Capítulo - AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
Capítulo - AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
Capítulo - AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
1-1
Capítulo 1
Avaliação Psicológica: Conceito,
Objetivos, Etapas e Campos de
Atuação
Kay Francis Leal Vieira
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nº 4119 de 27/08/62 (Brasil, 1962), que caracteriza como função
privativa do (a) psicólogo (a) a utilização de métodos e técnicas
psicológicas com os seguintes objetivos: a) diagnóstico psicológi-
co; b) orientação e seleção profissional; c) orientação psicopeda-
gógica; d) solução de problemas de ajustamento. O uso de instru-
mentos psicológicos para as finalidades indicadas é privativo aos
profissionais da psicologia, e as relações interdisciplinares que en-
volvam conhecimentos da psicologia devem ser feitas com a cola-
boração dos profissionais da psicologia (Primi, 2018).
Nesse sentido, a avaliação psicológica se refere ao modo de
conhecer fenômenos e processos psicológicos por meio de procedi-
mentos de diagnóstico/prognóstico e de exame propriamente dito
(Alchieri & Cruz, 2014), apresentando-se como um processo flexí-
vel e não padronizado, que tem por objetivo chegar a uma determi-
nação sustentada a respeito de uma ou mais questões psicológicas
(Urbina, 2007). Pode ocorrer em diferentes contextos e situações,
sendo de responsabilidade do psicólogo o planejamento e a realiza-
ção do processo avaliativo, com base em aspectos técnicos e teóricos.
A escolha do número de sessões, das pessoas a serem ouvi-
das no processo, bem como de quais instrumentos/técnicas de-
vem ser utilizados será baseada em alguns fatores, a saber: o con-
texto no qual a avaliação psicológica está inserida; os propósitos
da avaliação; os construtos psicológicos a serem investigados; a
adequação das características dos instrumentos/técnicas aos indi-
víduos avaliados; bem como das condições técnicas, metodológi-
cas e operacionais do instrumento de avaliação (CFP, 2013). De
acordo com a Resolução CFP 31/22, o psicólogo tem a prerroga-
tiva de decidir quais os métodos, técnicas e instrumentos empre-
gados na avaliação psicológica, desde que fundamentados na lite-
ratura científica psicológica e nas normas vigentes do Conselho
Federal de Psicologia (CFP, 2022).
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Objetivos e Etapas do Processo de Avaliação Psicológica
Testes Psicológicos
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avaliação psicológica, os testes psicológicos são apenas um dos
recursos utilizados, representando tão-somente uma das etapas
do processo avaliativo, a qual é denominada testagem psicológica.
Comumente, os termos avaliação psicológica e testagem psico-
lógica são utilizados como sinônimos, distorcidos do seu real sig-
nificado. A origem dessa confusão relaciona-se em parte, ao de-
senvolvimento histórico da avaliação, que surgiu vinculada a uma
de suas aplicações práticas, a saber, o desenvolvimento dos testes
psicológicos (Andrade & Sales, 2017). Apesar dessa utilização in-
correta dos termos é importante ressaltar que a avaliação psico-
lógica se refere a um processo amplo que envolve a integração de
informações provenientes de diversas fontes, dentre elas, testes,
entrevistas, observações e análise de documentos, enquanto que
a testagem psicológica pode ser considerada uma etapa de coleta
dos dados, cuja principal fonte de informação são os testes psico-
lógicos de diferentes tipos (CFP, 2013).
Em relação aos tipos de testes, observa-se que não existe na
literatura um consenso sobre a classificação dos mesmos. Não há
um modelo único, uma vez que existem diversos critérios que po-
dem ser utilizados para categorizá-los, a exemplo da objetivida-
de, padronização, tempo, forma de aplicação, forma de expressão
e organização. Apesar disso, percebe-se na literatura, a divisão dos
testes psicológicos, inicialmente, em dois grandes grupos: testes
psicométricos e testes projetivos.
Os psicométricos, também chamados de objetivos, caracte-
rizam-se por serem quantitativos e por fazerem uso obrigatório
da estatística. Há uma maior padronização em sua tarefa, bem co-
mo na aplicação e interpretação do instrumento. Os testes psico-
métricos podem ser construídos com base em diferentes teorias
e tem-se uma ênfase maior no instrumento do que no avaliador
(Serafini et al., 2017).
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Os testes projetivos, por sua vez, possuem menor ênfase nos
dados normativos, apresentam estímulos vagos e/ou ambíguos,
que dão margem à diferentes interpretações, produzindo uma va-
riedade ilimitada de respostas. Os critérios para interpretar e/ou
categorizar determinado construto são subjetivos, dinâmicos e
não observáveis (Bandeira et al, 2006). Segundo Pinto (2014), os
testes projetivos representam uma categoria ampla que engloba
diversas subcategorias, como testes expressivos, estruturais e te-
máticos, já que todos esses trabalham com o conceito de projeção
oriundo da teoria psicanalítica.
Tomando-se como base o critério do tempo, os testes psi-
cológicos podem ser classificados como testes de velocidade ou
de potência. Os testes de velocidade, também conhecidos como
testes de rapidez, possuem um tempo pré-determinado e medem
a rapidez de raciocínio ou execução de determinada tarefa. Já os
testes de potência, também chamados de testes de nível, medem,
não a rapidez da execução das respostas, mas a qualidade da mes-
ma (Erthal, 2009).
Outras classificações menos usuais também são encontradas
na literatura científica, sendo válido ressaltar que não se pretende
aqui esgotar todas as possiblidades de categorização. Sendo as-
sim, considerando a forma de aplicação do instrumento, os testes
podem ser classificados como individuais ou coletivos. Já no que
se refere à forma de expressão, os mesmos são divididos entre tes-
tes verbais ou não verbais. Por fim, Erthal (2009) destaca ainda a
existência de outra divisão que agrupa os instrumentos em testes
isolados ou baterias, que correspondem a um conjunto de testes
criados e elaborados para serem utilizados conjuntamente.
Independentemente do tipo de teste que o psicólogo sele-
cione para utilizar no processo avaliativo, este instrumento deve
ter sua validade reconhecida pelo Conselho Federal de Psicolo-
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gia. Para auxiliar o profissional nessa verificação, o CFP criou em
2003 o Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos - SATEP-
SI, que desde então é o responsável por avaliar a qualidade dos
instrumentos psicológicos, a partir da verificação objetiva de um
conjunto de requisitos técnico-científicos. Trata-se de um siste-
ma contínuo de avaliação dos testes psicológicos que envolve a) a
regulamentação da área, b) a análise dos requisitos mínimos que
um teste psicológico precisa apresentar, c) a elaboração de listas
dos testes considerados favoráveis ou desfavoráveis para uso pro-
fissional e d) a divulgação dessas informações à comunidade (Re-
ppold & Noronha, 2018).
A lista de testes disponibilizadas pelo SATEPSI não tem o
objetivo de indicar o contexto de utilização dos instrumentos, ca-
bendo ao psicólogo escolher, dentre aqueles considerados favorá-
veis, os que mais adequadamente atendem aos objetivos da ava-
liação, bem como às características do avaliado. Diante disso, faz-
se necessário destacar que é considerada falta ética a utilização
de testes psicológicos com parecer desfavorável ou que constem
na lista de testes psicológicos não avaliados no site do SATEPSI,
salvo para os casos de pesquisa na forma da legislação vigente e de
ensino com objetivo formativo e histórico na psicologia.
Entrevista
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Segundo Nunes et al. (2017), a entrevista pode partir de di-
ferentes enfoques teóricos (psicanalítico, comportamental, etc.),
ter distintos objetivos (de diagnóstico, de desligamento, de enca-
minhamento, etc.), ter seu formato mais ou menos estruturado e
ser conduzida de forma mais ou menos dirigida. Entretanto, em
todos os formatos que adquire e se utilizada de modo adequado
permite acessar ampla e profundamente informações sobre o en-
trevistado, conhecer suas particularidades, suas relações interpes-
soais, conhecimentos e atitudes a respeito de determinados as-
suntos, sua história pregressa, seus planos futuros, bem como o
que o incomoda e atrapalha, numa diversidade de contextos e si-
tuações (Santos, 2014).
De acordo com Hutz (2015), as entrevistas podem ser clas-
sificadas como estruturadas, semiestruturadas ou informais (não
estruturadas). As primeiras seguem um roteiro preciso, em que o
entrevistador dispõe de um conjunto de perguntas que devem ser
feitas. Esse roteiro é organizado com o objetivo de colher dados
específicos que permitam gerar hipóteses diagnósticas ou produ-
zir comparações entre todas as pessoas entrevistadas. As entrevis-
tas semiestruturadas, por sua vez, possuem um roteiro e um con-
junto básico de questões, porém o entrevistador não fica limitado
a esse roteiro, sendo possível, em função das respostas, conduzir a
entrevista para outros rumos e explorar com mais profundidade
outras informações. Por fim, as entrevistas informais, ou não es-
truturadas, são aquelas que possuem um roteiro preestabelecido,
embora o entrevistador geralmente tenha algumas questões que
deseje explorar.
A escolha do tipo de entrevista é de responsabilidade do psi-
cólogo, porém no contexto da avaliação psicológica a mais usual é
a do tipo semiestruturado. Para Nunes et al. (2017), nesse tipo de
entrevista existe um roteiro, contudo, flexível, não fechado, com o
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qual o avaliador conduz a entrevista e obtém as informações ne-
cessárias. Através da utilização de entrevistas semiestruturadas, o
psicólogo pode com mais liberdade, formular as questões de seu
interesse e organizar a sequência das mesmas.
Denscombe (2003) alerta para a necessidade de alguns cui-
dados para a realização da entrevista, ressaltando a importância
da preparação prévia do ambiente, a exemplo do posicionamento
das cadeiras, climatização da sala, uso de gravador etc. É impor-
tante também que, durante a entrevista, o psicólogo busque esti-
mular verbalizações do avaliando, que por questões situacionais
ou de personalidade pode tornar-se mais sucinto em suas respos-
tas. Desta forma, o(a) avaliador (a) deve buscar sempre verificar
se está obtendo as informações necessárias, tentar ler nas entreli-
nhas, verificar incoerências e contradições, atentando também pa-
ra a possibilidade de respostas relacionadas à desejabilidade social.
As entrevistas podem ser aplicadas nos diferentes contex-
tos da avaliação psicológica, embora em cada situação específi-
ca, as questões abordadas sejam bem diferentes. Santos (2014)
destaca que o bom resultado desta técnica se relaciona com as
competências do psicólogo entrevistador, suas habilidades rela-
cionais e a capacidade de abordagem. Nesse mesmo direciona-
mento, Hutz (2015) ressalta que há sempre necessidade de trei-
namento para a realização de entrevistas, pois embora a entrevista
seja fundamentalmente um processo de interação verbal, o psicó-
logo deve realizar conjuntamente a observação do entrevistado.
Especificamente no contexto clínico, as entrevistas de anamne-
se assumem uma importância central do processo avaliativo, uma
vez que por meio dela são obtidas informações sobre a demanda
específica. Trata-se de um tipo de entrevista realizada para inves-
tigar a história do avaliado, ou seja, os aspectos de sua vida con-
siderados relevantes para o entendimento da queixa. É um tipo
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de entrevista clínica direcionada a investigar fatos e, por isso, o
psicólogo tem uma posição mais ativa nos questionamentos tem
caráter investigativo, priorizando o levantamento de informações
cronologicamente organizadas e que guiam a tomada de decisão
sobre como prosseguir com a avaliação (Cunha, 2007).
Observação
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considerando a necessidade da demanda e os objetivos da avalia-
ção. O psicólogo pode utilizar um roteiro flexível em relação ao
que deve ser observado ou fazer uso de método mais estruturado,
a exemplo de casos em que o profissional necessita preencher um
determinado protocolo, conforme o avaliado vai respondendo.
Nunes et al. (2017) alertam para a necessidade do avaliador
estar atento ao comportamento não verbal desde o início do pro-
cesso, observando a forma como o avaliando se apresenta, o cum-
primenta, mantém ou não contato visual, se movimenta muito
ou pouco, etc. Especificamente, no que concerne a aplicação dos
testes psicológicos, o avaliador deve observar como o avaliando
reage e responde à administração dos instrumentos; se é colabo-
rador, se fala muito durante a execução das tarefas, se fica irrita-
do se verbaliza que sabe tudo ou faz tudo errado, dentre outros
comportamentos.
Realizar a observação do comportamento do avaliado con-
siste em estar atento para todo o comportamento não-verbal,
comportamento este que, frequentemente, o indivíduo nem tem
consciência de que o apresenta. O uso dessa técnica durante todo
o processo de avaliação psicológica pode revelar elementos emo-
cionais do avaliado através do comportamento motor, da presen-
ça de choro, risadas ou rubor. É indispensável ainda, considerar as
características da voz, seu timbre, velocidade, interrupções ou tre-
mores, enquanto o indivíduo se comunica, seja na etapa de entre-
vista ou mesmo na aplicação de algum instrumento psicológico
(Mackinnon et al., 2008).
Oliveira (2019) ressalta que as atividades lúdicas nos atendi-
mentos infantis são uma rica fonte de observação comportamen-
tal e, consequentemente, de coleta de informações no processo
avaliativo. Através do brincar, o profissional consegue identificar
desde características de personalidade e dificuldades emocionais
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até dificuldades cognitivas, contribuindo assim para confirmar ou
refutar uma hipótese diagnóstica.
É fundamental também que para as avaliações realizadas no
contexto clínico, o psicólogo conheça os transtornos e suas res-
pectivas sintomatologias, pois muitos critérios diagnósticos des-
critos no DSM-5 TR (APA, 2023) são verificados por meio de
observação. Considera-se, obviamente, os dados oriundos da en-
trevista e dos testes psicológicos, mas o olhar clínico do profissio-
nal é fundamental.
Contexto Clínico
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o uso de testes e técnicas psicológicos em nível individual ou não,
seja para compreender problemas à luz de pressupostos teóricos,
identificar e avaliar aspectos específicos, seja para classificar o ca-
so e prever seu curso possível, comunicando os resultados, na ba-
se dos quais são propostas soluções, se for o caso (Cunha, 2007).
Krug e colaboradores (2016) compreendem que o psico-
diagnóstico é um procedimento científico de investigação e in-
tervenção clínica, limitado no tempo, que emprega técnicas e/ou
testes com o propósito de avaliar uma ou mais características psi-
cológicas. Visa um diagnóstico psicológico (descritivo e/ou dinâ-
mico), construído à luz de uma orientação teórica que subsidia a
compreensão da situação avaliada, gerando uma ou mais indica-
ções terapêuticas e encaminhamentos.
Contexto Organizacional
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tese de informações, com base em procedimentos científicos que
permitem identificar aspectos psicológicos do candidato compa-
tíveis com o desempenho das atividades e profissiografia do car-
go (CFP, 2016).
Para a realização do processo avaliativo é essencial que o
psicólogo conheça com clareza o perfil da empresa, bem como
a descrição técnica e comportamental do cargo, além do perfil
do gestor da vaga para alinhar com maior assertividade o perfil
do candidato em todos os níveis requeridos. De forma resumida,
Picchetto e Morona (2007) afirmam que se trata de comparar o
que o cargo requer com o que o candidato oferece.
Dentro desse contexto seletivo o psicólogo atua também re-
alizando avaliações psicológicas em concursos públicos, onde es-
se processo pode possuir caráter eliminatório e/ou classificatório.
Frequentemente, a testagem psicológica é o processo mais co-
mum, embora um processo mais complexo, para além da aplica-
ção restrita de testes psicológicos não possa ser descartada, possi-
bilitando a aplicação de entrevistas, realização de grupos focais ou
outras técnicas, desde que não haja impedimento legal ou o cui-
dado para que tais técnicas possam sofrer maior questionamento
do processo, visto diferentes acórdãos de leis que chegam a proi-
bi-las em alguns contextos (CFP, 2022).
Contexto Jurídico
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O psicólogo avaliador pode atuar em diversos subcontex-
tos, a saber: direito de família, juizado da infância e da juventude,
direito civil, penal e do trabalho. Os objetivos e instrumentos da
avaliação variam de acordo com cada caso, podendo realizar ava-
liações para determinar a culpabilidade do acusado no momento
do crime; para discernir se o sujeito está pleno para exercer su-
as responsabilidades civis; avaliações psicológicas em disputas de
guarda ou adoção com intuito de avaliar os genitores, as crianças
e suas relações (Costa et al., 2015; Dourado & Silva, 2016)
A avaliação psicológica no contexto jurídico, apesar de apre-
sentar algumas semelhanças, difere do processo de psicodiagnósti-
co clínico. Um aspecto importante refere-se ao foco da avaliação,
pois ainda que em ambos os casos seja buscada a compreensão do
estado mental do sujeito avaliado, na avaliação forense o foco diri-
ge-se a eventos que são definidos de forma mais restrita ou a inte-
rações de natureza não clínica decorrentes da demanda judicial. Na
avaliação clínica, por sua vez, o objetivo prioritário é o diagnóstico
e a compreensão do mundo interno do paciente (Rovinski, 2007).
Contexto do Trânsito
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mento (reações/decisões no trânsito), quanto aos traços de perso-
nalidade (impulsividade, agressividade e ansiedade).
Embora em alguns órgãos de trânsito esse processo seja re-
duzido apenas a realização da etapa de testagem, a legislação vi-
gente determina que na perícia psicológica realizada no contex-
to do trânsito, a entrevista tem caráter individual e obrigatório.
A entrevista psicológica é uma conversação dirigida a um propó-
sito definido, cuja função básica é prover o avaliador de subsídios
técnicos acerca da conduta, comportamentos, conceitos, valores e
opiniões do candidato (CFP, 2019).
A realização da perícia psicológica no contexto do trânsito
tem como objetivo primordial a segurança no trânsito e a preven-
ção de acidentes, identificando, portanto, quem está apto para a
aquisição da Carteira Nacional de Habilitação. Dessa maneira,
o(a) psicólogo(a) atua de forma preventiva e preditiva no proces-
so de avaliação psicológica, buscando interferir para que os mo-
toristas, e demais pessoas envolvidas no contexto do trânsito, não
se exponham a situações de perigo.
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da aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo, confor-
me a Lei nº 10.826/2003 e estabelecer procedimentos para a ava-
liação de profissões previstas na lei; e (2) o Conselho Federal de
Psicologia que tem como função orientar o exercício profissional,
o que é materializado por meio de resoluções específicas para ca-
da prática (CFP, 2022).
A Resolução CFP 01/2022 regulamenta a avaliação psicoló-
gica para concessão de registro e porte de arma de fogo e preconi-
za que o psicólogo deve avaliar as seguintes características psico-
lógicas: Aspectos cognitivos (processos atencionais; nível intelec-
tual; controle inibitório e planejamento); Traços de personalidade
(agressividade, ansiedade e indicador de quaisquer transtornos que
impliquem prejuízos de autocontrole); Juízo crítico e comporta-
mento (ações, reações e decisões adequadas às situações-problema
apresentadas que envolvam o uso de arma de fogo) (CFP, 2022).
A instrução normativa nº 78 (Polícia Federal, 2014) esta-
belece uma bateria mínima de testes na aferição das caracterís-
ticas de personalidade e habilidades específicas dos usuários de
arma de fogo, a saber: um teste projetivo, um expressivo, um de
memória, um de atenção difusa e concentrada, além da entrevis-
ta semiestruturada. Não determina os instrumentos a serem uti-
lizados, porém define as áreas essenciais a serem avaliadas como:
personalidade, memória, atenção e contexto sócio-histórico, pos-
sibilitando que o psicólogo escolha as técnicas que tem maior ca-
pacitação e experiência (Resende, 2019).
Contexto Educacional
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lidade dos processos cognitivos e os possíveis obstáculos que po-
dem interferir no desenvolvimento da capacidade de aquisição de
novos conhecimentos. Já o segundo não se constitui em uma ava-
liação propriamente dita, mas numa observação sistemática fei-
ta pelo psicólogo escolar de questões mais genéricas, com fins de
encaminhamento do estudante para uma avaliação clínica mais
específica (Botture, 2016).
Geralmente, a avaliação psicológica em contexto educacional
tem como foco a identificação de questões cognitivas: atrasos no
desenvolvimento, dificuldades ou transtornos de aprendizagem ou
mesmo a identificação de superdotação. Em alguns casos também
são identificadas questões emocionais ou relacionais, que podem
interferir direta ou indiretamente no processo de aprendizagem e
no desempenho escolar do estudante, por isso o uso de instrumen-
tos nem sempre se restringe ao âmbito cognitivo (Takei, 2019).
É necessário destacar que, apesar de apresentarem deman-
das oriundas do contexto escolar, normalmente o processo ava-
liativo é realizado em contexto clínico. O psicólogo escolar ape-
nas identifica a demanda e encaminha o caso a um profissional
que não esteja diretamente envolvido com o cotidiano da escola.
O mesmo ocorre no caso de orientações vocacionais, onde o pro-
fissional inserido no contexto escolar identifica a dificuldade do
adolescente em escolher a futura profissão, e diante da necessida-
de encaminha para avaliação que será realizada também em con-
texto clínico.
Contexto Cirúrgico
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plos. Em cada caso, o profissional deve avaliar as condições psí-
quicas do paciente em lidar com o procedimento médico, sua es-
trutura psíquica para lidar com as consequências e pós-operatório
que, muitas vezes, pode exigir um novo estilo de vida, resiliên-
cia do paciente em dimensões afetiva, social, econômica e pessoal
(Capitão et al., 2005).
Para Kohlsdorf (2012), nesse cenário o psicólogo atua com
psicoeducação, objetivando orientar, esclarecer, desmitificar sobre
a situação do paciente, o procedimento a ser submetido e o pós-
operatório. Desta forma, requer adequado conhecimento acerca
da fisiologia humana, do procedimento médico a ser realizado,
da compreensão dos motivos, impactos e possíveis mudanças pa-
ra o sujeito.
Especificamente, no contexto da cirurgia bariátrica, o psi-
cólogo atua preventivamente, a partir da solicitação médica, na
identificação de problemáticas ou conflitos psicológicos que pos-
sam dificultar a recuperação do paciente, prevenindo o insucesso
causado por essas variáveis (Mäder, 2016).
Flores (2014) destaca que o psicólogo deve estar atento para
a ausência de uso de substâncias, bem como de quadros psicóticos
ou demenciais. Devem ainda se certificar de que o paciente possui
nível intelectual e cognitivo de compreensão acerca dos riscos da
cirurgia e dos cuidados inerentes a esse procedimento no período
do pós-operatório imediato e em longo prazo.
Já em relação à cirurgia de redesignação sexual, a Resolu-
ção nº 1955/2010 (CFM, 2010) estabelece que a seleção de pa-
cientes para esse tipo de cirurgia obedecerá à avaliação de equipe
multidisciplinar, constituída por diversos profissionais, entre eles
o psicólogo, e que deverá haver pelo menos dois anos de acom-
panhamento por parte dessa equipe para o preparo do candidato
à cirurgia.
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A respeito da avaliação psicológica para vasectomia e la-
queadura, a Lei do Planejamento Familiar nº 9263/1996 (Brasil,
1996) afirma que é obrigação do governo disponibilizar orienta-
ções e métodos anticoncepcionais para os cidadãos, prevendo a
possibilidade de esterilização de homens e mulheres com capa-
cidade civil plena e maiores de vinte e cinco anos de idade, com
dois filhos vivos. Assim, alguns hospitais e serviços médicos par-
ticulares solicitam a avaliação psicológica prévia desses sujeitos,
especialmente para verificar a adequada e correta decisão do in-
teressado.
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de um encontro, solicitar a presença do grupo de apoio do entre-
vistado, ou até providenciar o encaminhamento para atendimen-
to psicoterápico ou para outros profissionais da saúde, se neces-
sário (Santos, 2014).
Além da realização da entrevista devolutiva, onde é realizada
essa comunicação oral dos resultados, o psicólogo deve entregar
um documento conclusivo acerca do processo avaliativo. Nesse
contexto, o Conselho Federal de Psicologia, no uso das suas atri-
buições legais e regimentais, publicou a Resolução CFP 06/2019,
que institui as regras para a elaboração de documentos escritos
produzidos pelo psicólogo no seu exercício profissional. A finali-
dade dessa legislação é orientar o profissional, fornecendo os sub-
sídios éticos e técnicos necessários para a produção qualificada da
comunicação escrita.
Conforme a referida legislação, existem cinco tipos de docu-
mentos que o profissional psicólogo pode ser solicitado a elaborar.
São eles: (1) Declaração; (2) Atestado Psicológico; (3) Relatório
(psicológico ou multiprofissional); (4) Laudo Psicológico; e (5)
Parecer Psicológico (CFP, 2019). Após a realização do processo
de avaliação psicológica, os psicólogos mais comumente têm ela-
borado atestados ou laudos psicológicos, dependendo da solicita-
ção da demanda.
O atestado psicólogo é um documento que certifica, com
base em um diagnóstico psicológico, uma determinada situação,
estado ou funcionamento psicológico. Presta-se também a comu-
nicar o diagnóstico de condições mentais que incapacitem a pes-
soa atendida, com a finalidade de: justificar faltas e impedimen-
tos; justificar estar apto ou não para atividades específicas (manu-
sear arma de fogo, dirigir veículo motorizado no trânsito, assumir
cargo público ou privado, entre outros); solicitar afastamento e/
ou dispensa, subsidiada na afirmação atestada do fato. Quanto a
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estrutura, o CFP determina que as informações sejam registradas
em texto corrido, separadas apenas pela pontuação, sem parágra-
fos, evitando, com isso, riscos de adulteração. Deve conter o nome
da pessoa ou instituição atendida; o nome do solicitante; a finali-
dade, bem como descrição das condições psicológicas do benefi-
ciário do processo de avaliação psicológica realizado (CFP, 2019).
O laudo psicológico, por sua vez, representa o resultado de
um processo de avaliação psicológica e tem como finalidade sub-
sidiar decisões relacionadas ao contexto em que surgiu a demanda.
Esse documento deve apresentar informações técnicas e científi-
cas dos fenômenos psicológicos, considerando os condicionantes
históricos e sociais da pessoa, grupo ou instituição atendida. No
que concerne a sua estrutura, o laudo psicológico deve elaborado
considerando-se seis itens: Identificação, Descrição da Deman-
da, Procedimento, Análise, Conclusão e Referências (CFP, 2019).
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pacitação, especialização, mestrado e doutorado na área. Tal fa-
to reflete tanto um maior interesse dos profissionais pela avalia-
ção psicológica, como também uma maior necessidade de atuação
do profissional. De acordo com o levantamento realizado pelo
Conselho Federal de Psicologia (CensoPsi 2022), os profissionais
que atuam no contexto da avaliação psicológica correspondem a
11,8% dos psicólogos atuantes no Brasil; um número ainda con-
siderado baixo em relação a outras áreas de atuação da psicologia,
onde há majoritariamente maior interesse pelo contexto da psi-
cologia clínica.
Apesar de todos os avanços constatados na área da avaliação
psicológica, sobretudo após a criação do SATEPSI - Sistema de
Avaliação dos Testes Psicológicos, ainda existem desafios a serem
superados, sendo um deles relacionados a elaboração, validação
ou adaptação de testes psicológicos. Segundo dados do CensoPsi
(2022), a escassez de instrumentos psicológicos específicos para
algumas demandas foi apontada por cerca de 36% dos psicólogos
atuantes nessa área. Dessa forma, se reconhece um crescimento
considerável na quantidade de instrumentos disponíveis, bem co-
mo da melhoria de sua qualidade, porém ainda existem demandas
específicas para as quais os psicólogos ainda não dispõem de um
instrumento de avaliação específico.
Por fim, destacam-se ainda dois desafios, a saber: as difi-
culdades de fiscalização e punição do uso inadequado dos testes
psicológicos, bem como a desmistificação dos propósitos e da ne-
cessidade da avaliação psicológica. Nesse contexto, é de extrema
importância a atuação do Sistema Conselho (Conselho Federal e
Conselhos Regionais de Psicologia) para a reversibilidade do ce-
nário em questão e para a melhor qualidade e abrangência da ava-
liação psicológica no país.
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Considerações Finais
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de psicologia deve proporcionar-lhe experiências teórico-práticas
em diferentes áreas de atuação do psicólogo, afim de proporcio-
nar o desenvolvimento de habilidades e competências para uma
atuação ética.
Referências
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