43 Ciclo de Formação Do Professor Rio Grande
43 Ciclo de Formação Do Professor Rio Grande
43 Ciclo de Formação Do Professor Rio Grande
RIO GRANDE
2016
2
Rio Grande
2016
3
1
Paulo Freire.
6
Agradecimentos
Aos meus pais, Maria e Flávio, pelo peito aberto, ouvidos carinhosos e amor
incondicional que investem em minha felicidade e de meu irmão. Ao meu irmão
Arthur, pela parceria na vida, nas lutas e nas utopias. Seguiremos lado a lado, até o
fim. Ao Wagner, por todo o apoio durante o processo e pelos debates e comentários
sempre preciosos com que me presenteou ao longo do percurso.
Aos professores e professoras de minha família, pelo exemplo e pela ousadia
de eleger a educação como carreira em tempos de desconfiança e desvalorização.
E a todos os meus familiares pelo incentivo e boas energias que transmitiram
durante o curso.
Ao meu orientador, professor Jose Luís Giovanoni Fornos, pela coragem de
abraçar a causa do ensino de literatura no município, a despeito de todos os
desafios que enfrentamos. Pela generosidade no trato, pelo bom humor (quase)
constante, pelos inúmeros cafés “carioquinha” na Livraria Vanguarda,
acompanhados de conversas leves e sem qualquer traço de autoritarismo. Por ser
um exemplo de intelectual, de educador e de ser humano, que se alegra
genuinamente com as conquistas de seus estudantes, estimulando sua autonomia e
liberdade pelos caminhos da pesquisa.
Ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio
Grande (FURG), pelas condições para o desenvolvimento do trabalho. Às agências
de fomento à pesquisa CNPQ/CAPES, pela bolsa de estudos concedida durante os
quatro anos do curso, o que permitiu a redução de minha carga horária no trabalho e
o maior tempo de dedicação a esta investigação.
Aos professores Gabriela Fernanda Cé Luft e Mauro Nicola Póvoas, pelas
ricas contribuições e pela leitura atenta na ocasião do exame de qualificação. À
professora Elisabeth Schmidt, pela gentileza e afeto com que aceitou compor a
banca da defesa final.
7
RESUMO
RÉSUMÉ
ABSTRACT
The present study investigates the main agents involved in teacher training process
and Literature teaching of the City of Rio Grande, RS. The research aims to initially
discuss the theoretical aspects related to the schooling of literature, especially in the
Brazilian context, among with the formation of readers and the concept of reading.
Addresses also the crisis in the teaching of this subject and suggests possible
alternative paths, with special attention to the contribution of the reception aesthetics.
Regarding the intervention performed, were considered subjects/objects of this
research: students and teachers of languages school at the Federal University of Rio
Grande (FURG) and active teachers in state schools in the municipality. As data
collecting instruments were used questionnaires, in a considered exploratory phase,
and interviews with state educators in the second phase. In the first stage it was
sought to draw an average profile of the literature teacher of the basic education
network and analyze the process of formation of language undergrads at the
beginning and end of the course. Information obtained from two college professors
were also relevant. In the second stage, four state school teachers were selected
through zoning in the municipality and interviewed in a qualitative perspective of
interactive bias. The scope was to analyze the relationship between reading habits,
teacher training, curriculum guidelines, current legislation, academic and teaching
practices and research of each group under analysis, pursuing to highlight possible
imbalances and collate the methodological proposal of the university with the practice
of secondary schools. In this sense, it is intended to promote and increase the
dialogue about the evident gap between higher education, represented by the
university, and basic education in a municipality context.
DA – Diretório Acadêmico
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE QUADROS
SUMÁRIO
Considerações iniciais 17
Referências 228
Apêndices 238
Anexos 278
17
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A motivação para este estudo é fruto de minha prática diária: sou professora
na rede municipal de educação em Rio Grande, RS, e, na condição de docente,
ouço com frequência pelo menos duas das perguntas mais recorrentes entre nossos
estudantes, em qualquer área ou nível do conhecimento: para que temos de estudar
isso? Onde iremos “aplicar” essa grande quantidade de informações que recebemos
na escola?
Dessas dúvidas, para as quais muitas vezes não temos resposta, adveio
outra, bem mais específica e provocadora: em um cenário sociopolítico que valoriza
a formação técnica e profissionalizante2, qual o lugar da literatura? Seria a escola,
por meio de uma disciplina de caráter obrigatório para o ensino médio, a maior
responsável por definir o espaço social ocupado pela leitura do texto literário?
E mais: em um contexto digitalizado, de hipervelocidade da informação,
pautado pela imagem e no qual tudo tem aparência de espetáculo, teriam os livros e
a leitura apelo suficiente junto ao público mais jovem? Ou ainda: como selecionar as
obras, como definir o “cânone escolar”? Seria essa dificuldade de seleção a grande
responsável pelo desinteresse dos estudantes diante da leitura de literatura?
Diversos estudos3 vêm sendo realizados nesse âmbito, sobretudo após a
década de 1980, no que diz respeito à leitura, ao letramento literário e ao caráter
mediador do professor. Não raro, reflexões apocalípticas apontam para o fim do livro
e dos leitores, concluindo que os jovens não leem “Literatura” 4 fora da escola.
Outros, mais atentos, admitem que os adolescentes têm lido (e muito!), embora suas
escolhas, comumente ligadas às leis do mercado e do consumo, nem sempre levem
em consideração as sugestões do professor que, via de regra, sem tempo para
realizar as próprias leituras e desatualizado com relação à metodologia adotada com
2
A referência é feita basicamente ao lugar ocupado pela literatura na organização do currículo
escolar. Embora seja uma disciplina tradicional, a carga horária destinada às aulas de literatura fica
restrita a uma ou duas horas/aula semanais, fato que evidencia um desequilíbrio entre as disciplinas
e denota uma determinada posição política por parte do poder público.
3
São fundamentais nesse caso as contribuições de Marisa Lajolo, Regina Zilberman, Márcia Abreu,
Vera Aguiar, Maria da Glória Bordini, Magda Soares, Lígia Chiappini, Rildo Cosson, William Roberto
Cereja, entre outros.
4
Como referência à literatura canonizada.
18
5
Narrativas (geralmente) em série, cujas temáticas envolvem grandes sagas, protagonizadas por
seres humanos e mitológicos, ou obras voltadas para o público adolescente, que retratam dilemas
típicos dessa faixa etária.
19
6
Tais questionamentos, bem como tantos outros presentes ao longo do trabalho, não constituem
necessariamente minhas questões de pesquisa (apontadas no decorrer do texto), mas contribuem
para a discussão do tema e exprimem certas dúvidas formuladas a partir do próprio ato da pesquisa.
7
Quando comparadas a pesquisas dedicadas à crítica literária ou à teoria da literatura.
8
Segundo matéria veiculada no portal “Uol Educação”, em 2013, entre os 21 países pesquisados, o
Brasil ocupava a penúltima posição no que tange ao respeito e à valorização dos educadores,
ganhando apenas de Israel. “Em cada país, os pesquisadores analisaram se a profissão é muito
procurada, qual é o status social dos professores e se os entrevistados acreditam que os alunos
respeitam os docentes. Os dados foram reunidos em um índice e, em seguida, classificados”. De
acordo com os dados obtidos, à pergunta “Gostaria que seus filhos fossem professores?”, apenas
20% dos entrevistados brasileiros responderam “sim”. Disponível em: <educação.uol.com.br>. Acesso
em: set. 2014.
9
Disponível em: <sejaumprofessor.mec.gov.br>. Acesso em: set. 2014.
20
10
Segundo Nicola Abbagnano (2007, p. 259), o termo crise se refere a uma série de transformações
decisivas em qualquer aspecto da vida social. Para o autor, uma época de crise é aquela que se opõe
a um período de organicidade ou estabilidade social. Em função do desequilíbrio, abre-se um abismo
entre o passado e o futuro, e o presente passa a ser identificado como uma fase de desorientação,
desconfiança ou desespero. Para J. Ferrater (2004, p. 615), a crise e as tentativas de solucioná-la
são simultâneas. Ferrater também faz referência às reflexões de Ortega y Gasset, que identifica as
seguintes características em um período de crise: hiperconsciência, aumento de possibilidades,
perplexidade, desarraigamento, desvanecimento de crenças, inadequação entre o vivido e o
desejado, inadequação entre teorias e práticas e proliferação de salvações parciais.
21
11
Com relação aos trabalhos acadêmicos a respeito do ensino de literatura realizados entre 1987 e
2012 e cadastrados no Banco de Teses e Dissertações da CAPES, consultar a tese de doutoramento
Retrato de uma disciplina ameaçada: a literatura nos documentos oficiais e no Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem), de Gabriela Fernanda Cé Luft (2014).
25
dos folhetins, ler foi, desde a antiguidade12, um hábito considerado perigoso. Assim
diz Regina Zilberman (2008), referindo-se à concepção em vigor no século XVII: “À
leitura intensiva se atribui grave delito: ela transtorna e transforma seu leitor.” (p. 21).
Tanto a Igreja Católica quanto os reformistas e críticos de sua doutrina
advertiam para os danos causados pelo excesso de leitura e alertavam para os
perigos de má interpretação das Sagradas Escrituras. A versão da Bíblia em língua
vernácula, acessível a um público maior, também representava uma ameaça à
educação e doutrinação dos jovens, na medida em que não mais aceitariam
qualquer argumento ou advertência como uma verdade supostamente advinda de
um texto bíblico. Já nas primeiras décadas da modernidade, a Europa presenciou a
expansão da tipografia e do mercado de livros, o que, consequentemente, fez
aumentar o contingente de leitores assíduos. Contudo, ler jamais deixou de
representar uma ameaça à ordem social, e resquícios dessa mentalidade ecoam
ainda em nossos dias.
Se, como em um ritual de iniciação, a capacidade de ler introduz e consolida o
sujeito em determinada comunidade – a dos leitores –, ao mesmo tempo emancipa o
indivíduo de suas predeterminações identitárias coletivas, de suas referências
familiares e culturais, antes principais determinantes de seu modo de pensar, agir e
estar no mundo.
E assim como é impossível conhecer essas histórias pessoais de leitores, é
imensamente árdua a tarefa de construir “a” história da leitura, na medida em que se
compõe das infinitas micro-histórias individuais. A propósito, seria equivocado
pensar que uma história dessa natureza fosse capaz de acompanhar a cronologia
da história política tradicional, por exemplo. Cada época e lugar conferiram valor e
relevância peculiares ao ato de ler, o que não pode ser narrado em uma sequência
temporal linear (MANGUEL, 1997).
Da mesma forma, uma história da leitura não poderia jamais ser submetida à
periodização ordenada de uma história da literatura clássica, já que, entre os
processos de produção, circulação e recepção/crítica de uma determinada obra,
aliados à construção do gosto e aos elementos locais, há mais mistérios e nuances
do que se possa supor. No caso do Brasil do século XIX, apenas para citar um
12
Segundo Zilberman (2008), o posicionamento contrário à leitura já aparece em Fedro, um dos
diálogos de Platão. Para o filósofo, ler textos de outrem resultaria em uma espécie de preguiça
mental, além de disseminar um “saber artificial”, o que impediria a formação de um pensamento
complexo e genuíno do indivíduo.
27
exemplo, há imensa distância entre o que era produzido em âmbito nacional e o que
as pessoas de fato liam13. Assim,
Uma história da leitura salta para frente até nosso tempo – até mim,
até minha experiência como leitor – e depois volta a uma página
antiga em um século estrangeiro e distante. Ela salta capítulos,
folheia, seleciona, relê, recusa-se a seguir uma ordem convencional.
(MANGUEL, 1997, p. 37)
A partir dessas considerações, talvez seja mais apropriado para efeito deste
estudo pensar as relações entre a leitura e a popularização do livro enquanto objeto
de desejo e consumo, para seguir relacionando esses fatores à escolarização do ato
de ler enquanto projeto social burguês. Sem pretensões totalizantes, portanto, é
possível situar na Europa do século XVIII a consolidação do hábito da leitura e do
consumo de livros de modo razoavelmente definitivo.
Nesse período, o continente europeu vivencia, com relativa ênfase, as
decorrências da revolução industrial, não restrita ao âmbito econômico e suas
mudanças tecnológicas irreversíveis, mas com reflexos nos diferentes níveis da vida
social. Na política, consolidam-se os governos democráticos, garantindo maior
participação popular na vida pública. No campo cultural, populariza-se o acesso à
educação nas cidades, fato que promoveu intensas transformações sociais, entre
elas, o acesso à leitura. Regina Zilberman assinala que essa revolução cultural
13
“No auge do Romantismo de caráter nacionalista brasileiro, o grande público deleitava-se com
romances estrangeiros” (Márcia Abreu, em palestra proferida ao Programa de Pós-Graduação em
Letras da FURG, em 2012).
28
14
O Marquês de Pombal, representante do despotismo esclarecido português, tinha como um de
seus principais objetivos intervencionistas transformar o reino lusitano em uma metrópole capitalista.
Assim, pôs em prática uma série de políticas públicas em Portugal e em suas colônias, conhecida
como a “Reforma Pombalina”. Entre esses atos estavam o fim da escravidão dos índios e a
permissão de uniões matrimoniais entre índios e portugueses. Consequentemente, foi determinada a
expulsão de muitos jesuítas, descontentes com a interferência do governo em questões relacionadas
aos povos indígenas. Com a expulsão dos religiosos, a educação passou a ser controlada
prioritariamente pelo Estado.
30
15
Através do Decreto n. 4.468, de fevereiro de 1870 – Ministro Paulino José Soares de Souza.
32
responsável por ameaçar a “ordem social”. As reuniões da UNE (União Nacional dos
Estudantes) tornaram-se ilegais e em seu lugar o governo estimulou a criação dos
DCEs (Diretório Central de Estudantes) e dos DAs (Diretório Acadêmico) de cada
curso superior, com o intuito de impedir organizações em nível nacional.
Dez anos depois da publicação da primeira Lei de Diretrizes e Bases para a
educação nacional (Lei n.º 4024/61), é publicada em 1971 a Lei n.º 5.692, durante o
governo do general Emílio Médici. A lei de 1971 previa as novas bases para a
educação e a regulamentação do ensino de primeiro e segundo graus. Ainda,
ampliava a obrigatoriedade escolar de quatro para oito anos, aglutinando os antigos
primário e ginasial e eliminando o exame admissional para o ginásio. De acordo com
o texto, é possível perceber a clara intenção de associar o segundo grau à
preparação para o trabalho, conforme se vê no artigo 5º, inciso II, alínea b 16:
16
Disponível em: <http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/L569271.htm>. Acesso em: nov. 2014.
34
17
Cursos que habilitavam professores para lecionar na Educação Infantil e no Ensino Fundamental,
com duração menor que as chamadas licenciaturas plenas. Foram instituídos a partir da LDB de
1971, com o objetivo de formar professores em curto prazo para atender a crescente demanda
nacional. Contrariando o propósito inicial que previa uma existência limitada e regionalizada, esses
cursos acabaram se proliferando pelo país e só foram definitivamente extintos com a LDB de 1996.
18
De acordo com dados do Mapa do analfabetismo no Brasil, publicado pelo INEP em 2003.
Disponível em <http://www.oei.es/quipu/brasil/estadisticas/analfabetismo2003.pdf>. Acesso em: set.
2014.
19
Atualmente corresponde ao ensino fundamental.
20
Atualmente corresponde ao ensino médio.
35
21
Clássica ou canônica.
36
22
Darcy Ribeiro (1922-1997) foi antropólogo, escritor e político brasileiro. Obteve destaque com
trabalhos em defesa da causa indígena e nas áreas da educação, antropologia e sociologia.
23
Vale assinalar que o PNE foi instituído pela primeira vez através da Lei n.º 10.172/2001, para
vigorar de 2001 a 2011. O atual PNE, composto de 20 metas e em vigência de 2014 a 2024, foi
instituído através da Lei n.º 13.065/14.
37
24
A consulta pública da primeira versão do texto elaborado pelo MEC para a BNCC foi concluída em
15 de março de 2016. O próximo passo é a apresentação da segunda versão, prevista para abril do
mesmo ano. A apresentação da versão final deverá ocorrer em junho de 2016. A primeira versão do
material prevê uma inversão na ordem cronológica tradicional das leituras literárias, ainda em voga
em grande parte das escolas e universidades. Segundo o texto, no primeiro ano do ensino médio o
aluno deve ser estimulado a “Ler produções literárias de autores da Literatura Brasileira
Contemporânea, percebendo a literatura como produção historicamente situada e, ainda assim,
atemporal e universal. Reconhecer, em produções literárias de autores da Literatura Brasileira, o
diálogo com questões contemporâneas (principalmente do jovem), em uma perspectiva de leitura
comparativa entre o local e o global, reconhecendo a literatura como uma forma de conhecimento de
si e do mundo. Interpretar e analisar obras africanas de língua portuguesa, bem como a literatura
indígena, reconhecendo a literatura como lugar de encontro de multiculturalidades. Reconhecer e
analisar os efeitos de sentido de algumas estratégias narrativas – como o foco narrativo, a
composição das personagens, a construção da ação, o tratamento do tempo – de modo a refinar a
leitura de narrativas literárias, considerando recursos linguísticos envolvidos na tessitura do texto
(como o tempo e pessoa do verbo, marcadores de temporalidade, adjetivação etc.). Compreender as
especificidades da linguagem literária em práticas de escrita criativa de gêneros narrativos e poéticos
(como contos, minicontos, crônicas, poemas etc.). Identificar os recursos sonoros e rítmicos (rimas,
aliterações, assonâncias, repetições), bem como elementos gráfico-visuais, reconhecendo os efeitos
de sentido que esses recursos podem envolver em práticas de leitura e oralização do texto poético”.
Já no segundo ano a proposta é “Ler produções literárias de autores da literatura brasileira dos
séculos XX e XIX, em diálogo com obras contemporâneas. Analisar narrativas literárias que envolvam
estratégias como enredo de cunho psicológico, tempo não linear, inovações nas formas de registrar
as falas dos personagens, diferentes vozes do texto, refletindo sobre os efeitos de sentido de tais
escolhas. Interpretar e analisar processos que envolvam a dimensão imagética do texto literário
(comparação, metáfora, metonímia, personificação, antíteses), a partir da leitura de textos em prosa
ou em verso, compreendendo os deslocamentos de sentido como parte fundamental da linguagem
literária”. Já no terceiro ano, as competências e habilidades concentram-se em “Ler produções
literárias de autores da literatura brasileira dos séculos XVIII, XVII e XVI, em diálogo com obras
contemporâneas. Analisar a interação que se estabelece entre a narrativa literária e o seu contexto
de produção (ideologias, vozes sociais, outros textos, tradições, discursos, movimentos culturais,
políticos etc.), considerando também o modo como a obra dialoga com o presente”. Disponível em:
<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/#/site/conhecaDisciplina?disciplina=AC_LIN&tipoEnsino=TE_
EM>. Acesso em: 16 mar. 2016.
38
25
“Art. 9º – A União incumbir-se-á de: IV – estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o
ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação
básica comum.” (LDB 9394/96).
39
26
Segundo informações obtidas no portal do INEP.
40
opção exclusiva pelo cânone tradicional, oferecido por grande parte dos manuais
didáticos, perde relevância diante da possibilidade de troca de experiências entre os
alunos e com a obra em si.
No entanto, para Neide Luzia de Rezende, as Orientações, apesar de seu
importante caráter revisionista em relação aos PCNEM, não foram recebidas com a
devida atenção por parte das instituições de ensino, permanecendo como mais um
documento não lido pela maioria dos educadores em atividade, principal público-alvo
do texto.
27
Disponível em: <www.portal.mec.gov.br>. Acesso em: set. 2014.
28
Alunos com deficiência, indígenas, quilombolas, estudantes de zona rural, além de estudantes com
liberdade assistida.
44
Fonte: www.observatoriodopne.org.br
29
Disponível em: <www.observatoriodopne.org.br>. Acesso em: set. 2014.
45
30
Segundo os últimos dados do IDEB, a média da proficiência de Língua Portuguesa dos alunos de
3ª série do ensino médio no Rio Grande do Sul é 272,96 pontos (de 150 a 375 pontos) – nível 6 em
uma escala de 9 níveis.
31
Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/pisa-programa-internacional-de-avaliacao-de-alunos>.
Acesso em: set. 2014.
32
Id., ibid.
47
Mas, que é ler, afinal? Decifrar símbolos, em uma sequência lógica? Ou ato
complexo, associado à produção de sentidos e à reflexão diante da sociedade e da
própria existência? Muitos são os conceitos, muitas as possibilidades de pensar a
leitura enquanto ato social, tantas vezes elitizado e de acesso restrito, instrumento
de abusos e coerção, de libertação e autonomia. Marisa Lajolo esclarece:
Em diálogo com Lajolo, Jean Marie Goulemot também defende a ideia de que
o ato de ler é responsável pela produção de sentidos, independentemente da
natureza do texto. A leitura, longe de ficar restrita aos bancos escolares, está
permeada por relações extratextuais, ligadas às situações cotidianas, coletivas ou
individuais. Para Goulemot, ler é
O sistema escolar, via de regra, classifica aquele aluno que não lê as obras
recomendadas pelo professor como um “não-leitor”, mesmo quando ele consome
diariamente textos classificados como “não-literários”, ligados aos seus interesses
individuais. E, ao considerar suas práticas como “não-leituras”, segundo Chartier
(1999), a escola perde a oportunidade de utilizá-las como suporte ou “porta de
entrada” para que o estudante acesse progressivamente leituras mais densas,
capazes de transformar sua visão de mundo, suas formas de agir e de pensar a
sociedade da qual faz parte.
No prefácio de Leituras no Brasil (1995), Márcia Abreu e Luiz Percival Britto
apresentam três falsas ideias comumente associadas à prática de leitura no país: a
primeira, que restringe o ato de ler à mera decodificação, quando o processo é muito
mais complexo e envolve um repertório prévio, que permite ao leitor interpretar e
ressignificar o que lê. A segunda, que relaciona o ato de ler à leitura do livro como
objeto sacralizado, desconsiderando outros suportes, como o e-book. A terceira, e
talvez a mais difundida, é a de que a população em geral lê pouco.
54
33
Segundo Luiz Costa Lima (2002), o marxismo fora reduzido a uma espécie de mecanicismo, o que,
na esfera da teoria literária, acarretava pouca ou nenhuma preocupação com a dimensão estética dos
textos, enquanto, no lado ocidental, o estruturalismo francês de base antropológica ganhava espaço,
o que afastava a literatura de sua face social. Por seu turno, o estruturalismo, na medida em que
desvinculava literatura e história, privilegiava a obra em sua dimensão textual. A obra, então,
demonstraria o potencial artístico do autor, mais como portador de um dom que como sujeito
socialmente marcado. Nesse sentido, o texto é analisado em seu potencial poético, nas marcas de
literariedade de sua linguagem, que deveria necessariamente divergir daquela utilizada na
comunicação ordinária.
57
elo entre literatura e sociedade. Ao legitimar como literários somente os textos que
refletissem a respeito dos conflitos sociais e das relações de poder, essa vertente
acabava por vincular a literatura a uma estética ligada ao conceito de classe.
A estética da recepção apresentava-se como uma alternativa a essas duas
correntes e a uma excessiva “intelectualização” dos estudos literários, apenas
focados no eixo obra-autor. Ao deslocar o foco de atenção para a instância do leitor,
como co-produtor de sentidos do texto, os teóricos da recepção propunham uma
análise orientada para o impacto ou efeito causado pelas obras na sociedade. Nas
palavras de Wolfgang Iser, “os anos 60 marcaram o fim de uma hermenêutica
ingênua da análise literária” (ISER, 1996, p. 7).
A aula inaugural de Hans Robert Jauss (1921-1997), em 1967, na
Universidade de Constança, é considerada a primeira das muitas manifestações do
grupo de estudo formado no começo da década, por ele, Iser e outros colegas
professores, em uma perspectiva interdisciplinar. O texto de Jauss alcançou grande
notoriedade, sobretudo a partir de sua publicação comercial em 1970.
Na palestra, intitulada O que é e com que fim se estuda a história da literatura
e publicada em versão ampliada como A história da literatura como provocação à
teoria literária, Jauss critica a forma como a história da literatura vinha sendo
abordada pela teoria literária. Para ele, ao priorizar as obras canônicas e seguir o
padrão descritivo clássico de “vida e obra”, cronologicamente, a história da literatura,
como era ensinada, desconsiderava a historicidade e o teor estético das obras, já
que
Para Iser (1996), o efeito estético somente pode ser concebido em sua
relação dialética entre texto e leitor. Em suas palavras, enquanto a teoria do efeito
está ancorada no texto, a estética da recepção ocupa-se dos juízos históricos dos
leitores. Uma obra só tem valor, seja em seu aspecto histórico, social, psicanalítico
ou estético, se for lida, o que torna o leitor o foco central para qualquer análise
literária:
Ainda com relação à análise literária, Iser argumenta que as perguntas que
fazemos necessitam ser reformuladas, no sentido de valorizar o texto enquanto “ser
constituído na consciência do leitor” (ISER, 1996, p. 51). Segundo ele, em vez de
perguntar o significado de um poema, drama ou romance, deveríamos nos
questionar a respeito do que sucede ao leitor, quando impulsiona “vida” a tais textos
através da leitura. A leitura, ao contrário de decifrar o sentido oculto no texto, deve
servir para evidenciar o potencial de sentidos contido na obra. A interpretação
tradicional, que pressupõe e direciona a conclusão do leitor, inibe sua experiência
criativa diante do texto.
Iser analisa as várias categorias de leitor apresentadas comumente pela
crítica literária, enfatizando a oposição entre um leitor “do passado” e um tipo,
segundo ele, bastante citado nos dias atuais, que ele chama de “leitor ideal”. O autor
desconsidera essa tipologia, em função de sua inviabilidade concreta. O leitor ideal
teria, necessariamente, que compartilhar com o autor o mesmo código de leitura,
conseguindo extrair do texto todo o seu potencial de sentido.
Como alternativa, Iser propõe a categoria de “leitor implícito”, que não tem
existência real, mas agrega as orientações textuais, como um trajeto de leituras
possíveis a ser percorrido por seus leitores possíveis. O leitor implícito integra a
estrutura textual, como elemento responsável por antever sua recepção pelo leitor
empírico. Entretanto, o autor esclarece: “a concepção do leitor implícito não é
abstração de um leitor real, mas condiciona sim uma tensão que se cumpre no leitor
real quando ele assume o papel” (ISER, 1996, p. 76). A construção de sentido de
60
cria o seu “autor”, a partir de estratégias textuais. Estas seriam as duas dimensões
da leitura, identificadas por Michèle Petit (2008): de um lado, o poder atribuído à
palavra escrita e, de outro, a irredutível liberdade do leitor diante desse poder.
Entretanto, segundo Eco, alguns conceitos seus foram reproduzidos sem o
devido cuidado e aquele papel limitado do leitor como construtor de sentidos em um
texto passou a ser visto como irrestrito. Em Interpretação e superinterpretação, ele
desabafa: “A leitura aberta que eu defendia era uma atividade provocada por uma
obra. Tenho a impressão de que, no decorrer das últimas décadas, os direitos dos
intérpretes foram exagerados” (ECO, 1993, p. 27). Nem todas as leituras são,
portanto, legitimadas, já que o texto impõe limites a serem respeitados.
A partir das reflexões aqui realizadas, importa destacar o trabalho de Bordini e
Aguiar (1993) em Literatura: a formação do leitor – alternativas metodológicas, uma
tentativa de orientar os docentes no planejamento de atividades com o texto literário,
em sintonia com os debates a respeito do desinteresse dos alunos pela leitura, cada
vez mais frequentes na época. Na obra, as autoras apontam para o despreparo de
grande parte dos educadores, que, aliado a uma metodologia retrógrada, resulta no
esvaziamento do ensino de literatura.
Amparadas nas ideias de Jauss e Iser, as autoras sugerem a elaboração de
um esquema didático em etapas, desde a determinação do horizonte de
expectativas de cada turma, passando pelo contato com obras que satisfaçam as
necessidades dos alunos e da atividade proposta, além da ruptura com esse mesmo
horizonte, por meio da exposição a textos novos, que abalem as concepções
construídas e desafiem os jovens, o que deverá culminar na criação de novos
horizontes de expectativa e na ampliação dos anteriores.
Nesse sentido, no ensino de literatura, a inserção dos pressupostos oriundos
da estética da recepção no planejamento das aulas, bem como no processo
avaliativo, garante a concepção de um novo paradigma, orientado para a relação
aluno-texto-leitura, além de considerar a possibilidade de inúmeras interpretações,
impressões e reações diante do objeto literário e seu impacto perante a turma.
O papel do aluno enquanto sujeito leitor e construtor de sentidos passa a ser
considerado nas aulas e a fórmula tradicional (ainda muito utilizada) de mera
identificação de uma possível “mensagem” uniforme, supostamente advinda do
texto, pode ser, afinal, abandonada. Essa opção metodológica permite também que
não mais se condene aquele estudante que porventura não tenha atingido a mesma
62
34
Título extraído da obra Filosofia mínima: ler, escrever, ensinar, aprender, de Luís Augusto Fischer
(2012, p. 39).
63
35
Texto que acompanha sua tradução de Aula, pela editora Cultrix.
66
para que serve? Que lugar ocupa no mundo de hoje? Sua escolarização é uma
causa a defender?
Antoine Compagnon (2009), em relação aos estudos literários, sustenta que,
para que sejam sérios e consistentes, devem considerar igualmente essenciais a
história, a teoria e a crítica, sob pena de resultarem em uma análise ingênua e
pouco confiável. Sobre o estudo de literatura nos dias atuais, o autor propõe uma
série de questões auxiliares para a compreensão de outra, mais densa: Há coisas
que somente a literatura, com seus meios específicos, pode oferecer? Isto é, que
valores o texto de ficção seria capaz de transmitir? Que espaço ocupa na esfera
pública? É útil para nossa vida? Deve ser mantida como disciplina escolar?
Ao realizar um diagnóstico do lugar ocupado pela literatura na
contemporaneidade, Compagnon considera que o tempo antes reservado à leitura
literária passou a ser compartilhado com outras mídias, sobretudo devido à
aceleração digital. Ao mesmo tempo, acredita que os livros didáticos “corroem” o
texto literário ao fragmentá-lo, desvalorizando a leitura integral da obra. O autor
assinala ainda que outras formas de representação cultural se consolidaram no
século XX, sendo a televisão (e hoje a internet) a mais significativa.
Se, desde o advento da modernidade, a literatura sofre ameaças e sobrevive
“sob suspeita”, o período foi igualmente responsável por uma imensa fertilidade
criativa e pela consolidação de um público leitor mais exigente, seleto e, por que
não, devoto. A crescente quantidade de novas publicações e reedições convive com
o frequente descaso pela leitura de literatura, em um paradoxo típico de nosso
contexto social.
O autor francês considera que, no lugar da pergunta feita por Eagleton – O
que é literatura? –, conceitual e abstrata, dever-se-ia pensar em outra, de natureza
mais pragmática: Literatura, para quê? Em defesa do ensino de literatura como
forma de acesso a todo o conhecimento acumulado pela humanidade, ele afirma:
“Um ensaio de Montaigne, uma tragédia de Racine, um poema de Baudelaire, o
romance de Proust nos ensinam mais sobre a vida do que longos tratados
científicos.” (COMPAGNON, 2009, p. 26).
Que espécie de poder é esse que emana da obra de ficção? Que faz com que
leiamos, ainda que não seja indispensável ao curso de nossas vidas? Umberto Eco
(2011) aponta a inutilidade do texto literário para a vida prática, quando afirma que
uma obra de ficção é lida por puro deleite, elevação do espírito, com o objetivo de
67
literatura?. Segundo o autor francês, ensinar literatura tendo a fruição estética dos
estudantes como única finalidade acarreta um duplo risco: estudar uma obra apenas
“para agradar” ou deixar de estudar outra por julgá-la pouco atraente ao público-
alvo. O prazer advindo do contato com a arte é essencialmente solitário, embora
seus efeitos possam ser compartilhados. Para Michèle Petit, o discurso de incentivo
à leitura, proferido por autoridades como pais ou professores, pode soar aos jovens
como uma tentativa de coerção ou domínio:
evidência, que dialogariam com a “realidade” dos alunos. Nesses casos, a literatura
é convertida em mais um entre tantos meios motivadores para discussões sem
qualquer relação com o texto em si. A leitura integral de obras clássicas, que deveria
ser incentivada nesse nível, raramente acontece.
No ensino médio, o jovem deveria ter acesso não somente aos clássicos, mas
a obras que, por uma razão ou outra, situam-se às margens do cânone tradicional
(selecionados pelo mediador e pelo grupo através de critérios oriundos de
discussões em sala de aula). Esse contato ampliaria seu repertório cultural
individual, além de sofisticar sua compreensão e estender seu nível de exigência,
tornando-o, progressivamente, um leitor independente e capaz de escolher as
próprias leituras.
Contudo, a metodologia com ênfase na periodização ainda prevalece em
grande parte dos programas escolares, baseada na premissa de que é necessário –
e função indispensável da escola – preparar seus estudantes para a realização de
vestibulares ou do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)36, como observa Rildo
Cosson:
Outra postura, de viés mais ortodoxo, é aquela que defende a leitura integral
dos clássicos nacionais, orientada cronologicamente pelo programa escolar, e sem
seleção mediada ou discussões a respeito da construção do cânone ou de
influências do mercado editorial, desconsiderando expectativas de boa parte dos
estudantes. Nessa concepção, as avaliações são realizadas por provas e fichas de
36
Ainda que o Enem tenha abandonado as listas de obras, não sendo mais “necessário” que se
tenha de fato lido determinados livros para a realização da prova, as escolas e os cursos
preparatórios para o exame seguem propondo como referência o estudo de clássicos da literatura
nacional, geralmente com base no cânone tradicional. Uma noção geral e sócio-histórica de cada
período literário parece ter ocupado o espaço antes destinado às questões internas às obras. A
respeito desse tema, é relevante consultar a tese Retrato de uma disciplina ameaçada: a literatura
nos documentos oficiais e no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), de Gabriela Luft.
75
37
É importante que a hora do conto seja realizada com frequência e de maneira adequada,
enfatizando o contato com o texto literário desde os primeiros anos da vida escolar, ainda que em
turmas pré-alfabetizadas. Familiarizar os pequenos estudantes com a obra de ficção é função dos
mediadores, já que, desse contato precoce, desenvolve-se uma relação íntima com a narrativa,
estimulando o gosto pela leitura. Para Jucelma Terezinha Neves Schneid, “As histórias formam o
gosto pela leitura. Quando a criança aprende a gostar de ouvir histórias contadas ou lidas, ela adquire
o impulso inicial que mais tarde a atrairá para a leitura. A contação de histórias deve existir para que
as crianças possam ser levadas ao texto original” (SCHNEID, s/d, p. 4). Disponível em:
<http://www.pucrs.br/edipucrs/CILLIJ/praticas/hora_do_conto.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2015.
38
Realização de avaliações extemporâneas, espaço para abrigar turmas cujo professor está ausente
ou mesmo para alunos que foram “retirados” da sala de aula por mau comportamento ou demais
razões.
76
Ao fim e ao cabo, não é literatura o que tem sido ensinado, mas uma história
tradicional e panorâmica dos períodos literários brasileiros, em ordem cronológica. A
postura resistente de muitos educadores e gestores escolares, independente de
esforços39 do poder público, é outro fator significativo para o fracasso evidente. Nos
últimos anos, grande quantidade de material de suporte à formação docente passou
a ser disponibilizado nas escolas40. Mas a dificuldade de apropriação dessas obras
por parte dos mediadores e a negação em participar de momentos de formação
continuada ainda prevalece em muitos casos.
Em uma espécie de paradoxo, ao mesmo tempo em que a crise no ensino de
literatura é evidente e corroborada em estudos acadêmicos oriundos de diferentes
áreas41, observa-se uma crescente onda de interesse por parte dos jovens em
consumir obras literárias, acompanhada de um incremento no mercado editorial.
Blogs e “coletivos artísticos” multiplicam-se; publicações independentes e eventos 42
ligados à produção literária chegam a cidades pequenas.
39
Com frequência, as publicações alternativas aos documentos oficiais, elaboradas tendo o professor
da rede básica como público-alvo, não apresentam o apelo adequado, seja pela linguagem
excessivamente formal, ou pela ausência de metodologias claras que possam ser aplicadas em
situações concretas em sala de aula.
40
As publicações de Cereja (2009), Maia (2007) e Brasil/SEB (2010), devidamente referenciadas ao
final deste trabalho, são exemplos de obras disponíveis nos acervos escolares e destinadas aos
professores de literatura da rede pública.
41
Educação, estudos literários, linguística, sociologia, entre outras.
42
Em 2015, no município do Rio Grande, ocorreu a primeira edição da FLIRG – Festa Literária do Rio
Grande. O evento foi promovido por meio de parceria entre a Secretaria de Município da Cultura
(SECULT) e o PPG em Letras da FURG. A programação contou com palestras, oficinas, lançamentos
de livros e sessões de autógrafos, além de uma pequena feira do livro. Escritores consagrados pela
crítica, como Luiz Antonio de Assis Brasil e Alcy Cheiuche, realizaram conferências. A festa também
promoveu oficinas e atividades relacionadas a música, cinema e quadrinhos, algumas delas voltadas
78
ao público infantil. No evento também foi lançado o edital do I Prêmio Apolinário Porto Alegre de
Literatura.
79
43
Produção de história em quadrinhos, teatro, adaptação da linguagem em outras variações,
reescrita colaborativa, entre outros.
44
Não faz sentido solicitar a alunos do ensino médio informações que identifiquem autor, editora, ano
de publicação etc. de forma não articulada com objetivos mais complexos.
80
importante quanto oportunizar o acesso às obras. Tempo para ler, segundo Anne-
Marie Chartier (2006), não é igual a tempo para os estudos. É preciso ter liberdade
para ir, voltar, acelerar ou fazer uma pausa.
Assim, o espaço da escola e o pouco tempo destinado ao ensino de literatura
não bastam para que o gosto pela leitura se estabeleça, sendo imprescindível que
se instituam outros ambientes e situações para leituras recreativas. E, sobretudo no
caso de jovens oriundos de meios populares, a criação desses espaços não pode
depender exclusivamente da família (muitas vezes sem os recursos necessários
para tal), mas de ações políticas para que seja viabilizada. Segundo Michèle Petit,
45
Expressão cunhada por Jorge Larrosa (apud DALVI, 2013, p. 76).
82
Outro elemento identificado pelo autor nas obras didáticas da década de 1970
foi o espaço concedido às ilustrações, fotos e reproduções de obras de arte, como
supostos facilitadores da aprendizagem. A razão para a profusão de imagens em
publicações antes unicamente textuais deve-se à necessidade, percebida pelo
mercado editorial da época, de adequar-se à era da imagem: “O aluno, habituado à
TV e às revistas em quadrinhos, resiste à página escrita, tendo dificuldade em captar
mensagens verbais.” (LINS, 1977, p. 134).
A presença de textos literários nos manuais do período é qualificada como
tímida, repetitiva e irresponsável. Através da análise de diversas obras, Lins
observou que determinados autores eram muito recorrentes, enquanto outros eram
brevemente mencionados, ou ocultados, como se jamais houvessem existido, como
o caso de Gregório de Matos e demais poetas “polêmicos”: por outro lado, aqueles
escritores cuja obra contemplasse a crônica jornalística figuravam como os mais
citados, caso de Carlos Drummond de Andrade e Fernando Sabino:
83
Para Lígia Chiappini (1983), o fato de o livro didático trazer respostas “bem
dosadas” seria o grande responsável por extinguir a capacidade criativa do
estudante diante do texto literário. Entretanto, otimista, ela sugere a invenção de um
antimanual ou um plurimanual, sem um saber engessado, estático, mas
caleidoscópico, sempre disposto a questionar em uma página o que foi dito na outra.
A autora admite que mudanças significativas tenham sido realizadas ao longo
dos anos, sobretudo no âmbito da linguística e da linguística aplicada. Todavia,
lamenta que na área da literatura as discussões a respeito de programas e do
ensino da disciplina em geral ainda sejam escassas e isoladas, restritas a análises
acadêmicas, sem a participação dos educadores da rede básica. De sua parte,
William Cereja observa:
46
Com exceção de uma escola, em que dois professores foram entrevistados.
47
Um para cada grande área do município.
48
Além de jovens recentemente egressos do ensino médio, o corpo discente do turno da noite
geralmente é composto por turmas heterogêneas, formadas por trabalhadores, estudantes oriundos
da EJA, entre outros.
87
49
Primeiro forte militar construído na região, a fim de garantir a presença lusitana no Rio Grande do
Sul. Era localizado próximo à atual Praça Sete de Setembro.
88
50
O acervo atual é de mais de 450 mil exemplares, com aproximadamente 2000 obras consideradas
raras. Informação disponível em: <http://www.riogrande.rs.gov.br/pagina/index.php/atrativos-turisticos/
detalhes+1695e,,biblioteca-rio-grandense.html >. Acesso em: fev. 2015.
89
51
Em 1° de maio de 1950, após um churrasco em comemoração ao Dia do Trabalhador, os operários
rio-grandinos, liderados por um grupo de militantes do movimento operário rio-grandino, saíram em
passeata reivindicando a reabertura da Sociedade União Operária, que fora fechada por ordem do
Ministro da Justiça. No caminho, um grupo de policiais interceptou a manifestação com o intuito de
impedi-la, gerando confronto, que resultou na morte de quatro operários e um policial. O episódio
ficou conhecido como “Massacre da Linha do Parque”, em referência ao local do ocorrido, assim
chamado porque ali havia uma linha de bondes que terminava no Parque Rio-Grandense, atual
Parque do Trabalhador. O escritor paraense Dalcídio Jurandir publicou o romance Linha do Parque
(1959), em que mescla história e ficção relacionadas ao episódio e ao movimento operário na cidade
do Rio Grande nessa época. A obra foi objeto de um estudo de mestrado vinculado ao PPG de
História da Literatura da FURG, de autoria de Carlos Roberto Cardoso Peres (2006).
52
Dados disponíveis em www.furg.br. Acesso em jul. 2014.
90
53
A instalação do “Porto Novo” data de 1909-1915.
54
De acordo com o site <www.educacao.rs.gov.br> (acesso em ago. 2014), o NEEJA não se
caracteriza como uma "escola", mas um espaço educativo no qual exames supletivos são ofertados a
jovens e adultos, a partir de uma análise e avaliação de seus estudos formais e informais realizados
no decorrer de sua vida pessoal, profissional e escolar.
91
55
Disponível em: <www.mec.gov.br>. Acesso em: nov. 2015.
56
Disponível em: <www.letras.furg.br>. Acesso em nov. 2015.
93
57
O quadro de sequência lógica de cada um dos cursos encontra-se nos anexos.
94
Além disso, o autor salienta que esse tipo de pesquisa requer uma relação de
partilha com pessoas, ambientes e fatos que constituem o objeto de estudo, para
que, desse convívio, se possam construir não só os significados visíveis, mas
também aqueles que habitam a esfera do não-dito e que somente se tornam
perceptíveis através de uma observação cautelosa. Em diálogo com Chizzotti (2006)
e, no que concerne ao estudo de práticas de leitura, formação de hábitos e/ou gosto,
entre outros fatores, importa observar o que diz Roger Chartier:
58
A pesquisa exploratória tem como objetivo dar uma explicação geral sobre determinado fenômeno,
geralmente constituindo uma primeira etapa de uma investigação mais ampla e aprofundada.
(OLIVEIRA, 2013, p.65)
96
59
Grande parte dos educadores contemplados alegou não dispor de tempo livre para conceder
entrevista fora dos seus horários de aula, em sua maioria por atuar em outras instituições de ensino
nos turnos inversos. O mesmo problema é evidenciado em diversos trabalhos acadêmicos que
envolvem educadores como sujeitos de pesquisa.
60
Os educadores de nível médio eram justamente o foco central desta investigação. A adaptação foi,
portanto, uma condição essencial para o prosseguimento da pesquisa.
97
61
No período de maio de 2013 a dezembro de 2013.
62
Um professor de cada escola da Rede Estadual de ensino médio do município, totalizando 13
escolas. Em uma das escolas foram entrevistados dois professores.
98
63
Os questionários na íntegra encontram-se nos apêndices A, B, C e D.
64
Basicamente em razão de incompatibilidade de horários ou a pedido do docente entrevistado.
65
Identificado pelo nome fornecido livremente pelo estudante, podendo corresponder ou não ao que
consta em seu registro civil. O item “nome” foi solicitado com o objetivo de cotejar os dados de 2013
com os de 2016, permitindo que se observassem (apenas para controle interno) quais alunos haviam
participado das duas etapas.
66
No caso do campo literário, por exemplo, é legítimo declarar-se leitor de Machado de Assis ou
Guimarães Rosa. Ao mesmo tempo, assumir-se leitor assíduo de best-sellers, livros espíritas ou de
autoajuda confere um valor diverso na categoria de leitor literário, de acordo com a posição ocupada
por ele no campo.
100
67
Alunos matriculados no primeiro ano dos cursos de Letras Português, Letras Português-Espanhol e
Letras Português-Francês (todos do turno da noite). Os dados foram coletados em duas aulas de
Introdução aos Estudos Literários, em maio de 2013. Em decorrência de uma greve, o ano letivo de
2013 teve início em 13 de maio.
68
Alunos matriculados no último ano do curso de Letras Português, Letras Português-Espanhol e
Português-Francês (todos do turno da noite). Os dados foram coletados em duas aulas de Teoria da
Literatura, em março de 2016.
101
Dados pessoais:
a) Quanto ao gênero:
b) Quanto à idade:
interesse por cursos de Letras, ainda que nem todas sinalizassem como prioridade
atuar na carreira docente, conforme informações coletadas entre os participantes.
Dos 76 participantes, 43% tinham entre 17 e 23 anos. O segundo grupo etário
tinha entre 24 e 30 anos (25%), seguido, sucessivamente, dos demais grupos de
menor à maior idade, conforme o gráfico abaixo. Apenas 2,6% dos alunos tinham
entre 52 e 58 anos de idade. Eram, portanto, estudantes jovens, em sua maioria,
cursando a primeira graduação. Apenas um estudante não revelou a idade.
c) Cidade natal:
69
Uma das possíveis justificativas para a incidência expressiva de estudantes oriundos do Rio de
Janeiro (capital e interior) é o fato de o município do Rio Grande sediar o 5.º Distrito Naval, desde
1985. Segundo informações coletadas no sítio eletrônico da Marinha do Brasil, desde 1942 o território
nacional foi dividido em cinco grandes regiões, ou distritos. O Rio de Janeiro é sede do 1º Distrito
Naval Brasileiro e envia, com frequência, integrantes da Marinha do Brasil para Rio Grande, em
regime de trabalho temporário ou permanente. Disponível em: <https://www1.mar.mil.br/com1dn/
comando/historico>. Acesso em: dez. 2015.
70
Belém do Pará (PA), Fortaleza (CE), Jaboatão dos Guararapes (PE), Jardim Paulista (SP), São
Paulo (SP), Curitiba (PR), São Gonçalo (RJ), Nova Iguaçu (RJ), Itaboraí (RJ), Pedro Osório (RS),
Tavares (RS), Encruzilhada do Sul (RS).
103
71
Utilizamos como referência a divisão realizada pela Prefeitura Municipal do Rio Grande, em razão
do Orçamento Participativo. Outras opções de zoneamento encontradas eram controversas e não se
encontra disponível uma divisão oficial do município em regiões, conforme informações colhidas junto
à Secretaria Municipal de Coordenação e Planejamento (SMCP). O quadro completo das regiões do
município encontra-se nos anexos. Disponível em: <http://www.riogrande.rs.gov.br/pagina/index.php/
participativo+1b3#.VmXUPtKrTMw>. Acesso em: 15 nov. 2015.
104
Segundo dados fornecidos pelo Instituto de Letras e Artes (ILA) quanto ao tipo
de escola frequentada durante o ensino médio pelos estudantes que ingressaram
em 2013 – declarado na ocasião de sua inscrição para o ENEM –, observamos que
as informações confirmam as respostas obtidas com os questionários aplicados:
72
Colégio Albert Einstein, Colégio Alternativo e Bom Jesus/Joana D’Arc (do grupo Bom Jesus). A
primeira escola oferece apenas a modalidade EJA; a segunda oferece ensino regular e EJA; a
terceira oferece apenas a modalidade regular.
106
73
“Perfil do candidato: por ser fundamentalmente um curso de licenciatura, torna-se indispensável a
vocação para o magistério e para uma consequente prática pedagógica. Serão necessários ainda ao
aluno de Letras: visão prática e teórica de língua e literatura na dinâmica de sala de aula; aptidão
para pesquisa em língua e literatura; adequação do uso de língua portuguesa às diferentes situações
discursivas; atuação em projetos de pesquisa e extensão, de forma articulada ao ensino;
conhecimento básico da língua estrangeira (no caso de cursos que envolvam uma língua
estrangeira)”. Disponível em: <www.letras.furg.br>. Acesso em: jan. 2016.
74
Foi permitido que o mesmo estudante assinalasse mais de um critério, embora nenhum estudante
tenha marcado mais de uma opção.
107
Mais de 70% dos alunos afirmaram ter selecionado suas leituras em função
da temática ou do enredo das obras. Por sua vez, 48,6% dos estudantes escolheram
obras literárias sob influência de um momento específico de sua vida. Apenas 7,1%
dos alunos escolheram obras ficcionais atraídos pela técnica de construção e/ou a
forma ou estilo, ou seja, elementos relacionados exclusivamente ao texto literário. O
dado indica que, provavelmente, os aspectos formais das obras foram matéria pouco
explorada durante o ensino básico, bem como a teoria da literatura, desatrelada da
periodização.
75
Identificados a partir dos títulos fornecidos no questionário.
108
76
No caso de Machado de Assis, por se tratar de um autor reconhecido por romances e contos, seu
nome foi registrado em ambos os gêneros.
109
77
NAZARETH, Carlos Augusto. A importância da leitura do texto teatral na formação do leitor.
Disponível em: <http://www.cepetin.com.br/artigos/o-texto-teatral-carlos-augusto-nazareth/>. Acesso
em: jan. 2016.
110
representativos do campo literário, ou cujas obras gostariam de ter lido. Quanto aos
romances mencionados mais de uma vez como leituras realizadas, temos:
Autor Obras
Machado de Assis Dom Casmurro, A cartomante e Helena (3 obras)
José de Alencar Senhora, Iracema e Lucíola (3 obras)
Anjos e demônios, O código Da Vinci, Fortaleza digital e O símbolo
Dan Brown perdido (4 obras)
Erico Verissimo Incidente em Antares e O tempo e o vento (2 obras)
Luis Fernando O opositor, Comédias da vida privada e As mentiras que os homens
Verissimo contam (3 obras)
Victor Hugo Os miseráveis e Os trabalhadores do mar (2 obras)
Fonte: Elaborado pela autora
111
78
Em 2013, ano da coleta de dados dessa fase da pesquisa, as obras de Dan Brown gozavam de
grande receptividade junto ao público brasileiro, estando entre as mais lidas da época. De acordo
com reportagem veiculada no portal da revista Veja em 24 de maio de 2013, foram vendidos 150
milhões de exemplares dos livros de Brown no mundo inteiro, 4,7 milhões desses no Brasil.
Disponível em: <http://veja.abril.com.br/blog/meus-livros/livros-da-semana/lancado-ha-4-dias-novo-
dan-brown-e-o-mais-vendido-do-pais/>. Acesso em: 31 jan. 2016.
112
ensino médio. Por sua vez, 21% dos estudantes acreditavam que participaram de
aulas tradicionais, com excessiva ênfase no conteúdo ou baseadas simplesmente na
periodização literária, enquanto o mesmo percentual avaliou suas aulas como muito
boas ou boas. Entre aqueles que avaliaram as aulas como péssimas ou muito ruins
estão 14,4% dos estudantes. Convém destacar que 9,2% dos licenciandos
afirmaram jamais ter frequentado uma aula de literatura durante todo o ensino
médio, enquanto 2,6% dos alunos alegaram não ter recordações de aulas da
disciplina.
Quanto às escolhas de 42,1% restantes, que optaram por outros cursos antes
de decidir cursar Letras, as respostas foram as seguintes:
79
Esse dado é relevante para discussão, se considerarmos que a FURG oferece formação de pós-
graduação na área da pesquisa em estudos literários, através dos cursos de Mestrado e Doutorado
em História da Literatura.
116
80
Arquitetura, Arquivologia, Artes Visuais, Comunicação Social, Geografia, Publicidade e Veterinária.
117
n) Conceito de literatura:
A resposta com maior número de ocorrências (19,7%) foi aquela que definia
literatura como “arte”, “arte da palavra” ou “expressão artística”. O segundo conceito
mais frequente entre os estudantes associava a literatura ao “patrimônio cultural”
(14,4%), isto é, como parte do legado de determinada sociedade. Com igual
quantidade de registros (11,8%) estavam os conceitos de literatura enquanto “escrita
criativa” ou “escrita ficcional” e como o “estudo de autores e suas obras”.
O conceito de literatura como “forma de expressão humana” apareceu na
sequência, com 9,2% das respostas. Por seu turno, 10,5% dos alunos admitiram não
ter um conceito formado sobre literatura e apenas um optou por não responder.
Outras respostas81 dos estudantes (21%), em função de suas particularidades, não
puderam ser inseridas em nenhum dos grupos.
81
1) “Aquilo que deve ser lido, vivido, visto e contado”. 2) “Algo maçante e cansativo”. 3) “A literatura
é hoje bem mais acessível e menos elitizada”. 4) “É uma paixão, assim como cada livro lido”. 5) “É
algo que me leva até vários lugares sem sair de meus pensamentos”. 6) “São poucos os autores que
elaboram conteúdos de qualidade”. 7) “O ato de ler”. 8) “Uma forma dinâmica de reter
conhecimentos”. 9) “A literatura é bem diversificada, muito rica, apesar de diferentes gêneros”. 10)
“Gosto bastante de literatura, acho fundamental”. 11) “Matéria que precisa de dedicação 110%”. 12)
“A literatura está esquecida, não há incentivo à leitura”. 13) “É muito importante a leitura nos dias de
hoje”. 13) “Um mistério a ser desvendado”. 14) “Nuances da vida acessíveis a quem se deixa tocar
pela leitura”.
118
Letras-Português 21,9%
82
Tendo em vista que a situação de coleta de dados foi semelhante nos dois casos: visita a uma aula
normal, de disciplina obrigatória, na primeira semana de aula do semestre letivo.
83
O termo “desestruturação” refere-se ao caso dos alunos que seguem matriculados regularmente no
curso, mas já não acompanham todas as disciplinas em sua turma original, em função de
reprovações, incompatibilidade de horários, trancamentos ou desistências.
84
Para efeito deste estudo, foram relacionados apenas os estudantes que ingressaram nas turmas
contempladas por esta pesquisa. A FURG também conta com cursos de Letras Português-Inglês e
Letras Português-Espanhol no período da manhã.
119
Dados pessoais:
a) Quanto ao gênero:
85
O referido professor é também sujeito da pesquisa, tendo respondido a um questionário
relacionado a sua atividade profissional.
120
b) Quanto à idade:
Com relação à faixa etária dos prováveis formandos, 30,7% têm entre 24 e 30
anos de idade, seguidos de 28,2% com até 23 anos. Os acadêmicos de 31 a 37
anos de idade correspondem a 23% do total. Assim, a maioria dos estudantes é
composta por jovens e “adultos-jovens”, conforme apresentavam-se em 2013.
Entretanto, o percentual de alunos mais maduros, com idade a partir de 38 anos,
representa uma parcela significativa das turmas, somando quase 18% do total.
86
Bairros localizados na periferia do município.
87
Região localizada próximo ao centro da cidade.
88
Bairro-balneário.
89
São José do Norte: 5,1% dos estudantes. Pelotas: 2,5% dos estudantes.
121
90
Santana do Livramento (RS), Canguçu (RS), Jaguarão (RS), Pedro Osório (RS), Ijuí (RS), Caxias
do Sul (RS), Imbituba (SC), Rio de Janeiro (RJ), e Jaguaquara (BA).
122
evasão se deu entre os oriundos dos estados mais afastados do Rio Grande do Sul
(Pará, Ceará, Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná). A maior parte dos
alunos de outras localidades que permaneceram matriculados é proveniente de
municípios gaúchos, sobretudo os mais próximos de Rio Grande.
Entre aqueles que não possuem disponibilidade total para dedicarem-se aos
estudos, as atividades que desempenham além da graduação são as seguintes:
Trabalho 51,4%
91
É interessante ressaltar o fato de que apenas um estudante identificado com o gênero masculino
apontou essa opção no questionário. Essa informação nos permite inferir que, apesar dos avanços
quanto à igualdade de gêneros, as mulheres ainda são as principais responsáveis pelos cuidados
dedicados ao lar e à criação dos filhos, o que limita sua dedicação à própria formação profissional.
124
92
Considerando o percentual expressivo de alunos que conciliam os estudos com trabalho e
cuidados domésticos, o que poderia representar um obstáculo, caso fosse necessário estudar em
outro município.
125
g) Conceito de literatura:
19,7% das respostas. Por sua vez, 15,4% dos acadêmicos considera literatura como
uma forma de representação da realidade vivida, através de respostas como “é a
produção, reprodução do pensamento, de experiências e vivências humanas”, ou “é
uma representação da vida, que nos proporciona olhar para nós em relação ao
mundo, nos entendermos no contexto do mundo através da ficção e da poesia”.
Outras respostas93, com apenas uma ocorrência, correspondem a 12,8% do
total.
93
1) “É tudo que nos faça pensar, interpretar e conseguir analisar o que está implícito em uma
leitura”; 2) “É um instrumento de reflexão social, que, gradativamente, condiciona ao indivíduo o
desenvolvimento da capacidade de leitura e reflexão”; 3) “É um universo amplo que contribui para
apreensão do conhecimento em escala universal”; 4) “É o conjunto de textos verbais e não-verbais
que são produzidos com funções emotivas, como o humor, a tristeza, a alegria... Se difere, assim, de
textos técnicos e didáticos, cujas funções não são baseadas nas impressões do leitor, mas no próprio
conteúdo deles”; 5) “Tudo o que acrescenta na vida do leitor pode ser considerado literatura”.
127
A maior parte (84,6%) dos graduandos alega que seus hábitos de leitura
foram alterados no decorrer do curso, enquanto 15,3% acreditam que não houve
mudanças significativas em seu comportamento como leitores. Entre os que
mudaram sua forma de ler, 33,3% afirmam ter sofisticado seu gosto literário, por
meio do contato com diferentes gêneros. Da mesma forma, 30,3% dos estudantes
disseram que suas leituras, antes selecionadas em função de suas preferências
pessoais, hoje se restringem às exigências do curso, principalmente por falta de
tempo. O percentual expressivo de 15,1% dos estudantes admite que adquiriu o
hábito de leitura somente após o ingresso na graduação, tendo sido “não-leitores”
durante toda a vida pregressa. Por sua vez, 12,1% desenvolveram a capacidade de
ler criticamente obras literárias, enquanto outros 9% incluíram obras teóricas entre
suas leituras, antes circunscritas à ficção.
94
Os questionários na íntegra encontram-se nos apêndices deste trabalho.
134
Tento levar para a aula textos clássicos, que eu sei que os alunos,
em sua maioria, não leram ainda, e talvez não leriam nunca, caso eu
não tivesse trazido para a classe. Assim, pensando especificamente
na literatura, são lidos Vinicius de Morais, Antero de Quental, Edgar
Allan Poe, Tchekov, Sófocles, Shakespeare, Kafka, Machado de
Assis, entre outros. O critério de escolha seria, então, clássicos
incontestáveis da nossa língua e também das literaturas
estrangeiras.
contam com pouca ou nenhuma adesão dos professores da rede básica, o que ele
atribui a um possível “desinteresse” por parte desses educadores.
M. P. reconhece a importância do PIBID para o estreitamento do vínculo entre
escola e universidade, já que favorece o contato dos graduandos com o ambiente
escolar desde os primeiros semestres do curso. Através do programa os professores
da rede básica também têm a possibilidade de coordenar essas atividades e
desenvolver um trabalho de pesquisa junto à universidade, com base no trabalho
com os licenciandos. Contudo, no caso específico da FURG, o PIBID de literatura
ainda não foi implementado:
95
Entre elas, “Prática de ensino de literatura”, oferecida como disciplina obrigatória a partir do 5º
semestre do curso. Segundo a ementa, a disciplina tem o objetivo de contribuir para a integração do
referencial teórico, crítico e histórico dos estudos literários com a prática pedagógica em Literatura
nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio.
141
Tal proposta, caso seja acolhida pelo professor supervisor, não será de fato
coerente com a formação global96 que o estudante recebeu ao longo do curso,
durante o qual lhe foram apresentadas diferentes possibilidades de abordagem,
incluindo a metodologia de projetos e o uso de tecnologias digitais, devidamente
adaptadas às etapas de desenvolvimento de cada faixa etária e às necessidades
particulares de cada turma.
Via de regra, cada docente supervisor envolve-se com a avaliação de um
contingente muito grande de alunos, o que inviabiliza o acompanhamento ideal da
prática individual de seus supervisionados. O fato de muitos supervisores de estágio
jamais terem sido professores na rede básica é outro elemento prejudicial para o
processo de avaliação dos estagiários.
O fato de Letras ser um curso de preparação para o exercício da docência
(conforme salientam as diretrizes curriculares) é, com frequência, desconsiderado no
contexto de muitas disciplinas, em função, entre outros fatores, da insuficiente
integração entre os docentes das diversas áreas, tendo em vista que muitos nem
sequer estão lotados na mesma unidade acadêmica. Essa fragmentação produz
efeitos prejudiciais à formação dos futuros educadores da educação básica, que, por
sua vez, não serão capazes de preparar futuros calouros condizentes com o perfil do
curso.
Se os professores da graduação denunciam a formação deficitária de seus
alunos, egressos do ensino médio e educados por professores oriundos da mesma
universidade responsável por sua formação profissional, onde reside a raiz do
problema? Ainda, se a formação básica carece de recursos mínimos e o ensino
superior não é capaz de preencher as lacunas deixadas por anos de ensino
medíocre, como resolver essas questões? É possível que, em contato com os
educadores em atividade na rede básica, que agregam a condição de ex-alunos e
de professores, encontremos parte das respostas que buscamos.
96
Tendo em vista os três eixos teóricos que balizam a graduação em Letras: estudos da língua,
estudos literários e formação pedagógica. O que ocorre é que nem sempre existe consenso entre os
docentes a respeito das habilidades necessárias para o aluno formando, apesar de o perfil para o
egresso exigido pela instituição estar disponível a todos na página do instituto.
142
97
Com exceção da escola 1, em que dois educadores responderam ao questionário.
143
ESCOLA DESCRIÇÃO
Professor 2 – Tem 31 anos e nasceu em Rio Grande. Atua como professor há oito
meses. Possui graduação em Letras pela FURG e atualmente cursa o mestrado em
História da Literatura na mesma instituição.
Escola situada no Balneário Cassino. Única escola que oferece ensino médio no bairro
e arredores.
O contato com o educador foi realizado por e-mail, no dia 25/06/2013.
02
Professor 3 - Tem 42 anos e nasceu em Curitiba. Atua como professor há 15 anos.
Possui graduação em Letras pela FURG e especialização em Literatura
Contemporânea pela UFPel (Universidade Federal de Pelotas).
Escola situada no centro do município.
A visita foi realizada na tarde do dia 26/06/2013. O professor da disciplina respondeu
ao questionário em horário destinado ao cumprimento da hora-atividade98 na sala dos
03 professores. A biblioteca encontrava-se fechada ao público na ocasião da visita.
Professor 6 - Tem 40 anos e nasceu em Canoas - RS. Atua como professor há nove
meses. Possui graduação em Letras pela FURG e pós-graduação em Orientação
Educacional pela UniCESUMAR.
Escola localizada no centro do município.
O contato com o professor foi estabelecido por e-mail, no dia 08/07/2013.
06
Professor 7 - Tem 53 anos e nasceu em Rio Grande. Atua como professor há 26
anos. Possui graduação em Letras pela FURG.
98
Conforme a legislação, o professor tem o direito de cumprir 20% de sua carga horária no ambiente
escolar como “hora-atividade”, isto é, planejando aulas, corrigindo avaliações e em reuniões
pedagógicas.
144
ESCOLA DESCRIÇÃO
Escola da zona rural, cuja localização é a mais distante do centro, mais próxima ao
município de Pelotas, RS.
O contato foi feito em 27/12/2013, por e-mail.
12
Professor 13 - Tem 32 anos e nasceu em Rio Grande. Atua como professor há sete
anos. Possui graduação em Letras pela FURG, mestrado em História da Literatura e
doutorado em História da Literatura (em andamento). Na ocasião, encontrava-se na
França, onde realizava parte de sua pesquisa de tese em regime de bolsa-sanduíche.
Bairro Ocorrências
Centro 2
Cidade Nova (próximo ao centro) 3
Cassino (balneário) 2
Vila da Quinta (muito distante do centro) 2
Junção (afastado do centro) 1
Vila Maria (próximo à FURG) 1
Parque (próximo ao centro) 1
Nossa Senhora dos Navegantes (próximo ao centro) 1
Não informou o endereço 1
Fonte: Elaborado pela autora
99
Optamos por não incluir a opção “gênero” no questionário, tendo sido utilizado como referência o
nome fornecido livremente pelo educador ou estudante, independente do que consta em sua
documentação civil.
100
Segundo informações do portal do INEP, “A Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem
(Teaching and Learning International Survey – TALIS) coleta dados comparáveis internacionalmente
sobre o ambiente de aprendizagem e as condições de trabalho dos professores nas escolas de
diversos países do mundo, com o objetivo de fornecer informações comparáveis, confiáveis e
atualizadas do ponto de vista dos profissionais nas escolas para ajudar os países a revisar e definir
políticas para o desenvolvimento de uma profissão docente de alta qualidade”. Disponível em:
<http://download.inep.gov.br/acoes_internacionais/pesquisa_talis/2013/talis2013_relatorio_brasil.pdf>.
147
Até boa parte do século XIX, o lugar social da mulher estava circunscrito ao
espaço privado101 da casa (ou social, no caso da igreja), enquanto aos maridos
cabia atuar na esfera pública. A partir de 1827, através do decreto imperial de 15 de
outubro, que previa a criação de escolas e a regulamentação do ensino básico por
parte do governo, as mulheres adquiriram o direito de assistir e ministrar aulas. No
entanto, elas só eram admitidas como funcionárias em escolas primárias e não era
permitido que lecionassem geometria, disciplina reservada aos senhores, e que
correspondia a um dos critérios para estipular o salário dos educadores no país. E
não foi sem resistência que as professoras ocuparam os espaços antes dominados
pelos homens. Muitos afirmavam ser perigoso entregar a educação de crianças e
jovens “às mulheres, usualmente despreparadas, portadoras de cérebros pouco
desenvolvidos pelo seu desuso” (LOURO, 1997, p. 450).
Outro fator relevante para que o magistério fosse progressivamente associado
ao universo feminino era a possibilidade de ser um emprego de “meio turno”, o que
garantiria que as esposas e mães continuassem sua jornada de trabalho em casa,
preservando os cuidados dispensados ao marido e filhos. Em contrapartida, para
muitas delas a carreira docente significava escapar, ainda que não plenamente, de
101
No caso específico das famílias abastadas ou de classe média. Nas famílias mais pobres as
mulheres ajudavam os maridos nas atividades fora de casa. (LOURO, 1997, p. 444)
149
trabalhos mais árduos, como os das parteiras ou lavadeiras, no caso das moças de
origem humilde.
Segundo Guacira Louro, “a professora terá de ser produzida, então, em meio a
aparentes paradoxos, já que ela deve ser, ao mesmo tempo, dirigida e dirigente,
profissional competente e mãe espiritual, disciplinada e disciplinadora” (LOURO, 1997,
p. 454). No Brasil de então, a educadora ideal deveria portar-se com boa conduta e,
nesse sentido, os aspectos morais contavam mais que a sua capacitação profissional.
Com o passar do tempo, e à medida em que o cientificismo adquiria mais
adeptos, uma nova representação da professora passou a vigorar. O título de
normalista foi substituído pelo de “educadora”, ou “profissional do ensino”. Ao final
da década de 1960 tornava-se ainda mais significativo o processo de
profissionalização do magistério, através de legislação ampla e minuciosa (LDBs de
1961 e de 1971). Igualmente, consolidava-se a proletarização da carreira docente,
marcada pela queda de salários e a associação da professora com o trabalhador
fabril, unidos pela distância que ocupavam dos detentores dos meios de produção.
Essa associação também deu origem a uma categoria de professores militantes e
sindicalizados, protagonizando lutas por melhores rendimentos e condições
adequadas de trabalho.
A desvalorização social da carreira docente, resultante, entre outros fatores,
da ampliação do ensino público em meados dos anos 1970, fez com que cada vez
menos homens demonstrassem interesse em seguir a profissão. Além disso, os
baixos salários tornaram-se insuficientes para garantir o sustento de suas famílias.
Esses professores passaram, então, a migrar para o ensino superior ou para outras
atividades, abandonando gradativamente os cursos de licenciatura.
Assim, apesar de, atualmente, muitos homens optarem por cursos de
formação de professores, e de as relações de gênero sofrerem um constante
processo de desconstrução e reconfiguração, as mulheres ainda são a maioria dos
profissionais na educação básica brasileira, conforme apontam pesquisas recentes.
Se hoje não basta apenas “ter jeito com crianças” ou assumir a atividade como
“missão”, a profissionalização da carreira docente ainda é permeada por questões
históricas e culturais que a identificam como prioritariamente feminina.
150
c) Maioria de rio-grandinos
Com relação à faixa etária dos professores, cinco têm entre 25 e 35 anos,
seis têm entre 40 e 48 anos e três têm de 50 a 53 anos. São, portanto, educadores
maduros em sua maioria, informação que, agregada ao tempo de atuação
profissional, poderá auxiliar na tessitura de seu perfil médio. Quanto ao tempo de
serviço, temos:
De 15 a 20 anos 6 professores
De 22 a 26 anos 2 professores
Letras 10
Medicina 1
Direito 1
Psicologia 1
Engenharia de Computação 1
102
Universidade Federal de Pelotas, município vizinho do Rio Grande, localizado a 54km de distância.
103
De acordo com matéria publicada no jornal Folha de São Paulo, tomando como referência dados
fornecidos pelo MEC, “Do total de 2,1 milhões de professores em sala de aula nas escolas do país,
682,3 mil retomaram os estudos após concluir a graduação. Hoje, três de cada dez docentes das
redes pública e privada fizeram especialização, mestrado ou doutorado. Até 2024, a meta é chegar a
50%, como prevê o PNE (Plano Nacional de Educação)”. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/
educacao/2015/05/1627427-mec-quer-acelerar-expansao-de-pos-entre-docentes-da-educacao-
basica.shtml>. Acesso em: out. 2015.
152
da rede básica nas últimas décadas. Apesar da ínfima gratificação oferecida pelo
governo do estado104, os educadores seguem em busca de aperfeiçoamento e
formação complementar. Dos 10 professores com título de pós-graduação, quatro
concluíram cursos pertencentes à área da literatura ou leitura, ao passo que outros
cinco optaram por cursos vinculados à educação ou linguística do português. Dois
dos contemplados pela pesquisa são estudantes de curso de especialização na área
de Linguística da Língua Portuguesa.
Assim, dos 14 professores, apenas quatro possuem titulação em nível de pós-
graduação relacionada aos estudos literários, o que pode indicar que essa não tenha
sido a primeira opção de atuação profissional da maioria na grande área de Letras.
É provável que alguns tenham sido “levados” a lecionar literatura, como no caso da
professora 1 que, segundo relato105, começou a trabalhar com a disciplina, mesmo
tendo sido aprovada em concurso para a área de língua portuguesa, em função de
demandas da escola.
No que tange às razões que motivaram a escolha pelo curso de Letras e,
consequentemente, a carreira profissional, temos:
104
Dez por cento de acréscimo sobre o vencimento básico.
105
Em conversa inicial durante a visita da pesquisadora, devidamente registrada, momentos antes de
começar a responder ao questionário.
153
106
Na FURG os cursos de Letras na modalidade presencial incluem, obrigatoriamente, a formação
em língua portuguesa e literatura brasileira. Não há cursos exclusivos de língua estrangeira na
instituição.
107
Assim como no Enem, no vestibular da FURG era permitido escolher uma segunda opção de
curso. Conforme o número de vagas restantes, o candidato poderia não ser aprovado na primeira
opção e sim na segunda.
154
sua realização. Temos aqui, portanto, a ênfase na ideia de literatura como arte e
expressão humana através da linguagem verbal. Chama a atenção nas respostas
dos educadores a consciência do componente artístico da literatura, em detrimento
de conceitos que associem o texto literário meramente ao patrimônio histórico e
cultural brasileiro.
Entretanto, nenhum professor optou por relativizar o conceito, considerando
aspectos sincrônicos e diacrônicos que o envolvem. Quanto a isso, os próprios
PCNEM advertem: “Se os conceitos são dotados de historicidade e fazem parte de
uma história concreta, uma visão estática dos mesmos tende a ignorar aspectos por
vezes fundamentais de seu desenvolvimento e de sua aplicabilidade atual”.
(BRASIL, 2000, p. 31)
108
Obras mencionadas com autor: Dom Casmurro (Machado de Assis), O cortiço (Aluísio de
Azevedo), Memórias póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis), O grande mentecapto (Fernando
Sabino), Doidas e santas (Martha Medeiros), A falecida (Nelson Rodrigues), O colecionador de
lágrimas (Augusto Cury), Fortaleza digital (Dan Brown), A garota da capa vermelha (Sarah Blakey),
Amanhecer (Stephenie Meyer), O símbolo perdido (Dan Brown), Cidade do sol (Khaled Hosseini), O
caçador de pipas (Khaled Hosseini), Honoráveis bandidos (Palmério Dória), O mundo pós-aniversário
(Lionel Shiriver), O Terceiro Reich (Roberto Bolaño), A elegância do ouriço (Muriel Barbery), Trem
noturno para Lisboa (Pascal Mercier), A confissão da leoa (Mia Couto), A ausência que seremos
(Héctor Habad), O amor, as mulheres e a vida (Mário Benedetti), Os dias lindos (Carlos Drummond
de Andrade), Amor (Isabel Allende), A travessia (William Young), Memória de minhas putas tristes
(Gabriel García Márquez), Ensaio sobre a lucidez (José Saramago), João Cândido, o almirante negro
(Alcy Cheuiche), Macunaíma (Mário de Andrade), Ana Terra (Erico Verissimo), Água viva (Clarice
Lispector), Duas iguais (Cíntia Moscovitch), A noite das mulheres cantoras (Lídia Jorge), Cães da
província (Luiz Antonio de Assis Brasil), A insustentável leveza do ser (Milan Kundera), Amerika
(Franz Kafka), Figura na sombra (Luiz Antonio de Assis Brasil), O diário de Anne Frank (Otto Frank e
Mirjam Pressler, org.), Ninguém transa às terças-feiras (Tracy Bloom) e Charlie Brown e seus amigos
(Charles M. Shulz).
156
Amanhecer
10
12 João Cândido, o almirante negro, Macunaíma, Ana Terra, Água viva, Duas
iguais, A noite das mulheres cantoras e Cães da província
13 A insustentável leveza do ser, Amerika e Figura na sombra
109
Entendemos como “cânone” o conjunto de obras e autores considerados indispensáveis para que
se conheça a história literária de um determinado tempo e espaço. Essa relação de obras é,
necessariamente, legitimada pela crítica literária e difundida pela academia.
158
Enredo/temática: 5 ocorrências;
Técnica de construção textual/forma: 9 ocorrências;
Momento da vida em que leu: 2 ocorrências.
No caso específico dos professores envolvidos na pesquisa, a maioria afirmou
selecionar suas leituras particulares com base nos aspectos intrínsecos ao texto,
envolvendo elementos estéticos, técnicas de construção narrativa ou estilo. Por sua
vez, o enredo ou a temática influenciam as escolhas de 5 entre os 13 educadores. O
item “momento da vida em que leu” teria influenciado a escolha de apenas duas
pessoas. Esse dado, se confrontado com os títulos elencados como leituras
realizadas, torna-se questionável: se, entre as obras lidas, encontra-se uma
quantidade expressiva de best-sellers e romances de construção tradicional, seria
de fato a natureza formal dos textos o principal critério para a escolha de leituras de
ficção entre os educadores?
A ênfase dada pelos professores à forma como principal critério para a
escolha de suas leituras particulares – em claro descompasso com os títulos citados
por eles como lidos – evidencia a necessidade de reprodução de um discurso
academicamente legitimado, associado à noção de valor que determinadas obras
assumem com relação a outras. Ao manifestar interesse especial pelos aspectos
formais, os educadores aproximam sua fala àquela dos “críticos literários”, ou dos
“habilitados” a reconhecer o valor de uma obra. Para Jaime Ginzburg, uma das
estratégias utilizadas nesse caso é
Quadro 26: Critérios para elaboração das aulas dos professores – 1ª etapa
Critérios para elaboração das aulas Respostas
A maioria afirma elaborar suas aulas com base nos interesses de seus
estudantes, a partir de momentos de diálogo em que são feitas sugestões de temas
e obras. O conteúdo programático é o segundo fator elencado como critério para o
planejamento das aulas, ainda que adaptado em alguns casos. A preparação para o
ENEM é mencionada em somente uma resposta dos professores pesquisados, o
que indica que a extinção das listas de leituras obrigatórias para os vestibulares
desvinculou o trabalho do professor de ensino médio da finalidade única de
preparação para o exame de admissão para cursos superiores. De acordo com as
respostas obtidas, a utilização de recursos como a produção coletiva de blogs,
recitais, material audiovisual, teatro e outras ferramentas alternativas de
aprendizagem como critério para elaboração das aulas, embora mencionada, ainda
é restrita.
163
110
As respostas foram agrupadas devido à semelhança que conservam entre si.
164
gênero lírico, o que dificultaria seu trabalho com poesia atualmente. Esse dado,
ainda que não represente a opinião da maioria, corrobora a hipótese de que o
trabalho com a poesia é pouco explorado em grande parte das escolas.
Os demais educadores apontaram para a insuficiência de suporte à formação
de professores e para a consciência de que a participação do acadêmico é
fundamental para a qualidade do ensino que recebe, sendo importante que
complemente seus estudos após a conclusão do curso. Dois professores afirmaram
não identificar lacunas em sua formação profissional, enquanto outros dois não
responderam à pergunta. Seguem as respostas na íntegra:
12 Senti falta de disciplinas que ensinassem de forma direta questões pedagógicas que
envolvessem o ensino da literatura, o que foi amenizado por ter participado de um
projeto de incentivo à literatura durante o estágio.
13 Não creio que um curso de graduação seja um universo em que o acadêmico
receba todos os ingredientes para tornar-se um “pleno profissional”. Creio que isso é
algo inviável. Acredito que a formação de um estudante, apesar de ocorrer na
coletividade, é um processo extremamente pessoal e, sobretudo, de busca. As
aulas, as disciplinas, os professores apresentam possibilidades, caminhos, não um
todo: o conhecimento é fragmentário e não há como não ser. Cada um completa o
que recebe com o que possui e o que encontra através da busca pelo que lhe atraiu.
Com relação ao atual curso de Letras da FURG, percebi que acrescentaram a
disciplina de Filosofia (ainda está presente?), o que é interessante, pois abre mais
caminhos para o graduando percorrer.
14 Muito já questionei a mim a aos outros sobre por que a faculdade ser tão teórica e
pouco teórico/prática. Lembro de, no ensino fundamental, ter aulas de literatura
mecânicas e “pouco sentimental”, eu pensava isso, já que também se tratava de
livros e romances. E a faculdade não me direcionou a dar uma aula mais “viva, real,
social”, entende? Essa para mim é a maior lacuna, da faculdade pensar o aluno a
partir de um ou dois teóricos, mas não agregar esses teóricos a vida social e cultural
do aluno que poderá vir.
Fonte: Elaborado pela autora
111
Foram citados: ausência de biblioteca com espaço e acervo adequados; sala de vídeo/multimídia
com estrutura insuficiente; equipamentos sem manutenção regular.
166
de tempo para o planejamento das aulas e o desinteresse dos estudantes diante das
propostas dos professores também são empecilhos elencados.
É curioso que apenas um professor tenha identificado a carga horária baixa
da disciplina como um fator preocupante e que interfere diretamente na condução
das aulas. Atualmente, a maioria dos estabelecimentos de ensino dispõe de 1
hora/aula para a literatura, ao passo que 4-5 horas/aula são destinadas para língua
portuguesa.
112
Projeto em parceria do MEC, UNESCO, Rede Globo, Prefeitura de Porto Alegre e Instituto C&A,
na área de inclusão e cultura, que “se propõe a apoiar, incentivar e criar redes de ações comunitárias
e práticas sustentáveis, fomentando alianças de fortalecimento da cidadania.” Disponível em:
<cirandar.org.br>. Acesso em: 10 abr. 2015.
113
“A Cor da Cultura é um projeto educativo de valorização da cultura afro-brasileira, fruto de uma
parceria entre o Canal Futura, a Petrobras, o Cidan – Centro de Informação e Documentação do
Artista Negro, a TV Globo e a Seppir – Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial.” Disponível em: <www.acordacultura.org.br/oprojeto>. Acesso em: 10 abr. 2015.
114
Esse curso de aperfeiçoamento foi criado por docentes e discentes de pós-graduação da FURG,
com o objetivo atualizar e complementar a formação continuada de professores do Ensino Médio, no
âmbito da utilização de tecnologias da informação e comunicação (TIC) como ferramentas de ensino.
Para isso serão utilizadas mídias cinemáticas como forma de despertar interesse dos estudantes
pelas diferentes áreas do conhecimento.
115
Segundo o portal do MEC, “O programa oferece bolsas de iniciação à docência aos alunos de
cursos presenciais que se dediquem ao estágio nas escolas públicas e que, quando graduados, se
comprometam com o exercício do magistério na rede pública. O objetivo é antecipar o vínculo entre
os futuros mestres e as salas de aula da rede pública. Com essa iniciativa, o Pibid faz uma
articulação entre a educação superior (por meio das licenciaturas), a escola e os sistemas estaduais
e municipais”. Disponível em <www.portal.mec.gov.br/pibid>. Acesso em: 01 out. 2014.
167
respostas), ou que “trata os professores como rasos e tolos” (relato do professor 8).
O professor 7 também assinala que “os momentos de formação oferecidos pelo
Governo do Estado ficam muito aquém ao que se propõem. Os oferecidos pela
Universidade geralmente são muito significativos para a nossa formação”.
muitos colegas falando mal dos PCNs, mas não entendem que são aspectos
negativos, e não um todo ruim.
Fonte: Elaborado pela autora
Em modo geral, é visível o distanciamento que a maioria apresenta diante do
conteúdo do texto, evidenciado por trechos como: “Nem sabia que não tinha de
literatura”, “Só li os de língua portuguesa”, ou “os mesmos encontram-se
relacionados à avaliação do ENEM”. Apenas os professores 12 e 13 apresentaram
uma análise que dialoga com avaliações realizadas por educadores e intelectuais à
época da publicação do documento. O professor 12 ainda fez referência às OCNEM,
como texto alternativo e de maior aproximação com os reais objetivos do trabalho
com a literatura. Entretanto, a maior parte dos educadores contemplados afirmou
não pautar sua prática profissional pelas orientações dos parâmetros.
Pode ser, não discuto, que esses livros ensinem português com
eficiência. Mas os que neles estudam, fatalmente, a não ser por um
milagre, passarão a considerar a literatura, esse importante produto
do espírito humano, como algo desprezível e secundário. (LINS,
1977, p.143)
Prof. 3: Já não tenho muitas, pois estou me aposentando. Desejo continuar meu trabalho, sempre
que possível, variando as técnicas de ensinar e usando a criatividade.
Prof. 6: Ver mais jovens com paixão pela literatura. Organizar grupos de leitura.
Prof. 7: Fico muito feliz quando meus alunos, no final do ano, dizem que, a partir das minhas
aulas, passaram a ver sentido nessa disciplina. Acho que se eu estiver contribuindo para formar
um cidadão crítico e sensível às questões humanas e a literatura permear seu crescimento, OK,
meu dever estará cumprido.
Prof. 9: Meu sonho é encontrar uma direção que aceite fazer uma sala única para as aulas de
literatura, com biblioteca própria, com recursos de multimídia à disposição.
Prof. 10: Trabalhar com a leitura e conhecimento das obras literárias para que os alunos possam
reconhecê-las como literatura. Trabalhar a literatura como deleite e possibilitar aos alunos
apreciá-la de variadas formas.
Prof. 11: Continuar trabalhando para alcançar um número maior de pessoas apaixonadas pela
literatura.
Prof. 12: Encontrar soluções para os problemas enfrentados em relação ao ensino, à libertação
de vícios de aprendizagem que o aluno vem carregando de outros anos e a criação de um
material próprio. Despertar o interesse pela leitura e pela criação literária. Espero que, ao longo
dos anos, eu consiga aliar o ensino da literatura com o incentivo à leitura de forma mais eficaz;
para isso, tenho a ambição de mudar a sistemática do ensino da literatura nos três anos do ensino
médio. Para isso, teria de pedir para acompanhar turmas dos três anos do ensino médio, mas as
minhas ideias ainda são segredo.
Prof. 13: Não tenho grandes projetos. Estou cursando doutorado em Letras e, depois de concluí-
lo, farei novos planos. Por enquanto, sigo na batalha cotidiana em busca de novos leitores – uma
aula de cada vez.
Prof. 14: Tenho uma ambição utópica: que todos os meus alunos sejam leitores críticos.
Considerações parciais:
A partir dos dados obtidos com a análise dos questionários aplicados aos 14
educadores contemplados na fase inicial da pesquisa, foi possível elencar algumas
características gerais, que nos permitiram esboçar um perfil médio, embora não
conclusivo, do professor de literatura em Rio Grande:
1) Maioria de mulheres;
2) Maioria de rio-grandinos;
3) O tempo de experiência docente está relacionado à idade média dos
educadores;
4) Cursaram Letras por escolha própria e como primeira opção;
5) São egressos da FURG;
6) A metade considera que o gosto pela leitura influenciou sua escolha
profissional;
7) Não utilizam os PCNs e outros documentos como norteadores de sua
prática docente;
8) Consideram literatura como uma forma de expressão artística através da
palavra;
9) Os livros de ficção lidos por eles no último ano são, em sua maioria,
romances nacionais e best-sellers estrangeiros;
10) Escolhem suas leituras pessoais com base na forma ou técnica de
produção textual, deixando o enredo ou temática em segundo plano;
11) Dispõem de tempo parcial para elaboração de suas aulas, já que
lecionam literatura ou outra disciplina em turno oposto;
12) Consideram que “despertar o gosto pela leitura” em seus alunos é seu
principal objetivo profissional;
13) Elaboram suas aulas priorizando o interesse e a realidade dos alunos,
além de observar o cumprimento do conteúdo programático da disciplina;
14) Identificam a infraestrutura precária do ambiente escolar como um
obstáculo ao desenvolvimento do seu trabalho;
15) Fazem uso frequente do livro didático, independente de tê-lo escolhido ou
não.
116
Método elaborado por Barney Glaser e Anselmo Strauss no final da década de 1960 e que se
baseia na análise sistemática dos dados coletados, em detrimento dos antigos métodos hipotético-
dedutivos. Fundamenta-se no desejo do pesquisador em entender determinada situação, mais do que
em testar uma teoria. Após a coleta do material é realizada a análise e construção teórica com base
nas regularidades observadas. Disponível em: <http://www.levacov.eng.br/marilia/grounded_theory.
html>. Acesso em: mai. 2015.
173
1) O que você pensa quando ouve falar que ser professor é uma vocação,
ligada a uma espécie de “missão”?
2) A que você atribui o fato de cada vez menos jovens optarem pelos cursos
de licenciatura no Brasil?
3) Como se deu a sua escolha profissional?
4) Atualmente, como você conceituaria literatura?
5) Você costuma ler obras não relacionadas ao seu trabalho? Como você tem
escolhido suas leituras pessoais ultimamente?
6) Quais são as suas maiores dificuldades cotidianas no trabalho com a
literatura?
7) Você pensa que é necessário que se ensine literatura na escola? Por quê?
8) Como você vê os PCNs e demais documentos norteadores da área de
“Linguagens, códigos e suas tecnologias”?
9) Descreva um dia de trabalho seu.
10) Com base em que critérios você elabora suas aulas?
11) Quais são as lacunas deixadas pela sua formação acadêmica que hoje
constituem um obstáculo ao seu trabalho?
12) Como você vê o uso do livro didático nas aulas de literatura? Você utiliza
esse tipo de material?
13) Você frequenta a biblioteca de sua escola? Como?
14) O que você reivindicaria como prioridade para que seu trabalho obtivesse
mais êxito?
15) Você tem apoio de seus gestores no desenvolvimento de suas
atividades?
16) Qual é a escolaridade máxima de seu pai e sua mãe?
17) Com relação a sua formação como leitora, alguém influenciou suas
escolhas ou estimulou a leitura durante sua infância e adolescência? Como
se deu essa influência?
117
As questões 16 e 17 foram enviadas por e-mail a cada uma das professoras, em momento
posterior à gravação das entrevistas.
174
Para Lahire (1997), cada traço de caráter atribuído a um sujeito não é unicamente
seu, mas o resultado de sua interação com algo ou alguém.
Outro fator de fundamental importância, ligado às peculiaridades de um
trabalho de pesquisa que envolve a área da educação e seus sujeitos, é a noção da
responsabilidade social de um retorno às escolas após a conclusão do trabalho.
Como professores, grupo em que estou incluída, são inúmeras as vezes em que
nossas escolas são visitadas por pesquisadores da universidade, com questionários
ou gravadores, ávidos por coletar dados para seus trabalhos.
Esse movimento de troca, de potencial saudável e enriquecedor,
frequentemente acaba subaproveitado, em função das ausências posteriores ao
campo. O pesquisador “invade” o espaço da escola e realiza a coleta de dados, mas
raramente retorna com os resultados. Nesse sentido, são relevantes as reflexões de
Regina Leite Garcia, que assinala a importância de refletir a respeito da dupla
condição de professora-pesquisadora:
Jamais recebemos uma visita para nos dar conta do que havia sido
“descoberto” e o que fora feito com o que havia sido colhido na
pesquisa em nossa escola. A pesquisadora que chegava à nossa
escola era, para nós, uma estranha, que ia chegando, entrando e
ocupando espaços para os quais não havia sido convidada. Hoje
posso saber, pois vivo a situação de ser eu a estranha. (GARCIA,
2011, p. 21)
118
Apesar de as entrevistadas não manifestarem objeção ao uso de seus nomes, optou-se por
designá-las através de suas iniciais, com o intuito de proteger suas identidades.
176
119
Em função dos compromissos de cada pesquisada. A entrevista teve de ser realizada de acordo
com o tempo oferecido em cada caso.
120
Professora de história da rede municipal em Rio Grande.
121
A transcrição total das entrevistas encontra-se nos anexos. Procuramos respeitar a pontuação,
conforme nossa percepção. No entanto, o fato de transcrever um discurso oral acaba por produzir
outro texto, permeado pelo olhar de quem transcreve. Os recortes selecionados para efeito de análise
resultam em certa perda de sentido, embora a seleção de excertos seja imprescindível. Na medida do
possível, não foram alterados o estilo e o vocabulário das entrevistadas.
177
Ele já vai com aquela ideia: “eu vou continuar estudando, eu vou
adiante, porque eu vou trabalhar com formação de professores”.
Daqui a pouco nós vamos estar cheios de formadores de
professores. Mas esse formador de professores não sabe o que é a
realidade de uma sala de aula.
122
Segundo a tradição oriental, a palavra karma designa “ação” no idioma sânscrito. No sentido
simbólico, a lei do karma é aquela que relaciona uma ação a uma reação, ou seja, cada atitude
tomada implica uma consequência a ser cumprida na existência posterior. Embora não seja
equivalente ao conceito de culpa, a ideia do karma atua como reguladora das ações humanas e foi
adotada por diferentes segmentos religiosos, como o hinduísmo, o budismo e, posteriormente, o
espiritismo de vertente kardecista. Disponível em: <http://www.brahmakumaris.org/what-we-do-
pt/courses-pt/fcirym-pt/topics.htm-pt/karma.htm-pt?set_language=pt>. Acesso em: 27 set. 2015.
179
123
Escritora brasileira, nascida em 1926, em Campinas (SP). Zíbia é autora de romances
espiritualistas, tendo publicado aproximadamente 50 obras desde 1958. Seu último romance, Ela
confiou na vida, é de novembro de 2015.
180
124
Disponível em <http://portal.inep.gov.br/basica-censo>. Acesso em: 28 set. 2015.
181
turno da noite por crer que ali a cobrança seria menor, o que, na maioria dos casos,
se confirma. Como uma espécie de atenuante, M. L. afirma que trabalhar com os
alunos mais velhos é “mais fácil”, embora apresentem certa dificuldade cognitiva,
fruto, entre outros fatores, do tempo em que estiveram afastados dos bancos
escolares. Com esse público, “o retorno é imediato. Qualquer texto que tu leves, eles
se encantam. Tu levas um vídeo e eles se encantam...”. Em suma, do ponto de vista
intelectual, o desafio é mínimo.
A respeito do ensino noturno, Célia Pezzolo de Carvalho (1984) diz que a
modalidade acaba por acolher grande parte de jovens que só estudam por poder
combinar suas aulas com o trabalho. Dessa forma, estudar no período da noite pode
representar uma espécie de prolongamento da jornada de trabalho, cansativa e,
amiúde, “sem sentido”. Essa condição é comumente partilhada pelo próprio
professor, que já vem de outros turnos de aulas durante o dia. Segundo a autora,
O turno da noite como obstáculo (em função do desinteresse dos alunos) foi
citado por mais de uma professora entrevistada, o que aponta uma desconformidade
entre o funcionamento da escola e o ensino noturno. São realizados ajustes, como
redução na média de aprovação, na carga horária ou na exigência. O fato é que
lecionar no chamado “terceiro turno” parece acarretar maior índice de insatisfação,
seja por causa das adaptações mencionadas, ou pela possível sobrecarga de
trabalho, no caso daquelas que cumprem 60 horas semanais.
Essa “adaptação” do professor ao turno da noite é facilmente observada no
seguinte trecho da fala de M. L.:
da noite. Existe uma nítida intenção de adequar o programa curricular aos alunos-
trabalhadores, que já chegam fatigados ao ambiente escolar e necessitam de um
ambiente acolhedor e atraente, como forma de evitar a evasão, mais frequente
nessas condições.
No que concerne ao ensino institucionalizado da literatura, M. L. acredita que
se faz necessário, tendo em vista que, segundo ela, “muitas vezes o aluno que
chega pra nós é um aluno que só vê novela”. A literatura na escola seria útil para
ampliar o acervo cultural do indivíduo, oferecendo novas possibilidades de leitura, ou
mesmo de visões de mundo, como ela mesma afirma. Sua percepção dialoga com o
que postula Maria da Glória Bordini: “Ler é conhecer o outro, mas também é
conhecer-se; é integrar e integrar-se em novos universos de sentido; é abrir e
ampliar perspectivas pessoais; é conscientizar-se de um papel individual e coletivo
na sociedade” (BORDINI, 2015, p. 16)
Quando perguntei à professora M. L. sobre sua posição a respeito dos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e outros documentos norteadores
fornecidos pelo Governo Federal, pude perceber certo tom de protesto e rejeição em
seu discurso. Segundo ela, os professores não “param pra ler” essas coisas. Em
seguida, esclareceu que as razões para essa resistência estariam ligadas ao fato de
o governo não consultar a base para a elaboração das propostas, que seriam
construídas “de cima para baixo”.
Para a professora, as propostas governamentais para a educação estariam
mais ligadas à orientação política do partido vigente no poder do que às reais
necessidades dos educadores, o que faz com que a cada alternância de partido,
“venha uma nova cartilha”. Em função das razões elencadas, é provável que a
professora jamais tenha realizado uma leitura minuciosa dos documentos oficiais, o
que a impede de realizar uma análise mais complexa de seu conteúdo,
especialmente com relação à disciplina de literatura.
A despeito da criticidade constante em seu discurso, M. L. define a si mesma
como uma pessoa entusiasmada com o trabalho que desempenha. Ela assume o
arquétipo clássico da “tia”, ainda que lecione literatura para o ensino médio: “Eu
costumo dizer que os meus alunos, principalmente quando se tornam ex-alunos, se
tornam meus sobrinhos. Eu tenho perto de 2000 amigos no Face125. Quase todos
125
Rede social Facebook.
183
O estagiário que vai pra minha sala de aula, ele dá uma aula bem
conteudista. Eu disse assim: “o que tu vais dar na próxima aula?”. E
ela (a estagiária): “a carta de Gândavo”. E eu: “Quê? Tu és louca?” E
ela disse: “O professor disse que eu tenho que dar. Por quê? Tu não
‘dá’?”. E eu (disse): “Eu não! No máximo um fragmentozinho da carta
de Pero Vaz de Caminha, pra conversar e fazer uma relação com os
textos, com Carlos Drummond de Andrade, já mais do nosso tempo,
e pra gente ter uma noção de como se escrevia na época e que
visão o português tinha da nossa terra.
M. L. completa assumindo que ela mesma não leu mais que alguns
fragmentos da referida carta e que a escola teria a função de selecionar os
conteúdos e textos que considera mais significativos para a vida dos alunos e
“tranquilamente esquecer” outros, conforme suas palavras. Ela, porém, não
esclarece quais critérios deveriam ser utilizados na construção desse “cânone
escolar”, considerando que o mesmo texto pode ser significativo para um sujeito
126
Quando solicitei à professora que descrevesse um dia ordinário de trabalho, sua resposta começa
da seguinte maneira: “Ah, eu sou a pior pessoa pra tu entrevistar, porque eu gosto muito de trabalhar,
eu me dedico muito.” Assim, ela deixa transparecer suas impressões com relação ao meu trabalho de
pesquisa: de acordo com M. L., estou à procura de um padrão específico de professor... aquele que
se sente esmagado pela rotina diária em sala de aula. E ela sente a necessidade de apresentar-se
como alguém incomum, que destoa do modelo construído em seu imaginário.
184
Como uma espécie de mensagem final, ela conclui que os pilares do trabalho
de um educador devem ser a afetividade e a busca constante de conhecimento, seja
acadêmico ou “de vida”. Também considera importante estar atualizado para que
possa aproximar-se do aluno e dialogar com sua realidade. Para finalizar a
entrevista, M. L. ainda afirma que “o carinho está acima de tudo”.
185
127
Disponível em: <http://www.riogrande.rs.gov.br/pagina/index.php/atrativos-turisticos/detalhes+403
b,,praia-do-cassino.html>. Acesso em: 17 dez. 2015.
186
128
Segundo Petrônio Medeiros (2008), permacultura “é uma reunião dos conhecimentos de
sociedades tradicionais com técnicas inovadoras, com o objetivo de criar uma ‘cultura permanente’,
sustentável, baseada na cooperação entre os homens e a natureza”. Disponível em:
<http://www.ufpa.br/permacultura/oque.htm>. Acesso em: 09 nov. 2015.
187
129
John Green é estadunidense, autor de obras muito populares entre os jovens, como A culpa é das
estrelas, Quem é você, Alasca?, Cidades de papel e O teorema Katherine. Muitos de seus livros têm
ganhado adaptações para o cinema, especialmente nos últimos anos. Green publica desde 2004.
188
130
Escola Estadual de Ensino Médio Professor Carlos Lorea Pinto.
131
No livro Ensino é crítica: a literatura no ensino médio, Josafá Fernandez Gonçalves apresenta uma
ampla lista de obras literárias adaptadas para o cinema.
189
3.6.3 “Eu não conseguiria fazer outra coisa que não fosse ensinar” – um café
com R. M.
Quem me iniciou no mundo das letras foi meu pai. Ele era um
daqueles leitores que sempre têm à mesa de cabeceira mais de um
livro. Ele sempre leu os clássicos da literatura e orientava minhas
leituras nesse sentido. Inclusive, muitos dos clássicos que eu tenho
em casa foi parte da sua biblioteca. Essa é uma das memórias mais
queridas que eu tenho de meu pai: o gosto que tinha pela leitura,
pela boa música, pela arte e pela beleza. Ah... E era um homem
muito bonito!
que respondesse ao questionário. Ela leciona em uma escola tradicional, com mais
de um século em atividade, localizada no centro da cidade. O prédio antigo e
imponente remete aos tempos áureos da instituição, quando gozava de grande
prestígio social em um passado não muito distante. A escola tem aproximadamente
dois mil alunos, 108 professores e 15 funcionários, sendo, provavelmente, o maior
estabelecimento de ensino da rede básica no município.
À época da entrevista, meados de junho de 2015, ela se encontrava afastada
por uma licença-prêmio. Por essa razão, marcamos nosso encontro em um café no
centro da cidade. O fato de ser um local público acarretou pequenos problemas no
áudio da gravação, contaminado por falas sobrepostas. O barulho das outras mesas
interferiu em nossa conversa, a ponto de mudarmos para um espaço mais
reservado, a fim de conquistar certa privacidade e silêncio.
Quando finalmente conseguimos dar início à gravação, perguntei à professora
como ela reagia à ideia socialmente legitimada de que ser educador é uma profissão
para poucos, algo como uma vocação, uma missão a ser cumprida. Segundo ela,
quando fez a opção pelo curso de Letras, jamais poderia imaginar que, ao final de
sua carreira, a remuneração de um professor estaria tão defasada. Em sua época de
estudante, R. M. via seus professores de escola pública sendo reconhecidos
socialmente e com salários condizentes com seu trabalho e formação. Foi uma
surpresa desagradável deparar-se com uma realidade tão diferente daquela na
condição de educadora. De fato, como confirma Cyana Leahy-Dios,
Apesar de atribuir aos baixos salários o fato de cada vez menos jovens
decidirem por cursar licenciatura, e de defender a luta por melhores condições de
trabalho e reconhecimento, ela acredita ter sido vocacionada para o magistério. Com
um tom nostálgico de quem está prestes a enfrentar a aposentadoria, R.M. assegura
que não conseguiria fazer outra coisa que não fosse lecionar e cogita a ideia de
seguir ensinando.
191
132
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID).
192
mas não leio hoje com aquele olhar voltado para o ensino de literatura”. Livre do
dever profissional, a literatura atinge outras dimensões, cumprindo um papel
diferente na vida de R. M., que afirma ler atualmente apenas como fruição.
Quando respondeu ao questionário, R. M. afirmava ter lido nove livros de
ficção no ano anterior, o que a destacou entre o grupo de professores participantes
da pesquisa. Em seu “cânone particular” estavam obras de Mia Couto, Mario
Benedetti, Isabel Allende, Carlos Drummond de Andrade, Héctor Habad, Pascal
Mercier, entre outros. Segundo ela, suas escolhas são feitas sem um critério
definido: podem ser indicações de amigos ou mesmo a força do nome de um autor,
que a faz adquirir a obra sem necessitar de referências prévias sobre o título.
Ao discorrer a respeito das dificuldades encontradas durante sua vida
profissional com relação ao trabalho com a literatura, R. M. assegura que despertar
o gosto pela leitura em seus estudantes sempre foi um desafio constante, sobretudo
no primeiro ano do ensino médio, em que muitas vezes é necessário inclusive
ensinar-lhes a distinguir um texto literário dos demais. A resistência por parte dos
alunos à leitura de obras de maior volume era outro obstáculo ao desenvolvimento
de um trabalho mais consistente com as obras. R. M. acredita que a carga horária
destinada às aulas de literatura é um dos fatores mais preocupantes:
E, nessa rotina de desafios, ela relata não haver espaço para a frustração.
Suas aulas sempre foram preparadas com antecedência, buscando estar em
sintonia com os acontecimentos narrados nos noticiários e mídias sociais. Assim
como a professora M. L., ela afirma não ter problemas de disciplina com seus
alunos. E a respeito do cansaço ou demais decorrências do excesso de horas/aula
ministradas, ela garante que se tratava de um cansaço físico, jamais causa de
arrependimento.
R. M. também se diz leitora dos documentos oficiais norteadores, oferecidos
pelo MEC. Segundo ela, a escola proporcionou a leitura coletiva em algumas
reuniões pedagógicas. A professora também afirma ter lido recentemente o
conteúdo do PNE, no intuito de avaliar se sua prática estava de acordo com as
orientações do texto. Embora a escola tenha realizado reuniões para apresentar os
documentos, R. M. observa a insuficiência desses momentos, enquanto faz uma
espécie de análise retrospectiva da própria conduta profissional:
admite que não planejava exercer a profissão e que seu principal objetivo com o
curso era estudar para aumentar seus conhecimentos:
não fosse a disciplina na escola, o aluno “nunca saberia o que é literatura, ele vai
ficar sempre naquela aula de português”. Ela defende o incentivo à leitura na sala de
aula como forma de oportunizar o contato do jovem com a ficção e com o
componente lúdico das obras.
Perguntei à professora J. C. se ela havia lido os PCNs e/ou demais
documentos oficiais norteadores do trabalho docente fornecidos pelo MEC. Ela
hesita. Fala sobre o teatro que faz com os alunos... fala sobre a relação entre a
literatura e outras artes. Insisto e pergunto se esses temas são abordados nos
PCNs; ela diz que sim e segue discorrendo sobre o teatro, queixando-se do
engessamento do conteúdo, dizendo que é solicitada a seguir o programa. Pergunto
se os professores de sua escola tiveram oportunidade de ler os documentos. Ela
responde, rapidamente, que alguns leram durante reuniões escolares, mas não
parece confortável com a pergunta e percebo que pretende mudar de assunto.
Finalmente, pergunto se foi nos PCNs que ela encontrou uma possibilidade de aliar
literatura e outras artes. E então, J. C. admite: “Na verdade eu encontrei o ‘gancho’
porque eu gosto. Não segui as orientações dos PCNs. Tem alguma coisa na minha
vocação, de trabalhar essa parte, como se diz... arte-educadora, né? Gosto muito”.
Quanto aos critérios utilizados na preparação de suas aulas, J. C. afirma que,
após 23 anos de exercício da função, já teria internalizado determinados
procedimentos e que automaticamente “imagina” como trabalhar cada conteúdo. Ela
costuma utilizar filmes baseados em romances da literatura brasileira, assim como E.
S. Outra estratégia é realizar seminários em grupos com os alunos; cada grupo fica
responsável pela leitura e apresentação de uma obra para a turma. A professora
seleciona determinados romances, apresenta rapidamente episódios do enredo e os
grupos elegem a obra que preferem estudar.
Com relação às lacunas identificadas por J. C. em sua formação acadêmica,
ela acredita que o curso de Letras não prepara efetivamente o estudante para ser
professor. Ela afirma que aprendeu ou “concretizou o aprendizado”, conforme suas
palavras, com o cotidiano de sala de aula. Para a professora, “Ficou muito teórico,
muito distante. Eu acredito que aprendi muito trabalhando, dando aula”. Sobre o uso
do livro didático, J. C. diz o seguinte:
Pergunto se, então, ela utiliza o livro como uma espécie de apoio e ela
responde que sim. J. C. demonstra ser em parte o que se costuma classificar como
professor “conteudista”. Ela reforça essa característica em vários momentos da
entrevista, quando assinala a importância de “vencer” o conteúdo proposto para as
aulas de literatura em cada etapa do ensino médio. Com relação ao uso do livro
didático, ela não tece qualquer crítica ao material, preferindo salientar a praticidade
de ter textos e atividades disponíveis para o uso em sala de aula. Quando afirma
realizar adaptações ou complementação, também não deixa claros os critérios ou
metodologia utilizados para tal. Entretanto, o fato de J. C. trabalhar com filmes,
teatro e com o que ela qualifica como “componente lúdico” das obras, faz de suas
aulas um espaço agradável de troca e de possibilidades de criação, além de
proporcionar o contato com diferentes suportes e linguagens.
A respeito das visitas à biblioteca escolar, a professora relata que, em função
do tamanho pequeno da sala, seria inviável levar uma turma inteira para trabalhar no
local. Ela prefere escolher algumas obras e levar o material para a sala de aula,
onde os alunos podem selecionar suas leituras, de acordo com a proposta
pedagógica estipulada:
por parte do poder público, justificando a luta histórica do magistério por melhores
salários e condições de trabalho adequadas. Em seguida, disse que gostaria que
seus alunos demonstrassem a compreensão de que a liberdade do professor é
limitada pelas imposições do programa de conteúdos e de que nem sempre ela pode
trabalhar conforme sua vontade.
J. C. ainda salientou o desejo de contar com uma sala específica para as
aulas de literatura, equipada com uma pequena biblioteca e computadores. Esse
último “pedido” ela qualifica como um sonho de difícil realização, pelo fato de estar
em uma escola pública. Segundo ela, um “sonho mais possível” seria ter em todas
as salas de aula um projetor multimídia ou uma TV. Assim como as demais
professoras entrevistadas, J. C. se queixa da infraestrutura precária da escola e das
dificuldades com o manuseio de equipamentos de áudio e vídeo, fato que interfere
no andamento das poucas horas/aula de que dispõe:
À medida que realizava a leitura atenta de cada uma das entrevistas, foi
possível estabelecer determinados pontos de diálogo ou dissonâncias entre os
discursos. Em diversos momentos e independentemente do perfil de cada
profissional, as opiniões pareciam orquestradas, como se eu estivesse diante de
uma única professora de literatura. Em outros, porém, pude presenciar quatro
posturas completamente únicas, marcadas por camadas de história e vivências
intransferíveis.
Assim, traçar uma espécie de “perfil” do professor de literatura em Rio Grande
certamente ultrapassa a mera justaposição de representações. É, antes, uma
tentativa de estabelecer relações entre o fazer profissional desses sujeitos,
socialmente inseridos em um ambiente hostil e em um contexto de crise, mas
individualizados e movidos por suas trajetórias pessoais.
Em linhas gerais, as quatro entrevistadas, com idade entre 42 e 53 anos,
possuem tempo considerável de experiência docente 133, tendo consolidado
conceitos razoavelmente claros a respeito do exercício da função. Com relação à
titulação acadêmica, duas possuem cursos de especialização lato sensu e duas
apenas concluíram a graduação em Letras. Apesar do aumento significativo de
professores da rede básica com título de mestrado e doutorado, nenhuma das
entrevistadas declarou abertamente ter interesse em seguir com os estudos 134. Duas
delas, provavelmente pela aproximação da aposentadoria, revelam um discurso
nostálgico e marcado pela ideia de conclusão de uma etapa importante da vida.
Com relação à escolha profissional, alguns pontos em comum nos discursos
são interessantes para a discussão: todas relataram uma experiência de
“arrebatamento” após o ingresso na graduação. Nenhuma das entrevistadas tinha a
pretensão inicial de cursar Letras, tendo abdicado de seus projetos iniciais de atuar
em outras áreas. Em contato com as disciplinas, porém, as quatro revelaram ter
surgido um sentimento de aproximação e identificação com o curso, fato que acabou
133
Entre 15 e 26 anos de atuação no magistério.
134
Atualmente, de acordo com o plano de carreira do magistério público estadual, a gratificação
concedida pela conclusão de um curso de especialização, mestrado ou doutorado corresponde a
10% de acréscimo sobre o salário básico do professor, independente da titulação obtida, sendo
permitida apenas uma progressão. Apesar do pequeno incentivo à formação continuada, no ano de
2006, dos 74.869 professores estaduais ativos no Rio Grande do Sul, 29.470 possuíam curso de pós-
graduação. Dados disponíveis em: <cpers15nucleo.com.br/textos/plano_carreira_edicao_para_a_
sineta.doc>. Acesso em: 26 jan. 2016.
202
135
Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/educacao/2015/03/mulheres-sao-maioria-no-ingresso-e-
na-conclusao-de-cursos-superiores>. Acesso: dez. 2005.
204
Para compreender tal crise, constatada nos cursos de licenciatura, talvez seja
interessante conceber os cursos de formação de professores como parte de um
projeto político (e histórico) de educação para o país. O que está em crise é,
portanto, o próprio sistema educacional que temos mantido e que não mais se
sustenta. Assim, se é consenso que a escola já não corresponde às expectativas
sociais enquanto instituição responsável pela formação intelectual dos jovens, então
qual a razão para que alguém desejar seguir a carreira docente? Ao mesmo tempo,
onde localizar a gênese da crise? De acordo com Antônia Aranha e João Valdir de
Souza (2013), essa seria uma tarefa hercúlea, já que ela se desenvolveu em
paralelo à própria constituição dos sistemas de ensino no país. Segundo os autores,
com relação à crise nos cursos de licenciatura,
conteúdo para suas aulas. Mesmo as professoras que fazem uso regular do livro
didático relatam buscar outros materiais e recursos, como filmes e o trabalho com
teatro. Entretanto, a ausência de momentos de reflexão sobre a própria prática leva
muitas vezes à aceitação do conteúdo programático escolar e das atividades
propostas pelo material, o que afasta possibilidades de contato com obras e autores
do circuito alternativo.
A falta de tempo e o desgaste oriundo da atividade docente também
interferem diretamente na disponibilidade do professor da rede básica para realizar
leituras não relacionadas ao seu trabalho. As professoras entrevistadas não são
diferentes; quando questionadas a respeito de seus hábitos de leitura, queixaram-se
da rotina intensa e cansativa, que lhes toma praticamente todo o tempo e faz com
que escolham ler justamente obras que possam ser aproveitadas no trabalho em
sala de aula ou que lhes garantam momentos de prazer e relaxamento.
M. L. e E. S. têm predileção por obras de teor religioso ou espiritualista. As
duas também afirmam realizar a leitura de romances direcionados ao público jovem
como estratégia para conquistar seus alunos, oferecendo a possibilidade de
trabalhar com obras que fazem parte de sua realidade fora do ambiente escolar.
Segundo E. S., ao optar pelo trabalho com best-sellers, sobretudo aqueles que são
voltados para o público adolescente, foi possível descobrir que muitos de seus
alunos já consumiam esse tipo de obra. A professora encontrou um caminho para
introduzir o hábito da leitura em sala de aula: “O que agrada a eles, eles leem. Eu é
que tenho que chegar até lá e fazer a caminhada inversa”. Segundo Felipe Pena,
mas não leio hoje com aquele olhar voltado pro ensino de literatura. Eu leio só pro
meu desfrute, pro meu prazer, entendeu?”.
Por seu turno, J. C. afirma que, dependendo do tempo disponível, lê obras
que escolhe pela temática ou pelo enredo. Ela também diz que nem sempre conclui
as leituras que inicia: “Eu começo a ler e, se já não é um tema que eu gosto, eu não
consigo ir até o fim”. É interessante observar que a mesma professora que assume
ter lido apenas duas obras de ficção no último ano queixa-se da falta do hábito de
leitura entre seus alunos. Quando conversamos sobre as dificuldades encontradas
por ela no trabalho com a literatura, J. C. foi categórica: seu maior problema é lidar
com alunos que não gostam de ler. Quanto a essa questão, Marisa Lajolo aponta
para a necessidade de uma reflexão permanente acerca dos hábitos de leitura dos
educadores, já que
136
Em 2011, na terceira edição da pesquisa, o IBOPE Inteligência entrevistou mais de cinco mil
pessoas em 315 municípios brasileiros. Para definir a amostra estudada, considerou-se a distribuição
da população de mais de cinco anos pelas regiões brasileiras, conforme os dados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD de 2009: Norte (8%), Centro-Oeste (7%), Nordeste
(28%), Sudeste (42%) e Sul (15%).
207
disciplina é necessária, já que é responsável por orientar as leituras dos jovens, que
nem sempre dispõem de acompanhamento no ambiente doméstico.
Quanto ao descaso por parte do poder público com relação à área, importa
ressaltar o posicionamento de Cyana Leahy-Dios: “Como disciplina, a literatura é
parte de uma agenda educacional determinada por compromissos ideológicos,
papéis e expectativas político-culturais” (LEAHY-DIOS, 2000, p. 21). Em outras
palavras: a escassez de políticas públicas específicas para o ensino de literatura
evidenciada nos documentos oficiais é, em si mesma, uma manifestação política.
Com relação às publicações oficiais, para efeito da entrevista, optamos por
abordar o contato das educadoras com o conteúdo dos PCNs da área de
“Linguagens, códigos e suas tecnologias” como referência. Perguntei às professoras
se haviam realizado a leitura em algum momento de sua trajetória acadêmica ou
profissional, desde a sua publicação em 1997.
M. L. atribui ao pouco tempo de tempo e a uma dose de resistência com
relação “ao que vem do governo” a falta de contato dos professores com os
documentos oficiais. Segundo ela, que se inclui entre os que não leram os PCNs, o
governo não consulta os educadores para a construção dos princípios norteadores
da prática docente, mas envia a “receita pronta”, de forma verticalizada, para que
seja cumprida. Ela também denuncia a relação direta entre mudanças de paradigma
ou de projetos para a educação com a troca de governo: “Cada vez que muda o
governo vem uma nova cartilha”, afirma.
Por sua vez, E. S. admite que há muito tempo não tem contato com o texto,
que considera mais importante para os professores que se encontram no começo da
carreira e necessitam de maiores orientações. R. M., que concorda quanto à
relevância da leitura dos PCNs, diz que sua escola oportunizou a leitura, embora o
tempo dedicado a isso tenha sido insuficiente em sua opinião. J. C. foi a única a fugir
do assunto, desviando seu discurso do foco da pergunta e discutindo outras
questões, conforme a descrição de sua entrevista. Nenhuma das quatro professoras
aprofundou a discussão sobre o conteúdo do texto, o que permite confirmar a
hipótese de que as condições oferecidas pela escola para a leitura desse tipo de
publicação provavelmente tenham sido insuficientes ou inadequadas 137.
137
Vale ressaltar que a leitura dos PCNs tem sido requisitada como obrigatória para os concursos de
professores, o que provavelmente faça com que os educadores que ingressaram mais recentemente
209
na carreira tenham realizado uma leitura mais atenta do texto, o que não é o caso das entrevistadas
neste trabalho.
210
aulas, além da falta de livros, que ela avalia como um fator desestimulante para o
trabalho no local.
Se, por um lado, é consenso entre as professoras que as bibliotecas
encontram-se subaproveitadas no espaço escolar, com materiais sucateados e
desorganizadas, por outro, destaca-se a contradição entre os discursos de M. L. e E.
S.: para a primeira, há um excesso de obras na biblioteca; para a segunda, faltam
volumes. Ora, se suas escolas são estaduais e recebem, em tese, a mesma
quantidade de livros (proporcional ao número de alunos), como explicar tal
fenômeno?
O fato é que a situação das quatro educadoras com relação ao uso do espaço
da biblioteca é preocupante: nenhuma delas utiliza o local com regularidade. No
caso de uma disciplina como a literatura essa constatação agrava-se ainda mais: se
os estudantes, em sua maioria, não consomem livros com frequência, como suprir
essa carência? Se os volumes da biblioteca não são utilizados, como equacionar o
problema da dificuldade de acesso às obras literárias? Bernadete Campello afirma:
138
Magda Becker Soares é professora titular da Faculdade de Educação da UFMG. É também
pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (CEALE) na mesma instituição. Magda é,
ainda, autora de diversas obras relacionadas ao ensino de literatura e à formação de leitores, além de
livros didáticos.
215
Enquanto redijo estas considerações finais, nove das treze escolas da rede estadual
do município do Rio Grande contempladas pela pesquisa encontram-se ocupadas
por seus estudantes, em solidariedade à greve dos professores e denunciando as
péssimas condições estruturais das instituições, bem como a política de
parcelamento de salários e a desvalorização do quadro docente. Tal situação, de
grande carga simbólica, alerta para a urgência de trabalhos que se ocupem do
contexto escolar rio-grandino.
************************************
139
Segundo Antonio Candido, a literatura faz parte do conjunto dos bens incompressíveis, que, por
garantirem não apenas a integridade física, mas também a integridade espiritual do ser humano, não
podem ser negados a ninguém. (CANDIDO, 1995, p. 241).
140
Ainda que esteja prevista uma Base Nacional Curricular Comum (BNCC), que deve abranger parte
do programa de conteúdos e procedimentos de cada área do conhecimento.
226
não deve assumir o status de monumento inalcançável, mas tornar-se acessível, ser
apropriado pelos estudantes através da mediação do professor.
Igualmente, diante da insignificante carga horária destinada à disciplina, boa
parte das leituras poderá ser realizada em ambiente doméstico ou na biblioteca
escolar no contraturno, ficando o momento da aula reservado à partilha de
impressões, debates, interpretação e leitura de excertos. Cada momento precisa
estar carregado de significado. Da mesma forma, a interdisciplinaridade é um
caminho interessante, visto que atividades que envolvam obras literárias poderão
ser realizadas em mais de uma disciplina, dinamizando o processo e superando,
ainda que parcialmente, o engessamento da grade de horários.
Para além das soluções imediatas e infalíveis, compreendemos que uma
transformação efetiva no ensino de literatura somente será possível de forma
progressiva e por meio da união de esforços entre todos os agentes envolvidos. Não
há uma sequência mágica de procedimentos que garanta a formação de leitores
independentes e que se aplique a qualquer contexto. Ao contrário: cada educador,
em cada unidade escolar, deverá, com os recursos de sua formação, identificar as
estratégias metodológicas adequadas para que o contato dos estudantes com a
literatura seja uma experiência enriquecedora, capaz de incentivar a autonomia e o
vínculo com a arte literária, que levarão pela vida.
Cremos no potencial incontestável da escola enquanto instituição social.
Potencial para fazer nascer e consolidar o gosto pela leitura de literatura. E potencial
para aniquilar esse mesmo gosto, se priorizar práticas anacrônicas e vazias de
sentido. A mesma escola é capaz de gerar e destruir o prazer do texto. Talvez
justamente por isso, por sua força invencível, esteja imersa em uma crise sem
precedentes. Afinal, recuperar o valor simbólico do ensino das artes, apesar de
ameaçador para os que temem o poder de um povo educado, é o único caminho
viável de emancipação humana. Ou, como diria Manoel de Barros, “Não aguento ser
apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que
compra pão às seis horas da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva,
etc. etc. Perdoai. Mas eu preciso ser outros. Eu penso renovar o homem usando
borboletas”.
228
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APÊNDICES
239
___________________________________________________________________
_________________________________________________________________
Você identifica possíveis lacunas durante sua formação acadêmica que o(a) tenham
levado a ter de complementar essa formação por conta própria? Se sim, que lacunas
são essas?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Você já leu os PCNs previstos pelo MEC para a área de “Linguagens, códigos e
suas tecnologias”? Se sim, qual sua opinião sobre eles? Você os utiliza como
referência para seu trabalho?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Você escolheu o livro didático de literatura que utiliza? Se sim, como foi o processo
de escolha? Quais os critérios utilizados para a escolha em ordem de relevância?
Qual o livro utilizado?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Prezado (a) estudante, este questionário é parte fundamental para a pesquisa que
embasa minha tese de doutorado, vinculada ao PPG em Letras da FURG. Peço que
responda com sinceridade e atenção. Agradeço sua participação! Doutoranda:
Juliana Votto Cruz
Nome:
Idade:
Cidade natal:
Endereço atual:
Escola onde concluiu o Ensino Médio:
Essa escola é pública ou privada? ______________________
No âmbito das Letras, em qual área específica deseja atuar profissionalmente?
( ) linguística do português ( ) língua estrangeira/ensino ou tradução ( ) ensino de
língua portuguesa ( ) literatura ( ) ensino de literatura
O curso de Letras foi sua primeira opção acadêmica? ( ) sim ( ) não
Se não, qual foi a primeira opção? ____________________
Por que escolheu cursar Letras?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Durante o ensino médio você leu alguma obra de ficção? ( ) sim ( ) não
Se sim, poderia nomear os seus preferidos?
___________________________
___________________________
Como você caracterizaria o ensino de literatura durante o ensino médio (em relação
à metodologia e aos conteúdos)?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Nome:
Idade:
Cidade natal:
Endereço atual:
Sua turma permanece com o mesmo número de alunos desde o primeiro semestre?
Sim ( ) Não ( )
Se não, esse número aumentou ou diminuiu? Aumentou ( ) Diminuiu ( )
Se diminuiu, a que fator você atribui a evasão no curso?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Durante sua formação atual, sua relação com o hábito de ler sofreu alguma
alteração desde seu ingresso no curso de Letras? ( ) sim ( ) não
Se sim, poderia relatar sua experiência como leitor durante o curso?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Sobre o curso de Letras até o momento (apenas com relação às aulas de literatura):
Que aspectos considera positivos?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Que aspectos considera negativos?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Como você avalia o ensino de literatura durante o curso (em relação à metodologia e
aos conteúdos)?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Você teve acesso à leitura da LDB, dos PCNs e demais documentos oficiais,
relativos ao ensino de literatura? Como avalia esses documentos?
___________________________________________________________________
Nome:
Idade:
Cidade natal:
Endereço atual (apenas cidade e bairro):
Tempo de atuação no Ensino Superior:
Tempo de atuação na Rede Básica (se houver):
Instituição onde cursou Letras:
Qual a área de seu curso de doutorado? ___________________________________
Instituição:________________________
Quais são os principais objetivos do seu trabalho como professor de Introdução aos
Estudos Literários/Teoria da literatura em um curso de licenciatura?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Com base em quais critérios você elabora suas aulas de Introdução aos Estudos
Literários/Teoria da literatura?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Você identifica possíveis lacunas durante a formação anterior de seus alunos (e que
interferem diretamente em seu trabalho)? Se sim, que lacunas são essas?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Você acredita ser importante minimizar a distância existente entre o nível básico de
educação e o ensino superior? Como aproximar a formação/produção acadêmica e
a prática docente na rede básica?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
249
Duração: 43min24s
Juliana – Então vamos começar... O que tu pensas quando ouves falar que ser
professor é mais uma vocação do que uma profissão, do que uma carreira
profissional?
M. L. – Eu vou falar com toda a sinceridade... mas é uma brincadeira que eu faço
atualmente. Antigamente eu achava bonito: “Ser professora é dom, né...”. Hoje eu
brinco, eu digo que ser professora não é dom. Ser professora é karma. Aí as
pessoas se assustam com isso, mas eu acho assim, ó... eu sou religiosa, sou
espírita kardecista, e eu faço isso de brincadeira, justamente com relação a essa
religiosidade que eu tenho. Porque eu acho que não é uma profissão que qualquer
pessoa possa exercer, como eu acho que ser médico não é pra qualquer um
também, como ser mecânico também não. Eu jamais seria um mecânico, né! Então
as pessoas, não é que elas sejam escolhidas por um plano maior. Pelo contrário, eu
acho que a gente escolhe isso. A gente escolhe essa profissão porque a gente, de
repente, precisa... é pra gente isso. Eu não tô resgatando ninguém, eu estou me
resgatando com o ato de ser professora.
Juliana – A que tu atribuis o fato de cada vez menos jovens desejarem ser
professores, procurarem cursos de licenciatura?
M. L. – Porque os nossos jovens e as nossas crianças estão cada vez... nós
estamos com cada vez mais dificuldade de lidar com eles. Eles cada vez mais vêm
pra escola sem nenhum tipo de disciplina. Existe uma cobrança muito grande em
cima da escola, a escola não é mais aquela que vai educar dentro das disciplinas.
250
Hoje a escola é quem vai fazer tudo por aquela criança. Se a criança não vem à
escola nós somos responsáveis, somos nós que temos que ir na casa do aluno ver o
que está acontecendo, se o aluno está doente, ele pode exigir até que nós vamos
até a casa dele. Jamais isso aconteceria em outros tempos! E hoje o pai nos cobra
de tudo, então nós viramos a palmatória do mundo. Aí eu te pergunto: qual é o
jovem que hoje vai querer entrar em uma sala de aula com 30, 40 alunos, onde
esses alunos poderão te mandar a lugares muito feios? Poderão usar todo tipo de
vocabulário... eu tenho um segundo ano de noite, que um dia desses eu disse a eles
que infelizmente eu era obrigada a dizer, mas que meu ouvido não era penico!
Jamais eu pensei que um dia eu diria isso pra um aluno, e eu disse, né... porque eu
fiquei impressionada com o monte de coisa que ele disse na minha aula! Eles não
falam isso pra mim, eles falam isso naturalmente, esses meninos não conseguem te
dizer uma frase sem ter quatro palavrões no meio! E eu comentei isso em casa com
o meu marido, que o meu marido é meio autodidata, né... ele até fazia História... e
ele me disse: “M., te acostuma!”. Mas como? Eu não vou nunca me acostumar com
isso... e ele disse assim: “Na universidade palavrão é a coisa mais comum que tem.
O aluno da universidade diz palavrão o tempo todo, como se fosse a coisa mais
natural do mundo.” E eu fiquei, assim, pasma e disse: “Mas, capaz?! Eu tô muito fora
da realidade, realmente, porque no meu tempo ninguém dizia palavrão. É comum
numa roda de amigos, eu até digo alguma coisa...mas não assim”. Então, eu fiquei
muito preocupada com isso. Então por que o aluno não quer? O aluno terminou o
ensino médio, ele vai fazer uma seleção, ele até vai fazer uma licenciatura, mas ele
não quer a sala de aula no ensino básico. Ele já vai com aquela ideia: “Eu vou
continuar estudando, eu vou adiante, porque eu vou trabalhar com formação de
professores.” Pô, daqui a pouco nós vamos estar cheios de formadores de
professores! Mas esse formador de professores não sabe o que é a realidade de
uma sala de aula. É muito fácil querer formar um professor se nunca esteve numa
sala de aula... eu até tinha planos de ser uma professora universitária, mas eu tirei
fora da minha cabeça isso aí. Eu quero estar é deste lado de cá. Mas olha, o que a
gente ouve as pessoas dizerem! Todo o mundo quer nos formar, as pessoas
precisam rever isso aí. Precisam vir pro lado de cá... pra ver realmente como é difícil.
E o jovem quer comodismo, ele quer ganhar bem e ele não quer se incomodar. E se
ele vier pra educação básica ele vai se incomodar com o aluno, com o pai, com a
comunidade da volta, vai se incomodar muito!
251
Juliana – Tu costumas ler obras não relacionadas ao teu trabalho? Como fazes
essas escolhas?
M. L. – Que difícil te responder isso! Se eu te disser que eu li toda a obra do Dan
Brown, tu vais dizer assim: “Meu Deus, mas não tem a ver com o que eu imaginava
que ela leria!” Eu leio coisas que são bem jovens, uma que eu gosto. Não vou dizer
que eu não goste. Mas porque eu alcanço mais o meu público leitor, porque eu
tenho mais o que discutir. Eu gosto de obras das quais se originaram filmes também.
252
E eu leio muitas obras que não tem nada a ver com literatura ou com o meu
trabalho, como autores ligados às novas tecnologias da educação e comunicação. E
literatura espírita, com certeza! Eu gosto de romance, então a Zíbia Gasparetto tá
sempre presente nas minhas leituras, porque é uma forma de aprendizado pessoal.
Juliana – Tu pensas ser necessário que se ensine literatura na escola? Por quê?
M. L. – Não deveria ser, mas já que muitas vezes o aluno que chega pra nós é um
aluno que só vê novela, faz-se necessário por causa disso. Pra que eles tenham a
oportunidade de vivenciar outras leituras. A gente vai trabalhar com textos, e dessa
forma eles vão tendo uma outra visão. E aí eles também nos completam com aquilo
que eles trazem do dia a dia deles. Um exemplo: trabalhando modernismo... década
253
de 1930, um deles “Ah, minha mãe viveu nessa época”, tenho uma aluna que se
formou no ensino médio com 70 anos! Tu imagina! Literatura pra ela era tudo de
bom, porque a gente tinha muita coisa pra conversar. Então essa possibilidade de
conversa, de poder abrir os horizontes deles é espetacular. E os mais jovens dizem:
“Pra que estudar literatura?”. Eu digo: porque literatura é cultura. A gente sempre
tem que estar aprendendo e através da literatura tu vais ter “n” possibilidades de
mudar a tua visão de mundo. Tu nunca sais igual depois de uma boa leitura, de um
bom filme, de um bom seriado. Tu sempre vais estar diferente depois.
termina ficando atrelado ao conteúdo. Então eu procuro jogar com isso. O professor
que é um professor mesmo, ele é consciente do dever dele e o conteúdo é algo bem
enraizado nas nossas origens, né... e não venham me dizer que o professor que tá
na sala de aula tá agindo dessa forma... não! Isso não vem da gente, não! Agora,
por exemplo, eu tô com um estagiário, posso te mostrar se tu quiser, as mensagens
dele: "Preciso saber que conteúdo vou trabalhar." O estagiário que vai pra minha
sala de aula, ele dá uma aula bem conteudista. Tem uma professora, não vou citar
nomes, uma moça que eu já conhecia. Eu disse assim: "O que tu vais dar na
próxima aula?" E ela: "A carta do Gândavo". E eu: "Quê? Tu é louca?". E ela pegou
e disse assim: "O professor disse que eu tenho que dar. Por quê? Tu não dá?" E eu:
"Eu não! No máximo um fragmentozinho da carta do Pero Vaz de Caminha, pra
conversar e fazer uma relação com outros textos, com Carlos Drummond de
Andrade, já mais do nosso tempo e pra gente ter uma noção de como se escrevia na
época e que visão o português tinha da nossa terra." Aí ela pegou e disse: "Ah, mas
ele disse que eu tenho que dar." Eu disse: "Então, dá. Depois tu me conta". "Por
quê?", "Porque eles vão dormir...", "Ah, M...". Aí terminou a aula, né, eu fui alcançar
ela: "E aí?". "Ai, M., eles dormiram..." "Eu te falei que iam dormir... ora!” Pelo amor
de Deus, se perguntar pra mim se eu li a carta... eu não li nunca! Eu li fragmentos.
Tem coisas que a escola tem que, tranquilamente, esquecer.
Juliana – Que lacunas a tua graduação deixou e que hoje são um obstáculo pro teu
trabalho?
M. L. – Ah, eu não sei, foi tão maravilhosa a minha licenciatura! Só vou te dizer
nomes. Eu fui aluna da Cristina, da Rosa Albernaz, fui monitora da Rosa e a primeira
monitora do meu curso, porque eu gostava de análise sintática e análise sintática
pra mim até hoje é tudo de bom. Tive o Carlos Baumgarten, maravilhoso, tive o
Chico, o melhor tradicional! Tive o tio Attila, que eu amei e amo até hoje. Eu só
tenho a agradecer. Eu era pobre, bem pobre, tinha bastante dificuldade e eu não
tenho nada a reclamar do tempo de universidade.
Juliana – Como tu vês o uso do livro didático de literatura? Tu usas livro didático?
M. L. – Eu penso assim, ó... é um material bom, tem muito subsídio pro professor ali
dentro. O professor é que tem que saber dosar isso e não se deixar atrelar pelo livro.
Atualmente eu não uso. Acabei de pegar 20 volumes que agora vieram para o
256
ensino médio (EJA). Acabei de pegar 20 volumes pra trabalhar com os alunos e nós
já estamos em maio e eu ainda não usei nada, mas tudo bem. Mas eu vou usar,
porque eu acho assim... eu sou também uma contribuinte, eu pago o Imposto de
Renda! E eu penso assim: poxa, vida! O material está lá, jogado na biblioteca,
ninguém usa. É dinheiro público! Existem professores que se dedicaram a fazer
aquele livro... nem tudo é ruim! Assim como nem tudo é ruim na escola pública, nem
tudo é ruim na universidade, nem tudo é ruim nos livros didáticos. Nós temos é que
saber dosar. Um dia desses, eu tava trabalhando com a professora de matemática
na sala de informática e ela usou o livro didático ao mesmo tempo em que usava a
tela interativa! O professor é que vai ter que se adequar a tudo que chega às mãos
dele e transformar isso em benefício pro aluno. É só isso que eu acho. Acho que já
passou a hora de a gente ficar revoltado com tudo que vem lá de cima. Tem coisas
boas que a gente vai dosando.
Juliana – O que tu reivindicarias para que o teu trabalho obtivesse mais êxito?
M. L. – O que eu amaria ter, o que eu gostaria muito de ter, inclusive eu vivo
pedindo isso, já pedi várias vezes pro meu diretor e vontade não faltou nele, só que
é algo que não depende só dele, depende de uma equipe... é ter um ambiente de
aprendizagem. Eu gostaria de ter uma sala. Agora eu vou fazer, parece que tem
uma sala sobrando lá e eles vão me deixar usar lá por um tempo, assim que nem eu
257
usei aqueles dez dias. Ter uma sala para as linguagens. Até eles iam fazer agora,
começaram a organizar. E eu disse: “Para aí um pouquinho! Matemática com língua
portuguesa? Não dá! Eu tenho que dividir a sala com professores das linguagens!”
“Ah, mas é assim que vai ter que ficar”; eu digo: “Não, assim não dá! Assim não
funciona...”. Eu gostaria de ter uma sala onde eu tivesse material, onde eu pudesse
expor os trabalhos dos alunos, onde eu tivesse a certeza de que nada seria
estragado, porque tentaram fazer isso na sala de artes e teve um aluno que destruiu
um monte de material da professora! Isso não tá certo, né! Eu gostaria de ter um
espaço pra eu trabalhar com os professores das linguagens, pra que a gente
pudesse trabalhar de forma interdisciplinar. Aí vão dizer assim: “O trabalho
interdisciplinar não necessita que os professores estejam juntos!”. Até sei que a
interdisciplinaridade é um processo que tem que acontecer no professor e no aluno,
mas eu acho que se tu trabalhares num ambiente onde tu tens o teu material e o
material do professor da tua mesma área, tu vais trabalhar com muito mais
tranquilidade. O que seria o sonho? Tu entrar na sala, o teu material estar ali, o
trabalho dos alunos estar ali, eles trabalharem em grupo, as classes sempre
arrumadas em grupo, eles não trabalharem sozinhos, e já ter no mínimo uma
televisão que tu possas adaptar o computador. Chegar e já ter aquilo ali. Tu não
perderes 15, 20 minutos procurando alguém pra ver a chave da sala, pra pegar o
data show, pra tu levares pra sala de aula e ligar, pra tu chegar lá e “Cadê o cabo?
Não sei cadê o cabo!”, porque o diretor é que tem que abrir, aquilo está fechado a
chave!
escola hoje é justamente o pedagógico, porque falta pessoal, porque falta vontade
política pra que as coisas realmente aconteçam.
Duração: 17min5s
Juliana – Então tá, podemos começar. A primeira coisa que eu quero te perguntar é
a seguinte: o que tu pensas, quando ouves dizer que ser professor é uma missão, é
um sacerdócio, é mais do que uma conotação profissional, mesmo, que outras
carreiras têm?
E. S. – Não, isso é uma coisa que me dá um pouco de frustração. Porque na
verdade assim, ó, nenhuma profissão é um sacerdócio: tu estudou, tu foste atrás, tu
correste, né, passaste duras penas pra te formar, pra... então, realmente, eu não
gosto da ideia do sacerdócio. Acredito, assim, que como toda profissão, tu vais atrás
do que tu tens realmente um dom, uma capacidade, o teu direcionamento, até pra
ser feliz, né, pra fazer alguma coisa que goste, mas eu fazer o que gosto é diferente
de dizer que eu to me doando, que eu posso não receber bem por causa disso, não,
eu acho que, eu sempre digo assim, que eu não acho que seja assim: “Ah, tá
recebendo mal, pobre professora”, eu não gosto dessa definição, né, se eu quisesse
eu tinha ido estudar outra coisa, tinha ido procurar outra profissão, né, se eu ainda tô
dentro da profissão de professora, é porque eu gosto e eu quero e porque ainda
acho que tenha competência pra fazer a coisa. Salário eu sempre digo que eu
poderia receber um pouco mais, eu mereço. Mas, ao mesmo tempo, não me
vitimizo, não gosto dessa coisa de dizer “ai, pobre de mim que tô recebendo pouco,
vou lá...”, não, isso aí eu não aceito!
Juliana – A que tu atribuis o fato de cada vez menos jovens prestarem ENEM pra
uma licenciatura, menos gente querendo ser professor?
259
Juliana – Quais são as tuas maiores dificuldades cotidianas no teu trabalho com a
literatura?
E. S. – Com a literatura hoje é o aluno já ter resistência com o nome da disciplina.
Falou que é professora de literatura ele já fica “ai, tem que ler”. Então, essa visão de
260
que “tem que ler”, é complicado, é conquistar o aluno, cativar, fazer com que a
literatura seja uma ferramenta que eles gostem. É bem complicado, eu já mudei
várias vezes de ferramentas, agora mesmo que eu tava trabalhando com os
adolescentes do dia, este ano eu não tô, eu fui buscar outros... fui buscar, como é
que é?... o John Green, fui buscar outros autores, coisas que eles estavam lendo,
pra poder a partir dali, conseguir fazer com que tivesse mais leitura. E eu descobri
que eles leem! O que agrada a eles, eles leem. Eu é que tenho que chegar até lá,
pra depois fazer a caminhada inversa.
mim ficou muito igual. Aí o que que aconteceu: virei realmente professora, passei
pra professora de português, só que tu tá trabalhando o tempo todo literatura,
porque tu tá trazendo texto, tu tá fazendo interpretação, tu tá buscando pro aluno
todo esse norte. Quando, eu nunca me esqueço, quando o Lorea teve ensino médio,
porque lá só tinha fundamental e eu trabalhava português. Quando o Lorea lançou o
ensino médio, aí eu vi aquela palavrinha ali, “literatura”, separada, engavetada em
disciplina, eu olhei pras gurias e disse; “Pô, tá aí um desafio! Eu queria ser
professora de literatura, pelo menos uma vez na vida, pra ver como é que é”. Eu
queria ver como é que era. E as gurias: “Então tá, agora tá abrindo o ensino médio,
literatura é tua”. E aí eu tive que me reestruturar, reestudar, ver como é que se dava
aula de literatura. Então isso foi legal, eu comecei trabalhando com filme, porque
não tinha muitos livros na biblioteca, eu pegava filmes. Então eu trabalhava as
características deles na escola e buscava filmes e fazia os alunos procurarem nos
filmes as características e isso funcionava legal, né, com alunos do noturno já.
Então, tem coisas que tu vai brincando, assim, e descobrindo. Aí traz o texto, mas já
trabalhou um filme, já trabalhou as características em cima do filme, aí traz o texto.
Juliana – Como tu enxergas o uso do livro didático nas aulas de literatura? Tu usas
algum livro?
E. S. – Ele é acessório, eu não uso. Porque no noturno agora é que tá aparecendo
livro, pro aluno do noturno. Normalmente ajuda se tu precisas de material pra sala
de aula e tu não tens como tirar uma cópia da tua aula, né, agora mesmo, aqui que a
gente tá sem internet, quer dizer, não tem uma sala de informática pra levar o aluno,
aí auxilia, é uma “carta na manga”. Mas eu nem sei como é que os outros
professores usam. Não é o meu costume, eu pego material, eu to sempre trocando.
não tá aberta sempre, então tu não tem como dizer “Ah, passa lá na biblioteca...”, o
acervo também é muito pequeno.
Juliana – O que tu reivindicarias como prioridade para que o teu trabalho obtivesse
mais êxito?
E. S. – Eu acho que falta trabalhar pra curiosidade do aluno, o senso crítico, talvez
falte o desejo do aluno, como despertar esse desejo no aluno. Porque quando ele
chega no ensino médio, ele poderia chegar mais curioso. E isso aí a gente desperta
lá no início também, né. Mais difícil um pouco, não vou te dizer que seja impossível.
Eles contam historinha, eles curtem, aí, daqui a pouco vê sumindo... vão se
perdendo essas vontades. Eu reivindicaria um aluno mais curioso, mais crítico, com
mais vontade mesmo de aprender. Na estrutura da escola... hoje sem biblioteca,
sem sala de informática, tudo vai ficando mais difícil, né. Sempre digo que o principal
recurso, tudo bem que tem que ser o humano, mas é sempre o professor a
ferramenta, porque não... e... claro, hoje que eles têm [internet] até no celular, tu tá
falando e um aluno mais curioso, ele já tá olhando no celular o que tem e o que não
tem ali e às vezes tu tá concorrendo com o aluno dizendo “mas, professora...”.
Então, é complicado não ter os acessórios.
Duração: 32min45s
Juliana – O que tu pensas quando ouves dizer que o magistério é uma missão, uma
espécie de vocação, mais que uma profissão ou carreira?
R. M – Eu, particularmente, quando comecei, há muitos anos, eu não imaginava que
o meu salário hoje estivesse tão, tão, tão, tão infinitamente defasado com relação à
época em que eu comecei. Então, eu não tinha essa ideia. Na verdade, como eu
estudei a vida inteira em escola pública, meus professores tinham um padrão de
vida muito bom e um reconhecimento indiscutível. Então, mas.... de certa forma eu
tenho que concordar, sabe... porque eu acho assim que, claro, a gente tem que
seguir lutando por melhores condições de trabalho, por reconhecimento do nosso
trabalho, mas eu acho... muitas vezes eu me sinto assim meio que vocacionada,
sabe, porque me parece agora... principalmente agora que eu tô saindo, com uma
situação assim de conflito comigo mesma, parece que eu não conseguiria fazer
outra coisa. E tenho me queixado para algumas pessoas com as quais eu tenho
conversado, de que eu gostaria de seguir ensinando (a palavra que eu uso é essa:
ensinando), daí as pessoas me diziam: “então por que tu não aprendes outra coisa
pra poder ensinar?” ...até é algo que eu posso refletir. Eu me inclino a achar, não sei
se é comigo, né, Ju... às vezes me parece que a gente nasceu pra isso, eu sei que
não é... mas intimamente, assim, eu mesma... parece que eu não conseguiria fazer
outra coisa que não fosse ensinar.
265
Juliana – A que tu atribuis o fato de cada vez menos jovens fazerem o ENEM pra
licenciatura, menos gente querer ser professor?
R. M. – O baixo salário é um fator determinante pra isso. Porque várias vezes os
meus alunos, questionando quanto que eu ganhava, quando eu digo o que eu ganho
pra eles, eles dizem: “Ah, professora, estás de brincadeira! Não é possível que tu
ganhes isso!”, ou: “Professora, eu na oficina do meu pai ganho muito mais do que
tu”. Acho que isso é um fator, assim, que é determinante. Eu participei do PIBID e a
queixa dos bolsistas que me acompanhavam, sem entrar nas questões salariais, era
com relação à infraestrutura da escola pública de uma forma geral. A gente muitas
vezes teve que pagar xerox, levar giz de casa, esse tipo de coisa.
141
Colégio Técnico Industrial, atual Instituto Federal do Rio Grande do Sul – IFRS – Campus Rio
Grande.
266
orientador das tuas leituras. Eu tive um em casa, porque o meu pai lia muito, então,
ele era uma pessoa que tinha dois, três livros na cabeceira da cama. E me dizia
assim: “olha, isto aqui tu tens que ler, isto aqui é legal tu leres”. Ler, sei lá,
Shakespeare, literatura inglesa, que não é a minha praia, mas ele me dizia: “É bom
tu leres, é bom que tu conheças”. “Ah, por que tu não lês Os Lusíadas?” Depois eu
fui ler na faculdade. Mas então, eu tinha uma orientação de leitura em casa. E os
nossos alunos não têm, eles não têm o mínimo... eu acho, assim, que até mesmo
em outros contextos é uma função da escola ensinar a gente a ler, fazer essa leitura
de mundo. É uma função da escola... por que não? Por que a escola tem que lidar
só com as durezas da vida e não ensinar as bonitezas da vida?
Juliana – Que lacunas a tua formação acadêmica deixou e que hoje são um
obstáculo ao teu trabalho?
R.M. – Puxa, Ju, como eu vou te dizer... como eu me formei há muito tempo, em
1983, naquela época eu não senti, né... eu acho que tive uma formação excelente.
269
Claro, hoje existem disciplinas novas, que o pessoal tá fazendo agora, coisas que a
gente não fez, sei lá... psicolinguística, neurolingúistica, semiótica... isso eu gostaria
de fazer. Se eu pudesse eu faria o curso de Letras novamente. Acho que eu tive
uma formação bem sólida, assim... e eu era muito estudiosa, estudava muito. Eu
gostava de estudar, então eu acho que eu tive uma formação bem boa.
Juliana – Como tu vês o uso de livro didático nas aulas de literatura? Tu usas o
livro?
R. M. – Às vezes eu uso. Vou te dizer que eu não participei da escolha, porque eu
não estava nesse dia, mas normalmente a gente faz uma reunião pra isso. E às
vezes eu uso porque... primeiro porque a gente não tem dinheiro pra xerox, e não
tem na biblioteca os livros, eles reclamam muito quando eles têm que comprar. O
ano passado, como nós fizemos esse trabalho com o Rubem Alves, eu fiz vários
xerox pros alunos, porque eles não tinham como pagar um livro de 30 reais. Então
eu pedi pra diretora e a gente acabou fazendo uma série de xerox. Então, às vezes,
a gente se vê obrigada, se não tem... vai fazer o quê? Na verdade, na nossa escola,
tu sabes qual é a nossa cota pra xerox? Nós temos uma cota de três cópias por
trimestre pra cada turma. Mas eu, claro... professora de português é impossível,
como é que tu vais trabalhar com três cópias? Tem muita gente que usa só o livro, o
pessoal das exatas usa praticamente só o livro... e o aluno pode se perguntar: pra
que eu preciso do professor, e por que trabalhar só com aquele autor? O professor
tá ali pra estabelecer relações entre aquilo ali e o resto.
Juliana – O que tu reivindicarias como prioridade para que o teu trabalho obtivesse
mais êxito?
R. M. – Eu acho assim, que a gente tinha que ter uma sala de multimídia, uma boa
sala de multimídia disponível... quer dizer, uma, não; mais de uma. Nós temos uma
que não tá.... nós recebemos uma lousa há uns dois, três anos, que tá fechada na
caixa. Então eu acho que esse espaço nós precisaríamos. A gente tem uma sala de
vídeo que é disputadíssima quase a tapa, porque é uma sala pra 80 professores, é
um datashow pra 80 professores. Tem que agendar com muita, muita antecedência.
E tem outra coisa, como é uma sala só, muita gente mexe, às vezes tu te programas
pra ir e aí o equipamento tá com problema, ou o som não tá funcionando, ou é o
cabo. Então, eu acho, nós precisaríamos ter um bom espaço, várias salas de
multimídia, nós teríamos que ter uma verba pra xerox muito mais generosa, teríamos
que investir muito na nossa biblioteca. Isso dentro da minha escola, né...
Duração: 20min35s
Juliana – Bom, J. C., a primeira coisa que vou te perguntar é o que tu pensas
quando tu escutas as pessoas falarem que ser professor é mais uma vocação do
que uma profissão?
J. C. – Ah, eu acho muito interessante, porque se tu não tens vocação, muitas
pessoas desistem, né. Porque é uma profissão muito árdua, precisa ter muita
paciência, tem que ter muita boa-vontade, então eu acho que se tu não tens um
pouco de vocação fica complicado. Não acredito que a gente não esteja na profissão
por dinheiro, porque todos precisamos trabalhar, né... eu acho que é um equilíbrio
entre as duas coisas, o trabalho aliar à necessidade, mas precisa ter vontade de
fazer, gostar de fazer, porque senão se torna uma coisa muito fria, né, tu entra na
sala de aula, tu dá tua aula, tu sai, não há um envolvimento com os alunos, então eu
acredito que seja um equilíbrio entre as duas coisas.
Juliana – A que tu atribuis o fato de cada vez menos jovens optarem por um curso
de licenciatura, e ter o desejo de ser professor?
J. C. – Eu acho que é o desincentivo, porque geralmente o salário do professor não
é um bom salário, principalmente pro professor público, tem sempre essa questão,
né, tanto municipal, estadual, tirando fora os federais, hã... há esse problema, o
professor se sente desmotivado financeiramente e aí não dá aquela questão do
status, o aluno quer ter o status, então ele menospreza a função do professor
272
justamente porque não tem esse pagamento que deveria ser à altura do ensino
profissional.
Juliana – Tu costumas ler obras não relacionadas ao teu trabalho? Como fazes
essa escolha?
J. C. – Olha, dependendo do meu tempo, que é uma vida corrida, dependendo do
meu tempo eu leio. Eu escolho pelo gostar, eu começo a ler e “Ah, esse tema não é
um tema que eu gosto”, então se já não é um tema que eu gosto eu não consigo ir
até o fim.
porque o filme é sempre diferente do romance, tem algo que é diferente do romance.
Agora vocês já viram o filme, vocês vão ler e vão me contar onde está a diferença”.
Quer dizer que eles acharam que ia ser muito fácil, mas tinham um questionamento
a mais do que os outros que iam só ler.
novatos, tão recém aprendendo que é literatura. Então eu procuro entrar com texto
curto. Levo pra aula e eles começam a manusear os livros dessa maneira. Eu levo
uma quantidade que eu acho razoável e deixo eles escolherem, eles ficam
manuseando, leem um pouco, se não gostam da história, trocam. Já quando
chegam no segundo ano, que daí, ainda estamos presos ao conteúdo, então eu
pego os romances, eu conto um pouco das histórias pra que eles se sintam
interessados em saber... conto uma parte do enredo. Mais ou menos dessa forma.
Juliana – O que tu reivindicarias como prioridade para que o teu trabalho obtivesse
mais êxito?
J. C. – Do governo eu gostaria de ser reconhecida, nós, profissionais ser melhor
reconhecidos, porque isso é uma luta histórica, de salário, isso nos entristece
bastante. Dos alunos, gostaria da compreensão, que nem sempre a gente pode
trabalhar da forma que a gente gostaria, tem que exigir certos conteúdos que
também não são... o que eles gostam. Que mais eu poderia te dizer... gostaria de ter
uma sala literária, uma sala que fosse só pra literatura, que aí a gente entraria com
os alunos e aí teria uma biblioteca, ou os computadores a nosso dispor... poderia
decorar essa sala com todos os personagens, com os autores. Seria um sonho que
fica... infelizmente na escola pública é muito difícil, tá sempre faltando sala, então
seria um sonho assim mais, meio distante, mas um sonho mais próximo seria em
todas as salas ter, que nem é na FURG, o multimídia em todas as salas ou uma TV
que a gente pudesse usar como recurso. Ontem mesmo eu ia terminar de assistir
esse filme que te falei e aí nós levamos quase duas horas montando o multimídia, e
aí desestimula... quando faltava cinco minutos pra terminar a aula se conseguiu.
Então, por mais boa-vontade que tu tenhas, desmotiva.
Juliana – Tu tens apoio dos teus gestores pra desenvolver o teu trabalho?
J. C. – Sim, sempre que eu faço um trabalho diferenciado, com as artes, com teatro,
com cinema, eles gostam. Inclusive os alunos, depois que fazem o ENEM: “Bah,
professora, aquela questão do filme caiu no ENEM.” Mas se eu não tivesse passado
o filme, eles não lembravam. Se eles não tivessem lido o livro, não lembravam, se
eles não tivessem feito uma peça de teatro, não lembravam. Então eu acredito que o
aluno precisa vivenciar. Se eu chego e dou o conteúdo e não peço nada em troca,
ele esquece. Agora, se ele vivenciou o conteúdo, ele não esquece. Então a gente
278
sempre faz a proposta, agora mesmo eu quero levar eles em Pelotas pra conhecer o
museu do Simões Lopes Neto, e a direção sempre apoia.
ANEXOS
279
R-01
R-02
R-03
Cidade Nova, Miguel de Castro Moreira, Lagoa, Vila São Paulo e Vila Dias;
R-04
Dom Bosquinho, Navegantes, Lar Gaúcho, Vila dos Estivadores, Salgado Filho e
Vila Santinha;
R-05
R-06
R-07
142
Disponível em: <http://www.riogrande.rs.gov.br/pagina/index.php/participativo+1b3#.VmXUPtKrTMw>.
Acesso em: set. 2015.
280
R-08
R-09
R-10
R-11
Parque São Pedro, Parque Marinha, Boa Vista I e II, Jardim do Sol e Vieira;
R-12
R-13
Barra Falsa, Capão Seco, Pesqueiro, Povo Novo, Barro Vermelho, Banhado
Silveira e Domingos Petroline, Ilha da Torotama;
R-14
Sítio Santa Cruz, Quinta, Vila Nova da Quinta, Quintinha, Quitéria, Ilha dos
Marinheiros, Ilha do Leonídio, Palma.
R-15
Taim;
R-16
Santa Rosa, COHAB IV, Arnaldo dos Santos Quessada, Castelo Branco I e II e
Cidade de Águeda;
R-17
Trevo, Maria José, Humaitá I e II, Cibrazém, Parque Universitário, Vila Leônidas;
R-18
R-19
281
06506
06519 06526 06532
06496 Estudo do Texto 06511 06540
Fonologia Port. II Morfossintaxe III Morfossintaxe IV
Produção II Filologia Românica Es. Cu. Su. III Lí.
Semestral Semestral Semestral
Textual Semestral I Anual
2 / 36 a = 30 h = 2 4 / 72 a = 60 h = 4 4 / 72 a = 60 h = 4
Semestral 3 / 54 a = 45 h = Semestral 4 / 144 a = 120 h = 8 CR.
CR. CR. CR.
4 / 72 a = 60 h = 3 CR. 2 / 36 a = 30 h = 2
4 CR. CR.
06510 06538
06515 06523 06536 06542
Sem. Cult. Bras. Teoria da
06504 Sociolinguística Lit. Portuguesa II 06530 Lit. Inf. Juv. II Lit. R. G. S. II
II Literatura
Intr. Est. Lit. I Semestral Semestral Lit. Portuguesa III Semestral Semestral
Semestral Semestral
Semestral 2 / 36 a = 30 h = 2 2 / 36 a = 30 h = 2 Semestral 3 / 54 a = 45 h = 3 3 / 54 a = 45 h =
3 / 54 a = 45 h = 2 / 36 a = 30 h =
2 / 36 a = 30 h = CR. CR. 2 / 36 a = 30 h = 2 CR. 3 CR.
3 CR. 2 CR.
2 CR. CR.
06547
06531
06505 Aquisição de
09782 06516 06524 Lit. Brasileira III 09808 06539
Sem. Cult. Bras. Ling.
Elem. Fil. Educ. Lit. Ocidental I Lit. Brasileira II Semestral Es. Cu. Su. II E. M. Lit. R. G. S. I
I Semestral
Semestral Semestral Semestral 3 / 54 a = 45 h = 3 Semestral Semestral
Semestral 3 / 54 a = 45 h =
2 / 36 a = 30 h = 3 / 54 a = 45 h = 3 3 / 54 a = 45 h = 3 CR. 7 / 126 a = 105 h = 3 / 54 a = 45 h =
3 / 54 a = 45 h = 3 CR.
2 CR. CR. CR. 7 CR. 3 CR.
3 CR.
06546
06449 06555
Let. Dig. For. Prof. 06554
Ling. da Discurso e Gên.
Semestral Int. Est. Crí. Dis.
Enunciação Soc.
2 / 36 a = 30 h = 2 Semestral
Semestral Semestral
CR. 3 / 54 a = 45 h =
2 / 36 a = 30 h = 2 3 / 54 a = 45 h =
3 CR.
CR. 3 CR.
06545
06553 06562
Gên. Tex. e Ensino 06561
Identidade Li. Lí. Po. Go.
Semestral Lit. Afr. Lín. Por.
Docente Ma.
3 / 54 a = 45 h = 3 Semestral
Semestral Semestral
CR. 3 / 54 a = 45 h =
2 / 36 a = 30 h = 2 3 / 54 a = 45 h =
3 CR.
CR. 3 CR.
06549 06563
06560
Redação Fic. Bras.
Sem. Est. Autor
Acadêmica Contemp.
Semestral
Semestral Semestral
2 / 36 a = 30 h = 2
3 / 54 a = 45 h = 3 3 / 54 a = 45 h =
CR.
CR. 3 CR.
06564
06556
Fic. Port.
Dramaturgia Bras.
Contemp.
Semestral
Semestral
3 / 54 a = 45 h = 3
3 / 54 a = 45 h =
CR.
3 CR.
06557 06565
Dramaturgia Poe. Bras.
Portug. Contemp.
Semestral Semestral
3 / 54 a = 45 h = 3 3 / 54 a = 45 h =
CR. 3 CR.
06566
06558
Lír. Port.
Teoria do Drama
Contemp.
Semestral
Semestral
3 / 54 a = 45 h = 3
3 / 54 a = 45 h =
CR.
3 CR.
06559 06567
Pan. Con. Bras. Int. Hist . Lit.
Semestral Semestral
3 / 54 a = 45 h = 3 3 / 54 a = 45 h =
CR. 3 CR.
283
06506
06513 06520 06527 06534
Estudo do Texto
06502 Fonologia Port. I Morfossintaxe II Pr. En. Lí. Po. I Lit. Portuguesa IV
II 06584
Língua Latina I Semestral Semestral Semestral Semestral
Semestral E. C. S. IV L. E.
Semestral 2 / 36 a = 30 h = 2 4 / 72 a = 60 h = 4 3 / 54 a = 45 h = 3 2 / 36 a = 30 h = 2
3 / 54 a = 45 h = Anual
2 / 36 a = 30 h = CR. CR. CR. CR.
3 CR. 4 / 144 a = 120 h = 8 CR.
2 CR.
06538
06509 06517 06524 06531
06568 Teoria da
Intr. Est. Lit. II Lit. Portuguesa I Lit. Brasileira II Lit. Brasileira III 06577 06583
Língua Literatura
Semestral Semestral Semestral Semestral Literatura Espan. II Lit. Hisp.-amer. II
Espanhola I Semestral
2 / 36 a = 30 h = 2 / 36 a = 30 h = 2 3 / 54 a = 45 h = 3 3 / 54 a = 45 h = 3 Semestral Semestral
Semestral 2 / 36 a = 30 h =
2 CR. CR. CR. CR. 3 / 54 a = 45 h = 3 3 / 54 a = 45 h =
6 / 108 a = 90 h 2 CR.
CR. 3 CR.
= 6 CR.
06582
06525
06449 09807 Li. Ap. En. L. E. 06547
09782 10518 Lit. Ocidental II 09808
Ling. da Es. Cu. Su. I En. II Aquisição de
Elem. Fil. Educ. Psic. Educação Semestral Es. Cu. Su. II E. M.
Enunciação Fu Semestral Ling.
Semestral Semestral 3 / 54 a = 45 h = 3 Semestral
Semestral Semestral 3 / 54 a = 45 h = Semestral
2 / 36 a = 30 h = 4 / 72 a = 60 h = CR. 7 / 126 a = 105 h =
2 / 36 a = 30 h = 2 7 / 126 a = 105 h = 3 CR. 3 / 54 a = 45 h =
2 CR. 4 CR. 7 CR.
CR. 7 CR. 3 CR.
06548
06546 06499
06251 Gram. Sistêmico-
09783 06516 Let. Dig. For. Prof. 06529 Pr. En. Lí. Po. II 06539
Gram. Port. fun.
Pol. Púb. Educ. Lit. Ocidental I Semestral Lit. Inf. Juv. I Semestral Lit. R. G. S. I
Cont.(S) Semestral
Semestral Semestral 2 / 36 a = 30 h = 2 Semestral 2 / 36 a = 30 h = 2 Semestral
Semestral 3 / 54 a = 45 h =
4 / 72 a = 60 h = 3 / 54 a = 45 h = 3 CR. 3 / 54 a = 45 h = 3 CR. 3 / 54 a = 45 h =
3 / 54 a = 45 h = 3 CR.
4 CR. CR. CR. 3 CR.
3 CR.
06536
06511 06522 06549
06560 06588 Lit. Inf. Juv. II 06552 06554
Filologia Filologia Român. Redação
Sem. Est. Autor Con. Lín. Esp. I Semestral Tóp. Aná. Disc. Int. Est. Crí. Dis.
Românica I II Acadêmica
Semestral Semestral 3 / 54 a = 45 h = 3 Semestral Semestral
Semestral Semestral Semestral
2 / 36 a = 30 h = 2 2 / 36 a = 30 h = 2 CR. 3 / 54 a = 45 h = 3 / 54 a = 45 h =
2 / 36 a = 30 h = 2 / 36 a = 30 h = 3 / 54 a = 45 h = 3
CR. CR. 3 CR. 3 CR.
2 CR. 2 CR. CR.
06593 06591
06557
Pr. Te. Lí. Es. II 06596 Tr. Te. Lí. Es. II 06561
Dramaturgia
Semestral Es. Li. Te. Li. Es. Semestral Lit. Afr. Lín. Por.
Portug.
2 / 36 a = 30 h = 2 Semestral 2 / 36 a = 30 h = 2 Semestral
Semestral
CR. 2 / 36 a = 30 h = 2 CR. 3 / 54 a = 45 h =
3 / 54 a = 45 h = 3
CR. 3 CR.
CR.
06563
06558 06595
Fic. Bras.
Teoria do Drama Le. Te. Lí. Es. II
Contemp.
Semestral Semestral
Semestral
3 / 54 a = 45 h = 3 2 / 36 a = 30 h = 2
3 / 54 a = 45 h =
CR. CR.
3 CR.
06564
06559 06600
Fic. Port.
Pan. Con. Bras. Sem Cul. Hisp. II
Contemp.
Semestral Semestral
Semestral
3 / 54 a = 45 h = 3 2 / 36 a = 30 h = 2
3 / 54 a = 45 h =
CR. CR.
3 CR.
06565
06586
Poe. Bras.
Fo. Fo. Lí. Es. I
Contemp.
Semestral
Semestral
2 / 36 a = 30 h = 2
3 / 54 a = 45 h =
CR.
3 CR.
06592
06566
Pr. Te. Lí. Es. I
Lír. Port.
Semestral
Contemp.
2 / 36 a = 30 h = 2
Semestral
CR.
3 / 54 a = 45 h =
3 CR.
285
06594
Le. Te. Lí. Es. I 06567
Semestral Int. Hist . Lit.
2 / 36 a = 30 h = 2 Semestral
CR. 3 / 54 a = 45 h =
3 CR.
06597
06599
Me. En. Es. L. E.
Sem Cul. Hisp. I
II
Semestral
Semestral
2 / 36 a = 30 h = 2
3 / 54 a = 45 h =
CR.
3 CR.
06598
O Mo. Li. Lí. Es.
Semestral
3 / 54 a = 45 h =
3 CR.
06601
Tr. Te. Li. Lí. Es.
Semestral
2 / 36 a = 30 h =
2 CR.
286
06506
06513 06520 06527 06534
Estudo do Texto 06619
06502 Fonologia Port. I Morfossintaxe II Pr. En. Lí. Po. I Lit. Portuguesa IV
II Es. Cu. Su. IV L. F.
Língua Latina I Semestral Semestral Semestral Semestral
Semestral Anual
Semestral 2 / 36 a = 30 h = 2 4 / 72 a = 60 h = 4 3 / 54 a = 45 h = 3 2 / 36 a = 30 h = 2
3 / 54 a = 45 h = 4 / 144 a = 120 h = 8 CR.
2 / 36 a = 30 h = CR. CR. CR. CR.
3 CR.
2 CR.
06537 06541
06508 06515 06523 06610
Est. Significação Est. Significação
06504 Linguística II Sociolinguística Lit. Portuguesa II 06530 Língua Francesa VI
I II
Intr. Est. Lit. I Semestral Semestral Semestral Lit. Portuguesa III Semestral
Semestral Semestral
Semestral 2 / 36 a = 30 h = 2 / 36 a = 30 h = 2 2 / 36 a = 30 h = 2 Semestral 6 / 108 a = 90 h = 6
4 / 72 a = 60 h = 4 / 72 a = 60 h =
2 / 36 a = 30 h = 2 CR. CR. CR. 2 / 36 a = 30 h = 2 CR.
4 CR. 4 CR.
2 CR. CR.
06617
06517 06524 06531 06611
06602 06538 Língua Francesa
06509 Lit. Portuguesa I Lit. Brasileira II Lit. Brasileira III Me. En. Fr. Lí. E. I
Língua Francesa Teoria da VIII
Intr. Est. Lit. II Semestral Semestral Semestral Semestral
I Literatura Semestral
Semestral 2 / 36 a = 30 h = 2 3 / 54 a = 45 h = 3 3 / 54 a = 45 h = 3 2 / 36 a = 30 h = 2
Semestral Semestral 6 / 108 a = 90 h =
2 / 36 a = 30 h = CR. CR. CR. CR.
6 / 108 a = 90 h 2 / 36 a = 30 h = 6 CR.
2 CR.
= 6 CR. 2 CR.
06605 06615
06606 06609 06613 06542
09437 Co. Ex. Es. Lí. L. A. E. F. L. E.
Língua Francesa III 09781 Lit. Lín. Fra. I Lit. Lín. Fra. II Lit. R. G. S. II
Elem. Soc. da Fr. II
Semestral Didática Semestral Semestral Semestral
Educ. Semestral Semestral
6 / 108 a = 90 h = 6 Semestral 3 / 54 a = 45 h = 3 3 / 54 a = 45 h = 3 3 / 54 a = 45 h =
Semestral 2 / 36 a = 30 h = 3 / 54 a = 45 h =
CR. 4 / 72 a = 60 h = 4 CR. CR. 3 CR.
2 / 36 a = 30 h = 2 CR. 3 CR.
CR.
2 CR.
287
06547
06449 06522 09807 Aquisição de
09782 10518 09808 06616
Ling. da Filologia Român. Es. Cu. Su. I En. Ling.
Elem. Fil. Educ. Psic. Educação Es. Cu. Su. II E. M. Lit. Lín. Fra. III
Enunciação II Fu Semestral
Semestral Semestral Semestral Semestral
Semestral Semestral Semestral 3 / 54 a = 45 h =
2 / 36 a = 30 h = 4 / 72 a = 60 h = 7 / 126 a = 105 h = 3 / 54 a = 45 h =
2 / 36 a = 30 h = 2 2 / 36 a = 30 h = 2 7 / 126 a = 105 h = 3 CR.
2 CR. 4 CR. 7 CR. 3 CR.
CR. CR. 7 CR.
06548
06525 06499
06251 06511 Gram. Sistêmico-
09783 Lit. Ocidental II 06529 Pr. En. Lí. Po. II 06539
Gram. Port. Filologia Românica fun.
Pol. Púb. Educ. Semestral Lit. Inf. Juv. I Semestral Lit. R. G. S. I
Cont.(S) I Semestral
Semestral 3 / 54 a = 45 h = 3 Semestral 2 / 36 a = 30 h = 2 Semestral
Semestral Semestral 3 / 54 a = 45 h =
4 / 72 a = 60 h = CR. 3 / 54 a = 45 h = 3 CR. 3 / 54 a = 45 h =
3 / 54 a = 45 h = 2 / 36 a = 30 h = 2 3 CR.
4 CR. CR. 3 CR.
3 CR. CR.
06510
06546 06544 06533 06550 06551
06505 Sem. Cult. Bras.
06516 Let. Dig. For. Prof. Tóp. Avan. Fonol. Psicolinguística Tó. Li. Lí. Po. I Tó. Li. Lí. Po. II
Sem. Cult. Bras. II
Lit. Ocidental I Semestral Semestral Semestral Semestral Semestral
I Semestral
Semestral 2 / 36 a = 30 h = 2 3 / 54 a = 45 h = 3 3 / 54 a = 45 h = 3 3 / 54 a = 45 h = 3 / 54 a = 45 h =
Semestral 3 / 54 a = 45 h =
3 / 54 a = 45 h = 3 CR. CR. CR. 3 CR. 3 CR.
3 / 54 a = 45 h = 3 CR.
CR.
3 CR.
06631 06628
06549 06555 06562
06560 Co. Le. Li. Lí. Fr. Le. Pr. Te. L. F. II
Redação Discurso e Gên. Li. Lí. Po. Go.
Sem. Est. Autor Semestral Semestral
Acadêmica Soc. Ma.
Semestral 2 / 36 a = 30 h = 2 2 / 36 a = 30 h = 2
Semestral Semestral Semestral
2 / 36 a = 30 h = 2 CR. CR.
3 / 54 a = 45 h = 3 3 / 54 a = 45 h = 3 / 54 a = 45 h =
CR.
CR. 3 CR. 3 CR.
06632 06623
06621 06633
Teatro de Líng. Trad. Com. Fran.
06556 Fo. Fo. Lí. Fr. II Sem. Lit. Lín. Fra. 06561
Fra. II
Dramaturgia Bras. Semestral Semestral Lit. Afr. Lín. Por.
Semestral Semestral
Semestral 2 / 36 a = 30 h = 2 3 / 54 a = 45 h = 3 Semestral
2 / 36 a = 30 h = 2 3 / 54 a = 45 h =
3 / 54 a = 45 h = 3 CR. CR. 3 / 54 a = 45 h =
CR. 3 CR.
CR. 3 CR.
06626 06635
06557 06563
Con. Lín. Fra. II Rom. Lín. Fra.
Dramaturgia Fic. Bras.
Semestral Semestral
Portug. Contemp.
2 / 36 a = 30 h = 2 2 / 36 a = 30 h =
Semestral Semestral
CR. 2 CR.
3 / 54 a = 45 h = 3 3 / 54 a = 45 h =
CR. 3 CR.
06630
06564
06558 Sem. Cul. Fran.
Fic. Port.
Teoria do Drama Semestral
Contemp.
Semestral 2 / 36 a = 30 h = 2
Semestral
3 / 54 a = 45 h = 3 CR.
3 / 54 a = 45 h =
CR.
3 CR.
06565
06559
Poe. Bras.
Pan. Con. Bras.
Contemp.
Semestral
Semestral
3 / 54 a = 45 h = 3
3 / 54 a = 45 h =
CR.
3 CR.
06620
06566
Fo. Fo. Lí. Fr. I
Lír. Port.
Semestral
Contemp.
3 / 54 a = 45 h = 3
Semestral
CR.
3 / 54 a = 45 h =
3 CR.
288
06625
Con. Lín. Fra. I 06567
Semestral Int. Hist . Lit.
2 / 36 a = 30 h = 2 Semestral
CR. 3 / 54 a = 45 h =
3 CR.
06622
Trad. Com. Fran.
I
Semestral
3 / 54 a = 45 h =
3 CR.
06624
Me. En. Fr. L. E.
II
Semestral
2 / 36 a = 30 h =
2 CR.
06629
Es. Li. Te. Li. Fr.
Semestral
2 / 36 a = 30 h =
2 CR.
06634
Poe. Lín. Fran.
Semestral
2 / 36 a = 30 h =
2 CR.