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Sala de Leitura

Formação de leitores

1. Justificativa

Uma vez que os Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino fundamental destinam-
se a todos os brasileiros e objetivam alcançar e fortalecer a meta maior que é a formação do
cidadão participativo e reflexivo o Colégio La Salle Abel apresenta o projeto, a Sala de Leitura
1, que valoriza a leitura como fonte de fruição estética e entretenimento.
Interagir com o texto é exercitar a cidadania, é revelar-se como participante das práticas
sociais, promovendo a polinização do contemplamento da nossa língua maternal em uma
reflexão de seus diferentes usos.

2. Fundamentação teórica

Os objetivos da Sala de Leitura são reconhecer o valor da Língua Portuguesa como meio
de transmissão de cultura, de sensibilizar o leitor desenvolvendo a atitude crítica, a capacidade
de questionar e argumentar, estimular o interesse e a iniciativa na leitura dos diversos gêneros
textuais compartilhando ideias e a socialização das experiências de leituras.
A Sala de Leitura do La Salle Abel realiza, nos últimos anos, um trabalho comprometido
no processamento da reflexão do texto com significações profundas e transformadoras,
objetivando, no processo, a percepção do universo do livro e o desenvolvimento das capacidades
cognitivas e afetivas.
Acreditamos na força da literatura como alavanca de mudanças da realidade social.
O contato das crianças com o universo literário, formalizada e sistematizada no ambiente
escolar, nutre de afetividade e conhecimento o leitor.
Quando se abre, para o leitor, a possibilidade de viajar na magia da linguagem literária, a
sua consciência se expande com o convívio com o novo e responde de maneira criativa e
inventiva.
Nessa perspectiva, a partir da asseveração de que “o ato de ler não se esgota na
decodificação pura da palavra escrita, mas se antecipa e se alonga na inteligência do mundo”
(FREIRE, 1984:11), as práticas de leitura valorizam a apropriação dos meios de produção e de
circulação dos conhecimentos porque sua causa é a dignidade da pessoa humana.
A beleza da palavra exerce movimento pela trajetória lúdica colorindo de fantasia, de
sustento para o sonho, dotada de poder comunicativo.
A Sala de Leitura 1 constantemente reflete sobre “o que é ler” (FOUCAMBERT, 1994)
reconhecendo a necessidade do educador conhecer a natureza do texto, sua essencialidade, sua
potencialidade e força afetiva como afirma Cervantes Hernándes (2010) que se o “professor
quiser tocar ou mover os corações de seus alunos, terá de adotar um modelo pedagógico afetivo
para promover os bons relacionamentos intrapessoais, interpessoais e transpessoais”.

3. Objetivos

• Valorizar os usos da linguagem que o leitor conhece ao iniciar na Sala de Leitura.


• Promover contextos de uso da Língua Portuguesa de modo a proporcionar aos alunos a
participação social exercitando sua cidadania.
• Refletir sobre a importância e os usos sociais da linguagem garantindo o
desenvolvimento de competências e habilidades para participar das práticas letradas.
• Debater assuntos pontuados pelos diversos tipos de textos para desenvolver
habilidades de argumentação.
• Priorizar as competências observadas nos leitores desenvolvendo estratégias para um
convívio estimulante com o texto.
• Desenvolver a essência da leitura ativa, motivando o leitor a questionar, criticar,
dialogar, inferir e relacionar diversos textos e contextos.

4. Conteúdos e Metodologia

Para Vygotsky, o desenvolvimento do pensamento é determinado pela linguagem e pela


experiência sociocultural da criança. Nesse contexto, a formação do ser leitor é edificada por
conteúdos essenciais para a formação humanista.
Como afirma a nossa Constituição Federal devemos construir uma sociedade livre e
solidária, promovendo o bem de todos, a cidadania e os valores sociais. A Sala de Leitura 1 em
seu projeto promove a reflexão ética de diversos Temas Transversais dos Parâmetros
Curriculares Nacionais, a ética: para inspirar a equidade, o respeito mútuo e o diálogo, a
pluralidade cultural: para reconhecer e admirar a riqueza da diversidade etnocultural, o meio
ambiente: para discutir, apresentar ações e definir princípios de preservação e melhoria do
ambiente natural.
Na sala de leitura, o projeto da Ciranda Literária não se identifica com caráter
obrigatório, de espírito árido e estéril, não se define como simples domínio robotizado do ato de
ler. Ler é exteriorizar competências exercitando a imaginação fazendo o emergir do filosofar,
compartilhando questões em uma comunidade de diálogo.
O ambiente da Sala de Leitura 1 é formado por almofadas e não carteiras, com estantes
flotantes e um palco.
A Ciranda Literária consiste em compartilhar livros de diversos gêneros literários como
fábulas, crônicas, poemas, reportagens, textos de iniciação científica, biográficos, manuais,
textos de opinião, clássicos, narrativos ficcionais, textos não verbais, que formam um acervo dos
próprios alunos, já que cada aluno colabora com dois títulos. Cada turma do segundo ano e do
terceiro ano do ensino fundamental tem em média trinta alunos, cada leitor terá ao final do ano
lido os seus livros e os de seus colegas além dos títulos da própria Sala de Leitura. Mais
importante que o quantitativo é a prática cotidiana que é uma viagem ao reino literário infantil.
Nosso trabalho é o de investigar e refletir sobre a arte de ler priorizando o interativo
diálogo entre os leitores nutrindo a experiência de uma leitura crítica.
Com base nesses princípios, a proposta de trabalho da Sala de Leitura é acompanhar a
crescimento do ser leitor através de atividades não de interpretação de textos e sim de instigar a
cada novo ato de leitura uma descoberta impulsionando o imaginário do leitor, viabilizada pela
nascente da linguagem fértil.
Muitas atividades colaboram para que a experiência e a convivência com arte literária
apresente resultados positivos. Na Sala de Leitura 1, a criança é estimulada a desempenhar um
papel protagonista apropriando-se e construindo os diversos sentidos que estão subjacentes ao
texto.
O papel do professor da Sala de Leitura é de ser o mediador tanto no envolvimento
afetivo com o livro, como a realização de práticas de leitura em que o leitor dialoga com o
livro/texto.
Durante o ano letivo são promovidos espaços e momentos para contação de histórias e de
leituras compartilhadas entre alunos e responsáveis.
Os momentos de reescritura de contos ou fábulas numa abordagem mais solidária e ética
são vivenciados na identidade institucional lassalista. Reescrever estes contos em que uma
personagem sofre preconceito ou discriminação como o Patinho Feio ou A cigarra e a formiga
inspira a construção de uma sociedade mais fraterna.
A atividade de construção de jogos com seus respectivos manuais de instruções é
desenvolvida com o tema sustentabilidade, para que a mudança de atitude seja manipulada por
alunos e familiares, já que os jogos envolvem atitudes concretas em benefício do meio ambiente.
O júri simulado para fortalecer a habilidade de argumentação é praticado quando
comprometemos os alunos com a temática indígena mostrando que ainda existe grupos isolados
na Amazônia brasileira com o uso de vídeos (SURVIVEL – www.uncontactedtribes.org) e das
lendas que fundam espaços para atividades de expressão, combinados com espaços de discussão.
As atividades de mudanças de gênero são usadas como meio para a transformação de
livros como o Apólogo de Machado de Assis em texto de humor, uma história em quadrinhos,
um poema ou até em literatura de cordel.
Nos últimos anos os temas que mais motivaram a participação dos alunos destacamos a
homenagem a Dorival Caymmi e ao centenário de Carlitos. Nossos pequenos lassalistas
pesquisaram utilizando-se textos, imagens, vídeos e documentários e compartilharam momentos
de leitura da poesia popular repleta de riqueza melódica de Caymmi, este que conquistou a
admiração de nossos pequeninos. Todos compreenderam a liberdade poética ao ler, cantar e
dançar “Saudade da Bahia” e “O samba da minha terra”.
Na homenagem ao Charles Chaplin pela criação de Carlitos os alunos apreciaram o
primeiro filme de Chaplin caracterizando Carlitos “A corrida de meninos”, um filme preto e
branco, mudo e que para as crianças foi o melhor filme que já assistiram. Nesta atividade
confrontaram o vestuário, a tecnologia da época e a genialidade de Chaplin registrando suas
conclusões sobre a alegria da comédia pastelão.
Muitos poetas foram analisados, pesquisados, conhecidos e reconhecidos pela beleza
poética, homens e mulheres que iluminaram o caminho da boa leitura. Os mais agraciados com o
interesse foram Carlos Drummond de Andrade, com sua liberdade linguística, Cora Coralina
que, como as crianças mesmo concluíram era a simplicidade do interior brasileiro em forma de
versos.
Outros poetas, como Gonçalves Dias e Manuel Bandeira, um nacionalista e um
representante da celebração modernista, que para surpresa de muitos foram admirados por um
grupo representativo de leitores do terceiro ano do ensino fundamental. Os alunos não
esqueceram da nossa Cecília Meireles com sua poesia atemporal e Clarice Lispector a misteriosa
literata.
Todos esses nomes da nossa literatura foram homenageados com leitura, diálogos,
pesquisas, vídeos, visitas virtuais (ao Museu Cora Coralina) e uma apresentação para mais e
quinhentos convidados no Teatro Abel com leitores declamando e personificando seus mestres
literatos.
Outro gênero textual apresentado nos últimos anos em nossa Sala de Leitura foi carta
pessoal. O trabalho desenvolvido “Cartas da Nossa História” culminou na apresentação para
nobilitar as cartas que foram historicamente significativas para nosso país. A carta de Pero Vaz
de Caminha ao rei, o marco inicial da obra literária em terras brasileiras. As cartas de Monteiro
Lobato aos amigos, fãs e, principalmente, crianças. E como não poderíamos deixar de agregar
valor aos clássicos da literatura foram oportunizadas situações de conhecimento das adaptações
de Monteiro Lobato de inúmeras obras sem mutilar o texto como outros autores que foram
apresentados aos leitores.
E para privilegiar a temática afro-brasileira e a contribuição histórico-social dos
descendentes foi manifestada preferência pela leitura e análise da carta da Princesa Isabel ao seu
pai D. Pedro II contando da euforia que tomou conta da cidade ao assinar a Lei Áurea. Para a
conclusão deste projeto os leitores redigiram um texto jornalístico que foi enriquecido com a
leitura e a investigação dos trechos das cartas entre Drummond e Mário de Andrade sobre
angústias e engrandecimento do povo/raça brasileira.

5. Tempo de realização da experiência

O Projeto Sala de Leitura 1 acontece todos os anos no Colégio La Salle Abel com o
compromisso semanal de uma aula para cada turma.

6. Ano de escolaridade envolvido com a Sala de Leitura 1

Os grupos de leitores que participam deste projeto são os alunos do segundo ano e do
terceiro ano do Ensino Fundamental I.
7. Avaliação

Esse projeto adota um conceito de avaliação opositor a hierarquização dos alunos. A


avaliação do trabalho é uma pratica educativa que favorece o reconhecimento possibilitando um
diagnóstico através de registro do percurso de cada leitor.
Nosso trabalho concorda com o ponto de vista de Cipriano Luckesi, para quem a
avaliação “é uma atividade que não existe nem subsiste por si mesma”. A avaliação é processual
neste espaço de genuína inquietação e de dinâmicas criativas, é um instrumento que a cada
atividade, redireciona os objetivos, as estratégias e a metodologia utilizada.
A nossa Sala de Leitura, pela riqueza de atividades que oferece, permite uma variedade
de instrumentos de avaliação, que vão desde a verificação da progressão do letramento até a
produção, pesquisas, trabalhos, representações, exposições e outros.

8. Relatório dos resultados

Enriquecer desejos é o fio condutor de todo o trabalho da Sala de Leitura que num
ambiente encantadoramente misterioso, atiça a atividade perguntadora e a habilidade criativa dos
leitores, num processo de libertação, de sensibilização, para cada aluno construir sua própria
história.
Nossos alunos ao participar de concursos de poesias ou de outros tipos de produção
textual promovidos por Academias ou Associações de Escritores apresentam sempre excelentes
resultados, mas nossa maior conquista é efetivada ao observar a formação das nossas crianças e
de seus responsáveis em leitores que apreciam o bom texto.
A essência da Sala de Leitura é que seus participantes levem a cultura para seus
semelhantes, porque acreditamos que depois de acariciado pela beleza da leitura é impossível
olvidar. A afetividade literária é o resultado que observamos em todos os projetos desenvolvidos,
fecundando na família e amigos a semente aromática da imaginação e da apreciação do livro.

Professora Sandra Rocha de Abreu

9. Referências

CERVABTES HERNANDES, José. Tocar os corações. Porto Alegre: Rede La Salle, 2010

CHIAPPINI, Ligia. Aprender e ensinar com textos. São Paulo: Cortez, 2002

FOUCAMBERT, Jean. A leitura em questão. Tradução de Bruno Charles Magne. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1994

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 1984

JOLIBERT, Josette. Formando crianças leitoras. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994

LUCKESI, Cipriano Carlos. Prática docente e avaliação. Rio de Janeiro: ABT, 1990

PROVÍNCIA LA SALLE BRASIL-CHILE. Proposta Educativa Lassalista: Setor de


Comunicação e Marketing da Província La Salle Brasil-Chile, 2014

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais:


apresentação dos Tema Transversais. Brasília: MEC/SEF, 1997

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. Tradução de Jeferson Luiz Camargo. São Paulo,


Martins Fontes, 1993

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