Origem E Fundamento Da: Sacramentalidade Do Matrimùnio
Origem E Fundamento Da: Sacramentalidade Do Matrimùnio
Origem E Fundamento Da: Sacramentalidade Do Matrimùnio
Origem e fundamento da
sacramentalidade do matrimÙnio
Bibliografia
BURKE,C. "La Sacramentalidad del Matrimonio. Reflexiones Teológicas" In: RET 53/ 1
(1993), 43-67;Duss-vON WERUT, J. "EJ Matrimonio como Sacramento". In: Mys 4/2 (Ma
drid, 1975), 410-437; CHAUVET, L. M. "Le Mariage un Sacrement pas Comme les Autres"
In: MD 127 (1976), 64-105; GopEPROY, L. 'Le Mariage au Temps des Peres" In: DTC
gParis, 1927), 2077-21 23; KaSPER, W. Teologia del Matrimonio Cristiano. Santander,
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Pamplona, 1971;VISENTIN, P. "II Matrimonio alla Luce della Teologia Patristica". In: RiLi
3 (1968), 327-341; VV.AA. Nuova Enciclopedia del Marrmonto. Brescia. 1975.
Introdução
O tema dasacramentalidade do matrimónio nos aproxima do
que éespecífico do matrimônio cristão, isto é, de sua condição de
sinal e ação da Igreja que torna presente a graça de Jesus Cristo
na comunidade crist. Aparentemente, o matrimönio contraido
entre cristãos não deveria ser diferente do matrimônio comum, se
consideramos que o matrimönio pertence à ordem da criação e tem
um profundo significado tanto humano como religioso em razão de -
Sua própria condição natural. A sacramentalidade do matrimônio
Cristão assumne a realidade humana do matrimònio, mas a situa
no contexto da história da salvacão e no marco da Igreja. Isso nos
indica que devemos postular a sacrarmentalidade do matrimônio,
necessariamente, a partir de uma perspectiva eminentemente
crist e eclesial.
ordem da
Enquamto sacramento, o matrimônio cristão pertence à
Tedenção, da graça de Jesus Cristo e da vida da Igreja. Participa dos
Ressusci
Irutos da Paixão do Senhor. traz em simesmo as marcas do
141
ORIGEM EFUNDAMENTO DA SACRAMENTALIDADE DO MATRIMÔNIO0
142
ORIGEM EFUNDAMENTO DA SACRAMENTALIDADE Do MATRIMPNIO
143
SACRAMENTALIDADE DO MATRIMÔNIO
ORIGEM EFUNDAMENTO DA
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ORIGEM EFUNDAMENTO DA
SACRAMENTALIDADE DO MATRIMONIO
1idade destinada por Deus para servir aos fins de
e redentora. A sacramentalidade do matrimônio sua obra criadora
deriva do fato de
3e o matrimônio éobra de Deus e
aa comunidade santihcada pela adquire um significado próprio
graça de Jesus Cristo.9
Sobre cada um dos sete
sacramentos, podemos encontrar
ontecedentes culturais e bíblicos nos quais vermos um anúncio e
uma figura do que chega a ser realidade
de Jesus."No que se refere ao gratificante com a vinda
matrimônio, trata-se de uma reali
dade que pertence, por vontade do Criador, åcondição da
natureza
humana e que participa da graça com a qual Deus quis revestir
a humanidade decaída. Neste capitulo,
tentaremos analisar o
significado o matrimónio cristão, atendo-nos aos textos da Escri
tura e da primeira Tradição crist. Nos dois capítulos seguintes,
trataremos do desenvolvimento posterior da doutrina crist sobre
o matrimônio, atendendo tanto ao magistério da Igreja como ao
ensinamento dos teólogos.
rCom oobjetivo de ajudar a uma melhor compreensão da sa
cramentalidade do matrimônio através dos testemunhos dessa pri
meirae fundamental etapa da Tradição crist, o presente capítulo
está divididoem três seções, que são complementares e reúnem os
aspectos principais que devem ser levados em conta na considera
cão da sacramentalidade do matrimônio.!" São os seguintes:
1. Bondade e fraqueza do estado matrimonial.
2. Omatrimônio éabençoado pelo Criador e por Jesus Cristo.
3. A unio matrimonial ésinal da união entre Cristo e a Igreja.
Cf. CHAUVET, L. M. "Le Mariage un Sacrament pas Comme les Autres". In: MD
127 (1976), 64-105 (especialmente pp. 99-104); BURKE, C. "La Sacramentalidad del
Matrimonio. Relexiones Teológicas". In: RET 53/1 (1993), 43-67.
0 Sobre as prefigurações dos sacramentos cristãos nos ritos e sinais da religião judaica, tal
como são percebidos nos escritos do Novo Testamento e dos Padres, cf. DANIELOU, J.
Sacramentos y Culto según los Santos Padres. Madrid, 1962.
Não se deve esquecer de que o conceito de sacramento, num sentido técnico e preciso,
não encontrado até a época da Escolástica. Ao nos referir, portanto, àsacramentalidade
do matrimônio em épocas anteriores, precisamos indagar no tanto sobre o uso do termo
"'sacramento" quanto sobre ovalor sagrado esobre osignifcado eclesial que se concede
ao matrimônio.
145
MATRIMÔNIO
ORIGEM EFUNDAMENTO DA SACRAMENTALIDADE DO
12 Ver no capítulo Vo título sobre "O matrimônio nas idéias e costumes judaicos.
3 Ver no capítulo IV o último título, e no capítulo VI o primeiro.
146
ORIGEM EFUNDAMENTO DA
SACRAMENTALIDADE DO MATRIMONIO
pode ser rejeitado sem antes ter prOvado as
mdeve saber assumir a graça recebida e suapróprias forças.
Cada
vocacão!"
Apostura de Paulo favorável àvirgindade e ao
celibato cor
responde a uma preferéncia muito acentuada entre os cristãos de
sua época e contribui notavelmente para criar na
tradição crist
ma tendencia muito profunda de valorizacão da renúncia ao
matrimônio como forma de vida consagrada à práticados chama
dos conselhos evangélicOs. Essa tendéncia, muito marcante nos
Padres, que consideram unanimemente a virgindade consagrada
um estado de vida superior ao matrimônio, não contribui, em prin
cípio, para ressaltar a dignidade do matrimônio,5Aisso se deve
acrescentar a intluência negativa de unm fator histórico como éo
das correntes extremas ou radicais que brotam dentro de alguns
setores cristãos que se opõem ao matrimônio por motivos ideoló
gicos ou sectários !7
4 Apostura do apóstolo nesse tema pode dar lugar a variadas interpretações. Paulo se
mostra mais partidário daquilo que ele mesmo escolheu, o celibato, e afrma que é o
melhor e que quem permanece nesse estado será feliz (1Cor 7,1.6-7.25-26.35.38.40).
Và, sobretudo, no matrimônio as preocupaçóes pelas coisas do mundo e por agradar o
parceiro (1Cor 7,7.27-40). Compreende que amaioria se incline pelo estado matrimonial
eo aprova levando em conta a "razão da impureza" (v. 1-2.8). Quer se mostrar imparcial
quando diz que, quanto à virgindade, não tem "preceito do Senhor", e se limita a dar
um conselho (v. 25). Sente-se condicionado pela id¿ia da proximidade da última vinda
do Senhor, que o leva a dar o conselho de não mudar de estado (v. 26-31). Expóe
claramente os deveres dos casados: estão obrigados, um para com ooutro, no que se
refere às relações conjugais e são chamados a viver unidos (v. 3-16). Ver no capítulo IV
a nota 27.
S Ver no capítulo I a nota 28.
16
Alguns Santos Padres destacam a superioridade da virgindade sobre o matrimônio em
termos que implicam, às vezes, certo desprezo da vida matrimonial. Origenes se pergunta
se a virgindade não seria sacramento da mesma forma que o matrimônio: Comm. In
Math. 14,16: PG 13, 1229 A. Ambrósio, considerado o "doutor da virgindade", mostra
pouco apreço pelo estado matrimonial. A mesma coisa se deve dizer de sãoJerònimo,
que precisou se defender da acusação de ser inimigo do matrimônio.
Acarta Optarem semper (a. 390), dirigida pelo papa Sirício àlgreja de Milão, condenando
oS ensinamentos de Joviniano, diz: "Nós aceitamos certamente, sem nenhum menosprezo,
os compromissos matrimoniais de cujas vigílias participamos; mas concedemos maior
honra às virgens que às que se casam" (PL 13, 1171; EF 15).
Ver, no capítulo IV, as notas 29 e 30. Essas correntes extremas obrigam, no entanto,
a hierarquia eclesiástica a defender a legitimidade, a licitude e a bondade do
matrimônio.
147
SACRAMENTALIDADE DO MATRIMÔNIO
ORIGEM EFUNDAMENTO DA
circunstâncias, podemos abordar as
Tendo presentes essas a digni
expressam sobre
idéias que os primeiros escritos cristãos pre0cupação maior recai
dade e a bondade do matrimônio.' Sua concupiscência
sobre a relação que existe entre o matrimônio e a
ressaltam que os cristãos
da carne. Nesse sentido, os apologistas
com propósitos
se casam da mesma forma que os pagãos, mas não
família e de educar
carnais, esim com odesejo de formar uma
os ilhos, !9 Um século mais tarde, Clemente de Alexandria, procu
rando ser fiel àdoutrina de são Paulo, afirma que o matrimônio é
lícito e bom quando contraído para procriar. Tanto aquele que se
casa como aquele que escolhe o estado de continência agemn bem,
sempre que perseverem no seu propósito.20
Santo Irineu (séc. II) argumenta contra os gnósticos que proibir o matrimônio é injuriar
oCriador, que diferenciou os sexos para a propagação do gênero humano: Adv. haer.
28,1: PG 7, 690.
O primeiro concílio que condena doutrinas crists contra a dignidade do matrimônio é
o celebrado em Gangres (Asia Menor), por volta do ano 340. Esse concilio, rejeitando os
erros difundidos nos meios ascéticos do Egito e da Palestina, confuta a doutrina segundo
a qual o ato conjugal seria abominável (c. 1) ereprova aqueles que, tendo feito voto
de virgindade, continência ou castidade, reputam o matrimônio como abominável ou
vituperam arrogantemente os casados (cc. 9 e 10).O epílogo do Concílio de Gangres
mostra grande equilíbrio ao professar "veneração" pela virgindade, que está unida à
humildade, e elogiar como "digna de honra" a união matrimonial. Cf. EF, 11.
0.ll do I Concilio de Toledo, (c. 397-400) condena os que afirmam ou acreditam que
os matrimônios realizados segundo a lei divina sao cxecráveis. A carta de Leão Magno,
Quam laudabiliter (a. 447), a0 bispo Turíbio, de Astorga (León), denuncia também "a
loucura sacrílega" de Prisciliano, que consistia cm dissolver toda união conjugal por
considerá-la ilícita (EF, 24: DS 283).
18 O momento ápice da doutrina patristica sobre o matrimónio acontece no começo
do século V, com a obra de santo Agostinho, considerado o "doutor do matrimônio
cristiano" Entre os Padres gregos, destaca-se, no século III, Clemente de Alexandria,
por seu detalhado ensinamento sobre o matrimônio.
19 Carta a Diogneto 5: PG 2, 1173; ed. de RuIz BUENO, D. Padres Apostólicos. Madrid, 1979,
850; ATENÁGORAS. Legatio, 33: PG 6, 965; ed. de RuIz BUENO, D. Padres Apologistas
Griegos. Madrid, 1954, 703-704;: JusTINO. Apolog. 1,29: PG 6, 374; ed. de RuIz BUENO,
D. Ibid., 212-213.
0 CLEMENTE DE ALEXANDRIA. Strom. 3,12: PG 8, 1184. Segundo Clemente de Alexandria, a
bondade e a santidade do matrimönio derivam do fato de que procede de Deus: Strom.
3,17: PG 88, 1205;omatrimônio serve para prolongar aobra da criação: ibid., 3,9: PG
8, 1168; a mulher pode servir de ajuda ao homem na prática das virtudes crists, nas
tarefas da casa e nas necessidades da vida; ibid. 4, 19: PG 8, 1333. Também in: Pacdag.
2,10: PG 8, 497; SCh 108, 165-219.
148
ORIGEM EFUNDAMENTO DA
SACRAMENTALIDADE DO MATRIMÖNIO
Orígenes julga Com maiores reservas que seu predecessor na
cátedra de Alexandria a honestidade das relações conjugais. Os
psposos devem saber superar a paixão egoísta até no próprio ato
conjugal, que devem realizar de forma moderada e com vistas na
procriação. Origenes distingue entre os perfeitos que se casam
unicamente como fim de poder ter descendência e os simples fiéis
nara quem o matrimôni0exerce também afuncão de remédio para
aconcupiscência." Na segunda metade do século III, a Didascália
defendea licitude e abondade do matrimonio, apoiando-se no fato
de gue Deus éseu autor. Numerosos Padres da Igreja grega, como
Tito de Bostra, Cirilo de Jerusalém, Epifânio, Gregório de Nissa e
Gregório Nazianzeno, expressam-se no mesmo sentido.22
Entre os escritores latinos, Tertuliano é oprimeiro que escreve
amplamente sobre omatrimônio, a respeito do qual tem uma idéia
desfavorável." Ambrósio, considerado o "doutor da virgindade'",
Cf. ADNÈS, P.Op. cit., 70; BROUDEHOUX, J.-P. Mariage et Famille chez Clément d'Alexandrie.
Paris, 1970; SALDON, E. Op. cit., 26. Ver capítulo 11 (nota 18).
21 ORÍGENES, Hom. in Gen. 5,4: PG 12, 192: Comm. In Math. 14.23: PG 13. 1244. CE.
CROUZEL, H. Virginité et Mariage selon Origène. Desclée de Brouwer, 1963.
Ver outros autores gregos no capítulo XII, nota 8.
22 Didascalia 6,12, 1-2; 6,22,8-9: FUNK, F. X. Op. cit., 326, 378. Tito de Bostra (t 378)
defende contra os maniqueus a bondade e o caráter sagado do matrimônio porque asim
o quis o Criador; Adversus Manichaeos 2,33: PG 18, 1197. Amesma coisa faz Cirilo de
Jerusalém (t 386). Igualmente, as Constirutiones Apostolorum (inaldo séc. IVou começo
do séc. V) e santo Epifànio (c. 315-403) akrmam a bondade do matrimônio enquanto
obra de Deus. Gregório de Nissa, apesar de se mostrar muito pessimista em relação à
bondade do matrimônio, reconhece que Deus o abençoou; De Virg. 8; PG 46, 353-357.
Gregório Nazianzeno diz: "O matrimônio não afasta de Deus, mas aproxima dele; é Deus
mesmo quem move para o matrimônio". Poemata moralia 1,1: PG 37, 524; Ver também
Poemata Moralia, 6, De Pudicitia (v. 1-2): PG 37, 643. Gregório Nazianzeno vê em sua
irm Gregória a encarnação do ideal de esposa crist; Oratio, 8,8: PG35, 797.
23 Tertuliano dedica ao matrimônio as obras Ad Uxorem, escrita na etapa anterior a sua
affrmação montanista, e as que escreve posteriormente, De exhortatione Castitatis, De
Monogamiae De Pudicitia. Na primeira obra, já expressa uma concepção muito pobre do
matrimônio ao airmar que somente se justifica pela necesidade de evitar aconcupiscència,
uma vez que, diante do iminente hm do mundo, se torna desnecessária a propagação da
espécie; Ad Usorem, 2e3: PL I, 1277 e 1278. Omatrimônio não pode ser considerado
propriamente um bem; ibid., 3: PL 1, 1278-1279. Em De Pudicitia, depois de afirmar
que são Paulo simplesmente tolerou o matrimônio, reconhece que não constitui um
pecado, mas sim uma mancha; 16: PL 2, 1012. Em Adversus Marcionem, fala sobre a
bondade do matrimönio cnquanto foi abençoado por Deus visando à propagaçáo da
espécie; 1,29: CCL I, 473.
149
ORIGEM EFUNDAMENTO DA SACRAMENTALIDADE D0 MATRIMÔNIO
150
ORIGEM EFUNDAMENTO DA SACRAMENTALIDADE DO MATRIMÔNIO
7 "Omne itaque nuptiarum bonum implerum est in illis parentibus Christi, proles.
hdes, sacramentum. Prolem cognoscimus ipsum dominum lesum, idem, quia nullum
adulterium, sacramentum, quia nulum divorium" ("Os bens do matrimônio, prole,
mútua fidelidade e sacramento verifcaram-se plenamente no caso dos pais de Jesus. A
prole como o reconhecemos é o próprio Jesus. A hdelidade múrua nunca foi violada,
por nenhunm adultério. O sacramento se realizou perfeitamente, não houve divórcio"):
De Nupt. et Concup., 1,11,13: CSEL, 42, 225; Obras Completas de S. Agustin, Op. cit.
35, 264.
Sobre os bens do matrimònio em santo Agostinho, cf. CoUTURIER, C. "Sacramentum
et Mysterium dans l'Oeuvre de Saint Augustin". In: EtAg 28 (1953), 161-332; REUTER,
A. "Sancti Aurelii Augustini doctrina de bonis matrimoni". Romac, 1940), 219-257:
SCALCO, E. "Sacramentum Connubii" et Institution Nuptiale. Une lecture du "Bono
Coniugali" et du "Sancta Virginitate" de S. Augustin. In: Erhl 69 (1993), 27-47. Ver
capítulo IV, nota 34.
151
ORIGEM EFUNDAMENTO DA SACRAMENTALIDADE DO MATRIMÔNIO
28 Para santo Agostinho, o ato conjugal traz consigo o mal da concupiscência, mas não
énecessariamente um pecado; é legítimo e bom se realizado com o fm de ter ilhos e
constitui inclusive um dever para os esposos. O segundo dos bens que santo Agostinho
reconhece no matrimônio - a "hdes" ou "fraterna societas" -, que consiste no afeto
interior dos esposos e em sua vontade de compartilhar os bens espirituais e de se ajudar
mutuamente, dá sentido por si só ao matrimÑnio no caso em que circunstancialmente
o casal não possa ter descendência ou se abstenha da relação sexual. Agostinho cita
como exemplo desse matrimônio o dos pais de Jesus, Maria e José: De Nupt. et Concup.
1,11,12: CSEL 42, 224-225. Ver a nota 38 no capítulo IV.
Santo Agostinho afirma que o matrimônio foi instituído e abençoado por Deus no
começo no mundo; De Nupt. et Concup. 2,32,54: CSEL, 42, 311.
152
ORIGEM EFUNDAMENTO DA SACRAMENTALIDADE D0 MATRIMONIO
154
ORIGEM EFUNDAMENTO DA SACRAMENTALIDADE DO MATRIMÖNIO
e
36 A intervenção da Igreja vem reconhecer que Deus intervémm na união do casal
no ensinamento
que assiste os esposos com sua graça. O mais importante a destacar
da primeira tradição crista não é a forma como a Igreja intervém, mas a verdade que
fundamenta essa intervenção, que está na especial dignidade do matrimònio cristão.
devem ser
Os termnos em que alguns Padres falam da graça que os esposos recebem
interpretados dentro do contexto em que são utilizados, sem querer antecipar categorias
introduzidas posteriormente pelos teólogos.
e a Igreja,
$ Orígenes considera o matrimönio simples figura da união entre Cristo
diferentemente da virgindade, que comporta a realização da união mística cntre Cristo
e o fiel; Hom. In Cant. 2,1; SCh 37 bis, 10. CE. SALDON, E. Op. cit., 29.
Segundo Clemente de Alexandria, Ado foi criado à imagem de Cristo e Eva à imagem
da lgreja; Paedag. 2,10; SC 108, 181-193.
38
Comentando Ef 5,25, Basílio exorta os maridos a amar suas esposas, embora tenham
diversa procedència, e deseja "que o vínculo natural e o jugo imposto pela bènção nupcial
Moralia 73.3: PG 31, 852; 73,4: PG
criem emn vós a união de vossos dois seres": BAStLIO,
GREGÓRIO DE NISSA, In Cant. Cant., hom,
31, 852; Hexaem. 7,5: SC 26 bis, 415-419.
hom. 20: PG 62, 135-150.
4: PG 845-848; JO¢O CRISÓsTOMO, Z2 Ep. Ad Eph. 5. deixa
é a imagem do mistério do Verbo, que
O amor dos esposos, diz João Crisóstomo,
amor; In Colos. , hom 12,5-6: PG 62, 387-389.
a Casa do Pai para se unir à lgreja por (uvorrnpLo" earu o yco;):
Omatrimônio é, segundo Paulo, "mistério e
imagem"
155
SACRAMENTALIDADE DO MATRIMÖNIO
ORIGEM EFUNDAMENTO DA
ser citados sobre o
mesmo
ocidentais, podem
Entre os Padres Tertuliano, Ambrósio, Jerônimoe Hi
textos de
tema numerosos
lário de Poitiers. 39
todos os Padres, tanto gregos como latinos, ésanto
Entre simbolismo do matrimônio
o
Agostinho quem mais desenvolve Hipona
relação ao amor de Cristo à Igreja. O grande bispo de
em para se referir ao vínculo
que
empregao termo "sacramentum" em virtude do qual estes
matrimónio deixa nos esposos cristãos,
separar." Junto com outros bens do matrimônio
não podem se
o "sacramentum" é, segundo
- 0s filhos e a fidelidade conjugal -, indissolúvel a
sagrado que torna
a doutrina agostiniana, o sinal fica simplesmente na
união dos esposos.1" Santo Agostinho não
156
ORIGEM EFUNDAMENTO DA SACRAMENTALIDADE DO
MATRIMÔNIO
comparação paulina, rnas se fixa no fundamento biblico dessa
comparação, "os do1s se tornaräo uma só carne", para aprofundar
seu simbolismo religioso e sua exigncia moral.42
Conclusão
Conseqüentemente, a literatura crist dos primeiros séculos
reconhece que o matrimónio cristão tem um sentido e algumas
exigências próprias àluz da té. Parte do principio de que o rmatri
mÙnioé obra de Deus e está destinado ao bem do casal e da espécie
humana. Sofre as conseqüéncias do pecado original, especial mente
nogue se refere às dificuldades do homem para dominar o apetite
carnal, e recebe a influéncia da graça de Jesus Cristo. À luz do
Evangelho e do mistério da Igreja, o matrimónio cristão é charmado
a recobrar seu valor original, que reside principalmente na força e
na riqueza da unio conjugal.
solum est enim quod etiam sterile coniugium tener iure pietatis iam spe fecunditatis
amissa, propter quam fuerat copulatum" ["Estimem-se no casamento seus bens ou valores:
prole, a mútua hdelidade e o sacramento"; "Que os cônjuges honrem o casamento
de comum acordo e na castidade, sem admitir separações nem adultérios; é especial o
caso de quem mantém o casamento só por amor, quando sobrevém a esterilidade e não
há mais esperança da fecundidade, que o motivou"] (o sacramento permanece sempre,
mesmo quando os esposos estejam separados ou percam a esperança de rer descendncia);
De Nupt. et Concup. 1, 17, 19: CSEL 42, 231; Obras Completas, 35. pp. 271-272. Bib.
sobre S. Agostinho, nas notas 26 e 27.
2 Nesse texto, "os dois se tornaro uma só carne", santo Agostinho descobre, da mesma
forma que são Paulo, duas realidades que estão relacionadas entre si: o "mistério" da
Igreja, que de forma oculta se revela já na criação do primeiro casal humano (Adão e
Eva representam Cristo e a Igreja), e o sacramentum do matrimònio cristão, que torna
indissolúvel a união conjugal. Agostinho avança na comparaçio paulina, cnquanto
Paulo coloca o amor de Cristo como modelo do amor conjugal, e Agostinho v» a união
conjugal como cfeito da união que existe entre Cristo e a lgreja. Agostinho cntende que
se trata de dois mistérios: o que se dá na união de Cristo com a Igreja e o que ocorre
na união dos esposos cristãos. O primeiro éo "grande mistério" ao qual se refere Paulo,
em comparação com oqual a união dos esposos constitui um mistério "muito pequeno
ver o texto citado na nota 40.
Essa doutrina agostiniana inAuencia noravelmente a interpretação que os escritores cristos
da Idade Média fazem de Ef 5,32: Cf. RINCÓN, T. Op. cit., 119. Agostinho não fala
explicitamente da "graça' que deriva desse mistério em favor dos esposos cristãos. C:.
DESJARDINIS, R. "Le Christ Sponsus et l'Eglise Sponsa chez Saint Augustin". In: BLE
(1966), 241-256.
157
SACRAMENTALIDADE DO MATRIMÔNIO
ORIGEM EFUNDAMENTO DA
e
que a SagradaEscritura revela
Afé crist se fixa na relação
Com scu povo0, para apro
cntre o matrimnònio e a aliança de DeUs
Deus aos homens Como a dig
fundar tanto o mistério do am0r de
como imagem
nidade do matrimônio. Se o matrimònio aparece jä
Testamento se apresenta
do amor de Deus nos profetas, no Novo
e como imagem
como figura das bodas de Cristo conm a humanidade
aproveitam os textos
do amor de Cristo àIgreja. Os Santos Padres
biblicos alusivos ao matrimônio para destacar tanto o significado
místico do matrimónio como suas exigencias morais.
duas reali
A maior convergência dos Padres se dá em torno de
dades: umade tipo teológico, que tem presente a nova situação do
matrimônio cristão no contexto da graça de Jesus e da realidade
da Igreja, e outra de tipo moral, que acentua as exigências éticas
do matrimònio cristão, especialmente no que se refere à indisso
lubilidade e ao amor que deve presidir as relações entre o casal. A
patrística, apoiando-se nos textos do Novo Testamento, sublinha
os pontos essenciais da doutrina cristã sobre o matrimônio: a
proibição do divórcio, a vontade de Cristo de abençoare santificar
o matrimônio, o imperativo moral dirigido aos esposos cristãos de
tomar Cristo como ideal e modelo de seu amor conjugal.
Isso significa que a Igreja considera o matrimônio, jános pri
meiros séculos, um sacramento instituído por Jesus Cristo? Signi
fica que a fé crist vêo matrimônio como obra de Deus, Santificada
pela presença de Jesus Cristo, iluminada por sua palavra, inspirada
por seu exemplo de amor e santidade, inserida na Igreja, mistério
de unidade. Na realidade, o matrimônio foi instituído jáno começo
da humanidade. Com a vinda de Jesus, o matrimônio recebe a influ
ência de sua graça redentora, purifica-se das imperfeições próprias
da condição pecadora do ser humano, beneficia-se da santidade e
da fortaleza que brotam do Espírito que Jesus envia à Igreja.
Onde estão, portanto, o fundamento e a origem da sacramenta
lidade do matrimônio? A sacramentalidade do matrimônio deriva
do fato de que os contraentes cristãos, por serem membros do
Corpo de Cristo, se transformam, desde a realidade de sua união
matrimonial, em imageme sinal da união que existe entre Cristo
e a Igreja. Essa relação do amor conjugal com o amor que existe
entre Cristo e a Igreja não tem somente um valor comparativo ou
moralizante, mas também um fundamento teológico com raiz bi
blica e conteúdo salvífico. Ao mesmo tempo em que se manifesta
158
ORIGEM E FUNDAMENTO DA SACRAMENTALIDADE DO
MATRIMÔNIO
armor de DCus na uniáo de Cristo Com a humanidade redimida
amor criador e salvador de Deus se torna presente nos
esposos
cristãos que se unern "no Senhor". para manifestaç,ão de sua glória
e para seuserviço.
Por que o matrimónio, e náo outros estados de vida, foi elevado
à condição de sacramento? Somenteo matrimónio aparece como
mmistério encarnado de anmor e de unidade, apto a manifestar
omistério de amor e de unidade que existe entre Cristo ea Igreja;
somente a união matrimonialdaqueles que são membros do Corpo
Cristo e a
de Cristo aparece como prolongarnento da união entre
sobre a huma
Igreja, como extensão do amor que Deus derrama
amor
nidade, como aliança chamada a criar uma comunidade de
irradiar o
semelhante à comunidade mesma da Igreja, disposta a
Igreja e sinal para
próprio amor de Cristo, sinal em miniatura da
aIgreja,13
de unidade e
relaciona, sobretudo. com o mistéerio Porem,
sacramentalidade do matrimnônio se sentido que em arelação do casal.
A o ilhos,
matrimonio e, portanto, com chamado a se prolongar nos familia
de amor do além disso, que o casal é
unidade do casal. A
deve-se levar enm conta, seu amor e exrensão familiar da como
chamados a ser objeto de
éo matrimònio, como projeto c
unidade que
mistério de amor e Igreja.
faz parte do criação e no contexto da enquanto dela
realidade, no contexto geral da
fundamental célula da sociedade, propriamnente
considerada a primeira e social. A familia cristi
não cstá
A família é própria comunidade como uma celula que brota do
nela se apóia a deriva dela, especihco da
deriva e comunidade eclesial, mas Cristo no imbito
da amor de como uma
na origem a encarnar o de Cristo, a Igreja, Cristo.
Cristo e que é destinada nasce do corpo
corpo de "igreja doméstica" mesma recebe de
comunidade familiar. A da tecundidade que a 0greja
do amor e
célula crist dotada
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