Tendências Contemporâneas Do Ensino de Artes
Tendências Contemporâneas Do Ensino de Artes
Tendências Contemporâneas Do Ensino de Artes
do Ensino de Artes
Volume único Terezinha Losada
Apoio:
Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Rua da Ajuda, 5 – Centro – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20040-000
Tel.: (21) 2333-1112 Fax: (21) 2333-1116
Presidente
Carlos Eduardo Bielschowsky
Vice-presidente
Masako Oya Masuda
Material Didático
ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO Departamento de Produção
Terezinha Losada
EDITOR DIRETOR DE ARTE
COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO
Fábio Rapello Alencar Alexandre dOliveira
INSTRUCIONAL
Cristine Costa Barreto COORDENAÇÃO DE PROGRAMAÇÃO VISUAL
REVISÃO Alexandre dOliveira
SUPERVISÃO DE DESENVOLVIMENTO
Cristina Freixinho Janaína Santana
INSTRUCIONAL
Miguel Siano da Cunha REVISÃO TIPOGRÁFICA Ricardo Polato
Carolina Godoi ILUSTRAÇÃO
DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL
E REVISÃO Cristina Freixinho Fernando Romeiro
Anna Maria Osborne Elaine Bayma
CAPA
Nataniel dos Santos Gomes Renata Lauria
Fernando Romeiro
Paulo Alves COORDENAÇÃO DE
PRODUÇÃO GRÁFICA
PRODUÇÃO
AVALIAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO Verônica Paranhos
Ronaldo dAguiar Silva
Thaïs de Siervi
ISBN: 978-85-7648-775-3
Governador
Sérgio Cabral Filho
Universidades Consorciadas
CEFET/RJ - CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO
TECNOLÓGICA CELSO SUCKOW DA FONSECA RIO DE JANEIRO
Diretor-geral: Carlos Henrique Figueiredo Alves Reitor: Carlos Levi
AULA
curricular da educação brasileira
Terezinha Losada
Meta da aula
Apresentar a estrutura curricular da educação brasileira, que
se divide nas áreas de Linguagem e de Ciências Naturais e
Humanas, destacando as principais características, objetivos e
desaos metodológicos do ensino na área de linguagens.
objetivos
INTRODUÇÃO Muitos teóricos armam que o grande desenvolvimento do ser humano fren-
te aos demais seres da face da terra deve-se a sua habilidade em utilizar as
mãos, tornando-o capaz de construir ferramentas e transformar a natureza.
Para o antropólogo Levi-Strauss, tal distinção deve-se à aquisição da lingua-
gem. Para ele, a linguagem é a principal “ferramenta” desenvolvida pelo ser
humano, permitindo-lhe elaborar e transmitir conhecimentos, construindo,
desse modo, diferentes culturas e sociedades.
Nesta primeira aula, vamos discutir os diversos tipos de linguagem, suas
diferentes funções comunicativas e os objetivos do ensino de linguagem nos
curŕculos escolares.
AS DIVERSAS LINGUAGENS
ATIVIDADE
1.
8 CEDERJ
1
É impressionante o volume de informações que recebemos cotidianamente
AULA
por meio dos mais variados tipos de est́mulos, sinais e códigos. Essa ima-
gem registra uma cena urbana. Anote os diversos tipos de informações e
est́mulos que você observa nesta ilustração e que poderia sentir e perceber
se estivesse concretamente nesta cena.
Informações visuais: ______________________________________________
_________________________________________________________________
Informações verbais: ______________________________________________
_________________________________________________________________
Informações numéricas: ___________________________________________
_________________________________________________________________
Posśveis informações sonoras: ____________________________________
_________________________________________________________________
Posśveis informações e sensações corporais: ________________________
_________________________________________________________________
Posśveis informações quantitativas: ________________________________
_________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
O objetivo deste exerc´cio de observação e memória foi apenas res-
saltar a innidade de informações que recebemos cotidianamente por
meio dos mais diversos códigos e meios de comunicação. Informações
verbais (orais e escritas) estão presentes nos letreiros das lojas, nas
placas de informação, além da fala das pessoas e dos vendedores
ambulantes anunciando seus produtos. A linguagem matemática é
percept´vel na numeração das ruas, das linhas de ônibus, nos preços
dos produtos nas vitrines, como também nas noções de quantidade,
quando avaliamos o congestionamento do trânsito ou a velocidade
de um carro que passa. São inúmeras as informações visuais, tais
como as cores codicadas dos semáforos (sinais), as fotograas
dos anúncios publicitários, a arquitetura da cidade, a decoração das
lojas, além da cont´nua mudança da moda no vestir, com todas as
suas cores, estamparias e modelos.
Impercept´vel numa fotograa, mas perturbadoramente presente
no cotidiano é a linguagem sonora: o burburinho dos motores, das
buzinas dos carros, dos diferentes tipos de sirenes (ambulância,
bombeiros, pol´cia), dos toques dos celulares, até o eventual canto
de um pássaro ou o latido de um cachorro. Há ainda a expressão
corporal ou cênica do uxo ritmado dos pedestres, ora desviando,
ora esbarrando uns nos outros; os gestos convencionais dos guardas
de trânsito, o assédio dos entregadores de lipetas, que pelo menos
encontraram essa alternativa de trabalho, além do consternamento,
ou mesmo temor, diante das inúmeras crianças e jovens pedintes,
que infelizmente ainda marcam o cenário da realidade brasileira.
CEDERJ 9
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Linguagens e cie ncias: a estrutura curricular da
educação brasileira
10 CEDERJ
(a) (b) (c)
1
AULA
Figura 1.2: (a) Organograma; (b) gráco em forma de pizza; (c) gráco de coluna.
Fontes: http://www.istockphoto.com/le_closeup/?id=11261411&refnum=1056317&source=sxch
u04&sou rce=sxchu04, http://www.sxc.hu/photo/1189105, http://www.sxc.hu/photo/1209458
CEDERJ 11
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Linguagens e cie ncias: a estrutura curricular da
educação brasileira
12 CEDERJ
a Geograa investiga a relação do ser humano com o meio ambiente,
1
destacando seus aspectos f́sicos, demográcos e econômicos.
AULA
Através do detalhamento desses objetos e questões, cada uma
dessas disciplinas se subdivide em inúmeras subdisciplinas, cada qual
podendo abarcar teorias divergentes. Nesse processo de especialização,
aquilo que a ciência ganha em profundidade geralmente perde nas cone-
xões com o todo. Esse é, portanto, o principal desao metodológico do
ensino na área de ciências: Como fomentar o necessário conhecimento
especializado sem perder de vista o sentido de totalidade?
Em śntese, o grande desao do ensino de ciências é estabelecer
a interdisciplinaridade, ou seja, a relação entre as diferentes disciplinas
cient́cas, de modo que o aluno possa ter, ao mesmo tempo, uma visão
plural e integrada da realidade.
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 3
2.
Figura 1.3: Plataforma da Petrobras do Campo Tupi, na bacia de Santos, onde foram
realizados os primeiros testes de extração de petróleo na camada do pré-sal.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Oil_platform_P-51_(Brazil).jpg
CEDERJ 13
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Linguagens e cie ncias: a estrutura curricular da
educação brasileira
“origem do petróleo”
“localização do pré-sal”:
RESPOSTA COMENTADA
Você deve ter percebido que a discussão deste assunto envolve a
relação de conhecimentos ligados a diferentes campos das cièncias.
A hipótese mais aceita entre os cientistas é a de que o petróleo
resulte da decomposição e sedimentação de fósseis, criando os
hidrocarbonetos (Qu´mica). O petróleo pode ser encontrado em
camadas superciais ou muito profundas da crosta terrestre, como
ocorre no pré-sal, tipo de formação geológica que se estende ao
longo da costa brasileira (Geologia, Geograa). Sendo uma impor-
tante riqueza natural, o petróleo é também tema de importantes
discussões econômicas, pol´ticas e sociais ligadas ao campo da
História. Este é o caso das atuais discussões sobre a distribuição dos
royalties do pré-sal. Royalties são taxas que as empresas exploradoras
do petróleo pagam ao Governo Brasileiro e que este distribui aos
diversos estados da Federação. Os critérios dessa distribiução dividem
as opiniões e os interesses dos estados produtores e não-produtores
de petróleo. Você deve ter percebido também que a utilização de
mapas, ilustrações cient´cas e grácos de relações numéricas faci-
litam a compreensão dessas informações especializadas.
14 CEDERJ
OS DESAFIOS NO ENSINO DAS LINGUAGENS
1
AULA
Voltando a discussão sobre a área das linguagens, podeŕamos
então perguntar: qual é o objeto e qual é a questão das linguagens? E
teŕamos de reconhecer que as linguagens permeiam todos os objetos e
todas as questões, todos os conhecimentos de senso comum e todos os
conhecimentos cient́cos. Anal, como vimos, para elaborar e divulgar
suas teorias, as ciências dispõem das linguagens. Recorrem a corriqueira
linguagem verbal, criando terminologias especiais e denindo conceitos
que garantam a objetividade cient́ca. Utilizam linguagens especiais,
como a linguagem da matemática ou o código dos śmbolos qúmicos.
Recorrem, ainda, a s representações imagéticas, tais como os grácos,
diagramas, mapas etc.
CEDERJ 15
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Linguagens e cie ncias: a estrutura curricular da
educação brasileira
CONCLUSÃO
16 CEDERJ
• permite a elaboração de conteúdos afetivos (Dewey e Freinet);
1
• incentiva a cooperação nas interações sociais e a construção da
AULA
identidade cultural (Vigotsky, Paulo Freire, Freinet);
• estabelece v́nculos existenciais e afetivos entre o ambiente esco-
lar e a realidade cotidiana e cultural do aluno (Richter).
ATIVIDADE FINAL
Atende ao Objetivo 3
Fonte: http://www.sxc.hu/photo/1182575
CEDERJ 17
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Linguagens e cie ncias: a estrutura curricular da
educação brasileira
RESPOSTA COMENTADA
Nesta charge, o artista se apropriou do código de representação das placas de
trânsito, dando novos sentidos aos seus elementos. Em vez da função usual de
sinalizar a presença de um posto de combust´vel, ela indica que o cidadão pode estar
cometendo suic´dio ao desenvolver essa ação. Por meio desta estratégia poética e
humor´stica, ele nos leva a pensar sobre os riscos à sobrevivência do planeta e da
espécie humana relacionados ao uso desta fonte de energia.
RESUMO
18 CEDERJ
Dimensão estética: a
pluralidade das formas
AULA
de conhecimento
Terezinha Losada
Meta da aula
Apresentar a arte como uma forma particular
e especial de conhecimento por meio de uma
breve revisão das principais teorias do conheci-
mento e teorias estéticas, legadas pela tradição
losóca ocidental.
objetivos
INTRODUÇÃO
Na aula anterior, analisamos a estrutura curricular da educação brasileira,
particularmente a importância da área de Linguagem, Códigos e suas Tecno-
logias. Salientamos o caráter transversal das linguagens, que funcionam como
instrumentos para a elaboração e a difusão de toda sorte de conhecimentos,
ligados às ciências e à vida em geral. Destacamos que, exatamente por isso,
o ensino da Ĺngua Portuguesa e da Matemática são muito valorizados na
escola. Porém, as linguagens art́sticas nem sempre guardam o mesmo pres-
t́gio. Por que isso ocorre?
Para discutirmos essa questão nesta aula, vamos analisar um uso muito par-
ticular das linguagens: a arte, ou seja, esta forma especial de elaboração da
experiência, do conhecimento e da cultura que não se organiza a partir de
prinćpios racionais ou lógicos, como ocorre com a ciência, mas de prinćpios
estéticos, ligados à percepção sensorial que temos do mundo.
Em torno desse propósito, faremos uma breve discussão das principais teorias
do conhecimento e teorias estéticas formuladas pela tradição losóca. Neste
levantamento histórico será apresentado um grande volume de nomes, datas,
conceitos e correntes teóricas. Mas que tranquilo! Esta é, sem dúvida, a aula
mais densa de teorias de todo o curso e não esperamos que você memorize
todos os dados nela apresentados. Para isso podemos utilizar a memória deste
texto, dos livros, das enciclopédias ou dos computadores, essas preciosas
“extensões” de nossa mente, conforme salientou McLuhan.
De fato, esperamos que esta aula funcione como um mapa, que sinalize os
principais caminhos desenvolvidos pelos lósofos ocidentais para relacionar
os territórios da razão e da sensibilidade em suas teorias do conhecimento.
Muitas dessas teorias já foram ou serão tratadas em outras disciplinas do
nosso curso e serão resgatadas nas próximas aulas, momento em que você
poderá entendê-las melhor, por meio de várias contextualizações.
O MODERNO E O PÓS-MODERNO
20 CEDERJ
2
AULA
Fonte: http://multimedia.iol.pt/iol/gar_multimedia/objecto_imagem/id/1265/584
CEDERJ 21
Tendências Contemporâneas no Ensino de Artes | Dimensão estética: a pluralidade das formas de
conhecimento
ATIVIDADE
1.a. O que você acha dessas teses de Hegel e Lyotard? Para você, a arte, a
religião, a Filosoa e a ciência são formas de conhecimento ou “realização
do esṕrito”? Justique a sua resposta.
22 CEDERJ
2
1.b. Você considera que há uma hierarquia entre essas atividades que
AULA
sinalize um processo evolutivo rumo ao conhecimento absoluto, conforme
argumenta Hegel? Em caso positivo, você adotaria a mesma classicação
de Hegel ou proporia outra? Ou você considera que sejam apenas dife-
rentes formas de experimentar e representar a realidade, como argumenta
Lyotard? Justique a sua resposta.
RESPOSTA COMENTADA
A resposta a esta atividade é de caráter pessoal.
Entretanto, repare que há na atualidade uma grande aceitação das
ideias pós-modernistas de Lyotard, que priorizam o particular e o
plural, em oposição às noções de universal e absoluto. Entretanto,
conforme discutiremos adiante, muitos aspectos relativos a essas
questões dividem as opiniões dos lósofos ainda hoje. Decerto a
consideração desses confrontos de ideias exige um estudo detalhado
da tradição losóca, que extrapola o âmbito desta disciplina. Por-
tanto, o objetivo desta sucinta e rápida aula será apenas o de situar
algumas questões relativas à área de artes, tais como:
- A arte é ou não uma forma de conhecimento?
- A arte está superada, ou ainda representa um modo de experi-
mentar e explicar a realidade no mundo atual?
Mesmo nestes limites, não pretendemos oferecer respostas conclu-
sivas ou consensuais, mas apenas estimular a sua reexão sobre
esse assunto, para que você elabore suas próprias opiniões.
CEDERJ 23
Tendências Contemporâneas no Ensino de Artes | Dimensão estética: a pluralidade das formas de
conhecimento
Platão e o racionalismo
24 CEDERJ
Para Platão (427-348 ou 347 a.C.), a aparência senśvel é ilu-
2
sória, e a essência verdadeira do homem e do cosmos só é alcançada
AULA
pela ideia. Curiosamente, para expor esses conceitos, Platão utilizou
a metáfora, altamente gurativa, do mito da caverna (ver Figura 2.2).
De um lado o fogo que representa a verdade das essências. Do outro
lado, escravos acorrentados no interior escuro da caverna, tomando a
aparência distorcida e fantasmagórica das sombras projetadas pela luz
como se fosse a realidade. A caverna é o mundo concreto dos fenôme-
nos, do homem acorrentado a s opiniões, aos afetos, ao senso comum
e a s diferentes visões de mundo. Segundo Platão, esses vários aspectos
distorcem a compreensão da verdade, que só pode ser alcançada por
meio da intuição das ideias.
CEDERJ 25
Tendências Contemporâneas no Ensino de Artes | Dimensão estética: a pluralidade das formas de
conhecimento
ARISTÓTELES E O EMPIRISMO
26 CEDERJ
Para Aristóteles, a arte, como representação senśvel do mundo,
2
mesmo não alcançando a verdade dos conceitos losócos, teria o mérito
AULA
de cumprir nalidades morais por meio da representação da diferença
entre o bem e o mal. Analisando as formas teatrais de seu tempo, Aristó-
teles argumenta que a epopeia representa estas relações entre o bem e o
mal de modo positivo, descrevendo os grandes fatos heroicos. Entretanto,
a arte pode educar também a partir de exemplos negativos, representando
o feio e o grotesco, como ocorre na comédia, ou purgando as paixões
extremadas por meio da catarse provocada pela tragédia.
CEDERJ 27
Tendências Contemporâneas no Ensino de Artes | Dimensão estética: a pluralidade das formas de
conhecimento
a) b) c)
28 CEDERJ
2
AULA
Atende aos Objetivos 1, 2 e 3
2. Posto que Platão considerasse que a arte não seria necessária na “cidade
ideal”, certamente não haveria o seu ensino na escola desta cidade. Aris-
tóteles, ao contrário, destacou certas funções educativas da arte. Que tipo
de atividades art́sticas você acha que seriam desenvolvidas numa escola
que seguisse os prinćpios desse lósofo?
RESPOSTA COMENTADA
Aristóteles argumenta que a arte colabora para a construção de
valores morais, ajudando-nos a distinguir o bem e o mal. É curioso
notar que, mesmo sem citar Aristóteles, essa concepção é ainda
muito difundida na atualidade. As atividades de artes na escola são
muito utilizadas para a celebração de datas comemorativas que
estimulam o amor e respeito ao próximo (Dia das Mães, do Índio,
da Consciência Negra), a identidade nacional (Dia da Independência
e da Bandeira), ou a discussão de temas relevantes à vida social
(ecologia, saúde, leis de trânsito, etc.) Sem dúvida, todas estas apli-
cações da arte são muito importantes, mas, conforme discutiremos
adiante, o ensino de arte não pode ser reduzido apenas a esses
momentos festivos e a estas funções morais.
CEDERJ 29
Tendências Contemporâneas no Ensino de Artes | Dimensão estética: a pluralidade das formas de
conhecimento
30 CEDERJ
dimento. Mas esta ligação pode ser feita de duas maneiras: ou
2
subordinando as intuições aos conceitos, e nesse caso temos o
AULA
conhecimento objetivo, ou apenas relacionando-os funcionalmen-
te entre si, caso em que temos o prazer estético.
CEDERJ 31
Tendências Contemporâneas no Ensino de Artes | Dimensão estética: a pluralidade das formas de
conhecimento
ATIVIDADE
RESPOSTA COMENTADA
Com certeza a arte teria um papel bem distinto das funções morais
atribu´das por Aristóteles. É poss´vel que ela fosse muito valorizada,
exatamente porque desenvolve a imaginação e a criatividade,
faculdades cognitivas necessárias tanto ao desenvolvimento da
própria arte, quanto da ciência. Veremos na próxima aula que foi
essa convicção que norteou a valorização da arte na escola por John
Dewey, lósofo fundador da Escola Nova.
De todo modo, para Kant, a experiência estética tem uma nalidade
em si mesma, independente de qualquer outra função, que é o ju´zo
de gosto, permitindo-nos na apreciação da natureza, da arte e de
todas as coisas que nos cercam a distinção entre o belo e o feio.
Sem dúvida a beleza é uma fonte de prazer important´ssima em
nossas vidas. Mesmo que a beleza não seja nosso único e principal
critério, ela geralmente orienta nossas escolhas. Entre dois pares
de sapatos do mesmo preço, por exemplo, certamente irei comprar
aquele que me parece o mais bonito.
No entanto, veremos que além de contribuir para a formação moral,
conforme salientou Aristóteles, estimular o desenvolvimento cognitivo
e o prazer do sentimento do belo, aspectos salientados por Kant, a
dimensão estética da arte pode cumprir ainda outras importantes
funções na educação.
32 CEDERJ
ILUMINISMO E ROMANTISMO: O PARADOXO ENTRE
2
RAZÃO E SENSIBILIDADE
AULA
Nada mais exemplar da profunda oposição entre razão e sen-
sibilidade na cultura ocidental do que os dois movimentos culturais
surgidos no século XVIII: o Iluminismo e o Romantismo. Ambos são
movimentos de oposição a ordem aristocrática do absolutismo, repre-
sentando os anseios liberais da burguesia e da classe média emergente.
Porém, elaboram estratégias diametralmente opostas para expressar seu
esṕrito revolucionário.
Os iluministas resgatam os valores da Antiguidade grega: sua
estrutura poĺtica baseada no poder representativo do Senado; o
caráter secular de seus deuses, que expressam as paixões humanas; a
importância do conhecimento racional e sistemático, elaborados por
seus lósofos e geômetras, como o meio de promover a emancipação
humana. Os enciclopedistas, ligados a esse movimento, tiveram um
papel decisivo no desenvolvimento da Revolução Francesa (1789),
inuenciando outros movimentos republicanos na Europa, nos Estados
Unidos e também no Brasil.
(a) (b)
CEDERJ 33
Tendências Contemporâneas no Ensino de Artes | Dimensão estética: a pluralidade das formas de
conhecimento
34 CEDERJ
ATIVIDADE
2
AULA
Atende aos Objetivos 1, 2 e 3
RESPOSTA COMENTADA
Os exemplos desse tipo de aplicação das artes são muito frequentes
e variados, particularmente nas práticas art´sticas que envolvem o
uso da linguagem verbal, caso da literatura e do texto teatral. No
campo da música, por exemplo, o caráter narrativo do funk é muito
apreciado pelos alunos como meio de discutir problemas sociais
e também questões ligadas à vida do jovem contemporâneo. No
âmbito das artes visuais, tornou-se muito frequente a utilização de
“sucatas”, isto é, a reciclagem art´stica de materiais descartáveis
como meio de denunciar o consumismo e os problemas ecológicos
do mundo atual.
CEDERJ 35
Tendências Contemporâneas no Ensino de Artes | Dimensão estética: a pluralidade das formas de
conhecimento
(a) (b)
O Dicionário Eletrô-
nico Houaiss (HOU-
AISS, 2009) traz o
seguinte verbete para
o termo N I I L I S M O :
1. redução ao nada;
aniquilamento; não
existência;
2. ponto de vista Figura 2.8: (a) Friedrich Schiller (1759-1805); (b) Friedrich Nietzsche
que considera que as (1884-1900).
crenças e os valores Fontes: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Friedrich_schiller.jpg; http://
tradicionais são en.wikipedia.org/wiki/File:Portrait_of_Friedrich_Nietzsche.jpg
infundados e que
não há qualquer sen-
tido ou utilidade na
existência;
3. total e absoluto
esṕrito destruti- Nas suas Cartas, Schiller preconiza que, por meio da educação
vo, em relação ao estética, a liberdade que a arte propicia poderia estender-se para os
mundo circundante e
ao próprio eu; doḿnios das relações sociais e morais, promovendo o surgimento de um
4. rubrica: losoa.
no nietzschianismo, Estado ideal, no qual o estético e o moral se confundem. Porém, em
negação, decĺnio
sua sexta carta, ele já acusa a suspeita, muito recorrente na atualidade,
ou recusa, em curso
na história humana de que o otimismo utópico desta estetização da poĺtica, que busca fundir
e especialmente na
modernidade ociden- a arte a vida, esbarra nas condições adversas da educação do homem
tal, de crenças e con-
vicções – com seus
moderno, baseada na fragmentação e utilitarismo das ciências.
respectivos valores Se, para Schiller, tais condições se apresentam como uma adver-
morais, estéticos
ou poĺticos – que sidade, possivelmente superável pela educação estética, para Nietzsche,
ofereçam um sentido
consistente e positivo os vieses da modernidade são insuperáveis. Antiluzes, antiutopias,
para a experiência antimoral, antirreligião, Nietzsche, em seu N I I L I S M O radical, também faz
imediata da vida.
considerações sobre a educação e a estetização do cotidiano. Quanto
36 CEDERJ
a educação, tece cŕticas que ainda permanecem atuais. Recrimina a
2
reprodução mecânica e enfadonha dos clássicos gregos nas escolas em
AULA
detrimento de uma formação pautada nas questões fundamentais da
vida. Sobre a estetização do cotidiano, Nunes (1991, p. 67) sintetiza
que para Nietzsche as artes
ATIVIDADE
RESPOSTA COMENTADA
Realmente, é dif´cil imaginar uma escola que se dena como “niilista”,
pois a educação pressupõe esperança, conança nos valores e conhe-
cimentos que transmite, seja no sentido de manter uma tradição, ou
de transformá-la para melhor.
No entanto, todos nós temos nossos momentos niilistas, nos quais
nada parece fazer sentido. É comum nessas horas nos isolarmos
do mundo para ouvir uma música, contemplar uma paisagem, ou
mesmo para escrever um poema, só para desabafar. Portanto,
além da percepção da beleza, a arte tem esse poder de expressar
o sublime, de comunicar sentimentos incomunicáveis nas formas
cotidianas da linguagem, de modo que o ensino de Arte cumpre
também esse importante papel de permitir a elaboração e expressão
de conteúdos emocionais.
CEDERJ 37
Tendências Contemporâneas no Ensino de Artes | Dimensão estética: a pluralidade das formas de
conhecimento
Figura 2.9: (a) Nicolau Copérnico (1473-1543); (b) Charles Darwin (1809-1882); (c) Karl Marx (1818-1883); (d)
Sigmund Freud (1858-1939).
Fontes: (a) http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Copernicus.jpg; (b) http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Copernicus.jpg; (c)
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Karl_Marx_001.jpg; (d) http://en.wikipedia.org/wiki/File:Sigmund_Freud_LIFE.jpg
38 CEDERJ
Aliás, Freud foi um homem absolutamente cético (ou niilista?)
2
sobre os deśgnios superiores da humanidade. Segundo ele (CHAUÍ,
AULA
1997), o narcisismo do homem moderno foi ferido três vezes por
postulados da ciência: o de Copérnico, revelando que a Terra não é o
centro do universo; o de Darwin, sobre sermos descendentes de primatas;
e, por m, a própria teoria psicanaĺtica, que apresenta a consciência
humana irremediavelmente cindida pelos impulsos antagônicos do
inconsciente.
CONCLUSÃO
Figura 2.10: (a) Jean-François Lyotard (1924-1998); (b) Jürgen Habermas (1929-); (c) Marshall McLuhan
(1911-1980).
Fontes: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Jean-Francois_Lyotard_cropped.jpg; http://en.wikipedia.org/wiki/
File:JuergenHabermas.jpg; http://en.wikipedia.org/wiki/File:MarshallMcLuhan.png
CEDERJ 39
Tendências Contemporâneas no Ensino de Artes | Dimensão estética: a pluralidade das formas de
conhecimento
40 CEDERJ
ATIVIDADE FINAL
2
Atende aos Objetivos 1, 2 e 3
AULA
E voce , o que acha dessas diferentes perspectivas (ora pessimistas, ora otimistas)
sobre o impacto das tecnologias da comunicação no mundo atual?
RESPOSTA COMENTADA
Decerto, a nossa participação neste curso de Educação a Distância revela que
compartilhamos do otimismo de McLuhan. Contudo, isso não signica que iremos
perder de vista a importância do crivo cr´tico das demais ideias aqui discutidas. Em
suma, o objetivo desta aula é exatamente esse, o de fundamentar historicamente
e suscitar discussões sobre a pluralidade de ideias que envolvem a compreensão
da importância do conhecimento, da Educação e do ensino de Arte no contexto
cultural contemporâneo.
RESUMO
A partir da análise das relações entre a experie ncia estética e a atividade racional,
podemos confrontar a opinião de diversos lósofos sobre a arte. Destacamos as
objeções de Platão ao caráter ilusório, ou mesmo corruptor, das impressões senś-
veis e suas representações por meio da arte. Aristóteles toma a arte como véculo
de difusão de valores morais. Para Kant, diferentemente, o sentimento de beleza
que derivamos da natureza e da arte é algo livre, desinteressado e irredut́vel a
conceitos. Kant também destaca a importa ncia cognitiva da imaginação, faculdade
necessária tanto ao desenvolvimento da arte, quanto da cie ncia. A estética roma n-
tica, por sua vez, atribui a arte um papel contestador, ora como cŕtica social, ora
como manifestação das angústias dos seres humanos frente ao seu mundo. Estes
dois aspectos – social e psicológico – foram aprofundados respectivamente por
Marx, ao desenvolver o conceito de ideologia, e por Freud, por meio do conceito
de inconsciente.
CEDERJ 41
Tendências Contemporâneas no Ensino de Artes | Dimensão estética: a pluralidade das formas de
conhecimento
Por m, observe algumas concepções divergentes sobre o contexto contempora neo.
Habermas defende a importa ncia de se continuar perseguindo o desenvolvimento
da razão cŕtica. Lyotard contesta que tal projeto caracteŕstico da modernidade
deve ser superado por uma perspectiva pós-moderna, que contemple a plurali-
dade dos modos de sentir, viver e narrar a realidade. No entanto, por diferentes
razões, ambos guardam certo pessimismo sobre o mundo contempora neo, marcado
pelo desenvolvimento técnico e cient́co, aspecto que, ao contrário, entusiasma
McLuhan e seus seguidores atuais.
Por meio das atividades propostas nesta aula, buscamos demonstrar como as
diversas concepções losócas discutidas afetam o nosso modo de pensar e realizar
o ensino de Arte. Aprofundaremos essa discussão na próxima aula, dedicada a
discussão da dimensão cultural da arte, de suma importa ncia na escolha do que
ensinamos nas aulas de Arte.
42 CEDERJ
Dimensão educacional: a plurali-
AULA
dade das correntes pedagógicas
Terezinha Losada
Meta da aula
Apresentar uma revisão histórica das principais ten-
dências pedagógicas do ensino de arte no Brasil.
objetivos
PEDAGOGIA TRADICIONAL
44 CEDERJ
Já a caverna, com todas as suas sombras ilusórias e fantasmagó-
3
AULA
ricas, representaria as impressões, sentimentos e experiências ligadas a
realidade concreta do aluno. Aspectos estes normalmente desqualicados
ou mesmo reprimidos pela educação tradicional como conhecimento de
senso-comum, isto é, um conhecimento vulgar, ligado a crendices, aos
nossos afetos e temores, sem o crivo sistemático dos métodos cient́cos
de aferição da verdade.
Esta mesma metáfora do mito da caverna é válida para associar as
concepções da Pedagogia Tradicional ao movimento losóco iluminista
do século XVIII. Pois esta corrente losóca prioriza o conhecimento
positivo ou objetivo, ligado a razão e a ciência, como o meio de se
alcançar a Verdade sobre as coisas do mundo e a Liberdade dos seres
humanos, lemas da Revolução Francesa.
Por outro lado, podemos também relacionar a Pedagogia Tradicio-
nal a algumas ideias de Aristóteles. Pois, conforme vimos anteriormente,
ele desenvolveu a noção de que as artes cumprem funções pedagógicas
moralizantes e civilizatórias, seja de modo edicante, caso da epopeia,
ou então quando representam aspectos negativos da realidade por meio
da comédia ou da tragédia.
CEDERJ 45
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Dimensão educacional: a pluralidade das cor-
rentes pedagógicas
ATIVIDADE
Atividades de Música:
Comentário:
RESPOSTA COMENTADA
Você deve ter notado que as concepções de Herbart e da Pedagogia
Tradicional conciliam aspectos poss´veis de serem relacionados tanto
às ideias de Platão como às de Aristóteles. A marca intelectualista ou
idealista de Platão pode ser observada no ensino de música, quando
este enfatiza a estrita transmissão do código musical e também na
utilização do desenho geométrico como meio para desenvolver o
pensamento lógico-matemático.
Em contrapartida, estão mais próximas das ideias de Aristóteles
as derivações instrumentais que tomam o ensino de linguagem
como meio de favorecer a formação moral e c´vica dos alunos, tais
como: o canto orfeônico (hinos), as peças celebratórias de teatro e
46 CEDERJ
3
a concepção higienista do corpo adotada nas aulas de
AULA
Educação F´sica. É interessante notar também que a
ênfase instrucional do ensino de arte na Pedagogia Tradi-
cional seguia distinções de classe social e de gênero. Aos
meninos das escolas de elite era privilegiado o ensino da
Geometria, com o objetivo de desenvolver o pensamento
abstrato; para os das classes populares era enfatizada a
formação para o trabalho, por meio das escolas de artes e
of´cios. Seguindo a mesma lógica, as escolas femininas de
elite ensinavam “prendas domésticas”, visando à formação
das futuras esposas e mães e, por outro lado, ensinavam
atividades art´sticas ligadas ao magistério, para as moças
que ingressariam nessa carreira de trabalho.
NOVA ESCOLA
CEDERJ 47
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Dimensão educacional: a pluralidade das cor-
rentes pedagógicas
48 CEDERJ
Resgatando as discussões da Aula 2, pode-se derivar dos prinć-
3
AULA
pios da Escola Nova algumas relações com os pressupostos cognitivos
de Kant. Pois os educadores escolanovistas destacam a importância da
arte na escola para desenvolver a imaginação e a criatividade, estimu-
lando o desenvolvimento das capacidades de levantar hipóteses sobre a
realidade e testá-las na solução de problemas. E, conforme discutimos,
para Kant a Imaginação, geralmente ligada apenas a s artes, é também
fundamental para o desenvolvimento das ciências.
Também podemos relacionar a valorização do ensino de arte no movi-
mento escolanovista ás ideias de Nietzsche, Freud e a s posteriores formulações
de Lyotard, posto que todos eles consideram a arte como uma forma particular
e especial de conhecimento válida em si mesma, que nos permite lidar com
conteúdos emocionais, imposśveis de serem elaborados pela lógica racional.
Baseada nestes prinćpios românticos, a tônica do ensino de arte
nesta vertente é a experimentação e a livre expressão. A interferência
do professor neste processo é normalmente vista como algo negativo,
que afeta a liberdade e a espontaneidade da criança. Apesar das grandes
contribuições dessa corrente pedagógica, este aspecto será redimensiona-
do nas atuais propostas metodológicas para o ensino de arte, conforme
veremos adiante.
CEDERJ 49
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Dimensão educacional: a pluralidade das cor-
rentes pedagógicas
ATIVIDADE
RESPOSTA COMENTADA
As propostas de educação musical relacionadas à Escola Nova
ainda hoje são muito difundidas. Elas guardam em comum certos
princ´pios, tais como a exploração dos movimentos r´tmicos do corpo
e a improvisação musical a partir de melodias populares, da fala
cotidiana, dos sons do ambiente e do uso de instrumentos simples
de percussão.
50 CEDERJ
CONSTRUTIVISMO E SOCIOCONSTRUTIVISMO
3
AULA
O empirismo é o principal aspecto da teoria do conhecimento
de Aristóteles. Para ele a experiência sensorial e concreta que temos do
mundo e sua representação pelas formas art́sticas ajudam o paulatino
desenvolvimento do pensamento abstrato. No âmbito das teorias edu-
cacionais, esta ênfase na experimentação como meio para a construção
do conhecimento é normalmente identicada como construtivismo. Os
métodos educacionais desenvolvidos por Pestalozzi (1746-1827) e Mon-
tessori (1870-1952), entre outros importantes educadores, são baseados
neste prinćpio empirista. Todos destacam a importância da utilização
de jogos e atividades operatórias para promover o desenvolvimento cog-
nitivo da criança. A maioria dessas atividades envolve o caráter lúdico
das linguagens art́sticas, valorizadas nesta corrente por cumprirem essa
função instrumental, relacionada ao desenvolvimento cognitivo.
Piaget (1896-1980) formalizou teoricamente essa concepção
identicando fases progressivas do desenvolvimento cognitivo infantil:
sensóriomotor (0 a 2 anos), pré-operacional (3 a 6 anos), operações
concretas (7 a 11 anos) e nalmente operações formais (12 em diante),
fase marcada pelo amplo doḿnio do pensamento abstrato.
Vygotsky, por seu turno, irá contestar esse caráter linear e uni-
versal do desenvolvimento infantil proposto por Piaget, argumentando
sobre a importância dos fatores socioculturais nesse processo, tendência
denominada socioconstrutivismo. De grande importância nesse sentido,
é seu conceito de zona proximal de aprendizagem, que prevê uma postura
ativa do professor no sentido de criar situações de aprendizagem que
favoreçam o desenvolvimento cognitivo da criança.
Figura 3.3: Jean Piaget (1896-1980), Lev Vygotsky (1896-1934) e Paulo Freire
(1921-1997).
Fontes: http://en.wikipedia.org/wiki/Jean_Piaget; http://es.wikipedia.org/wiki/Lev_
Vygotski; http://en.wikipedia.org/wiki/Paulo_Freire
CEDERJ 51
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Dimensão educacional: a pluralidade das cor-
rentes pedagógicas
ATIVIDADE
RESPOSTA COMENTADA
Um dos aspectos mais interessantes das propostas de Augusto Boal
é que, no planejamento pedagógico, você só pode escolher anteci-
padamente a técnica teatral a ser ultilizada e o tema a ser tratado.
Fora isso, tudo mais é imprevis´vel! Pois Boal não desenvolveu um
teatro convencional, com texto xo, nal predeterminado, atores de
52 CEDERJ
3
AULA
lado e público de outro. Ao contrário, conforme devem ter notado,
todas as suas propostas são interativas, de modo que seu desen-
volvimento e desenlace dependem da participação ativa e cr´tica
do público. Aliás, muitas vezes, o público sequer percebe que está
participando de uma proposta teatral, vivendo aquela “cena” como
uma experiência concreta, em algum contexto real de sua vida.
Atualmente, muitos programas de televisão exploram suas técnicas
teatrais por meio das famosas “pegadinhas”. Além do ineditismo,
aquilo que distingue as propostas de Boal dessas outras iniciativas
é exatamente o seu propósito. O objetivo do Teatro do Oprimido
não é expor as pessoas a situações vexatórias, como ocorre nos
atuais programas televisivos, mas incitá-las a reetir e agir diante dos
problemas candentes de sua realidade. Certamente, uma proposta
como essa tem muito a contribuir para a Educação!
TECNICISMO
CEDERJ 53
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Dimensão educacional: a pluralidade das cor-
rentes pedagógicas
TENDÊNCIAS ATUAIS
ATIVIDADE
54 CEDERJ
3
AULA
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
Diferentemente da “livre expressão”, tônica do ensino de arte esco-
lanovista, o que caracteriza a maioria dessas propostas é buscar
uma formação mais ampla, relacionando – cada proposta ao seu
modo – aspectos tais como: o fazer art´stico, a apreciação e inter-
pretação cr´tica de obras de arte, o conhecimento da História da
Arte, a compreensão e a aquisição dos códigos art´sticos, fatores
que aprofundam e dão signicado existencial e histórico ao apren-
dizado da arte.
CEDERJ 55
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Dimensão educacional: a pluralidade das cor-
rentes pedagógicas
56 CEDERJ
Também profundamente relacionada ao debate pós-moderno, a
3
AULA
última tendência mencionada, Cotidiano e Ḿdias, volta-se particular-
mente para a cultura urbana. Nela se inscreve uma vasta lista de temas:
as relações entre centro e periferia nas grandes cidades, entre cultura
erudita e cultura de massa e o impacto das novas ḿdias, especialmente
na vida das crianças e jovens, temas muito explorados pela vertente
educativa denominada Cultura Visual.
CONCLUSÃO
CEDERJ 57
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Dimensão educacional: a pluralidade das cor-
rentes pedagógicas
ATIVIDADE FINAL
Atende aos Objetivos 1, 2 e 3
Tema da aula:
___________________________________________________________________________
Público-alvo:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
58 CEDERJ
Metodologia:
3
AULA
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
Ao longo de nosso curso você será convidado a realizar vários outros planejamen-
tos didáticos, explorando aspectos pontuais das teorias que estivermos discutindo.
Esse, contudo, é especialmente importante porque poderá enriquecer e orientar a
realização de todos os demais. Seu objetivo é demonstrar que você pode articular,
de modo cr´tico e criativo, estratégias didáticas oriundas das mais variadas correntes
pedagógicas e ligadas às diferentes linguagens art´sticas.
RESUMO
Nota-se que algumas das tende ncias pedagógicas enfatizam o valor particular e
auto nomo da arte, enquanto outras destacam o seu valor instrumental. A auto-
nomia é o traço dominante, embora não exclusivo, das propostas escolanovistas,
como também de algumas metodologias desenvolvidas a partir dos anos 1980,
como o DBAE, por exemplo. Outras priorizam o valor instrumental do ensino
de arte, entendido como um meio para se alcançar diferentes objetivos peda-
gógicos. Tais objetivos podem estar relacionados ao desenvolvimento cognitivo
do estudante, como ocorre em certas propostas da Pedagogia Tradicional e no
CEDERJ 59
Construtivismo; em outros casos pode visar a uma atualização tecnológica e a
preparação para o trabalho, traço da Pedagogia Tradicional aplicada nas escolas
populares e do Tecnicismo; ou então tomar o ensino de arte como meio para
promover o desenvolvimento do esṕrito cŕtico e identidário do aluno, e nfase do
socioconstrutivismo e das vertentes pós-modernas. No entanto, o objetivo desse
panorama não foi o de se construir uma lista de tende ncias ultrapassadas, mas
o de resgatar as múltiplas potencialidades desses conhecimentos pedagógicos
acumulados ao longo da história.
Dimensão cultural: a pluralidade
AULA
das tradições artísticas
Terezinha Losada
Metas da aula
Demonstrar que os estilos artísticos variam de
acordo com a visão de mundo e os interesses
comunicativos de cada cultura, de cada época e
de cada situação contextual.
objetivos
EVOLUCIONISMO OU DIVERSIDADE?
62 CEDERJ
4
AULA
Figura 4.1: Antiguidade, arte Figura 4.2: Antiguidade, arte grega, mosaico
eǵpcia, pedra tumular, Nefertari. dos caçadores.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Deer_
Ficheiro:Maler_der_Grabkammer_ hunt_mosaic_from_Pella.jpg
der_Nefertari_004.jpg
CEDERJ 63
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Dimensão cultural: a pluralidade das tradições
art́sticas
Figura 4.3: Idade Média, ́cone bizantino. Figura 4.4: Idade Moderna
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/ – Renascimento, Virgem, o
File:L%27abb%C3%A9_M%C3%A9na_et_le_ menino e Santa Ana, Leonar-
Christ_01.JPG do da Vinci.
Fonte: http://es.wikipedia.org/
wiki/Archivo:Leonardo_da_
Vinci_020.jpg
64 CEDERJ
A RELAÇÃO ENTRE FORMA E FUNÇÃO
4
AULA
Ernst Gombrich (1909-2001) adota as relações entre forma e fun-
ção nas imagens como o meio de romper com essa concepção. Ele inicia a
obra que trata desse assunto armando que o evolucionismo está morto
(GOMBRICH, 1986), tornando-se, por isso, um dos precursores dos estudos
culturais sobre arte, ligados a s áreas da Antropologia e da Semiótica.
ATIVIDADE
(a) (b)
RESPOSTA COMENTADA
Não sei qual foi a sua resposta, mas certamente trata-se de uma
comparação desconcertante. Pois, se um arquiteto quiser mostrar
ao seu cliente a aparência de um edif´cio, a Figura b, com todos
os seus efeitos de perspectiva, luz e sombra, apresenta-se como a
forma de representação mais adequada. Porém, se ele for instruir
um engenheiro sobre a sua construção, o modo linear e plano da
planta baixa, exemplicado na Figura a, torna-se mais eciente,
pois representa todos os cômodos do edif´cio com suas respectivas
medidas, sem as distorções das projeções em perspectiva.
Portanto, não é poss´vel analisar tais exemplos a partir de pressu-
postos evolucionistas ou absolutos. Considerando suas respectivas
CEDERJ 65
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Dimensão cultural: a pluralidade das tradições
art́sticas
Gombrich ressalta que a arte eǵpcia tinha uma função ocial e religiosa,
representando o que as coisas são e deveriam ser por toda a eternidade.
Para ser claro e leǵvel, as pessoas eram sempre representadas de modo
frontal, com o rosto de perl, de modo a serem facilmente identicadas.
Notem que essa mesma estratégia ainda hoje é utilizada nas fotograas
de documentos e de identicação policial. As imagens do faraó e de
outras divindades ocupam a posição central da composição, e a diferença
de tamanho entre as guras reete sua importa ncia na hierarquia social.
Notem que costumamos utilizar essa estrutura frontal e centralizada
na maioria das fotograas de cerimo nias ociais, como, por exemplo, a
representação do presidente com seus ministros, fotograas de formatura
acade mica ou mesmo as fotos ociais dos times de futebol.
66 CEDERJ
A arte grega, por outro lado, assumiu uma função narrativa, repre-
4
sentando como as coisas são em sua aparência imediata e transitória,
AULA
assemelhando-se, desse modo, a noção atual do agrante fotográco.
Nela predomina o ponto de vista do artista, como é o caso da gura na
qual o fotógrafo captura o instante de um drible. Desse modo, a arte
deixa de representar uma verdade eterna, consensual, guiada por regras
ligadas a tradição, e passa a representar fatos corriqueiros ou mesmo
situações imaginadas pelos artistas, tornando-se uma cção.
Por isso, conforme discutimos na aula anterior, Platão se opôs a pre-
sença da arte na sua cidade ideal, pois ela poderia induzir ao erro e a ilusão,
ao passo que Aristóteles considera que o caráter ccional da arte poderia
cumprir nalidades educativas. As divergências entre esses dois lósofos
sobre a arte de seu tempo nos demontra que nenhum dos dois estilos ana-
lisados – eǵpcio e grego – é melhor ou mais evoúdo do que o outro. Eles
apenas são diferentes, representando diferentes funções comunicativas.
Em um paralelo com os exemplos usados no ińcio desta discussão,
podeŕamos dizer que a arte eǵpcia se assemelha a planta baixa arquitetô-
nica. Nela, tudo é representado na exata medida das convenções sociais,
enquanto a arte grega representa os fatos em perspectiva, salientando a
aparência das coisas, o ponto de vista e a opinião do autor.
Analisando essas diferenças, Gombrich deu uma importante
contribuição teórica para romper com os estigmas pejorativos e precon-
ceituosos das teorias evolucionistas. Ele nos demonstrou que, com sua
inteligência e criatividade, toda civilização e seus diversos grupos culturais
desenvolvem suas próprias formas simbólicas de representação, a m de
expressar seus interesses, seus valores e sua visão de mundo.
No entanto, abandonar nossos próprios valores e interesses para
entendermos quais são os valores e interesses do outro é algo sempre
muito dif́cil, tanto em nossa vida cotidiana como na poĺtica ou nos
estudos acadêmicos. Por isso, a ruptura com concepções evolucionistas
e universais em favor da identicação e valorização da diferença
tornou-se um fator central das teorias sociais contemporâneas, também
chamadas pós-modernas.
CEDERJ 67
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Dimensão cultural: a pluralidade das tradições
art́sticas
ATIVIDADE
Figura 4.7: Placa de sinalização de tra nsito. Figura 4.8: Carranca, arte
Fonte: http://www.sxc.hu/photo/806340 popular da região do rio São
Francisco (MG) Brasil.
Fonte: http://en.wikipedia.org/
wiki/File:Carranca-vampiro.JPG
RESPOSTA COMENTADA
Esses exemplos sintetizam as nossas discussões, demonstrando
como a forma de uma imagem muda de acordo com suas funções
contextuais e culturais. Nenhuma delas representa a gura humana
de modo el ou mimético. Na Figura 4.7, a gura humana é repre-
sentada de modo extremamente simplicado. Esta forma esque-
mática de representação cumpre a função de permitir uma leitura
rápida e objetiva da informação que pretende transmitir, aspecto
necessário nas placas de trânsito e demais meios de sinalização. A
Figura 4.8, ao contrário, representa a gura humana, exagerando
suas formas de modo dramático e caricatural. Seguindo uma tradi-
ção antiga, também presente em outras culturas, essas esculturas
68 CEDERJ
4
AULA
denominadas “carrancas”, são colocadas nas proas dos barcos do rio
São Francisco com a função de assustar o observador, protegendo
a embarcação do assalto de qualquer perigo, tais como invasores,
monstros, maus esp´ritos etc.
CEDERJ 69
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Dimensão cultural: a pluralidade das tradições
art́sticas
70 CEDERJ
Sem dúvida, a obra de Debret é um importante documento his-
4
tórico e antropológico. Ela nos mostra como os ́ndios nativos do Brasil
AULA
viviam no século XIX, sua liberdade com a nudez e muitos de seus
hábitos e modos de viver. No entanto, ela expressa um olhar externo,
ou seja, a visão de Debret, um francês, sobre essa cultura exótica. Tudo
é representado de acordo com os cânones da arte europeia, de modo
bastante pitoresco, idealizado e romântico. Será que a vida dos ́ndios
então colonizados era de fato assim tão harmoniosa? Qual o siginica-
do de sua própria cultura, de seus rituais, de seus adornos? Essas são
algumas das questões formuladas pelas correntes antropológicas e dos
atuais estudos culturais.
Método Questão
Biográco Quem fez a obra?
Formalista Quais as caracteŕsticas da obra?
Quando e em que contexto social, poĺtico e econo mi-
Histórico e sociológico
co a obra foi produzida?
Antropológico Quais as macromotivações culturais da obra?
Quais as micromotivações culturais da obra, envol-
Pós-moderno ou pós-
vendo questões de classe social, idade, etnia, ge nero,
estruturalistas
opção sexual e religiosa, entre outros aspectos?
CEDERJ 71
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Dimensão cultural: a pluralidade das tradições
art́sticas
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 5
Cultura afro-brasileira
Nome do recurso:
Link:
Comentário:
Cultura ind́gena
Nome do recurso:
Link:
72 CEDERJ
4
AULA
Comentário:
Educação especial
Nome do recurso:
Link:
Comentário:
RESPOSTA COMENTADA
A criação deste site foi uma iniciativa do MEC de grande importância
para a formação do professor. Nele são encontrados recursos dos
mais variados suportes multim´dia e formatos (textos e sites para
pesquisa, livros didáticos, relatos de planos de aula). Outro aspecto
importante é que se trata de uma produção colaborativa, na qual
todo professor pode publicar suas iniciativas e comentar a de seus
colegas. Participe, publicando um dos comentários feitos por você
nesta atividade no site.
CONCLUSÃO
Portanto, mesmo não sendo uma ciência com aquele perl disciplinar
de objetos e questões espećcas mencionado em nossa primeira aula, pode-
mos dizer que as linguagens geram um importante e diversicado campo
teórico, envolvendo contribuições de diversas abordagens disciplinares.
Assim, buscamos, nesta aula, reconstruir o "campo" das linguagens e das
artes como uma área de conhecimento fundamental para o desenvolvimento
humano, um "campo" no sentido mais extenso do termo, intrinsecamente
multi e interdisciplinar e, acima de tudo, essencialmente transversal, pois
seu doḿnio coincide com a própria estatura simbólica e cultural do ser
humano, tão rica e instigante exatamente devido a sua diversidade.
CEDERJ 73
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Dimensão cultural: a pluralidade das tradições
art́sticas
ATIVIDADE FINAL
Atende aos Objetivos 3 e 4
Escolha uma obra de arte de que voce goste. Pode ser uma pintura, uma música,
um lme ou qualquer outro ge nero art́stico, ligado a cultura erudita ou
popular. Identique a obra escolhida e, em seguida, escreva um breve texto
cŕtico sobre ela. Busque responder a s diversas questões relativas aos diferentes
métodos teóricos apresentadas no diagrama. Não é necessário responder a todas
as questões. Elas são apenas para metros de análise.
RESPOSTA COMENTADA
Para construir o seu texto, se oriente nas análises feitas sobre a obra Ind́genas, de
Debret (Figura 4.9) .
74 CEDERJ
4
RESUMO
AULA
A partir da discussão das relações entre forma e função, nesta aula buscamos
ressaltar a importa ncia da arte como patrimo nio histórico e cultural, ressaltando
seu papel no fortalecimento da identidade cultural e na promoção do respeito
a diversidade. Para isso, buscamos desconstruir os preconceitos universalistas e
evolucionistas subjacentes a s distinções entre arte erudita, arte popular, cultura
de massa e artes aplicadas.
CEDERJ 75
Funções da linguagem: o referen-
AULA
te, o emissor e o receptor
Terezinha Losada
Meta da aula
Relacionar as dicussıes de Roman Jakobson
sobre as funçıes da linguagem ao campo do
ensino de artes.
objetivos
INTRODUÇÃO Na aula anterior, discutimos a relação entre forma e função para analisar
a diversidade cultural. Nesta aula, veremos que o linguista russo Roman
Jakobson (1896-1982) se utilizou desse mesmo critério para interpretar a
linguagem verbal, criando uma tipologia das mensagens. Embora dirigida à
análise dos usos cotidianos da linguagem, sua teoria exerceu grande inuência
no desenvolvimento da cŕtica literária e das artes em geral.
78 CEDERJ
5
AULA
Quadro 5.1: Fatores que envolvem uma mensagem
CEDERJ 79
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Funções da linguagem: o referente, o emissor e
o receptor
FUNÇÃO REFERENCIAL
D E N O TA Ç Ã O
A linguagem tem uma função cognitiva. Por seu O Referente liga-se a 3“ pessoa do
intermédio, nomeamos todas as coisas que conhe-
cemos e inventamos. Este sentido convencional, ou verbo. Do que se fala? De quem se fala?
literal, das palavras é chamado denotação.
(CHALHUB, 1990).
C O N O TA Ç Ã O A intenção da mensagem com função
É o que normalmente chamamos de sentido gu- referencial é criar uma representação da reali-
rado, ou seja, quando, a partir de alguma relação
de semelhança, aplicamos o sentido usual de uma dade circundante. Ela está ligada a apreensão
palavra a outras situações. Se eu armar que Maria
é uma rosa, decerto quero dizer que ela é bonita e sensorial que temos do mundo. Nela, predomi-
delicada, e não que seja efetivamente um vegetal. na o sentido D E N O TAT I V O da linguagem, criando
mensagens objetivas e descritivas.
Vejamos alguns exemplos da função referencial. Na linguagem
cotidiana, essa função apresenta-se nas mensagens com a intenção de
descrever aspectos sobre as coisas, pessoas e fatos que nos rodeiam.
Outro exemplo é a linguagem jornaĺstica, que deve relatar com delidade
e imparcialidade os fatos poĺticos e sociais, embora, muitas vezes, se
possam identicar vieses subjetivos e ideológicos. Essa função também
destaca-se na linguagem cient́ca, que busca descrever, de modo crite-
rioso e objetivo, os fenômenos naturais e sociais.
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
80 CEDERJ
5
AULA
RESPOSTA COMENTADA
Este exerc´cio de observação é interessante porque, envoltos em
nossas atividades cotidanas, muitas vezes deixamos de observar o
mundo a nossa volta. Note, também, que a estrutura do texto que
você acabou de produzir é aplicada a várias funções técnicas, tais
como as atas de reuniões e os laudos de per´cia policial.
Linguagens artísticas
CEDERJ 81
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Funções da linguagem: o referente, o emissor e
o receptor
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
RESPOSTA COMENTADA
A função referencial explora a relação entre arte e realidade. As ativi-
dades art´sticas com esse foco estimulam o aluno a observar o mundo
ao seu redor, compreendê-lo e representá-lo de modo estético e cr´tico.
Vale ainda salientar que, no planejamento didático, a realização dessas
atividades art´sticas pode ser associada de modo interdisciplinar às
reexões ligadas às Ciências Naturais e Sociais.
82 CEDERJ
Função emotiva
5
AULA
O emissor liga-se a 1“ pessoa do verbo. Quem fala? (CHA-
LHUB, 1990).
A função emotiva é identicada por sua marca subjetiva. Ela é
proeminente nas situações em que buscamos expressar nossos senti-
mentos e emoções. Porém, pode ser observada também em quase todas
as mensagens cotidianas, pois, mesmo quando tratamos de um assunto
referencial, deixamos transparecer o valor emotivo que o tema tem para
nós. No texto oral, isso se manifesta na postura corporal, nas entonações
de voz. Na linguagem escrita, por meio do uso de adjetivos, interjeições,
sinais de pontuação (exclamação, reticências) e alguns advérbios.
Chalhub (1990, p. 22) argumenta que, devido ao caráter confes-
sional e subjetivo dessa função, o diálogo toma a forma de monólogo
emotivo – no qual o emissor é receptor de si mesmo. Quantas vezes,
como se costuma dizer, alugamos a orelha de um amigo simplesmente
porque precisamos desabafar, falar de nossas emoções e sentimentos.
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
3. Desejo agora que você esqueça tudo que está ao redor, feche os olhos
por um minuto, a m de olhar para dentro de si, seu estado de esṕrito,
seus sentimentos, seu humor. Feito isso, escreva um breve parágrafo sobre
o que você sentiu e pensou.
RESPOSTA COMENTADA
Este exerc´co de observação interior é interessante porque, envoltos
em nossas atividades cotidanas, muitas vezes deixamos de observar
quais são os nossos próprios anseios, necessidades e situação afetiva.
Note também que a estrutura do texto que você acabou de produzir
é aplicada a várias funções contextuais, tais como a tradição de
escrever um diário pessoal, hoje largamente substitu´da pelos blogs,
CEDERJ 83
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Funções da linguagem: o referente, o emissor e
o receptor
Linguagens artísticas
84 CEDERJ
5
AULA
Figura 5.3: Alfredo Oliani: Último adeus, Cemitério São Paulo, túmulo da faḿlia
Cantarella.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Alfredo_Oliani_-_%C3%9Altimo_Adeus_
(T%C3%BAmulo_Cantarella).JPG
CEDERJ 85
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Funções da linguagem: o referente, o emissor e
o receptor
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 2
RESPOSTA COMENTADA
A função emotiva explora a relação entre arte e autoria. As ativi-
dades art´sticas com esse foco estimulam o aluno a observar a si,
seus sentimentos, emoções, suas opiniões acerca de si, do outro
e do mundo. Vale salientar que as disciplinas cient´cas tratam de
inúmeras questões polêmicas sobre a vida social e ambiental do ser
humano. Associar de modo interdisciplinar as atividades art´sticas a
esses temas é uma excelente oportunidade para o aluno elaborar e
expressar seus próprios sentimentos e opiniões sobre esses temas,
posicionando-se de modo pessoal (emotivo), distinto da abordagem
objetiva, ligada à função referencial.
86 CEDERJ
ATIVIDADE
5
AULA
Atende ao Objetivo 1
RESPOSTA COMENTADA
Embora dirigido a você, este exerc´cio simula uma situação cona-
tiva. São conativas todas as mensagens que, de modo imperativo,
veiculam uma ordem ou conselho. Provavelmente, a estrutura das
frases que você acabou de produzir seja muito semelhante a outros
tipos de discursos conativos, tais como: mandamentos religiosos
(10 mandamentos cristãos), regras de jogo e legislações em geral,
como é o caso das placas grácas de trânsito, que automaticamente
traduzimos como ordens do tipo: Não ultrapasse, Vire à esquerda
ou à direita etc.
LINGUAGENS ARTÍSTICAS
CEDERJ 87
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Funções da linguagem: o referente, o emissor e
o receptor
88 CEDERJ
O teatro, por sua vez, busca romper a distância entre palco e pla-
5
teia, criando estruturas cênicas mais interativas. Ligado aos movimentos
AULA
poĺticos contrários a ditadura militar dos anos 1960, Augusto Boal, por
exemplo, desenvolveu a proposta denominada Teatro Inviśvel. Nela, os
atores atuam nas ruas sem se identicarem como tal, criando situações
que exigem a participação do público sobre temas ligados a realidade
social e poĺtica do pás.
Denominada pegadinhas, esse tipo de proposta é hoje muito
utilizado por programas de televisão, geralmente expondo o público a
situações vexatórias. Nesse sentido, vale destacar a objeção de Adorno,
lósofo ligado a Escola de Frankfurt, de que a principal estratégia do sis-
tema hegemônico para evitar o efeito transgressor das vanguardas não foi
rechaçá-las, mas sim absorver suas estratégias, banalizando e neutralizando
seus efeitos cŕticos, como ocorre com as pegadinhas da televisão.
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 2
RESPOSTA COMENTADA
A função conativa explora a relação entre arte e público, estimulando
a criação coletiva de obras, a interatividade e a cooperação. Por
meio desse tipo de ação art´stica, muitos temas relevantes podem
ser tratados na escola, tais como os preconceitos sociais e raciais, o
assédio entre colegas (bulling), questões ecológicas (desperd´cio de
água, energia, tratamento do lixo), entre outras possibilidades.
CEDERJ 89
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Funções da linguagem: o referente, o emissor e
o receptor
CONCLUSÃO
RESUMO
Na próxima aula, trataremos dos fatores que sustentam essa interação comunicativa:
o código (função metalingústica) e o canal (função fática).
90 CEDERJ
Funções da linguagem: o
AULA
canal e o código
Terezinha Losada
Meta da aula
Relacionar as discussıes de Roman Jakobson
sobre as funçıes da linguagem ao campo do
ensino de artes.
objetivos
FUNÇÃO FÁTICA
92 CEDERJ
ATIVIDADE
6
AULA
Atende ao Objetivo 1
RESPOSTA COMENTADA
Embora os termos sejam os mesmos – “Eu te amo” –, certamente
cada um dos meios citados causa um impacto diferente no recep-
tor (função conativa). Pois os meios não são ve´culos neutros, ao
contrário, eles condensam diferentes potencialidades expressivas,
valores simbólicos e ideológicos (função fática). Assim, podemos
distinguir o sentido mais ´ntimo e mesmo corriqueiro do primeiro
exemplo, do tradicional e o sentido simbólico, caráter romântico do
buquê de ores, do extravagante sentido público do último exemplo.
Ou seja, atribu´mos valores diferentes a uma mensagem de acordo
com o meio pelo qual ela é veiculada. Por isso, é comum, diante
da desconança de alguém sobre uma informação que estamos
transmitindo, armarmos que aquilo é verdade porque você viu num
livro, jornal ou canal de televisão.
LINGUAGENS ARTÍSTICAS
CEDERJ 93
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Funções da linguagem: o canal e o código
94 CEDERJ
6
AULA
Figura 6.2: Marcel Duchamp, Fonte: ready-made assinado
com o pseudo nimo R. Mutt, 1917.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Fontaine_
Duchamp.jpg
CEDERJ 95
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Funções da linguagem: o canal e o código
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Camera_obscura.jpg
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
96 CEDERJ
6
AULA
RESPOSTA COMENTADA
Uma atividade muito interessante, e já bastante difundida, envolven-
do a função fática é a utilização de materiais recicláveis nas aulas de
artes (“sucatas” industriais ou orgânicas, como fez Kracjberg). Nesta
atividade, entretanto, decidimos focar a utilização das novas m´dias.
Pois, apesar de despertar grande interesse nos estudantes e estar
cada vez mais presente em suas vidas, o uso dessas tecnologias
na escola ainda é muito incipiente. Exatamente por serem alunos
de um curso semipresencial, que utiliza essas novas tecnologias
para formar futuros professores, vocês representam a vanguarda
dessa transformação, tão importante para a educação do futuro.
Utilizando os recursos do computador (softs de edição de imagem
e de som) e as oportunidades de pesquisa da internet, você pode
desenvolver inúmeras atividades que enriqueçam as aulas de artes
e que relacionem seus conteúdos com outros aspectos da vida e
das ciências.
FUNÇÃO METALINGUÍSTICA
CEDERJ 97
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Funções da linguagem: o canal e o código
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
3. Para discutir esta função da linguagem, sempre pergunto aos meus alunos
por que Beethoven, sendo um músico tão criativo, nunca compôs um samba?
Será que ele, sendo um compositor alemão do século XVIII, poderia compor
um samba se quisesse? O que você acha?
RESPOSTA COMENTADA
Para responder a esta questão, teremos de resgatar nossas discus-
sões sobre a dimensão cultural da arte, pois, independentemente
de sua grande criatividade musical, sendo um compositor alemão
do século XVIII, Beethoven jamais poderia compor um samba; do
mesmo modo como você não é capaz de criar um texto em grego
sem conhecer o código desse idioma. Para compreender melhor
esta questão, vamos resgatar as ideias de Ernst Gombrich, teórico
discutido na Aula 3.
98 CEDERJ
LINGUAGENS ARTÍSTICAS
6
AULA
Quando Gombrich arma que nenhum artista é independente
de predecessores e modelos (1986, p. 24), ele quer dizer que aquilo que
determina a preservação ou mudança dos estilos art́sticos é a metalin-
guagem, isto é, o modo como o artista dialoga com os códigos de sua
própria tradição cultural e com as informações que porventura tenha
sobre outras culturas.
Em outras palavras, do mesmo modo como só conseguimos pen-
sar e nos comunicar a partir dos códigos lingústicos que conhecemos,
o artista também cria suas obras a partir dos modelos de representação
(schematas) por ele já conhecidos. Portanto, o ato criativo não é uma
inspiração pura, livre de qualquer condicionamento. Se fosse assim, argu-
menta Gombrich, as obras de arte seriam absolutamente distintas entre
si. Não seria posśvel contar a História da Arte, distinguindo as caracte-
ŕsticas comuns (estilo ou código) de cada época e de cada lugar.
Utilizando a distinção lingústica entre ĺngua e fala, Gombrich
arma que os estilos art́sticos também são construções coletivas que
funcionam como um idioma (ĺngua) sobre o qual o artista articula sua
expressão individual (fala). Nessa prática construtiva, os artistas são
condicionados por sua tradição cultural e são, também, os responsáveis
por sua transformação. Do mesmo modo, são os falantes, ou usuários
da ĺngua, que a transformam ao longo da História, criando novos
termos, como são as ǵrias, e imprimindo novos sentidos a s palavras já
existentes, conforme atestam as pesquisas etimológicas.
Portanto, toda obra de arte tem um traço metalingústico, posto
que traduz ou transforma algum código estiĺstico preexistente. Retoman-
do nosso exemplo, podemos dizer que todo samba é assim identicado
porque repete algo do código dessa tradição, ao mesmo tempo que pode
estar também inovando-a e transformando-a.
Essas inovações, contudo, não são gratuitas. Elas atendem aos
novos interesses comunicativos dos artistas e do público. A partir da
Revolução Industrial do século XIX e da revolução tecnológica atual,
as intensas transformações sociais repercutem no âmbito da cultura em
geral e da arte em particular. A ruptura com a tradição e a busca pelo
novo tornou-se um paradigma da arte ocidental, de modo que o tema
CEDERJ 99
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Funções da linguagem: o canal e o código
100 CEDERJ
Este intenso exerćcio metalingústico acabou transformando a
6
inovação, em si mesma, como um dos principais critérios de avaliação e
AULA
valorização da arte ocidental. A busca por novos códigos de representa-
ção se tornou uma função da arte, particularmente entre os movimentos
de vanguardas do século XX. Em outras palavras, há na arte desse peŕodo
uma grande ênfase na função metalingústica. Os artistas utilizam a arte
para discutir o próprio conceito de arte, subvertendo seus códigos tradi-
cionais. Disso resulta também uma grande ênfase na função fática, por
meio da pesquisa de novos materiais e meios adequados a esse propósito
altamente cŕtico e experimental, caso da emblemática obra Fonte, de
Marcel Duchamp.
CONCLUSÃO
ATIVIDADE FINAL
Atende ao Objetivo 2
Por meio desse tipo de atividade o aluno desenvolve, ao mesmo tempo, suas
habilidades como receptor de arte e como emissor, produzindo trabalhos art́sticos.
CEDERJ 101
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Funções da linguagem: o canal e o código
Tais visitas a museus hoje podem ser feitas de modo virtual, por meio dos sites
dessas instituições. A seguir estão os links de dois importantes museus do estado
do Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas-Artes – MNBA (http://www.mnba.gov.
br/) e Museu de Arte Moderna – MAM-RJ (http://www.mamrio.com.br/).
Visite esses museus e escolha uma obra que ache interessante. Faça a releitura
dessa obra percebendo, desse modo, como tal atividade pode ser aplicada em sala
de aula. Utilize o quadro a seguir ou outro suporte, de acordo com os materiais
(função fática) que desejar empregar.
102 CEDERJ
6
RESUMO
AULA
Na aula anterior, discutimos as funções da linguagem ligadas a s tre s pessoas do
verbo: 1“ pessoa (quem fala – função emotiva), 2“ pessoa (com quem se fala –
função conativa) e 3“ pessoa (de quem ou do que se fala – função referencial).
Nesta aula, abordamos os elementos que sustentam esse processo comunicativo.
O código (função metalingústica) liga-se a dimensão abstrata da linguagem,
envolvendo os diferentes idiomas (portugue s, france s, latim) e também as carac-
teŕsticas convencionais que distinguem os vários estilos art́sticos (Renascimento,
Barroco, Cubismo etc.). O canal (função fática), por outro lado, está relacionado
a dimensão concreta dos meios utilizados para veicular a mensagem, sejam eles
tradicionais (livro, pintura a óleo sobre tela), ligados a s inovações tecnológicas,
ou experimentais, como a pesquisa de novos suportes e materiais na arte. Vimos
nos exemplos apresentados que a pesquisa de novos códigos de representação
e meios de veiculação é uma das principais caracteŕsticas da arte moderna e
contempora nea.
CEDERJ 103
Funções da linguagem: a
AULA
mensagem
Terezinha Losada
Meta da aula
Relacionar as dicussıes de Roman Jakobson
sobre as funçıes da linguagem no campo do
ensino de artes.
objetivos
Fator
Função da linguagem Questão Relação
comunicativo
Do que se fala?
Função referencial Referente De quem se fala? Arte e realidade
Onde se fala?
Função fática Canal (meios, suportes, ma- Arte e tecnologia
teriais)
106 CEDERJ
FUNÇÃO POÉTICA
7
AULA
O fator enfatizado nesta função é a mensagem. Podemos identi-
cá-lo perguntando: Como se fala? (CHALHUB, 1990).
Vamos iniciar a discussão desta função realizando a seguinte
atividade.
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
1. Responda:
a) Quantas vezes você costuma ler uma matéria de jornal de que gostou
e que achou interessante?
RESPOSTA COMENTADA
Em tom de ironia, certa vez uma aluna já formada em jornalismo
respondeu-me que lê as reportagens jornal´sticas “meia” vez, pois
logo antevê sua abordagem, perdendo o interesse. De fato, para a
maioria de nós basta uma boa leitura do jornal, ao passo que pode-
mos escutar uma música inúmeras vezes sem nos cansar, extraindo
de cada escuta diferentes sentidos e sentimentos. Isso ocorre porque
na matéria jornal´stica predomina o valor cognitivo ou informativo da
mensagem, ligado à função referencial da linguagem, de modo que
seu conteúdo pode ser expresso de diferentes formas sem preju´zo
do seu teor informativo. Na arte, ao contrário, forma e conteúdo
relacionam-se de modo único, indissociável. É essa interrelação entre
o “o quê” e o “como” que imprime o seu valor estético, aspecto que
Jakobson dene como função poética.
CEDERJ 107
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Funções da linguagem: a mensagem
O eixo da seleção
Numa frase, um termo pode ser substitúdo por outro com teor
equivalente, por exemplo: Eu te amo, Eu te adoro, Eu gosto de você.
Esse é o eixo da seleção. Ele é guiado pela similaridade, pela analogia
semântica dos sinônimos e antônimos. Na função poética, aquilo que
predomina nas seleções não é apenas o valor denotativo (literal) da
palavra, mas especialmente o seu teor conotativo, ligado a s qualidades
senśveis que a palavra sugere, isto é, suas caracteŕsticas sonoras, ŕt-
micas e grácas. Por isso, Jakobson associa o eixo da seleção ao caráter
alusivo da metáfora.
Ao discutir o conceito de denotação, comentamos que aquilo que
liga uma palavra (signicante) ao seu sentido (signicado) é uma conven-
ção. No entanto, Jakobson irá relativizar a ideia corrente na lingústica
de que esta relação é estritamente arbitrária. Por exemplo, na palavra
108 CEDERJ
trovão, a vibração da letra r e a articulação aberta do fonema ão,
7
também utilizado para criar o grau aumentativo das palavras, parecem
AULA
guardar um nexo de analogia com a magnitude dos rúdos e vibrações
concretas do fenômeno natural representado por esta palavra. Isto não
signica que irei confundir o termo trovão com o termo Brandão,
que possui caracteŕsticas similares, pois acima desses atributos quali-
tativos, aquilo que governa o código é a convenção. Contudo, devido a
semelhança entre os dois termos e a essas analogias senśveis, se for criar
um personagem agressivo e intempestivo numa história, certamente o
nome Brandão lhe cairá muito bem. São essas relações metafóricas que
orientam o eixo da seleção na mensagem poética.
O eixo da combinação
CEDERJ 109
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Funções da linguagem: a mensagem
110 CEDERJ
não era julgar a arte, mas apenas estabelecer alguns critérios para a sua
7
apreciação, embora seu sentido último e mais verdadeiro nunca se esgote
AULA
por meio da análise cŕtica.
FUNÇÃO REFERENCIAL
CEDERJ 111
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Funções da linguagem: a mensagem
FUNÇÃO EMOTIVA
FUNÇÃO CONATIVA
FUNÇÃO FÁTICA
112 CEDERJ
FUNÇÃO METALINGUÍSTICA
7
AULA
Código: Com o quê se fala?
Sem dúvida, essa escolha fática de Duchamp gerou uma profunda
crise metalingústica no público, isto é, as pessoas olhavam aquilo e
provavelmente se perguntavam: O que está acontecendo? Por que esse
obejto, ligado a vida privada e a s necessidades biológicas mais primárias
do ser humano, está aqui exposto e assinado como se fosse uma obra
de arte? Que petulância! Será que este artista esta querendo zombar de
nosso bom-senso, de nosso esṕrito cŕtico? Isso não é arte! Ou será?
Como analisar essa situação se não se encaixa em nenhum código, em
nenhuma convenção art́stica antes prevista?
O fato é que esta foi a obra mais comentada da exposição e até hoje
suas repercussões estão sendo discutidas. Diante disso, pode-se dizer que
por meio de uma estratégia fática, a seleção de um mictório, Duchamp
criou uma obra que enfatiza a função metalingústica. Isso porque ela é
uma obra de arte que nos leva a reetir sobre o próprio conceito de arte,
discutindo seus limites e suas impreviśveis possibilidades.
CONCLUSÃO
CEDERJ 113
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Funções da linguagem: a mensagem
ATIVIDADE FINAL
Agora é sua vez de aplicar os conceitos de Jakobson. Escolha uma obra de arte e
desenvolva a sua análise cŕtica. Utilize a mesma estrutura de análise da obra de
Duchamp apresentada na Resposta Comentada da outra atividade e dos demais
exemplos discutidos nas aulas anteriores.
Seja conativo! Imagine que voce está escrevendo um texto para algum jornal e queira
realmente despertar o interesse do público sobre algum artista e sua obra.
Voce pode escolher qualquer obra: do passado ou atual; ligada a cultura erudita,
a cultura popular ou a cultura de massa; feita por um artista renomado, pouco
conhecido, ano nimo, ou mesmo por voce . Tal obra pode estar ligada a qualquer
linguagem: música, artes visuais, teatro, dança, cinema, v́deo, videoclip, literatura,
quadrinhos, grate etc., etc., etc. Antes, porém, observe as orientações a seguir:
A partir dessa questão, voce deve analisar como cada um dos demais fatores
apresenta-se na obra, tecendo um breve comentário sobre cada função da
linguagem: referencial, emotiva, conativa, fática e metalingústica. Ao nal, voce
deve identicar qual dessas funções lhe parece mais relevante na interpretação
daquela obra, justicando sua escolha.
1. Note que esta classicação nal pode variar de pessoa para pessoa. Ela
revela a sua interpretação da obra e, como vimos uma obra de arte pode gerar
múltiplos sentidos sem nunca se esgotar. O importante é que voce justique
os seus argumentos, utilizando corretamente os conceitos. Em outras palavras,
nesta atividade o professor irá avaliar apenas a compreensão dos conceitos e sua
aplicação em novas situações.
114 CEDERJ
2. É importante salientar também que este tipo de análise é denominada semiótica
7
ou semiológica, por se deter nos aspectos intŕnsecos da linguagem, isto é, nas
AULA
características presentes na obra. Portanto, na justicativa sobre cada uma das
funções da linguagem (as subsidiárias e a principal) voce deve descrever os aspectos
observados relativos a cada fator comunicativo.
3. Todos os fatores comunicativos devem ser analisados, pois de algum modo eles
contribuem para a interpretação da obra. Note que em alguns casos um fator
comunicativo é importante exatamente pela ausência daquela caracteŕstica na
obra. Por exemplo, na primeira escultura de D. Pedro I (Figura 5.2), apresentada
na Aula 5, a função emotiva não se manifesta, o que reforça o sentido objetivo de
sua e nfase puramente referencial, ao passo que outra representação de D. Pedro I
(Figura 5.4) é altamente emotiva, permitindo, inclusive, que ela seja classicada
como conativa, pois D. Pedro I parece incitar o público a segui-lo. Nesse mesmo
sentido, pode-se dizer que na arte abstrata há certo sentido de fuga da realidade,
devido aos artistas ligados a este estilo terem abandonado a função referencial
da linguagem.
4. Por m, é important́ssimo frisar que fatores externos à obra também iluminam
a sua interpretação, tais como dados históricos, sociológicos e biográcos. Muitas
cŕticas são feitas a s análises semióticas, acusando-as de não considerarem estes
aspectos. Isso é uma meia-verdade! De fato, muitos teóricos recusam a consideração
destes fatores em suas análises, xando-se apenas nas caracteŕsticas internas da
obra, sendo, por isso, chamados formalistas. Outros salientam sua importa ncia,
porém com a ressalva de que tais contextualizações devem sempre ser aplicadas ao
esclarecimento dos atributos percept́veis na obra. Propomos que nesta atividade
seja adotada essa segunda perspectiva. Portanto, diante da obra escolhida, é
interessante voce pesquisar esses aspectos em livros, sites ou entrevistas com os
autores, quando posśvel. O importante é que, em suas análises, voce busque
relacionar estas informações a s caracteŕsticas observáveis na obra.
RESPOSTA COMENTADA
Para realizar esta atividade, utilize as informações da tabela apresentada e siga a mesma
estrutura da análise realizada no item Fonte, de Marcel Duchamp (Figura 7.1). Pesquise
também a análise realizada sobre as obras apresentadas nas Aulas 4 e 5.
CEDERJ 115
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Funções da linguagem: a mensagem
RESUMO
116 CEDERJ
Contextualização: o processo de
AULA
construção do conhecimento
Terezinha Losada
Meta da aula
Apresentar a importância do princípio da
contextualização no ensino de arte e
das linguagens em geral.
objetivos
118 CEDERJ
8
AULA
Fonte: http://www.sxc.hu/photo/690954
CEDERJ 119
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Contextualização: o processo de construção do
conhecimento
120 CEDERJ
Tradicionalmente, o ensino da linguagem verbal, nacional e estran-
8
geira, se divide em três eixos: gramática, literatura e redação. Resgatando
AULA
nossas discussões sobre as teorias de Roman Jakobson (Aulas 5, 6 e 7),
pode-se dizer que o aluno precisa conhecer o código (gramática) para
desenvolver suas habilidades como emissor (redação ou produção de
texto) e como receptor (literatura). De fato, as atuais formulações
pedagógicas reivindicam que, no eixo da recepção, o estudante deve ser
estimulado a apreciar e interpretar a arte (literatura e demais formas
art́sticas), como também todos os outros tipos (gêneros) de mensagem
que povoam o nosso cotidiano.
CEDERJ 121
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Contextualização: o processo de construção do
conhecimento
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
RESPOSTA COMENTADA
A linguagem matemática está presente na própria estrutura de uma
revista, denindo a sua data e a numeração de sua edição, tiragem
e páginas. Vários outros exemplos, contudo, podem ser encontrados
tanto nos textos quanto nas imagens, por meio de referências quan-
titativas, monetárias, de porcentagem ou de combinação numérica,
caso dos códigos de barras e placas de automóveis.
122 CEDERJ
ABORDAGEM TRIANGULAR: A IMPORTÂNCIA DA
8
CONTEXTUALIZAÇÃO NO ENSINO DE ARTES
AULA
A educadora Ana Mae Barbosa desenvolveu a Abordagem Trian-
gular durante efervescência das discussões metodológicas para o ensino de
arte na década de 1980, exercendo uma fecunda inuência na formação
dos professores de arte.
Inicialmente, sua proposta tinha como vértices o conhecer, o
apreciar e o fazer. Posteriormente, o termo conhecer foi subs-
titúdo por contextualizar. Longe de ser um mero jogo de palavras,
em torno dessa mudança conceitual podemos sintetizar os objetivos das
discussões realizadas ao longo de todo o nosso curso.
CEDERJ 123
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Contextualização: o processo de construção do
conhecimento
Figura 8.2: Linguagens art́sticas: (a) Música; (b) Teatro e (c) Artes visuais
Fontes: http://www.sxc.hu/photo/956901; http://www.sxc.hu/photo/476129; http://www.sxc.hu/photo/607060
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 2
124 CEDERJ
8
AULA
Nome e autor da obra em análise:
RESPOSTA COMENTADA
Note que a dinâmica da estrutura triangular dessa proposta permite
que a aula seja iniciada a partir de qualquer um de seus vértices.
Não existe uma ordem xa, e o desenvolvimento de atividades
ligadas a cada um dos eixos pode ocorrer em vários momentos.
Vamos analisar um exemplo. Como se trata de uma aula baseada
na análise de uma obra de arte espec´ca, você pode fazê-la da
forma mais tradicional, isto é, mostrar a obra para os alunos e, de
imediato, fazer uma exposição teórica sobre seu autor, seu estilo,
seus signicados e suas referências históricas. Desse modo, já
estaria cumprida a etapa de contextualizar os conhecimentos sobre
aquela obra. Porém, isso teria ocorrido de uma forma intelectualista
e diretiva, sem permitir que o aluno elabore e explore suas próprias
hipóteses interpretativas e ligadas ao fazer. Por isso Ana Mae subs-
titui o termo “conhecer” por “contextualizar”, pois contextualizar é
processo de aprendizagem, algo interativo, investigativo, ao passo
que o termo “conhecer” refere-se ao resultado da aprendizagem,
que pode ocorrer de modo ativo e cr´tico, ou passivo, congurando
aquilo que Paulo Freire denomina “educação bancária”. Para evitar
esse viés você pode solicitar, como atividade introdutória, que os
CEDERJ 125
Tendências Contemporâneas do Ensino de Artes | Contextualização: o processo de construção do
conhecimento
RESUMO
126 CEDERJ
Tendências Contemporâneas
do Ensino de Artes
Referências
Aula 1
BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos. Inquietações no ensino de arte. São Paulo,
Cortez, 2002.
Aula 2
Aula 3
128 CEDERJ
ESCOLINHA de Arte do Brasil. In: ENCICLOPÉDIA Itaú cultural: artes visuais.
Dispońvel em: <http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.
cfm?fuseaction=marcos_texto&cd_verbete=3757&cd_item=10&cd_idioma=28555>.
Acesso em: 31 jan. 2011.
MARTINS, Maria Lúcia. Augusto Rodrigues: um educador com arte. Educação pública.
Dispońvel em: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/0069_09.
html>. Acesso em: 31 jan. 2011.
Aula 4
Aula 5
CEDERJ 129
Aula 6
Aula 7
Aula 8
BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. São Paulo: Perspectiva, 1991.
______; CUNHA, Fernanda Pereira (Org.). Abordagem triangular no ensino das artes e
culturas visuais. São Paulo: Cortez, 2010.
130 CEDERJ