Le Corbusier Na America Latina 1929 Antecedentes
Le Corbusier Na America Latina 1929 Antecedentes
Le Corbusier Na America Latina 1929 Antecedentes
Maturino Luz
Autodidata, desde a primeira década do século XX, Le Corbusier deu início à sua
formação, realizando viagens - dentre elas a que resultou no livro “Viagem ao Oriente”
(ocorrida em 1911 e publicada em 1913), na qual teve a companhia do amigo Auguste Klipstein
(1885-1951) -, estágios e estudos com alguns dos profissionais mais importantes do período:
conheceu Tony Garnier (1869-1948), em 1907; estagiou com o francês Auguste Perret (1874-
1954), por vinte meses (março de 1908 a novembro de 1909), este último, despertando-lhe o
interesse em se aprofundar na técnica do concreto armado e no racionalismo estrutural, com
o qual desenvolveria, em 1914, com o engenheiro Max Dubois a “Casa Dom-inó”; trabalhou
com o alemão Peter Behrens (1868-1940), por cinco anos (1910-1915) - onde também
exerceram o ofício Walter Gropius (1883-1969) e Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969) -;
esteve ainda com Heinrich Tessenov (1876-1950). Fortemente influenciado pelo classicismo,
abandonaria o Heimatstil, de origem germânica, e o Style Sapin, variante suíça do Jugendstil de
inspiração medieval, praticado em sua terra natal e que o encantou inicialmente.
Ao longo da década de 1920, tornou-se conhecido pela série de casas brancas nas
quais desenvolveu seus conceitos sobre a arquitetura, em especial as Casas Citroën (1920-
1927), as Villas La Roche-Jeanneret (1923-1925), no cul-de-sac conhecido como Parque do
Docteur Blanche, números 8 e 10, em Paris, a Villa Stein de Monzie (1926-1929), no número 17
da Rue du Prof. Victor-Pauchet, em Garches, as Casas Geminada de números 14 e 15 (1927) e a
Casa Unifamiliar (1927), ambas em Weissenhofsiedlung, em Stuttgart, e a famosa Ville Savoye
(1929-1931), situada no número 82, da Rue de Villiers, em Poissy-sur-Seine, na França.
Formulou nessas obras as suas ideias sobre as quatro composições arquitetônicas, a
exploração dos traçados reguladores (meio geométrico ou aritmético que permite dar precisão
às proporções de uma composição plástica) e os chamados “cinco pontos” (enunciados em
1926) que adotara em suas edificações: o uso de pilotis (pilares / colunas), no térreo, liberando
ao máximo o nível do solo, e permitindo liberar a planta nos níveis superiores (afinal, a
estrutura proporcionava a independência da planta, liberando o agenciamento da mesma), o
que proporcionava também a utilização de janelas longilíneas (horizontais), uma vez que
dispensava o uso de paredes portantes, gerando a possibilidade da fachada livre. Sobre a
edificação, não mais o telhado tradicional. Le Corbusier propôs o terraço-jardim. Suas ideias o
tornaram conhecido internacionalmente, o que fez com que passasse a receber demandas do
exterior.
Dias depois de confirmada a sua viagem, o arquiteto recebeu uma demanda, o projeto
de uma residência para Victoria Ocampo. A escritora argentina tinha contratado Alejandro
Bustillo (1889-1982) para projetar a casa que deveria ter sido iniciada em primeiro de outubro
de 1928. Não satisfeita com o projeto, comentou com sua amiga argentina, María Adela de
Atucha Lavallol (1887-1970), casada com Carlos Caro i Potestad (1881-1973), Conde Cuevas de
Vera, que se propôs a interceder para que Le Corbusier realizasse um novo projeto. Adela teria
conhecido o arquiteto em maio, quando este realizou uma palestra em Madri (GARDINETTI,
2021). Ocampo aceitou a colaboração da amiga, mas propôs outro terreno, à Rua Salguero,
para não se sobrepor ao projeto solicitado a Bustillo, à Rua Rufino de Elizalde. Em 9 de agosto,
Adela propôs a Le Corbusier um encontro, que não ocorreu. A condessa escreveu novamente
em 27 de agosto, de sua casa em Anglet (nos Baixos Pirineus), anexando quatro esquemas que
Ocampo a tinha enviado, com várias observações sobre o programa, descartando o uso de
janelas horizontais longilíneas. Adela volta a escrever em 6 de setembro, solicitando um
primeiro estudo. Le Corbusier estava com uma grande demanda de trabalhos o que fez com
que demonstrasse pouco interesse pela casa para Ocampo, fazendo adaptações na Villa Meyer
(1926). Le Corbusier enviou a Victoria Ocampo um dossier com as quatro plantas e três
croquis, dois dos interiores da casa e outro visto desde o jardim (IDEM, 2021).
Propositadamente não enviou a fachada pois não aceitava a ideia de abandonar a ideia de
janelas longilíneas. Nem sequer se preocupou em enviar seus honorários. Não havendo
solução de continuidade, Ocampo realizaria a casa projetada por Bustillo.
AMARAL, Aracy. Blaise Cendrars no Brasil e os modernistas. São Paulo: Ed. 34 / Fapesp, 1997.
CALIL, Carlos Augusto. Quem foi Blaise Cendrars, franco-suíço que se encantou por Aleijadinho
e influenciou Oswald e Tarsila - 23/01/2021 - Ilustríssima – Folha de São Paulo (uol.com.br).
GUTIÉRREZ, Ramón. Le Corbusier en Buenos Aires. Nuevas lecturas sobre el viaje de 1929. In:
GUTIÉRREZ, Ramón et alii. Le Corbusier en el Río de La Plata, 1929. Buenos Aires: CEDODAL;
Montevidéu: Facultad de Arquitectura - UDELAR, 2009.