Origem E Fundamento Da: Sacramentalidade Do Matrimùnio

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VII

Origem e fundamento da
sacramentalidade do matrimÙnio
Bibliografia
BURKE,C. "La Sacramentalidad del Matrimonio. Reflexiones Teológicas" In: RET 53/ 1
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3 (1968), 327-341; VV.AA. Nuova Enciclopedia del Marrmonto. Brescia. 1975.

Introdução
O tema dasacramentalidade do matrimónio nos aproxima do
que éespecífico do matrimônio cristão, isto é, de sua condição de
sinal e ação da Igreja que torna presente a graça de Jesus Cristo
na comunidade crist. Aparentemente, o matrimönio contraido
entre cristãos não deveria ser diferente do matrimônio comum, se
consideramos que o matrimönio pertence à ordem da criação e tem
um profundo significado tanto humano como religioso em razão de -
Sua própria condição natural. A sacramentalidade do matrimônio
Cristão assumne a realidade humana do matrimònio, mas a situa
no contexto da história da salvacão e no marco da Igreja. Isso nos
indica que devemos postular a sacrarmentalidade do matrimônio,
necessariamente, a partir de uma perspectiva eminentemente
crist e eclesial.
ordem da
Enquamto sacramento, o matrimônio cristão pertence à
Tedenção, da graça de Jesus Cristo e da vida da Igreja. Participa dos
Ressusci
Irutos da Paixão do Senhor. traz em simesmo as marcas do

141
ORIGEM EFUNDAMENTO DA SACRAMENTALIDADE DO MATRIMÔNIO0

tado, anunciae difundeos dons que o Espírito derrama sobrealgreja.


Omarinnònio, porém, pode ser equiparado aos demais sacramentos,
que sâooração e culto da lgreja, expressão da fé e da caridade da c0
munidade crist? À primeira vista, é dificil entender que o matrimónio
possa participar das qualidades de outros sacramentos, como o batismo
ou aeucaristia. Estes exercem funções que dizem respeito claramente
à missão da lgreja, como a de regenerar a vida da graça para novos
membros da comunidade crist ea de fazer os batizados partícipes da
comunhào em Cristo, cabeça da lgreja e alimento da fé.
As diferenças entre o matrimônioe os demais sacramentos são
mais palpáveis quando nos fixamos no conceito comum de sacra
mento. Nos sacramentos,em geral, estabelece-se uma relação bem
precisaentre uma ação simbólica (a aço de derramar a água sobre
obatizado, no caso do batismo) e o significado eclesial e gratificante
dessa ação, que estána incorporação dos batizados àcomunidade
crist. Osinal fica subordinado ao significado e acomoda sua função
natural (a de lavar ou purificar) a um novo e mais elevado signi
ficado, como éo da regeneração para a vida da graça. No caso do
matrimônio, o sinal consiste na própria realidade do matrimônio
(a união dos esposos), enquanto significa uma realidade nova de
tipo eclesial e espiritual, a união entre Cristo e a Igreja.!
O conceito teológico de sacramento não éprévio à realidade
dos sacramentos, mas se deduz dela eé fruto de uma reflexão teo
lógica, que leva em consideração as principais características dos
sete sacramentos. A palavra "sacramnento" é usada na literatura
religiosa antiga e nos clássicos num sentido muito amplo. Na

No sacramento do matrimônio podemos encontrar outras particularidades que o


diferenciam dos demais. Assim, na generalidade dos sacramentos, o sinal depende de
alguma coisa sensível e visível (a água, o óleo, o pão e o vinho, a imposição das mãos),
que éassumida de forma expressa e direta (mediante uma formulação verbal) para
produzir um efeito eclesial. Ao contrário, o matrimônio, enquanto sacramento, não
exige um sinal especial que seja alheio à realidade mesma do matrimônio. E certo que
nem sempre o sinal sacramental se serve de objetos materiais, mas se compõe de ações
pessoais ou comunitárias com determinado significado e conteúdo religioso. Assim, no
caso do sacramento da penitência, o sinal é realizado através dos atos do penitente e do
ministro sagrado. No matrimônio, são os próprios contraentes que realizam o sacramento
quando expressam seu consentimento perante a lgreja.
Lactâncio aplica a palavra sacramentum ao matrimônio no sentido primigênio de juramento
ou compromisso sagrado que une os esposos e os obriga a guardar fidelidade inviolável.
Cf. ADNÈs, P. Op. cit., 97-98.

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ORIGEM EFUNDAMENTO DA SACRAMENTALIDADE Do MATRIMPNIO

história da teologia, o significado desse termo foi evoluindo até


ocomeço da Fscolástica, em que se reserva seu uso para os sete
sinais sacrarmentais.'Atualmente, quis-se devolver a essa palavra
seusentido primitivo, com o desejo de aprofundar a relação que
0s sacrarnentos tên comn a Igreja e com Cristo. Jesus Cristo éo
sacrarnento original, e a Igreja é oprimeiro dos sacramentos e
aquele que abrange todos.'
Ateologia dos sacrarnentos, tal como é estudada nos manuais
dos últimos séculos, parte de um esquema comum a todos os sacra
mentos, que se aplica posteriormente a cada um deles.O capitulo
sobre os sacramentos em geraléconcebido com base em uma noção
e em algumas notas comuns que são consideradas necessårias para
que umn determinado sinal litúrgico deva ser considerado verda
deiro sacramento. Uma das questões as quais se concede maior
importância no estudo dos sacramentosé arelativa àsua "origem
divina", isto é, àsua condição de sinais determinados pela vontade
e pela obra de Jesus Cristo, autor dos sacramentos.
Da mesma forma que a Igreja e juntamente com ela, os sacra
mentos são obra de Jesus Cristo, prolongamento de sua presença
encarnada entre os homens, meios através dos quais se torna visível
e real o mistério da união do Verbo com os fféis, da comunicação

Ver no capítulo X o título sobre "Sacramento da fe"


4 Sobre os conceitos de Cristo sacramento e lgreja sacramento, cf. ARNAU, R. Op. cit.,
234-250; RAHNER, K. La lglesia y los Sacramen:os. Barcelona, 1964: SCHULTE, R. "Los
4/2
Sacramentos de la Iglesia como Desmembración del Sacramento Radical". In: MyS
(Madrid, 1975), 53-157; SEMMELROTH,0. "La Iglesia como Sacramento Radical". In:
MyS 4/1 (Madrid, 1969), 330-362.
conceito de
OConcílio de Trento contribui decisivamente para a determinação do
971: DS 1601, 1683,
sacramento em sentido "verdadeiro" e "próprio":D 844, 9l1, 926,
"Ale
1716, 1801. Sobre a origem da noção teológica de sacramento, cf. CAPRIOLI, A. ScCat
Originidella 'Dehnizione' di Sacramento: Da Berengario a Piero Lombardo". In:
102 (1974), 718-743: GHELLINCK, J. DE. Un Chapirre dans l'Histoire de la Définition
EYNDE, D. "Les Définitions des
des Ssacraments au XIl siècle. Paris, 1930: VAN DEN
Antonianum,
Sacrements pendant le Premier Période de la Theologie Scholastique". In:
24 (1949), 183-228; 439-488; 25 (1950), 3-78.
6 Nesse esquema, entram as noções sobre o sinal sacramental e sua composição, origem
graça e efeitos do sacramento. Como
do sacramento, sujeito e ministro do sacramento, de
pode-se consultar a obra
exemplo desse tipo de tratado geral sobre os sacramentos,
VV.AA. Curso de Teologia
AUER, J.; RATZINGER, 1. Los Sacramentos de la lglesia. In:
Dogmática 7. Barcelona, 1977.

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SACRAMENTALIDADE DO MATRIMÔNIO
ORIGEM EFUNDAMENTO DA

Cristo um mesmo corpo e


do Espírito àqueles que formam com
Reino.' Por que e em que
por ele são filhos e co-herdeiros de seu
A afirmação de que
sentido atribuímos a Cristo os sacramentos?
leva a buscar no Novo Testa
Cristo instituiu os sacramentos nos
aorigem de cada um
mento o fundamento no qual se possa apoiar
sacramentoS e se torne possível a circunstância histórica na
dos
qual foi instituído por Jesus."
baseia fundamenta]
A legitimidade dos sete sacramentos se
desde o prin
mente nofato de quea Igreja osconsiderou comotais
vislumbrar nos
cípio, de acordo com uma tradição que podemos já
próprios textos do Novo Testamento, mas que somente se percebe
claramente ao longo da história da Igreja e através da doutrina dos
Santos Padres, na vida litúrgica, nas decisões conciliares e em geral
nafée no comportamento da comunidade eclesial. Alguns sacra
mentos de especial relevo, como o batismo e a eucaristia, contam
com abundantes testemunhos da Tradição; outros, porém, como o
sacramento do matrimônio, têm uma evolução mais tardia e lenta
no que se refere àsua celebração litúrgica e àelaboração teológica
de seu significado sacramental.
Osacramentodo matrimônio tem características especiais no
que diz respeito tanto a seus fundamentos bíblicos como a seu signi
ficado teológico. E um sacramento atípico, paradigma de uma idéia
da sacramentalidade que não precisa ter conhecimentodo momento
histórico em que Cristo instituio sacramento, inspirada diretamente
nosignificado que se deduz de sua condição sagrada, enquanto rea

Rm 6,3-l1; 8,14-17; IPd 2,9-10.


OConcílio de Trento diz expressamente que todos os sacramentos foram instituídos por
Jesus Cristo (ses. 7, cânon l: D 844; DS 1601). E em relação a alguns sacramentos em
1716),
especial, como a penitência (D 911; DS 1701), a unção dos enfermos (D 926 DS DS
1773) ou o matrimônio (D 971;
a ordenação sacerdotal (D 949, 963; DS 1752,
1801), faz a mesma afirmação. Quanto ao matrimônio, o concílio explica essa afirmação
dizendo que "Cristo, autore reformador dos sacramentos, nos mereceu com sua paixão"
a graça do matrimônio (D 969: DS 1799).
Na prática, a teologia católica dámais importåncia à Tradição que à Escritura para
provar a existência dos sacramentos, diferentemente da teologia protestante, que tende
a se apoiar exclusivamente na Palavra divina. Segundo a constituição Dei
Verbum, do
Vaticano II, "a Igreja não tira somente da Sagrada Escritura a certeza de toda a revelação".
"A tradição e a Escritura constituem o depósito sagrado da palavra de Deus, confado à
Igreja". Tradição, Escritura e Magistério da Igreja "estão unidos e ligados, de modo que
nenhum pode subsistir sem os outros...": DV9 e 10.

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ORIGEM EFUNDAMENTO DA
SACRAMENTALIDADE DO MATRIMONIO
1idade destinada por Deus para servir aos fins de
e redentora. A sacramentalidade do matrimônio sua obra criadora
deriva do fato de
3e o matrimônio éobra de Deus e
aa comunidade santihcada pela adquire um significado próprio
graça de Jesus Cristo.9
Sobre cada um dos sete
sacramentos, podemos encontrar
ontecedentes culturais e bíblicos nos quais vermos um anúncio e
uma figura do que chega a ser realidade
de Jesus."No que se refere ao gratificante com a vinda
matrimônio, trata-se de uma reali
dade que pertence, por vontade do Criador, åcondição da
natureza
humana e que participa da graça com a qual Deus quis revestir
a humanidade decaída. Neste capitulo,
tentaremos analisar o
significado o matrimónio cristão, atendo-nos aos textos da Escri
tura e da primeira Tradição crist. Nos dois capítulos seguintes,
trataremos do desenvolvimento posterior da doutrina crist sobre
o matrimônio, atendendo tanto ao magistério da Igreja como ao
ensinamento dos teólogos.
rCom oobjetivo de ajudar a uma melhor compreensão da sa
cramentalidade do matrimônio através dos testemunhos dessa pri
meirae fundamental etapa da Tradição crist, o presente capítulo
está divididoem três seções, que são complementares e reúnem os
aspectos principais que devem ser levados em conta na considera
cão da sacramentalidade do matrimônio.!" São os seguintes:
1. Bondade e fraqueza do estado matrimonial.
2. Omatrimônio éabençoado pelo Criador e por Jesus Cristo.
3. A unio matrimonial ésinal da união entre Cristo e a Igreja.

Cf. CHAUVET, L. M. "Le Mariage un Sacrament pas Comme les Autres". In: MD
127 (1976), 64-105 (especialmente pp. 99-104); BURKE, C. "La Sacramentalidad del
Matrimonio. Relexiones Teológicas". In: RET 53/1 (1993), 43-67.
0 Sobre as prefigurações dos sacramentos cristãos nos ritos e sinais da religião judaica, tal
como são percebidos nos escritos do Novo Testamento e dos Padres, cf. DANIELOU, J.
Sacramentos y Culto según los Santos Padres. Madrid, 1962.
Não se deve esquecer de que o conceito de sacramento, num sentido técnico e preciso,
não encontrado até a época da Escolástica. Ao nos referir, portanto, àsacramentalidade
do matrimônio em épocas anteriores, precisamos indagar no tanto sobre o uso do termo
"'sacramento" quanto sobre ovalor sagrado esobre osignifcado eclesial que se concede
ao matrimônio.

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MATRIMÔNIO
ORIGEM EFUNDAMENTO DA SACRAMENTALIDADE DO

Bondade e fraqueza do estado matrimonial


Parece óbvio, em princípio, que os cristãos não coloquem
objeções àlicitude e bondade do estado matrimonial. São claros
favor: a tradição
os argumentos que poderiam ser invocados a seu
biblica segundo a qual o matrimônio équerido por Deus, as pro
e das
messas divinas que recaem sobre as famílias dos patriarcas
pessoas favorecidas pelo Senhor, o ideal de matrimônio e de família
que éapresentado nos escritos biblicos como forma de vida que
responde às aspirações humanas e religiosas do povo fiel. Porém,
por outro lado, não faltam na história de Israel experiências, leis e
práticas relacionadas com a vida matrimonial que não correspon
dem a esse ideal 12

Osevangelhos tèm consciência dessa contradição que acontece


no povoda aliança entre o ideal proposto nos primeiros capítulos
do Gênesis e ocomportamento seguido na prática no que se refere
àmoral matrimonial. A viso evangélica do matrimônio situa
se, além disso, com0 já vimos, numa perspectiva escatológica da
existência humana que relativiza tudo o que écriado. O chamado
ao seguimento de Jesus Cristo épara alguns um convite para
abandonar os bens temporais, inclusive o matrimônio e a família,
a exemplo de Jesus e dos apóstolos, que dão testemunho de uma
vida totalmente entregue ao reino dos céus.s
O ensinamento de Paulo é a primeira tentativa de situar o
matrimônio na perspectiva da fé crist. Nele se defende a legiti
midade de duas vocações diferentes: a do celibatário, que aspira
a estar livre das ataduras humanas para poder servir melhor ao
Senhor, e ado casado, que está disposto a assumir os deveres do
estado matrimonial. Da doutrina que o apóstolo expõe na carta
aos Coríntios, e que denota uma situação espiritualde "parusia" ou
espera da chegada definitiva do Senhor, deduz-se uma inclinação de
Paulo favorável ao celibato. Omatrimônio aparece como um estado
de vida requerido pelas exigências da sexualidade humana. Não

12 Ver no capítulo Vo título sobre "O matrimônio nas idéias e costumes judaicos.
3 Ver no capítulo IV o último título, e no capítulo VI o primeiro.

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ORIGEM EFUNDAMENTO DA
SACRAMENTALIDADE DO MATRIMONIO
pode ser rejeitado sem antes ter prOvado as
mdeve saber assumir a graça recebida e suapróprias forças.
Cada
vocacão!"
Apostura de Paulo favorável àvirgindade e ao
celibato cor
responde a uma preferéncia muito acentuada entre os cristãos de
sua época e contribui notavelmente para criar na
tradição crist
ma tendencia muito profunda de valorizacão da renúncia ao
matrimônio como forma de vida consagrada à práticados chama
dos conselhos evangélicOs. Essa tendéncia, muito marcante nos
Padres, que consideram unanimemente a virgindade consagrada
um estado de vida superior ao matrimônio, não contribui, em prin
cípio, para ressaltar a dignidade do matrimônio,5Aisso se deve
acrescentar a intluência negativa de unm fator histórico como éo
das correntes extremas ou radicais que brotam dentro de alguns
setores cristãos que se opõem ao matrimônio por motivos ideoló
gicos ou sectários !7

4 Apostura do apóstolo nesse tema pode dar lugar a variadas interpretações. Paulo se
mostra mais partidário daquilo que ele mesmo escolheu, o celibato, e afrma que é o
melhor e que quem permanece nesse estado será feliz (1Cor 7,1.6-7.25-26.35.38.40).
Và, sobretudo, no matrimônio as preocupaçóes pelas coisas do mundo e por agradar o
parceiro (1Cor 7,7.27-40). Compreende que amaioria se incline pelo estado matrimonial
eo aprova levando em conta a "razão da impureza" (v. 1-2.8). Quer se mostrar imparcial
quando diz que, quanto à virgindade, não tem "preceito do Senhor", e se limita a dar
um conselho (v. 25). Sente-se condicionado pela id¿ia da proximidade da última vinda
do Senhor, que o leva a dar o conselho de não mudar de estado (v. 26-31). Expóe
claramente os deveres dos casados: estão obrigados, um para com ooutro, no que se
refere às relações conjugais e são chamados a viver unidos (v. 3-16). Ver no capítulo IV
a nota 27.
S Ver no capítulo I a nota 28.
16
Alguns Santos Padres destacam a superioridade da virgindade sobre o matrimônio em
termos que implicam, às vezes, certo desprezo da vida matrimonial. Origenes se pergunta
se a virgindade não seria sacramento da mesma forma que o matrimônio: Comm. In
Math. 14,16: PG 13, 1229 A. Ambrósio, considerado o "doutor da virgindade", mostra
pouco apreço pelo estado matrimonial. A mesma coisa se deve dizer de sãoJerònimo,
que precisou se defender da acusação de ser inimigo do matrimônio.
Acarta Optarem semper (a. 390), dirigida pelo papa Sirício àlgreja de Milão, condenando
oS ensinamentos de Joviniano, diz: "Nós aceitamos certamente, sem nenhum menosprezo,
os compromissos matrimoniais de cujas vigílias participamos; mas concedemos maior
honra às virgens que às que se casam" (PL 13, 1171; EF 15).
Ver, no capítulo IV, as notas 29 e 30. Essas correntes extremas obrigam, no entanto,
a hierarquia eclesiástica a defender a legitimidade, a licitude e a bondade do
matrimônio.

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SACRAMENTALIDADE DO MATRIMÔNIO
ORIGEM EFUNDAMENTO DA
circunstâncias, podemos abordar as
Tendo presentes essas a digni
expressam sobre
idéias que os primeiros escritos cristãos pre0cupação maior recai
dade e a bondade do matrimônio.' Sua concupiscência
sobre a relação que existe entre o matrimônio e a
ressaltam que os cristãos
da carne. Nesse sentido, os apologistas
com propósitos
se casam da mesma forma que os pagãos, mas não
família e de educar
carnais, esim com odesejo de formar uma
os ilhos, !9 Um século mais tarde, Clemente de Alexandria, procu
rando ser fiel àdoutrina de são Paulo, afirma que o matrimônio é
lícito e bom quando contraído para procriar. Tanto aquele que se
casa como aquele que escolhe o estado de continência agemn bem,
sempre que perseverem no seu propósito.20

Santo Irineu (séc. II) argumenta contra os gnósticos que proibir o matrimônio é injuriar
oCriador, que diferenciou os sexos para a propagação do gênero humano: Adv. haer.
28,1: PG 7, 690.
O primeiro concílio que condena doutrinas crists contra a dignidade do matrimônio é
o celebrado em Gangres (Asia Menor), por volta do ano 340. Esse concilio, rejeitando os
erros difundidos nos meios ascéticos do Egito e da Palestina, confuta a doutrina segundo
a qual o ato conjugal seria abominável (c. 1) ereprova aqueles que, tendo feito voto
de virgindade, continência ou castidade, reputam o matrimônio como abominável ou
vituperam arrogantemente os casados (cc. 9 e 10).O epílogo do Concílio de Gangres
mostra grande equilíbrio ao professar "veneração" pela virgindade, que está unida à
humildade, e elogiar como "digna de honra" a união matrimonial. Cf. EF, 11.
0.ll do I Concilio de Toledo, (c. 397-400) condena os que afirmam ou acreditam que
os matrimônios realizados segundo a lei divina sao cxecráveis. A carta de Leão Magno,
Quam laudabiliter (a. 447), a0 bispo Turíbio, de Astorga (León), denuncia também "a
loucura sacrílega" de Prisciliano, que consistia cm dissolver toda união conjugal por
considerá-la ilícita (EF, 24: DS 283).
18 O momento ápice da doutrina patristica sobre o matrimónio acontece no começo
do século V, com a obra de santo Agostinho, considerado o "doutor do matrimônio
cristiano" Entre os Padres gregos, destaca-se, no século III, Clemente de Alexandria,
por seu detalhado ensinamento sobre o matrimônio.
19 Carta a Diogneto 5: PG 2, 1173; ed. de RuIz BUENO, D. Padres Apostólicos. Madrid, 1979,
850; ATENÁGORAS. Legatio, 33: PG 6, 965; ed. de RuIz BUENO, D. Padres Apologistas
Griegos. Madrid, 1954, 703-704;: JusTINO. Apolog. 1,29: PG 6, 374; ed. de RuIz BUENO,
D. Ibid., 212-213.
0 CLEMENTE DE ALEXANDRIA. Strom. 3,12: PG 8, 1184. Segundo Clemente de Alexandria, a
bondade e a santidade do matrimönio derivam do fato de que procede de Deus: Strom.
3,17: PG 88, 1205;omatrimônio serve para prolongar aobra da criação: ibid., 3,9: PG
8, 1168; a mulher pode servir de ajuda ao homem na prática das virtudes crists, nas
tarefas da casa e nas necessidades da vida; ibid. 4, 19: PG 8, 1333. Também in: Pacdag.
2,10: PG 8, 497; SCh 108, 165-219.

148
ORIGEM EFUNDAMENTO DA
SACRAMENTALIDADE DO MATRIMÖNIO
Orígenes julga Com maiores reservas que seu predecessor na
cátedra de Alexandria a honestidade das relações conjugais. Os
psposos devem saber superar a paixão egoísta até no próprio ato
conjugal, que devem realizar de forma moderada e com vistas na
procriação. Origenes distingue entre os perfeitos que se casam
unicamente como fim de poder ter descendência e os simples fiéis
nara quem o matrimôni0exerce também afuncão de remédio para
aconcupiscência." Na segunda metade do século III, a Didascália
defendea licitude e abondade do matrimonio, apoiando-se no fato
de gue Deus éseu autor. Numerosos Padres da Igreja grega, como
Tito de Bostra, Cirilo de Jerusalém, Epifânio, Gregório de Nissa e
Gregório Nazianzeno, expressam-se no mesmo sentido.22
Entre os escritores latinos, Tertuliano é oprimeiro que escreve
amplamente sobre omatrimônio, a respeito do qual tem uma idéia
desfavorável." Ambrósio, considerado o "doutor da virgindade'",
Cf. ADNÈS, P.Op. cit., 70; BROUDEHOUX, J.-P. Mariage et Famille chez Clément d'Alexandrie.
Paris, 1970; SALDON, E. Op. cit., 26. Ver capítulo 11 (nota 18).
21 ORÍGENES, Hom. in Gen. 5,4: PG 12, 192: Comm. In Math. 14.23: PG 13. 1244. CE.
CROUZEL, H. Virginité et Mariage selon Origène. Desclée de Brouwer, 1963.
Ver outros autores gregos no capítulo XII, nota 8.
22 Didascalia 6,12, 1-2; 6,22,8-9: FUNK, F. X. Op. cit., 326, 378. Tito de Bostra (t 378)
defende contra os maniqueus a bondade e o caráter sagado do matrimônio porque asim
o quis o Criador; Adversus Manichaeos 2,33: PG 18, 1197. Amesma coisa faz Cirilo de
Jerusalém (t 386). Igualmente, as Constirutiones Apostolorum (inaldo séc. IVou começo
do séc. V) e santo Epifànio (c. 315-403) akrmam a bondade do matrimônio enquanto
obra de Deus. Gregório de Nissa, apesar de se mostrar muito pessimista em relação à
bondade do matrimônio, reconhece que Deus o abençoou; De Virg. 8; PG 46, 353-357.
Gregório Nazianzeno diz: "O matrimônio não afasta de Deus, mas aproxima dele; é Deus
mesmo quem move para o matrimônio". Poemata moralia 1,1: PG 37, 524; Ver também
Poemata Moralia, 6, De Pudicitia (v. 1-2): PG 37, 643. Gregório Nazianzeno vê em sua
irm Gregória a encarnação do ideal de esposa crist; Oratio, 8,8: PG35, 797.
23 Tertuliano dedica ao matrimônio as obras Ad Uxorem, escrita na etapa anterior a sua
affrmação montanista, e as que escreve posteriormente, De exhortatione Castitatis, De
Monogamiae De Pudicitia. Na primeira obra, já expressa uma concepção muito pobre do
matrimônio ao airmar que somente se justifica pela necesidade de evitar aconcupiscència,
uma vez que, diante do iminente hm do mundo, se torna desnecessária a propagação da
espécie; Ad Usorem, 2e3: PL I, 1277 e 1278. Omatrimônio não pode ser considerado
propriamente um bem; ibid., 3: PL 1, 1278-1279. Em De Pudicitia, depois de afirmar
que são Paulo simplesmente tolerou o matrimônio, reconhece que não constitui um
pecado, mas sim uma mancha; 16: PL 2, 1012. Em Adversus Marcionem, fala sobre a
bondade do matrimönio cnquanto foi abençoado por Deus visando à propagaçáo da
espécie; 1,29: CCL I, 473.

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ORIGEM EFUNDAMENTO DA SACRAMENTALIDADE D0 MATRIMÔNIO

defende omatrimonio conno um estado dign0 quc cstá a serviço


da obra da procriação," Jerònimo se mostra pouco partidário do
matrimönio, que considera um impedimento para a vida de oração
e de santidade. Constitui um mal menor que somente se justifica
enquantoevita o perigo da fornicação.25
Agostinho expõe em numerosas obrase escritos sua doutrina
sobre omatrimônio, que serádoravante a que serviráde modelo
de inspiração no ensinamento cristo,*" Em seu conjunto, a visão
agostiniana do matrimònio cristão se distingue por sua precisão e
equilíbrio na forma de coligir os aspectos essenciais que o confi
guram: a geração e a educação dos filhos, a fidelidade dos esposos
24 AMBROSIO. De Parad. 10: CSEL 32, 304-306. Não obstante sua predileção pela virgindade,
tema ao qual dedica grande número de suas obras, santo Ambrósio tem idéias muito
acertadas sobre o matrimônio e o amor conjugal. Comentando a frase do Gênesis "não
é bom que o homem esteja só (Gn 1, 26), santo Ambrósio diz- que o gênero humano
não é bom a não ser na unidade do masculino e do feminino. Ado e Eva refetem a
pluralidade de Deus, que, sendo um, diz "nós (tirado de P. EvDOKIMOV, L'Ortodoxie,
op. cit., 295). Cf. ADNÈS, P. Op. cit., 76-77; DooLEY, W. J. Marriage According to St.
Ambrose. Washington, 1948.
5 JERÓNIMO. Adv. lovin., 1,7: PL 23, 218-219. Algumas das idéias que
Jerônimo expõe em
seu escrito contra Joviniano (Adversus Jovinianum) chamaram a atenção dos
romanos
e obrigaram Jerônimo a dizer que não condenava o matrimônio: Epist. 48, 2; 8; 20:
CSEL 54, 345-346.
26
Segundo o esquema agostiniano, o matrimônio consta de um tríplice bem, "ripartitum
bonum": "proles, fdes, sacramentum" [os filhos, a fidelidade conjugal eo caráter sagrado
do matrimônio]. Agostinho dedica ao tema do matrimonio diversas obras: De Continentia
(CSEL 41, 139-183), De Bono Coniugali (CSEL 41, 185-231), De Sancta Virginitate (CSEL
41, 233-302) e De Bono viduitatis (CSEL 41, 303-343). Ao matrimônio são dedicados
também os escritos antipelagianos, De Coniugis Aduterinis (CSEL 41, 345-410) eDe
Nupris et Concupiscentia (CSEL 42, 211-319). Acdição latino-castelhana das Obras
completas de San Agustin da BAC publica os escritos Del Bien del Matrimonio, De la
Continencia e De los Enlaces Adulterinos, no volume 12. Madrid, 1954; El Matrimonio
y la Concupiscencia e Réplica a Juliano, no volume 35. Madrid, 1984.
Sobre adoutrina agostiniana do matrimônio em geral, cf. AiVES PEREIRA,B. "La Doctrine
du Mariage selon Saint Augustin". Paris, 1930, 172-228; BRUNS, B. "Das Ehe- Sacramentum
bei Augustinus". In: Augustiniana 38 (1988), 205-256; GHERARDINI, B. "Appunti per
uno Studio sulla Sacramentalità del Matrimonio in Sant'Agostino". In: Lateranum 42
(1976), 122-150; LADOMERSZKY, N. S. Augustin, Docteur duMmariage Chrétien. Roma,
1942); LANGA, P. San Agustin y el Progreso de la Teologia Matrimonial. Toledo, 1984;
MARCILLA, J. "El Matrimonio en la Obra Pastoral de San Agustín". In: Augustinus 34
(1989), 31-117; PETERS, J. Die Ehe nach der Lehre des bl. Augustinus. Paderborn, 1928;
SCHMITT, E. "Le Mariage Chrétien dans I'Oeuvre de Saint Augustin. Unc Théologie
Baptismale de la Vie Conjugale". Paris, 1983, 214-233.

150
ORIGEM EFUNDAMENTO DA SACRAMENTALIDADE DO MATRIMÔNIO

oocaráter sagrado da união conjugal. "Proles, fides, sacramentum"


constituem três "bens inseparáveis do matrimonio cristão 27
Em geral, as idéias da primeira tradição crist, tanto oriental
corno ocidental, sobre a dignidade do matrimônio denotam certa
reserva rnoral para com o matriminio, que é considerado não
somente inferior àvirgindade, mas também um estado de vida
especialmente afetadopelo pecado original e, concretamente, pela
concupiscência humana. Sua principal justifcação se encontra no
serviço que presta a obra da procriação. Não deixam de ser vistos
outros aspectos positivos do matrimônio, como os que se referem à
origem divina do matrimónio e aos valores humanos e espirituais
da união conjugal, mas estásermpre latente a preocupação pela
paixão sexual, que encontra no matrimónio seu canal natural de
expressão.
AConcepção dos Padres sobreos efeitos que o pecado produziu
nasexualidade humana tem dupla derivação: por um lado,a opção
crist pelo estado de virgindade ou de celibato é considerada o
melhor caminho para vencer as inclinações da carne e para desen
volver os valores evangélicos; por outro lado, o matrimônio é visto
como um meio disposto por Deus para atender as necessidades da
procriação humanae para outros fins que são relacionados com as
necessidades afetivas, sexuaise humanas do casal. Esses segundos
aspectos têm uma consideração menor na doutrina patrística, sem
que cheguem a ser qualificados por si sós como razo suficiente ou
motivo para o matrimônio. Somente a partir de Agostinho pode
mos falar de uma teologia do matrimönio, centrada em três "bens"

7 "Omne itaque nuptiarum bonum implerum est in illis parentibus Christi, proles.
hdes, sacramentum. Prolem cognoscimus ipsum dominum lesum, idem, quia nullum
adulterium, sacramentum, quia nulum divorium" ("Os bens do matrimônio, prole,
mútua fidelidade e sacramento verifcaram-se plenamente no caso dos pais de Jesus. A
prole como o reconhecemos é o próprio Jesus. A hdelidade múrua nunca foi violada,
por nenhunm adultério. O sacramento se realizou perfeitamente, não houve divórcio"):
De Nupt. et Concup., 1,11,13: CSEL, 42, 225; Obras Completas de S. Agustin, Op. cit.
35, 264.
Sobre os bens do matrimònio em santo Agostinho, cf. CoUTURIER, C. "Sacramentum
et Mysterium dans l'Oeuvre de Saint Augustin". In: EtAg 28 (1953), 161-332; REUTER,
A. "Sancti Aurelii Augustini doctrina de bonis matrimoni". Romac, 1940), 219-257:
SCALCO, E. "Sacramentum Connubii" et Institution Nuptiale. Une lecture du "Bono
Coniugali" et du "Sancta Virginitate" de S. Augustin. In: Erhl 69 (1993), 27-47. Ver
capítulo IV, nota 34.

151
ORIGEM EFUNDAMENTO DA SACRAMENTALIDADE DO MATRIMÔNIO

dos quais depcnde o sentido do matrimônio: os filhos, a fidelidade


conjugale a uniào matrimonial,28
Da perspectiva da obra de Jesus Cristo, a imperfeição do ma
trimonio enquanto realidade humana não constitui impedimento
para que possa participar da luz c da graça do Redentor divino. A
dignidade que os Padres reconhecem no matrimônio, levando em
consideração sua origem divina e seus fins sociais, estáacima das
fraquezas que ameaçam o homem e a mulher em sua experiência
humanae matrimonial. Cristo veio para curar a humanidade das
feridas do pecado, para que possa levar à sua perfeiço os projetos
do Criador. Nessas considerações, que se depreendem dos escritos
patrísticos, podemos ver o primeiro indício de que o matrimonio
cristão é chamado a fazer parte da ordem da Redenção.

O matrimônio é abençoado por Deus


Oensinamento cristão dos primeiros séculos sobre o matri
mônio não fica só no reconhecimento da bondade natural e da
"fraqueza' que o matrimônio padece por causa da debilidade da
carne, mas alude sobretudo, de forma explícita, à intervenção de
Deus na realidade do matrimônio. Essa intervenço se manifesta
de forma geral nas passagens bíblicas que falam da ação e da pre
sença do Senhor no matrimônio e de modo especial e concreto na
crença de que Deus abençoa a união do casal cristão.
A alusão à origem ivina do matrimônio, como vimos, é
freqçente nos autores tanto orientais como ocidentais,29 Esses
autores fazem também referència ao fato de que opróprio Cristo
quis abençoar o matrimônio nas bodas de Canáda Galiléia. Cirilo

28 Para santo Agostinho, o ato conjugal traz consigo o mal da concupiscência, mas não
énecessariamente um pecado; é legítimo e bom se realizado com o fm de ter ilhos e
constitui inclusive um dever para os esposos. O segundo dos bens que santo Agostinho
reconhece no matrimônio - a "hdes" ou "fraterna societas" -, que consiste no afeto
interior dos esposos e em sua vontade de compartilhar os bens espirituais e de se ajudar
mutuamente, dá sentido por si só ao matrimÑnio no caso em que circunstancialmente
o casal não possa ter descendência ou se abstenha da relação sexual. Agostinho cita
como exemplo desse matrimônio o dos pais de Jesus, Maria e José: De Nupt. et Concup.
1,11,12: CSEL 42, 224-225. Ver a nota 38 no capítulo IV.
Santo Agostinho afirma que o matrimônio foi instituído e abençoado por Deus no
começo no mundo; De Nupt. et Concup. 2,32,54: CSEL, 42, 311.

152
ORIGEM EFUNDAMENTO DA SACRAMENTALIDADE D0 MATRIMONIO

de Alexandria, Epifánio, João CrisÓstomo, Gregório Nazianzeno,


Agostinho, entre outros, relacionam a santificação do matrimôniío
com apresença de Cristo nas b0das de Caná. " Essa interpretação
da cena do evangelhode Joao, que encontramos na época final da
natristica, tem caráter mais alegórico que propriamente exegético,
m2s serve de ocasião aos Padres para indicar que a ação da graça
de Cristo chega também ao matrimónio."
Segundo adoutrina dos Padres, Deus abençoae ratifica auniäo
do casal. A frase que os evangelhos colocam nos lâbios de Jesus, "o
que Deus uniu, o homem não separe", propicia essa afirmação."
Dois autores que se caracterizam por seu rigorismono que se refere
à moral sexual e matrimonial, Tertuliano e Origenes, coincidem
em afirmar que é Deus mesmo quem une os esposos." Segundo
30 Segundo Cirilo de Alexandria (t 444), da mesma forma que Cristo santifica com seu
batismo o nosso, assim, em Caná, santifica o matrimônio, "princípio da geração", e
prepara o acesso à santihcaçáo para aqueles que nascerão do matrimónio: Comm. In Joan.
2,2: PG 73, 223. Cristo assistiu às bodas de Caná com seus discipulos para abençoar o
matrimônio com sua presença; Carta 17 a Nestorio, PG 77. 120. A doutrina de Cirilo
se tornarátradicional entre os Padres gregos e se refiete também na tradição latina: cf.
MOINGT, J. "Le Mariage des Chrétiens". In: RSR 62 (1974), 81-I L6 (especialmente pp.
91-93).
Segundo Epifânio, da mesma forma que Cristo transtorma a água em vinho, os esposos
cristãos devem transformar o egoísmo em virtude: Panarium, passim (Comentário Jo 2
e Ef 5,32).
Gregório Nazianzeno vÁna transformação da água em vinho a transformação do amor
instintivo no vinho nobre do amor espiritual: Epist. 193: PG 37. 316: EF l4.Gregório
dirige ao tutor da jovem Olímpia, que deseja se casar, essas paiavras: "Peio desejo estou
presente; celebro a festa convosco; junto as mãos dos jovens uma à outra e as duas às
de Deus"; Epist. 193: PG 37, 316 (EF, 14).
S1 Esão Cirilo de Alexandria quem ahrma, de forma mais explícita, que Cristo santifca
o matrimônio cristão. Ver a nota anterior. Origenes deduz do faro de que Deus une
os csposos, que "recebem uma graça" ("karisma"): In Mash. 1+,16: PG 13, 1229; CÉ.
ADNS, P. Op. cit., 96. Ver a nota 35.
32 Mt 19,6; Mc 10,9. Com essa frase, Cristo sublinha algo que se deduz do relato javista do
Genesis (2,24) e que de, algum modo, é reconhecido em todas as culturas: que a união
conjugal tem um valor sagrado. A frase evanglica supõe que no pacto esponsal está a
mão e a vontade mesma de Deus. Ver no capírulo VI o tirulo sobre "O matrimônio e
o mistério da Igreja".
3"Unde sufhciamus ad enarrandum felicitatem eius matrimoni. quod Ecclesia conciliat, et
conirmat obblatio, et obsignat benedictio, angeli renunciant, Pater rato haber" ["Donde
se pode considerar a plenitude do matrimönio aprovado pela Igreja, conhrmado pelo
gesto da oferta, santificado pela bènção, proclamado pelos anjos e que o Pai considera
153
SACRAMENTALIDADE DO MATRIMÔNIO
ORIGEM EFUNDAMENTO DA

é provável que jáno final do século IIa Igreja


alguns testemunhos, enlace matrimonial.34
participasse na cerimônia do
tradição crist que falam da inter
Os testemunhos da primeira escassos e pouco explícitos
venção divina no matrimÔnio cristão são
se refere àexplicação do sentido da ação divina sobre o
no que algumas conclusões.
matrimônio, mas podem ser extraídas deles matrimônio e o fato
Por um lado, reconhecem a origem divina do
Deus. Por outro lado, afirmam
de que a união dos esposos é obra de
"conforme o Senhor" e que
que os esposos cristãos devem se casar
Cristo santifica sua união. 35
forma
O matrimònio constitui para os primeiros cristãos uma
história da sa]
de vida que estáintimamente relacionada com a
vação. Tanto n0 Antigo Testamento Como no Novo Testamento o
matrimònio desempenha uma missão transcendental a serviço dos
projetos divinos e éobjeto da bênção de Deus. A Igreja primitiva
entende que o matrimônio dos cristãos não pode ficar àmercê
das idéias e costumes pagãos, mas tem uma dignidade especial e
algumas exigencias próprias, que emanam da própria riqueza da
graçade Jesus Cristo. Nesse sentido, aplica aos esposos a mensa

efetivado"]: TERTULLANO. Ad Uxorem 2,9: PL 1, 1302. Trata-se de um belo texto de


Tertuliano, muito citado e comentado pelos teólogos. Cf. SCHILLEBEECKX, E. Op. cit.,
221-224; MoINGI, J. "Le Mariage des Chrétiens. Autonomie et Mission". RSR 62/1
(1974), 81-116 (especialmente pp. 87-91). Esse e outros textos de Tertuliano parecem
aludir às cerimônias matrimoniais celebradas pela Igreja; cf. ANNE, L. "La Conclusion
du Mariage dans la Tradition et le Droit de l'Église Latine jusq'auVI Siècle". EThL 12
(1935), 538-542. Sobre Origenes, ver a nota 31.
34 Um século antes, no fhnal do século I, Inácio de Antioquia dáeste conselho aos noivos
cristáos:"Em relação a0s que se casam, esposos e esposas, convém que celebrem seu enlace
com conhecimento do bispo, a fim de que o casamento seja conforme ao Senhor e não
somente por desejo": Ad Polic. 5,2; FUNK, F. X. Op. cit., 251; ed. de RuIz BUENO, D.
Op cit., 500. De acordo com a última frase, "e não somente por desejo', parece que o
bispo de Antioquia leva em consideraço sobrerudo a função do matrimônio no projeto
divino e na ordem da vida crist, do comportamento e da santidade dos esposos. Ver a
nota 9 no capítulo VIII.
Omesmo Paulo faz extensivo a todos os membros da familia o infuxo de santidade
recebida pelo cônjuge cristão no batismo (1Cor 7, 14). Ver a nota 18 no capítulo VI.
Alguns textos cristos dos primeiros séculos aludem à graça que se recebe no matrimónio.
Assim, santo Ambrósio (339-397) considera que o matrimonio, embora seja inferior à
virgindade, recebe "rinta por um" de graça: Epist. 19: PL 16, 985. Também, en Ep.
Ad Amunem Monachum: PG 26, 1173; Epist. 4: PL 13, 1136; Epist. 36: PL 20,
Ver a nota 31.
602.

154
ORIGEM EFUNDAMENTO DA SACRAMENTALIDADE DO MATRIMÖNIO

Mem espiritual e moral do evangelho e ao mesmo tempo procura-se


fazer com que os cristãos se casem naquelas condições que lhes
nermitam viver de acordo com seu conpromisso cristão, 36

A união matrimonial e a união entre


Cristo e a Igreja
A
Comparação que o apóstolo Paulo faz, na carta aos Efésios,
entre o amor matrimoniale o amor de Cristo àIgreja dámargem
a numerosos comentários dos Padres, que podem servir-nos de
ajuda para conhecer o alcance que o texto paulino tem em rela
câo àsacramentalidade do matrimônio. Orígenes encontra nessa
comparação um recurSO para Convidar os esposos cristãos a imitar
o amor de Cristo a Igreja.° Basilio recorre também à comparação
paulina para recordar ao esposo que deve amar sua mulher "com
o mesmo am0r com que CI1Sto armou a sua lgreja", e a esposa que
deve "submeter-se ao seu marido comoa Igreja a Cristo". Gregório
de Nissa considera um sinal de pureza interior que o esposo ame
semelhantes
sua esposa como Cristo amou a Igreja. Comentários
fazem outros Padres orientais, como João Crisóstonmo e Gregório
38
Nazianzeno.

e
36 A intervenção da Igreja vem reconhecer que Deus intervémm na união do casal
no ensinamento
que assiste os esposos com sua graça. O mais importante a destacar
da primeira tradição crista não é a forma como a Igreja intervém, mas a verdade que
fundamenta essa intervenção, que está na especial dignidade do matrimònio cristão.
devem ser
Os termnos em que alguns Padres falam da graça que os esposos recebem
interpretados dentro do contexto em que são utilizados, sem querer antecipar categorias
introduzidas posteriormente pelos teólogos.
e a Igreja,
$ Orígenes considera o matrimönio simples figura da união entre Cristo
diferentemente da virgindade, que comporta a realização da união mística cntre Cristo
e o fiel; Hom. In Cant. 2,1; SCh 37 bis, 10. CE. SALDON, E. Op. cit., 29.
Segundo Clemente de Alexandria, Ado foi criado à imagem de Cristo e Eva à imagem
da lgreja; Paedag. 2,10; SC 108, 181-193.
38
Comentando Ef 5,25, Basílio exorta os maridos a amar suas esposas, embora tenham
diversa procedència, e deseja "que o vínculo natural e o jugo imposto pela bènção nupcial
Moralia 73.3: PG 31, 852; 73,4: PG
criem emn vós a união de vossos dois seres": BAStLIO,
GREGÓRIO DE NISSA, In Cant. Cant., hom,
31, 852; Hexaem. 7,5: SC 26 bis, 415-419.
hom. 20: PG 62, 135-150.
4: PG 845-848; JO¢O CRISÓsTOMO, Z2 Ep. Ad Eph. 5. deixa
é a imagem do mistério do Verbo, que
O amor dos esposos, diz João Crisóstomo,
amor; In Colos. , hom 12,5-6: PG 62, 387-389.
a Casa do Pai para se unir à lgreja por (uvorrnpLo" earu o yco;):
Omatrimônio é, segundo Paulo, "mistério e
imagem"

155
SACRAMENTALIDADE DO MATRIMÖNIO
ORIGEM EFUNDAMENTO DA
ser citados sobre o
mesmo
ocidentais, podem
Entre os Padres Tertuliano, Ambrósio, Jerônimoe Hi
textos de
tema numerosos
lário de Poitiers. 39
todos os Padres, tanto gregos como latinos, ésanto
Entre simbolismo do matrimônio
o
Agostinho quem mais desenvolve Hipona
relação ao amor de Cristo à Igreja. O grande bispo de
em para se referir ao vínculo
que
empregao termo "sacramentum" em virtude do qual estes
matrimónio deixa nos esposos cristãos,
separar." Junto com outros bens do matrimônio
não podem se
o "sacramentum" é, segundo
- 0s filhos e a fidelidade conjugal -, indissolúvel a
sagrado que torna
a doutrina agostiniana, o sinal fica simplesmente na
união dos esposos.1" Santo Agostinho não

A. Saint Jean Chrysostome. Le


In Cap. 29 Gen. Hom. 56: PG 54, 487. Cf. MoULARD,1923.
Paris,
Défenseur du Mariage et l'Apótre de la Virginité. belo para a mulher venerar Cristo na
Gregório Nazianzeno faz este comentário: "E
desonrar a Igreja na pessoa da
pessoa do marido; mas é também belo para o marido não "De Adão até ao Senhor,
mulher"; Oratio 37, 7: PG 36, 292. Santo Efrém da Síria, diz:
o autêntico amor conjugal era o sacramento
perfeito" (Comentário a Efésios 5,32; tirado
de EvDOKIMOV, P. LOrtodoxie, op. cit., 294).
5: PL 2, 468s; De Monog. 5 (PL
39 Entre os autores latinos, cf. TERTULIANO, Adv. Marc.
Lucam 8: CSEL 32, 393-395; De
2, 914s); De Virg. Vel 5: PL 2, 887s; AMBROSIO, n
1,2-3: CSEL 65; Traité
Parad. 10: CSEL 32, 304-306; HILÁRIO DE PoTIERS, De Myst.
PL 26, 530-537; Adv.
des Mystères SC 19. Paris, 1947; JERONIMO. In Ep. ad Eph. 3,5: 33-35, 52, 72-75, 100
Jovin. Cf. LARRABE, J.-L. Op. cit., 77-97; SALDON, E. Op. cit.,
106, 110-115; CoLLI, P. La Pericopa Paolina ad Ephesios 5,32, Nella
Interpretazione dei
Padri e del Concilio di Trento. Parma, 1951.
No tratado sobre "O matrimônio e a concupiscéncia", a propósito do pecado original,
Agostinho faz uma bela ficção literária na qual pergunta a cada um dos três bensdo
matrimoniais: "Como o pecado pode se propagar deles para os ilhos?". A resposta o
deixará
"sacramento" éesta: "Antes do pecado se disse de mim no paraíso: 'o homem
pai e a máe e se unirá asua mulher, e sero os dois uma só carne'; e isto 'é um grande
Cristo
sacramento' - diz o apóstolo - em Cristo e na Igreja'. Depois, este é grande ementanto,
e mulheres; e, no
e na Igreja, muito pequeno em todos e cada um dos maridos
sacramento de união inseparável"; De Nupt. et Concup. 2,21; Obras Completas de San
Agustin. Op. cit., 35, 277-278,
il Em vários de seus escritos, Agostinho explica o significado do terceiro dos bens matrimoniais,
sacramenti
que chama de sacramentum. "Usque adeo foedus illud initum nuptiale cuiusdam
é como um efeito
res est, et nec ipsa separatione irritum fiat..." |"o pacto conjugal
sacramental que não desaparece nem com a própria separação"]; DeBbono Coniug. 7: PL
40, 378; Obras Completas de S. Agustín. Op. cit., 12, p. 56.
"In nuptiis tamen bona nuptialia diligantur: proles, fhdes, sacramentum..."; "sacramentum
vero, quod nec separati et adulterati amittunt, coniuges concorditer casteque custodiant;

156
ORIGEM EFUNDAMENTO DA SACRAMENTALIDADE DO
MATRIMÔNIO
comparação paulina, rnas se fixa no fundamento biblico dessa
comparação, "os do1s se tornaräo uma só carne", para aprofundar
seu simbolismo religioso e sua exigncia moral.42

Conclusão
Conseqüentemente, a literatura crist dos primeiros séculos
reconhece que o matrimónio cristão tem um sentido e algumas
exigências próprias àluz da té. Parte do principio de que o rmatri
mÙnioé obra de Deus e está destinado ao bem do casal e da espécie
humana. Sofre as conseqüéncias do pecado original, especial mente
nogue se refere às dificuldades do homem para dominar o apetite
carnal, e recebe a influéncia da graça de Jesus Cristo. À luz do
Evangelho e do mistério da Igreja, o matrimónio cristão é charmado
a recobrar seu valor original, que reside principalmente na força e
na riqueza da unio conjugal.

solum est enim quod etiam sterile coniugium tener iure pietatis iam spe fecunditatis
amissa, propter quam fuerat copulatum" ["Estimem-se no casamento seus bens ou valores:
prole, a mútua hdelidade e o sacramento"; "Que os cônjuges honrem o casamento
de comum acordo e na castidade, sem admitir separações nem adultérios; é especial o
caso de quem mantém o casamento só por amor, quando sobrevém a esterilidade e não
há mais esperança da fecundidade, que o motivou"] (o sacramento permanece sempre,
mesmo quando os esposos estejam separados ou percam a esperança de rer descendncia);
De Nupt. et Concup. 1, 17, 19: CSEL 42, 231; Obras Completas, 35. pp. 271-272. Bib.
sobre S. Agostinho, nas notas 26 e 27.
2 Nesse texto, "os dois se tornaro uma só carne", santo Agostinho descobre, da mesma
forma que são Paulo, duas realidades que estão relacionadas entre si: o "mistério" da
Igreja, que de forma oculta se revela já na criação do primeiro casal humano (Adão e
Eva representam Cristo e a Igreja), e o sacramentum do matrimònio cristão, que torna
indissolúvel a união conjugal. Agostinho avança na comparaçio paulina, cnquanto
Paulo coloca o amor de Cristo como modelo do amor conjugal, e Agostinho v» a união
conjugal como cfeito da união que existe entre Cristo e a lgreja. Agostinho cntende que
se trata de dois mistérios: o que se dá na união de Cristo com a Igreja e o que ocorre
na união dos esposos cristãos. O primeiro éo "grande mistério" ao qual se refere Paulo,
em comparação com oqual a união dos esposos constitui um mistério "muito pequeno
ver o texto citado na nota 40.
Essa doutrina agostiniana inAuencia noravelmente a interpretação que os escritores cristos
da Idade Média fazem de Ef 5,32: Cf. RINCÓN, T. Op. cit., 119. Agostinho não fala
explicitamente da "graça' que deriva desse mistério em favor dos esposos cristãos. C:.
DESJARDINIS, R. "Le Christ Sponsus et l'Eglise Sponsa chez Saint Augustin". In: BLE
(1966), 241-256.

157
SACRAMENTALIDADE DO MATRIMÔNIO
ORIGEM EFUNDAMENTO DA
e
que a SagradaEscritura revela
Afé crist se fixa na relação
Com scu povo0, para apro
cntre o matrimnònio e a aliança de DeUs
Deus aos homens Como a dig
fundar tanto o mistério do am0r de
como imagem
nidade do matrimônio. Se o matrimònio aparece jä
Testamento se apresenta
do amor de Deus nos profetas, no Novo
e como imagem
como figura das bodas de Cristo conm a humanidade
aproveitam os textos
do amor de Cristo àIgreja. Os Santos Padres
biblicos alusivos ao matrimônio para destacar tanto o significado
místico do matrimónio como suas exigencias morais.
duas reali
A maior convergência dos Padres se dá em torno de
dades: umade tipo teológico, que tem presente a nova situação do
matrimônio cristão no contexto da graça de Jesus e da realidade
da Igreja, e outra de tipo moral, que acentua as exigências éticas
do matrimònio cristão, especialmente no que se refere à indisso
lubilidade e ao amor que deve presidir as relações entre o casal. A
patrística, apoiando-se nos textos do Novo Testamento, sublinha
os pontos essenciais da doutrina cristã sobre o matrimônio: a
proibição do divórcio, a vontade de Cristo de abençoare santificar
o matrimônio, o imperativo moral dirigido aos esposos cristãos de
tomar Cristo como ideal e modelo de seu amor conjugal.
Isso significa que a Igreja considera o matrimônio, jános pri
meiros séculos, um sacramento instituído por Jesus Cristo? Signi
fica que a fé crist vêo matrimônio como obra de Deus, Santificada
pela presença de Jesus Cristo, iluminada por sua palavra, inspirada
por seu exemplo de amor e santidade, inserida na Igreja, mistério
de unidade. Na realidade, o matrimônio foi instituído jáno começo
da humanidade. Com a vinda de Jesus, o matrimônio recebe a influ
ência de sua graça redentora, purifica-se das imperfeições próprias
da condição pecadora do ser humano, beneficia-se da santidade e
da fortaleza que brotam do Espírito que Jesus envia à Igreja.
Onde estão, portanto, o fundamento e a origem da sacramenta
lidade do matrimônio? A sacramentalidade do matrimônio deriva
do fato de que os contraentes cristãos, por serem membros do
Corpo de Cristo, se transformam, desde a realidade de sua união
matrimonial, em imageme sinal da união que existe entre Cristo
e a Igreja. Essa relação do amor conjugal com o amor que existe
entre Cristo e a Igreja não tem somente um valor comparativo ou
moralizante, mas também um fundamento teológico com raiz bi
blica e conteúdo salvífico. Ao mesmo tempo em que se manifesta

158
ORIGEM E FUNDAMENTO DA SACRAMENTALIDADE DO
MATRIMÔNIO
armor de DCus na uniáo de Cristo Com a humanidade redimida
amor criador e salvador de Deus se torna presente nos
esposos
cristãos que se unern "no Senhor". para manifestaç,ão de sua glória
e para seuserviço.
Por que o matrimónio, e náo outros estados de vida, foi elevado
à condição de sacramento? Somenteo matrimónio aparece como
mmistério encarnado de anmor e de unidade, apto a manifestar
omistério de amor e de unidade que existe entre Cristo ea Igreja;
somente a união matrimonialdaqueles que são membros do Corpo
Cristo e a
de Cristo aparece como prolongarnento da união entre
sobre a huma
Igreja, como extensão do amor que Deus derrama
amor
nidade, como aliança chamada a criar uma comunidade de
irradiar o
semelhante à comunidade mesma da Igreja, disposta a
Igreja e sinal para
próprio amor de Cristo, sinal em miniatura da
aIgreja,13

de unidade e
relaciona, sobretudo. com o mistéerio Porem,
sacramentalidade do matrimnônio se sentido que em arelação do casal.
A o ilhos,
matrimonio e, portanto, com chamado a se prolongar nos familia
de amor do além disso, que o casal é
unidade do casal. A
deve-se levar enm conta, seu amor e exrensão familiar da como
chamados a ser objeto de
éo matrimònio, como projeto c
unidade que
mistério de amor e Igreja.
faz parte do criação e no contexto da enquanto dela
realidade, no contexto geral da
fundamental célula da sociedade, propriamnente
considerada a primeira e social. A familia cristi
não cstá
A família é própria comunidade como uma celula que brota do
nela se apóia a deriva dela, especihco da
deriva e comunidade eclesial, mas Cristo no imbito
da amor de como uma
na origem a encarnar o de Cristo, a Igreja, Cristo.
Cristo e que é destinada nasce do corpo
corpo de "igreja doméstica" mesma recebe de
comunidade familiar. A da tecundidade que a 0greja
do amor e
célula crist dotada
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