A Cirurgia - Aula 3

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CURSO DE FORMAÇÃO EM INSTRUMENTAÇÃO CIRÚRGICA

A CIRURGIA
A cirurgia é a ciência e arte, e como tal deve ser aprendida. Como todas as artes,
exigirá um aprendizado manual paciente e bem conduzido; como ciência, é a renovação
dinâmica e constante de preceitos e conceitos em função de sua própria evolução.

Aprendê-la-ão mais facilmente aqueles que nasceram com vocação, enquanto


que outros precisarão de maior esforço e perseverança para alcançar resultados
satisfatórios.

A operação ou intervenção cirúrgica é o tratamento cruento de transtornos


orgânicos ou funcionais.

Em épocas passadas, era considerada o último recurso aplicável àqueles para os


quais não se dispunha de mais remédios que lhes restabelecessem a normalidade
biológica. Com o evoluir dos conhecimentos, a cirurgia passou a ter seu lugar específico
no tratamento de algumas moléstias e é hoje uma especialidade plenamente definida.
Não mais encarada como apenas a técnica das manobras manuais e instrumentais
visando a uma finalidade terapêutica, exige hoje dos cirurgiões esfera de conhecimento
mais vasta, que abrange desde os fundamentos anatômicos e fisiológicos, até à
compreensão psicológica do paciente, passando pelos domínios da bioquímica,
imunologia, bacteriologia e metabologia. O conceito antigo de cirurgia é hoje apenas
um de seus capítulos, a Técnica Cirúrgica.

A Técnica Cirúrgica geral estuda o ambiente operatório, os instrumentos e seu


manejo, e as manobras cirúrgicas básicas.

A Técnica Cirúrgica Especial estuda os tempos operatórios de cada


intervenção em particular. Resulta da integração das manobras básicas da técnica
cirúrgica geral, com visitas à realização de determinado ato operatório.

Todas as intervenções cirúrgicas têm, em comum, tempos fundamentais que são:

 Diérese;

 Hemostasia;

 Exérese;

 Síntese.
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Na Diérese, incisam-se os tecidos e adentram-se as cavidades naturais,


receptáculos dos órgãos a tratar. A incisão e abertura dos tecidos implica na lesão de
vasos sanguíneos, cuja hemorragia deverá ser estancada sob pena de alterações
hemodinâmicas primeiro, e metabólicas depois, com potencialidades perniciosas para o
doente. É a Hemostasia.

Tecidos separados, cavidade aberta, eis-nos face a um órgão mal-funcionante ou


doente, cujo funcionamento deverá ser alterado ou simplesmente extirpado, é a Exérese.

Realizado o tratamento cirúrgico específico, terá o cirurgião de consertar os


danos causados ao organismo, porém necessários à realização da cirurgia; é tempo de
Síntese: unem-se os tecidos, fecham-se cavidades, restitue-se a normalidade.

É dentro do capitulo de Técnica Cirúrgica Geral que desenvolveremos este


trabalho.

Sendo a cirurgia o resultado da integração de conhecimentos básicos, justifica-se


seu aprendizado, começando pelos fundamentos e evoluindo numa complexidade
crescente, até à realização do primeiro ato operatório sob a supervisão de um cirurgião
experiente.

A primeira etapa, na sequência da aprendizagem progressiva é, portanto, o


contato com os instrumentos cirúrgicos, saber para que servem e como manejá-los; é a
intimidade com a sala de operações e com o campo cirúrgico; é a integração numa
equipe cirúrgica e, finalmente, o aprendizado de manobras básicas e das atividades
específicas a cada elemento, para que, chegando ao comando da equipe, o novo
cirurgião possa saber compreender e orientar seus auxiliares, de forma a tornar
harmônico seu relacionamento e eficaz seu trabalho.

A instrumentação e o auxílio ao cirurgião são, dentro do aspecto técnico, os


primeiros passos.

Evolução Histórica da Cirurgia

O termo cirurgia significa trabalho com as mãos, uma vez que em grego o
vocábulo cirurgia é formado por Kein (mãos) e Ergon (trabalho). De acordo com Alves
(1974), existe também a doutrina de que cirurgia derive de Chiron, o centauro
benfazejo, a quem se confiou a educação de Aquiles.

A cirurgia nasceu com o primeiro ferimento do homem, sendo que os registros


iniciais de procedimentos cirúrgicos são instrumentos primitivos encontrados em
escavações. Em escritos de 1500 a.C., encontram-se referências às operações de hérnias,
aneurismas arteriais, fraturas do crânio e luxações de vértebras.
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A concepção moderna de cirurgia está muito distante da que era realizada pelos
cirurgiões-barbeiros da Idade Média, cujas operações eram tão frequentemente
acompanhadas de complicações que os cirurgiões, muitas vezes, operavam e
desapareciam (BELAND & PASSOS, 1979).

A sobrevida, após as intervenções cirúrgicas era uma raridade; os óbitos


decorriam de parasitoses, acrescidas de estafilococias; cólera e a febre tifóide
disseminavam-se pelos hospitais e as infecções puerperais eram um verdadeiro terror.

As bases sólidas da antissepsia e da assepsia cirúrgica só foram lançadas a partir


do século XIX, notadamente no transcurso de sua metade, com o advento da “Era
Bacteriológica”, com Louis Pasteur, Robert Koch e Lister. Já em 1827, Alcooch,
voltava suas atenções para o hipoclorito, como agente desinfetante. Semmelweis, em
1847 verificou em um hospital de Viena que o alto grau de mortalidade, decorrente de
infecções puerperais, resultava da ausência de limpeza das mãos de estudantes que,
vindos da sala de autópsia, atendiam, na enfermaria, as parturientes lá internadas.

Na área da Enfermagem, um vulto de mulher surgiu e cresceu, quando em 1854,


Florence Nightingale, iniciou um trabalho espetacular nos hospitais de campanha, na
guerra da Criméia, criando condições de higiene que contribuíram decisivamente para a
redução da taxa de infecções e de mortalidade dos soldados feridos em campos de
batalha.

Verifica-se, portanto, que diversos fatores contribuíram para solidificar as bases


modernas da cirurgia, entre as quais: o aprimoramento da anestesia, melhor
conhecimento dos agentes causadores de infecções, estudo da fisiopatologia e da
resposta do organismo ao trauma cirúrgico, a valorização da técnica cirúrgica
atraumática e asséptica criada e aperfeiçoada por renomados pesquisadores como Lister,
Langenbeck, Billroth, Hasted entre outros.

Classificação das cirurgias

Podemos definir cirurgias como a parte da medicina que se ocupa


principalmente de lesões externas e dos processos manuais ou operações que conduzem
à cura, bem como de intervenções que facilitam ou tornam possível o tratamento de
lesões internas. Essas intervenções podem ter como finalidade o diagnostico, a
terapêutica ou a estética.

Esses procedimentos podem ser classificados segundo a sua urgência, o risco


cardiológico, o tempo cirúrgico, o potencial de contaminação e quanto a sua finalidade
(POSSARI, 2004).

 Urgência Cirúrgica – São classificadas como:


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Eletivas – são aquelas em que o tratamento proposto pode aguardar o momento


mais propício para ser realizado, ou seja, pose ser programado. Ex: blefaroplastia,
artroplastia de quadril (desde que não seja por fratura), tireoidectomia, safenectomia.
Todas as correções ortopédicas desde que não sejam decorrência de traumas.

Urgência – o tratamento cirúrgico deve ser realizado dentro de 24 a 48 horas.


Ex: apendicectomia, oclusão intestinal.

Emergência – o paciente está em situação crítica e requer cuidado imediato, pois


corre risco eminente de morte. Ex: hematoma subdural, abdômen agudo.

 Risco cardiológico – também classificados como pequeno, médio e


grande porte, de acordo com a probabilidade de perda de sangue e fluidos
durante o procedimento.

Pequeno porte – pequena possibilidade de perda de sangue e fluidos. Ex:


endoscopia digestiva, colecistectomia via laparoscópica;

Médio porte – quando há média probabilidade de perda sanguínea e fluidos. Ex:


RTU (ressecção transuretral de próstata);

Grande porte – procedimento com grande possibilidade de perda de sangue e


fluidos. Ex: ressecção de aneurisma na aorta abdominal e, em geral, as cirurgias
emergências.

 Tempo Cirúrgico – o tempo previsto para a duração do procedimento


cirúrgico classifica em cirurgias de porte I, II, III e IV.

Porte I - como tempo de duração de até 2 horas;

Porte II - de 2 a 4 horas;

Porte III - de 4 a 6 horas;

Porte IV - acima de 6 horas.

 Potencial de Contaminação – são classificadas em limpas,


potencialmente contaminadas, contaminada e infectada.

Limpas – são cirurgias eletivas realizadas em tecidos estéreis sem processo


infeccioso ou inflamatório no local e não ocorre penetração nos tratos respiratório,
digestório ou urinário. Ex: mamoplastia, prótese de joelho.
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Potencialmente contaminada – são aquelas realizadas em tecidos colonizados,


de difícil descontaminação, sem processo infeccioso ou inflamatório. Ocorre penetração
nos tratos digestório, respiratório inferior ou superior, genito-urinário, cirurgias oculares
e de vias biliares. Ex: colecistectomia, ureterotomia, gastrestomia.

Contaminadas – ocorrem em tecidos recentemente traumatizados, colonizados


por flora bacteriana abundante, de descontaminação difícil. Não há supuração no local.
Consideram-se contaminadas as cirurgias realizadas no colón, reto e ânus; em tecidos
com lesões cruentes e cirurgias de traumatismo crânio encefálicos abertos. Ex:
anastomose bileodigestiva, hemorroidectomia.

Infectadas – são as realizadas em qualquer tecido, na presença de processo


infeccioso local, tecido necrótico e corpos estranhos. Ex: retossigmoidectomia com
secreção purulenta, apendicectomia supurada.

 Finalidade do Tratamento – de acordo com a finalidade do tratamento


são classificadas em paliativa, radical, reconstrutiva, diagnóstica,
transplante e plástica.

Paliativa – refere-se aos procedimentos que visam melhorar as condições do


paciente, aliviando a dor, proporcionando melhor qualidade de vida, sem, contudo
proporcionar a cura. Ex: exérese de tumores avançados.

Radical – ocorrem quando há a remoção parcial ou total de um órgão. Ex:


mastectomia, nefrectomia.

Reconstrutiva – são realizadas com o objetivo de reconstruir o tecido lesado e a


sua capacidade funcional. Ex: queiloplastia (reconstrução labial), mamoplastia
reconstrutora.

Diagnóstica – quando a finalidade é realizar o diagnóstico ou mesmo confirma-


lo. Ex: biópsia hepática, laparotomia exploratória.

Transplante – ocorre quando há substituição de estruturas ou órgãos deficientes.


Ex: transplante de córnea, medula.

Plástica – tem por finalidade a estética ou a correção. A cirurgia plástica


reparadora tem como objetivo corrigir lesões deformantes, defeitos congênitos ou
adquiridos. É considerada tão necessária quanto qualquer outra intervenção cirúrgica. A
cirurgia plástica estética é aquela realizada pelo paciente com o objetivo de realizar
melhoras à sua aparência. Ex: mamoplastia, ritidoplastia, rinoplastia, otoplastia.

 Tempos da cirurgia – são etapas, fases, que o cirurgião segue para


realizar a técnica cirúrgica. O instrumentador deve conhecer e
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acompanhar a evolução dos tempos cirúrgicos para agir no momento


exato, passando ao cirurgião o material adequado.

1° tempo – Preparo da área operatória – durante este tempo é feita a limpeza da


área e a antissepsia. Portanto, o instrumentador passa às mãos do cirurgião o material
necessário (cheron com gaze, cuba com antisséptico).

2° tempo – Delimitação da área operatória – para delimitar a área operatória


usa-se campos esterilizados, presos com pinça backaus.

3° tempo – Incisão cirúrgica – aqui é feito o corte na pele e/ou musculatura para
que o cirurgião tenha acesso a área ou órgão a ser operado.

4° tempo – Hemostasia – após o corte ou incisão é realizada a hemostasia com


auxilio de pinças hemostáticas (Kelly, Crile, Kocher, Halsted,...).

5° tempo – Cirurgia propriamente dita – este é o tempo principal, onde ocorre


isolamento do órgão, secção do órgão, revisão do órgão. São usados os instrumentos
especiais, de acordo com o tipo de cirurgia e/ou especialidade.

6° tempo – Sutura da incisão – é o fechamento da incisão por planos em ordem:


músculos, subcutâneo e por ultimo pele.

7° tempo – Confecção do curativo – neste tempo ocorre a limpeza da área onde


foi feita a incisão e colocação do curativo.

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