Sistemico A Que Se Refere Hoje

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Sistêmico? A que se refere hoje?

1
Maria José Esteves de Vasconcellos2

Ao deparar com um capítulo com esse título, num livro que aborda os sistemas
eletroenergéticos no ambiente 5,0, você, leitor, pode perguntar o porquê da
inclusão aqui deste capítulo, ou como ele se relaciona com o tema deste livro.

Estamos aqui refletindo – e pretendendo desencadear reflexões – sobre possíveis


avanços em nossa forma de estar no mundo e de viver em sociedade.

Tem-se considerado que avançar da Indústria 4.0 em direção ao Ambiente 5.0 ou


à Sociedade 5.0 implica repensar nossa organização social, deslocando o foco que
teria sido colocado nos desenvolvimentos tecnológicos para colocá-lo no
desenvolvimento humano, integrando os benefícios das tecnologias à qualidade
de vida do ser humano, em ambientes de colaboração.

Isso parece expressar um desejo de mudança de nossa forma de viver e de nos


relacionar e podemos nos perguntar:

- O que precisa acontecer para que essa mudança de fato ocorra?

1
Esse texto está publicado como o Cap 7 do livro Sistemas Eletroenergéticos no ambiente 5,0 e seguintes, na
perspectiva e orientação da sustentabilidade e resiliência, organizado por Eduardo Neri (2022). Uma forma
anterior desse texto está publicada, com o título “Usos contemporâneos do adjetivo ‘sistêmico’”. In: Mendes,
J. A. A. e Bucher-Maluscke, J. N. F. (Orgs). Perspectiva Sistêmica e Práticas em Psicologia. Temas e Campos de
Atuação. Editora CRV, 2020.
2
Consultora, Professora e Palestrante: Pensamento Sistêmico Novo-Paradigmático e Metodologia de
Atendimento Sistêmico. Autora de: Pensamento Sistêmico. O novo paradigma da ciência (2002, 11ª edição
2018); Systems Thinking. The new paradigma of Science (2020); Terapia Familiar Sistêmica. Bases cibernéticas
(1995). Cocriadora da Metodologia de Atendimento Sistêmico para solução de situação-problema, pelos
próprios envolvidos nela, em contexto colaborativo, de autonomia e coautora da obra Atendimento Sistêmico
de Famílias e Redes Sociais (Vol I 2005; Vol II 2007; Vol III 2010). Coautora de: Curso de Engenharia de Energia.
Uma iniciativa audaciosa de ensino, 2018. Cocriadora e Coordenadora de Cursos de Pós-Graduação em
Metodologia de Atendimento Sistêmico, preparando profissionais para práticas sociais inovadoras em
diferentes contextos. Professora convidada em diversas Pós-graduações. Terapeuta de Família e Casal.
Professora na UFMG (1968-1992). Sócia fundadora da EquipSIS – Equipe Sistêmica, Belo Horizonte (1993-2010).
Artigos publicados em coletâneas e em periódicos nacionais e internacionais.

contato@mariajoseesteves.com.br www.mariajoseesteves.com.br
- Como podemos atuar para que a sociedade se comprometa com avanços em
direção ao Ambiente 5.0?

- O que precisa acontecer para que, ocorrendo a mudança, seja uma mudança
sustentável?

Sabemos que, sempre que as circunstâncias assim o permitam, todos tendemos a


nos comportar de modo coerente com aquilo em que acreditamos, ou seja, nossos
comportamentos se embasam em nossas premissas, crenças ou pressupostos
(Esteves de Vasconcellos 2020).

Hoje sabemos também que seres vivos – e seres vivos humanos – se comportam
de acordo com as possibilidades contidas em suas estruturas e que as “instruções”
apresentadas pelo meio ao ser vivo terão seu efeito dependente dessas
possibilidades. Assim, segundo Maturana (1997/1987), é impossível a “interação
instrutiva” com seres vivos e com seres humanos - seres vivos que vivemos na
linguagem.

São as possibilidades contidas em nossa estrutura relacional3 - adquiridas ao longo


de nossa história de interações com o meio, tais como a habilidade de dirigir
automóvel ou a habilidade de falar um segundo idioma, assim como nossas
crenças ou premissas - que nos permitem algumas e não outras interações com o
meio. É por isso que dizemos que nossas premissas embasam nossos
comportamentos.

Assim, reconhecemos hoje que para que aconteçam mudanças sustentáveis de


comportamento, elas deverão decorrer de mudanças das premissas que
embasam o comportamento. Reconhecemos então a inadequação, por exemplo,
de uma instituição ou de um pequeno grupo de pessoas se dedicar à elaboração
de uma “Política de Solidariedade”, a ser implantada em determinado contexto.
Comportamentos de solidariedade passarão a ocorrer naturalmente se esse valor

3
Em sua Teoria da Autopoiese, Maturana e Varela (1987/1983) utilizam o conceito de estrutura do sistema
vivo, por meio da qual este se mantém em acoplamento estrutural com o meio, mantendo-se vivo.
Quando abordamos seres humanos, ou seja, seres vivos que vivem na linguagem, tem-se feito uma
extensão desse conceito, falando-se de uma estrutura relacional (Esteves-Vasconcellos 2013; Esteves de
Vasconcellos 2018/2002), constituída pelas características humanas – dentre as quais podem-se destacar
suas premissas – que viabilizam o acoplamento do ser humano com o meio social, constituído de outros
seres humanos.
ou premissa passar a fazer parte da estrutura relacional das pessoas e é pouco
provável que isso aconteça com a implantação de uma “Política de Solidariedade”.

A ciência desempenha um papel central na validação do conhecimento em nossa


cultura ocidental e, portanto, em nossas explicações e compreensão dos
fenômenos (Maturana 1997/1988). Por isso, a ciência interessa não só aos cientistas,
mas também aos leigos, que perguntam com frequência: isso é científico? já está
comprovado cientificamente?

Também os comportamentos dos cientistas – assim como os dos profissionais que


desenvolvem práticas científicas em variados contextos – estão embasados em
crenças e pressupostos. Acontece que os pressupostos que constituem o
paradigma ou a epistemologia dos cientistas – que embasam não só as pesquisas
científicas, como as tecnologias científicas - estão mudando e está emergindo um
novo paradigma da ciência.

Tendo identificado como sistêmicos esses novos pressupostos dos cientistas,


propus considerar-se o pensamento sistêmico como o novo paradigma da ciência
(Esteves de Vasconcellos 2002), cujas implicações podem viabilizar - e têm
viabilizado - práticas efetivamente inovadoras em diversos contextos. Assim, tenho
apresentado essa nova visão de mundo, o Pensamento Sistêmico Novo-
Paradigmático como um convite para transformarmos nosso viver.

Acredito que o avanço em direção ao Ambiente 5.0 ou à Sociedade 5.0 vai


depender de termos cientistas, profissionais e leigos assumindo os pressupostos
que constituem o Pensamento Sistêmico Novo-paradigmático e, assim, penso que
se justificam aqui as considerações que se seguem sobre o(s) uso(s) que fazemos
do adjetivo “sistêmico”.

A multiplicidade de usos do adjetivo sistêmico

Ultimamente, pode-se perceber que o adjetivo sistêmico tem assumido vários


significados, tais como complexo, holístico, articulador, que amplia, que inclui,
integrador, entre outros, e que, além disso, tem adjetivado diferentes substantivos.

Em 2002, quando sistematizei minha proposta de considerarmos o pensamento


sistêmico como o novo paradigma da ciência, já apontei essa multiplicidade de
usos do adjetivo sistêmico(a) (Esteves de Vasconcellos 2002).
Aliás, já tinha apontado uma confusão conceitual na área da Terapia Familiar
Sistêmica, identificando não só uma “multiplicidade de rótulos”, como “definições
divergentes” para os mesmos, tudo isso com frequência dificultando um melhor
desenvolvimento da área. Naquele momento, me propus então a fazer algumas
pontuações e convidar à reflexão sobre a precisão desse quadro conceitual
(Esteves de Vasconcellos 1992; 1995).

Aqui também quero propor uma reflexão sobre o que venho percebendo como
usos indiscriminados ou pouco cuidadosos do adjetivo sistêmico, o que muitas
vezes vem criando dúvidas sobre o que se entende hoje por sistêmico.

Em 1968, em seu livro Teoria Geral dos Sistemas, Bertalanffy já tinha apontado que
a palavra sistema se colocava no topo de uma lista dos termos que vinham
aparecendo com maior frequência na literatura científica.

Hoje, mais de 50 anos depois, parece que a situação não é muito diferente. Uma
pesquisa cuidadosa mostrará provavelmente que o adjetivo sistêmico(a) vem
sendo cada vez mais usado (direito sistêmico, constelação sistêmica, pedagogia
sistêmica, inovação sistêmica, liderança sistêmica, coaching sistêmico, design
sistêmico, abordagem psicométrica sistêmica, gestão sistêmica, leitura corporal
sistêmica, psicologia sistêmica...), às vezes até sugerindo que a qualificação de algo
como sistêmico pode conferir um sentido de atualidade ou de prestígio ao que
está sendo apresentado como sistêmico(a).

Você mesmo pode fazer a experiência de listar todas as palavras que já tenha
encontrado acompanhadas do adjetivo sistêmico(a). Partindo do pressuposto de
que aqui estejamos nos movendo no domínio linguístico4 da ciência, acredito que
muito provavelmente você listará palavras que se referem às diferentes dimensões
que podemos distinguir no nosso afazer científico, a saber: as práticas, as teorias e
a epistemologia.

A prática é a ação/intervenção do profissional / cientista em relação ao fenômeno


de seu interesse, no nosso caso, a ação do profissional sistêmico sobre o sistema
por ele distinguido.

4
A noção de domínio linguístico decorre do reconhecimento da inexistência da realidade independente
de um observador e da emergência da(s) realidade(s) em conversações, em espaços de intersubjetividade.
Assim, reconhecemos que, conversando, constituímos diferentes domínios linguísticos (filosofia, ciência,
religião...), cada um com diferentes critérios para validação das afirmações.
A teoria é um conjunto articulado de princípios explicativos do fenômeno, que o
profissional / cientista usa para explicar ou compreender o fenômeno que ele está
abordando, no nosso caso, o funcionamento do sistema.

A epistemologia / paradigma / pensamento é um conjunto de crenças,


pressupostos, premissas, ou seja, aquilo em que o profissional acredita, sua visão
de mundo, no nosso caso, uma visão de mundo sistêmica.

Ao desenvolverem suas práticas, concebidas como aplicações da ciência, os


profissionais tendem a refletir sobre os seus fundamentos: querem compreender
como funcionam, como produzem os efeitos que produzem, ou seja, refletem
sobre os fundamentos teóricos de suas práticas. E, também, se perguntam sobre a
consistência dessas práticas com sua própria visão de mundo, ou seja, refletem
sobre os fundamentos epistemológicos de suas práticas.

Tenho pontuado que uma teoria – sendo um conjunto de princípios explicativos –


é exterior a mim e eu a aplico, podendo sucessivamente aplicar ou lançar mão de
diferentes teorias para compreender o fenômeno em que esteja interessado ou
para compreender o funcionamento e os efeitos de minha prática. Por outro lado,
a epistemologia – sendo minhas crenças, premissas ou pressupostos
epistemológicos – faz parte da minha estrutura relacional e, portanto, me implica,
ou seja, tem como consequência inevitável que eu busque ou queira atuar de
forma consistente com minhas premissas, com o que acredito. Daí a importância
que assumem as reflexões sobre nossa própria epistemologia ou visão de mundo.

Vejamos, a seguir, que epistemologia, que teorias, que práticas podemos entender
como sistêmicas.

Epistemologia / visão de mundo, uma dimensão do afazer científico

Até aqui, neste texto, já apareceram diversas palavras usadas em referência a


epistemologia e vale a pena explicitar essa equivalência5 entre pressuposto
epistemológico, pensamento, premissa, crença, verdade, paradigma, preconceito,
visão de mundo.

5
Importante ressaltar que tomo apenas um dos sentidos do termo paradigma, o de crenças e valores dos
cientistas, como equivalente de um dos sentidos de epistemologia, o de visão ou concepção de mundo
implícita na atividade científica.
Além dessas, entre as palavras que você listou, podem ter aparecido também:
perspectiva, concepção, percepção, postura, em geral usadas em referência à
dimensão epistemológica do afazer científico.

Há muito, a epistemologia vem sendo considerada como uma dimensão do afazer


científico, apesar de se constituir como uma área de estudo da Filosofia. Os
filósofos vinham se encarregando de refletir sobre os pressupostos subjacentes às
atividades dos cientistas, ou seja, aquilo em que os cientistas acreditam quando
desenvolvem seu trabalho científico. Entre esses pressupostos, estão: a crença na
necessidade de análise e simplificação do objeto de estudo (pressuposto da
simplicidade), a crença na estabilidade do mundo, o qual pode ser descrito por leis
deterministas e reversíveis (pressuposto da estabilidade) e principalmente a crença
na possibilidade do conhecimento objetivo do mundo (pressuposto da
objetividade).

Essa epistemologia – que responde à pergunta sobre “como conhecemos?” – vem


sendo então chamada de Filosofia da Ciência e, ao longo dos tempos, muitos
filósofos elaboraram suas respostas para a pergunta epistemológica, ou seja,
elaboraram teorias filosóficas do conhecimento –, tais como, entre outras, a teoria
idealista, a fenomenológica, a empirista – muitas vezes questionando o
pressuposto da objetividade.

Nessa situação, a partir da separação instalada por Descartes, entre Ciência e


Filosofia, cabe ao cientista o estudo objetivo e rigoroso do universo, que é o objeto
do conhecimento, ficando reservado ao filósofo o estudo especulativo daquele
que conhece, que é o sujeito do conhecimento. Assim, os questionamentos dos
filósofos, feitos no domínio linguístico da Filosofia, em relação à crença dos
cientistas na possibilidade da objetividade, tendiam a não repercutir no domínio
linguístico da Ciência, onde se adotam outros critérios para validar as afirmações.

Esse seria, muito resumidamente, o quadro do que tem sido chamado de ciência
tradicional. Nos Capítulos 2 e 3 do Pensamento Sistêmico. O novo paradigma da
ciência (Esteves de Vasconcellos 2002), encontram-se descrições mais detalhadas
a respeito do paradigma da ciência tradicional.

Aconteceu que, a partir dos anos 60/70 do século XX, cientistas / pesquisadores,
trabalhando em seus laboratórios, em microfísica (Niels Bohr – a questão da
contradição lógica onda / corpúsculo), em termodinâmica (Boltzman – a questão
da desordem, da agitação desordenada das moléculas), em física quântica
(Heisenberg – a questão da impossibilidade da objetividade e o princípio da
incerteza), em físico-química (Prigogine – os saltos qualitativos do sistema que
funciona longe do equilíbrio), em biologia experimental (Maturana e Varela – o
caminho explicativo da objetividade entre parênteses), em física cibernética (von
Foerster – a conexão entre observador, linguagem, sociedade e os sistemas
observantes), em biofísica (Atlan – a questão da complexidade), se defrontaram
com evidências que os levaram a questionar, entre outras, as noções da
compartimentação do saber, do acesso a realidades objetivas, da possibilidade de
instruções serem seguidas por sistemas humanos os quais, como sistemas vivos,
foram reconhecidos como sistemas autônomos.

Destaco especialmente as contribuições do biólogo chileno, Humberto Maturana


e do ciberneticista austríaco Heinz von Foerster, os quais nos instigam a repensar
nossa crença na possibilidade da objetividade, ao afirmarem que “tudo é dito por
um observador” (Maturana 1987) e que “o que eu digo diz mais de mim do que da
coisa observada” (Foerster 1991).

Nos laboratórios de Biologia Experimental, ficou evidente que a impossibilidade de


falarmos objetivamente do mundo – quer seja o mundo inanimado, quer seja o
mundo vivo, quer seja o mundo humano ou social – se deve às características
estruturais (fechamento operacional) do sistema nervoso do sujeito do
conhecimento. Isso nos leva inevitavelmente a reconhecer que só nos resta a
possibilidade de construirmos o conhecimento em conversações em que
compartilhemos nossas experiências subjetivas do mundo (pressuposto da
intersubjetividade ou da construção intersubjetiva do conhecimento).

Tudo isso desencadeou mudanças de premissas dos cientistas e suas novas


premissas estão constituindo um novo paradigma da ciência emergente, um
paradigma sistêmico de 2ª Ordem (Esteves de Vasconcellos 1992, 2002). Os
cientistas questionaram e reviram suas crenças tradicionais e assumiram os novos
pressupostos: complexidade dos fenômenos, em todos os níveis da natureza;
instabilidade do mundo, imprevisibilidade e incontrolabilidade dos fenômenos;
impossibilidade da objetividade e inevitável coconstrução da “realidade” e de todo
conhecimento sobre o mundo, em espaços consensuais de intersubjetividade.

A Figura 1 mostra a ultrapassagem dos pressupostos epistemológicos da ciência


tradicional pelos novos pressupostos epistemológicos da ciência contemporânea
emergente.
Figura 1 – Quadro de Referência para a Mudança de Paradigma na Ciência

ciência contemporânea
ciência tradicional emergente

simplicidade complexidade
análise contextualização
causalidade linear causalidade recursiva

estabilidade instabilidade
determinismo - previsibilidade indeterminação - imprevisibilidade
reversibilidade - controlabilidade irreversibilidade - incontrolabilidade

objetividade intersubjetividade
subjetividade entre parênteses objetividade entre parênteses
uni-versum multi-versa

Considerando que, ao passarmos a ver sistemicamente o mundo, deslocamos


nosso olhar dos elementos – que resultaram do olhar analítico – e passamos a
focalizar as relações – assim fazendo emergir para nós os sistemas – distingui o
aspecto sistêmico em cada um desses três novos pressupostos assumidos pelos
cientistas.

Assim, considerei o conjunto dos três novos pressupostos, articulados entre si


como o novo paradigma da ciência e distingui como sistêmica essa nova forma de
ver, esse novo pensamento, esse novo paradigma. Por isso, dei ao meu livro o título
de Pensamento Sistêmico. O novo paradigma da ciência. Trata-se, pois, de um
pensamento que é complexo (que reconhece a complexidade, sem tentar reduzi-
la), que é processual (que reconhece que o mundo está em processo de tornar-se)
e que é relacional (assumindo que todo conhecimento está inevitavelmente
relacionado ao observador, ou seja, ao sujeito que conhece).6

6
Interessante destacar que Capra (1996, p. 50) também fala de novo paradigma na ciência, porém destaca
apenas “dois grandes fios” do pensamento sistêmico, apresentando-o como um pensamento “contextual”
e como um pensamento “processual”. “Quanto à terceira dimensão do pensamento sistêmico novo-
paradigmático, ele não parece ter assumido que a objetividade é impossível e que não existe a realidade
independente de um observador” (Esteves de Vasconcellos 2018/2002, p. 157).
Considerando a equivalência entre os termos epistemologia e paradigma,
poderíamos dizer que o livro Pensamento Sistêmico. O novo paradigma da ciência
aborda a epistemologia sistêmica, a nova epistemologia da ciência. Entretanto,
ressalto que aqui se rompe a equivalência entre Epistemologia e Filosofia da
Ciência, a partir do momento em que os próprios cientistas levam para seus
laboratórios a pergunta epistemológica - a pergunta sobre como conhecemos - e
respondem-na cientificamente.

Diversos cientistas, tais como Mc Culloch, Piaget, Lorenz, já vinham manifestando


a preocupação por uma “naturalização da epistemologia”, pretendendo trazer o
sujeito e sua epistemologia, seu modo de conhecer, para o âmbito da ciência.
Quando a abordagem científica da questão do conhecimento do mundo
começou a ser reivindicada pelos físicos, chegou-se mesmo a afirmar que “a física
quântica nada mais fez do que sequestrar a epistemologia, saqueando a filosofia”
(Strathern 1998, p. 84).

Assim, temos hoje uma epistemologia científica ou uma ciência da ciência, a qual
se relaciona, dentro do mesmo domínio linguístico da ciência, com as teorias
científicas e com as práticas científicas, como a Figura 2 pretende evidenciar.

Figura 2 – A epistemologia no domínio linguístico da ciência novo-paradigmática

prática

científica

teoria

científica
epistemologia

científica

Considerando o pensamento sistêmico como o novo paradigma da ciência e


admitindo a equivalência entre os termos paradigma e epistemologia, podemos
agora falar de uma epistemologia sistêmica – no sentido de que todo
conhecimento se relaciona ao sujeito do conhecimento –, assim como de
paradigma sistêmico ou de pensamento sistêmico.

Tenho acrescentado à denominação desse pensamento sistêmico o adjetivo


novo-paradigmático e penso que vale a pena explicitar o porquê dessa
adjetivação (Esteves de Vasconcellos 2004).

É claro que, se considero o pensamento sistêmico como o novo paradigma da


ciência, essa adjetivação se constitui como uma redundância. Porém, estamos
numa fase de transição e hoje nem toda visão sistêmica pode ser distinguida como
novo-paradigmática (Esteves de Vasconcellos 2004). Temos hoje cientistas /
profissionais sistêmicos que não reconheceram a impossibilidade de falarmos
objetivamente do mundo e, portanto, ainda não assumiram que a única alternativa
que temos é a da construção conjunta do conhecimento, em espaços consensuais
de intersubjetividade. Na Figura 3, temos, de um lado, a visão sistêmica de 1ª
Ordem, do profissional / cientista sistêmico que já pensa a complexidade e a
instabilidade do mundo, mas ainda mantém a crença na possibilidade da
objetividade (visão sistêmica de 1ª Ordem). Do outro lado, a visão sistêmica novo-
paradigmática, daquele profissional / cientista sistêmico que, além de pensar a
complexidade e a instabilidade do mundo, já reconheceu e assumiu a nossa
impossibilidade de sermos objetivos, devido à forma como somos biologicamente
constituídos, devido ao fechamento operacional do nosso sistema nervoso (visão
sistêmica de 2ª Ordem).

Figura 3 - Pensamento sistêmico e Pensamento sistêmico novo-paradigmático

Pressupostos do Pensamento Sistêmico Pressupostos do Pensamento Sistêmico


Novo-Paradigmático
(Visão Sistêmica de 1ª Ordem) (Visão Sistêmica de 2ª Ordem)
Complexidade do objeto Complexidade do objeto
Instabilidade do mundo Instabilidade do mundo
(Mantém-se o Pressuposto da Objetividade) Intersubjetividade (Impossibilidade da
Objetividade)

Então, quando o profissional sistêmico reflete sobre o fundamento epistemológico


de sua prática, volta-se sobre sua própria postura epistemológica ou sua visão de
mundo: assumi genuinamente a crença na impossibilidade da objetividade com
todas as suas implicações? Acredito que a realidade emerge das minhas distinções
e que se configura nas conversações, quando diferentes sujeitos compartilham
suas distinções em espaços de intersubjetividade? Ou ainda preservo a existência
de uma realidade que preexiste às visões de diversos observadores, admitindo
apenas que existem diferentes percepções do real? Assumo uma visão sistêmica
de 2ª Ordem? Ou minha prática ainda reflete uma visão sistêmica de 1ª Ordem?

Considerando que é o profissional, o cientista – e não a ciência – quem assume


uma visão de mundo, perspectiva, pensamento, paradigma, premissas,
pressupostos, enfim uma epistemologia sistêmica, será preciso ter presente ainda
que esse profissional / cientista pode estar assumindo uma epistemologia
sistêmica de 1ª Ordem ou de 2ª Ordem (novo-paradigmática) e que essas
diferentes visões de mundo sistêmicas repercutirão em sua forma de estar no
mundo, inclusive em suas práticas sistêmicas.

Teoria, uma dimensão do afazer científico

Já vimos que a teoria se constitui como um conjunto de princípios, articulados


entre si, com os quais o cientista pretende compreender (ou explicar) o fenômeno
no qual está interessado.

Entre as palavras que você listou – adjetivadas com sistêmico(a) – é provável que
se encontrem as palavras modelo, linha, enfoque, movimento, abordagem,
frequentemente tomadas no sentido de teoria.

As teorias costumam se referir a fenômenos específicos, por exemplo, a queda dos


corpos, o calor, a comunicação humana, o funcionamento das famílias, o
comportamento de comprar ou consumir, o funcionamento das organizações, o
comportamento dos administradores, o processo de cura das doenças etc, cada
uma desenvolvendo-se dentro de uma disciplina científica.

As teorias sistêmicas mais conhecidas atualmente – a Teoria Cibernética, de


Wiener (1948; 1950) e a Teoria Geral de Sistemas, de Bertalanffy (1967; 1968) –
surgiram na segunda metade do século XX com a pretensão de não serem teorias
para fenômenos específicos, mas sim teorias sistêmicas gerais, transcendendo as
fronteiras das diferentes disciplinas, aplicáveis aos sistemas em geral, onde quer
que esses fossem distinguidos.
Na Figura 4, Quadro de Referência para as Teorias Sistêmicas, apresento as teorias
sistêmicas nas duas vertentes da ciência dos sistemas distinguidas por Bertalanffy
(1967), uma, a vertente dos sistemas máquinas, a vertente mecanicista e a outra, a
vertente dos sistemas vivos, a vertente organicista.

Figura 4 - Quadro de Referência para as Teorias Sistêmicas

Vertente das máquinas Vertente dos seres vivos


(mecanicista) (organicista)

Paradigma Teoria Cibernética Teoria Geral dos Sistemas


Tradicional

Cibernética da Cibernética
Teoria da Autopoiese

Construtivismo Biologia do Conhecer


Novo

Paradigma
A Nova Teoria Geral dos
Sistemas
Teoria Geral dos Sistemas
Autônomos

Ao destacar dois momentos, o do paradigma tradicional e o do novo paradigma,


o Quadro mostra que, tanto a Teoria Cibernética de Wiener (na vertente
mecanicista da ciência dos sistemas), quanto a Teoria Geral dos Sistemas de
Bertalanffy (na vertente organicista dessa ciência), apesar de terem deslocado o
foco do elemento componente do sistema para as relações entre os
componentes, promovendo assim significativo avanço em relação às teorias
desenvolvidas na ciência tradicional, ainda se mantiveram vinculadas ao
paradigma tradicional. Isso porque o contexto em que viveram, há mais de
sessenta anos, não permitiu nem a Wiener, nem a Bertalanffy, desprender-se da
concepção tradicional de que os sistemas existem na natureza e de que cabe aos
cientistas compreendê-los “tal como são na realidade”. Nenhum dos dois
questionou radicalmente a possibilidade de acesso a uma realidade objetiva, nem
chegou a pensar – como Maturana – que a realidade e os sistemas emergem das
distinções do observador e se configuram nas conversações entre diferentes
observadores. Distingo-os, portanto, como teóricos sistêmicos de 1ª Ordem, que
não chegaram a realizar sua pretensão de que suas teorias fossem, de fato,
transdisciplinares. A meu ver, uma teoria transdisciplinar só se torna possível sendo
uma teoria sistêmica de 2ª Ordem, a partir do reconhecimento da inevitável
participação do observador – o sujeito do conhecimento – em toda e qualquer
afirmação sobre seu objeto de interesse. Portanto considero tanto a Teoria
Cibernética quanto a Teoria Geral dos Sistemas como teorias sistêmicas de 1ª
Ordem, que mantém o pressuposto da objetividade, da ciência tradicional.

Passando agora para as teorias sistêmicas de 2ª Ordem ou novo-paradigmáticas.


A Teoria da Autopoiese (autopoiesis = autoprodução ou produção de si, de seus
próprios componentes) do biólogo Maturana, embora eu a distinga como uma
teoria sistêmica novo-paradigmática ou de 2ª Ordem, apresenta-se – como muito
claramente explicitado por seu autor – como uma teoria para fenômenos
específicos, uma teoria para os seres vivos, enquanto seres biológicos, uma teoria
para o nível orgânico da natureza. Maturana não elaborou uma teoria dos sistemas
sociais humanos. Ademais, também não desenvolveu uma teoria para os sistemas
em geral ou uma “teoria geral de sistemas”. De fato, Maturana elaborou também
extensões de sua Teoria da Autopoiese para a compreensão dos seres humanos,
enquanto seres vivos que vivem na linguagem, o que constitui a sua Biologia do
Conhecer, ou seja, uma proposta para compreendermos o como conhecemos,
sendo seres vivos humanos, ou seja, para compreendermos como nosso modo de
conhecer está embasado na nossa constituição biológica.

Assim como Maturana na vertente organicista, Von Foerster na vertente


mecanicista também apontou as consequências da inclusão do observador nas
descrições científicas, quando preconizou que a Cibernética se aplicasse a si
mesma, constituindo-se como Cibernética da Cibernética e quando desenvolveu
a concepção do Construtivismo, ou seja, a compreensão de como construímos o
conhecimento do mundo. Entretanto, também essa fundamental contribuição de
Von Foerster à ciência contemporânea não correspondeu a uma teoria sobre
sistemas sociais, nem a uma “teoria geral de sistemas”.

Nem a Biologia do Conhecer, nem a Cibernética da Cibernética se constituem


como teorias de sistemas. Constituem-se antes como teorias do conhecimento, ou
epistemologias, que respondem cientificamente à pergunta sobre “como os seres
vivos / humanos conhecemos o mundo”. Maturana e von Foerster trouxeram para
o domínio linguístico da ciência a questão epistemológica, ou seja, a questão do
“sujeito do conhecimento”.
Até aqui, não encontramos no Quadro de Referência para as Teorias Sistêmicas
nenhuma Teoria Geral de Sistemas novo-paradigmática, assim como também
nenhuma teoria sistêmica novo-paradigmática para sistemas sociais. Essa era a
situação até o momento em que publiquei o Pensamento Sistêmico. O novo
paradigma da ciência (Esteves de Vasconcellos 2002), quando esse Quadro de
Referência para as Teorias Sistêmicas não continha a última célula inferior direita –
“A Nova Teoria Geral dos Sistemas” e a “Teoria Geral dos Sistemas Autônomos”.
Essa célula foi incluída na edição revista e ampliada, de 2013, depois da publicação,
em 2013, do livro de Mateus Esteves-Vasconcellos, A Nova Teoria Geral dos
Sistemas. Dos sistemas autopoiéticos aos sistemas sociais (Esteves-Vasconcellos
2013).

Hoje entendo que esse livro veio preencher uma lacuna teórica, no âmbito da
ciência de sistemas, disponibilizando para nós, não só uma teoria geral de sistemas
novo-paradigmática, como também uma teoria novo-paradigmática para os
sistemas sociais, exatamente o que nos faltava para fundamentar práticas
sistêmicas novo-paradigmáticas desenvolvidas com sistemas sociais.

De fato, esse autor apresenta uma teoria que distinguiu implícita na extensa obra
científica de Maturana, anterior a 2000. Estudando detidamente os textos de
Maturana, Mateus distinguiu algumas noções teóricas e conceitos sistêmicos,
aplicáveis a todo e qualquer sistema e não apenas aos sistemas vivos. Ele explicitou
esses princípios teóricos e os apresentou de forma sistemática, como um conjunto
articulado que constitui uma teoria sistêmica novo-paradigmática, de 2ª Ordem –
e, portanto, transdisciplinar – que o próprio Maturana nunca explicitou como tal e
que Mateus intitulou “A Nova Teoria Geral dos Sistemas” (Parte I do livro). Nova
porque antes já havia uma Teoria Geral de Sistemas e nova também por ser uma
teoria sistêmica novo-paradigmática ou de 2ª Ordem.

Porém, não é apenas isso que o livro contém. Conforme fica explicitado em seu
subtítulo, “Dos sistemas autopoiéticos aos sistemas sociais”, o autor aborda e
responde à questão polêmica – já instalada na área – sobre autopoiese no domínio
social humano, ou seja, a questão da identificação dos sistemas sociais – e da
sociedade como um todo – como sistemas autopoiéticos.

O autor elaborou a Teoria Geral dos Sistemas Autônomos (Parte II do livro) e assim
evidenciou que sistemas sociais não podem ser distinguidos como sistemas
autopoiéticos, o que vem contradizer a proposta de Luhmann (1990), de considerar
a sociedade como um sistema autopoiético. Com essa Teoria Geral dos Sistemas
Autônomos, o autor mostra que tanto os sistemas autopoiéticos (que são apenas
os sistemas vivos descritos pela Teoria da Autopoiese de Maturana), quanto os
sistemas sociais humanos (definidos como sistemas linguísticos), compartilham
algumas características, por pertencerem, ambos, à categoria mais ampla de
sistemas autônomos, como podemos ver na Figura 5.

Figura 5 - Sistemas autopoiéticos e sistemas sociais humanos

Sistemas autônomos

Sistemas vivos Sistemas sociais humanos

(sistemas autopoiéticos) (sistemas linguísticos)

produzem seus próprios componentes produzem suas próprias relações

Sistemas de
Instituições interconstituição de 2ª
Ordem

Tomando os sistemas autônomos como uma classe particular de sistemas, o autor


caracteriza-os como sistemas dinâmicos, circulares, recursivos e plásticos de 2ª
Ordem e propõe como mecanismo explicativo de todos os sistemas autônomos
as interações de transformações recíprocas entre seus componentes.

Na Parte III do livro, dedicada ao domínio social humano, o autor distingue duas
classes especiais de sistemas sociais humanos: as instituições e os sistemas de
interconstituição de 2ª Ordem. De um lado, as instituições, que são sistemas sociais
humanos nos quais os indivíduos distinguem um padrão de interações pré-
estabelecido, que deve ser seguido por eles próprios. De outro lado, os sistemas
de interconstituição de 2ª Ordem, que são sistemas sociais humanos nos quais os
indivíduos – conversando sobre suas próprias relações – constroem e reconstroem
recursivamente suas próprias formas de interação.

Em outra publicação, intitulada “Não ensine a pescar! Sobre a fundamentação


teórica das práticas sistêmicas” (Esteves-Vasconcellos 2014), o mesmo autor,
explicita que considera os sistemas / redes sociais que se constituem em torno de
uma situação-problema como sistemas autônomos que podem se desenvolver
como sistemas de interconstituição de 2ª Ordem. Utilizando-se então dos
conceitos de sua Teoria Geral dos Sistemas Autônomos ele justifica, ao final, o título
de seu artigo – que se contrapõe à proposta bastante difundida “não dê o peixe,
ensine a pescar” – e propõe que se “convide para uma conversação sobre
pescaria”.

Atualmente, encontram-se na literatura diversas teorias sobre fenômenos


específicos, comumente adjetivadas como sistêmicas, teoria das organizações,
teoria da administração, teoria / modelo dos sistemas viáveis, teoria
multiparadigmática de sistemas, teoria da comunicação humana, entre outras.

Com relação a esta última, a Teoria da Comunicação Humana, destaco uma


situação interessante. Apesar de não se apresentar como uma teoria para os
sistemas em geral, é uma teoria para um fenômeno geral, o fenômeno constitutivo
de todos os sistemas sociais humanos, definidos como sistemas linguísticos, ou
seja, pessoas se comunicando, conversando sobre algo. Portanto, é uma teoria que
se aplica à compreensão das comunicações, constitutivas de todos os sistemas
sociais humanos.

Vimos que o profissional / cientista sistêmico pode assumir uma visão /


epistemologia / postura sistêmica de 1ª Ordem ou de 2ª Ordem. Aqui também,
vemos que ele pode escolher – para compreender o funcionamento e os
resultados das práticas sistêmicas que desenvolve – entre uma teoria sistêmica
geral e/ou teorias sistêmicas específicas. Além disso, pode escolher entre teorias
sistêmicas de 1ª Ordem ou de 2ª Ordem, as que forem consistentes com sua
epistemologia. Caberá, pois, em cada caso, distinguir se estamos de fato diante de
uma teoria sistêmica e, em caso afirmativo, se temos uma teoria sistêmica de 1ª ou
de 2ª Ordem.

Prática, uma dimensão do afazer científico

Nessa dimensão do afazer científico, a dimensão da prática, é que podemos


distinguir as diversas metodologias sistêmicas ou orientações para a prática
sistêmica, atualmente disponíveis no campo sistêmico.

Metodologias costumam ser consideradas como um produto da epistemologia


dos cientistas – poderíamos dizer uma implicação da visão de mundo dos
cientistas – usadas por estes para atuar de forma consistente com aquilo em que
acreditam. A metodologia é um conjunto de orientações para ações concretas a
serem realizadas pelo cientista / profissional numa situação.
Entre as palavras que você listou – adjetivadas com sistêmico(a) – é provável que
se encontrem as palavras método, técnica, atuação, intervenção, trabalho,
instrumento, metodologia, frequentemente tomadas no sentido de prática
sistêmica.

Já vimos que todos tendemos a nos comportar de modo coerente com nossas
premissas ou pressupostos, ou seja, de acordo com aquilo em que acreditamos.
Quando, em determinadas situações, não nos comportamos conforme nossas
crenças, experimentamos um desconforto, a chamada dissonância cognitiva.
Assim, tendo ultrapassado os pressupostos da ciência tradicional e tendo assumido
uma visão sistêmica, o profissional procurará naturalmente realizar práticas
sistêmicas, não porque a ciência o esteja exigindo, mas sim como implicação de
suas novas crenças. Esse profissional procurará desenvolver, sempre que o
contexto o permita, práticas consistentes com sua epistemologia ou visão de
mundo sistêmica.

Parece fundamental destacar que uma prática sistêmica é aquela em que se


aborda um sistema. A noção de sistema tem sido diferentemente definida pelas
teorias sistêmicas originais (de 1ª Ordem) ou por teorias sistêmicas mais recentes,
de 2ª Ordem.

Conforme teorias sistêmicas de 1ª Ordem, aceita-se a definição de sistema como


um “conjunto de elementos em interação”. Já conforme teorias sistêmicas de 2ª
Ordem ou novo-paradigmáticas, distinguir um sistema é propor uma explicação
para uma unidade / totalidade previamente distinguida e, ao distinguir um sistema,
o observador aponta para as relações fundamentais entre os componentes (a
organização do sistema) que, ao serem realizadas, geram uma unidade análoga à
totalidade previamente distinguida (Esteves-Vasconcellos 2013).

Atualmente, são bastante numerosas as metodologias que se apresentam como


orientações para a realização de práticas sistêmicas, dentre as quais, destaco
aquelas não só mais presentes na literatura e nos Congressos Brasileiros de
Sistemas – Capítulo Brasileiro da International Society for the Systems Sciences –,
mas que também têm o adjetivo sistêmico(a) em seu título, descrevendo-as muito
resumidamente, a partir de como têm sido apresentadas por seus proponentes ou
pelos que as divulgam.

- Soft Systems Methodology – SSM ou Método dos Sistemas Flexíveis (Peter


Checkland 1981; 1999). Metodologia para lidar com cenários problemáticos
complexos, onde não existe consenso ou definição clara do problema.
Reconhecida nos círculos acadêmicos como metodologia adequada para abordar
sistemas soft, para modelagem de processos organizacionais, podendo ser usada
tanto para solução de problemas quanto para o gerenciamento de mudanças.

- Systems Dynamics – SD ou Metodologia Dinâmica de Sistemas (Jay W. Forrester


1961; 1968). Referida como uma nova linguagem, uma técnica ou ferramenta de
análise, adequada para tratar a complexidade dinâmica das relações circulares.

- Viable Systems Model – VSM ou Método dos Sistemas Viáveis (Stafford Beer 1967;
1979). Referido como modelo ou método para diagnóstico ou entendimento
sistêmico sobre a viabilidade das organizações.

- Critical Systems Heuristics – CSH (Werner Ulrich 2005). Definida como um quadro
de referência para a prática reflexiva, que pode também servir de instrumento
para coproduzir conhecimento e para se atingirem objetivos emancipatórios por
parte de pessoas preocupadas – mas não necessariamente envolvidas – com a
definição de fatos e valores relevantes.

- Multi-Modal Systems Method – MMSM ou Método Sistêmico Multi-Modal (Donald


de Raadt 2000). Apresentado como método que pretende enfrentar a questão da
sustentabilidade de uma maneira total e que torne possíveis aplicações práticas
em contextos empíricos. Fundamentado em Bertalanffy e em Dooyeweerd (teoria
dos múltiplos aspectos da realidade temporal), articula conhecimentos da filosofia,
teologia, cibernética, gestão, sociologia e informática (Britto 2011).

- Método Sistêmico ou Método do Pensamento Sistêmico (Andrade, Seleme,


Rodrigues e Souto 2006; Andrade, 2014). É considerado por seus autores como um
conjunto de passos para desenvolver a linguagem sistêmica, pensar
sistemicamente e construir mapas de solução de problemas complexos. Tomam-
no como um “roteiro para aplicação do pensamento sistêmico” e adotam o
pensamento sistêmico associado ao modelo de Aprendizagem Organizacional de
Peter Senge, em “A Quinta Disciplina” (1990).

- Metodologia de Atendimento Sistêmico – MAS (Juliana Gontijo Aun, Maria José


Esteves de Vasconcellos, Sônia Vieira Coelho. Vol I 2005, Vol II 2007, Vol III 2010;
Esteves de Vasconcellos 2010; 2015). Nessa metodologia sistêmica novo-
paradigmática - de que sou coautora – aborda-se o sistema linguístico ou a rede
de conversações que se constitui em torno de uma situação-problema distinguida
pelos próprios envolvidos na situação, o qual chamamos de “sistema determinado
pela situação-problema – SDP”.

Ao distinguirmos o sistema a abordar, distinguimos pessoas comprometidas numa


interação linguística, com opiniões divergentes / em posições antagônicas
(acusando-se, recriminando-se mutuamente), quanto a algo que está
acontecendo. Distinguimos uma forma de relação entre as pessoas que, por
discordarem, fazem emergir uma situação-problema. São as posições antagônicas
que as estão impedindo de lidarem colaborativamente com a situação.
Distinguimos, portanto, um problema relacional e é sobre ele que atuamos –
buscando flexibilizar as premissas que estão na base das posições antagônicas -,
com o objetivo de que emerja um contexto colaborativo, de autonomia, o qual
torne possível a coconstrução de solução para a situação-problema distinguida
pelo SDP e a consequente dissolução do problema relacional e do SDP.

A aplicação da Metodologia de Atendimento Sistêmico começa com a


identificação de uma situação-problema e tem dois aspectos fundamentais: a
forma de Constituição do SDP e a forma de Coordenação dos Encontros
Conversacionais do SDP. Tanto na constituição do “sistema determinado pela
situação-problema”, como na coordenação das conversações do sistema, a
Equipe Sistêmica – constituída de profissionais que assumiram o pensamento
sistêmico novo-paradigmático - atua como “expert na criação de contexto” ou
“expert em relações” e não como “expert em soluções”, sendo todos os aspectos
de sua atuação implicações de sua nova visão de mundo. Assim, enquanto o SDP
conversa e se empenha em resolver a “situação-problema nossa” (compartilhada
e em que cuja solução todos estão interessados), a Equipe Sistêmica atua para
desenvolver formas de relação colaborativa que viabilizem ao próprio sistema
coconstruir solução para a “situação-problema nossa”.

A Metodologia de Atendimento Sistêmico tem sido aplicada por Equipes


Sistêmicas na abordagem de situações-problema, em contextos de programas /
políticas – públicas ou privadas (assistência social, saúde, educação, judiciário,
meio ambiente), de situações de conflito, de situações-problema em empresas,
de situações-problema onde quer que essas sejam distinguidas.

Trata-se de uma metodologia para a prática sistêmica novo-paradigmática,


consistente com os pressupostos da epistemologia sistêmica novo-paradigmática
e fundamentada em princípios teóricos também sistêmicos novo-paradigmáticos.
Considerações Finais

Espero que esse texto tenha evidenciado que considero importante tanto
distinguirmos as diferentes dimensões do afazer científico, como também termos
claro o que, a cada momento, estamos qualificando com o adjetivo sistêmico – se
epistemologia, teoria(s) ou prática(s). E que ele tenha também evidenciado que
considero fundamental diferenciarmos entre epistemologia, teoria(s), prática(s) de
1ª Ordem e de 2ª Ordem, tendo sempre presente o que estamos concebendo
como um sistema, concepção de onde decorre necessariamente a qualidade de
sistêmico.

Essa minha compreensão sobre os usos do adjetivo sistêmico me faz estar atenta
e distinguir situações em que, a meu ver, esse adjetivo não está sendo
consistentemente utilizado e, a título de exemplos, aponto adiante algumas delas.

A expressão análise sistêmica, muito frequentemente usada, junta duas palavras


de sentido contrário: a análise é uma operação típica da ciência tradicional que
consiste em separar as partes de um todo complexo. Há muito a ciência vem
procedendo à análise e à atomização e, em busca do elemento essencial de que
o universo está construído, a física, por exemplo, focaliza sucessivamente a
molécula, o átomo, o núcleo e os elétrons, os quarks. A uma operação de análise
não me parece aplicável o adjetivo sistêmico.

Outra expressão que se tem encontrado com frequência é abordagem relacional


sistêmica. Podemos distinguir nessa expressão uma redundância, se
considerarmos que a abordagem sistêmica se refere a colocar-se o foco nas
relações. Então, relacional pode ser considerado como um adjetivo equivalente ao
adjetivo sistêmico e não precisamos utilizar os dois juntos.

Frequentemente temos ouvido falar também de aplicações do pensamento


sistêmico. Como vimos, pensamento é o mesmo que epistemologia e, portanto,
pode ter implicações, mas não aplicações.

Recentemente, encontrei também um autor de um artigo dizendo que a seguir


apresentaria as “metodologias mais conhecidas para pensar e agir sistemicamente
em determinada situação”. Como vimos, uma metodologia sistêmica, como um
conjunto de orientações / propostas para a realização de uma prática sistêmica,
se constitui como uma das dimensões do afazer científico, enquanto o
pensamento sistêmico se constitui como outra dimensão desse afazer, a
epistemologia. A meu ver, uma forma de pensar não emerge necessariamente da
aplicação de uma metodologia e nem a emergência do pensar sistêmico seria um
objetivo a ser alcançado com essa aplicação.

Também costumam acontecer confusões entre os conceitos de teoria e


metodologia, que levam a afirmações, tais como a de que “a Teoria X é uma
metodologia adequada para transformar organizações”. De novo temos duas
diferentes dimensões do afazer científico que não estão sendo distinguidas uma
da outra.

Outra adjetivação, contra a qual já tenho me manifestado, é a que se refere a


“prática individual sistêmica” (Esteves de Vasconcellos 2003). Sendo sistêmicas as
práticas em que o profissional aborda um sistema e focaliza as relações entre seus
componentes – e não um indivíduo isoladamente – não cabe falar-se de nenhuma
“prática individual sistêmica”. Espero que neste texto tenha ficado claro que uma
coisa é a epistemologia / visão de mundo do profissional e outra coisa é a prática
que ele esteja realizando. Ao atender um indivíduo sozinho, o profissional estará
realizando uma prática individual e não uma prática sistêmica. Nesse caso, ele só
conta com a narrativa desse indivíduo sobre o que acontece com ele nos sistemas
de que ele participa. Isso, aliás, acontece em todas as práticas individuais, nas quais
profissionais se fundamentam em diferentes teorias, não sistêmicas. Não estou
dizendo que não haja lugar para as abordagens individuais. Só estou dizendo que
não considero adequado chamar-se de sistêmica qualquer prática realizada com
um único indivíduo, ainda que seja desenvolvida por um profissional que tenha
assumido a visão sistêmica, por isso chamado de profissional sistêmico. Ou seja,
não é pelo fato de o profissional ter adotado o pensamento sistêmico que serão
sistêmicas – abordando sistemas - todas as práticas que ele venha a desenvolver.

Essas mesmas considerações se aplicam à prática denominada de “Constelações


Sistêmicas”. Essa prática - como de resto as técnicas psicodramáticas quando
usadas com um indivíduo - aborda a narrativa de um indivíduo sobre as relações
que ele mantém na família, no trabalho ou em outros contextos de que ele
participe. E as pessoas que simulam o pai, a mãe ou o gerente do constelado
fazem-no a partir da narrativa deste e, também, claro, das suas próprias
experiências de vida, contidas em sua estrutura relacional. Nas práticas sistêmicas
- que também podem usar recursos psicodramáticos - o profissional que as
coordena conta com a presença e as narrativas dos diversos participantes daquele
sistema linguístico e pode observar diretamente as relações entre eles. Além do
mais, parece-me que o autor das Constelações se utilizou bastante de conceitos
próprios do domínio linguístico da Filosofia e mesmo do domínio linguístico da
Religião. Mas preciso deixar claro que o fato de eu fazer essas distinções não
significa que eu não admita que a prática das Constelações possa ser benéfica
para as pessoas que a ela recorrem. Só não parece adequado chamá-la de
sistêmica e nem tentar associá-la a práticas sistêmicas que se desenvolvem no
domínio linguístico da Ciência.

Finalizando, espero ter realizado minha proposta de desencadear reflexões sobre


como cada um de nós pode contribuir para o melhor desenvolvimento do domínio
linguístico que constituímos e no qual nos movemos, o do pensamento sistêmico
e de suas implicações.

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