Silo - Tips Estatuto Do Contribuinte Conteudo e Alcance
Silo - Tips Estatuto Do Contribuinte Conteudo e Alcance
Silo - Tips Estatuto Do Contribuinte Conteudo e Alcance
Humberto Ávila
Advogado em Porto Alegre. Professor da Pontifícia Universidade Católica
(PUC/RS) e da Escola Superior da Magistratura do Rio Grande do Sul
(AJURIS). Doutor em Direito (Doctor juris) e Certificado de Estudos em
Metodologia da Ciência do Direito pela Universidade de Munique, Alemanha.
Mestre em Direito pela Faculdade de Direito e Especialista em Finanças pela
Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS).
INTRODUÇÃO
Por que existe essa disparidade? Este estudo responde a essa questão,
apresentando uma alternativa interpretativa que, unificando pontos de vista
analíticos e dialético-hermenêuticos, expõe os obstáculos que ainda impedem a
construção integral do “Estatuto do Contribuinte” no direito brasileiro.
2
GUASTINI, Riccardo. Teoria e dogmatica delle fonti. Milano: Giuffrè, 1998. p. 16.
3
PAWLOWSKY, Hans-Martin. Methodenlehre für Juristen. 3. ed. Heidelberg: Müller, 1999. p.
120.
2
É também necessário estremar o sistema externo do interno. O sistema
tributário não se resume ao conjunto de dispositivos que dizem respeito expressa
e imediatamente à matéria tributária. O critério ratione materiae apenas focaliza o
elemento exterior do sistema jurídico, deixando intacta a multiplicidade e a
mobilidade das relações sintáticas e semânticas a serem construídas pelo
intérprete.4 A análise do elemento exterior conduz até o sistema tributário externo.
Em vez da matéria, é preciso construir uma sistematização do conteúdo de
sentido dos dispositivos que protegem expressa ou implicitamente, imediata ou
mediatamente os bens jurídicos - situações, objetos ou estados juridicamente
protegidos - restringidos pela concretização da relação obrigacional tributária. Só
a compreensão do direito tributário por meio do exame unificador das normas que
resguardam os direitos de liberdade e de propriedade permite a elaboração do
sistema tributário interno.5 É desacertada, pois, afirmação de que o sistema
tributário se resume aos artigos 145 a 162 da Constituição de 1988. Esses
dispositivos nada mais são do que uma parte dos pontos de partida para a
concepção do sistema tributário. O próprio texto constitucional já fornece uma
pista ao prescrever que o sistema tributário também inclui outras garantias
asseguradas ao contribuinte (art. 150, caput), quer aquelas expressamente
disciplinadas, quer aquelas decorrentes dos princípios fundamentais adotados
pela Constituição (art. 5º, § 2º). É necessário não baralhar o início com o fim.
4
CARVALHO, Paulo. Teoria da Norma Tributária. São Paulo: LAEL, 1974. p. 74; idem: Estatuto
do Contribuinte, direitos, garantias individuais em matéria tributária e limitações constitucionais
nas relações entre fisco e contribuinte. Revista de Direito Tributário (7/8):137, 1979; idem. Direito
Tributário: Fundamentos Jurídicos da Incidência. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 77.
5
Sobre sistema jurídico interno em geral: CANARIS, Claus-Wilhelm. Systemdenken und
Systembegriff in der Jurisprudenz. 2. ed. Berlin: Duncker und Humblot, 1982. p. 19, 35 e 40;
BYDLINSKI, Franz. System und Prinzipien des Privatrechts. Wien, New York: Springer, 1996. p.
16. Sobre sistema tributário interno: TIPKE, Klaus. Die Steuerrechtsordnung. Köln: Otto Schmidt.
1993. p. 105 ss. E sobre o postulado da unidade: ALEXY, Robert. Juristische Interpretation. In:
Recht, Vernunft, Diskurs. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1995. p. 76.
6
ATALIBA, Geraldo. Sistema Constitucional Tributário. São Paulo: RT, 1968. p. 7, 20 e 36.
Sobre a proibição de modificação de garantias: Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 937-7,
Tribunal Pleno, Relator Ministro Sydney Sanches, DJ 18.03.93.
3
2. DISTINÇÃO ENTRE DESCRIÇÃO E CONSTRUÇÃO
7
MÜLLER, Friedrich. Warum Rechtslinguistik? Gemeinsame Probleme von Sprachwissenschaft
und Rechtstheorie. In: Rechtstheorie und Rechtsdogmatik im Austausch. Gedächtnisschrift für
Bernd Jeand’Heur. Org. Wilfried Erbguth, Friedrich Müller e Volker Neumann. Berlin: Duncker
und Humblot, 1999. p. 30 e 31.
8
GUASTINI, Riccardo. Interprétation et description de normes. In: Interpretation et Droit. Org.
Paul Amselek. Bruxelles: Bruylant, 1995. 97 e 98.
9
MÜLLER, Friedrich. Op. cit. p. 40.
10
De maneira análoga: KAUFMANN, Arthur. Die ‘ipsa res iusta’. In: Beiträge zur Juristischen
Hermeneutik. Köln: Carl Heymans, 1993. p. 61.
4
jamais se pode contar com a realização do “Estatuto do Contribuinte” porque ele
está expressamente previsto em uma fonte normativa, seja ela qual for.11
1. ELEMENTOS
A) NORMAS
11
FERREIRO LAPATZA, Jose Juan. El estatuto del contribuyente y las facultades normativas de
la administración. In: Justiça Tributária. 1º Congresso Nacional de direito Tributário - IBET. São
Paulo: Max Limonad, 1998. p. 319.
5
importante é que enquanto a relação entre os princípios caracteriza-se como um
entrecruzamento, e soluciona-se mediante a atribuição de uma dimensão de peso
a cada um dos princípios envolvidos, com a conseqüente criação de regras de
prevalência diante do caso concreto, a relação entre as regras qualifica-se como
uma antinomia, e resolve-se por meio da abertura de exceções à regra ou com a
declaração de invalidade de uma delas.12
B) FINALIDADES
12
Sobre o assunto: ÁVILA, Humberto Bergmann. A distinção entre princípios e regras e a
redefinição do dever de proporcionalidade. RDA, 215:151-179. 1999. Ver também: LÜBBE-
WOLFF, Gertrude. Die Grundrechte als Eingriffsabwehrrechte: Struktur und Reichweite der
Eingriffsdogmatik im Bereich staatlicher Leistungen. Baden-Baden: Nomos, 1988. S. 167.
6
capacidade de contribuir para esse custeio; já quando tiver finalidade
principalmente extrafiscal e, por isso, visar a atingir um fim concreto, econômico
ou social, o critério da repartição não mais será a capacidade de contribuir, mas a
adequação, a necessidade e a correspondência do meio relativamente àquela
finalidade. O desconhecimento dessa distinção tem deixado sem controle os
contornos da instituição de impostos ligados ao comércio exterior, a instituição
legislativa de responsáveis tributários e mesmo a criação de mecanismos
variados para facilitar a fiscalização de tributos.
2. LIMITES FORMAIS
A) LIMITES PROCEDIMENTAIS
13
ÁVILA, Humberto Bergmann. Medida Provisória na Constituição de 1988. Porto Alegre: Sergio
Fabris, 1997. p. 56 ss.
7
A jurisprudência, no entanto, tem — equivocadamente — analisado a
legalidade como regra semanticamente autônoma relativamente ao princípio
democrático. Com efeito, o Supremo Tribunal Federal aceita não só a instituição
de tributos mediante medida provisória, como permite a reedição sucessiva delas
e a convalidação de efeitos das anteriores pela última.14
B) LIMITES DE EFICÁCIA
3. LIMITES MATERIAIS
A) NORMAS DE COMPETÊNCIA
14
Exemplo: Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.417, Relator Ministro Octávio Galloti, DJ
24.05.96, p. 17412.
15
Exemplo: Recurso Extraordinário nº 197790-6, Relator Ministro Ilmar Galvão. DJ 19.02.97.
8
tornam insuscetíveis de tributação (normas excludentes de competência). A
parcela de poder do Estado para instituir tributos é resultado do poder que lhe
atribui menos o poder que lhe é subtraído, nos termos da Constituição.
16
Exemplo: Recurso Extraordinário nº 104563, Relator Ministro Oscar Corrêa, DJ 05.09.86p.
15836.
9
desprezo do sentido vernacular das palavras utilizadas pelo legislador
constituinte, quer ao técnico, considerados institutos consagrados pelo Direito”
(...). “Realmente a flexibilidade de conceitos, o câmbio do sentido destes
conforme os interesses em jogo, implicam insegurança incompatível com o
objetivo da própria Carta que, realmente, é um corpo político, mas o é ante os
parâmetros que encerra e estes não são imunes ao real sentido dos vocábulos,
especialmente os de contornos jurídicos. Logo, não merece agasalho o ato de
dizer-se da colocação, em plano secundário, dos conceitos consagrados,
buscando-se homenagear, sem limites técnicos, o sentido político das normas
constitucionais”.17
B) PRINCÍPIOS MATERIAIS
17
Recurso Extraordinário nº 166772-9-RS, Relator Ministro Marco Aurélio, DJ 16.12.94 pp.
34896, p. 11 e 12 do acórdão original.
10
deverá ser escolhida aquela que privilegie o homem como fim, nunca como meio,
atribuindo à sua dignidade a maior eficácia possível.18
18
ENDERS, Christph. Die Menschenwürde in der Verfassungsordnung. Tübingen: Mohr Siebeck,
1997. p. 99 e 101. Ver também: NEUMANN, Volker. Menschenwürde und Existenzmininum.
Neue Zeitschrift für Verwaltungsrecht. v. 5, p. 426. 1995.
19
HOMBURG, Stefan. Zur Steuerfreiheit des Existenzminimums: Grundfreibeitrag oder Abzug
von der Bemessungsgrundlage? Finanzarchiv, (52): 182-195, 194. 1995; TORRES, Ricardo
Lobo. Os Direitos Humanos e a Tributação. In: Tratado de Direito Constitucional Financeiro e
Tributário, Vol. III. Rio de Janeiro: Renovar, 27 e 166 ss.
20
DERZI, Misabel de Abreu Machado. Notas a ALIOMAR BALEEIRO, Direito Tributário
Brasileiro, 11 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 318.
21
MARX, Michael. Zur Definition des Begriffs »Rechtsgut«: Prolegomena einer materialen
Verbrechenslehre. Köln: Carl Heymanns, 1971. p. 68.
22
ÁVILA, Humberto Bergmann. A distinção entre princípios e regras e a redefinição do dever de
proporcionalidade. RDA (215):151-179, Rio de Janeiro: Renovar, jan./mar. 1999, p. 175.
11
competência para a declaração de inconstitucionalidade de qualquer exigência do
Poder Público, ainda que prevista em lei formalmente válida, que restrinja
excessivamente algum direito fundamental. Fala-se, aqui, da proibição de
excesso.
4. DEVERES DE MEDIDA
A) PRINCÍPIO DA IGUALDADE
23
De modo similar: LEMKE, Gisele. Imposto de Renda: Os Conceitos de Renda e de
Disponibilidade Econômica e Jurídica. São Paulo: Dialética. 1998. p. 51-2.
24
OSTERLOH, Lerke. Gesetzesbindung und Typisierungsspielräume bei der Anwendung der
Steuergesetze. Baden-Baden: Nomos. 1992.
25
BORGES, José Souto. A isonomia tributária na Constituição Federal de 1988. RDT (64):8-19,
p. 13.
26
Similar: BORGES, José Souto Maior. O contraditório no processo judicial: uma visão dialética.
São Paulo: Malheiros, 1996. p. 92.
27
KELSEN, Hans. Allgemeine Theorie der Normen. Wien: Manz Verlag. 1990. p. 3.
12
(“Zumutbarkeitsgrundsatz”).28 Ora, a aplicação da regra geral deve manter-se
dentro dos casos padrões, não se orientando àqueles atípicos.29
28
ÁVILA, Humberto Bergmann. A distinção entre princípios e regras e a redefinição do dever de
proporcionalidade. RDA (215):151-179, Rio de Janeiro: Renovar, jan./mar. 1999, p. 173.
29
OSTERLOH, Lerke. Gesetzesbindung und Typisierungsspielräume bei der Anwendung der
Steuergesetze. Baden-Baden: Nomos. 1992. p. 80.
30
KIRCHHOF, Paul. Die Verschiedenheit der Menschen und die Gleichheit vor dem Gesetz.
München: Siemens Stiftung, 1996. p. 8 e ss.
31
VOGEL/WALDHOFF. Bonner Kommentar zum Grundgesetz. 81 Lfg. 1997. p. 388. BIRK,
Dieter. Steuerrecht I, Allgemeines Steuerrecht. 2. Auf. München: Beck, 1994. p. 10-11. HUSTER,
Stefan. Rechte und Ziele: Zur Dogmatik des allgemeinen Gleichheitssatzes. Berlin: Duncker und
Humblot, 1993. p. 149, 166-7, 210.
13
As normas tributárias dirigem-se à concretização de diversos fins. E, ao
fazê-lo, restringem bens jurídicos distintos. Lembre-se: não se está aqui a falar na
causa extrajurídica que levou o legislador a instituir esse ou aquele tributo. Não.
Ao contrário: investiga-se o fundamento de validade ou justificativa jurídica
utilizada para a distinção entre os sujeitos e a finalidade que a distinção busca
alcançar. Lá uma questão metajurídica; aqui, um problema eminentemente
jurídico, apesar de relegado pela doutrina ao oblívio.
B) POSTULADO DA PROPORCIONALIDADE
32
MOLINA, Pedro M. Herrera. Capacidad Económica y Sistema Fiscal. Madrid: Marcial Pons.
1998. p. 73. MOSCHETTI, F. La capacità contributiva. Tratatto di Diritto Tributario. v. I, t. 1.
Padova: CEDAM, 1994. p. 230.
33
HUSTER, Stefan. Rechte und Ziele: Zur Dogmatik des allgemeinen Gleichheitssatzes. Berlin:
Duncker und Humblot, 1993. p. 149.
14
estimular a realização dos princípios fundamentais (arts. 1º a 5º) ou gerais da
tributação (arts. 145 a 149); ao Estado incumbe também estimular e realizar os
princípios gerais da atividade econômica (arts. 170 e ss.), bem como zelar pela
concretização de outros tantos fins, como a manutenção do Estado Federativo
(art. 18), a preservação da eficiência administrativa (art. 37), a garantia da
segurança pública (art. 144), a implementação da política urbana (arts. 182 e
183), a garantia da função social da propriedade (arts. 184 a 191), a preservação
da ordem social (arts. 193 a 231), a evolução da ciência e da tecnologia (arts. 218
a 224), a proteção do meio ambiente (art. 225) e da famíllia (arts. 231 e 232), a
fiscalização e o controle sobre o comércio exterior (art. 237).
O que importa é que todos esses fins (ou tarefas) podem justificar o modo
instituição de impostos. E — eis o decisivo — ao justificar a instituição de um
imposto em algum fim estatal o legislador afastar-se-á do direito fundamental à
igualdade segundo a capacidade econômica dos contribuintes. Quando o Poder
Legislativo estabelece limites à dedução de despesas com educação ou saúde,
ou cria ficções ou presunções legais, ele se afasta da capacidade contributiva
individual em nome da eficiência administrativa. Quando o Poder Legislativo ou
Executivo estabelece alíquotas diferenciadas do imposto de importação ou de
exportação ele se distancia da capacidade econômica do particular porque tem a
finalidade de fiscalizar e controlar o comércio exterior.
34
VOGEL, Klaus. Die Abschichtung von Rechtsfolgen im Steuerrecht, in: Der offene Finanz- und
Steuerstaat. Heidelberg: Müller, p. 542.
15
Nessa última hipótese, a finalidade de tratar os contribuintes segundo sua
capacidade contributiva deverá ser harmonicamente superada pela coordenação
com a finalidade extrafiscal erigida como justificadora da medida. E justamente
porque o legislador irá afastar-se do princípio geral da igualdade segundo a
capacidade contributiva, o fim justificador deverá ficar perfeitamente delimitado,
sob pena de arbítrio.35 Além do mais, o grau de distanciamento do direito
fundamental de igualdade não poderá ser incompatível com a sua hierarquia
sintática na Constituição vigente.
35
De modo similar: LEMKE, Gisele. Imposto de Renda: Os Conceitos de Renda e de
Disponibilidade Econômica e Jurídica. São Paulo: Dialética. 1998. p. 54.
36
Representação nº 930-DF, Relator Ministro Rodrigues Alckmin, DJU 02-09-77, especialmente
as páginas 18 e 19 do voto do relator.
37
Habeas Corpus º 76060-SC, Relator Ministro Sepúlveda Pertence. DJ 15.05.98, p. 44.
38
Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 855-2, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, DJU
01.10.93.
16
Seguindo esse movimento jurisprudencial, a doutrina hoje é unânime
quanto à aplicação do postulado ou princípio hermenêutico da
proporcionalidade no direito brasileiro. 39
39
ÁVILA, Humberto Bergmann. A distinção entre princípios e regras e a redefinição do dever de
proporcionalidade. RDA, 215:151-179. 1999; BARROS, Suzana de Toledo. O princípio da
proporcionalidade e o controle de constitucionalidade das leis restritivas de direitos
fundamentais. Brasília, Brasília Jurídica, 1996; BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito
Constitucional. 8. ed. São Paulo, Malheiros. 1999. p. 356-394; MENDES, Gilmar Ferreira. A
proporcionalidade na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. In: Direitos Fundamentais e
Controle de Constitucionalidade. São Paulo: Celso Bastos, 1999. p. 67-83.
40
OSTERLOH, Lerke. Gesetzesbindung und Typisierungsspielräume bei der Anwendung der
Steuergesetze. Baden-Baden: Nomos. 1992. p. 56.
17
ocorrência pode ser demonstrada.41 Sendo assim, as ficções transformam-se em
questões constitucionais: elas restringem bens jurídicos protegidos por princípios
prima-facie. É preciso, então, descobrir em que medida é permitido afastar-se do
dever de consideração da capacidade contributiva e quais circunstâncias devem
ser consideradas como essenciais.
41
Idem, ibidem. p. 27.
42
BECKER, Alfredo Augusto. Teoria Geral do Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 1963. p.
464.
43
Sobre o assunto, importante: ALEXY, Robert. Individuelle Rechte und Kollective Güter. In:
Recht, Vernunft, Diskurs. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1995. p. 261.
44
DE PAOLA, Leonardo Sperb. Presunções e ficções no Direito Tributário. Belo Horizonte: Del
Rey. 1997. p. 73 e ss.
18
da igualdade segundo a capacidade contributiva, caso tenha por finalidade
prevalente a obtenção de receita dos particulares, ou decorrentes do postulado da
proporcionalidade, na hipótese de finalidade preponderantemente extrafiscal.
↓ ↓
Zona
Princípio da Igualdade Postulado da Proporcionalidade
de
Capacidade
Adequação Necessidade Proporcionalidade
Contributiva Generalidade Capac. Contributiva Universalidade
19
II. EFICÁCIA DO “ESTATUTO DO CONTRIBUINTE”
45
Exemplo: Ação Direta de Inconstitucionalidade - Medida Cautelar nº 896, Relator Ministro
Moreira Alves, DJ 16.02.96, pp. 02997.
20
significados incorporados ao texto e normas com sentido inequívoco. Ora, não há
nem significação incorporada ao texto nem significados inequívocos, como já
analisado. As significações nunca estão prontas, mas devem ser exatamente
construídas mediante atos de decisão do próprio Poder Judiciário. A tese do
legislador negativo ainda conduz, de modo imperceptível, a uma equiparação da
hipótese em que o Poder Judiciário não pode agir positivamente (proibição de
preenchimento de lacunas como planejadas incompletudes decorrente de as leis
não conterem normas apesar de o ordenamento jurídico as exigir), com as
hipóteses em que ele deve exatamente atuar de modo positivo, quer utilizando
métodos como argumentum e contrario (atribuir sentido ao que o legislador, ao
regular somente um caso, determinou relativamente a outros diferentes), redução
teleológica (reduzir o sentido das palavras da lei por serem elas muito amplas em
relação a sua finalidade) e extensão teleológica (ampliar o sentido das palavras
da lei por serem elas muito restritas em relação a sua finalidade), quer
simplesmente concretizando definitoriamente e mediante regras de prevalência
aquilo que o ordenamento jurídico estatui por meio dos princípios fundamentais.46
Interpretar não é nem simplesmente enquadrar um fato ou comportamento numa
classe de fatos ou comportamentos, nem só atribuir um significado a palavras ou
enunciados; interpretar é também fazer suposições sobre finalidades e intenções
de agentes ou construir conjecturas sobre as relações de causa e efeito entre
fatos.47 De qualquer modo, a interpretação consiste numa atividade complexa de
relacionar elementos sintáticos, semânticos e pragmáticos segundo estruturas
fornecidas por postulados hermenêuticos.48 Nesses casos, o Poder Judiciário não
é chamado a criar uma norma para um caso não regulado mediante operação de
similitude com casos já regulados, mas convocado a construir o próprio
significado da norma em função da sua finalidade, que só estava entremostrada
antes da delimitação do caso a ser julgado. Ora, restringir a atuação do Poder
Judiciário ao aspecto negativo não é só desconhecer as hipóteses em que não é
sequer racionalmente concebível desconjuntar a dimensão negativa da positiva
ou mesmo prescindir do caráter multifacetado das normas jurídicas; é também
olvidar a indispensável faculdade positiva de o Poder Judiciário constituir o Direito
diante do caso concreto, e terminar por permitir um incontornável apoucamento
do significado normativo do “Estatuto do Contribuinte”.
46
CANARIS, Claus-Wilhelm. Die Feststellung von Lücken im Gesetz. 2. ed. Berlin: Duncker und
Humblot, 1983. pp. 82 e ss.
47
GUASTINI, Riccardo. Interprétation et description de normes. In: Interpretation et Droit. Org.
Paul Amselek. Bruxelles: Bruylant, 1995. 90 e 91.
48
ALEXY, Robert. Juristische Interpretation. In: Recht, Vernunft, Diskurs. Frankfurt am Main:
Suhrkamp, 1995. p. 76 e ss.
21
sido integralmente postos pelo Poder Legislativo. Se é verdade que o âmbito
interpretativo da lei tributária é reduzido, dada a obrigatoriedade de possuir os
elementos essenciais da obrigação que institui, não é menos exata a necessidade
de concretização da norma tributária. Qualquer norma jurídica, inclusive a
tributária, possui uma finalidade, cuja concretização deve ser buscada no ato de
aplicação. Com razão afirma TIPKE: “Concretização da lei não é ampliação da lei.
Ela ocorre por meio da interpretação e coordenação valorativa. Todas as leis
carecem de interpretação e concretização. (...) O conteúdo do Direito não pode
ser colhido diretamente do texto, nem mesmo de partes isoladas do texto.”49
49
TIPKE, Klaus. Die Steuerrechtsordnung. Köln: Otto Schmidt, 1993. p. 203 e 227. Igualmente:
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 1991. p. 81.
50
Exemplo: Embargos de Declaração em Recurso Extraordinário nº 158314, 1ª Turma, Relator
Ministro Celso de Mello, DJ 16.04.93, p. 6442. Ver, também: Agravo Regimental em Agravo de
Instrumento ou de Petição nº 133776, 2. Turma, Relator Ministro Maurício Corrêa, DJ 22.09.95,
p. 30597.
51
Exemplo: Agravo Regimental em Agravo de Instrumento ou de Petição nº 196465, Relator
Ministro Carlos Velloso, DJ 26.09.97, p. 47485.
22
diversos da mera arrecadação.52 A justificativa da tributação por finalidades
extrafiscais não pode, contudo, deixar a tributação sem limites. É preciso, pois,
utilizar a finalidade não apenas como pressuposto e justificação da tributação,
mas como seu próprio limite. E isso se faz por meio do postulado ou princípio
hermenêutico da proporcionalidade.
52
Exemplo: Recurso Extraordinário nº 185802, Relator Ministro Neri da Silveira, DJ 04.08.95, p.
22660.
53
Exemplo: Recurso Extraordinário nº 231320, Relator Ministro Maurício Corrêa, DJ 06.11.98, p.
35.
23
os bens jurídicos conflitantes na relação obrigacional tributária, tanto na sua
esfera formal (juiz natural e imparcial, contraditório, ampla defesa) quanto no seu
aspecto material (proporcionalidade e razoabilidade). Dois lados de uma só
moeda.
CONCLUSÃO
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