Glossário Alberto Caeiro
Glossário Alberto Caeiro
Glossário Alberto Caeiro
Letra a letra G l os s á r i o
Deambulação Ação de vaguear, andar sem destino, errar por entre a Natureza, a que o sujeito poé-
tico se dedica em O Guardador de Rebanhos. Com efeito, o poeta afirma que tem «o costume de
andar pelas estradas», apreendendo o mundo de acordo com os seus sentidos, sobretudo a visão.
Aparente simplicidade Alberto Caeiro é o heterónimo, o «mestre», que rejeita o pensamento e lhe
nega qualquer utilidade. No entanto, momentos há em que ele próprio reconhece que não conse-
gue livrar-se totalmente deste elemento que o aproxima dos restantes mortais. Nestes momen-
tos, percebe-se uma certa contradição entre aquilo que defende e o que acaba, por vezes, por
fazer e revelar.
(O) Guardador de Rebanhos Livro de Alberto Caeiro, composto por
49 poemas.
Numa carta a Adolfo Casais Monteiro, Pessoa conta que terá
escrito «trinta e tantos poemas a fio» de uma só vez, no dia
«8 de março de 1914». Nesta obra, o sujeito poético assume-
-se como um «guardador de rebanhos», alguém que vive em
comunhão com a Natureza e apresenta a sua filosofia de vida.
Na verdade, uma antifilosofia, dado que rejeita o pensamento.
Natureza Elemento de que os homens fazem parte, no mesmo
nível que as árvores ou as flores. Como tal, a atitude defendida
é de comunhão e de harmonia com ela, devendo o indivíduo
privilegiar a proximidade com o meio natural e afastar-se do
humano, dado que a proximidade ao homem significa uma aproxi-
mação ao pensamento e aos vícios que este implica.
Objetividade De acordo com Caeiro, as coisas são só aquilo que vemos, que cheiramos, que palpa-
mos, de que sentimos o sabor. Por este motivo, não há que pensar nelas ou que lhes atribuir signi-
ficados, ou seja, a realidade deve ser encarada de modo objetivo, limitando-se o indivíduo a
apreendê-la de acordo com os seus sentidos.
Paganismo Filosofia segunda a qual a presença de Deus se faz sentir na própria Natureza. Assim,
divinas são as flores e as árvores e tudo o que se consegue apreender através dos sentidos.
De resto, «Pensar em Deus é desobedecer a Deus».
Poemas Inconjuntos Obra, de um conjunto de três, que reúne 49 poemas de Alberto Caeiro.
Postura antimetafísica Caeiro é o poeta que rejeita o pensamento, assumindo uma posição antime-
tafísica, isto é, rejeita o pensamento e, por isso, rejeita qualquer filosofia, negando-lhe qualquer
utilidade. Por oposição, defende a primazia das sensações, sobretudo, da visual.
Sensacionismo Alberto Caeiro defende uma filosofia de vida de acordo com a qual o mundo é feito
para ser sentido e não para pensarmos nele. Assim, defende que conhecer realmente o mundo e
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as coisas é algo que deve ser feito por meio das sensações – visual, auditiva, olfativa, tátil e gusta-
tiva –, único meio de efetivamente apreender a singularidade de cada elemento, uma vez que o
pensamento as torna todas iguais («Sei que a pedra é real, e que a planta existe. / Sei isto porque
elas existem. / Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.»).
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