Teoria Do Monólogo Compartilhado - Julio Sampaio
Teoria Do Monólogo Compartilhado - Julio Sampaio
Teoria Do Monólogo Compartilhado - Julio Sampaio
"Diálogo não existe. Uma conversa entre duas pessoas é impossível. Você
conversa sozinho. Essa ideia de diálogo é errônea. Monólogo
Compartilhado, essa é a minha definição para uma suposta conversa entre
duas pessoas."
Significante e Significado
A quebra do Significante
Aquele tipo de conversa em que um fica concordando com outro a todo
momento, poderá ocorrer por dois motivos: por conveniência, que se
baseia na falsidade para que o sujeito consiga algo que ele queira do
outro. E também pode ocorrer em que chamo de Dissolução ou
Reconstrução do Significante, em que alguns momentos ocorrerá a
dissolução ou a reconstrução do Significante que o outro fez do
Significado, ou seja, houve uma compatibilidade de conteúdo de suas
crenças em relação ao conteúdo das mensagens recebidas do outro e
deixa livre recepção da mensagem, isso ocorre quando há uma
compatibilidade muito grande em certos tipos de ideias, podendo ser
construído nesse momento, uma verdadeira amizade, onde se cria e se
conquista uma confiança. Isso nos leva a pensar que uma amizade não é
aceitação da ideia do outro, no fundo, uma amizade é quando o outro é
compatível com seus pensamentos e crenças, no geral, vemos que tudo
partirá e dependerá do sujeito, nada o outro tem participação ou
influência na decisão e na criação do Significante do Significado. Um
exemplo bem clássico de como essa Dissolução ou Reconstrução do
Significante ocorre; quando um sujeito fala mal de um terceiro onde o
outro também não se simpatiza com o terceiro. Essa é a clássica forma de
Dissolução ou Reconstrução do Significante que o sujeito fez ou fará do
Significado, que é o outro.
A criação do Eu
Segundo a psicanálise, a criação do Eu se dá em primeira instância, a partir
do outro, iniciando o narcisismo primário, como exemplo podemos citar o
momento em que o adulto encosta o dedo no nariz da criança e a criança
percebe que o outro também tem um nariz igual, onde ela começa a
reparar a semelhança do outro para com ela e começa a criar a imagem de
si em sua psique, se inicia a criação do Eu. Logo depois, concluindo a
construção do Eu, temos os 3 estádios do espelho, quando o sujeito se
olha no espelho, o primeiro estádio, através da visão da sua imagem
refletida, ele não se reconhece, no segundo estádio, ele se confunde, há
uma indefinição do sujeito sobre a imagem vista, ele não sabe ao certo se
é ele ou não, e no terceiro estádio ele se identifica com a imagem
refletida, existe a certeza de que a imagem refletida é dele. Podemos
perceber que o outro é fundamental para o sujeito na criação e também
na manutenção do seu Eu, da sua existência.
Dependente Existencial
Quando a formação do ego é má formada, se cria no sujeito que chamo de
Dependência Existencial. O Dependente Existencial necessita do outro
para se existir, para se perceber. Em uma conversa com um Dependente
Existencial, o outro envia uma mensagem a ele e ele a recebe com a
intenção de agradar o outro, como expliquei acima onde não existe um
diálogo, ocorre da mesma forma no Dependente Existencial, só que ele
recusa sua interpretação subjetiva, não é relevante em seu julgamento
nas mensagens recebidas, somente no conteúdo das suas mensagens
enviadas ao outro que são pensadas para agradar. São pessoas conhecidas
como "sem personalidade" "sem opinião própria," diferente daquelas
pessoas que os outros consideram ter uma personalidade forte. O
Dependente Existencial depende do outro para existir e faz de tudo para
que esse laço não seja quebrado, com isso, ele concorda com tudo que é
recebido mesmo quando há uma dissonância de ideias dele para com o
outro. A criação do ego mal formado causa timidez, baixa autoestima e
até mesmo desvio de caráter. Uma conversa com um Dependente
Existencial é uma conversa onde o outro envia sua mensagem e o
Dependente Existencial busca uma saída, durante uma relação
interpessoal, para não se revelar, para não deixar claro sua fragilidade que
se baseia na sensação que ele tem de não existir, de não se colocar
perante o outro como outro, como alguém que fará com que o outro
perceba nele uma semelhança ou distinção, isso fica indefinido na mente
do Dependente Existencial, ele busca sua existência através do outro e se
coloca sempre na posição inferior, subserviente ao outro.
Resumo da analogia
A Bolinha: A bolinha representa as mensagens trocadas entre as pessoas
durante uma conversa. Essas mensagens podem ser verbalizadas ou não
verbalizadas e incluem ideias, opiniões, sentimentos e intenções que são
transmitidas de uma pessoa para outra.
A Parede: A parede representa o outro indivíduo na interação. Cada
pessoa lança a sua bolinha em direção à parede, ou seja, envia suas
mensagens para o outro. A cor da parede reflete a interpretação que o
sujeito faz das mensagens recebidas do outro.
Cor da Parede: A cor da parede pode ser branca, vermelha ou incolor.
Essas cores simbolizam como o sujeito interpreta as mensagens recebidas
do outro.
Parede Branca: Quando o sujeito interpreta as mensagens do outro de
maneira positiva e concorda com elas, ele pinta a parede de branco. Isso
representa uma interação harmoniosa, onde as mensagens são recebidas
de forma agradável e sem conflitos.
Parede Vermelha: Se o sujeito interpreta as mensagens do outro de
maneira negativa, discorda delas ou as percebe como críticas ou hostis,
ele pinta a parede de vermelho. Isso representa uma interação conflituosa
ou desagradável.
Parede Incolor: Uma parede incolor indica que o sujeito não percebe
ameaças ou conflitos nas mensagens do outro. Isso pode ser devido à falta
de discernimento do sujeito sobre as verdadeiras intenções do outro ou à
sua própria interpretação ingênua das interações.
Interpretação das Cores: A cor da parede é determinada pela
interpretação subjetiva do sujeito sobre as mensagens recebidas. Isso
significa que a mesma mensagem pode ser interpretada de maneiras
diferentes por diferentes pessoas, dependendo de suas experiências,
crenças e emoções.
Projeção e Formação Reativa: A analogia também aborda conceitos
psicológicos como projeção e formação reativa. Por exemplo, se o sujeito
pinta a parede do outro de vermelho devido a suas próprias inseguranças
ou preconceitos, isso seria um exemplo de projeção. Da mesma forma, se
o sujeito recebe uma bolinha vermelha do outro, mas pinta a parede de
branco para evitar conflitos, isso seria um exemplo de formação reativa.
Conclusão: A analogia da bolinha na parede oferece uma maneira visual e
metafórica de entender como as pessoas interpretam e respondem às
mensagens umas das outras durante as interações humanas. Ela destaca a
natureza subjetiva e fluida da comunicação interpessoal, onde as
emoções, experiências passadas e percepções individuais desempenham
um papel fundamental na forma como as mensagens são recebidas e
interpretadas
Reflexão
A teoria do Monólogo Compartilhado sugere que uma maior reflexão
pessoal pode ajudar a melhorar a qualidade das interações interpessoais.
Ao tomar consciência de nossos filtros e preconceitos, podemos tentar
reduzir seu impacto na recepção e transmissão das mensagens. A prática
do autoconhecimento e da autoanálise pode nos tornar mais receptivos e
compreensivos, minimizando o efeito do monólogo e promovendo uma
comunicação mais genuína. Em um mundo onde cada um interpreta e
filtra as mensagens através de suas próprias lentes, a autenticidade na
comunicação se torna um conceito relativo. Quando alguém tenta ser
“autêntico” em sua comunicação, na realidade está projetando sua
própria verdade, que pode não ressoar ou ser entendida da mesma forma
pelo outro. Isso reflete a natureza solitária do Monólogo Compartilhado,
onde a verdadeira compreensão mútua é rara e talvez até impossível. Se
pensarmos em comunicações de massa, como discursos políticos,
programas de televisão e redes sociais, o Monólogo Compartilhado se
manifesta de maneira amplificada. As mensagens são transmitidas a um
grande público, mas cada indivíduo as interpreta de maneira pessoal e
única. Isso explica por que uma mesma mensagem pode provocar reações
tão diversas em diferentes pessoas. As reações variam não apenas pelo
conteúdo da mensagem, mas principalmente pelo filtro individual de cada
receptor. Agora, fazendo uma análise nos tempos modernos, as
tecnologias de comunicação, como redes sociais e aplicativos de
mensagens instantâneas, intensificam o fenômeno do Monólogo
Compartilhado. As interações virtuais frequentemente carecem de
nuances presentes na comunicação face a face, como linguagem corporal
e tom de voz, o que exacerba as interpretações pessoais e os mal-
entendidos. Além disso, o algoritmo das redes sociais tende a reforçar as
crenças e preconceitos existentes, criando bolhas de eco onde o indivíduo
se comunica quase exclusivamente com versões de si mesmo.
Breve resumo
A conclusão inevitável da teoria do Monólogo Compartilhado é que o
diálogo, como é tradicionalmente entendido, é uma ilusão. Em vez de uma
troca verdadeira de ideias e sentimentos, o que ocorre é um intercâmbio
de monólogos individuais. Cada pessoa conversa consigo mesma,
utilizando o outro como um espelho para refletir suas próprias ideias,
emoções e preconceitos. Reconhecer essa realidade pode ser o primeiro
passo para melhorar a comunicação e as relações interpessoais, tornando-
nos mais conscientes dos processos internos que governam nossas
interações.