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Análise dos impactos à fauna e flora local causados pelo derramamento de petróleo no
Nordeste do Brasil
RESUMO - Este artigo científico tem como objetivo descrever os impactos do derramamento
de petróleo que atingiu a zona costeira e marinha do Nordeste brasileiro em 2019 na
biodiversidade do litoral nordestino. A análise qualitativa dos dados e informações disponíveis
na literatura mostrou que a maioria dos estudos se concentra nos impactos do derramamento na
fauna local, principalmente na microfauna aquática, e que os estados de Pernambuco e Bahia
são os mais analisados. No entanto, há também estudos que abordam a região costeira do
Nordeste de forma mais ampla. Dados analisados comprovam a ocorrência de fauna e flora
oleada em todos os estados afetados pelo derramamento, afetando principalmente as
comunidades bentônicas e nektônicas. Unidades de conservação e importantes hotspots de
biodiversidade também foram atingidos. É fundamental monitorar a área afetada a longo prazo
para obter resultados mais robustos sobre os impactos e os efeitos do derramamento de petróleo,
que poderão ser observados por um período prolongado.
ABSTRACT - This scientific article aims to describe the impacts of the oil spill that affected
the coastal and marine zone of the Brazilian Northeast in 2019 on the biodiversity of the
Northeastern coast. Qualitative analysis of data and information available in the literature
showed that most studies focus on the impacts of the spill on the local fauna, especially the
aquatic microfauna, and that the states of Pernambuco and Bahia are the most analyzed.
However, there are also studies that address the Northeastern coastal region more broadly.
Analyzed data confirm the occurrence of oiled fauna and flora in all states affected by the spill,
affecting mainly benthic and nektonic communities. Conservation units and important
biodiversity hotspots were also affected. It is essential to monitor the affected area in the long
term to obtain more robust results on the impacts and effects of the oil spill, which could be
observed for a prolonged period.
INTRODUÇÃO
MARCO TEÓRICO
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meio dessas tecnologias, é possível estimar a quantidade de petróleo em cada jazida (GURGEL
et al., 2013).
A mudança na política energética resultou em um considerável aumento nas atividades
de exploração, desenvolvimento e produção de petróleo nesta região do país. No entanto, os
impactos ambientais e efeitos colaterais gerados por essas atividades são classificados como
um dos principais fatores de incidentes na zona costeira e marítima, aumentando o grau de
vulnerabilidade desses ambientes (NICOLODI; PETERMANN, 2010).
A palavra petróleo deriva do latim petra (pedra) e oleum (óleo), significando
literalmente "óleo de pedra". O petróleo é composto por uma mistura homogênea de
Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs), Compostos Orgânicos Voláteis (VOCs),
sulfeto de hidrogênio e metais pesados. Essa substância é altamente inflamável, apresentando
densidade menor que a água, odor característico e cor que varia do negro ao âmbar (THOMAS
et al., 2001; PENA et al., 2020).
O petróleo é uma substância derivada da decomposição de materiais orgânicos fósseis
que se acumularam em estratos sedimentares e foram submetidos a transformações
termoquímicas ao longo de um longo período de tempo geológico (D’ALMEIDA, 2015). Esse
recurso natural pode ser encontrado em diferentes estados físicos, variando desde a forma
líquida mais fluída (óleo cru) até formas mais densas, como o asfalto, ou mais gasosas, como o
gás natural (GURGEL et al., 2013).
O petróleo é encontrado predominantemente em poros de rochas sedimentares em terra
firme e em terras submersas, com profundidades que variam desde poucos metros abaixo da
superfície até cerca de 3 km de profundidade (GURGEL et al., 2013; MARTINS et al., 2015).
As rochas sedimentares são formadas a partir de depressões de relevo preenchidas por
fragmentos de rochas preexistentes, que passaram por processos naturais desgastantes, como a
erosão e o intemperismo.
A extração de petróleo ocorre por meio do processo de perfuração de poços, que é
dividido em dois sistemas: onshore (perfuração em terra) e offshore (perfuração no mar)
(MARTINS et al., 2015). Para isso, são utilizados mecanismos e tecnologias que permitem o
fluxo de fluidos do fundo do poço até a superfície. As rochas são perfuradas pela ação da rotação
e do peso aplicados a uma broca posicionada na extremidade inferior de uma coluna de
perfuração, seguida da extração final e transporte do petróleo por meio de barris ou tanques
(FRANÇA; NETO, 2013). É durante essa fase que podem ocorrer vazamentos e derramamentos
de petróleo em ambientes aquáticos.
A zona costeira do Brasil é uma região de grande diversidade ambiental, que abriga uma
variedade de ecossistemas, como praias arenosas, campos de dunas, restingas, manguezais,
estuários, costões rochosos, recifes de coral e zonas marinhas, além da Mata Atlântica
(PINHEIRO; FREITAS; CORTES, 2018). Cada um desses ambientes possui características
físicas, químicas e biológicas únicas que os diferenciam uns dos outros, gerando uma grande
diversidade de espécies e suas interações (PINTO et al., 2006).
Os ecossistemas costeiros são considerados extremamente importantes para o equilíbrio
ambiental, mas muitos deles são classificados como frágeis e vulneráveis às atividades humanas
(AGUIAR; ERVATTI, 2020). De acordo com Pinheiro, Freitas e Cortes (2018), a Zona
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Costeira do Brasil se estende por mais de 8.500 km, abrangendo 17 estados e mais de
quatrocentos municípios, desde o Norte equatorial até o Sul temperado do país.
Os ecossistemas costeiros são intensamente pressionados pelas atividades humanas,
como especulação imobiliária, turismo, instalação de parques eólicos, sobreexplotação de
recursos pesqueiros, exploração de petróleo, entre outras. Segundo Imperatriz-Fonseca e
Nunes-Silva (2010), dados indicam que 35% dos manguezais, 40% das áreas florestadas e 50%
das áreas alagadas já foram destruídas, além da redução dos estoques pesqueiros em até 80%.
Esses impactos têm efeitos diretos sobre a produção dos serviços ecossistêmicos fornecidos
nessas regiões, conforme destacam Pinto et al., (2006).
O conceito de serviços ecossistêmicos engloba os benefícios tanto tangíveis quanto
intangíveis que a sociedade obtém através das dinâmicas, funções e integrações complexas dos
componentes dos ecossistemas. Isso significa que uma função ecossistêmica produz um serviço
ecossistêmico específico quando os processos naturais subjacentes geram uma série de
benefícios diretos ou indiretos que podem ser aproveitados pelo ser humano, incorporando a
noção de utilidade antropocêntrica (ANDRADE; ROMERO, 2009). Esses benefícios incluem,
por exemplo, a produção de alimentos, a polinização, a regulação do clima, a proteção contra a
erosão costeira e a oportunidade de desfrutar da beleza cênica e da recreação proporcionadas
pela natureza. Andrade e Romero (2009) classificam os serviços ecossistêmicos em quatro
grupos: provisão, regulação, culturais e de suporte.
Esses serviços enfrentam uma crescente ameaça devido à degradação dos ecossistemas
e à pressão exercida pelas atividades econômicas, especialmente a indústria petrolífera, que
gera uma grande quantidade de gases de efeito estufa e frequentes derramamentos de petróleo.
Isso contribui para o aumento da crise climática e causa danos imensuráveis aos ecossistemas
(MESSIAS, 2015).
MATERIAIS E METÓDOS
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foram lidos integralmente. Dessa forma, garantimos que apenas os estudos mais relevantes e
pertinentes ao objetivo da pesquisa foram incluídos na revisão da literatura.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
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