Aula 11
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Wagner Santos
IME 2023
INTERPRETAÇÃO DE TEXTO II
AULA 11
www.estrategiamilitares.com.br
AULA 08 – Interpretação de Texto II
1
Prof. Wagner Santos
Sumário
APRESENTAÇÃO 3
1.1 Tirinhas 4
1.2 Charges 8
3 INTERTEXTUALIDADE 32
Intertextualidade explícita 33
Intertextualidade implícita 33
Citação 34
3 EXERCÍCIOS 37
Lista 01 – Exercícios sem resolução 37
Lista 01 – Gabarito 54
Lista 01 – Exercícios resolvidos 55
Lista 02 – Exercícios sem resolução 81
Lista 02 – Gabarito 92
Lista 02 – Exercícios resolvidos 92
Lista 03 – Exercícios sem resolução 109
Lista 03 – Gabarito 116
Lista 03 – Exercícios resolvidos 116
Apresentação
Oi, Bolas de Fogo. Sejam todos bem-vindos e todas bem-vindas a uma das aulas que
mais curto preparar para vocês nesse nosso curso: interpretação de imagens (tanto mistas
quanto não verbais) e de textos literários.
Essa segunda parte é essencial para a construção de seu conhecimento, meu bola,
porque, na AFA, alvo momentâneo de nossa aula de hoje, temos uma infinidade de questões
relacionadas diretamente à construção de interpretação de textos. Esse é, sem dúvida, um dos
conteúdos mais importantes.
Se prepare que, hoje, o bicho pega e não é pouco.
Preparados? Então, bora que só bora, Bolas!
1.1 Tirinhas
Tirinhas, cartuns, tiras, quadrinhos... são todos nomes para o mesmo tipo de texto. As
tirinhas são composições que misturam texto e imagem, normalmente numa sucessão de
quadros, por isso, lembram muito os textos narrativos, dado que conseguimos encontrar
elementos desse tipo de pensamento, como personagens, enredo e espaço.
É uma linguagem com a qual a maioria de nós está habituado, portanto, se torna mais
fácil compreender e interpretar. O “The jump of the cat”, nesse caso, é a compreensão do que
a tirinha analisa. Comumente, temos dois tipos de tirinhas colocadas nas provas de exames:
Comentários:
A alternativa A está correta, porque a ideia de “fazer história” pode ser uma construção
de cursar história na faculdade, mais provável para o contexto, bem como uma possibilidade
de construção de marcar seu nome na história. Ainda que tenhamos uma leitura preferida,
podemos entender das duas formas.
A alternativa B está incorreta, porque não há nenhum problema de coerência com
relação ao apresentado anteriormente. Ainda que seja uma construção que pode ser lida
como ambígua, podemos perceber que suas duas leituras são condizentes com o que é
apresentado anteriormente.
A alternativa C está incorreta, porque não temos relação de repetição no quadrinho em
questão. Lembre-se de que, usualmente, o pleonasmo é usado para reforçar uma
determinada ideia, nem sempre sendo errado.
A alternativa D está incorreta, porque a prolixidade é um defeito do texto que apresenta
a ideia de uma enrolação no que se escreve. É essencialmente o uso desnecessário de
informações para transmitir uma ideia. Não temos essa relação no texto.
Gabarito: A
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque a utilização dessa construção, que sempre causa
confusão na cabeça dos estudantes, é bastante corriqueira na língua tanto falada quanto
escrita, sendo uma marca de erudição, inclusive, dado que temos a utilização produtiva dessa
palavra normalmente construída como um artigo, morfologicamente falando.
A alternativa B está incorreta, porque a utilização de reticências é um fato comum na
escrita, principalmente quando se trata de um texto próximo dos narrativos, indicando, nesse
caso, que a fala continuaria em um outro ponto do texto misto. Essas reticências servem, no
caso, para transpor para a escrita a pausa dada por Armandinho na construção de suas falas
na tirinha.
A alternativa C está correta, porque comumente utilizamos, na fala, o verbo “ter” com
sentido de existir. Segundo a norma culta, mesmo a mais “moderninha”, esse uso é
considerado informalidade dentro de um texto escrito. No lugar dos diversos “tem”, deveria
ter sido utilizada a forma verbal “há”.
A alternativa D está incorreta, porque a utilização do ponto de exclamação não pode
ser considerada uma marca de oralidade, principalmente porque é uma marca dos textos
escritos para transcrever a entonação da fala para a escrita do texto.
Gabarito: C
Comentários:
No caso, como o verbo “ter” apresenta-se como o “haver existencial”, compreendido
como uma marca de oralidade, podemos inferir, do texto, que o verbo se comporta como
impessoal, tendo o “os”, um pronome demonstrativo no contexto, classificado como objetos
diretos do verbo. Isso fica claro pela manutenção do verbo “ter” na terceira pessoa do singular.
Se o “os” fosse o sujeito do verbo, teríamos a concordância do verbo no plural.
Gabarito: B
Comentários:
É interessante notar que os textos mistos apresentam relações de sentido importantes
entre as duas linguagens utilizadas na construção. De forma clara, percebe-se que o texto de
Armandinho, ainda que valorize todas as profissões apresentadas, apresenta uma preferência
pela referência à história. Essa afirmação é possível porque temos a construção de um cartaz,
na linguagem não verbal, com um coração. Essa construção demonstra que ele prefere essa
disciplina por motivos que não sabemos determinar. Ainda que possamos pensar que pode
haver confusão entre a história como componente curricular e o curso universitário, podemos
imaginar ser o curso universitário, dado que os demais são representações de curso.
Gabarito: D
Comentários:
Percebe-se, a partir da leitura atenta da charge, que há muita manipulação dos
pensamentos das pessoas a partir da internet. Isso fica claro pela construção de que a opinião
na internet tem um preço, ou seja, as pessoas podem investir dinheiro para que sejam
manipuladas as formas de pensar. Dessa forma, temos que a própria formação de bolhas de
pensamento são uma forma clara de manipulação.
Gabarito: C
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque não temos uma relação de renomear um
elemento a partir de uma característica desse elemento.
A alternativa B está incorreta, porque não temos uma metáfora cristalizada por meio da
nomeação de uma coisa com um nome que não lhe pertence.
A alternativa C está incorreta, porque não temos dois elementos sendo colocados de
forma igual a partir de uma relação subjetiva.
A alternativa D está correta, porque o personagem se compara a um torcedor,
indicando que ele não precisa ser uma pessoa coerente exatamente por não ser um torcedor
de time que, pelo que se depreende, precisa manter a relação direta com o pensamento do
time. Ou seja, sempre deve torcer pelo menos time.
Gabarito: D
1.2 Charges
Além das tirinhas, podemos compreender que as charges são excelentes para a
construção de interpretação textual, dado que temos a compreensão de que elas são
compostas dentro de um contexto extremamente importante e voltado para a atualidade. Vale
a pena destacar que as charges são textos recheados de elementos político-sociais da
atualidade e sua compreensão depende, necessariamente da compreensão do momento de
construção do texto. Por isso, é comum que encontremos a ideia de que são textos efêmeros,
com “um prazo de validade” com relação à crítica. Inclusive, essa costuma ser a principal
característica desse tipo de texto: a crítica a comportamentos ou pensamentos de um
determinado momento histórico. É por isso, Bolas, que sempre digo ser necessário conhecer
as atualidades e estar ligado sempre no que está sendo discutido no mundo.
Além disso, as charges podem trazer, em meio a essa crítica, a caricatura de alguém ou
alguma situação, com o objetivo de ironizar um determinado comportamento. Por isso, é
comum vermos as charges apresentando exageros (caricaturas) dos elementos. Essa forma de
construção é muito interessante, principalmente quando consideramos que ela trará uma
visão mais forte de ironia para a charge.
Dessa forma, encontramos outro elemento muito comum nesse tipo de texto: as
charges são irônicas em muitos momentos, dependendo da compreensão mais ampla de
contexto para que a crítica consiga se construir de forma mais completa.
TEXTO II
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois o texto I indica que a mudança nem sempre é bem-
sucedida, independentemente de quanto trabalho colocamos nisso ou esforço.
A alternativa B está incorreta, pois a charge apenas compara a persistência dos hábitos
e práticas do passado personificadas na figura do dinossauro. Não aponta para possíveis
caminhos para a resolução desse dilema.
A alternativa C está correta, pois o texto I fala sobre a possibilidade de que não seja
possível a realização de mudanças, pois o “mal antigo” sempre pode renascer. A charge
mostra que o passado e o futuro não são tão diferentes assim, indicando que aquilo que
tratávamos como acabado, extinto – como os dinossauros – pode ainda estar vivo.
A alternativa D está incorreta, pois não há nada na charge que aponte para uma maior
preocupação dos jovens em relação a mudanças.
Gabarito: C
Comentários:
A ideia de que “foi mais uma derrota” indica que o entrevistado, um atleta sem
deficiência, já havia sido derrotado em outros momentos. Esse uso, intensifica a crítica da
charge com relação ao tratamento dos atletas com deficiência que não recebem a devida
atenção. Podemos compreender que a repetição das derrotas somente intensifica a crítica.
Não se esqueça de que esse “mais” é um intensificador para a noção das derrotas, entendido
como um quantificador no contexto.
Gabarito: A
(Estratégia Militares/2021 – Prof. Wagner Santos) As charges, por concepção, são textos
normalmente mistos em que se apresentam elementos críticos. Nesse caso, pode-se
compreender que a crítica do texto IV está centrada na ideia de que
a) a sociedade desvaloriza as derrotas, atrapalhando a vida atlética.
b) os atletas com deficiência são supervalorizados pela sociedade informacional.
c) a sociedade valoriza os atletas sem deficiência, desvalorizando os atletas com deficiência.
d) os repórteres supervalorizam as derrotas como forma de crescimento pessoal.
e) os atletas derrotados devem receber atenção para superar a perda.
Comentários:
É importante notar que a charge apresenta dois personagens: um vitorioso, entendido
como um atleta com deficiência extremamente vencedor, dada a quantidade de troféus e
medalhas que carrega; e um atleta sem deficiência, que, ainda que derrotado, é o centro da
atenção dos repórteres. Entende-se, então, que temos uma construção crítica com relação à
importância que a sociedade, representada pelos repórteres, dá importância diferenciada aos
atletas. Mesmo que derrotados, eles chamam mais atenção da sociedade do que os
vencedores deficientes. É extremamente forte a crítica aos posicionamentos da sociedade
com relação àqueles que apresentam deficiência.
Gabarito: C
A charge é um gênero que se utiliza, na maior parte das vezes, da chamada linguagem mista,
em que se utiliza a linguagem verbal e a não verbal. Levando-se em consideração o texto de
Angeli, acima, percebe-se que
a) a linguagem não verbal seria suficiente para a construção de significados.
b) a relação entre as linguagens é insuficiente para a construção de significados.
c) a linguagem verbal seria, pelo grau crítico, suficiente à construção de significados.
d) a crítica apresenta-se concentrada nos elementos não verbais periféricos ao cenário.
e) a compreensão completa da crítica a que se propõe Angeli necessita das duas linguagens.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque percebe-se que a construção da crítica é
essencialmente feita pela condição apresentada pelos personagens, em conjunto com a
linguagem verbal. Dessa forma, sem a compreensão da promessa do candidato, assim como
a ironia da fala dos personagens, não teríamos a compreensão completa da charge.
A alternativa B está incorreta, porque as ideias veiculadas pela charge necessitam, em
igual valor, da linguagem verbal e da não verbal. Compreende-se completamente as ideias
apresentadas ao lermos o texto, sem a alegada insuficiência.
A alternativa C está incorreta, porque percebe-se que a construção da crítica é
essencialmente feita pela condição apresentada pelos personagens, em conjunto com a
linguagem verbal. Dessa forma, sem a compreensão de que os personagens são moradores
em condição de rua, não teríamos possibilidade de compreensão da crítica.
A alternativa D está incorreta, porque, ainda que tenhamos realmente elementos
interessantes ao redor dos personagens que falam, percebe-se que a construção da crítica é
essencialmente feita pela condição apresentada pelos personagens, em conjunto com a
linguagem verbal.
A alternativa E está correta, porque, como é comum nesse gênero, a compreensão
completa das informações, em especial da crítica apresentada, só é possível a partir da leitura
das duas linguagens, em contato em todos os momentos. É importante notar que, sem a
imagem, a crítica ficaria vazia, sendo, inclusive, entendida de forma errônea. Caso tivéssemos
somente a linguagem não verbal, o texto perderia completamente sentido.
Gabarito: E
Comentários:
A alternativa A está correta, porque a palavra “iPhone” e a expressão “Ai, fome” são lidas
de forma igual, com a mesma fonética. A crítica se constrói exatamente sobre essa similaridade
de leitura. Percebe-se, então, que temos a construção de uma homofonia no texto, ainda que,
no segundo quadrinho, existam duas palavras (lidas de forma conjunta).
A alternativa B está incorreta, porque, nesse caso, não encontramos a ideia de que uma
mesma palavra apresenta duplicidade de significação, dado que a ideia é a de termos sons
muito próximos na leitura do texto. No caso, como visto na alternativa A, temos somente o
som das duas palavras igualado, gerando homofonia.
A alternativa C está incorreta, porque, ainda que a ambiguidade possa ser utilizada, de
forma proposital, para a construção de sentidos do texto, não é o que ocorre na charge, dado
que não há duplicidade de significação para um mesmo elemento. No caso, como visto na
alternativa A, temos somente o som das duas palavras igualado, gerando homofonia.
A alternativa D está incorreta, porque, para que tivéssemos sinonímia, ainda que
contextual, as duas palavras deveriam apresentar o mesmo sentido, fazendo com que uma
pudesse substituir a outra. No caso, como visto na alternativa A, temos somente o som das
duas palavras igualado, gerando homofonia.
A alternativa E está incorreta, porque, para que tivéssemos homonímia perfeita, seria
necessário que as palavras apresentassem grafia e sons iguais, com sentidos diferentes. No
caso, como visto na alternativa A, temos somente o som das duas palavras igualado.
Gabarito: A
Prosa
A prosa é o texto escrito em parágrafos, sem necessariamente considerar divisões
rítmicas ou sonoras, ainda que elas possam aparecer em alguns textos, como os de Guimarães
Rosa (autor utilizado, por exemplo, na prova do EN de 2020 – com entrada em 2021 – lembro
que essa é aula para a AFA, calam, Bola!). Essa forma de organização textual pode ser dividida
em dois grandes grupos: narrativa e demonstrativa.
Esses cinco primeiros elementos são essenciais às narrativas. Entendemos que elas
ocorrem de forma inevitável e obrigatória em um texto narrativo. O sexto elemento,
apresentado rapidamente a seguir, pode, ou não, ocorrer em uma construção narrativa. Para
compreender de forma mais completa esse último elemento, recomendo que você dê uma
olhadinha em nossa aula 01, em que analiso mais profundamente o elemento.
Prosa Narrativa
minha narração – se não tiver outro daqui até ao fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do
trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu,
poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores; alguns nem
tanto.
(Machado de Assis. Dom Casmurro. Domínio Público)
Prosa Demonstrativa
SENHORES,
Investindo-me no cargo de presidente, quisestes começar a Academia Brasileira de
Letras pela consagração da idade. Se não sou o mais velho dos nossos colegas, estou entre os
mais velhos. É simbólico da parte de uma instituição que conta viver, confiar da idade funções
que mais de um espírito eminente exerceria melhor. Agora, que vos agradeço a escolha, digo-
vos que buscarei na medida do possível corresponder à vossa confiança.
Não é preciso definir esta instituição. Iniciada por um moço, aceita e completada por
moços, a Academia nasce com a alma nova, naturalmente ambiciosa. O vosso desejo é
conservar, no meio da federação política, a unidade literária. Tal obra exige, não só a
compreensão pública, mas ainda e principalmente a vossa constância. A Academia Francesa,
pela qual esta se modelou, sobrevive aos acontecimentos de toda casta, às escolas literárias e
às transformações civis. A vossa há de querer ter as mesmas feições de estabilidade e
progresso. Já o batismo das suas cadeiras com os nomes preclaros e saudosos da ficção, da
lírica, da crítica e da eloquência nacionais é indício de que a tradição é o seu primeiro voto.
Cabe-vos fazer com que ele perdure. Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade
iniciais, para que eles os transmitam aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e
brilhantes páginas da nossa vida brasileira. Está aberta a sessão.
(Machado de Assis. Discurso de abertura da Academia Brasileira de Letras. 20/07/1897.)
Nos dois exemplos apresentados, temos textos em prosa, sendo o primeiro um texto
narrativo ficcional, retirado da “enorme” obra Dom Casmurro, do Bruxo do Cosme Velho,
Machadinho, e seu discurso quando da inauguração da ABL, em 1897. Perceba que, com
relação à organização, os dois textos são “iguais”, ou seja, os dois estão escritos em prosa.
Na literatura, a preocupação está na prosa narrativa, de ficção. A chamada prosa literária
é uma das mais importantes para o estudo do seu exame. Nela se encontram os contos, as
novelas e os romances. Temos, ainda, a cobrança de crônicas na prova de vocês, contudo,
analisamos esse gênero na aula 07, porque ele é extremamente safadinho, sendo encarado
como a mescla entre jornalismo e Literatura, exatamente porque temos uma relação muito
clara de velocidade jornalística e temática semelhante às do jornal. Vejamos, então, as
definições de contos, novelas e romances, de forma rápida e rasteira.
Exemplo de conto
(Reproduzimos somente um fragmento do conto)
Exemplo de Novela
Reproduzimos somente um trecho de uma novela por questões de extensão
(...) O que indignava Fabiano era o costume que os miseráveis tinham de atirar bicadas
aos olhos de criaturas que já não se podiam defender. Ergueu-se, assustado, como se os
bichos tivessem descido do céu azul e andassem ali perto, num voo baixo, fazendo curvas
cada vez menores em torno do seu corpo, de Sinhá Vitória e dos meninos.
Sinhá Vitória percebeu-lhe a inquietação na cara torturada e levantou-se também,
acordou os. filhos, arrumou os picuás. Fabiano retomou o carrego. Sinhá Vitória desatou-lhe a
correia presa ao cinturão, tirou a cuia e emborcou-a na cabeça do menino mais velho, sobre
uma rodilha de molambos. Em cima pôs uma trouxa. Fabiano aprovou o arranjo, sorriu,
esqueceu os urubus e o cavalo. Sim senhor. Que mulher! Assim ele ficaria com a carga aliviada
e o pequeno teria um guarda-sol. O peso da cuia era uma insignificância, mas Fabiano achou-
se leve, pisou rijo e encaminhou-se ao bebedouro. Chegariam lá antes da noite, beberiam,
descansariam, continuariam a viagem com o luar. Tudo isso era duvidoso, mas adquiria
consistência. E a conversa recomeçou, enquanto o sol descambava.
— Tenho comido toicinho com mais cabelo, declarou Fabiano desafiando o céu, os
espinhos e os urubus.
— Não é? murmurou Sinhá Vitória sem perguntar, apenas confirmando o que ele dizia.
Pouco a pouco uma vida nova, ainda confusa, se foi esboçando. Acomodar-se-iam num
sítio pequeno, o que parecia difícil a Fabiano, criado solto no mato. Cultivariam um pedaço
de terra. Mudar-se-iam depois para uma cidade, e os meninos frequentariam escolas, seriam
diferentes deles. Sinhá Vitória esquentava-se. Fabiano ria, tinha desejo de esfregar as mãos
agarradas a boca do saco e à coronha da espingarda de pederneira. (...)
(Graciliano Ramos. Vidas Secas.)
Ainda que seja uma importante obra da literatura nacional, uma das mais importantes do
século XX, Vidas Secas é considerada um romance por conta da extensão do enredo e da
pouca quantidade de personagens. Veja que o enredo roda em torno da família de Fabiano,
sem ampliação e acontecimentos paralelos aos da família.
Exemplo de Romance
Reproduzimos somente um trecho de uma novela por questões de extensão
CAPITULO CLX
Das negativas
Entre a morte do Quincas Borba e a minha, mediaram os sucessos narrados na primeira
parte do livro. O principal deles foi a invenção do emplasto Braz Cubas, que morreu com migo,
por causa da moléstia que apanhei. Divino emplasto, tu me darias o primeiro lugar entre os
homens, acima da ciência e da riqueza, porque eras a genuína e direta inspiração do céu. O
acaso determinou o contrário; e ai vos ficais eternamente hipocondríacos.
Este último capitulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não
fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas,
coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais: não padeci a
morte de D. Plácida, nem a semi-demencia do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras,
qualquer pessoa imaginará que não houve mingua nem sobra, e conseguintemente que sai
quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me
com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: — Não tive
filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.
(Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Domínio Público)
Sou uma pessoa muito ocupada: tomo conta do mundo. Todos os dias olho pelo terraço
para o pedaço de praia com mar, e vejo às vezes que as espumas parecem mais brancas e que
às vezes durante a noite as águas avançaram inquietas, vejo isso pela marca que as ondas
deixaram na areia. Olho as amendoeiras de minha rua. Presto atenção se o céu de noite, antes
de eu dormir e tomar conta do mundo em forma de sonho, se o céu de noite está estrelado e
azul-marinho, porque em certas noites em vez de negro parece azul-marinho.
O cosmos me dá muito trabalho, sobretudo porque vejo que Deus é o cosmos. Disso
eu tomo conta com alguma relutância.
Observo o menino de uns dez anos, vestido de trapos e macérrimo. Terá futura
tuberculose, se é que já não a tem.
No Jardim Botânico, então, eu fico exaurida, tenho que tomar conta com o olhar das mil
plantas e árvores, e sobretudo das vitórias-régias.
Que se repare que não menciono nenhuma vez as minhas impressões emotivas:
lucidamente apenas falo de algumas das milhares de coisas e pessoas de quem eu tomo
conta. Também não se trata de um emprego pois dinheiro não ganho por isso. Fico apenas
sabendo como é o mundo.
Se tomar conta do mundo dá trabalho? Sim. E lembro-me de um rosto terrivelmente
inexpressível de uma mulher que vi na rua. Tomo conta dos milhares de favelados pelas
encostas acima. Observo em mim mesma as mudanças de estação: eu claramente mudo com
elas.
Hão de me perguntar por que tomo conta do mundo: é que nasci assim, incumbida. E
sou responsável por tudo o que existe, inclusive pelas guerras e pelos crimes de lesa-corpo e
lesa-alma. Sou inclusive responsável pelo Deus que está em constante cósmica evolução para
melhor.
Tomo desde criança conta de uma fileira de formigas: elas andam em fila indiana
carregando um pedacinho de folha, o que não impede que cada uma, encontrando uma fila
de formigas que venha de direção oposta, pare para dizer alguma coisa às outras.
Li o livro célebre sobre as abelhas, e tomei desde então conta das abelhas, sobretudo
da rainha-mãe. As abelhas voam e lidam com flores: isto eu constatei. Mas as formigas têm
uma cintura muito fininha. Nela, pequena, como é, cabe todo um mundo que, se eu não tomar
cuidado, me escapa: senso instintivo de organização, linguagem para além do supersônico
aos nossos ouvidos, e provavelmente para sentimentos instintivos de amor-sentimento, já que
falam. Tomei muita coisa das formigas quando era pequena, e agora, que eu queria tanto
poder revê-las, não encontro uma. Que não houve matança delas, eu sei porque se tivesse
havido eu já teria sabido.
Tomar conta do mundo exige também muita paciência: tenho que esperar pelo dia em
que me apareça uma formiga. Paciência: observar as flores imperceptivelmente e lentamente
se abrindo.
Só não encontrei ainda a quem prestar contas.
Clarice Lispector, do livro “Aprendendo a viver”. Rio de Janeiro: editora Rocco, 2004. [Crônica de Clarice
Lispector, publicada originalmente no ‘Jornal do Brasil, 4 de março de 1970]
Comentários:
A alternativa A está correta, porque o verbo “haver” apresenta-se em sua leitura
existencial e, por isso, não seleciona sujeito. É um verbo classificado como transitivo direto,
mas impessoal. Essa oração apresenta-se como uma oração sem sujeito.
A alternativa B está incorreta, porque os dois verbos encontrados no trecho são
classificados como pessoais. O primeiro deles, tratar, apresenta-se com sujeito indeterminado
pela partícula “se”, um índice de indeterminação do sujeito. Por outro lado, o verbo “ganhar”
apresenta-se com sujeito desinencial em primeira pessoa do singular “eu”.
A alternativa C está incorreta, porque, ainda que tenhamos a construção com o verbo
“haver”, como ele apresenta-se conjugado, uma vez que está em posição de verbo auxiliar,
não é um verbo impessoal. Na realidade, temos uma construção de tempo composto, com
valor de futuro do presente.
A alternativa D está incorreta, porque os dois verbos apresentam-se como verbos
pessoais com sujeito desinencial. Em ambos, temos o pronome (eu) implícito na forma verbal.
Ainda que o verbo “era” possa aplicar-se à terceira pessoa, é interessante notar que o primeiro
verbo, estando na primeira pessoa, faz com que o segundo também passe, no contexto, a se
referir à primeira pessoa.
A alternativa E está incorreta, porque os dois verbos apresentados no trecho são
classificados como pessoais. O verbo “observar” apresenta-se com sujeito indeterminado,
dado que temos o infinitivo sem conjugação e sem sujeito explícito na frase em destaque. O
segundo verbo, “abrindo-se” tem sujeito simples, as flores.
Gabarito: A
Comentários:
No texto, Clarice apresenta sua posição no mundo a partir de uma perspectiva
interessante de que é a responsável por tomar conta do mundo. Para comprovar sua missão,
a autora descreve o que faz ao cuidar de uma série de elementos diferentes do mundo,
demonstrando, no final do texto, que essa missão é cumprida por ela desde criança, quando
cuidava de uma fila de formigas. O cansaço, segundo ela, aparece sempre que ela está
cuidando do Jardim Botânico, dada a quantidade de plantas que tem sob seu cuidado. Dessa
forma, somente a alternativa D atende às necessidades da questão.
Gabarito: D
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo.
O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que
não faz alguma coisa, responde: “Estou fazendo. Estou pensando.”
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de
sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão
sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os
veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo
nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um
desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho
era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e
compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a
opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais
valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não
desconfiar, e portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de
ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada
de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a
célebre frase: “Até tu, Brutus?”
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse
sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser
bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não
conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos
ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás
não se importam que saibam que eles sabem.
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase
impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso
de amor. E só o amor faz o bobo.
LISPECTOR, Lispector. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1984.
Comentários
Alternativa A: incorreta. A noção de transcendência não está relacionada,
necessariamente, com a ideia de melhor ou pior. É importante notar que transcender, nesse
caso, aplica-se diretamente à ideia de que eles não cumprem aquilo que é esperado por uma
sociedade que, como sabemos, necessariamente se preocupa com a esperteza alheia.
Inclusive, durante a crônica, a narradora apresenta a ideia de que os espertos perdem tempo
demais com a esperteza dos outros.
Alternativa B: incorreta. Essa afirmativa está correta com relação à significação do texto,
visto que, logo de início, a narradora apresenta que os bobos não se ocupam de ambições.
Entendam que isso não significa que os bobos não são ambiciosos, mas que não se ocupam
disso o tempo inteiro, como inferimos fazem os espertos.
Alternativa C: incorreta. Segundo a narradora, o bobo consegue enxergar a vida de uma
perspectiva diferente exatamente por ser bobo. Como suas preocupações são diferentes
daquelas que as outras pessoas têm, sua visão de mundo será diferente. É bastante
interessante essa visão apresentada durante o texto.
Alternativa D: incorreta. Esse, eu diria, é o ponto central da construção de Clarice, visto
que ela quer deixar claro que os bobos não são socialmente entendidos como tão importantes
como os espertos. Na realidade, os bobos são construídos como extremamente importantes
e capazes, exatamente por serem bobos.
Alternativa E: correta. Essa alternativa não retrata ideias que podem ser retiradas do
texto, porque, durante toda a construção, há a constatação de que o mundo se divide entre
espertos e bobos. Diante disso, não podemos afirmar que todas as pessoas apresentam certa
“bobeira”, como na afirmação colocada na alternativa.
Gabarito: E
Comentários
Alternativa A: correta. O texto Das vantagens de ser bobo é uma crônica publicada,
originalmente, no Jornal do Brasil, e apresenta, como características desse gênero, a leveza
da linguagem, o fato dele se ocupar de temas mais cotidianos e corriqueiros, o fato de ser um
texto um pouco mais curto para a leitura rápida e a construção de um humor leve. A crônica é
o que chamamos de gênero da tipologia narrativa.
Alternativa B: incorreta. Apesar de existirem crônicas argumentativas, que apresentam
uma tese e argumentos (elementos essenciais de todos os textos de caráter argumentativo),
não podemos afirmar que nessa crônica temos tais elementos. Pode ser que o estudante se
confunda pela apresentação de características dos bobos como vantagens, contudo isso não
configura um texto argumentativo.
Alternativa C: incorreta. Apesar de conter descrições, é sempre importante lembrarmos
que a descrição dificilmente constitui um texto por si só. Nos textos narrativos, é bastante
comum que tenhamos a utilização da descrição como auxílio para a escrita do enredo, com
relação aos personagens e cenários, por exemplo. O texto em questão é um texto narrativo,
uma crônica que utiliza tema cotidiano e “menos literário” para ser construído.
Alternativa D: incorreta. Os textos informativos são aqueles em que há um tema para
ser, literalmente, explicado. Há um tema central e utilizam-se dados e acontecimentos que
servem para a simples explicação do tema. No caso de nosso texto, ele está longe de ser um
explicativo. Na realidade, é mais fácil confundi-lo com um texto argumentativo do que com
um texto explicativo.
Alternativa E: incorreta. Os textos que pertencem à tipologia injuntiva são aqueles que
sempre dão instruções para os leitores. São usualmente os textos encontrados em manuais de
instruções e textos que denotam como as pessoas devem se comportar, por exemplo. No
texto de Clarice, na realidade, temos uma construção narrativa, dado que é uma crônica.
Gabarito: A
Comentários
Alternativa A: incorreta. Os dois pontos são utilizados, claramente, para a introdução de
uma explicação, um aposto sobre a palavra “aviso”, sem relação com a enumeração de
elementos, um dos usos possíveis para o sinal dos dois pontos.
Alternativa B: incorreta. Os dois pontos são utilizados, claramente, para a introdução de
uma explicação, um aposto sobre a palavra “aviso”, sem relação com o uma pausa que geraria
uma conclusão lógica, como ocorre em alguns casos do ponto e vírgula.
Alternativa C: incorreta. Os dois pontos são utilizados, claramente, para a introdução de
uma explicação, um aposto sobre a palavra “aviso”, sem relação com o uma pausa que geraria
uma oposição, como ocorre em alguns casos do ponto e vírgula.
Alternativa D: correta. O sinal de dois pontos introduz um aposto explicativo que se
relaciona com a palavra “aviso”. Dessa forma, essa utilização é aplicada diretamente à
separação de uma explicação.
Alternativa E: incorreta. Os dois pontos são utilizados, claramente, para a introdução de
uma explicação, um aposto sobre a palavra “aviso”, sem relação com o discurso direto.
Gabarito: D
Poesia
Antes de entrar na estrutura da poesia em si (que será bastante rápida, dado que é
praticamente inexistente a cobrança desse tipo de texto na prova de vocês), vamos observar
os gêneros literários em que se divide a poesia.
Os gêneros poéticos, também chamados de gêneros literários são divididos em três, de
acordo com suas estruturas formais e de conteúdo: lírica, épica e dramática.
Estrutura da poesia
Vamos partir do poema “Mar Português”, de Fernando Pessoa:
Métrica
A métrica de um poema se dá pelo número de sílabas de um verso. Conta-se as sílabas
até a última sílaba tônica, ou seja, a sílaba forte da última palavra do verso. Isso ocorre porque
o que dá ritmo a um texto poético é o som das sílabas tônicas.
RECLAME
se o mundo não vai bem
a seus olhos, use lentes
... ou transforme o mundo.
ótica olho vivo
agradece a preferência
(Chacal)
Disponível em: <https://www.escritas.org/pt/t/5315/reclame> Acesso em 14 jan. 2021
Comentários:
O poema de Chacal traz, implícita, uma crítica àqueles que não se acertam no mundo,
reclamam dele, mas não fazem nada para modificar a realidade em que se encontram. É
interessante perceber que temos uma relação de adaptação das pessoas à realidade, o que é
interessante, mas também temos uma relação clara de que as pessoas precisam de alguma
forma de atitude com relação à vida. Assim, a ideia da reclamação pura e simples não serve
como uma maneira de construção para a vida das pessoas.
Gabarito: A
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque, ainda que tenhamos o uso da expressão “vai
bem” como uma construção polissêmica, não temos a construção de uma ambiguidade.
Podemos entender sem problemas que essa expressão denota que alguma coisa está errada
e não o “ir bem” no sentido de deslocamento.
A alternativa B está incorreta, porque não há nenhuma possibilidade de construção de
mais de um significado em nenhuma das partes desse verso.
A alternativa C está incorreta, porque não há nenhuma possibilidade de construção de
mais de um significado em nenhuma das partes desse verso.
A alternativa D está correta, porque a ideia de “olho vivo” se torna ambígua por
significar o nome da ótica, criada supostamente para aqueles que não se acertam na vida, e a
ideia de manter-se atento aos problemas.
Gabarito: D
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque, da mesma forma que o eu lírico apresenta as
diversas formas de arrumação dos cabelos dos negros, temos a origem dos povos como uma
reafirmação da origem e da necessidade de respeito a toda essa diversidade.
A alternativa B está incorreta, porque as formas de utilização dos cabelos, por parte dos
negros, são exemplificações da relação de respeito que o eu lírico pede, desde o começo do
texto. Como sabemos que esse uso é comumente criticado e carregado de racismo, o eu lírico
reforça a ideia de respeito à diversidade.
A alternativa C está correta, porque a principal informação no texto é exatamente a ideia
de que a diversidade cultural, em essência as relacionadas ao povo negro, deve ser
respeitada. Ainda que existam muitos elementos em meio a essa discussão, o texto fala,
essencialmente, de respeito. Essa compreensão é essencial, para evitarmos extrapolação.
A alternativa D está incorreta, porque o eu lírico apresenta, claramente, a necessidade
de respeito. Ainda que entendamos que esse respeito à diversidade é fruto, também, de uma
relação de discussão sobre o problema, não podemos afirmar que o texto fala sobre isso.
Perceba que, na primeira estrofe, a indicação da hora de falar se relaciona claramente com a
necessidade de posicionamento do negro e não necessariamente da discussão aberta (ainda
que seja recomendável).
Gabarito: C
Comentários:
Os dois textos aproximam-se quanto à necessidade de se discutir a cultura do negro
essencialmente. Ainda que o primeiro verse sobre a noção de apropriação cultural e o
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque não temos uma inversão de significação na
construção. É claro que é uma forma que pode dar a entender que temos uma brincadeira
com a forma apresentada, contudo, não há modificação de significação, extremamente
necessária para que tenhamos uma ironia.
A alternativa B está incorreta, porque não há uma construção de renomear os tamancos
a partir dessa relação. Nesse caso, o que temos é uma construção eufêmica, em que se suaviza
o silêncio dos brancos quando o assunto é o racismo.
A alternativa C está incorreta, porque não temos nenhuma atribuição de significação
humana a elemento não humano. Perceba que não há atribuição, aos tamancos, de uma
característica humana.
A alternativa D está correta, porque é uma forma suavizada para dizer que os “brancos”
saem em silêncio, sem alarde. Como temos a ideia de suavizar uma informação, é clara a
construção de um eufemismo.
Gabarito: D
O tear
A fieira zumbe, o piso estala, chia
O liço, range o estambre na cadeia;
A máquina dos Tempos, dia a dia,
Na música monótona vozeia.
3 Intertextualidade
Entende-se por intertextualidade a relação entre dois ou mais textos, entendendo qual
a natureza dessa relação. Algumas vezes a intertextualidade é mais evidente outras não. Pode
também aparecer entre textos de diferentes naturezas, verbais e visuais. Veja alguns exemplos
para compreender melhor a ideia.
Intertextualidade explícita
Observe essa imagem:
Intertextualidade implícita
Observe a comparação entre esses dois poemas:
Com licença poética Poema de Sete Faces
(Adélia Prado) (Carlos Drummond de Andrade)
Muitas vezes, o mesmo autor pode produzir textos que trabalham com a
intertextualidade. Um dos autores brasileiros que mais profundamente realiza esse diálogo
entre obras de sua própria autoria é Machado de Assis. Em nossa aula, usaremos muitos
exemplos do autor.
Veja esse trecho da obra Quincas Borba (1892):
[CAPÍTULO IV]
ESTE QUINCAS BORBA, se acaso me fizeste o favor de ler as
Memórias Póstumas de Brás Cubas, é aquele mesmo náufrago da
existência, que ali aparece, mendigo, herdeiro inopinado, e inventor
de uma filosofia. Aqui o tens agora em Barbacena. Logo que
chegou, enamorou-se de uma viúva, senhora de condição mediana
e parcos meios de vida, mas, tão acanhada que os suspiros no
namorado ficavam sem eco. Chamava-se Maria da Piedade. Um
irmão dela, que é o presente Rubião, fez todo o possível para casá-
los. Piedade resistiu, um pleuris a levou.
Memórias póstumas de Brás Cubas foi lançado em 1881. Ele reaproveita a personagem
que dará nome ao romance de Quincas Borba, o filósofo. Isso atesta um procedimento comum
em Machado de Assis: a intertextualidade com a própria obra. Sua intertextualidade tem
muitas vezes a função de humilhar o leitor, de mostrar a ele o quão despreparado ele pode
ser. No trecho acima, a ironia de Machado de Assis fica evidente: ele duvida que o leitor possa
ter lido sua obra anterior e trata como se a leitura da obra anterior fosse um favor que o leitor
faz a ele.
Citação
Um dos tipos de intertextualidade possíveis é a citação. A citação é o ato de referenciar
a fala de outra pessoa. Ela pode ocorrer tanto de maneira direta quanto indireta.
Citação direta
Ocorre quando o autor coloca as palavras de outro autor em seu texto assim como elas
foram escritas e faz referência à origem da citação. Ex.:
Citação indireta
Ocorre quando o autor cita as palavras de outro autor, reescrevendo o texto original ou
apenas citando as palavras sem referenciar a origem. Ex.:
Essa canção é popularmente conhecida na França. Ela faz referência à personagem irmã
Anne, do conto “A Barba Azul”, de Charles Perrault. O conto fala sobre um homem muito rico
que, no entanto, por possuir uma barba azul, era desprezado pelas moças. Ele vivia em um
palácio suntuoso, com tapeçarias, ouro, prata e espelhos diversos, capazes inclusive de
distorcer a imagem de quem se vê neles.
Anne é a irmã da mulher que acaba tendo que se casar com Barba Azul. Ela é uma irmã
boa – diferente de muitas dos contos de fadas. Essa fala – que em português significa “Irmã
Anne, irmã Anne, você não vê ninguém chegar?” – é proferida pela irmã quando precisa de
ajuda, pois Barba Azul está ameaçando matá-la. Anne fica no alto de uma torre, esperando
ajuda e, de quando em quando, sua irmã a pergunta isso.
O conto “O espelho”, de Machado de Assis, fala sobre um homem que, ao se encontrar
sozinho em uma casa distanciada da sociedade, passa a questionar sua própria identidade,
não sendo mais capaz de se reconhecer. No momento em que está ansiando pela chegada
de alguém na casa, a personagem faz essa citação.
Epígrafe
Uma epígrafe é frase que vem no início de um livro, um capítulo, um conto etc. Ela
funciona como um tema do texto, ou seja, resume o sentido ou mensagem da obra como um
todo. São citações diretas de outros autores. Ex.:
Paráfrase
A paráfrase é uma reescrita do texto. Ocorre quando um autor reescreve, com suas
próprias palavras, o texto de outro, mantendo o sentido original. Veja um exemplo:
3 Exercícios
Antes de começar os exercícios, alguns avisos:
➢ Os exercícios estarão separados em três grupos, como vocês perceberão: questões
relacionadas a escolas militares variadas, com possibilidade de apresentação de
algumas questões inéditas; questões relacionadas às escolas de oficialato; e, por fim,
questões inéditas e de concursos, como ITA e IME, que apresentam um grau mais
amplo de dificuldade.
➢ Recomendo que os exercícios sejam feitos na ordem em que aparecem, dado que
tentamos montar a lista de exercícios por grau de complexidade de resolução das
questões. Por isso, temos algumas delas que apresentarão textos mais longos, dada a
complexidade da questão. Bora que só bora?
2. (ESA/2019)
Marina Colasanti ressalta tanto a violência física quanto a violência simbólica praticada contra
a mulher. Assinale o item em que há um exemplo de violência física:
a) “...pegou a tesoura e tosquiou-lhe os longos cabelos."
b) "Dos armários tirou as roupas de seda, da gaveta tirou todas as joias.
c) "...foi obrigado a exigir que eliminasse os decotes, jogasse fora os sapatos de saltos altos.".
d) "... mandou que descesse a bainha dos vestidos e parasse de se pintar."
e) “... um ou outro olhar viril se acendia à passagem dela,...”
3. (ESA/2019)
Assinale a alternativa que explica o sentido do trecho "enquanto a rosa desbotava sobre a
cômoda":
a) O desbotamento da rosa simboliza a perda do estereótipo de fragilidade imputado à
mulher.
4. (ESA/2011)
Em função do que é dito nos versos do poema, observa-se que o “eu lírico”:
A) viaja, não só fisicamente, mas também por meio de seus pensamentos.
B) é um homem agitado, que leva uma vida de passageiro com luxo e mordomias.
C) deseja ser mau e mórbido, por isso faz suas viagens pelas estrelas.
D) tem fome e pouco dinheiro, logo não gasta com comidas que não alimentam.
E) é uma voz que clama por tranquilidade e brada contra a poluição do ar.
5. (ESA/2011)
Levando em conta o contexto do poema, em qual das alternativas há um sentido semelhante
ao de “acomodo-me no meu lugar” ?
A) Ajeito-me no meu canto.
B) Entendo-me com minhas ideias.
C) Adapto-me ao meio em que vivo.
D) Limito-me a ficar pensativo.
E) Satisfaço-me com o lugar que me dão.
6. (ESA/2011)
A expressão “viajar indefinidamente” só NÃO significa
A) viajar sem se preocupar com o tempo de chegar.
B) aventurar-se pelo mundo sem ter um objetivo definido.
C) passear de modo errante, a esmo.
D) sair por aí sem definir o nome das pessoas conhecidas.
E) não ter a preocupação de saber o lugar para onde se vai.
7. (Col. Naval/2012)
A fala de Miguelito, no último quadrinho do texto II, revela uma atitude
A) alienada.
B) condolente.
C) reflexiva.
D) firme.
E) irresponsável.
8. (Col. Naval/2012)
Assinale a opção que melhor caracteriza a mensagem do texto II.
A) O consumo de bens materiais está diretamente relacionado com a felicidade.
B) A televisão incentiva os telespectadores a consumirem diferentes produtos e serviços.
C) A felicidade só pode ser alcançada através do consumo dos produtos anunciados em
diferentes meios de comunicação.
D) O principal papel da televisão ê anunciar produtos que serão comprados pelos
telespectadores.
E) As coisas boas veiculadas pela televisão fazem com que os telespectadores sejam felizes.
9. (Col. Naval/2013)
12. (EAM/2014)
ÔNIBUS LOTADO
O ônibus aguardava no ponto final, no alto de uma ladeira. Após os passageiros
entrarem, seguiu ladeira abaixo.
Eis que um homem de bigode, de meia-idade, começou a correr atrás do ônibus.
Da janela, um passageiro gritou:
- Esquece, cara! O busão já tá lotado.
E o senhor, ofegante:
- Não posso. Sou o motorista!
Almanaque Brasil, 02/07/2009 (adaptado).
13. (EAM/2009)
O pronome demonstrativo usado em "... sou eu sentado nesta caixa" se justifica porque o
falante.
A) situa a caixa perto de si.
B) pretende tomar a caixa de seu ouvinte.
C) refere-se à caixa utilizada por seu ouvinte.
D) dá ênfase ao objeto utilizado por seu interlocutor.
E) retoma o termo "caixa" empregado no quadrinho anterior.
AULA 08 – Interpretação de Texto II
42
Prof. Wagner Santos
14. (EAM/2009)
O narrador sofreu um "limpamento" em seus receios. O que ocasionou isso?
A) O desejo do garoto de ser um "sujeito escaleno".
B) A insatisfação do garoto em relação ao seu gosto esquisito.
C) O medo do preceptor de que o garoto sofresse um desgosto.
D) A dúvida do padre quanto ao caminho que o garoto seguiria.
E) A declaração do padre de que "gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável".
15. (EAM/2009)
"Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor, / esse gosto esquisito." (versos 4 e 5).
Esse gosto é considerado esquisito porque;
A) é algo fora do comum.
B) elogia os gramáticos.
C) define o caráter do narrador.
D) causa surpresa no preceptor.
E) propõe uma alteração nas gramáticas.
16. (EAM/2009)
Pôr-do-sol da freira
Premiado no Brasil e no estrangeiro, famoso já, coberto de glórias literárias e sociais,
ele chegou em casa e encontrou a filha em prantos.
- Que foi, filhinha?
A filhinha já não era tão filhinha. Dezoito anos, terminava o científico. E foi entre soluços
que ela contou o drama: estava ameaçada de levar bomba em Português. Autora das piores
redações de todo o ano letivo, a madre professora dera a chance: ou fazia uma composição
decente que redimisse todos os pecados acumulados ou ficava sem média para os exames. E
ela - que brilhava em Matemática, que ganhara o prêmio de viagem a Mataripe pela melhor
nota de Geografia, que era autoridade em Renascença e em Guerras Púnicas - sentiu na boca
o gosto amargo da bomba a caminho.
- Uma humilhação! - berrou o pai pelo meio da sala. A filha de um homem traduzido em
chinês, em copta, em servo-croata, editado pelo MacMillan, da Academia Brasileira de Letras,
patrono de escolas e universidades, ter uma filha ameaçada de bomba em redação! Uma
vergonha!
A filha enxugou as lágrimas. O pai, ferido no orgulho, quebraria o galho agora. E quase
quebrou a sopeira que vinha da cozinha.
- Suspendam o jantar ! Vou fazer a redação para minha filha. Quero ver o que essa freira
de...
- Papai !
- ...vai dizer da minha composição!
Quando o homem atingia ao palavrão é que o negócio estava preto mesmo. E tão preto
que todo mundo começou a pisar na ponta dos pés, em respeito à concentração intelectual
do chefe da casa, que se trancara no gabinete.
Limpou a mesa, varejou papéis velhos e apanhou a caneta de estimação, a mesma com
que escrevera seu maior exito de venda e crítica, Os Selvagens. Aquela pena fora elogiada
por William Faulkner e John dos Passos. Pois com aquela pena começou.
- Qual é o tema?
- Pôr-do-sol, papai.
Tacou um pôr-do-sol caprichadíssimo, cheio de ela tintas sangrentas no horizonte e
suspiros de lagos plácidos que anoiteciam. Lembrou-se de todos os pores-do-sol que vira nas
folhinhas de armazém, remoeu a alma para ressuscitar deslumbramentos de seus 18 anos e
depois de meia hora as 30 linhas fatais estavam cumpridas. Releu em voz alta, foi severo na
revisão, substituiu um "profundamente" por um "essencialmente", alterou a regência de um
verbo e deu por limpa e acabada a prova:
- Copie com sua letra agora! Vai ser barbada!
Os eventos da noite trouxeram esquecimento e paz sobre o assunto. Jantaram, viram
um filme pela televisão, a irmã recém-casada apareceu na visita de todas as noites, finalmente
foram dormir.
O homem acordou ao meio-dia, com outro bode armado na sala de baixo. Sob as
cobertas, distinguia o choro de sua filha e as vozes abafadas que a consolavam.
Metapoesia
Não sei o que fazer com essa falta de inspiração. Irei dizer-lhe metáforas, prosopopeias,
Sei que ontem a sucumbi e dormi sobre seus Cobrirei seus ombros de pétalas
escombros e agora, saudosa, a procuro; Alvas, sonoras, quentes.
17. (EAM/2008)
A leitura do texto METAPOESIA esclarece-nos que a autora;
A) não tem dificuldades de encontrar novas temáticas.
B) elabora muito bem os eufemismos.
C) inspira-se com o que lhe traz a visão.
D) tem problemas com a inspiração.
E) é exímia na construção de figuras de linguagem
18. (EAM/2008)
Com relação aos desejos da poetisa e o que constata na própria realidade, percebe-se que
existe um sentimento de;
A) inconstância.
B) desespero.
C) impotência.
D) raiva.
E) indiferença.
19. (EAM/2010)
Correu até a esquina e teve tempo de vê-lo ao longe, caminhando cabisbaixo ao longo
do muro. A trouxa, arrastada no chão, ia deixando pelo caminho alguns de seus pertences: o
botão, o pedaço de biscoito e – saíra de casa desprevenido – uma moeda de 1 cruzeiro.
Chamou-o, mas ele apertou o passinho, abriu a correr em direção à avenida, como disposto a
atirar-se diante do lotação que surgia a distância.
– Meu filho, cuidado!
O lotação deu uma freada brusca, uma guinada para a esquerda, os pneus cantaram no
asfalto. O menino, assustado, arrepiou carreira. O pai precipitou-se e o arrebanhou com o
braço como a um animalzinho:
- Que susto você me passou, meu filho – e apertava-o contra o peito fora de si.
– Deixa eu descer, papai. Você está me machucando.
Irresoluto, o pai pensava agora se não seria o caso de lhe dar umas palmadas:
- Machucando, é? Fazer uma coisa dessas com seu pai. - Me larga. Eu quero ir embora.
Trouxe-o para casa e o largou novamente na sala – tendo antes o cuidado de fechar a
porta da rua e retirar a chave, como ele fizera com a da despensa.
- Fique aí quietinho, está ouvindo? Papai está trabalhando.
- Fico, mas vou empurrar esta cadeira.
E o barulho recomeçou.
(Fernando Sabino)
TEXTO II
Profundamente
Quando ontem adormeci — Estavam todos dormindo
Na noite de São João Estavam todos deitados
Havia alegria e rumor Dormindo
Estrondos de bombas luzes de Bengala Profundamente.
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas. Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
No meio da noite despertei Porque adormeci
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Passavam, errantes Minha avó
Meu avô
Silenciosamente Totônio Rodrigues
Apenas de vez em quando Tomásia
O ruído de um bonde Rosa
Cortava o silêncio Onde estão todos eles?
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco — Estão todos dormindo
Dançavam Estão todos deitados
Cantavam Dormindo
E riam Profundamente.
Ao pé das fogueiras acesas? (Manuel Bandeira)
TEXTO 3
Os principais problemas da agricultura brasileira referem-se muito mais à diversidade
dos impactos causados pelo caráter da modernização, do que à persistência de segmentos
que dela teriam ficado imunes. Se hoje existem milhões de estabelecimentos agrícolas
marginalizados, isso se deve muito mais à natureza do próprio processo de modernização, do
que à sua suposta falta de abrangência.
(Folha de São Paulo, 13/09/94, 2-2)
TEXTO 4
TEXTO 2
Pesquisa
Na gostosa penumbra da Biblioteca Municipal dos anúncios prescritos
leio velhos jornais das novidades caducas
e dos poetas mortos há tanto tempo que parecem
Em qual das alternativas abaixo a substituição da palavra apenas altera o sentido original da
frase?
A) E talvez só a raposa teve sorte.
B) E talvez a custo a raposa teve sorte.
C) E talvez somente a raposa teve sorte.
D) E talvez unicamente a raposa teve sorte.
E) E talvez exclusivamente a raposa teve sorte.
Lista 01 – Gabarito
1. E 11. C 21. B
2. A 12. C 22. E
3. D 13. A 23. A
4. A 14. E 24. E
5. A 15. A 25. D
6. D 16. E 26. A
7. C 17. D 27. B
8. A 18. C 28. E
9. B 19. B 29. D
10. B 20. D 30. B
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois esse trecho indica que o marido perdeu o interesse
na esposa, não que ela estava tentando agradá-lo.
A alternativa B está incorreta, pois esse trecho indica que ela perdeu a vaidade, não as
atitudes humanas.
A alternativa C está incorreta, pois esse trecho indica que o marido começou a sentir
falta de como a esposa era antes dele muda-la completamente.
A alternativa D está incorreta, pois esse trecho indica que a esposa já não tinha mais
nenhuma vaidade, não que o marido parara de se importar com a esposa.
A alternativa E está correta, pois esse trecho indica que despida da vaidade, a esposa
se tornou alguém que não chamava mais a atenção como antes. Sua aparência já não era mais
chamativa.
Gabarito: E
2. (ESA/2019)
Marina Colasanti ressalta tanto a violência física quanto a violência simbólica praticada contra
a mulher. Assinale o item em que há um exemplo de violência física:
a) “...pegou a tesoura e tosquiou-lhe os longos cabelos."
b) "Dos armários tirou as roupas de seda, da gaveta tirou todas as joias.
c) "...foi obrigado a exigir que eliminasse os decotes, jogasse fora os sapatos de saltos altos.".
d) "... mandou que descesse a bainha dos vestidos e parasse de se pintar."
e) “... um ou outro olhar viril se acendia à passagem dela,...”
Comentários:
A alternativa A está correta, pois nesse trecho há uma ação física: cortar os cabelos da
mulher com uma tesoura.
A alternativa B está incorreta, pois jogar fora as roupas e joias da mulher é uma violência
simbólica, não contra o corpo físico da esposa.
A alternativa C está incorreta, pois exigir que ela troque de roupas é uma violência
simbólica, não contra o corpo físico da esposa.
A alternativa D está incorreta, pois exigir que ela troque de roupas ou que ela não use
mais maquiagem é uma violência simbólica, não contra o corpo físico da esposa.
A alternativa E está incorreta, pois esse trecho mostra as reações que os homens tinham
quando viam a esposa, não violências que ela sofria.
Gabarito: A
3. (ESA/2019)
Assinale a alternativa que explica o sentido do trecho "enquanto a rosa desbotava sobre a
cômoda":
a) O desbotamento da rosa simboliza a perda do estereótipo de fragilidade imputado à
mulher.
b) A perda de cor da rosa equivale ao comportamento de resistência e força da mulher.
c) O desbotamento sugere raiva e desleixo da personagem, que não cuidou da rosa.
d) A imagem da rosa desbotada traduz a anulação da identidade da personagem.
e) A rosa, tanto no conto como na literatura universal, simboliza a anatomia da mulher.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois a rosa desbotando mostra a perda de vitalidade da
mulher, não da fragilidade ou dos estereótipos.
A alternativa B está incorreta, pois a mulher já se encontra sem forças ou vontades, assim
como a rosa está desbotada.
A alternativa C está incorreta, pois a personagem não sente raiva nem desleixo, apenas
não tem mais vaidade nem vitalidade.
A alternativa D está correta, pois a rosa é uma metáfora visual para a própria perda de
vitalidade da personagem, que teve sua identidade anulada pelo marido por ciúmes.
A alternativa E está incorreta, pois não há nada que sugere que a rosa seja uma metáfora
para o corpo feminino.
Gabarito: D
Texto para as próximas questões
Eu que nasci na Era da Fumaça: - trenzinho porque as moças da cidade vinham olhar o trem
vagaroso com vagarosas passar:
paradas elas suspirando maravilhosas viagens
em cada estaçãozinha pobre e a gente com um desejo súbito de ali ficar morando
para comprar sempre... nisto,
pastéis o apito da locomotiva
pés de moleque e o trem se afastando
sonhos e o trem arquejando
- principalmente sonhos! é preciso partir
4. (ESA/2011)
Em função do que é dito nos versos do poema, observa-se que o “eu lírico”:
A) viaja, não só fisicamente, mas também por meio de seus pensamentos.
B) é um homem agitado, que leva uma vida de passageiro com luxo e mordomias.
C) deseja ser mau e mórbido, por isso faz suas viagens pelas estrelas.
D) tem fome e pouco dinheiro, logo não gasta com comidas que não alimentam.
E) é uma voz que clama por tranquilidade e brada contra a poluição do ar.
Comentários:
A alternativa A está correta, pois o eu lírico diz “fecho os olhos e sonho: / viajar, viajar”,
indicando que a viagem não é só física, como mental.
A alternativa B está incorreta, pois em nenhum momento há menção a luxos ou
mordomias nas viagens.
A alternativa C está incorreta, pois não há nenhuma alusão a esses traços de
personalidade como justificativa para viagens.
A alternativa D está incorreta, pois em nenhum momento há referência às condições
financeiras do eu lírico.
A alternativa E está incorreta, pois a poluição do ar não é uma questão para o eu lírico.
Gabarito: A
5. (ESA/2011)
Levando em conta o contexto do poema, em qual das alternativas há um sentido semelhante
ao de “acomodo-me no meu lugar” ?
A) Ajeito-me no meu canto.
B) Entendo-me com minhas ideias.
C) Adapto-me ao meio em que vivo.
D) Limito-me a ficar pensativo.
E) Satisfaço-me com o lugar que me dão.
Comentários:
O contexto em que esse verso aparece é:
“e – até hoje – quando embarco
para alguma parte
acomodo-me no meu lugar
fecho os olhos e sonho”
A alternativa A está correta, pois a ideia do trecho é de ajeitar-se e um canto que fosse
seu.
A alternativa B está incorreta, pois a ideia de acomodar-se não tem a ver nesse caso
com entender-se.
A alternativa C está incorreta, pois não há analogia possível aqui, nesse contexto, entre
adaptação e acomodação. É uma questão física, de onde se acomodar.
A alternativa D está incorreta, pois o “lugar” aqui não tem a ver com pensamentos
necessariamente.
A alternativa E está incorreta, pois não há aqui a ideia que o lugar fosse dado por outra
pessoa, mas que o eu lírico se coloca no seu lugar.
Gabarito: A
6. (ESA/2011)
A expressão “viajar indefinidamente” só NÃO significa
A) viajar sem se preocupar com o tempo de chegar.
B) aventurar-se pelo mundo sem ter um objetivo definido.
C) passear de modo errante, a esmo.
D) sair por aí sem definir o nome das pessoas conhecidas.
E) não ter a preocupação de saber o lugar para onde se vai.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois a ideia de indefinição pode implicar na questão do
tempo de chegada da viagem.
A alternativa B está incorreta, pois a ideia de indefinição pode implicar na questão de
se aventurar sem um objetivo definido.
A alternativa C está incorreta, pois a ideia de indefinição pode implicar na questão de
viajar sem planos, não traçando caminhos, indo a esmo.
A alternativa D está correta, pois a ideia de indefinidamente aqui tem a ver com sem
saber para onde ir ou sem tempo definido, não tem a ver com pessoas conhecidas e seus
nomes.
A alternativa E está incorreta, pois a ideia de indefinição pode implicar na questão da
falta de preocupação com planos e direções de onde ir.
Gabarito: D
7. (Col. Naval/2012)
A fala de Miguelito, no último quadrinho do texto II, revela uma atitude
A) alienada.
B) condolente.
C) reflexiva.
D) firme.
E) irresponsável.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois ele revela postura crítica, não alienada.
A alternativa B está incorreta, pois ele não revela sentimento de compaixão ou pena
nesse trecho.
A alternativa C está correta, pois Miguelito reflete sobre a ideia de que a publicidade
vende de que seríamos felizes através do consumo.
A alternativa D está incorreta, pois ele não está falando de maneira dura, mas reflexiva.
A alternativa E está incorreta, pois não há irresponsabilidade em sua fala. Ele esta
apenas omitindo sua opinião crítica sobre um assunto.
Gabarito: C
8. (Col. Naval/2012)
Assinale a opção que melhor caracteriza a mensagem do texto II.
A) O consumo de bens materiais está diretamente relacionado com a felicidade.
B) A televisão incentiva os telespectadores a consumirem diferentes produtos e serviços.
C) A felicidade só pode ser alcançada através do consumo dos produtos anunciados em
diferentes meios de comunicação.
D) O principal papel da televisão ê anunciar produtos que serão comprados pelos
telespectadores.
E) As coisas boas veiculadas pela televisão fazem com que os telespectadores sejam felizes.
Comentários:
A alternativa A está correta, pois a publicidade vende uma ideia de que seríamos felizes
através do consumo.
A alternativa B está incorreta, pois o incentivo não é questionado. É a mensagem de
felicidade das propagandas que ele critica.
A alternativa C está incorreta, pois essa é a impressão que as propagandas passam, mas
em nenhum momento se mencionam diferentes veículos de comunicação para além da
televisão.
A alternativa D está incorreta, pois o papel da televisão é entretenimento e
comunicação, não anúncio de produtos.
A alternativa E está incorreta, pois os telespectadores não seriam felizes apenas por ver
anúncios de produtos. Seria preciso consumi-los.
Gabarito: A
9. (Col. Naval/2013)
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois abnegação dá ideia de altruísmo, o que não aparece
na charge.
A alternativa B está correta, pois há uma noção de exaltação à perseverança e ao esforço
pessoal na charge, mas de maneira crítica.
A alternativa C está incorreta, pois assim como em A, a ideia de desprendimento e
superação do egoísmo não é mencionada no texto.
A alternativa D está incorreta, pois improbidade significa ausência de honestidade, o
que não se identifica aqui.
A alternativa E está incorreta, pois o que a charge fala é o contrário: o texto fala sobre
perseverança.
Gabarito: B
10. (Col. Naval/2019)
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois ainda que a internet tenha se tornado presente na
vida das pessoas, não se pode dizer que ela seja tão essencial à vida quanto água.
A alternativa B está correta, pois a imagem dá a ideia de que a internet tomou conta de
tantos espaços na vida das pessoas que mudou os hábitos: visitar alguém é uma situação social
que também acaba sendo atravessada pela internet.
A alternativa C está incorreta, pois não é uma questão de vergonha o que se aponta
aqui, mas de hábito e prioridade.
A alternativa D está incorreta, pois ambos os pedidos podem ser vistos como sinais de
intimidade, uma vez que a senha do wifi e alguém também é um dado pessoal.
A alternativa E está incorreta, pois o que a imagem aponta é a mudança de hábitos e de
prioridades: ao invés de pedir água, as pessoas se preocupam com a senha do wifi.
Gabarito: B
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois o texto faz uso do pronome “seu”, o que indica
comunicação direta com o leitor.
A alternativa B está incorreta, pois há uma brincadeira com a polissemia da palavra
“gato”, mas não há uma ambiguidade: ninguém ao ler esse anúncio pensa que é possível que
seu animal mude de espécie.
A alternativa C está correta, pois o humor do anúncio está na polissemia da palavra
“gato” que pode ser tanto um animal quanto uma gíria para “bonito”.
A alternativa D está incorreta, pois a divulgação é de um serviço – banho e tosa – não
um produto.
A alternativa E está incorreta, pois não há palavras de uso contrário, mas a apresentação
de espécies diferentes.
Gabarito: C
12. (EAM/2014)
ÔNIBUS LOTADO
O ônibus aguardava no ponto final, no alto de uma ladeira. Após os passageiros
entrarem, seguiu ladeira abaixo.
Eis que um homem de bigode, de meia-idade, começou a correr atrás do ônibus.
Da janela, um passageiro gritou:
- Esquece, cara! O busão já tá lotado.
E o senhor, ofegante:
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois ele é o motorista, não o passageiro.
A alternativa B está incorreta, pois o ônibus estava lotado de passageiros, mas não tinha
nenhum motorista.
A alternativa C está correta, pois o motorista está correndo atrás do ônibus porque o
veículo saiu correndo ladeira abaixo sem ninguém dirigindo. Ele está preocupado, porém os
passageiros sequer perceberam a ausência do motorista.
A alternativa D está incorreta, pois ele está correndo atrás do ônibus por ele estar
andando sem motorista, não por estar atrasado.
A alternativa E está incorreta, pois ele é o motorista, não o passageiro.
Gabarito: C
13. (EAM/2009)
O pronome demonstrativo usado em "... sou eu sentado nesta caixa" se justifica porque o
falante.
A) situa a caixa perto de si.
B) pretende tomar a caixa de seu ouvinte.
C) refere-se à caixa utilizada por seu ouvinte.
D) dá ênfase ao objeto utilizado por seu interlocutor.
E) retoma o termo "caixa" empregado no quadrinho anterior.
Comentários:
A alternativa A está correta, pois o pronome “nesta” é utilizado pelo falante para referir-
se a elementos que estejam próximos a si. Como ele está dentro da caixa, a proximidade se
justifica.
A alternativa B está incorreta, pois ambos estão na caixa, não há a vontade de roubá-la
de ninguém.
A alternativa C está incorreta, pois ambos estão na caixa, não apenas o ouvinte de sua
fala.
A alternativa D está incorreta, pois ambos estão na caixa, não apenas seu interlocutor.
A alternativa E está incorreta, pois no quadrinho anterior não se fala de caixa. Ela é
referida como “máquina do tempo”.
Gabarito: A
Há que saber apenas errar bem o seu idioma. Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro
professor de agramática.
BARROS, Manoel de. O livro das ignorãças. 9 ed. Rio de Janeiro: Record, 2000.
14. (EAM/2009)
O narrador sofreu um "limpamento" em seus receios. O que ocasionou isso?
A) O desejo do garoto de ser um "sujeito escaleno".
B) A insatisfação do garoto em relação ao seu gosto esquisito.
C) O medo do preceptor de que o garoto sofresse um desgosto.
D) A dúvida do padre quanto ao caminho que o garoto seguiria.
E) A declaração do padre de que "gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável".
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois isso é como o menino se sentia antes do limpamento
que a frase do padre lhe causou.
A alternativa B está incorreta, pois o menino se sentia insatisfeito antes de ouvir as
palavras do padre.
A alternativa C está incorreta, pois o padre conversa com o menino por esse receio, mas
é sua fala que promove o livramento.
A alternativa D está incorreta, pois o livramento vem do conselho de que é normal e
saudável aquilo que ele acreditava ser um defeito, não das dúvidas do padre.
A alternativa E está correta, pois a referência ao limpamento de receios está logo após
“- Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável, o Padre me disse.”. Ou seja, essa
afirmação do padre faz com que o menino se sinta melhor.
Gabarito: E
15. (EAM/2009)
"Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor, / esse gosto esquisito." (versos 4 e 5).
Esse gosto é considerado esquisito porque;
A) é algo fora do comum.
B) elogia os gramáticos.
C) define o caráter do narrador.
D) causa surpresa no preceptor.
E) propõe uma alteração nas gramáticas.
Comentários:
A alternativa A está correta, pois o gosto estranho a que ele se refere é preferir os
defeitos da gramática, ou seja, os erros no português, à grafia correta.
A alternativa B está incorreta, pois ocorre o contrário: ele prefere os “agramáticos”.
17. (EAM/2008)
A leitura do texto METAPOESIA esclarece-nos que a autora;
A) não tem dificuldades de encontrar novas temáticas.
B) elabora muito bem os eufemismos.
C) inspira-se com o que lhe traz a visão.
D) tem problemas com a inspiração.
E) é exímia na construção de figuras de linguagem
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois a autora fala que não consegue ter ideias para
escrever.
A alternativa B está incorreta, pois a autora reclama da falta de possibilidade de
“eufemizar”.
A alternativa C está incorreta, pois a autora vê muitas situações, mas nenhuma a inspira
verdadeiramente.
A alternativa D está correta, pois todo o poema se constrói e torno da ideia de que a
autora está num bloqueio criativo, que a impede de escrever poesia e encontrar inspiração.
A alternativa E está incorreta, pois a autora reclama que não consegue traduzir em
figuras de linguagem situações que vê na vida a seu redor.
Gabarito: D
18. (EAM/2008)
Com relação aos desejos da poetisa e o que constata na própria realidade, percebe-se que
existe um sentimento de;
A) inconstância.
B) desespero.
C) impotência.
D) raiva.
E) indiferença.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois a autora não apresenta oscilações de humor ou
temperamento.
A alternativa B está incorreta, pois a autora não parece em desespero, apenas relatando sua
situação de impotência.
A alternativa C está correta, pois a autora se sente impotente diante da falta de inspiração, que
a impede de produzir poesia.
A alternativa D está incorreta, pois a autora não parece sentir raiva, apenas relatando sua
situação de impotência.
A alternativa E está incorreta, pois a autora, apesar de não parecer desesperada, também não
se mostra indiferente. Ela se incomoda com a falta de inspiração.
Gabarito: C
19. (EAM/2010)
Comentários:
A afirmativa I está incorreta, pois não há crítica ao novo acordo ortográfico, mas uma
expressão da diferença no modo de falar de cada geração.
A afirmativa II está correta, pois o tio pensa em pedir ajuda ao sobrinho para entender
o acordo ortográfico, mas ao ver o modo como o sobrinho escreve, ele repensa seu pedido,
já que não entende o modo como ele escreve.
A afirmativa III está incorreta, pois o tio repensa seu pedido não pelo desinteresse do
sobrinho, que parece solícito, as por não compreender as gírias e modo de escrever do
menino.
Gabarito: B
Textos para as próximas questões
TEXTO 1 – Vamos acabar com esta folga
O negócio aconteceu num café. Tinha uma porção de sujeitos, sentados nesse café,
tomando umas e outras. Havia brasileiros, portugueses, franceses, argelinos, alemães, o diabo.
De repente, um alemão forte pra cachorro levantou e gritou que não via homem pra ele
ali dentro. Houve a surpresa inicial, motivada pela preocupação, e logo um turco, tão forte
como o alemão, levantou-se de lá e perguntou:
- Isso é comigo?
- Pode ser com você também- respondeu o alemão.
Aí então o turco avançou para o alemão e levou uma traulitada tão segura que caiu no
chão. Vai daí o alemão repetiu que não havia homem ali dentro pra ele. Queimou-se então um
português que era maior ainda do que o turco. Queimou-se e não conversou. Partiu para cima
do alemão e não teve outra sorte. Levou um murro debaixo dos queixos e caiu sem sentidos.
O alemão limpou as mãos, deu mais um gole no chope e fez ver aos presentes que o
que ele dizia era certo. Não havia homem para ele ali naquele café.[…] Até que, lá do canto
do café, levantou-se um brasileiro magrinho, cheio de picardia, para perguntar, como os
outros:
- Isso é comigo?
O alemão voltou a dizer que podia ser. Então o brasileiro deu um sorriso cheio de bossa
e veio vindo gingando assim pro lado do alemão. Parou perto, balançou o corpo e...PIMBA!O
alemão deu-lhe uma porrada na cabeça com tanta força que quase desmonta o brasileiro.
Como, minha senhora? Qual é o fim da história? Pois a história termina aí, madame.
Termina aí que é pros brasileiros perderem essa mania de pisar macio e pensar que são mais
malandros do que os outros.
(Stanislaw Ponte Preta)
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois a música não se organiza em parágrafos, mas em
versos e estrofes. Além disso, “texto” é um nome genérico para qualquer construção, verbal
ou não, que passe uma mensagem.
A alternativa B está incorreta, pois o segundo texto também é verbal.
A alternativa C está incorreta, pois “texto” é um nome genérico para qualquer
construção, verbal ou não, que passe uma mensagem.
A alternativa D está correta, pois o primeiro texto, organizado em parágrafos e com
menor preocupação com a sonoridade, é um texto em prosa. O segundo texto, organizado
em versos e estrofes e com maior preocupação com a sonoridade, é um texto de poesia.
A alternativa E está incorreta, pois “texto” é um nome genérico para qualquer
construção, verbal ou não, que passe uma mensagem. Além disso, o segundo texto,
organizado em versos e estrofes e com maior preocupação com a sonoridade, logo, é um
texto de poesia
Gabarito: D
21. (Fuzileiro Naval/2019)
Segundo o texto 2, é correto afirmar que:
A) Olívia e o vilão eram parentes.
B) O vilão tirou a vida de Olívia de alguma forma.
C) Olívia toca vários tipos de instrumentos.
D) A vila que Olívia vivia era muito perigosa.
E) Olívia matou o vilão, que era o violão.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois o violão é um objeto, não um parente de Olívia.
A alternativa B está correta, pois um dos versos do poema afirma “O vilão levou-lhe a
vida, / levando o violão dela” e “Vida de Olívia – levada / por um violão violento”.
A alternativa C está incorreta, pois só há menção do violão coo um instrumento tocado
por Olívia – ainda que a palavra “viola” apareça algumas vezes.
A alternativa D está incorreta, pois não há menção aos perigos da vila. Apenas ao vilão
que levou seu violão embora.
A alternativa E está incorreta, pois não se pode pressupor pelo poema que Olívia teria
matado alguém.
Gabarito: B
22. (Fuzileiro Naval/2019)
No texto 1, por que a senhora achou que a história não tinha terminado?
A) Porque ainda tinham outras pessoas no bar para enfrentar o alemão.
B) Porque ela esperava uma história mais longa.
C) Porque faltou um ponto final representando o término do texto.
D) Porque como todo brasileiro, mesmo apanhando, ele não iria desistir.
E) Porque ela tinha a convicção de que o brasileiro não levaria a pior como os outros.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois na situação descrita da briga final há apenas o alemão
e o brasileiro.
A alternativa B está incorreta, pois não se pode pressupor que ela tivesse uma
expectativa de história mais longa, apenas que se surpreendeu com o desfecho.
A alternativa C está incorreta, pois a pontuação do texto está toda adequada.
A alternativa D está incorreta, pois a característica atribuída aos brasileiros no texto não
é a da persistência, mas a fama da malandragem.
A alternativa E está correta, pois no último parágrafo do texto é dito “Qual é o fim da
história? Pois a história termina aí, madame. Termina aí que é pros brasileiros perderem essa
mania de pisar macio e pensar que são mais malandros do que os outros”. Ou seja, a
interlocutora acha estranho que brasileiros não se deem bem no fim da história, pois
costumam ter fama de serem “mais malandros do que os outros”.
Gabarito: E
23. (Fuzileiro Naval/2019)
O texto 1 “Vamos acabar com esta folga” é uma crônica que retrata uma situação envolvendo
pessoas nascidas em vários países que estão tomando “umas e outras” em um café. Que
período representa melhor a ideia sugerida no título do texto?
A) ”Pois a história termina aí, madame. Termina aí que é pros brasileiros perderem essa mania
de pisar macio e pensar que são mais malandros do que os outros.“ - linhas 40 a 43.
B) ”De repente, um alemão forte pra cachorro levantou e gritou que não via homem pra ele ali
dentro.“ - linhas 06 a 08.
C) ”O alemão limpou as mãos, deu mais um gole no chope e fez ver aos presentes que o que
ele dizia era certo.“ - linhas 24 a 26.
D) ”Queimou-se então um português que era maior ainda do que o turco. Queimou-se e não
conversou.“ - linhas 18 a 20.
E) ”Pode ser com você também - respondeu o Alemão.“ - linhas 13 e 14.
Comentários:
A alternativa A está correta, pois a folga mencionada no título se refere ao
comportamento dos brasileiros descrito como de achar que “são mais malandros do que os
outros”.
A alternativa B está incorreta, pois o alemão se dá bem no fim do texto, logo, não se
pode dizer que foi o comportamento dele que foi identificado como “folga” tampouco que
acabaram com o comportamento do alemão.
A alternativa C está incorreta, pois , assim como em B, o alemão se dá bem no fim do
texto, logo, não se pode dizer que foi o comportamento dele que foi identificado como “folga”
tampouco que acabaram com o comportamento do alemão.
A alternativa D está incorreta, pois não há nenhuma descrição do comportamento nem
do português nem do turco para que possamos associa-los de alguma forma à “folga” do
título.
A alternativa E está incorreta, pois, assim como em B e C, o alemão se dá bem no fim
do texto, logo, não se pode dizer que foi o comportamento dele que foi identificado como
“folga” tampouco que acabaram com o comportamento do alemão.
Gabarito: A
24. (Fuzileiro Naval/2019)
Texto 3
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois barbarismo é o uso incorreto de uma palavra, seja na
pronúncia, na grafia ou escolha morfológica, o que não ocorre aqui.
A alternativa B está incorreta, pois solecismo é o uso incorreto da sintaxe, incorrendo
em desvio gramatical, o que não ocorre aqui.
A alternativa C está incorreta, pois preciosismo é o exagero de detalhamento e cuidado
com algo, o que não ocorre aqui.
A alternativa D está incorreta, pois vulgarismo ocorre quando há construção ou
expressões que fogem à norma culta, normalmente ligados à vícios da fala, o que não ocorre
aqui.
A alternativa E está correta, pois quando Jon fala “pega-lo” ele está se referindo ao rato,
não ao biscoito que ele roubou. Garfield, porém, pega a comida ao invés de pegar o animal.
Como ambas as palavras – rato e biscoito – são masculinas, a construção fica ambígua, o que
legitima a atitude de Garfield.
Gabarito: E
Textos para as próximas questões
TEXTO 1 – FUGA
Mal colocou o papel na máquina, o menino começou a empurrar uma cadeira pela sala,
fazendo um barulho infernal.
- Para com esse barulho, meu filho – falou, sem se voltar.
Com três anos já sabia reagir como homem ao impacto das grandes injustiças paternas:
Não estava fazendo barulho, estava só empurrando uma cadeira.
- Pois então para de empurrar a cadeira.
- Eu vou embora – foi a resposta.
Distraído, o pai não reparou que ele juntava ação às palavras, no ato de juntar do chão
suas coisinhas, enrolando-as num pedaço de pano. Era a sua bagagem: um caminhão de
madeira com apenas três rodas, um resto de biscoito, uma chave (onde diabo meteram a
chave da dispensa? - a mãe mais tarde irá dizer), metade de uma tesoura enferrujada, sua única
arma para a grande aventura, um botão amarrado num barbante.
A calma que baixou então na sala era vagamente inquietante. De repente, o pai olhou
ao redor e não viu o menino. Deu com a porta da rua aberta, correu até o portão:
- Viu um menino saindo desta casa? - gritou para o operário que descansava diante da
obra do outro lado da rua, sentado no meio-fio.
- Saiu agora mesmo com uma trouxinha – informou ele.
Correu até a esquina e teve tempo de vê-lo ao longe, caminhando cabisbaixo ao longo
do muro. A trouxa, arrastada no chão, ia deixando pelo caminho alguns de seus pertences: o
botão, o pedaço de biscoito e – saíra de casa desprevenido – uma moeda de 1 cruzeiro.
Chamou-o, mas ele apertou o passinho, abriu a correr em direção à avenida, como disposto a
atirar-se diante do lotação que surgia a distância.
– Meu filho, cuidado!
O lotação deu uma freada brusca, uma guinada para a esquerda, os pneus cantaram no
asfalto. O menino, assustado, arrepiou carreira. O pai precipitou-se e o arrebanhou com o
braço como a um animalzinho:
- Que susto você me passou, meu filho – e apertava-o contra o peito fora de si.
– Deixa eu descer, papai. Você está me machucando.
Irresoluto, o pai pensava agora se não seria o caso de lhe dar umas palmadas:
- Machucando, é? Fazer uma coisa dessas com seu pai. - Me larga. Eu quero ir embora.
Trouxe-o para casa e o largou novamente na sala – tendo antes o cuidado de fechar a
porta da rua e retirar a chave, como ele fizera com a da despensa.
- Fique aí quietinho, está ouvindo? Papai está trabalhando.
- Fico, mas vou empurrar esta cadeira.
E o barulho recomeçou.
(Fernando Sabino)
TEXTO II
Profundamente
Quando ontem adormeci — Estavam todos dormindo
Na noite de São João Estavam todos deitados
Havia alegria e rumor Dormindo
Estrondos de bombas luzes de Bengala Profundamente.
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas. Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
No meio da noite despertei Porque adormeci
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Passavam, errantes Minha avó
Meu avô
Silenciosamente Totônio Rodrigues
Apenas de vez em quando Tomásia
O ruído de um bonde Rosa
Cortava o silêncio Onde estão todos eles?
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco — Estão todos dormindo
Dançavam Estão todos deitados
Cantavam Dormindo
E riam Profundamente.
Ao pé das fogueiras acesas? (Manuel Bandeira)
TEXTO 3
Os principais problemas da agricultura brasileira referem-se muito mais à diversidade
dos impactos causados pelo caráter da modernização, do que à persistência de segmentos
que dela teriam ficado imunes. Se hoje existem milhões de estabelecimentos agrícolas
marginalizados, isso se deve muito mais à natureza do próprio processo de modernização, do
que à sua suposta falta de abrangência.
(Folha de São Paulo, 13/09/94, 2-2)
TEXTO 4
Comentários:
O texto 1 é um conto breve, apresentando uma narrativa de um menino que foge de
casa após ser repreendido pelo pai.
O texto 2 é um poema, texto que se divide em versos e estrofes, com preocupação
sonora.
O texto 3 é um texto jornalístico que, por contar com uma análise sobre algum fato,
pode ser entendido como uma reportagem.
O texto 4 é uma tirinha, apresentando uma sequência narrativa dividida em quadrinhos,
com imagem e texto verbal.
Gabarito: D
26. (Fuzileiro Naval/2018)
De acordo com o texto 4, o pronome pessoal do caso reto “eles” é utilizado no primeiro balão
e depois no terceiro balão. A quem o pronome “eles” se refere em cada balão,
respectivamente?
A) Os peixes – os meninos.
B) Os peixes – a mãe.
Comentários:
A alternativa A está correta, pois no primeiro quadrinho vemos os meninos falando
sobre os peixes, logo, “eles” aqui equivale a peixes. Já no segundo quadrinho são os peixes
que se referem aos meninos, logo, “eles” aqui equivale a os meninos
A alternativa B está incorreta, pois “mãe” é um termo feminino singular, logo, não
poderia ser substituído por “eles”.
A alternativa C está incorreta, pois no primeiro quadrinho os meninos proferem a fala,
logo, “eles” não poderia referir-se a eles próprios. No segundo quadrinho vemos que as únicas
pessoas no campo de visão dos peixes são os meninos, não todos os demais personagens.
A alternativa D está incorreta, pois no primeiro quadrinho vemos os meninos falando
sobre os peixes e no segundo quadrinho são os peixes que se referem aos meninos.
A alternativa E está incorreta, pois a ordem correta seria o contrário: os peixes e os
meninos.
Gabarito: A
27. (Fuzileiro Naval/2018)
Tome como referência as seguintes frases: texto 1 - linhas 62 e 63 “- Fique aí quietinho, está
ouvindo? Papai está trabalhando.” e texto 3 - linhas 1 a 6 “Os principais problemas da
agricultura brasileira referem-se muito mais à diversidade dos impactos causados pelo caráter
da modernização, do que à persistência de segmentos que dela teriam ficado imunes.”. É
possível observar que o registro da linguagem utilizado em ambos os trechos foi diferente,
podendo ser classificados, respectivamente, como registros
A) culto e coloquial.
B) informal e culto.
C) informal e popular.
D) culto e formal.
E) popular e informal.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois o registro do primeiro trecho é mais informal,
enquanto o segundo é mais culto.
A alternativa B está correta, pois no primeiro trecho selecionado há uma fala de um pai
para um filho, num contexto de informalidade; e no segundo, há um texto jornalístico,
publicado num veículo de comunicação, o que demanda um registro culto da linguagem.
A alternativa C está incorreta, pois não se pode dizer que o texto jornalístico se apoie
num registro popular da linguagem.
A alternativa D está incorreta, pois a conversa entre pai e filho não se dá por meio do
registro culto da linguagem.
A alternativa E está incorreta, pois não se pode dizer que o texto jornalístico se apoie
num registro informal da linguagem.
Gabarito: B
28. (Fuzileiro Naval/2017)
TEXTO 1
- Falar português não é difícil – me diz um francês residente no Brasil -, o diabo é que,
mal consigo aprender, a língua portuguesa já ficou diferente. Está sempre mudando.
E como! No Brasil as palavras envelhecem e caem como folhas secas. Ainda bem a
gente não conseguiu aprender uma nova expressão, já vem o pessoal com outra.
Não é somente pela gíria que a gente é apanhado. (Aliás, já não se usa mais a primeira
pessoa, tanto do singular como do plural: tudo é 'a gente'.) A própria linguagem corrente vai-
se renovando, e a cada dia uma parte do léxico cai em desuso. É preciso ficar atento, para não
continuar usando palavras que já morreram, vocabulário de velho que só velho entende.
Os que falariam ainda em cinematógrafo, auto-ônibus, aeroplano, estes também já
morreram e não sabem. Mas uma amiga minha, que vive preocupada com este assunto, me
chama a atenção para os que falam assim:
- Assisti a uma fita de cinema com um artista que representa muito bem.
Os que acharem natural esta frase, cuidado! Não saberão dizer que viram um filme com
um ator que trabalha bem. E irão ao banho de mar em vez de ir à praia, vestidos de roupa de
banho em vez de calção ou biquíni, carregando guarda-sol em vez de barraca. Comprarão um
automóvel em vez de comprar um carro, pegarão um defluxo em vez de um resfriado, vão
andar no passeio em vez de passear na calçada e percorrer um quarteirão em vez de uma
quadra. Viajarão de trem de ferro acompanhados de sua esposa ou sua senhora em vez de
sua mulher.
A lista poderia ser enorme, mas vou ficando por aqui, pois entre escrever e publicar há
tempo suficiente para que tudo que eu disser caia em desuso – é dito e feito.
TEXTO 2
Pesquisa
Na gostosa penumbra da Biblioteca Municipal - brotam como balões meus sábados azuis.
leio velhos jornais as horas bebidas aos goles
e (num copo azul)
dos anúncios prescritos e as ruas de poeira e sol onde bailam
das novidades caducas sozinhos
dos poetas mortos há tanto tempo que parecem os meus sapatos de colegial.
de novo estreantes (QUINTANA, Mário. © by herdeiros de Mário Quintana. Porta
Giratória. São Paulo, Globo, 1997.)
das ferocíssimas batalhas políticas do ano
de 1910
C) gírias e guerras.
D) linguagem e futuro.
E) presente e passado.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois não há no texto 2 nenhuma noção de adequação ou
não, apenas de passagem do tempo.
A alternativa B está incorreta, pois não há no texto 2 uma importância para a figura do
estrangeiro.
A alternativa C está incorreta, pois não há no texto 1 uma relevância ao tema da guerra.
A alternativa D está incorreta, pois nenhum dos textos pensa a noção de futuro, apenas
as noções de passado e presente.
A alternativa E está correta, pois o texto 1 fala sobre como as palavras envelhecem e se
tornam estranhas com o tempo, expondo uma relação de passado e presente; e o texto 2 fala
sobre como notícias de jornal, sempre entendidas como “novidades” se tornam velhas e
caducas com o tempo, também tensionando noções de passado e presente.
Gabarito: E
Texto para as próximas questões
A raposa furta e a onça paga
A raposa viu que vinha vindo um cavalo carregado com cabaças cheias de mel de
abelhas. Mais que depressa deitou-se no meio da estrada, fingindo-se de morta. O tangerino
parou e achou o bicho muito bonito. Não tendo tempo de esfolar, para aproveitar o pelo,
sacudiu a raposa no meio da carga e seguiu viagem. Vai a raposa e se farta de mel, pulando
depois para o chão e ganhou o mato. O homem ficou furioso mas não viu mais nem a sombra
da raposa.
Dias depois a raposa encontrou a onça que a achou gorda e lustrosa. Perguntou se ela
descobrira algum galinheiro.
— Qual galinheiro, camarada onça, minha gordura é de mel de abelha que dá força e
coragem.
— Onde você encontrou tanto mel?
— Ora, nas cargas dos camboeiros que passam pela estrada.
— Quer me levar, camarada raposa?
— Com todo gosto. Vamos indo…
Levou a onça para a estrada, depois de muita volta, e ensinou a conversa. A onça deitou-
se e ficou estirada, dura, fazendo que estava morta. Quando o comboeiro avistou aquele
bichão estendido na areia, ficou com os cabelos em pé e puxou logo pela sua garrucha. Não
vendo a onça bulir, aproximou-se, cutucou-a com o cabo do chicote e gritou para os
companheiros:
— Eh lá! Uma onça morta! Vamos tirar o couro.
Meteram a faca com vontade na onça que, meio esfolada, ganhou os matos, doida de
raiva com a arteirice da raposa.
(Contos tradicionais do Brasil, Luís da Câmara Cascudo, Rio de Janeiro: Ediouro, 2003)
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois a onça ainda não apareceu na história.
A alternativa B está incorreta, pois a abelha é a responsável por fazer o mel que a raposa
come.
A alternativa C está incorreta, pois o cavalo é quem carrega o el, não quem está deitado
na estrada.
A alternativa D está correta, pois esse trecho apresenta a estratégia da raposa para
conseguir subir no caminhão. O bicho a que se refere aqui é a raposa.
A alternativa E está incorreta, pois tangerino é o homem quem passa pela estrada, não
o animal.
Gabarito: D
30. (Fuzileiro Naval/2006)
“E talvez apenas a raposa teve sorte”
Em qual das alternativas abaixo a substituição da palavra apenas altera o sentido original da
frase?
A) E talvez só a raposa teve sorte.
B) E talvez a custo a raposa teve sorte.
C) E talvez somente a raposa teve sorte.
D) E talvez unicamente a raposa teve sorte.
E) E talvez exclusivamente a raposa teve sorte.
Comentários:
A alternativa A está correta, pois a palavra “só” indica uma noção de unicidade, de
exclusividade, presente também em “apenas”.
A alternativa B está incorreta, pois “a custo” significa com dificuldade, não a ideia de
unicidade.
A alternativa C está correta, pois a palavra “somente” indica uma noção de unicidade,
de exclusividade, presente também em “apenas”.
A alternativa D está correta, pois a palavra “unicamente” indica uma noção de unicidade,
de exclusividade, presente também em “apenas”.
A alternativa E está correta, pois a palavra “exclusivamente” indica uma noção de
unicidade, de exclusividade, presente também em “apenas”.
Gabarito: B
(Entra Esopo, com um prato que coloca sobre a mesa. Está coberto com um pano. Xantós e
Agnostos se dirigem para a mesa, o primeiro faz ao segundo um sinal para sentarem-se.)
XANTÓS (Descobrindo o prato) – Ah, língua! (Começa a comer com as mãos, e faz um sinal
para que Melita sirva Agnostos. Este também começa a comer vorazmente, dando grunhidos
de satisfação.) Fizeste bem em trazer língua, Esopo. É realmente uma das melhores coisas do
mundo. (Sinal para que sirvam o vinho. Esopo serve, Xantós bebe.) Vês, estrangeiro, de
qualquer modo é bom possuir riquezas. Não gostas de saborear esta língua e este vinho?
AGNOSTOS (A boca entupida, comendo) – Hum.
XANTÓS – Outro prato, Esopo. (Esopo sai à esquerda e volta imediatamente com outro prato
coberto. Serve, Xantós de boca cheia.) Que é isto? Ah, língua de fumeiro! É bom língua de
fumeiro, hein, amigo?
AGNOSTOS – Hum. (Xantós serve-se de vinho) /.../
XANTÓS (A Esopo) Serve outro prato. (Serve) Que trazes aí?
ESOPO – Língua.
XANTÓS – Mais língua? Não te disse que trouxesse o que há de melhor para meu hóspede?
Por que só trazes língua? Queres expor-me ao ridículo?
ESOPO – Que há de melhor do que a língua? A língua é o que nos une todos, quando falamos.
Sem a língua nada poderíamos dizer. A língua é a chave das ciências, o órgão da verdade e
da razão. Graças à língua dizemos o nosso amor. Com a língua se ensina, se persuade, se
instrui, se reza, se explica, se canta, se descreve, se elogia, se mostra, se afirma. É com a língua
que dizemos sim. É a língua que ordena os exércitos à vitória, é a língua que desdobra os
versos de Homero. A língua cria o mundo de Ésquilo, a palavra de Demóstenes. Toda a Grécia,
Xantós, das colunas do Partenon às estátuas de Pidias, dos deuses do Olimpo à glória sobre
Tróia, da ode do poeta ao ensinamento do filósofo, toda a Grécia foi feita com a língua, a
língua de belos gregos claros falando para a eternidade.
XANTÓS (Levantando-se, entusiasmado, já meio ébrio) – Bravo, Esopo. Realmente, tu nos
trouxeste o que há de melhor. (Toma outro saco da cintura e atira-o ao escravo) Vai agora ao
mercado, e traze-nos o que houver de pior, pois quero ver a sua sabedoria! (Esopo retira-se à
frente com o saco, Xantós fala a Agnostos.) Então, não é útil e bom possuir um escravo assim?
AGNOSTOS (A boca cheia) – Hum. /.../
(Entra Esopo com prato coberto)
XANTÓS – Agora que já sabemos o que há de melhor na terra, vejamos o que há de pior na
opinião deste horrendo escravo! Língua, ainda? Mais língua? Não disseste que língua era o
que havia de melhor? Queres ser espancado?
ESOPO – A língua, senhor, é o que há de pior no mundo. É a fonte de todas as intrigas, o início
de todos os processos, a mãe de todas as discussões. É a língua que usam os maus poetas
que nos fatigam na praça, é a língua que usam os filósofos que não sabem pensar. É a língua
que mente, que esconde, que tergiversa, que blasfema, que insulta, que se acovarda, que se
mendiga, que impreca, que bajula, que destrói, que calunia, que vende, que seduz, é com a
língua que dizemos morre e canalha e corja. É com a língua que dizemos não. Com a língua
Aquiles mostrou sua cólera, com a língua a Grécia vai tumultuar os pobres cérebros humanos
para toda a eternidade! Aí está, Xantós, porque a língua é a pior de todas as coisas!
(FIGUEIREDO, Guilherme. A raposa e as uvas – peça em 3 atos. Cópia digitalizada pelo GETEB – Grupo de
Estudos e Pesquisa em Teatro Brasileiro/UFSJ)
Texto II
Em 1934, um redator de Nova York chamado Robert Pirosh largou o emprego bem
remunerado numa agência de publicidade e rumou para Hollywood, decidido a trabalhar
como roteirista. Lá chegando, anotou o nome e o endereço de todos os diretores, produtores
e executivos que conseguiu encontrar e enviou-lhes o que certamente é o pedido de emprego
mais eficaz que alguém já escreveu, pois resultou em três entrevistas, uma das quais lhe
rendeu o cargo de roteirista assistente na MGM.
Prezado senhor:
Gosto de palavras. Gosto de palavras gordas, untuosas, como lodo, torpitude,
glutinoso, bajulador. Gosto de palavras solenes, como pudico, ranzinza, pecunioso,
valetudinário. Gosto de palavras espúrias, enganosas, como mortiço, liquidar, tonsura,
mundana. Gosto de suaves palavras com “V”, como Svengali, avesso, bravura, verve. Gosto de
palavras crocantes, quebradiças, crepitantes, como estilha, croque, esbarrão, crosta. Gosto de
palavras emburradas, carrancudas, amuadas, como furtivo, macambúzio, escabioso, sovina.
Gosto de palavras chocantes, exclamativas, enfáticas, como astuto, estafante, requintado,
horrendo. Gosto de palavras elegantes, rebuscadas, como estival, peregrinação, Elísio,
Alcíone. Gosto de palavras vermiformes, contorcidas, farinhentas, como rastejar, choramingar,
guinchar, gotejar. Gosto de palavras escorregadias, risonhas, como topete, borbulhão, arroto.
Gosto mais da palavra roteirista que da palavra redator, e por isso resolvi largar meu
emprego numa agência de publicidade de Nova York e tentar a sorte em Hollywood, mas,
antes de dar o grande salto, fui para a Europa, onde passei um ano estudando, contemplando
e perambulando.
Acabei de voltar e ainda gosto de palavras.
Posso trocar algumas com o senhor?
Robert Pirosh
Madison Avenue, 385
Quarto 610
Nova York
Eldorado 5-6024.
(USHER, Shaun .(Org) Cartas extraordinárias: a correspondência inesquecível de pessoas notáveis . Trad. de
Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.p.48.)
Texto III
Janela sobre a palavra (V)
Javier Villafañe busca em vão a palavra que deixou escapar bem quando ia pronunciá-
la. Onde terá ido essa palavra, que ele tinha na ponta da língua?
Haverá algum lugar onde se juntam todas as palavras que não quiseram ficar? Um reino
das palavras perdidas? As palavras que você deixou escapar, onde estarão à sua espera?
(GALEANO, Eduardo. As palavras andantes. Porto Alegre: L&PM, 2017, p. 222)
Texto IV
Poesia
Gastei a manhã inteira pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. 8. ed. Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 45.)
Texto V
Romance das palavras aéreas e, em tão rápida existência,
/.../ tudo se forma e transforma!
Ai, palavras, ai, palavras, sois de vento, ides no vento,
que estranha potência a vossa! E quedais, com sorte nova!
ai, palavras, ai, palavras, Ai, palavras, ai, palavras,
sois de vento, ides no vento, que estranha potência a vossa!
no vento que não retorna, todo o sentido da vida
1. (AFA/2020)
Sobre os textos analisados nesta prova, é correto afirmar que
a) todos trazem em comum o tema da dificuldade de se encontrar palavras que traduzam os
sentimentos humanos.
b) o texto V aborda tanto a palavra positiva, que constrói, quanto a destrutiva, que arruína.
c) os textos IV e V corroboram a ideia de que o trabalho do poeta está à mercê das palavras
que muitas vezes não conseguem expressar o que ele deseja.
d) o texto I tematiza a dualidade no que se refere às variedades linguísticas, quer sejam sociais
ou geográficas.
2. (AFA/2020)
Assinale a alternativa INCORRETA referente ao texto “Poesia”.
a) “No entanto”, no terceiro verso, e “Mas”, no penúltimo verso, têm sentido adversativo;
reforçam a luta do poeta com as palavras.
b) No segundo verso, “que a pena não quer escrever”, a forma verbal apropriada, para o
racionalismo que o poema defende, seria “quis escrever”.
c) O poema fala da própria busca da poesia. Trata-se de um texto metalinguístico.
d) Em “inunda minha vida inteira” há um exagero verbal, que recebe o nome de hipérbole; o
exagero nasce do contentamento do eu-lírico.
3. (AFA/2020)
De acordo com o texto 1, “a Grécia foi feita com a língua, a língua dos belos gregos claros
falando para a eternidade.” Na visão de Esopo, para falar “para a eternidade” a língua deveria
a) servir para ações mais corriqueiras como comer (“comer vorazmente”, “comer com as
mãos”) e soltar “grunhidos”.
b) produzir obras capazes de “tumultuar os pobres cérebros humanos para toda a eternidade.”
c) saber que “É a língua que mente, que esconde, que tergiversa, que blasfema, que insulta
(...)”.
d) estar acima das ações menores e servir para criar, explicar, cantar, elogiar, descrever, etc. É
a língua, podemos dizer, a serviço de ações elevadas.
4. (AFA/2020)
Sobre o texto 1, é INCORRETO afirmar que
a) há elementos estruturais utilizados pelo autor no intuito de apresentar informações
pertinentes à atuação dos personagens.
b) existe a articulação de um discurso metalinguístico que ratifica a postura enaltecedora e
inflexível do autor em torno da palavra.
c) se estabelece um conflito comunicativo entre os personagens Esopo e Xantós, o que
expressa, de maneira simbólica, a versatilidade da língua.
d) se articula um jogo semântico ao longo do texto, responsável por trazer ao diálogo um grau
de imprevisibilidade, que confere criatividade à peça.
5. (AFA/2020)
Analisando a forma e o objetivo do texto 2, é correto afirmar que
a) a linguagem utilizada é acentuadamente formal, já que o remetente está em um contexto
que necessita desse tipo de tratamento.
b) para convencer o destinatário, Robert utilizou, ao longo da carta, discurso direto,
caracterizando assim um tom de proximidade e amizade com o receptor.
c) o texto é marcadamente denotativo, possibilitando ao destinatário perceber a versatilidade
linguística do remetente.
d) a carta se utiliza de elementos da função emotiva – centrada no emissor – ainda que a
intenção predominante do autor seja a função apelativa – conquistar o receptor.
6. (AFA/2020)
Assinale a alternativa que apresenta uma afirmação verdadeira sobre o contexto da carta.
a) A eficiência do pedido de emprego está menos na competência curricular do remetente do
que no uso criativo das palavras.
b) Percebe-se que o remetente despreza a carreira de redator e, por isso, busca ser roteirista.
c) Pode-se afirmar que, por meio da carta, Robert conquistou três empregos, mas optou por
trabalhar no cargo de roteirista assistente na MGM.
d) A simples leitura da carta, desvinculada do contexto apresentado, impossibilita qualquer
compreensão da mensagem.
7. (AFA/2020)
Tomando por base seus conhecimentos gramaticais, assinale a alternativa INCORRETA,
referente ao texto 2.
a) “Palavras elegantes” são as preferidas do autor; elas mostram a posição cultural de alguém
que, por ser jornalista, não pode usar palavras de cunho popular.
b) A palavra “vermiformes” é uma evidência de que um idioma é marcado por processos de
criação de novas palavras, a partir de outras já existentes na língua.
8. (AFA/2020)
Sobre o texto “Janela sobre a palavra (V)”, é correto afirmar que
a) utiliza a metalinguagem para reforçar a ideia de que a poesia só existe quando se consegue
usar a palavra certa, exata.
b) se assemelha ao texto do redator de Nova York, pois ambos são do gênero carta.
c) nele o escritor se refere às palavras que escaparam antes de serem pronunciadas; elas
estariam, talvez, em um “Reino das palavras perdidas”.
d) a expressão “na ponta da língua” equivale à expressão do trecho da peça teatral A raposa
e as uvas “é fonte de todas as intrigas”.
recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de
Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias
seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei
pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era
tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o
coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu
voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia
seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido,
enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela
me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito:
como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela
dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o
emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob
os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a
sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela
menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa,
entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato
de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com
enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a
descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de
perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das
ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você
vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo
quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "peio tempo que eu quisesse" é tudo o
que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão.
Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando
bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o
peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava
quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o
susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui
passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde
guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para
aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para
mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em
mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo,
em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
LISPECTOR, Clarice. O Primeiro Beijo. São Paulo: Ed. Ática, 1996
9. (Esc. Naval/2019)
Leia o trecho a seguir.
“A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa
mãe boa entendeu." (11°§)
Que opção destaca a sequência dos sentimentos que caracterizam a reação dessa “mãe boa",
ante o comportamento da filha?
A) Ódio e prostração.
B) Tristeza e apreensão.
C) Desonra e humilhação.
D) Estupefação e consternação.
E) Ressentimento e acabrunhamento.
catástrofes naturais, destruição de colheitas, miséria e fome; surpreso consigo mesmo, o Rei
ouvia sorrindo tais novas. Tão satisfeito ficou com o mensageiro que o nomeou seu porta–voz
oficial. Nessa importante posição, o mensageiro não tardou a granjear a simpatia e o afeto do
público. Paralelamente, crescia o ódio contra o monarca; uma rebelião popular acabou por
destituí–lo, e o antigo mensageiro foi coroado Rei. A primeira coisa que fez, ao assumir o
governo, foi mandar executar todos os candidatos a mensageiro. A começar por aqueles que
dominavam a arte de dar más notícias.
(Scliar, Moacyr. Mensagem. In: Contos reunidos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 101.)
Certa manhã uma vizinha do mesmo edifício passeava pela calçada da praia,
empurrando o seu carrinho de bebê. O olhar da moça se cruzou um instante com o de Regina,
e a moça lhe sorriu. Regina lhe deu de volta um levíssimo sorriso.
Quando a moça voltou para casa, encontrou, passada pela soleira da porta de seu
apartamento, uma folha de papel.
Era um bilhete. Que assim dizia: "Obrigada pelo sorriso. Regina."
(Lispector, Clarice. Um ser chamado Regina. In: A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999, p.321)
A criação literária? Um mistério como qualquer outro ato de criação. Ato de mistério e
de amor, outro mistério também: nunca se sabe quando se aproxima. Quando percebemos,
já estamos comprometidos até a raiz dos cabelos e a solução é ir até o fim.
Alguns dos meus contos tiveram origem numa imagem. Outros, numa simples frase que
ficou tatuada na memória, à espera do momento propício. Experimentos vanguardistas? Bem,
sei que é moda pôr em xeque a concepção da linguagem. Leio os experimentalistas, devasso-
os, corro os olhos pelos ensaios críticos e pelas complexas teorias literárias. Ouço com o
ouvido direito (que é o mais lúcido) milhares de conferências e teses nos seminários de
literatura, medito na palavra que foi posta no paredão. Dizem uns: o branco, o ausente é mais
importante do que a frase. Vêm outros e proclamam a morte da personagem. Morte total de
qualquer tipo de enredo. Novos códigos. Signos. Medito sobre tudo isso, anoto, analiso
experiências e pesquisas porque também sou atraída pelo canto da sereia experimentalista,
buscando nela um provável instrumental que me estimule no aperfeiçoamento de minha
escritura, para usar um termo atual.
Mas a verdade é que quando me sento para escrever, na solidão e em silêncio, tudo
quanto é fórmula, cálculo, modelos estruturalistas - tudo é posto de lado. Esqueço. Estendo
minhas antenas e como um inseto subindo pelo áspero casco de uma árvore faço minha
escolha e sigo meu caminho. É difícil. É duro. Mas já optei. Carrego comigo a alegria dessa
opção. A função do escritor? Escrever por aqueles que não podem escrever. Falar por aqueles
que muitas vezes esperam ouvir da nossa boca a palavra que gostariam de dizer. Comunicar-
se com o próximo e se possível, mesmo através de soluções ambíguas, ajudá-los no seu
sofrimento e na sua esperança. Isso requer amor - o amor e a piedade que o escritor deve ter
no seu coração.
(TELLES, Lygia Fagundes. O jardim selvagem)
D) a pureza.
E) o não realce.
Lista 02 – Gabarito
1. B 7. A 13. B
2. B 8. C 14. C
3. D 9. D 15. A
4. B 10. C 16. C
5. D 11. E 17. E
6. C 12. B 18. D
(Entra Esopo, com um prato que coloca sobre a mesa. Está coberto com um pano. Xantós e
Agnostos se dirigem para a mesa, o primeiro faz ao segundo um sinal para sentarem-se.)
XANTÓS (Descobrindo o prato) – Ah, língua! (Começa a comer com as mãos, e faz um sinal
para que Melita sirva Agnostos. Este também começa a comer vorazmente, dando grunhidos
de satisfação.) Fizeste bem em trazer língua, Esopo. É realmente uma das melhores coisas do
mundo. (Sinal para que sirvam o vinho. Esopo serve, Xantós bebe.) Vês, estrangeiro, de
qualquer modo é bom possuir riquezas. Não gostas de saborear esta língua e este vinho?
AGNOSTOS (A boca entupida, comendo) – Hum.
XANTÓS – Outro prato, Esopo. (Esopo sai à esquerda e volta imediatamente com outro prato
coberto. Serve, Xantós de boca cheia.) Que é isto? Ah, língua de fumeiro! É bom língua de
fumeiro, hein, amigo?
AGNOSTOS – Hum. (Xantós serve-se de vinho) /.../
XANTÓS (A Esopo) Serve outro prato. (Serve) Que trazes aí?
ESOPO – Língua.
XANTÓS – Mais língua? Não te disse que trouxesse o que há de melhor para meu hóspede?
Por que só trazes língua? Queres expor-me ao ridículo?
ESOPO – Que há de melhor do que a língua? A língua é o que nos une todos, quando falamos.
Sem a língua nada poderíamos dizer. A língua é a chave das ciências, o órgão da verdade e
da razão. Graças à língua dizemos o nosso amor. Com a língua se ensina, se persuade, se
instrui, se reza, se explica, se canta, se descreve, se elogia, se mostra, se afirma. É com a língua
que dizemos sim. É a língua que ordena os exércitos à vitória, é a língua que desdobra os
versos de Homero. A língua cria o mundo de Ésquilo, a palavra de Demóstenes. Toda a Grécia,
Xantós, das colunas do Partenon às estátuas de Pidias, dos deuses do Olimpo à glória sobre
Tróia, da ode do poeta ao ensinamento do filósofo, toda a Grécia foi feita com a língua, a
língua de belos gregos claros falando para a eternidade.
XANTÓS (Levantando-se, entusiasmado, já meio ébrio) – Bravo, Esopo. Realmente, tu nos
trouxeste o que há de melhor. (Toma outro saco da cintura e atira-o ao escravo) Vai agora ao
mercado, e traze-nos o que houver de pior, pois quero ver a sua sabedoria! (Esopo retira-se à
frente com o saco, Xantós fala a Agnostos.) Então, não é útil e bom possuir um escravo assim?
AGNOSTOS (A boca cheia) – Hum. /.../
(Entra Esopo com prato coberto)
XANTÓS – Agora que já sabemos o que há de melhor na terra, vejamos o que há de pior na
opinião deste horrendo escravo! Língua, ainda? Mais língua? Não disseste que língua era o
que havia de melhor? Queres ser espancado?
ESOPO – A língua, senhor, é o que há de pior no mundo. É a fonte de todas as intrigas, o início
de todos os processos, a mãe de todas as discussões. É a língua que usam os maus poetas
que nos fatigam na praça, é a língua que usam os filósofos que não sabem pensar. É a língua
que mente, que esconde, que tergiversa, que blasfema, que insulta, que se acovarda, que se
mendiga, que impreca, que bajula, que destrói, que calunia, que vende, que seduz, é com a
língua que dizemos morre e canalha e corja. É com a língua que dizemos não. Com a língua
Aquiles mostrou sua cólera, com a língua a Grécia vai tumultuar os pobres cérebros humanos
para toda a eternidade! Aí está, Xantós, porque a língua é a pior de todas as coisas!
(FIGUEIREDO, Guilherme. A raposa e as uvas – peça em 3 atos. Cópia digitalizada pelo GETEB – Grupo de
Estudos e Pesquisa em Teatro Brasileiro/UFSJ)
Texto II
Em 1934, um redator de Nova York chamado Robert Pirosh largou o emprego bem
remunerado numa agência de publicidade e rumou para Hollywood, decidido a trabalhar
como roteirista. Lá chegando, anotou o nome e o endereço de todos os diretores, produtores
e executivos que conseguiu encontrar e enviou-lhes o que certamente é o pedido de emprego
mais eficaz que alguém já escreveu, pois resultou em três entrevistas, uma das quais lhe
rendeu o cargo de roteirista assistente na MGM.
Prezado senhor:
Gosto de palavras. Gosto de palavras gordas, untuosas, como lodo, torpitude,
glutinoso, bajulador. Gosto de palavras solenes, como pudico, ranzinza, pecunioso,
valetudinário. Gosto de palavras espúrias, enganosas, como mortiço, liquidar, tonsura,
mundana. Gosto de suaves palavras com “V”, como Svengali, avesso, bravura, verve. Gosto de
palavras crocantes, quebradiças, crepitantes, como estilha, croque, esbarrão, crosta. Gosto de
palavras emburradas, carrancudas, amuadas, como furtivo, macambúzio, escabioso, sovina.
Gosto de palavras chocantes, exclamativas, enfáticas, como astuto, estafante, requintado,
horrendo. Gosto de palavras elegantes, rebuscadas, como estival, peregrinação, Elísio,
Alcíone. Gosto de palavras vermiformes, contorcidas, farinhentas, como rastejar, choramingar,
guinchar, gotejar. Gosto de palavras escorregadias, risonhas, como topete, borbulhão, arroto.
Gosto mais da palavra roteirista que da palavra redator, e por isso resolvi largar meu
emprego numa agência de publicidade de Nova York e tentar a sorte em Hollywood, mas,
antes de dar o grande salto, fui para a Europa, onde passei um ano estudando, contemplando
e perambulando.
Acabei de voltar e ainda gosto de palavras.
Posso trocar algumas com o senhor?
Robert Pirosh
Madison Avenue, 385
Quarto 610
Nova York
Eldorado 5-6024.
(USHER, Shaun .(Org) Cartas extraordinárias: a correspondência inesquecível de pessoas notáveis . Trad. de
Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.p.48.)
Texto III
Janela sobre a palavra (V)
Javier Villafañe busca em vão a palavra que deixou escapar bem quando ia pronunciá-
la. Onde terá ido essa palavra, que ele tinha na ponta da língua?
Haverá algum lugar onde se juntam todas as palavras que não quiseram ficar? Um reino
das palavras perdidas? As palavras que você deixou escapar, onde estarão à sua espera?
(GALEANO, Eduardo. As palavras andantes. Porto Alegre: L&PM, 2017, p. 222)
Texto IV
Poesia
Gastei a manhã inteira pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. 8. ed. Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 45.)
Texto V
Romance das palavras aéreas
/.../
Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência a vossa!
que estranha potência a vossa! todo o sentido da vida
ai, palavras, ai, palavras, principia à vossa porta;
sois de vento, ides no vento, o mel do amor cristaliza
no vento que não retorna, seu perfume em vossa rosa;
e, em tão rápida existência, sois o sonho e sois a audácia,
tudo se forma e transforma! calúnia, fúria, derrota...
sois de vento, ides no vento, /.../
E quedais, com sorte nova! frágil, frágil como o vidro
Ai, palavras, ai, palavras, e mais que o aço poderosa!
(MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Global, 2015.p.150-152.)
1. (AFA/2020)
Sobre os textos analisados nesta prova, é correto afirmar que
a) todos trazem em comum o tema da dificuldade de se encontrar palavras que traduzam os
sentimentos humanos.
b) o texto V aborda tanto a palavra positiva, que constrói, quanto a destrutiva, que arruína.
c) os textos IV e V corroboram a ideia de que o trabalho do poeta está à mercê das palavras
que muitas vezes não conseguem expressar o que ele deseja.
d) o texto I tematiza a dualidade no que se refere às variedades linguísticas, quer sejam sociais
ou geográficas.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois o tema comum a todos os textos é a metalinguagem,
ou seja, a discussão sobre a própria língua.
A alternativa B está incorreta, pois a “estranha potência” da palavra está justamente em
poder tanto construir quanto destruir.
A alternativa C está correta, pois a questão para o texto V não é a falta de expressão do
poeta, mas a força das palavras e suas potencialidades
A alternativa D está incorreta, pois no texto I não há discussão sobre variantes. Há uma
brincadeira com a polissemia da palavra “língua”.
Gabarito: B
2. (AFA/2020)
Assinale a alternativa INCORRETA referente ao texto “Poesia”.
a) “No entanto”, no terceiro verso, e “Mas”, no penúltimo verso, têm sentido adversativo;
reforçam a luta do poeta com as palavras.
b) No segundo verso, “que a pena não quer escrever”, a forma verbal apropriada, para o
racionalismo que o poema defende, seria “quis escrever”.
c) O poema fala da própria busca da poesia. Trata-se de um texto metalinguístico.
d) Em “inunda minha vida inteira” há um exagero verbal, que recebe o nome de hipérbole; o
exagero nasce do contentamento do eu-lírico.
Comentários:
A alternativa A está correta, pois em ambas as construções destacadas há uma relação
de oposição entre o poeta e as palavras.
A alternativa B está incorreta, pois o tempo verbal escolhido está correto. A escolha do
autor indica que a pena não querer escrever é um problema persistente, não algo que ocorreu
de modo pontual.
A alternativa C está correta, pois o tema do texto é a dificuldade em por em palavras
aquilo que está dentro do poeta. É, portanto, um texto metalinguístico.
A alternativa D está correta, pois há aqui um uso de expressão exagerada, hiperbólica.
Gabarito: B
3. (AFA/2020)
De acordo com o texto 1, “a Grécia foi feita com a língua, a língua dos belos gregos claros
falando para a eternidade.” Na visão de Esopo, para falar “para a eternidade” a língua deveria
a) servir para ações mais corriqueiras como comer (“comer vorazmente”, “comer com as
mãos”) e soltar “grunhidos”.
b) produzir obras capazes de “tumultuar os pobres cérebros humanos para toda a eternidade.”
c) saber que “É a língua que mente, que esconde, que tergiversa, que blasfema, que insulta
(...)”.
d) estar acima das ações menores e servir para criar, explicar, cantar, elogiar, descrever, etc. É
a língua, podemos dizer, a serviço de ações elevadas.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois questões corriqueiras são o oposto de questões de
eternidade.
A alternativa B está incorreta, pois as confusões que a língua causa não são sempre
vistas de maneira positiva, quebrando com a ideia de eternidade exposta aqui.
A alternativa C está incorreta, pois aqui se ressaltam apenas pontos negativos da língua.
A alternativa D está correta, pois por meio de ações elevadas, a língua tornou-e um
caminho para eternizar os discursos dos gregos.
Gabarito: D
4. (AFA/2020)
Sobre o texto 1, é INCORRETO afirmar que
a) há elementos estruturais utilizados pelo autor no intuito de apresentar informações
pertinentes à atuação dos personagens.
b) existe a articulação de um discurso metalinguístico que ratifica a postura enaltecedora e
inflexível do autor em torno da palavra.
c) se estabelece um conflito comunicativo entre os personagens Esopo e Xantós, o que
expressa, de maneira simbólica, a versatilidade da língua.
d) se articula um jogo semântico ao longo do texto, responsável por trazer ao diálogo um grau
de imprevisibilidade, que confere criatividade à peça.
Comentários:
A alternativa A está correta, pois textos dramáticos apresentam indicação cênica,
conhecidas como rubricas ou didascálias.
A alternativa B está incorreta, pois o autor apresenta tanto pontos positivos quanto
negativos para a língua, não apenas a enaltece.
A alternativa C está correta, pois a polissemia da palavra “língua” é responsável por criar
o efeito de humor, trazendo a partir da associação com o alimento “língua” os pontos positivos
e negativos da palavra, linguagem.
A alternativa D está correta, pois ao usar diferentes significados para “língua”, o autor
traz humor e doses de inesperado.
Gabarito: B
5. (AFA/2020)
Analisando a forma e o objetivo do texto 2, é correto afirmar que
a) a linguagem utilizada é acentuadamente formal, já que o remetente está em um contexto
que necessita desse tipo de tratamento.
b) para convencer o destinatário, Robert utilizou, ao longo da carta, discurso direto,
caracterizando assim um tom de proximidade e amizade com o receptor.
c) o texto é marcadamente denotativo, possibilitando ao destinatário perceber a versatilidade
linguística do remetente.
d) a carta se utiliza de elementos da função emotiva – centrada no emissor – ainda que a
intenção predominante do autor seja a função apelativa – conquistar o receptor.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois no contexto do roteirista, seria possível escrever de
maneira informal. Ele não o faz para mostrar seu domínio pelas palavras;
A alternativa B está incorreta, pois a interlocução é típica do gênero carta. Não tem a
ver com o grau de proximidade dos envolvidos.
A alternativa C está incorreta, pois o texto é conotativo, já que usa as palavras de
maneira poética.
A alternativa D está correta, pois a intenção da carta é convencer aquele que a receber
a dar um emprego para o autor.
Gabarito: D
6. (AFA/2020)
Assinale a alternativa que apresenta uma afirmação verdadeira sobre o contexto da carta.
a) A eficiência do pedido de emprego está menos na competência curricular do remetente do
que no uso criativo das palavras.
b) Percebe-se que o remetente despreza a carreira de redator e, por isso, busca ser roteirista.
c) Pode-se afirmar que, por meio da carta, Robert conquistou três empregos, mas optou por
trabalhar no cargo de roteirista assistente na MGM.
d) A simples leitura da carta, desvinculada do contexto apresentado, impossibilita qualquer
compreensão da mensagem.
Comentários:
A alternativa A está correta, pois a eficiência no pedido de emprego está em fazer um
uso inovado das palavras, quebrando expectativas sobre como um currículo deveria ser.
A alternativa B está incorreta, pois o remetente não despreza a carreira de redator,
apenas decidiu tornar-se roteirista.
A alternativa C está incorreta, pois o enunciado aponta que ele conseguiu três
entrevistas, não empregos.
A alternativa D está incorreta, pois não seria preciso o enunciado para entender que o
autor da carta procurava um emprego como roteirista de maneira inovadora.
Gabarito: C
7. (AFA/2020)
Tomando por base seus conhecimentos gramaticais, assinale a alternativa INCORRETA,
referente ao texto 2.
a) “Palavras elegantes” são as preferidas do autor; elas mostram a posição cultural de alguém
que, por ser jornalista, não pode usar palavras de cunho popular.
b) A palavra “vermiformes” é uma evidência de que um idioma é marcado por processos de
criação de novas palavras, a partir de outras já existentes na língua.
c) Em “Posso trocar algumas [palavras] com o senhor?”, o sentido é dialogar, conversar.
Equivaleria à expressão “Ter um dedo de prosa com alguém”.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois na redação da carta o autor mostra sua habilidade em
escrever com palavras de diferentes origens, mais ou menos eruditas.
A alternativa B está correta, pois a palavra “vermiforme” é composta por dois radicais latinos:
verm(i)- (verme) e formi (forma), que dão origem isoladamente a palavras diferentes (ex.:
vermífugo, verme; formato, formar).
A alternativa C está correta, pois o autor faz uso de uma expressão figurada usando “palavra”
para seguir sua linha de raciocínio e pedir uma conversa ao mesmo tempo.
A alternativa D está correta, pois a repetição de palavras intensifica o objetivo de mostrar seu
gosto pelas palavras.
Gabarito: A
8. (AFA/2020)
Sobre o texto “Janela sobre a palavra (V)”, é correto afirmar que
a) utiliza a metalinguagem para reforçar a ideia de que a poesia só existe quando se consegue
usar a palavra certa, exata.
b) se assemelha ao texto do redator de Nova York, pois ambos são do gênero carta.
c) nele o escritor se refere às palavras que escaparam antes de serem pronunciadas; elas
estariam, talvez, em um “Reino das palavras perdidas”.
d) a expressão “na ponta da língua” equivale à expressão do trecho da peça teatral A raposa
e as uvas “é fonte de todas as intrigas”.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois segundo o texto, não encontrar a palavra correta
também pode ser uma forma de fazer poesia.
A alternativa B está incorreta, pois o texto de Galeano é um texto literário em prosa, não
é uma carta.
A alternativa C está correta, pois nesse texto, o autor questiona o destino das palavras
perdidas, e sugere um destino para elas, que seria o reino onde elas se instala.
A alternativa D está incorreta, pois “na ponta da língua” equivale a algo que estava em
vias de ser dito; “fonte de todas as intrigas” a um mau emprego das palavras.
Gabarito: C
Texto para as próximas questões
TEXTO 01
Felicidade clandestina
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados.
Tinha um busto enorme; enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse,
enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer
criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um
livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima
era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas.
Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade".
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas
com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente
bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu
sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia:
continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura
chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía “As reinações de Narizinho’’, de
Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-
o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse peia sua
casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu
nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado
como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me
que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo.
Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu
recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de
Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias
seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei
pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era
tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o
coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu
voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia
seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido,
enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela
me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito:
como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela
dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o
emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob
os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a
sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela
menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa,
entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato
de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com
enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
AULA 08 – Interpretação de Texto II
100
Prof. Wagner Santos
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a
descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de
perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das
ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você
vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo
quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "peio tempo que eu quisesse" é tudo o
que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão.
Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando
bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o
peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava
quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o
susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui
passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde
guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para
aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para
mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em
mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo,
em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
LISPECTOR, Clarice. O Primeiro Beijo. São Paulo: Ed. Ática, 1996
9. (Esc. Naval/2019)
Leia o trecho a seguir.
“A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa
mãe boa entendeu." (11°§)
Que opção destaca a sequência dos sentimentos que caracterizam a reação dessa “mãe boa",
ante o comportamento da filha?
A) Ódio e prostração.
B) Tristeza e apreensão.
C) Desonra e humilhação.
D) Estupefação e consternação.
E) Ressentimento e acabrunhamento.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois a mão não ficou imóvel (prostração) depois da
descoberta. Ela tomou uma atitude.
A alternativa B está incorreta, pois a mãe não se mostrou apreensiva, tampouco triste.
Ela se surpreendeu e repreendeu a filha.
AULA 08 – Interpretação de Texto II
101
Prof. Wagner Santos
A alternativa C está incorreta, pois não há uma noção de honra nem de humilhação
envolvida. Ela se surpreende com o que a filha fez e a repreende.
A alternativa D está correta, pois logo após o trecho em destaque lemos que a mãe teve
a seguinte reação: “E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia
ser a descoberta horrorizada da filha que tinha”. Pode-se dizer, assim, que a mãe se
surpreende negativamente com a atitude da filha. As palavras “estupefação e consternação”
se encaixam bem.
A alternativa E está incorreta, pois a mãe não fica envergonhada, acabrunhada. Ela age
de modo firme.
Gabarito: D
10. (Esc. Naval – 2019)
Leia o trecho a seguir.
“Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A
felicidade sempre iria ser clandestina para mim.” (14°§)
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois não há uma noção de frustração aqui, mas da
percepção de que a felicidade era sempre algo passageiro em sua vida. Os livros viriam a ser
muito presentes em sua vida.
A alternativa B está incorreta, pois esse termo se refere à relação da autora com
momentos de felicidade, não com a menina que não emprestava livros.
A alternativa C está correta, pois a noção da palavra “clandestina” aqui está ligada à
ideia de algo à parte da legalidade, como se fosse um segredo ou algo passageiro, que não
pudesse ser seu verdadeiramente. Assim como o livro emprestado não era verdadeiramente
seu, também a felicidade seria uma condição frágil na sua vida.
A alternativa D está incorreta, pois não é a dificuldade financeira que tornará a autora
alguém que sente que a felicidade não lhe pertence verdadeiramente.
A alternativa E está incorreta, pois a mãe já autorizara o empréstimo, logo, não é algo
ilícito verdadeiramente.
Gabarito: C
Texto para as próximas questões
TEXTO III
O Rei mandava cortar a cabeça dos mensageiros que lhe davam más notícias. Dessa
forma, um processo de seleção natural se estabeleceu: os inábeis foram sendo
progressivamente eliminados, até que restou apenas um mensageiro no país. Tratava–se,
como é fácil de imaginar, de um homem que dominava espantosamente bem a arte de dar
más notícias. Seu filho morreu, dizia a uma mãe, e a mulher punha–se a entoar cânticos de
júbilo: Aleluia, Senhor! Sua casa incendiou, dizia a um viúvo, e este prorrompia em aplausos
frenéticos. Ao Rei, o mensageiro anunciou sucessivas derrotas militares, epidemias de peste,
catástrofes naturais, destruição de colheitas, miséria e fome; surpreso consigo mesmo, o Rei
ouvia sorrindo tais novas. Tão satisfeito ficou com o mensageiro que o nomeou seu porta–voz
oficial. Nessa importante posição, o mensageiro não tardou a granjear a simpatia e o afeto do
público. Paralelamente, crescia o ódio contra o monarca; uma rebelião popular acabou por
destituí–lo, e o antigo mensageiro foi coroado Rei. A primeira coisa que fez, ao assumir o
governo, foi mandar executar todos os candidatos a mensageiro. A começar por aqueles que
dominavam a arte de dar más notícias.
(Scliar, Moacyr. Mensagem. In: Contos reunidos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 101.)
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois não se pode dizer que o mensageiro agiu de acordo
com a norma. Ele tinha um modo específico de dar notícias.
A alternativa B está incorreta, pois não há aqui a noção de que o mensageiro não
tomasse atitudes – tanto que ele ascendeu ao trono.
A alternativa C está incorreta, pois não há a noção de amigos ou inimigos, mas uma
diferença entre quem sabe ou não usar a oratória. Se o mensageiro fosse amigo, não teria
golpeado o rei.
A alternativa D está incorreta, pois o mensageiro tem que elaborar bem suas falas, não
há a ideia de concisão aqui.
A alternativa E está correta, pois o antigo mensageiro, agora rei, com medo de que
outro igual a ele pudesse chegar e roubar-lhe o trono – como ele mesmo fizera com o antigo
rei – manda matar todos os mensageiros, a começar por aqueles que eram como ele. Assim,
previne possíveis tentativas de golpes contra ele.
Gabarito: E
12. (Esc. Naval/2011)
Em que opção há uma intertextualidade explícita?
A) "[...] o mensageiro anunciou sucessivas derrotas militares, epidemias de peste, catástrofes
naturais, [...]"
B) "[...] e a mulher punha-se a entoar cânticos de júbilo: Aleluia, Senhor! [...] ."
C) "[...] um processo de seleção natural se estabeleceu: os inábeis foram sendo
progressivamente eliminados, [...]"
D) "[...] o mensageiro não tardou a granjear a simpatia e o afeto do público."
E) "[...] ao assumir o governo, foi mandar executar todos os candidatos [...] ."
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois aqui vemos o que o mensageiro falou, mas não há
referência extratextual.
A alternativa B está correta, pois aqui há uma intertextualidade com um cântico religioso
expresso pela frase “Aleluia, Senhor!”.
A alternativa C está incorreta, pois ainda que “processo de seleção natural” seja uma
teoria de Charles Darwin, não se pode dizer que seja uma intertextualidade explícita com sua
teoria.
A alternativa D está incorreta, pois aqui não há nenhuma referência extratextual.
A alternativa E está incorreta, pois ainda que essa seja uma prática comum entre
poderosos, aqui não há nenhuma referência extratextual.
Gabarito: B
Texto para as próximas questões
TEXTO II
Regina tem 82 anos de idade, e mora sozinha no seu minúsculo apartamento. Ninguém
a chama de Dona Regina, nem crianças, nem adultos nem velhos: é Regina mesmo. Vai
diariamente à beira da praia, e num banco se senta para tomar sol e ar livre. Apesar de ser um
passarinho tem dias que acorda de mau humor. Um dia desses estava sentada no banco e
Alfredo, um menino amigo dela, convidou–a: "Regina, vamos brincar? " Não respondeu. O
menino repetiu o convite. Então ela, com a voz débil de quem ainda não falou com ninguém
naquele dia, resmungou qualquer coisa bem baixinho. Alfredo virou–se para a mãe, que estava
perto, e disse, desolado: "Mamãe, Regina hoje está com as pilhas fracas! "
De vez em quando Regina escreve numa folha de papel alguma coisa, sem intuito de
divulgação ou laivos de publicação. Mantém um diário.
Certa manhã uma vizinha do mesmo edifício passeava pela calçada da praia,
empurrando o seu carrinho de bebê. O olhar da moça se cruzou um instante com o de Regina,
e a moça lhe sorriu. Regina lhe deu de volta um levíssimo sorriso.
Quando a moça voltou para casa, encontrou, passada pela soleira da porta de seu
apartamento, uma folha de papel.
Era um bilhete. Que assim dizia: "Obrigada pelo sorriso. Regina."
(Lispector, Clarice. Um ser chamado Regina. In: A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999, p. 321)
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois ela não é descrita como alguém frágil.
A alternativa B está correta, pois essa passagem aparece logo depois de uma referência
a Regina acordar de mau humor às vezes. Naquele dia, ela acordou assim e não queria
conversa. Logo, sua resposta ao menino não foi mais que um murmuro, um suspiro.
A alternativa C está incorreta, pois ela não é sempre sem ânimo. O texto indica que às
vezes ela acorda assim.
A alternativa D está incorreta, pois ela não é descrita como alguém irritada ou
preconceituosa.
A alternativa E está incorreta, pois não há no texto a ideia de que ela tivesse um humor
oscilante, apenas que às vezes acordava de mau humor, como todo mundo.
Gabarito: B
14. (Esc. Naval/2011)
Que afirmativa encontra respaldo no texto?
A) Clarice Lispector utiliza o recurso da persuasão para sensibilizar o interlocutor.
B) A interlocução chama a atenção para os personagens exóticos do dia a dia.
C) A narrativa ressalta a importância da afetividade nas relações com o próximo.
D) O conto salienta a necessidade de se cuidar das pessoas mais velhas.
E) O texto apresenta uma linguagem polissêmica que facilita a identificação do tema.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois não há aqui uso de persuasão. A autora relata casos
da vida das personagens.
A alternativa B está incorreta, pois não são personagens exóticos, mas pessoas comuns,
cotidianas.
A alternativa C está correta, pois o texto mostra uma senhora sozinha que, mesmo assim,
recebe afetividade de outras pessoas. Ela termina o texto agradecendo por essa afetividade
recebida.
A alternativa D está incorreta, pois o foco do texto não é pensar no cuidado dos mais
velhos – Regina vive sozinha e independente, inclusive. É um texto sobre afetividades.
A alternativa E está incorreta, pois não se pode dizer que a polissemia seja um traço
marcante aqui.
Gabarito: C
Texto para as próximas questões
Na minha infância tinha muito verde e os frutos eram colhidos antes de amadurecer.
Nela conheci Deus, nela conheci o Diabo e a ambos temia nas noites das histórias de
assombração contadas pela Maricota. Nunca pude esquecer essa pajem, cuja imaginação
abriu aos meus olhos todo um reino mágico que me atraía e me apavorava com a mesma
violência. Com a mesma força. Nosso assunto noturno eram as almas-penadas que
perambulavam sobre os telhados do casario de Sertãozinho, chão da minha meninice. Foram
essas almas as minhas primeiras personagens, de mistura com jovens pálidas que vomitavam
sangue, usavam violetas no cabelo e dormiam com gelo escondido no peito porque o amado
não correspondia: todas morriam de amor. Quando soube que duas das minhas antigas
tiazinhas tinham morrido do mesmo mal, comecei a achar que minhas histórias da
adolescência não eram assim tão originais. Contudo, continuei romântica, uma romântica
amoitada por defesa. Pudor.
A criação literária? Um mistério como qualquer outro ato de criação. Ato de mistério e
de amor, outro mistério também: nunca se sabe quando se aproxima. Quando percebemos,
já estamos comprometidos até a raiz dos cabelos e a solução é ir até o fim.
Alguns dos meus contos tiveram origem numa imagem. Outros, numa simples frase que
ficou tatuada na memória, à espera do momento propício. Experimentos vanguardistas? Bem,
sei que é moda pôr em xeque a concepção da linguagem. Leio os experimentalistas, devasso-
os, corro os olhos pelos ensaios críticos e pelas complexas teorias literárias. Ouço com o
ouvido direito (que é o mais lúcido) milhares de conferências e teses nos seminários de
literatura, medito na palavra que foi posta no paredão. Dizem uns: o branco, o ausente é mais
importante do que a frase. Vêm outros e proclamam a morte da personagem. Morte total de
qualquer tipo de enredo. Novos códigos. Signos. Medito sobre tudo isso, anoto, analiso
experiências e pesquisas porque também sou atraída pelo canto da sereia experimentalista,
buscando nela um provável instrumental que me estimule no aperfeiçoamento de minha
escritura, para usar um termo atual.
Mas a verdade é que quando me sento para escrever, na solidão e em silêncio, tudo
quanto é fórmula, cálculo, modelos estruturalistas - tudo é posto de lado. Esqueço. Estendo
minhas antenas e como um inseto subindo pelo áspero casco de uma árvore faço minha
escolha e sigo meu caminho. É difícil. É duro. Mas já optei. Carrego comigo a alegria dessa
opção. A função do escritor? Escrever por aqueles que não podem escrever. Falar por aqueles
que muitas vezes esperam ouvir da nossa boca a palavra que gostariam de dizer. Comunicar-
se com o próximo e se possível, mesmo através de soluções ambíguas, ajudá-los no seu
sofrimento e na sua esperança. Isso requer amor - o amor e a piedade que o escritor deve ter
no seu coração.
(TELLES, Lygia Fagundes. O jardim selvagem)
Comentários:
A alternativa A está correta, pois “amoitada”, aqui indica uma ideia metafórica de estar
escondida, “atrás da moita”. Ao se identificar assim, a autora se coloca num lugar de sonhadora
escondida, ou seja, ainda tem sonhos românticos, idealizações, mas esconde isso.
A alternativa B está incorreta, pois a expressão “até a raiz do cabelo” significa algo
profundo. A ideia é que estamos comprometidos até o fim, profundamente.
A alternativa C está incorreta, pois a expressão “posta no paredão” significa algo que
foi colocado numa situação e análise, crítica profunda.
A alternativa D está incorreta, pois a expressão “Estendo minhas antenas” significa
prestar muita atenção a algo, ficar atento, não necessariamente compreender.
A alternativa E está incorreta, pois a expressão “pôr em xeque” significa discutir,
questionar, não necessariamente ter um pensamento que discorda da maioria.
Gabarito: A
16. (Esc. Naval/2009)
"Dizem uns: o branco, o ausente é mais importante do que a frase." (3° § ) . Logo, o mais
importante é
A) o não saber.
B) a correção.
C) o não dito.
D) a pureza.
E) o não realce.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois a questão aqui não se a autora sabe ou não a
informação, mas a noção de que o que não foi escrito é importante também.
A alternativa B está incorreta, pois não se fala aqui em corrigir algo, mas em
propositalmente não escrever algo.
A alternativa C está correta, pois “o branco” nesse caso indica algo que não é dito. Isso
fica claro pela palavra “ausente” logo depois.
A alternativa D está incorreta, pois não se fala aqui sobre pureza de linguagem, mas
sobre escolhas do que deve ou não estar presente no texto.
A alternativa E está incorreta, pois aqui não se fala sobre o que e destaca ou não em um
texto, mas sobre o que se decide escrever.
Gabarito: C
17. (Esc. Naval/2009)
Em que opção a seleção vocabular deixa transparecer uma crítica?
A) "Contudo, continuei romântica, uma romântica amoitada por defesa."(1°§ )
B) "Alguns dos meus contos tiveram origem numa imagem." (3°§ )
C) "Dizem uns: o branco, o ausente é mais importante do que a frase."(3°§ )
D) "[ ...] jovens pálidas que vomitavam sangue, usavam violetas no cabelo..." (1°§)
E) " (. . . ] porque também sou atraída pelo canto da sereia experimentalista, [ . . . ] ." (3°§ )
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois aqui há apenas uma descrição de como a autora se
comporta ou se sente.
A alternativa B está incorreta, pois aqui há um relato de processo criativo, não uma
crítica.
A alternativa C está incorreta, pois aqui há uma análise do que se fala sobre a escrita,
porém não uma crítica.
A alternativa D está incorreta, pois ainda que essa seja uma imagem forte criada, não se
pode dizer que ela produza nenhum tipo de crítica.
A alternativa E está correta, pois a ideia da expressão “canto da sereia” denota algo que
é negativo, que atrai as pessoas para a morte. Assim, a atração pela experimentação da
linguagem é dita como algo negativo, que pode “levar à morte” metaforicamente.
Gabarito: E
18. (Esc. Naval/2009)
No processo criativo da autora, alguns contos tiveram origem "numa simples frase que ficou
tatuada na memória" (3°§ ) , porque
A) escrever bem é escrever com simplicidade, com pureza infantil.
B) não se esquece o que se ouve, seja na infância, seja na fase adulta.
AULA 08 – Interpretação de Texto II
108
Prof. Wagner Santos
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois a memória não remete necessariamente à infância.
Pode remeter a outros momentos da vida.
A alternativa B está incorreta, pois nem tudo se torna uma marca tatuada na memória.
Apenas algumas coisas mais marcantes.
A alternativa C está incorreta, pois esse é um processo pessoal da autora. Não quer
dizer que ela pregue ser o único possível.
A alternativa D está correta, pois a autora conta que em alguns contos, memórias,
reminiscências do passado, podem acabar sendo resgatadas. Ao falar que algo ficou “tatuado
na memória” a autora indica que algumas coisas geram marcas indeléveis, ou seja, que não
podem ser apagadas.
A alternativa E está incorreta, pois algumas memórias, independente de quando
ocorreram, ficam marcadas para sempre, logo, pode-se acreditar nelas.
Gabarito: D
2. (Estratégia Militares/2020)
A UM AUSENTE
(Carlos Drummond de Andrade)
Tenho razão de sentir saudade, o ato que não ousamos nem sabemos ousar
tenho razão de te acusar. porque depois dele não há nada?
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora. Tenho razão para sentir saudade de ti,
Detonaste o pacto. de nossa convivência em falas camaradas,
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência simples apertar de mãos, nem isso, voz
de viver e explorar os rumos de obscuridade modulando sílabas conhecidas e banais
sem prazo sem consulta sem provocação que eram sempre certeza e segurança.
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Sim, tenho saudades.
Antecipaste a hora. Sim, acuso-te porque fizeste
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas o não previsto nas leis da amizade e da natureza
horas. nem nos deixaste sequer o direito de indagar
Que poderias ter feito de mais grave porque o fizeste, porque te foste.
do que o ato sem continuação, o ato em si,
escondida bem no couro cabeludo dela. Pensamos que fosse carrapato. A mãe cochilava e
uma de minhas irmãs, aflita, querendo livrar a boneca-mãe daquele padecer, puxou rápido o
bichinho. A mãe e nós rimos e rimos e rimos de nosso engano. A mãe riu tanto, das lágrimas
escorrerem. Mas de que cor eram os olhos dela?
Conceição Evaristo. Olhos d’água.
4. (Estratégia Militares/2020)
Assinale a afirmação correta a respeito do texto.
a) A autora se culpa por ter conhecido muito pouco a mãe.
b) A infância abastada (rica) afastou as filhas da mãe ocupada.
c) As irmãs da narradora certamente sabiam a cor dos olhos da mãe.
d) A autora teve bons momentos com a mãe, mas ainda assim se culpa.
5. (Estratégia Militares/2020)
Ainda sobre o texto, encontra-se uma passagem de humor quando
a) a irmã da narradora tenta tirar a verruga da mãe pensando ser um carrapato.
b) a narradora percebe que não sabe a cor dos olhos da mãe e se desespera.
c) a mãe da narradora dorme enquanto as meninas brincam com seu cabelo.
d) a narradora acorda e consegue compreender que está em um quarto novo.
6. (Estratégia Militares/2020)
As perguntas no texto de Conceição devem ser entendidas como
a) retóricas.
b) argumentativas.
c) explicativas.
d) incoerentes.
7. (Estratégia Militares/2020)
Leia atentamente o texto e assinale a alternativa que apresenta apenas a(s) afirmação(ões)
correta(s)
I. O texto é narrado por uma personagem aparentemente de pouca idade e retrata o modo
como ele via sua mãe na época da infância.
II. Vê-se no texto as dificuldades pelas quais passam as crianças em situações em que os pais
têm alguma doença grave.
III. O trecho do conto tem caráter descritivo, apontando características da mãe do narrador
em diferentes situações.
a) I e II são corretas.
b) I e III são corretas.
c) II e III são corretas.
d) Apenas I é correta.
e) Apenas III é correta.
8. (Estratégia Militares/2020)
De acordo com o texto, só não se pode presumir que
a) a personagem descrita é alguém de comportamento instável, que não é capaz de ligar-se
emocionalmente aos filhos em nenhuma circunstância.
b) a mãe da personagem central, uma antiga atriz de sucesso, se irrita com a possibilidade de
que ela não esteja mas no auge de sua carreira.
c) a mãe apresenta comportamento conspiratório, vendo sinais de tramas ocultas em situações
que não necessariamente apontavam para isso.
d) o menino conseguia compreender, mesmo criança, os motivos que levavam sua mãe a ser
uma pessoa tão instável emocionalmente.
e) o menino e sua irmã são frequentemente deixados de lado por sua mãe, que se preocupa
mais com seu próprio sucesso do que com eles.
9. (Estratégia Militares/2020)
Sobre o trecho “Os vasos vazios de flores. As pessoas distraídas. O tremor de excitação durava
até a hora do carteiro, Hoje não veio carta? Nem hoje nem ontem, só convites para exposições
ou avisos de banco que eram rasgados com tanto ódio que comecei a rezar para que eles não
chegassem mais. Sobrava o jornal que costumava deixar para depois, nunca entendi por que
reservava para o fim o jornal” pode-se afirmar que
a) apontam que a mãe sofria perseguições já no final de sua vida.
b) indicam que a mãe não percebia seu sucesso ao longo do tempo.
c) referem-se à falta de vontade da mãe de saber a opinião do público.
d) representam de maneira concreta, material, a decadência da mãe.
e) revelam uma falta de vontade dos filhos de ajudar sua mãe.
A. I e II são corretas.
B. Apenas II é correta.
C. II e III são corretas.
D. Apenas III é correta.
E. Todas as anteriores são incorretas.
conseguem passar por bobos. 4Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos
ganham a vida. 5Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás
não se importam que saibam que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro,
com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não
nascer em Minas!
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase
impossível evitar o excesso de amor que o bobo provoca. É que só 6o bobo é capaz de
excesso de amor. E só o amor faz o bobo.
LISPECTOR, Clarice. Das vantagens de ser bobo. Disponível em: http://www.revistapazes.com/das-vantagens-
de-ser-bobo/. Acesso em 10 de maio de 2017. Originalmente publicado no Jornal do Brasil em 12 de setembro
de 1970.
11. (IME/2018)
Considere o trecho abaixo, retirado do texto:
Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se
importam que saibam que eles sabem (referência 6).
A autora discorre sobre a posse de um saber. A respeito desse saber, podemos afirmar que
a) os bobos que se fazem de bobos estão praticando, na verdade, a sabedoria que os espertos
deveriam ter.
b) os bobos que aparentemente se fazem de bobos estão praticando, na verdade, a sabedoria
dos espertos.
c) os bobos, por serem naturalmente criativos, comprovam possuir a sabedoria necessária
para vencer.
d) os bobos, por serem naturalmente criativos, não permitem que ninguém desconfie de sua
dissimulada esperteza, que nada mais é do que produto de sua criatividade; assim definimos
sua estratégia para vencer na vida.
e) os bobos acabam por se tornar espertos e, por isso, ganham as lutas da vida, já que não se
importam que “saibam que eles sabem”.
12. (IME/2018)
Sobre as considerações a respeito de ser esperto vs. ser bobo encontradas no texto, assinale
o par de análises que destoa das considerações feitas pela autora.
a) Os espertos pretendem conquistar o mundo pela sagacidade; o bobo ganha o mundo por
sua espontaneidade.
b) Os espertos muitas vezes atingem seus objetivos; os bobos podem ser facilmente
ludibriados.
c) O esperto preocupa-se todo o tempo em entender o mundo para tirar proveito desse
entendimento; ser bobo é sentir o mundo e tomar parte nele.
d) Os sentimentos do esperto são mais intensos que os do bobo; o coração do bobo é pouco
acessível.
e) O esperto é prevenido; o bobo muitas vezes precisa lidar com complicações em que se
mete por ser bobo.
Lista 03 – Gabarito
1. B 7. B
2. D 8. A
3. B 9. D
4. D 10. C
5. A 11. C
6. A 12. D
Comentários
O texto de Oswald, autor da primeira geração do Modernismo literário brasileiro, é uma
clara crítica ao uso da Norma Culta em todos os momentos de comunicação do português.
Essa crítica se fundamenta na ideia de que deveríamos usar a sintaxe do português trazido
pelos portugueses no descobrimento do país. Ao apresentar a ideia de que os “bons
brasileiros” não precisam utilizar dessas regras em seus momentos de comunicação oral, o
autor discute o excesso de formalidade da comunicação como uma obrigatoriedade e, por
que não dizer, discute a pressão social para que todos sejam letrados conforme aquilo que é
determinado pela classe dominante. Hoje, entendemos esse uso como um uso social que
Tenho razão de sentir saudade, o ato que não ousamos nem sabemos ousar
tenho razão de te acusar. porque depois dele não há nada?
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora. Tenho razão para sentir saudade de ti,
Detonaste o pacto. de nossa convivência em falas camaradas,
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência simples apertar de mãos, nem isso, voz
de viver e explorar os rumos de obscuridade modulando sílabas conhecidas e banais
sem prazo sem consulta sem provocação que eram sempre certeza e segurança.
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Sim, tenho saudades.
Antecipaste a hora. Sim, acuso-te porque fizeste
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas o não previsto nas leis da amizade e da natureza
horas. nem nos deixaste sequer o direito de indagar
Que poderias ter feito de mais grave porque o fizeste, porque te foste.
do que o ato sem continuação, o ato em si,
Comentários
Alternativa A: incorreta. O tom do poema demonstra que o eu lírico não esperava
perder o amor. A compreensão que temos é a de que tal perda se dá de forma extremamente
inesperada, causando a sensação de perda e a geração de saudade. Perceba que há uma
possível confusão nesse poema, visto que há ambiguidade na construção de significados,
dado que o eu lírico parece se referir a um amigo.
Alternativa B: incorreta. O poema, como dito acima, apresenta certa ambiguidade na
construção de significados, visto que, em determinado ponto da construção, temos a
possibilidade de imaginar que o eu lírico se refere a um amor carnal. Contudo, temos um amor
fraterno de um amigo que o abandona inesperadamente e, de forma direta, gera saudades.
Alternativa C: incorreta. Apesar de haver certa indignação, o eu lírico não apresenta
relação de cobrança de explicações. O que ele deixa claro é que não teve nem a possibilidade
de pedir essas explicações.
Alternativa D: correta. O poema de Drummond, apesar de certa ambiguidade para a
construção de significados, indica que o eu lírico sente saudades de um amigo com quem
conversava e tinha uma convivência bastante boa. A ambiguidade está no fato de que parece,
em determinados momentos, que o eu lírico fala sobre um ente amado por outra forma de
amor.
Alternativa E: incorreta. O pacto a que se refere o eu lírico não apresenta nenhuma
indicação de ter sido feito de forma explícita. O que nos parece é que o pacto rompido pelo
amigo era o implícito da amizade, de manutenção do contato e da convivência boa, da qual
sente falta diuturnamente.
Gabarito: D
Texto para as próximas questões
Uma noite, há anos, acordei bruscamente e uma estranha pergunta explodiu de minha
boca. De que cor eram os olhos de minha mãe? Atordoada, custei reconhecer o quarto da
nova casa em eu que estava morando e não conseguia me lembrar de como havia chegado
até ali. E a insistente pergunta martelando, martelando. De que cor eram os olhos de minha
mãe? Aquela indagação havia surgido há dias, há meses, posso dizer. Entre um afazer e outro,
eu me pegava pensando de que cor seriam os olhos de minha mãe. E o que a princípio tinha
sido um mero pensamento interrogativo, naquela noite se transformou em uma dolorosa
pergunta carregada de um tom acusativo. Então eu não sabia de que cor eram os olhos de
minha mãe?
Sendo a primeira de sete filhas, desde cedo busquei dar conta de minhas próprias
dificuldades, cresci rápido, passando por uma breve adolescência. Sempre ao lado de minha
mãe, aprendi a conhecê-la. Decifrava o seu silêncio nas horas de dificuldades, como também
sabia reconhecer, em seus gestos, prenúncios de possíveis alegrias. Naquele momento,
entretanto, me descobria cheia de culpa, por não recordar de que cor seriam os seus olhos.
Eu achava tudo muito estranho, pois me lembrava nitidamente de vários detalhes do corpo
dela. Da unha encravada do dedo mindinho do pé esquerdo... da verruga que se perdia no
meio uma cabeleira crespa e bela... Um dia, brincando de pentear boneca, alegria que a mãe
nos dava quando, deixando por uns momentos o lava-lava, o passa-passa das roupagens
alheias e se tornava uma grande boneca negra para as filhas, descobrimos uma bolinha
escondida bem no couro cabeludo dela. Pensamos que fosse carrapato. A mãe cochilava e
uma de minhas irmãs, aflita, querendo livrar a boneca-mãe daquele padecer, puxou rápido o
bichinho. A mãe e nós rimos e rimos e rimos de nosso engano. A mãe riu tanto, das lágrimas
escorrerem. Mas de que cor eram os olhos dela?
Conceição Evaristo. Olhos d’água.
Comentários
Comentários
Alternativa A: incorreta. No texto, a autora se culpa por um único não conhecimento da
mãe, que era o relacionado aos olhos dela. Inclusive, na construção de sentidos, ela afirma
que conhecia bastante a mãe e que se culpa por não conhecer esse detalhe em especial. É
uma relação interessante a do texto.
Alternativa B: incorreta. Segundo a narradora, não temos as filhas tendo afastamento da
mãe por conta de uma infância rica e abastada. Na realidade, percebemos que a família tinha
uma vida humilde, dado que a mãe parece trabalhar como lavadeira e faxineira, tendo pouco
tempo para as filhas, mas se dedicando a elas no pouco que tinha.
Alternativa C: incorreta. Essa alternativa constrói-se como errada, porque não temos
nenhuma indicação de que as irmãs (outras seis filhas) eram conhecedoras da informação que
a narradora não tinha. Perceba que essa será uma extrapolação das informações do texto, caso
você marque essa alternativa.
Alternativa D: correta. Na realidade, é possível perceber que a menina realmente teve
uma infância próxima à mãe, principalmente nos momentos em que a mãe conseguia se
dedicar às filhas. Contudo, ela se culpa por não saber um aspecto bastante simples,
relacionado aos olhos da mãe.
Gabarito: D
5. (Estratégia Militares/2020)
Ainda sobre o texto, encontra-se uma passagem de humor quando
a) a irmã da narradora tenta tirar a verruga da mãe pensando ser um carrapato.
b) a narradora percebe que não sabe a cor dos olhos da mãe e se desespera.
c) a mãe da narradora dorme enquanto as meninas brincam com seu cabelo.
d) a narradora acorda e consegue compreender que está em um quarto novo.
Comentários
Alternativa A: correta. A confusão da irmã mais nova da narradora, que tenta tirar a
verruga da mãe de forma rápida, é um momento bem-humorado do texto, visto que se
percebe a inocência das filhas, em especial, da filha mais nova.
Alternativa B: incorreta. Nesse caso, não temos construção bem-humorada, visto que é
um momento de tristeza e certo desespero para a narradora. Como vimos, o momento do
humor é o caso da verruga.
Alternativa C: incorreta. É em momento seguinte a esse que temos o humor. Como
vimos, na hora que a irmã mais nova tenta salvar a mãe de carrapato, temos um momento
bem-humorado, dada a inocência do momento.
Alternativa D: incorreta. Nesse caso, não temos uma relação de humor. O momento
mais bem-humorado desse texto, como vimos, é aquele em que a irmã mais nova confunde a
verruga da mãe com um carrapato e tenta tirá-lo.
Gabarito: A
6. (Estratégia Militares/2020)
As perguntas no texto de Conceição devem ser entendidas como
a) retóricas.
b) argumentativas.
c) explicativas.
d) incoerentes.
Comentários
Alternativa A: correta. A pergunta retórica é aquela para a qual não há necessidade de
uma resposta clara. São usualmente perguntas reflexivas que movimentam o texto, auxiliando
na construção de significados desse texto. Perceba que a autora, em momento algum,
responde ao questionamento que ela mesma coloca.
Alternativa B: incorreta. As perguntas do texto não podem ser entendidas como
argumentativas, porque o texto não apresenta características argumentativas, mas narrativas.
Alternativa C: incorreta. As perguntas explicativas são aquelas utilizadas para a
construção de explicação de um tema ou de uma tese. Não temos, portanto, nenhuma relação
com explicações. Como vimos, são perguntas retóricas.
7. (Estratégia Militares/2020)
Leia atentamente o texto e assinale a alternativa que apresenta apenas a(s) afirmação(ões)
correta(s)
I. O texto é narrado por uma personagem aparentemente de pouca idade e retrata o modo
como ele via sua mãe na época da infância.
II. Vê-se no texto as dificuldades pelas quais passam as crianças em situações em que os pais
têm alguma doença grave.
III. O trecho do conto tem caráter descritivo, apontando características da mãe do narrador
em diferentes situações.
a) I e II são corretas.
Comentários:
A afirmativa I está correta, pois quando se lê expressões como “Mamãe” e “tira esse
menino daqui” fica clara a pouca idade do narrador. Além disso, o que temos no texto são
falas que indicam como o menino vê sua mãe e os modos como ela reage às situações.
A afirmativa II está incorreta, pois não se pode afirmar, apenas pelas falas do texto, que
a mãe tenha algum distúrbio psicológico.
A afirmativa III está correta, pois o texto mostra a mãe do narrador como alguém que
reage de maneiras diferentes e se comporta de diferentes modos a depender do que está
acontecendo em sua vida naquele momento.
Gabarito: B
8. (Estratégia Militares/2020)
De acordo com o texto, só não se pode presumir que
a) a personagem descrita é alguém de comportamento instável, que não é capaz de ligar-se
emocionalmente aos filhos em nenhuma circunstância.
b) a mãe da personagem central, uma antiga atriz de sucesso, se irrita com a possibilidade de
que ela não esteja mas no auge de sua carreira.
c) a mãe apresenta comportamento conspiratório, vendo sinais de tramas ocultas em situações
que não necessariamente apontavam para isso.
d) o menino conseguia compreender, mesmo criança, os motivos que levavam sua mãe a ser
uma pessoa tão instável emocionalmente.
e) o menino e sua irmã são frequentemente deixados de lado por sua mãe, que se preocupa
mais com seu próprio sucesso do que com eles.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois o narrador aponta que por vezes a mãe o tratava
bem. Isso, porém, só ocorria quando ela estava sendo reconhecida por seu trabalho.
A alternativa B está correta, pois o narrador aponta a mudança de comportamento da
mãe quando “chegou o tempo em que o telefone ficou calado e as pessoas não se viravam
para vê-la”.
A alternativa C está correta, pois o narrador afirma que a mãe, quando não estava sendo
muito aplaudida por seu trabalho sentia-se da seguinte maneira: “A desconfiança crescia
numa conspiração: apontava inimigos, descobria tramas”.
A alternativa D está incorreta, pois mesmo jovem, ele já compreendia a relação entre o
sucesso da mãe e seu comportamento.
A alternativa E está incorreta, pois o narrador afirma que a mãe “Não tomava
conhecimento nem de Wanda nem de mim”.
Gabarito: A
9. (Estratégia Militares/2020)
Sobre o trecho “Os vasos vazios de flores. As pessoas distraídas. O tremor de excitação durava
até a hora do carteiro, Hoje não veio carta? Nem hoje nem ontem, só convites para exposições
ou avisos de banco que eram rasgados com tanto ódio que comecei a rezar para que eles não
chegassem mais. Sobrava o jornal que costumava deixar para depois, nunca entendi por que
reservava para o fim o jornal” pode-se afirmar que
a) apontam que a mãe sofria perseguições já no final de sua vida.
b) indicam que a mãe não percebia seu sucesso ao longo do tempo.
c) referem-se à falta de vontade da mãe de saber a opinião do público.
d) representam de maneira concreta, material, a decadência da mãe.
e) revelam uma falta de vontade dos filhos de ajudar sua mãe.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois o narrador indica que a mãe tinha delírios
persecutórios, ou seja, não era real a perseguição.
A alternativa B está incorreta, pois nesse trecho a mãe já não tem mais sucesso.
A alternativa C está incorreta, pois a mãe segue buscando nos jornais indicativo
A alternativa D está correta, pois o narrador materializa o fim do auge do sucesso da
mãe ao contrapor os vasos de flores vazios e os jornais mudos ao tempo em que ela recebia
muitas homenagens, indicando que ela já não recebe mais tanta atenção assim.
A alternativa E está incorreta, pois nesse trecho não há ações dos filhos envolvidas, mas
do público e crítica.
Gabarito: D
10. (Estratégia Militares/2020)
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
A. I e II são corretas.
B. Apenas II é correta.
C. II e III são corretas.
D. Apenas III é correta.
E. Todas as anteriores são incorretas.
Comentários:
A afirmativa I está incorreta, pois a insatisfação do eu-lírico é para com as convenções e
comportamentos sociais esperados, não a vida em si. Ele vive sua vida de maneira particular e
com aparente satisfação em afastar-se daquilo que não concorda.
A afirmativa II está correta, pois há expressa uma rejeição àquilo que representariam
estruturas basilares morais da sociedade: pátria, regras, pai e mãe, etc.
A afirmativa III está correta, pois os verbos nesse trecho se encontram na 2ª pessoa do plural,
tanto do imperativo afirmativo (Ide!) quanto no presente do indicativo (tendes).
Gabarito: C
Texto para as questões 29 e 30
Das vantagens de ser bobo
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo.
O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que
não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando.".
1Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de
sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão
sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os
veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo
nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, 2o bobo é um Dostoievski.
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um
desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: 3ele disse que o aparelho
era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e
compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a
opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais
valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não
desconfiar, e portanto estar tranquilo, enquanto o esperto não dorme à noite com medo de
ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada
de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a
célebre frase: "Até tu, Brutus?".
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse
sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser
bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não
conseguem passar por bobos. 4Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos
ganham a vida. 5Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás
não se importam que saibam que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro,
com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não
nascer em Minas!
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase
impossível evitar o excesso de amor que o bobo provoca. É que só 6o bobo é capaz de
excesso de amor. E só o amor faz o bobo.
LISPECTOR, Clarice. Das vantagens de ser bobo. Disponível em: http://www.revistapazes.com/das-vantagens-
de-ser-bobo/. Acesso em 10 de maio de 2017. Originalmente publicado no Jornal do Brasil em 12 de setembro
de 1970.
11. (IME/2018)
Considere o trecho abaixo, retirado do texto:
Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se
importam que saibam que eles sabem (referência 6).
A autora discorre sobre a posse de um saber. A respeito desse saber, podemos afirmar que
a) os bobos que se fazem de bobos estão praticando, na verdade, a sabedoria que os espertos
deveriam ter.
b) os bobos que aparentemente se fazem de bobos estão praticando, na verdade, a sabedoria
dos espertos.
c) os bobos, por serem naturalmente criativos, comprovam possuir a sabedoria necessária
para vencer.
d) os bobos, por serem naturalmente criativos, não permitem que ninguém desconfie de sua
dissimulada esperteza, que nada mais é do que produto de sua criatividade; assim definimos
sua estratégia para vencer na vida.
e) os bobos acabam por se tornar espertos e, por isso, ganham as lutas da vida, já que não se
importam que “saibam que eles sabem”.
Comentários:
A autora afirma que os bobos não agem pensando na opinião dos outros ou em
comparar-se com os ditos “espertos”. Eles vivem o cotidiano de forma criativa e espontânea.
A alternativa que melhor se adequa a essa ideia é alternativa C.
A alternativa A está incorreta, pois os bobos não “se fazem de bobos”, ou seja, seu
comportamento não é fingido, mas sim espontâneo.
A alternativa B está incorreta, pois, assim como em A, não há no texto a ideia de que o
bobo dissimule seu comportamento.
A alternativa D está incorreta, pois os bobos apenas vivem, sem planejar ou dissimular
seus sentimentos e ações.
A alternativa E está incorreta, pois os bobos não se tornam espertos a partir desse
comportamento. A autora não tenta aproximar os comportamentos no texto, como se um
pudesse virar o outro.
Gabarito: C
12. (IME/2018)
Sobre as considerações a respeito de ser esperto vs. ser bobo encontradas no texto, assinale
o par de análises que destoa das considerações feitas pela autora.
a) Os espertos pretendem conquistar o mundo pela sagacidade; o bobo ganha o mundo por
sua espontaneidade.
b) Os espertos muitas vezes atingem seus objetivos; os bobos podem ser facilmente
ludibriados.
c) O esperto preocupa-se todo o tempo em entender o mundo para tirar proveito desse
entendimento; ser bobo é sentir o mundo e tomar parte nele.
d) Os sentimentos do esperto são mais intensos que os do bobo; o coração do bobo é pouco
acessível.
e) O esperto é prevenido; o bobo muitas vezes precisa lidar com complicações em que se
mete por ser bobo.
Comentários:
No último parágrafo do texto, a autora faz referência à relação que o bobo tem com o
amor em “o amor faz o bobo”. Por isso, não é possível dizer que o coração do bobo é pouco
acessível. A alternativa que apresenta par de análises que destoa é alternativa D.
A alternativa A não apresenta incorreções, pois essa é a relação estabelecida ao longo
do texto: o esperto se esforça para vencer enquanto o bobo só age naturalmente.
A alternativa B não apresenta incorreções, pois o texto afirma que os espertos tendem
a conseguir o que querem pela audácia, enquanto os bobos, por confiarem demais, podem
ser enganados.
A alternativa C não apresenta incorreções, pois o texto afirma que o esperto está
sempre elaborando esquemas, enquanto o bobo apenas vive no mundo.
A alternativa E não apresenta incorreções, pois o texto afirma que os espertos planejam
seus passos, enquanto o bobo faz as coisas espontaneamente.
Gabarito: D
4 Considerações finais
Bolas de Fogo! Que aula boa essa, não?
Vimos uma das partes mais importantes para a AFA, como vocês bem sabem. Inclusive,
não se preocupem que lançarei, logo, logo, uma listinha com exercícios das últimas provas,
somente o filé da interpretação para vocês.
Na próxima aula, daremos início à deliciosa Sintaxe! Se preparem e estudem bastante
até lá, Bolas!
Qualquer dúvida estou à disposição no fórum.