Atencao Plena Profunda - Mark Williams e Danny Penman
Atencao Plena Profunda - Mark Williams e Danny Penman
Atencao Plena Profunda - Mark Williams e Danny Penman
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou
reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização por escrito dos
editores.
Williams, Mark
Atenção plena profunda [recurso eletrônico] / Mark Williams, Danny Penman ; tradução Michela
Korytowski. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Sextante, 2024.
recurso digital
Tradução de: Deeper mindfulness
Formato: e-book
Modo de acesso: World Wide Web
ISBN 978-65-5564-808-9 (recurso eletrônico)
1. Atenção Plena (Psicologia). 2. Meditação. 3. Técnicas de autoajuda. 4. Livros eletrônicos. I. Penman,
Danny. II. Korytowski, Michela. III. Título.
CDD: 158.13
23-87426
CDU: 159.952
danny
Para Sasha e Luka
mark
Para Elliot e Sebastian
SUMÁRIO
3. Quadro a quadro
Um ano de prática
Para ler e pesquisar
Notas
Agradecimentos
CAPÍTULO 1
Com que frequência você age como essa cachorrinha? Livre, mas sempre
andando em círculos em sua mente. Livre para ser feliz, mas aprisionado aos
mesmos pensamentos repetitivos e sombrios. Livre para se sentir em paz
com você mesmo e com o mundo, mas ainda assim atado à ansiedade, à
infelicidade e à exaustão.
Tão livre quanto um cachorro em um cercado.
Quantas vidas desperdiçadas por causa de pequenas tragédias como
essa! No fundo, sabemos que somos capazes de viver de maneira feliz e
plena, embora algo sempre nos impeça de alcançar esse objetivo. Como se a
vida estivesse ao nosso alcance e ainda assim escapasse por entre os dedos.
Embora períodos de angústia pareçam surgir do nada, eles nascem de forças
psicológicas profundamente arraigadas. Neurocientistas começaram a
entender como esses processos guiam nossos pensamentos, sentimentos e
emoções – e o mais importante, descobriram por que eles às vezes falham e
deixam nossa vida muito aquém de seu verdadeiro potencial. Essas novas
descobertas, além de mostrarem por que a atenção plena é tão eficaz no
alívio do estresse, abrem portas para métodos sutilmente diferentes que
podem até ser mais eficientes. A atenção plena não foi substituída – ao
contrário, pode ser expandida para incluir uma dimensão nova e
transformadora.
Este livro reúne novos avanços que vão ajudá-lo a deixar de lado as
preocupações e oferecer as ferramentas necessárias para lidar com a
ansiedade, o estresse, a infelicidade, a exaustão e até mesmo a depressão.
Quando essas emoções desagradáveis evaporarem, você redescobrirá um
espaço interno de profunda calma, a partir do qual poderá reconstruir a
vida.
Podemos ajudar você a fazer isso porque nós – e nossos colegas da
Universidade de Oxford e outras instituições ao redor do mundo –
passamos muitos anos desenvolvendo tratamentos para ansiedade, estresse,
depressão e exaustão. Juntos, criamos a terapia cognitiva baseada na atenção
plena (também conhecida pela sigla em inglês MBCT, mindfulness-based
cognitive therapy), comprovada clinicamente como um dos tratamentos
mais eficazes contra a depressão nos dias de hoje.2 Desse trabalho surgiu
nosso livro Atenção plena (Mindfulness): Como encontrar a paz em um
mundo frenético. Conforme atestam pesquisas médicas na Universidade de
Cambridge e em outras instituições, este livro e seu programa de atenção
plena constituem um tratamento bastante eficaz contra ansiedade, estresse e
depressão. Tanto que passou a ser recomendado por médicos e psiquiatras
em todo o mundo para ajudar pessoas a lidar com uma grande diversidade
de condições de saúde mental, inclusive com a infelicidade generalizada e a
insatisfação com a vida.
As práticas que apresentamos no livro Atenção plena (Mindfulness), ao
lado de técnicas semelhantes ensinadas em cursos sobre redução do estresse
com base na atenção plena (Mindfulness-based Stress Reduction – MBSR),
são apenas os primeiros passos para um caminho mais longo e proveitoso.
Embora formem a base para uma vida mais significativa, feliz e
transformadora, há quem nos pergunte se existe algo além que possa ser
feito para aperfeiçoar as práticas e resolver outros problemas.
A resposta é sim. Existe uma maneira de aperfeiçoar a atenção plena, de
se aprofundar e liberar mais de seu potencial, explorando outra fronteira
conhecida como vedanā, ou tom de sentimento. Você não precisa de uma
ampla experiência em meditação para desfrutar essas práticas. Pesquisas
revelam que meditadores iniciantes podem se beneficiar tanto quanto
aqueles que praticam a meditação há muito tempo.
Embora o tom de sentimento costume ser desconsiderado na meditação,
ele é um dos quatro fundamentos originais da atenção plena. São eles:
atenção plena do corpo e da respiração; atenção plena dos sentimentos e das
sensações (ou vedanā); atenção plena da mente ou da consciência; atenção
plena da natureza mutável do mundo e do que ajuda ou atrapalha sua
jornada por ele. Cada um desses aspectos é cultivado por meio de um
conjunto diferente de práticas que, somadas, produzem efeitos bem diversos
na mente e no corpo. Os cursos de atenção plena se concentram na primeira
camada de cada um desses quatro fundamentos. Este livro adota novas
meditações sobre tons de sentimento de modo a acessar as camadas mais
profundas dos quatro aspectos da atenção plena. São meditações que
aproximam você de sua essência, de quaisquer dificuldades e, especialmente,
de suas soluções.
Os links para meditações podem ser encontrados nos quadros “Práticas para a
semana” nos Capítulos 5 a 12. Sugerimos que leia as instruções de meditação
conforme descritas no livro antes de ouvir as versões em áudio e seguir as
orientações.
CAPÍTULO 2
Cronometre o tempo que vai levar para ler os dois primeiros versos desta canção infantil:
Quadro a quadro
1
O ano é 1877 e o fotógrafo, o inglês Eadweard Muybridge. A discussão,
que já dura séculos, é se em algum momento, enquanto um cavalo
galopa, as quatro patas saem do chão ao mesmo tempo. Para solucionar a
dúvida, foram posicionadas doze câmeras ao longo de uma pista de corrida
de cavalos em Palo Alto, Califórnia, com fios amarrados ao longo do
circuito diante de cada câmera. Conforme o cavalo passava, arrebentava os
fios e fazia disparar cada câmera. Quando as fotografias foram reveladas,
mostraram a resposta. E, sim, havia um pequeno momento em que o cavalo
flutuava no ar. O uso dessa nova tecnologia de câmeras cuidadosamente
posicionadas permitiu que Muybridge captasse uma nova visão, quadro a
quadro, algo nunca visto antes.
Este livro é um convite para você adotar uma abordagem semelhante com as
atividades de sua mente e de seu corpo. Preste atenção no que o corpo está
sentindo no momento presente, no que realmente está vendo, ouvindo,
tocando, saboreando e cheirando. Enquanto isso, preste atenção no que a
mente está fazendo. Ela está envolvida em uma tarefa, perdida em
pensamentos, relembrando, planejando, sonhando acordada ou se
preocupando? E o que acontece logo depois que qualquer sensação,
pensamento, sentimento ou emoção surge? Analisar tudo isso quadro a
quadro é descobrir um mundo novo, livre de simulações. Um vislumbre
direto. Não se trata de uma ideia abstrata ou complexa. Sua qualidade de
vida depende disso. Essas percepções momentâneas podem dar um valioso e
antecipado sinal de alerta dos impulsos capazes de mudar radicalmente seu
mundo. Elas também possibilitam que você sinta e dê margem a
pensamentos, sentimentos e emoções que desencadeiam suas reações mais
negativas, proporcionando um momento em que pode optar por responder
em vez de reagir. E, como vimos nos capítulos anteriores, dentro de cada um
desses momentos existe um elemento oculto. Na antiga Índia, e nas
tradições dela originadas, isso era conhecido como vedanā.2 Nós o
conhecemos como tom de sentimento, ou a “sensação” de uma experiência.
O tom de sentimento é aquela primeira sensação de que algo é
agradável, desagradável ou neutro. Não é um sentimento no sentido de uma
emoção – uma tristeza profunda, um grande entusiasmo, uma preocupação
agitada ou um relaxamento –, e sim uma sensação muito mais simples do
prazer ou desprazer de uma experiência. É uma “sensação sentida”
instantânea, automática e silenciosa. Você simplesmente sabe que ela
apareceu. Não precisa julgá-la nem pensar sobre ela. Tem uma pureza
simples.
No entanto, os tons de sentimento podem ser imprevisíveis. Não é
possível saber de antemão a sua forma. Eles não existem nos objetos, mas
surgem do contato deles com a mente e o corpo e seu estado naquele exato
momento. Por exemplo, você pode gostar de bolo de chocolate, mas, se
acabou de comer uma refeição pesada, até pensar nele pode ser
desagradável. Se você estiver ocupado, a notificação de uma mensagem pode
parecer uma perturbação desagradável, mas, se estiver se sentindo sozinho,
essa notificação pode criar um tom de sentimento agradável. Esse cenário de
contextos e humores sempre em mudança dificulta prever o que terá um
efeito agradável ou desagradável. A única maneira certa de saber é prestar
atenção no agora. E como os tons de sentimento surgem e vão embora com
rapidez, pode ser difícil notá-los, a menos que você cultive intencionalmente
a consciência deles. Percebê-los também é importantíssimo porque moldam
o que acontece a seguir. Tons de sentimento agradáveis tendem a
desencadear um desejo por mais momentos semelhantes. Tons de
sentimento desagradáveis tendem a desencadear uma sensação de aversão,
de querer afastar, de resistência. Os neutros encorajam o “desligar-se” – por
exemplo, ao ler um livro, você pode se sentir entediado com um capítulo e
querer pular para outro. Essas pulsões de reatividade, como são chamadas
agora, são tão convincentes – e surgem tão rápido – que podem arrastá-lo
para uma espiral de pensamentos antes de você perceber sua presença. Um
momento desagradável, quando notado, pode levar em uma direção
negativa capaz de durar horas, dias ou até mais que isso. Já quando surge um
momento agradável, no afã de fazê-lo durar mais, você tenta agarrá-lo, para
descobrir que ele está escapando por entre os dedos e desencadeando ondas
de frustração e sentimentos de perda. Quem sabe até mesmo angústia
existencial. Nesse sentido, tons de sentimento podem ser pontos de virada
para a qualidade do próximo momento.
Embora você não consiga deter ou mudar os tons de sentimento, pode,
sim, controlar o que acontece a seguir. A atenção plena pode se tornar um
ponto de controle que permite interceptar quaisquer ondas de reatividade
ou emoções negativas, antes que se tornem uma espiral descontrolada. Ela
também impede que essas pulsões de reatividade dominem o dia a dia com
toda a negatividade que trazem. Como diz o professor de meditação Joseph
Goldstein, “A atenção plena do tom de sentimento é uma das chaves mestras
que revelam e liberam os padrões mais profundos de nosso
condicionamento”.3
Esse é um conhecimento oculto – parte da tradição de sabedoria que
influenciou a prática da meditação por milênios – mas raramente revelado.
E seu verdadeiro significado só recentemente veio à tona. A neurociência
descobriu agora a importância dessa “primeira impressão”: ela é
fundamental para todos os seres vivos. Assim como as plantas se inclinam
na direção da luz do sol e as raízes se espalham na direção da água, todo ser
vivo tem meios para discernir o agradável do desagradável. Toda vida
depende disso.
Os tons de sentimento são imediatos e dependem de sensibilidades
incorporadas em cada célula do corpo desde os primórdios da evolução. Até
mesmo criaturas unicelulares são sensíveis a nutrientes e toxinas, o que lhes
permite diferenciar uma coisa da outra.4 Essa é a essência do vedanā. Ajudar
todos os seres vivos a distinguir entre aquilo de que devem se aproximar
(agradáveis) ou se afastar (desagradáveis) e encorajá-los a ficar quietos se
tudo estiver bem (neutros). Sem essa sensibilidade, seriam como um barco
sem leme, sem nada para afastar do perigo e levar a um porto seguro.
De muitas maneiras, vedanā marca a diferença entre vida e uma mera
máquina.
Mas nós, humanos, temos uma dificuldade única e especial quando se
trata de vedanā: a vida mental é tão complexa que podemos nos perder
dentro dela. Pensamentos, lembranças e planos, que também carregam tons
de sentimento, podem nos obrigar a fugir da mente. E embora possamos
fugir, nunca podemos escapar.
Essa era a situação de Alice. Ela passou muitos anos dominada por dores
mentais e físicas – uma dor inevitável oriunda de um momento no passado
remoto.
Na adolescência, Alice era uma atleta promissora do salto em altura –
uma habilidade que lhe trouxe consequências desagradáveis na vida adulta,
quando desenvolveu dores crônicas nas costas. Mesmo convencida de que
sabia a causa, foi encaminhada a um especialista e explicou ao médico que
as dores eram resultado de um acidente que sofrera ao praticar salto em
altura quando adolescente.
“Minha mãe era contra eu praticar esse esporte porque achava perigoso”,
disse ela. “Então eu fugia para ir às competições. Sou um espírito rebelde,
sempre fui, e o campeonato municipal estava se aproximando, assim me
inscrevi secretamente. E venci! Claro que minha mãe acabou descobrindo.”
Alice conta que, naquela época, usava-se somente areia para amortecer a
chegada ao solo, “e o meu salto da vitória me deixou com as costas muito
machucadas. Eu pousei de maneira desajeitada e machuquei o cóccix. Desde
então minhas costas me incomodam. O pior de tudo não era tanto a dor; era
minha mãe me perturbando por causa do acidente. Até hoje, posso ouvi-la
gritando: ‘Você é a única responsável! A culpa é toda sua! Olhe para você –
poderia ter destruído a sua vida!’ Então, sempre que minhas costas doem,
ouço minha mãe me culpando por ter me machucado. E ela estava certa. Era
minha culpa. Fui contra a vontade dela e paguei o preço.”
Quando o especialista analisou a tomografia, descobriu que o cóccix de
Alice estava em perfeitas condições. A dor não tinha nada a ver com o
acidente. E disse mais: “Você tem sido muito dura consigo mesma, e isso faz
com que se sinta ainda pior. O modo como você vem se punindo
emocionalmente tem ampliado a sua dor.”
Embora a história de Alice seja bastante radical, serve para mostrar algo
maior: o sofrimento físico e o mental podem piorar com as histórias que
contamos para nós mesmos, acabando por nos levar a um entendimento
completamente equivocado da verdadeira causa do sofrimento. Achamos
que foi causado por algo específico (no caso de Alice, um cóccix
machucado), mas pode ser o resultado de algo bem diferente. Esse estranho
estado de coisas ocorre por causa da maneira como usamos as histórias a
fim de dar sentido às nossas experiências – e para entendê-las,
proporcionando-lhes um significado que é incorporado ao nosso modelo
mental para nos ajudar a sobreviver e prosperar em um mundo complexo.
Sob vários aspectos, somos máquinas de histórias. Dê a qualquer um de nós
fragmentos de informações que em instantes traçamos uma comédia ou
uma tragédia tão poderosa quanto qualquer drama shakespeariano. Isso não
seria tão ruim se usássemos o tempo criando histórias positivas e
inspiradoras, mas não é o que acontece. Costumamos fazer o contrário,
porque a informação mais marcante, aquela armazenada em nosso cache
mental, tende a ser negativa. E como diria qualquer diretor de Hollywood,
as histórias mais atraentes tratam de dor, luta, medo, horror, tragédia e
perda. Mas não são as histórias em si que “estragam” nosso bem-estar, e sim
nossa reação a elas. A mente costuma reagir com exagero aos eventos e às
histórias que eles inspiram. Como Alice, podemos acabar culpando a nós e
aos outros por coisas que deram errado. Os pensamentos negativos podem
desencadear uma sucessão de outros problemas, mergulhando a mente
obcecada num círculo vicioso, alternando entre a raiva da autojustificativa e
a dor da culpa. Um pensamento rapidamente desencadeia outro, e mais
outro, até nos afundarmos em raiva, preocupação, estresse, infelicidade e
exaustão. Esses são sinais de que o modo Conduzido sequestrou a mente
(ver quadro Tons de sentimento dos modos Atuante e Existente do corpo e
da mente, no final do capítulo 2).
Dessa forma, ecos do passado podem ter fortes repercussões,
preparando o terreno para os problemas que virão. E, a menos que
estejamos atentos, um acidente pode levar a uma autopunição implacável
por termos cometido tal “erro”. Falhar na escola pode trazer medo,
ansiedade e estresse. Repreensões dos pais podem criar um mundo de dor
psicológica.
O efeito disso tudo na dor de Alice era evidente para o médico, mas não
para ela. Além de bastante desagradável, a dor física desencadeava
pensamentos e sentimentos ruins: culpa, vergonha e raiva de si mesma e da
mãe. Cada um desses sentimentos e pensamentos surgia com seu tom de
sentimento desagradável, que se entrelaçava com a dor existente para
agravá-la ainda mais. À medida que os tons de sentimento geravam um
efeito cascata nos momentos seguintes, Alice ia se sentindo ainda mais
aprisionada. Tudo que conseguia imaginar era um futuro dominado
somente por dor e sofrimento.
Mas ainda existia uma centelha de esperança. Embora a dor de Alice
trouxesse de volta todo o passado doloroso, piorando o incômodo, eram os
tons de sentimento do momento presente que mantinham seu sofrimento.
Isso é tão importante que precisa ser enfatizado: não é o passado que cria os
problemas, mas como você reage a ele neste exato momento. O único poder
que uma lembrança tem sobre você é o de influenciar os tons de sentimento
– e suas reações a eles – no momento presente. E isso tem enormes
implicações. Embora os tons de sentimento surjam a cada momento e não
possam ser modificados, as reações nos momentos seguintes são
potencialmente flexíveis. O sofrimento não precisa se disseminar no futuro.
Futuros alternativos estão disponíveis para você.
Uma analogia pode ajudar a entender melhor toda essa questão.
Voltando aos tempos de escola, lembro-me de um experimento em que
limalhas de ferro espalhadas sobre um pedaço de papel eram movidas por
um ímã posicionado bem abaixo dele. As limalhas dançavam como se
tivessem vida. Os padrões que criavam eram lindos. Mas o que acontecia
quando se tirava o ímã? As limalhas colapsavam em uma pilha sem vida.
Vedanā é como esse ímã escondido, como um campo magnético fazendo a
mente dançar ao som de sua melodia, assim como aquelas limalhas de ferro.
Isso acontece porque os sentimentos gerados são tão atraentes que mal
conseguimos tirar os olhos da história que está sendo contada na superfície.
Não vemos as forças que estão criando a história e a mantendo viva. A
sensação desagradável que nos invade não é um efeito colateral dos
pensamentos e das lembranças dolorosas. Na verdade, ela os traz à tona. Ela
é o mestre de cerimônias. Vamos falar mais sobre essa importante
descoberta nos próximos capítulos, mas por enquanto basta saber que esses
tons de sentimento em constante mudança são naturais e automáticos. Você
não pode controlá-los. Mas pode controlar o que acontece a seguir.
PRÁTICAS ESSENCIAIS
Cada semana usa uma meditação guiada diferente. A maioria tem três
durações: 10, 20 e 30 minutos. Com isso se consegue escolher a mais
adequada ao tempo disponível naquele momento. Você pode praticar uma
versão de 10 minutos de manhã e à tarde, ou uma única versão de 20
minutos uma vez por dia. É importante experimentar, ao menos uma vez
por semana, a versão de 30 minutos de cada meditação. Caso planeje
meditar logo após voltar do trabalho, é melhor comer ou beber algo antes.
Mesmo um pouco de fome ou sede pode desviar sua atenção. O mesmo vale
para aquela vontade quase imperceptível de ir ao banheiro. Se você preferir
meditar de manhã, talvez seja melhor dormir um pouco mais cedo, para que
a prática não roube tempo do sono e não seja feita às pressas. A regularidade
também é importante porque é um antídoto contra a procrastinação. No
começo, pode ser difícil encontrar tempo, mas a meditação tende mais a
liberar tempo do que a consumir. É muito importante que você se
comprometa a levar as meditações adiante. Não se esqueça de que, embora
exijam constância, já ajudaram comprovadamente muitas pessoas. Também
funcionam melhor quando dedicamos o tempo necessário a elas todos os
dias. Para aproveitar os benefícios, você precisa se comprometer a completar
o curso de oito semanas. Lembre que os benefícios podem não ser
imediatos. No entanto, muitas pessoas informam que se sentiram mais
relaxadas e felizes já no primeiro dia.
Depois de um ou dois dias de meditação guiada, você pode escolher
como quer praticá-la: continuar usando o guia completo de meditação ou as
“instruções mínimas” pelo restante da semana. Conforme for avançando nas
semanas do programa, você talvez prefira usar a faixa silenciosa que toca um
sininho a cada 5 minutos. Uma vez familiarizado com a meditação, pode
fazê-la sozinho sem nenhum guia ou marcador de tempo. Neste caso, sinta-
se à vontade para voltar à faixa guiada a qualquer momento para refrescar a
memória. Às vezes até os meditadores mais experientes seguem meditações
guiadas. Muitas pessoas descobriram também que manter um diário de suas
experiências as ajudou a incorporar os benefícios.
É importante perceber que você pode interromper a prática diária a
qualquer momento. De vez em quando se pergunte: Preciso disso agora? ou
Isso está me ajudando? Caso sinta que a resposta é negativa, fique à vontade
para dar um tempo na prática e retornar quando se sentir pronto.
PRÁTICA DIÁRIA DA ATENÇÃO PLENA
Depois de apresentar esses fundamentos, vamos pedir que você explore os tons de
sentimento em três estágios consecutivos nas três semanas seguintes: primeiro, sempre
que a mente divagar; segundo, enquanto caminha com atenção plena; terceiro, durante
cada expiração. Essas três semanas desenvolvem progressivamente as habilidades
essenciais da percepção do tom de sentimento – habilidades que transformarão sua
vida. Você também aprenderá a reconhecer a natureza evasiva e em constante mudança
da tonalidade e quanto do que você pensa, sente e faz depende tanto dos tons de
sentimento subjacentes quanto do pensamento racional consciente. Uma vez que
aprenda isso de maneira verdadeira e profunda, você terá condições de recuperar mais
uma vez o controle do seu cotidiano.
Muitas vezes você pode achar que não tem tempo livre para meditar. E isso é
verdade. A vida é agitada, com muitas prioridades. E mesmo que tivesse
algum tempo sobrando, aposto que já teria preenchido com alguma tarefa.
Então, você precisa reservar um tempo para meditar, mas a longo prazo
ganhará esse tempo de volta, já que essa prática simplifica a vida. Caso ainda
esteja preocupado com esse compromisso, se pergunte de maneira gentil
quanto tempo você perde se preocupando, procrastinando e cultivando
hábitos aparentemente inúteis. Que tal dedicar parte desse tempo à
meditação?
Algumas pessoas relutam em começar um programa de meditação,
porque temem que seja visto como autoindulgência. Se você tem essa
preocupação, talvez seja interessante enxergar isso como um programa para
exercitar a mente. É comum passar várias horas por semana correndo ou
praticando exercícios na academia. Que tal dedicar algum tempo todos os
dias fazendo o mesmo pela sua mente?
Onde...
É melhor meditar em um lugar agradável e calmo. Pode ser um canto
simples e tranquilo de casa. Tente evitar o quarto porque pode evocar
sonolência. Mas, se for o lugar mais quieto e tranquilo que você tem
disponível, não há problema em meditar nele. É importante avisar a todos
em casa que, durante a meditação, não gostaria de ser interrompido.
Algumas pessoas têm vergonha de pedir isso temendo que os outros achem
a atenção plena um pouco estranha. No entanto, seus amigos e familiares
ficarão felizes de ver você dedicando um tempo para melhorar o seu dia a
dia.
De quais equipamentos você vai precisar? Apenas um celular ou
computador para ouvir as faixas da meditação guiada (ou transmiti-las pela
TV, no fone de ouvido ou aparelho de som), uma cadeira para se sentar e
talvez uma manta para aquecer as pernas. Caso use o celular para as
meditações, é importante desligar as notificações e colocar no modo “não
perturbe”. As faixas de meditação de cada semana podem ser encontradas
no site www.sextante.com.br/atencaoplenaprofunda.
... como...
A maioria das pessoas prefere meditar em uma cadeira de encosto reto, mas
não há problema algum em sentar-se em um banco ou usar uma almofada.
Caso seja difícil permanecer sentado, os meditadores se deitam em tapetes.
Ao meditar sentado, adote uma postura alerta, ereta mas relaxada, de
modo que sua coluna se autossustente, a uma distância de 2 a 3 centímetros
do encosto da cadeira. Sentar-se assim e colocar uma almofada no assento
costuma ajudar na postura, deixando o quadril um pouco mais alto que os
joelhos. A coluna também segue sua curvatura natural e cria uma sensação
de abertura no peito, além de estimular a vigilância e a luminosidade das
emoções. Os pés devem estar apoiados no chão, na linha do quadril. Isso dá
uma sensação de força e estabilidade. As mãos devem ficar relaxadas,
apoiadas no colo ou nas coxas.
A melhor posição é aquela que causa a menor tensão muscular e
estimula um estado de espírito alerta porém relaxado. Lembre-se, você não
ganhará nada se forçando em uma posição difícil ou desconfortável. Não é
preciso se sentar de pernas cruzadas no chão. Jornais e revistas adoram
publicar fotos de pessoas meditando nessa posição, mas ela não é
obrigatória. É apenas a maneira como as pessoas tradicionalmente
meditavam no Oriente.
Talvez você necessite mudar de posição no meio da prática. E não há
problema algum em fazer isso. A inquietude é normal, e mesmo
meditadores experientes precisam se mover de vez em quando. Caso tenha
que mudar a posição, inclua essa conduta na meditação, movendo-se com
total atenção plena, percebendo como o tom de sentimento oscila antes,
durante e depois do movimento.
... e quando?
Que tal fechar os olhos por alguns momentos, respirar fundo e começar
agora mesmo?
CAPÍTULO 5
Pode ser muito difícil começar a praticar meditação – e até acreditar que
está conseguindo lidar com emoções nebulosas – e acabar se sentindo mais
triste, ansioso ou com raiva. Para algumas pessoas, é como se a meditação
tornasse tudo mais intenso. Um estado de espírito difícil, lembranças,
sonhos, planos ou preocupações que acompanham a meditação podem
atacar a mente. Isso acontece com qualquer um, porém é mais provável
ocorrer com aquela pessoa que sofreu situações traumáticas no passado. Às
vezes, os sentimentos surgem tão rápido quanto desaparecem, outras vezes
permanecem, como se tivessem fixado morada na mente e se recusassem a
partir. Antes de embarcar na Semana 1, é importante saber o que pode ser
feito quando esses desafios surgem, tanto na meditação quanto no cotidiano.
Tempestades repentinas
As dificuldades podem surgir a qualquer tempo, dia ou noite, e não apenas
enquanto meditamos – e tendem a ser desgastantes. Quando isso acontecer,
tente ser gentil consigo mesmo. Talvez respirando mais profundamente e
voltando sua atenção para os pés a cada expiração (veja o quadro a seguir).3
Ao fazer isso, explore as sensações do contato entre os pés e a superfície que
os sustenta. Isso ajuda a encontrar um “terreno firme” para decidir o que
fazer a seguir.
Fique em pé, com os pés afastados na largura dos ombros, e inspire longa, lenta e
suavemente.
Expire devagar, de forma natural e, ao fazer isso, direcione a atenção para as solas
dos pés.
Perceba todas as sensações que vêm e vão como as ondas no mar. Talvez você se
dê conta de uma pressão embaixo dos calcanhares e dos dedos, uma dor
generalizada ou um formigamento por todo o pé. Talvez haja partes quentes, frias ou
umidade entre os dedos. É possível também que você não experimente nada, então
tente não antecipar o que poderá ocorrer.
Esse exercício pode ser feito durante uma respiração (em torno de 6 segundos) –
mas quanto mais, melhor.
Como algo tão simples pode ser tão poderoso?
Quando você desvia a atenção da mente agitada para as sensações do
corpo (no caso, os pés), muda o que preenche a mente e também todo o seu
modo de funcionamento: passa do modo pensar para o modo sentir (do
Conduzido para o Existente). O modo Conduzido é um ótimo solucionador
de problemas – não vamos criticá-lo –, mas sua principal forma de resolver
atritos é fazendo viagens mentais no tempo: “Apressa-se para um futuro que
se afasta... sonhando com um passado imaginado” nas palavras do poeta R.
S. Thomas.5 Ficar preso em uma espiral de pensamentos gera mais
pensamentos. Isso tende a trazer mais lembranças ruins e futuros nefastos,
além de criar ansiedade, estresse e infelicidade, e ainda queimar energia. Se,
em vez disso, você se desviar por completo do modo Conduzido, estará se
desviando dos problemas. Porque eles acontecem apenas no momento
presente, e é importante se concentrar nas sensações.
Outra maneira de entrar no modo Existente em momentos de
dificuldade é perceber os sinais que o corpo está emitindo. Para isso,
expanda o foco da atenção para todo ele, de modo que o conflito ocupe um
espaço maior, e deixe a respiração em segundo plano. Lembre-se de que,
nesses instantes, é normal deslocar o foco da atenção do corpo para coisas
ao seu redor. Você pode intencionalmente olhar em volta e nomear os
objetos que vê, como cadeira, tapete ou quadro, ou se concentrar nos sons
que consegue ouvir.
Dificuldade ao meditar
Às vezes bate uma tristeza quando se está meditando, em especial se algo
problemático incomoda ou faz você se lembrar de eventos dolorosos do
passado. Esses problemas parecem ser reativados pela própria meditação, ou
talvez ela seja diferente do relaxamento que você buscava. Nesses momentos
é bom ter consciência de que há escolhas, sim. Não é necessário forçar uma
meditação que esteja causando um desconforto mental ou físico extremo. O
objetivo da meditação não é “endurecer o seu coração” nem fazer você se
desconectar e não se sentir totalmente vivo e capaz de abraçar a vida. Ao
contrário, você está treinando a mente para lidar de maneira hábil e delicada
com as dificuldades. Então, distinguir entre disposição e capacidade ajuda e
muito.6 Portanto, ao surgir um desconforto em meio à meditação, você pode
escolher se está ou não disposto a lidar com ele. E ainda que esteja, essa é a
melhor coisa a fazer? Pergunte-se com gentileza: será que agora tenho
capacidade, energia, para lidar com isso? Se estiver muito cansado ou
chateado, é normal deixar a dificuldade de lado por um tempo, até que se
sinta capaz de enfrentá-la. Se não quiser deixá-la totalmente de lado, tente
escolher quão próximo quer chegar dela, ficando apenas na margem, vendo
um pouco mais distante, ou talvez ampliando o seu campo de consciência
para todo o corpo, como se o problema ocupasse um espaço mais amplo.
Você também pode definir um limite de quanto tempo vai lidar com ele –
talvez cinco ou dez respirações.
À medida que se familiariza com as meditações e as diferentes âncoras
para a atenção (pés, contato com o assento, mãos ou respiração), perceba
que, quando a dificuldade surge, é normal trocar a prática por sua âncora.
Você também pode fazer isso caso se afaste ou perca o foco e precise
recuperar a atenção. Está livre ainda para transitar entre âncoras ou
combiná-las. Ao se concentrar na âncora escolhida, pergunte-se: Posso ficar
com essas sensações em meio a essa dificuldade? Seja bondoso consigo
mesmo. Não tenha pressa. Não tente ser “forte” para testar até onde aguenta
o sofrimento. Explore apenas. Ao fazer isso, tente dar à dificuldade algum
espaço. Respire com ela, sabendo que está perto mas sem pressa de se
envolver. Caso não se sinta confortável com sua âncora, abra os olhos e
observe o que estiver ao redor.
Se as coisas começarem a se tornar muito intensas, entre em sintonia
com seu corpo e pergunte: Como minha mente e meu corpo estão se sentindo
neste exato momento? O que mais está aqui? Qual é o meu melhor apoio
agora? E então inspire e expire longa, lenta e profundamente... e faça o que
acredita ser o melhor, que pode ser interromper a meditação, abrir os olhos
ou voltar a atenção para a sua âncora. A qualquer momento, sinta-se livre
para revisitar práticas familiares de cursos anteriores, e esteja preparado
para prosseguir quando a vida exigir uma abordagem diferente.
Independentemente do que acontecer durante a prática, lembre-se de
que, em meio aos dissabores, pode parecer que você está totalmente
sozinho, mas não está. Inúmeras pessoas já vivenciaram essa situação e
desejam ajudar. Se você estiver com dificuldade, pare por um momento e
busque apoio, pela internet ou ao vivo. Talvez o aconselhamento de um
professor de meditação seja útil. E você sempre pode procurar tratamento
médico ou psicológico qualificado caso suas experiências se tornem muito
sensíveis (ver o capítulo Para ler e pesquisar).
Dessa forma, ao explorar uma variedade de opções, você encontra
maneiras novas e versáteis de reagir com sabedoria aos altos e baixos do
cotidiano. Ao ser flexível, você ganha mais conhecimento e não perde o que
aprendeu nas meditações anteriores – e isso só pode beneficiar você e
aqueles ao seu redor.
Por todos esses motivos, a primeira coisa que você aprende nesse novo
programa é a se estabilizar e aterrar. Assim, conquista um “lugar de
permanência”, um ponto de observação do qual pode explorar cada
momento de sua experiência.
Os pés
5. Quando estiver pronto, direcione a atenção para os pés, percebendo as sensações
que possam acontecer lá. Comece sentindo o contato com o chão, o tapete de yoga
ou uma superfície qualquer. O que você percebe? Pode ser um formigamento, uma
vibração, uma pressão, calor ou frio nos dedos, nas solas, no dorso dos pés ou nos
calcanhares.
6. Quando estiver preparado, expanda a atenção para todo o pé. Observe qualquer
sensação que possa estar indo e vindo agora. Note quais são as mais proeminentes e
quais estão em segundo plano, sem esperar que nada especial aconteça. Caso não
haja nenhuma sensação, observe isso.
7. Quando a mente divagar, como acontecerá repetidas vezes, conduza a atenção de
volta para os pés com suavidade.
As mãos
9. Deixe de lado o contato com o assento ou o tapete e se concentre nas mãos. Talvez
você note sensações nos dedos e nos polegares, na palma ou no dorso das mãos, no
contato entre as mãos e onde quer que estejam apoiadas naquele instante. Permita
que esse contato esteja em primeiro plano na consciência.
A respiração
10. Quando estiver pronto, transfira a atenção das mãos para a respiração. Encontre um
lugar para que isso aconteça: pode ser a ponta do nariz, as narinas, a parte posterior
da garganta, o peito ou a parte inferior do abdômen, a área ao redor do umbigo.
Escolha um desses pontos e concentre sua atenção nele. Veja o que pode ser
observado, respiração a respiração. Perceba a mudança no padrão das sensações a
cada respiração – o subir da inspiração, o descer da expiração e os movimentos
intermediários. Você não precisa controlar a respiração, só permita que ela ocorra
com naturalidade. Traga a atenção de volta com suavidade quando houver algum
desvio.
Fim
14. Para concluir a prática, lembre-se de que, onde quer que você esteja ou o que quer
que esteja fazendo, algo agradável ou desagradável, perceber os pés no chão, o
assento, a sensação das mãos ou a respiração pode fazer toda a diferença. Encontrar
sua âncora dá a sensação de espaço, escolha e calma.
Tori achou muito útil a ideia de escolher sua âncora. Ela já havia tentado
meditar outras vezes e sempre se concentrava na respiração. Quando o
professor disse que existiam opções – como os pés, o contato com o assento
ou as mãos –, ela pensou que os pés seriam a melhor escolha. Mas,
conforme a meditação fluía, descobriu que, ao concentrar a atenção nas
mãos, se mantinha mais ancorada. “Eu me peguei sorrindo”, disse. “Percebi
que esperava uma coisa, mas ao tentar, acabou por acontecer outra bem
diferente. Foi um pequeno detalhe, mas reconheço que sempre tenho uma
ideia fixa de como as coisas vão ser. Nem sempre é assim.”
A descoberta de Tori pode ter sido pequena, porém traz uma mensagem
importante. Como vimos no Capítulo 2, o padrão da mente é prever o que
vai se desenrolar no momento seguinte com base no que aconteceu no
passado. Isso funciona na maioria dos casos, mas, como observou Tori,
temos ideias fixas de como tudo vai fluir. Quando nossa experiência não
difere muito do previsto, há pouca motivação para prestar atenção na
realidade, por isso não nos damos ao trabalho. Tori decidiu que faria de
cada prática de meditação, dia após dia, um novo experimento, sem
prejulgar o que descobrisse.
“Conforme praticava as meditações”, contou ela, “percebia como minha
âncora mudava a cada dia. Não tinha notado isso antes. E achei um pouco
estranho. O que me estabilizava e me ancorava em um dia não funcionava
no outro. Então comecei a usar diferentes tipos de âncoras para cada dia. E
elas pareciam novas e me davam um sinal mais intenso. Nesse estágio
inicial, eu queria que as coisas fossem mais simples e fáceis, então um sinal
mais intenso, claro e limpo funcionava melhor para mim.”
Dan teve a mesma percepção. “Achava que meus pés em contato com o
chão seriam minha âncora preferida. E gostava das sensações do contato.
Mas, quando minha atenção se voltou para as mãos, elas pareciam ter vida
própria, formigavam. Havia muitas sensações acontecendo. Uma mão
segurava a outra suavemente, e a suavidade desse toque era bonita – como
se meu corpo estivesse sendo gentil com ele mesmo. Eu nunca havia notado
isso antes. E fiquei emocionado – tamanha a surpresa. No dia seguinte foi
diferente. Minha mente estava em todos os lugares, parecia que meus pés e
minhas mãos competiam entre si para se tornar a âncora, então escolhi os
pés – com a respiração em segundo plano. E isso realmente me fez ter mais
ancoragem.”
Meditação “Faça uma pausa” – realizada por 20 minutos (meditação 2.2) uma vez
ao dia ou por 10 minutos (meditação 2.1) duas vezes ao dia, por cinco dias. Uma vez
familiarizado com as instruções, sinta-se livre para usar a versão com instruções
mínimas (meditação 2.4) ou aquela com o som de sininho a cada 5 minutos para
ajudar a escolher a duração da prática do dia.
Meditação “Faça uma pausa”, versão 30 minutos (meditação 2.3) – ao menos um
dia nesta semana, sente-se por meia hora usando esta faixa.
Prática Diária da Atenção Plena: faça pausas durante o dia – veja as instruções
no quadro no final do capítulo 6.
Preparação
1. Você pode meditar deitado – em um tapete de yoga – ou sentado em uma cadeira
firme de encosto reto, em uma almofada ou um banco de meditação. Dedique um
tempo para encontrar uma postura que apoie sua intenção de estar realmente
consciente e presente no momento. Se for confortável, feche os olhos ou abaixe o
olhar.
Fim
12. Lembre-se de que o corpo e a respiração estão sempre disponíveis para ajudá-lo a
fazer uma pausa, não importa o que esteja acontecendo. Eles oferecem um lugar de
quietude e paz no meio do seu dia.
Falar é sempre mais fácil do que fazer, como Ana descobriu: “Eu achava
que admirar a minha mente era algo muito difícil. Fui ensinada nas aulas de
meditação que, quando a mente divaga, ‘tudo bem, é o que ela faz, então de
maneira gentil mas firme traga-a de volta para a respiração’. Mas essa
meditação pede para irmos além: pausar, admirar e depois voltar. Achava
isso bem complicado. Quando comecei a prestar mais atenção nas
instruções da meditação atual, percebi que estava trazendo ideias de minhas
práticas anteriores e não estava seguindo o espírito das novas. Então, de
maneira gentil, tirei da mente as ideias antigas. Também notei que estava
interpretando mal a palavra ‘firme’ (que nem fazia parte da nova
meditação). Eu pensava nela em termos de ‘rigorosa’ ou ‘severa’ – como um
abraço de urso apertado demais. Então me dei conta de que ‘firme’ poderia
ser como um abraço cordial, amável e protetor – com firmeza, mas gentil.
Quando tomei consciência disso, consegui me livrar da ideia do ‘firme’ e
busquei uma atitude mais amável, atenciosa e compassiva. Minhas
preocupações desapareceram.”
Às vezes, no meio de uma meditação que parece estar indo “bem”, uma
lembrança ou um sentimento desagradável pode aflorar. É como se um
interruptor fosse ligado na mente ou um nervo ou um músculo fosse
inesperadamente pressionado, mandando uma dor aguda para a mente ou o
corpo. Era o que acontecia com Jess, quando uma lembrança desagradável
surgia durante a prática, fazendo com que se sentisse culpada.
“Como levar um sentimento de apreciação ou admiração para a mente
quando ela traz de volta essa lembrança horrível?”, perguntou.
Algo semelhante aconteceu com Sim durante a Semana 2. Não foi
desencadeado enquanto meditava, mas quando se olhou de relance em um
espelho de uma loja ao andar pela cidade. “Pensei comigo mesmo: Você é tão
ridículo; tentando ser legal, mas não é. Você sabe disso, por que se esforça
tanto? Isso trouxe de volta vários sentimentos da minha adolescência,
quando outras crianças me provocavam. Ao me sentir assim, era impossível
ser grato por minha mente. Fazia me sentir um tanto inútil e fracassado por
dentro.”
Em cenários semelhantes a essas experiências vividas por Jess e Sim, a
mente – mesmo gritando de maneira severa – ainda acha que está ajudando.
Às vezes é compreensível gritar com alguém, como para alertar uma criança
que vai atravessar uma rua movimentada. Você já passou por situações
iguais a essa ou sofreu com um pai, professor ou colegas agressivos por
muito tempo? A partir de tais experiências ou de um medo instintivo do
fracasso, você pode ter adquirido o hábito de fazer autocríticas pesadas que
assumem a forma de gritos interiores com você mesmo. Na maioria das
circunstâncias, tais gritos não funcionam. Eles apenas o impedem de agir
com eficácia, diminuindo a atenção, minando a criatividade e fazendo você
se sentir um inútil. Ainda assim, muitos de nós persistimos nessas táticas,
como Jess e Sim.
Nessas ocasiões, é um pouco difícil trazer gratidão e admiração para a
mente. Em vez disso, veja se é possível trazer um pouco de gentileza,
voltando-se com compaixão para as ideias negativas que estão sendo
criadas. Talvez ajude dizer para si mesmo: “Tudo bem não gostar disso. Não
é preciso fazer nada agora.” Retornaremos a essa abordagem com mais
detalhes nas Semanas 4 e 5.
Espaçoso
de Kaveri Patel
Querido você,
você que sempre tem
tantas coisas para fazer
tantos lugares para estar
sua mente girando como
pás de ventilador em alta velocidade
a cada momento sempre nebuloso
porque você nunca para
Ana gostava desse poema. Identificar-se com ele trazia esperança para o
futuro. Ela penou na Semana 1 e durante metade da Semana 2. Até que,
enfim, algo mudou:
“Pensei comigo mesma: como tive dificuldade, acabei forçando a barra
para fazer a meditação funcionar. Mas não encontrei o que procurava.
Continuava mais estressada e mal-humorada do que nunca. Percebi que não
estava totalmente comprometida com o espírito das práticas. Eu seguia as
instruções ao pé da letra, mas não me comprometia de verdade com seus
valores internos. Então cheguei à conclusão de que vale a pena
experimentar. Tentarei fazer uma pausa, depois me maravilhar e voltar a me
ancorar no restante dessa semana. Vou me comprometer com o espírito
dessas ideias.
Sei por experiências anteriores que oferecer generosidade, compaixão e
gentileza a mim mesma transformou meu cotidiano quando tentei. Mas
tenho algumas lembranças horríveis, então o desafio é oferecer essa mesma
gentileza para elas. Foi difícil, mas aos poucos algo parecia mudar. Saber que
poderia fazer uma pausa a qualquer momento me ajudou bastante. O que
proporcionou uma perspectiva diferente foi perceber que minha mente
trouxe essas lembranças à tona por um motivo, mas não significava que eu
deveria alimentá-las para piorar a situação. Não precisava que se
apoderassem da minha vida e me definissem como pessoa. Sim, essas coisas
horríveis aconteceram – foram parte da minha história –, uma pequena
parte de mim, não meu todo.
Uma felicidade profunda, quase no final da Semana 2, trouxe uma calma
que havia muito tempo não sentia. Eu estava realmente ‘presente’, como
nunca antes. Foi bem incrível. Senti os benefícios da prática e resolvi, da
melhor forma que pude, deixar de lado todos os autojulgamentos sobre ser
uma pessoa ruim. Reconheço que, no final da semana, percebi os
autojulgamentos retornando, pensamentos do tipo ‘quão melhor eu deveria
estar agora’, e me decepcionei por não ser capaz de manter aquela sensação
anterior de calma. Então percebi que estava sendo atraída para o turbilhão e
consegui sair bem mais rápido do que costumava acontecer.”
Prática Diária da Atenção Plena:
faça pausas durante o dia
Nesta semana, tente fazer pausas durante o dia para entrar em sintonia com a percepção
do mundo ao seu redor. Concentre-se a cada dia em uma “porta sensorial” diferente
(paladar, visão, tato, olfato e audição), passe alguns momentos registrando as sensações
e perceba se são agradáveis, desagradáveis ou neutras. Manter em segundo plano as
sensações da respiração ou dos pés no chão pode ajudar.
Nos próximos dias, faça pausas no cotidiano, focando em cada sentido, percebendo
o que está captando naquele exato momento. Antes do momento desaparecer, veja se
consegue notar se é agradável ou não:
Dia 3 – Tato
Dia 4 – Olfato
Dia 5 – Audição
O que você achou da prática de se reconectar com seus sentidos? Foi difícil?
Reveladora? Estimulante? Ou uma mistura desses três? Noah teve a
impressão de que alguns sentidos são mais difíceis de envolver do que
outros. A audição e visão foram os mais fáceis: “Eles sempre estavam bem
aqui”, disse ele. “Mas tive que me concentrar intencionalmente no paladar.
Parecia haver uma distância entre nós. Até mesmo saborear as coisas mais
familiares, o café, por exemplo, me levava a lugares aonde eu naturalmente
não iria. Então notei algo diferente, mais profundo. Quando percebia algo –
de fato percebia – tudo em volta se tornava mais vívido, não apenas o
sentido que eu estava observando. Entendi isso no terceiro ou quarto dia,
quando estava caminhando pelo bosque e decidi me concentrar na audição.
Ouvi o farfalhar das folhas ao vento, o canto dos pássaros e o estalo das
árvores. Então percebi o cheiro do bosque. Pude sentir vários aromas – a
terra, o cheiro resinoso dos pinheiros, até a umidade do ar. Concluí que os
cheiros são muito mais complexos, com incontáveis camadas. Eu não estava
apenas me envolvendo com o sentido do olfato, mas também com todos os
outros sentidos. De repente, me senti conectado ao bosque – quase parte
dele – porque todos os meus sentidos estavam tentando se conectar com o
mundo ao redor. Acho que nunca vivenciei nada assim antes – pelo menos
desde a infância, quando tudo parecia novo e mágico.”
A experiência de Noah é importante porque destaca os bloqueios
mentais que podem impedir um sentido de exercer seu impacto total.
Lembra-se do Capítulo 2, em que revelamos que o cérebro prevê o que você
sentirá? Voltar a atenção de maneira intencional para os sentidos coloca a
mente preditiva em segundo plano, ao mesmo tempo que o traz de volta ao
momento presente como ele é. Uma vez que você preste atenção total em um
único sentido, a mente preditiva temporariamente retrocede para o segundo
plano, permitindo uma reconexão automática com os outros sentidos
também.
Ana conta como foi sua experiência: “Ao me permitir ter consciência do
que está acontecendo – do que vejo, ouço e cheiro –, me senti mais
conectada com tudo em volta. Comecei a desfrutar muito mais o cotidiano,
apenas me conectando com as pequenas coisas e colocando foco nelas. Esta
semana salvei uma abelha presa no canto da sala. Normalmente, eu nem
teria percebido sua presença lá, mas estava me concentrando na audição,
então ouvi zumbidos frenéticos. É incrível o que deixamos passar.”
Jess se deu conta de que a atenção plena reside nos detalhes: “No último
domingo, saímos para uma longa caminhada. Meu parceiro estava mais
lento que de costume. Fico bastante incomodada por ter que esperar ou
diminuir o ritmo, o que me dá uma sensação de culpa. Dessa vez, decidi
fazer algo novo e pensei: Eis uma boa chance de praticar a atenção plena
diária e aproveitar os sons e a paisagem. Quanto mais eu observava, mais
apreciava aquele local. Fiquei encantada com os arredores, e a sensação de
apenas observar me trouxe quietude. Algo muito profundo. Agora entendo
quando as pessoas falam que a atenção plena não consiste em buscar
grandes transformações ou algum tipo de iluminação. Ela se encontra nas
sutilezas. E na união dessas pequenas realizações – elas se complementam,
até você alcançar uma consciência tranquila.”
O que você notou? A maioria das pessoas afirma que até mesmo imaginar pão
quentinho já causa uma sensação agradável. Elas instintivamente sabem que gostam
daquilo. Não precisam pensar muito tempo sobre isso. Mas a maioria tem certa
dificuldade em dizer que não gosta do cheiro do ralo. De novo, trata-se de uma reação
imediata. Claro que as pessoas diferem no que acham agradável ou desagradável, e em
quão forte é o tom agradável ou desagradável, mas ainda assim ele pode ser detectado.
Meditação “Tom de sentimento” – a ser realizada por 10 minutos duas vezes ao dia
(meditação 3.1) ou 20 minutos uma vez ao dia (meditação 3.2). Em ao menos um dia
desta semana, o ideal é que você medite por 30 minutos (meditação 3.3). Uma vez
familiarizado com as instruções, valerá a pena usar a versão com instruções mínimas
da meditação (3.4) ou praticar o período de tempo escolhido usando a faixa com
som de sininhos. Você também pode anotar no diário (ou na agenda) descobertas,
prazeres ou dificuldades encontrados nas meditações. No total, essas meditações
de tons de sentimento devem ser praticadas em ao menos seis dos próximos sete
dias.
Prática Diária da Atenção Plena: uma reflexão ao fim do dia sobre o tom de
sentimento – ao final de cada dia, reserve algum tempo para que os acontecimentos
despontem em sua mente. Observe o tom de sentimento de cada um. Veja o quadro
Capte a simplicidade dos tons de sentimento, no capítulo 7. Ou você pode usar a
meditação de áudio 3.5 nos próximos dias para se familiarizar.
2
Tom de sentimento de sensações corporais e sons
3. Sentado, traga a consciência para as sensações mais marcantes no corpo e tente
registrar se são agradáveis, desagradáveis ou neutras. O tom de sentimento pode ser
bem sutil em muitas sensações, portanto não se preocupe se tiver dúvida.
Simplesmente aguarde a chegada de outra sensação.
4. Quando se sentir pronto, expanda da melhor forma possível a atenção para os sons,
registrando a tonalidade – agradável, desagradável ou neutra. Não precisa pensar
demais. Apenas registre o que o corpo e a mente já sentem quando um som é
captado.
1. Note o contato do corpo com a superfície em que você está sentado ou deitado ou
ancore a atenção na respiração.
2. Permita que os acontecimentos do dia venham à mente. Ao se lembrar de cada um,
por menor ou maior que seja, deixe que repouse por um momento na mente e observe
seu tom de sentimento – a sensação atual. Agradável, desagradável ou neutra?
3. Permita que o acontecimento seguinte venha à mente se parecer que não há um tom
de sentimento a registrar.
4. Observe se você está sendo levado a pensar sobre a experiência e tente voltar ao
registro da tonalidade sem julgamento – agradável, desagradável ou neutro – antes
de passar ao acontecimento seguinte. Você pode imaginar cada acontecimento como
uma conchinha que pega na praia, olha e depois coloca de volta na areia.
5. Retorne à sua âncora por uns momentos para finalizar a prática.
Conforme você avança pela Semana 3, pode notar que, às vezes, os tons
de sentimento são agradáveis e desagradáveis ao mesmo tempo. Para
Amelie, uma dor de cabeça leve coexistia com uma sensação agradável de
paz, e no momento seguinte ambas davam lugar a uma sensação agradável
de formigamento. À medida que a Semana 3 passava, ficava mais fácil
perceber o momento exato em que um tom de sentimento surgia para então
seguir em frente. Durante a prática do fim do dia, ela disse: “Percebi uma
menor tendência de me envolver nas histórias. Apenas experimentava o
sabor do agradável/desagradável/neutro, e já era o suficiente.”
Pode ser bastante frustrante errar repetidas vezes o mesmo ponto da
meditação. Para Alex, era fácil sentir os tons de sentimento no corpo, mas
complicado notar aqueles relacionados aos sons. Tinha muita dificuldade
em isolar “o momento exato” em que o som ocorria e então perceber o tom
de sentimento. Era como se algo tivesse dado errado: “Não conseguia
decidir se o som era agradável, desagradável ou neutro. Mas essa hesitação
foi mais uma reflexão tardia do que uma reação instantânea.”
Às vezes, você só se conscientiza de um tom de sentimento por causa
dos efeitos que vêm a seguir. Você abre a geladeira ou o armário procurando
um docinho e só depois percebe que experimentou vários tons de
sentimento “neutros”. Na verdade, você não estava em busca de um docinho,
mas de algo para se distrair do tédio e da inquietação. Às vezes, como
observou o professor de meditação John Peacock, só percebemos o tom de
sentimento por seus efeitos sobre o nosso comportamento – “pegadas na
areia”. Quando isso acontece, você não precisa se autocriticar. Pode muito
bem se parabenizar por ter percebido algo tão importante. É normal notar o
tom de sentimento mais à frente, não na hora em que ele acontece. Muitas
vezes, é dessa forma que reconhecemos os tons de sentimento.
Se você estiver tendo as mesmas dificuldades de Alex, persevere da
melhor forma possível. Veja se consegue notar a tonalidade do primeiro
contato – aquele momento em que você percebe pela primeira vez um som,
um pensamento ou uma divagação. Tente lembrar que é normal não
conseguir reconhecer esse primeiro momento. Você não precisa procurá-lo;
em vez disso, note o “último contato” – ou seja, o som, o pensamento, a
parte do plano ou a divagação que você teve antes de registrar o tom de
sentimento.
Algumas pessoas acham interessante explorar em que região do corpo se
localiza um tom de sentimento. Como você notou nos exemplos do quadro
A sensação das coisas, costuma ser difícil dizer como sabemos se algo é
agradável ou desagradável. Apenas é. O sorriso de um bebê pode ser
agradável sem nenhuma mudança detectável no corpo. Se existir algum tipo
de sensação de tom de sentimento no corpo, deve ser muito sutil, como a
sensação de “abertura”, quando as experiências são agradáveis, ou de
“fechamento” quando desagradáveis. Essas sensações podem ser percebidas
em qualquer parte do corpo, mas o estômago, o peito, os ombros ou a
garganta são as mais comuns. Se você acha isso difícil na prática formal de
meditação, procure tons de sentimento agradáveis e desagradáveis no
cotidiano. Você pode encontrá-los pela manhã na primeira xícara de chá ou
café, no caminho para o trabalho, na casa de um amigo, ou talvez no som
daquele caminhão pesado descendo a rua. Quando aparecerem, pare de
maneira gentil e observe: “Ah, esse é agradável” ou “Ah, esse é desagradável”.
Não faça mais nada. Aos poucos, você vai descobrir que o corpo e a mente
entram em sintonia naturalmente com essa dimensão da experiência.
Para Kurt, os tons de sentimento surgiam mais fortes quando as coisas eram
desagradáveis. “Na meditação de 20 minutos, comecei a observar para onde
minha mente estava indo e percebia o tom de sentimento – e costumava não
ser bom. Minha mente sempre ia na direção do que era desagradável –
planos e coisas que eu tinha que fazer, mas não estava muito motivado a
isso. Logo nos primeiros dias da Semana 3, me fixei na ideia de que poderia
perder o emprego. Meus pensamentos estavam indo para um lugar bastante
sombrio. Repetidas vezes. Para o mesmo lugar! Conseguia sentir aquilo no
corpo. Especialmente no estômago. Algo muito agoniante e desagradável.
Então reconheci o que estava acontecendo. E pensei comigo mesmo: qual a
necessidade de pensar sobre isso? Achei difícil acolher as distrações; apenas
queria que fossem embora e me deixassem relaxar.”
Às vezes pode parecer que a mente está obcecada pela negatividade.
Quando está agitada, leva você quase sempre para as histórias que cria. É
possível parar para refletir e ver o que está acontecendo, mas em outras
ocasiões as histórias são convincentes demais. Pode parecer que você não
está conseguindo se familiarizar com a prática. Mas esse não é um sinal de
fracasso, e sim uma oportunidade de se aprofundar nela. Nesses momentos,
veja se é possível observar a oscilação da mente, para que o “obstáculo” se
torne a prática de atenção plena. Você pode dizer para si mesmo: “Ah, aqui é
um pensamento”, “aqui é uma divagação”, “um plano”, “uma distração”, ou o
que achar mais cabível. Outra abordagem é dizer gentilmente a si mesmo:
“Assim é a sensação de um pensamento” ou talvez “Assim é a sensação de
uma divagação”, ou o que for mais apropriado. Essas abordagens abrem um
espaço onde você aprende a acolher as distrações e registrar cada uma como
agradável, desagradável ou neutra. Então, quando perceber que está
distraído por coisas desagradáveis ou perdido em pensamentos, pode
aprender a perceber os efeitos disso no corpo, nos sentimentos ou impulsos
e suas tonalidades, e depois continuar com o que estiver fazendo.
Caminhada com atenção plena – 20 minutos uma vez ao dia (meditação 4.2) ou
10 minutos duas vezes ao dia (meditação 4.1). Alterne com a prática de
alongamento com atenção plena (próximo item), de modo que você pratique três dias
de cada. Anote no diário o andamento das coisas: dificuldades, alegrias e
descobertas. Uma vez familiarizado com as instruções, sinta-se livre para usar a
versão com instruções mínimas (4.4) ou use o som do sininho como um cronômetro.
Ao menos um dia nesta semana caminhe por 30 minutos, usando a versão específica
(meditação 4.3) ou qualquer das versões já mencionadas.
Alongamento com atenção plena – em dias alternados. Use a meditação (4.5) de
20 minutos como orientação até você se familiarizar com a sequência. Depois disso,
sinta-se livre para dispensar a orientação.
Exercício de gratidão dos dez dedos – uma vez por dia (meditação 4.6). Após
alguns dias, mude para a versão com instruções mínimas (4.7) ou dispense as
instruções.
Prática Diária da Atenção Plena: apreciação – a cada dia, procure pequenos
momentos em que exista algo agradável. Você pode seguir a orientação em áudio
(4.8) nos primeiros dias para se familiarizar com a prática.
Incluímos uma meditação bônus esta semana para aqueles que sentem dificuldade
em dormir (meditação 4.9).
Preparação
1. Comece procurando um lugar onde possa dar alguns passos de um lado ao outro,
dentro de casa ou ao ar livre – um lugar onde você não seja perturbado ou
observado. A extensão de seu caminho não importa – pode ser curtinho como um
tapete de yoga, ou ter dez passos.
2. Comece em pé, com os pés paralelos e alinhados ao quadril. Se a superfície ou o
chão for adequado, você pode tirar os sapatos e as meias para senti-lo melhor sob os
pés. Permita que os braços estejam relaxados na lateral ou junte as mãos diante ou
atrás do corpo, olhando ligeiramente para baixo ou em frente.
Caminhada
3. Leve o foco de sua atenção à sola dos pés, notando as sensações físicas do contato
deles com a superfície ou o chão.
4. Comece dando pequenos passos e observando o contato dos pés com a superfície,
sentindo o peso do corpo mudando conforme cada pé se descola da superfície, se
eleva e depois avança.
5. Continue andando com atenção plena de uma ponta à outra do seu percurso.
6. Dê meia-volta devagar ao chegar ao final do percurso, apreciando o movimento de
mudar de direção, e então, de frente para o percurso, pause por um momento.
Quando estiver pronto, caminhe de volta.
Fim
11. Continue a prática em silêncio e sozinho, até o sininho indicar que está na hora de
parar. E, ao concluir a prática, tenha a intenção de levar para as caminhadas diárias a
mesma qualidade de consciência que vem cultivando nesta meditação. Não precisa
andar devagar demais durante a caminhada. Reduzir só um pouco a velocidade de
um movimento para outro permite que você caminhe com boa postura, sem se inclinar
para o próximo momento, o que pode mudar todo o seu dia.
Permissão
A cada ponto da prática, ao perceber sensações desagradáveis ou desconfortos,
reconheça e admita, dizendo no íntimo: “Tudo bem não gostar disto.” E, ao perceber
qualquer sensação agradável, tome a mesma atitude: “Tudo bem gostar disto.”
Eis a sequência sugerida:
Neste ponto, se está em pé, você pode se sentar numa cadeira, banco ou almofada
para o restante da prática de alongamento.
Mova os ombros para cima, para trás, para baixo e para a frente, permanecendo em
cada posição o suficiente para registrar as sensações e o tom de sentimento. Depois
role os ombros bem devagar, primeiro numa direção e depois na outra, observando a
mudança das sensações e os tons de sentimento que elas criam, permitindo que
sejam como são.
Fim
Observe a tonalidade da atenção plena nos últimos momentos da prática. Lembre-se de
que a consciência do corpo está disponível em qualquer instante do dia, permitindo que
se sinta ancorado e equilibrado e cultivando a sensação de se aceitar como você é.
Jonathan teve certas dificuldades na Semana 4. Ele sentiu que dizer “Tudo
bem não gostar disso” era um sinal de ingratidão que, como o de Renata (do
capítulo anterior), surgira na infância.
Os pais de Jonathan eram extremamente religiosos e acreditavam
que expressar insatisfação era rejeitar a providência divina. Achavam que
sempre devemos ser gratos – mesmo no sofrimento. “Meus pais eram
pessoas de fé, mas tinham essa ideia sobre providência divina e pecado”,
disse Jonathan. “Não gostar de algo – qualquer coisa – significava não ter fé
suficiente e, como consequência, ser uma pessoa ruim. Deus traçou um
caminho para todos nós. Tempos de sofrimento são testes de fé, lições que
devemos aprender e que nos mantêm no caminho certo. Qualquer
reclamação ou sinal que insinuasse ingratidão era um pecado. Apesar de não
compartilhar da fé deles, absorvi essas atitudes sem nem mesmo perceber.”
Ele se sentia ingrato até por não gostar de coisas triviais, como um dia
úmido de inverno, o que desencadeava padrões de pensamentos negativos e
repetitivos, deixando-o ansioso e com muito medo. As práticas na Semana 4
aumentaram esse problema, porque dizer para si mesmo “tudo bem não
gostar disso” ia contra décadas de condicionamento. Mas os problemas dele
eram mais profundos. Jonathan foi ensinado a não expressar insatisfação e a
não senti-la. Ou seja, a atitude de “não reclamar” limitou de forma cruel sua
capacidade de sentir – e saber – o que é verdade. Aqueles que se sentiram
cronicamente vulneráveis no passado ou foram atacados, abusados ou
traumatizados por sua história de vida podem se identificar com isso.
Durante muitos anos, Renata e Jonathan tiveram que aprender a sufocar
seus sentimentos mais básicos. Caso tivessem sentimentos desagradáveis,
insatisfação, frustração ou raiva, eles os sufocavam. E faziam o mesmo com
os sentimentos agradáveis de felicidade que surgiam. Ambos acabaram se
sentindo cada vez pior: envergonhados quando se sentiam bem com alguma
coisa; ingratos se não gostassem de outras; incomodados quando se sentiam
sufocados; culpados se sentissem raiva.2 Por esses e outros motivos, é tão
importante frisar, mais uma vez, que quando você diz “Tudo bem...”, não
está se referindo às situações agradáveis ou tóxicas, mas aos sentimentos
naturais de gostar ou não delas. Aceitar os tons de sentimento é
fundamental aqui: agradáveis, desagradáveis ou neutros. Os tons de
sentimento devem ser sentidos, e quando são, entregarão com sucesso suas
mensagens, então o mais provável é que partam em silêncio, deixando você
mais tranquilo e satisfeito com os momentos seguintes.
Pawla teve dificuldades nas primeiras três semanas do curso, que foram
desaparecendo durante a Semana 4. “Foi bastante difícil. Sou uma pessoa
muito racional. Gosto que as coisas sejam fundamentadas e concretas.
Odeio esse lance etéreo; a mente criando simulações do mundo, em vez de
senti-lo diretamente. É como se dissessem que o mundo não é real, como se
fosse um sonho ou uma alucinação. Claro que é real – embora eu esteja
aberta à ideia de que pode não ser da maneira que pensamos.”
Apesar das objeções iniciais sobre como a mente constrói uma imagem
do mundo, Pawla persistiu no curso por uma simples razão: via com os
próprios olhos como os colegas estavam se beneficiando. E lembrou das
palavras da professora de que não precisava “acreditar” na atenção plena ou
nos tons de sentimento. As meditações não são como encantamentos ou
preces. E não são mágicas. São práticas que começam a promover mudanças
à medida que você persiste e se esforça. Por isso são chamadas de “práticas”.
Como disse a professora de meditação: “Você não precisa saber de onde
vêm os tons de sentimento. Não precisa mudá-los ou mandá-los embora. Só
precisa ‘acender a luz’ para vê-los mais claramente e ser mais gentil com eles,
e consigo mesmo, quando surgirem. E então verá o que acontece; talvez eles
desapareçam sozinhos – mesmo os mais poderosos e negativos.”
Durante uma de suas práticas de alongamento com atenção plena, Pawla
finalmente “entendeu”: “No início do dia estava com um pouco de dor de
cabeça e me sentia cansada. Depois de me alongar por alguns minutos,
percebi que o tom de sentimento de todo o meu corpo era desagradável.
Senti que ainda estava com dor de cabeça, a fonte da sensação desagradável.
Mas, em vez de ficar aguentando, pensei: Essa sensação é desagradável. E
depois: Tudo bem não gostar dela. O que aconteceu a seguir foi
impressionante. A dor de cabeça desapareceu. Simplesmente sumiu. Algum
tempo depois, percebi outra dor de cabeça, e a reconheci de novo: Tudo bem
não gostar desta sensação. E mais uma vez, ela desapareceu e foi substituída
por uma leve sensação de dor e formigamento. O que não foi tão
desagradável.”
As experiências de Pawla são uma ilustração refinada de como o cache
da mente funciona na prática, e como apenas reconhecer a presença de um
tom de sentimento apaga a informação antiga e negativa e a atualiza com
uma nova. No caso de Pawla, a dor de cabeça deixou um “eco” sensorial em
seu cache mental. O cache, então, devolveu esse eco em uma espiral infinita.
Embora a dor de cabeça variasse de momento a momento, o cache guardava
apenas um instantâneo do momento mais intenso (o “pico da dor”), porque
era o mais evidente e importante, aquele que a mente acreditava que
precisava ser lembrado (ver o diagrama adiante). Esse eco doloroso vindo
do passado imediato ricocheteou no presente e depois no futuro. Ela acabou
reagindo a uma dor que já não tinha a mesma intensidade de antes. Dizer
“Tudo bem não gostar dela” foi o suficiente para o eco ser deixado de lado. E
isso permitiu que Pawla sentisse o que de fato acontecia no momento
presente – que era bem diferente do que esperava.
Para Renata, prestar atenção no que ela gosta – algo tão difícil no
começo – tornou-se fácil com a prática.
“Dez coisas?”, ela perguntou. “No início parecia muito. Uma ou duas
coisas acontecendo a cada duas horas – até no trabalho – não era nada fácil.”
“Faço questão de começar com uma refeição maravilhosa nas noites de
sexta-feira, logo depois de chegar em casa. Achei que seria difícil, mas uma
vez que decidi me concentrar nas coisas pequenas porém óbvias, foi bastante
simples. Minha refeição noturna tinha dois elementos agradáveis – e um
cálice de vinho completou três. Cheguei a sete coisas positivas e, apesar da
dificuldade, consegui atingir dez.”
Renata descobriu que esse exercício a fez pensar melhor nos
acontecimentos do dia, com seus altos e baixos, e produziu um efeito
positivo no dia seguinte. No meio da semana, ela começou a observar
pequenos momentos agradáveis durante o dia e passou a apreciá-los do jeito
que eram. Descobriu que usar os dedos para contar ajudava. E começou a
tocar os dedos de leve como um sinal para si mesma: “Este é um momento
que estou valorizando” – um momento de reconhecimento. Para ela, a
prática da caminhada e a gratidão andavam juntas. Antes, ela “nem sabia
como seus pés funcionavam”. E se sentiu muito grata pela simplicidade de
andar e se alongar.
Assim como Renata, Jonathan teve dificuldades no início: “Você pode
pensar que vir de uma família que insiste em ser grata por tudo facilitaria as
coisas para mim, mas... não.” No entanto, no meio da semana, ele percebeu
que as dez coisas não precisavam ser momentos grandiosos e marcantes. E
notou algo bem sutil. O alcance emocional começou a se expandir. Da
mesma forma que Renata, Jonathan estava começando a experimentar as
situações agradáveis – e desagradáveis – à medida que aconteciam.
“Era como se alguém acendesse a luz no final de um show. De repente,
você vê todos sorrindo, ouve os aplausos rompendo o silêncio, sente o
arrepio de empolgação na pele – e, claro, observa muito lixo no chão e
partes da parede que precisam ser pintadas. Porém é tudo real. É adorável e
emocionante, é sombrio e às vezes um pouco sujo. Eu acho que isso pode se
chamar ‘estar vivo’. Foi assim que me pareceu. Depois de anos sufocando os
sentimentos agradáveis e desagradáveis, de repente senti que ganhei minha
vida de novo.”
No decorrer da semana, a mente de Jonathan começou de maneira
natural a entrar em sintonia com pequenas coisas: um dia, em uma
caminhada de 10 minutos, ele percebeu que estava gostando da sensação
dos pés no chão frio, e mentalmente observou: Ah, agradável. E: Tudo bem
gostar disso. Depois notou o ar fresco soprando em seu rosto. Agradável – e
Tudo bem gostar disso. Aos poucos, descobriu que essa nova atitude de
“permitir” estava se firmando e ficando cada vez mais fácil. Também se deu
conta de que poderia desacelerar – estar presente em seu corpo e seus pés,
estar ali naquele momento. Percebeu os +1s e +2s – “Esse sanduíche está
gostoso; meus sapatos são confortáveis; não estou com dor de cabeça hoje;
aquela água que bebi estava fresca.” E descobriu vários motivos para ser
grato: momentos de tranquilidade e relaxamento de manhã, temperaturas
frescas, conversar com amigos, um delicioso almoço de domingo, um
cochilo de tarde, o primeiro gole no café da tarde, ler um livro, assistir à
televisão, ver o pôr do sol nas montanhas, o brilho das estrelas ao anoitecer,
festejar a vitória de seu time de futebol... E, se não chegasse às dez coisas, se
concentrava nas próximas respirações – em cada uma delas – com um
profundo sentimento de gratidão e de admiração ao ver quão revigorantes e
estimulantes eram.
CAPÍTULO 9
Fim
7. Nos últimos momentos da prática, retorne o foco à respiração ou à âncora escolhida,
lembrando que a capacidade de registrar cada momento como agradável ou
desagradável traz uma sensação mais profunda de como as coisas estão e uma
disposição maior de permitir que sejam como são, sem se prender à ação e à reação
imaginadas. No momento seguinte, você pode até achar novos meios de reagir com
maior gentileza e sabedoria nos próximos acontecimentos.
Talvez seja complicado usar a expiração como uma alavanca para entrar
em sintonia com o tom de sentimento. E você pode ter dificuldade de
distinguir o que é agradável, desagradável ou neutro e se esforçar demais
para “acertar”. Se você acha que não vai conseguir fazer isso durante toda a
semana, lembre-se de que pode voltar à âncora escolhida – aquela usada na
Semana 1 (ver quadro Meditação “Encontre sua âncora”, no capítulo 5) – a
qualquer momento. Você não precisa depender da expiração nem da
respiração.
Leila teve problemas para notar os tons de sentimento. O que a deixou
surpresa, porque isso não havia acontecido nas semanas anteriores. Ela
acabou ficando cada vez mais frustrada consigo mesma e com os
pensamentos circulares e repetitivos que surgiam em sua mente: “Não
consigo mais fazer isso, nem por um minuto, imagine durante uma
semana... vou ficar louca.” Mas ela se ancorou e riu da situação – observando
como o pensamento “Vou ficar louca” chamou sua atenção e foi exagerado.
Percebeu a tensão na mandíbula e nos ombros causada pelos pensamentos e
decidiu tomar uma atitude diferente. Começou utilizando os pés por alguns
minutos como âncora (que havia escolhido na Semana 1) antes de retornar à
expiração. Era o que dava certo quando a mente divagava. A partir de então,
ela registraria o tom de sentimento do momento, e nas cinco respirações
seguintes veria se isso mudara e como. Acontece que ela ficou curiosa com a
breve pausa entre o final da expiração e o início da inspiração. E conseguiu
apreciar esse momento de aparente “silêncio” com ecos muito sutis de
pensamentos ou sentimentos agradáveis, desagradáveis ou neutros,
permitindo que os mantivesse em um espaço maior e mais silencioso.
Nesse silêncio, a percepção do “eu” que exige que as coisas sejam de
determinada forma pode relaxar e ser deixada de lado. Você começa a notar
os pensamentos e as sensações de que não gosta, que costumam estar
escondidos, mas que tenta afastar e nem se dá conta. Quando isso acontecer,
examine seu corpo. Você consegue sentir o corpo se preparando para a
ação? Pode ser a sensação de pressão, empurrando algo para longe, ou de
leve tensão, contração ou defesa generalizada. Ou você pode perceber um
pensamento ou uma ideia que se impõe – como “Quero que as pessoas
gostem de mim”, “Quero ser bem-sucedido”, “Quero encontrar alguém que
me ame”. Nesses momentos, preste atenção no corpo, tente senti-lo
“reunindo as tropas” para partir e obter algo que você quer ou precisa.
Parece um aperto no estômago? Ou talvez uma tensão nos ombros ou um
nó na garganta? Sua audição pode se tornar mais aguçada, sua pele tende a
se mostrar mais sensível. Você pode descobrir que o corpo, em vez da
mente, revela com mais clareza aqueles pensamentos que causam ansiedade
ou desejo – e muitas outras coisas além disso.
Prática Diária da Atenção Plena:
observe o tom de sentimento no dia a dia
Nesta semana, durante suas atividades diárias normais, observe os momentos em que
você toma consciência do tom de sentimento daquilo que está acontecendo.
1. Você pode fazer isso durante os “espaços intermediários”, ao caminhar para algum
lugar, ou quando está sentado ou em pé aguardando alguém. Preste atenção na
sensação do contato dos pés com o chão. Sinta o ar no rosto, nos braços e nas
pernas ao caminhar ou ficar em pé.
2. Qualquer que seja a sensação, abra espaço para os tons de sentimento, agradáveis
ou desagradáveis. Observe grupos de sentimentos, sensações, pensamentos e
planos de ação. Como mudam de momento para momento? Seja gentil com você
mesmo ao se ancorar no instante presente e continuar as atividades de seu dia.
3. Você observa qualquer reação ao que está acontecendo? Um desejo de conservar
ou aprofundar um momento agradável ou de atenuá-lo? Se algo é desagradável, você
se vê refletindo sobre ele ou tentando se livrar dele? Se um momento é mais neutro,
você se desliga porque parece que “nada está acontecendo”?
4. Esses tons de sentimento são naturais, portanto observe-os com gentileza, dizendo
internamente na expiração: “Tudo bem não gostar disso” ou “Tudo bem gostar disso”.
Explore o que acontece se você acrescenta “nenhuma ação é necessária agora” a
uma expiração antes de passar para o próximo momento do dia.
5. Com a prática, você pode ver esse processo com mais clareza e expandir o espaço
entre o tom de sentimento momentâneo e sua reação a ele. Talvez você observe que
a pulsão de reatividade diminui ao simplesmente dizer “Tudo bem não gostar disso”
ou “Tudo bem gostar disso”, seguido de “Nenhuma ação é necessária agora”.
“Se você voou o bastante com o cara que escreveu Weather Flying,
logo aprendeu que a relação entre clima e voo é muito importante. O
entusiasmo que ele sentia pelo enigma do clima era contagiante, e
logo qualquer um aprendia que prestar atenção no clima deixava o
voo mais tranquilo e mantinha o piloto e o avião a salvo para voar
outro dia.”2
Meditação da gentileza
Você vai aprender a desejar o bem a si mesmo – tratando-se com gentileza em meio ao
que estiver acontecendo em sua vida.
Preparação
1. Comece ancorando-se por alguns minutos, observando as sensações da respiração
no nariz, no peito ou no abdômen.
2. Detenha-se na percepção do corpo inteiro por mais alguns minutos enquanto estiver
sentado.
8. Perceba que a prática regular pode abrir a mente e o coração para uma nova
possibilidade: as coisas negativas que você diz ou pensa sobre si mesmo não são a
última palavra. Você pode ser amado mais do que imagina ou sabe.
Fim
9. Abandone essas intenções e retorne ao corpo como um todo, sentado aqui e agora,
repousando na própria consciência. Permita que o corpo seja como é e permita-se
ser como é, completo e íntegro.
Uma das coisas mais gentis que você pode fazer pelos outros é ser gentil
consigo mesmo em primeiro lugar. Essa ideia enfrenta resistência porque é
algo arraigado na cultura ocidental – que vem se espalhando por toda parte.
Autocompaixão e autocompreensão costumam ser vistas como fraqueza,
autoindulgência, egoísmo. Já forçar os limites e ser inflexível consigo mesmo
sem demonstrar piedade são vistos como maneiras de alcançar a grandeza.
Leila sofreu desse mal por muitos anos.
“Não há tempo para descanso em um mundo que está morrendo, era
meu lema”, disse Leila. “Trabalho para um grupo ambiental barulhento e
arrojado. Estamos sempre em conflitos com grandes empresas e muitos
governos em todo o mundo. Ia para o trabalho cheia de disposição para
lutar. Sabia que o que fazíamos era moralmente certo, o que sempre me
transmitiu muita energia e determinação para seguir em frente. E isso
funcionou por muitos anos, até que um dia parou de funcionar. Certa
manhã, me senti totalmente exausta e destruída por dentro. Mal conseguia
sair da cama. O estresse me obrigou a ficar ausente do trabalho por um mês
durante uma campanha importante, e me odiei por isso. Passei o ano
seguinte tentando voltar para o ritmo da empresa. Mas continuei correndo
em círculos. Toda vez que dava um passo para a frente dava dois para trás.
Era exaustivo.”
Leila descobriu que uma pequena parte dela pedia ajuda. “Foi trágico
perceber esse pedido. Algo bonito e delicado estava morrendo, e eu era a
responsável por ele. Como se eu fosse um parceiro abusivo. Estava fazendo
essa criança sofrer. Enganando e fazendo bullying com ela. Acho que
tomava esse tipo de atitude com a melhor das intenções, para conseguir o
melhor de mim, para proteger o meio ambiente, mas à custa de um
relacionamento abusivo comigo mesma. Percebi que precisava mudar antes
de me destruir – ou de me tornar como as pessoas e as organizações contra
as quais lutava. Eu sei, é difícil, mas qual seria a alternativa? Logo percebi
que seria bem mais fácil mudar do que levar uma vida dilacerada pela raiva
e pelo estresse que substituíra a intimidade verdadeira pela indiferença
mortal.”
Embora não fosse fácil mudar a abordagem, não era tão difícil assim.
“Eu era tão inflexível comigo mesma que demonstrar uma pequena dose de
gentileza e compaixão teve um resultado muito rápido. Quase de um dia
para o outro, comecei a relaxar – flutuar em um mar de gentilezas. Foi
estranho. Toda negatividade foi drenada da minha mente, e senti uma
espécie de silêncio que cura. Como se a voz negativa e crítica tivesse saído
de férias. Senti uma tranquilidade que permitiu me conectar comigo mesma
em um nível essencial.”
Nem sempre foi tranquilo. À medida que a resiliência e a força de Leila
voltavam, velhos hábitos e abordagens retornavam na mesma proporção.
Mas em vez de lutar contra eles, Leila os acolheu. Ela passou a encará-los do
modo como eram: uma parte de si mesma tentando se ajudar e se proteger
da única forma que sabia. “Toda vez que eles retornavam, eu agradecia pelo
esforço e depois notava que se dissolviam e me deixavam em paz por algum
tempo. Comecei a não dar mais tanta importância a eles. E por mais louco
que pareça, garanti que, se precisasse de ajuda, eu pediria.”
Leila enfrentou outras dificuldades: achou as palavras usadas na
Meditação da gentileza um pouco estranhas. Algumas a irritavam, porque
ela não tinha o costume de levar amor e gentileza a si mesma. Se você
também achar a prática guiada um tanto esquisita (ou sem o tipo de
linguagem que costuma usar), sinta-se à vontade para adaptar as palavras a
fim de que se pareçam mais com você. É interessante ver a prática como um
exercício de ginástica (ver no capítulo 6). Ao adaptar as palavras, você pode
levar algumas para o seu dia a dia. Leila se identificou com as palavras
“tranquilidade e gentileza”.
“Havia um sentimento marcante de cordialidade e de ‘deixar ir’ no meu
coração e na região do peito. Depois da prática, me senti calma, animada,
abraçada. Mais tarde, naquele dia, percebi que quanto mais me amava, mais
fácil era deixar de lado a angústia reprimida que costumo carregar sobre os
ombros. E advinha? Senti-me mais verdadeira e amigável com as outras
pessoas.”
Leila descobriu algo já observado por outras pessoas: a gentileza ajuda a
deixar de lado a ansiedade e o estresse reprimidos que sobrecarregam você –
a mesma ansiedade e o mesmo estresse que o deixam na defensiva. Ou seja,
praticar a gentileza, além de ser algo bom para você, beneficia todos ao seu
redor. Cada vez mais, as pesquisas comprovam esse efeito. Pessoas que
completaram o programa de atenção plena cedem mais rápido seus assentos
a pessoas que usam muletas.5 Descobriu-se que atributos positivos como
bondade e cordialidade são qualidades “360 graus”.6 Então incorporá-los e
trazê-los para a pessoa que temos mais dificuldade de amar – nós mesmos –
vai nos tornar mais altruístas. O que pode virar uma forma permanente de
amizade, generosidade e gentileza.
Mas nem todos conseguem um alívio tão imediato dos problemas com a
Meditação da gentileza. Para alguns, os padrões climáticos da mente são
muito turbulentos e levam um tempo para se acalmar. “De início”, disse Lou,
“achei que essa meditação não me ajudava. Estavam acontecendo muitas
coisas e distrações na minha vida para que eu pudesse notar algum
benefício. E como fui muito magoada no passado, sentia que nada poderia
mudar de fato, não importava o que eu fizesse. Mas, depois de alguns dias,
algo mudou. Tive um vislumbre... uma sensação de que eu poderia escolher.
É estranho, mas o único jeito de expressar é dizendo que permiti à criança
dentro de mim se sentir infeliz e assustada. Garanti a ela que está tudo bem
em não gostar disso. O que me deu mais espaço – mais opções. Depois voltei
a acompanhar o tom de sentimento a cada expiração. Comecei a valorizar
de verdade aquele momento de quietude no final da expiração, antes da
próxima inspiração, e me dei conta de que nenhuma ação é necessária agora.
Ufa! Após todas essas semanas de prática, a expiração é um ponto de partida
para novas oportunidades a cada momento. Percebi que não costumava
praticar gentileza comigo mesma. Ao contrário, era muito crítica com os
outros, mas reservava o pior para mim.”
A crítica implacável aos outros e a autocrítica também são atitudes 360
graus. E de maneira imperceptível, levam a um sentimento de retração que,
por sua vez, reduz a criatividade e traz a sensação de estagnação. Isso
desencadeia mais reações habituais que diminuem mais as opções, levando a
sentimentos profundos de retração e uma sensação maior de frustração. Um
círculo vicioso que deixa você ainda mais para baixo.
“Eu sabia de tudo isso”, disse Lou, “mas de alguma forma não conseguia
me convencer. Continuava me rebelando contra a ideia de que era errado
criticar. Como o mundo moderno seria possível sem críticas? Críticas a
ideias distorcidas, abordagens, projetos e coisas em geral... Sem elas, como
tudo iria melhorar?”
As preocupações de Lou, embora compreensíveis, não estavam corretas
em relação a como as mudanças ocorrem e à atenção plena. Em primeiro
lugar, não está errado criticar. Mas críticas implacáveis são inúteis e
contraproducentes – em especial as autocríticas. É melhor se afastar e
observar para obter uma perspectiva mais ampla do todo. Dessa forma, a
crítica se transforma em um discernimento sábio, assumindo um papel
correto em seu cotidiano – um indicador de mudança, e não algo para se
castigar. Ao se afastar e observar, é mais provável encontrar soluções do que
problemas. Às vezes, focar demais em uma dificuldade preenche todo o
campo visual, ocultando a solução.
Assim como Leila, Karl ajustou a Meditação da gentileza para se
identificar mais com ela e teve dificuldade em se lembrar de ações gentis de
outras pessoas. Como o temperamento delas era complexo e sua própria
relação era um pouco turbulenta, Karl descobriu mais utilidade em trazer à
mente um ato específico de gentileza do que alguém em especial. Portanto,
decidiu se concentrar em um momento quando ele tinha 8 anos. Lembrou-
se de um professor de uma nova escola que, percebendo que ele estava
sozinho e perdido no recreio, o guiou até a sala de aula. Foi apenas um
pequeno ato de gentileza, mas fez uma grande diferença naquele momento
de angústia, e ele nunca se esqueceu desse tipo de ajuda.
Às vezes, pequenas mudanças na meditação podem proporcionar
resultados surpreendentes. Avril descobriu isso, mas de uma maneira
diferente. No início achava difícil querer bem a si mesma. Era como se não
quisesse ser o centro de seus pensamentos. Mas a professora de meditação
sugeriu que ela pronunciasse seu próprio nome. Embora achasse estranho
dizer “Que Avril possa estar segura e bem em meio a tudo isso”, sentiu que a
meditação se tornou mais fluida. Segundo ela, separar a Avril do “eu”
facilitou desejar o bem àquela pessoa. E as palavras “em meio a tudo isso...” a
fizeram perceber que, embora existam momentos ruins, é possível encontrar
gentileza mesmo nos mais cinzentos.
GENTILEZA, FELICIDADE
Uma vez que você começa a se tratar com um pouco de carinho, gentileza e
compaixão, passa a dispor de “combustível” para navegar pelo mau tempo –
aquelas emoções mais difíceis e perturbadoras. Esta é a principal intenção
da meditação “Explorar a dificuldade”, desta semana (ver quadro Meditação
“Explorar a dificuldade”). Mas, antes, é importante lembrar de alguns
elementos essenciais que abordamos na Semana 1.
Sempre que abordar uma dificuldade, tente se lembrar de que você tem
uma escolha de como gostaria de proceder. Você só deve trabalhar com uma
dificuldade se sentir que tem capacidade e energia naquele momento. Se
estiver muito cansado ou a vida estiver muito sufocante, espere até se sentir
mais capaz de abordá-la. De nada adianta se forçar demais para meditar em
meio a um sofrimento mental e uma angústia física.
Você pode escolher até que ponto quer chegar perto da dificuldade para
abordá-la. Será de grande ajuda decidir de antemão como voltará para uma
“âncora segura” caso se sinta em apuros. Essa âncora pode ser a sensação em
suas mãos ou seus pés, o contato com o assento ou o chão ou a sensação da
respiração ao fluir para dentro e para fora do corpo. Ancorar-se dessa
maneira ajudará você a se desconectar de quaisquer padrões de
pensamentos nocivos que estejam estimulando as emoções negativas. Sendo
assim, você aprenderá a explorar a gama completa de experiências, desde a
relativa segurança das sensações físicas, em uma extremidade do espectro,
até as tempestades emocionais criadas por pensamentos, lembranças,
imagens e impulsos turbulentos, no outro extremo. Esta prática convida
você a percorrer em seu ritmo esse espectro.
Dificuldades espontâneas
Às vezes, sentimentos difíceis surgem espontaneamente, e você pode
praticar e aprender com eles. Se nenhum aparecer, a meditação convida você
a trazer, de forma deliberada, uma dificuldade para a mente, de preferência
algo recente para usar de exemplo. É melhor começar com pequenas
dificuldades do cotidiano: talvez um desentendimento ou um mal-
entendido, uma situação que o deixou irritado, um arrependimento de algo
que aconteceu ou uma preocupação com algo que possa acontecer. Convém
começar com coisas pequenas, porque a prática não consiste em resolver
grandes problemas de uma única vez. Consiste em aprender a “voar no mau
tempo” – aos poucos transformando a dificuldade em forma de ajuda para
responder com habilidade, sem se perder em meio às reações sucessivas. E,
como Robert Buck frisou, o clima nem sempre é bom com os pilotos.
Quando uma situação ou emoção difícil aparecer na mente, você tem
algumas opções. Reconhecer sua presença, quase a distância, antes de voltar
para a âncora (veja os detalhes no quadro a seguir). Ou pode praticar
sentindo-a e mantendo-a em um contexto mais amplo. Como alternativa,
observe em qual área do corpo a emoção surgiu. Pode ser em qualquer
região e se manifestar de muitas maneiras, mas costuma se mostrar em áreas
de tensão, como músculos trêmulos, desconforto e até mesmo dor.
Direcione sua atenção para essa parte do corpo, sentindo-a de fato. Você
pode tentar respirar ali – sentindo a massagem da respiração – não para se
livrar do desconforto, mas para colocar algum espaço ao redor dele. Todas
essas opções oferecem alternativas ao hábito natural de evitar emoções
difíceis ou se culpar por elas. Em vez disso, você está aprendendo a permitir
que as coisas sejam como são, por um momento mais longo do que
costumava ser, e essa atitude faz as dificuldades desaparecerem
progressivamente. Por fim, garantem a você um tempo e um espaço para
tomar decisões mais sábias.
No decorrer da prática da semana, você aprenderá a se aceitar do jeito
que é. Vai observar que seus sentimentos são parte da natureza; que você
tem um corpo e uma mente que dão o seu melhor, da única maneira que
sabem, para mantê-lo seguro.
Pode ser que no começo você ache essa prática difícil, mas ao longo do
processo lembre-se de que a âncora escolhida sempre estará disponível. Se
uma dificuldade se tornar angustiante, você deve se perguntar gentilmente:
“O que mais está aqui, agora, neste momento?” E, se quiser, pode abrir os
olhos por alguns instantes.
Agora está na hora de começar o voo meteorológico.
Fim
14. Volte a focar em sua âncora: a respiração ou os pés, o assento ou as mãos.
Parabenize-se por dedicar este momento a explorar os limites do que lhe é difícil.
Você está achando meios de responder de maneira intencional, sem reagir
automaticamente, reservando tempo para cultivar uma sensação de abertura,
gentileza e compaixão mesmo em meio às dificuldades que surgem em seu cotidiano.
ESPERAR O INESPERADO
Existem dois grandes problemas nessas crenças. Primeiro, algumas tarefas não são
agradáveis. Tarefas como tirar o lixo ou preencher a declaração do imposto de renda são
obrigatórias, então se você aguardar até se tornarem agradáveis, vai ter que esperar
sentado. Segundo, se você ignora uma atividade por um tempo, ela adquire uma “marca
mental de inibição”, ou seja, nunca chegará “o tempo certo” para realizá-la. De fato,
quanto mais se protela uma tarefa, mais essa inibição se fortalece. O modelo preditivo da
mente começa a dar sinal de que será bem mais desagradável do que realmente é. Algo
que pode ser reforçado pela realidade objetiva (devolver livros à biblioteca cuja multa por
atraso aumenta com o tempo é um bom exemplo), mas com frequência resulta de nossos
próprios processos psicológicos.
Lembra-se do Capítulo 2, quando descrevemos a origem dos tons de sentimento? A
necessidade de distinguir entre agradável e desagradável existe desde que criaturas
unicelulares aprenderam a procurar as fontes de nutrição e segurança e fugir das toxinas
e do perigo. Sensações de prazer e desprazer estão associadas a se aproximar ou se
afastar dessas coisas. Mas o processo funciona também na direção contrária. O que é
afastado adquire uma sensação desagradável. Tarefas rotineiras, desagradáveis ou
banais podem entrar em conflito com esse processo. A razão é que as protelamos em
favor de coisas mais agradáveis ou talvez de tarefas mais prioritárias. Esse afastamento
as torna ainda mais repulsivas. Elas podem não ter mudado nada, mas adquiriram um
“sabor” desagradável. E quanto mais as repelimos, pior o sabor – porque cada
afastamento aumenta as sensações de desagrado e aversão.
Pior ainda se você se deixa facilmente distrair ou passa por dificuldades emocionais,
como depressão. Isso não apenas faz com que você questione suas habilidades e
estabeleça um padrão muito alto para alcançar o sucesso, mas também traz um grande
desafio para enfrentar e resolver seus problemas. Isso, como vimos, faz a mente inibir
todo o restante.
Como já mencionado, a procrastinação é algo comum. Não se preocupe se às vezes
acontecer com você, mas se começar a incomodar, lembre-se de que pode usar a
prática desta semana para explorar o que o estimula e o que o derruba, e ajudar a
equilibrar as atividades que gostaria de realizar no dia a dia. Você obterá as informações
e os vislumbres necessários para escolher as atividades que sejam agradáveis e outras
que, por menores que sejam, precisam ser realizadas.
Com o tempo, você pode aprender a reconhecer os sinais de alerta iniciais da
procrastinação e explorar como é enfrentar a tarefa que você ia adiar, observando o que
ocorre em seu corpo durante esse processo. Talvez você descubra que tanto as tarefas
inerentemente agradáveis como aquelas que são meras obrigações só ajudam você.
Meditação da reflexão – deve ser realizada durante seis dias da semana (meditação
7.1). Uma vez familiarizado com a prática, use a versão com instruções mínimas (7.2).
Além da Meditação da reflexão, pratique qualquer outra meditação anterior
deste curso – durante seis dias da semana, por 20 minutos uma vez ao dia ou por
10 minutos duas vezes ao dia. Você pode repetir a mesma meditação todos os dias
ou variar. Pode escolher uma meditação da Semana 1 no primeiro dia, uma da
Semana 2 no segundo dia, e assim por diante. Sinta-se livre para usar a versão com
instruções mínimas de cada uma. Em ao menos um dia desta semana, pratique por
30 minutos.
Duas Práticas Diárias da Atenção Plena: “Escolhas de ações” e “Falar e ouvir” –
a prática “Escolhas de ações” (ver quadro Prática Diária da Atenção Plena:
“Escolhas de ações”, neste capítulo) é para quando você sente necessidade de fazer
uma pausa em meio a um dia agitado. “Falar e ouvir” com atenção plena (meditação
7.3) prepara você para quando estiver com outras pessoas e quiser se relacionar
melhor com elas.
Uma vez concluída a segunda lista, você pode praticar algumas dessas
atividades, começando com as mais fáceis. Não precisa fazer todas de uma
vez, nem começar hoje (a menos que queira). Não estamos prescrevendo
nada. Suas decisões devem ser pessoais e adaptadas a como você se sente.
Para ajudar, você pode usar a prática de “Escolhas de ações”. Ela convida a
fazer pequenas pausas durante o dia para entrar em sintonia com o padrão
climático do corpo e da mente, sendo bem útil nesses momentos de
mudança de uma atividade para outra. Porque é nesse meio-tempo que você
pode ser dominado pelo seu estado de espírito habitual ou se ver
sequestrado pela procrastinação. A prática “Escolhas de ações” revela o que
eleva o estado de espírito mas costuma passar despercebido na correria do
dia a dia. Ela ajuda a escolher, a partir dos itens da lista, o que você deveria
fazer, quando deveria fazer e por quanto tempo. O que contribui para
reequilibrar a vida.
Prática Diária da Atenção Plena:
“Escolhas de ações”
Nas próximas horas do dia, observe quantas vezes ocorre uma pausa natural ou se existe
um momento em que você encerra uma atividade e inicia outra. Veja se consegue
aproveitar esses momentos para fazer uma pausa com atenção plena. Pode ser uma
respiração ou uma sequência de respirações. Seja uma pausa longa ou curta, aproveite a
oportunidade para entrar em sintonia com o padrão climático no corpo e na mente.
Pergunte a si mesmo “Era isto que eu pretendia fazer agora?” e depois faça uma escolha,
antes de retomar as atividades do dia.
Ancoragem
1. Ao encontrar um lugar para se sentar ou deitar, leve a atenção às sensações nos pés,
no contato com o assento, nas mãos ou na respiração. Se estiver focando na
respiração, observe a inspiração e a expiração, e o intervalo entre elas. Depois
expanda a atenção ao corpo como um todo.
Fim
7. A certa altura, retorne à respiração no corpo enquanto está sentado ou deitado, e
permita que uma das coisas que você mais apreciou retorne à mente – uma
sensação de estar revigorado, de ter energia, de estar vivo.
A partir do terceiro dia, algo mudou. Mas não foi somente a maneira
como eu pensava – não foi algo cognitivo. Era algo profundo dentro
de mim, uma generosa vastidão, uma certeza de que eu ficaria bem.
Uma mudança no modo como encaro as circunstâncias. Como vejo
toda a correria e todo o caos. Uma mudança na forma de lidar com a
resistência. Ainda estou exausta. Porém, parece menos difícil, menos
sufocante, mais fácil e mais tranquilo. Como se algo criasse espaço
suficiente para que tudo caiba. Apenas dizendo “Tudo bem não
gostar disso”, dando a permissão para que coisas ruins – e boas –
estejam lá. Não estou mais em uma luta constante com os fatos
ruins, me apegando e desejando que as coisas boas permaneçam.
Essa experiência me ensinou a parar de fugir da vida. Acho que
mudança é isso – uma permanência, uma libertação, uma aceitação.
Sei que pode soar fofo, mas é muito melhor do que se sentir presa e
emaranhada pelos fatos do cotidiano. Agora sei que estarei bem não
importa o que aconteça.
CAPÍTULO 12
Mover-se com fluidez pelo mundo exige que o cérebro faça previsões
contínuas sobre o que está prestes a ver, ouvir, saborear, cheirar e tocar. As
previsões são atualizadas a cada momento por meio de dados sensoriais
recebidos, mas se não for encontrada nenhuma diferença, o que você
experimenta é a previsão feita dentro de sua cabeça, não os dados que estão
fora dela. Isso tem por base os dados sensoriais armazenados no cache de
curto prazo – ou memória super-rápida. Os tons de sentimento também são
aspectos fundamentais dessas previsões; tanto os dados quanto os tons de
sentimento estão entrelaçados no cache. É por isso que costumamos viver
dentro de nossa cabeça. É a opção padrão.
Não surpreende que você seja empurrado repetidas vezes para velhos
hábitos do pensamento emocional – porque o mais intenso desses tons de
sentimento (que é o mais desagradável) parece ter a maior necessidade de
ação. Eles são facilmente atendidos pelo cache da mente. Sem dados precisos
para atualizar a simulação, você é compelido a viver dentro de seus modelos
mentais, esquecendo aos poucos como habitar sua vida real – como se
envolver diretamente com a experiência de estar vivo.
Há outro fator ainda. A direção e a urgência de nossas ações dependem
de onde se situam esses tons de sentimento no espectro
agradável/desagradável. Esse tom de sentimento, se não estiver bem visível,
nos manipula. Deixado à vontade, cria automaticamente uma pulsão de
reatividade. Essa pulsão de reatividade pode incluir a resistência contra o
que não gostamos, a busca pelo que gostamos ou, às vezes, um
enfraquecimento da positividade para evitar decepções. Esses tons de
sentimento são esquecidos com facilidade e, no entanto, são os pontos de
virada que podem causar muitos danos para nós e para nossos
relacionamentos. Você sabe o que vem a seguir – a reatividade automática
pode desencadear uma sucessão de pensamentos, sentimentos, sensações,
imagens e emoções. É como uma sequência de fotos (uma sucessão rápida
de imagens) fluindo sem esforço dos dados do mundo real, o que é bastante
ruim, para a imaginação, algo ainda pior. Isso, então, realimenta nossas
previsões, porque entendemos o mundo por meio da ação. Cada
pensamento, sentimento, emoção e sensação – tudo que somos capazes de
experimentar – é refletido e compreendido por meio das ações
correspondentes realizadas no corpo e na mente. Por isso, tantas vezes nos
sentimos estressados e exaustos.
Embora nada possa ser feito em relação ao vedanā subjacente, podemos
diminuir o ritmo e observar as situações quadro a quadro. Esses momentos
permitem romper a ligação entre o tom de sentimento e a pulsão de
reatividade que o segue. No decorrer do tempo, um ciclo longo e danoso
pode ser transformado em algo virtuoso.
Na Semana 1 do curso, você aprendeu como encontrar uma âncora
firme, para que a mente não se perca mais nas distrações inevitáveis do
cotidiano. Aprendeu que a respiração pode ser um ótimo lugar para ancorar
a atenção, mas que há outros pontos de foco alternativos: as sensações do
contato entre os pés e o chão, entre o corpo e o local onde está sentado ou
deitado, entre as mãos e o colo ou os quadris.
Na Semana 2, você aprendeu que existe uma alternativa que força a
mente a voltar de imediato ao seu assunto escolhido quando ela divaga
durante a meditação. Mesmo que você pratique atenção plena há muitos
anos, pode se sentir um pouco frustrado quando a mente divaga. Você acha
que já deveria estar mais bem preparado nessa prática. E pode olhar
ressentido para outros meditadores, para imagens na mídia ou para
professores de atenção plena, e acreditar que eles meditam com perfeição.
Tão calmos! Então, compara o que você sente por dentro com o que eles se
parecem por fora. Isso pode ser tóxico. Em vez disso, você dedicou à sua
mente um sentimento de gratidão e admiração, tornando cada divagação
uma oportunidade de observá-la de uma perspectiva nova, mais ampla e
gentil. Isso muda tudo; quanto mais divagação, mais gratidão e mais afeto
para essa parte íntima de quem você é. Também praticou como trazer seus
sentimentos cotidianos para o centro da percepção. Aos poucos, você
percebeu como cada porta sensorial traz não apenas sensações, mas também
uma sensação dessas sensações, uma leitura intuitiva de que algo é
agradável, desagradável ou neutro.
Na Semana 3, você ampliou esse aprendizado ao notar que pensamentos,
e até fluxos inteiros de pensamentos, assim como emoções que os
acompanham, surgem entrelaçados com tons de sentimento. Existe algo
incrível nesta descoberta. Há muito mais coisas acontecendo na mente e no
corpo. Pensamentos, sensações e emoções são complexos, e podemos nos
tornar analíticos demais ao tentar desvendar e entender seus significados
“reais”. Mas com o tom de sentimento existem apenas três: agradável,
desagradável e neutro. Nada mais. Saber disso é libertador. Foi também na
Semana 3 que você praticou entrar em sintonia com as sutilezas desses tons
de sentimento sem julgamentos ou análises.
Durante a Semana 4 você trabalhou essa habilidade ao permitir que as
coisas sejam como são. Dizer gentilmente para si mesmo “Tudo bem não
gostar disso” ou “Tudo bem gostar disso” era um lembrete de que corpo e
mente fazem parte da natureza e suas reações são naturais e normais. E, ao
praticar a gratidão, percebeu como todos temos uma inclinação natural e
generalizada para o desagradável. Isso cria um “manto de indiferença” que
jogamos sobre muitos pequenos prazeres que deveriam nutrir nosso estado
de espírito. Costumamos não perceber esses pequenos prazeres, o que é
espantoso, mas igualmente surpreendente é descobrir que eles ainda estão
aqui, esperando para ser descobertos, como velhos amigos com os quais
perdemos contato e que estão muito felizes em nos rever.
A Semana 5 volta à descoberta central da psicologia e da neurociência:
ações não surgem como o estágio final de um processo elaborado de
percepção e processamento de dados brutos do mundo. Ações são
fundamentais para como você entende o mundo no primeiro momento de
percepção. Para perceber o que está acontecendo ao seu redor, primeiro
você precisa simular e ensaiar uma ação. Sem o cérebro ensaiar as ações
correspondentes, você não conseguiria entender o que alguém lhe diz,
formular um pensamento, nem mesmo lembrar do passado ou fazer planos.
É quase como se tropas estivessem sendo mobilizadas, preparando-se para a
batalha, praticando manobras e tiros – para cada pensamento, sentimento,
sensação, emoção que surge a cada momento de cada dia. Não é de admirar
que você esteja sempre tão exausto! Por isso, exploramos os benefícios de
dizer gentilmente para si mesmo: “Nenhuma ação é necessária agora.” O que
não impede uma reação sábia. Ao contrário, a maior parte da atividade do
cérebro ao se preparar para a ação é irrelevante. E quando se está no meio de
uma meditação, nenhuma ação é necessária. Então “Nenhuma ação é
necessária agora” traz seu próprio alívio. As tropas se retiram, existe uma
sensação de descanso e paz. E essa calmaria segue pelo restante do dia e
ajuda você a perceber que muitas vezes – quase sempre – o mais sábio a
fazer é não agir.
Na Semana 6, você reuniu todas essas novas habilidades e começou a
direcioná-las para suas emoções difíceis. Praticou a habilidade de ser
amigável consigo mesmo e permitiu a presença de emoções difíceis na
mente e no coração. Também observou onde elas se revelam no corpo e
reconheceu cada tom de sentimento ao dizer “Tudo bem não gostar disso”,
se era desagradável, e silenciosamente completou: “Nenhuma ação é
necessária agora.” O que gerou uma sensação de espaço para a dificuldade
conforme ocorria no corpo, sem tentar afastá-la, já que isso só piora o
quadro – deixando-a ainda mais desagradável.
Na Semana 7, você descobriu que quando está preocupado ou cansado
perde contato com as pequenas coisas que nutrem a alma e fazem a vida
valer a pena. Esses pequenos prazeres passam despercebidos, deixando para
trás apenas aquilo que mina o humor e acaba com a qualidade de vida. Mas
ainda pode ser pior – pois quando se sente para baixo, você pode achar que
até mesmo pensar nas coisas que costumavam ser prazerosas desencadeia
aversão. Então quer afastá-las – e não consegue imaginá-las sendo
prazerosas de novo. Reconhecer esse estado e não se culpar é bastante
catártico. Você pode explorar a possibilidade de recuperar seu cotidiano,
pouco a pouco, usando práticas diárias de percepção dos pequenos prazeres
e das belezas que subestimava.
E, agora, estamos na Semana 8, que dá a oportunidade de refletir sobre o
que aconteceu com você, quais foram suas dificuldades, seus desejos e suas
descobertas ao longo do programa. E você pode decidir o que quer levar
adiante. Portanto, reserve um momento para sentar-se em seu espaço de
meditação e refletir sobre as perguntas a seguir. Não tenha pressa.
Libertadores de hábitos
Escolha uma ou duas destas sugestões a cada mês e faça uma experiência, notando o
tom de sentimento:
Às vezes, você se sentirá esgotado. Por causa disso, a prática pode falhar.
Você pode se sentir perdido e sozinho, como se retrocedesse e perdesse o
progresso já feito.
A vida pode ser bem difícil. Incapacitante às vezes.
E como reconhecer esses momentos? Eles não serão óbvios porque
surgirão com sua própria propaganda irresistível. Veja alguns sintomas (mas
lembre-se de que as histórias que conta a si mesmo são tão singulares
quanto você): quietude ou impaciência; sono agitado ou sono demais;
exaustão e fadiga. As coisas de que costumava gostar começam a parecer
sem graça. Outra dica: observe pensamentos ou discursos que incluam
“certezas”. São palavras como sempre, nunca, ninguém, todo mundo, nada,
totalmente, inteiramente, tudo. Esse tipo de linguagem é mais uma indicação
de sofrimento emocional do que apenas palavras negativas.2 É um alerta de
que você está próximo do estresse, da exaustão e da depressão, indicando
que está na hora de ser muito gentil consigo mesmo, de procurar por aquilo
que nutre seu estado de espírito e de manter a cabeça fria à medida que
descobre qual é o caminho mais eficaz para a ação.
A capacidade de recuar – mesmo que por um momento para ver o
quadro geral – é o que a atenção plena com tons de sentimento ensina a
você. Os psicólogos chamam isso de “descentralização” ou “desidentificação”,
e é o caminho pelo qual muitas terapias exercem seus efeitos mais
poderosos.3
Como descentralizar quando a vida está oprimindo você, prendendo-o
com correntes?
Respire uma vez. Isso mesmo, só uma vez.
Concentre-se em qual região do corpo os sentimentos estão
concentrados.
Agradável, desagradável, neutro.
Se for desagradável, lembre-se de que “Tudo bem não gostar disso”.
“Nenhuma ação é necessária agora.”
Depois, conforme for relaxando na quietude de seu coração e o
momento começar a parecer certo, você pode dar um pequeno, e único,
passo à frente.
Um ano de prática
Mês 1
Meditação “Encontre sua âncora”, deslocando a atenção para os pés, o
contato com o assento, as mãos e a respiração. (Você pode praticar usando
uma âncora por semana ou permanecer com uma ou duas o mês inteiro.)
Pode usar as meditações 1.2 e 1.4 se quiser.
Mês 2
Meditação de ancoragem curta, depois a atenção plena de todo o corpo. Se a
mente divagar, pause e cultive a gratidão por ela (meditações 2.2 e 2.4).
Pratique a meditação “Encontre sua âncora ao acordar” pelo menos uma vez
por semana (1.6).
Mês 3
Meditação de ancoragem curta na respiração ou no corpo, e em seguida
mude para a atenção plena dos sons, depois dos pensamentos e dos
sentimentos. Observe a tonalidade do que surgir na mente e no corpo
(meditações 3.2 e 3.4). Faça a prática “Observe o tom de sentimento no dia a
dia” ao menos uma vez por semana (meditação 5.5).
Mês 4
Caminhadas com atenção plena (4.2 e 4.4), com a atenção focada em pés,
pernas, todo o corpo e no espaço ao redor (se preferir, dedique uma semana
para cada um deles). Ou use o alongamento com atenção plena (meditação
4.5). Ao perceber uma sensação ou um pensamento agradável ou
desagradável, lembre-se de que “Tudo bem gostar/não gostar disso”. Em
seguida, faça o exercício de gratidão dos dez dedos (4.6) ou a Prática Diária
da Atenção Plena: apreciação (4.8) pelo menos uma vez por semana.
Mês 5
Meditação de ancoragem focada na respiração ou no corpo, seguida da
atenção plena dos sons, depois dos pensamentos e sentimentos. Finalize
com a percepção aberta, permitindo que tudo que surja na mente seja
mantido de maneira gentil e bondosa. Perceba a tonalidade do corpo e da
mente em cada expiração, ao mesmo tempo que se lembra de que “Tudo
bem gostar/não gostar disso” e “Nenhuma ação é necessária agora”
(meditações 5.2 e 5.4). Faça a prática “Observe o tom de sentimento no dia a
dia” (5.5) pelo menos uma vez por semana.
Mês 6
Semana 1: Meditação da gentileza (6.1)
Semana 2: Meditação “Encontre sua âncora” (como no Mês 1: meditações
1.2 e 1.4)
Semana 3: Meditação “Explorar a dificuldade” (6.4)
Semana 4: Meditações “Encontre sua âncora” (1.2 e 1.4)
Faça a prática “Voltar-se para a dificuldade” pelo menos uma vez por
semana (meditação 6.6).
Mês 7
Meditação “Encontre sua âncora” focada na respiração ou no corpo, seguida
da atenção plena dos sons, depois dos pensamentos e sentimentos. Finalize
com a percepção aberta sem um foco específico e perceba a tonalidade do
que surgir na mente e no corpo, enquanto diz para si mesmo “Tudo bem
gostar/não gostar disso” e “Nenhuma ação é necessária agora” (meditações
5.2 e 5.4).
Pratique a Meditação da reflexão (7.1 ou 7.2) pelo menos uma vez por
semana.
Mês 8
Meditação “Encontre sua âncora” focada nos pés, no contato com o assento,
nas mãos e na respiração. Permaneça com uma âncora por toda a semana ou
apenas com uma ou duas durante o mês inteiro (meditações 1.2 e 1.4).
Faça a prática “Observe o tom de sentimento no dia a dia” (5.5) pelo
menos uma vez por semana.
Mês 9
Semana 1: Meditação da gentileza (6.1).
Semanas 2 e 3: Meditação “Explorar a dificuldade” (6.4)
Semana 4: Meditação “Encontre sua âncora” (1.2 e 1.4)
Faça a prática “Voltar-se para a dificuldade” pelo menos uma vez por
semana (meditação 6.6).
Mês 10
Alongamento com atenção plena (meditação 4.5) ou caminhada com
atenção plena (4.1 até 4.4). Ancore-se brevemente, em seguida pratique a
atenção plena de todo o corpo em movimento. Observe e nomeie os tons de
sentimento de suas sensações e seus pensamentos, e diga a si mesmo “Tudo
bem gostar/não gostar disso” e “Nenhuma ação é necessária agora”.
Pratique “Falar e ouvir” com atenção plena pelo menos uma vez por
semana (meditação 7.3).
Mês 11
Meditação “Encontre sua âncora” focada na respiração ou no corpo, seguida
de atenção plena dos sons, depois dos pensamentos e dos sentimentos.
Finalize com a percepção aberta, permitindo que tudo que surja na
consciência seja mantido com gentileza e bondade, e perceba a tonalidade
do que aparecer na mente e no corpo. Lembre-se de que “Tudo bem
gostar/não gostar disso” e “Nenhuma ação é necessária agora” (meditações
5.2 e 5.4).
Prática Diária da Atenção Plena: “Escolhas de ações” pelo menos uma
vez por semana.
Mês 12
Meditação da gentileza (6.1) é a opção padrão para este mês. Você pode
fazer também outras práticas que achou úteis durante o ano ou que gostaria
de explorar mais.
Pratique a Meditação da reflexão pelo menos uma vez por semana
(meditações 7.1 ou 7.2).
Para ler e pesquisar
LIVROS
SITES
Atenção Plena
www.franticworld.com
Nosso site para acompanhar este e nosso livro anterior. Contém um fórum
para discutir experiências e aprender com os outros. Há links para outras
meditações e livros que podem ser úteis, além de uma seção em que
constam palestras, eventos e retiros futuros. Em inglês.
www.mbct.co.uk e www.oxfordmindfulness.org
Nossos sites de Oxford: introdução geral à Terapia Cognitiva baseada na
Atenção Plena – inclui informações sobre treinamento. Em inglês.
https://www.oxfordmindfulness.org/learn-mindfulness/resources/
Práticas de meditação da Terapia Cognitiva baseada na Atenção Plena
guiadas por Mark Williams. Em inglês.
www.bangor.ac.uk/mindfulness
Treinamento em abordagens de saúde baseadas na atenção plena, até o nível
de mestrado, oferecido na Universidade de Bangor, onde Mark Williams
trabalhou antes de se mudar para Oxford. Em inglês.
https://bamba.org.uk/
British Association of Mindfulness-based Approaches. Uma comunidade
inclusiva de praticantes, professores, treinadores e pesquisadores de atenção
plena. Em inglês.
www.mindfulnesscds.com
Para áudios/CDs de práticas de meditação gravados por Jon Kabat-Zinn.
Em inglês.
https://www.brown.edu/public-health/mindfulness/home
Mindfulness Centre na Brown University, Providence, Rhode Island. Em
inglês.
Base Budista
www.gaiahouse.co.uk
Gaia House, West Ogwell, Newton Abbot, Devon TQ12 6EW. Um centro de
retiro em tradição de meditação de percepção (que muito se aproxima das
práticas de atenção plena ensinadas na Terapia Cognitiva baseada na
Atenção Plena e Redução do Estresse Baseada na Atenção Plena).
www.dharma.org
Informações sobre centros oferecendo experiência da tradição de meditação
de percepção. Em inglês.
www.dharmaseed.org
Oferece uma ampla biblioteca, atualizada regularmente, de palestras dadas
(sobretudo em retiros) por professores da tradição de meditação de
percepção. Procure palestras sobre vedanā ou tom de sentimento para
explicações desse aspecto básico da prática da atenção plena. Em inglês.
Eis um resumo dos números e nomes das meditações que figuram em cada
semana do programa. Todos os áudios de meditação podem ser encontrados
em www.sextante.com.br/atencaoplenaprofunda ou em
franticworld.com/deeper-mindfulness (em inglês).
SEMANA 1
Meditação 1.1: “Encontre sua âncora”, versão 10 minutos
Meditação 1.2: “Encontre sua âncora”, versão 20 minutos
Meditação 1.3: “Encontre sua âncora”, versão 30 minutos
Meditação 1.4: “Encontre sua âncora”, versão com instruções mínimas
Meditação 1.5: Faixa com som de sininhos a cada 5 minutos
Meditação 1.6: Prática Diária da Atenção Plena: encontre sua âncora ao
acordar
SEMANA 2
Meditação 2.1: “Faça uma pausa”, versão 10 minutos
Meditação 2.2: “Faça uma pausa”, versão 20 minutos
Meditação 2.3: “Faça uma pausa”, versão 30 minutos
Meditação 2.4: “Faça uma pausa”, versão com instruções mínimas
Meditação 2.5: Faixa com som de sininhos a cada 5 minutos
SEMANA 3
Meditação 3.1: “Tom de sentimento”, versão 10 minutos
Meditação 3.2: “Tom de sentimento”, versão 20 minutos
Meditação 3.3: “Tom de sentimento”, versão 30 minutos
Meditação 3.4: “Tom de sentimento”, versão com instruções mínimas
Meditação 3.5: Prática Diária da Atenção Plena: uma reflexão ao fim do dia
sobre o tom de sentimento
Meditação 3.6: Faixa com som de sininhos a cada 5 minutos
SEMANA 4
Meditação 4.1: Caminhada com atenção plena, versão 10 minutos
Meditação 4.2: Caminhada com atenção plena, versão 20 minutos
Meditação 4.3: Caminhada com atenção plena, versão 30 minutos
Meditação 4.4: Caminhada com atenção plena, versão com instruções
mínimas
Meditação 4.5: Alongamento com atenção plena
Meditação 4.6: Exercício de gratidão dos dez dedos
Meditação 4.7: Exercício de gratidão dos dez dedos, versão com instruções
mínimas
Meditação 4.8: Prática Diária da Atenção Plena: apreciação
Meditação 4.9: Repousar quando você não consegue dormir – 8 minutos
Meditação 4.10: Faixa com som de sininhos a cada 5 minutos
SEMANA 5
Meditação 5.1: “Tom de sentimento momento a momento”, versão 10
minutos
Meditação 5.2: “Tom de sentimento momento a momento”, versão 20
minutos
Meditação 5.3: “Tom de sentimento momento a momento”, versão 30
minutos
Meditação 5.4: “Tom de sentimento momento a momento”, versão com
instruções mínimas
Meditação 5.5: Prática Diária da Atenção Plena: observe o tom de
sentimento no dia a dia
Meditação 5.6: Faixa com som de sininhos a cada 5 minutos
SEMANA 6
Meditação 6.1: Meditação da gentileza, versão 15 minutos
Meditação 6.2: Meditação da gentileza, versão com instruções mínimas
Meditação 6.3: “Explorar a dificuldade”, versão 10 minutos
Meditação 6.4: “Explorar a dificuldade”, versão 20 minutos
Meditação 6.5: “Explorar a dificuldade”, versão com instruções mínimas
Meditação 6.6: Prática Diária da Atenção Plena: voltar-se para a dificuldade
Meditação 6.7: Faixa com som de sininhos a cada 5 minutos
SEMANA 7
Meditação 7.1: Meditação da reflexão
Meditação 7.2: Meditação da reflexão, versão com instruções mínimas
Meditação 7.3: Prática Diária da Atenção Plena: “Falar e ouvir”
Meditação 7.4: Faixa com som de sininhos a cada 5 minutos
Notas
CAPÍTULO 1
1 Adaptado das páginas 19-20 de Into the Silent Land de Martin Laird, com a gentil permissão do
autor.
2 Segal, Z. V.; Williams, J. M. G. & Teasdale, J. D., Mindfulness-based Cognitive Therapy for Depression
(segunda edição, Guilford Press, 2013); Teasdale, J. D.; Williams, J. M. G. & Segal, Z. V., The
Mindful Way Workbook: An Eight-Week Program to Free Yourself from Depression and Emotional
Distress (Guilford Press, 2014).
3 A palavra sânscrita vedanā também foi usada em páli, uma língua posterior do subcontinente
indiano na qual os ensinamentos budistas foram originalmente transmitidos e anotados. Ver
Capítulo 3, nota 2, para mais informações.
CAPÍTULO 2
1 Pesquisa de Gloria Mark e colegas: Mark, G.; Gonzalez, V. M. & Harris, J., (2005) “No Task Left
Behind? Examining the Nature of Fragmented Work Proceedings of the Conference on Human
Factors in Computing Systems”, CHI 2005, Portland, Oregon, EUA, 2-7 de abril de 2005
doi:10.1145/1054972.1055017; Mark, G.; Gudith, D. & Klocke, U. (2010), “The Cost of Interrupted
Work: More Speed and Stress. Proceedings of the 2008 Conference on Human Factors in
Computing Systems”, CHI 2008, 2008, Florença, Itália, 5-10 de abril de 2008,
doi:10.1145/1357054.1357072.
2 Ruby Wax, A Mindfulness Guide for the Frazzled (Penguin, 2016) e A Mindfulness Guide for Survival
(Welbeck, 2021).
3 Lisa Feldman Barrett, How Emotions Are Made: The Secret Life of the Brain (Pan Books, 2017).
4 Para uma análise dessa abordagem, veja Andy Clark, Surfing Uncertainty: Prediction, Action and the
Embodied Mind (Oxford University Press, 2016); Lawrence Barsalou (2008), “Grounded cognition”,
Annual Review of Psychology, 59, pp. 617-45; Lisa Feldman Barrett, How Emotions Are Made: The
Secret Life of the Brain (Pan Books, 2017); e Manjaly, Z. M. & Iglesias, S. (2020), “A computational
theory of mindfulness based cognitive therapy from the ‘Bayesian brain’ perspective”, Frontiers in
Psychiatry, 11, p. 404.
5 Veja a Figura 4.1 em Feldman Barrett, L., How Emotions Are Made (Pan Books, 2017, p. 61).
CAPÍTULO 3
1 Arthur P. Shimamura (2015), “Muybridge in motion: travels in art, psychology and neurology”,
History of Photography, vol. 26, pp. 341-50.
2 Vedanā foi inicialmente traduzido como “sensação” ou “sentimento”, mas os estudiosos do budismo
inicial mostraram que se refere à qualidade afetiva de tudo que entra em contato com o
corpo/mente – Peacock, J. & Batchelor, M. (2018), “Vedana: What is in a ‘Feeling?’” Contemporary
Buddhism, 19(1) pp. 1-6; Weber, A. M. (2018) “Hedonic hotspots, hedonic potholes: Vedanā
revisited”, Contemporary Buddhism, 19, pp. 7-30; Williams, J. M. G.; Baer, R.; Batchelor, M., et al.,
(2022), “What next after MBSR/MBCT: an open trial of an eight-week follow-on program
exploring mindfulness of feeling tone (vedana)”, Mindfulness doi.org/10.1007/s12671-022-01929-0.
2 O interesse pelo tom afetivo não vem ocorrendo apenas na psicologia, mas também na filosofia.
Veja, por exemplo, Barlassina, L. & Hayward, M. K. (2019) “More of me! Less of me!: Reflexive
Imperativism about Affective Phenomenal Character”, Mind, 128, p. 512, outubro de 2019.
3 Da palestra de Joseph Goldstein (2005) “Feelings: The Gateway to Liberation”, em 19 de outubro de
2005, na Insight Meditation Society, https://dharmaseed.org/talks/player/36199.html.
4 Damasio, A., A estranha ordem das coisas (Companhia das Letras, 2018).
5 Essa é a principal descoberta de Nancy Bardacke e seus colegas no campo do parto baseado na
atenção plena – elas observam que muitas mulheres deixam de perceber quando uma contração
dói menos no trabalho de parto, porque estão com a mente compreensivelmente voltada para o
pico da última contração e o medo da próxima. Veja Bardacke, N., Mindful Birthing: Training the
Mind, Body and Heart for Childbirth and Beyond (Bravo Ltd, 2012).
6 Lisa Feldman Barrett, How Emotions Are Made (Macmillan, 2017, p. 56).
7 Ibid p. 121.
CAPÍTULO 5
1 Baer, R.; Crane, C.; Miller, E. & Kuyken, W. (2019), “Doing no harm in mindfulness-based
programs: conceptual issues and empirical findings”, Clinical Psychology Review, 71, pp. 101-14,
https://doi.org/10.1016/j.cpr.2019.01.001.
2 Somos gratos a David Treleaven por seus conselhos sobre esta seção e por seu livro de 2018 Trauma
Sensitive Mindfulness: Practices for Safe and Transformative Healing (W. W. Norton).
3 Singh, N. N.; Singh, J.; Singh, A. D. A.; Singh, A. N. A. & Winton, A. S. W. (2011), “Meditation on
the soles of the feet for anger management: A trainer’s manual”, Raleigh, NC: Fernleaf
(www.fernleafpub.com). No trabalho de nosso Oxford Mindfulness Centre em prisões,
descobrimos que os internos apreciam uma forma simples de lidar com os estados de humor
quando as coisas ficam tensas demais, em especial quando estão prestes a se envolver em
discussões ou brigas.
4 O psicólogo Nirbhay Singh foi pioneiro nesse campo e ensinou a técnica da sola dos pés com
sucesso a alunos de escolas: Selver, J. C. & Singh, N. N., Mindfulness in the Classroom: An evidence-
based program to reduce disruptive behavior and increase academic engagement (Oakland, CA, New
Harbinger, 2020); para adolescentes com autismo: Singh, N. N.; Lancioni, G. E.; Manikam, R.;
Winton, A. S. W.; Singh, A. N. A.; Singh, J. & Singh, A. D. A (2011), “A mindfulness-based strategy
self-management of aggressive behavior in adolescents with autism”, Research in Autism Spectrum
Disorders, 5, pp. 1.153-8; adultos com dificuldades de aprendizado: Singh, N. N.; Lancioni, G. E.;
Winton, A. S. W.; Adkins, A. D.; Singh, J. & Singh, A. N. (2007), “Mindfulness training assists
individuals with moderate mental retardation to maintain their community placements”, Behavior
Modification, 31, pp. 800-14; e adultos mais velhos com doença de Alzheimer: Singh, N.N.;
Lancioni, G. E.; Medvedev, O. N.; Sreenivas, S.; Myers, R. E. & Hwang, Y. (2018), “Meditation on
the Soles of the Feet Practice Provides Some Control of Aggression for Individuals with
Alzheimer’s Disease”, Mindfulness, publicado on-line em dezembro de 2018, doi: 10.1007/s12671-
018-1075-0; o Programa Mindfulness in Schools utiliza uma abordagem semelhante, convidando
os alunos a sentir os pés no chão e as nádegas na cadeira. Os alunos chamaram isto de FOFBOC
(feet on floor, butt on chair; em português, pés no chão, nádegas na cadeira); veja
www.mindfulnessinschools.org.
5 R. S. Thomas, “The Bright Field”, Collected Poems (Phoenix, 1993, p. 302).
6 Somos gratos a Willoughby Britton por essa distinção (International Conference on Mindfulness,
Amsterdã, 13 de julho de 2018).
CAPÍTULO 6
1 Feldman Barrett, L., How Emotions Are Made (Pan Books, 2017, p. 58).
2 Somos gratos ao professor de meditação Ajahn Samedho por essas frases úteis.
3 Lippelt, D. P.; Hommel, B. & Colzato, L. S. (2014), “Focused attention, open monitoring and loving
kindness meditation: effects on attention, conflict monitoring, and creativity – A review”, Frontiers
in Psychology, 5, artigo no 1.083, doi: 10.3389/fpsyg.2014.01083.
4 Kerr, C.; Sacchet, M. D.; Lazar, S. W.; Moore, C.I. & Jones, S.R., “Mindfulness starts with the body:
somatosensory attention and top-down modulation of cortical alpha rhythms in mindfulness
meditation”, Frontiers in Human Neuroscience, 7, artigo no 12, doi: 10.3389/fnhum.2013.00012.
5 Roiser et al. (2012), “Cognitive mechanisms of treatment in depression”, Neuropharmacology, 37,
pp. 117-36.
6 Pasto, L. & Burack J. (2002), “Visual filtering and focusing among persons with schizophrenia,
major depressive disorder and no psychiatric history”, Canadian Journal of Behavioural Science, 34,
pp. 239-49.
7 Dietl, T., et al. (2001), “Enhanced long-latency somatosensory potentials in MDD”, Journal of
Psychiatric Research, 35, pp. 43-8.
8 Kemp et al. (2009), “Fronto-temporal alteration within the first 200ms during an attentional task
distinguished MDD, non-clinical participants with depressed mood and healthy controls”, Human
Brain Mapping, 30, pp. 602-14.
9 Hasenkamp, W.; Wilson-Mendenhall, C. D.; Duncan, E. & Barsalou, L. W. (2012), “Mind wandering
and attention during focused meditation: a fine-grained temporal analysis of fluctuating cognitive
states”, Neuroimage, 59, pp. 750-60, doi: 10.1016/j.neuroimage.2011.07.008.
10 Tang, Y. Y.; Qilin, L.; Gen, X.; Stein, E. A.; Yang, Y. & Posner, M. I. (2010), “Short-term meditation
induces white matter changes in the anterior cingulate”, Proc. Nat. Acad. Sci. U.S.A. 107, pp.
15.649-52, doi: 10.1073/pnas.1011043107.
11 Mrazek, Michael D.; Franklin, Michael S.; Phillips, Dawa Tarchin; Baird, Benjamin & Schooler,
Jonathan W. (2013), “Mindfulness training improves working memory capacity and GRE
performance while reducing mind wandering”, Psychological Science, 24(5), pp. 776-81.
CAPÍTULO 7
1 Embora as palavras que você usa para descrever a sensação desagradável possam diferir daquelas
usadas por outras pessoas e variar de tempos em tempos, aprender a fazer essas distinções
aumenta sua percepção emocional e leva a um maior bem-estar geral: Eckland, N. S. &
Berenbaum, H. (2021), “Emotional awareness in daily life: exploring its potential role in repetitive
thinking and healthy coping”, Behavior Therapy, https://doi.org/10.1016/j.beth.2020.04.010; Starr,
L. R.; Hershenberg, R.; Shaw, Z. A.; Li, Y. I. & Santee, A. C. (2020), “The perils of murky emotions:
emotion differentiation moderates the prospective relationship between naturalistic stress
exposure and adolescent depression”, Emotion, 20 (6); Liu, D. Y.; Gilbert, K. E. & Thompson, R. J.
(2020), “Emotion differentiation moderates the effects of rumination on depression: a longitudinal
study”, Emotion, 20(7), pp. 1.234-43.
2 Se você ouve zumbidos, pode ser difícil se concentrar nos sons em um aposento mais tranquilo.
Sinta-se livre para procurar uma alternativa aos sons para esta parte da meditação (por exemplo,
focar nas sensações do corpo ou abrir os olhos e ver objetos dentro ou fora do aposento, usando-os
para registrar agradável/desagradável). Dito isso, se você está disposto a permanecer um pouco
com o zumbido, às vezes ele pode revelar novas coisas sobre o que está gerando a sensação
desagradável: o próprio ruído ou a frustração (compreensível) e outros sentimentos e pensamentos
criados por ele.
3 Torre, J. B. e Lieberman, M.D. (2018), “Putting feelings into words: affect labeling as implicit
emotion regulation”, Emotion Review, 10, pp. 116-24.
4 Kircanski, K.; Lieberman, M. D. & Craske, M.G. (2012), “Feelings into words: contributions of
language to exposure therapy”, Psychological Science, 21 (10), pp. 1.086-091; Lieberman, M. D.;
Eisenberger, N. I.; Crockett, M. J.; Tom, S. M.; Pfeifer, J. H. & Way, B. M. (2007), “Putting feelings
into words: affect labeling disrupts amygdala activity to affective stimuli”, Psychological Science,
18:421-8, doi:10.1111/j.1467-9280.2007.01916.x. [PubMed: 17576282]; Lieberman, M. D.; Inagaki,
T. K.; Tabibnia, G. & Crockett, M. J. (2011), “Subjective responses to emotional stimuli during
labeling, reappraisal, and distraction”, Emotion, 3:468-80, doi:10.1037/a0023503.[PubMed:
21534661].
5 Creswell, J. D.; Way, B. M.; Eisenberger, N. I. & Lieberman, M. D. (2007), “Neural correlates of
dispositional mindfulness during affect labeling”, Psychosomatic Medicine, 69(6), pp. 560-65.
6 A pesquisa original foi realizada por Loftus, E. F. & Palmer, J. C. (1974), “Reconstruction of
automobile destruction: an example of the interaction between language and memory”, Journal of
Verbal Learning and Verbal Behavior, 13, pp. 585-9. Um bom resumo dessa pesquisa pode ser
encontrado em https://www.simplypsychology.org/loftus-palmer.html#:~:text=Loftus.
CAPÍTULO 8
1 O psicólogo Filip Raes e colegas da Universidade de Leuven usam um questionário que pesquisa a
reação das pessoas quando se sentem felizes, empolgadas ou entusiasmadas. Eles constataram que
as que reagem ao estado de humor positivo dizendo a si mesmas coisas como “Lembro a mim
mesmo que esses sentimentos não vão durar”, “Penso sobre coisas que poderiam dar errado” ou
“Eu não mereço isto” correm maior risco de depressão grave. Raes, F.; Smets, J.; Nelis. S. & Schoofs,
H. (2012), “Dampening of positive affect prospectively predicts depressive symptoms in non-
clinical samples”, Cognition & Emotion, 26(1), pp. 75-82. Para o questionário, veja Feldman, G. C.;
Joorman, J. & Johnson, S. L. (2008), “Responses to positive affect: a self-report measure of
rumination and dampening”, Cognitive Therapy & Research, 32(4), pp. 507-525.
2 Trata-se de metaemoções (uma emoção sobre uma emoção, como se sentir culpado por estar
irritável). É bom ficar de olho nelas porque podem acabar criando mais depressão. Bailen, N. H.;
Wu, H. & Thompson, R. J. (2019), “Meta-emotions in daily life: associations with emotional
awareness and depression”, Emotion, 19(5), pp. 776-87.
3 Essa foi a percepção que motivou Jon Kabat-Zinn a oferecer atenção plena a pacientes com dor
crônica na clínica que abriu no Centro Médico da Universidade de Massachusetts em 1979. A
primeira prática formal para esses pacientes, a “Exploração corporal”, convidou os participantes a
tomarem consciência de seus corpos, o que parece o contrário do que tais pacientes precisavam. Já
não estavam conscientes demais de sua dor? Mas Jon Kabat-Zinn percebeu que pensamentos e
emoções sobre a dor haviam se emaranhado inextricavelmente com as próprias sensações do
corpo. Trazer a percepção gentil ao corpo ajudou a desemaranhar os nós, na medida em que
pensamentos, julgamentos rigorosos e emoções puderam ser vistos, mantidos num espaço maior e
desacoplados entre si. Veja Jon Kabat-Zinn, Viver a catástrofe total: Como utilizar a sabedoria do
corpo e da mente para enfrentar o estresse, a dor e a doença (Palas Athena, 2017).
4 Birch, V. & Penman, D., Mindfulness for Health: A practical guide to relieving pain, reducing stress
and restoring well-being (Piatkus, 2013); veja também Gordon, A. & Ziv, A., The Way Out: The
revolutionary scientifically proven approach to heal chronic pain (Vermilion, 2021).
5 Nancy Bardacke, Mindful Birthing: Training the mind, body and heart for childbirth and beyond
(HarperOne, 2012).
6 Veja a análise das evidências em Warriner, S.; Crane, C.; Dymond, M. & Krusche, A. (2018), “An
evaluation of mindfulness-based childbirth and parenting courses for pregnant women and
prospective fathers/partners within the UK NHS (MBCP-4-NHS)”, Midwifery, 64, pp. 1-10; veja
também Veringa-Skiba, I. K.; de Bruin, E. I.; van Steensel, F. J. A. & Bögels, S. M. (2022), “Fear of
childbirth, non-urgent obstetric interventions, and newborn outcomes: a randomized controlled
trial comparing Mindfulness-Based Childbirth and Parenting with enhanced care as usual”, Birth,
49(1), 40–51. https://doi.org/10.1111/birt.12571.
7 Rachman, S. & DeSilva, P. de (1978), “Abnormal and normal obsessions”, Behaviour Research &
Therapy, 16, pp. 233-48. Esses autores descobriram que tais pensamentos e impulsos são normais.
Eles incluem o impulso de atacar alguém física e verbalmente, um impulso sexual em relação a
outra pessoa, saltar nos trilhos quando um trem se aproxima ou o impulso de dizer coisas rudes e
inaceitáveis para alguém. Em média, as pessoas reconhecem que um a três desses pensamentos ou
impulsos passaram por sua mente ao longo da semana.
8 Para pessoas que lutam contra vícios, o psiquiatra e professor de atenção plena Jud Brewer explorou
como a atenção plena dos tons de sentimento pode ajudar. Ele convida, por exemplo, tabagistas a
focar no gosto do cigarro ao fumarem. Muitos dos participantes revelam que pela primeira vez
perceberam que não gostam do sabor. Brewer e sua equipe produziram livros e aplicativos que
ajudam a superar vícios, e existem bons indícios de sua eficácia. Veja Brewer, J., The Craving Mind
From Cigarettes to Smartphones to Love: Why we get hooked and how we can break bad habits (Yale
University Press, 2018).
9 Hanson, R., O cérebro e a felicidade: Como treinar sua mente para atrair serenidade, amor e
autoconfiança (Martins Fontes, 2015).
CAPÍTULO 9
1 O livro principal da trilogia, Northern Lights, foi publicado no Brasil com o título A bússola de ouro.
2 Pullman, P., “Poco a poco: The fundamental particles of narrative”, em Daemon Voices: On Stories
and Storytelling (David Fickling Books, 2017).
3 Pullman, P., “Poco a poco”, p. 208).
4 Tipper, S. (2010), “From observation to action simulation: the role of attention, eye-gaze, emotion,
and body state”, Quarterly Journal of Experimental Psychology, 63 (11), pp. 2.081-2.105.
5 Tucker, M. & Ellis, R. (1998), “On the relations between seen objects and components of potential
actions”, Journal of Experimental Psychology: Human Perception and Performance, 24, pp. 830-46.
6 Barsalou, L. W.; Simmons, W. K.; Barbey, A. K. & Wilson, C. D. (2003), “Grounding conceptual
knowledge in modality-specific systems”, Trends in Cognitive Sciences, 7, pp. 84-91; e Barsalou, L.
W. (2008), “Grounded cognition”, Annual Review of Psychology, 59, pp. 617-45.
7 Pulvermüller, F. (2005), “Brain mechanisms linking language and action”, Nature Reviews
Neuroscience, 6 (7) pp. 576-82.
8 Para uma análise do impacto desse campo sobre a compreensão dos problemas emocionais, veja
Gjelsvik, B.; Lovic, D. & Williams, J. M. G. (2018), “Embodied cognition and emotional disorders:
embodiment and abstraction in understanding depression”, Journal of Experimental
Psychopathology, julho-setembro, pp. 1-41, doi: 10.5127/pr.035714.
9 Schuch, S.; Bayliss, A. P.; Klein, C. & Tipper, S. P. (2010), “Attention modulates motor system
activation during action observation: evidence for inhibitory rebound”, Experimental Brain
Research, 205(2), pp. 235-49, https://doi.org/10.1007/s00221-010-2358-4.
10 A atividade cerebral enquanto o vídeo era transmitido foi rapidamente seguida por uma mudança
na direção oposta com o intuito de parar a ação.
11 Barsalou, L. W., Situated Simulation in the Human Conceptual System (Elsevier, 2003).
12 Blakemore, S. J. & Decety, J. (2001), “From the perception of action to the understanding of
intention”, Nature Reviews Neuroscience, 2, pp. 561-7.
13 Elgendi, M., et al. (2018), “Subliminal Priming – State of the Art and Future Perspectives”,
Behavioral Sciences, 8, 54.
14 A pré-ativação costuma ser seguida por uma “máscara padrão” – uma palavra aleatória que
aparece no lugar da palavra pré-ativadora. Com isso, garante-se que o voluntário não perceba qual
foi essa palavra.
15 Fazio, R. H.; Sanbonmatsu, D. M.; Powell, M. C. & Kardes, F. R. (1986), “On the automatic
activation of attitudes”, Journal of Personality and Social Psychology, 50, pp. 229–38.
16 Feldman Barrett, L., How Emotions Are Made: The Secret Life of the Brain (MacMillan, 2017); veja
pp.118–27 e Apêndice D, p. 313ss.
17 Crane, C.; Jandric, D.; Barnhofer, T. & Williams, J. M. G. (2010), “Dispositional mindfulness,
meditation and conditional goal setting”, Mindfulness, 1, pp. 204-14.
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
E ste livro e o programa que ele contém não teriam se concretizado sem a
ajuda e o apoio de muitas pessoas. Agradecemos os conselhos e as
orientações científicas dos colegas Alan Baddeley, Tim Dalgleish, Barney
Dunn, Martin Eimer, Elaine Fox, Bergljot Gjelsvik, Dirk Hermans, Filip
Raes e Steve Tipper. Não poderíamos ter feito isso sem o conselho e a
orientação sobre os fundamentos budistas antigos de John Peacock,
Catherine McGee, Martine Batchelor, Helen Ma e Chris Cullen. Também
somos gratos a Robert Williams por nos manter atualizados sobre a filosofia
que explora o tom afetivo da experiência.
A primeira grande descoberta de como essas meditações poderiam
ajudar a aprofundar e sustentar a prática de atenção plena foi com Helen
Ma, que lecionou ao lado de Mark Williams por vários anos em retiros de
treinamento oferecidos como parte do Curso de Fundamentos para o
Ensino de Terapia Cognitiva baseada em Atenção Plena em Hong Kong, e
muito do enquadramento e da linguagem do programa final foi bastante
influenciado por sua sabedoria e bondade.
Como o programa migrou de um ambiente de retiro para um contexto
mais convencional, a Wheatley Mindfulness Network realizou uma versão
protótipo de seis sessões do programa, e somos gratos a Roger Bettess, Jen
Yeates, Christine Bainbridge, Tom Goss, Lonnie Gross, Julian Gross, Ann
Gajda, Norbert Gajda, Elaine Parsons, Tanya Berman, Frances Simpson,
Caroline Sants, Celia Montague, Bob Webster, Liz Barry, Tony Barry, Juliet
Vale, Hilary Wright, Pat Jeffs e Polly Jeffs.
Nesses estágios iniciais de desenvolvimento do curso, os colegas Rebecca
Crane, Ee-Lin Ong, Helen Ma, Chris Cullen, Andy Phee, Melanie Fennell,
Johannes Michalak e Thomas Heidenreich deram mais feedback sobre os
esboços do programa, e David Treleaven ofereceu conselhos sábios para
aperfeiçoar o curso levando em consideração os traumas que muitos
participantes enfrentaram no passado. Ajudou-nos muito que Rebecca
Crane e o Rowen Mindfulness Group no norte do País de Gales, bem como
colegas em Hong Kong e na China, estivessem dispostos a experimentar as
meditações em um estágio inicial e oferecer feedback que ajudou a
influenciar o formato final.
Foi maravilhoso ver colegas professores/treinadores do Institute for
Mindfulness South Africa (IMISA) dispostos a trabalhar no programa piloto
e oferecer feedback: Matthew Watkin, Barbara Gerber, Anneke Barnard,
Craig Henen, Danielle Klemp, Denise Washkansky, Fathima Bux, Ashika
Pillay, Janine Kirby, Julie Deane-Williams, Linda Kantor, Mandy Johnson,
Nico Brink, RJ Chippindall, Simon Whitesman, Debbie Grusd, Luke Younge
e Kate Leinberger.
Somos especialmente gratos aos treinadores da IMISA Matthew Watkin,
Mandy Johnson, Linda Kantor, Barbara Gerber e Janine Kirby que, ao lado
de Ee-Lin Ong (Nova Zelândia) e Andy Phee (Reino Unido), ensinaram o
programa completo de oito semanas aos voluntários participantes em um
ensaio de pesquisa aberta para avaliá-lo. A pesquisa em si não teria sido
possível sem a equipe de Oxford – Emma Medlicott, Kath de Wilde, Lucy
Radley e Laura Taylor –, que trabalhou no estudo do início ao fim, desde a
obtenção de permissão ética até a criação de arquivos de dados e condução
da análise de dados, e integrou a equipe de redação, ao lado de Ruth Baer,
John Peacock e Chris Cullen. Agradecimentos especiais aos participantes do
estudo de pesquisa na África do Sul, na Nova Zelândia e no Reino Unido,
que nos deram descrições detalhadas de suas experiências enquanto
percorriam o curso de oito semanas – a maioria em meio à pandemia –,
além de permitirem que usássemos suas experiências para influenciar este
livro em benefício de outras pessoas.
Agradecemos aos professores e funcionários do Oxford Mindfulness
Centre (OMC) que continuam a apoiar a divulgação do programa. Também
somos gratos a Willem Kuyken, Alison e Peter Yiangou, Claire Kelly e
Sharon Hadley, e todos os maravilhosos professores/treinadores do OMC
que agora ensinam o programa. O OMC foi particularmente útil ao nos
encorajar a montar uma versão “degustação” on-line do curso durante 2021,
e participantes de 82 países fizeram parte e puderam oferecer feedback útil.
Agradecemos a Sarah Silverton pela permissão de usar sua prática da
Semana 7 e a Pat Simpson e Beth MacKay pela permissão de usar suas
histórias e experiências. Elas, como todas as que foram incluídas no livro,
tiveram os nomes alterados para preservar o anonimato. Agradecemos a Jen
Williams, que leu e comentou a primeira versão do texto.
Continuamos imensamente gratos a Sheila Crowley da Curtis Brown,
Kris Dahl da ICM Partners, Zoe Bohm, Jillian Stewart, Matt Crossey e Holly
Harley da Piatkus, e a Nana Twumasi e Natalie Bautista da Hachette.
Por fim, cada um de nós tem uma enorme dívida para com nossas
parceiras, Phyllis e Bella, e nossos filhos, Rob, Jen e Annie e Sasha e Luka,
por seu amor, paciência e apoio durante os inevitáveis desafios da escrita.
Sobre os autores
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