TCC INSPER EDUARDO MOREIRA DA SILVEIRA - Trabalho
TCC INSPER EDUARDO MOREIRA DA SILVEIRA - Trabalho
TCC INSPER EDUARDO MOREIRA DA SILVEIRA - Trabalho
São Paulo
2019
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Eduardo Moreira da Silveira
São Paulo
2019
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Silveira, Eduardo Moreira da.
Arbitragem no Direito Tributário /
Eduardo Moreira da Silveira. São Paulo, 2019.
40f
Monografia (Pós-graduação Lato Sensu em Direito Tributário –
LLM) – Insper, 2019.
Orientador: Régis Fernando de Ribeiro Braga
1. Tributário. 2. Arbitragem. 3. Interesse Público. 4. Legalidade. I.
Eduardo Moreira da Silveira. II. Arbitragem no Direito Tributário
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Eduardo Moreira da Silveira
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RESUMO
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ABSTRACT
The present academic paper studies about the possibility and challenges
to implement the arbitration proceeding as an alternative method to solve tax disputes.
In this sense, it shall be analyzed not only the arbitration characteristics – mainly the
benefits – but also the aspects related to the Brazilian judicial tax proceeding and
recovery tax credits procedures by the Brazilian Tax Authorities (Public Treasury), as
wall as the legal dispositions that shall be introduced to the legal system in order to
guarantee the legal security of the arbitration procedures (to solve tax disputes).
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SUMÁRIO
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1. Introdução ao tema
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No que diz respeito à sociedade como um todo, esses fatores negativos geram
um ônus/encargo que é repassado à população, seja na forma de encarecimento dos
produtos ou na imprestabilidade dos serviços públicos oferecidos pela Administração.
Justamente por isso é que o presente estudo foi proposto, para analisar as
questões relativas ao interesse público (eventual transgressão ou renúncia do
interesse público - crédito tributário – na hipótese de discutir a questão tributária por
meio da arbitragem) e quais são os desafios para a implementação da arbitragem
tributária no Brasil (seja em razão das dúvidas diretamente ligadas a qual seria a via
adequada para regulamentar esse método de resolução de conflitos, seja em razão
da dificuldade de vinculação da Fazenda Pública ao procedimento arbitral, ou ainda
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das dúvidas existentes entre os juristas acerca de eventual violação à Lei de
Responsabilidade Fiscal).
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2. Aspectos dos processos judiciais tributários e da recuperação dos créditos
tributários pela Fazenda Pública
Fonte - Relatório Contábil do Tesouro Nacional: Uma Análise dos Ativos e Passivos da União - 20171
1 Relatório Contábil do Tesouro Nacional: Uma Análise dos Ativos e Passivos da União – FAZENDA
NACIONAL. Disponível em: <
https://www.tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/318974/RCTN_2018_17_corrigido/3751bea8-
fa06-42cf-bd6c-edc4b5af73f1 >. Acesso em 18 de junho de 2019.
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Desse montante, “os saldos líquidos de créditos tributários e da Dívida Ativa
reconhecidos no balanço patrimonial da União em 2017” totalizam R$ 564 bilhões,
especialmente porque são excluídos do balanço os créditos tributários que (i) estão
com a exigibilidade suspensa, por decisão administrativa ou judicial, (ii) são
considerados de difícil recuperação, ou ainda que (iii) sofreram ajustes para perdas
(muitas vezes em razão do perdão decorrente de parcelamentos especiais).
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3. Breve panorama acerca da definição e dos principais aspectos da arbitragem
No Brasil, esse método alternativo foi introduzido por meio da Lei nº 9.307 de
1996, estabelecendo-se que “As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da
arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis”, conforme
previsto no artigo 1º.
Com efeito, tem-se que a capacidade civil das pessoas (sejam elas naturais ou
jurídicas) é condição expressa indispensável para que o conflito seja submetido à
arbitragem.
Nota-se, por oportuno, que essa previsão legal não fez qualquer distinção entre
as pessoas jurídicas de direito público ou privado, até mesmo em razão da capacidade
de os entes públicos contratarem com os particulares (entende-se que o verdadeiro
interesse do legislador era prever que aqueles que possuem capacidade para exprimir
autonomia da vontade poderão optar pela escolha do procedimento arbitral).
5DINAMARCO, Cândido Rangel. Vocabulário do processo civil. São Paulo: Malheiros Editores, 2009,
pág. 71.
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Essa Lei decorreu do Projeto de Lei nº 7.108/2014, proposto pelo Senador
Renan Calheiros em 11/02/2014, visando a renovação e a ampliação do “âmbito da
aplicação da arbitragem e dispor sobre a escolha dos árbitros quando as partes
recorrem a órgão arbitral, a interrupção da prescrição pela instituição da arbitragem,
a concessão de tutelas cautelares e de urgência nos casos de arbitragem, a carta
arbitral, a sentença arbitral e o incentivo ao estudo do instituto da arbitragem”6.
Lei nº 7.108, de 2014, ao entender pela constitucionalidade, juridicidade e boa técnica legislativa da
referida propositura, fez um excelente resumo acerca do panorama geral do cenário litigioso brasileiro
e a inclusive mencionou situações em que já seria possível a Administração Pública se valer do instituto
da arbitragem. Verifique-se, por oportuno, alguns dos principais trechos do referido parecer:
“Arbitragem na Administração Pública
Pesquisas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre os 100 maiores litigantes no Judiciário
brasileiro, divulgadas em 2011 e 2012, chegaram à constatação que o setor público federal e
os bancos representam cerca de 76% do total de processos dos 100 maiores litigantes
nacionais.
O setor bancário corresponde a mais da metade do total de processos pertencentes aos 100
maiores litigantes da Justiça Estadual (54%). O setor público (Federal, Estadual e Municipal),
bancos e telefonia representam 95% do total de processos dos 100 maiores litigantes
nacionais. Desses processos, 51% têm como parte ente do setor público, 38% empresa do
setor bancário, 6% companhias do setor de telefonia e 5% de outras empresas.
Esse resultado corrobora as recentes pesquisas realizadas sobre o excesso de litigância no
Poder Judiciário. Ambas as pesquisas (2011 e 2012) demonstram que os setores que mais
demandaram do Poder Judiciário mantiveram-se no ranking total de maiores litigantes. Quando
o PL nº 7108/2014 referenda a arbitragem na Administração Pública está contribuindo para
desafogar o Judiciário, por um lado, mas principalmente para amenizar a litigiosidade do Estado
brasileiro. Até porque, seria um contrassenso o esforço de instituições públicas e privadas para
promover meios alternativos de solução de controvérsias, como conciliação, mediação e
arbitragem, se o Estado litigante não se afastasse do Judiciário.
A Administração Pública tem utilizado a arbitragem para dirimir conflitos há mais de uma
década. São exemplos de aplicação da arbitragem na Administração Pública os seguintes
diplomas legais:
º Lei Geral de Telecomunicações (Lei 9.472, de 1997) prevê, no seu art. 93, que o contrato de
concessão indicará: (…) XV – o foro e o modo para solução extrajudicial das divergências
contratuais.
º Lei de Petróleo e Gás (Lei 9.478, de 1997) autoriza a Agência Nacional de Petróleo a
estabelecer, em seu regimento interno, os procedimentos a serem adotados para a solução de
conflitos entre agentes econômicos, e entre estes e usuários e consumidores, com ênfase na
conciliação e no arbitramento (art. 93). A Lei 9.478, de 1997, no seu art. 43, dispõe que o
contrato de concessão deverá refletir fielmente as condições do edital e da proposta vencedora
e terá como cláusulas essenciais: (…) X – as regras sobre solução de controvérsias,
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Além disso, pela leitura do transcrito artigo 1º, compreende-se que esse modelo
de resolução é na realidade facultativo, que será adotado tão somente se as partes
conflitantes optarem por utilizá-lo, afastando-se a jurisdição estatal.
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Essa opção (convenção arbitral) poderá se dar de duas formas distintas: a
primeira é pela previsão contratual de uma cláusula compromissória, a qual obrigará
as partes a se submeterem ao procedimento arbitral em eventual conflito envolvendo
o objeto da contratação (essa cláusula é estabelecida antes de um conflito, portanto);
a segunda é pela convenção de um compromisso arbitral, por meio do qual as partes,
após a ocorrência do conflito, concordam em submeter a questão para apreciação de
um juízo arbitral.
A arbitragem está regulada na Lei n. 9.307/96, cujo artigo 4º prescreve que 'a
cláusula compromissória é a convenção por meio da qual as partes em um
contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir
a surgir, relativamente a tal contrato'.
Tem-se claro, assim, à luz das prescrições contidas na Lei n. 9.307/96, que,
a partir do instante em que, no contexto de um instrumento contratual, as
partes envolvidas estipulem a cláusula compromissória, estará
definitivamente imposta como obrigatória a via extrajudicial para solução dos
litígios envolvendo o ajuste.
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O juízo arbitral, repita-se, não poderá ser afastado unilateralmente, de forma
que é vedado a qualquer uma das partes contratantes impor seu veto ao
procedimento pactuado. Em síntese, na vigência da cláusula
compromissória, permite-se que o contratante interessado na resolução do
litígio tome a iniciativa para a instauração da arbitragem, ficando o outro, uma
vez formalizado o pedido, obrigado a aceitá-la sem nenhuma possibilidade
de optar, unilateralmente, pela jurisdição estatal.
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convencionado, o prazo para a apresentação da sentença é de seis meses, contado
da instituição da arbitragem ou da substituição do árbitro”.
Esclareça-se que esse dispositivo não está excluindo a vigência dos métodos
alternativos de resolução de conflitos, mas apenas resguardando o direito coletivo
consubstanciado no interesse público.
(STF - SE-AgR: 5206 EP, Relator: SEPÚLVEDA PERTENCE, Data de Julgamento: 12/12/2001,
Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 30-04-2004 PP-00029 EMENT VOL-02149-06 PP-
00958)
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4. A indisponibilidade do interesse público
4.1. A natureza das questões tributárias
10CRETELLA NETO, José. Curso de Arbitragem: arbitragem comercial, arbitragem internacional, Lei
brasileira de arbitragem, Instituições internacionais de arbitragem. Convenções internacionais sobre
arbitragem. Rio de Janeiro: Forense, 2004. Pg. 57.
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Nesse mesmo sentido, é valido transcrever a previsão legal contida no artigo
852 da Lei 10.406/02 (Código Civil), o qual estabelece que “É vedado compromisso
para a solução de questões de estado, de direito pessoal de família e de outras que
não tenham caráter estritamente patrimonial”.
11 MELLO, Celso Antonio Bandeira de, Curso de Direito Administrativo, pgs. 69-71.
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possibilidade de a administração pública direta e indireta utilizar-se da arbitragem para
dirimir conflitos.
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5. A Lei de Responsabilidade Fiscal e a atuação do administrador público
Da mesma forma que essa legislação estabelece quais são as diretrizes que a
administração pública deverá seguir, também determina algumas das penalidades
que serão impostas aos gestores públicos na hipótese de seu descumprimento.
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Ressalta-se que não há qualquer menção no referido artigo acerca da
impossibilidade dessa arrecadação ser realizada com o auxílio do procedimento
arbitral na hipótese de o contribuinte ter optado por esse método alternativo para
resolver o conflito (e na hipotética situação de ser possível submeter à arbitragem os
conflitos tributários).
12 “Art. 14. A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra
renúncia de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro no
exercício em que deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes, atender ao disposto na lei de diretrizes
orçamentárias e a pelo menos uma das seguintes condições: (Vide Medida Provisória nº 2.159, de
2001) (Vide Lei nº 10.276, de 2001)
I - demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa de receita da lei
orçamentária, na forma do art. 12, e de que não afetará as metas de resultados fiscais previstas no
anexo próprio da lei de diretrizes orçamentárias;
II - estar acompanhada de medidas de compensação, no período mencionado no caput, por meio do
aumento de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração
ou criação de tributo ou contribuição”.
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A situação é justamente a inversa, porque em momento algum a administração
pública estará renunciando aos créditos tributários, mas apenas e tão somente
submetendo a solução do litígio fiscal a um método alternativo – a arbitragem – cujas
decisões prolatadas possuem a mesma eficácia daquelas proferidas no âmbito da
jurisdição estatal.
É justamente por isso que eventual escolha das partes pelo procedimento
arbitral para dirimir conflitos tributários (considerando que exista expressa previsão
legal permissória) não representaria a renúncia das receitas públicas por parte da
administração.
13MENDONÇA, Priscila Faricelli de. Arbitragem e transação tributárias. Coord. Ada Pelegrini Grinover,
Kazuo Watanabe. Brasília, DF: Gazeta Jurídica, 2014. Pgs 84 e 86.
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6. Requisitos para a implementação da arbitragem tributária no Brasil: a
necessária previsão legal
O artigo 156, inciso X, do Código Tributário Nacional, por sua vez, dispõe que
“Extinguem o crédito tributário ... a decisão judicial passada em julgado”.
15
MASCITTO, Andréa. Arbitragem Tributária – Desafios institucionais brasileiros e a experiência portuguesa.
Coord. Thiane Piscitelli, Andréa Mascitto e Priscila Faricelli de Mendonça. Pg. 83.
32
7. Os projetos de lei envolvendo a matéria.
[...]
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Nacional, a vantagem será a realização imediata de créditos tributários, sem
os altos custos do processo judicial, o que, sem dúvida, vem ao encontro do
interesse público. Ademais, a adoção desses meios alternativos, a médio
prazo, desafogará as instâncias administrativas de julgamento e o Poder
Judiciário.
Nota-se, inclusive, que Projeto de Lei pretende incluir uma nova disposição
legal ao artigo 171 do Código Tributário Nacional, especialmente para estabelecer que
“A lei poderá adotar a arbitragem para a solução de conflito ou litígio, cujo laudo arbitral
será vinculante”.
Por outro lado, os Projetos de Lei mencionados acima não foram atualizados
para acompanhar o avanço das técnicas legislativas, assim como dos estudos acerca
do tema (é válido mencionar que até o presente momento esses Projetos aguardam
parecer da Comissão de Finanças e Tributação - CFT).
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8. Conclusão
Ao que tudo indica, esse é um dos assuntos que será objeto de grande
repercussão nos próximos anos, especialmente pela consolidação do procedimento
arbitral na área cível, que demonstra a eficácia desse método alternativo de resolução
de conflitos, bem como do aumento constante dos debates e da elaboração de obras
jurídicas sobre a arbitragem no âmbito tributário.
Além disso, conforme restou demonstrado, são inúmeros os receios por parte
da Administração Pública e dos contribuintes em relação a eventual implementação
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do procedimento arbitral para dirimir as questões tributárias sem que haja a adequada
regulamentação.
Isso porque a Constituição Federal determina no seu artigo 146 que as normas
gerais envolvendo matéria tributária devem ser dispostas por meio de Lei
Complementar (como por exemplo aquelas relacionadas à extinção do crédito
tributário).
Com efeito, sem prejuízo dos benefícios que seriam obtidos na utilização do
procedimento arbitral, fato é que a legislação complementar deverá prover os
mecanismos legais capazes de assegurar que a Administração Pública não seja
penalizada em razão das regras contidas na Lei de Responsabilidade Fiscal.
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Referências
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JUSTIÇA EM NÚMEROS – 2017 – CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA.
Disponível em: <
http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2017/12/b60a659e5d5cb79337945c1dd1
37496c.pdf >. Acesso em 18 de agosto de 2018.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 31ª ed. São Paulo:
Malheiros, 2005.
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