24-Texto Do Artigo-41-41-10-20190522
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Henrique Sousa Antunes
RESUMO: O tempo vem demonstrando que nos ABSTRACT: Over time we have come to see that
sistemas jurídicos romano-germânicos o resgate Roman-Germanic legal systems lack an adequate
do lucro ilícito carece de uma resposta adequada and effective response for recovering illegal gains.
e eficaz. Em vários instrumentos, nomeadamente In several instruments, in particular of European
de direito europeu, o dever de indemnizar é Law, the duty to indemnify is designed as a
concebido como um remédio que transfere o lucro remedy that transfers the profit to the injured
para o lesado. Tivemos oportunidade de defender party. We have had the opportunity to argue that
que a indemnização é, na verdade, o lugar natural compensation is, indeed, the natural place for
para a restituição do lucro ilícito, mas, de qualquer restoring illegal gains, but, in any case, the
forma, a emergência das novas soluções emergence of new legislative solutions makes
legislativas tornam essa resposta evidente. De such a response clear. Equally, the sphere of civil
igual modo, o espaço próprio do direito civil exige law itself requires that administrative sanctions be
a restrição das sanções administrativas, excluindo restricted, and this public law intervention is
essa intervenção do direito público quando os excluded when the harmed goods are exclusively
bens ofendidos são de natureza exclusiva ou or predominantly individual in character. In such
prevalentemente individual. Justificar-se-á, nesses cases, the application, instead, of a private
casos, a aplicação alternativa de uma pena penalty will be justified, restoring the dignity of the
privada, repondo a dignidade do direito subjetivo subjective right breached. This framework
violado. Este enquadramento reclama uma requires a reform of the Portuguese Civil Code,
reforma do Código Civil português, o que aqui se which is what is being proposed here.
propõe.
1
Professor Associado da Escola de Lisboa da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa,
instituição onde se doutorou em 2010. Leciona na área do Direito Privado, regendo Direito das
Obrigações, Direitos Reais e Direito do Consumo. Integra vários grupos de trabalho internacionais.
Publicou artigos e monografias sobre temas diversos, destacando-se a responsabilidade civil, a tutela
coletiva dos direitos, o direito das fundações e os direitos reais. Foi Diretor da Escola de Lisboa da
Faculdade de Direito da UCP entre 2011 e 2013.
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1. INTRODUÇÃO
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Os preceitos ou regimes legais sem indicação diversa no texto são de direito português.
Encontra-se uma síntese da evolução histórica da responsabilidade civil em ALMEIDA COSTA, Mário Júlio
de. Direito das Obrigações, 12.ª edição. Coimbra: Almedina, 2009, pp. 524 e ss.
3
Sobre a premência do debate em diálogo de direito comparado, veja-se, por exemplo, GOMES, Júlio.
Uma função punitiva para a responsabilidade civil e uma função reparatória para a responsabilidade
penal. Revista de Direito e Economia, ano XV (1989), pp. 105 e ss.
4
Em perspectiva diversa, rejeitando a legitimidade de danos punitivos, consulte-se MIRANDA BARBOSA, Ana
Mafalda Castanheira Neves de. Lições de Responsabilidade Civil. Cascais: Princípia, 2017, pp. 41 e ss.
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A fim de evitar que uma pessoa que adquira, utilize ou divulgue um segredo
comercial, com conhecimento de causa ou com motivos razoáveis para ter
esse conhecimento, possa beneficiar dessa conduta, e de assegurar que o
titular do segredo comercial lesado seja, na medida do possível, colocado na
posição em que estaria caso essa conduta não tivesse ocorrido, é necessário
prever uma compensação adequada do prejuízo sofrido como resultado
dessa conduta ilegal. O montante da indemnização concedida ao titular
lesado do segredo comercial deverá ter em consideração todos os fatores
adequados, como a perda de rendimentos do titular do segredo comercial ou
os lucros indevidos do infrator (…)». Na parte dispositiva, constituem os
lucros do lesante uma consequência económica negativa atendível na fixação
5
Publicadas no “Jornal Oficial da União Europeia”, respetivamente, L 195, de 2 de junho de 2004, pp. 16
a 25, e L 157, de 15 de junho de 2016, pp. 1 a 18.
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Considere-se que o artigo 562.º do Código Civil impõe ao lesante o dever de recriar a situação hipotética
que a sua intervenção impossibilitou. Então, retomando o nosso pensamento, «essa realidade alternativa
tem, necessariamente, de compreender a posição do agente. Se o lesante obteve um benefício
patrimonial com o seu comportamento, é uma ficção dizer-se que a restituição escapa à reconstituição da
situação que existiria”. SOUSA ANTUNES, Henrique. Das funções reconstitutiva e punitiva da
responsabilidade civil extracontratual. In CARDOSO GUEDES, Agostinho; PINTO OLIVEIRA, Nuno Manuel
(Org.). Colóquio de Direito Civil de Santo Tirso – O Código Civil 50 anos depois: balanço e perspetivas.
Coimbra: Almedina, 2017, p. 492.
7
SOUSA ANTUNES, Henrique. Da Inclusão do Lucro Ilícito e de Efeitos Punitivos entre as Consequências da
Responsabilidade Civil Extracontratual: a sua Legitimação pelo Dano. Coimbra: Coimbra Editora, 2011, p.
651.
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legisladas, antes constitui uma opção de política legislativa motivada pela prevenção de
comportamentos parasitários, de natureza, necessariamente, geral. Aliás, num sistema jurídico
em que a intervenção de outras disciplinas normativas se revela, certamente imprópria, mas
também ineficaz. O direito português das contraordenações permite que o lesante conserve o
lucro ilícito obtido, na medida em que a elevação da coima em razão do benefício económico
do agente não pode exceder um terço do limite máximo estabelecido por lei (artigo 18.º, n.º 2,
do regime geral das contraordenações – Decreto-Lei n.º 433/82, de 27 de outubro).
Neste sentido, a unidade do sistema jurídico impõe a revisão da noção de
indemnização. É insustentável que o ordenamento acolha regimes parcelares sem atender à
expressão universal da censura ao desrespeito consciente pela decisão alheia sobre o destino
económico dos bens utilizados. Neste sentido, é especialmente significativo o projeto de
reforma da responsabilidade civil em França (março de 2017), estatuindo entre os efeitos da
responsabilidade, uma pena aplicável nos termos da seguinte previsão geral (artigo 1266-1,
alínea1): «En matière extracontractuelle, lorsque l’auteur du dommage a délibérément commis
une faute en vue d’obtenir un gain ou une économie, le juge peut le condamner, à la demande
de la victime ou du ministère public et par une décision spécialement motivée, au paiement
d’une amende civile». Está clara a vocação universal da repressão do lucro ilícito do lesante
pela responsabilidade civil.
Entretanto, que não se duvide da ausência de qualquer efeito punitivo nas opções do
legislador europeu. Assim é, em razão da natureza do resgate do lucro ilícito: o lesante é
colocado na situação em que estaria se não tivesse praticado a lesão. Assim é, também,
porque o legislador expressamente o declara.
3. A PENA PRIVADA
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progressiva das fronteiras entre o interesse público e o interesse privado, é celebrada como
uma conquista do pensamento jurídico. As penas privadas constituiriam, assim, manifestações
de desforço, de desagravo, memórias de um tempo passado.
Defender a possibilidade de a responsabilidade civil gerar efeitos punitivos parece a
manifestação de uma impropriedade técnico-jurídica, um erro primário de um jurista
impreparado. Assim na Europa continental. A proibição reiterada da condenação em punitive
damages pelo legislador europeu exemplifica que, mais do que as razões ligadas às
especificidades de certo ordenamento jurídico, a afirmação constitui uma verdade intocável. A
rejeição é replicada de forma acrítica: nem sequer se equaciona a bondade da medida,
depurada das desvantagens que as características de outro sistema judicial, como o norte-
americano, impliquem.
Veja-se o que sucede na Recomendação da Comissão Europeia de 11 de junho de
2013, sobre os princípios comuns que devem reger os mecanismos de tutela coletiva inibitórios
e indemnizatórios dos Estados-Membros aplicáveis às violações de direitos garantidos pelo
8
direito da União (2013/396/EU) . Pretende-se facilitar o acesso à justiça e garantir um nível
elevado de proteção do consumidor (considerando 1). Se, à luz das finalidades declaradas, a
existência de danos em massa motivaria a revisão do papel tradicional conferido à
indemnização, o considerando 15 justifica a proibição da condenação em punitive damages
com a prevenção de “uma cultura de litígios abusivos”. E, no entanto, as tradições jurídicas da
maioria dos Estados-Membros (parte final do considerando) são utilizadas como um conforto
argumentativo. Aliás, no Relatório da Comissão sobre a aplicação da Recomendação
9
(apresentado em 25 de janeiro de 2018 ) lê-se, a respeito da proibição das indemnizações
punitivas estabelecida no princípio 31:
Outro exemplo de uma opção tomada sem a ponderação devida acerca da adequação
dos instrumentos utilizados para a tutela prosseguida encontramos na Diretiva 2014/104/UE do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 26 de novembro de 2014, relativa a certas regras que
regem as ações de indemnização no âmbito do direito nacional por infração às disposições do
8
Publicada no “Jornal Oficial da União Europeia”, L 201/60, de 26 de julho de 2013, pp. 60 a 65.
9
COM(2018) 40 final.
10
P. 18.
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11
direito da concorrência dos Estados-Membros e da União Europeia . Reconhecendo que a
aplicação privada é uma condição de plena eficácia do direito da concorrência (considerando
3), limita aquela à indemnização dos danos sofridos. Descobre-se no considerando 13, parte
final: «Sem prejuízo da reparação por perda de oportunidade, a reparação integral nos termos
da presente diretiva não deverá conduzir a reparação excessiva, por meio de indemnizações
punitivas, múltiplas ou outras». Neste sentido dispõe o artigo 3.º, n.º 3, da referida Diretiva.
Saliente-se que, no percurso legislativo, o Livro Verde da Comissão sobre o tema (de
12
19 de dezembro de 2005 ) abordou a restituição dos lucros ilícitos e a possibilidade de
13
duplicação da indemnização, soluções que o Livro Branco (de 2 de abril de 2008 ) viria a
silenciar. Parece, a esse respeito, elucidativa a nota seguinte:
11
Publicada no “Jornal Oficial da União Europeia”, L 349, de 5 de dezembro de 2014, pp. 1 a 19.
12
COM(2005) 672.
13
COM(2008) 165 final.
14
Pp. 3 e s.
15
SOUSA ANTUNES, Henrique. Da Inclusão do Lucro ..., p. 32 e s.
7
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16
SOUSA ANTUNES, Henrique. Da Inclusão do Lucro ..., p. 608.
17
Eis o que aceita PINTO DE ALBUQUERQUE, Paulo. Comentário do Regime Geral das Contraordenações à
luz da Constituição da República e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem. Lisboa: UCE, 2011,
p. 12 (§ 17).
18
Veja-se, nomeadamente, SILVA DIAS, Augusto. Direito das Contraordenações. Coimbra: Almedina, 2018
(reimpressão), pp. 16 e ss.
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19
SILVA DIAS, Augusto. Direito das Contraordenações..., p. 55.
20
SILVA DIAS, Augusto. Direito das Contraordenações..., p. 55.
21
SILVA DIAS, Augusto. Direito das Contraordenações..., p. 40.
22
SILVA DIAS, Augusto. Direito das Contraordenações..., p. 51.
23
SOUSA ANTUNES, Henrique. Da Inclusão do Lucro ..., pp. 634 e ss.
9
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24
The Moral Foundations of Punitive Damages. Alabama Law Review, vol. 40 (1988-1989), p. 711.
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É certo que o regime de indemnização dos danos não patrimoniais no direito português
pode trazer algumas incertezas a um regime geral de penas privadas. Eis o que justificaria a
previsão legal desse regime, permitindo recuperar o sentido original da indemnização dos
danos não patrimoniais, vocacionada para a compensação.
Enfim, «o legislador deve redescobrir a pena privada sem constrangimentos, tão-só
motivado pela superior adequação da medida em relação à tutela contraordenacional,
26
considerando a natureza dos interesses em juízo» . Em defesa dessa ampla competência,
propõe André TUNC a legitimidade da pena privada «sempre que se depare com a vontade (do
legislador, do juiz ou mesmo de um contraente) de punir, de reprimir, sem recorrer aos meios
do direito penal clássico, e pela simples atribuição de uma soma de dinheiro (ou
excecionalmente de um bem) à vítima de um comportamento ilícito» (tradução de António
27
PINTO MONTEIRO) .
De novo, o direito europeu, denunciando, agora, a esquizofrenia que a proibição da
condenação em punitive damages, antes declarada, revela. Num plano geral, são vários os
atos normativos que, sem uma referência expressa a sanções punitivas privadas, requerem a
28
imposição de medida efetivas, proporcionadas e dissuasivas . Merece, em especial, relevo a
Diretiva 2006/54/CE, de 5 de julho de 2006, relativa à aplicação do princípio da igualdade de
oportunidades e igualdade de tratamento entre homens e mulheres em domínios ligados ao
emprego e à atividade profissional (reformulação), onde a prossecução de um fim autónomo de
29
prevenção aparece associada à indemnização .
Nos termos do artigo 18.º:
25
Cláusula Penal e Indemnização. Coimbra: Almedina, 1990, p. 668, nota 1537 da p. 663. Ver, ainda, as
considerações e os exemplos de direito comparado do parágrafo anterior ao texto citado.
26
SOUSA ANTUNES, Henrique. Da Inclusão do Lucro ..., p. 629.
27
La Pena Privata nel Diritto Francese. In: BUSNELLI, Francesco D.; SCALFI, Gianguido (Org.). Le Pene
Private. Milano: Giuffrè Editore, 1985, p. 350 (o texto original é citado no nosso Da Inclusão do Lucro ...,
p. 629). Encontra-se a tradução em PINTO MONTEIRO, António. Cláusula Penal ..., p. 666, nota 1537 da p.
663.
28
Ver KOCH, Bernhard A. Punitive Damages in European Law. In: KOZIOL, Helmut; WILCOX, Vanessa (Org.).
Punitive Damages: Common Law and Civil Law Perspetives. Wien/New York: Springer, 2009, pp. 200 e
ss.
29
Publicada no “Jornal Oficial da União Europeia” L 204, de 26 de julho de 2006, pp. 23 a 36.
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30
Os precedentes normativos e judiciais deste regime reforçam o entendimento sobre a dimensão
extraindemnizatória da solução (ver SOUSA ANTUNES, Henrique. Da Inclusão do Lucro ..., pp. 640 e ss.).
31
Publicados no “Jornal Oficial da União Europeia”, respetivamente, L 390, de 31 de dezembro de 2004,
pp. 38 a 57, e L 173, de 24 de julho de 1995, pp. 14 a 21.
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que o lesado é cidadão não tem legitimidade para receber a quantia atribuída, pois não é titular
do direito violado. Lê-se, na versão original do Acórdão: (…) it must be always kept in mind that,
according to the very nature of the Convention, it is the individual, and not the State, who is
directly or indirectly harmed and primarily “injured” by a violation of one or several Convention
rights. Therefore, if just satisfaction is afforded in an inter-State case, it should always be done
for the benefit of individual victims (§ 46). Se na reparação razoável identificarmos uma pena
de natureza privada, descobre-se melhor exemplo sobre a impropriedade das
contraordenações que sancionam a violação de bens jurídicos individuais?
Em litígio, a reparação pedida pelo Estado cipriota à Turquia pelo desaparecimento de
1456 pessoas e pelas violações de direitos humanos praticadas sobre cidadãos cipriotas
gregos, na península de Karpas, entre 1974 e 2001. O Tribunal reiterou a posição anterior
assumida no caso Varnava and Others v. Turkey (2009), declarando que o critério de decisão é
a equidade. Segundo a instância, a equidade assegura a flexibilidade e a ponderação exigíveis
à apreciação adequada de todas as circunstâncias do caso, compreendendo, além da posição
do requerente, o contexto geral em que a ofensa foi praticada. A atribuição da reparação tem
como objetivo exprimir que a lesão sofrida pelo requerente foi a consequência da lesão de um
direito humano fundamental e denunciar com a maior amplitude possível a severidade da
ofensa.
É certo que o Tribunal associa a reparação atribuída à compensação de danos não
patrimoniais (30 milhões de euros destinados aos familiares das pessoas falecidas e 60
milhões de euros aos residentes lesados, ou seus herdeiros, da península de Karpas). Razão
tem, no entanto, Paulo PINTO DE ALBUQUERQUE na sua declaração de voto concordante: o
Tribunal condenou o Estado requerido em punitive damages, em penas de natureza privada.
Vários factos permitem dizê-lo. Entre outros: as vítimas em Karpas não foram identificadas nem
são identificáveis; a prescrição vedaria a atribuição de uma indemnização aos familiares das
pessoas desaparecidas se aqueles tivessem agido individualmente; a ausência de critérios
sobre a medida da repartição da indemnização entre os lesados ou os seus herdeiros e a
incerteza sobre a correspondência entre as vítimas efetivas e os destinatários das
32
indemnizações . Acrescentaríamos: a reparação abrange, ainda, as quantias
correspondentes à aplicação de impostos sobre as verbas fixadas.
Em suma, embora o artigo 41.º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem limite a
condenação em reparação razoável à impossibilidade de o direito interno da Alta Parte
Contratante se revelar suficiente para obviar às consequências da violação, essa insuficiência
verifica-se na ausência de satisfação das necessidades de prevenção e de punição justificadas
32
Pp. 30 e 31.
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pelas circunstância do caso concreto. Assim o entende, e a nosso ver bem, Paulo PINTO DE
33
ALBUQUERQUE .
Segundo este Juiz, a decisão segue uma orientação genérica do Tribunal Europeu dos
Direitos do Homem. A condenação em punitive damages recebe a seguinte tipologia: a
violação grave de direitos humanos protegidos pela Convenção ou pelos Protocolos adicionais,
designadamente pela reiteração ou continuidade da prática; incumprimento prolongado e
intencional de uma condenação do Tribunal; o cerceamento severo, ou a ameaça desse
cerceamento, aos direitos humanos do requerente com o objetivo de evitar, dificultar ou
34
restringir o acesso ao Tribunal ou a comunicação do Tribunal com o requerente .
Finalmente, e ainda segundo Paulo PINTO DE ALBUQUERQUE, na condenação em
punitive damages o Tribunal age de acordo com o princípio da proporcionalidade, respeitando
os fatores seguintes: a gravidade objetiva da ofensa, o grau de dolo ou negligência do lesante,
a extensão da lesão causada ao requerente ou a terceiros, os lucros ilícitos obtidos pelo agente
ou terceiros e a probabilidade de inexecução do direito ofendido.
Satisfazendo os requisitos de legalidade e de proporcionalidade aplicáveis, princípios
de que o direito civil não se pode dissociar, a solução parece justificada no direito português.
Aliás, entre nós, a relevância da dimensão coletiva da lesão permitiu ao legislador ensaiar uma
nova abordagem ao dever de indemnizar. Desde logo, para obter um nível ótimo de prevenção,
acolhendo a possibilidade de fixação de uma quantia global (artigo 22.º, n.º 2, da Lei n.º 83/95,
de 31 de agosto). Nas palavras de Miguel TEIXEIRA DE SOUSA:
(…) o regime da ação popular, quando define uma indemnização global que
se destina a ser repartida pelos lesados, (…) preocupa(-se) mais em evitar
que o lesante possa extrair alguma vantagem do facto danoso do que em
assegurar que cada um desses lesados seja realmente indemnizado pela
exata medida do prejuízo sofrido. A indemnização global procura distribuir
pelos lesados os ganhos do lesante, ainda que disso possa resultar alguma
violação da justiça corretiva, pois que essa distribuição não pode assegurar
que todo o dano sofrido seja efetivamente ressarcido pelo seu exato
montante. Para a quantificação da indemnização global utiliza-se mais o
ganho (global) obtido pelo lesante do que o prejuízo (igualmente global) por
ele infligido, o que significa que na sua quantificação não se segue o critério
da reconstituição da situação hipotética que se encontra estabelecido no art.
35
562.º CC .
33
P. 33.
34
P. 36.
35
A Legitimidade Popular na Tutela dos Interesses Difusos. Lisboa: Lex, 2003, pp. 169 e s.
14
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determina a mesma oportunidade de reforma nas ações individuais. Estas servem, ainda, de
paradigma de um modelo tradicional. Nesse sentido, veja-se o que dispõe o princípio 31 da
Recomendação da Comissão Europeia de 11 de junho de 2013, atrás citada:
Afigura-se que, de forma diversa do que sucede com o resgate do lucro ilícito, a
previsão da pena pecuniária restringe o seu alcance à responsabilidade civil extraobrigacional
36
Em análise crítica às opções de reforma do direito francês, salienta-se a equívoca associação entre a
restituição do lucro e a punição do lesante [vejam-se, por exemplo, VINEY, Geneviève; JOURDAIN, Patrice;
CARVAL, Suzanne. Les effets de la responsabilité, 4e édition. In: GHESTIN, Jacques. Traité de droit civil.
Paris, 2017, pp. 25 e ss., e LE DANTEC, Aude; THOUÉMENT, Amélie. L’amende civile. In: PIGNARRE, Louis-
Frédéric (Org.). La réforme du droit de la responsabilité (Actes du colloque du 25 novembre 2016 –
Faculté de Droit et de Science politique. Université de Montpellier). Université de Montpellier, s/d, pp. 199
e ss.].
15
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37
Sobre uma análise recente do projeto de reforma da responsabilidade civil em França a esta luz, vejam-
se, por exemplo, RIAS, Nicolas. Les nouvelles fonctions de la responsabilité civile (regard français). In:
MALLET-BRICOUT, Blandine (Org., sob a égide da Association Henri Capitant). Vers une réforme de la
responsabilité civile française. Regards croisés franco-québecois. Paris: Dalloz, 2018, pp. 67 e ss., e
VÉRON, Paul. Réflexions sur la faute lucrative dans l’avant projet de réforme de la responsabilité civile. In:
PIGNARRE, Louis-Frédéric (Org.). La réforme du droit de la responsabilité, cit., pp. 219 e ss.
38
SINDE MONTEIRO, Jorge Ferreira. Responsabilidade por Conselhos, Recomendações ou Informações.
Coimbra: Almedina, 1989, p. 240. De forma mais desenvolvida, escreve o autor: «Na maior parte das
vezes, as pretensões indemnizatórias por violação de uma disposição legal destinada a proteger
interesses alheios coexistem com as derivadas da lesão de direitos absolutos. Todavia, enquanto a ordem
jurídica, ao conformar um direito como absolutamente protegido, apenas impõe a qualquer terceiro fazer o
objetivamente possível a um homem médio para evitar o pôr em perigo desse direito, as disposições de
proteção prescrevem formas de conduta bem concretas e determinadas, trazendo com isso para o lesado
a vantagem de que a ilicitude do comportamento é mais fácil de comprovar» (p. 238).
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relação ao direito absoluto violado e não ao incumprimento das normas de proteção, infração
que permitiu a verificação do dano.
Em função do que se escreve, a cumulação de uma coima com uma pena pecuniária
só se afigura ofender o princípio ne bis in idem se o regime das contraordenações for
indevidamente aplicado à tutela de bens jurídicos predominantemente individuais, como o
reconhecimento de um direito absoluto atesta. Há separação de águas.
A possibilidade de fixação da pena no triplo do valor de referência segue soluções que,
com esse alcance generoso, o direito português desde já conhece. Veja-se o artigo 1320.º do
Código Civil, a respeito de animais selvagens com guarida própria que hajam sido atraídos
para guarida alheia com fraude ou artifício do terceiro: «(…) é este obrigado a entregá-los ao
antigo dono, ou a pagar-lhe em triplo o valor deles, se lhe não for possível restituí-los». Ou o
artigo 246.º, n.º 1, do Código do Trabalho: «Caso o empregador obste culposamente ao gozo
das férias nos termos previstos nos artigos anteriores, o trabalhador tem direito a compensação
no valor do triplo da retribuição correspondente ao período em falta, que deve ser gozado até
30 de abril do ano civil subsequente».
A proporcionalidade evidencia-se nos critérios que habilitam o julgador à fixação da
pena e na moldura definida pelo legislador. Sem prejuízo do enquadramento da pena nos
limites definidos pelo n.º 2 da disposição proposta, a gravidade da ofensa, os benefícios do
infrator e a reiteração do comportamento ilícito são circunstâncias que justificadamente, o
julgador deve tomar em consideração na definição da sanção aplicável. A adequação da pena
requer, ainda, a ponderação da situação económica das partes e das demais circunstâncias
que se afigurem relevantes.
O projeto de reforma da responsabilidade civil em França, antes mencionado, prevê
que a multa seja limitada ao décuplo do proveito económico obtido pelo agente com a prática
do facto ilícito (artigo 1266-1, alínea 3). A norma circunscreve-se, porém, aos comportamentos
dolosos ditados pela obtenção de um benefício económico com a ofensa (alínea 1). Nesse
sentido, ainda que dúvidas possa haver acerca da bondade da multiplicação do valor de
39
referência por 10, a escolha desse valor parece respeitar um critério de proporcionalidade .
Considerando que a nossa proposta tem outra ambição, diverso será o
enquadramento. Neste contexto, tem especial relevância o exemplo do direito do Québec,
habilitando à condenação em dommages-intérêts punitifs a violação ilícita e intencional de um
direito ou uma liberdade reconhecida pela Carta dos direitos e liberdades da pessoa (1975 –
39
Pronuncia-se no sentido da adequação da proposta JUEN, Emmanuelle. Vers la consécration des
dommages-intérêts punitifs en droit français. Présentation d’un regime. Revue trimestrielle de droit civil,
juillet-septembre 2017, pp. 580 e ss.
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artigo 49.º) . O regime está, pois, desvinculado de uma intenção lucrativa do agente.
Considere-se, ainda, que o lucro pode ser inferior ao dano. Assim, parecendo-nos que é
ajustado ligar o valor de referência às circunstâncias do caso concreto, de modo a evitar a
ineficácia gerada pela arbitrariedade da fixação de quantias abstratas, o dano pode
41
desempenhar essa função . Afinal, a punição tem como objeto comportamentos dolosos,
havendo na antecipação do dano um critério que permite vincular a medida da pena à medida
da culpa e às exigências de prevenção (em paralelismo com o disposto no artigo 71.º, n.º 1, do
Código Penal sobre as penas criminais). Esta relação desenha-se, ainda, na condenação em
punitive damages no direito norte-americano, restringida agora à multiplicação por um dígito em
42
ensaios de reconstrução da legitimidade constitucional da figura .
Cremos que se revela bem fundada a opção pela proibição da contratação de um
seguro destinado a cobrir o pagamento daquela sanção. Só a proibição do seguro garante,
com efetividade, os efeitos retributivo e preventivo que andam associados à condenação em
pena privada. É solução que se descobre no projeto de reforma do Código Civil francês,
43
citado .
A previsão legal da pena pecuniária, a competência do juiz, a imposição de limites à
condenação, a subsidiariedade em relação ao direito penal são escolhas que resguardam a
solução das controvérsias que a utilização de punitive damages no direito norte-americano
44
convoca . Reclama-se, porém, a atribuição da quantia punitiva ao lesado, em congruência
com a tese sobre a desconformidade das contraordenações com a sanção da lesão de bens
jurídicos individuais e, retomando uma reflexão anteriormente desenvolvida, em convergência
com o reconhecimento da legitimação da pena pelo dano.
Sobre o primeiro aspeto, há que salientar a diferença entre o direito das
contraordenações e o direito penal. Escrevemos, então:
40
A título exemplificativo, descobre-se uma análise recente deste regime em LACROIX, Mariève. Les
nouvelles fonctions de la responsabilité civile (regard québécois). In: MALLET-BRICOUT, Blandine (Org., sob
a égide da Association Henri Capitant). Vers une réforme de la responsabilité civile française. Regards
croisés franco-québecois, cit., pp. 79 e ss.
41
A utilização conjugada do lucro e do dano como padrões de limitação da pena permite obviar às
objeções a um recurso, em exclusividade, ao critério do dano. Sabendo que a um proveito económico
pode corresponder um dano substancialmente menor, uma pena vinculada aos ilícitos praticados com
intenção lucrativa revelar-se-ia inoperante se limitada pelo valor do dano (neste sentido, JUEN,
Emmanuelle, Vers la consécration des dommages-intérêts punitifs en droit français. Présentation d’un
regime, cit., pp. 579 e ss.).
42
Veja-se SOUSA ANTUNES, Henrique. Da Inclusão do Lucro ..., pp. 109 e ss.
43
Pela bondade dessa solução, veja-se, por exemplo, JUEN, Emmanuelle, Vers la consécration des
dommages-intérêts punitifs en droit français. Présentation d’un regime, cit., pp. 575 e ss.
44
Remete-se para o que escrevemos em Da Inclusão do Lucro ..., pp. 89 e ss.
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5. CONCLUSÃO
45
SOUSA ANTUNES, Henrique. Da Inclusão do Lucro ..., pp. 632 e ss.
46
Veja-se TILBURY, Michael, Reconstructing Damages. Melbourne University Law Review, vol. 27 (2003),
pp. 713 e s., e o nosso Da Inclusão do Lucro ..., pp. 608 e ss.
47
Rasgos Inovadores do Código Civil Português de 1966 em Matéria de Responsabilidade Civil. Coimbra,
1972, pp. 18 e s.
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Cinquenta anos volvidos, outro fôlego crê-se exigível. A esse respeito, sintetizamos os
pressupostos da proposta de reforma que agora se apresenta. Retoma-se, em grande medida,
48
o que já noutros momentos se escreveu :
1. É tempo de chamar à responsabilidade civil extracontratual a restituição do lucro
ilícito e de àquela atribuir a partilha de competências com o direito contraordenacional. É
tempo, enfim, de repensar as fronteiras entre institutos do direito privado e entre este e o
direito público;
2. Acerca da restituição do lucro, são manifestas as insuficiências do enriquecimento
sem causa. Revela-se, ainda, inequívoca a artificialidade do recurso à gestão de negócios
imprópria, e, porventura, os seus efeitos perversos;
3. Considera-se devida a entrega do lucro como um efeito da responsabilidade civil.
Assim vem sucedendo no direito europeu. Esse dever encontra acolhimento na dimensão
relacional do princípio geral estabelecido pelo legislador a respeito da obrigação de
indemnização (artigo 562.º). A lei impõe ao lesante o dever de recriar a situação hipotética que
a sua intervenção impossibilitou. Essa realidade alternativa tem, necessariamente, de
compreender a posição do agente. Se o lesante obteve um benefício patrimonial com o seu
comportamento, é uma ficção dizer-se que a restituição escapa à reconstituição desejada;
4. É bem verdade que o artigo 562.º delimita o devedor pela obrigação de reparação
de um dano, o que, em última instância, privaria de fundamento a interpretação que, em razão
da perspetiva relacional da obrigação de indemnização, nesta pretendesse incluir o resgate do
lucro, se o lesado não sofreu nenhum prejuízo. Sucede, porém, que esse entendimento
restringe o dano a uma dimensão patrimonial ou, pelo menos, silencia o reflexo que o lucro
tem na esfera não patrimonial do lesado;
5. Temos defendido que se apura um dano não patrimonial relevante, e portanto
indemnizável segundo o artigo 496.º do Código Civil, sempre que do sacrifício censurável de
bens do lesado advém para terceiro um benefício económico;
6. A amplitude com que a indemnização dos danos não patrimoniais foi acolhida no
direito português, adaptável à evolução das circunstâncias sociais, o fim de satisfazer o lesado
que àquela é reconhecida, reagindo à infirmação do seu direito, a natureza do bem que é
ofendido, o sentimento de justiça, deve habilitar o juiz, nesta sede, a restituir ao lesante as
receitas líquidas imputáveis ao seu comportamento. Em situações de elevada censurabilidade,
admite-se a aplicação do critério das receitas brutas;
48
SOUSA ANTUNES, Henrique. Das funções reconstitutiva e punitiva da responsabilidade civil
extracontratual. In CARDOSO GUEDES, Agostinho; PINTO OLIVEIRA, Nuno Manuel (Org.). Colóquio de Direito
Civil de Santo Tirso – O Código Civil 50 anos depois: balanço e perspetivas, cit., pp. 502 e ss.
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7. As condições estão criadas para, em função do lucro obtido pelo autor do facto
ilícito, rever o alcance da responsabilidade no respeito dos princípios que, representando uma
vitória da civilização moderna, se converteram na sua ortodoxia. De qualquer forma, em razão
da emergência de regimes diversos que incluem na indemnização a entrega do lucro ilícito a
unidade do sistema jurídico justifica a revisão daquele conceito.
8. Exclui-se qualquer efeito punitivo no resgate do lucro. O lesante perde as vantagens
que ilegitimamente adquiriu, nada mais. Somente se apura aquele efeito quando, desprezando
o direito alheio, o agente coisificou a pessoa. Está, nesse caso, impedido de deduzir à
restituição o custo económico dos fatores produtivos que integram a sua esfera jurídica, mas
deve, porventura, mais;
9. O direito privado vigente desconhece uma cláusula punitiva geral. Há, porém, um
importante traço de identidade nos casos previstos na lei, pois as sanções privadas que, a
respeito das consequências da aplicação da responsabilidade civil, apresentam um efeito
punitivo são legitimadas pelo dano. O dano é a causa da sua estatuição, destinando-se o
remédio, nuns casos a determiná-lo ou a preveni-lo, noutros a satisfazer o direito do lesado ao
desagravo;
10. Verifica-se uma adesão da sanção criminal às características e finalidades da
solenidade da repressão penal que, justificadamente, argumenta em favor da impropriedade
do direito privado, limitado pela natureza bilateral ou relacional das sanções que utiliza;
11. Diversamente sucede a respeito do regime das contraordenações. A lata amplitude
do direito de mera ordenação social constitui uma aplicação do princípio da subsidiariedade do
direito penal. Em alcance injustificado. As sanções beneficiam a Administração sem curar da
natureza essencialmente individual dos bens ofendidos. Urge repensar as fronteiras entre o
direito de mera ordenação social e o direito privado;
12. Afigura-se que, de forma diversa do que sucede com o resgate do lucro ilícito, a
previsão legal de uma pena pecuniária restringe o seu alcance à responsabilidade civil
extraobrigacional e à responsabilidade obrigacional sem fonte negocial. Na verdade,
pretendendo o credor de uma prestação contratual dispor desse remédio, deve recorrer à
previsão de uma cláusula penal;
13. A previsão legal da pena pecuniária, a competência do juiz, a imposição de limites à
condenação, a subsidiariedade em relação ao direito penal são escolhas que resguardam a
solução ora enunciada das controvérsias que a utilização de punitive damages no direito norte-
americano convoca.
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TEIXEIRA DE SOUSA, Miguel. A Legitimidade Popular na Tutela dos Interesses Difusos. Lisboa:
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