Lethality by Pneumonia and Factors Associated To Death

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J Pediatr (Rio J).

2014;90(1):92−97

www.jped.com.br

ARTIGO ORIGINAL

Lethality by pneumonia and factors associated to death☆,☆ ☆


Sidnei Ferreiraa,*, Clemax C. Sant’Annaa, Maria de Fátima B. P. Marcha,
Marilene Augusta R.C. Santosb e Antonio Jose Ledo A. Cunhaa

a
Departamento de Pediatria, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
b
Secretaria Municipal de Saúde, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Recebido em 22 de fevereiro de 2013; aceito em 15 de maio de 2013

KEYWORDS Abstract
Pneumococcal Objective: To describe the case-fatality rate (CFR) and risk factors of death in children
pneumonia; with community-acquired acute pneumonia (CAP) in a pediatric university hospital.
Penicillin G; Method: A longitudinal study was developed with prospective data collected from 1996
Case-fatality rate; to 2011. Patients aged 1 month to 12 years were included in the study. Those who
Inpatients; left the hospital against medical orders and those transferred to ICU or other units
Pediatric hospitals were excluded. Demographic andclinical-etiological characteristics and the initial
treatment were studied. Variables associated to death were determined by bivariate
and multivariate analysis using logistic regression.
Results: A total of 871 patients were selected, of whom 11 were excluded; thus 860
children were included in the study. There were 26 deaths, with a CFR of 3%; in 58.7%
of these, penicillin G was the initial treatment. Pneumococcus was the most common
pathogen (50.4%). From 1996 to 2000, there were 24 deaths (93%), with a CFR of 5.8%
(24/413). From 2001 to 2011, the age group of hospitalized patients was older (p =
0.03), and the number of deaths (p = 0.02) and the percentage of disease severity were
lower (p = 0.06). Only disease severity remained associated to death in the multivariate
analysis (OR = 3.2; 95%CI: 1.2-8.9; p = 0.02).
Conclusion: When the 1996-2000 and 2001-2011 periods were compared, a significant
reduction in CFR was observed in the latter, as well as a change in the clinical profile
of the pediatric in patients at the institute. These findings may be related to the
improvement in the socio-economical status of the population. Penicillin use did not
influence CFR.
© 2013 Sociedade Brasileira de Pediatria. Published by Elsevier Editora Ltda. All rights
reserved.

DOI se refere ao artigo: http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2013.05.008



Como citar este artigo: Ferreira S, Sant’Anna CC, March MdF, Santos MA, Cunha AJ. Lethality by pneumonia and factors associated
todeath. J Pediatr (Rio J). 2014;90:92-7.
☆☆
Trabalho realizado no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
Rio de Janeiro, Brasil.
*Autor para correspondência.
E-mail: sidneifer@superig.com.br (S. Ferreira).

© 2013 Sociedade Brasileira de Pediatria. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.
Lethality by pneumonia and factors associated to death 93

PALAVRAS-CHAVE Letalidade por pneumonia e fatores associados ao óbito


Pneumonia
pneumocócica; Resumo
Penicilina G; Objetivo: Descrever a taxa de letalidade (TL) e os fatores de risco de óbito em crianças
Letalidade; com pneumonia grave adquirida na comunidade (CAP) em um hospital universitário
Pacientes internados; pediátrico.
Hospitais pediátricos Método: Foi desenvolvido um estudo longitudinal com dados prospectivos coletados de 1996
a2011. Foram incluídos no estudo pacientes com idade entre 1 mês e 12 anos de idade.
Foram excluídos aqueles que deixaram o hospital desconsiderando as recomendações médi-
cas e aqueles transferidos para UTI ou outras unidades. Foram estudadas as características
demográficas, clínicas e etiológicas e o tratamento inicial. As variáveis associadas a óbito
foram determinadas por análise bivariada e multivariada utilizando regressão logística.
Resultados: Foi selecionado um total de 871 pacientes, dos quais 11 foram excluídos;
assim, foram incluídas no estudo 860 crianças. Houve 26 óbitos, com uma TL de 3%; em
58,7% desses, penicilina G foi o tratamento inicial. Pneumococo foi o patógeno mais
comum (50,4%). De 1996 a 2000, houve 24 óbitos (93%), com uma TL de 5,8% (24/413).
De 2001 a 2011, a faixa etária de pacientes internados foi mais velha (p = 0,03) e o
número de óbitos (p = 0,02) e o percentual de gravidade das doenças foram menores (p
= 0,06). Apenas a gravidade das doenças continuou associada a óbito na análise multiva-
riada (RC = 3,2; IC de 95%: 1,2-8,9; p = 0,02).
Conclusão: Quando os períodos de 1996-2000 e 2001-2011 foram comparados, foi obser-
vada uma redução significativa na TL no último período, bem como uma alteração no
perfil clínico dos pacientes hospitalizados no instituto. Esses achados podem estar rela-
cionados à melhora na situação socioeconômica da população. O uso de penicilina não
influenciou a TL.
© 2013 Sociedade Brasileira de Pediatria. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os
direitos reservados.

Introdução Na maioria dos casos de PAC necessitando de internação,


a conduta implica na escolha do antibiótico e nos cuidados
A pneumonia adquirida na comunidade (PAC) continua sendo a de suporte: oxigenoterapia, hidratação e nutrição adequa-
principal causa de morte em crianças no mundo, contribuindo das. Como há, geralmente, dificuldades na identificação do
com aproximadamente 14% dos óbitos de crianças de um mês agente etiológico, o início do tratamento com antibiótico é
a cinco anos de idade. É uma doença crítica para que os países empírico e a escolha se baseia em experiências pessoais ou
alcancem a meta VI dos Objetivos do Milênio: reduzir em 2/3 estudos prévios sobre a etiologia das PACs.7,8,11-14
a mortalidade em menores de cinco anos, de 1990 a 2015.1 Este estudo objetivou descrever a letalidade, o perfil
A maioria das crianças menores de cinco anos tem de clínico-etiológico, o tratamento inicial com antibiótico e os
quatro a seis infecções respiratórias agudas (IRA) por ano, fatores associados ao óbito de crianças internadas com PAC
e 2% a 3% delas evoluem para PAC.2,3 em hospital pediátrico universitário, de 1996 a 2011. O con-
Embora a morbimortalidade por pneumonia adquirida hecimento sobre esse tema, na atualidade, é limitado, e os
na comunidade (PAC) em menores de cinco anos venha resultados poderão contribuir para melhorar a assistência
diminuindo no mundo, nos países em desenvolvimento, a de crianças com esta doença.
mortalidade por esta causa ainda é um grave problema
de saúde pública, com cerca de 1,2 milhão de óbitos por
ano. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre Métodos
2001 a 2003, 20% das mortes entre menores de cinco anos
nos países em desenvolvimento foram causadas por PAC. Estudo observacional longitudinal, de base hospitalar, com
Segundo o DATASUS, houve redução significativa da mor- coleta prospectiva dos dados, de janeiro de 1996 a dez-
talidade por PAC em menores de cinco anos no período de embro de 2011, no Instituto de Puericultura e Pediatria
1991 a 2007, no Brasil.2-6 Entretanto, apesar dessa redução, Martagão Gesteira (IPPMG), na Universidade Federal do Rio
a incidência de hospitalizações por pneumonia no país se de Janeiro (UFRJ). O IPPMG é o único hospital universitá-
concentra nos menores de cinco anos e nos idosos. rio exclusivo para pacientes pediátricos do Rio de Janeiro,
O pneumococo é o principal agente etiológico das PAC sendo referência no município do Rio de Janeiro. Conta
em menores de cinco anos tanto em países em desenvolvi- com serviço de emergência com cerca de 900 atendimen-
mento como nos desenvolvidos. Os agentes etiológicos mais tos/mês, UTI pediátrica desde setembro de 2007, enferma-
comumente isolados em crianças com PAC, nos países em rias com cerca de 1.000 internações/ano, ambulatórios de
desenvolvimento, são as bactérias Streptococcus pneumo- pediatria e de diversas áreas de atuação da especialidade,
niae, Haemophilus influenzae e Staphylococcus aureus.7-10 com cerca de 3.200 consultas/mês.
94 Ferreira S et al.

Foram incluídos pacientes de um mês a 12 anos de idade como medida de associação, o intervalo de confiança de
internados nas enfermarias do IPPMG com PAC grave, inde- 95% e o Qui-quadrado para inferência estatística, sendo
pendentemente de apresentarem sibilância, segundo clas- significativo p <0,05. Pelo fato de a maioria dos óbitos ter
sificação da OMS.14 Excluídos pacientes que tiveram alta à ocorrido no período de 1996-2000, optou-se por comparar
revelia, transferidos para outras unidades de saúde e, mais os dois períodos (1996-2000 e 2001-2011) em relação à leta-
recentemente, para a UTI do IPPMG, inaugurada em setem- lidade, perfil clínico e tratamento inicial, assim como ana-
bro de 2007, ou que tiveram registro incompleto de dados. lisar os fatores associados ao óbito no primeiro período.
Todas as crianças apresentavam um ou mais dos seguintes O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
sinais e sintomas associados à alteração radiológica do tipo do IPPMG.
condensação: tosse, frequência respiratória elevada, tira-
gem subcostal, cianose, batimento das aletas nasais, gemên-
cia, irritabilidade/letargia, torpor e choque. A variável de Resultados
interesse foi óbito (letalidade) em relação ao tipo de anti-
microbiano usado para tratamento. As seguintes variáveis Foram estudadas 871 crianças, excluídas nove por trans-
foram estudadas: idade (categorizada em menores de um ferência para outra unidade de saúde, uma por transferên-
ano, entre um e quatro anos e cinco anos ou mais, também cia para a UTI do IPPMG e uma por alta à revelia, restando
estudada como menores e maiores de cinco anos; e sexo 860 crianças, cujo perfil clínico, terapêutica inicial e leta-
(masculino e feminino). Tempo de internação foi estudado lidade estão na tabela 1. Ocorreram 26 óbitos no total, com
como maior/igual e menor de 14 dias, de 0-6, 7-14 e mais letalidade de 3%.
de 14 dias. Doença grave à internação foi definida como a Das 860 crianças estudadas, 58,7% foram tratadas inicial-
presença de pelo menos um dos seguintes achados: sinais mente com penicilina G. O agente etiológico mais isolado
de septicemia, insuficiência respiratória, cianose, batimen- foi o pneumococo em 50,4% (70/139), inclusive nas pneu-
to de asas de nariz, gemência, torpor/coma, irritabilidade/ monias com derrame pleural e, a seguir, o Staphylococcus
torpor e choque concomitante à PAC classificada como gra- aureus em 11,5% (16/139). No período de 1996-2000 ocorre-
ve, segundo a OMS.8,14 Tratamento inicial com antibiótico: ram 24 óbitos (93% do total), letalidade de 5,8% (24/413).
penicilina ou outros. Para o estado nutricional considerou-se De 1996 a 2000 houve 413 internações, e nos 10 anos
o critério peso/idade, do MS 2002,15 classificando a criança seguintes, 447. A média de internações/ano de 1996 a 2000
em: desnutridos (baixo peso ou muito baixo peso para a ida- foi 103, e de 2001 a 2011, 45. O perfil clínico, a terapêu-
de) e eutróficos. Comorbidade presente quando a criança tica inicial e a letalidade das crianças internadas nos dois
tivesse qualquer doença concomitante, em geral crônica, períodos se encontram na tabela 2. De 2001 a 2011, a faixa
em tratamento no IPPMG, como, por exemplo: lactente etária foi maior (p = 0,03) e o número de óbitos menor
sibilante, asma persistente, pneumonia de repetição, pneu- (p = 0,02), em relação ao primeiro período. O percentual
monia crônica, displasia broncopulmonar, diabetes, anemia de gravidade foi maior no primeiro período (10,6 para 4,1),
falciforme, Aids, artrite reumatoide sistêmica, síndrome porém a diferença não foi estatisticamente significativa
genética, encefalopatia, cardiopatia, dentre outras doenças (p = 0,06).
crônicas e associações entre as mesmas. Derrame pleural: Na análise bivariada, mostraram-se estatisticamente asso-
evidência de derrame pleural na radiografia. Agente isolado ciados à ocorrência de óbito: a presença de desnutrição, o
a partir da análise de material examinado para exame direto tratamento inicial com antimicrobiano diferente de penici-
e cultura: escarro, sangue, líquido pleural, lavado/aspirado lina, a presença de comorbidade e a presença de derrame
broncoalveolar. pleural (tabela 3). Como a maioria dessas variáveis indica
As radiografias de tórax foram analisadas pelo radiolo- gravidade, procurou-se analisar a associação entre elas e
gista da instituição que empregou a padronização proposta a variável doença grave, que também indica gravidade,
pela OMS.16 mas não mostrou significância estatística. Observou-se que
Os dados foram coletados de forma sistemática, diaria- doença grave estava associada à comorbidade (RC = 17,8; IC
mente, desde o primeiro dia de internação até a alta hos- 95%: 12-26.3) e a ocorrência de derrame pleural (RC = 4,06;
pitalar, por alunos da pós-graduação do Serviço de Pneu- IC 95%: 2,7-6), fazendo com que se optasse por manter essa
mologia Pediátrica do IPPMG, treinados para tal tarefa e variável na análise multivariada, além das outras associadas
sob supervisão de professores do serviço. Os formulários ao óbito na análise bivariada. Decidiu-se, também, manter
elaborados para este fim foram previamente testados e a variável idade (em meses), uma vez que é comprovada a
periodicamente confrontados com os dados dos prontuá- diferença de risco de óbito nas crianças menores.1 Na análi-
rios por pesquisadores, que não os responsáveis pela coleta se multivariada, a única variável associada ao óbito isolada
original. O protocolo e o sistema de coleta de dados foram estatisticamente foi a doença grave (tabela 4) .
aplicados e analisados em um projeto piloto.
Foram transferidos para banco de dados eletrônico e
analisados no Stata 7.0. Procedeu-se a análise descritiva Discussão
dos dados para todo o período, gerando a distribuição de
frequências das variáveis selecionadas. Em seguida proce- Este estudo, realizado em um centro de referência pediátri-
deu-se a análise bivariada, tendo como desfecho o óbito. co universitário no Rio de Janeiro de 1996 a 2011, mostrou
As variáveis associadas ao óbito (p < 0,05), na análise biva- que a letalidade em crianças com PAC foi baixa (3%), tendo
riada, foram objeto de análise multivariada utilizando-se esta doença acometido principalmente menores de cinco
regressão logística. Utilizou-se a razão de chances (RC) anos (76,2%), tratados inicialmente com penicilina (58,7%),
Lethality by pneumonia and factors associated to death 95

Tabela 1 Letalidade, perfil clínico e tratamento inicial com antibiótico de 860 crianças internadas com pneumonia
comunitária de 1996 a 2011. IPPMG-UFRJ, 2012

VARIÁVEL n %

Idade (anos) <1 269 31,3


1a4 386 44,9
≥5 205 23,8
Sexo Masculino 473 55,0
Feminino 387 45,0
Desnutrição grave Sim 72 8,4
Não 788 91,6
Tempo de internação (dias) 0-6 160 18,6
7-14 464 54,0
>14 236 27,4
Tratamento inicial Penicilina 505 58,7
Outros 355 41,3
Doença grave Sim 62 7,3
Não 788 92,7
Comorbidade Sim 521 61,2
Não 330 38,8
Derrame pleural Sim 232 27,2
Não 622 72,8
Óbito Sim 26 3,0
Não 834 97,0
Agente etiológico isolado Sim 139 18,6
Não 607 81,4

Tabela 2 Letalidade, perfil clínico e tratamento inicial com antibiótico de crianças internadas com pneumonia comunitária
no IPPMG-UFRJ. 1996-2000 e 2001-2011. IPPMG-UFRJ, 2012

Variável 1996-2000 2001-2011

n % n % p

Idade (anos) <5 354 85,7 <5 301 67,3 0,03


≥5 59 14,3 ≥5 146 32,7
Sexo Masculino 238 57,6 Masculino 235 52,6 0,34
Feminino 175 42,4 Feminino 212 47,4
Desnutrição grave Sim 35 8,5 Sim 38 9,1 0,90
Não 378 91,5 Não 378 90,9
Tempo de internação (dias) < 14 255 61,7 < 14 369 82.6 0,16
≥ 14 158 38,3 ≥ 14 78 17,4
Tratamento inicial Penicilina 213 51,6 Penicilina 292 65,3 0,36
Outros 200 48,4 Outros 155 34,7
Doença grave Sim 44 10,68 Sim 18 4,1 0,06
Não 368 89,32 Não 420 95,.9
Comorbidade Sim 281 68,00 Sim 249 55,7 0,09
Não 132 32,00 Não 198 44,3
Derrame pleural Sim 113 27,4 Sim 119 27,0 0,62
Não 300 72,6 Não 322 73,0
Óbito Sim 24 5,8 Sim 2 0,.4 0,02
Não 389 94,2 Não 445 99,6
Agente etiológico isolado Sim 67 20,0 Sim 72 17,3 0,48
Não 263 80,0 Não 344 82,7

apresentando comorbidade (61,2%). Entretanto a maioria e maior ocorrência de casos de doença grave, sendo esta a
dos óbitos ocorreu no período de 1996-2000 (92%), sendo a única variável isoladamente associada ao óbito.
letalidade nesse período de 5,8%, quando também se obser- A letalidade observada no período de estudo pode ser
vou maior número de internações por PAC, maior ocorrência considerada baixa, principalmente em se tratando de cen-
de internações por PAC em crianças de menor faixa etária tro de referência com crianças graves e comorbidades.
96 Ferreira S et al.

Tabela 3 Associação entre óbito e variáveis selecionadas em 413 crianças internados por pneumonia comunitária no IPPMG-
UFRJ, de 1996 a 2000. Resultados da análise bivariada. IPPMG-UFRJ, 2012

Variável Óbito Não óbito Razão de chance IC95% p

n % n %

Idade (anos) <1 12 50 160 41 2,1 0,4-14,2 0,25


1a4 10 42 172 44 1,6 0,3-11,3 0,40
≥5 2 8 57 15 1,0
Sexo Masculino 12 50 226 58 0,7 0,2-1,7 0,5
Feminino 12 50 163 42
Desnutrição grave Sim 6 25 29 7 4,1 1,3-12,3 0,01
Não 18 75 360 93
Tempo de internação (dias) 0a6 7 29 48 12 1,0
7 a 14 5 21 195 50 0,1 0,05-0,6 0,04
> 14 12 50 146 38 0,5 0,1-1,6 0,18
Tratamento inicial Penicilina 6 25 207 53 0,2 0,1-0,8 0,01
Outros 18 75 182 47
Doença grave Sim 10 42 135 35 1,3 0,5-3,3 0,63
Não 14 58 254 65
Comorbidade Sim 22 92 259 67 5,5 1,2-34,9 0,01
Não 2 8 130 33
Derrame pleural Sim 1 4 134 34 0,08 0,0-0,4 0,02
Não 23 96 255 66

Tabela 4 Associação entre óbito e variáveis selecionadas em 413 crianças internadas por pneumonia comunitária no IPPMG-
UFRJ, de 1996 a 2000. Resultados da análise multivariada. IPPMG-UFRJ, 2012

Óbito Razão de chancea Intervalo de confiança 95% Valor de p

Penicilina Inicial 0,4 1,0-0,1 0,07


Desnutrição grave 1,9 0,7-5,0 0,1
Comorbidade 1,8 0,3-8,7 0,4
Derrame pleural 0,1 0,02-1,2 0,08
Idade em meses 0,9 0,9-1,0 0,4
Doença grave 3,2 1,2-8,9 0,02
a
Regressão logística.

Estudos recentes, conduzidos em países de baixa renda, 1970 para 31% em 2008, fruto de programas sociais, como o
têm encontrado letalidade variando de 5,8% a 8,2%.1,17-19 Bolsa família, que beneficiou mais de 10 milhões de brasi-
Entretanto, considerando-se os dois períodos estudados, leiros, e do aumento, com ganhos reais, do salário mínimo.
observa-se nítida diferença de perfil, tanto na letalidade O Índice de Gini, que mede a distribuição de renda do país,
como na idade e gravidade do quadro inicial, com ten- mostrou melhora progressiva de 2003 a 2011, enquanto que,
dência a menor tempo de internação e menor gravidade no mesmo período, o percentual de pobreza na população
à internação no segundo período (2001-2011), surgindo o caiu de 24,4% para 10,2%, em 2011.21
questionamento do que explicaria essa diferença. Segundo o UNICEF,20 a PAC é uma doença da pobreza
Importantes mudanças que ocorreram no Brasil, nos últi- associada a fatores ambientais, desnutrição e dificuldade
mos anos, podem, em parte, explicar essa mudança de per- no acesso ao sistema local de saúde. Muitas mortes seriam
fil. No período de 1997 a 2008, que abrange a maior parte prevenidas com a prática do aleitamento materno exclusi-
do nosso estudo, a Taxa de Mortalidade Infantil (TMI) do país vo, adequada nutrição, vacinação, e higiene, como lavar
decaiu de 31,9 para 17,56, enquanto que no estado do Rio as mãos com água e sabão, água própria para o consumo e
de Janeiro variou de 24,0 para 14,31. A Taxa de Mortalidade instalações sanitárias básicas. A melhora dessas condições
em Menores de 5 anos (TMM5), no período de 2000 a 2008, no país, decorrentes de melhorias socioeconômicas, deve
variou de 31,99 para 20,49 no Brasil, e no estado do Rio ter contribuído para a mudança de perfil observada nas
de Janeiro, de 22,54 para 16,72. O aumento da cobertu- internações por PAC no IPPMG.
ra vacinal alcançou índices de mais de 90%.20-22 Além disso, Em relação à mortalidade, a presença de gravidade na
observou-se no país uma tendência de melhora das condições internação foi a única variável isoladamente associada ao
socioeconômicas, demonstrada pela queda do desemprego, óbito, semelhante ao encontrado em estudos recentes con-
na diminuição da taxa de analfabetismo de 34% na década duzidos em países de baixa renda.17-20 As transições demo-
de 1990 para 10% em 2008, e da taxa de pobreza de 68% em gráficas, epidemiológicas e nutricionais referidas acima
Lethality by pneumonia and factors associated to death 97

foram, certamente, as responsáveis pelas mudanças nas 4. World Health Organization. WHO. Pneumonia. Fact sheet
N°331 April 2013 [acessado em 24 Abr 2013]. Disponível em: http://
taxas de morbidade e mortalidade aqui evidenciadas. www.who.int/mediacentre/factsheets/fs331/en
Com relação às crianças que evoluíram para óbito no 5. Rudan I, Tomaskovic L, Boschi-Pinto C, Campbell H. Global estimate
período de 1996-2000, 42% tinham doença grave, e 92% eram of the incidence of clinical pneumonia among children under five
menores de cinco anos. Foi obtido isolamento bacteriano em years of age. Bull World Health Organ. 2004;82:895-903.
6. Fuchs SC, Fischer GB, Black RE, Lanata C. The burden of pneumonia
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in children in Latin America. Paediatr Respir Rev. 2005;6:83-8.
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com PAC, e sugerem ser seguro o início do tratamento com Bras Pneumol. 2007;33:S31-50.
penicilina G. Esse achado é semelhante ao encontrado no 8. British Thoracic Society. Community Acquired Pneumonia in
Children Guideline Group. Guidelines for the management of
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do Sul e Caribe, incluindo o IPPMG. Neste estudo não foi 9. Michelow IC, Olsen K, Lozano J, Rollins NK, Duffy LB, Ziegler T, et
encontrado S. pneumoniae com resistência plena à penicili- al. Epidemiology and clinical characteristics of community acquired
pneumonia in hospitalized children. Pediatrics. 2004;113:701-7.
na, o que permitiu reiterar a recomendação da penicilina ou 10. Kertesz DA, Di Fabio JL, de Cunto Brandileone MC, Castañeda E,
ampicilina como fármacos de escolha para o tratamento das Echániz-Aviles G, Heitmann I, et al. Invasive Streptococcus
PACs, mesmo para bactérias penicilino-resistentes, em áreas pneumoniae infection in Latin American children: results of the Pan
onde a concentração inibitória mínima não exceda 2 µg/mL, American Health Organization Surveillance Study. Clin Infec Dis.
1998;26:1355-61.
como no Brasil.23 Do mesmo modo, Simbalista et al.,24 em
11. McIntosh ED, Booy R. Invasive pneumococcal disease in England and
estudo retrospectivo de 154 crianças internadas por PAC em Wales: what is the true burden and what is the potential for
hospital universitário em Salvador, Brasil, de 2002 a 2005, preventions using 7 valent pneumococcal conjugate vaccine? Arch
concluíram que a penicilina G, usada para tratamento da Dis Child. 2002;86:403-6.
maioria dos casos, foi altamente eficaz, com melhora nas 12. Theodoratou E, Al-Jilaihawi S, Woodward F, Ferguson J, Jhass A,
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primeiras 48 horas e sem ocorrência de óbitos. pneumonia mortality in developing countries. Int J Epidemiol.
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Clin Invest. 2008;118:1291-300.
vacinação antipneumocócica conjugada só foi incorporada 14. World Health Organization. WHO. Acute Repiratory Infections in
ao calendário vacinal de crianças em nosso país, em 2010, children: case management in small hospitals in developing
não houve tempo hábil para tal investigação. countries. Geneva, 1990. WHO/ARI90.5.
Em conclusão, o presente estudo mostrou importante 15. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde.
Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento Infantil.
redução na letalidade por PAC em crianças no período de
Série Cadernos de Atenção Básica 11. Série Normas e Manuais
2001-2011, com mudança do perfil das crianças internadas Técnicos 23. Brasilia; 2002. p. 100.
por essa doença no IPPMG. Sugere-se que esses achados 16. Cherian T, Mulholland EK, Carlin JB, Ostensen H, Amin R, de Campo
estejam relacionados às mudanças observadas no perfil M, et al. Standardized interpretation of paediatric chest radiogra-
socioeconômico da população nesse período.25 O uso de phs for the diagnosis of pneumonia in epidemiological studies. Bull
World Health Organ. 2005;83:353-9.
penicilina cristalina no tratamento empírico das PACs não 17. Ramachandran P, Nedunchelian K, Vengatesan A, Suresh S. Risk
se relacionou à letalidade encontrada. factors for mortality in community acquired pneumonia among
children aged 1 month to 59 months admitted in a referral hospital.
Indian Pediatr. 2012;49:889-95
18. Zhang Q, Guo Z, Bai Z, Macdonald NE. A 4 year prospective study to
Financiamento determine risk factors for severe community acquired pneumonia
in children in southern China. Pediatr Pulmonol. 2012 ;48:390-7
O trabalho recebeu recursos advindos de projeto financiado 19. Thønnings S, Østergaard C. Treatment of Haemophilus bacteremia
pela Organização Pan-americana da Saúde (1998- 2003). with benzylpenicillin is associated with increased (30-day) mortali-
ty. BMC Infect Dis. 2012;12:153.
20. United Nations Children’s Fund- UINICEF. Committing to child survival:
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Conflitos de interesse 21. Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Séries
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Os autores declaram não haver conflitos de interesse. em 20 Abr 2013]. Disponível em: http//www.ibge.gov.br/series_
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