04 - Estatuto Da Igualdade Racial
04 - Estatuto Da Igualdade Racial
04 - Estatuto Da Igualdade Racial
TÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
CAPÍTULO I
DA FINALIDADE, DEFINIÇÕES E DIRETRIZES
Art. 1ºEsta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial e de Combate à Intolerância Religiosa
do Estado da Bahia, destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de
oportunidades, defesa de direitos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação
e demais formas de intolerância racial e religiosa.
III - ações afirmativas: programas e medidas especiais adotados pelo Estado e pela
iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade
de oportunidades;
racismo e das demais práticas institucionais e sociais históricas que contribuíram para as
profundas desigualdades raciais e as persistentes práticas de discriminação racial na
sociedade baiana, inclusive em face dos povos de terreiros de religiões afro-brasileiras;
CAPÍTULO II
DO SISTEMA ESTADUAL DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL - SISEPIR
Art. 7º Fica instituído o Sistema Estadual de Promoção da Igualdade Racial - SISEPIR, com a
finalidade de efetivar o conjunto de ações, políticas e serviços de enfrentamento ao racismo,
promoção da igualdade racial e combate à intolerância religiosa.
CAPÍTULO III
DO SISTEMA DE FINANCIAMENTO DAS POLÍTICAS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE
RACIAL
Art. 12 Na implementação dos programas e das ações constantes dos planos plurianuais e
dos orçamentos anuais do Estado, deverão ser observadas as políticas de ação afirmativa a
que se refere este Estatuto e outras políticas públicas que tenham como objetivo promover a
igualdade de oportunidades e a inclusão social da população negra.
Art. 13Sem prejuízo da destinação de recursos ordinários, poderão ser consignados nos
orçamentos para o financiamento de que trata o art. 12 desta Lei:
internacionais.
TÍTULO II
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
CAPÍTULO I
DO DIREITO À VIDA E À SAÚDE
Art. 15 O direito à saúde da população negra será garantido pelo Poder Público mediante
políticas sociais e econômicas destinadas à redução do risco de doenças e outros agravos,
com foco nas necessidades específicas deste segmento da população.
§ 2º O Poder Público poderá promover apoio técnico e financeiro aos municípios tendo
em vista a implementação do disposto neste Capítulo na esfera local, contemplando, inclusive,
a atenção integral à saúde dos moradores de comunidades remanescentes de quilombo.
VII - implementação de programas específicos com foco nas doenças cujos indicadores
epidemiológicos evidenciam as maiores desigualdades raciais;
VIII - definição de ações com recortes específicos para a criança e o adolescente negros,
idosos negros e mulheres negras.
CAPÍTULO II
DO DIREITO À EDUCAÇÃO, CULTURA, ESPORTE E LAZER
Parágrafo Único. O Estado poderá prestar apoio técnico e financeiro aos Municípios,
tendo para implementação, na esfera local, das medidas previstas neste Capítulo.
Seção I
Do Direito à Educação
Art. 27Na oferta de educação básica para a população rural, inclusive às comunidades
remanescentes de quilombos e aos povos indígenas, os sistemas de ensino promoverão as
adaptações necessárias para a sua adequação às peculiaridades da vida rural de cada região,
observando-se o seguinte:
Seção II
Do Direito à Cultura
Art. 34 O Estado, por meio do Sistema Estadual de Cultura, estimulará e apoiará a produção
cultural de entidades do movimento negro e de grupos de manifestação cultural coletiva da
população negra, que desenvolvam atividades culturais voltadas para a promoção da
igualdade racial, o combate ao racismo e a intolerância religiosa, mediante cooperação
técnica, seleção pública de apoio a projetos, apoio a ações de formação de agentes culturais
negros, intercâmbios e incentivos, entre outros mecanismos.
Art. 36 Fica reconhecido o Programa Ouro Negro, desenvolvido por meio de ações de apoio e
fortalecimento institucional de blocos e agremiações de matriz africana e indígena, afoxés,
blocos de samba, blocos de "reggae", blocos de "samba-reggae", da cultura "Hip-Hop" e
entidades culturais congêneres, cujas ações serão realizadas durante todo o ano, nos termos
do regulamento.
Art. 37 Fica reconhecida a categoria de mestres e mestras dos saberes e fazeres das
culturas tradicionais de matriz africana, com base na Lei nº 8.899, de 18 de dezembro de
2003, tendo em vista o reconhecimento, a valorização e o efetivo apoio ao exercício do seu
papel na sociedade baiana e brasileira.
§ 1º Para os fins previstos neste Estatuto, entende-se por mestras e mestres dos saberes
e fazeres, das culturas tradicionais de matriz africana, o indivíduo que se reconhece e é
reconhecido pela sua própria comunidade como representante e herdeiro dos saberes e
fazeres da cultura tradicional que, através da oralidade, da corporeidade e da vivência
dialógica, aprende, ensina e torna-se a memória viva e afetiva desta cultura, transmitindo
saberes e fazeres de geração em geração, garantindo a ancestralidade e identidade do seu
povo, a exemplo de Griô, Mestras e Mestres das Artes, dos ofícios, entre outros.
africana, a que se refere o inciso IV deste artigo, observará o atendimento aos critérios
estabelecidos no art. 3º da Lei nº 8.899, de 18 de dezembro de 2003, além dos requisitos e
procedimentos fixados em regulamento próprio a ser expedido pelo Poder Executivo.
Seção III
Do Direito ao Esporte e ao Lazer
CAPÍTULO III
DO ACESSO À TERRA
Parágrafo Único. Fica reconhecida a propriedade definitiva das terras públicas estaduais,
rurais e devolutas, dos espaço de preservação das tradições africanas e afro-brasileiras.
Parágrafo Único. A regularização fundiária de que trata o caput será efetivada pela
expedição de título de domínio coletivo e pró-indiviso em nome da associação legalmente
constituída, que represente civilmente a comunidade de religião afro-brasileira, gravado com
cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade e imprescritibilidade.
Art. 45 Poderá ser realizada consulta prévia, livre e informada aos povos e comunidades
tradicionais, notadamente às comunidades remanescentes de quilombos e dos povos e
comunidades que historicamente têm preservado as tradições africanas e afro-brasilerias no
Estado, de que trata este capítulo, sempre que forem previstas medidas administrativas
suscetíveis de afetá-los diretamente.
CAPÍTULO IV
DO DIREITO AO TRABALHO, AO EMPREGO, À RENDA, AO EMPREENDEDORISMO E AO
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
V - acesso ao crédito para a pequena produção, nos meios rural e urbano, com ações
afirmativas para mulheres negras.
Art. 49 Fica instituída a reserva de vagas para a população negra nos concursos públicos e
processos seletivos para provimento de pessoal no âmbito da Administração Pública Direta e
Indireta Estadual, correspondente, no mínimo, a 30% (trinta por cento) das vagas a serem
providas.
§ 1º A reserva de vagas de que trata o caput deste artigo aplica-se aos concursos
públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos, bem como aos processos
seletivos para contratações temporárias, sob Regime Especial de Direito Administrativo -
REDA, promovidos pelos órgãos e entidades da Administração Direta e Indireta do Poder
Executivo do Estado da Bahia.
§ 2º Terão acesso às medidas de ação afirmativa previstas neste artigo aqueles que se
declarem pretos e pardos segundo a classificação adotada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística - IBGE, prevalecendo a autodeclaração.
pessoas negras a estes cargos, observada a equidade de gênero da medida, que será
definida em decreto do Chefe do Poder Executivo Estadual.
Art. 50 As ações afirmativas previstas no art. 49 terão vigência por 10 (dez) anos a partir da
publicação desta Lei.
O Estado estimulará as atividades voltadas ao turismo étnico com enfoque nos locais,
Art. 51
monumentos e cidades que retratem a cultura, os usos e os costumes da população negra.
CAPÍTULO V
DO COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL
Art. 57
Art. 59 O Estado adotará medidas para coibir atos de racismo, discriminação racial e
intolerância religiosa pelos agentes e servidores públicos estaduais, observando-se a
legislação pertinente para a apuração da responsabilidade administrativa, civil e penal, no que
couber.
CAPÍTULO VI
DA COMUNICAÇÃO SOCIAL
Art. 63 Fica assegurada a inviolabilidade da intimidade, vida privada, honra e imagem das
pessoas, sendo vedada a exposição da imagem de pessoas custodiadas em
estabelecimentos prisionais e policiais da estrutura da Administração Pública Estadual,
ressalvados os casos justificados por motivo de interesse público e de proteção aos direitos
humanos, autorizados pelo dirigente da unidade ou autoridade policial civil ou militar, mediante
a formalização de requerimento e justificativa.
CAPÍTULO VII
Art. 64 Sem prejuízo das demais disposições deste Estatuto, o Estado garantirá a efetiva
igualdade de oportunidades, a defesa de direitos, a proteção contra a violência e a
participação das mulheres negras na vida social, política, econômica, cultural e projetos de
desenvolvimento no Estado, assegurando-se o fortalecimento de suas organizações
representativas.
Art. 65 O Estado incentivará a representação das mulheres negras nos órgãos colegiados
estaduais de participação, formulação e controle social nas políticas públicas, nas áreas de
promoção da igualdade racial, saúde, educação e outras áreas que lhes sejam concernentes.
CAPÍTULO VIII
DA JUVENTUDE NEGRA
Art. 68 Sem prejuízo das demais disposições deste Estatuto, o Estado garantirá a efetiva
igualdade de oportunidades, a defesa de direitos e a participação da juventude negra na vida
social, política, econômica, cultural e projetos de desenvolvimento no Estado, assegurando-se
o fortalecimento de suas organizações representativas.
CAPÍTULO IX
DO ACESSO À JUSTIÇA
Art. 72 O Estado estimulará a Defensoria Pública e o Ministério Público, no âmbito das suas
competências institucionais, a prestarem orientação jurídica e promoverem a defesa de
direitos individuais, difusos e coletivos da população negra, povos de terreiros de religiões
afro-brasileiras e comunidades quilombolas.
CAPÍTULO X
DO DIREITO À SEGURANÇA PÚBLICA
Art. 75 O Estado adotará medidas especiais para prevenir e coibir atos que atentem contra os
direitos humanos e a cidadania incidente sobre a população negra.
Art. 77 O Estado manterá registro e monitoramento das ações de policiamento ostensivo que
impliquem em abordagem de pessoas e veículos e flexibilização da garantia constitucional de
inviolabilidade dos domicílios, identificando o impacto destas ações sobre comunidades
negras no Estado.
CAPÍTULO XI
DO COMBATE AO RACISMO E À INTOLERÂNCIA RELIGIOSA
Art. 81As ocorrências de racismo, discriminação racial e intolerância religiosa causadas por
ação ou omissão de pessoas físicas, ou de pessoas jurídicas, ensejarão a comunicação formal
das pessoas e grupos atingidos aos entes que compõem o SISEPIR, à Rede de Combate ao
Racismo e à Intolerância Religiosa, ao Ministério Público, à Defensoria Pública e outros
órgãos e instituições, de acordo com as suas competências institucionais.
III - verificar e atuar em casos de racismo noticiados pela mídia ou naqueles que o Centro
de Referência de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa venha a tomar
conhecimento por qualquer outro meio;
VI - produzir materiais informativos, tais como cartilhas, boletins e folhetos, sobre garantia
de direitos, combate ao racismo e à intolerância religiosa e promoção da igualdade racial,
disponibilizando-os aos órgãos, entidades e sociedade civil organizada;
CAPÍTULO XII
DA DEFESA DA LIBERDADE RELIGIOSA
TÍTULO III
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 87 Para o cumprimento das disposições contidas neste Estatuto, o Estado celebrará
convênios, contratos, acordos ou instrumentos similares de cooperação com órgãos públicos
ou instituições privadas.
"Art. 4º ...
...
Art. 91 As medidas de ação afirmativa para a população negra no Ensino Superior estadual já
instituídas, ou cujo prazo tenha se esgotado, serão adequadas ao disposto no art. 31 deste
Estatuto.
Art. 92 O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de 90 (noventa) dias, ficando
autorizado a promover os atos necessários:
JAQUES WAGNER
Governador
CARLOS MELLO
Secretário da Casa Civil em exercício