TESE Fernando Guilherme Bruno Filho INTEGRAL
TESE Fernando Guilherme Bruno Filho INTEGRAL
TESE Fernando Guilherme Bruno Filho INTEGRAL
Tese de doutorado
Banca Examinadora:
4
Para
Ana Paula
Vitor e Ligia
Meu pai, Fernando
E minha mãe, Celina (in memorian)
5
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Sebastião Tojal, não só pela orientação, mas, sobretudo, pela confiança,
otimismo e tranquilidade constantemente transmitidos, frutos de um espírito verdadeiramente
generoso,
A Fernando Herren Aguillar, Solange Gonçalves Dias e a todos e todas colegas professores da
Universidade São Judas Tadeu,
Aos professores e professoras especiais com quem tive o privilégio de conviver e aprender,
aqui representados por Regina Meyer, Odete Medauar, Fernando Menezes de Almeida, Ana
Maria Nusdeo, Elival da Silva Ramos e Roger Stieffelmann,
A Cláudia Virgínia Cabral de Souza, Margareth Uemura, Irineu Bagnariolli Junior, Vanessa
Figueiredo, Maria Tereza Carvalho, Celso Sampaio, Sebastião Ney Vaz, João Ricardo
Guimarães, Paula Maria Motta Lara, Simone Beralda, Márcia Cristina Rossi, Aylton Affonso,
Márcia Gesina, João Bosco, Márcio Luiz Vale, Carlos Miaciro, Evangelina Pinho, Roseli
Gotti, Luis Carlos Rodrigues, Gisele Gonçalves Dias, Rafael Bischof, Dânia Brajato, Nara
Argiles, Marcela Cherubine, Carlos Eduardo de Mello, Jorge Henrique de Oliveira Souza,
Luis Paulo Bresciani, Patrícia Laczinsky, Mário Maurici de Lima Morais, Mauricio Mindrisz,
Antonio Carlos Granado, Miriam Belchior, Celso Daniel (in memorian), e tantos e tantas que
acreditaram e acreditam numa administração pública e numa política urbana democráticas e
populares,
A Paula Ravanelli Losada, Celso Carvalho, Ricardo Moretti, Francisco Comaru, Érica de
Castro, Kazuo Nakano, Flávio Martins, Cacilda Lopes, Fábio Vital e a meus companheiros e
companheiras do Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico-IBDU, dentre eles Nelson Saule
Junior, Daniela Liborio Di Sarno, Rosane Tierno, Henrique Frota, Ellade Imparato,
Florisvaldo Cavalcanti, Edésio Fernandes, Betânia Alfonsin, Vanêsca Prestes, Karina Uzzo,
Isabel Ginters e Guadalupe Abib de Almeida,
RESUMO
ABSTRACT
The role of the legal principles is crucial in any regulatory system that seeks to interpret or to
establish to give coherence to the relations established between these rules or mainly to
accurately interpret them according to the goals expected. This makes even more sense when
the regulatory system is fated by its own Constitution to promote change of unwanted realities
such as poverty and marginalisation because one would be facing expensive values to the
community. The urban law has, therefore, the goal to make urban policy more effective since
it was chosen by the Constitution to be the tool to “order the full development of the city’s
social functions and assure the well-being of its inhabitants”. To identify the urban law is a
way to collaborate with such task.
This piece of work is based on the finding that many of the approved municipal master plans
or the ones that are being conducted are not really being able to deal with the specific
problems of each municipal government, especially if considering the complexity of pressures
in the expansion or redesign of Brazilian cities. The comprehension of the urban law
principles could provide arguments to avoid this situation.
It seeks, therefore, to debate and adequately place the ideas about the real meaning of the
urban policy and of the actual urban law’s state of development. It especially considers the
concepts of the city’s social function and the social function of the urban property analysing
the recent evolution of the subject’s core legislation, starting from the City Statute (Estatuto
da Cidade - Law 10.257/2001), but advancing to the national law regarding specific sectors
such as the division of land and land reform, sanitation, solid waste management, urban
mobility and disaster prevention. Then, a brief frame of theories and actions that have shaped
the actual urbanism from the end of the 19th century to today will be established going beyond
land use and occupation, emphasising on the urban reform and municipal strategic planning
manifestations. Crucial aspects are brought to a more recent discussion about cities, economic
crisis and its effects, global environmental problems and the concept of sustainable
development and the new possible uses of information technology. The Legal Principles
Theory is referred seeking to identify its basis and consequences for the legal interpretation.
Finally some questions related to urban law will be carefully debated (the guidelines of urban
policies and master plans) and a proposal of principles to guide this system of norms will be
presented.
RÉSUMÉ
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 1
2. A CIDADE E O DIREITO 8
2.1. Cidades, regiões metropolitanas e “redes de cidades 10
2.1.1. “Redes de cidades” e a rede urbana no Brasil 14
2.2. Política urbana (ou de desenvolvimento urbano): política pública? 17
2.2.1. Um conceito de política urbana 20
2.3. Direito urbanístico em evolução 23
2.3.1. Direito urbanístico no Brasil 25
2.3.2. A autonomia do direito urbanístico: um problema superado? 28
2.3.3. O campo do direito urbanístico 31
2.3.4. Um enquadramento funcional do direito urbanístico 34
2.4. Função social da propriedade imóvel urbana (FSPIU): primeira abordagem 37
2.4.1. FSPIU e limitações ao direito de propriedade 41
2.5. Função social da cidade (FSC): primeira abordagem 43
2.6. Normatização da política urbana 44
2.6.1. O Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001): base e catalisador da política urbana 46
2.6.2. Parcelamento do solo urbano (Lei 6766/79) 48
2.6.2.1.Regularização fundiária e urbanística (Lei 10.977/2009) 49
2.6.3. Saneamento básico (Leis 11.445/2007 e 12.305/2010) 51
2.6.4. Mobilidade (Lei 12.587/2012) 54
2.6.5. Proteção e defesa civil (Leis 12.340/2010 e 12.608/2012) 55
6. CONCLUSÃO 176
7. REFERÊNCIAS 181
12
1. INTRODUÇÃO.
À primeira vista, o tema e a abordagem do trabalho ora propostos poderiam soar como
datados, no sentido de que representariam um olhar acerca de específico momento da
construção de uma dada política pública- planejamento e desenvolvimento urbano, ou
resumidamente, política urbana- no Brasil. O Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001) já
ultrapassa dez anos de vigência, ainda tendo em conta o momento presente, e na sua esteira
centenas de municípios em todo país produziram ou revisaram normas locais versando sobre
as cidades, especialmente os planos diretores preconizados pelo art. 182 da Constituição
Federal como “instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana”.
Entretanto, queremos crer que a relação ente o Direito e as cidades não é relevante
apenas nessa específica conjuntura histórica, ou não deveria ser. Com efeito, a pesquisa e,
sobretudo, a reflexão a que nos propomos abarca necessidades e situações universais e
pertinentes ás mais diversas contingências, aplicáveis a grande numero de problemas
efetivamente vivenciados por parcelas consideráveis da população brasileira (quiçá de outros
países) e relacionadas a um contexto de urbanização intensa que deita raízes no passado, e se
encontra em fase de consolidação quantitativa mas também de mudanças qualitativas.
Confrontando uns e outros, problemas concretos e dispositivos legais, mediados por uma
análise e argumentação adequadas, acreditamos ser possível (o que adotamos como
motivação) afirmar e controlar a racionalidade da política urbana conforme ela implanta-se e
aplica-se no Brasil. Essa é uma tarefa plausível, ainda em nossa crença, se pudermos
estabelecer uma descrição dos fundamentos de tal política pública e de um conteúdo material
obrigatório, ao mesmo tempo que respeitando as peculiaridades e a diversidade de situações e
desafios que se colocam para cada ente federativo.
1
Os dados desagregados da pesquisa, onde se pode quantificar os elementos dos planos diretores pesquisados,
estão disponíveis em http://www.observatoriodasmetropoles.net/planosdiretores, acesso em 01/06/2011. A
sistematização e uma interpretação completa no âmbito do trabalho deu-se na obra organizada por Orlando Alves
dos SANTOS JUNIOR e Daniel Todtmann MONTANDON (Os planos diretores municipais pós-Estatuto da
Cidade, passim).
14
administração pública, mas também para a sociedade, indo muito além do poder de polícia ou
do mero fomento de atividades e então construindo uma política urbana afinada de fato com a
Constituição e as novas realidades políticas, culturais e materiais. Ademais, também a
evolução da teoria do direito, buscando fazer frente à herança positivista que ainda deita
influências exageradas, pode garantir efetividade a esses e a outros princípios de forma a fazer
valer no espaço urbano as finalidades almejadas.
Ressalvamos que tal insuficiência não se deve a falhas dos autores que nos
precederam, muito pelo contrário. É que trata-se de um momento novo para o ordenamento
jurídico brasileiro, o qual no futuro poderá de reconfigurar, inclusive.
Não se pretende, ainda no âmbito desse trabalho, realizar uma leitura da totalidade dos
componentes normativos que irão interferir na configuração final da politica urbana,
especialmente os locais (planos diretores, leis de uso e ocupação do solo, de parcelamento,
etc.) ou aqueles mais aparentados a outras disciplinas (desapropriação, tributos, etc.). Ao
contrário, nosso objetivo é tentar entender como eles articulam-se, ou deveriam articular-se,
no contexto de um sistema cujo resultado seja valioso e afinado com as finalidades do Estado
brasileiro, da maneira como estampadas no art. 3º da Constituição.
Na sequência, a primeira metade do capítulo 4 irá avançar nesse quadro, mas agora
abordando os influxos mais recentes que pressionam a configuração (ou reconfiguração) das
cidades: as crises econômicas, os novos usos da tecnologia e a questão ambiental, os quais na
verdade permeiam todos os desafios que se apresentam para a sociedade e o Estado, e têm
16
2
José Afonso da SILVA (Direito urbanístico brasileiro) é a referência mais completa e adotada, mas há outros
também preciosos.
18
aberto (jurídico) e, portanto, ainda mantém laços estreitos com a realidade dinâmica de onde
vieram. Assim, reputamos que ouvir a opinião de pessoas das mais diversas origens e
formações (técnicos, pesquisadores, lideranças sociais, etc.) acerca da percepção que possuem
em relação a tais princípios, e de como os interpretam sob dadas circunstâncias, seria
metodologicamente tão importante quanto apontar a substância desses mesmos princípios por
força de ponderação. Não obstante, isso pode demonstrar igualmente aquelas que
consideramos as principais qualidades dos princípios: plasticidade e dinamismo.
2. A CIDADE E O DIREITO.
A análise da cidade enquanto objeto de estudo das ciências sociais (mas também, em
certa medida, daquelas físicas), e de significado para a sociedade contemporânea, transcende,
de muito, a mera perspectiva do crescimento populacional ou das migrações do campo para a
cidade. Assim, dizer que, em 2010, 84,35% da população brasileira morava em cidades (mais
de 160 milhões de pessoas)3 é um numero significativo, mas que por si só não explica muita
coisa, a começar pela definição do que seja uma “cidade”. Mesmo que respondida tal questão,
ainda é necessário aprofundar a busca por dados, no mais das vezes empíricos, constatando
que, por exemplo, cerca de 10% dessa população, ainda em 2010, morava em “ocupações”;
em outras palavras, áreas sobre as quais não possuíam qualquer título de domínio4 e portanto
foco de tensões inevitáveis. Outro dado aponta que aproximadamente 49%5 dos domicílios
não tinha acesso, em 2008, à rede pública de esgotamento sanitário, sendo que apenas os
esgotos de 30% do total de domicílios passavam por tratamento. Ou ainda que entre 2003 e
2007 diminuiu6 a mobilidade por transporte coletivo nas dez maiores cidades brasileiras, com
aumento de outros modais (motorizados ou não), o que aponta para um verdadeiro paradoxo.
Em suma, números e interpretações existem à profusão, o que só realça (i) a complexidade do
processo brasileiro de urbanização, (ii) a diversidade de interpretações possíveis de tais
números, e (iii) a necessidade imperiosa de diálogo entre as ciências, a fim de transformar
tais números em ações orientadas para as finalidades do Estado.
3
http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1766, acesso em
05/09/2012.
4
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/aglomerados_subnormais/aglomerados_subnorm
ais_tab_brasil_zip.shtm, acesso em 05/09/2012.
5
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pnsb2008/PNSB_2008.pdf, acesso em
05/09/2012
6
Maria Piedade MORAIS “et alii” (A Constituição brasileira de 1988 revisitada, p. 140-148).
20
mudanças cumulativas em ambas geraram novas escalas, por vezes de maneira incrivelmente
rápidas.
Vale então a lição de Tércio Sampaio Ferraz Junior quando, ao analisar a função social
da dogmática analítica, ensina que:
7
A legislação federal de parcelamento do solo se mostrou insuficiente para fazer frente à expansão urbana ao
longo das décadas de 80 e 90 do século XX, ao menos nas grandes cidades e quando considerada a população de
menor poder aquisitivo. Isso colaborou decisivamente para o aumento da ocupação por favelas e também
loteamentos clandestinos, ainda mais nas áreas ambientalmente sensíveis, como demonstra Ermínia
MARICATO (Metrópole na periferia do capitalismo, p. 47-49). No mesmo sentido, e com uma análise histórica
do problema, Maria Lúcia Refinetti MARTINS (Moradia e mananciais, p.54-63)
8
Como anotado, entre outros, por Edésio FERNANDES (“Direito do urbanismo”, p. 10.).
21
9
Introdução ao estudo do direito, p. 253, grifos no original.
10
Deliberadamente, não abordamos nesta etapa os consórcios públicos, previstos pela Constituição em seu
art.241, regulamentados pela Lei federal 11.207/2005 e pelo Decreto federal 6017/2007. Por um lado, o assunto
é deveras extenso e qualquer síntese apertada estaria fadada à incompletude, mas, sobretudo, consideramos que a
instituição do consórcio não se funda na necessidade de fazer frente a fenômenos próprios da urbanização, ainda
que possa ter tais realidades (planejamento e serviços urbanos) como objeto. De regra, o objetivo do
consorciamento é superar obstáculos financeiros e administrativos na consecução de competências federativas.
Da mesma forma passamos ao largo de associações voluntárias entre municípios para atuação no plano político
(Frente Nacional de Prefeitos-FNP, Confederação Nacional de Municípios-CNM, Mercocidades, etc.), por
razões semelhantes.
11
Evidente que, pela própria tendência de descentralização como técnica de governo, diversos outros
ordenamentos estipulam formas de poder local. Nos EUA, como anota Luiz Alfredo de Oliveira BARACHO 11
(Teoria geral do federalismo, p. 107), há uma miscelânea de escalas e modalidades de organizações políticas e
administrativas locais, por vezes se sobrepondo territorialmente. No entanto, alçado à condição de componente
da Federação, o caso do Município brasileiro é de fato singular.
22
A forma mais complexa, mas também integral, de tentar superar esse paradoxo
é (ou deveria ser) a institucionalização e regulamentação de Regiões Metropolitanas (RMs) e
seus assemelhados: aglomerações urbanas e microrregiões. Identificá-las e descrevê-las
fisicamente, num primeiro momento, não é tarefa das mais difíceis, sendo necessárias apenas
a conurbação entre as cidades de municípios limítrofes e a distribuição de atividades
complementares por toda essa mancha. Ou, como resume Clementina de Ambrosis, trata-se de
uma:
12
Regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, p. 167. Também José Afonso da SILVA
(Direito urbanístico brasileiro, p. 156) coloca acento na conurbação e na correlação profunda de funções entre
os territórios dentro da metrópole.
13
O Estado de São Paulo foi o pioneiro, ao criar a Região da Grande São Paulo, por decreto e em 1967, como
relata Daniela Cordeiro de FARIAS (Direito urbanístico e ambiental, p.233). A aparente inconstitucionalidade
dessa medida, em face da Constituição então vigente, acabou se tornando irrelevante por conta das medidas
subsequentes do governo federal.
14
As RMs foram previstas como formas de organização intermunicipal pela Constituição de 1969, em seu art.
169 (“A União, mediante lei complementar, poderá para a realização de serviços comuns, estabelecer regiões
metropolitanas, constituídas por municípios que, independentemente de sua vinculação administrativa, façam
parte da mesma comunidade sócioeconômica”), e as primeiras- São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto
Alegre, Recife, Salvador, Curitiba, Belém e Fortaleza- criadas pelas leis complementares (federais) 14/73 e
20/74.
15
Regiões metropolitanas, sete anos depois, p. 97 a 101, portanto sob a realidade referida na nota anterior.
23
dos municípios (ou “peculiar interesse”, na dicção da Constituição revogada de 1969) esteve
na base das dificuldades de implementação efetiva das RMs. Uma competência enviesada,
portanto, que o autor busca superar com a ideia de “interesse interlocal”, ou metropolitano16,
atribuível à totalidade dos municípios inseridos, e também ao Estado federado, mas não se
resumido na competência deste.
16
Direito urbano, p. 41. Na mesma linha, e já sob a égide da Constituição de 1988, Alaor Caffé ALVES (Temas
de direito ambiental e urbanístico, p. 33).
17
Direito urbanístico brasileiro, p. 153-155.
18
Ibidem, p. 159-162.
19
Ibidem, p. 156.
24
Assim, se nos limites deste trabalho não podemos afirmar um conceito acabado
das “funções públicas de interesse comum”, ao menos é possível apontar o problema com que
se debate a gestão das RMs: a identificação de tais funções, na realidade concreta de cada
região, e a articulação necessária entre Estado federado e municípios para sua implementação.
Ninguém nega, seja no ambiente político ou acadêmico, a necessidade premente de se adotar
a RM como plataforma para soluções de problemas vários, para os quais o trato isolado pelos
municípios, é fadado ao fracasso E de fato, dentre as 40 RMs instituídas até o presente
momento, envolvendo 482 municípios, soluções as mais diversas de gestão foram adotadas 21,
e bem como todo tipo de rol das funções públicas de interesse comum se estabeleceu. Não há
um balanço positivo de tais soluções, infelizmente, mas apenas experiências pontualmente
exitosas. E é interessante ainda lembrar que um dos substitutivos ao Projeto de Lei que
acabou desaguando no Estatuto da Cidade trazia sim definições tanto de o que caracteriza
uma RM quanto diretrizes para sua implementação e estabelecimento das funções públicas de
interesse comum, a par de exigir a elaboração de planos diretores metropolitanos,
concatenado aos planos diretores locais2223.
20
O desafio metropolitano, p.31. Por “fragmentação do tecido sociopolítico-espacial”, adverte o autor em outra
passagem (p.216-220), entenda-se mais do que apenas segregação, e sim uma ocupação e uma relação dinâmica
entre pontos ou “nós” dentro do território. Esse conceito pode tanto se aplicar às classes abastadas (circuito
condomínio fechado-“shopping”-escola-trabalho, por exemplo) quanto ao tráfico de drogas (circuito usuário-
comunidade-“boca”-traficante), este ultimo estudado em detalhes na obra citada.
21
Dados coligidos por Andrea T. VIZZOTO (A região metropolitana como alternativa à organização
administrativa brasileira, p. 48-50), autora que também sistematiza a diversidade de estruturas instituídas. A
esse universo, Ronaldo Guimarães GOUVÊA acresce a observação (A questão metropolitana no Brasil, p. 234 e
ss.) de que muitas destas RMs sequer conurbação apresentam, dentre outros inúmeros fatores que desvirtuam o
instituto.
22
Conforme descreve Clementina de AMBROSIS, ibidem, p. 168-170. Acerca das propostas que redundaram na
Lei 10.257, vide item 2.6, “infra”.
23
Quando da conclusão deste trabalho, em 28/02/2013, formou-se maioria dos ministros do STF pela tese da
“gestão compartilhadas das RMs entre estado e municípios” (ADI 1842-RJ). Ainda que demande uma digressão
maior, à primeira vista isso pode redundar que em certos temas (dos quais o saneamento é o mais delicado),
25
Talvez por isso, não se disseminou aqui, como na Europa e nos EUA, o
fenômeno da cidade-região, ou novo regionalismo, apresentado pioneiramente no Brasil por
Jeroen Klink26, onde os municípios que se identificam em problemas e vocações comuns
articulam-se, sobretudo, com grande grau de protagonismo econômico, mas também político.
A atuação do Estado nacional é decisiva para a emergência dessa relação, ainda segundo
Klink.
salvo se houver a oposição da totalidade dos municípios que integrem (compulsoriamente, ainda segundo a tese
majoritária no tribunal) a RM, ocorrerá a transferência do “interesse local” para a esfera do estado federado.
24
Para uma proposta completa de institucionalização da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano, com a
articulação federativa visando um sistema nacional de cidades, ver Nelson SAULE JUNIOR (Direito
urbanístico, p. 83-183)
25
Como o que se prevê, quando da elaboração deste trabalho (2012), ligará as cidades de Campinas, São Paulo e
Rio de Janeiro.
26
A cidade região, p.15-45.
26
Não é por acaso que José Afonso da Silva empreende um tão grande
esforço28 em definir o conteúdo de planos urbanísticos nacionais e estaduais, ciente do caráter
fundamental de tais dimensões. Com efeito, ele pinçou nos pífios resultados do planejamento
urbanístico no passado recente (décadas de 60 e 70) os fatos para demonstrar que a:
27
Definir o que é uma “região” é tarefa mais complexa do que se pode imaginar. Além disso, é algo mutável,
bem assim as relações entre as regiões, as hierarquias e dependências mútuas, inclusive aquelas numa
perspectiva global, todas sujeitas às mudanças operadas por políticas econômicas do Estado nacional e também
por conveniências das grandes corporações econômicas. Uma síntese e também uma análise crítica dos critérios
adotados podem ser encontradas em Georges BENKO (Economia, espaço e globalização na aurora do século
XXI, p. 50-66).
28
Direito urbanístico brasileiro, p. 110 a 132.
29
Ibidem, p.101-102.
30
A urbanização brasileira, p. 27, dentre outras passagens.
27
Não vemos argumento para afirmar que a União cumpre seu papel,
inclusive naquilo que exigível na Constituição em seu art. 21 34, pelo simples fato de editar
normas gerais acerca dos temas como ocupação do solo, saneamento, habitação e mobilidade-
normas estas que examinaremos mais adiante.
31
Ibidem p. 107.
32
Uma boa síntese da tentativa de consolidação de uma politica de rede(s) urbana(s) entre 1975-1979 (II PND) e
os anos imediatamente anteriores e o progressivo abandono dessa pretensão nos posteriores, especialmente no
aspecto político/administrativo pode ser encontrado em Diana Meirelles da MOTTA “et alii” (A Constituição
brasileira de 1988 revisitada, p . 91-97)
33
Ibidem, p. 83-86.
34
“Art. 21. Compete á União:
(...) XX- instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes
urbanos.”
35
Competências na Constituição de 1988, p. 43.
36
O art. 23 da Constituição estabelece que “é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios: (...) IX- promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições
habitacionais e de saneamento básico”.
37
Observemos, por exemplo, a regra do art. 3º, §1º, III, da Lei 11.977/2009, que institui o Programa “Minha
Casa, Minha Vida”, estipulando como critério de priorização “a implementação, pelos Municípios, dos
instrumentos da Lei 10.257/2001 voltados ao controle da retenção das áreas urbanas em ociosidade”. O que
28
deveria exemplo maior de integração entre as ações do governo federal e o controle do uso do solo municipal, é
solenemente ignorado na regulamentação levada a termo pelo Executivo federal
(http://www.cidades.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=859:legislacao-geral-
pmcmv&catid=94&Itemid=126, consultado em 08/11/2012) daquele que é, sem dúvida, o maior programa
habitacional das ultimas décadas.
38
Planejar o desenvolvimento, p.30-32.
39
Ibidem, p. 29.
40
Direito administrativo e políticas públicas, p. 241, com grifos nossos. Entretanto, reconhece mais adiante (p.
251) que “política pública é uma locução polissêmica cuja conceituação só pode ser estipulativa”.
29
Não são poucos os riscos dessa interpenetração, sublinha a autora. Além disso,
políticas públicas só são de fato alternativa de abordagem à luz de uma discussão e também
de ação sobre o papel do Estado contemporâneo, como ela própria adverte41. Entretanto, o
modelo de governo por políticas públicas não exclui a legalidade, antes convive com ela, e,
sobretudo, o que consideramos relevante, “a política pública transcende os instrumentos do
plano ou do programa”42. Portanto, a política pública pode ser vista, agora sim, como um
processo, com efeitos perceptíveis na delimitação da discricionariedade dos poderes públicos,
e por consequência, numa mais ampla participação (e controle) da sociedade em face da ação
estatal.
E, como todo processo que envolva o Estado, o elemento finalidade nos parece
essencial.
Por outro lado, nem todos os modelos e teorias que buscam explicar como são
selecionados os objetivos que integram as politicas públicas enfatizam o conteúdo de tais
finalidades, privilegiando, em sua maioria, aspectos como a estrutura governamental, a análise
econômica dos resultados, o processo politico, a inter-relação com outras politicas, etc43.
41
Ibidem, p. 245 e ss.
42
Ibidem, p. 259. No mesmo sentido, Maria Goretti DAL BOSCO (Discricionariedade em politicas públicas, p.
246-247)
43
Jean Carlos DIAS. (O controle judicial de politicas públicas, p. 44-48) sistematiza nove modelos teóricos e
analisa seus elementos principais, inferindo a conclusão que descrevemos.
44
Não falta quem defenda que qualquer ação governamental ou administrativa seja enquadrada como “politica
pública”, escorado normalmente em Eros Grau (O direito posto e o direito pressuposto, p. 25-29). Uma leitura
atenta da lição do renomado mestre, entretanto, mostra que ele justamente afirma as transformações em curso, do
caráter meramente estrutural para o conjuntural, e portanto dinâmico, da norma jurídica, ou seja, em suas
palavras, “o direito é ele também uma política pública”.
45
Certos equívocos podem decorrer do fato de que nos EUA o termo “policy” (plural “policies”) é empregado
para designar toda ação pública, por isso, inclusive, sem a expressão “public”. Mas se trata de outro modelo, que
não podemos comparar neste curto espaço de digressão.
30
possa se sujeitar ao controle social, ou no mínimo que não deva estar condicionada à
publicidade quanto às suas ações e resultados aferidos.
Queremos crer que se trata de uma mesma função, porém expressa sob
dimensões diferentes. Uma delas (o art. 30, inciso VIII) com maior acento na legislação
(zoneamento, estética urbana, códigos de obras, etc.) e na realização de ações pontuais,
mesmo que embutidas em planos (como sistemas viários, equipamentos comunitários, etc);
ademais, expressando competência privativa do Município. A outra (o art. 182, “caput”), de
maior alcance temporal e envolvendo todos os entes federativos-ainda que realçado o papel do
Município em sua execução, e podendo mesmo desbordar-se em alguns aspectos da lei e dos
planos (mas jamais do Direito)- implica em “uma estratégia de mudança no sentido de obter
a melhoria da qualidade de vida da comunidade local", conforme as palavras de José Afonso
da Silva47.
46
Não estamos, nem remotamente, afirmando que política urbana é competência exclusiva dos municípios. As
questões apontadas no item anterior, e também dispositivos constitucionais e legais, já seriam suficientes para
excluir tal possibilidade, mas voltaremos ao tema das responsabilidades quanto a politica urbana mais adiante.
47
Direito urbanístico brasileiro, p. 124. Em verdade, a expressão é utilizada pelo autor ao se referir aos
objetivos gerais do plano diretor, mas isso não invalida o raciocínio. Ele também coloca a politica urbana e o
desenvolvimento urbano como sinônimos, e, portanto, o plano diretor como seu principal veículo.
31
48
A questão urbana, p. 297.
49
Ibidem, p. 302 e ss.
50
O estado capitalista e a questão urbana, p. 197-241, grifos no original.
51
Teremos a oportunidade de verificar esse fato também no desenvolvimento urbano brasileiro, mais adiante. Ao
senso comum, não deixa de causar espécie tal diagnóstico, em se tratando de um país europeu- a França.
32
quais os entes estatais intervém jurídica e financeiramente no espaço e (iii) uma urbanística
em sentido estrito, de medição dos efeitos das duas anteriores. Assim, o autor anota que:
52
Ibidem, p. 207, com grifos nossos. A crítica à Castells em face de seu pretenso “localismo” nos parece
exagerada. Este de fato reconhece (A questão urbana, p. 315) que outras escalas do aparato estatal interferem, e
muito, na planificação, e também de que muitas lutas reivindicatórias ocorrem fora do campo institucional, mas,
pelo método que adota (análise empírica de planos e sua relação com os movimentos sociais), acaba por não
desbordar do conceito formulado, quando o desenvolve.
53
Direito urbanístico, p. 104.
54
“Capítulo II- Da Política Urbana
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes
gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir
o bem-estar de seus habitantes.
§ 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil
habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.(...). Os grifos são
nossos, e estão a denotar que, apesar de nomenclaturas diferentes, é do mesmo objeto- a política urbana,
encimando o capítulo- que estamos a tratar.
33
55
Direito urbanístico, p. 44-45. O autor guarda a expressão “desenvolvimento urbano” para denominar outras
politicas em interlocução com o urbano, como as de habitação, saneamento, transporte e trânsito. Ressalte-se
outrossim, que sua metodologia de abordagem tem um viés de análise econômica, onde então se justifica esse
conceito, para nós restrito.
56
O Estatuto da Cidade e suas diretrizes gerais, p. 48-50.
57
Ibidem, p. 265.
58
Art. 182, caput.
59
Tendo por grande paradigma o PDDI- Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da capital paulista, em
1971.
34
60
Política urbana, p. 179-188 e 216.
61
Ibidem, p. 188-199.
62
A força vinculante das diretrizes da politica urbana, p. 17.
63
Vide nota 31, “supra”.O fato deste dispositivo tradicionalmente ser encartado entre as competências materiais
da União não parece ser o ponto mais relevante para afastar um (o “desenvolvimento urbano” do art. 21) de
outro (a “política de desenvolvimento urbano” do art. 182.)
35
64
Conf. Diogo de Figueiredo MOREIRA NETO (Introdução ao direito ecológico e ao direito urbanístico, p. 50-
51).
65
As alterações constantes de certos ordenamentos estrangeiros são reflexos de falhas ou atualizações
necessárias, a reboque de mudanças estruturais da economia e das sociedades correspondentes. No caso
espanhol, os primeiros vinte anos (1956-1976) da “Ley del Suelo” foram diagnosticados como de grandes
insuficiências (conf. Luciano Parejo ALFONSO, Derecho urbanístico, p. 49-55), e mesmo as modificações
posteriores a 1998 (ensejadas pela declaração de inconstitucionalidade quanto a um excessivo controle pelo
governo central em face dos governos autônomos, decorrente da legislação em vigor) abriram as portas para a
expansão descontrolada dos limites urbanizáveis. Para Alvaro Sànchez Bravo, professor da Universidad de
Sevilla (em relato pessoal no 1º Encontro Internacional de Ambiente Urbano-ENINTAU, de 29 a 31 de maio de
2012, na PUC-SP) essa excessiva flexibilização deu as bases para a “bolha imobiliária” espanhola, poucos anos
depois e com consequências funestas à economia e ao meio ambiente espanhol. No caso francês, a necessidade
de financiar o desenvolvimento urbano e garantir maior efetividade aos planos, por via de descentralização
administrativa (conf. JACQUOT e PRIET, Droit de l’urbanisme, p.31-40) foram o “leitmotiv” das
transformações. Em suma, adotar-se os ordenamentos estrangeiros como paradigma para uma análise crítica dos
problemas da política urbana brasileira está longe de ser uma opção única ou principal, posto que também prenhe
de insuficiências.
66
Cuja elaboração não foi regra, como se imaginaria, anota Victor Carvalho PINTO (ibidem, p. 79).
36
de sua intensidade é tomada caso a caso, pela administração pública. Entretanto, isso ocorre
em contexto de ampla possibilidade de discussão técnica, obedecendo de fato ao “due process
of law”, e em ambiente de um serviço público extremamente capacitado e apartado das
ingerências políticas, como descreve Victor Carvalho Pinto67.
67
Ibidem, p. 93.
68
Mudar a cidade, p. 124.
69
Direito urbanístico, p. 78.
70
Ibidem, p. 83-89.
71
“Planning in the USA, passim.
72
Mas houve sim, por parte das agências federais, uma diretriz de estudos e desenvolvimento de ferramentas,
induzindo a consolidação de certos parâmetros, cujo marco principal foi o “The standard state zoning enabling
act”, já na década de 1930, conforme relatam os próprios autores (ibidem, p. 70-71). Não obstante, e ainda na
trilha de CULLINGWORTH e CAVES, observamos que a política ambiental é federalizada em diversos
aspectos (ibidem, p. 320 e ss.), como o das áreas de preservação e dos recursos hídricos. Por fim, nos EUA o
planejamento urbano teve vários momentos de “judicialização” dos debates sobre as limitações ao direito de
propriedade, daí decorrendo uma sequência longa de “lead-cases” (ibidem, p. 20, 66-67, 72-74, 87, etc.).
73
O que apontaremos no item 3.4.1, “infra”.
37
74
Pedro de Milanelo PIOVEZANE (Elementos de direito urbanístico, p.19) comenta os embates pró e contra o
planejamento econômico na década de 40, de forma a inferir tal resistência.
75
Sem esquecer a introdução da disciplina de direito urbanístico no programa de pós-graduação da Faculdade de
Direito da USP, já em 1976.
38
76
O direito à moradia foi explicitado, por força da Emenda Constitucional (EC) 26/2000, no art. 6º, “caput”, da
Constituição. Seu núcleo básico compreende viver com segurança, paz e dignidade. Trata-se de um direito
indivisível, interdependente e inter-relacionado com os demais direitos humanos (vida, igualdade, saúde, etc.) e
implica (i) segurança jurídica da posse, (ii) disponibilidade de serviços de infraestrutura, (iii) custo acessível, (iv)
salubridade, (v) acessibilidade a grupos vulneráveis,(vi) inserção que permita o acesso ao emprego, transporte
público, educação, cultura e lazer, e (vi) respeito aos padrões culturais dos grupos sociais e culturais. Tudo isso é
inferido por Nelson SAULE JUNIOR. (A proteção jurídica da moradia nos assentamentos irregulares, p. 132 a
139), a partir de Declarações e Convenções internacionais que versam sobre os direitos humanos, especialmente
da “Agenda Habitat”, documento adotado pela Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos-
Habitat II, realizada em Istambul (junho de 1996).
77
Neste sentido, Henri JACQUOT e François PRIET (Droit de l’urbanisme, p. 13-16).
78
A prática comum de obras organizadas ou coordenadas, integrando a reflexão jurídica àquela urbanística em
sentido amplo (geografia, economia, ciência política, além do urbanismo em sentido estrito) faz com que seja
impossível elencar todos os autores e a produção dessa linhagem. Não podemos esquecer, porém e igualmente,
de Joaquim Falcão (“Invasões urbanas”- 1984, com análises inovadoras de Boaventura de Souza Santos, Tércio
Sampaio e outros). Esse período marcou também um aumento expressivo de artigos e ensaios em periódicos de
divulgação científica já consolidados, e o surgimento de outros dedicados especificamente ao direito urbanístico.
No ano de 2000, em Belo Horizonte-MG, ocorreu o I Congresso Brasileiro de Direito Urbanístico, que se repete
até o presente (a 6ª edição teve lugar em Brasilia-DF, no final de 2010).
39
pesquisadores e autores de outras áreas (urbanismo, economia, geografia), posto que uma
linguagem comum começou a se desenvolver, deixando o jurista de ser apenas um
“consultor” na elaboração de planos e projetos.
79
“Direito do urbanismo”, p. 8.
80
Com Diogo de Figueiredo MOREIRA NETO encartando (Introdução do direito ecológico e ao direito
urbanístico, p. 58) o direito urbanístico naquilo que à época denominou de “direito ecológico”, este ainda longe
de caracterizar o direito ambiental como hoje estruturado no Brasil e no mundo.
81
Direito urbanístico brasileiro, p. 38-44.
82
Ibidem, p. 44.
83
Direito urbano-ambiental brasileiro, p. 22.
40
84
Direito urbanístico, p. 27-28.
85
Disciplina urbanística da propriedade, p. 24-31, e apoiada nas lições de Agustín Gordillo. Carlos Ari
SUNDFELD parte da mesma base para um “ataque” ainda mais sistemático à inadequação do conceito de poder
de polícia (Direito administrativo ordenador, p. 11-19), substituindo-o por “condicionamentos de direitos”, o
que será retomado oportunamente.
41
e reiterando o pensamento do início deste capítulo, a cidade transforma o Direito tanto quanto
o Direito interfere na cidade. Assim, como afirma Paulo Estelita Herkenhoff Filho:
86
Direito do urbanismo- uma visão sócio-jurídica, p. 74 e 85.
87
Ibidem, p. 76-78.
42
urbanos. Se no passado afirmar a identidade do direito urbanístico era um desafio, este, hoje, é
sua integração com as demais disciplinas..
88
Como Hely Lopes MEIRELLES (Direito municipal brasileiro, p. 379-380) e até mesmo Diogo de Figueiredo
MOREIRA NETO (Introdução ao direito ecológico e ao direito urbanístico, p. 60-61).
43
89
Derecho de propriedad, urbanismo e princípio de legalidad, p. 90.
90
Como José Afonso da SILVA (Direito urbanístico brasileiro, p. 27-31), Daniela Libório DI SARNO
(Elementos de direito urbanístico, p. 5-27) e Victor Carvalho PINTO (Direito urbanístico, p.67-71 e p. 170-
175). Este ultimo, por sinal, agrega uma leitura crítica dos limites inerentes àquilo que considera como
“urbanismo”. No plano internacional, JACQUOT e PRIET (Droit de l’urbanisme, p.24-32.)
91
Dentre outros, Paulo de Bessa ANTUNES (Direito ambiental, p. 345 e ss.) e Paulo Affonso Leme
MACHADO (Direito ambiental brasileiro,p. 259-292). Édis MILARÈ segue a mesma linha em sua obra mais
consagrada (Direito ambiental), porém em outro estudo (Um ordenamento jurídico para a qualidade de vida
urbana, passim) tece longas considerações sobre a história das cidades e a relação dela com o home, mas sob o
aspecto essencialmente estético.
44
92
Curso de direito ambiental brasileiro, p. 259-270.
93
Direito ambiental constitucional, p.240.
94
Elementos de direito urbanístico, p. 89-84.
95
Ibidem, p. 94.
96
Sobre a integração urbano-ambiental, Vanêsca Buzelato PRESTES, em aspectos diversos do planejamento e
da gestão locais, (Temas de direito urbano-ambiental, p. 19-50 em aspectos diversos do planejamento e da
gestão locais e p. 123-140 especificamente no licenciamento).
45
97
No mínimo, como adverte Carlos Ari SUNDFELD (Estatuto da cidade, p. 48), para solucionar conflitos de
competências federativas.
98
E, por conta disso, discordando agora do mesmo Carlos Ari SUNDFELD (Estatuto da cidade, p. 46-47), que
justamente faz coincidir direito urbanístico e política urbana, e esta com a regulação espacial do solo urbano. Há,
é certo, elementos importantes da política urbana que se relacionam mais ao direito ambiental, constitucional e
administrativo.
99
A título de exemplo, imaginemos que um incentivo fiscal à aquisição de automóveis seja concedido pelo
governo federal. Isoladamente aposta, tal medida denota justamente uma omissão em termos de política urbana
no plano federal, pelo aumento exponencial do volume de carros nas cidades, mas o direito urbanístico não
dispõe de institutos, normas ou princípios suficientes, até o momento, para a tal situação se contrapor. A política,
sim, no que insistiremos no capítulo 5.
100
Direito urbanístico brasileiro, p. 39-40.
101
Direito urbanístico, p. 38.
46
102
Ibidem, p. 45.
103
Direito urbanístico brasileiro, p. 233.
47
104
Art. 156, §1º da Constituição.
105
“Art. 40. (...)
§ 1o O plano diretor é parte integrante do processo de planejamento municipal, devendo o plano plurianual, as
diretrizes orçamentárias e o orçamento anual incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas.”
49
propriedade imóvel, o que se deflui dos outros preceptivos albergados no mesmo artigo) e a
imobiliária rural (artigos 184 e 186)106.
106
Como bem observa Fernando Dias Menezes de ALMEIDA (Estatuto da Cidade-comentários, p.42-43) há
uma definição material para a função social da propriedade imóvel rural (art. 186 da Constituição), e outra
apenas formal (posto que postergada para os planos diretores) quanto àquela imóvel urbana.
107
A efetividade da função social da propriedade urbana à luz do Estatuto da Cidade, p. 40 e 76.
50
verdade especialmente quanto àquela urbana. Tais estudos se deram ora de maneira analítica,
ora, o que de fato nos interessa, estabelecendo a crítica acerca do quão marcos legais do
passado ainda deitam influência concreta e efetiva na maneira como cresceram as cidades
brasileiras e seus paradoxos 108. Sonia Rabello de CASTRO tece inclusive observação deveras
instigante quanto a essa trajetória quando observa que
Isto ocorre, queremos crer, tanto por fatores ideológicos112 como também por uma
necessidade funcional da própria evolução e sobrevivência do capitalismo, na medida em que
é incompatível e inconcebível com o atual estágio da sociedade urbana uma forma diferente
de garantir o exercício individual do direito de propriedade.
Não custa lembrar mais uma vez que é do conceito de função social da
propriedade que deriva toda possibilidade de desenvolvimento do espaço urbano que se
alberga no direito urbanístico; reflexamente, é no urbano que a função social se manifesta em
sua maior plenitude, também como afirma José Afonso da Silva:
Até por isso, na busca de um índice de equilíbrio, anota Nelson Saule Junior
que “para a propriedade urbana atender sua função social é preciso que exista um grau de
112
Sem desprezar a relevância de tais elementos, postos em relevo por Edésio FERNANDES (Idem, p. 55-60),
dentre outros.
113
Disciplina jurídico-urbanística da propriedade urbana, p. 8, grifos no original.
52
114
Direito urbanístico, p.53. A definição ocorre no exame de um caso paradigmático: o uso habitacional em
regiões de mananciais hídricos.
115
Direito urbanístico brasileiro, p. 392.
116
Ibidem, p. 394.
117
Ibidem, p.407.
118
Não se confunda aqui com a ponderação de princípios no caso concreto, que será examinada mais adiante.
Trata-se, neste momento, de aferir o resultado da conduta.
53
limitações- mas sim de moldar alguns (os privados) a outros (os públicos). Como bem anota
Carlos Ari Sundfeld:
119
Temas de direito urbanístico-1, p. 11.
120
Direito administrativo ordenador, p. 53 e ss.
54
É digno de nota reparar quão poucos são os autores que se dedicam a buscar
um sentido para função social da cidade (FSC), na medida em que constitui o objetivo
primordial da politica urbana (ou “de desenvolvimento urbano”). Ou, eventualmente, o fazem
equiparando tal conceito ao de função social da propriedade. Ora, quando abordamos a função
social da propriedade, verificamos (item anterior) que se trata de uma conduta exigida do
proprietário, no sentido de que dê ao bem um uso adequado ao interesse da sociedade. Em
qualquer outro preceito constitucional a que se aluda à função social, pode-se vislumbrar o
detentor de um bem ou uma riqueza, que deve pautar sua relação com esse objeto numa
perspectiva que redunde em benefício a toda a sociedade.
“As funções sociais da cidade, na verdade, são interesses difusos, pois não há
como identificar os sujeitos afetados pelas atividades e funções nas cidades, os
proprietários, moradores, trabalhadores, comerciantes, migrantes têm como
contingência habitar e usar um mesmo espaço territorial, a relação que se
55
121
Novas perspectivas do direito urbanístico brasileiro, p. 61, com grifos nossos. Também com acento no
caráter difuso das funções sociais da cidade, inclusive colecionando jurisprudência esclarecedora, José Carlos de
FREITAS, Temas de direito urbanístico, p. 281 e ss.
122
Ibidem, mesma página, grifos nossos.
123
Para descrições do processo político e legislativo que redundou no capítulo da política urbana (art. 182 e 183
da Constituição) e no Estatuto da Cidade, em variadas versões e nuances, ver Grazia DE GRAZIA (Estatuto da
cidade e reforma urbana, p 15-38), Mariana MOREIRA (Estatuto da cidade, p. 27-43), Nelson SAULE
JUNIOR (Novas perspectivas do direito urbanístico brasileiro, p. 25 a 34) e Victor Carvalho PINTO (Direito
urbanístico, p. 112 a 117).
56
crescimento das cidades brasileiras, desde o início do século (item 3.4.1, “infra”). Mais ainda,
quando a urbanização apresenta elementos de depreciação e descontrole, no final dos anos 60
e início dos 70 do século passado, o temor da instabilidade política a eles associada fez com
que o regime de então (item 3.5.1, “infra”) iniciasse o processo de fundar esse regramento, ou
pelo menos corrigir o caráter assistemático do que então vigorava.
A primeira medida foi a edição da Lei 6766/79, ainda hoje em vigor com certas
modificações pontuais ao longo desse período, e também com uma revisão pouco mais
sistemática perpetrada pela Lei 9785/99. Logo em seguida, foi enviado ao Congresso
Nacional o Projeto de Lei (PL) 775/83, o qual trazia em seu bojo uma proposta de
regulamentação da função social da propriedade imóvel urbana e outros dispositivos, à FSPIU
relacionados, vários deles de cunho inédito para a conjuntura da época. Com efeito, já previa
diretrizes nacionais do “desenvolvimento urbano”, inclusive, (i) justa distribuição dos
benefícios e ônus da urbanização, (ii) regularização fundiária e urbanização específica de
áreas ocupadas por população de baixa renda, (iii) recuperação dos investimentos públicos de
que tenha resultado valorização de imóveis, e (iv) combate à ociosidade dos imóveis. E ia
mais além, tanto em temas estratégicos da urbanização (como o licenciamento, o potencial
construtivo e a definição do perímetro urbano), quanto nas funções da União e dos Estados
federados. Por fim, instituía alguns dos então chamados “instrumentos do desenvolvimento
urbano”, vários deles recepcionados após décadas, inclusive com aquela configuração
original, pelo Estatuto da Cidade.
nos referir), passou por algumas modificações, por força da integração dogmática com outras
normas124.
124
Mais especificamente alterações trazidas pela Lei 11.977/2009 (Programa “Minha Casa Minha Vida”) e
principalmente pela Lei 12.608/2012 (Politica Nacional de Proteção e Defesa Civil).
125
Por exemplo, certos instrumentos como os planos de desenvolvimento econômico e social e os incentivos
fiscais (art. 4º, III, “h” e IV, “c”) e a gestão orçamentária participativa (art. 4º, III, “f” e art. 44); o consórcio
imobiliário (art. 46); a ampliação das hipóteses de improbidade administrativa (art. 52); as questões registrárias
(artigos 55 e 56); a usucapião especial de imóvel urbano na perspectiva individual (art. 9º). O direito de
superfície é um capítulo à parte, tanto por envolver, “a priori”, interesses entre particulares, quanto por ter uma
regulamentação no Estatuto (artigos 21 a 24) e outra no Código Civil (Lei 10406/2002, artigos 1369 a 1377),
inclusive com certos conflitos entre eles -o prazo contratual pode ser indeterminado no Estatuto e é sempre
determinado no Código Civil, por exemplo. Assim, a aplicação de um ou de outro depende da circunstância, se
vinculado ou não à política urbana.
58
Por fim, o Capítulo V traz diversas disposições gerais, das quais a mais
relevante, a nosso ver, é a tipificação de novas condutas que poderão caracterizar improbidade
administrativa na execução da política urbana (art. 52).
126
São inúmeras as possibilidades de se utilizar instrumentos não relacionados no art. 4º para a execução da
política urbana. Por exemplo, a dação em pagamento em bens imóveis (art. 156, XI, da Lei 5172-Código
Tributário Nacional) pode ser uma simples forma de extinção do crédito tributário, mas também uma estratégia
de aquisição de áreas públicas para sustentação da política urbana no âmbito local com grandes vantagens em
relação à desapropriação.
59
127
O PL 3057/00, em trâmite na Câmara dos Deputados, propõe uma reconfiguração considerável da disciplina
nacional de parcelamento do solo urbano, com novas definições, institutos e relações (por exemplo, integrando o
licenciamento ambiental com o urbanístico), dentre dezenas de dispositivos. A intensidade dos debates visando
sua aprovação arrefeceu consideravelmente quando promulgada a Lei 11.977/09, a qual estabeleceu as bases da
regularização fundiária sustentável, um dos pontos centrais daquela propositura.
128
A começar pelo artigo 42-B, especialmente seu § 3º,introduzidos pela Lei 12.608/2012, determinando
diversas condicionantes à expansão do perímetro urbano e aos parcelamentos que se pretenda ali implantar.
129
Acerca do “lote” como ponto final de uma convergência entre o interesse do loteador e as regras de densidade
e edificabilidade, conforme o interesse público, e o papel essencial deste processo no desenvolvimento urbano,
ver Victor Carvalho PINTO (Direito urbanístico, p. 273-277, entre várias outras passagens).
60
130
A ilegalidade e a informalidade decorrem de fatores variados e combinados, inclusive a ineficácia da própria
legislação, como já comentamos. Pelo menos desde a década de 80, vários governos e organizações da sociedade
civil (com destaque para aquelas dos próprios moradores) encetaram esforços para enfrentá-los, mas nos marcos
postos pela legislação, adaptando-os e deles se apropriando, como as ZEIS (Zonas de Especial Interesse Social,
admitidas pela própria lei 6766/79) ou a concessão de direito real de uso (decreto-lei 271/67). O Estatuto deu um
grande impulso a tal movimento (por exemplo, regulamentando a usucapião urbana e a concessão especial para
fins de moradia, esta por força da Medida Provisória 2220), mas é apenas com a lei 10977/2009 que uma
estrutura sistemática legal e nacional se afirma.
131
Tipificar e quantificar a irregularidade está longe de ser objeto de consenso, no ambiente acadêmico mas
principalmente governamental (veja-se, por exemplo, José Carlos Alves da SILVA, Direito urbanístico e
ambiental, p. 271-278). A adoção de um dado critério é decisivo para a efetividade- ou não- da política pública
correspondente.
61
132
Regularização fundiária, p. 163, com grifos nossos.
133
A expressão pode variar em cada região: vila, maloca, etc.
134
Direito urbanístico e política urbana no Brasil, p. 235.
62
135
“ Art. 48. Respeitadas as diretrizes gerais da política urbana estabelecidas na Lei no 10.257, de 10 de julho de
2001, a regularização fundiária observará os seguintes princípios:
I – ampliação do acesso à terra urbanizada pela população de baixa renda, com prioridade para sua permanência
na área ocupada, assegurados o nível adequado de habitabilidade e a melhoria das condições de sustentabilidade
urbanística, social e ambiental;
II – articulação com as políticas setoriais de habitação, de meio ambiente, de saneamento básico e de mobilidade
urbana, nos diferentes níveis de governo e com as iniciativas públicas e privadas, voltadas à integração social e à
geração de emprego e renda;
III – participação dos interessados em todas as etapas do processo de regularização;
IV – estímulo à resolução extrajudicial de conflitos; e
V – concessão do título preferencialmente para a mulher.”
63
Mas há outra dimensão, tão intensa quanto despida de apelo, que subjaz
a este ambiente, quase que como veias e artérias de um corpo: a relação com a água e com o
recolhimento dos dejetos, ou, em resumo, o saneamento ambiental.
136
Os artigos 48 a 53, na verdade, tratam da politica federal de saneamento. Não é demais anotar que os custos e
a complexidade dos serviços de saneamento o tornam um dos com maior percentual de “federalização”; qual
seja, de dependência de estados e municípios em relação aos planos e recursos federais.
137
Para ficar apenas no terreno das competências constitucionais, artigos 21, inciso XX; 23, inciso IX,
combinado com seu parágrafo único; 24, inciso VI; e, em nosso paradigma, art. 182, “caput”. Por fim, o que a
lei mal tangencia, o artigo 200, inciso IV- o que não gera maiores prejuízos, a nosso ver, posto tratar-se de norma
de eficácia plena.
138
Luiz Henrique Antunes ALOCHIO (Direito do saneamento, p. 18-21) reporta interessante princípio não
explicitado, mas debatido na doutrina estrangeira, o da valorização, e que induz a se tratar os rejeitos como
matéria-prima relevante no ciclo de produção. Apenas no que tange aos resíduos sólidos, o princípio irá se
manifestar na Lei 12.305/2010, art. 6º, VIII.
64
regras (artigo 45, por exemplo, acerca da prioridade da ligação doméstica às redes públicas), a
inteligência da noção de universalização joga por terra, definitivamente, qualquer restrição à
implantação de serviços adequados de saneamento em áreas urbanas irregulares ou informais,
ou seu fornecimento em caráter precário, sob o argumento de “não incentivar a ocupação”. Ou
seja, irregularidade dominial ou urbanística não é, como não poderia ser jamais, fundamento à
restrição dos serviços.
139
Deliberadamente, a lei não declara o titular (se os Estados federados ou os municípios). Tal definição é
conflituosa quando se trata de regiões metropolitanas ou outras situações de integração regional A decisão
iminente no bojo da ADI 1842-RJ, ora tramitando no STF, deverá repercutir nesse tema, conforme anotamos em
rodapé no item 2.1, “supra”.
140
Direito urbanístico, p.148.
65
141
Resíduos sólidos, p. 1727, com grifos nossos.
142
“Art. 2o A Política Nacional de Mobilidade Urbana tem por objetivo contribuir para o acesso universal à
cidade, o fomento e a concretização das condições que contribuam para a efetivação dos princípios, objetivos e
diretrizes da política de desenvolvimento urbano, por meio do planejamento e da gestão democrática do Sistema
Nacional de Mobilidade Urbana.”
66
143
Atendendo ao artigo 23, parágrafo único da Constituição, e dentre os quais destacamos alguns dispositivos do
artigo 23 da lei:
“Art. 23. Os entes federativos poderão utilizar, dentre outros instrumentos de gestão do sistema de transporte e
da mobilidade urbana, os seguintes:
I - restrição e controle de acesso e circulação, permanente ou temporário, de veículos motorizados em locais e
horários predeterminados;
II - estipulação de padrões de emissão de poluentes para locais e horários determinados, podendo condicionar o
acesso e a circulação aos espaços urbanos sob controle;
III - aplicação de tributos sobre modos e serviços de transporte urbano pela utilização da infraestrutura urbana,
visando a desestimular o uso de determinados modos e serviços de mobilidade, vinculando-se a receita à
aplicação exclusiva em infraestrutura urbana destinada ao transporte público coletivo e ao transporte não
motorizado e no financiamento do subsídio público da tarifa de transporte público, na forma da lei;
(...)
VII - monitoramento e controle das emissões dos gases de efeito local e de efeito estufa dos modos de transporte
motorizado, facultando a restrição de acesso a determinadas vias em razão da criticidade dos índices de emissões
de poluição; (...)”.
144
Sintetizando os conceitos do decreto federal 7527/2010, podemos entender defesa civil como “ações
preventivas, de socorro, e de recuperação de desastres” e estes últimos como “eventos adversos, naturais ou
provocados pelo homem sobre um ecossistema vulnerável, causando danos humanos, materiais ou ambientais e
prejuízos econômicos e sociais.”
67
145
“Art. 16. Fica a União autorizada a conceder incentivo ao Município que adotar medidas voltadas ao
aumento da oferta de terra urbanizada para utilização em habitação de interesse social, por meio dos institutos
previstos na Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001, na forma do regulamento.
Parágrafo único. O incentivo de que trata o caput compreenderá a transferência de recursos para a aquisição de
terrenos destinados a programas de habitação de interesse social.”.
146
“Art. 23. É vedada a concessão de licença ou alvará de construção em áreas de risco indicadas como não
edificáveis no plano diretor ou legislação dele derivada.”
147
A Lei 6766/79 também foi alterada, no sentido de que “Nos Municípios inseridos no cadastro nacional de
municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou
processos geológicos ou hidrológicos correlatos, a aprovação do projeto de que trata o caput ficará vinculada ao
68
12.340/2010, não é exigível dos municípios, “a priori”. Uma vez inscrito, entretanto, (i) o
plano diretor torna-se obrigatório, conforme artigo 41 do Estatuto- redação dada pela Lei
12.608/2012- se já não o era por outros motivos, e (ii) o conteúdo mínimo do mesmo plano
diretor é ampliado- artigo 42-A do Estatuto, inserido pela Lei 12.608/2012. Para além do
cadastro, um artigo 42-B foi igualmente aposto ao Estatuto, estabelecendo regras acerca da
ampliação do perímetro urbano de qualquer município.
atendimento dos requisitos constantes da carta geotécnica de aptidão à urbanização” (art. 12, §2º, com redação
dada pela Lei 12.608/2012, e início da vigência após dois anos da promulgação desta ultima).
69
148
Este processo por vezes exaspera alguns profissionais daquilo que tradicionalmente se denomina como
“urbanismo”, ou seja, com formação em engenharia, arquitetura e mesmo outras ciências sociais, como a
geografia, a política e a sociologia. De início, estes esperam certezas e literalidades na interpretação e na
aplicação da norma jurídica. Aos poucos, compreendem que a norma não é, e nem dever ser, mera transposição
de um programa de ação determinado e determinável “de per si”.
70
Mas, afinal, o que estamos designando com “urbanismo”? Muito mais do que meras
questões de nomenclatura, deve-se perguntar: a qual conjunto de atividades relacionadas com
a cidade se referencia o Direito para construir um universo denominado “direito urbanístico”?
Trata-se de arte, ciência, técnica ou ramo da filosofia? Qual seu objeto, método e relação com
outras atividades sociais, entre elas a política e a economia? Quais desafios coloca, em
especial ao mundo jurídico, para a concretização de suas finalidades (se é que elas existem
“de per si”)? E, em especial: como evoluiu e se apresenta no mundo contemporâneo, em face
das cidades repletas de contradições, insuficiências e singularidades?
Ao longo desta etapa do trabalho, procuraremos descrever alguns dos temas e das
ideias mais estratégicos para uma análise crítica do fenômeno urbano como ele se apresenta
no mundo contemporâneo. O recorte adotado obedece à premissa empírica da influência de
tais temas e ideias na ação - política, econômica e social- que redundou na configuração atual
das cidades, especialmente as brasileiras, suas mazelas e potencialidades. Por suposto, nem
remotamente ambicionamos construir um quadro completo e acabado das diversas
concepções de cidade e seus rebatimentos; ou seja, não podemos substituir outras disciplinas,
mas tão somente com elas estabelecer pontes.
O percurso sobre tais temas e ideias não é linear, num ciclo demarcado de ascensão,
queda e abandono por parte dos cientistas e agentes políticos ou sociais. Ao contrário, há um
acúmulo, um retorno e por vezes um soerguimento de camadas já recobertas; processo longos
de maturação, acomodação e implementação; em certos momentos, como no presente, um
estilhaçamento de propostas e de teorias críticas, no aguardo (ou não) de nova consolidação.
Ainda assim, a perspectiva histórico-cronológica, além de nos permitir um enfoque
generalista, assumidamente adotado neste momento, ajuda a realçar a importância de duas
atitudes que julgamos essenciais.
149
Direito constitucional brasileiro, p.63.
72
150
Uma contribuição para a história do planejamento urbano no Brasil, p. 205.
151
Ibidem, p. 173.
152
Urbanismo, p. 50.
153
Ibidem, p. 92.
73
apenas a transposição em escala maior da lógica que deve guiar o projeto da casa. As
consequências desta máxima, por sinal, serão analisadas mais adiante.
Por seu turno, “reforma urbana” é locução empregada geralmente para designar
um momento e um movimento definidos do planejamento urbano no Brasil -mesmo que
pretendesse e ainda pretenda ir além disso, como também comentaremos adiante. Suas raízes
estariam nas “reformas de base” propugnadas ao final do governo João Goulart, e estampadas
em manifesto de 1963 patrocinado pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil- IAB ao cabo de um
congresso que reuniu inúmeros profissionais e pensadores no Hotel Quitandinha, em
Petrópolis-RJ, propugnando uma estratégia nacional e politizada de intervenção no espaço
urbano, centrada na habitação popular156.
154
Mudar a cidade, p. 57.
155
Ibidem, p. 59.
156
Luiz César de Queiros RIBEIRO e Adauto Lúcio CARDOSO, Planejamento urbano no Brasil: paradigmas e
experiências, p.86.
74
Paulatinamente, entretanto, foi ampliando seu escopo para os problemas fundiários e de uso e
ocupação do solo. Esse movimento foi essencial para a configuração dos marcos políticos e
jurídico-institucionais brasileiros acerca das cidades, como (i) o texto do capítulo “Da Política
Urbana” na Constituição, já anotado no capítulo anterior, (ii) a experimentação adotada por
diversos governos locais nas décadas de 80 e 90 em planejamento e gestão urbanos
reformistas, (iii) o advento das leis 10.257/2001,11.445/2007157 e outras, e por fim (iv) pela
criação do Ministério das Cidades e uma certa institucionalização da politica urbana158.
157
Além da lei 11.124/05, que regula o Sistema e o Fundo Nacionais de Habitação de Interesse Nacional
(SNHIS/FNHIS), e da também do marco legal da regularização fundiária (artigos 53 a 58 da lei 11977/2009)
158
Erminia MARICATO, O impasse da politica urbana no Brasil, p. 136 e ss.
159
Ibidem, p. 163, também ressalvando desvios mais recentes do movimento da “reforma urbana”, como um
excessivo apego aos planos diretores municipais enquanto ponto focal do planejamento.
75
primeiro pela segunda, como bem adverte Marcelo Lopes de Souza160 pode escamotear, em
verdade, uma inaceitável abstenção quanto ao planejamento.
O plano urbanístico é muitas coisas ao mesmo tempo e, como tal, tem posto
muitos críticos em dificuldades. É imagem do futuro da cidade e do território,
antecipação do que esses poderiam ser ou que se desejaria que fossem. É
programação das intervenções que são consideradas necessárias para realizar
essa mesma imagem e satisfazer os desejos, as demandas e as necessidades
que esta tenta interpretar. É distribuição de incumbências(...) conjunto de
regras(...).”161
160
Ibidem, p. 46-47
161
Primeira lição de urbanismo, p. 132
162
Ibidem.
163
Flávio VILLAÇA (Uma contribuição para a história do planejamento urbano no Brasil, p. 175) também
busca apartar as duas realidades, acentuando o caráter do projeto enquanto execução.
76
enfrenta. Henri Lefebvre cita várias situações onde malogra a síntese de saberes, por
decorrências das próprias ciências afins, seus métodos e premissas:
164
A revolução urbana, p. 55-56.
77
econômica, turismo à frente, tem origem, para Henri Lefebvre165, em difusa perplexidade que
acomete o habitante da cidade com o processo que rompeu a lógica da cidade essencialmente
politica a partir do XIX: sua captura pela industrialização.
Indo mais além, David Harvey168, anota que as cidades são tanto
produto quanto condição das mudanças sociais decorrentes do processo de acumulação de
capital e formação de excedentes. Neste sentido, as decorrências do chamado “capitalismo
tardio” ou do “modo de acumulação flexível” também se fazem sentir nas cidades.
165
Direito à cidade, p. 19 e p. 101. A relação paradoxal dos habitantes da cidade com seu passado edificado é
pontuada por vários outros autores, entre eles David HARVEY (Condição pós-moderna, p. 271).
166
Dentre outros, Manoel CASTELLS (A questão urbana, p.64, e várias outras passagens). Porém, nos aspectos
quantitativos, a relação entre industrialização e urbanização não é assim tão direta. O próprio CASTELLS
(ibidem, p. 55-57) nota como nos países periféricos surgem “cidades parasitárias”, onde a hiperurbanização se dá
acima do nível de industrialização.
167
A produção social do espaço urbano, p. 32.
168
A produção capitalista do espaço, p. 165. O mesmo HARVEY (ibidem, p. 151-152), assim como
GOTTDIENER (ibidem, p. 211 e 222), demonstram que certos acordos (entre capital e trabalho) e divergências
(entre setores do capital), inconcebíveis no plano mais geral das disputas econômicas, acabam ocorrendo em
“alianças para o desenvolvimento local” nas cidades ou regiões. Isso só reforça o quão simplório pode ser a mera
transposição dos arranjos políticos e ideológicos globais para o campo do planejamento urbano.
78
A parte final da citação acima, por nós grifada, já aponta para outro
aspecto da interação entre a cidade e o processo produtivo, e que será igualmente decisivo
para nossa análise: a cidade, mais especificamente o solo urbano e a partir da industrialização,
deixa de ter apenas um valor de uso, predominante no passado, e passa a ter um valor de
troca171, inserindo-se decisivamente na circulação de capital e sendo por isso mesmo moldado
em função de sua dinâmica. Em grande número de casos a lógica dos urbanistas e a dos
financistas caminham juntas, ora uma precedendo a outra, o que já demonstrou na prática Jane
Jacobs172.
O período que vai do fim das guerras napoleônicas até as revoluções de 1848
(na França, Alemanha, Itália, Áustria, dentre outros países) foi de intenso crescimento
demográfico e reorganização espacial na Europa, especialmente nas regiões industrializadas,
com expansão das cidades por força da migração a partir do campo. Atraídos pelas novas
atividades, os trabalhadores (operários, mas não só) ocupavam desordenadamente os espaços
vazios dos bairros já implantados ou geravam periferias desordenadas. Esse período vibrante
gerou igualmente um número considerável de propostas idealistas (no bojo do “socialismo
utópico”) acerca de novas formas de organização política e social, veiculadas por nomes
como Saint-Simon (talvez o primeiro a enunciar a ideia da função social da propriedade),
Robert Owen, Charles Fourier, Pierre-Joseph Proudhon e Etiene Cabet. A maioria dessas
propostas é focada nas virtudes da vida comunitária e, portanto, em concepções também
utópicas sobre a cidade e a habitação ideais175. Algumas chegaram mesmo a se implantar pelo
esforço de seus inspiradores e seguidores, mas fracassaram logo em seguida, ao menos se
considerarmos o critério de expansão e adesão176. No campo ideológico e político, e por
vários anos seguintes como veremos, a influência de tais iniciativas foi intensa, e perdurou
por vários anos seguintes, como veremos.
174
Neste sentido, Jane JACOBS (Morte e vida das grandes cidades, p. 335 e ss.), Flávio VILLAÇA (Uma
contribuição para a história do planejamento urbano no Brasil, p. 175), dentre outros.
175
Françoise CHOAY (O urbanismo, p. 61 e ss.) a eles se refere como “pré-urbanistas progressistas”.
176
Leonardo BENEVOLO, As origens da urbanística moderna, p. 51 e ss.
80
177
Cidades do amanhã, p. 50.
81
de largas avenidas, tanto ali quanto na periferia178. As obras duraram de 1853 a 1869, criando
o paradigma (“in casu”, o próprio Haussmann) do engenheiro movido por razões puramente
técnicas, e, portanto, conservador em relação àqueles utopistas do período anterior.
178
Foram 95 quilômetros de vias no perímetro tradicional da cidade, e outros 70 em espaços periféricos para
serem ocupados posteriormente na periferia (conf. Leonardo BENEVOLO, História da cidade, p. 589).
179
História da cidade, p. 631.
180
Da “questão social” aos “problemas urbanos”, p. 28. Se à mente do leitor vierem as dificuldades de
remoções em favelas no presente por motivos idênticos, não terá sido por acaso.
82
processo desencadeado cerca de um século antes pela industrialização e que redundara nas
grandes cidades. Com este viés, destaca-se a vertente representada por Ebenezer Howard e a
“cidade-jardim”, ou a proposta de uma pequena comunidade que representasse a união
perfeita entre o urbano e o rural, planejada e totalmente setorizada e integrada numa lógica
rigorosa. Em grande medida, a proposta se nutria dos utopistas, mas ia muito além quando
destacava o conceito cultural de cidade, a par dos aspectos materiais como o oferta de
moradia e alimentação181. Sua influência se faria sentir enormemente no futuro próximo,
ainda que não exatamente como concebida.
Mas é Frank Lloyd Wright que introduz um elemento essencial à essa crítica
da cidade degrada: o individualismo, e também a proposta de diversificação dos espaços de
moradias, integrados à natureza inclusive no que se refere ao uso dos materiais de construção.
Na definição de Susan Faistein e Scott Campbell,
“Frank Lloyd Wright stands betwen Howard and Le Corbusier, at least in age.
If Howard’s dominant value was cooperation, Wright’s was individualism. And
no one can deny that he practiced what he preached.(…). Wright wanted the
whole United States to become a nation of individuals.”182 183
181
Por isso mesmo classificado como “urbanismo culturalista” por Françoise CHOAY, ibidem, p.27.
182
Urban utopias in the twentieth century, p. 35.
183
Frank Lloyd Wright está entre Howard e Le Corbusier, pelo menos no tempo. Se o valor dominante de
Howard era a cooperação, o de Wright era o individualismo. E ninguém pode negar que ele praticava o que
pregava. (...). Wright queria que os Estados Unidos se tornassem uma nação de indivíduos. (versão de nossa
autoria).
83
Por fim, mas não com menor importância, cabe uma referência a duas
concepções aparentemente contraditórias.
184
Ibidem, p. 35-36, com grifos nossos.
185
Sua cidade planejada, a qual ele chamou de “Broadacre”', levou a descentralização para além da pequena
comunidade (o ideal de Howard), para a casa da família dos indivíduos. Nas “Broadacres”, todos têm o direito a
tanta terra quanto puderem usar, com um mínimo de um acre por pessoa. (...) Uma rede de autoestradas une
elementos dispersos da sociedade. Wright acreditava que a individualidade deve ser fundada sobre a propriedade
individual. (versão de nossa autoria)
186
Peter HALL, Cidades do amanhã, p. 211-215.
187
Ou seja, Sitte se mostra despregado da ênfase racional que já se tornava hegemônica. Justamente por isso,
será recuperado posteriormente, quando da crítica àquela linha.
84
188
Belo Horizonte, cidade planejada dentro do conceito de Haussmann de largas avenidas e bulevares com
urbanização controlada na periferia, só foi inaugurada em 1897. O plano original projetava uma população de
100.000 habitantes, e não os atuais 2.375.344 habitantes aferidos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) no censo de 2010.
189
A urbanização brasileira, p. 21-22. No período de 1872 a 1900, conforme o mesmo autor, a população urbana
passou de 5,9 para 9,4%, de um total, no início do século, de pouco mais de 17 milhões de pessoas. De qualquer
forma, a urbanização se iniciava e acelerava.
190
O Plano Municipal de Habitação de São Paulo assume a persistência, ainda, de 80.389 domicílios em cortiços
(http://www.habisp.inf.br/theke/documentos/pmh/pmh_versao_outubro_2011_pdf/PMH, acesso em 22/09/2012.)
191
A cidade e a lei, p. 37 e 60.
85
Ainda que míope, esse movimento tinha uma finalidade. Nas palavras
da mesma autora:
Para além disso, mas com essa diretriz associada, estava a preocupação
com a rentabilidade dos imóveis nessa região central193, no que São Paulo acompanhava
portanto a emergência do mercado imobiliário acoplado às obras de remodelação urbana (item
2.3, “supra”).
192
Ibidem, p. 37.
193
Ibidem, p. 42-44.
194
Uma contribuição para a história do planejamento urbano no Brasil, p. 197.
195
Ibidem, p. 194 a 197.
86
“(...) portanto, penso bem friamente que cumpre chegar a essa ideia de
demolir o centro das grandes cidades e de reconstrui-lo, e que cumpre abolir o
cinturão miserável dos subúrbios, transportar estes para mais longe e, no local
em que estavam, instituir, pouco a pouco, uma zona de proteção livre que, no
momento oportuno, dará perfeita liberdade de movimentos(...)”.198
196
Já presente nas décadas anteriores, mas que só nesse momento incorpora a expressão como marca, conforme
anotamos no item 2.1, “supra”.
197
Condição pós-moderna, p. 24 e 36-37, mas também Jurgen HABERMAS (Arquitetura moderna e pós-
moderna, p. 118).
198
Urbanismo, p. 87.
87
“(...)e daqui até lá permitirá constituir a preço baixo um capital cujo valor
decuplicará e mesmo centuplicará. Se o centro das cidades é o capital
intensivamente ativo com o qual especula a bolsa desenfreada da especulação
privada (o caso de Nova York é típico), a zona de proteção constitui nos autos
da municipalidade uma reserva financeira formidável”199.
199
Ibidem, p. 88.
200
ibidem, p. 36.
88
atributos, é alçado à condição de cânone, ainda que já tenha precedido os modernistas desse
período enquanto norma e diretriz201 e até mesmo na prática de alguns planos.
Entre os nomes principais do movimento estão Walter Gropius e Mies Van der
Rohe (Escola Bauhaus), mas principalmente Le Corbusier. É a doutrina deste ultimo (mas
também de outros comentados nos itens anteriores) que sintetizará os desdobramentos mais
estratégicos para o urbanismo nos anos seguintes. É nele também que encontraremos a defesa
enfática e radical do modernismo como acima o caracterizamos; na verdade, o próprio Le
Corbusier se encarregou de estabelecer tal formato, com seus livros, sua atuação e projetos,
dos quais poucos saíram do papel. O principal deles, a chamada “Cidade Radiosa”, resumia
muito de seu pensamento: verticalização total das construções, deixando amplos espaços
verdes e para circulação de automóveis; padronização das construções, especialmente das
moradias (que ele chamava de “células” ou “máquinas de morar”), inclusive quanto ao
mobiliário; e uma divisão não apenas de funções, mas, sobretudo, de classes. A rua, para Le
Corbusier, era apenas uma artéria para o tráfego dos automóveis, sendo outros os espaços (e
também apartados por classes sociais) de convivência social.
201
Ver, no item anterior, as propostas de Tony Garnier.
202
Não foram os primeiros, porém. Charles Booth já fizera um trabalho de coleta e sistematização detalhada de
dados sobre a pobreza na Londres vitoriana (como relata Peter HALL, Cidades do amanhã, p.31)
203
Manuel CASTELLS, Problemas de investigação em sociologia urbana, p. 31 e ss.
204
Interessante síntese pode ser conseguida em Wagner Cinelli de Paula FREITAS (Espaço urbano e
criminalidade), inclusive com análise das teorias ao contexto das cidades brasileiras.
89
205
A urbanização brasileira, p. 25.
206
A cidade e a lei, p. 149. O estudo que apontava essa situação foi conduzido por Luis de Anhaia Mello, um dos
mais proeminentes urbanistas e então prefeito da capital.
207
Ibidem, p. 173.
90
Paulo208. Ambos - assim como as propostas para Salvador e Porto Alegre, já na década de
1940- marcam o início dos planos enfaticamente voltados para a estipulação de obras de
infraestrutura, ao contrário do mero embelezamento estético que marcara o período
anterior209. Entretanto, e ao contrário do plano de Pereira Passos, não foram executados por
completo, mas apenas na dimensão viária.
208
Dizemos impropriamente pois, como relata Flávio VILLAÇA (Uma contribuição para a história do
planejamento urbano no Brasil p. 209) seu conteúdo ultrapassava a dimensão do sistema viário que direcionou
o espraiamento horizontal da cidade, propondo também um sistema de transportes, a retificação do rio Tietê,
habitação popular, zoneamento e até fundamentos de uma legislação urbanística. O Plano Agache, por sinal,
além de também amplo, é o primeiro a propor uma legislação nacional de urbanização.
209
Flávio VILLAÇA, ibidem, p.199.
210
Ibidem, p.204. E fez e ainda faz, em certa medida. Ao plano-discurso, explícito e ideológico, corresponde um
outro, implícito e real, como bem assevera Ermínia MARICATO (As ideias fora do lugar e o lugar fora das
ideias, p. 124). Aquele (o discurso) é rígido e completo, ao passo que este (o real), pragmático e maleável ao
sabor de interesses corporativos ou de classes, é como de fato a infraestrutura se implanta e as ações da
administração pública se concretizam.
211
Condição pós-moderna, p.69 e ss.
91
conflito, o da descentralização ao longo de prolífica rede rodoviária. Agora, porém, tal prática
é também fortemente incentivada pelo governo central, ao contrário do que normalmente se
imagina, como afirmado por Peter Dreir “et alli”:
212
Place matters, p. 103. Neste sentido também CULLINGWORTH e CAVES (Plannig in the USA, p.40) Por
seu turno, Robert BRUEGMANN (Sprawl: a compact history, p. 96 a 112) elenca uma série de outros fatores, a
saber (i) atitudes antiurbanas e racistas, (ii) fatores econômicos relacionados à construção civil, (iii) advento de
novas tecnologias de comunicação e (iv) a ascensão econômica da classe média como elementos que se
somariam à política governamental deliberada para a ocupação de baixa densidade. Conclui no sentido de que a
suburbanização se deve à somatória destes fatores, mas gasta a maior parte da argumentação justamente para
analisar o fator “ação governamental”.
213
Aqui examinamos quatro políticas urbanas dissimuladas: transporte, gastos militares, os programas do
governo federal para promover a aquisição de casa, e o fracasso federal para reduzir a discriminação racial na
habitação. Nenhuma dessas políticas foi destinada especialmente a moldar o desenvolvimento urbano, mas cada
uma teve profundos impactos urbanos. Na realidade, estas políticas federais subsidiavam o êxodo suburbano da
América pós-guerra (e ainda o fazem), empurrando as pessoas e empresas fora das cidades e puxando-os para os
subúrbios. A ideia de que isso acontece puramente como resultado do livre mercado é um mito. (versão de nossa
autoria)
92
214
Direito à cidade, p. 101. A obra é de 1968, quando esta situação já se disseminara em um sem-número de
cidades e regiões.
93
Sob a aparente desordem da cidade tradicional, existe, nos lugares em que ela
funciona a contento, uma ordem surpreendente que garante a manutenção da
segurança e da liberdade. É uma ordem complexa. Sua essência é a
complexidade do uso das calçadas, que traz consigo uma sucessão permanente
de olhos”.215
Jacobs reagia a um processo de fato acumulado, mas que no caso dos EUA e
especialmente de Nova Iorque (onde ela residia) movimentou bilhões de dólares na
remodelação de bairros e regiões inteiras, e ficou simbolizado na figura de Robert Moses,
verdadeiro ícone do planejamento centralizado e autocrático217 no período pós-guerra e até o
final da década de 1960.
215
Morte e vida das grandes cidades, p 52.
216
Ibidem, p. 491.
217
Peter HALL (Cidades do amanhã, p. 269-270), a par de elucidar valores e obras integrantes das grandes
intervenções capitaneadas por Moses, elucida que a reação de Jacobs se deu justamente porque aquele, numa de
suas remodelações urbanas, pretendia demolir o quarteirão onde ela morava.
94
218
Mudar a cidade, p. 29 e 31. Não estamos, evidentemente, a afirmar que gestão e planejamento são exclusivos
respectivamente de uma ou outra corrente, e o autor justamente defende o contrário. Apenas fica claro como
cada ideologia pode se apropriar de um conceito, e dar a ele o uso que lhe for mais conveniente.
219
A urbanização brasileira, p. 27-28.
220
Uma contribuição para a história do planejamento urbano no Brasil, p.177.
95
221
Ibidem, p. 214.
222
Celso LAMPARELLI, Louis-Joseph Lebret e a pesquisa urbano-regional no Brasil.
223
Extraído da transcrição do relatório perpetrada por Armando J. BUCHMAN (Lúcio Costa, o inventor da
cidade de Brasília”, p. 61).
96
224
Do urbanismo à política urbana: notas sobre a experiência brasileira, p. 48.
225
Essa foi a tônica do Seminário “O homem e a cidade”, promovido pela Fundação Milton Campos, órgão do
partido de apoio ao regime (Aliança Renovadora Nacional-ARENA) entre 25 e 28 de novembro de 1975, cujos
97
mas que também (ii) permitisse uma desconcentração de atividades para cidades médias,
evitando a crise que já avizinhava-se, na produção e consumo, assim como na política,
fundada na insatisfação dessas mesmas populações.
anais foram publicados no ano seguinte. A lei nacional de parcelamento do solo urbano (Lei 6766/79) e mesmo a
primeira proposta de norma geral sobre urbanismo (PL 775/83, arquivado no final da década) são
desdobramentos desse processo.
226
Ibidem, p. 50.
227
Uma contribuição para a história do planejamento urbano no Brasil, p.221. Um dos paradigmas dessa
inoperância foi o plano paulistano de 1971, denominado de PDDI (Plano de Desenvolvimento Urbano
Integrado).
98
Já David Harvey, também na década de 80, vai ainda mais longe: o pós-
modernismo é mais uma correção de rota daquilo que ocorreu até o final da década de 60; há
mais continuidade que ruptura entre modernismo e pós-modernismo, este ultimo enfatizando
o lado (i) efêmero, (ii) fragmentário e mesmo caótico230 das transformações havidas, de fato,
do modo de acumulação capitalista, e também de regulamentação, do fordismo-keynesiano
em direção ao “modo de acumulação flexível”231.
228
A cidade do pensamento único, p. 171.
229
Arquitetura moderna e pós-moderna, p. 122.
230
Condição pós-moderna, p.112,
231
Ibidem, p.119.
232
Ibidem, p. 263.
99
simbólicas, numa aceitação de diferenças e nuanças como nunca antes (raças, opção sexual,
etc.)233. Os eventos de intolerância, todavia, mostram o quão frágil é esse equilíbrio.
Os efeitos desse novo “modus vivendi” são por vezes paradoxais, mas não
vemos como não enxergar consequências graves. Anota o mesmo David Harvey que:
233
Ibidem, p. 109.
234
Ibidem, p. 271, com grifos nossos.
235
E que, na verdade, emprestamos de Marcelo Lopes de SOUZA (Mudar a cidade).
100
uma mera soma de esforços que convergem para certa finalidade. Em suma, o uso e ocupação
do solo é central, mas os dois movimentos o utilizam (de maneira oposta) como plataforma
para ir além dele.
236
O impasse da politica urbana no Brasil, p. 121-125.
237
Direito à cidade, p. 14.
101
238
Ibidem, p, 110-114.
239
Problemas de investigação em sociologia urbana, p. 142.
240
A produção social do espaço urbano, p. 197 e ss.
102
Uma advertência necessária é que não há, como bem delineado por
Mark Gottdiener243, um bloco coeso no que tange aos interesses do capital quando tratamos de
sua relação com o solo urbano; ao contrário, ele se mostra fragmentado e por vezes até em
campos (ou “coalizações”, com prefere o autor) opostos. Porém, o setor dos proprietários de
imóveis tem, evidentemente, um papel decisivo nesses arranjos.
241
Cidades do amanhã, p. 407.
242
Conf., dentre outros, David HARVEY (A produção capitalista do espaço, p. 167-168).
243
Ibidem, p. 211 e ss.
244
É interessante observar como zonas portuárias se prestam a “grandes projetos de revitalização”, em regra de
forma repetitiva quanto às suas diretrizes- abrigo de restaurantes, centros culturais, lojas, museus, comércio em
geral.... Porto Madero (Buenos Aires-Argentina); Granville (Vancouver-Canadá); Belém (Estação das Docas), e,
ainda em desenvolvimento quando da elaboração deste trabalho, a Operação Urbana Porto Maravilha, no Rio de
Janeiro, entre inúmeros outros exemplos, numa demonstração da persistência de certo padrão. À monotonia
habitacional, decorrente dos projetos modernistas, parece corresponder hoje a monotonia do consumo.
103
245
A produção capitalista do espaço, p. 155 a 165.
246
A cidade do pensamento único, p. 17.
247
Mudar a cidade, p. 287.
248
A produção social do espaço urbano, p. 222.
104
249
“Planejamento estratégico” é expressão oriunda do pensamento de esquerda, apropriada e divulgada por
Carlos Matus, assessor de Salvador Allende quando presidente. Tinha (e tem) a grande vantagem em relação ao
planejamento regulatório por sua característica “situacional”, ou seja, de adaptação das ações frente a realidades
mutantes. Posteriormente, foi incorporada pelas grandes corporações econômicas, e após este “filtro” é que
desembarcou nas propostas de desenvolvimento urbano.
250
Acerca da ideia de “cidade global”, e das diversas acepções que isso pode adquirir, ver Georges BENKO
(Economia, espaço e globalização na aurora do século XXI, p.67-86.)
251
Gestão contemporânea, p. 85.
252
Gestão contemporânea, p. 84, dentre outras passagens.
105
253
A cidade do pensamento único, p. 89-90, com grifos nossos.
254
Ibidem, p. 45
255
A produção capitalista do espaço, p. 185.
256
Gestão contemporânea, p. 96. Dizemos inexequíveis na medida em que nos parece incompatível a
universalização de certos serviços, por exemplo o saneamento ambiental, se for dada como premissa a
lucratividade, essencial à lógica empresária mas inviável na oferta e manutenção tendo por público as camadas
mais pobres.
106
257
Combinação entre crescimento baixo e inflaçãoalta.
107
258
Mudar a cidade, p. 158.
259
A posição é expressa em obra de 2001.
260
Uma contribuição para a história do planejamento urbano no Brasil, p. 238.
261
Reforma urbana e gestão democrática, p. 14.
262
Ibidem, p. 54.
108
ainda que tendo nelas o ponto de convergência. Programas de geração de emprego e renda, de
saúde e educação, de incremento da participação popular e do controle social são igualmente
relevantes. De outra parte, ainda que a resolução do problema da moradia inadequada seja
central e mesmo o grande impulsionador, o planejamento urbano em si incorpora valores
estratégicos como o combate à especulação imobiliária e aos vazios urbanos, a relevância
estratégica da mobilidade urbana, ou a reversão da degradação ambiental. Enfim, se trata de
combater a exclusão socioespacial, em todas as suas manifestações.
263
O impasse da política urbana no Brasil, dentre outros escritos.
264
Ibidem, p. 101,107-109 e 139-144.
265
Ibidem, p.25-34 e 42 e seguintes.
109
A pergunta que introduz este item constitui, como se observa, mero uso
literário da expressão “fim da história” consagrada pelo filósofo e economista norte-
americano Francis Fukuyama, e amplamente utilizada (especialmente por setores
conservadores, mas também pela mídia) no início dos anos 90.
266
Ibidem, p.83-86, 151-156.
267
Ibidem, p. 69 e ss.
110
268
O Estatuto da Cidade e a questão urbana brasileira, p. 17-18.
269
Uma excelente visão da estrutura da propriedade como produtora de renda fundiária pode ser encontrada em
Boaventura de Souza SANTOS (O Estado, o direito e a questão urbana, p. 41-73), em especial da diversidade
de formas com que se dá a relação entre o capital e a propriedade fundiária.
270
Em nossa atividade profissional buscávamos apresentar aos servidores públicos responsáveis pela aprovação
de projetos a seguinte metáfora: um dia a mais de análise, ou uma exigência suplementar para o licenciamento de
um grande empreendimento, passa a influir decisivamente na queda ou na alta das cotações do mercado de
111
capitais. Daí para compreender a disparidade no debate entre administração e planos locais e os interesses
empresariais envolvidos, é apenas um passo.
271
A cidade do pensamento único, p. 140, entre outros escritos. Como desdobramento importante, da mesma
autora “não é por falta de leis que a maioria da população urbana foi historicamente excluída da propriedade
formal da terra, no campo ou na cidade, no Brasil” (O impasse da politica urbana, p. 95).
272
Como sobejamente demonstrado por David HARVEY (A produção capitalista do espaço urbano, p. 136-
150).
112
A quarta e ultima decorre das anteriores, mas é das mais palpáveis. Trata-se de
constatar o impacto decisivo e vinculante de movimentações econômicas mundiais, mas
sobretudo de políticas nacionais na estruturação das cidades, estas ultimas bem mais ao
alcance do processo decisório democrático.
113
Assim, para este capítulo selecionamentos três temas, entrelaçados, mas que de regra
trafegam independentes como preocupações mais agudas nos campos acadêmico, politico e
cultural. Assim o fizemos posto o papel transformador que vêm exercendo, e por serem
assuntos transversais em relação ao nosso objeto principal, qual seja, o território das cidades e
as atividades que com ele dialogam. Como pretendemos deixar claro no capítulo anterior, a
cidade é um produto de circunstâncias e fenômenos mais complexos do que apenas o
crescimento demográfico.
que não deixa de causar certa perplexidade. Mas isso é necessário quando tais bases não mais
se mostram firmes o suficiente para avanços desejados pela sociedade.
O período que vai do final da Segunda Guerra até, pelo menos, a primeira
crise do petróleo (1973) foi de intenso e quase contínuo crescimento econômico, isso se
considerarmos genericamente os chamados “países centrais” (Europa ocidental, Japão e EUA-
não estamos considerando a “cortina de ferro”, ou países de economia centralizada como
Rússia, China e leste europeu, mas o processo era semelhante) e mesmo suas respectivas
periferias (dentre elas o Brasil). Aqui e ali, crises afloravam, como, por exemplo, nos anos de
1958 e 1966, mas decorrentes de problemas de superprodução, e superadas logo em seguida
pela criação de demanda. De qualquer forma, pairava uma sensação de que o sistema
funcionava a contento. As discussões sobre qual seria o melhor rumo das políticas e
estratégias de cada Estado se davam em torno de modelos mais ou menos definidos, todos
(genericamente agrupados em capitalistas ou socialistas) com argumentos válidos para
sustentar suas vantagens. Eventualmente, foi um ciclo de adiamento artificial das crises
cíclicas e globais do capitalismo, como depois aventaram certos pensadores marxistas.
Nesse mesmo período (e mesmo logo em seguida, por inércia), não por
coincidência, vicejou o desenvolvimentismo na forma de grandes obras de infraestrutura,
inclusive urbanas (rodovias, metrôs, grandes conjuntos habitacionais e até novas cidades) de
maneira a alocar o capital excedente e adiando então as crises 273. A unanimidade do
planejamento racional e centrado no ente estatal, em regimes capitalistas ou socialistas, seguiu
a reboque.
273
David HARVEY, O enigma do capital, p. 137 e ss.
274
Paul KRUGMAN, A crise de 2008 e a economia da depressão, p.188 e ss.
115
gatilho desses eventos recentes275 foi a difusão de “ativos tóxicos”, ou títulos acoplados em
compromissos duvidosos, que se originavam, por sua vez, da oferta exponencial de crédito
fácil a tomadores sem lastro, a par de garantias também infladas artificialmente, os chamados
“subprime”. O risco, inerente à oferta de crédito, era dissolvido em inúmeras operações
cruzadas e de rastreamento difícil. Como descreve Paul Krugman:
275
Ainda não encerrados, quando da elaboração deste trabalho. A crise deflagrada em 2008 aparenta ser daquelas
em “W”, como designam alguns economistas. Ou seja, à uma primeira queda da atividade econômica, as
autoridades reagem com medidas de cunho financeiro e monetário, e que recuperam no primeiro momento os
fluxos de capital e a confiança dos agentes. Logo em seguida, porém, fatores não resolvidos, ou a insuficiência
das medidas, jogam novamente a economia para uma recessão, como a observada na União Europeia em 2012.
276
Ibidem, p. 155-157.
116
277
Ibidem, p. 86.
278
Ibidem, p. 65, entre outras passagens.
117
Reunir as duas anotações acima pode ser um passo importante para um inicio
de análise das reações da economia brasileira, senão ao ciclo todo, em relação ao qual o saldo
parece extremamente negativo, mas pelo menos à nova etapa, a partir de 2008.
Uma possível resposta pode ser o fato de que a China se recuperou mais
rápido e com maior sucesso que outros países. Neste sentido, portanto, o Brasil continuou
como um vendedor ativo e em quantidades imensas de “commodities” para aquele imenso
mercado, em especial quanto a grãos e minérios, como anotou David Harvey280, com
consequências positivas para a balança comercial no primeiro momento, mesmo considerando
que este perfil exportador não gere bases sólidas e, mais à frente, possa vir a soçobrar. De
279
Ibidem, p. 19, com grifos nossos.
280
Ibidem, p. 213 e 220-221.
118
281
Ibidem, p.184-185.
282
Marcelo NERI, A nova classe média, p. 84-85.
283
Ibidem, p. 24-29.
119
reprodução da força de trabalho mediante o acesso a bens não duráveis284, e, no período entre
1958 e 1969, mesmo com redução do poder individual de compra285, houve um incremento da
possibilidade de aquisição de bens duráveis, pela duplicação (familiar) da força de trabalho. O
fenômeno, no presente, é de outra ordem e consequências.
284
Crítica à razão dualista/o ornitorrinco, p.50.
285
Ibidem, p. 88.
286
Nova classe média? p.31 e ss.
287
Reconquistar a cidade, p. 31.
288
Ibidem, p. 126
289
Ibidem, p. 168 e ss.
120
“A luta pela vida na Terra vai ser vencida ou perdida nas cidades”.
290
Ou por ele disseminada, cuja formulação mais ampla pode ser encontrada, dentre outros, em
http://redaalc.com/biodivurbana/curitiba/discurso_ciudades_biodiversidad_2010_port.pdf, acesso em
24/12/2012.
291
Não sinônimas, com certeza. A primeira se aproxima do crescimento econômico, ao contrário da segunda, o
que debateremos logo adiante.
292
Na feliz expressão de Onaldo Franco JANOTTI (Conceitos indeterminados e origem lógico-normativa da
discricionariedade, passim).
121
problemas como pobreza e endividamento externo (típicos àqueles países) assumiram outro
patamar nesse debate. Portanto, a noção de desenvolvimento sustentável teve como berço um
ambiente politizado, e não técnico, propondo naquele momento o crescimento ordenado como
solução, e não causa da degradação ambiental299.
O ponto de inflexão deu-se com a Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento (Unced) no Rio de Janeiro, em 1992, quando então a posição
dos países desenvolvidos acabou prevalecendo, posto que mantiveram sob seu controle- por
via de acordos bilaterais ou através do Banco Mundial- os recursos e a transferência de
tecnologia necessários à diminuição de impactos ambientais300. Para eles (países do norte),
nas palavras de Nobre:
299
Desenvolvimento sustentável, p. 21-48.
300
Ibidem, p. 49-61.
301
Ibidem, p. 63.
302
Ainda que mais tinta seja utilizada nas questões históricas, diplomáticas e econômicas, NOBRE também
argumenta com outros fatores que mostram como a economia neoclássica é capaz (ibidem, p. 77) de construir um
discurso convincente e racional, no sentido de tratar os problemas ambientais como sempre tratou outros
obstáculos à acumulação: internalizando custos.
123
303
Nova rodada de divulgação de relatórios deve ocorrer entre o final de 2013 e início de 2014.
304
No final de abril de 2012, em entrevista concedida à rede norte-americana de TV MSNBC
(http://worldnews.nbcnews.com/_news/2012/04/23/11144098-gaia-scientist-james-lovelock-i-was-alarmist-
about-climate-change?lite, acesso em 12/12/2012), LOVELOCK reconheceu que as transformações não estavam
ocorrendo na velocidade e no sentido que previra em meados da década de 2000, e por isso afirmou que fora
“alarmista” em certos aspectos. Entretanto, não negou o aquecimento como um fenômeno real, e nem a
participação da sociedade humana nesse processo.
305
A vingança de Gaia, p. 20.
306
Ibidem, p. 58,130 e outras passagens.
307
Ibidem, p. 132.
308
Mais do que cumulativo, o efeito estufa seria retroalimentado (ibidem, p.35 a 44). Por exemplo, as alterações
da salinidade dos mares em função do degelo alterariam o trajeto e a intensidade das correntes marítimas, as
124
É evidente que muitas páginas podem ser utilizadas para afastar a ideia
de que desenvolvimento corresponda a crescimento econômico. Os autores citados já colocam
na berlinda essa equivalência, mas a tarefa é complexa, como bem repara Marcelo Lopes de
Souza309, vez que as tentativas de estabelecer uma compreensão mais adequada aos novos
tempos esbarram no problema de que desenvolvimento ainda é vinculado pela grande maioria
de agentes políticos e pensadores à modernização da sociedade em sentido capitalista e
ocidental, e considerações sociais e ecológicas apenas amenizam, mas não tiram a matriz de
crescimento econômico, nessa acepção mais convencional.
quais assim acelerariam o mesmo degelo de maneira incomensurável (p. 61-62);o derretimento do “permafrost”
(solo permanentemente congelado das altas latitudes do norte) liberaria na atmosfera gás metano há século
aprisionado e nunca medido com precisão (p. 126), dentre outras passagens.
309
Mudar a cidade, p. 60 e ss. O autor tece densas considerações acerca de sua visão de desenvolvimento,
partindo da ideia- correta, a nosso ver- de que esse só pode ser definido contendo em si o elemento socioespacial
(o que é mais do que territorialização no sentido físico). A partir daí, aprofunda as percepções de melhoria da
qualidade de vida e aumento da justiça social, para além de aspectos formais e conectando-as à autonomia
(individual e coletiva), na linha do pensamento de Castor Castoriadis.
310
A duração das cidades, p. 31-32.
125
pela profunda desigualdade social na exposição aos riscos ambientais. Ou ainda, na sentença
de que:
311
Ibidem, p. 35.
312
Por exemplo, nas propostas de Tony Garnier (item 3.3) que tanta influência deitaram sobre o movimento
modernista.
313
Isso vale também para os aspectos estéticos. Com efeito, sem a evolução da tecnologia do concreto parte
considerável da obra de Oscar Niemeyer talvez não teria saído da prancheta.
126
Isso poderia soar irrelevante quando imaginamos que a cidade é por excelência
o espaço de convivência “tête-à-tête” e de trocas culturais intensas entre os indivíduos, mas tal
elemento perde significado se consideradas as dimensões da metrópole e, principalmente, a
segregação socioespacial, que afastam esses mesmos indivíduos e os grupos fisicamente (e
apenas isso) próximos. A ironia de dois sujeitos que estão ao lado um do outro, mas se
comunicando por mensagem de texto, é mais do que mera curiosidade, e sim retrato dos
paradoxos que imiscuíram-se no cotidiano das pessoas e das instituições, mas ainda em fase
de sistematização.
314
Basta pensar na banalização das câmeras de monitoramento por vídeo, em ambientes públicos e privados, ou
dos telefones celulares, para se dar conta da potencialidade transformadora dessas tecnologias.
315
A invenção dos direitos humanos, em diversas passagens mas bem sintetizada à p. 30-33.
127
Por isso, as novas tecnologias voltadas ao território têm muito a dizer, quanto á
gestão, e também quanto à participação politica.
A partir dos anos 2000, (i) o uso de imagens de satélite319 com alta
resolução, (ii) o desenvolvimento das ortofotos e suas possibilidades de expressão
tridimensional dos ambientes, e (iii) o uso intensivo do GPS (“global positioning system”) e a
instantaneidade do envio de dados que ele permite, tornaram, em definitivo, essa tecnologia
uma ferramenta indispensável à gestão urbana. A versatilidade também aumentou, com a
inserção e integração de mais e mais informações socioeconômicas e biofísicas.
316
Cláudia Faria de ALMEIDA “et alii” (Geoinformação em urbanismo, p. 15-19) fornecem esclarecedora
síntese da evolução ora descrita, que adotamos com a inserção de outras considerações.
317
Ou GIS (“geographic information systems”).
318
Planning in the USA, p. 384.
319
Em 2005, o visualizador Goggle© Earth instaurou um padrão que se tornou o mais comum hoje.
128
padrões de ocupação do solo, entre muitos outros. Como anotam Cláudia Faria de Almeida
“et alii”:
320
Ibidem, p. 25.
321
Tecnologia da informação e os novos fundamentos do espaço geográfico, p. 246.
322
Ibidem, p. 249.
129
território323, disseminando seu uso e permitindo sua apropriação efetiva e constante pelos
mais diversos atores sociais.
Assim, optamos por nos deter (i) nas possibilidades que se descortinam à
identificação dos princípios e eventualmente (se forem princípios explícitos) da estrutura - se
é que ela existe- das normas positivas que colaboram para enunciá-los, e (ii) na efetividade
dos princípios enquanto elementos operacionais de interpretação “ótima” do direito, ai inclusa
(iii) a problemática dos “conflitos entre princípios”.
323
A “subversão” da formação técnica dos especialistas pelos agentes históricos (cidadãos e comunidades) é
proposta de Marcelo Lopes de SOUZA (Mudar a cidade, p. 36-41, dentre outras passagens), ancorado no
pensamento de Paulo Freire, e base do que aquele autor denomina de “planejamento crítico”.
324
A nova interpretação constitucional dos princípios, p. 102 e 115.
325
Direito constitucional e teoria da Constituição, p.1162-63.
326
Paulo BONAVIDES (Curso de direito constitucional, p.259 e ss.) traça o percurso da(s) teoria(s) dos
princípios intercalando-o com as principais contribuições de cada autor. De maneira mais esquemática, André
Ramos TAVARES (Elementos para uma teoria geral dos princípios na perspectiva constitucional, p. 28 a 32) e
também Luis Roberto BARROSO e Ana Paula de BARCELLOS (A nova interpretação constitucional, p. 104-
108).
130
princípios), positivista (dos princípios gerais do direito, com papel subsidiário na superação
das “lacunas” da lei) e pós-positivistas (ainda em construção no presente, mas com certa
consolidação já passível de se vislumbrar). Esse historicismo não é irrelevante, se
entendermos que questões epistemológicas também não o são em temas tão estruturantes do
pensamento jurídico. Por isso, releva anotar que a noção contemporânea327 dos princípios de
direito foi sendo construída paulatinamente a partir da década de 60, e a pauta atual, com a
definitiva inserção dos princípios enquanto norma, deve-se ao trabalho de Ronald Dworkin328
e ao desenvolvimento posterior levado a cabo por Robert Alexy329, declaradamente como uma
forma de superação do positivismo tradicional. Daí até o presente, essa pauta foi sendo
enriquecida, desdobrada, sistematizada e mesmo contestada, tornando-se inafastável de
qualquer doutrina, especialmente porque imbricada com a premência da afirmação dos
direitos fundamentais e da eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais. No Brasil,
especialmente, a promulgação da Constituição em 1988 foi o marco decisivo para a
disseminação dos estudos envolvendo os princípios jurídicos sob a pauta acima considerada.
327
Até Kelsen dos princípios se ocupou, evidentemente contestando sua relevância, como relata Eros GRAU
(Ensaio e discurso sobre a interpretação/aplicação do direito, p. 169-170).
328
Levando os direitos a sério, de 1977, entre outros escritos.
329
Teoria dos direitos fundamentais, de 1986, também dentre outros escritos.
330
Teoria dos princípios, p. 22.
331
Método de trabalho do direito constitucional, p. 38-47.Segundo Elival da Silva RAMOS (Ativismo judicial,
p. 99), a teoria de Müller se assenta no positivismo, mesmo que este se autodenomine “pós-positivista”.
332
Ibidem, p. 102-103.
131
333
Levando os direitos a sério, p. 35.
334
Ibidem, p. 46-57. Mas as referências aos “hardcases” e seu enquadramento se espraiam pela obra de Dworkin,
quando aparta regras e princípios e também quando debate a interpretação de tais situações a partir dos
princípios (ibidem, p.127 e ss), o que demonstra sua preocupação com uma sistemática coerente do direito, ainda
que mais larga do que o positivismo.
335
É essa a expressão usada por Dworkin em várias passagens (Levando os direitos a sério, p. 36 e ss., por
exemplo).
336
Ibidem, p. 36-37.
337
Ensaio e discurso sobre a interpretação/aplicação do direito, p. 133-137.
338
Voltaremos ao tema mais adiante, quando tratarmos dos desdobramentos da pauta dos princípios.
132
“normas que ordenam que algo seja realizado em uma medida, tão alta quanto
possível, relativamente às possibilidades jurídicas e fáticas [e] são cumpríveis
em graus diferentes, enquanto regras, como mandamentos definitivos, sempre
somente ou podem ser cumpridas ou não cumpridas”339.
339
Direito, razão, discurso, p.180.
340
Regras e princípios jurídicos no pensamento de Robert Alexy, p. 82-84.
341
Teoria dos princípios, p. 81. Os grifos são nossos, e de grande relevância para o restante de nosso raciocínio.
342
Mais uma vez aqui, a metáfora da física de partículas, onde as propriedades dos elementos se mostram apenas
após a colisão entre eles, induzida pelos “aceleradores de partículas”.
343
Ibidem, p. 30.
133
instituem, já que a das regras é absoluta (ou nula, se descartadas pelos fatos), enquanto os
princípios coexistem. Na síntese de Luis Roberto Barroso, quanto ao conflito entre princípios:
“á vista do caso concreto, o intérprete irá aferir o peso que cada princípio
deverá desempenhar na hipótese, mediante concessões recíprocas, e
preservando o máximo de cada um, na medida do possível. Sua aplicação,
portanto, não será no esquema tudo ou nada, mas graduada à vista das
circunstâncias representadas por outras normas ou por situações de fato”.344
344
Interpretação e aplicação da Constituição, p. 354.
345
Elementos para uma teoria geral dos princípios, p. 37 e ss.
134
346
Ensaio e discussão sobre a interpretação/aplicação do direito, p. 179-180, sintetizando pensamento de
Crisafulli.
347
Conf. Eros GRAU (ibidem, p. 197), J.J. Gomes CANOTILHO (ibidem, p. 1160 e 1175), dentre outros.
348
Curso de direito administrativo, p. 53, com grifos nossos, os quais conotam justamente a dúvida que temos
acerca dessa possibilidade.
349
Princípios e regras, p. 613. Levado ao extremo, esse raciocínio pode ensejar a própria rejeição da utilidade de
uma separação entre princípios e regras. Aarnio Aulis, por exemplo, (“apud” Wilson ENGELMANN, Crítica ao
positivismo jurídico, p. 113) também enxerga princípios que se comportam como regras, e regras que se
comportam como princípios. Não há espaço para a avançarmos nessa teoria, mas a trazemos à lume apenas para
realçar os horizontes largos em que o debate trafega.
135
350
Por exemplo, Luis Roberto BARROSO (Interpretação e aplicação da Constituição, p. 355); Walter Claudius
ROTHENBURG (Princípios constitucionais, p. 16), e especialmente Paulo BONAVIDES (Curso de direito
constitucional, p. 282).
351
Direito constitucional e teoria da Constituição, p.1160.
352
Ao menos para Aristóteles. Acerca da filosofia ética, moral e dos valores, Marilena CHAUÍ (Convite á
filosofia, p.307 e ss.)
353
Levando os direitos a sério, p.235 e ss., quando tece comentários da obra do jusfilósofo John Rawls.
354
ibidem, p. 76-93.
355
ibidem, p. 211 a 213.
356
O império do direito, p. 254-259. Por sinal, a comunidade que ambiciona a integridade é justamente
denominada por ele de “comunidade de princípios”.
136
político a ser perseguido pela comunidade, então justiça e equidade357 se apresentam como
produtos (fins) dessa virtude.
357
Justiça e equidade são também intrínsecas, mas diferentes quanto à sua concretização, como bem demonstra
Alysson Leandro MASCARO (Filosofia do direito, p.77-80)
358
Ver a propósito, a excelente síntese perpetrada por Luis Afonso HECK (Regras e princípios jurídicos no
pensamento de Robert Alexy, p. 70 e ss.).
359
Ibidem, p. 280.
360
Teoria dos princípios, p. 56. Os grifos, por nós apostos, realçam a trilha adotada pelo autor, à qual
retornaremos em outros momentos.
137
Não estamos a optar por uma (de qualidade) ou outra (de grau) forma de
diferenciação. O acento nos critérios de generalidade e conteúdo axiológico (ou fins éticos) só
foi colocado justamente para demonstrar quão complexo pode ser o debate nas bases da teoria
do princípios. Mas intuitivamente nos parece que, tanto num olhar descritivo quanto analítico,
uma nova escala de dimensão gera um novo objeto, e portanto, se estremados por grau, dois
objetos aparentados, a partir de uma certa distância, serão diferenciados por qualidade. E
como igualmente afirma Humberto Ávila, com o que efetivamente perfilhamos:
361
Ibidem, p. 57, com grifos nossos.
138
362
Ativismo judicial, p. 90-91. Bem se vê, pela parte final da transcrição, o caráter crítico que o autor adota em
relação a certo “expansionismo” do papel dos princípios, precaução importante para as considerações que
faremos adiante sob a ótica da “interpretação sob princípios”.
363
Direito constitucional e teoria da Constituição, p. 1165-67.
364
Ibidem, p. 1173-75. Os exemplos não são exatamente os mesmos apontados pelo mestre português, mas
refletem seu raciocínio.
139
365
Luis Roberto BARROSO (Interpretação e aplicação da Constituição, p. 370-377) separa os princípios
constitucionais em instrumentais (todos implícitos) e materiais, destes derivando os fundamentais, gerais e
setoriais; José Afonso da SILVA (Curso de direito constitucional positivo, p. 91-92, a partir de Canotilho)
declaradamente reúne apenas os princípios explícitos ou positivados para então apartá-los em políticos-
constitucionais (art. 1º a 4º da Constituição e seus desdobramentos) e jurídico-constitucionais; Walter Claudius
ROTHENBURG faz uma pequena resenha (Princípios constitucionais, p. 67-71) das propostas de vários autores,
dentre eles os que aqui já citamos.
140
366
Elementos para uma teoria geral dos princípios, p. 33, com grifos nossos. Assim também Walter Claudius
ROTHENBURG (Princípios constitucionais, p. 46).
367
Vide item 4.4.2, “supra”.
141
pode trazer na fórmula de que o sistema de normas deve ser produzido por
coerência, o dos valores por preferência”.372
372
Regras e princípios jurídicos no pensamento de Robert Alexy, p. 93.
373
Direito e democracia, p. 320-321, após justamente comentar decisões de tribunais constitucionais. Acerca dos
critérios para evitar isso, no pensamento de Alexy, ver Luis Afonso HECK (ibidem, p. 97-100)
374
O direito posto e o direito pressuposto, p. 110-112.
375
O direito de cada sociedade, como adverte o autor (O direito posto e o direito pressuposto, p.24 e em
inúmeras outras passagens desta e de outras obras.)
376
Ibidem, p. 29.
377
Ibidem, p. 44.
378
Ibidem, p. 49.
379
Ibidem, p. 57-59.Mais adiante, na mesma obra (p.88-90) o autor traduz a legitimidade do direito posto
também como a concordância ou não com o pleno desenvolvimento das forças materiais produtivas.
143
Princípios não são aquilo que gostaríamos (indivíduos) que eles fossem,
em cada caso. Os valores para os quais eles apontam se constroem de maneira intersubjetiva,
e, para além disso, social. Mas o risco de o intérprete reverter para suas próprias convicções a
construção que deriva dos princípios é grande. De qualquer forma, tal possibilidade existe ao
adotar-se qualquer método ou escola de interpretação, inclusive aquelas mais próximas ao
positivismo (ao menos quando adotamos uma percepção minimamente crítica do direito), não
servindo essa constatação, exposta dessa maneira rasa, como argumento para abater a
relevância dos princípios. A questão vai além de optar-se por uma ou outra visão do direito, e
chega a fundamentar o ceticismo dos chamados realistas (“o juiz faz o direito”). Sem chegar a
tanto, ficamos com Luis Roberto Barroso, no sentido de que “a impossibilidade de chegar-se
à objetividade plena não minimiza a necessidade de se buscar a objetividade possível”.383
380
Ibidem, p. 63-64. Dai concluir o autor que o direito é sim instrumento de mudança social.
381
Ibidem, p. 77 e 83.
382
Princípios constitucionais, p. 54-58.
383
Interpretação e aplicação da Constituição, p. 291.
144
interpretação, como bem demonstrou Dimitri Dimoulis384. Por outro lado, e isso é constatação
nossa, o esquema dedução-subsunção, por raciocínio silogístico, servia de maneira muito
adequada ao positivismo, sem que eventualmente houvesse, para afirmação de seus
pressupostos, a necessidade de um método385.
384
Positivismo jurídico, p. 210-217.
385
Trata-se de uma generalização nossa, com a qual não concordaria decerto Elival da Silva RAMOS (Ativismo
judicial, p. 97-98)
386
Interpretação constitucional sob princípios, p. 178 e ss.
387
Direito, razão, discurso, p. 61 e ss.
388
Ibidem, p.67.
145
394
Teoria dos princípios, p. 80. Em verdade, o autor ora as denomina de “metanormas”, ora de
“sobreprincípios”, mas sem alterar a concepção.
395
Ibidem, p. 85-117.
396
Ibidem, p. 121.
147
demonstradas sob variadas óticas. Colocaremos para reflexão as novas acepções que setorial
ou globalmente podem ser buscadas de interesse público e, mais ainda, de sua supremacia em
face dos interesses privados, posto que de interesse para o encaminhamento de nossas
conclusões.
397
Temas de direito administrativo e constitucional, p. 7, grifos nossos. A título de memória, reportamos à
objeção potencial de Habermas acerca do confronto entre direitos individuais e bens coletivos, comentada
“supra” (item 4.4.3.1), o que poderia ser desenvolvido num trabalho de maior fôlego.
398
Ibidem, p. 61.
399
Ibidem, p. 77. Mas o contrário também pode ser verdadeiro. Consagrar um interesse privado de maneira
desmedida- imagine-se a situação de um plano diretor voltado prioritariamente à construção civil- e assim alça-lo
à condição de “interesse público”, respaldado por certa “supremacia” é uma maneira perigosa de de compreender
a relação entre política e direito.
148
400
Introdução ao direito administrativo, p. 5.
401
“Brancosos” e interconstitucionalidade, p. 108-109.
149
Nesse trajeto, há pelo menos três grupos de elementos que nos parecem essenciais, e
que devidamente articulados podem ensejar um produto mais legitimo.
402
Levando os direitos a sério, p. 41. Em contrário, J.J. Gomes CANOTILHO (Direito constitucional e teoria da
Constituição, p. 1164).
403
“Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme
diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade
e garantir o bem- estar de seus habitantes.
§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil
habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.
§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação
da cidade expressas no plano diretor.(...).”
151
404
Ou “do problema” se adotadas as premissas da tópica constitucional.
405
“Art. 2o A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e
da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais: (...).”
152
O terceiro elemento, tão decisivo quanto os demais, mas que os envolve qual um halo
de densidade variável em função também do caso proposto, é o conjunto de condições reais
(físicas, econômicas, culturais, político-ideológicas) que plasmaram o ambiente urbano, ou
que sobre ele interferem ainda hoje, e que debatemos nos capítulos anteriores.
Por conta dessa trajetória, as diretrizes gerais do art. 2º agregam ideias com
alcances qualitativamente diferenciados. Assim, por exemplo, a “garantia do direito a
cidades sustentáveis” (inciso I) e a “gestão democrática” (inciso II) inspiram uma apropriação
hermenêutica diferente do que a “simplificação da legislação” (inciso XV), ou mesmo a
“recuperação dos investimentos do poder público” (inciso XI); a “cooperação entre os
governos, a iniciativa privada e os demais setores” (inciso III) poderá até se cruzar com a
“adequação dos instrumentos de política econômica, tributária e financeira” (inciso X), mas
153
um não se apoia e nem depende diretamente do outro. Sobretudo, ali no art. 2º se encontram
ora objetivos em sentido estrito (“proteção, preservação e recuperação do meio ambiente
natural e protegido”, inciso XII, ou “adoção de padrões de produção e consumo”, inciso
VIII, dentre outros), ora meios para concretizá-los (“ordenação e controle do uso do solo”,
inciso VI, por exemplo). Especialmente neste ultimo caso, valem nossas considerações
anteriores quando tangenciamos a noção de valores (item 4.4.2), e reparamos que estes
abrangem tanto os fins éticos, quanto os meios para atingi-los. Mas não se pode negar que as
tais diretrizes gerais constituem um conjunto de certa forma heterogêneo, senão na maneira
como estipulados (alto grau de generalidade), mas com certeza no “peso” que podem adquirir-
tudo isso para repetir a nomenclatura que emprestamos fartamente na abordagem dos
princípios (itens 4.4 e seguintes, “supra”).
Celso Fiorillo, fiel à sua visão da cidade como o “meio ambiente construído”,
entende que todos os incisos do art. 2º “procuram, na verdade tratar, com pormenores, da
integração dos bens de uso comum do povo- os bens ambientais- em face das necessidades
concretas dos habitantes da cidade(...)”406. Se aponta para um caráter apenas instrumental, ao
menos o faz em face da viabilização do ideal de dignidade da pessoa humana, o que de resto
vale para qualquer política pública. Já Liana Portilho Mattos destaca o papel das diretrizes
como desdobramentos concretizadores dos objetivos maiores da politica urbana, ou seja, da
função social da cidade e da função social da propriedade imóvel urbana 407. E concordamos
de que esta direção seja correta, mas se faz necessário ainda descrevê-la com mais vagar. Para
avançar é preciso que nos debrucemos sobre algumas reflexões mais profundamente
encetadas.
406
Estatuto da cidade comentado, p. 25 a 27.
407
A efetividade da função social da propriedade urbana à luz do Estatuto da Cidade, p. 94 e ss.
154
408
A força vinculante das diretrizes da política urbana. Em sua proveitosa reflexão, a conhecida professora
paulista nota igualmente o quão as expressões “diretrizes” e “princípios” são utilizadas pela legislação
infraconstitucional sem uma acepção técnico-jurídica coerente.
409
Competência concorrente limitada, com grifos nossos.
410
Direito urbanístico brasileiro, p. 64-67.
411
O Estatuto da Cidade e suas diretrizes gerais, passim. Ainda que não concordemos (item 2.2.1, “supra”) com
sua posição quanto aos limites da política urbana, a qual se restringiria ao uso do solo, e tenhamos extraído
155
tempo, e a partir da combinação entre os artigos 182 (com acento na política urbana e no
plano diretor) e 30, inciso VIII (“adequado ordenamento territorial”, a cargo do Município),
ambos da Constituição, se mune do conceito de ordem urbanística (que tangenciaremos mais
adiante) para então desembarcar nas diretrizes. E, ali, assim apetrechado, demonstra o quão
estratégicas são as diretrizes, em face da realidade urbana, posto que
conclusões ligeiramente diferentes da combinação entre os artigos 182 e 30, inciso VIII (item 2.2, também
“supra”), a visão que Sundfeld descortina das diretrizes a partir desse instrumental é das mais ricas e
fundamentadas.
412
Ibidem, p. 54-55.
413
Estatuto da Cidade e reforma urbana, p. 79-85.
156
Apesar das diversas citações, salta aos olhos que as diretrizes não são objeto de
análises de maior fôlego, ao menos se comparadas com a produção que envolve outros
aspectos do direito urbanístico (plano diretor, demais instrumentos e institutos, competências,
etc.). Aparentemente, e com toda vênia aos que foram além disso, de regra se declara a
importância que de fato elas possuem, faz-se uma descrição “prima facie” de seu conteúdo, e
pouco ou quase nada a mais. É razoável supor que tal timidez da doutrina nacional colabore
para a baixa efetividade dos valores que buscou-se expressar com tais diretrizes. Mas já é
possível inferir que (i) as diretrizes são produto de uma compreensão legislativa acerca da
função social da cidade e da função social da propriedade imóvel urbana, (ii) vinculam a
interpretação e a produção da legislação urbanística que decorrem ou que com ela se
relacionam, (iii) são qualitativamente diferentes entre si, com destaque, pela sua extensão e
amplitude, para as noções de “direito às cidades sustentáveis” e “gestão democrática” (incisos
I e II).
O plano diretor, com a posição que lhe foi dada pela Constituição, não era uma
reivindicação do movimento pela reforma urbana, quando do processo constituinte414, posto
que os PDs estavam desacreditados após anos de experiências fracassadas de sua
implementação efetiva na cultura administrativa e política brasileiras 415. A preocupação maior
daquela articulação e naquele momento era a afirmação de princípios e compromissos, em
especial algumas definições que tornassem mais vinculantes as funções sociais da cidade e da
propriedade imóvel urbana. A dependência quase direta da política urbana e da função social
da propriedade imóvel urbana (FSPIU) com o PD, conforme se consolidou no art. 182, §§ 1º,
2º e 4º, decorreu da ação de outros setores, à época denominados de “centrão” 416 e que
representavam interesses politicamente mais conservadores.
O advento do Estatuto não foi suficiente-e nem deveria ser, em nossa visão,
conforme desdobraremos abaixo- para fazer coincidir integralmente politica urbana e PD. Se
o posicionou (art. 4º, III) ao lado de outros instrumentos, igualmente exigiu a consonância
para com ele de vários institutos pelo próprio Estatuto regulados (como o direito de
preempção- art.25, §1º; a outorga onerosa- art.28; as operações urbanas consorciadas- art. 32;
etc.). Para além de “locus” de instrumentos, o conteúdo (artigos 39, 40 “caput” e § 2º, 41 e
414
Vide Grazia DE GRAZIA (Reforma urbana e Estatuto da Cidade, p. 53, entre outros escritos), e Nelson
SAULE JUNIOR. (Novas perspectivas do direito urbanístico brasileiro, p. 25-31).
415
Conforme se depreende da trajetória que anotamos no item 3.5.1, “supra”. Também nesse sentido, Ermínia
MARICATO (O impasse da política urbana no Brasil, p. 141 dentre outras passagens) e Nelson SAULE
JUNIOR (ibidem, p. 38-39).
416
Victor Carvalho PINTO (Direito urbanístico, plano diretor e direito de propriedade,p.114-118) relata o
processo a partir dos anais da constituinte, e fica claro, como demonstra o autor, que a proposta e a natureza de
plano diretor ali apresentadas era físico-territorial, especialmente de veículo do zoneamento, índices e
parâmetros urbanísticos.
417
Por exemplo nas alterações havidas na Lei 6766/79 (especialmente artigos 3º e 4º, I) e na já revogada lei
4771, ou antigo Código Florestal. Mas tão ou mais relevante, foi a incorporação do plano diretor pelas
constituições estaduais e pelas leis orgânicas municipais, processo tão bem sistematizada por Nelson SAULE
JUNIOR (Novas perspectivas do direito urbanístico brasileiro, p.212-218 e 229-240).
158
42) e o processo (art. 40 §§ 1º,3º, 4º e art. 50, este com prazo alterado pela lei 11.673/2008)
do PD foram igualmente regrados pelo Estatuto. Alterações legislativas posteriores também
consideraram o realce do plano diretor na implementação da politica urbana418.
Sequencialmente, o Conselho das Cidades419 editou a Resolução 34/2005420; esta, ainda que
formalmente constitua recomendação, tem o condão de induzir e direcionar a politica urbana
(na concepção ampla que adotamos) no âmbito federal. No ato regulamentar daquele órgão
colegiado se encontra uma visão bastante detalhada dos elementos necessários a um PD que
de fato cumpriria seu papel constitucionalmente previsto, partindo das questões físico-
territoriais, mas ancorando nelas outros tantos aspectos: destinação de espaços para garantir
acessibilidade e mobilidade, proteção ao patrimônio histórico, universalização do acesso á
água, esgotamento sanitário e de resíduos sólidos, habitação de interesse social e
desenvolvimento econômico com ênfase nos pequenos negócios (art. 2º da Resolução), e
também a exigibilidade de processos participativos na elaboração e acompanhamento das
ações do poder público (artigos 6º e 7º também da Resolução).
O que se observa como ponto comum nos inúmeros painéis teóricos que
buscam explicar o conteúdo dos PDs é que eles dependem da visão que cada autor terá
também da política urbana.
Poucos como Victor Carvalho Pinto traçaram com tanta acuidade a origem e a
recepção constitucional do plano diretor. Coerente com sua concepção de política urbana (que
apresentamos no item 2.2.1), para ele também o PD tem por objeto apenas o ordenamento
territorial, pois:
418
Conforme comentamos nos itens 2.6.2 e seguintes, “supra”.
419
O qual tivemos a honra de compor, entre 2006 e 2008.
420
O inteiro teor da Resolução, inclusive com seus diversos considerandos, pode ser obtido em
http://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosCidades/ArquivosPDF/Resolucoes/resolucao-34-2005.pdf.
(acesso em 15/12/2012).
159
421
Direito urbanístico, plano diretor e direito de propriedade, p. 121, entre várias outras passagens.
422
Idem, p. 125- 130.
423
Ibidem, p. 204-205.
424
Ibidem, p. 228 e ss.
425
Ibidem, p. 36-37.
160
De seu turno, José Afonso da Silva é peremptório na crítica aos PDs das
décadas de 60 e 70, posto tão largos em seus objetivos (temáticas sociais e econômicas
inclusas) que tornaram-se inexequíveis430 e relegaram o aspecto urbanístico a um papel
secundário431. Mesmo por isso, cuida o autor de posicionar o PD atual ao lado de outros
planos essenciais no âmbito do planejamento municipal mais amplo (de governo, financeiro,
social, etc.) e destaca igualmente a necessidade ainda de outros planos também urbanísticos
(regionais, abarcando frações do território, ou setoriais, de temas relacionados diretamente ao
uso e ocupação do solo)432. E mais: aponta certas condições elementares, como (i) a
relevância do processo, para além do conteúdo do plano, (ii) a exequibilidade, (iii) o
equilíbrio entre a generalidade e a especificidade, que não “engesse” mas também não
inviabilize a aplicação do plano, (iv) a integração entre os planos, no sentido horizontal
(intramunicipal) e vertical (com planos estaduais e federais) e (v) a democratização, tudo isso
como condições essenciais433.
426
Mas confirmando em escritos posteriores a posição que ora expomos.
427
Novas perspectivas do direito urbanístico brasileiro, p. 62-70 e outras passagens.
428
Ibidem, p. 249-259.
429
Ibidem, p. 259-272. O Estatuto exigiu a existência de instrumentos para a “gestão democrática da cidade” (art.
43), mas não os relacionou diretamente ao plano diretor.
430
A propósito, nossa síntese inserta no item 3.5.1, “in fine”.
431
Direito urbanístico brasileiro, p. 97-103 e 137.
432
Ibidem, p. 134 e 147-150.
433
Ibidem, p. 135-136.
161
434
Ibidem, p. 138-140.
435
Ibidem, p. 148-149.
436
Elementos de direito urbanístico, p. 63-64.
437
Mudar a cidade, p. 158-168.
438
Ibidem, p. 166.
162
“essa crença, como se disse, além de guardar relação estreita com a defesa da
função social como ‘norma programática’, é fruto, ainda, de um alto grau de
desatenção do intérprete, conferindo ao §2º do artigo 182 da Constituição (e
artigo 39 do Estatuto) uma importância e um conteúdo que ele não tem. Por
tudo que se disse, é urgente que se altere a leitura predominante desse artigo,
‘a propriedade cumpre sua função social [somente] quando atende às
exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor’
para ‘a propriedade cumpre sua função social quando [também] atende às
exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano
diretor’.”440
439
A efetividade da função social da propriedade urbana à luz do Estatuto da Cidade, p. 104 e ss.
440
Idem, p. 113.
163
A trilha que percorremos até agora ainda denota certo relativismo, com
posições igualmente fundamentadas e consistentes, mas contraditórias. A insegurança que dai
decorre não colabora para um quadro funcional do direito urbanístico, na mira de seu papel
central: colaborar com a finalidade constitucional de promover a qualidade vida dos cidadãos
no ambiente urbano. É o momento, portanto, de apontar como essa função pode ser cumprida,
conforme antecipamos na introdução, posicionando devidamente os princípios de direito
urbanístico, como orientadores na formulação e na interpretação das normas que se conectam
de maneira direta ou indireta à política urbana.
441
Direito urbanístico brasileiro, p.44-45.
442
Princípios de direito urbanístico na Constituição de 1988, e também Reflexões sobre os princípios de direito
urbanístico na Constituição de 1988.
443
“Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo
Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse
coletivo, conforme definidos em lei.”
164
primeira vista pode causar espécie a ideia de encartar a política urbana nas diretrizes
constitucionais da política econômica, mas concordamos com a autora que, pelo menos,
este princípio não seria incompatível com o da função pública, e portanto não seria
igualmente este o motivo de críticas à sua aceitação. Porém, enxergamos também uma
conexão, em algumas situações, com a afetação das mais-valias ao custo da urbanização,
que veremos a seguir. Isto porque por vezes e como contrapartida à inevitável valorização
imobiliária (como na implantação de loteamentos, na adoção de medidas mitigadoras em
licenciamento, nas operações consorciadas, etc.) o privado deve implementar etapas do
plano, mediante obrigação de fazer intervenções físicas, que vão além daquelas
decorrentes dos direitos de vizinhança;
c) Coesão dinâmica das normas urbanísticas: Princípio descrito por José Afonso da Silva
como singularidade da norma urbanística, que deve ser apanhada em sua aplicabilidade
antes como integrante de um processo que interfere de maneira distinta em realidades
(territoriais, econômicas, sociais, etc.) também diversas, mas que converge para
finalidades comuns a essas conjunturas todas;
d) Conformação da propriedade urbana: Ainda que José Afonso da Silva não desça a
detalhes, apenas afirmando tratar-se de decorrência da função pública do urbanismo, já
demos uma breve descrição deste princípio no item 5.2, “supra”, mas na versão de Victor
Carvalho Pinto acerca da reserva do plano. Como observamos ali, os atributos do
proprietário em relação a sua propriedade não são intrínsecos a ela, mas decorrência
daquilo que estabelecido pelo plano;
e) Remissão ao plano: Inferido por Regina Helena Costa da FSPIU enquanto subprincípio
daquela, dado o papel de validação do plano diretor em relação às demais normas
urbanísticas, estabelecendo o papel de hierarquia funcional de que se reveste o PD no
ordenamento jurídico municipal;
f) Afetação das mais-valias ao custo da urbanificação444: Nesse ponto não discrepam os dois
tratadistas, ao explicarem que tal princípio consiste em buscar reverter, ao poder público e
na medida dos benefícios auferidos pelo particular, os custos da ação pública (redes de
infraestrutura, equipamentos, etc.). Regina Helena Costa exemplifica suas assertivas
mediante os institutos da desapropriação por zona e da contribuição por melhoria, e José
Afonso da Silva refere-se à aplicação do princípio, em face do proprietário, por conta da
“compensação pela melhoria das condições de edificabilidade que dela derivam para seu
444
Urbanificação é expressão consagrada por José Afonso da Silva.
165
445
Ibidem, p. 76-77.
446
Elementos de direito urbanístico, p. 47-55.
447
Direito urbanístico e função socioambiental da propriedade imóvel urbana, p.53-63.
166
Por fim, mas talvez com maior importância para sua teoria, Pinto busca
também nos ordenamentos estrangeiros o princípio da vinculação situacional450, ou adequação
do direito de construir à edificabilidade já existente no entorno (portanto, igual a zero no meio
rural). De regra aplicável apenas às cidades sem PD, o autor desdobra o sentido desse
princípio para afirmar que todo direito de construir decorre do cumprimento de diversas
modalidades de ônus urbanísticos por parte do proprietário, inicialmente na constituição do
loteamento- com todas as obrigações dai inerentes, como a implantação de infraestrutura e a
448
Direito urbanístico, plano diretor e direito de propriedade, p. 143, mas principalmente p. 208-218.
449
Ibidem, p. 222-223.
450
Ibidem, p. 272 e ss.
167
reserva e doação de áreas públicas previstas na Lei 6766/79- para concluir pela separação
entre o direito de propriedade e o direito de construir, e a consequente patrimonialização451
deste ultimo como a tônica do ordenamento brasileiro. Isto se traduz, em suma na noção de
que o direito de construir é adquirido, e não uma consequência do direito de propriedade. Daí
para frente, a edificabilidade poderia até ser ampliada, via a adoção de institutos como os da
outorga onerosa ou das operações urbanas consorciadas (artigos 28 e 32 do Estatuto,
respectivamente).
Vicente de Abreu Amadei traça um percurso bastante original, mas até certo
ponto contraditório, ou no mínimo complementar452. De um lado, enumera o que chama de
princípios supranormativos, também colhidos na doutrina espanhola, a saber, (i) a
subsidiariedade, mas com uma interessante inversão, no sentido de abstenção do Estado
enquanto regra; (ii) a necessidade, corolário do anterior; (iii) a viabilidade; (iv) a justiça,
semelhante à “justa distribuição dos ônus e benefícios”; (v) a homogeneidade institucional,
ou o respeito à propriedade privada e à liberdade); e (vi) a fidelidade ao destino da sociedade
(o bem comum). Como se depreende, um ideário de certo modo conservador para a superação
do conceito tradicional de propriedade individual. De outro lado, porém, quando se debruça
sobre o ordenamento jurídico brasileiro para estabelecer aquilo que irá denominar de
princípios intranormativos, o resultado é quase inverso, pois então encontra (i) a primazia
social das classes menos favorecidas, ou o interesse social); (ii) a sustentabilidade; (iii) a
gestão democrática; (iv) a cooperação público-privada; (v) a universalidade, entendida como a
composição entre ações preventivas, de ordenação do crescimento, e de retificação dos
passivos urbanísticos já engendrados; e por fim (vi) a descentralização, ou respeito às
peculiaridades de cada região ou região.
Como se vê, por toda exposição havida até agora, especialmente nos últimos
itens, há um universo rico de construções teóricas e pontos de vista a explorar para dar cabo
de nossa tarefa. Não se trata de descartar totalmente umas, aceitar totalmente outras ou
promover uma síntese obrigatória entre elas, mesmo porque os princípios mudam por conta de
fatores históricos, e, principalmente, pelo advento de nova normatização, como aliás ocorreu e
vem ocorrendo mais recentemente no Brasil. Mas é prudente sempre buscar um equilíbrio nas
451
Nesse contexto, “patrimonialização” é um conceito neutro, ao contrário da maneira negativa com que é
adotado por Ermínia Maricato (ver item 3.6.3, “supra”).
452
Urbanismo realista, p. 32-44.
168
listagens de princípios, tão longas quanto for relevante para descrever corretamente as
características peculiares que eles abrigam, e tão curtas quanto necessário para não banalizá-
los, posto que veículos de valores sociais e políticos relevantes, como afirmamos acima.
Assim apetrechados, adentraremos então na construção que julgamos mais adequada dos
princípios de direito urbanístico com a realidade jurídica presente.
453
E não vai aqui qualquer grande novidade, bastando observar a hierarquização de CANOTILHO que já
expusemos no item 4.4.3, “supra”, no caso presente com a adaptação de considerar princípios constitucionais e
infraconstitucionais.
454
A propósito, Victor Carvalho PINTO (Direito urbanístico, plano diretor e direito de propriedade, p. 203).
170
455
“Art. 182. (...)
§ 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir,
nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que
promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo
Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o
valor real da indenização e os juros legais.”
456
Parcelamento, edificação e utilização compulsórios, p.39-40.
457
Direito urbanístico e função socioambiental da propriedade imóvel urbana, p. 119-138.
171
Ambas porém não são valiosas apenas por sua aplicabilidade “de per si”
(ainda que isso seja admissível) às situações concretas, mas sobretudo pela capacidade de
gerar outros princípios, como trataremos a seguir.
458
A função social da propriedade e da cidade no Brasil, p.80-81 e 113-114.
172
com toda pluralidade que estes atores albergam, ainda mais em temas tão candentes. Nesse
processo, de dinamismo constante, a argamassa acaba sendo sim a legislação, mas também as
condições históricas concretas, as experiências e a consciência política da sociedade, a
economia e a politica, cada qual com sua maneira própria de ingressar no espaço do Direito.
Mas, no fundo, é sempre da FSC e da FSPIU que estamos a tratar, e legitimá-las, enquanto
decisão política evidente do constituinte originário, implica em considerações de todos
aqueles atores, ponderadas, mas jamais desprezadas no caso concreto. Os rumos da legislação
são de fato relevantes, talvez até decisivos, mas não esgotam as possibilidades de
concretização dos princípios constitucionais que tratamos.
459
Item 3.2.1, “supra”.
173
excessivo. Desenvolvimento passa a ser visto com mais acento nos seus aspectos qualitativos,
e não apenas quantitativos, de forma a não se admitir doravante efeitos outrora aceitos como
“colaterais”, ou o “preço a pagar” pela vida urbana (poluição em todas as suas formas,
insegurança, congestionamentos e longos percursos, hipervalorização dos imóveis, segregação
e falta de espaços públicos de convivência, periferização, etc.). Além do já citado inciso I, sua
configuração se completa em inúmeros outros dispositivos do art. 2º do Estatuto (incisos
III,IV, V, VI alíneas “c” a “g”, VII, VIII, X a XII e XVI) e ao longo desse mesmo diploma
legal (art. 4º incisos I, II, III alíneas “c”, “g” e “h”, V alínea “d”, VI; art. 26 incisos IV a VIII;
art. 28, § 3º; art. 32, §1º; art. 33, inciso V; artigos 36 a 38; art. 39, art. 41, inciso V; artigos 53
e 54). Para além disso, a sustentabilidade vai estruturar parte considerável da legislação
correlata, da qual destacamos na Lei 11.977/2009 o já citado artigo 48, inciso I, mas
igualmente os incisos II e V460; na Lei 6766/79 o art. 3º § único; na Lei 11.455/2007 o art. 2º
incisos III a VII e XII, art. 4º, § único, art. 11, §2º, inciso IV; na Lei 12.305/2010 todo seu
espírito, mas com destaque para os artigos 6º incisos I a VII e aqueles outros que
fundamentam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos (definida no
artigo 30); na Lei 12.587/2012 o art. 5º incisos II, VI, VIII e IX; na Lei 12.608/2012 tudo
aquilo que já incorporado ao Estatuto e que busca conter a expansão da malha urbana.
incoerente com a sistemática do Estatuto. Ao contrário, não obstante críticas aos excessos que
a lógica da acumulação engendra, solidariedade significa aceitar que a cidade e a região
constituem como que uma nave, onde os rumos e resultados a todos afetam ou a todos
beneficiam, mesmo que disso não nos apercebamos no primeiro momento. Entender que a
regularização fundiária e urbanística é benéfica apenas aos moradores do assentamento é algo
de grande miopia, tanto quanto sufocar a atividade econômica, até o ponto de asfixiá-la.
Como estipulada anteriormente, a justa distribuição de ônus e benefícios denota grupos
apartados e incomunicáveis no cotidiano, eventualmente se digladiando por seus interesses
(pedestres e motoristas, favelas e condomínios fechados, moradia vertical e horizontal, bares
noturnos e trabalhadores diurnos, terra urbanizada e áreas de preservação, produtores e
consumidores). Não se trata, à evidência, de alimentar ilusões quanto à conflituosidade
inerente à apropriação do solo urbano, mas sim de explicitá-la e justificar opções adotadas na
política urbana, como na definição dada por Victor Carvalho Pinto acerca do princípio da
justa ponderação dos interesses públicos e privados, que indicamos no item 5.3, “supra”.
461
Não negamos que é delicado afastar “função pública do urbanismo” e “subsidiariedade” enquanto princípios
de direito urbanístico. O uso potencial do instrumento denominado “concessão urbanística”, aqui citado, é uma
prova disso, quando argumentos contidos no direito urbanístico acabam sendo utilizados para fundamentar
176
visões acerca das funções estatais que eventualmente não conferem com a Constituição e a legislação que lhe dá
seguimento, o que poderia ser mitigado com uma discussão mais profunda de o que significa “função pública do
urbanismo”. Mas o papel do Estado, seus limites e atribuições, perpassa todo o direito, não constituindo
peculiaridade do direito urbanístico, e será sim considerado no caso concreto, ingressando como objeto de
ponderação. Para aprofundar a noção de “concessão urbanística”, Mariana NOVIS (O regime jurídico da
concessão urbanística, passim, inclusive já debatendo o caso paulistano do “Projeto Nova Luz”).
462
“Art. 2o A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e
da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais: (...)
177
expressão gestão para se referir à política pública (“in casu”, a urbana), mas mesmo assim fica
claro que se tratam de momentos distintos (“pré-plano” e “pós-plano”), ambos igualmente tão
legítimos quanto direcionados pela democracia participativa.
II – gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos vários
segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de
desenvolvimento urbano.”
463
Mudar a cidade, p. 36-37. O tema é retomado em outras passagens e sob outras perspectivas. Acerca do valor
do conhecimento tradicional para o planejamento, na mesma obra, p. 118. Em complemento a essa ideia veja
nossa observação no item 4.3.1, “supra”.
178
464
O enunciado (“simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo e das normas edilícias,
com vistas a permitir a redução dos custos e o aumento da oferta de lotes e unidades habitacionais”) aponta para
uma clara reivindicação do setor da construção civil, onde a velocidade do giro do capital é decisia. O colocamos
como parte da acessibilidade à informação, pois o fim acaba por condicionar o meio, e este é o que os interessa,
neste contexto.
465
As ilusões do plano diretor, deliberadamente disponibilizado pelo festejado professor apenas na internet, em
http://www.flaviovillaca.arq.br/pdf/ilusao_pd.pdf, acesso em 22/02/2013.
466
“Art. 42. O plano diretor deverá conter no mínimo:
179
I – a delimitação das áreas urbanas onde poderá ser aplicado o parcelamento, edificação ou utilização
compulsórios, considerando a existência de infra-estrutura e de demanda para utilização, na forma do art. 5 o
desta Lei;
II – disposições requeridas pelos arts. 25, 28, 29, 32 e 35 desta Lei;
III – sistema de acompanhamento e controle.”
467
Nelson SAULE JUNIOR., em vários escritos antes e após a promulgação do Estatuto, dentre eles Estatuto da
Cidade comentado, p. 288-293.
180
“caput e §§ 2º e 3º; art. 29; art. 32; art. 35), mas é nos artigos 39 a 42-B que se encontram
explicitadas sua natureza (art. 39, cujos enunciados ainda mais sustentam nossa concepção468,
art. 40 “caput” e § 1º) e implementação (art. 40, §§2º a 4º; art. 41, 42, 42-A e 42-B; e artigo
50, com redação dada pela Lei 11.673/2008, prorrogando o prazo exigível de aprovação).
Também a proeminência perpassa a legislação correlata, onde as políticas respectivas estão
sempre apoiadas no planejamento, em planos e em sistemas de planejamento integrados entre
os diversos entes federativos (por exemplo, a Lei 12.587/2012, artigos 21 a 24, ou a Lei
11.445/2007, artigos 19, 20 e 52).
468
“Art. 39. A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de
ordenação da cidade expressas no plano diretor, assegurando o atendimento das necessidades dos cidadãos
quanto à qualidade de vida, à justiça social e ao desenvolvimento das atividades econômicas, respeitadas as
diretrizes previstas no art. 2o desta Lei.
Art. 40. O plano diretor, aprovado por lei municipal, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e
expansão urbana.
§ 1o O plano diretor é parte integrante do processo de planejamento municipal, devendo o plano plurianual, as
diretrizes orçamentárias e o orçamento anual incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas.”
181
469
Por exemplo, limites à instalação de antenas de telefonia móvel que comprometam os serviços, ou obstáculos
à operação de pousos e decolagens de aeronaves.
470
Também por exemplo, a vedação a centros de ressocialização de adolescentes que cometeram atos
infracionais, ainda que aqui violação se dá em relação aos próprios adolescentes, e o direito que possuem à
convivência familiar e comunitária.
471
Com raras exceções e a título mais político do que jusriscional, na tentativa de conciliação em sede de ações
possessórias, como no famoso caso “Pinheirinho”, em São José dos Campos-SP.
472
“ Art. 19. A prestação de serviços públicos de saneamento básico observará plano, que poderá ser específico
para cada serviço, o qual abrangerá, no mínimo:
I - diagnóstico da situação e de seus impactos nas condições de vida, utilizando sistema de indicadores sanitários,
epidemiológicos, ambientais e socioeconômicos e apontando as causas das deficiências detectadas;
II - objetivos e metas de curto, médio e longo prazos para a universalização, admitidas soluções graduais e
progressivas, observando a compatibilidade com os demais planos setoriais;
III - programas, projetos e ações necessárias para atingir os objetivos e as metas, de modo compatível com os
respectivos planos plurianuais e com outros planos governamentais correlatos, identificando possíveis fontes de
financiamento;”
473
Art. 48. A União, no estabelecimento de sua política de saneamento básico, observará as seguintes diretrizes:
I - prioridade para as ações que promovam a eqüidade social e territorial no acesso ao saneamento básico;(...)
IV - utilização de indicadores epidemiológicos e de desenvolvimento social no planejamento, implementação e
avaliação das suas ações de saneamento básico;
V - melhoria da qualidade de vida e das condições ambientais e de saúde pública;
VI - colaboração para o desenvolvimento urbano e regional;(...)
182
peculiaridade do serviço, é bem mais fluida a vinculação que deve guardar a política nacional
de mobilidade urbana; de qualquer forma, certos dispositivos474 podem ser invocados para
questionar opções da União e dos Estados federados desmesuradas ou não razoáveis.
IX - adoção de critérios objetivos de elegibilidade e prioridade, levando em consideração fatores como nível de
renda e cobertura, grau de urbanização, concentração populacional, disponibilidade hídrica, riscos sanitários,
epidemiológicos e ambientais;(...)
474
“Art. 6o A Política Nacional de Mobilidade Urbana é orientada pelas seguintes diretrizes: (...)
VI - priorização de projetos de transporte público coletivo estruturadores do território e indutores do
desenvolvimento urbano integrado;”
475
“Art. 2o Para a implementação do PMCMV, a União, observada a disponibilidade orçamentária e
financeira: (...)
III - realizará oferta pública de recursos destinados à subvenção econômica ao beneficiário pessoa física de
operações em Municípios com população de até 50.000 (cinquenta mil) habitantes; (...)
§ 1o A aplicação das condições previstas no inciso III do caput dar-se-á sem prejuízo da possibilidade de
atendimento aos Municípios com população entre 20.000 (vinte mil) e 50.000 (cinquenta mil) habitantes por
outras formas admissíveis no âmbito do PMCMV, nos termos do regulamento.
§ 2º O regulamento previsto no § 1o deverá prever, entre outras condições, atendimento aos Municípios com
população urbana igual ou superior a 70% (setenta por cento) de sua população total e taxa de crescimento
populacional, entre os anos 2000 e 2010, superior à taxa verificada no respectivo Estado.”
476
“Art. 8o Caberá ao Poder Executivo a regulamentação do PNHU, especialmente em relação:
(...)
II – à distribuição regional dos recursos e à fixação dos critérios complementares de distribuição desses
recursos;”
477
Ainda que consultada, não trouxemos à luz a regulamentação (decretos, portarias e resoluções) que dão
operacionalidade à legislação citada, posto não ser nosso escopo.
183
478
Para um conceito de moradia adequada como direito humano, reiteramos a brilhante sistematização encetada
por Nelson SAULE JR. e que já expusemos no item 2.3.1, “supra”.
479
Nelson SAULE JUNIOR (Direito urbanístico, p. 49).
480
“Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco
anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.” Note-se que nenhuma outra
modalidade de usucapião, anterior ou posterior ao texto constitucional vigente, especifica a moradia como
condição principal ou única para aquisição da propriedade.
184
481
“Art. 48. Respeitadas as diretrizes gerais da política urbana estabelecidas na Lei no 10.257, de 10 de julho de
2001, a regularização fundiária observará os seguintes princípios:
I – ampliação do acesso à terra urbanizada pela população de baixa renda, com prioridade para sua permanência
na área ocupada, assegurados o nível adequado de habitabilidade e a melhoria das condições de sustentabilidade
urbanística, social e ambiental;(...)”.
482
“Art. 54. (...)
§ 1o O Município poderá, por decisão motivada, admitir a regularização fundiária de interesse social em Áreas
de Preservação Permanente, ocupadas até 31 de dezembro de 2007 e inseridas em área urbana consolidada,
desde que estudo técnico comprove que esta intervenção implica a melhoria das condições ambientais em
relação à situação de ocupação irregular anterior.
483
Dentre muitos outros exemplos, Ac. 200.2003.032706-4-001,TJPB, 3ª C.Cível, Rel. Des. Genésio Gomes
Pereira Filho, DJPB 07/12/2011; Ac. 2011.006932-1, TJRN, 2ª C.Cível, Rel. Des. João Rebouças, DJRN
16/12/2011. Pela profundidade e riqueza da argumentação, reforçando nossos argumentos, TRF 4ª Região,
Apelação 2006.72.04.003887-4/SC, Rel. Roger Raupp Rios, j. 12/05/2009, e também STJ, 3ª Turma, AgrRg
2007/0054808-9, Rel. Ministro Ari Pargendler, j. 07/05/2007.
484
Uma longa digressão seria possível acerca da “proibição do retrocesso”, sua definição via tribunais
constitucionais europeus e recepção na jurisprudência constitucional brasileira. Pela síntese clara e sistemática,
reportamo-nos a JJ. Gomes CANOTILHO (Direito constitucional e teoria da Constituição, p. 338 e ss., e com
sentido reforçado mas também mais conformado à circunstâncias mutantes, Estudos sobre direitos fundamentais,
p. 243-268).
185
Com seus princípios e regras, e nos tempos que correm, as novas possibilidades
trazidas pelo direito urbanístico podem cumprir papéis diversos, e acreditamos que todos
valiosos. De um lado, se torna mais perceptível ao cidadão se a legislação de sua cidade (e da
União ou de seu estado) está de fato condizente com o projeto constitucional. De outro, pode
tornar-se um instrumento a ser mais e mais manejado nas lides judiciárias, quando
imprescindivel.
485
Acerca das idas e vindas legislativas para que isso ocorresse, Casio Scarpinella BUENO (Estatuto da Cidade-
comentários à Lei federal 10.257/2001, p.380-386).
486
Conforme dicção do art. 81 da Lei 8079/90 (Código de Defesa do Consumidor), e brilhantemente explorada,
no que tange à “ordem urbanística”, antes mesmo da edição do Estatuto por José Carlos de FREITAS (Temas de
direito urbanístico, p. 281-303).
487
Ibidem, p. 392 e 394.
488
Art. 5º, incisos II e V da Lei 7347/1985.
186
6. CONCLUSÃO.
Celso Bastos, em clássica lição, afirmava que “as revoluções, no mais das vezes, são
feitas em nome de poucos princípios, a partir dos quais extrair-se-ão os preceitos que, ao
depois, mais direta e concretamente regerão a sociedade e o Estado.”489
Em que medida vivemos, no Brasil e no mundo, uma ruptura com práticas e conceitos
acerca da vida urbana?
489
Curso de direito constitucional, p. 55.
188
suficientes para conduzir, no médio prazo, ao abandono da vida nas cidades, como sonhavam
os utópicos entre os séculos XIX e XX, mesmo porque ela oferece ao homem tanto (acesso a
serviços, compartilhamento de experiências e soluções, proteção, expressão, etc.) quanto lhe
retira (doenças da modernidade, solidão, opressão, injustiça, etc.).
Eventualmente não apresentamos neste trabalho nenhuma grande inovação, dentro dos
parâmetros atuais da ciência jurídica. Nas ciências em geral, a novidade não está, muitas
vezes, na descoberta de uma explicação em detrimento de outras, mas na ponderação
equilibrada de contribuições várias, a pairar num dado momento e então reunidas
adequadamente. No mundo contemporâneo, da construção do saber “em rede”, isto é,
simultâneo e progressivo, isso se torna cada vez mais corriqueiro, com grandes vantagens à
solução de problemas que surgem de maneira inédita. Então, talvez tenhamos mesmo
recolhido ideias dispersas, e lhes dado sistematização nova e mais funcional, a partir da qual
passa a fazer sentido uma plataforma mais firme de interpretação dos institutos que compõem
o direito urbanístico, e sobretudo, a necessidade que esta interpretação atenda mais claramente
a certos objetivos efetivamente recepcionados pelo ordenamento jurídico.
A grande crítica aos planos diretores das décadas de 60 e 70, por conta de sua
generalidade e remissão a outras normas que delas decorreriam, mas que nunca se
concretizaram, seria melhor resolvida no atual estágio da teoria do direito. Tais planos, e suas
“generalidades”, poderiam, no presente, ser brandidos em juízo e nas lides políticas, e suas
premissas exigíveis em face das carências e dos desvios praticados pelo poder público. A
concepção moderna acerca dos princípios teria o condão de promover essa mudança.
Portanto, metas e finalidades dos planos diretores atuais não são descartáveis, nem sintoma de
ineficácia jurídica e inaplicabilidade, mas ao contrário, imprescindíveis, desde que a elas
estejam acoplados instrumentos e também que sejam apropriadas, pela “práxis”, a juridicidade
de que, com certeza, se revestem.
A busca por cidades mais justas e democráticas, objetivo da chamada reforma urbana a
qual se agregou posteriormente a noção de sustentabilidade, foi incorporada formalmente ao
ordenamento jurídico-constitucional, após um longo processo, mas o que não é pouco. Porém,
isso não tem sido suficiente para concretizar seus ideais, e talvez nem mesmo haja um ponto
definitivo a ser alcançado. Mas o fato é que parte considerável das cidades brasileiras ainda
cresce, ou transforma-se, de maneira predatória, do ponto de vista social e ambiental, o que
não significa que se deva abortar aquele objetivo. Neste campo o espaço para a utopia é
grande e necessário, como mostra a própria história do urbanismo. Ademais, experiências
positivas vicejam aqui e ali, permitindo que a trajetória da reforma urbana seja a todo
momento revista e ponderada, mas também alimentada.
A visão ambiental corriqueira apresenta as cidades como um “nó górdio”, sem que
possamos admitir um golpe de espada para desatá-lo. Ocupando um pequeno espaço do
território global, consomem recursos e expelem dejetos de maneira quase imensurável. Mas
talvez essa visão possa ser diferente, pois nas cidades as soluções de grande escala são mais
viáveis, e, justamente, sustentáveis, no sentido de progressivamente reverter tais problemas,
pela incorporação de novas práticas e uma nova ética. Se a vida urbana gerou ou possibilitou
novos padrões de consumo, depois adotados como regra por parte considerável da sociedade,
é também nas cidades que pode brotar e se disseminar uma nova percepção de o que seja
desenvolvimento.
191
A cidade permitiu que o espírito humano alcançasse seu ponto máximo nas artes, na
ciência e na política. Foi ainda, como ocorreu na revolução industrial, o ponto de fuga para a
fome e a miséria. Cabe à nossa geração manter a primeira função, e verdadeiramente fazer
cumprir a segunda.
192
7. REFERÊNCIAS.
ACSELRAD, Henri (org.). A duração das cidades: sustentabilidade e risco nas politicas
urbanas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009.
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Trad. de Virgílio Afonso da Silva. 2ª ed.
São Paulo: Malheiros, 2011.
_________. Direito, razão, discurso: estudos para a filosofia do direito. Trad. de Luis Afonso
Heck. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009.
ALMEIDA, Cláudia Faria “et alii”. Geoinformação em urbanismo: cidade real X cidade
virtual. São Paulo: Oficina de Textos, 2007.
ALMEIDA, Guilherme Assis de; CHRISTIMANN, Martha Ochsenhofer. Ética e direito: uma
perspectiva integrada. São Paulo: Atlas, 2002.
ANTUNES, Paulo Bessa. Direito ambiental. 7ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005.
ARANTES, Otília. Uma estratégia fatal: a cultura nas novas gestões urbanas. “In”:
ARANTES, Otilia; MARICATO, Ermínia; VAINER, Carlos. A cidade do pensamento único:
desmanchando consensos. 2ª ed. Petrópolis: Editora Vozes, p. 11-74, 2000.
ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos.
São Paulo: Malheiros, 2003.
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. 27ª ed. São Paulo:
Malheiros, 2010.
BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Teoria geral do federalismo. Rio de Janeiro: Forense,
1986.
BASTOS , Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 20ª ed.. São Paulo: Saraiva, 1999.
BENEVOLO, Leonardo. História da cidade. 3ª ed. Trad. Silvia Mazza. São Paulo: Editora
Perspectiva, 2003.
________ . As origens da urbanística moderna. 2ª ed. Lisboa: Editorial Presença, 1987.
BENKO, Georges. Economia, espaço e globalização na aurora do século XXI. 3ª ed. Trad.
Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: Hucitec/Annablume, 2002.
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 22ª Ed. São Paulo: Malheiros, 2008.
BUCCI, Maria Paula Dallari. Direito administrativo e políticas públicas. São Paulo: Saraiva,
2002.
BUENO, Cássio Scarpinella. Ação Civil Pública e Estatuto da Cidade. “In”: DALLARI,
Adilson; FERRAZ, Sergio. Estatuto da Cidade (comentários à lei federal 10.257/2001). São
Paulo: Malheiros/SBDP, p. 380-396, 2002
CAMPOS FILHO, Cândido Malta. Cidades brasileiras: seu controle ou o caos. São Paulo:
Nobel, 1989.
CASTELLS, Manuel. A questão urbana. Trad. Arlene Castro. São Paulo-Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1983.
________ . Problemas de investigação em sociologia urbana. Lisboa: Editorial Presença,
1975.
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 13ª ed. São Paulo: Ática, s/d.
196
CULLINGWORTH, Barry; CAVES, Roger W. Plannig in the USA: policies, issues, and
processes. 3ª ed. New York (NY, USA): Routledge, 2009.
DIAS, Jean Carlos. O controle judicial de políticas públicas. São Paulo: Método, 2007.
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. 3ª ed. Trad. Nelson Boeira. São Paulo:
Martins Fontes, 2010.
________. O império do direito. Trad. Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes,
1999.
197
ESPINDOLA, Ruy Samuel. Conceito de princípios constitucionais. 2ª ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2002.
FERNANDES, Edésio. Direito do urbanismo: entre a “cidade legal” e a “cidade ilegal. “In”:
FERNANDES, Edésio (org.).Direito urbanístico. Belo Horizonte: Del Rey, 1998.
________ . A regularização de favelas no Brasil: problemas e perspectivas.”In”: SAULE
JUNIOR, Nelson (coord.). Direito à cidade: trilhas legais para o direito às cidades
sustentáveis. São Paulo: Max Limonad, 1999.
FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Resíduos sólidos: ponto final da insustentabilidade
econômica. Revista de direitos difusos. São Paulo: IBAP/ADCOAS, 13: 1717-1745, 2002.
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Estatuto da cidade comentado. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2002.
________ . Curso de direito ambiental brasileiro. 6ª ed. São Paulo: Saraiva,2005.
FISHMAN, Robert. Urban utopias in the twentieth century: Ebenezer Howard, Frank Lloyd
Wright and Le Corbusier. In: FAINSTEIN, Susan S.;CAMPBELL, Scott (org.). Readings in
plannning theory. 3ª ed. Hoboken (NJ, USA): Wiley Blackwell, p.27-53, 2011.
FREITAS, José Carlos de. Dos interesses metaindividuais urbanísticos. “In”: FREITAS, José
Carlos de (coord.).Temas de direito urbanístico. São Paulo: Ministério Público/ Imprensa
Oficial, p. 281-303, 1999.
198
GOTTDIENER, Mark. A produção social do espaço urbano. 2ª ed. São Paulo: Edusp, 1997.
GRAU, Eros Roberto. Direito urbano. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1983.
________. O direito posto e o direito pressuposto. 6ª ed. São Paulo: Malheiros, 2005.
________. Ensaio e discurso sobre a interpretação/aplicação do direito. 5ª ed. São Paulo:
Malheiros, 2009.
GRAZIA, Grazia de. Reforma urbana e o Estatuto da Cidade. “In”: RIBEIRO, Luiz Cesar de
Queiroz; CARDOSO, Adauto Lucio. Reforma urbana e gestão democrática: promessas e
desafios do Estatuto da Cidade. Rio de Janeiro: Revan, p. 53-70, 2003.
________ . Estatuto da Cidade: uma longa história com vitórias e derrotas. “In”: OSORIO,
Letícia Marques (org.). Estatuto da Cidade e reforma urbana: novas perspectivas para as
cidades brasileiras. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, p. 15-38, 2002.
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Vol. I. 2ª ed. Trad.
Flávio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.
________. Arquitetura moderna e pós-moderna. Novos Estudos. São Paulo: Cebrap 18:112-
128, setembro/1987.
HARVEY, David. A produção capitalista do espaço. 2ª ed. São Paulo: Annablume, 2006.
________. Condição pós-moderna.14ª ed. Trad. Adail Ubirajara Sobral e Maria Stella
Gonçalves. São Paulo: Loyola, 2005.
199
HECK, Luís Afonso. Regras, princípios jurídicos e sua estrutura no pensamento de Robert
Alexy. “In”: LEITE, George Salomão (org.). Dos princípios constitucionais: considerações
em torno das normas principiológicas da Constituição. São Paulo: Malheiros, p. 52-100,
2003.
HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos-uma história. Trad. Rosaura Eichenberg. São
Paulo: Companha das Letras, 2009.
JACOBS, Jane. Morte e vida das grandes cidades. 3ª ed. Trad. Carlos S. Mendes Rosa,São
Paulo: WMF Martins Fontes,2011.
JACQUOT, Henri; PRIET, François. Droit de l’ubanisme. 3ª ed. Paris: Dalloz, 1998.
KRUGMAN, Paul. A crise de 2008 e a economia da depressão. 3ª ed. Trad. Afonso Celso da
Cunha Serra. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
200
LEFEBVRE, Henry. A revolução urbana. Trad. Sergio Martins. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 1999.
________. Direito à cidade. Tradução Rubens Eduardo Frias. 5ª ed. São Paulo: Centauro
Editora, 2008.
LIRA, Ricardo Pereira. Elementos de direito urbanístico. Rio de Janeiro: Renovar, 1997.
LOJKINE, Jean. O estado capitalista e a questão urbana. 2ª ed. Trad. de Estela dos Santos
Abreu. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
LOVELOCK, James. A vingança de Gaia. Trad. Ivo Korytowski. Rio de Janeiro: Intrínseca,
2006.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 15ª ed. São Paulo:
Malheiros, 2007.
MEDAUAR, Odete. A força vinculante das diretrizes da política urbana. Temas de direito
urbanístico 4. São Paulo: Imprensa Oficial, p. 15-24, 2005.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito municipal brasileiro. 6ª ed. S. Paulo: Malheiros, 1993.
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
________ ; Um ordenamento jurídico para a qualidade de vida urbana. “In”: AGRELLI,
Vanusa Murta; SILVA, Bruno Campos. Direito urbanístico e ambiental- estudos em
homenagem ao professor Toshio Mukai Rio de Janeiro: Lumen Juris, p. 37-69, 2008.
MORAIS, Maria Piedade “et alli”. A CF/88 e as políticas setoriais urbanas. “In”: CARDOSO
JUNIOR, José Celso “et alii” (org.).A Constituição brasileira de 1988 revisitada:
recuperação histórica e desafios atuais das politicas públicas nas áreas regional, urbana e
ambiental. Volume 2. Brasilia: IPEA, p. 117-158, 2009
NERI, Marcelo. A nova classe média- o lado brilhante da base da pirâmide. São Paulo:
Saraiva, 2011.
NOVIS, Mariana. O regime jurídico da concessão urbanística. Relo Horizonte: Forum, 2011.
OLIVEIRA, Francisco. Crítica à razão dualista/ o ornitorrinco. São Paulo: Boitempo, 2003.
PESSÔA, Álvaro. Equacionando a nova propriedade urbana. “In”: PESSÔA, Álvaro (coord.).
Direito do urbanismo- uma visão sócio-jurídica. Rio de Janeiro: IBAM, p. 51-71, 1981
PINTO, Victor Carvalho. Direito urbanístico: plano diretor e direito de propriedade. 3ª ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.
203
PIOVEZANE, Pedro de Milanelo. Elementos de direito urbanístico. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1981.
PIRES, Ailton Brasiliense, “et alii”. Transporte Humano: cidades com qualidade de vida. São
Paulo: ANTP, 2007.
RIBEIRO, Luiz Cesar de Queiros. O Estatuto da Cidade e a questão urbana brasileira. “In”:
RIBEIRO, Luiz Cesar de Queiroz; CARDOSO, Adauto Lucio. Reforma urbana e gestão
democrática: promessas e desafios do Estatuto da Cidade. Rio de Janeiro: Revan, p. 11-26,
2003.
ROLNIK, Raquel. A cidade e a lei: legislação, politica urbana e territórios na cidade de São
Paulo. Nobel: São Paulo,1997.
204
SANTOS JUNIOR, Orlando Alves dos; MONTANDON, Daniel Todtmann (org.). Os planos
diretores municipais pós-Estatuto da Cidade: balanço crítico e perspectivas. Rio de Janeiro:
Letra Capital, 2011.
SECCHI, Bernardo. Primeira lição de urbanismo. Trad. Marisa Barda, São Paulo:
Perspectiva, 2006.
205
SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
SILVA, José Afonso da. Direito urbanístico brasileiro. 6ª ed. São Paulo: Malheiros, 2010.
________. Curso de direito constitucional positivo. 33ª ed. S. Paulo: Malheiros, 2010.
________. Disciplina jurídico-urbanística da propriedade urbana. Revista de Direito
Administrativo. Rio de Janeiro: FGV 142: 1-10, out./dez. 1980.
________. Direito Ambiental Constitucional. 6ª ed. São Paulo: Malheiros, 2007.
SILVA, José Carlos Alves da. Favelas e meio ambiente urbano. “In” DALLARI, Adilson
Abreu; DI SARNO, Daniela Campos Libório. Direito urbanístico e ambiental. Belo
Horizonte: Editora Forum, 2007.
SILVA, Virgílio Afonso da. Princípios e regras: mitos e equívocos acerca de uma distinção.
Revista Latinoamericana de estudos constitucionais, volume 1, p. 603-630,2003.
SOUZA, Jorge Henrique de Oliveira. Tributação e meio ambiente. Belo Horizonte: Del Rey,
2009.
SOUZA, Luis Sérgio Fernandes de. O papel da ideologia no preenchimento das lacunas no
direito. São Paulo: Editora RT, 1993.
SOUZA, Marcelo Lopes de. Mudar a cidade: uma introdução crítica ao planejamento e à
gestão urbanos. 2ª ed.. Rio de Janeiro; Bertrand Brasil, 2003.
________ . O desafio metropolitano: um estudo sobre a problemática sócio-espacial nas
metrópoles brasileiras. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
SUNDFELD, Carlos Ari. Direito administrativo ordenador. São Paulo: Malheiros, 1997.
________; MONTEIRO, Vera (org.). Introdução ao direito administrativo. São Paulo:
Saraiva, 2008.
________. Função social da propriedade. “In”: DALLARI, Adilson Abreu; FIGUEIREDO,
Lúcia Valle (coords.). Temas de direito urbanístico-1. S. Paulo: Revista dos Tribunais, p. 1-
22, 1987.
206
TAVARES, André Ramos, Elementos para uma teoria geral dos princípios na perspectiva
constitucional. “In”: LEITE, George Salomão (org.). Dos princípios constitucionais:
considerações em torno das normas principiológicas da Constituição. São Paulo: Malheiros,
p.21-51, 2003.
TONANI, Paula. Responsabilidade decorrente da poluição por resíduos sólidos. 2ª ed. São
Paulo: Método, 2011.
VILLAÇA, Flávio. Uma contribuição para a história do planejamento urbano no Brasil. “In”:
DEAK, Csába; SCHIFFER, Sueli Ramos (org.) O processo de urbanização no Brasil. São
Paulo: Edusp, p. 171-243, 1999.
________. As ilusões do plano diretor. Disponível em
http://www.flaviovillaca.arq.br/pdf/ilusao_pd.pdf, acesso em 22/02/2013.
“Sites” consultados: