo após a queda da monarquia
em novembro de 1889. No Jornal do Comércio foi publicado o decreto do Ministro da Justiça
do governo provisório da República, Campos Salles, no dia 20 de novembro, resolvendo
dissolver a comissão criada em 01 de junho daquele ano, tendo em vista a mudança de regime
político para a República.328
Apesar das sucessivas tentativas, o Brasil continuava sem um código civil com a
viragem da monarquia à República. Muitos políticos reproduziam falas supersticiosas quanto
ao fato de desde a independência o país ainda não ter codificado as suas leis civis, de
necessidade urgente a uma nação à época. Uma das falas dizia que “nos fundamentos do
edifício do nosso código civil há alguma caveira de burro enterrada”, 329 o que remetia no
pensamento da época à grande dificuldade de execução da obra de direito civil, que, mesmo
diante de várias investidas, nunca ficava pronta.

326
GAZETILHA: CODIGO CIVIL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 14 de agosto de 1889. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=23378.
327
GAZETILHA: CODIGO CIVIL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 24 de agosto de 1889. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=23440.
328
GAZETILHA: COMMISSÃO DO CODIGO CIVIL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 22 de novembro de
1889. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=24042.
329
SANTOS, Antônio Felício dos. Commissão do código civil. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 14 de março
de 1882. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=5178.
134

Passamos à República sem que o código civil se tornasse realidade. Na verdade, a obra
de codificação não vai passar de uma ideia que, apesar de urgente, não se concretizava. A
mudança de regime aumentou consideravelmente a exigência da renovação legislativa, pois
simbolizava aquilo que de mais atualizado compunha o novo, que seria a nascente República,
em detrimento do velho que ficava para trás, o antigo regime. Reunindo a sua experiência e
levando em consideração o histórico das tentativas de codificação ainda no Império, Coelho
Rodrigues vai ser o jurisconsulto escolhido para realizar o trabalho mais complexo do seu
tempo, a tirar pelas exigências que o novo regime reclamava no que compreendia ao seu
direito privado.

3.2. Coelho Rodrigues e o contrato para execução do primeiro projeto de código civil da
República

“[...] eil-o felizmente incompatibilisado, por um contrato que o reduz, ao


menos durante três annos, a não ser mais do que esculptor que recebe um
enorme bloco de mármore para delle tirar a estátua da justiça.”330
Nesse fragmento de texto do ano de 1890 João Horácio narrou metaforicamente a
responsabilidade atribuída a Coelho Rodrigues como aquele responsável por erigir uma obra
tão esperada do direito brasileiro, que mesmo diante das varias tentativas, nunca foi efetivada
no regime imperial. Com a instalação da República, Coelho Rodrigues tornou-se o
jurisconsulto responsável por proporcionar um sentido legislativo ao novo regime no que
tocava às questões do direito privado. Lendo a passagem com tom épico parece até que o
autor pretendeu fazer uma representação de Coelho Rodrigues como o Moisés bíblico. Nesse
sentido, ambos teriam recebido tarefas importantes no tocante à questão da justiça.
Quando sobreveio o golpe que derrubou a monarquia e instituiu a República, a
comissão de 1889 criada para a elaboração do projeto de código civil foi dissolvida logo em
seguida. Pouco antes desse fato, Coelho Rodrigues havia apresentado na Secretaria do
Governo em 18 de novembro de 1889 um pedido para a sua jubilação como professor da
Faculdade de Direito do Recife, visto já ter o tempo necessário para isso, e também sua
demissão da última comissão do código civil, pois não havia perspectiva para continuação dos
trabalhos com a mudança de regime. Nessa ocasião, quando o ministro Campos Sales

330
HORÁCIO, João. Carta do Rio. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 22 de julho de 1890. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=1449.
135

dissolvia a comissão, teria pedido a Coelho Rodrigues que, enquanto não fosse jubilado do
cargo de professor, continuasse a serviço daquele ministério.331
Em dezembro do mesmo ano Coelho Rodrigues foi incumbido da elaboração do
projeto de lei do casamento civil. Segundo apresentado na sua história documentada, Coelho
Rodrigues afirmou que, do dia 15 ao dia 24 daquele mês, foram intensas as reuniões com
participação de Campos Salles, onde foram discutidos artigo por artigo os pontos que
deveriam entrar no projeto de lei. No dia 28 de dezembro foi publicada no Jornal do
Comércio a notícia sobre a finalização do projeto no dia anterior, e da distribuição de cópias
entre os membros das casas legislativas para análise e posterior votação. 332 A lei que
estabeleceu a regularização do casamento civil no Brasil entrou em vigor depois de aprovada
por meio do decreto-lei n° 181, de 24 de janeiro de 1890.333
Segundo afirmou Coelho Rodrigues na sua história documentada, quando se
encontrava em Pernambuco por meio de licença, recebeu em 06 de maio de 1890 um
telegrama de Campos Sales, pedindo que retornasse ao Rio. Chegando à capital no dia 18 do
mesmo mês o ministro o informou que “precisava de um código civil regido, se não com a
mesma urgência com que o fora a lei do casamento, ao menos com a mesma, com que estava
sendo reformado o código criminal”,334 e queria que Coelho Rodrigues o fizesse. Declinando
inicialmente da proposta por afirmar haver pessoas mais preparadas para a empresa, no final
das contas foi fechado acordo para que redigisse o projeto de código civil da República
brasileira.
O acordo previa que o contrato oficial fosse feito em julho do ano de 1890, e que
começasse a contar a partir do dia 01 do mês de setembro. Esse foi o tempo exigido por
Coelho Rodrigues para organizar-se, de um lado escusando-se de ser senador pelo Piauí, e do
outro para não agravar os prejuízos com a liquidação do seu escritório de advocacia, como
331
RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos
anteriores. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commércio, 1897.
332
GAZETILHA: CASAMENTO CIVIL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 1889.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_07&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=24264.
333
A lei que estabelecia o casamento civil no Brasil foi revogada pelo decreto n° 11, de 18 de janeiro de 1991, no
governo Fernando Collor de Melo. Para consultar o decreto de lei que regularizou constitucionalmente o
casamento civil no Brasil, formulado por Coelho Rodrigues, ver em: BRASIL. Decreto-lei n° 181, de 24 de
janeiro de 1890. Promulga a lei sobre o casamento civil. Lex: Coleção de Leis do Brasil: edição federal, Rio de
Janeiro, 1890. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-
1899/d181.htm#:~:text=DECRETO%20N%C2%BA%20181%2C%20DE%2024%20DE%20JANEIRO%20DE
%201890.&text=Promulga%20a%20lei%20sobre%20o%20casamento%20civil.&text=Art.&text=%C2%A7%20
3%C2%BA%20A%20autoriza%C3%A7%C3%A3o%20das,si%20forem%20menores%20ou%20interdictos.
Acesso em: 24/jan./2022.
334
RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos
anteriores. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commércio, 1897, p. 240.
136

afirmou na sua história documentada. Dessa maneira poderia preparar-se para sua viagem à
Europa, lugar escolhido para a escrita do projeto de código civil, pois, segundo Coelho
Rodrigues, não pretendia desviar a atenção e se ocupar de outras atividades durante a
produção da obra legislativa, nem participar da agitada vida política na capital da mais nova
república.335
Em 12 de julho de 1890 foram então oficialmente assinados os termos do contrato, que
foi submetido por meio de decreto ao aval final do chefe do governo provisório, marechal
Deodoro da Fonseca, mediante constou em publicação do Jornal do Comércio. Dentre as
responsabilidades a cumprir, Coelho Rodrigues deveria entregar o projeto, articulado e
numerado, dentro de três anos, contados a partir do dia 01 de setembro do mesmo ano,
mediante acertado no acordo preestabelecido com o ministro da justiça. Seguindo esses
termos, estruturalmente, o projeto deveria compor-se de uma parte geral e outra especial, com
poucas mudanças quanto à estrutura do plano que Coelho Rodrigues já ensaiava
anteriormente:
A parte geral será subdividida em três livros: o 1°, das pessoas; o 2°, dos
bens; e o 3°, dos actos e dos factos jurídicos. A parte especial será também
subdividida em quatro livros: o 1°, dos direitos da família; o 2°, dos direitos
reais; o 3°, dos direitos pessoais; e o 4°, do concurso de direitos,
compreendendo cinco secções: a 1ª, das sucessões testamentárias e
legítimas; a 2ª, das instituições de crédito real e de seguro; a 3ª, do concurso
dos credores e da preferência dos créditos; a 4ª, das prescripções; e a 5ª, da
restituição in integrum, se não parecer preferível substituir este remédio
extraordinário por outro ordinário ou supprimi-lo.336
Excetuando o tempo estipulado para entregar a obra, o contrato dava total liberdade ao
jurisconsulto contratado no que conviesse alterar ou acrescentar quanto ao direito vigente, no
que tocava às matérias do código civil. Com a República ocorreram transformações
necessárias na organização da legislação, o que tornava o contrato aberto para aquilo que
fosse preciso mudar, segundo o governo, “de acordo com a experiência das nações civilizadas
e com as necessidades da situação do Brazil”.337 Nesse ponto, enxergamos a investida de
Coelho Rodrigues como a mais complexa dentre as tentativas de codificação, pelo fato da
necessidade maior de mudanças exigidas em uma legislação renovada para ser executada por
um regime político diverso daquele em que ousaram os antecessores, sem sucesso, codificar
as leis civis.

335
RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos
anteriores. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commércio, 1897.
336
GAZETILHA: CÓDIGO CIVIL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 16 de julho de 1890. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22C%c3%b3digo%20Civil%22&pa
gfis=1395.
337
Idem.
137

O contrato previa ainda que o contratado deveria deixar o exercício de cargos


públicos, e não poderia exercer qualquer outra atividade que não fosse relacionada à execução
da obra sem licença prévia do ministro da justiça. Para tanto, receberia honorários mensais de
2:000$ (Dois contos de réis) e, caso o trabalho fosse aceito pelo governo como base para o
código civil, receberia como prêmio final 100:000$ (Cem contos de réis). Coelho Rodrigues
ainda poderia escolher, como fez, realizar o trabalho fora do país.338
A sua partida para a Europa depois do contrato fechado deu-se, segundo constou na
sua história documentada, no dia 30 de março de 1890. Mediante considerado, sua viagem
acabou sendo retardada a pedido de amigos e comprovincianos, como Pires Ferreira, Joaquim
Nogueira e Theodoro Pacheco, para comemorarem seu contrato. Coelho Rodrigues viajou
quatro dias depois de votada e promulgada a primeira Constituição do Estado. Partiu com a
sua família, e residiram em Genebra, capital da Suíça, durante o tempo que precisou, dentro
do contrato, para concluir o projeto.
Na Europa, Coelho Rodrigues teve acesso aos principais centros de formação cultural
e filosófica da época, em importantes universidades internacionais, e manteve contato com
intelectuais e estudiosos do direito de grande reconhecimento. Em viagem de férias a Uriage,
na França, depois de estar com boa parte do trabalho redigido, visitou as Faculdades de
Direito de Grenoble e Lyon, segundo o mesmo, “tanto para conhecel-as, quanto para
consultar, sobre a classificação das matérias civis, a Mr. Tartari, reitor da primeira, professor
do Código Napoleão, e romanista notável, que acabava de publicar uma importante obra sobre
o Direito Romano”.339
Isso rendeu importantes conhecimentos sobre aquilo que se praticava em âmbito
internacional nos países considerados desenvolvidos para ser inserido no seu projeto como
base de aplicação para a legislação brasileira. Coelho Rodrigues utilizou-se do método da
legislação comparada, e realizou estudo acurado sobre os mais variados códigos dos países
europeus, como o Código Napoleão (da França), Código Civil da Alemanha, da Holanda, da
Bélgica, de Portugal, da Espanha, de Zurique (Suíça), além de vários outros. Dentre os
principais teóricos sobre os quais se debruçou, os mais citados como suas fontes foram
Friedrich Carl von Savigny, além de Heise, Tribaut, Mackeldey e Bluntschli.340

338
GAZETILHA: CÓDIGO CIVIL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 16 de julho de 1890. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22C%c3%b3digo%20Civil%22&pa
gfis=1395.
339
RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos
anteriores. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commércio, 1897, p. 07.
340
Idem, p. 77.
138

Com base na metodologia de legislação comparada e depois de um longo processo de


estudos e escrita do projeto do código civil, Coelho Rodrigues realizou a primeira revisão
completa do trabalho em 09 de setembro de 1892. Ocupou-se dessa atividade até o dia 06 de
novembro do mesmo ano. Foi nessa revisão que optou por fazer a alteração da ordem
estrutural de determinadas matérias da parte especial, diverso de como constava na ordem do
contrato. O direito das obrigações passou a ocupar o primeiro lugar e o direito da família foi
transferido para a terceira parte. Nessa ordem Coelho Rodrigues acreditava que o código
seguiria uma noção lógica da realidade, no sentido de que as obrigações contemplavam a
todos os cidadãos indistintamente, tornando-se a matéria mais geral para abrir a discussão da
parte especial.
Ponto importante de destacar foi a mudança de posição do serviço doméstico para a
parte referente ao direito da família, antes regulado conjuntamente com as outras locações de
serviços. Isso nos leva a pensar que Coelho Rodrigues, supostamente, pretendeu legitimar
uma espécie de pátrio poder do patrão sobre o empregado, em uma relação que se dizia
familiar, e semelhante, de certa forma, à preservação do domínio familiar sobre a propriedade
escrava, no antigo regime. Percebe-se que a intenção de Coelho Rodrigues, como supomos,
era tornar legalmente executável no novo regime, mediante o código civil, uma prática de
domínio privado sobre ex-escravos, visto que uma esmagadora maioria dos remanescentes da
escravidão foram eminentemente servidores domésticos na República.
Avelino e Castelo Branco, ao estudarem o tratamento jurídico do trabalho doméstico
no projeto de Coelho Rodrigues, apontam ser emblemática a maneira como o mesmo
posicionou esta relação como uma relação familiar. Isso seria reflexo, mediante os autores, de
uma sociedade ainda em transição/passagem de um regime escravocrata ao trabalho livre, o
que demandou por parte de Coelho Rodrigues uma tentativa de conciliação das mudanças
jurídicas e políticas severas reclamas pelo tempo com a realidade ainda sentida do regime
escravista. Nesse sentido, por trás do aspecto jurídico de uma relação de trabalho, persistiu o
aspecto moral de subordinação, dentro do lar, do trabalhador doméstico ao pater famílias, o
que enfraquecia o sentido jurídico dessa relação, ao passo que dessa forma era dificultada a
entrada das leis e a garantia do exercício da cidadania para esses trabalhadores.341
O fato é que terminadas as suas revisões e concluído o trabalho em janeiro de 1893,
Coelho Rodrigues afirmou na sua história documentada, considerar-se de férias. O seu

341
AVELINO, J. G. M.; CASTELO BRANCO, E. A. O projeto de codificação de Coelho Rodrigues: A
normatização dos contratos em solo familiar e um passeio por dentro da casa, esse reduto brasileiro profundo. In:
RÊGO, A. R.; QUEIROZ, T.; HOHLFELDT, A. (Org.). Tempo & Memória: Interfaces entre os campos da
comunicação e da história. Logroño, Rioja, Espanha: Fundación Dialnet, 2020. pp. 169-192.
139

contrato teria fim somente em setembro daquele ano, podendo ainda, como previsto no
contrato, prorrogar o prazo por mais seis meses, até março de 1894. Nesse caso, dispunha de
largo tempo para aproveitar com sua família o restante da estadia fora do país. Coelho
Rodrigues relatou que nessas condições foi pela primeira vez a um teatro na Europa.342
Enquanto isso, no Brasil, logo cedo foram surgindo críticas a Coelho Rodrigues por
parte de certas personalidades políticas que trouxeram à tona a dúvida sobre o seu trabalho e a
preferência pela discussão e posterior aprovação do projeto de Joaquim Felício, ultimo
projetista do código civil no Império. Em sessão da Câmara dos Deputados de setembro de
1891, publicada no Jornal do Comércio, Alcides de Mendonça Lima, ao falar sobre a
urgência reclamada da legislação civil, afirmou que o tempo contratado com Coelho
Rodrigues para a confecção do trabalho foi demasiadamente longo. Pretendia que fosse
discutida a supressão da verba relativa ao código civil do contratado. Ao mesmo tempo
enviou requerimento à Câmara, “afim de que o projecto do Código Civil organisado pelo
illustre mineiro Joaquim Felício dos Santos, seja submettido a uma commissão de cinco
membros para dar parecer a respeito”.343
No final da sua fala, Alcides Lima apontou que o governo teria confiado a tarefa a um
jurisconsulto que não compreendia a alta missão de que foi incumbido. Mediante o mesmo,
em vez de Coelho Rodrigues encontrar-se presenciando no Brasil a prática daquilo que
deveria codificar, acabou partindo para escrever seu projeto no estrangeiro. Essa fala revelou
a intenção do relator na Câmara de promoção do projeto de Joaquim Felício, com o qual
certamente manteve relacionamento pessoal, em detrimento do projeto contratado com
Coelho Rodrigues. Joaquim Felício no ano de 1891 conseguiu eleger-se senador por Minas
Gerais, e arregimentava forças políticas para elevar o seu projeto de código nas casas do
poder legislativo.
Isso acabou gerando uma disputa, corporificada no Jornal do Comércio, entre os
membros do legislativo para a elevação do trabalho de um codificador em detrimento do
outro. De um lado, Alcides Lima e Homero Batista enviaram requerimento para que o
Presidente da República solicitasse informações do estado em que se encontrava o trabalho de

342
RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos
anteriores. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commércio, 1897.
343
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 12 de setembro de 1891. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=5167.
140

Coelho Rodrigues.344 Este, mesmo da Europa, teve defensores diante dos ataques. Foi o caso
de Bernardino de Campos que, em sessão na Câmara e baseando-se no contrato assinado com
o governo, afirmou, mediante sua opinião, a competência de Coelho Rodrigues para o cargo
designado e o prazo que o mesmo tinha dentro dos termos legais assinados com o ex-ministro
do governo provisório para a realização do seu projeto.345 Na sessão seguinte, Moraes Barros,
concordando com Bernardino, afirmou que “esse trabalho não podia ser entregue senão a um
só individuo, nem podia ser melhor do que foi, a escolha”.346
No final de outubro desse mesmo ano de 1891 foi criada a comissão de justiça e
legislação para discutir a possibilidade da revogação, almejada por alguns, do contrato
estabelecido com Coelho Rodrigues no governo provisório. Nesse período foi elaborado o
Projeto n° 45, no Senado, em que um dos autores foi Alberto Lobo Leite Pereira, amigo
íntimo, segundo Coelho Rodrigues em sua história documentada, de Joaquim Felício.347
Ambos, Alberto Lobo e Joaquim Felício, estavam como senadores e, juntamente com outras
personalidades políticas, como Pinheiro Machado, Paranhos e Ramiro Barcellos, lutavam no
Projeto n° 45 pela rescisão do contrato com Coelho Rodrigues e a adoção “como código civil
da República, o projecto apresentado pelo senador Joaquim Felício dos Santos”.348
Depois de longas discussões em sessões do legislativo, a comissão de justiça deu
parecer opinando que fosse retirado de discussão o projeto que visava a aprovação do trabalho
de Joaquim Felício. Posto em votação dentre os membros do legislativo, o primo de Coelho
Rodrigues, Eliseu Martins deu voto afirmativo para o parecer da comissão, da mesma forma o
fez Ubaldino do Amaral. Gomensoro declarou-se vencido, assim como Américo Lobo, o qual
rebateu o parecer da comissão afirmando que a nação não poderia esperar três anos pelo
trabalho de Coelho Rodrigues, e que o governo no ato da revogação do contrato poderia

344
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 19 de setembro de 1891. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=5235.
345
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 14 de setembro de 1891. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=5195.
346
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 16 de setembro de 1891. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=5205.
347
RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos
anteriores. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commércio, 1897.
348
CONGRESSO NACIONAL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 27 de outubro de 1891. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=5601.
141

indenizá-lo por qualquer prejuízo. Por achar-se o congresso com número reduzido, a
discussão ficou para ser votada na sessão do dia seguinte.349
Na continuação da discussão em sessão posterior, ocupou-se da fala Campos Sales,
que na época estava como senador por São Paulo. O mesmo foi um dos membros da comissão
de justiça montada para a discussão da possibilidade da dissolução do contrato firmado com
Coelho Rodrigues e ele próprio, quando foi ministro da justiça do governo provisório da
República. Campos Sales foi um dos que subscreveu o parecer contrário ao projeto n° 45 que
visava a aceitação do trabalho de Joaquim Felício. Defendeu na sua fala o contrato legal
firmado com Coelho Rodrigues para a redação do código civil, lançando ainda um
questionamento aos membros do congresso:
Dever-se-ha, em tal conjuntura, repudiar o trabalho commetido ao Sr. Dr.
Coelho Rodrigues, quebrar um pacto solemne, firmado com elle pelo
Governo da Republica, faltando, assim, á fé, resultante do contrato
synallegmatico e que foi contrahido com todas as formalidades legaes?350
No final das contas foi levado em consideração o parecer da comissão de legislação e
justiça. Joaquim Felício acabou pedindo para que o seu projeto fosse retirado de discussão,
depois das tentativas sem sucesso. A notícia sobre a decisão final dessa disputa saiu no Jornal
do Comércio, em que foi considerada a aprovação do “parecer da commissão de justiça e
legislação sobre a adopção do projecto do Código Civil do Sr. Joaquim Felício, ao qual foi
recusada a restituição da proposta para o fim de ser opportunamente trazida á discussão [o seu
projeto]”.351
Coelho Rodrigues, por outro lado, continuou na Europa dando prosseguimento ao seu
trabalho de codificação. Na sua história documentada relatou que terminado o seu projeto no
dia 11 de janeiro de 1893, e sabendo que Fernando Lobo Leite Pereira estava como ministro
da justiça, afirmou que pretendia esperar a mudança do ministério e, por isso, não apresentou
seu trabalho imediatamente após concluí-lo. Pelo que foi relatado, além do então presidente
Floriano Peixoto supostamente não dar importância à matéria do direito civil, Coelho
Rodrigues considerou que havia má vontade do ministro sobre o seu projeto de código.
Fernando Lobo era irmão de Américo Lobo que, como vimos, foi amigo próximo de Joaquim

349
CONGRESSO NACIONAL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 27 de outubro de 1891. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=5601.
350
CONGRESSO NACIONAL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 30 de outubro de 1891. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Congresso%20nacional%22&pag
fis=5629.
351
GAZETILHA: CONGRESSO NACIONAL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 31 de outubro de 1891.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Congresso%20nacional%22&pag
fis=5639.
142

Felício e um dos autores do projeto que visava a aprovação do trabalho deste último no
senado.352
Dias depois, o Jornal parisiense Le Temps, teria noticiado a demissão do ministro da
justiça do Brasil Fernando Lobo, o qual supostamente havia saído do cargo em 16 de janeiro
de 1893. Sabendo da notícia Coelho Rodrigues, que estava preparando-se para uma excursão
à Itália, organizou-se no sentido de retornar ao Brasil. Nesse interim, teria noticiado ao
presidente Floriano Peixoto que havia concluído seu trabalho e tinha como pretensão
apresenta-lo ao governo. Pediu então no ofício enviado ao presidente que nomeasse uma
comissão revisora para apurar os resultados do seu projeto de código civil.
A notícia porem da saída de Fernando Lobo, segundo Coelho Rodrigues na sua
história documentada, apresentou-se falsa.353 Continuava o ministro no exercício do seu
cargo quando chegou ao Brasil. Supomos que houve equívoco por informações inconsistentes
do jornal francês ao publicar nota sobre a saída de Fernando Lobo do ministério. Houve um
período dentro da sua atuação como ministro que o mesmo ficou afastado por problema de
saúde, nisso pode ter residido a confusão sobre sua saída. O mesmo continuou no cargo até
setembro de 1893.
Chegando ao Brasil em 22 de fevereiro de 1893, Coelho Rodrigues tentou por várias
vezes uma conferência com o presidente da República, sem sucesso. Posteriormente acabou
submetendo-se a apresentar o seu trabalho ao ministro Fernando Lobo, o qual foi, na sua
visão, completamente alheio à sua matéria da codificação do direito civil. Ao procurar o
ministro que se encontrava na Secretaria do governo, pouca importância este teria dado ao seu
projeto. Segundo constou na história documentada, o ministro Fernando Lobo estava mais
envolvido com os projetos de um inventor dos balões dirigíveis, chamado Severo Maranhão,
com quem conversava, não chegando a ver o invólucro com o material referente à legislação
civil.354
Após a entrega do seu projeto até maio de 1893 foi reclamada por varias vezes em
requerimento a demora para a formação da comissão por parte do ministério da justiça, para
dar o parecer sobre o projeto de Coelho Rodrigues. Depois de entregue o trabalho, a comissão
devia dar seu parecer dentro de três meses. Coelho Rodrigues entregou seu projeto em
fevereiro, somente no final de maio a comissão foi formada, em dia depois do prazo
estabelecido no contrato para que o parecer fosse dado. Américo Lobo saiu em defesa do

352
RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos
anteriores. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commércio, 1897.
353
Idem.
354
Idem.
143

ministro Fernando Lobo no senado, afirmando que a demora para formação da comissão deu-
se por parte da Faculdade de Direito do Recife na procura de um professor da instituição que
se dispusesse ao encargo, o que somente teria sido possível por volta de 12 de maio de
1893.355
Passado um longo processo, Coelho Rodrigues conseguiu atenção para o seu projeto
três meses após entrega-lo ao governo, e depois da ocupação de uma cadeira no senado.
Somente em 31 de maio foi formada a comissão que, segundo Coelho Rodrigues, constituiu-
se depois do prazo, dentro do qual a mesma deveria dar o ser parecer, como previsto nos
termos do contrato. Essa demora, que Coelho Rodrigues julgou proposital, segundo conta na
sua história documentada, esteve relacionada aos empecilhos que o ministro Fernando Lobo
impunha para que o autor do projeto não se elegesse senador pelo Piauí, o qual poderia usar,
segundo Coelho Rodrigues, a justificativa do contratado ainda não ter apresentado o seu
trabalho quando em maio reclamava a senatoria. Apesar do suposto empecilho, Coelho
Rodrigues foi eleito senador em 09 de maio de 1893, o que possibilitou a reclamada atenção
aos tramites envolvendo o seu projeto de código.
Encontrando-se como senador representante do Piauí no Congresso, supostamente
pareceu mais fácil para Coelho Rodrigues angariar forças no sentido da aprovação do seu
projeto, porém a realidade foi outra, apesar das suas sucessivas tentativas. A comissão que se
constituiu para dar parecer sobre o trabalho do contratado formada pelo presidente Antônio
José Rodrigues Torres Neto, pelo relator Antônio Dino da Costa Bueno e Manoel do
Nascimento Machado Portella Júnior, depois da análise da obra, apresentaram parecer em 27
de julho de 1893, reprovando o projeto de Coelho Rodrigues como base para o código civil da
República. Como conclusão do parecer foi afirmado pela comissão: “o projecto não tem as
condições necessárias para ser aceito, [...], como base de revisão para o futuro Código Civil
da República”.356
A data da reprovação do projeto, mediante Coelho Rodrigues foi marcada como
provocação por uma suposta intriga pessoal com o diretor geral da secretaria da justiça, Lúcio
de Mendonça. Este teria pedido a Coelho Rodrigues que consagrasse no seu projeto o divórcio
com dissolução do vínculo conjugal. Replicando o reclamante, Coelho Rodrigues havia dito
que consideraria a sugestão caso fosse proposta pela comissão revisora. Isso acabou sendo

355
CONGRESSO NACIONAL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 12 de maio de 1893. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=10999.
356
RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos
anteriores. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commércio, 1897.
144

motivo, segundo Coelho Rodrigues, para a intriga pessoal, culminando na reprovação oficial
do projeto no dia 27 de julho, data que simbolizava o aniversário da Lei Naquet, a qual
reestabeleceu o divórcio na França. Fazendo dessa forma revelava-se a mão do diretor geral
por trás do ministro Fernando Lobo na impugnação da obra que, mediante Coelho Rodrigues,
foi movido pelo sentimento de intriga pessoal já que Lúcio de Mendonça não teria sido
atendido de imediato pelo pedido feito.357
Após a decisão de reprovação do trabalho ocorreu um longo processo em que se
envolveu Coelho Rodrigues de um lado, na defesa do seu projeto, e os membros da comissão
do outro. Na sua resposta às críticas feitas ao seu trabalho, Coelho Rodrigues afirmou que não
esperava decisão diferente quando viu formada a comissão. Para além do caso envolvendo o
diretor geral, o presidente da comissão seria dotado de influência da sua “vizinhança forense”,
referindo-se ao fato de ser Rodrigues Torres Neto amigo próximo do ministro, o que Coelho
Rodrigues justificou também como um dos motivos maiores para a reprovação do seu
projeto.358
A resposta com tom acusatório direcionada, sobretudo, ao presidente da comissão
acabou afetando na proporção que as discussões tomaram a partir de então. A comissão em
réplica à resposta de Coelho Rodrigues passou a ataca-lo de forma mais direta e pessoal.
Primeiro foi feita referência satírica ao seu estado mental pelas acusações feitas não somente
ao presidente como aos demais membros. Coelho Rodrigues teria dito que os outros dois,
professores nas duas principais faculdades brasileiras, teriam deixado o cargo a que foram
designados subir à cabeça. Posteriormente, o contratado foi chamado de “imitador”, por
supostamente ter copiado artigos de códigos estrangeiros e, portanto, não havia levado a sério
o trabalho para o qual foi designado. Apesar da insistência de Coelho Rodrigues a comissão
não mudou o seu parecer.359
Um fato a ser analisado sobre os pareceres da comissão diz respeito à questão da
mesma não ter se referido à suposta cópia do material dos códigos estrangeiros no primeiro
parecer. Somente depois das acusações de Coelho Rodrigues sobre as possíveis relações de
amizade e intrigas interferirem na decisão, a comissão acabou fazendo referência a uma

357
RODRIGUES, Antônio Coelho. Eu e o Supremo Tribunal Federal. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 06 de
setembro de 1910. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_10&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=1922.
358
RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos
anteriores. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commércio, 1897.
359
Idem.
145

suposta prática em que Coelho Rodrigues teria imitado determinados artigos retirados de
códigos de outras nações.
Coelho Rodrigues ainda publicou uma tréplica à réplica da comissão anos depois, com
assinatura de 21 de agosto de 1895. Nela reafirmou aquilo que havia dito onde não esperava
ser diferente o julgamento sobre seu trabalho. Isso pelo fato da comissão ter sido composta
por membros que de alguma forma possuíam desavenças políticas ou mesmo pessoais com o
contratado. Coelho Rodrigues relatou que para além da suposta amizade entre o presidente da
comissão e o ministro, Machado Portella Júnior teria recebido nota reprovativa pelo mesmo
em uma disciplina no curso de direito da Faculdade de Direito do Recife quando era seu
aluno, o que segundo Coelho Rodrigues, também acabou motivando na decisão final da
comissão.
Coelho Rodrigues afirmou ainda que caso a comissão fosse formada com membros
que simpatizassem com ele, certamente a decisão teria sido diferente. Segundo afirmou na sua
história documentada, caso fosse outra a configuração teriam acontecido conferências, como
previstas no contrato, para que acompanhasse o exame da comissão, e pudesse assim
responde-la e propor juntamente com ela as mudanças que por ventura precisassem ser feitas.
Porém, o que de fato se sucedeu foi a falta de diálogo existente entre a comissão e Coelho
Rodrigues, onde nenhum contato por meio de reunião estabeleceram. Na verdade, segundo
Coelho Rodrigues, o artigo 8° do contrato, que propunha a presença do contratado nas
reuniões do parecer, teria sido excluído da coleção oficial.360
Além dos motivos expressos, Coelho Rodrigues fez uma explanação daquilo que, de
maneira geral, acabou tornando-se para ele o motivo da recusa do seu projeto. Primeiramente,
atribuiu o fato do projeto de Joaquim Felício ter sido reavido para discussão. Por outro lado,
Coelho Rodrigues culpou a decisão do ministro Fernando Lobo em recusar o seu projeto,
sobretudo pelo fato do seu irmão, Américo Lobo, ter sido um dos responsáveis por formular o
projeto n° 45 no senado, na sessão de maio de 1891, estabelecendo a aprovação repentina do
trabalho escrito por Joaquim Felício.
Sua tréplica não teve resposta por parte da comissão, ficando até então a decisão
oficial do governo de reprovação do seu projeto. Nesse interim, do congresso nacional, o
senador Theodureto Souto formulou requerimento ao ministro da justiça em 1893, como
publicado no Jornal do Comércio, para que fosse reconhecido o projeto de Coelho Rodrigues
como base do código civil da República, e que fosse submetido ainda naquela sessão à

360
RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos
anteriores. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commércio, 1897.
146

apreciação do congresso. Nessa discussão, Américo Lobo acabou votando contra o


requerimento.361 O próprio Coelho Rodrigues no final de 1895, quando escrevia a sua tréplica,
requereu ao governo que revisse atos oficiais referentes ao código civil, incluindo a urgência
da necessária formação de uma comissão especial para reaver a matéria em segunda
instância.362
Somente no ano de 1896, depois de recorrer ao senado, Coelho Rodrigues conseguiu
fazer o seu trabalho circular no congresso. Até então, segundo consta em publicação no
Jornal do Comércio, teria sido formada uma comissão ainda em setembro de 1893, pelo então
presidente do senado, Prudente de Morais, para dar parecer sobre o projeto de Coelho
Rodrigues. Essa comissão foi composta por: Ubaldino do Amaral, Rodrigues Alves e Coelho
e Campos.363 Apesar do esforço de parte do legislativo para dar prosseguimento aos trabalhos
em torno da codificação, não houve até 1896, efetividade da condução dessa tarefa, ficando a
comissão primitiva de senadores sem atividade.
Somente a partir de 1896 quando formada uma nova comissão reuniram-se membros
do senado nomeados para fazerem estudo sobre a matéria da codificação. Uma das primeiras
reuniões dessa nova comissão foi datada de 30 de junho de 1896, depois de nomeados o
relator Gonçalves Chaves, bem como João Barbalho e Coelho e Campos, como membros.
Mediante relatado no Jornal do Comércio, foi adotado o projeto de Coelho Rodrigues como
base dos estudos da comissão, que passou desse período em diante a realizar algumas
conferências com a finalidade de dar parecer sobre o trabalho do contratado.364
O parecer do senado compõe a história documentada de Coelho Rodrigues, além de
constar em notícia no Jornal do Comércio. Datado de 19 de agosto de 1896, a comissão
especial, depois de amplo debate, decidiu aprovar o projeto de Coelho Rodrigues como base
para o futuro código civil da República. No parecer, de antemão, a comissão apontou para a
imperfeição de partes do projeto do contratado que, segundo a mesma, era reflexa da
amplitude e complexidade da matéria sobre o qual se debruçou, em tempos complexos, além

361
GAZETILHA: CONGRESSO NACIONAL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 11 de maio de 1893.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=10987.
362
CONGRESSO NACIONAL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 31 de maio de 1895. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22codigo%20civil%22&pagfis=174
09.
363
VÁRIAS NOTÍCIAS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 19 de setembro de 1893. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&hf=memoria.bn.br&pagfis=12234.
364
VÁRIAS NOTÍCIAS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 01 de julho de 1896. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=21673.
147

de que Coelho Rodrigues teria disposto de pouco tempo para realizar o seu projeto de código
civil.365
Um dos pontos mais criticados no trabalho pela comissão diz respeito à maneira como
Coelho Rodrigues localizou o serviço doméstico como uma relação familiar e não puramente
de trabalho. Olhando por outro viés daquilo que foi discutido anteriormente, pelo lado da
comissão à época quando deu seu parecer, fazendo dessa forma Coelho Rodrigues não seguia
os exemplos dos códigos modernos ao regular essa relação. Na opinião da comissão,
localizando o trabalho doméstico como uma relação de família o contratado aparentemente
reforçava a soberania do chefe de família sobre uma relação que deveria ser enxergada como
juridicamente de trabalho, regulada pelo Estado, assegurando assim em tese a sua entrada no
espaço privado para a garantia dos direitos e obrigações dos empregados.366
Apesar das ressalvas, considerando a deficiência do projeto, a comissão especial no
final do parecer decidiu pela sua aprovação como base para o código civil brasileiro. O
decreto baixado autorizava que o presidente da República nomeasse uma comissão de
jurisconsultos para que fosse dado um parecer ao trabalho depois que fosse revisado pelo
contratado levando em consideração as exigências dos membros da comissão do senado.
Nesse interim, teria sido requerido por Gonçalves Chaves, Severino Vieira e Coelho
Rodrigues que o projeto ficasse provisoriamente em vigor, durante o processo da sua
revisão.367
Porém, mesmo após a decisão da comissão especial do senado, bem como os
requerimentos para sua aprovação provisória, não houve efetividade do poder executivo no
prosseguimento do processo. No Jornal do Comércio foram diversas as publicações onde
políticos encaminhavam requerimento ao governo com a pretensão de aprovar o trabalho
elaborado por Coelho Rodrigues, sem sucesso. Caso de Justo Chermont, pedindo ao poder
executivo que se autorizasse a contratação de um jurisconsulto para realizar a revisão do
código de Coelho Rodrigues.368

365
CONGRESSO NACIONAL: PARECER DA COMMISSÃO ESPECIAL, ENCARREGADA DO ESTUDO
DO PROJECTO DO CÓDIGO CIVIL APRESENTADO PELO SR. SENADOR COELHO RODRIGUES.
Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 21 de agosto de 1896. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=22188.
366
Idem.
367
GAZETILHA: CONGRESSO NACIONAL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 04 de setembro de 1896.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=22324.
368
GAZETILHA: CONGRESSO NACIONAL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 06 de setembro de 1896.
Disponível em:
148

Em carta assinada de 11 de outubro de 1896 e publicada no Jornal do Comércio,


Coelho Rodrigues falou sobre o malogrado processo em que esteve envolvido pela aprovação
do seu projeto. Nela criticou o governo do Marechal Floriano Peixoto, pois quando procurado
no ano de 1893 para tratar sobre as questões referentes à codificação e fazer cumprir o
contrato fechado com no governo anterior, o presidente supostamente não estava disposto a
tratar sobre assuntos dessa ordem.369 Ao passo em que Floriano buscava organizar e decretar o
código militar, não houve nenhuma perspectiva com relação ao código civil.
Certamente, o suposto descaso do governo sobre o seu projeto foi um dos motivos
para as criticas de Coelho Rodrigues ao governo Floriano, o qual considerou sempre uma
ditadura positiva. Em muitas das suas falas deixou transparecer o repúdio pelo chefe do
executivo e o quanto este andava na contramão da almejada democracia, chegando a afirmar
que o marechal era um usurpador do cargo de presidente, pelo fato de mudar regulamentos
para permanecer no poder após a saída de Deodoro. Coelho Rodrigues relatou que ao retornar
da Europa, Floriano estava reconhecido pelo judiciário e armado pelo legislativo contra todos
os direitos e contra todas as leis.370
Coelho Rodrigues certamente teve a infelicidade de encontrar um governo totalmente
alheio a fazer cumprir e assim atribuir direitos e obrigações para a população civil quando
apresentou o seu projeto. Além disso, o ministério não estava disposto a por em execução o
contrato com aquele, pois havia uma relação pessoal de Joaquim Felício e o ministro da
justiça Fernando Lobo, bem como correligionários, sobretudo mineiros, disputando a
preferência pelo projeto deste último em detrimento daquele contratado com Coelho
Rodrigues.
Nesse sentido, o regionalismo pode também ser considerado como um fator para o
fracasso do projeto de Coelho Rodrigues, desde quando entregou a primeira versão para
revisão do governo em 1893. Nesse período disputava contra políticos de força no governo, os
quais eram maioria e possuíam família numerosa com raízes fincadas na administração
máxima do país, como representantes dos estados do sul, sobretudo de Minas Gerais, dos

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=22344.
369
RODRIGUES, Antônio Coelho. O Juvenal Gavarni. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 12 de outubro de
1896. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22codigo%20civil%22&pagfis=227
07.
370
RODRIGUES, Antônio Coelho. Os capitães-generaes do Piauhy e o Partido Democrata Federal. Jornal do
Comércio. Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 1896. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22codigo%20civil%22&pagfis=203
11.
149

quais eram mineiros Joaquim Felício, o ministro da justiça da época Fernando Lobo, e seu
irmão, senador Américo Lobo. Todos eram comprovincianos mineiros, o que possibilitou na
formação de reações contra o piauiense Coelho Rodrigues e seu projeto, na pretensão de
tornar o trabalho de Joaquim Felício aceito quando este foi senador. Coelho Rodrigues
questionou essa suposta influência regionalista pela reprovação do seu projeto tanto na
história documentada de 1897,371 quanto no seu livro “A República na América dos Sul”, em
1906.372
Segundo Coelho Rodrigues, o governo posterior de Prudente de Morais acabou
seguindo na mesma linha do Marechal Floriano. Isso fez com que Coelho Rodrigues, mesmo
apoiando inicialmente a eleição de Prudente de Morais como primeiro presidente civil, se
sentisse posteriormente desiludido com o seu governo.373 Tal desilusão é reflexa da possível
falta de apoio do governo, no período em que escreveu, de 1896, no incentivo à aprovação e
posterior decretação do código civil, que tramitava no congresso durante alguns anos. Quando
publicou em 1897 o seu “Projecto do Código Civil, precedido da história documentada do
mesmo e dos anteriores”, deixou transparecer a sua total indignação pela política brasileira, ao
passo em que lamentava o fato de ter se incumbido por tanto tempo de um trabalho que no
fim lhe custou o fracasso dentro da empresa da codificação civil.374
Fato intrigante com relação a Coelho Rodrigues foi que o mesmo não teve nenhum
direito a revisão posterior do seu trabalho após terem sido apresentados os pareceres, e ter
passado pelo congresso. Além disso, em nenhum dos pareceres esteve presente como previa o
contrato, por supostas desinformações do governo para que não tivesse direito a justificativas
sobre as matérias, segundo relatou Coelho Rodrigues. Teixeira de Freitas teve vários anos
para concluir seu trabalho, onde foram realizadas diversas conferências com jurisconsultos
renomados. Joaquim Felício, depois de apresentado o seu projeto e reprovado pela comissão,
teve a oportunidade de participar como membro da comissão especial criada para levar à
execução o código civil, aproveitando o seu projeto como base. Sobre Coelho Rodrigues e sua
tentativa reinou um silêncio profundo.

371
RODRIGUES, Antônio Coelho. Projecto do Código Civil precedido da história documentada do mesmo e dos
anteriores. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commércio, 1897.
372
RODRIGUES, Antônio Coelho. A República na América do Sul ou um pouco de história e crítica oferecida
aos latino-americanos, 1906. Brasília: Senado Federal, 2016.
373
RODRIGUES, Antônio Coelho. Ao Piauhy e aos piauhyenses. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 18 de
novembro de 1898. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=30318.
374
RODRIGUES, op. cit., 1897.
150

Somente o trabalho de Coelho Rodrigues tramitou em longo processo contraditório


entre reprovação e aprovação, tirando o fato da repentina tentativa, malograda por sinal, de
aprovação do projeto de Joaquim Felício em 1891 por parte de parlamentares do congresso.
De um lado, quando o trabalho de Coelho Rodrigues foi avaliado pela comissão revisora
nomeada pelo ministro Fernando Lobo, foi logo reprovado, gerando os impasses entre o
contratado e os jurisconsultos revisores. Por outro lado, remetido ao senado em 1896, este
reconhecendo a necessária revisão do projeto, aprovou-o como base para o código civil,
devendo novamente ser remetido a uma comissão revisora por parte do poder executivo.
Enviado para deliberação da Câmara dos Deputados, não lhe foi dado andamento, e dessa
forma silenciou.
Somente em abril de 1897, depois do envio de requerimento por parte de Coelho
Rodrigues, em resposta publicada no Jornal do Comércio, o governo decidiu por meio do
ministério da justiça conservar a decisão anteriormente tomada reprovando o projeto.375
Quando, em 1899, o mesmo Jornal publicava notícias sobre a possível nomeação de Clóvis
Beviláqua, pelo ministro Epitássio Pessoa, do governo Campos Sales,376 para substituir
Coelho Rodrigues como codificador do direito civil, a Comissão de Justiça e Legislação do
Senado decidia pelo arquivamento do projeto de código apresentado por este último.377

3.3. Coelho Rodrigues e Clóvis Beviláqua, uma possível relação

Segundo o próprio Clóvis Beviláqua, professor, político e jurista brasileiro autor do


oficial Código Civil de 1916, o trabalho de codificação de Coelho Rodrigues foi de grande
inspiração para a feitura do seu projeto. Claro que não são desconsideradas as demais
realizações dos antecessores no processo, porém é imprescindível notar o quão significativa
foi a influência do jurisconsulto piauiense para a consecução do trabalho de codificação civil
de Beviláqua. Este apontou no seu “Em defeza do projecto do Código Civil Brasileiro”, do

375
REQUERIMENTOS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 10 de abril de 1897. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22codigo%20civil%22&pagfis=244
61.
376
VÁRIAS NOTÍCIAS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 01 de março de 1899. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22codigo%20civil%22&pagfis=314
07.
377
VÁRIAS NOTÍCIAS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 23 de agosto de 1899. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22codigo%20civil%22&pagfis=331
64.
151

ano de 1905, que muitas das matérias do seu código civil foram embasadas nos
conhecimentos do seu antecessor.378
Em passagem do citado trabalho, Clovis Beviláqua afirmou nas suas próprias palavras:
“principalmente o Esboço, de Teixeira de Freitas e o projecto do Dr. Coelho Rodrigues, mais
seguidamente este que aquelle, forneceram-me copiosos elementos para a construcção que me
havia sido confiada”.379 O então ministro da justiça Epitássio Pessoa, quando incumbiu Clóvis
Beviláqua em 1899 de redigir o projeto de código civil tão almejado da República já
adiantava que tomasse como base principal para execução o trabalho escrito por Coelho
Rodrigues, segundo consta em publicação do Jornal do Comércio.380
Sustentamos que o projeto de Coelho Rodrigues foi clareador para o estabelecimento
de uma legislação civil para a República que se pretendia construir no seu sentido jurídico,
agora com Beviláqua como sucessor na empresa. Este, ao fazer consideração sobre as
malogradas tentativas anteriores, sobretudo ao fato de Joaquim Felício ter sido julgado pelos
seus críticos por suposta incongruência com relação ao organismo vivo do direito civil, fez
um pessoal reconhecimento a respeito de Coelho Rodrigues. Clóvis Beviláqua teria afirmado,
em comparação aos outros jurisconsultos que, “mais feliz na escolha de seus guias, melhor
conhecedor do movimento legislador e doutrinário, em nossos dias mostrou-se,
incontestavelmente, o Dr. Antônio Coelho Rodrigues, cujo projecto, entretanto, não logrou
conquistar a approvação dos poderes competentes”.381
Vimos que o trabalho de Coelho Rodrigues acabou não sendo aceito como base para o
código civil da República. Os reveses políticos de então, bem como as dificuldades
encontradas no transitar de um regime ao outro, e as necessárias reformas para execução de
obra cara ao direito privado brasileiro, tornaram-se empecilhos sobre sua realização. Apesar
desses fatores, Coelho Rodrigues não deixou de tornar-se referência no que diz respeito ao seu
conhecimento adquirido no decorrer no processo de renovação legislativa, tornando-se o seu
projeto uma importante fonte para Clóvis Beviláqua redigir o trabalho que no fim tornou-se o
código civil da República brasileira.
Apesar desse reconhecimento por parte de personalidades políticas e jurídicas do
período, a exemplo de Epitássio Pessoa e do próprio Clóvis Beviláqua, o jurisconsulto

378
BEVILÁQUA, Clóvis. Em defeza do projecto de Código Civil Brasileiro. Rio de Janeiro: Livraria Francisco
Alves, 1906. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/224223. Acesso em: 12/ago./2020.
379
Idem, p. 26.
380
VÁRIAS NOTÍCIAS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 24 de abril de 1899. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=31927.
381
BEVILÁQUA, op. cit., p. 25.
152

piauiense ficou relativamente esquecido no decorrer do tempo dentro desse processo. Coelho
Rodrigues muitas vezes não passa de uma esparsa menção para saltar do histórico da
codificação à consumação do feito pelo oficial codificador da legislação civil brasileira. Entre
Coelho Rodrigues e Clóvis Beviláqua, porém, existiu uma relação que ultrapassou
reconhecimento e copiosidade de matérias, o que ficou obscurecido nos estudos históricos
sobre esse processo e sobre a relação envolvendo ambos.
Fontes inéditas no Jornal do Comércio contribuem para uma discussão sobre a ampla
participação de Coelho Rodrigues nos debates sobre a realização do trabalho de código civil
de Clóvis Beviláqua. Em muitas das sessões nas casas legislativas nacionais Coelho
Rodrigues se fez presente, apesar de não atuar mais como político no período, e estabeleceu
longas discussões com outros jurisconsultos, onde as suas contribuições foram consideradas,
levando em conta a experiência que teve dentro desse processo de execução da obra
legislativa de direito civil. Passaremos então a visualizar essa relação.
Segundo publicação no Jornal do Comércio, cedo Coelho Rodrigues foi consultado
por um amigo chamado José Luiz da Fonseca Magalhães, em junho de 1898, para que lesse o
trabalho de Clóvis Beviláqua intitulado Direito da Família, pedindo posteriormente seu juízo
sobre a obra. Em resposta Coelho Rodrigues teria se indisposto a fazer um exame apurado do
que lhe havia sido apresentado, mas estava certo de que, sendo já Clóvis Beviláqua “um nome
celebre no mundo jurídico”, seu trabalho certamente era digno de nota. Coelho Rodrigues
apontou, em linhas gerais que, para além de estar “a par da legislação vigente”, foi feito por
parte de Clóvis Beviláqua um trabalho “consciencioso de legislação comparada”.382
Essas considerações feitas por Coelho Rodrigues em 1898, foram republicadas em
março de 1899, com diversas outras publicações de autores como José Higino, Affonso Celso,
Cândido de Oliveira, Araripe Júnior, Silvio Romero, dentre outros, em homenagens a Clóvis
Beviláqua. Professor famoso da Faculdade de Direito do Recife da sua geração, Clóvis
Beviláqua figurava como um dos principais nomes da intelectualidade jurídica e filosófica da
sua época, com diversas publicações na área do direito em revistas nacionais e estrangeiras, a
exemplo das suas monografias sobre Direito da Família, Direito das Obrigações,
Criminologia e Direito, Legislação Comparada, Juristas Filósofos e outros.383
Professor emérito da Faculdade de Direito do Recife, símbolo da moderna geração de
intelectuais da sua época, sinônimo da modernidade na ciência, Clóvis Beviláqua foi a

382
HOMENAGEM AO DR. CLÓVIS BEVILÁQUA (Pelos principais juristas do Brazil). Jornal do Comércio.
Rio de Janeiro, 22 de março de 1899. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Bevilacqua%22&pagfis=31616.
383
Idem.
153

principal referência para levar a efeito o código civil. Reconhecido pelo governo nacional,
acabou sendo convidado pelo ministro da justiça Epitácio Pessoa, do governo Campos Sales,
para redigir o projeto de codificação. Em reunião que aconteceu no dia 27 de março de 1899,
Clóvis Beviláqua teria dito ao então ministro estar pronto para começar os trabalhos de
redação do novo projeto de código civil.384 O contrato com o governo foi oficializado no mês
de abril do mesmo ano.
Depois de contratado pelo governo, após poucos meses Clóvis Beviláqua deu por
terminado o trabalho, ainda no mesmo ano, entregando o projeto em novembro de 1899. Sua
obra foi a mais breve a ser concluída dentre as demais tentativas até então realizadas,
contabilizando aproximadamente oito meses de dedicação. Podemos levar em consideração
que já eram muitas as referências que o então codificador tinha à disposição sobre a matéria
do direito civil pátrio, como o mesmo afirmava, além de que Clóvis Beviláqua foi um exímio
estudioso da matéria, com diversas publicações a respeito, o que certamente contribuía para a
eficiência da escrita do projeto. Por outro lado, mediante acusações de alguns, como veremos
adiante, o trabalho de Clóvis Beviláqua foi considerado uma fiel cópia do projeto elaborado
por Coelho Rodrigues.
O fato é que após Clóvis Beviláqua entregar seu projeto ao ministro Epitácio em
novembro de 1899, este logo remeteu à análise particular de alguns juristas, pois pretendia
ouvir suas opiniões e conselhos, a exemplo de Manoel Antônio Duarte de Azevedo, o
primeiro a quem remeteu e que, segundo o ministro, apresentou-lhe “lúcido parecer”.
Posteriormente reuniu alguns jurisconsultos em comissão para a realização de uma revisão do
projeto. Os membros da dada comissão foram Olegário Herculano de Aquino e Castro, José
Evangelista Sayão de Bulhões Carvalho, Joaquim da Costa Barradas, Amphilóphio Botelho
Freire de Carvalho e Francisco de Paula Lacerda de Almeida, sob a presidência do próprio
ministro da justiça, Epitácio Pessoa.385
A comissão formada deu início à revisão em março de 1900, apresentando o seu
primeiro parecer, segundo o ministro, em agosto do mesmo ano. Foram 51 sessões dentro
desse período. Posteriormente foi realizada uma segunda revisão, dessa vez com uma
audiência em que participou o autor do projeto, contabilizando nessa segunda parte 12
sessões, que aconteceram até o fim de outubro. Epitácio, finalizando sua fala, apontou que

384
VÁRIAS NOTÍCIAS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 28 de março de 1899. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_08&Pesq=%22Bevilacqua%22&pagfis=31671.
385
PESSOA, Epitácio. Gazetilha: Código Civil. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 18 de novembro de 1900.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22codigo%20civil%22&pagfis=738
.
154

terminado esse processo, depois de redigido o projeto e impresso, foi realizada uma nova
leitura em três discussões, e em inícios do mês de novembro de 1900 acabou o trabalho de
Clóvis sendo aprovado pela comissão do governo.386
Percebemos uma enorme diferença daquilo que presenciamos no processo que
impugnou o projeto de Coelho Rodrigues, período em que o governo esteve completamente
alheio à realização do projeto de código civil da República. No caso de Clóvis Beviláqua,
houve um grande impulso do governo, sobretudo por parte do ministério da justiça, que
conduziu com agilidade os trabalhos referentes à renovação da legislação civil brasileira. Os
reflexos disso materializaram-se na maneira como Epitácio deu importância tanto à feitura da
obra, como remetendo a mesma a um processo apurado de revisão, para no fim levar a efeito a
organização do código civil e sua posterior aprovação. Além disso, o governo Campos Sales
tinha como pretensão a organização institucional do regime que até então, segundo Lessa,
encontrava-se sem uma ordem definida. A obra de direito civil era importante na guinada para
legitimar a República.387
Em 10 de novembro de 1900, segundo consta em publicação do Jornal do Comércio,
Epitácio entregou o projeto de código civil a Campos Sales depois de escrito e revisto pela
comissão dos jurisconsultos contratados pelo governo, para que o então presidente da
República remetesse à análise do congresso. Enquanto o trabalho estava em andamento para
ser apreciado pelas casas legislativas, foi devidamente enviado à análise de outras instituições
para que dessem os seus pareceres a respeito. O mesmo Jornal informou em publicação de 27
de janeiro de 1901, sobre o convite feito pela câmara dos deputados ao Instituto dos
Advogados Brasileiros para que estudassem o projeto Beviláqua.388 Da mesma maneira foi
feito pedido a algumas das principais faculdades nacionais para que analisassem o dado
projeto.
Em publicação de 02 de abril de 1901, o Jornal do Comércio informava que a
congregação da Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro, depois de
ofício dirigido pela câmara dos deputados, nomeou uma comissão de professores lentes
catedráticos para darem parecer sobre o projeto Beviláqua. Segundo consta, Coelho

386
PESSOA, Epitácio. Gazetilha: Código Civil. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 18 de novembro de 1900.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22codigo%20civil%22&pagfis=738
.
387
LESSA, Renato. A Invenção Republicana: Campos Sales, as bases e a decadência da Primeira República
Brasileira. 3 ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 2015.
388
VÁRIAS NOTÍCIAS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 27 de janeiro de 1901. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22codigo%20civil%22&pagfis=136
9.
155

Rodrigues, apresentado como conselheiro e lente dessa instituição, foi um dos professores
nomeados para fazer parte da comissão, que ficou composta por ele, Tarquínio de Souza, João
Manoel, Carlos de Gusmão, Júlio de Barros e o desembargador Santos Campos.389 Esse foi o
período inicial do envolvimento direto de Coelho Rodrigues em prol da análise do projeto
Clóvis Beviláqua, fazendo publicar na Revista de Jurisprudência valorosas considerações a
respeito.
No final de abril de 1901, Clóvis Beviláqua escreveu uma compilação de cartas
publicadas no Jornal do Comércio respondendo Coelho Rodrigues sobre criticas feitas ao seu
projeto na referida revista. Este último, assim como fizera Rui Barbosa, teria criticado,
sobretudo, a linguagem utilizada por Beviláqua no seu projeto, acompanhada de diversos
erros de gramática. Em sua resposta, Clóvis Beviláqua teria dito que aquelas considerações
negativas acabaram sendo motivadas pelo conflito de ideias entre ambos e, principalmente,
pelo sentimento pessoal no período em torno do processo de codificação, já que Coelho
Rodrigues possuía pendências com o governo pela aprovação anterior do seu trabalho.390
Nesse período, Coelho Rodrigues vai reclamar ao governo os créditos pelo seu projeto,
pretendendo fazer que se cumprisse a resolução do senado de 1896 que mandava submeter
seu trabalho a análise de um jurisconsulto ou uma comissão de jurisconsultos. Coelho
Rodrigues, segundo Clóvis Beviláqua, foi uma das pontes entre ele e Epitácio Pessoa,
recomendando ao ministro o seu nome para a redação do código civil. Pelo que se pressupõe,
a partir da análise das cartas, Beviláqua deveria ter atuado como codificador que se utilizasse
do projeto do seu antecessor como base principal para levar a efeito o código civil. Dessa
maneira, fazia cumprir a resolução do senado para a revisão do projeto de Coelho Rodrigues,
abrindo espaço para que este fosse reconhecido junto à obra e recebesse os devidos créditos
pelo seu trabalho utilizado como base.
Podemos perceber o desenrolar dos interessem em jogo nas entrelinhas do que foi
considerado. Clóvis Beviláqua teria sido nomeado pelo governo, inclusive com indicação de
Coelho Rodrigues para a sua nomeação. Coelho Rodrigues, aparentemente, via uma chance
para que o seu projeto fosse a base principal para execução do código civil, em que Beviláqua
atuaria como um revisor. Dessa forma se fez quando constituiu-se comissão especial, depois

389
VÁRIAS NOTÍCIAS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 02 de abril de 1901. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22codigo%20civil%22&pagfis=191
5.
390
BEVILÁQUA, Clóvis. O Projeto do Código Civil e o Sr. Dr. Coelho Rodrigues. Jornal do Comércio. Rio de
Janeiro, 16 de abril de 1901. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=2019.
156

de reprovado o projeto Joaquim Felício em 1883, onde o seu trabalho deveria ser aproveitado.
Como afirmou Clóvis Beviláqua, Coelho Rodrigues pretendia que “se fizesse apenas uma
revisão do seu projeto, sob a sua imediata fiscalização”.391
Por outro lado, porém, o ministro supostamente deixou claro por meio de contrato que
Clóvis Beviláqua tinha total liberdade para a escrita do seu projeto, e que poderia utilizar por
base o projeto de Coelho Rodrigues, apropriando-se assim da resolução do senado de 1896.
Apesar de tal decisão, não foi garantido a Coelho Rodrigues nenhum acordo que o
beneficiasse pelo seu trabalho tomado por base, o que supostamente motivou-o então a
criticar o trabalho de Beviláqua e reclamar ao governo o direito de propriedade literária sob o
seu projeto, desautorizando que nele fosse alterado algo quando autorizado pelo governo a sua
utilização.
Em publicação posterior ao falar sobre o impasse, Coelho Rodrigues respondeu que
sua iniciativa em reclamar ao governo o crédito e, necessariamente, o prêmio pelo projeto
esteve calcada na suposta falta de compromisso do governo em pagar o prêmio pelo projeto
que, segundo o mesmo, foi utilizado como base para o trabalho de Clóvis Beviláqua. Nisso,
Coelho Rodrigues acrescentou a própria fala de Beviláqua onde inscreveu na sua exposição de
motivos ter se utilizado de copiosos elementos do projeto do seu antecessor para a construção
que lhe havia sido confiada. Nesse caso reclamou propriedade literária ao governo pelo fato
do seu trabalho continuar pendente apesar de ter sido base para execução do projeto
Beviláqua, como este mesmo confessou.392
Na realidade, Coelho Rodrigues afirmou que o ministro teria simulado executar o
plano do senado, contratando um jurisconsulto para aparentemente realizar a revisão do seu
projeto. Em seguida, teria sido firmado acordo sigiloso entre Epitácio e Beviláqua, para que
este redigisse um novo projeto, o que na realidade seria uma forma de mascarar a resolução
que autorizava a revisão e utilização do projeto de Coelho Rodrigues como base, sem que
fosse pago pelos seus esforços, segundo denunciou este. Para tanto, o ministro teria recorrido
à comissão revisora por meio de acordos políticos no sentido de que a aceitação do projeto
Clóvis/Epitácio, como passou a ser chamado, fosse possível, e somente assim remetido ao
congresso.393

391
BEVILÁQUA, Clóvis. O Projecto do Código Civil e o Sr. Dr. Coelho Rodrigues IV. Jornal do Comércio. Rio
de Janeiro, 17 de maio de 1901. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=2273.
392
Idem.
393
Idem.
157

Interessante a maneira como Coelho Rodrigues teria se expressado diante da câmara


dos deputados federais na sua primeira participação como convidado pela comissão do código
civil dentro dessa casa legislativa. A Comissão Especial da Câmara foi formada por 21
membros, representando cada um deles um dos estados federais, criada posteriormente à
discussão e revisão do projeto Clóvis/Epitácio pela comissão do governo. Segundo constatado
no Jornal do Comércio, Coelho Rodrigues iniciou sua fala na sessão afirmando que se sentiu
feliz por estar sendo ouvido ao fazer as considerações perante a câmara, pois houve um
suposto silenciamento por parte do ministro Epitácio quanto a sua presença nos debates sobre
o código. Pelo que alegou Coelho Rodrigues, apesar dos reiterados pedidos para participar da
elaboração do novo projeto de código civil, não foi permitido, tanto pelo ministro como pelo
presidente da comissão.394
Coelho Rodrigues levantou a hipótese de que Epitássio teria por um momento o
afastado do processo de realização do trabalho de Beviláqua, o que realmente se sucedeu, pois
o mesmo não foi convidado inicialmente para dar sua opinião a respeito da matéria, apesar de
publicamente seu trabalho ter sido utilizado como base. Somente depois Coelho Rodrigues
conseguiu ser ouvido pelo legislativo, quando convidado para participar da sua primeira
sessão na câmara. Acabou justificado que, mesmo seu trabalho sendo muito aplaudido e
tomado por base, Epitássio, como ministro da Justiça, queria ter na sua gestão os créditos por
uma obra de tamanha monta para o período, e que o seu nome a ele estivesse associado. Não é
de estranhar que o projeto era chamado de Projeto Clóvis/Epitássio.395
Esse suposto interesse em fazer publicar uma obra que legasse o seu nome motivou
Epitácio a não abrir direito à dúvida perante a comissão e a câmara, quando Coelho Rodrigues
buscou fazer com que fosse possível uma votação por parte dos membros da casa para a
escolha do melhor trabalho, o que não aconteceu.396 Permaneceu então em vigor o acordo
estabelecido com o governo, sob a responsabilidade do ministro Epitácio, e nesse sentido o
projeto de Clóvis Beviláqua foi a principal referência considerada dentro das casas
legislativas. Apesar disso, Coelho Rodrigues não deixou de aparecer em meio aos debates que
aconteceram a partir de então, pois a comissão formada permitiu ingresso de professores,
intelectuais, jurisconsultos, advogados e todos aqueles que de alguma forma pretendessem
contribuir com a obra.

394
RODRIGUES, Antônio Coelho. Jurisprudência: Código Civil – Projecto Clóvis-Epitácio – Sua gênese e
evolução. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 24 de maio de 1901. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=2328.
395
Idem.
396
Idem.
158

Não foram poucas as referências a partir de então sobre a participação de Coelho


Rodrigues nos debates da comissão da câmara. No dia 21 de agosto de 1901 aconteceu uma
das primeiras reuniões da comissão especial da Câmara dos Deputados. Nessa discussão, além
de ser mencionada a presença do então autor do projeto, que havia sido convidado pela
comissão, o presidente desta, José Joaquim Seabra, acabou convidando Coelho Rodrigues, o
qual se achava presente na sala, para tomar parte na discussão. Foi mencionado em publicação
no Jornal do Comércio que Coelho Rodrigues teria proferido “discurso aceitando algumas e
impugnando outras das ideias, não só do Sr. Dr. Clóvis, como do parecer do Sr. Azevedo
Marques”.397 Este último, no final da discussão, teria agradecido em nome da comissão os
“grandiosos serviços” prestados pelos dois “eminentes juristas” no esforço de dotar o Brasil
de um código civil.
Da mesma forma Azevedo Marques teria se expressado no dia 01 de outubro de 1901,
quando novamente foi realizada sessão, dessa vez no salão novo da biblioteca da câmara.
Presidida por J. J. Seabra, a sessão contou com a presença de vários convidados, dentre os
quais “Conselheiro Manoel Francisco Correia, Domingos de Andrade Figueira, Drs. Coelho
Rodrigues, Jorge Segurado, além do autor do projecto, Dr. Clóvis Bevilácqua”. 398 Azevedo
Marques teria afirmado nessa discussão que o projeto de Coelho Rodrigues estava sendo
muito importante na execução do trabalho em andamento, do qual foram aproveitadas muitas
das disposições em discussão.399 Detalhe para o fato de que Coelho Rodrigues não esteve
mais atuando como político, portanto a defesa que faziam pode ser considerada divergente de
uma possível influência política.
Não eram poucos os políticos e juristas que visavam que Coelho Rodrigues fosse
reconhecido como importante personalidade responsável pela codificação do direito civil
pátrio. Torres Neto foi um dos políticos que durante muito tempo sustentou ser o trabalho de
Clóvis Beviláqua, na verdade, uma fiel cópia do projeto do seu antecessor, segundo
publicação no Jornal do Comércio,400 denunciando assim o fato de Coelho Rodrigues não ter
sido reconhecido por importante feito que legou ao futuro da codificação.

397
VÁRIAS NOTÍCIAS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 22 de agosto de 1901. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22codigo%20civil%22&pagfis=308
4.
398
VÁRIAS NOTÍCIAS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 02 de outubro de 1901. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=3426.
399
Idem.
400
TORRES NETO, A. J. Rodrigues. O Código Civil Brazileiro. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 28 de
junho de 1901. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=2625.
159

No dia 18 de janeiro de 1902 aconteceu a última reunião da comissão da câmara dos


deputados, a qual depois da aprovação das emendas sugeridas pelos membros à redação final
do projeto deu parecer afirmativo para o código civil da República. Coelho Rodrigues não
esteve participando dessa reunião, em carta enviada pediu desculpas por não ter comparecido
às últimas sessões, agradeceu por ter sido ouvido durante o processo de revisão e afirmou que
antes da abertura do congresso para os debates sobre o código pretendia enviar
particularmente as observações que lhe parecessem aproveitáveis, sem, contudo, prejudicar o
trabalho já feito.401
Depois de ser dado o parecer pela comissão dos 21 membros da câmara, o trabalho foi
enviado ao presidente da República Campos Sales. Este solicitou a convocação extraordinária
do congresso. A finalidade da convocação era a discussão geral e posterior votação do código,
visando assim a possibilidade deste entrar em vigor. A sessão solene de abertura do congresso
para análise do código civil e do parecer da comissão da câmara ocorreu no dia 25 de
fevereiro de 1902. Na carta enviada pelo presidente, o mesmo apontou que agora passava pela
primeira vez o projeto que foi de responsabilidade do executivo à deliberação integral por
parte do legislativo que deveria optar pela aprovação ou reprovação do mesmo.402
Em uma das primeiras reuniões do congresso desse ano, Barbosa Lima e Moreira da
Silva assinaram requerimento no sentido de que a câmara se constituísse em Comissão Geral
para o fim de permitir ingresso no recinto dos ilustres jurisconsultos Clóvis Beviláqua e
Coelho Rodrigues, autores dos projetos de código civil que, segundo os mesmos, serviriam de
base ao projeto n° 1 da sessão que estava sendo procedida. Tal projeto dizia respeito à obra de
codificação. Apesar do requerimento por parte dos políticos citados, o pedido não foi aceito,
afirmando o presidente da câmara que mediante regimento só poderiam comparecer perante a
comissão e a câmara em comissão geral aqueles que fossem funcionários do governo.403
Como o projeto estava em tramite legal no congresso nacional, o regimento não permitia a
participação extraoficial.
O interessante é perceber como ambos citados colocaram em igualdade os dois
codificadores quando mencionados na sessão. Coelho Rodrigues foi reconhecido juntamente

401
CÓDIGO CIVIL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 19 de janeiro de 1902. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=3839.
402
CONGRESSO NACIONAL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 26 de fevereiro de 1902. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=4125.
403
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 21 de março de 1902. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=4301.
160

com Clóvis Beviláqua, no processo de aprovação de um código civil, sendo ambos os


principais responsáveis pelos projetos de sua base. Isso demonstra a consideração por parte de
determinados políticos na época do quanto Coelho Rodrigues foi participe dentro do processo
que no final reduziu sua participação.
Depois de considerações feitas por membros da câmara novamente foi restituída a
comissão dos 21 sob a presidência de J. J. Seabra para analise das emendas oferecidas,
sobretudo por parte de Augusto de Freitas e Andrade Figueira. Quando revisto pela comissão
da câmara, logo o projeto foi enviado a uma comissão do senado. Esta foi composta por
Leopoldo Bulhões, Gomes de Castro, Gonçalves Chaves, Bernardino de Campos,
Segismundo Gonçalves, Feliciano Penna, dentre outros, sob a presidência de Rui Barbosa. A
comissão ficou de apresentar o seu parecer até o dia 31 de julho de 1902, devendo reunir-se
em agosto para os debates.404
No senado o projeto acabou paralisado durante um longo período. Nessa casa
legislativa ocorreu uma grande discussão filológico-gramatical em torno da redação do
projeto de Clóvis Beviláqua. Por um lado, as visões contrárias dos membros da comissão e
demais jurisconsultos do legislativo dificultaram a execução dos trabalhos. Além disso, com a
saída de Campos Sales do poder da República esfriaram-se os debates em torno da
legitimação do código civil. Somente anos mais tarde, sobretudo no governo Hermes da
Fonseca, retomaram-se as discussões de forma mais acentuada pelas casas do congresso.
Quando, em 1910, Justiniano Serpa requeria ao governo que fosse pago a Clóvis
Beviláqua a quantia de 100:000$ (cem contos de reis) pela elaboração do projeto de código
civil, muitos dos políticos saíram em defesa de Coelho Rodrigues. Félix Pacheco, em nome da
bancada piauiense, formulou emenda ao requerimento de Serpa no final de 1910 visando que
fosse também pago a Coelho Rodrigues o valor pelos seus esforços no passado. Como estava
próximo de encerrar o ano, a mesma bancada afirmou que logo no início do ano seguinte
pretendia apresentar um projeto ao congresso para ser votado, visando conceder um prêmio ao
conselheiro Coelho Rodrigues pelos serviços prestados à nação.405
Enquanto no decorrer de 1911 houve maior efetividade por meio de reuniões tanto da
câmara quanto do senado tendo em vista a revisão do texto legislativo civil, houve quem

404
VÁRIAS NOTÍCIAS. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 01 de abril de 1902. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_09&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=4384.
405
GAZETILHA: CONGRESSO NACIONAL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 29 de dezembro de 1910.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_10&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=3917.
161

reclamasse por justiça em prol de Coelho Rodrigues. Em dezembro de 1911, Celso Bayma
acabou fazendo justificativa da emenda enviada ao congresso nacional pela bancada piauiense
que tramitava no decorrer desse ano e autorizava o pagamento dos 100:000$ também a
Coelho Rodrigues, “uma vez que o referido jurisconsulto se tinha desempenhado da sua
missão contratual”.406 Nesse sentido, assim como Clóvis Beviláqua havia recebido o prêmio,
depois da sua justificativa afirmando ter tomado por base principal o projeto de Coelho
Rodrigues, nada mais justo que este também fosse recompensado. Segundo afirmação que
teria sido proferida pelo próprio Celso Bayma no congresso, o mesmo teria dito que:
O Dr. Clóvis Beviláqua declarou lealmente ao elaborar o seu bello trabalho
que na confecção de seu projecto elle tinha tomado por base a obra do
Conselheiro Coelho Rodrigues.
E se o Congresso julgou acertado e de direito mandar pagar ao Dr. Clóvis
Beviláqua o prêmio do seu trabalho, nada justifica que o illustre Sr. Dr.
Coelho Rodrigues não receba a recompensa dos seus serviços prestados com
dedicação e sabedoria ao serviço da promulgação de um código civil para o
nosso paiz. (Muito bem.)407
Apesar da reclamação de Bayma e apoiadores pelo reconhecimento de Coelho
Rodrigues, e o pagamento pelos serviços prestados, não houve efetividade na discussão pela
aprovação da emenda. No ano seguinte, pouco tempo após o retorno das atividades
parlamentares, Coelho Rodrigues veio a óbito no dia 01 de abril de 1912. Findou a sua
participação como um jurisconsulto que deu fôlego à obra de codificação civil brasileira, mas
que no fim pouco foi o reconhecimento que o mesmo recebeu do governo. A sua presença foi
envolta de controvérsias, que apesar de reclamada por si e por contemporâneos pelo
reconhecimento, não chegou a ser recompensado pelos serviços prestados.
A presença de Coelho Rodrigues no processo de codificação do direito civil foi
grande, apesar de pouco mostrada na historiografia. Como vimos, mesmo depois de envolver-
se em um processo para não ser silenciado pelo governo, mediante sua afirmação, acabou
sendo ouvido pelo legislativo sobre suas reclamações, apesar de não ter havido efetividade
para repará-las. Coelho Rodrigues posteriormente participou de diversas reuniões para dar
parecer e suas contribuições sobre o projeto de Clóvis Beviláqua, mesmo não estando atuando
em cargo político, mas chamado a compor as sessões da comissão da câmara como convidado
especial. Essa parte da sua vida até então não havia sido relatada nos estudos sobre Coelho
Rodrigues, tornando-se uma novidade o fato de que suas contribuições estiveram para além da

406
GAZETILHA: CONGRESSO NACIONAL. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 14 de dezembro de 1911.
Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_10&Pesq=%22Coelho%20Rodrigues%22&pagfi
s=7911.
407
Idem.
162

participação em comissões anteriores e da realização do seu projeto, esteve ele muito


relacionado com Clóvis Beviláqua no sentido de contribuir para a organização do produto
final da obra de codificação civil brasileira tão reclamada pelas transformações do seu tempo.
Assunto rodeado de controvérsias, a participação de Coelho Rodrigues no processo de
codificação civil tornou-se pouco debatido. Para tanto, buscamos no decorrer do tópico propor
um clareamento à sua participação enquanto um dos principais jurisconsultos brasileiros a
levarem a efeito um dos importantes trabalhos de época. A formulação do código civil da
República significava um importante passo para o Brasil renovar a sua legislação e tornar-se
uma nação desenvolvida e moderna. Foram várias as tentativas pela codificação, tornando-se
a de Coelho Rodrigues aquela sobre a qual supomos um maior peso de silêncio, mesmo diante
da sua ampla participação para o fim de tornar o Brasil dotado de um código civil.
Postulamos que para além da suposta tentativa de silenciamento de Coelho Rodrigues
por parte de contemporâneos, o seu relativo esquecimento durante o decorrer do tempo pode
estar relacionado à escrita da história do início do século XX. Houve nesse período uma
valorização dos espíritos políticos liberais e republicanos em detrimento de estudos sobre
personalidades políticas conservadoras, ligadas a um suposto atraso do antigo regime. Clóvis
Beviláqua fazia parte da geração dos incitadores do positivismo como doutrina que conduziria
a sociedade ao progresso, ao desenvolvimento racional, à objetividade e à democracia
republicana; Coelho Rodrigues, por outro lado, e por fazer parte de uma geração anterior, foi
um espírito associado ao pragmatismo, subjetivismo, à filosofia religiosa e à monarquia. Isso
de certa forma, ligando tendência política e filosofia de vida, foi decisivo para a valorização
daquelas personalidades que eram tendência aos objetos da historiografia positivista, que
dominava o século XIX e início do XX.
Apesar de Clóvis Beviláqua ser considerado pela historiografia tradicional como
aquele que legou obra cara do direito privado brasileiro à época, o trabalho foi fruto de um
longo processo em que se envolveram diversos juristas, professores das faculdades livres,
advogados e intelectuais. Quando aprovado em 1916, o código civil já havia sido emendado à
sua versão original pelas mãos de vários parlamentares, a exemplo de J. J. Seabra, Rui
Barbosa, Azevedo Marques, Francisco Glicério, Feliciano Penna, dentre outros diversos
nomes. Antônio Coelho Rodrigues contribuiu não somente com as discussões finais do
trabalho quando propôs também as suas ideias ao projeto de Clóvis Beviláqua. Sustentamos
no decorrer desse estudo que Coelho Rodrigues foi um daqueles que mais se envolveu com o
processo de renovação legislativo desde o Império à República brasileira.
163

É notório o toque de Coelho Rodrigues em grande parte do processo de realização


dessa obra de importância para esse período de expectativas quanto à organização da Nação
brasileira no seu sentido jurídico, que reclamava a necessidade de um código civil como
símbolo da renovação. Somente 34 anos depois do esforço inicial de Coelho Rodrigues em
particular, quando ainda participava da comissão revisora do projeto de Joaquim Felício, e 61
anos após a inicial tentativa de Teixeira de Freitas, o trabalho foi oficializado. No final das
contas, Coelho Rodrigues não esteve vivo para presenciar a execução legal do Código Civil
da República em 1916, obra que tanto lhe rendeu esforços, e que no fim renegou-o ao fracasso
e relativo esquecimento histórico.
164

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O esforço deste trabalho reflete a intenção do autor em demonstrar o quão atuante foi
Antônio Coelho Rodrigues enquanto político e jurisconsulto, revelando as disputas políticas e
jurídicas em um contexto de mudanças nacionais no final do século XIX e início do XX.
Piauiense notável, sua trajetória pessoal e profissional, acabaram sufocadas pelo tempo,
figurando na historiografia por meio de esparsos registros do seu passado. Isso tornou o
político e jurista natural do Piauí, uma personalidade relativamente esquecida, apesar da sua
expressividade não somente local, mas de reconhecimento nacional, e até mesmo
internacional, dentro da época em que viveu.
A viragem da monarquia à República brasileira é uma das temáticas mais trabalhadas
pela historiografia tradicional. Coelho Rodrigues foi participe dentro desse processo histórico,
onde suas movimentações políticas e jurídicas contribuíram para a construção de um sentido
de nação brasileira. Apesar da aparente apatia, foi operador das mudanças, principalmente no
tocante às questões referentes à renovação do aparato legislativo reclamadas pelo tempo de
transformações no transitar de um regime ao outro. Coelho Rodrigues foi um político e
jurisconsulto, que apesar de se considerar incapaz de adequar a sua ação às condições do país
e do tempo, empreendeu esforços que foram amplamente considerados no decorrer do
processo de construção nacional.
Nosso estudo tornou-se uma proposta variada. Enfocamos inicialmente na análise da
sua trajetória de vida como forma de contribuir com uma história biográfica em torno de
Antônio Coelho Rodrigues. Isso nos possibilitou ampliar o conhecimento sobre essa
personalidade que foi expressiva no seu tempo, mas cujos registros não fazem jus ao seu
nome, não figurando trabalhos consistentes ao seu respeito. Coelho Rodrigues adveio de uma
pequena cidade do sertão do Piauí, e ganhou projeção nacional. Graduou-se na Faculdade de
Direito do Recife, onde posteriormente doutorou-se e se tornou professor pela mesma
instituição. Nesse interim, atuou como político pela sua província/estado, de onde possuiu
grande influência e reconhecimento. Historicamente, porém, ficou relativamente esquecido
como um dos ilustres da sua época.
O afamado professor de direito civil, depois de ter participado de duas das comissões
em prol da feitura do código civil no Império, acabou sendo contratado assim que instalada a
República para redigir o texto legislativo civil que tornar-se-ia base de execução do código
civil da República. Os reveses políticos de então, quando apresentou o seu projeto ao governo
Floriano Peixoto, dificultaram o reconhecimento da sua obra. Negada pela comissão do
165

governo, posteriormente aprovada pela comissão do senado, no fim o trabalho acabou sendo
arquivado pela câmara. Essa foi uma controvérsia política que se estendeu à utilização da sua
obra como base principal para a realização do projeto de Clóvis Beviláqua, apesar de não
dispor do reconhecimento.
Sustentamos que foi possível uma relação entre Coelho Rodrigues e Clóvis Beviláqua,
e que na verdade o primeiro contribuiu amplamente para levar a efeito uma obra de época
importante para a construção legislativa renovada da nação que se criava. Os reveses políticos
das condições da sua existência, porém, foram influentes para que Coelho Rodrigues acabasse
em uma condição de fracassado diante das suas atuações tanto políticas quando como
jurisconsulto. Isso não permitiu que o seu nome figurasse enquanto um sujeito que muito
contribuiu para a formação nacional brasileira.
Partindo de Coelho Rodrigues como sujeito signo da pesquisa, nos propomos a estudar
as disputas políticas nacionais em uma época de transformações no decorrer da Monarquia à
República, o que demandava a necessidade de institucionalização da nação sob a ideia de uma
República que se criava. Coelho Rodrigues foi participe dentro do processo de
transformações. Como político esteve atuando tanto no Império como na República enquanto
deputado e senador pela província/estado natal, o Piauí.
Nas entrelinhas dessa discussão, buscamos enxergar a maneira como Coelho
Rodrigues esteve atuante no decorrer da sua vida política e como, apesar do seu suposto
sucesso, esteve envolvido nas controvérsias do seu tempo. Com a instalação da República
foram mudando-se os grupos no poder. Do relativo sucesso, Coelho Rodrigues acabou
experimentando o fracasso. Não mais conseguindo vencer eleições para o senado, passou a
criticar o novo regime que se instalava, principalmente com relação aos novos dirigentes com
quem não mais simpatizou.
Acompanhando o seu fracasso na política, Coelho Rodrigues não conseguiu
estabelecer relações que lhe permitissem a execução do seu projeto de código civil.
Contratado como um dos principais intelectuais da sua época, professor respeitado da
Faculdade de Direito do Recife, Coelho Rodrigues redigiu o primeiro projeto de código civil
da República brasileira. Sustentamos a sua investida como a mais complexa das tentativas
pelo fato de que a escrita de um trabalho de direito privado que contemplasse uma legislação
renovada condizente com as novas condições em que se encontrava o Brasil com a mudança
de regime era algo bastante difícil.
Somado à execução de um trabalho de tamanha monta, suas relações políticas neste
momento também não lhe foram favoráveis. Coelho Rodrigues acabou não encontrando
166

meios adequados para apresentar o seu trabalho. Governo totalmente alheio à matéria civil,
ministério da justiça indisposto para com o seu projeto, foi impossível, mesmo atuando como
senador, fazer a sua proposta ser aprovada pelo governo. O congresso até lhe foi favorável,
porém no fim das contas o trabalho silenciou.
Além de todo o processo que acompanhou desde o Império pela execução do código
civil, apesar de não atuar na política, foi convidado especial em diversas reuniões para
apresentar parecer sobre o projeto de Clóvis Beviláqua. Além de ter sido afirmado que este
último tomou por base principal o projeto de Coelho Rodrigues, o que por si já demandava
reconhecimento, ambos foram relacionados como principais responsáveis por levar a efeito
obra cara ao direito brasileiro à época. Com o tempo, Clóvis Beviláqua obteve
reconhecimento sobre o qual alimentaram-se produções historiográficas consistentes, por
outro lado Coelho Rodrigues acabou ficando relativamente esquecido.
O fracasso historiográfico de Coelho Rodrigues pode estar relacionado, como
discutimos, ao fato de que os historiadores do final do século XIX e início do XX, embebidos
da fonte positivista, valorizaram aqueles espíritos considerados liberais e republicanos nos
seus estudos. Coelho Rodrigues foi associado ao suposto atraso do regime imperial por ser
considerado conservador. Essa divisão de tendência política pela historiografia positivista
certamente contribuiu para que Coelho Rodrigues não fosse foco de atenção por parte de
pesquisadores no decorrer do tempo.
Por fim, sustentamos o quanto Coelho Rodrigues foi participe dentro de um processo
histórico que acabou reduzindo o seu aparecimento como um dos principais políticos e
jurisconsultos da sua época com ação para promover mudanças sociais importantes. Coelho
Rodrigues experimentou uma condição de existência em que a complexidade das relações e as
mudanças estruturais o empurraram para o relativo esquecimento histórico. Suas
movimentações políticas e jurídicas, porém, foram importantes para a ampliação dos
conhecimentos em torno das disputas políticas e jurídicas no decorrer da Monarquia à
República brasileira.
167

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