Dissertação de Mestrado Lucas Souza

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA
ÁREA DE PETROLOGIA, METALOGÊNESE E EXPLORAÇÃO
MINERAL

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

PETROGRAFIA E MINERALOGIA DO PROTOMINÉRIO DE


MANGANÊS DA REGIÃO DE MARAÚ, SUL DA BAHIA, BRASIL.

LUCAS TEIXEIRA DE SOUZA

Salvador
2015
1
LUCAS TEIXEIRA DE SOUZA

PETROGRAFIA E MINERALOGIA DO PROTOMINÉRIO DE


MANGANÊS DA REGIÃO DE MARAÚ, SUL DA BAHIA, BRASIL.

Dissertação apresentada ao Instituto de Geociências


da Universidade Federal da Bahia para obtenção do título
de Mestre em Geologia, na área de concentração em
Petrologia, Metalogênese e Exploração Mineral.

Orientador: Prof. Dr. Johildo Salomão Figueirêdo


Barbosa

Co-Orientadora: Profª. Drª. Jailma Santos de Souza


de Oliveira

Salvador
2015

ii
iii
TERMO DE APROVAÇÃO

LUCAS TEIXEIRA DE SOUZA

MINERALOGIA DO PROTOMINÉRIO DE MANGANÊS DA REGIÃO DE MARAÚ,


SUL DA BAHIA, BRASIL.

Dissertação apresentada ao Instituto de Geociências da Universidade Federal da


Bahia para obtenção do título de Mestre em Geologia, na área de concentração em
Petrologia, Metalogênese e Exploração Mineral.

1ª Examinador – Prof. Dr. Johildo Salomão Figueirêdo Barbosa


Instituto de Geociências – Universidade Federal da Bahia (UFBA)

2ª Examinador – Msc. Adalberto de Figueiredo Ribeiro


Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM)

3ª Examinador – Profª. Drª. Ângela Beatriz Menezes Leal


Instituto de Geociências – Universidade Federal da Bahia (UFBA)

4ª Examinador – Prof. Dr. Eron Pires Macêdo


CPRM – Serviço Geológico do Brasil

iv
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a meus pais, Vicente Fernandes de Souza e Georgina


Conceição Teixeira de Souza, e à minha irmã, Liliane Teixeira de Souza, pelo apoio e
confiança constantes, principalmente no momento em que me propus retornar à vida
acadêmica.

Agradeço também àqueles que sempre estiveram dispostos a me auxiliar e


aconselhar na minha evolução como geólogo, principalmente ao Prof. Johildo Barbosa,
que aceitou ser meu orientador na graduação e também na pós-graduação.

Também aos amigos e colegas geológicos que sempre me ajudam tanto que são
quase meus coorientadores, Jailma Santos de Souza de Oliveira, Eron Pires Macedo,
Ângela Beatriz Menezes Leal. Assim como outros professores que sempre estiveram
dispostos a tirar dúvidas e compartilhar um pouco dos seus vastos conhecimentos.
Obrigado Marcelo, Cézar e Simone.

Um agradecimento especial à minha companheira, Amanda, sempre me ajudando e


incentivando a crescer cada vez mais. Espero ter você sempre ao meu lado como fonte
de inspiração para investir no futuro.

Agradeço aos amigos mais próximos que se permitiram me ouvir falar do meu
trabalho, mesmo sem estarem totalmente a par do que eu estava fazendo, mas sempre
interessados em discussões científicas, Diego, Marcus, Tico, Josafá, Fabinho, Marcus
(Alves), Léo, Berna, Pedroca, Natália e Vanderlúcia.

Aos mais diversos colegas do igeo e da vida que com certeza posso acabar
esquecendo algum, Victor, Thiagostinho, Tio Sérgio, Cipri, Subs, Mário, Nilsinho,
Clarinha, Vitinho, Renato, Rafael, entre tantos.

Aos funcionários do IGEO, sempre solícitos a ajudar quando requisitados.

À Pós-Graduação em Geologia pelo apoio.

A CAPES pelo fornecimento da bolsa de estudos.


v
RESUMO

No estado da Bahia existem diversas ocorrências de manganês, especialmente


inseridas no contexto geológico do Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá (BISC). Essas
ocorrências costumam se apresentar paralelas à deformação regional com trends NNE-
SSW. Apesar de terem sido realizados aprofundados estudos de cálculo de reserva e a
maioria desse minério ter sido extraído para a siderurgia nas diferentes jazidas
manganesíferas, ainda não havia sido realizado um estudo sobre as rochas do
protominério de manganês. Estudos desse tipo foram realizados no território brasileiro
apenas em algumas ocorrências manganesíferas dos estados de São Paulo, Minas
Gerais, Ceará, Bahia e Amapá, onde a mineralogia principal do protominério dessas
localidades varia entre espessartitas e rodocrositas (gonditos e queluzitos), embora
poucos apresentem piroxênios manganesíferos do tipo rodonita e/ou piroxmangita. A
área de estudo está localizada nas proximidades da cidade de Maraú, região sul do
estado da Bahia. Onde em uma das minas, atualmente exauridas, formadas de óxidos
do tipo pirolusita e pslomelana, um furo de sondagem permitiu o estudo do protominério
em profundidade, o qual está granulitizado e encaixado nos granulitos supracrustais do
denominado Complexo Almandina. A mineralogia da sua encaixante é composta de
orto e clinopiroxênio, granada, plagioclásio e biotita, além de pouco anfibólio, quartzo e
espinélio. As rochas do protominério são compostas principalmente de piroxênios do
tipo rodonita ou piroxmangita com até 49% de MnO nas suas estruturas cristalinas,
granadas do tipo espessartita com média de 30% de MnO e rodocrositas com até 88%
de MnO, além de sulfeto de manganês do tipo alabandita, esse último com até 75% de
MnO.

Palavras-chave: Protominério, Manganês, Mineralogia

vi
ABSTRACT

There are many manganese occurrences in Bahia, state of Brazil, especially inserted in
the Itabuna-Salvador-Curaçá Block. These occurrences usually present themselves
parallel to the regional deformation, with NNE-SSW trends. Even though extensive
studies regarding reserves calculations have been done and that most of these
manganese ore have been extracted to the siderurgy, a specific study of the manganese
protore had yet to be done in Bahia. This type of study have only been done in a few
manganese occurrences in Brazilian territory, especially in São Paulo, Minas Gerais,
Ceará, Amapá and Bahia, where the main mineralogy of the protore of these locals vary
between sperssatines and rhodocrosites (gondites and queluzites), although some may
present pyroxenes with manganese (pyroxmangite and rhodonite). The studied area is
located close to the city of Maraú, south region of Bahia. Where in one of the mines,
nowadays deactivated, composed of manganese oxides such as pirolusite and
psilomelane, a drilling hole allowed the study of the protore rocks that were deep above
the surface. These rocks are metamorphosed in granulite facies and within supracrustal
granulites, called Almandina Complex. The granulites of the Almandina Complex are
composed of ortho and clinopyroxenes, garnet, plagioclase and biotite, with few
amphiboles, quartz and spinel. The protores mineralogy is composed of mainly Mn-rich
pyroxenes, like pyroxmangite and rhodonite, with up to 49% of MnO in its cristaline
structures, Mn-rich garnets, spessartine, with up to 30% of MnO and Mn-rich
carbonates, rhodocrosites, with up to 88% of MnO. Also occur a manganese sulfide,
alabandite, with 75% of MnO in its cristaline composition.

Keywords: Protore, Manganese, Mineralogy

vii
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1.1 - Localização e acesso à área de estudo. Fonte: Modificado do Google Maps.
....................................................................................................................................... 18
Figura 2.1 - (a) Principais crátons e sistemas orogenéticos neoproterozoicos do território
brasileiro; (b) Mapa geológico simplificado do CSF. Fonte: Modificado de Alkmin et al.,
1993. .............................................................................................................................. 21
Figura 2.2 - Mapa esquemático das unidades geotectônicas arqueanas-
paleoproterozoicas mais importantes da parte leste do CSF na Bahia. Área de estudo
destacada em vermelho. Fonte: Modificado de Barbosa et al. (2012). .......................... 23
Figura 2.3 - Mapa geológico da região de Maraú (porção NE da Folha Ubaitaba –
SD.24-Y-B-III). Destacado em pequenos círculos, os depósitos de manganês da região
de Maraú, onde na mina Valha-me Deus Norte foi realizado o furo de sondagem no
protominério. Fonte: Barbosa et al., 2013. ..................................................................... 29
Figura 3.1 - Distribuição das faixas mineralizadas em manganês da região de Maraú,
com destaque para a mina Valha-me Deus Norte, onde foi realizado o furo de
sondagem. Fonte: Toniatti e Barbosa, 1973................................................................... 32
Figura 3.2 – Detalhe da mina Valha-me Deus Norte, exibindo as extensas atividades de
pesquisa realizadas no minério oxidado. Fonte: Toniatti e Barbosa, 1973. ................... 33
Figura 3.3 – Seção esquemática mostrando as diferentes ocorrências de Mn da Mina
Valha-me Deus Norte, destacando o protominério de Mn encaixado nas rochas
granulíticas e o furo de sondagem onde foram obtidas as amostras motivo deste
trabalho. Fonte: Toniatti e Barbosa, 1973. ..................................................................... 34
Figura 3.4 – Tabela com a mineralogia das lâminas estudadas, conseguidas a partir de
amostras recuperadas no furo de sondagem realizado na mina de Valha-me Deus
Norte. Identificaram-se os níveis enriquecidos do protominério de Mn, bem como a
mineralogia principal das rochas encaixantes. A cor amarela indica os níveis superior e
inferior do protominério, com minerais metamórficos ricos em manganês e teores
expressos em porcentagem de MnO no mineral. ........................................................... 38
Figura 4.1 – Diagrama de Morimoto (1988) da classificação dos piroxênios. ................ 47
Figura 5.1 - Fotografia da lâmina delgada M-23, exibindo duas faixas de ocorrência dos
minerais, separando-a ao meio (faixa esquerda e direita). ............................................ 50
Figura 5.2 – Lâmina e amostra de mão M-28, exibindo faixas de diferentes disposições
texturais e mineralógicas, representadas nas fotos por faixas com cores mais claras e
escuras. .......................................................................................................................... 60

viii
ÍNDICE DE PRANCHAS

Prancha 4.1 - Lâmina M-17, mostrando a associação mineral da amostra. (A e B),


podendo-se observar os dois tipos de ocorrência da Bt. (C e D), interação dos cristais
de Opx, Bt e Qz com a Grt. ............................................................................................ 42
Prancha 4.2 - Lâmina M-26, mostrando a associação mineral da amostra. (C e D) Os
contatos entre os minerais são principalmente curvos e localmente retos, principalmente
com a Bt1. (A e B) As manchas pretas são marcações para a realização de análises
químicas dos minerais com a microssonda. ................................................................... 45
Prancha 4.3 - Lâmina M-32, mostrando a associação mineral da amostra. (A e B)
relação do Amp com o Spl e o Cpx. (C e D) contatos da Bt com os outros minerais. (E e
F) ocorrência de Px e sua variedade de cores de interferência. .................................... 48
Prancha 5.1 – Lâmina M-23 (faixa esquerda) sob o microscópio petrográfico, mostrando
textura e forma dos cristais. (A e C) sob luz plana e (B e D) em nicóis cruzados. Além
das granadas e piroxênios, observa-se os dois tipos de ocorrência das biotitas: uma
com forma subidioblástica (Bt1) e outra com cristais xenoblásticos (Bt2). ..................... 51
Prancha 5.2 – Lâmina M-23 (faixa direita) sob o microscópio petrográfico. (A e C) estão
em luz plana e (B e D) em nicóis cruzados. Essas fotos permitem observar simplectitos
de Grt e piroxênio (A e B) e o contato brusco entre as faixas esquerda e direita (C e D).
Pode-se observar também a inexistência da biotita nessa lâmina, diferentemente das
anteriores, onde elas são abundantes. .......................................................................... 53
Prancha 5.3 – Lâmina M-24, mostrando a associação mineral da amostra. (A e C) em
luz plana e (B e D) em nicóis cruzados. (A e B) contatos retos entre Grt e Px. (C e D)
predominância de Px com pequenas inclusões arredondadas de opacos e contatos
retos entre Grt e Px. ....................................................................................................... 56
Prancha 5.4 – Lâmina M-27, mostrando a mineralogia do protominério. (A e B)
predominância de granada e clinopiroxênio. (C e D) zona de contato entre a porção
com carbonato e a porção onde predominam as granadas e os clinopiroxênios, além de
detalhe da zona rica em carbonato. (E e F) alteração amarelada do clinopiroxênio e da
granada, indicando também que durante o retrometamorfismo, fluidos hidrotermais
predominaram, alterando a mineralogia da rocha (zona amarelada). ............................ 59
Prancha 5.5 – Lâmina M-28 mostrando a mineralogia do protominério. (A e B)
mineralogia da faixa central da Figura 5.2. (C e D) zona de contato entre o campo dos
simplectitos de Opx e Grt (parte inferior esquerda da foto) e a zona com Pl. (E e F)
demonstram com mais detalhe a ocorrência dos simplectitos, sendo possível observar a
ausência de Pl neste campo. ......................................................................................... 62
Prancha 5.6 – Lâmina M-29 mostrando a mineralogia do protominério. (A e B) exibem a
granulometria e forma dos cristais de Opx e Grt com processo incipiente de alteração
supergênica. (C e D) mostram um estágio mais avançado de formação da rodocrosita e
sua relação com os cristais de Opx e Grt, por vezes invadindo-os com contatos
serrilhados. ..................................................................................................................... 65

ix
Prancha 5.7 – Lâmina M-31, mostrando a mineralogia do protominério. (A e B) exibem
cristais de ortopiroxênios em avançado estágio de alteração e cristais de granada. (C e
D) mostram cristais de granada e suas relações de contato com o ortopiroxênio. Nessa
lâmina pode-se ainda observar um mineral de cor avermelhada com contatos retos a
levemente curvos com a granada e o ortopiroxênio. Esse mineral não foi analisado na
microssonda. .................................................................................................................. 67

x
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 4.1 – Análises química dos minerais da lâmina M-17, expressa em


porcentagens dos elementos. Fontes: (1) Deer, Howie, Zussman (1963); (2) Kuno e
Nagashima (1950); (3) Deer, Howie, Zussman (2013). .................................................. 41
Tabela 4.2 - Análises químicas dos minerais da lâmina M-26, expressa em
porcentagens dos elementos. Fontes: (1) Dana (1892); (2) Kuno e Nagashima (1950);
(3) Deer, Howie, Zussman (1963). ................................................................................. 44
Tabela 4.3 – Análises químicas dos minerais da lâmina M-32, expressa em
porcentagens dos elementos. Os valores de óxidos totais do Cpx e do Spl indicam que
as análises não são totalmente confiáveis. Fonte: (1) Deer, Howie, Zussman (1962). .. 47
Tabela 5.1 – Análises químicas dos minerais da lâmina M-23, expressa em
porcentagens dos elementos. Fontes: (1) Deer, Howie, Zussman (1978); (2) Dana
(1892). ............................................................................................................................ 53
Tabela 5.2 – Análises químicas dos minerais da lâmina M-24, expressa em
porcentagens dos elementos. Fontes: (1) Deer, Howie, Zussman (1978); (2) Dana
(1892); (3) Palache, Berman, Frondel (1944). ................................................................ 55
Tabela 5.3 – Análises químicas dos minerais da lâmina M-27, expressa em
porcentagens dos elementos. Fontes: (1) Dana (1892); (2) Deer, Howie, Zussman
(1978); (3) Deer, Howie, Zussman (1962). ..................................................................... 58
Tabela 5.4 – Análises químicas dos minerais da lâmina M-28, expressa em
porcentagens dos elementos. Fontes: (1) Dana (1892); (2) Deer, Howie, Zussman
(1978). ............................................................................................................................ 63
Tabela 5.5 – Análises químicas dos minerais da lâmina M-29, expressa em
porcentagens dos elementos. Fontes: (1) Deer, Howie, Zussman (1978); (2) Deer,
Howie, Zussman (1962). ................................................................................................ 64
Tabela 5.6 – Análises químicas dos minerais da lâmina M-31, expressa em
porcentagens dos elementos. Fontes: (1) Dana (1892). ................................................ 66

xi
LISTA DE ABREVIATURAS DOS MINERAIS

Abreviaturas segundo Whitney e Evans (2010):

Anfibólio - Amp

Biotita –Bt

Clinopiroxênio – Cpx

Espessartita - Sps

Espinélio – Spl

Granada – Grt

Hornblenda – Hbl

Magnetita - Mt

Opaco – Opq

Ortoclásio - Or

Ortopiroxênio – Opx

Piroxmangita - Pxm

Plagioclásio – Pl

Quartzo – Qz

Rodocrosita – Rds

Rodonita – Rdn

Tschermaquita – Ts

xii
SUMÁRIO

1 CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO ................................................................................ 14

1.1 OBJETIVOS ............................................................................................ 16

1.1.1 Objetivo Geral..................................................................................... 16

1.1.2 Objetivos Específicos ........................................................................ 16

1.2 JUSTIFICATIVAS .................................................................................... 16

1.3 LOCALIZAÇÃO E ACESSO .................................................................... 17

2 CAPÍTULO 2 – GEOLOGIA REGIONAL ................................................................. 19

2.1 COMPLEXO ALMANDINA ...................................................................... 22

2.2 COMPLEXO IBICARAÍ ............................................................................ 24

2.2.1 Granulitos Máficos ............................................................................. 24

2.2.2 Granulitos Tonalíticos/Trondhjemíticos........................................... 25

2.3 GRUPO BROTAS ................................................................................... 26

2.4 GRUPO CAMAMU .................................................................................. 27

2.5 DEPÓSITOS QUATERNÁRIOS .............................................................. 27

3 CAPÍTULO 3 – DEPÓSITO DE MANGANÊS: MORFOLOGIA E SUPERGÊNESE 30

4 CAPÍTULO 4 – MINERALOGIA DA ENCAIXANTE DO PROTOMINÉRIO ............. 39

4.1 Estudo Petrográfico e de Química Mineral da Amostra M-17.................. 39

4.2 Estudo Petrográfico e de Química Mineral da Amostra M-26.................. 42

4.3 Estudo Petrográfico e de Química Mineral da Amostra M-32.................. 45

5 CAPÍTULO 5 - MINERALOGIA DO PROTOMINÉRIO ............................................ 49

5.1 Estudo Petrográfico e de Química Mineral da Amostra M-23.................. 50

5.2 Estudo Petrográfico e de Química Mineral da Amostra M-24.................. 54


xiii
5.3 Estudo Petrográfico e de Química Mineral da Amostra M-27.................. 56

5.4 Estudo Petrográfico e de Química Mineral da Amostra M-28.................. 60

5.5 Estudo Petrográfico e de Química Mineral da Amostra M-29.................. 63

5.6 Estudo Petrográfico e de Química Mineral da Amostra M-31.................. 65

6 CAPÍTULO 6 – DISCUSSÕES E CONCLUSÕES .................................................. 68

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 74

xiv
1 CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

Depósitos de manganês podem funcionar como indicadores da evolução do


planeta, podendo ser marcadores de variações do nível de oxigênio da atmosfera e
hidrosfera, do nível do mar, a presença de organismos biológicos, registro de
glaciações e vulcanismo submarino, dentre outros.

A formação dos depósitos de manganês envolve fonte, transporte, deposição e


intemperismo. Devido a esta amplitude de fatores atuantes, existem diversas
possibilidades de deposição de manganês durante a evolução do planeta, desde
depósitos do Arqueano até os dias atuais (ROY, 1988). Além disso, existem diversos
tipos de ambientes de formação de depósitos de manganês distintos. Estes ambientes
são determinados pela intensidade e estilo do tectonismo, do vulcanismo, da atividade
hidrotermal, da composição da atmosfera e hidrosfera e do desenvolvimento da
biosfera, todos variando com o tempo (ROY, 1997).

Na parte sul do Estado da Bahia, na região de Maraú (Figura 1.1), inserido na


porção sul do Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá (BISC) (BARBOSA e SABATÉ, 2002,
2004), existem diversas ocorrências de manganês orientadas grosseiramente na
14
direção NNE-SSW, sendo paralelas aos lineamentos estruturais regionais dos
granulitos do referido bloco. Algumas constituíram depósitos de pequeno porte, como
por exemplo, aquelas de Santo Antônio de Jesus e Maraú, cujos óxidos secundários, do
tipo pirolusita-psilomelana, foram exaustivamente lavrados, visto que constituíam
reservas econômicas de minério de manganês. A maioria dele foi consumido pela
SIBRA – Eletrosiderurgica Brasileira S.A., fábrica de ferro ligas situada em Simões
Filho, próxima a Salvador.

Essas jazidas supergênicas encontravam-se alojadas no solo das rochas


granulíticas, contudo, devido às grandes espessuras deste solo e, por consequência, a
inexistência de afloramentos do protominério, era impossível conhecer a mineralogia
deste. Entretanto sob o minério oxidado do depósito de manganês de Maraú, mais
especificamente na mina Valha-me Deus Norte, foi executado um furo de sondagem,
que atravessou a camada granulitizada de manganês em profundidade, tornando
possível amostrar o protominério e estudar sua mineralogia.

Este é um trabalho de importância visto que os testemunhos da referida


sondagem estão demonstrando que as rochas deste protominério, gerador dessas
jazidas de manganês supergênicas, são ainda pouco estudadas na bibliografia nacional
e internacional. Apesar da escassa produção bibliográfica acerca do protominério das
ocorrências manganesíferas, trabalhos a esse respeito não são totalmente inexistentes.
Algumas informações podem ser obtidas nos estudos na Mina do Córrego do Cocho,
Itapira – São Paulo (ANGELI et al., 2011), nas pesquisas sobre o Distrito
Manganesífero de Saúde, Grupo Dom Silvério – Minas Gerais (CAVALCANTE e
JORDT-EVANGELISTA, 2004), nas pesquisas dos Depósitos de Manganês da
Província de Aracoiaba – Ceará (SOUZA e RIBEIRO FILHO, 1983), nos estudos dos
Depósitos Manganesíferos da Serra do Navio – Amapá (CHISONGA et al., 2012) e nas
pesquisas sobre o minério de manganês da Mina Lagoa D’Anta, Subdistrito Ferro-
Manganesífero de Caetité-Licínio de Almeida – Bahia (BORGES, 2012). Informações
importantes sobre a ocorrência desse minério do sul da Bahia podem ser obtidas
também nas extensas pesquisas realizadas pela CBPM - Companhia Baiana de

15
Pesquisa Mineral em convênio com a Secretaria de Minas e Energia (SME), através do
Projeto Manganês de Valença-Gandu (RIBEIRO, 1982).

Sendo assim, a presente dissertação de Mestrado poderá trazer importantes


informações adicionais sobre a geologia desses depósitos de Maraú, permitindo fazer
correlações com a gênese de outras ocorrências de manganês no Estado da Bahia e
em outros locais do planeta.

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral

Essa dissertação tem como objetivo geral caracterizar a mineralogia da rocha que
constitui o protominério de manganês granulitizado do sul da Bahia, através de estudos
petrográficos e de química mineral, e com isso tentar sugerir modelos genéticos acerca
dessas rochas, visto que esse protominério, por estar abaixo da zona de intemperismo,
não sofreu processos supergênicos de concentração e formação do minério oxidado da
região de Maraú.

1.1.2 Objetivos Específicos

Tem-se como objetivos específicos: (i) identificar a mineralogia das rochas que
compõem o protominério, através de estudos de química mineral e caracterização
petrográfica; (ii) caracterizar este protominério, visando identificar as paragêneses
metamórficas dessas rochas; e, (iii) sugerir o ambiente de formação desses
metamorfitos de alto grau ricos em manganês.

1.2 JUSTIFICATIVAS

Considera-se esse trabalho inédito visto que nunca foram realizados estudos para
a caracterização desse protominério de manganês do sul da Bahia. As análises
petrográficas e os dados microquímicos trarão grande contribuição para o entendimento
dos depósitos e ocorrências de manganês da região, podendo vir a sugerir o ambiente
de formação destes depósitos e compará-lo a outros depósitos manganesíferos,
existentes no Brasil e no planeta.
16
1.3 LOCALIZAÇÃO E ACESSO

A área de estudo encontra-se localizada na porção centro-sul do Estado da Bahia,


dentro dos limites da folha topográfica Ubaitaba (SD.24-Y-B-III), nas proximidades dos
municípios de Ubaitaba, Camamu, Ibirapitanga e Maraú, entre outros (Figura 1.1).

O acesso, a partir da cidade do Salvador, inicia-se com a travessia do Ferry-Boat


com destino à Ilha de Itaparica. Daí segue-se pela BA-001 até a cidade de Camamu.
Dessa cidade pode-se seguir pela mesma BA-001 até a BA-656 onde o acesso à área
seria realizado através de uma estrada não pavimentada ou desviar pela BA-652, até
uma estrada não pavimentada que também dá acesso à área. Pode-se também seguir
a BR-324 e BR-101 até o acesso à cidade de Ibirapitanga, posteriormente seguindo
pela BA-652 em direção a Camamu, onde o acesso à área se faz através de uma
estrada não pavimentada (Figura 1.1).

17
Figura 1.1 - Localização e acesso à área de estudo. Fonte: Modificado do Google Maps.

18
2 CAPÍTULO 2 – GEOLOGIA REGIONAL

A área de estudo encontra-se inserida no contexto geotectônico do Cráton do São


Francisco (CSF) definido por Almeida (1977). O CSF teve seus limites estabelecidos
primeiramente por Almeida (1977) e confirmados, sobretudo na parte norte, por Ussami
(1993), nesse último caso a partir de estudos geofísicos. Ele é bordejado por faixas de
dobramento Neoproterozoicas do denominado Ciclo Brasiliano, a saber: (i) Faixa
Sergipana, a nordeste (BRITO NEVES, 1975); (ii) Faixa Riacho do Pontal, a norte
(BRITO NEVES, 1975), (iii) Faixa Rio Preto, a noroeste (INDA e BARBOSA, 1978); (iv)
Faixa Brasilia, na porção oeste (ALMEIDA, 1969); e, (v) Faixa Araçuaí, na parte sul
(ALMEIDA, 1977) (Figura 2.1).

O CSF no estado da Bahia, encontra-se subdividido em 4 compartimentos


principais: i) Bloco Gavião (BG); ii) Bloco Jequié (BJ); iii) Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá
(BISC); e, iv) Bloco Serrinha (BS). A geotectônica responsável pela aglutinação destes
blocos ocorreu no Paleoproterozoico, em torno de 2,0 Ga (PEUCAT et al., 2011), que
formou o denominado Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá (OISC) (Figura 2.1).

19
O BG é constituído de rochas TTG’s que ocorrem de forma dispersa, podendo ser
divididas em dois grupos: um mais antigo, de idade variando entre 3,4 e 3,2 Ga e outro
com idades situadas 3,2 a 3,1 Ga. Ambos estão metamorfisados na fácies anfibolito
tendo sido originados por fusão de basaltos toleiíticos, deixando anfibolitos com
granada ou eclogitos como resíduo. Considera-se que o grupo mais antigo de TTG
diferencia-se do mais novo porque este último sofreu contaminação crustal (MARTIN et
al., 1991). O BG apresenta ainda, sequências vulcanossedimentares metamorfisadas
na fácies xisto-verde e anfibolito baixo, que constituem os greenstone belts deste bloco.
Ocorrem também gnaisses paraderivados, principalmente próximo aos greenstones, os
quais são de difícil separação dos gnaisses ortoderivados (TTG’s), devido às
similaridades nas suas deformações e metamorfismo. Essas rochas podem também se
apresentar com feições de migmatização (BARBOSA e SABATE, 2003; BARBOSA,
SABATE, MARINHO, 2003).

O BJ é constituído de rochas arqueanas e paleoproterozoicas, sendo a maioria


denominada de granulitos heterogêneos com enclaves de rochas supracrustais
(metabasaltos e metabasaltos andesíticos, cherts/quartzitos, kinzigitos, rochas máficas-
ultramáficas e formações ferríferas bandadas) todas metamorfisadas na fácies
granulito. Suas idades situam-se em torno de 3,0-2,9 Ga estabelecidas pelo método
Sm-Nd (MARINHO, 1991; MARINHO et al., 1994; WILSON, 1987). Estes granulitos
possuem intrusões de rochas graníticas-granodioríticas (que após o metamorfismo
granulítico passaram a ser chamadas de granulitos charnockíticos, charnoenderbíticos
e enderbíticos), sendo datadas em torno de 2,8-2,7 Ga pelos métodos Rb-Sr, Pb-Pb,
rocha total, e U-Pb SHRIMP em zircões (ALIBERT e BARBOSA, 1992; MACEDO, 2006;
SILVA et al., 2002; WILSON, 1987). Esses plutonitos que foram granulitizados durante
a colisão paleoproterozoica podem conter às vezes mega-enclaves dos granulitos
heterogêneos referidos anteriormente, confirmando as suas características intrusivas
(BARBOSA e SABATÉ 2002, 2004; MACEDO, 2006).

O BS é composto por migmatitos e ortognaisses arqueanos, sequências


vulcanossedimentares equilibradas na fácies xisto-verde (Greenstone Belts Serrinha-
Rio Itapicuru e Rio Capim) (BARBOSA et al., 2012) e diversas intrusões graníticas

20
Paleoproterozoicas (BARBOSA e SABATE, 2003; BARBOSA, SABATÉ, MARINHO,
2003). Os ortognaisses foram provenientes da deformação e metamorfismo na fácies
anfibolito de rochas graníticas-granodioríticas e tonalíticas, datadas em torno de 3,1-2,8
Ga (BARBOSA e SABATE, 2003). Os plutonitos paleoproterozoicos possuem química
que indica tratar-se de rochas cálcio-alcalinas normais, peraluminosas a
metaluminosas, variando até alcalinas ou shoshoníticas (RIOS, 2002).

Figura 2.1 - (a) Principais crátons e sistemas orogenéticos neoproterozoicos do território


brasileiro; (b) Mapa geológico simplificado do CSF. Fonte: Modificado de Alkmin et al., 1993.

a)

b)

21
O BISC é dividido em dois segmentos principais, norte e sul (Figura 2.2). No norte
predominam rochas charnockíticas, embora ocorram subsidiariamente granulitos
básicos e granulitos paraderivados denominados de Complexos São José do Jacuípe e
Ipirá, respectivamente (TEXEIRA, 1997). No sul ocorrem rochas
tonalíticas/trondhjemíticas (BARBOSA e PEUCAT, 2006) e corpos charnockíticos, todos
com idades em torno de 2,6 Ga. Também são encontradas rochas supracrustais
(quartzitos, gnaisses alumino-magnesianos, grafititos e formações manganesíferas),
além de gabros/basaltos de fundo oceânico e/ou bacia back-arc de fonte mantélica
(BARBOSA et al., 2012), além de intrusões monzoníticas/shoshoníticas de 2,4 Ga
(LEDRU et al., 1993). Todas essas unidades encontram-se reequilibradas na fácies
granulito, devido ao evento Paleoproterozoico antes referido (BARBOSA, 1990). A área
de estudo encontra-se inserida no segmento sul do BISC, dentro de rochas
supracrustais que foram granulitizadas durante o evento Paleoproterozoico (BARBOSA,
1990).

São descritas a seguir, resumidamente, as rochas granulíticas encaixantes do


protominério e do minério de manganês objeto deste trabalho, com base em Barbosa et
al. (2013), cujo mapa encontra-se na Figura 2.3.

2.1 COMPLEXO ALMANDINA

Consideradas como as rochas mais antigas da região, de idade meso a


neoarqueanas, elas são denominadas de Complexo Almandina (A34iam). São
encontradas sob a forma de ocorrências restritas e compostas de granulitos
paraderivados, formando faixas alongadas na direção NNE-SSW, paralelizadas com o
trend regional (Figura 2.3). São compostas principalmente de quartzitos, rochas
calcissilicáticas, níveis de rochas grafitosas, bandas quartzo-feldspáticas, granulitos
alumino magnesianos ou kinzigitos, granulitos básicos, além de formações ferríferas e
manganesíferas (BARBOSA et al., 2013), essas últimas motivo desse estudo.

Nessas rochas supracrustais granulitizadas, a mais fácil de ser encontrada são os


quartzitos, que aparecem como blocos rolados dentro do manto de intemperismo das
rochas supracrustais. Entretanto, mais comumente, esses quartzitos ocorrem sob a

22
forma de cristas alongadas que se destacam na topografia. Sua mineralogia envolve,
além do quartzo, granada, opacos e feldspato.

Figura 2.2 - Mapa esquemático das unidades geotectônicas arqueanas-paleoproterozoicas mais


importantes da parte leste do CSF na Bahia. Área de estudo destacada em vermelho. Fonte:
Modificado de Barbosa et al. (2012).

1.
23
As outras unidades do Complexo Almandina foram descritas a partir de análises
petrográficas de amostras colhidas nos poucos afloramentos encontrados. Os
granulitos alumino-magnesianos, ou kinzigitos, foram descritos com uma mineralogia
formada de quartzo, ortopiroxênio, granada, silimanita e plagioclásio como minerais
principais, tendo a microclina pertítica, opacos, rutilo, grafita, monazita e zircão como
acessórios.

Nas bandas metabásicas dessas rochas supracrustais do Complexo Almandina,


foram identificados quartzo, plagioclásio, orto e clinopiroxênio como minerais principais,
além da biotita, anfibólio e, às vezes, granada, esses últimos como minerais acessórios.

2.2 COMPLEXO IBICARAÍ

O mapeamento realizado por Barbosa et al. (2013) na região identificou cinco


principais unidades neste complexo, com idades variando do Neoarqueano ao
Paleoproterozoico. Elas são denominadas de (i) Granulitos Máficos e (ii) Granulitos
Tonalíticos/Trondhjemíticos que são detalhadas a seguir.

2.2.1 Granulitos Máficos

Além dos granulitos paraderivados do Complexo Almandina, também de forma


mais restrita, encontram-se os granulitos básicos do Complexo Ibicaraí, considerados
metagabros e/ou metabasitos (A34igb1), de idade meso a neoarqueana (Figura 2.3).
Essas rochas aparecem como enclaves deformados e paralelizados com o bandamento
regional e encaixadas nos granulitos tonalíticos/trondjhemíticos, descritos adiante. Sua
mineralogia envolve plagioclásio, orto e clinopiroxênios, por vezes com granada. A
geoquímica desses granulitos básicos indica que eles possuem uma tendência toleítica
(BARBOSA et al., 2013).

As rochas desta unidade costumam se encontrar também associadas aos


granulitos supracrustais, de forma que também se apresentam como faixas alongadas
na direção NNE-SSW. Os granulitos básicos inclusos nos granulitos
tonalíticos/trodhjemíticos, podem atingir até 8 Km de extensão (Figura 2.3). São
subdividos em quatro litotipos, de acordo com sua descrição petrográfica, a saber: (i)

24
granulitos básicos com biotita; (ii) granulitos básicos com hornblenda; (iii) granulitos
básicos com biotita e hornblenda; e, (iv) granulitos básicos com granada.

Macroscopicamente eles costumam apresentar coloração verde escura a preta e


granulometria fina a média. No microscópio, apresentam textura granoblástica
inequigranular com contatos curvos a interlobados, constituídos por plagioclásio, orto e
clinopiroxênio como minerais principais e quartzo, opacos, apatita e zircão como
minerais acessórios, além de hornblenda, biotita e granada (PINHO, 2005).

2.2.2 Granulitos Tonalíticos/Trondhjemíticos

Também denominados de Complexo Ibicaraí, esses granulitos tem idade


neoarqueana e, às vezes, contém granada (A4itt5) ou não (A4itt1). Esses últimos são
predominantes na região. Ainda compondo o Complexo Ibicaraí, estão inclusos os
tonalitos/trondhjemitos denominados de APitt2 e PP23ish1, sendo os primeiros do
arqueano e/ou paleoproterozoico e os últimos certamente do paleoproterozoico. Mais
simplificadamente, Barbosa et al (2013) descreve as rochas tonalíticas/trondhjemíticas
considerando três principais tipos: TT1 (APitt2), TT2 (A4itt1) e TT5 (A4itt5).

Elas são rochas similares, tanto nas suas características macroscópicas, quanto
nas suas composições mineralógicas e geoquímicas de elementos maiores. Sua
mineralogia principal envolve quartzo e plagioclásio antipertítico, além de pouco
piroxênio tanto orto como clino, sendo encontrado raramente, feldspato potássico
pertítico. Ocorrem ainda biotita e hornblenda em geral como produto do
retrometamorfismo dos minerais ferromagnesianos e opacos. O principal critério para
separá-los foi utilizando os elementos Terras Raras. Todos eles exibem padrões
decrescentes de Terras Raras tanto leves como pesados. No entanto, as rochas
paleoproterozoicas não apresentam anomalias de európio (TT1), enquanto que os
tonalitos-trondhjemitos arqueanos são divididos em dois grupos: um com anomalias
positivas deste elemento (TT2) e outro com anomalias negativas (TT5) (BARBOSA et
al., 2012).

Os tonalitos/trondhjemitos TT1 apresentaram idades U-Pb SHRIMP variando de


2,1 a 2,2 Ga e idade modelo de 2,66 Ga TDM (SILVA et al., 2002; PEUCAT et al.,
25
2011), enquanto que as rochas das unidades TT2 e TT5 possuem idades 2,7-2,9Ga
(SHRIMP) segundo aqueles mesmos autores.

As rochas da unidade TT1 apresentam coloração verde acinzentada e geralmente


granulação média, com textura granoblástica e composta por quartzo, plagioclásio,
ortopiroxênio, clinopiroxênio, biotita e minerais opacos. Além de zircão e apatita que
ocorrem como acessórios, por vezes, aparece também a granada.

As rochas TT2 e TT5 apresentam bandamento gnáissico bem marcado pela


variação de bandas verdes claras (plagioclásio predominante) e bandas verdes escuras
(minerais ferromagnesianos abundantes). Este bandamento costuma ser cortado por
falhas e fraturas posteriores e transversais à sua direção. Como uma das
características de rochas da fácies granulito da região, fica mais fácil observar a
foliação da rocha quando esta se encontra alterada por processos superficiais, do que
quando a rocha encontra-se fresca. Sua coloração verde acizentada lhe confere a
classificação de leuco a mesocráticas, com granulação fina a média. Apresentam
texturas granoblástica decussada a levemente poligonal e inequigranular, composta de
plagioclásio, quartzo, orto e clinopiroxênio e minerais opacos, além de hornblenda,
biotita, k-feldspato, apatita e zircão como minerais secundários e/ou acessórios.

2.3 GRUPO BROTAS

O Grupo Brotas é composto, da base para o topo, pelas Formações Afligidos,


Aliaça e Sergi (DOMINGUEZ et al., 2006). No mapa da área de trabalho, este grupo
ocorre na porção nordeste (Figura 2.3), aflorando somente litologias da Formação
Afligidos.

Esta Formação tem idade permo-triássica (AGUIAR e MATO, 1990) e é composta


po litologias cujos ambientes de sedimentação variam de marinho raso a lacustres, isso
em uma seção vertical, da base para o topo. Suas rochas incluem arenitos finos a
médios com estruturas sedimentares indicativas da ação de ondas e marés, além de
raras camadas de lamitos algais parcialmente dolomitizados e com sílex. Nos
sedimentos lacustres dominam lamitos vermelhos com gretas de contração e feições de
colapso.
26
2.4 GRUPO CAMAMU

O Grupo Camamu é composto pelas Formações Taipús-Mirim e Algodões,


ocorrendo na porção nordeste da área estudada e em contato com as rochas do Grupo
Brotas (Figura 2.3).

A Formação Taipús-Mirim é formada por sedimentos depositados no Cretáceo


Inferior (Aptiano-Albiano), com ambiente de deposição interpretado como marinho sob
influência de ondas e marés. Ela pode ser dividida em dois membros: (i) Serinhaém
(inferior); e, (ii) Igrapiúna (superior). O Membro Serinhaém é composto por arenitos,
arenitos conglomeráticos e folhelhos de coloração cinza-claro a escuro, com marcas de
estratificações cruzadas, marcas onduladas, camadas gradadas e acamamento
lenticular a ondulado. O Membro Igrapiúna é composto por calcários dolomíticos
castanhos e amarelados e folhelhos castanhos. Raramente ocorrem evaporitos como
anidrita e halita.

A Formação Algodões é do Cretáceo Inferior a Superior (Albiano a Santomiano) e


é interpretada como de ambiente marinho, predominantemente raso. É constituída por
calcários dolomíticos, oolíticos e pisolíticos de coloração creme a cinza claro, podendo
ocorrer também calcilutitos com foraminíferos planctônicos (Membro Quiepe)
(DOMINGUEZ et al., 2006).

2.5 DEPÓSITOS QUATERNÁRIOS

Nas áreas topograficamente mais baixas, próximas ao Oceano Atlântico (leste da


Figura 2.3), encontram-se às planícies quaternárias, que ocupam canais de maré e
baías. Tais planícies são constituídas por depósitos continentais, transicionais e recifes
de corais que se dispõem sobre as unidades mais antigas. Esses sedimentos
inconsolidados foram formados em função das variações do nível relativo do mar que
ocorreram durante o quaternário.

Os depósitos de areia pleistocênicas indiferenciadas (QPar), ocorrem como


resultado de uma provável deposição associada a processos estuarinos, num período
em que o nível do mar era mais elevado que o atual. Esses depósitos são formados por

27
areias quartzosas bem selecionadas, compondo morros de topo plano com altitudes em
torno de 5 metros. Esses morros estão presentes nas porções internas da planície
quaternária.

Os depósitos de areias litorâneas regressivas (QPl), têm sua formação associada


a transgressões e regressões subsequentes do nível do mar. São depósitos formados
por areias bem selecionadas e predominantemente quartzosas, com coloração branca
na superfície, escurecendo com a profundidade em consequência a impregnação por
ácidos húmicos. Esses depósitos ocorrem nas porções internas das planícies
quaternárias sob a forma de terraços com altitudes em torno de 7 metros.

Os depósitos argilo-orgânicos de ―terras úmidas‖ (QHtu), ocorrem nas áreas mais


baixas das planícies quaternárias. Esses depósitos foram formados pela deposição de
sedimentos em áreas intermediárias, entre terrestre e aquáticas, e que foram inundadas
ou saturadas por água, numa frequência e duração que permite a ocorrência de uma
vegetação adaptada a essas condições. Esses depósitos são formados por sedimentos
argilosos ricos em matéria orgânica, por vezes, apresentando camadas de turfa. Nas
planícies de inundação ocorrem depósitos argilo-orgânicos de terras úmidas, que foram
denominados de Depósitos Areno-Argilosos Fluviais (QHfl e QHtum) (DOMINGUEZ et
al., 2006).

28
Figura 2.3 - Mapa geológico da região de Maraú (porção NE da Folha Ubaitaba – SD.24-Y-B-III).
Destacado em pequenos círculos, os depósitos de manganês da região de Maraú, onde na mina
Valha-me Deus Norte foi realizado o furo de sondagem no protominério. Fonte: Barbosa et al.,
2013.

29
3 CAPÍTULO 3 – DEPÓSITO DE MANGANÊS: MORFOLOGIA E
SUPERGÊNESE

Seis ocorrências e/ou depósitos de manganês estão localizadas nas proximidades


da cidade de Maraú, sendo a principal delas denominada Valha-me Deus Norte. A
Figura 3.1 mostra que os depósitos de manganês se alinham na direção NNE/SSW e se
destacam nos topos das elevações. Nessa figura é mostrada a drenagem e a estrada
construída para o escoamento do minério. Ali foram realizadas pesquisas e exploração
do minério de manganês, cujas atividades são exibidas em detalhe na Figura 3.2,
incluindo trincheiras, poços e furos de sondagem (TONIATTI e BARBOSA, 1973).

A área apresenta grande extensão de zona mineralizada, principalmente com


depósitos de minério rolado e/ou minério tombado, os quais foram explotados pela
SIBRA – Eletrosiderurgica Brasileira S.A. Os trabalhos de pesquisa na mina permitiram
a localização do minério in situ, nos furos de sondagem (Figura 3.2). Esses furos
mostraram o comportamento das camadas do minério in situ, o qual pode se estender
30
no solo e em profundidade e, quando encaixado nos granulitos fora da zona
supergênica, ser classificado como protominério, objetivo deste trabalho (Figura 3.3). As
rochas que compõem o protominério ocorrem em dois níveis intercalados com os
granulitos encaixantes e foram denominadas neste trabalho de nível superior e inferior.

O minério supergênico foi descrito por Toniatti e Barbosa (1973), sendo


individualizados como minério rolado, minério tombado e minério in situ. O minério
rolado se distribui nos flancos das elevações e quando atravessados por poços de
pesquisa, verifica-se que são camadas irregulares com espessura média de um metro.
Em meio ao solo, ele constitui-se de fragmentos arredondados, sub-arredondados e
plaquetas. Exibe cor cinza, cinza-azulado e preta, geralmente friável, de dureza baixa,
granulação média a grossa, com a foliação e bandamento do protominério ainda
preservados. Em ordem de abundância, os minerais de minério supergênico são
criptomelana, litioforita e, subordinadamente, manganita e psilomelana.

O minério tombado é formado de blocos rolados maiores que os anteriores, com


tamanhos podendo variar de 1 a 2 metros de diâmetro. Esses blocos tem forma tabular,
com as mesmas texturas e estruturas do minério in situ. As espessuras das camadas
pesquisadas atingiam até 4m de espessura, embora a espessura média situa-se em
torno de 2m.

O minério in situ aprofunda-se no solo até as rochas granulíticas do protominério


(Figura 3.3). Os furos de sondagem no solo permitiram identificar camadas lenticulares,
concordantes com as encaixantes e comprimentos centenas de metros e espessuras
variando de 1 a 8 metros, mas com média em torno de 4 metros (Figura 3.3).
Identificam-se com as sondagens (Figuras 3.2 e 3.3) dois níveis de minério in situ,
subparalelos, com afastamento variando de 10 a 100m. Como supracitado, estes dois
níveis serão trabalhados na presente dissertação como níveis superior e inferior.

Valarelli (1982), estudando o minério de Maraú, levanta a questão sobre a


presença da grafita, que é visualizada nas partes mais preservadas do minério in situ.
Segundo esse autor, essa grafita indica baixa fugacidade de oxigênio, reinante no
metamorfismo dessas rochas e ―tem alta influência na formação do minério
supergênico, tendo como produto final óxidos do tipo criptomelana‖.
31
Figura 3.1 - Distribuição das faixas mineralizadas em manganês da região de Maraú, com destaque
para a mina Valha-me Deus Norte, onde foi realizado o furo de sondagem. Fonte: Toniatti e
Barbosa, 1973.

32
Figura 3.2 – Detalhe da mina Valha-me Deus Norte, exibindo as extensas atividades de pesquisa
realizadas no minério oxidado. Fonte: Toniatti e Barbosa, 1973.

33
Figura 3.3 – Seção esquemática mostrando as diferentes ocorrências de Mn da Mina Valha-me
Deus Norte, destacando o protominério de Mn encaixado nas rochas granulíticas e o furo de
sondagem onde foram obtidas as amostras motivo deste trabalho. Fonte: Toniatti e Barbosa, 1973.

Em termos de reserva, os trabalhos de pesquisa realizados na área total (Figura


3.1) estimaram um potencial de cerca de 3 milhões de toneladas, com teores médios de
36% de manganês, com FeO, SiO2 e Al2O3 abaixo de 10%. O limite inferior da zona de
minério foi tratado como o limite entre o manto de intemperismo e as rochas
encaixantes, com espessura média de 30 metros. Todo esse minério foi explorado e,
34
depois de selecionado, enviado para a fábrica de ferro-ligas da SIBRA situada no Km
24 da estrada Salvador-Feira de Santana.

Com a Figura 3.3 pode-se fazer uma correlação entre os níveis supergênicos de
óxido de manganês e aqueles do protominério. Esse último foi estudado nessa
dissertação em lâminas petrográficas cujos minerais foram descritos em microscópio e
analisados quimicamente utilizando a microssonda eletrônica.

O furo de sondagem que cortou os granulitos e o protominério (Figura 3.4)


permitiu estudar as amostras recuperadas desse último. Verificou-se que a mineralogia
do protominério, apresentam percentuais expressivos de manganês. Esses altos teores
foram encontrados nas granadas do tipo espessartita, nos carbonatos do tipo
rodocrosita e em piroxênios ricos em manganês do tipo piroxmangita ou rodonita,
havendo ainda ocorrências de minerais opacos com até 75% de Mn, possivelmente um
sulfeto de manganês do tipo alabandita, como será visto no estudo da lâmina M-24.

Ocorrências manganesíferas similares às encontradas na mina de Maraú foram


estudadas por Ribeiro (1982), no denominado Projeto Manganês de Valença-Gandu,
resultado do convênio CBPM-SME (Secretaria de Minas e Energia do Estado da Bahia).
Essas ocorrências encontram-se encaixadas em granulitos charnockíticos,
charnoenderbíticos e enderbíticos, compondo faixas alongadas na direção das
foliações/bandamentos regionais NNE-SSW. As mineralização apresentam as mesmas
formas de ocorrência das Figuras 3.2 e 3.3, ou seja, minério rolado, minério tombado e
minério in situ. Isso indica forte indício de que sejam geneticamente correlatas com as
ocorrências manganesíferas da mina de Valha-me Deus Norte, de forma que o
protominério estudado no presente trabalho deve ser similar àqueles dos depósitos da
região de Valença. Essa similaridade é importante visto que os diversos depósitos de
manganês presentes nos granulitos do sul da Bahia devem ser produto deste mesmo
processo evolutivo e, possivelmente, de protominérios similares.

Outro exemplo importante desta similaridade são as ocorrências manganesíferas


na região de São Félix, estudadas por Canabrava (2013), seu protominério é
classificado como gonditos com mineralogia principal composta por espessartitas,
também com piroxmangitas, quartzo e minerais opacos. Apresentando mesma
35
disposição estrutural das ocorrências do sul da Bahia, com os tipos de minério in situ,
tombado e rolado.

Os protominérios daquelas ocorrências manganesíferas brasileiras citadas


anteriormente são descritos a seguir, visando uma breve comparação da mineralogia
descrita no presente trabalho com aquelas dessas outras ocorrências.

Os protominérios da Mina do Córrego do Cocho, no Estado de São Paulo, são


caracterizados e descritos como do tipo silicático, composto principalmente por quartzo
e espessartita e do tipo cálcio-silicático, composto além do quartzo e espessartita por
piroxênio, anfibólio, plagioclásio, carbonato e epídoto (ANGELI et al., 2011).

O protominério presente no Grupo Dom Silvério, localizado no Estado de Minas


Gerais, foi detalhadamente estudado e tendo sido identificadas espessartita, rodonita,
piroxmangita, rodocrosita, manganocummingtonita, tefroíta e pirofanita como principais
minerais manganesíferos, com porcentagens de manganês podendo atingir até 43% na
piroxmangita e com médias de 30% na espessartita (CAVALCANTE e JORDT-
EVANGELISTA, 2004).

Os depósitos da Província de Aracioaba, no Estado do Ceará, apresentam


protominério formado quase exclusivamente de espessartita, embora ocorram
porcentagens menores que 2% de rodonita e manganocummingtonita (SOUZA e
RIBEIRO FILHO, 1983).

O protominério da mina Lagoa D’Anta, no Estado da Bahia, é composto por


mármore manganodolomítico com espessartita e manganocummingtonita associadas.
Subordinadamente ocorrem também rochas calcissilicáticas manganesíferas
(BORGES, 2012).

As rochas do depósito de manganês da Serra do Navio, situado no estado do


Amapá, envolvem xistos e mármores manganesíferos. O protominério de manganês
dessa região apresenta em sua composição espessartita e rodonita como minerais
manganesíferos. Entretanto, o protominério mais rico e que foi explorado durante
muitos anos foram os óxidos do tipo pirolusita e psilomelana, produto da supergênese

36
de mármore manganesífero, composto de rodocrosita e calcita manganesífera
(CHISONGA et al., 2012).

Desta forma, uma comparação das mineralogias desses prominérios permite


mostrar que o protominério do depósito de Valha-me Deus Norte em Maraú, apresenta
uma maior diversidade de minerais ricos nesse elemento, como será mostrado nos
capítulos seguintes. Diferenciando-se das minas supracitadas que exibem protomiérios,
quase sempre, ricos em rodocrosita ou espessartita, além de não haver registro da
ocorrência de sulfetos de Mn, do tipo alabandita.

37
Figura 3.4 – Tabela com a mineralogia das lâminas estudadas, conseguidas a partir de amostras
recuperadas no furo de sondagem realizado na mina de Valha-me Deus Norte. Identificaram-se os
níveis enriquecidos do protominério de Mn, bem como a mineralogia principal das rochas
encaixantes. A cor amarela indica os níveis superior e inferior do protominério, com minerais
metamórficos ricos em manganês e teores expressos em porcentagem de MnO no mineral.

38
4 CAPÍTULO 4 – MINERALOGIA DA ENCAIXANTE DO
PROTOMINÉRIO

Neste capítulo serão tratadas as lâminas petrográficas das rochas encaixantes do


protominério de Mn. Foram selecionadas três lâminas: uma anterior ao nível superior
(M-17), uma entre os dois níveis do protominério (M-26) e uma após o nível inferior (M-
32) (Figura 3.4).

4.1 Estudo Petrográfico e de Química Mineral da Amostra M-17

Esta lâmina petrográfica apresenta texturas granoblástica granular e decussada,


lepidoblástica e poiquiloblástica em peneira. Sua paragênese mineral envolve
plagioclásio (30%), granada (22%), piroxênios (21%), biotita (19%), quartzo (4%),
hornblenda (3%) e opacos como acessórios (1%).

O plagioclásio (Pl) apresenta-se xenoblástico a subidioblástico, levemente


orientado e exibindo com os outros minerais contatos curvos e interlobados, raramente
retos. Possui geminação albita e extinção ondulante. Sofreu alteração por processos de

39
saussuritização (Prancha 4.1). A química mineral classifica esse mineral como
labradorita, indicando uma maior influência do cálcio na sua formação (Tabela 4.1).
Nessa tabela pode ser comparados os valores químicos da labradorita estudada com
aquela contida em Deer, Howie e Zussman (1963).

A granada (Grt) não foi analisada quimicamente mas, em geral, nos granulitos
básicos ela é do tipo almandina (BARBOSA, 1986). Possui cor bege, alto relevo e
isotrópica. São grãos xenoblásticos a subidioblásticos, bastante fraturados, não
orientados e com contatos curvos, serrilhados, interlobados e, por vezes, retos. Possui
inclusões de Opx, Cpx, Qz, Bt e Opq, em menor quantidade, constituindo a textura
poquiloblástica em peneira. Os contatos com a Bt são curvos a retos. Sua principal
associação é com os Opx e Cpx, apresentando diversas vezes pequenos grãos destes
no seu centro, fato que pode ser resultado de reações metamórficas progressivas,
devido ao aumento da pressão no metamorfismo (Prancha 4.1).

Os piroxênios (Opx e Cpx) costumam ser de cor bege e cores de interferência


variadas (azul, roxo, verde, azul claro, cinza). São grãos xenoblásticos a
subidioblásticos, não orientados, com contatos curvos a interlobados, raramente
serrilhados ou retos. Sua extinção é oblíqua ou paralela à clivagem. Seus contatos são
curvos com grãos de opacos (Opq), plagioclásio (Pl) e quartzo (Qz) e interlobados a
serrilhados com outros grãos de Opx e Cpx. Com a granada (Grt) os contatos são
predominantemente interlobados a curvos, possuindo contatos retos apenas com as
biotitas. Os Opx tem maior tendência a estarem com cor de interferência azul/violeta
e/ou amarelo, enquanto que os Cpx podem ter tons de cinza, amarelo, azul e verde,
mais claros (Prancha 4.1). O ortopiroxênio analisado apresenta baixo percentual de
MnO e valores de FeO mais elevados em relação ao MgO. Com isso foi possível
classificá-lo como um hiperstênio, um ortopiroxênio com teores intermediários de FeO e
MgO, mas com teores um pouco mais elevados de FeO (Tabela 4.1). Esses valores são
compatíveis com os ideais tratados por Kuno e Nagashima (1950), embora o Opx
estudado possua mais alto Al2O3 e FeO e mais baixo CaO e MgO.

A biotita (Bt) tem pleocroísmo variando de avermelhado a castanho claro,


extinguindo-se longitudinalmente em Nx. Foram subdivididos dois tipos de biotita, de

40
acordo com a forma dos seus cristais e ao momento de sua formação: (i) os cristais
subidioblásticos foram denominados Bt1, principalmente formando prismas orientados,
formados durante o ambiente progressivo do metamorfismo; (ii) os cristais
xenoblásticos foram denominados Bt2, os quais foram formados no retrometarmofismo.
Os contatos com Opx e Grt são interlobados a retos, enquanto que os contatos com Qz,
Pl e Opq são também curvos a interlobados e retos. Ocorre localmente em estágio mais
avançado de alteração e pode também ser encontrada dentro de Grt. Quando ocorre
com formas xenoblásticas (Bt2) sugere que estas foram formadas por processos
retrometamórficos (Prancha 4.1). Os resultados obtidos nas análises químicas das
biotitas indicam que são biotitas típicas de metamorfismo granulítico, em função dos
elevados teores de titânio (DEER, HOWIE, ZUSSMAN, 1963) (Tabela 4.1).

O quartzo (Qz) apresenta-se xenoblástico, não orientado com contatos curvos e


interlobados, além de apresentarem sempre extinção ondulante.

A hornblenda mostra-se subidioblástica, não orientada e com contatos curvos e


interlobados, além de extinção oblíqua à sua clivagem. A sua química mineral
apresenta valores que permite identificá-la como uma tschermaquita (Ts), um tipo de
hornblenda cálcica, segundo Deer, Howie, Zussman (2013).

Tabela 4.1 – Análises química dos minerais da lâmina M-17, expressa em porcentagens dos
elementos. Fontes: (1) Deer, Howie, Zussman (1963); (2) Kuno e Nagashima (1950); (3) Deer,
Howie, Zussman (2013).

Labradorita Pl Hyp Opx Bt Bt Bt Ts Amp


Mineral
(1) Labradorita (2) Hiperstênio (1) Biotita Biotita (3) Tschermaquita
SiO2 52.42 54.880 53.17 52.26 38.32 38.67 39.06 42.70 42.77
Al2O3 29.70 28.710 0.45 1.35 15.21 13.08 13.88 18.26 12.73
CaO 12.65 11.150 2.67 0.37 0.74 0.03 0.03 10.65 11.97
MgO 0.08 0.020 23.81 19.79 13.17 16.36 16.07 8.42 11.91
MnO 0 0.000 0.48 0.52 0.22 0.06 0.01 0.07 0.11
FeO 0.49 0.110 18.50 25.92 17.07 11.97 12.24 15.21 12.07
TiO2 0.09 0.000 0.22 0.07 2.89 4.94 5.06 0.45 2.34
Na2O 4.01 5.370 0.47 0.02 0.20 0.03 0.01 1.42 1.60
K2O 0.21 0.170 0.00 0.01 8.01 10.10 10.18 0.49 2.02
Cr2O3 0 0.000 0 0.02 0 0.10 0.20 0 0.26
Cl 0 0 0 0 0 0.07 0.07 0 0
Oh 0 0 0 0 4.04 4.06 4.12 2.13 2.02
Total 99.65 100.41 99.98 100.33 100.00 99.47 100.93 99.80 99.80

41
Os minerais opacos são xenoblásticos, não orientados, com contatos curvos e
interlobados, principalmente com a Grt que comumente ocorre englobando-o. Tem
também contatos curvos com o Px e o Pl, não estando inclusos no mesmo.

Prancha 4.1 - Lâmina M-17, mostrando a associação mineral da amostra. (A e B), podendo-se
observar os dois tipos de ocorrência da Bt. (C e D), interação dos cristais de Opx, Bt e Qz com a
Grt.

4.2 Estudo Petrográfico e de Química Mineral da Amostra M-26

A lâmina petrográfica dessa amostra de rocha apresenta textura granoblástica


granular e decussada. Sua paragênese mineral envolve plagioclásio (40%), piroxênios
(32%), biotita (23%), quartzo (2%), hornblenda (2%) e opacos como acessórios (1%).

O plagioclásio (Pl) ocorre com geminações albita e Carls-bad, sendo os cristais


xenoblásticos a subidioblásticos, orientados e com contatos predominantemente
curvos, embora sejam também interlobados e retos (Prancha 4.2). Esses minerais

42
apresentam teor de CaO mais reduzido em relação aos plagioclásios da lâmina anterior,
mas sem representar uma variação muito discrepante, de forma que são classificados
como andesinas. Embora, usando como padrão a andesina de Dana (1892), a andesina
estudada e analisada na microssonda, possua mais baixos teores de Na 2O e K2O e
mais alto Al2O3 (Tabela 4.2).

Os Opx e Cpx possuem cores que variam do cinza a bege claro e com cores de
interferência variadas como azul, amarelo e violeta. Seus cristais são xenoblásticos a
subidioblásticos. Os contatos com outros piroxênios são curvos a interlobados. Por sua
vez, os contatos com os plagioclásios são curvos e retos e com a Bt1 são serrilhados e
retos, sobretudo quando em contato com sua seção longitudinal. Em alguns locais da
lâmina os piroxênios exibem alteração secundária formando a Bt2, ao seu redor,
resultado do retrometamorfismo (Prancha 4.2 A e B). A química mineral mostra que os
Opx são hiperstênios, com baixo valor de CaO e teores de FeO e MgO similares aos
encontrados na lâmina anterior. Já os clinopiroxênios possuem valores mais elevados
de CaO e diminuição nos valores de MgO e FeO, formando uma solução sólida mais
rica em cálcio e permitindo classifica-los como augita. Comparando com os valores do
hiperstênio e da augita de Dana (1982) e Kuno e Nagashima (1950), esses mesmos
minerais estudados na lâmina M-26, diferem somente em relação aos teores de FeO e
MgO, que são mais elevados (Tabela 4.2).

A biotita (Bt) apresenta pleocroísmo variando de castanho claro a castanho


avermelhado escuro, com as cores de interferência variando de forma parecida com as
observadas em luz plana, porém com tonalidades mais escuras. São cristais
subidioblásticos, com contatos retos nas suas laterais longitudinais embora ocorram
também contatos curvos, interlobados e serrilhados nas suas extremidades, essas
foram formadas em condições progressivas do metarmofismo e por isso apresentam
essa característica subidioblástica, assim como àquelas da lâmina M-17, elas compõem
a Bt1. Os contatos com os piroxênios são interlobados a serrilhados, além de retos.
Com os plagioclásios os contatos são curvos e retos. Às vezes a biotita ocorre ao redor
dos piroxênios e opacos indicando ser produto do retrometamorfismo, estes cristais são
xenoblásticos (Bt2) e é possível observar em determinado local que a Bt ocorre

43
envolvendo completamente cristais de Cpx, exibindo entre eles contatos
predominantemente serrilhados, corroborando mais uma vez que a biotita é o resultado
da transformação dos clinopiroxênios devido à entrada de H2O e abaixamento da
temperatura (Prancha 4.2). Os resultados obtidos nas análises químicas das biotitas
indicam que são biotitas típicas de metamorfismo granulítico, com altos teores de TiO2
(DEER, HOWIE, ZUSSMAN, 1963) (Tabela 4.2). Logo, tratam-se das Bt1.

O quartzo (Qz) é xenoblástico, não orientado, com contatos curvos e interlobados.


Sua extinção é predominantemente ondulante.

A hornblenda é subidioblástica, não orientada, com contatos curvos e interlobados


e extinção oblíqua à sua clivagem. Sua análise química a situa na família dos anfibólios
cálcicos, mas pelo seu maior percentual de FeO e menor quantidade de MgO, pode ser
classificada como ferrohornblenda. O dobro do teor de TiO2 que a ferrohornblenda
estudada apresenta, em relação àquela de Dana (1892), sugere também que ela tenha
sido equilibrada no fácies granulito (Tabela 4.2).

Os minerais opacos são xenoblásticos a subidioblásticos, com contatos curvos


com o Pl, Opx e Cpx. Localmente são retos com a Bt.

Tabela 4.2 - Análises químicas dos minerais da lâmina M-26, expressa em porcentagens dos
elementos. Fontes: (1) Dana (1892); (2) Kuno e Nagashima (1950); (3) Deer, Howie, Zussman (1963).

Andesina Pl Hyp Opx Augita Cpx Cpx Bt Bt Fe-Hbl Am


Mineral
(1) Andesina (2) Hiperstênio (1) Augita Augita (3) Biotita (1) Ferrohornblenda
SiO2 57.59 58.20 53.17 52.33 51.83 51.58 52.07 38.32 38.06 45.24 41.44
Al2O3 25.84 28.13 0.45 1.27 3.07 4.06 3.00 15.21 14.92 10.77 14.00
CaO 8.45 9.41 2.67 0.55 19.21 16.12 19.97 0.74 0.03 10.21 11.71
MgO 0 0.00 23.81 18.46 16.00 13.44 12.84 13.17 13.52 8.90 9.90
MnO 0 0.02 0.48 1.54 0.17 0.95 0.77 0.22 0.13 0.75 0.35
FeO 0.92 0.01 18.50 27.18 8.99 15.93 11.61 17.07 15.99 19.74 15.24
TiO2 0 0.01 0.22 0.06 0.49 0.42 0.31 2.89 5.41 1.26 2.68
Na2O 6.39 5.77 0.47 0 0.27 0.48 0.54 0.20 0.02 1.34 1.80
K2O 0.55 0.25 0.00 0.02 0.02 0 0 8.01 9.86 0.42 2.17
Cr2O3 0 0.00 0 0.06 0 0.04 0.05 0 0.11 0 0.12
Cl 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Oh 0.37 0 0 0 0.58 0 0 4.04 4.11 1.50 2.02
Total 100.11 101.80 99.98 101.47 100.23 103.02 101.16 100.00 102.16 100.13 101.43

44
Prancha 4.2 - Lâmina M-26, mostrando a associação mineral da amostra. (C e D) Os contatos entre
os minerais são principalmente curvos e localmente retos, principalmente com a Bt1. (A e B) As
manchas pretas são marcações para a realização de análises químicas dos minerais com a
microssonda.

4.3 Estudo Petrográfico e de Química Mineral da Amostra M-32

A lâmina desta amostra apresenta texturas granoblástica granular e decussada,


poiquiloblástica em peneira, inequigranular e lepidoblástica. Identifica-se
esporadicamente, coroas de reação entre minerais. Sua paragênese mineral envolve
piroxênios (80%), espinélio (10%), biotita (7%), hornblenda (2%) e opacos (1%).

Os piroxênios apresentam cores em variados tons de cinza. As cores de


interferência variam bastante, entre elas, cinza claro, azul, violeta, verde, amarelo e
rosa. São cristais xenoblásticos a subidioblásticos com contatos curvos com o espinélio
(Spl), semelhantemente com os Px e Opq, além de retos com a Bt e também com
45
alguns grãos de minerais opacos (Opq). Sua extinção pode ser paralela ou oblíqua à
clivagem, uma vez que esses piroxênios podem ser tanto Opx quanto Cpx. Podem
ocorrer inclusões de Spl, constituindo a textura poiquiloblástica, e localmente zonas de
reação com a Hbl (Prancha 4.3 A e B). Analisou-se quimicamente um orto e um
clinopiroxênio e os resultados foram usados para classificá-los utilizando o diagrama
dos piroxênios de Morimoto (1988). O ortopiroxênio, apresenta teor de CaO quase nulo
e predominância de MgO e FeO, com maiores porcentagens de MgO, permitindo
classificá-lo como uma bronzita. O clinopiroxênio por sua vez, apresenta uma redução
nos valores de FeO e MgO e aumento em CaO, quando comparado ao ortopiroxênio.
Sendo assim, este Cpx pode ser classificado como um diopsídio (Tabela 4.3).

O espinélio (Spl) possui cor verde e é isotrópico. Seus cristais são subidioblásticos
a xenoblásticos, com contatos predominantemente curvos, mas localmente retos, com
as biotitas (Prancha 4.3 A, B, E e F). O espinélio, além de ter sido identificado
petrograficamente pelas suas características ópticas, é confirmado pela química
mineral. Trata-se de um óxido de MgO e Al2O3, como mostra a Tabela 4.3. Vale
destacar que o valor do FeO apresenta-se mais elevado em comparação ao espinélios
de Deer, Howie, Zussman (1978) (Tabela 4.3).

A biotita (Bt) não foi analisada na microssonda. Seus cristais apresentam


pleocroísmo variando de bege esbranquiçado a vermelho amarelado ou castanho
avermelhado. As cores de interferência variam do rosa, ao verde e ao amarelo. Ela é
prismática com extinção na direção de clivagem. Possui grãos subidioblásticos com
faces retas, principalmente na direção de clivagem. Em geral, os contatos são retos
com os outros minerais, e serrilhados e curvos com os piroxênios, sobretudo nas suas
extremidades (Prancha 4.3 C e D). Nesta lâmina não ocorrem cristais da Bt2, de forma
que os diferentes contatos estão restritos às suas extremidades.

A hornblenda também não foi analisado na microssonda. Ela aparece com cor
bege a levemente esverdeada e cor de interferência azul clara. Seus contatos são
curvos com o espinélio, piroxênios e minerais opacos, e retos com as faces laterais da
Bt. Apresenta clivagem oblíqua de 124°/56° e com cristais subidioblásticos, às vezes
contendo inclusões de espinélio (Spl). Como essas inclusões têm forma redonda, ela

46
sugere que o anfibólio pode ter se formado pelo consumo do magnésio do espinélio
(Prancha 4.3 A e B).

Os minerais opacos são subidioblásticos a xenoblásticos, com contatos


predominantemente curvos, mas localmente retos com os piroxênios. Esses opacos
não foram analisados na microssonda.

Figura 4.1 – Diagrama de Morimoto (1988) da classificação dos piroxênios.

Tabela 4.3 – Análises químicas dos minerais da lâmina M-32, expressa em porcentagens dos
elementos. Os valores de óxidos totais do Cpx e do Spl indicam que as análises não são
totalmente confiáveis. Fonte: (1) Deer, Howie, Zussman (1962).

Opx Cpx Spl Spl


Mineral
Bronzita Diopsídio (1) Espinélio
SiO2 53.95 52.82 0.56 0.09
Al2O3 3.86 2.39 57.99 61.68
CaO 0.60 23.83 0.33 0.00
MgO 29.53 15.96 14.08 16.57
MnO 0.21 0.12 0.68 0.14
FeO 10.69 2.93 8.07 16.33
TiO2 0.10 0.20 0 0.01
Na2O 0 0.23 0 0.01
K2O 0.01 0 0 0.00
Cr2O3 0.09 0.08 0 3.88
Cl 0 0 0 0
Oh 0 0 0 0
Total 99.04 98.56 100.28 98.71
47
Prancha 4.3 - Lâmina M-32, mostrando a associação mineral da amostra. (A e B) relação do Amp
com o Spl e o Cpx. (C e D) contatos da Bt com os outros minerais. (E e F) ocorrência de Px e sua
variedade de cores de interferência.

48
5 CAPÍTULO 5 - MINERALOGIA DO PROTOMINÉRIO

Como ilustrado na Figura 3.4, as amostras que compõem o protominério são


denominadas de M-23 e M-24, no primeiro nível manganesífero (Nível Superior), e M-
27, M-28, M-29 e M-31, no segundo nível (Nível Inferior).

As análises de química mineral serão tratadas de forma individualizada nas


lâminas, visto que em cada uma delas minerais diferentes foram analisados. Os dados
microquímicos dos minerais foram comparados com classificações encontradas na
bibliografia, sobretudo nas publicações de Deer, Howie e Zussman (1962, 1978), Dana
(1892) e Palache, Berman e Frondel (1944) permitindo dar nomes aos minerais
analisados, uma vez que os diagramas de classificação não podem ser aplicados
devido aos altos teores de manganês dos minerais.

O estudo dos piroxênios mereceu uma atenção maior, por se tratarem de minerais
com altos teores de manganês, que são raros e difíceis de serem comparados com
àqueles encontrados na bibliografia classificatória dos minerais. Deer, Howie e

49
Zussman (1978) listam, por exemplo, somente os principais piroxênios de manganês,
ou seja: a rodonita, a piroxmangita e a bustamita. Uma análise da geologia da área
sugere uma maior tendência de ocorrer a rodonita e a piroxmangita, por estarem
associadas a ambientes metamórficos, enquanto que a bustamita tem uma maior
tendência de ocorrer em ambientes metassomáticos do tipo ―Skarn‖.

5.1 Estudo Petrográfico e de Química Mineral da Amostra M-23

Fazendo parte do nível superior, antes referido, a amostra M-23 apresenta duas
tramas metamórficas distintas, facilmente visualizadas na própria lâmina, sem utilizar o
microscópio petrográfico (Figura 5.1).

As duas faixas mostradas na Figura 5.1 é uma evidência de que se trata do


contato entre duas rochas diferentes, visto que as características petrográficas como
granulometria, mineralogia e textura são distintas. Esse contato é facilmente observado,
sendo brusco e com alguns finos minerais opacos nas suas proximidades.

Figura 5.1 - Fotografia da lâmina delgada M-23, exibindo duas faixas de ocorrência dos minerais,
separando-a ao meio (faixa esquerda e direita).

Na faixa à esquerda, sob a luz do microscópio petrográfico, notou-se que os


cristais são bem desenvolvidos, granulares e com tamanhos variando de 0,1 a 1,0 mm.
Observam-se as texturas granoblástica granular e decussada, lepidoblástica e
inequigranular. Os minerais são xenoblásticos a subidioblásticos, com contatos
predominantemente curvos, com exceção dos minerais que fazem contato com as

50
bordas longitudinais das biotitas, que exibem contatos retos. A paragênese mineral
inclui Bt, Grt, Pl e Cpx. O plagioclásio (Pl) está com geminação albita. A biotita (Bt)
possui pleocroísmo variando de bege claro a vermelho acastanhado e cores de
interferência rosa, verde e amarelo claros. Existem dois tipos de biotita: a primeira com
as laterais bem formadas, contatos retos com os outros minerais (Bt1) e a segunda,
mais abundante, com forma xenoblástica (Bt2). Isso sugere duas etapas de formação
dessas biotitas: a primeira durante o metamorfismo progressivo e a segunda durante os
processos de retrometamorfismo. O clinopiroxênio (Cpx) também tem variadas cores de
interferência, podendo estar com tons azuis, amarelo-violetas e amarelas. Apesar da
presença de granada nesta parte da lâmina, ela ocorre em menor quantidade do que na
faixa direita da lâmina, como será visto a seguir (Prancha 5.1).

Prancha 5.1 – Lâmina M-23 (faixa esquerda) sob o microscópio petrográfico, mostrando textura e
forma dos cristais. (A e C) sob luz plana e (B e D) em nicóis cruzados. Além das granadas e
piroxênios, observa-se os dois tipos de ocorrência das biotitas: uma com forma subidioblástica
(Bt1) e outra com cristais xenoblásticos (Bt2).

51
Na faixa direita, as biotitas são inexistentes e a paragênese mineral inclui
piroxênios, ortoclásio e granada. As granadas e piroxênios ocorrem como simplectitos
indicando que eles são contemporâneos e devem ter sido formados durante o
metamorfismo progressivo. Há uma predominância desses simplectitos nessa porção
da lâmina e por vezes o ortoclásio também é envolvido. O piroxênio é de difícil
identificação devido a possuir pequenos tamanhos e estar interdigitado com os cristais
de Grt. Assim, não se consegue visualizar no microscópio sua clivagem e separá-los
como clinopiroxênio ou ortopiroxênio, uma vez que suas cores de interferência são
bastante variadas e não são confiáveis para utilizá-las como parâmetro de classificação
(Prancha 5.2).

Na lâmina M-23 foram realizadas quatro análises de química mineral: uma visando
classificar o piroxênio, outras duas para classificar a granada e uma última para
classificação do plagioclásio (Tabela 5.1).

No caso do piroxênio, excluindo o teor de MnO da análise e utilizando apenas os


valores de SiO2, MgO e CaO, isso permitiria classificá-lo erroneamente como uma
onfacita, um clinopiroxênio com tendência alcalina. Entretanto, incluindo o teor de MnO,
que é relativamente elevado, este mineral pode ser classificado como uma rodonita
[(Mn2+; Fe2+;Mg; Ca)SiO3]. Classificá-la como uma rodonita se faz devido a esta fase
mineral apresentar teores de CaO relativamente altos, diferentemente da piroxmangita
[Mn2+SiO3], outro tipo de piroxênio rico em Mn, que apresenta valores de CaO mais
baixos (Tabela 5.2).

As granadas possuem valores elevados de MnO, bem como de SiO 2 e Al2O3,


sendo facilmente identificadas e classificadas como espessartitas (Mn 3Al2Si3O12). As
estudadas são mais ricas em CaO e mais pobres em MnO quando comparadas àquelas
estudadas por Dana (1892).

O feldspato apresentou valores que permitiu classificá-lo como um ortoclásio


(KAlSi3O8), que é um feldspato situado mais para o extremo potássico no diagrama de
classificação deste grupo.

52
Prancha 5.2 – Lâmina M-23 (faixa direita) sob o microscópio petrográfico. (A e C) estão em luz
plana e (B e D) em nicóis cruzados. Essas fotos permitem observar simplectitos de Grt e piroxênio
(A e B) e o contato brusco entre as faixas esquerda e direita (C e D). Pode-se observar também a
inexistência da biotita nessa lâmina, diferentemente das anteriores, onde elas são abundantes.

Tabela 5.1 – Análises químicas dos minerais da lâmina M-23, expressa em porcentagens dos
elementos. Fontes: (1) Deer, Howie, Zussman (1978); (2) Dana (1892).

Pxm Rdn Rdn Sps Sps Sps Or Or


Mineral
(1) (2) Rodonita (2) Espessartita Espessartita (2) Ortoclásio
SiO2 45.74 45.46 48.81 35.33 37.68 37.94 65.39 65,56
Al2O3 0 0.27 2.53 21.50 21.73 21.30 18.45 18,93
CaO 0.46 2.25 16.98 1.02 5.62 4.72 0 0,05
MgO 0.68 0.55 12.56 0 1.27 0.99 0 0
MnO 52.42 50.54 13.05 41.06 31.29 34.01 0 0,03
FeO 0.39 0.96 4.23 0 4.53 2.36 0 0,03
TiO2 0 0 0.58 0 0.27 0.17 0 0
Na2O 0.2 0 0.13 0 0.01 0.05 1.08 0,78
K2O 0.2 0 0.00 0 0.00 0.00 14.76 14,94
Cr2O3 0 0 0.01 0 0.03 0.00 0 0
Cl 0 0 0.00 0 0.00 0.00 0 0
Total 100.06 100.03 98.85 99.77 102.42 101.55 100.19 100,3
53
5.2 Estudo Petrográfico e de Química Mineral da Amostra M-24

Proveniente de amostra do furo de sondagem, também retirada no nível superior


do protominério, essa lâmina petrográfica exibe textura inequigranular, granoblástica
decussada e granular e poiquiloblástica (Prancha 5.3). Os minerais que a compõem são
piroxênios (60%), granadas (30%) e opacos (10%).

Os piroxênios apresentam-se sob forma de cristais xenoblásticos a


subidioblásticos, com cotatos curvos com os minerais opacos e curvos, interlobados,
retos e até serrilhados com a granada e com os próprios piroxênios. Suas propriedades
óticas são similares às descritas para os piroxênios da amostra anterior, destacando-se
a grande variedade de cores de interferência desses minerais. A ocorrência de contatos
retos com a granada sugere uma origem metamórfica contemporânea entre os dois, no
entanto, como também ocorrem contatos interlobados, eles também podem ter servido
como fonte para a formação de alguns cristais de granada e opacos (Prancha 5.3 C e
D). Microquimicamente eles apresentam valores muito elevados de MnO e valores mais
baixos de CaO e MgO, o que sugere uma maior tendência de se tratarem de piroxênios
do tipo piroxmangita. Desta forma, percebe-se que essas piroxmangitas tem
composição química semelhante àquelas citadas por Deer, Howie e Zussman (1978)
(Tabela 5.2).

As granadas podem apresentar inclusões de piroxênios e de minerais opacos.


Aparecem sob forma de cristais xenoblásticos a subidioblásticos com contatos curvos
com os opacos (Prancha 5.3). Elas apresentam valores próximos daquelas analisadas
na amostra M-23, com teores de MnO em torno de 33%. Também com teores elevados
de SiO2 e Al2O3, isso permite classificá-las como espessartitas (Mn3Al2Si3O12), embora
ela possua CaO mais alto e MnO mais baixo que aquela utilizada para comparação
(DANA, 1892) (Tabela 5.2).

Os minerais opacos aparecem com formas variadas, sendo a arredondada a mais


comum. Podem ocorrer em contato com granadas e piroxênios, bem como formar
inclusões nos mesmo (Prancha 5.3). Um desses minerais opacos apresenta o mais
elevado teor de MnO visto até aqui (75,5%), bem como teores muito baixos dos outros

54
elementos formadores de rochas como SiO2 e Al2O3. Como a análise química deste
mineral não incluiu valores de S (enxofre), não se pode dizer com certeza que ele é um
sulfeto de Mn, mas tudo indica que ele seja do tipo alabandita (Mn2+S) visto que
apresenta valores próximos a esse tipo raro de sulfeto, segundo Palache, Berman,
Frondel (1944) (Tabela 5.2).

Ainda com relação ao provável sulfeto de manganês, a ausência da análise


química de enxofre se justifica a microssonda utilizada não estava calibrada para tal fim.
Entretanto, o raio x acoplado à microssonda indica fortemente a presença do enxofre,
levando a crer que esses opacos são efetivamente sulfetos de manganês. Essa
interpretação é plausível quando se leva em conta a ocorrência de grafita em algumas
amostras do protominério e da encaixante, indicando um ambiente redutor durante a
deposição dessa camada manganesífera. Sendo, portanto, compatível a presença de
enxofre.

Tabela 5.2 – Análises químicas dos minerais da lâmina M-24, expressa em porcentagens dos
elementos. Fontes: (1) Deer, Howie, Zussman (1978); (2) Dana (1892); (3) Palache, Berman, Frondel
(1944).

Pxm Pxm Pxm Sps Sps MnS MnS


Mineral
(1) Piroxmangita Piroxmangita (2) Espessartita (3) Alabandita
SiO2 45.74 49.03 32.42 35.33 37.61 0 0.07
Al2O3 0 0.00 0.00 21.50 20.78 0 0.00
CaO 0.46 4.94 0.17 1.02 4.29 0 0.00
MgO 0.68 4.96 10.21 0 1.94 0 0.01
MnO 52.42 40.28 49.61 41.06 33.82 63.03 75.49
FeO 0.39 1.91 7.31 0 1.51 0 6.82
TiO2 0 0.01 0.03 0 0.38 0 0.00
Na2O 0.2 0.05 0.00 0 0.01 0 0.07
K2O 0.2 0.04 0.00 0 0.00 0 0.01
Cr2O3 0 0.00 0.00 0 0.07 0 0.02
Cl 0 0.00 0.00 0 0.00 0 0.00
S 0 0 0 0 36.91 0
Total 100.06 101.22 99.75 99.77 100.41 99.94 82.49

55
Prancha 5.3 – Lâmina M-24, mostrando a associação mineral da amostra. (A e C) em luz plana e (B
e D) em nicóis cruzados. (A e B) contatos retos entre Grt e Px. (C e D) predominância de Px com
pequenas inclusões arredondadas de opacos e contatos retos entre Grt e Px.

5.3 Estudo Petrográfico e de Química Mineral da Amostra M-27

Como referido anteriormente, fazendo parte do denominado nível inferior do


protominério, esta lâmina apresenta textura inequigranular, granoblástica decussada e
granular. Sua mineralogia principal inclui granadas (50%), clinopiroxênios (25%),
carbonatos (18%), minerais opacos (5%) e ortoclásio (2%). As granadas e piroxênios
predominam, embora ocorra como acessórios o carbonato, possivelmente de
manganês.

A granada, que representa metade dos minerais constituintes dessa rocha, exibe
cristais predominantemente subidioblásticos com contatos curvos e retos,
principalmente com os clinopiroxênios. Com os carbonatos forma somente contatos
curvos. Possui cores rosadas (Prancha 5.4 A, B, C e D). A composição química da

56
granada apresenta valores próximos daquela da amostra M-23 e M-24, porém com
teores um pouco mais baixos de MnO (26%). Além disso, os valores de SiO2, Al2O3 e
FeO, também são menos elevados. Com isso, é possível classificá-la como espessartita
(Mn3Al2Si3O12). Em comparação com a bibliografia, a espessartita estudada nessa
amostra exibe uma quantidade de CaO maior e menor MnO (Tabela 5.3).

Os clinopiroxênios, identificados pela extinção oblíqua à clivagem, são incolores a


levemente rosados, com cores de interferência variando do azul, ao rosa e ao cinza.
Por vezes apresentam elevado grau de alteração, destacado por cores amarelas em luz
polarizada. Isso deve-se provavelmente a processos de alteração retrometamórfica
(Prancha 5.4 C, E e F). O piroxênio desta amostra analisado na microssonda, apresenta
valores baixos de CaO e, apesar do MgO ser mais elevado, foi classificado como do
tipo piroxmangita (Mn2+SiO3), semelhantemente ao da amostra M-24. Isso também é
corroborado pelo elevado teor de MnO no mineral. Em comparação com a piroxmangita
de Deer, Howie e Zussman (1978), a piroxmangita da área estudada possui maiores
teores de SiO2 e CaO. Entretanto, exibe teores muito menores MnO e muito maiores
FeO (Tabela 5.3).

Em uma parte restrita dessa lâmina, ocorre uma zona com carbonatos. O contato
desta zona de carbonatação é bem marcado em relação à porção onde ocorrem as
granadas e os clinopiroxênios. Os minerais de carbonato são de cor rosa com os
cristais de pequeno tamanho em relação aos outros. Enquanto que os tamanhos dos
minerais mais importantes da rocha variam de 0,3 a 0,8 mm, os minerais de carbonato
atingem no máximo 0,3 mm. Além da diferença de tamanho dos cristais, outra
característica importante é a ausência de cristais de clinopiroxênio nesta zona de
carbonatação. Também a granada, quando ocorre, é de tamanho reduzido (Prancha 5.4
C, D, E e F). O resultado da análise química desses carbonatos, em função do
elevadíssimo teor de MnO, leva a crer que se trate de rodocrosita (Mn2+CO3). Embora
não tenha sido analisado o CO2, como foi feito na amostra mineral de Deer, Howie e
Zussman (1962) na Tabela 5.3, o valor relativamente alto de CaO confirma a existência
de rodocrosita na mineralogia desse protominério.

57
As características dessa zona de carbonatação, com cristais de tamanho reduzido
e formando uma faixa, sugerem que se trate de uma zona de alteração hidrotermal
retrometamórfica. Pode ter sido fluidos ricos em CO2 que, no retrometamorfismo,
percolaram essa parte da rocha alterando os minerais e formando os carbonatos de
Mn, do tipo rodocrosita.

A presença de grafita em algumas amostras do protominério e da encaixante


indica que essas rochas se formaram num ambiente redutor (RIBEIRO, 1982;
TONIATTI e BARBOSA, 1973; VALARELLI, 1982). Essa grafita pode ter servido como
fonte de carbono para a carbonatação dos fluídos hidrotermais e que durante o
retrometamorfismo ajudou a formar as rodocrositas. Outra possibilidade é a presença
primária de carbonato no sedimento manganesífero, gerando a rodocrosita durante o
metamorfismo progressivo.

O feldspato é de difícil identificação, visto que se encontra associado às zonas de


alteração que formaram a rodocrosita. Com isso seus cristais são menores e se
confundem com essa última. No entanto, foi realizada a química mineral em um desses
feldspatos, o que permitiu identificá-lo como um feldspato potássico (ortoclásio).

A análise do mineral opaco apresenta teor de MnO nulo e alto teor de FeO.
Embora a análise não seja considerada boa (total de 62,77%), o alto teor de FeO
(62,55%) indica que esse opaco deve ser uma magnetita (Fe3O4) (Tabela 5.3).

Tabela 5.3 – Análises químicas dos minerais da lâmina M-27, expressa em porcentagens dos
elementos. Fontes: (1) Dana (1892); (2) Deer, Howie, Zussman (1978); (3) Deer, Howie, Zussman
(1962).
Sps Sps Pxm Pxm Rds Rds Mt Mt Or Or
Mineral
(1) Espessartita (2) Piroxmangita (3) Rodocrosita (3) Magnetita (1) Ortoclasio
SiO2 35.33 37.59 45.74 51.43 0 1.60 0.11 0.09 65.39 61.29
Al2O3 21.50 20.25 0 0.33 0 0.00 0.44 0.00 18.45 19.2
CaO 1.02 4.31 0.46 3.31 0 6.29 0 0.00 0 0
MgO 0 2.08 0.68 14.25 0 1.04 0 0.00 0 0,00
MnO 41.06 25.61 52.42 14.86 61.71 88.67 0 0.00 0 0.03
FeO 0 9.54 0.39 13.90 0 0.77 98.37 62.65 0 0.03
TiO2 0 0.36 0 0.05 0 0.00 0.29 0.02 0 0.06
Na2O 0 0.02 0.2 0.06 0 0.02 0 0.00 1.08 0.78
K2O 0 0.00 0.2 0.01 0 0.00 0 0.00 14.76 13.37
Cr2O3 0 0.11 0 0.02 0 0.04 0.08 0.01 0 0.01
CO2 0 0 0 0 38.29 0 0 0 0 0
Total 99.77 99.87 100.06 98.22 100.00 98.43 99.40 62.77 100.19 94.8

58
Prancha 5.4 – Lâmina M-27, mostrando a mineralogia do protominério. (A e B) predominância de
granada e clinopiroxênio. (C e D) zona de contato entre a porção com carbonato e a porção onde
predominam as granadas e os clinopiroxênios, além de detalhe da zona rica em carbonato. (E e F)
alteração amarelada do clinopiroxênio e da granada, indicando também que durante o
retrometamorfismo, fluidos hidrotermais predominaram, alterando a mineralogia da rocha (zona
amarelada).

59
5.4 Estudo Petrográfico e de Química Mineral da Amostra M-28

Também fazendo parte do nível inferior do protominério pesquisado, nesta lâmina


se verifica textura granoblástica granular e decussada, poiquiloblástica e inequigranular.
Sua paragênese mineral principal inclui piroxênio (33%), granada (30%), ortoclásio
(25%) e minerais opacos (12%).

A lâmina, macroscopicamente apresenta faixas com disposição textural e


mineralógica distintas (Figura 5.2).

Figura 5.2 – Lâmina e amostra de mão M-28, exibindo faixas de diferentes disposições texturais e
mineralógicas, representadas nas fotos por faixas com cores mais claras e escuras.

Em uma dessas faixas, onde ocorre minerais metamórficos ricos em MnO,


predomina uma textura granoblástica, tanto granular, quanto decussada. Nesta área os
piroxênios ocorrem como cristais xenoblásticos a subidioblásticos, que estão em
contatos curvos, por vezes retos, com as Grt e Or. Quando junto aos Opq, os contatos
são curvos. O pleocroísmo dos piroxênios varia desde cores claras, até coloridas com
tons rosa ou tendendo ao violeta (Prancha 5.5 A e C). Suas cores de interferência,
assim como nas outras lâminas, apresentam-se variadas (verde, violeta, amarelo, rosa,
laranja, azul). A extinção é principalmente oblíqua à clivagem e contínua (Prancha 5.5).
Seguindo os mesmos critérios de classificação utilizados anteriormente, as análises
deste mineral nessa lâmina apresenta valores dispares de CaO, com similaridade nos
valores de MgO. Nota-se que nos dois piroxênios analisados, quando o teor de CaO é
60
baixo, aumenta o de MnO. Com isso, interpreta-se que o cristal de menor teor de CaO é
uma piroxmangita, enquanto que a de maior teor desse elemento considera-se uma
rodonita (Tabela 5.4).

Nessa amostra a granada apresenta-se sob a forma de cristais xenoblásticos a


subidioblásticos com contatos curvos e retos com o piroxênio e o ortoclásio. Possui alto
relevo e cor bege clara e sem pleocroísmo. As granadas desta lâmina também
apresentam valores elevados de MnO. No entanto, são valores mais baixos do que os
vistos anteriormente, passando de uma média de 30% para 22%. Em função disso,
nessa granada houve um aumento nos teores de FeO, que passou de 2% nas
anteriores, para 10%. Por sua vez, com relação aos outros elementos, eles são
semelhantes tanto nas outras granadas como nessa. Isso demonstra que na granada,
durante a substituição iônica para sua formação, houve entrada substancial de FeO na
sua estrutura cristalina, embora, em função do elevado teor de MnO (21 e 26%), ela
possa ainda ser classificada como espessartita. Torna-se interessante também
comparar as análises químicas dessas espessartitas com aquela contida (Tabela 5.4).

O ortoclásio (Or) ocorre como cristais subidioblásticos a levemente xenoblásticos,


com contatos pouco curvos e retos com outros feldspatos. Não estão geminados e
possuem extinção ondulante. A diferença das faixas supracitadas (Figura 5.2) com as
outras é bem visível em função do aparecimento deste feldspato, aumento da
granulometria e ausência dos simplectitos de granada e piroxênio (Prancha 5.5). As
análises químicas realizadas nesses plagioclásios permitiram identificá-lo como
feldspato potássico (ortoclásio).

Como referido antes, nesta amostra ocorrem simplectitos de granada e piroxênio


que podem, localmente, estar orientados. Onde ocorrem estes simplectitos há pouco ou
nenhum Or. As propriedades óticas dos minúsculos minerais desses simplectitos são
semelhantes às descritas anteriormente, excetuando sua forma, visto que os outros
ocorrem sob forma de cristais xenoblásticos (Prancha 5.5).

61
Prancha 5.5 – Lâmina M-28 mostrando a mineralogia do protominério. (A e B) mineralogia da faixa
central da Figura 5.2. (C e D) zona de contato entre o campo dos simplectitos de Opx e Grt (parte
inferior esquerda da foto) e a zona com Pl. (E e F) demonstram com mais detalhe a ocorrência dos
simplectitos, sendo possível observar a ausência de Pl neste campo.

62
Tabela 5.4 – Análises químicas dos minerais da lâmina M-28, expressa em porcentagens dos
elementos. Fontes: (1) Dana (1892); (2) Deer, Howie, Zussman (1978).

Rdn Rdn Pxm Pxm Sps Sps Sps Sps Or Or


Mineral
(1) Rodonita (2) Piroxmangita (1) Espessartita Espessartita Espessartita (1) Ortoclásio
SiO2 45.46 52.39 45.74 51.79 35.33 38.07 38.40 37.80 65.39 64.34
Al2O3 0.27 1.48 0 0.07 21.50 20.56 21.12 20.57 18.45 19.18
CaO 2.25 18.55 0.46 3.79 1.02 6.02 6.57 3.73 0 0.11
MgO 0.55 13.43 0.68 14.63 0 2.93 4.49 2.55 0 0
MnO 50.54 5.55 52.42 18.23 41.06 21.23 17.63 26.94 0 0.01
FeO 0.96 6.77 0.39 10.86 0 10.64 11.48 7.86 0 0.01
TiO2 0 0.27 0 0.03 0 0.39 0.28 0.35 0 0.05
Na2O 0 0.50 0.2 0.07 0 0.03 0.00 0.07 1.08 1.17
K2O 0 0.00 0.2 0.00 0 0.00 0.00 0.04 14.76 13.07
Cr2O3 0 0.00 0 0.00 0 0.01 0.01 0.04 0 0.02
Cl 0 0.00 0 0.00 0 0.00 0.00 0.00 0 0
Total 100.03 98.94 100.06 99.47 99.77 99.88 99.98 99.95 100.19 98

5.5 Estudo Petrográfico e de Química Mineral da Amostra M-29

Os minerais que compõem essa lâmina exibem textura granoblástica granular e


decussada e inequigranular. Sua paragênese mineral inclui piroxênios (40%), granadas
(30%), rodocrositas (20%) e opacos (10%).

O piroxênio ocorre sob forma de grãos xenoblásticos a subidioblásticos com


contatos curvos com a granada e com os minerais opacos. Com as rodocrositas os
contatos são serrilhados a interlobados. Possuem pleocroísmo variando do incolor ao
rosa e com cores de interferência variadas (azul, rosa, verde, amarelo), além da
extinção oblíqua à clivagem, classificando-o prematuramente como um clinopiroxênio
(Prancha 5.6 A e B). Os valores de análise química desses piroxênios são muito
semelhantes às piroxmangitas de Deer, Howie, Zussman (1978). Assim, é possível
denominar os piroxênios desta lâmina como piroxmangitas, sobretudo devido aos altos
teores de MnO (28,33%) e relativamente baixos teores de CaO, o que também se torna
um parâmetro para classificá-lo como uma piroxmangita (Tabela 5.5).

As granadas ocorrem sem pleocroísmo, com alto relevo e com cor tendendo ao
bege claro. Aparecem sob a forma de cristais subidioblásticos a xenoblásticos sempre
com contatos curvos e retos com os piroxênios. Com os minerais opacos exibem
contatos curvos. Às vezes elas também ocorrem associadas com as rodocrositas, de
63
forma que se supõe, adicionalmente, que podem ter tido influência na formação das
rodocrositas durante os processos metamórficos. Evidência disto é a trama
representada nas fotos C e D da Prancha 5.6, onde ocorrem faixas de rodocrosita
invadindo de forma dendrítica alguns cristais de granada. Essa granada não foi
analisada microquimicamente, mas tudo indica que ela seja classificada como
espessartita, semelhantemente às outras amostras do protominério de manganês.

Com relação às rodocrositas, em geral elas estão associadas com a piroxmangita


e a espessartita. Esta associação, juntamente com a variedade de cores de
interferência do piroxênio, dificulta a identificação destes carbonatos de manganês, uma
vez que seus cristais são pequenos, confundindo com o piroxênio (Prancha 5.6 C e D).

A rodocrosita (Rds) possui cor acinzentada, porém alguns cristais exibem cor de
interferência acentuada. As análises de química mineral confirmam a larga ocorrência
desse mineral na presente lâmina. Possui extinção ondulante e seus contatos são
curvos a interlobados ou serrilhados. Podem também serem vistas englobando cristais
de minerais opacos (Prancha 5.6). As análises das rodocrositas apresentam teores de
MnO mais baixos do que àquelas encontradas na amostra M-27, embora elas sejam
compatíveis com as rodocrositas encontradas em Deer, Howie, Zussman (1962). Vale
destacar os teores elevados de MgO nessas rodocrositas (Tabela 5.5).

Tabela 5.5 – Análises químicas dos minerais da lâmina M-29, expressa em porcentagens dos
elementos. Fontes: (1) Deer, Howie, Zussman (1978); (2) Deer, Howie, Zussman (1962).

Pxm Pxm Rds Rds Rds Rds


Mineral
(2) Piroxmangita (3) Rodocrositas Rodocrosita Rodocrosita
SiO2 45.74 52.98 0 0.17 0.06 0.09
Al2O3 0 0.01 0 0.02 0.00 0.00
CaO 0.46 0.92 0 14.27 11.69 18.82
MgO 0.68 16.53 0 17.61 18.35 16.42
MnO 52.42 28.33 61.71 64.26 65.65 63.13
FeO 0.39 3.62 0 3.37 3.63 3.06
TiO2 0 0.02 0 0.00 0.02 0.00
Na2O 0.2 0.03 0 0.00 0.02 0.00
K2O 0.2 0.01 0 0.00 0.00 0.00
Cr2O3 0 0.00 0 0.04 0.04 0.03
CO2 0 0 38.29 0 0 0
Total 100.06 102.45 100.00 99.74 99.46 101.55

64
Os minerais opacos completam a mineralogia da lâmina e são compostos por
grãos xenoblásticos, com contatos curvos com o piroxênio, a granada e a rodocrosita.

Prancha 5.6 – Lâmina M-29 mostrando a mineralogia do protominério. (A e B) exibem a


granulometria e forma dos cristais de Opx e Grt com processo incipiente de alteração
supergênica. (C e D) mostram um estágio mais avançado de formação da rodocrosita e sua
relação com os cristais de Opx e Grt, por vezes invadindo-os com contatos serrilhados.

5.6 Estudo Petrográfico e de Química Mineral da Amostra M-31

Os minerais presentes na lâmina da amostra M-31, do furo de sondagem na mina


Valha-me Deus Norte, exibem textura inequigranular e granoblástica granular e
decussada. Sua composição mineralógica inclui granada (73%), piroxênios (25%) e
opacos (2%).

A granada compõe grande parte da rocha, se apresentando como cristais


xenoblásticos bastante fraturados e não orientados. Seus contatos são retos a
interlobados com os piroxênios e minerais opacos (Prancha 5.7 C e D). Essa granada

65
quando analisada verifica-se que é um pouco diferente das encontradas nas lâminas
anteriores. Com efeito, ela possui valores mais baixos de MnO, e valores mais elevados
de FeO, sugerindo tratar-se de uma fase intermediária entre a espessartita e a
almandina [Fe3Al2(SiO4)3]. Possuem mais altos teores de CaO quando comparadas com
as espessartitas de Dana (1892) (Tabela 5.6).

O piroxênio ocorre sob a forma de cristais xenoblásticos, com pleocroísmo


variando de bege claro a róseo. Exibe contatos curvos com a granada e com os
minerais opacos. Suas cores de interferência são variadas, incluindo a amarela, verde,
rosa, azul e até mesmo cinza. Em alguns locais estes minerais encontram-se num
estágio avançado de alteração (Prancha 5.7 A e B). As análises microquímicas desses
piroxênios permitem classificá-lo, com ressalvas, como rodonita. Essa ressalva se
explica porque é um piroxênio onde o teor de MnO se apresenta muito baixo (<5%),
entretanto é coerente classificá-lo como rodonita, já que ela faz parte do protominério
em foco, tanto nessa lâmina, como nas outras estudadas (Tabela 5.6).

Os opacos ocorrem como pequenos cristais, por vezes com cores avermelhadas,
em contatos curvos com o piroxênio e a granada.

Tabela 5.6 – Análises químicas dos minerais da lâmina M-31, expressa em porcentagens dos
elementos. Fontes: (1) Dana (1892).

Rdn Rdn Sps Sps


Mineral
(1) Rodonita (1) Espessartita
SiO2 45.46 52.75 35.33 38.77
Al2O3 0.27 1.86 21.50 21.77
CaO 2.25 19.44 1.02 5.88
MgO 0.55 13.59 0 4.05
MnO 50.54 4.54 41.06 17.82
FeO 0.96 8.01 0 13.90
TiO2 0 0.32 0 0.26
Na2O 0 0.54 0 0.01
K2O 0 0.01 0 0.00
Cr2O3 0 0.02 0 0.00
Cl 0 0.00 0 0.00
Total 100.03 101.08 99.77 102.46

66
Prancha 5.7 – Lâmina M-31, mostrando a mineralogia do protominério. (A e B) exibem cristais de
ortopiroxênios em avançado estágio de alteração e cristais de granada. (C e D) mostram cristais
de granada e suas relações de contato com o ortopiroxênio. Nessa lâmina pode-se ainda observar
um mineral de cor avermelhada com contatos retos a levemente curvos com a granada e o
ortopiroxênio. Esse mineral não foi analisado na microssonda.

67
6 CAPÍTULO 6 – DISCUSSÕES E CONCLUSÕES

Durante anos, sempre houve curiosidade dos geólogos e pesquisadores que


estudaram os granulitos do sul da Bahia, em saber qual o tipo de rocha que ao sofrer
processos supergênicos produziu, na zona do intemperismo, minério oxidado e
explotável de manganês. Esse minério que se distribui no sul da Bahia, atualmente
constituindo, na maioria, antigas minas exauridas, são formados de pirolusita,
psilomelana, litioforita e outros óxidos de manganês. Esses óxidos permitiam, às vezes,
nas suas porções in situ, que se identificasse grafita e granada (RIBEIRO, 1982;
TONIATTI e BARBOSA, 1973; VALARELLI, 1982), essa última bem alterada, não
deixando identificar com confiabilidade o seu tipo. Foi assim até ser realizado na mina
de Valha-me Deus Norte, no município de Maraú, um furo de sondagem, abaixo do solo
intemperizado e que atingiu os granulitos e o protominério de manganês da região.
Essa Dissertação descreve esse protominério e seus granulitos encaixantes.

68
Quanto às rochas encaixantes, as amostras recuperadas na sondagem
demostraram ser granulitos básicos, tendo como minerais principais, labradorita e/ou
andesina, hiperstênio, augita, biotita e anfibólios do tipo tschermaquita e
ferrohornblenda, esses últimos podendo ser metamórficos primários ou retrógrados.
Opacos do tipo magnetita ou ilmenita são onipresentes, além de pequena quantidade
de quartzo. Granada e espinélio também podem aparecer esporadicamente.

Quanto ao protominério, ocorrem dois níveis relativamente espessos, com


espessura métrica, separados por granulitos encaixantes (Figura 3.4). A partir dos
dados petrográficos e microquímicos, fica evidente que há uma diferença nos teores de
MnO nos minerais manganesíferos dos dois níveis do protominério: no nível superior,
os minerais exibem teores de manganês menos elevados (piroxênios e espesartitas),
enquanto que no nível inferior eles apresentam-se mais ricos em MnO, sobretudo
devido à presença de rodocrositas.

As análises microquímicas dos feldspatos permitiram identificar labradorita e


andesina como os plagioclásios componentes das rochas encaixantes, enquanto que
nas rochas do protominério eles são feldspatos potássicos (ortoclásio). Em ambas as
situações, seus cristais se mostram formando uma textura granoblástica poligonal,
estando em equilíbrio com as piroxmangitas, rodonitas e espessartitas. Indicando o
equilíbrio nas condições termodinâmicas de cristalização durante o metamorfismo.

A textura poiquiloblástica pode indicar a formação de um mineral a partir de outro.


Sua classificação como poiquiloblástica em peneira determina que esta modificação
metamórfica não se deu sob ação de pressão dirigida. Desta forma, a presença de
inclusões de piroxênio, opaco e anfibólio nas granadas indicam que estes minerais
serviram como fontes de elementos químicos na formação deste mineral, durante o
metamorfismo progressivo. Outro indicativo de que as granadas são formadas a partir
de piroxênios, opacos e anfibólios é a forte associação delas com estes minerais,
comumente ocupando suas bordas, formando coroas de reação. A principal reação
para a formação dessas coroas de reação seria: Grt + Qtz = Opx + Pl (MACEDO,
2006).

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Além dos minerais antes citados, os anfibólios também confirmam que essas
rochas passaram por processos metamórficos de alto grau, principalmente se tratando
da tschermarquita. Esporadicamente encontra-se esse anfibólio com forma
arredondada, nas proximidades das piroxmangitas e rodonitas, indicando a presença da
reação: Hbl + Qtz = Grt + Opx + Cpx + Pl + H2O (SPEAR, 1993), ou seja, cristais de
anfibólios se transformando em piroxênios (Prancha 4.3 A e B). Uma reação deste tipo
permite a interpretação de que os piroxênios foram produzidos durante o metamorfismo
progressivo, com o aumento da pressão e temperatura, utilizando a hornblenda e o
quartzo como fonte de elementos para a sua formação, juntamente com granadas
manganesíferas.

As espessartitas são minerais formados em temperaturas variando entre 410 e


900ºC e pressões intermediárias a altas, se estabilizando desde 0,5 até mais de 3 Kbar.
Vale destacar que granadas manganesíferas do tipo espessartita não são a forma mais
comum de ocorrência e, quando ocorrem, costumam estar associadas a rochas ricas
em manganês, em ambientes metassomáticos, decorrente de intrusões ígneas ou a um
metamorfismo regional de grande extensão (DEER, HOWIE, ZUSSMAN, 1996), como é
o presente caso.

As rodocrositas são minerais que se formam a cerca de 610 a 635ºC, podendo


estar associadas a ambientes metassomáticos ou metamórficos de médio a alto grau.
Elas são produto de processos de formação semelhantes àqueles da siderita,
possivelmente compondo uma solução sólida onde o MnO substituiu o FeO (DEER,
HOWIE, ZUSSMAN, 1996). Como sugerido pela petrografia, as rodocrositas podem ter
sido formadas a partir da alteração hidrotermal retrógrada, principalmente das
espessartitas ricas em Mn, através da reação Sps + Qz + CO2 + H2O = Rds + pirofilita
(SCHREVER, BERNHARDT, MEDENBACH, 1992). Essa interpretação não é
totalmente aplicável na área devido a não identificação da pirofilita nas amostras
analisadas. Por sua vez, essa reação indica a presença de hidrotermalismo durante o
retrometamorfismo, quando as rochas granulíticas se elevaram tectonicamente para
níveis crustais da facies anfibolito. A continuação da tectônica, em conjunto com a

70
erosão, trouxe esse protominério retrogradado para zonas mais superficiais, onde foi
possível sofrer os processos supergênicos e transformá-lo em óxidos de manganês.

As espessartitas e rodocrositas serviram como fonte de MnO nos processos


supergênicos que formaram o minério. Tanto aquele denominado in situ, como aqueles
tombados e rolados (Figuras 3.2 e 3.3). Essas duas últimas formas de ocorrência
apresentam os minérios com maiores teores de óxidos de manganês nas suas
composições químicas, visto que outros elementos foram dispersos durante a lixiviação.

Além das espessartitas e rodocrositas, as rodonitas e piroxmangitas também


foram responsáveis pela geração dos depósitos supergênicos, uma vez que para a
formação destes depósitos, que apresentam Mn2+ em sua composição, é necessário
situar-se na faixa de potencial iônico que o torna insolúvel nas condições de
intemperismo, não sofrendo a lixiviação. Considera-se este o principal mecanismo de
formação dos depósitos supergênicos.

Os simplectitos de granada e piroxênio, vistos nas amostras M-23 e M-28 indicam


que estes minerais foram contemporâneos e devem ter sido formados durante o
metamorfismo progressivo sob condições de pressões médias. Visto que esse tipo de
ocorrência é comum em rochas que sofreram rápida descompressão, durante o
soerguimento.

As formas dos cristais de biotita evidenciam a existência de duas fases de


formação deste mineral: os cristais bem formados (Bt1), com contatos retos na direção
da clivagem, estão em equilíbrio com os piroxênios manganesíferos. Por sua vez, os
cristais que são totalmente xenoblásticos (Bt2), com contatos curvos, se formaram
ocupando o pouco espaço disponível, sem possuir a forma prismática característica.
Considera-se que as biotitas Bt1 se cristalizaram durante o metamorfismo progressivo,
juntamente com a granada e o piroxênio, enquanto que as Bt2 se cristalizaram
posteriormente, no retrometamorfismo, onde a temperatura e a pressão metamórfica
estavam sendo reduzidas: os minerais de alta temperatura estavam formados, indo a
mesma ocupar os interstícios vazios entre os minerais de mais alta temperatura. Isso
pode ser corroborado pelas texturas metamórficas, visto que a Bt2, gerada no
retrometamorfismo, ocupa as bordas de minerais ferromagnesianos e opacos.
71
A ocorrência de allabandita em rochas do protominério de manganês da mina de
Valha-me Deus Norte é justificada pela característica redutora do ambiente,
evidenciada pela presença de grafita nas rochas encaixantes e do protominério e nos
afloramentos do minério supergênico (RIBEIRO, 1982; TONIATTI e BARBOSA, 1973;
VALARELLI, 1982).

Com isso, as observações realizadas neste trabalho permitiram a classificação da


mineralogia que compõe as rochas do protominério de manganês da mina de Valha-me
Deus Norte, município de Maraú, permitindo através das condições de formação dos
minerais que compõem essas rochas interpretar seu ambiente de formação, indicando
que se tratem de rochas formadas num ambiente de metamorfismo regional com parte
da sua paragênese sendo formada no metamorfismo progressivo, como piroxênios,
granada, biotita, plagioclásio e anfibólio, e parte sendo produto do retrometamorfismo
biotita, clinopiroxênios, espinélio e minerais opacos, além da rodocrosita associada
possivelmente a eventos retrógrados e hidrotermais.

Em função do pequeno número de amostras obtidas desses granulitos


manganesíferos no furo de sondagem, não foi possível realizar estudos mais
específicos desse protominério, os quais possibilitariam interpretar com mais segurança
a origem do manganês. Entretanto, deve ser colocado que o furo de sondagem
realizado na mina Valha-me Deus Norte, no Distrito Manganesífero do Sul da Bahia,
permitiu verificar que, associado com os granulitos básicos descritos, considerados
arqueanos e do tipo MORB, ocorrem granulitos paraderivados constituidos de quartzitos
(cherts metamorfisados), rochas calcio-silicáticas, kinzigitos e grafititos (BARBOSA et
al., 2013). O protominério de manganês em foco faz parte desse pacote de granulitos
paraderivados mapeados como ―granulitos supracrustais do Complexo Almandina‖. Do
furo de sondagem foi possivel obter somente amostras de partes desse protominério,
que se destacam pela sua cor rosada, devido à presença de rodonita e de rodocrosita.

De qualquer forma, os estudos realizados permitiram especular sobre o ambiente


de deposição desse protominério, que é formado por minerais manganesíferos de alto
grau metamórfico (piroxmangitas, rodonitas, espessartitas), ao lado de plagioclásios,
feldspatos potássicos e quartzo. Provavelmente trata-se de pelitos ricos em manganês

72
depositados em ambiente redutor, em função, sobretudo da presença de grafititos e de
alabanditas. Não se trata de ambiente oxidante em função da ausência de óxidos
primários, certificada pela inexistência de jacobsita (magnetita manganesífera).

Sendo assim pode-se interpretar que a geração desse protominério se adapta


melhor com o modelo de Roy (2006) que induz que a fonte desse manganês foi
vulcanogênica, depositado no fundo do oceano sobre rochas basálticas do tipo MORB.

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