Dispêndio Terceiro

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 97

O R G A N I Z A D O R E S

Ernesto Saboia de Figueiredo Júnior


Luis Eduardo Menezes Lima
Eloisa Maia Vidal

Cidadania e
Controle Social
das Contas Públicas
democracia, direitos e participação
CIDADANIA E CONTROLE SOCIAL DAS CONTAS PÚBLICAS

Presidente Diretor-presidente do Instituto Plácido Castelo


José Valdomiro Távora de Castro Júnior Ernesto Saboia de Figueiredo Júnior

Vice-Presidente Diretor Geral do Instituto Plácido Castelo


Edilberto Carlos Pontes Lima Luis Eduardo de Menezes Lima

Corregedora Consultoria Técnico-pedagógica


Patrícia Lúcia Mendes Saboya Pedro Henrique Alves Camelo
Eloisa Maia Vidal
Ouvidor
Ernesto Saboia de Figueiredo Júnior Projeto Gráfico e ilustração
Roberto Santos Alves
Conselheiros
Felipe de Figueiredo
Luís Alexandre Albuquerque Figueiredo de Paula Pessoa
Soraia Thomaz Dias Victor Revisão
Rholden Botelho de Queiroz Maroly Cristina Vieira

Conselheiros Substitutos Catalogação na Fonte e ISBN


Itacir Todero Josimar Batista dos Santos
Paulo César de Souza
David Santos Matos
Fernando Antônio Costa Lima Uchôa Junior
Manassés Pedrosa Cavalcante
Ministério Público junto ao TCE/CE
Procurador-Geral de Contas
Leilyanne Brandão Feitosa
Procuradores de Contas
Gleydson Antônio Pinheiro Alexandre
Eduardo de Sousa Lemos
José Aécio Vasconcelos Filho Aponte a Câmera do seu Celular para o QR Code e
Júlio César Rola Saraiva acesse a Ficha de Inscrição no Portal do Aluno do
Programa Agente de Controle
Cláudia Patrícia Rodrigues Alves Cristino

Bibliotecário: Josimar Batista dos Santos – CRB-3/1455


C568 Cidadania e controle social das contas públicas : democracia, direitos e
participação / organizado por Ernesto Saboia de Figueiredo Júnior, Luis
Eduardo Menezes Lima e Eloisa Maia Vidal. - Fortaleza: Edições IPC, 2023.
96p. : il. color., enc.; 16,5 x 24,0 cm.

ISBN 978-65-998100-2-2

1. Cidadania. 2. Controle Social. 3. Contas Públicas. 4. Democracia. I. Figuei-


redo Júnior, Ernesto Saboia de. II. Lima, Luís Eduardo Menezes. III. Vidal, Eloisa
Maia. IV. Tribunal de Contas do Estado do Ceará. Instituto Escola Superior de
Contas e Gestão Pública Ministro Plácido Castelo. V. Título. VI. Série.
CDU.: 342.7
Sumário

Apresentação ...................................................................... 5

Parte 1 – O Estado brasileiro: organização e controle .............. 7


Capítulo 1 - Recursos Públicos: origem dos recursos públicos................. 8
Capítulo 2 - Tipos de Orçamento Público .............................................13
Capítulo 3 - Tipos de Controle: interno, externo e social .......................21
Capítulo 4 - Órgãos de Controle no Brasil ............................................27
Capítulo 5 - Tribunais de Contas no Brasil: União,
estados e municípios ...........................................................................32
Capítulo 6 - Ministério Público de Contas no Brasil .............................37
Capítulo 7 - As Escolas de Contas: funções e atribuições no
fortalecimento do controle social e da democracia.................................42

Parte 2 – Controle Social, políticas públicas e cidadania......... 47


Capítulo 8 - Controle Social: origem e papel do cidadão .......................48
Capítulo 9 - Gestor Público: atuação e responsabilidades ......................53
Capítulo 10 - Prestação de contas dos recursos públicos ........................57
Capítulo 11 - As políticas sociais e os mecanismos de controle:
democracia e participação....................................................................63
Capítulo 12 - Gestão participativa do orçamento escolar:
escola, família e sociedade ...................................................................68

Parte 3 – Acesso à informação, transparência e participação ... 73


Capítulo 13 - Uso de tecnologias para o exercício do controle social .....74
Capítulo 14 - Ouvidoria e Portal da Transparência como canais
de acesso para o cidadão .....................................................................79
Capítulo 15 - Lei de Acesso à Informação ............................................85
Capítulo 16 - Governo Digital e Inovação Pública ................................90
Democracia, direitos e participação

Apresentação

Caro(a) aluno(a)
Este livro foi escrito para você. Ele trata de assuntos mui-
to relevantes para o exercício da cidadania numa sociedade de-
mocrática, o direito e o dever que o cidadão tem de fiscalizar os
recursos públicos, por meio do controle social.
Para facilitar a compreensão sobre o funcionamento dos
mecanismos de controle social, o livro foi dividido em três par-
tes. Na primeira, é apresentado o Estado brasileiro: organiza-
ção e controle e nele você vai entender a origem dos recursos
públicos, como é feito o orçamento público, os tipos de con-
trole que se fazem presentes na legislação brasileira e quais os
órgãos de controle existentes no Brasil. Você também vai ser
apresentado aos Tribunais de Contas da União, dos estados e
dos municípios, ao Ministério Público Especial que atua junto
aos Tribunais Contas e às Escolas de Contas. Essas últimas são
instituições criadas com o propósito de oferecer formação con-
tinuada para os agentes públicos no sentido de prepará-los para,
cada vez mais, exercer um cargo público com competência e
compromisso com a res publica.
A segunda parte do livro é dedicada ao Controle Social,
políticas públicas e cidadania e nela você vai tomar conhecimen-
to sobre a origem e o papel do cidadão no exercício do controle
social, como um gestor público deve atuar e quais suas respon-
sabilidades, o significado e os requisitos básicos para a prestação
de contas dos recursos públicos. Esta parte também aborda sobre
a importância dos mecanismos de controle para a democracia e
como a participação popular é importante para a concepção e
gestão das políticas sociais, com destaque para a educação.
A terceira parte refere-se ao Acesso à informação, trans-
parência e participação. Nas sociedades democráticas, os avan-
ços das tecnologias de informação e comunicação, especialmen-
te com o advento da internet, têm criado condições favoráveis

5
Cidadania e controle social das contas públicas

para maior publicização de dados e informações, e facilitado o


acesso para todos os cidadãos. No Brasil, podemos registrar três
grandes avanços com a criação das Ouvidorias, dos Portais da
Transparência e da Lei de Acesso à Informação. Essa parte se
encerra com uma discussão sobre inovação e governo digital, o
caminho que se anuncia para os próximos anos.
Espero que você aproveite os conhecimentos aqui apre-
sentados, para juntamente com seus professores e colegas, dia-
logarem sobre a importância da participação de cada um e de
todos juntos na construção de uma sociedade democrática, em
que os direitos e deveres individuais e coletivos sejam assegura-
dos e respeitados a partir da pluralidade de visões de mundo, e
na contínua busca por um Estado Democrático de Direito, um
Ceará mais igualitário e um Brasil melhor para todos e todas.

José Valdomiro Távora de Castro Júnior


Conselheiro Presidente do Tribunal de Contas
do Estado do Ceará

6
Parte 1

O Estado
brasileiro:
organização e
controle
Capítulo 1

Origem dos recursos públicos


Aloisio Barbosa de Carvalho Neto

Pensando sobre o assunto


1. Você sabe o que são recursos públicos e de onde eles vem?
2. Os recursos públicos podem ser usados para finalidades
privadas?

Objetivos do capítulo

• conhecer a origem dos recursos que formam o orçamento público;


• identificar órgãos que arrecadam e fiscalizam os recursos públicos.

Introdução
Como o próprio nome diz, recursos públicos são aqueles
arrecadados da população brasileira para suprir as necessidades
da máquina estatal, revertendo em benefício de todos, sejam
eles contribuintes ou não. Eles são necessários para que União,
estados, Distrito Federal e municípios possam desempenhar
suas funções e atribuições legalmente previstas, tais como, for-
necer serviços de saúde, educação, segurança, dentre outros.
Em outras palavras, os recursos públicos se destinam a
manter em funcionamento todo o aparato estatal em todas suas
esferas de atuação, inclusive, no pagamento dos seus servidores
efetivos ou não, pensionistas, enfim, todos que desempenham
ou desempenharam alguma espécie de serviço público.
Mas de onde se originam os recursos públicos? A maioria
deles é fruto da arrecadação de tributos, sendo mais conhecidos
os impostos, as taxas e as contribuições de melhoria.

8
Democracia, direitos e participação

Segundo o Art. 16, do Código Tributário Nacional, “im-


posto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situ-
ação independente de qualquer atividade estatal específica, rela-
tiva ao contribuinte”. Vale dizer, em relação aos impostos, seu
fato gerador é uma situação independente de qualquer atividade
específica estatal. O Imposto de Renda é um exemplo clássico.
O Código Tributário Nacional, no seu artigo 77, explica
que “as taxas cobradas pela União, pelos estados, pelo Distrito
Federal ou pelos municípios, no âmbito de suas respectivas atri-
buições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de
polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público
específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua
disposição.” Assim, as taxas, como por exemplo, a recém-cria-
da taxa de lixo de Fortaleza, é um serviço público específico e
divisível prestado ao contribuinte ou à sua disposição.
As contribuições de melhoria apresentam semelhanças
com as taxas e com os impostos. À semelhança das taxas, elas
têm uma destinação específica, mas, diferentes destas, o valor a
ser cobrado varia de acordo com a renda do contribuinte, apro-
ximando as contribuições dos impostos.
O Imposto de Renda (IR), o Imposto sobre Produtos Indus-
trializados (IPI), o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermuni-
cipal e de Comunicação (ICMS), o Imposto Sobre Serviços de
Qualquer Natureza (ISS), o Imposto sobre a Propriedade de Veí-
culos Automotores (IPVA), o Imposto sobre a Propriedade Predial
e Territorial Urbana (IPTU), o Imposto de Transmissão de Bens
Imóveis (ITBI), o Imposto Territorial Rural (ITR), Imposto sobre a
Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direi-
tos (ITCD) são os mais conhecidos. As taxas mais conhecidas são
a da coleta de lixo e as cobradas para emissão de documentos. As
contribuições de melhorias são cobradas quando há uma destina-
ção específica para um determinado grupo, como o Programa de
Integração Social (PIS) e o Programa de Formação do Patrimônio
do Servidor Público (Pasep), que são direcionados a um fundo dos
trabalhadores do setor privado e público.
O Imposto de Renda é arrecadado1 pela União, bem como 1
Arrecadar na prática é a co-
o IPI e o ITR. Uma particularidade no que diz respeito ao IPVA, brança específica de deter-
pois, embora a competência legal para arrecadar seja dos estados, minado tributo.

9
Cidadania e controle social das contas públicas

50% do valor arrecadado se destina ao município onde o veículo


esteja licenciado. Os municípios arrecadam o ISS, bem como o
IPTU e o ITBI, Imposto de Transmissão de Bens Imóveis.
Órgãos arrecadadores e fiscalizadores
Tanto na União como nos estados, Distrito Federal e mu-
nicípios, existem órgãos responsáveis pela arrecadação dos
impostos, taxas e contribuições de melhoria. A nível federal
compete ao Ministério da Fazenda e/ou da Economia empre-
ender esforços para o integral cumprimento do pagamento dos
tributos. Nos estados e Distrito Federal essa responsabilidade
é da Secretaria de Fazenda e, nos municípios, das Secretarias
Municipais de Finanças ou nome equivalente.
A Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará (Sefaz) tem
como missão: “Melhorar a vida das pessoas arrecadando com
justiça e gerindo com excelência os recursos financeiros da so-
ciedade.” Veja que a missão além de melhorar a vida das pesso-
as, é arrecadar de forma justa, gerenciando o que arrecada com
excelência, no que se refere aos recursos obtidos da sociedade
cearenses. Para cada tributo arrecadado existe uma legislação
que orienta o sistema de partilha dos valores entre os entes fe-
derados, o que deve ser rigorosamente cumprido para que as
finalidades do tributo sejam alcançadas.
Por exemplo, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermuni-
cipal e de Comunicação (ICMS) é um imposto de arrecadação
estadual e segundo a Constituição Federal de 1988 (artigo 158,
inciso IV) “25% do total arrecadado nos estados deve ser repar-
tido entre os respectivos municípios, da seguinte forma: a) 75%,
no mínimo, na proporção do valor adicionado nas operações re-
lativas à circulação de mercadorias e nas prestações de serviços
realizadas em seus territórios; e, b) 25% de acordo com o que
dispuser lei estadual ou, no caso dos territórios, lei federal”.
O Ceará, desde 1996, utiliza de parte dos 25% que deve
transferir para os municípios, para incentivar políticas educa-
cionais. A lei nº 12.612/1996 destinava 12,5% dos 25% à “re-
lação entre o somatório das despesas realizadas pelo município
na manutenção e desenvolvimento do ensino”, num período
em que a meta era a universalização do ensino fundamental e
a ampliação das matrículas em outras etapas de modalidades

10
Democracia, direitos e participação

de ensino. A partir de 2007, a lei no 14.023/2007 altera esse


percentual e passa a vincular 18% dos 25% a criação do “Ín-
dice Municipal de Qualidade Educacional de cada município,
formado pela taxa de aprovação dos alunos do 1º ao 5º ano do
ensino fundamental e pela média obtida pelos alunos de 2º e 5º
ano da rede municipal em avaliações de aprendizagem”.
Essa experiência tem sido considerada exitosa pela melho-
ria alcançada nos indicadores educacionais e servido de mode-
lo para outros estados adotarem regras similares.
E a quem compete examinar/fiscalizar a gerência e aplica-
ção desses recursos públicos?
Essa tarefa é competência dos Tribunais de Contas, que
analisam as prestações de contas da União, dos estados e Distri-
to Federal e dos municípios. No Ceará, é o Tribunal de Contas
do Estado do Ceará (TCE/CE), que julga as contas e os atos de
todos os administradores públicos cearenses, sejam dos municí-
pios ou do estado. Vamos tomar como exemplo a Secretaria da
Fazenda do Estado do Ceará (SEFAZ). Anualmente, a SEFAZ
é obrigada a prestar contas ao TCE, que por sua vez recebe toda
a documentação exigida por lei e julga as contas, como regula-
res, regulares com ressalva ou mesmo irregulares, aplicando ou
não multa aos gestores.
O Governador do estado também é obrigado a prestar con-
tas perante o TCE, todavia, o seu julgamento não ocorre ali,
pois quem julga suas contas anuais é a Assembleia Legislativa,
cabendo ao TCE emitir um parecer prévio em que opina pela
regularidade, regularidade com ressalvas ou irregularidade.
Em todos esses processos, atua também o Ministério Pú-
blico de Contas do TCE, emitindo parecer, bem como, todo o
corpo do TCE constituído de Auditores de Controle Externo.
Compete, portanto, ao TCE/CE, o julgamento das contas
de todos os responsáveis na área pública por dinheiro, bens, valo-
res públicos, valendo para todas as esferas de Poderes do estado
e dos municípios. E também do Ministério Público e das entida-
des da administração indireta, incluídas fundações e sociedades
instituídas e mantidas pelo Poder Público estadual ou municipal,
bem como as contas daqueles que derem causa a perda, extravio
ou outra irregularidade que resulte dano ao erário.

11
Cidadania e controle social das contas públicas

Em verdade, os responsáveis pela boa aplicação dos recur-


sos públicos são, em primeira linha, os administradores públi-
cos. E estes, se obrigam a, anualmente, demonstrarem ao TCE
a boa e regular aplicação dos recursos públicos provenientes dos
pagamentos de tributos.
Usos e aplicações dos recursos públicos
Compete à SEFAZ arrecadar e disponibilizar os recursos
públicos para todas as áreas do Poder Executivo, a exemplo,
da saúde, segurança, educação. Todavia, para a manutenção da
Sefaz, ela necessita contratar uma série de serviços e suportes
necessários para cumprir sua missão de forma adequada, por
isso, anualmente, presta contas ao TCE. Não diferentemente,
todas as áreas do governo têm e prestam anualmente contas
sobre recursos públicos e/ou dinheiro, bens e valores públicos.
Importa também dizer que todos aqueles que causarem per-
da, extravio ou qualquer irregularidade que implique em dano
ao erário, ou seja, ao Tesouro Público, serão julgados pelo TCE.
Como cidadão, você deve procurar saber de que forma os
gestores municipais estão utilizando os recursos públicos. Você
pode e deve ajudar, para que o Estado possa verificar se seus
gestores estaduais estão utilizando bem os recursos públicos.
No caso do Governo Estadual, você pode acessar: ceara-
transparente.ce.gov.br e obter toda e qualquer informação que ne-
cessitar, seja em relação aos recursos públicos arrecadados, seja
em relação às despesas empreendidas pelo estado do Ceará. Pode
também consultar contratos e sua execução, interagir inclusive
com a ouvidoria, ligando gratuitamente para o número 155, po-
dendo fazer denúncias, críticas, elogios, comentários e sugestões.

Atividades

1. Faça uma pesquisa no seu município para identificar algum


gestor público que teve a prestação de contas reprovada pelo
Tribunal de Contas do Estado do Ceará.
2. Você já ouviu falar de Improbidade Administrativa? O que
este termo tem a ver com reprovação de prestação de contas?
3. Faça uma pesquisa sobre a Lei da Ficha Limpa e comente
seus aspectos positivos e negativos.

12
Democracia, direitos e participação

Capítulo 2

Tipos de Orçamento Público


Silvia Helena Correia Vidal

Pensando sobre o assunto


1. Você sabe o que é orçamento público? E qual o seu conteúdo?
2. Você sabe quem prepara o orçamento público e quem
aprova?

Objetivos do capítulo

• conhecer os instrumentos de planejamento orçamentário ins-


tituídos pela Constituição Federal de 1988;
• conhecer o ciclo orçamentário do estado do Ceará e os prazos
correspondentes.

Instrumentos de Planejamento Orçamentário da Cons-


tituição de 1988
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
inovou ao instituir um sistema orçamentário, composto por três
instrumentos legais: o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretri-
zes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA).
Essa Constituição trouxe avanços significativos para o pla-
nejamento governamental, valorizou o planejamento em mé-
dio e longo prazo, além de criar condições para a efetivação do
princípio da universalidade, ao prever o Orçamento da Seguri-
dade Social e Orçamento de Investimento das Empresas.
Todavia, a Lei Complementar prevista no artigo 165, § 9º,
da Constituição Federal de 1988, que terá o condão de regula-
mentar o PPA e a LDO e atualizar as regras de finanças públicas
instituídas pela Lei nº 4.320/64 ainda não foi editada, lacuna
que tem sido suprida, em parte, pela Lei de Responsabilidade
Fiscal e pela própria Lei de Diretrizes Orçamentárias.
13
Cidadania e controle social das contas públicas

O Plano Plurianual
O Plano Plurianual (PPA) é um instrumento de planeja-
mento orçamentário em médio prazo, que deve ser instituído
por Lei, e que deve orientar a elaboração dos demais planos e
programas de governo, bem como o orçamento anual.
De acordo com o disposto no artigo 167, §1º, da Consti-
tuição Federal de 1988, todos os investimentos, cuja execução
ultrapasse um exercício financeiro, devem, obrigatoriamente,
integrar o Plano Plurianual (PPA).
Conforme previsto no artigo 165, § 1º, da Constituição Fe-
deral de 1988, a lei que instituir o Plano Plurianual deve conter,
de forma regionalizada: as diretrizes, objetivos e metas da ad-
ministração pública, para as despesas de capital e outras delas
decorrentes e para os programas de duração continuada.
As despesas de capital, segundo a classificação da Lei nº
4.320/64, são as destinadas aos investimentos do governo, nas
quais se destacam as obras públicas e a aquisição de equipa-
mentos, além do aporte de capital em empresas públicas.
As despesas decorrentes das despesas de capital são aque-
las necessárias à manutenção e funcionamento dos equipamen-
tos públicos, após a conclusão da obra.
No tocante aos programas de duração continuada, consi-
derando que todos os investimentos, após a sua conclusão, de-
mandam recursos para a sua manutenção, o que lhes dá o cará-
ter de continuidade, o PPA terminaria por contemplar todas as
despesas de funcionamento do governo.
Todavia, diante da ausência de regulamentação sobre o
tema, tem sido adotada como prática pela União e pelos es-
tados a inclusão no PPA de despesas continuadas de natureza
finalística, entendidas como àquelas relativas à entrega de bens
e serviços ao cidadão. As demais despesas de caráter perma-
nente, afetas ao custeio da administração, tais como pessoal e
encargos e custeio administrativo constam apenas da Lei Orça-
mentária Anual (LOA).
O PPA é elaborado pelo Poder Executivo no primeiro ano
do mandato governamental. Sua vigência é de quatro anos,
contados do segundo ano de mandato do Chefe do Poder Exe-

14
Democracia, direitos e participação

cutivo até o término do primeiro exercício financeiro do man-


dato subsequente.
As principais finalidades do PPA são:
• assegurar a continuidade dos programas e projetos governa-
mentais;
• garantir recursos para a manutenção e funcionamento dos
equipamentos públicos, após a conclusão das obras;
• criar condições para a redução das desigualdades inter-regionais.

Atenção
O PPA pode sofrer revisões durante a sua execução. É
comum, principalmente num processo de ruptura política,
que ao assumir o mandato, o novo governante precise fazer
uma revisão do PPA elaborado pelo seu antecessor. Esta re-
visão é possível, desde que seja submetida à aprovação do
Poder Legislativo.

Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)


A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) é o instrumen-
to de planejamento orçamentário que tem como finalidades
constitucionais: i) priorizar as metas do PPA que serão executa-
das anualmente; ii) orientar a elaboração da Lei Orçamentária
Anual (LOA).
Como advento da Lei Complementar nº 101/2000, tam-
bém conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF),
coube à LDO dispor sobre o equilíbrio fiscal e a transparência
do processo orçamentário.
A LDO pode ser considerada o elo entre o Plano Pluria-
nual (PPA) e a Lei Orçamentária Anual (LOA), considerando
que a mesma deve apresentar, a partir do PPA, as metas e prio-
ridades da administração pública para o ano de sua vigência,
estabelecendo o planejamento anual da administração.
De acordo com a Constituição Federal de 1988, o conte-
údo da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deve abranger:
• as metas e prioridades da administração pública, incluindo as
despesas de capital para o ano subsequente;
• as orientações para a elaboração da lei orçamentária anual;

15
Cidadania e controle social das contas públicas

• as alterações na legislação tributária;


• a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento.
A Lei Complementar nº 101/2000 (Lei de Responsabili-
dade Fiscal) ampliou substancialmente o conteúdo da LDO, in-
cumbindo-lhe o papel de estabelecer regramentos voltados para
o equilíbrio das contas públicas.
Assim, a partir da LRF, a LDO deve conter dispositivos sobre:
• equilíbrio entre receitas e despesas;
• metas fiscais;
• riscos fiscais;
• programação financeira mensal;
• critérios e formas de limitação de empenho;
• controle de custos e avaliação de resultados de programas or-
çamentários;
• condições e exigências para transferências de recursos a enti-
dades públicas e privadas;
• montante e forma de utilização da reserva de contingência;
• demonstrações pelo Banco Central do impacto e custo fiscal
de suas operações;
• concessão ou ampliação de incentivo ou benefício da qual de-
corra renúncia de receita.
Observa-se, portanto, que para além dos aspectos orça-
mentários, a Lei de Responsabilidade Fiscal atribuiu à LDO
o papel de dispor sobre aspectos relacionados com o equilíbrio
das contas públicas.
A exemplo do PPA, a elaboração da LDO é de iniciativa
exclusiva do Chefe do Poder Executivo, devendo ser elaborada
anualmente, ou seja, para cada ano do PPA deve ser elaborada
uma LDO, indicando as prioridades do PPA para o ano e defi-
nindo regras para elaboração da Lei Orçamentária Anual e para
o controle das contas públicas.
No estado do Ceará, o projeto de LDO deve ser encami-
nhado ao Poder Legislativo até o dia 2 de maio do ano que pre-
cederá à vigência do orçamento anual subsequente, conforme
dispõe o Art. 203, §2º, I, da Constituição Estadual:
A vigência da Lei de Diretrizes Orçamentárias é anual, e
coincide com o exercício financeiro, 1º de janeiro a 31 de de-
zembro e suas principais finalidades são:

16
Democracia, direitos e participação

• apresentar as metas prioritárias do PPA para o exercício da


sua vigência;
• dispor sobre parâmetros e critérios para elaboração da Lei Or-
çamentária Anual (LOA);
• dispor sobre o equilíbrio das contas públicas;
• tornar o processo orçamentário mais transparente;
• ampliar a participação legislativa no disciplinamento das fi-
nanças públicas.
Lei Orçamentária Anual (LOA)
Outra inovação da Constituição Federal de 1988, de acor-
do com o § 3º, do artigo 165, diz respeito à Lei Orçamentária
Anual (LOA), que passou a ser composta por três orçamentos
específicos: Orçamento Fiscal, Orçamento da Seguridade So-
cial e Orçamento de Investimento das Empresas.
De outra parte, a Lei de Responsabilidade Fiscal estabele-
ce que o projeto de lei orçamentária anual deve ser elaborado
de forma compatível com o Plano Plurianual e com a Lei de
Diretrizes Orçamentárias, assegurando a integração do planeja-
mento em longo e curto prazo.
Assim, o conteúdo da LOA consiste em:
• Orçamento Fiscal: compreende os Poderes da União, seus
fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta,
inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Públi-
co. Pela sua abrangência, é o principal dos três orçamentos,
pois contempla todos os Poderes e ainda as empresas depen-
dentes do Estado.
• Orçamento de Investimentos das Empresas: composto pelas
despesas com investimentos de empresas públicas ou socie-
dades de economia mista em que a União, direta ou indireta-
mente, detenha a maioria do capital social com direito a voto.
• Orçamento da Seguridade Social: abrange todas as entidades
e órgãos vinculados à saúde, assistência e previdência, da admi-
nistração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações
instituídas e mantidas pelo Poder Público. Um grande avanço
do orçamento da seguridade social foi o fato de submeter as re-
ceitas e despesas ao processo orçamentário, considerando que
antes este orçamento era baixado por Decreto Executivo.

17
Cidadania e controle social das contas públicas

A exemplo do PPA e da LDO, a elaboração do projeto de


Lei Orçamentária Anual é de competência exclusiva do Poder
Executivo. No estado do Ceará, o Poder Executivo deve enca-
minhar o projeto de LOA ao Poder Legislativo até o dia 15 de
outubro do ano que antecede a sua vigência, conforme dispõe o
Art. 203, §3º, VI, da Constituição Estadual de 1989.
Como diz o próprio nome, a Lei Orçamentária Anual tem
vigência anual, correspondente ao exercício financeiro, que
coincide com o ano civil, ou seja, de 1º de janeiro a 31 de de-
zembro, conforme dispõe o Art. 34, da Lei nº 4.320/64.
Regionalização dos Orçamentos
A Constituição Federal de 1988, ao estabelecer a regiona-
lização do Plano Plurianual e dos orçamentos fiscais e de inves-
timento das empresas, fez com a intenção clara de promover a
redução das desigualdades regionais, de forma progressiva, no
prazo de até dez anos, conforme dispõem o § 7º, do artigo 165 e
o artigo 35 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
da nossa Carta Magna.
Decorridos mais de trinta anos da Constituição Federal
de 1988, permanece o grande desafio de alocar recursos por
região, vinculando-os aos programas, ações e metas, condição
para a redução das desigualdades inter-regionais preconizada
pela Constituição Federal de 1988.
No estado do Ceará, a Constituição Estadual de 1989, no
artigo 203, §1º, III, deu importância especial à regionalização
dos orçamentos, ao determinar que a discussão e a apreciação
pelo Poder Legislativo devem ocorrer com a participação da so-
ciedade, o que, na prática, se dá por meio da realização de se-
minários regionais para discussão dos orçamentos. A alocação
de recursos regionais no PPA e na LOA é feita segundo as 14
(catorze) regiões de planejamento definidas pela Lei Comple-
mentar nº 154, de 20 de outubro de 2015.
Ciclo Orçamentário
A Figura 1 apresenta as etapas do ciclo orçamentário, con-
siderando a dinâmica e a natureza permanente e contínua do
processo orçamentário.

18
Democracia, direitos e participação

Figura 1 – Ciclo Orçamentário


Elaboração, discussão e
aprovação e
Plano Plurianual - PPA

Controle e avaliação Elaboração, discussão


da execução e aprovação da
orçamentária Lei de Diretrizes
Orçamentárias - LDO

Elaboração, discussão
Execução e aprovação da Lei
Orçamentária Orçamentária Anual
- LOA

Fonte: elaborada pela autora.

Os prazos legais do ciclo orçamentário estão estabelecidos


na Constituição Federal e, no caso dos estados e municípios, nas
respectivas Constituições Estaduais e Leis Orgânicas Municipais.
Na Figura 2 estão apresentados os prazos constitucionais do
Ciclo Orçamentário do Estado do Ceará, compreendendo as etapas
de elaboração, discussão e aprovação do PPA, da LDO e da LOA.

• Elaboração pelo Poder Executivo: até 29 de setembro do primeiro ano


de mandato;
PPA • Encaminhamento ao Poder Legislativo: até 30 de setembro do primei-
ro ano de mandato;
• Discussão e aprovação pelo Poder Legislativo: até 22 de dezembro.
• Elaboração pelo Poder Executivo: até 1º de maio do ano anterior ao da
sua vigência;
LDO • Encaminhamento ao Poder Legislativo: até 2 de maio do ano anterior
ao da sua vigência;
• Discussão e aprovação pelo Poder Legislativo: até 17 de julho.
• Elaboração pelo Poder Executivo: até 14 de outubro do ano anterior ao
da sua vigência;
• Encaminhamento ao Poder Legislativo: até 15 de outubro do ano
LOA anterior ao da sua vigência;
• Discussão e aprovação pelo Poder Legislativo: até 22 de dezembro;
• Execução orçamentária: de 01/01 a 31/12.

19
Cidadania e controle social das contas públicas

Atenção
A sessão legislativa não será interrompida sem a apro-
vação da Lei de Diretrizes Orçamentárias, conforme dispos-
to no Art. 57, § 2º, da Constituição Federal.

Curiosidades do primeiro ano de mandato


No primeiro ano de mandato, a LDO é encaminhada ao
Legislativo antes do PPA, o que impede a apresentação de prio-
ridades deduzidas do PPA e limita o seu conteúdo às regras
para elaboração dos orçamentos e equilíbrio das contas públi-
cas. O PPA e LOA são encaminhados ao Legislativo com dife-
rença de apenas 15 dias, o que leva o processo de discussão e
aprovação pelo Legislativo a ocorrer de forma concomitante.

Atividades

1. Entre no site do governo do estado do Ceará e procure o


último PPA, a LDO e a LOA. Veja como eles estão estrutu-
rados, e se consegue encontrar os recursos previstos para a
Educação.
2. Entre no site da Assembleia Legislativa e faça a mesma coisa.
3. Pelo que você estudou e conhece sobre o assunto, a Assem-
bleia Legislativa pode vetar algum desses três documentos
encaminhados pelo Poder Executivo? Se isso acontecer, o
que pode ser feito?

20
Democracia, direitos e participação

Capítulo 3

Tipos de Controle: interno,


externo e social
Soraia Thomaz Dias Victor

Pensando sobre o assunto


1. No seu município, alguma autoridade já foi afastada de car-
go público devido a problemas nas prestações de contas?
2. Você conhece alguém que já fez alguma denúncia na ouvi-
doria municipal sobre obras paradas e o que aconteceu?

Objetivos do capítulo

• conhecer os tipos de controles previstos na Constituição Fe-


deral de 1988 para atuar junto à Administração Pública, fis-
calizando os recursos públicos;
• compreender a importância dos Tribunais de Contas para a
fiscalização da aplicação dos recursos públicos.

Introdução
Qualquer pessoa que tenha visto um orçamento público
pode perceber que sua análise é uma tarefa difícil. Por isso,
existem mecanismos de controle que buscam evitar a prática
de atos ilegais, abusivos e imorais à coletividade e que possam
garantir que o dinheiro público seja convertido em benefícios
para a sociedade.
Para que o orçamento público seja bem administrado, é
importante que ele seja fiscalizado e é para isso que foram cria-
dos sistemas de controle que abrangem todos os atores envolvi-
dos com as receitas e despesas públicas.
A Administração Pública tem como principal objetivo a
satisfação do interesse público e a implantação de um sistema
21
Cidadania e controle social das contas públicas

de controle eficiente representa um dos pilares de um bom go-


verno, em especial, para evitar práticas que resultem em desper-
dícios, fraudes e desfalques de recursos públicos, ainda muito
comuns atualmente.
No Brasil, o controle (fiscalização) aplicado à Adminis-
tração Pública diz respeito às atividades administrativas desen-
volvidas em todas as esferas de Poder, quais sejam: Executivo,
Legislativo e Judiciário. Sua atuação deve respeitar todos os
princípios previstos no Art. 37 da Constituição Federal de 1988,
entre eles, a legalidade, impessoalidade, moralidade, publicida-
de e eficiência.
Podemos classificar a atuação dos diversos órgãos respon-
sáveis por zelar pelo bom e regular uso dos recursos públicos
em: controle interno, controle externo e controle social.
Controle Interno
O controle interno é o poder de fiscalização que os poderes
exercem sobre seus próprios atos e agentes e está inserido na
estrutura do mesmo poder. Assim, o Poder Executivo tem seus
BRASIL. Constituição
da República Federativa
mecanismos de controle interno, o Poder Legislativo e o Poder
do Brasil. Brasília, 1988. Judiciário também. A Constituição Federal de 1988, em seu
Disponível em: https:// Art. 70, determina que o sistema de controle interno de cada
www.planalto.gov.br/ poder deve fiscalizar o uso eficiente, econômico e regular dos
ccivil_03/constituicao/
recursos públicos que é destinado àquele poder.
constituicao.htm. Aces-
so em: 11 jan. 2023. A Constituição Federal estabelece também que o sistema
de controle interno dos poderes e órgãos autônomos devem
atuar de forma integrada para garantir que a execução dos pro-
gramas de governo (ou políticas públicas) seja realizada com
eficiência, eficácia e regularidade, de modo que os objetivos da
ação estatal sejam plenamente alcançados (finalidade pública).
Segundo o Artigo 74 da Constituição Federal de 1988:
Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário
manterão, de forma integrada, sistema de controle interno
com a finalidade de:
I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plu-
rianual, a execução dos programas de governo e dos orça-
mentos da União;
II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto
à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e
patrimonial nos órgãos e entidades da administração fede-

22
Democracia, direitos e participação

ral, bem como da aplicação de recursos públicos por enti-


dades de direito privado;
III - exercer o controle das operações de crédito, avais e
garantias, bem como dos direitos e haveres da União;
IV - apoiar o controle externo no exercício de sua missão
institucional (CF/88).

No Poder Executivo do estado do Ceará o órgão central


de controle interno é a Controladoria e Ouvidoria Geral do
Estado, compreendendo as ações de ouvidoria, controlado-
ria e auditoria governamental2. Há também órgãos de con- 2
Auditoria Governamental é
trole interno nos Poderes Legislativo e Judiciário, Ministério a técnica que visa analisar
Público, Defensoria Pública, Tribunal de Contas do Estado se determinados atos e fa-
tos estão consonantes com
que atuam sobre seus servidores e colaboradores e sobre seus
critérios pré-estabelecidos,
atos administrativos. sustentada em procedimen-
tos específicos, devendo ser
Outra atribuição importante do controle interno é apoiar o relatada a situação encon-
controle externo no exercício de sua missão institucional. Des- trada com respaldo em evi-
se modo, o controle interno tem papel fundamental de apoiar dências e provas consisten-
tes (Renato Santos Chaves).
os governantes a prestarem contas dos resultados obtidos, em 3
Autarquia em seu conceito
função da responsabilidade a eles conferida, sendo de extrema é uma entidade dotada de
importância para que haja eficácia na utilização das verbas pú- personalidade jurídica pró-
pria, criada por lei específica e
blicas por parte dos governantes.
pertencente à Administração
Mas quem está sujeito ao controle interno? Os órgãos Federal Indireta. Seu papel é
desempenhar funções pró-
da Administração Direta ou Centralizada (três Poderes) e os prias, reservadas ao Estado.
órgãos da Administração Indireta ou Descentralizada, que é 4
As fundações públicas, se-
composta das Autarquias3, Fundações Públicas4 e Sociedades gundo a doutrina majoritária,
de Economia Mista5. podem ser pessoas jurídicas
de direito público ou de direito
E como é feito o controle? Normalmente, pelos órgãos su- privado, a depender da lei que
as instituiu.
periores sobre os inferiores (controle hierárquico), auxiliados 5
Uma Sociedade de Econo-
pelos órgãos criados com a finalidade de julgarem recursos ad- mia Mista é uma espécie de
ministrativos (controle hierárquico impróprio) e pelos órgãos empresa estatal, sendo que
especializados (controle técnico). também há as Empresas
Públicas, ambas pessoas ju-
Controle Externo rídicas de Direito Privado que
compõem a Administração
O controle externo ocorre quando um Poder exerce con- Pública Indireta.
trole sobre os atos administrativos praticados por outro Poder.
No Brasil, esse controle é exercido pelo Poder Legislativo com
auxílio dos Tribunais de Contas espalhados pelos estados e mu-
nicípios do país. A estrutura é dividida da seguinte maneira:

23
Cidadania e controle social das contas públicas

• na União, pelo Congresso Nacional, com o auxílio do Tribu-


nal de Contas da União;
• nos estados, pelas Assembleias Legislativas, com o auxílio do
respectivo Tribunal de Contas Estadual;
• nos municípios, pelas Câmaras de Vereadores Municipais,
com auxílio do Tribunal de Contas do Estado, ou órgão equi-
valente, instituído por lei, em que se localiza o município.
O Brasil conta com 33 Tribunais de Contas, divididos em
três níveis: União (TCU), estados (nas 26 capitais e Distrito Fe-
deral), dos municípios do estado (Bahia, Goiás e Pará) e Tribu-
nais de Contas do Município (São Paulo e Rio de Janeiro).
Os Tribunais de Contas conferem o cumprimento das leis e
avaliam se os atos administrativos foram praticados no momento,
na forma e nos custos adequados. Ademais, examinam o cumpri-
mento dos programas de trabalho e das metas propostas nos pla-
nos de governo e no orçamento. Em certos casos, o próprio Tribu-
nal pode determinar multas, contra atos que tenham prejudicado o
patrimônio ou gastado irregularmente os recursos públicos.
Apesar de auxiliar o Poder Legislativo, os Tribunais de
Contas são órgãos investidos de autonomia, não existindo qual-
quer vínculo de subordinação ao Poder Legislativo.
Os Tribunais de Contas são compostos por ministros ou
conselheiros, procuradores e técnicos. Aos primeiros compe-
te discutir e julgar os assuntos sujeitos ao controle externo;
aos segundos cabe defender a ordem jurídica; e aos técnicos
compete instruir os processos de tomadas e prestações de
contas, bem como elaborar os relatórios de auditoria, para
posterior julgamento.
O Tribunal de Contas checa o cumprimento da lei e ava-
lia se os atos administrativos foram praticados no momento,
na forma e nos custos adequados. O Tribunal examina ainda o
cumprimento dos programas de trabalho e das metas propostas
nos planos de governo e no orçamento.
Controle Social
O controle social pressupõe a efetiva participação da socie-
dade, não só na fiscalização da aplicação dos recursos públicos,
como também na formulação e no acompanhamento da im-
plementação de políticas públicas. É um importante meio para

24
Democracia, direitos e participação

que o cidadão possa, não só estabelecer as suas prioridades e


usufruir seus direitos, como também participar do controle e da
execução das ações dos que o representam.
O controle exercido pela sociedade é elemento de funda-
mental importância ao estímulo de práticas corretas pelos ato-
res sociais, e, por conseguinte, é instrumento inibidor de desvios
e abusos no trato da coisa pública, além de propiciador da in-
clusão social.
No Brasil, temos atualmente 5.568 municípios, cada um
deles com inúmeras secretarias e entidades desenvolvendo po-
líticas públicas e prestando serviços nas áreas de saúde, edu-
cação, meio ambiente, recursos hídricos, moradia, ciência e
tecnologia etc. É muito complexo e difícil o controle interno e
externo fiscalizar todas as áreas e serviços, e por isso o controle
social, que é um instrumento legal de todos os cidadãos, pode
atuar em todos os locais e serviços, reforçando o controle inter-
no e externo, ou seja, o controle social mobiliza a participação
de todos, de forma democrática e cidadã.
A Constituição Federal de 1988 tem diversos dispositivos
que permitem um controle dos administrados, ou seja, formas
de os cidadãos verificarem a regularidade da Administração
Pública, entre eles, citamos o Art. 37, §3º, que:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qual-
quer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Fede-
ral e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalida-
de, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte:
(...)
§ 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário
na administração pública direta e indireta, regulando espe-
cialmente:
I – as reclamações relativas à prestação dos serviços pú-
blicos em geral, asseguradas a manutenção de serviços de
atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e
interna, da qualidade dos serviços;
II – o acesso dos usuários a registros administrativos e a
informações sobre atos de governo, observado o disposto
no art. 5º, X e XXXIII;
III – a disciplina da representação contra o exercício negli-
gente ou abusivo de cargo, emprego ou função na adminis-
tração pública (CF/88).
25
Cidadania e controle social das contas públicas

Além disso, governo, prefeituras e demais órgãos devem


oferecer recursos que permitam ao cidadão melhor acompanhar
e compartilhar os dados disponíveis. Para este fim, duas das prin-
cipais ferramentas à disposição são o Portal da Transparência e
as Ouvidorias, que permitem a solicitação de informações, nos
termos da Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011).
Por meio delas, é possível complementar os achados do
Portal da Transparência ou obter documentos ou dados produ-
zidos pelos diferentes órgãos, ou ainda fazer manifestações para
o registro de denúncias, reclamações, sugestões, elogios e solici-
tações. Deste modo, o principal objetivo destes canais é permitir
que o cidadão também atue como fiscal dos recursos públicos.
O esquema a seguir permite identificar na estrutura da ad-
ministração pública, os três tipos de controle criados a partir da
Constituição Federal de 1988.

Controle Social
Sistema de
controle Interno
Poder Executivo Controladoria

Poder Estadual e Ouvidoria Geral


do Estado - (CGE)
Executivo Poder Executivo Sistema de controle
Municipal Interno Municipal
Sistema de Controladorias Municipais
Controle Externo
Assembleia Sistema Assembleia
Legislativa Poder Legislativo de controle Legislativa
Estadual interno -TCE
Câmaras Poder
Municipais Legislativo Poder Legislativo Sistema Câmara
Municipal de controle Municipal
Tribunais de interno -TCE
Contas do
Estado do Ceará
Poder Sistema de CNJ
Judiciário controle Interno

Atividades

1. Quais os tipos de controle na administração pública?


2. Verifique no Portal de Transparência da Secretaria da Edu-
cação do Estado do Ceará como acessar a ouvidoria e o
controle interno.
3. Tire uma foto da placa de uma obra perto de onde você
mora, identifique as informações que estão divulgadas e
compare com a real situação.

26
Capítulo 4

Órgãos de controle no Brasil


Roldhen Botelho de Queiroz

Pensando sobre o assunto


1. Existem outros órgãos que realizam o controle da adminis-
tração pública além dos Tribunais de Contas e das Contro-
ladorias no Brasil?
2. Como o Legislativo, o Ministério Público e as Polícias Civil
e Federal contribuem para o controle da Administração
Pública?

Objetivos do capítulo

• identificar outros órgãos que realizam o controle da Adminis-


tração Pública;
• compreender o papel de cada órgão no combate à má gestão
dos recursos públicos.

Introdução
A atividade de controlar, falando de maneira bem resu-
mida, significa verificar se alguém está agindo conforme um
determinado padrão e, caso não esteja, buscar conduzi-lo ao
parâmetro estabelecido.
Quando se fala em controle da Administração Pública,
esse alguém é o gestor público (Presidente, Governador, Pre-
feito, Ministro, Secretário de estado ou de município, diretores
de órgãos públicos como hospitais, escolas, museus, bibliote-
cas etc.). O parâmetro segundo o qual os gestores devem se
guiar é o conjunto de normas que rege a Administração Públi-
ca, especialmente a Lei Maior, que é a Constituição Federal
de 1988 (CF/88).

27
Cidadania e controle social das contas públicas

Dessa forma, quem exerce o controle sobre a Administra-


ção Pública deve verificar se os gestores públicos estão agindo em
conformidade com as leis e a Constituição Federal e, caso verifique
desvios, deve buscar direcioná-los para a correção dos seus atos.
Mas quem são, no Brasil, os órgãos responsáveis por esse controle?
Como vimos no capítulo anterior, há o controle interno,
externo e o social. Vimos que o controle interno é exercido no
âmbito de cada órgão ou poder, sendo as controladorias, (Con-
troladoria Geral da União, no âmbito federal) as principais re-
presentantes desse tipo de controle. Por outro lado, quando se
fala em controle externo da administração, são os Tribunais de
Contas que vêm logo à mente (sua estrutura será analisada no
próximo capítulo). Aqui, vamos tratar de outros importantes
órgãos públicos que também realizam controle da gestão pú-
blica. O controle social não é exercido por um órgão, mas pela
própria sociedade, e será abordado em capítulo mais adiante.
Poder Legislativo
A Constituição Federal traz um capítulo específico tratando
sobre o controle da Administração Pública. Em seu Art. 71, fixa que
o controle externo será exercido pelo Congresso Nacional, auxiliado
pelos Tribunais de Contas, ou seja, é no próprio texto da Constitui-
ção que está previsto as atividades de controle. Ela atribui, por assim
dizer, a titularidade do controle externo ao Poder Legislativo, afir-
mando que os Tribunais de Contas realizam função de auxiliares6.
Assim, além da função de legislar, o Poder Legislativo tam-
6
Atenção: a literalidade do bém exerce o importante papel de fiscalizar a Administração
texto deve ser examinada
com cautela. Quando exa- Pública como um todo. E como ele faz isso? Vamos a alguns
minamos o rol de atribuições exemplos extraídos do próprio texto constitucional:
dos Tribunais de Contas (Art.
71 da CF/88) percebemos • Julgamento das contas de governo do chefe do Poder Execu-
que as funções por ele es- tivo: nesse caso, são analisados, de uma forma mais geral, os
tabelecidas extrapolam a de
um auxiliar. Assim, além de índices alcançados pela administração do gestor máximo do
realizarem fiscalizações or- Executivo (Presidente da República, Governador ou Prefei-
dinariamente, os Tribunais to), se ele atingiu os índices mínimos de aplicação de recursos
de Contas julgam as contas
do próprio Poder Legislativo,
em educação e saúde, se obedeceu ao teto de gastos, se gastou
ou seja, Câmara dos Depu- com pagamento dos salários dos servidores mais do que o
tados, Senado, Assembleias permitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal etc. O Tribunal
Legislativas e Câmaras de
de Contas, nesse caso, realiza uma função auxiliar, emitindo
Vereadores devem prestar
contas anuais aos respecti- o chamado parecer prévio, uma peça técnica que contribuirá
vos Tribunais de Contas. para o julgamento do órgão Legislativo;

28
Democracia, direitos e participação

• Impeachment: o Senado Federal pode processar e julgar, nos


casos de crime de responsabilidade, o Presidente e o Vice-Pre-
sidente da República, os Ministros de Estado, os Comandan-
tes do Marinha, do Exército e da Aeronáutica, os Ministros
do Supremo Tribunal Federal (STF), os membros do Conse-
lho Nacional de Justiça (CNJ) e do Conselho Nacional do
Ministério Público (CNMP), o Procurador-Geral da Repúbli-
ca e o Advogado-Geral da União (Art. 52, I e II, da CF/88).
O julgamento, popularmente chamado de impeachment, pode
levar à perda do cargo e impossibilitar o condenado de exercer
funções públicas por oito anos. Os crimes de responsabilidade
cometidos pelo Presidente da República são aqueles que aten-
tam contra a Constituição e estão previstos em seu Art. 85.
• Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI): com poderes de
investigação próprios de autoridades judiciais (podendo assim,
quebrar sigilos bancários e telefônicos, por exemplo), as CPIs
podem ser instauradas pela Câmara dos Deputados ou pelo
Senado (ou até mesmo pelas duas Casas, de forma conjunta),
com o objetivo de apurar, em um prazo certo (não pode se
prolongar indefinidamente), fato determinado (não pode ser
generalista), encaminhando suas conclusões para o Ministério
Público, a fim de serem promovidas as responsabilidades civis
e criminais perante o Poder Judiciário (Art. 58, §3º, da CF/88).
Importante registrar que cada esfera de governo tem seu próprio
Poder Legislativo. No âmbito federal, são duas casas: a Câmara dos
Deputados e o Senado Federal. Nos estados, há as respectivas Assem-
bleias Legislativas e nos municípios, as Câmaras de Vereadores.

Curiosidade
Você sabia que, desde a redemocratização, dois Presi-
dentes sofreram impeachment? Foram eles: Fernando Collor
de Melo e Dilma Roussef. O primeiro, além de afastado do
cargo, ficou impossibilitado de exercer função pública por
oito anos. Dilma, apesar de afastada do cargo, não sofreu
a pena de inabilitação para o exercício de função pública.

Ministério Público
Classificado como instituição essencial ao funcionamen-
to da Justiça, cabe ao Ministério Público a defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e indi-
viduais indisponíveis (Art. 127 da CF/88).

29
Cidadania e controle social das contas públicas

O Ministério Público é fundamental para o controle ex-


terno. Em primeiro lugar, cabe a ele ingressar com ações penais
nos crimes contra a Administração Pública, sendo o principal
deles a corrupção, que consiste, de forma geral, em um agente
público solicitar ou receber, em razão de sua função, algum be-
nefício indevido (Art. 317 do Código Penal).
Além do campo criminal, diante de ilegalidades graves come-
tidas por agentes administrativos, o Ministério Público pode mover
contra eles ações de improbidade, que pode acarretar uma série de
consequências: aplicação de multa, perda da função pública, perda
de bens, suspensão temporária de direitos políticos, ressarcimento
do dano, proibição de contratação com o poder público ou recebi-
mento de benefícios e incentivos fiscais e creditícios (Art. 37, §4º, da
CF/88 e Lei nº 8429/92, Lei de Improbidade Administrativa).
Outra importante linha de atuação do Ministério Público no
controle da Administração Pública é o ajuizamento de ações civis
públicas. Elas são destinadas a proteger os direitos difusos e coleti-
vos. Trata-se de direitos que não têm como titular uma pessoa espe-
cífica. No caso dos difusos, seus titulares são pessoas indetermina-
das. Já nos coletivos, os titulares são grupos ou categorias. Imagine
que o prefeito de sua cidade resolve construir uma determinada obra
pública (uma praça, por exemplo) em uma área de proteção ambien-
tal. Tomando conhecimento desse caso, o membro do Ministério
Público competente pode ingressar com uma ação civil pública pe-
dindo ao Juiz a suspensão da obra e a responsabilização do prefeito,
que pode ser condenado a reparar o dano ambiental.
Importante registrar que, conforme a esfera governamental,
há o Ministério Público correspondente. Assim, em termos de
controle externo, quando estiver envolvido o governo federal,
seus órgãos, entidades, bens e serviços, atua o Ministério Público
da União. Quando se trata dos governos estaduais e municipais,
atua o Ministério Público dos Estados. O Ministério Público da
União é dividido em segmentos: Ministério Público Federal, Mi-
nistério Público do Trabalho, Ministério Público Militar e Minis-
tério Público do Distrito Federal e Territórios.
Um aspecto relevante a destacar é que, para exercer com zelo
e liberdade a sua importante função fiscalizadora, os membros do
Ministério Público possuem algumas garantias: vitaliciedade, que
significa que só podem perder o cargo após decisão judicial da qual
não caiba mais recursos, transitada em julgado; inamovibilidade, o
30
Democracia, direitos e participação

que protege o membro de ser mudado de local de trabalho por con-


ta de interesses contrariados; irredutibilidade de sua remuneração.
Polícia Federal e Polícia Civil
Além de seu papel fundamental na segurança pública, as po-
lícias federal e civil atuam de forma relevante no controle da Ad-
ministração Pública. É que cada uma, em sua esfera de atuação (a
polícia federal no âmbito da União e a polícia civil, no dos estados
e municípios), tem a missão de realizar as investigações de crimes
contra o Poder Público, como o de corrupção, por exemplo. Por
uma questão de divisão de tarefas promovida pela Constituição, as
autoridades policiais realizam a investigação por meio do inqué-
rito criminal e, após finalizá-lo, envia-o para o Ministério Público
respectivo, o qual, por sua vez, se considerar que há os elementos
necessários, propõe a ação criminal perante o Judiciário.
Nesse momento, é oportuno destacar que essa atividade de
investigação é diferente da realizada pelos policiais militares. A
estes cabem realizar o policiamento ostensivo e a preservação
da ordem pública. Não realizam investigações.

Curiosidade
Você sabia que no estado do Ceará existe uma delega-
cia especializada em combate à corrupção (Decor)? 7 7
Disponível em: https://www.
policiacivil.ce.gov.br/conta-
tos/especializadas/. Acesso
em: 27/12/2022.
Atividades

1. Forme uma equipe e visite a Comissão de Fiscalização


e Controle da Assembleia Legislativa do seu estado ou da
Câmara de Vereadores de seu município. Pergunte ao Presi-
dente e/ou membros da Comissão como ela tem atuado na
fiscalização da Administração Pública. Procure se informar
como foi o julgamento das contas de governo do chefe do
Poder Executivo no último ano.
2. Pesquise na internet algum exemplo de atuação conjunta de
órgãos de controle no combate a desvios de recursos públicos
e debata com os colegas o que achou do caso.
3. Você se identificou com alguma das funções apresentadas?
Gostaria de ser um Parlamentar, um membro do Ministério
Público ou um Delegado de Polícia? Em caso positivo, co-
mente a sua escolha.
31
Capítulo 5

Tribunais de Contas no Brasil:


União, estados e municípios
Edilberto Carlos Pontes Lima

Pensando sobre o assunto


1. Você sabe o que é um país organizado em forma de fede-
ração?
2. Por que a criação dos Tribunais de Contas pela Constituição
Federal de 1988 foi uma iniciativa importante?

Objetivos do capítulo

• descrever as principais características do Estado brasileiro;


• identificar os Tribunais de Contas que existem e quais suas
principais atribuições.

Introdução
A Constituição Federal estabelece, em seu artigo primeiro,
que o Brasil é uma república, ou seja, não é uma monarquia;
que é uma federação, portanto, o Estado não é unitário; que é
uma democracia, com suas características que vão sendo deli-
neadas ao longo da Carta, como eleições periódicas e liberdade
8
Art. 1º A República Federativa de associação e de expressão, e que o Estado é de direito, no
do Brasil, formada pela união sentido que a lei, incluindo a Lei Maior, que é a Constituição e
indissolúvel dos estados e
está acima de todos, portanto, o governo é das leis e não o go-
municípios e do Distrito Fe-
deral, constitui-se em Estado verno dos homens, evitando-se arbitrariedades, pessoalidades e
Democrático de Direito e tem idiossincrasias8.
como fundamentos: I - a so-
berania; II - a cidadania; III - a Ser uma federação implica que há mais de um nível de go-
dignidade da pessoa huma- verno. No Estado unitário, ao contrário, há apenas um nível de
na; IV - os valores sociais do
trabalho e da livre iniciativa; V governo, embora as atribuições possam ser descentralizadas por
- o pluralismo político. delegação. Na federação, a Constituição Federal elenca compe-

32
Democracia, direitos e participação

tências próprias para cada nível de governo. Não se trata, por-


tanto, de delegação federal para municípios exercerem certas
atividades, delegação essa que pode ser revogada ou reformula-
da em qualquer tempo. Na federação, não há possibilidade de
revogação de competências porque não há hierarquia entre os
entes federados.
O Brasil estabeleceu três níveis de governo: a União, os
estados e os municípios9. Ao longo da Constituição, a organi- 9
Art. 18. A organização polí-
zação político-administrativa, as competências, inclusive legis- tico-administrativa da Re-
lativa, e os bens de cada ente federado vão sendo fixadas. É a pública Federativa do Brasil
compreende a União, os
Constituição Federal que estabelece, por exemplo, que a com- estados, o Distrito Federal e
petência para legislar sobre direito penal e civil é exclusiva da os municípios, todos autôno-
União e que o mar territorial e as áreas de marinha pertencem mos, nos termos desta Cons-
tituição.
à União. Estabelece ainda que estados podem legislar concor-
rentemente com a União sobre direito tributário e financeiro e
que municípios podem legislar sobre assuntos de interesse local.
É ainda a Constituição Federal que determina que zelar pela
guarda da Constituição Federal, cuidar da saúde e das florestas
é competência comum da União, dos estados e dos municípios.
Um dos elementos centrais na Constituição Federal é a
prestação de contas. Prestar contas é um dever de todo admi-
nistrador público e de todos os que lidam de alguma forma com
dinheiro público. É próprio de quem administra um recurso que
não é seu, ter de detalhar como utilizou, se o fez em conformi-
dade com a lei, notadamente a autorização da lei orçamentária,
se buscou a legitimidade, no sentido de alcançar o interesse pú-
blico e a economicidade, procurando atingir o máximo com os
recursos disponíveis.
A Constituição Federal determinou que a instituição en-
carregada de fiscalizar a execução das despesas e julgar as con-
tas dos gestores públicos é o Tribunal de Contas. Como o Brasil
é uma federação, não há apenas um Tribunal de Contas, mas
diversos, de acordo com a unidade federada. O Tribunal de
Contas da União fiscaliza e julga as contas dos administradores
federais e dos que utilizaram recursos federais por meio de con-
vênios com a União. Já os Tribunais de Contas dos Estados fis-
calizam e julgam as contas dos gestores estaduais e municipais.
Há ainda, em três Estados da federação (Pará, Bahia e Goiás),
Tribunais de Contas dos Municípios, que são órgãos estaduais
encarregados de fiscalizar e julgar as contas dos respectivos mu-
33
Cidadania e controle social das contas públicas

10
Para um exame mais deta-
nicípios, ficando as contas dos gestores estaduais a cargo dos
lhado do papel dos Tribunais Tribunais de Contas dos Estados. Por fim, há os Tribunais de
de Contas, ver, por exemplo: Contas do Município do Rio de Janeiro e do Município de São
LIMA, E. C. P. Curso de Finan-
ças Públicas, uma aborda- Paulo, órgãos municipais. Examinemos mais de perto cada es-
gem contemporânea. Editora pécie de Tribunal de Contas10.
Atlas. 2015.
Tribunal de Contas da União
A Constituição Federal fixa, entre outras providências, as
competências, a forma de composição e o número de minis-
tros. São nove ministros, responsáveis por todas as deliberações
do TCU. O artigo 71 traz as atribuições gerais do Tribunal de
Contas da União, mas há outras estabelecidas pelas leis, como
a Lei de Responsabilidade Fiscal. Há ainda auditores que sub-
stituem os ministros em seus impedimentos e um Ministério
Público especial, distinto do Ministério Público da União, que
oficia exclusivamente no TCU, e um corpo de auditores, analis-
tas e técnicos que realiza diretamente as auditorias e inspeções
e auxilia os ministros em suas atribuições.
Entre essas funções, destacam-se a apreciação anual das
contas do Presidente da República, em que o TCU emite um
parecer que será apreciado pelo Congresso Nacional. Nesse
documento, os principais indicadores do desempenho do gov-
erno federal são analisados, incluindo os limites de gastos de
pessoal, de endividamento, o nível dos investimentos públicos,
o cumprimento das regras fiscais, a execução do orçamento
público, entre diversos outros indicadores. Como conclusão, o
TCU emite opinião pela aprovação ou rejeição das contas do
principal mandatário do País.
Quando o TCU identifica uma irregularidade que não é
de sua atribuição, um indício de crime cometido por um gestor
público, ele deve representar ao Poder competente, neste caso
ao Ministério Público Federal.
A Lei de Responsabilidade Fiscal determina, por exemplo,
que cabe ao TCU fiscalizar se o Banco Central está cumprindo
a determinação de que só lhe cabe comprar diretamente títulos
emitidos pela União para refinanciar a dívida mobiliária fed-
eral que estiver vencendo na sua carteira, o que é uma forma
de proibição para o Banco Central financiar despesas públicas.
Além disso, traz uma prescrição geral de que qualquer cidadão,
partido político, associação ou sindicato é parte legítima para

34
Democracia, direitos e participação

denunciar ao respectivo Tribunal de Contas (da União, dos es-


tados ou dos municípios, conforme o caso) o descumprimento
das prescrições estabelecidas na LRF, o que aponta claramente
a competência do Tribunal de Contas como guardião dessa lei.
Tribunal de Contas dos Estados e do Distrito Federal
Existem 26 Tribunais de Contas dos estados e um Tribunal
de Contas do Distrito Federal, ou seja, um para cada estado,
mais o do Distrito Federal. Todos têm sete Conselheiros, que
são os responsáveis por todas as deliberações dos Tribunais de
Contas, um corpo de conselheiros substitutos e um Ministério
Público especial, com atribuição para atuar exclusivamente no
respectivo TCE, além de contarem com um corpo de analistas,
auditores e técnicos que realizam auditorias e inspeções e auxi-
liam os conselheiros em suas atribuições.
Basicamente, a competência dos Tribunais de Contas dos
estados é a mesma do Tribunal de Contas da União, no âmbito
de cada estado e dos respectivos municípios. É o que expressa-
mente dispõe a Constituição Federal11. Isso quer dizer que os
11
Art. 75. As normas estabe-
lecidas nesta seção apli-
Tribunais de Contas emitirão parecer prévio, no caso para as cam-se, no que couber, à
contas do Governador e dos Prefeitos Municipais, julgarão as organização, composição e
fiscalização dos Tribunais
contas dos gestores estaduais e municipais, farão auditorias e de Contas dos estados e do
inspeções nos órgãos da administração pública, tanto do Poder Distrito Federal, bem como
dos Tribunais e Conselhos de
Executivo, quanto do Poder Judiciário, do Poder Legislativo, do Contas dos municípios. Pará-
Ministério Público e da Defensoria Pública, representarão ao grafo único. As Constituições
estaduais disporão sobre os
Poder competente quando identificarem problemas que fogem Tribunais de Contas respecti-
à sua competência e fiscalizarão o cumprimento da Lei de Res- vos, que serão integrados por
ponsabilidade Fiscal. sete Conselheiros.

As Constituições estaduais podem ainda estabelecer ou-


tras competências, de acordo com as especificidades locais. No
estado do Ceará, por exemplo, a Constituição Estadual obriga
os vereadores e prefeitos a enviar anualmente suas declarações
de bens ao TCE, aponta que o Tribunal de Contas deve encami-
nhar ao governador do estado pedido de intervenção estadual
no município que não cumprir o dever de prestar contas, que o
Conselho Municipal de Acompanhamento Social do Fundeb,
ao detectar irregularidades na aplicação dos recursos do Fundo,
deverá comunicar o fato ao Tribunal de Contas do Estado e este
adotará as providências cabíveis e que o Tribunal de Contas do
Estado poderá, a qualquer tempo, requisitar das prefeituras, das

35
Cidadania e controle social das contas públicas

câmaras, suas unidades gestoras e aos demais órgãos e entida-


des da administração direta e indireta, incluídas as fundações e
sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público Munici-
pal, quaisquer documentos e demonstrativos contábeis relativos
à aplicação dos recursos recebidos e arrecadados.
Tribunais de Contas dos Municípios
Aqui, há de se distinguir entre os três Tribunais de Contas
dos Municípios (Pará, Bahia e Goiás), órgãos estaduais de fisca-
lização municipal, e os dois Tribunais de Contas do Município,
órgãos municipais. O Tribunal de Contas do Município de São
Paulo e o Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro.
Basicamente, as competências são as mesmas dos TCE e
do TCU, restritas ao âmbito municipal. Assim, entre outras atri-
buições, os Tribunais de Contas dos Municípios julgam contas
dos gestores municipais, elaboram parecer prévio às contas dos
Prefeitos, auditam e inspecionam órgãos locais. São também in-
tegrados por sete conselheiros, contam com Ministério Público
especial e com analistas, técnicos e auditores que realizam as
auditorias e inspeções.
Os dois Tribunais de Contas do Município de São Paulo e
Rio de Janeiro são órgãos municipais e possuem especificidades
que os diferenciam, em parte, dos demais tribunais de contas.
Por exemplo, o Tribunal de Contas do Município de São Paulo
é integrado por cinco conselheiros e nele não oficia o Ministério
Público. As atribuições de julgar contas dos administradores e
de fiscalização são semelhantes.

Atividades

1. Entre no site do TCU e pesquise sobre o estado do Ceará.


2. Entre no site do TCE Ceará e verifique a situação de presta-
ção de contas do Poder Executivo estadual.

36
Democracia, direitos e participação

Capítulo 6

O Ministério Público de Contas


no Brasil
Leilyanne Brandão Feitosa

Pensando sobre o assunto


1. O que faz um Ministério Público de Contas?
2. Por que é tão importante um gestor público obedecer aos
princípios constitucionais da Administração Pública?

Objetivos do capítulo

• explicar a importância legal do Ministério Público de Contas


na fiscalização das prestações de contas da gestão pública.
• apresentar os direitos dos cidadãos de exigirem que os gesto-
res públicos gastem o dinheiro público atendendo aos princí-
pios republicanos.

Introdução
O Ministério Público de Contas (MPC) é o verdadeiro
representante da lei, atuando, opinando e fiscalizando a lega-
lidade e a formalidade de todos os processos submetidos aos
Tribunais de Contas (TC).
A Carta Magna Federal (CF/88) e o Estado Democrático
de Direito apontam que “Todo o poder emana do povo, que
o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente,
nos termos desta Constituição” (Art. 1º, Parágrafo Único, da
CF/88). É com essa autorização legal que o povo concede para
a Administração Pública a obrigação de administrar seus per-
tences, com a responsabilidade de bem gerir e comprovar isso
nas prestações de contas.

37
Cidadania e controle social das contas públicas

O Ministério Público de Contas é um órgão permanente


e essencial às funções da Administração Pública da União, dos
Estados e dos Municípios, cabendo-lhes a defesa, fiscalização
e controle externo contábil, financeiro, orçamentário, opera-
cional e patrimonial dos correspondentes entes federativos dos
quais fazem parte.
Sua existência e atuação estão restritas ao âmbito dos Tri-
bunais de Contas que integram, nos termos do previsto no Art.
130, da Constituição Federal de 1988 (CF/88), cuja principal
função é defender a lei perante os Tribunais de Contas no de-
sempenho do exercício do controle externo. Esse controle con-
siste na fiscalização, dentre outros aspectos, dos bens públicos,
dos gastos públicos, do orçamento e das finanças, constituin-
do-se, portanto, como órgão de destacada atuação dentro dos
Tribunais de Contas.
A Constituição Federal estabelece também nos seus ar-
tigos 70 a 75 o controle externo como mecanismo necessário
para fiscalizar as Administrações Públicas. Dessa forma, como
o Brasil é uma federação composta pela União, estados-mem-
bros, Distrito Federal e municípios, existem os Tribunais de
Contas como órgãos de controle externo, dividindo suas com-
petências de acordo com o ente federativo fiscalizado (União,
estados, Distrito Federal e municípios).
Assim, temos:
• Tribunal de Contas da União (TCU);
• Tribunal de Contas dos Estados (TCEs);
• Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF);
• Tribunal de Contas dos Municípios (Apenas 3: TCM-GO,
TCM-BA, e TCM-PA);
• Tribunal de Contas do Município (Apenas 2: TCM-RJ e
TCM-SP).
Os Tribunais de Contas, em sua maioria, englobam a fiscaliza-
ção tanto do estado-membro quanto dos municípios que os consti-
tuem. De igual forma, foram estabelecidos os Ministérios Públicos
de Contas dentro de cada Tribunal de Contas e assim, têm-se:
• Ministério Público de Contas junto ao TCU;
• Ministério Público de Contas junto aos TCE;
• Ministério Público de Contas junto ao TCDF;

38
Democracia, direitos e participação

• Ministério Público de Contas junto aos TCMs (MPC/TCM-


-GO, MPC/TCM-BA, e MPC/TCM-PA);
• Ministério Público de Contas junto ao TCM (MPC/TCM-RJ
e MPC/TCM-SP).
Atuação do Ministério Público de Contas
A atuação do Ministério Público de Contas está direta-
mente comprometida com o bem-estar coletivo. No exercício
de suas competências constitucionais e legais referentes ao con-
trole externo, atua no controle das contas públicas e da fisca-
lização dos gastos, buscando assegurar aos cidadãos o pleno
atendimento das suas necessidades básicas. Seu propósito é pos-
sibilitar que mais saúde, educação, segurança e infraestrutura
sejam efetivamente disponibilizados à população, assegurando
o princípio do Estado Democrático de Direito, apontado pela
CF/88. Portanto, o Ministério Público de Contas é a instituição
que rege a defesa da sociedade no controle das contas públicas.
Ademais, cabe destacar que o Ministério Público de Con-
tas também contribui para a efetivação do controle social da
gestão pública, por ser um órgão que acompanha a regularidade
do exercício do próprio Tribunal de Contas, mediante a adoção
de fiscalização da Administração e dos cofres públicos.
Para assegurar a eficácia do controle e instruir o julgamento
das contas dos órgãos públicos, o Ministério Público de Contas
verifica se os atos praticados pelos responsáveis que resultem em
receita, despesa ou gerência de bens, valores e direitos patrimo-
niais encontram amparo nos princípios administrativos constan-
tes da CF/88, quais sejam o da legalidade, legitimidade, econo-
micidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
O objetivo é comprovar o rigor dos atos praticados pela Ad-
ministração e a regularidade da guarda e da boa utilização dos
recursos públicos, tendo também como consequência, impedir a
ocorrência de desvios de recursos, de fraudes e atos de corrupção.
Cabe ainda ressaltar que outra importante e efetiva atua-
ção do Ministério Público de Contas que consiste em apurar
possíveis irregularidades no âmbito da Administração Pública,
se dá mediante a instauração, de ofício ou por provocação, de
processos internos no âmbito do próprio Ministério Público de
Contas, os quais correspondem as espécies processuais deno-

39
Cidadania e controle social das contas públicas

12
Nos termos do Art. 2º da
minadas de Procedimento Investigativo de Contas (PIC)12 e de
Resolução nº 01/2017, do Notícia de Fato (NF)13.
Colégio de Procuradores de
Contas do MPC/TCE-CE, “o Exemplos de algumas irregularidades que podem ser facil-
Procedimento Investigativo mente detectadas pelo cidadão e, por conseguinte, ser objeto de
de Contas (PIC) consiste em
denúncias perante os Tribunais de Contas e o Ministério Públi-
um procedimento interno de
investigação, de iniciativa co de Contas são:
dos próprios Procuradores
do Ministério Público de Con- • prática de nomear parentes para o exercício de cargo em co-
tas, com objetivo de apurar missão ou de confiança e exercício de função gratificada;
possíveis irregularidades, no
âmbito da Administração Pú- • contratações potencialmente direcionadas às empresas cujos
blica, e identificar elementos
para embasar uma eventual
sócios são parentes das autoridades contratantes;
Representação junto ao Tri-
• não realização de processo licitatório, nos casos previstos na
bunal de Contas do Estado
do Ceará (TCE-CE)”. Lei de Licitações;
13
Já a Notícia de Fato, por sua • obras inacabadas (construção de praças, escolas, viadutos,
vez, “consiste em qualquer calçamento de ruas etc.) sem justo motivo;
demanda dirigida ao Minis-
tério Público de Contas, seja • inexecução ou execução irregular do objeto/obra;
por pessoas físicas ou jurídi-
cas, em que se relata possí- • realização de pagamentos irregulares a fornecedores de bens
veis irregularidades, no âmbi- e serviços, a exemplo do pagamento por merenda escolar, ma-
to da Administração Pública,
para a apuração pelo MPC/ terial de estudo e uniforme que não foram entregues;
TCE-CE”, conforme Art. 3º da
supracitada Resolução. Para
• contratação/nomeação irregular de pessoal (ingresso sem
a admissibilidade da Notícia concurso público ou contratação temporária, conforme pre-
de Fato, a qual, ressalte-se, visto na CF/88);
pode ser encaminhada por
qualquer cidadão ao Serviço • concessão/realização de pagamentos indevidos a servidores,
de Protocolo e Distribuição
do MPC/ TCE-CE, por via seja porque não fazem jus a determinados auxílios/gratifica-
postal, ou eletronicamente, ções, seja porque correspondem a servidores fantasmas, que
mediante o e-mail institu-
nunca compareceram ao trabalho;
cional: mpc@tce.ce.gov.br,
não se impõem requisitos • desvios de dinheiro público e finalidade da realização da despesa.
formais específicos e ou res-
tritivos, de modo que, para A Figura a seguir ilustra como se dá a relação e as atri-
tanto, considerando que são
buições entre o Ministério Público de Contas, os Tribunais de
admitidas inclusive de for-
ma anônima, basta que em Contas e a Administração Pública.
uma análise superficial se
verifique indícios materiais
mínimos de configuração
de irregularidade ou dano ao
erário que mereçam a devida
investigação.

40
Democracia, direitos e participação

Administração Pública Administra bens e valores públicos

Tribunais de Contas Fiscaliza a Administração Pública

Fiscalizam as obrigações dos adminis-


tradores públicos nas prestações de
contas, dentro do rigor da lei.
Ministério Público de Contas

Verdadeiro Fiscal da lei. Órgão constitu-


cional que garante legalidade das deci-
sões dos Tribunais de Contas

O estado é administrado pela A Administração Pública deve gastar o


Administração Pública dinheiro público para atender às necessi-
dades sociais

O Ministério Público de Contas fiscaliza o


Os Tribunais de Contas fiscalizam
cumprimento da lei, quando os adminis-
as Administrações Públicas
tradores públicos prestarem suas contas.

O MPC visa garantir que as Administrações


Públicas cumpram seu papel de bem ad-
ministrar a coisa pública, atendendo a su-
premacia do interesse público.

Denúncias Quem pode apresentar? De que forma?

Poderão ser formuladas de forma escrita


Poderão ser apresentadas por
ou verbal (nesse caso, serão reduzidas a
qualquer cidadão, inclusive de
termo por servidor do MPC), por via
forma anônima ou com solicita-
postal, ou eletronicamente, mediante o
ção de sigilo de sua identificação.
e-mail institucional: mpc@tce.ce.gov.br

Ressalta-se que, embora não se imponham requisitos formais específicos e ou restritivos, mostra-
-se adequado que o denunciante, na medida do possível, exponha os fatos com linguagem clara e
objetiva; indique os prováveis responsáveis; informe sobre o ano ou data em que ocorreram os fatos;
apresente os indícios dos atos ou fatos denunciados e, quando possível, junte provas que indiquem
a existência de irregularidades ou ilegalidades praticadas.

Atividades

1. Dos seis princípios da Administração Pública expressos na


Constituição Federal de 1988, quais os dois que você consi-
dera mais importantes?
2. Por que o Ministério Público de Contas é importante? Se ele
não existisse o Tribunal de Contas conseguiria cumprir inte-
gralmente as atividades de fiscalização?
3. Dê exemplo de algumas irregularidades que podem ser facil-
mente detectadas pelo cidadão e encaminhadas à ouvidoria
de um Tribunal de Contas.
41
Cidadania e controle social das contas públicas

Capítulo 7

As Escolas de Contas: funções e


atribuições no fortalecimento do
controle social e da democracia
Luís Alexandre Albuquerque de Paula Pessoa

Pensando sobre o assunto


1. Você sabe o que é uma escola de contas?
2. Todos os Tribunais de Contas no Brasil têm escola de contas?

Objetivos do capítulo

• conhecer a origem das escolas de contas no Brasil;


• refletir sobre a contribuição das escolas de contas no processo de
estímulos ao controle social e o fortalecimento da democracia.

Contando um pouco dessa história...


Você deve lembrar que, no decorrer das aulas, se falou
muito da Constituição Federal de 1988, e neste capítulo, será
destacado que no Artigo 39 § 2º da Constituição está previsto
que a União, os estados e o Distrito Federal manterão escolas
de governo para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores
públicos, constituindo a participação em cursos um dos requisi-
tos para a promoção na carreira desses servidores.
Desde 1968, o Tribunal de Contas da União (TCU) já re-
conhecia a importância de fiscalizar o dinheiro público com ser-
vidores qualificados. Para esse importante trabalho mantinha o
Centro de Aperfeiçoamento de Servidores, que posteriormente,
em 1973, foi transformado no Serviço de Seleção e Aperfeiçoa-

42
Democracia, direitos e participação

mento, vinculado à área de gestão de pessoas e responsável pela


contratação de pessoal da Administração Pública Federal. Em
1986 o Serviço de Seleção e Aperfeiçoamento do TCU foi trans-
formado em Centro de Seleção e Treinamento (CST), que tinha
como principal função executar atividades relacionadas à seleção
e ao treinamento de servidores públicos com mais abrangência.
Em 1992, amparado pela Constituição Federal de 1988,
foi proposto por lei, a criação de um instituto responsável pela
realização periódica de concursos públicos e cursos de forma-
ção; pela organização e administração de cursos de treinamento
e de aperfeiçoamento para os servidores do TCU. Finalmente,
em 1994, foi concluído o processo de implementação da escola
de contas do TCU, que se chama Instituto Serzedello Corrêa, a
primeira escola de contas no Brasil. Ela tem a responsabilidade
de continuar o trabalho de formação dos servidores públicos
no âmbito Federal, em número crescente de ações de seleção e
capacitação; e é também reconhecido como uma unidade com
potencial de contribuir para o aprimoramento do controle ex-
terno (atribuição dos Tribunais de Contas).
Com foi apresentado em capítulo anterior, em cada estado
da federação existe um tribunal de contas para fiscalizar os re-
cursos públicos estadual e municipal, e cada um desses tribunais
tem a sua própria escola de contas, com atribuições semelhan-
tes, visando a formação de servidores e gestores e fomentando
projetos de estímulos ao controle social.
Criação e instalação da Escola de Contas do Ceará
O Instituto Escola Superior de Contas e Gestão Pública Mi-
nistro Plácido Castelo (IPC) é um órgão do Tribunal de Contas
do Estado do Ceará (TCE Ceará), criado em 1995, pela Lei Or-
gânica do Tribunal n° 12.509/95 (lei que estabelece o campo de
atuação do órgão). O IPC foi uma proposta de autoria do então
conselheiro Luís Alexandre Albuquerque Figueiredo de Paula
Pessoa. O nome da escola é uma homenagem ao ministro Plá-
cido Castelo, que já foi conselheiro do Tribunal de Contas do
Ceará e depois Governador do Ceará, em pleno regime militar.
Em 2008, foi construída a sede do Instituto em edifício
anexo ao TCE Ceará, e a partir de então, iniciaram os trabalhos
de ofertas de cursos para servidores do tribunal, servidores da

43
Cidadania e controle social das contas públicas

Administração Pública do Ceará, sendo algumas dessas ofertas


extensivas à sociedade. Desde então, o Instituto Plácido Castelo
vem desenvolvendo iniciativas de fortalecimento dos controles
externo atuando de forma articulada na formação de servido-
res dos poderes executivo, legislativo e judiciário do estado do
Ceará e seus municípios. Ele também possui iniciativas de for-
mação em controle social, dirigidas para a sociedade em geral,
especialmente aos jovens.
Funções e atribuições do IPC
Assim como a sua escola tem nome e identidade, o IPC
também tem sua identidade que fundamenta a elaboração e exe-
cução de seus trabalhos de formação. A missão é promover o
desenvolvimento dos servidores públicos e da sociedade, para o
aperfeiçoamento do controle governamental e social da gestão
pública. O Instituto Plácido Castelo tem como visão ser referên-
cia no desenvolvimento de pessoas e na oferta de ações educacio-
nais contribuindo para o aprimoramento da gestão pública.
Os valores da instituição têm como referências:
• efetividade: atuamos orientados para resultados com quali-
dade e celeridade;
• inovação: incentivamos a criatividade para o desenvolvimen-
to de soluções;
• transparência: promovemos o acesso às informações de for-
ma clara, objetiva e tempestiva;
• respeito às pessoas: valorizamos o ser humano, respeita-
mos as diferenças e desenvolvemos as competências, em prol
da satisfação pessoal e profissional;
• ética: agimos com honestidade, moralidade, independência e
imparcialidade;
• sustentabilidade: desenvolvemos ações sem comprometer as
gerações futuras;
• cooperação: lideramos pelo exemplo e promovemos a inte-
gração entre as áreas do Tribunal, instituições e sociedade.
Para desempenhar sua missão, o IPC traçou os seguintes
objetivos:
• promover e organizar cursos e treinamentos de aperfeiçoa-
mentos, como também cursos de pós-graduação, para os ser-
vidores do TCE Ceará e de seus jurisdicionados (pessoas ou

44
Democracia, direitos e participação

órgãos que devem prestar contas dos recursos públicos);


• fomentar o aprimoramento do controle social;
• desenvolver atividades de pesquisas e estudos sobre questões
relacionadas às técnicas de controle interno e externo da Ad-
ministração Pública;
• promover e organizar simpósios, jornadas, seminários e ou-
tros eventos;
• realizar cursos e formações para servidores e jurisdicionados,
inclusive na modalidade de Educação a Distância;
• produzir publicações relativas à sua missão e a do TCE Ce-
ará, tais como a Revista Controle, informativos, manuais e
outros documentos.
Ações do IPC para os jovens e a sociedade
No decorrer da disciplina muito se falou em políticas pú-
blicas como ações práticas de gestores em prol da sociedade,
custeadas com recursos públicos, fruto dos impostos. Essas po-
líticas são ações do Estado que visam melhorias em diversas
áreas, inclusive de interesse do jovem, como esporte, lazer, está-
gios, empregos e mais.
Nesse sentido, para além dos interesses do jovem e da socie-
dade, é papel fundamental do IPC contribuir com ações de estí-
mulos ao controle social das finanças públicas, por meio da parti-
cipação cidadã. Dessa forma, são planejados e executados ações e
projetos gratuitos para você, sua família, para a escola e sociedade.
Entre as ações mais conhecidas de amplo alcance, estão:
• Programa Agente de Controle: dirigido para as escolas pú-
blicas, este programa possui várias ações com destaque para
oferta de disciplina eletiva para alunos do ensino médio das
escolas públicas, estimulando a formação para a cidadania
e para o controle social das contas públicas; formação para
alunos dos anos finais do ensino fundamental, introduzindo
conceitos de cidadania, democracia e controle social; visitas
guiadas à sede do TCE Ceará etc.;
• Concursos: premiações em dinheiro e certificados de participação;
• Cursos à distância: inúmeros cursos, com certificados de par-
ticipação, sempre com temáticas da Administração Pública,
controle externo, controle social e sustentabilidade;
• Biblioteca Raimundo Girão: acessos presencial e virtual.

45
Cidadania e controle social das contas públicas

Você pode conhecer mais sobre o IPC no site: ipc@tce.


ce.gov.br.

Atividades

1. Faça uma pesquisa nos sites de escolas de contas de outros


Tribunais de Contas para conhecer projetos que incluem o
jovem estudante.
2. Inscreva-se num curso a distância do IPC e veja o que você
pode aprender sobre um determinado tema. Faça um peque-
no resumo do curso que fez e comente em sala de aula.

46
Parte 2

Controle social,
políticas públicas
e cidadania
Capítulo 8

Controle Social: origem e papel


do cidadão
Gleison Mendonça Diniz

Pensando sobre o assunto


1. O que é controle social?
2. Qual o papel do cidadão ao exercer o controle social?

Objetivos do capítulo

• definir o controle social na perspectiva dos recursos públicos;


• compreender o papel do cidadão no exercício do controle social.

Controle Social: definição


Para falar de controle social, é preciso entender inicial-
mente o que significa cada uma das duas palavras, ou seja, con-
trole e social, pois assim, tudo ficará mais fácil. Vocês ficaram
curiosos? Então vamos lá!
A palavra controle pode ser entendida como o poder de fisca-
lizar e administrar determinada coisa; ter o controle de uma situa-
ção é exercer o poder sobre o que está acontecendo. A palavra con-
trole pode ser aplicada em múltiplos contextos, com significados
semelhantes, ou seja, administrar, organizar ou dominar alguma
coisa ou situação. Em geral, podemos dizer que o controle nos
possibilita verificar se algo foi executado conforme planejado, per-
mitindo-se tomar as devidas ações corretivas ao longo do tempo.
Um exemplo prático de controle: se você está estudando
muito para passar no Enem após concluir o ensino médio, pos-
sivelmente tem se deparado, por exemplo, com as seguintes per-
guntas: Eu estou planejando adequadamente os conteúdos e as

48
Democracia, direitos e participação

matérias que cairão nas minhas avaliações? Eu estou separando


de forma coerente o meu tempo de estudo? Portanto, como es-
tou controlando tudo isso?
Nesse momento, destaca-se a importância do controle,
pois temos a oportunidade de verificar, analisar e corrigir al-
guns desvios ao longo do caminho, seja nos conteúdos, nas ma-
térias, seja no tempo necessário que estamos investindo para
realizar o sonho de passar no Enem e entrar no tão sonhado
ensino superior.
Controlar é fundamental para que se consiga atingir os re-
sultados com eficiência. Você já percebeu que normalmente es-
tamos controlando alguma coisa? Em geral, o controle quando
bem realizado gera resultados fantásticos.
Já a palavra social deriva de sociedade, ou seja, de um con-
junto de seres que convivem de forma organizada. Portanto, so-
ciedade pressupõe uma convivência e uma atividade conjunta
do homem, ordenada ou organizada conscientemente.
Agora que já conhecemos as palavras controle e social, po-
demos definir, da forma mais simples possível, que o controle
social é o controle exercido pela sociedade.
Assim, podemos definir que o controle social é a partici-
pação da sociedade na administração pública, com objetivo de
acompanhar e fiscalizar as ações do Governo, com o propósito
de solucionar os problemas e assegurar a manutenção dos ser-
viços de atendimento aos cidadãos.
Agora, é preciso também compreender nosso papel como
cidadãos. Então, vamos parar e pensar:
• devemos exigir que os impostos pagos ao governo pelos cida-
dãos sejam bem administrados?
• devemos colaborar com os nossos governantes com ideias,
sugestões, inovações e formas diferentes de pensar, com o in-
tuito de ver o nosso estado cada vez melhor?
• queremos ver as crianças e jovens nas escolas, a população
com acesso à saúde, à segurança, à moradia e ao emprego?
• queremos nos sentir bem e felizes em nosso país?
Se as respostas a essas perguntas foram todas positivas, então
uma excelente maneira de concretizar estes propósitos é por meio do

49
Cidadania e controle social das contas públicas

controle social. Não adianta ficar apenas criticando os governantes.


Não adianta só votar e esperar benefícios. É preciso fazer parte do
processo de governo, refletindo a importância do controle social.
Ao utilizar também as informações públicas de maneira
eficiente, o cidadão amplia suas possibilidades de participar do
debate público e da gestão do Estado. Além disso, o cidadão
pode verificar onde e como está sendo aplicado o dinheiro dos
seus impostos pelo governo, podendo ajudar a decidir os gastos
futuros, colaborar com o orçamento público14 participativo e até
14
Orçamento público é um
plano que ajuda a estimar detectar a má aplicação e desvios dos recursos públicos.
despesas, ganhos e oportu-
nidades de investimento do É importante compreender que o controle social envolve a
governo em um período de- participação do cidadão para o aperfeiçoamento da gestão pública.
terminado de tempo.
Somos mais fortes unidos ou separados?
Imaginando a sua resposta, é possível compreender que
cada cidadão possui fundamental importância na tarefa de
participar da gestão e de exercer o controle social das políticas
públicas e dos recursos investidos. Porém, com a ajuda e partici-
pação da sociedade, ou seja, de todos nós juntos, será mais fácil
controlar os gastos dos governos em todo Brasil.
O controle social pressupõe a efetiva participação da socie-
dade, não só na fiscalização da aplicação dos recursos públicos
como também na formulação e no acompanhamento da imple-
mentação de políticas públicas. Portanto, o controle social per-
mite uma maior participação cidadã e colabora para a consoli-
dação em nosso país da democracia que, como dizia Abraham
Lincoln, ex-presidente dos Estados Unidos, “é o governo do
povo, pelo povo, para o povo”.
As iniciativas de controle social podem partir:
• do ente público: a participação dos cidadãos para o exercício
do controle social é incentivada pelos órgãos governamentais
por meio de audiências, conferências, conselhos, ouvidorias,
portais da transparência etc. Ex.: conselhos de saúde, educa-
ção, assistência social, merenda escolar e Fundeb; orçamento
municipal participativo.
• da sociedade: a participação dos cidadãos para o exercício do
controle social é originada na própria sociedade por meio de ma-
nifestações, redes sociais, grupos organizados de controle social
etc. Ex.: participação em redes sociais, manifestações na rua.
50
Democracia, direitos e participação

Entre os instrumentos e ações de controle social se destacam:


• Portal da Transparência: é uma ferramenta desenvolvida em si-
tes de instituições públicas para permitir que a sociedade acom-
panhe o uso dos recursos públicos e tenha uma participação ati-
va na discussão das políticas públicas e no uso do dinheiro.
É possível acompanhar uma série ações de controle social
pelos Portais da Transparência, como por exemplo:
• os repasses para seu município e observar se, de fato, os ser-
viços que receberam recursos estão sendo prestados ou se os
bens foram adquiridos. Exemplo: seu município provavel-
mente recebe recursos para merenda escolar e você pode veri-
ficar nas próprias escolas se há a merenda;
• as políticas públicas, anotando quanto o governo está inves-
tindo em educação, saúde, segurança pública, inclusive ve-
rificar de forma mais detalhada investimentos em unidades
básicas de saúde, em educação básica, construção de estabele-
cimentos penais etc. Além de acompanhar os gastos, é possí-
vel, por exemplo, constatar quantos servidores trabalham em
determinadas Secretarias e comparar com outros órgãos;
• os contratos e as licitações referentes às compras públicas. É
possível checar uma série de informações relativas às contra-
tações que usaram dispensa de licitação ou verificar os maio-
res contratos com a Administração Pública;
• consultar informações de servidores públicos, sendo possível
identificar acúmulos de cargo ou pessoas ganhando acima do
teto constitucional e, talvez, até algum caso de nepotismo ou
conflito de interesses;
• verificar se um vereador da sua cidade está recebendo algum
benefício de forma indevida;
• identificar abusos nas viagens a serviço e nos cartões de paga-
mento de agentes e servidores públicos.
Em termos práticos, essas ações mostram que a efetivação
do controle social é uma importante ferramenta para o combate
à corrupção e à má gestão pública.
• Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011): criada
para garantir o acesso a informações, direito este já garantido
pela Constituição Federal de 1988, dando a todos o direito
de receber dos órgãos públicos informações de seu interesse

51
Cidadania e controle social das contas públicas

particular ou de interesse coletivo ou geral, que serão presta-


das no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da socie-
dade e do Estado.
• Observação aos locais onde são executadas as políticas pú-
blicas: a sociedade acompanha e monitora os locais de execu-
ção e os recursos envolvidos nas políticas públicas.

Atividades

1. Reúna sua turma e discuta a importância do papel dos cida-


dãos no exercício do controle social.
2. Pense e cite dois exemplos de ações de controle social que
não foram mencionadas ao longo do capítulo.
3. Forme duplas e faça uma pesquisa no Portal da Transparência
de seu município. Escolha um assunto presente no portal e veja
os recursos públicos já liberados no ano, para sua execução.

52
Capítulo 9

Gestor Público: atuação e


responsabilidades
Juliana Cardoso Lima Banhos Pinheiro

Pensando sobre o assunto


1. Quais são as atitudes e habilidades que devo desenvolver
para me tornar um gestor público de excelência?
2. Como desenvolver uma visão sistêmica capaz de assumir
responsabilidades atuando como gestor público?

Objetivos do capítulo

• identificar quais habilidades desenvolver para se tornar um


gestor público;
• entender qual o papel do gestor público e as responsabilidades
assumidas com o cargo público;
• compreender a importância de o gestor público ter uma visão
sistêmica para alcançar políticas públicas efetivas.

Gestor Público: atuação e responsabilidades


A Constituição Federal de 1988 estabelece o direito de
cada integrante da sociedade ter o conhecimento de como os
recursos públicos estão sendo utilizados. Não apenas a sua des-
tinação, mas também a sua regular e efetiva aplicação.
Em auxílio, os Tribunais de Contas são os órgãos constitu-
cionais competentes para desempenhar tais controles externos.
Isso se dá porque o Estado tem o dever de prestar contas dos re-
cursos públicos, custeados por meio de arrecadação de dinheiro
pelo Governo (federal, estadual e municipal), seja por meio de
impostos, da prestação de alguns serviços, do recebimento de
indenizações, por exemplo.

53
Cidadania e controle social das contas públicas

Com base na atribuição conferida ao Poder Público de


salvaguarda, protetor e garantidor de necessidades vitais da so-
ciedade, é que são autorizadas despesas públicas para a manu-
tenção da ordem interna, prestação de serviços públicos, cons-
trução de estradas, pontes, escolas, hospitais etc. Porém, se de
um lado os recursos são finitos e escassos, as necessidades se
apresentam como infinitas, exigindo que o gestor público rea-
lize um adequado planejamento do seu uso, a fim de evitar ou
diminuir desperdícios, ineficiência, ineficácia e o mau emprego
dos recursos públicos.
Mas, quem é considerado gestor público, quais são as suas
habilidades e quais responsabilidades são assumidas durante a
ocupação do cargo público?
Quem é o gestor público?
No conceito formal, gestor público é todo aquele que gere
recursos públicos, responsável por dinheiro, bens e valores pú-
blicos, seja da administração direta ou da indireta. De fato, ao
gestor público é atribuído o dever de uso equilibrado do orça-
mento disponível.
Todavia, do ponto de vista material, o gestor público não
pode deliberadamente definir, sem critérios, qualquer destina-
ção ao recurso público. A utilização tem que ter uma finalidade
maior, o interesse coletivo, o bem-estar da comunidade, refleti-
da na sociedade.
Logo, ser gestor público é ter a responsabilidade de conhe-
cer as necessidades sociais e gerir bem a escassez de recursos,
não olhando para interesses pessoais ou de alguns grupos, mas
visando o bem maior, sendo capaz de estabelecer prioridades e
implementar políticas públicas que atinjam o resultado esperado.
Como identificar o gestor público?
O gestor público é nomeado a cargo público para desem-
penhar as suas funções legalmente constituídas. Entretanto, o
gestor não é apenas o ocupante de cargo de decisão e liderança
na gestão pública. Mas também, é aquele que possui atitudes
compatíveis com a natureza pública do ofício.
Identificamos um gestor público quando reconhecemos nele
o compromisso junto às suas atribuições e à sociedade. É impres-

54
Democracia, direitos e participação

cindível o preparo técnico, assim como conhecer as leis, os proce-


dimentos e os processos de gestão. O gestor público tem que estar
constantemente atualizando suas capacitações, a fim de incorpo-
rar novas leis, realidades tecnológicas e tendências de mercado.
Para além do conhecimento técnico, em especial, o ges-
tor público precisa ter atitudes éticas, fortalecidas por valores
e princípios fortemente enraizados, que permitam ao gestor o
olhar sistêmico das necessidades que lhes são apresentadas.
Como dito, o gestor precisa ter uma visão sistêmica, ou
seja, não pode ficar paralisado diante das dificuldades e dos
obstáculos, ao contrário, deve atuar de forma planejada, estra-
tégica, consciente, tempestiva e eficaz.
O gestor público precisa ser coerente, agir com firmeza
para proteger a finalidade pública, presente em qualquer ação.
Ao mesmo tempo, o gestor público precisa equilibrar leveza e
fortaleza para transitar na diversidade de pessoas e desafios,
tudo com observância aos princípios da legalidade, moralidade,
eficiência, razoabilidade, transparência e impessoalidade.
Ao lado de todas essas coisas, em especial, o gestor público
precisa ter uma conduta ética. Em 1994, o Decreto no 1.171, do
Governo Federal aprova o Código de Ética Profissional do Servi-
dor Público Civil do Poder Executivo Federal. Com isso, muitos
estados e municípios também criam seus códigos de ética para
conduta dos servidores que atuam na Administração Pública.
Quais são as responsabilidades do Gestor Público?
Conforme a redação do Art. 14 da Declaração dos Direi-
tos do Homem e do Cidadão de 1789: “Todos os cidadãos têm
direito de verificar, por si ou pelos seus representantes, da ne-
cessidade da contribuição pública, de consenti-la livremente, de
observar o seu emprego e de lhe fixar a repartição, a coleta, a
cobrança e a duração”. O dever de prestar contas já constava
implicitamente no Art. 15 do referido documento, segundo o
qual “a sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente
público pela sua administração”. Não se trata, portanto, de um
favor do Administrador Público, mas uma obrigação inerente a
sua função, capaz de manter íntegra a confiança da população e
a transparência de seus atos, tudo isso relacionado no conceito
de accountability, ou seja, de responsabilidade.

55
Cidadania e controle social das contas públicas

Uma forma de exercer o controle externo é por meio do


exame das prestações de contas anuais de cada órgão do Es-
tado, havendo também a fiscalização sobre os atos de gestão,
como execução dos programas de governo, licitações, contra-
tos, convênios, suprimento de fundos ou renúncias de receitas.
O modelo a ser observado deve ser pautado no princípio da
eficiência, no qual a atuação do agente público deve obter o melhor
desempenho possível e a forma de alcançar melhorias dos serviços
públicos deve se pautar em uma atuação racional e planejada.
É preciso atuar sobre a mentalidade retrógrada de certos ad-
ministradores públicos, para que não mais se considerem os senho-
res da coisa pública, olimpicamente distanciados dos administra-
dos, como se não tivessem outra obrigação que a de meramente
desempenhar as rotinas burocráticas para cumprir o seu dever fun-
cional. Mas, além disso e sobretudo, também é preciso mudar a
mentalidade do público usuário, para que este se convença de que
ele é afinal a razão de existirem serviços públicos, Administração
Pública, o Estado e o próprio conceito de público.

Atividades

Aprendemos que o gestor público não deve pensar de for-


ma individual, mas sim em prol do interesse coletivo. Que tal
aplicar esse pensamento nas suas ações do dia a dia?
Para isso você deverá observar as seguintes premissas:
a. fazer o que já faz no dia a dia, mas agora pensando no bem
de todos e de forma sistêmica, ou seja, ter uma visão abran-
gente, que possa ir além dos seus próprios interesses e alcan-
çar as demais pessoas;
b. ser construtivo e atuar na solução dos problemas;
c. integrar suas ações às ações dos outros, sempre pensando no
bem comum.

56
Democracia, direitos e participação

Capítulo 10

Prestação de contas dos recursos


públicos
Carlos Alberto de Miranda Nascimento

Pensando sobre o assunto


1. Você já ouviu falar sobre prestação de contas dos recursos
públicos?
2. Os recursos públicos podem ser aplicados em finalidades
não públicas?

Objetivos do capítulo

• entender o que é prestação de contas dos recursos públicos e


quem tem o dever de fazê-la;
• compreender a importância de os gestores públicos prestarem contas;
• perceber como a transparência dos gastos públicos pode aju-
dar o dia a dia do cidadão.

Utilização dos recursos públicos


Aprendemos em capítulos anteriores que a origem dos recur-
sos públicos está na cobrança de tributos da sociedade, em geral,
sobre a renda, o consumo e o patrimônio dos cidadãos do país, o
que permite aos entes da federação, União, estados, Distrito Fede-
ral e municípios, custear e manter os serviços públicos ofertados à
população, ou seja, é a partir dos recursos arrecadados que o Es-
tado brasileiro tem condições de pagar, por exemplo, professores,
médicos, policiais e todos os funcionários de escolas, hospitais e
delegacias, que trabalham rotineiramente para oferecer aos cida-
dãos educação, saúde e segurança pública. É também com esse
dinheiro que os governos investem em infraestrutura para que as
pessoas tenham acesso à água tratada, esgoto recolhido, ruas lim-
pas, rodovias asfaltadas, rodoviárias, portos, aeroportos e estações
de metrô funcionando, moradias dignas etc.
57
Cidadania e controle social das contas públicas

Essa arrecadação permite ainda que os gestores públicos pro-


movam políticas públicas inclusivas que visam proteger o direito à
igualdade de gênero e racial, a liberdade de escolha da orientação
sexual, a existência dos povos originários e o patrimônio cultural.
E, não se pode esquecer, da elaboração de leis e das tomadas de de-
cisões em julgamentos, instrumentos utilizados por senadores, de-
putados, vereadores e juízes para facilitar a vida em comunidade.
Deste modo, sabendo que todas as ações governamentais
têm um custo e são executadas com recursos públicos oriundos
de tributos cobrados da sociedade, aprendemos também que
tais ações devem ser organizadas num orçamento que defina
prioridades e deixe transparente aos cidadãos como cada real
arrecadado será gasto pelas instituições públicas.
O orçamento público torna-se, então, o guia do gestor
público, sobre como ele pode gastar os recursos da sociedade.
Mas, será que os gestores públicos sempre gastam da maneira
que está prevista no orçamento? Como é possível saber se eles
fizeram exatamente o que estava autorizado?
Foi informado que o gestor público tem várias atribuições
e responsabilidades. Uma delas é o dever de prestar contas! Que
tal aprender um pouco mais sobre essa obrigação?
O dever de prestar contas
Vocês já sabem que os Tribunais de Contas são os órgãos res-
ponsáveis por apreciar as contas prestadas anualmente pelos Chefes
do Poder Executivo (Presidente, Governadores e Prefeitos) e julgar
as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros,
bens e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas
as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Públi-
co, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra
irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público.
A Lei Federal no 8.443/1992, além de descrever as compe-
tências do Tribunal de Contas da União, diz que as contas dos
administradores e responsáveis por recursos públicos, ou seja,
toda e qualquer pessoa física, órgão ou entidade que utilize, ar-
recade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores
públicos ou pelos quais a União responda serão anualmente sub-
metidas ao julgamento do Tribunal.
De forma semelhante, a Lei Estadual no 12.509/1995, além de
descrever as competências do Tribunal de Contas do Estado do Cea-

58
Democracia, direitos e participação

rá, também diz que as contas dos administradores e responsáveis por re-
cursos públicos, ou seja, toda e qualquer pessoa física, órgão ou entidade
que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e
valores públicos ou pelos quais o estado ou o município responda serão
anualmente submetidas ao julgamento do Tribunal.
Isso quer dizer que, qualquer pessoa física ou jurídica que te-
nha recebido dinheiro público para administrar terá que apresen-
tar as contas referentes ao valor que recebeu ao Tribunal de Contas
competente por fiscalizá-lo, ou seja, qualquer pessoa considerada
gestor público (qualquer um que recebeu recurso público) deve
disponibilizar aos Tribunais de Contas e, consequentemente, aos
cidadãos, todos os registros que comprovem exatamente como foi
que ele gastou o dinheiro que recebeu. Justamente para que a po-
pulação possa entender e avaliar o que aconteceu com os tributos
pagos pela sociedade.
E, por que é importante saber o que aconteceu com o dinhei-
ro público? Vale a pena aprender um pouco mais sobre a utilidade
da prestação de contas!
Para que serve a prestação de contas?
Na prestação de contas de um gestor público deve constar todos
os registros orçamentários, financeiros e contábeis sobre a movimen-
tação dos recursos públicos recebidos por ele, ou seja, todas as infor-
mações sobre os gastos realizados com o dinheiro arrecadado devem
ser apresentadas aos Tribunais de Contas, a fim de que suas equipes
possam avaliar o que aconteceu com esses recursos.
Desta forma, se os gestores públicos tiverem gasto os recursos de
maneira diferente da que estava descrita no orçamento, os Tribunais
de Contas e, consequentemente, os cidadãos saberão que os gestores
não estão fazendo o que tinha sido combinado com a sociedade.
É importante lembrar que o gestor público tem liberdade para
escolher as melhores soluções para os problemas e necessidades da
população. Porém, tudo o que ele fizer, precisa estar autorizado em
lei e, sempre que tiver que fazer algo diferente do combinado no orça-
mento, será necessário explicar a razão da mudança e pedir autoriza-
ção ao Poder Legislativo (formado por representantes do povo).
Por esse motivo, as contas públicas devem conter informações
verdadeiras e compreensíveis, porque é por meio delas que o gestor
público comunica às pessoas o que tem feito com o dinheiro público.

59
Cidadania e controle social das contas públicas

A partir dessas informações, os Tribunais de Contas podem


avaliar se os documentos condizem com a realidade. Exemplifican-
do, imagine que um prefeito tenha na conta bancária do município
dinheiro que foi arrecadado na cobrança de tributos, que de acordo
com o que está escrito no orçamento, seria utilizado para reformar
a praça no centro da cidade. Durante a execução da obra, este ges-
tor público terá a responsabilidade de verificar o andamento da
obra e somente pagar à empresa construtora se o serviço estiver
sendo realizado. Ao final do ano, o gestor será obrigado a reunir
toda a documentação e os registros que demonstrem o que foi feito
com o dinheiro. Isso quer dizer que o acompanhamento da obra e
todos os pagamentos relacionados à sua execução deverão estar na
documentação utilizada para prestar contas ao Tribunal de Con-
tas. É por meio dessas informações que as equipes do Tribunal de
Contas avaliarão se os pagamentos à empresa contratada estão de
acordo com a real construção da praça.
Este exemplo demonstra a importância de o gestor prestar
contas à sociedade. É a maneira pela qual os órgãos de controle e,
principalmente, o cidadão têm de verificar se o dinheiro público que
o gestor recebeu, neste caso, para reformar a praça foi realmente uti-
lizado para contratar e pagar a empresa que realizou o serviço.
Em resumo, é a forma que o cidadão tem de verificar o
destino dos recursos arrecadados, pois, é ele quem paga os tri-
butos e se beneficia dos serviços públicos, é o maior interessado,
portanto, em saber o destino do dinheiro.
Mas, e se o dinheiro tiver sido pago à empresa e a praça
não tiver sido construída? E se o dinheiro tiver sido pago a outra
pessoa diferente da empresa? E se tiver documentos dizendo
que a praça está pronta, mas nada tiver sido feito de verdade?
É daí que surge a importância de um governo transparente.
Que tal aprendermos um pouco mais sobre a transparência dos
gastos públicos e seus impactos na implementação de uma
sociedade mais justa?
Transparência dos gastos públicos e seus impactos na
sociedade
Vimos que é obrigação do gestor público apresentar os docu-
mentos que comprovem como o dinheiro público foi utilizado por
ele, pois, ao verificar as informações, ter-se-á a chance de compreen-

60
Democracia, direitos e participação

der se foi feito um bom uso do recurso. Assim, quanto mais infor-
mações estiverem disponíveis sobre o assunto, maiores as chances
de os cidadãos compreenderem o que foi realizado com o dinheiro.
Por isso, cabe ao gestor público disponibilizar informações
claras e compreensíveis, no intuito de facilitar a participação dos
cidadãos nas decisões que influenciam a coletividade. Pessoas
bem-informadas e cientes de seus direitos e deveres têm maior
poder de decisão sobre os aspectos cotidianos de sua vida.
Em uma sociedade cujos recursos públicos são limitados e
devem ser utilizados para o bem de todos, estar ciente de seus
direitos e deveres é a melhor forma de solicitar aos gestores ações
que transformem a realidade que precisamos. Pois, cada vez que
desperdiçamos dinheiro público, seja por falta de conhecimento,
seja por vontade intencional de utilizá-lo para interesses parti-
culares, perdemos uma oportunidade de melhorar o nosso país.
Todas as vezes que um gestor público, que deveria cuidar
muito bem desse dinheiro, descuida-se ou desvia o recurso, dei-
xamos de ter dinheiro para saúde, educação e segurança pública
A má gestão inviabiliza o trabalho de médicos, professo-
res, policiais ou quaisquer pessoas que atendam às necessidades
da população no geral, que ficarão desamparadas e sem a oferta
de serviços importantes. Observar as informações disponíveis
nas prestações de contas e em outros documentos públicos tor-
nou-se instrumento importante para o cidadão entender como
os gestores utilizam o dinheiro público e, principalmente, ava-
liar se estão realizando um bom trabalho.
Se um gestor público tiver dinheiro disponível, mas não
estiver resolvendo os problemas da população, os cidadãos po-
derão observar as informações de suas contas para entender o
que exatamente estava sendo feito com o dinheiro. E, caso os
cidadãos avaliem que o gestor não estava gastando o dinheiro
público como deveria, poderão, inclusive, repensar se querem
votar neste governante na próxima eleição.
É sabido que nem todo gestor público tem origem em uma
eleição. Mas, tendo em vista que o direcionamento das ações
advém dessas posições, escolher outras pessoas para ocupar
esses cargos é suficiente para que o cidadão envie a mensagem
de que não estava gostando do que estava acontecendo. Ainda

61
Cidadania e controle social das contas públicas

mais se as prestações de contas dos gestores públicos indicarem


que estão utilizando o dinheiro com prioridades diferentes das
que os cidadãos gostariam.
Esse é o maior objetivo do dever de prestar contas e da neces-
sidade de existir transparência das informações: permitir ao cida-
dão avaliar se os gestores públicos fazem ou não um bom trabalho.
Afinal, de que adianta arrecadar recursos públicos para aten-
der as necessidades da população por meio de serviços orientados
pelos gestores se a população continua desamparada? O sentido
de ter acesso às informações é para permitir que o cidadão tenha a
oportunidade de tomar decisões mais bem fundamentadas, conhe-
cendo melhor a realidade do orçamento e como procedeu o gestor
público em relação ao dinheiro que a ele tenha sido confiado.
Assim, se as informações são verdadeiras e indicam, por exem-
plo, que a saúde, a educação e a segurança pública não melhoram,
mesmo quando os gestores públicos gastam muito dinheiro com
esses serviços, talvez seja o caso de os cidadãos repensarem se esses
são os melhores governantes para o momento.

Atividades

1. Visite na internet o site institucional da sua cidade e verifi-


que se estão disponíveis os valores que são pagos a cada um
dos servidores públicos contratados, inclusive, o salário do
Prefeito. É direito de todos os cidadãos saber quanto pagam
pelos serviços dos servidores públicos.
2. Entre no site do Portal da Transparência do Governo do estado
do Ceará e procure se o seu município recebeu dinheiro do esta-
do para realizar alguma obra em sua cidade. Identifique se hou-
ve pagamentos a alguma empresa. Localize onde a obra está
sendo realizada e verifique se houve execução física no local.
3. Acesse o Portal da Transparência do Governo Federal e des-
cubra quanto recebe um Presidente em diárias quando há
viagens oficiais ao exterior.
4. Após as verificações, reflita: o dinheiro foi gasto exatamente
como deveria ter sido? São despesas que atendem às necessi-
dades da população?

62
Democracia, direitos e participação

Capítulo 11

As políticas sociais e os
mecanismos de controle:
democracia e participação
Patrícia Lúcia Mendes Saboya

Pensando sobre o assunto


1. Você conhece alguma política social que beneficia parte dos
cidadãos do seu município? Como ela funciona?
2. O que você entende por condicionalidades em políticas
públicas?

Objetivos do capítulo

• abordar o processo de participação da sociedade no que tange


à implementação e controle das políticas sociais;
• conhecer os fundamentos das políticas sociais como instru-
mento de políticas de expansão da cidadania e consolidação
da democracia;
• compreender o papel do cidadão no processo de controle das
políticas sociais.

Direitos Sociais, cidadania e democracia


A Constituição Federal de 1988 representa um marco na de-
mocratização e no reconhecimento dos direitos sociais no Brasil.
Alargou o projeto de democracia enfatizando, pela primeira vez,
de forma explícita e central, a importância dos direitos sociais
dos cidadãos. Em seu Artigo 6º, a CF/88 define como direitos
sociais: “a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a mo-
radia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desampa-
rados, na forma desta Constituição.” Direitos sociais são os di-
reitos fundamentais que garantem aos indivíduos, em condições
63
Cidadania e controle social das contas públicas

de igualdade, a proteção e garantias dadas pelo estado de direito.


Para assegurar os direitos sociais, o governo implementa as polí-
ticas públicas e, dentre elas, as políticas sociais.
FLEURY, Sônia. Observatório Como pontua Fleury (2007), muito mais que um instru-
da Inovação Social. 2007.
Programa de Estudos da
mento para possibilitar o acesso a um bem ou serviço, as políticas
Esfera Pública. Disponível sociais são um poderoso mecanismo para criar a sociedade que
em: www.ebape.fgv.br/pp/ queremos por meio de práticas democráticas e cidadãs. Isso se
peep. Acesso em: 05 jul.
2022. dá em um regime político democrático, definido desde a antiga
Grécia como governo do povo ou governo popular, em que todos
os cidadãos elegíveis participam igualmente, diretamente ou atra-
vés de representantes eleitos, na proposta, no desenvolvimento e
na criação de leis, exercendo o poder através do sufrágio univer-
sal, que se convencionou chamar de prática democrática e pleno
exercício da cidadania. E qual a importância da cidadania neste
contexto? Significa tomar parte da vida em sociedade, com parti-
cipação ativa no que diz respeito aos problemas da comunidade.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Para Dalmo Dallari (1998), conhecido jurista brasileiro, a ci-
Direitos Humanos e Cida-
dania. São Paulo: Moderna,
dadania deve ser entendida como processo em permanente cons-
1998. p.14. trução coletiva que visa a realização gradativa dos direitos huma-
nos e uma sociedade mais justa e solidária. A história está repleta
de exemplos de sociedades que formalmente garantiam direitos
civis e políticos aos seus cidadãos, tais como o direito ao voto ou
ao trabalho, porém não asseguravam os direitos sociais. O direito
ao voto, embora fundamental, não garante ao eleitor acesso pleno
a direitos sociais básicos. Nesse contexto, sem acesso à educação,
renda e mobilidade, o cidadão tem sua capacidade de participação
política extremamente reduzida por questões práticas ou estrutu-
rais geradas a partir de sua marginalização social, algo que leva a
fenômenos como alienação política ou desinformação.
Por isso que se diz que são muitos os indivíduos que legal-
mente possuem cidadania, mas nem todos dispõem de condições
sociais, estruturais e materiais para exercê-la. Assim, para garan-
tir os direitos sociais e, consequentemente, aprofundar a condição
democrática de uma sociedade, destacam-se as políticas sociais.
Políticas sociais
As políticas sociais são parte das políticas públicas, o meio
pelo qual o Estado implementa propostas e ações concretas
com o objetivo de resolver ou lidar com problemas do mundo
real. Além disso, buscam a garantia universal de direitos sociais

64
Democracia, direitos e participação

básicos, tais como educação, saúde e moradia e têm como ob-


jetivo final o bem-estar da população. Compreender as políticas
sociais como instrumento para inovar na gestão pública seria
um dos grandes desafios dos governos.
A atual conjuntura brasileira precisa intensificar a discussão
acerca das prioridades das políticas sociais tanto em relação ao
seu alcance, quanto às formas de financiamento, acesso e da pres-
tação dos seus serviços. Estas discussões, indispensáveis em uma
sociedade democrática, são o caminho mais curto para garantir
que os programas sociais de um país sejam justos e igualitários.
Alguns exemplos de políticas sociais incluem: pensões do
governo, assistência social, vale-alimentação, iniciativas de mora-
dia, assistência médica, auxílio desemprego, leis de igualdade de
oportunidades, leis de cotas, leis antidiscriminatórias e iniciativas
políticas destinadas a beneficiar pessoas carentes da sociedade.
Os casos mais conhecidos de políticas sociais no contexto
brasileiro são as iniciativas que asseguram assistência aos mais
desfavorecidos, como o Bolsa Família, um programa de transfe-
rência direta de renda através do fornecimento de auxílio finan-
ceiro às famílias de baixa renda. Outro programa conhecido é o
Minha Casa Minha Vida, que visa facilitar o acesso à moradia
própria de famílias com baixa renda por meio de subsídios no
valor de imóveis e flexibilização das formas de pagamento. Um
exemplo de política social de educação do contexto brasileiro é
o Programa Universidade Para Todos (ProUni), que fornece bol-
sas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação a estu-
dantes de baixa renda que tenham cursado o ensino médio em
escolas da rede pública ou como bolsista em instituição privada.
As políticas sociais guiam-se por princípios de igualdade e
justiça. Desde então, a participação social tem sido reafirmada
no Brasil como um fundamento dos mecanismos institucionais
que visam garantir a efetiva proteção social contra riscos e vul-
nerabilidades, assim como a vigência dos direitos sociais.
A participação social efetua-se principalmente por meio dos
diversos formatos de conselhos e dos diferentes mecanismos de
parceria colocados em prática nas políticas sociais. Fundando-se
no modelo de desenvolvimento que busca a igualdade de oportu-
nidade, de capacidade e de resultados, e promovendo o acesso dos
grupos sociais historicamente excluídos às condições produtivas,

65
Cidadania e controle social das contas públicas

aos benefícios do crescimento econômico e às garantias de um sis-


SILVA, Frederico; JACCOUD tema de proteção social (SILVA, JACCOUD e BEGHIN, 2010).
Luciana e BEGHIN Nathalie.
Políticas Sociais no Brasil: O controle social das políticas sociais
Participação Social, Conse-
lhos e Parcerias. (2010). ht-
tps://direito.mppr.mp.br/ar-
O controle social é o controle das ações do estado realiza-
quivos/File/politicassociais. do pela sociedade civil, seja por meio de grupos organizados ou
pdf. Acesso em: 22 out. 2022. individualmente por seus cidadãos. Uma política social deve ser
controlada pela sociedade civil em suas fases, tanto de formulação
e implementação como também, na fiscalização de sua execução.
A maioria das políticas públicas desenvolvidas no Brasil
prevê a criação de uma instância de controle social cujo obje-
tivo é de controlar e fiscalizar estas políticas. Este é também
o caso do programa Bolsa Família, que possui uma instância
de controle social própria formalmente designada em cada um
dos municípios. Estas instâncias atendem a diversos critérios de
paridade e intersetorialidade, contando com a participação de
representantes do governo e da sociedade civil e sendo integra-
da por representantes de diversos setores da sociedade.
A fim de entender as profundas consequências que podem ser
geradas por uma política social, basta observar o resultado de estudo
IPEA. Os efeitos do Programa do IPEA (PNAD, 2001 a 2015) sobre o Programa Bolsa Família que
Bolsa Família sobre a po- mostrou que cerca de 70% dos seus recursos alcançam os 20% mais
breza e a desigualdade: um
balanço dos primeiros quin- pobres (computados antes da transferência do programa). Estima-se
ze anos. IPEA – Instituto de que este Programa contribuiu na redução da pobreza em 15% e a
Pesquisa Econômica Aplica-
da. Disponível em: https://re- extrema pobreza em 25%, além de ter sido um dos responsáveis por
positorio.ipea.gov.br/bitstre- 10% da redução da desigualdade entre 2001 e 2015.
am/11058/9356/1/td_2499.
pdf. Acesso em: 08 ago. 2022. Além do auxílio financeiro, o Programa Bolsa Família exi-
ge uma série de condicionalidades, como por exemplo, a obrigação
de acompanhar o calendário de vacinação e a frequência escolar de
crianças e adolescentes. Estas condicionalidades têm o objetivo de
aprofundar o impacto social deste programa, aliando o benefício eco-
nômico mensal a medidas que a longo prazo ajudam a consolidar a
condição de cidadão das pessoas mais desfavorecidas da sociedade.
Políticas sociais também são passíveis de crítica e o Bolsa
Família não é exceção. Um dos problemas mais citados é o de
que o caráter assistencialista que poderia gerar uma relação de
dependência entre o benefício e seus beneficiários, ao contrário
do seu objetivo primário: a garantia dos direitos sociais das clas-
ses mais pobres, proporcionando cidadãos plenos e autônomos.

66
Democracia, direitos e participação

Outra crítica é de que este poderia ser usurpado como uma fer-
ramenta política transformando uma promissora política social
em vazio artifício eleitoreiro.
Não existem caminhos óbvios para superar estes e outros
problemas que inevitavelmente são gerados por qualquer políti-
ca social concreta. Por este motivo, é de fundamental importân-
cia que a sociedade reflita e discuta sobre o futuro das políticas
sociais em busca do aperfeiçoamento e realinhamento. Afinal,
como defende Fleury (2003), cuja atuação direciona-se no sen-
FLEURY, Sônia. Políticas so-
tido de “aumentar as capacidades e recursos técnicos e políticos ciais e democratização do po-
dos setores mais marginalizados, permitindo-lhes participar do der local. In: VERGARA, Sylvia
jogo político em condições menos desvantajosas”. Constant; CORRÊA, Vera Lucia
de Almeida (Orgs.). Propostas
Nesse contexto, deve-se enfatizar a importância dos diversos para uma gestão pública mu-
mecanismos existentes nas estruturas governamentais que levam à nicipal efetiva. Rio de Janeiro:
participação e ao controle social. São os chamados mecanismos para FGV, 2003. p. 91-115.
a sociedade exercer o controle cidadão, a exemplo dos citados pela
CGE/MG (2021): Acesso à informação e transparência pública; Au-
diência Pública; Controle social por meio das novas tecnologias de in-
formação comunicação; Conferência de Políticas Públicas; Conselho
de Políticas Públicas; Ouvidoria Pública. E, não menos importante,
o orçamento participativo que representa poderoso mecanismo de
participação e controle social na gestão de políticas sociais; o cumpri-
mento à Lei de Acesso à Informação que regulamenta o direito dos ci-
dadãos às informações públicas; o Portal da Transparência, importante
ferramenta de controle social desenvolvida para permitir que a socie-
dade acompanhe o uso dos recursos públicos e tenha uma participa-
ção ativa na discussão das políticas e no uso do dinheiro público.

Atividades

1. Enumere algumas políticas sociais concretas que você conhe-


ce e, se possível, descreva para seus colegas sua experiência
pessoal.
2. Enumere algumas limitações de políticas sociais e discuta
com seus colegas sobre quais medidas poderiam ser tomadas
para superá-las.
3. Descreva os instrumentos de participação e controle social que
você conhece no seu município e apresente sugestões para am-
pliar o acesso e melhorar a qualidade de participação.

67
Capítulo 12

Gestão participativa do orçamento


escolar: escola, família esociedade
Eliana Nunes Estrela

Pensando sobre o assunto


1. Você já participou de alguma organização estudantil na
escola, tipo grêmio ou clube estudantil?
2. De que forma a sua participação nos grêmios e nos clubes
estudantis contribuem com a democratização da escola?

Objetivos do capítulo

• compreender o que é gestão democrática;


• discutir a importância da gestão participativa do orçamento escolar;
• perceber como a escola, a família e a sociedade podem contri-
buir na gestãoparticipativa do orçamento escolar.

Gestão democrática: definições


Você sabe como surgiu a gestão democrática nas escolas?
Antes de definir o termo gestão democrática, temos que enten-
der o que é democracia. De modo geral, podemos dizer que a
democracia é uma organização política em que o povo é so-
berano, ou seja, pode escolher seus representantes, colaborar
com a elaboração de leis e normas e participar das decisões.
O termo democracia teve origem na Grécia Antiga, poden-
do ser etimologicamente dividido da seguinte maneira: demos
(povo), kratos (poder). Em geral, democracia é a prática política
de dissolução, de alguma maneira, do poder e das decisões po-
líticas em meio aos cidadãos.
Podemos dizer que democracia na escola se concretiza,
principalmente, pela participação da comunidade escolar nas

68
Democracia, direitos e participação

tomadas de decisões. Sendo assim, todos na escola devem ter


garantia de participação, seja individualmente ou por represen-
tação nas instâncias colegiadas.
A gestão democrática é uma forma de gerir uma instituição de
maneira que possibilite a participação, transparência e democracia.
Esse modelo de gestão representa um importante desafio na ope-
racionalização das políticas de educação e no cotidiano da escola.
A Constituição Federal de 1988, considerada a consti-
tuição cidadã, defende que a educação é um processo social,
construído por meio da participação da comunidade escolar.
Definindo “gestão democrática do ensino público, na forma da
lei” como um de seus princípios (Art. 206, Inciso VI), em 1996,
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) reforçou esse
princípio, em seus artigos 14 e 15, indicando as seguintes deter-
minações, no que se refere à gestão democrática:
Art. 14 - Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão
democrática do ensino público na educação básica, de acordo
com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
Participação dos profissionais da educação na elaboração
do projeto pedagógico da escola;
Participação das comunidades escolar e local em conselhos
escolares ou equivalentes.
Art. 15 - Os sistemas de ensino assegurarão às unidades
escolares públicas de educação básica que os integram pro-
BRASIL. Ministério da Educa-
gressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa
ção. Lei de Diretrizes e Bases
e de gestão financeira, observadas as normas de direito fi-
da Educação Nacional. Lei
nanceiro público (LDB, 1996).
no 9.394/96. Disponível em:
Como é possível perceber existe uma base legal para a http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Leis/L9394.htm.
gestão democrática na escola, ou seja, para construir um mode-
Acesso em: 27 dez. 2022.
lo de organização que tem como fundamento a participação do
coletivo. Assim, gestores, professores, funcionários, pais, alunos
e todos os envolvidos na comunidade escolar podem participar
de maneira ativa na elaboração do Projeto Político Pedagógico
e nas decisões da escola. VIEIRA, S. L. Educação e ges-
Na acepção de Vieira (2005), a gestão democrática do en- tão: extraindo significados da
base legal. In. CEARÁ.SEDUC.
sino público na educação básica aos sistemas de ensino, ofere-
Novos paradigmas de gestão
ce ampla autonomia às unidades federadas para definirem, em escolar. Fortaleza: Edições
sintonia com suas especificidades, formas de operacionalização SEDUC, 2005.
da gestão, com a participação dos profissionais da educação en-
volvidos e de toda a comunidade escolar e local.

69
Cidadania e controle social das contas públicas

A participação ativa de todos os segmentos envolvidos na


escola, bem como da comunidade escolar e local contribuem na
execução do Projeto Político Pedagógico, na definição do orça-
mento escolar, no acompanhamento do uso dos recursos finan-
ceiros e na divulgação e transparência na prestação de contas.
A Figura 1 apresenta de forma esquemática, como se dá a
gestão democrática de uma escola, segundo os preceitos legais
e os atores envolvidos.
Figura 1 – Gestão Democrática na escola

Fonte: elaborada pela autora

É possível perceber que a gestão democrática se constrói com


o envolvimento de todos os segmentos da unidade escolar. A forma
como esses atores se organizam para participar da gestão escolar,
no entanto, nem sempre é a mesma e cada escola possui estruturas
próprias, sendo o Conselho Escolar, o mais conhecido.
O objetivo da gestão democrática é promover o engaja-
mento entre a instituição e a comunidade escolar, trazendo os
pais, os familiares e a comunidade para atuação em um espaço
de participação ativa na busca de melhorias na escola. Assim,
você, como estudante, tem um papel importante na gestão par-
ticipativa da sua escola.
Gestão Participativa do Orçamento Escolar
A gestão democrática se evidencia na escola de diversas
maneiras, como na atuação colegiado de professores, no grê-
mio estudantil, na participação dos pais, dos funcionários e na
constituição e atuação do Conselho Escolar. Bem como, na

70
Democracia, direitos e participação

construção coletiva do Projeto Político Pedagógico, na defini-


ção do acompanhamento dos recursos da escola e na divulga-
çãoe transparência da prestação de contas.
Importa lembrar que o orçamento participativo é um meca-
nismo de democratização da política orçamentária estatal, reunin-
do os cidadãos em assembleias públicas nas quais avaliam a gestão
municipal, elaboram propostas de acordo com suas demandas e de-
liberam sobre o uso e aplicação dos recursos públicos e os dirigentes
estatais executam a vontade popular (GUGLIANO, 2007). Nesta
GUGLIANO, A. A. Proces-
perspectiva, a gestão participativa do orçamento escolar envolve a sos Participativos de ges-
participação de todos os segmentos da escola na tomada de decisão tão pública em Porto Alegre
e Montevidéu: comparando
em relação ao uso dos recursos financeiros. semelhanças e diferenças.
In: DAGNINO, E.; TATAGIBA, L.
A participação no orçamento escolar possibilita o desen- (Orgs.). Democracia, socieda-
volvimento do exercício da cidadania, o compromisso de todos de civil e participação. Chape-
có: Argos, 2007.
os segmentos da escola na execução das ações e a correspon-
sabilização entre a escola e a comunidade. A Figura 2 mostra
como se dá a relação entre gestão democrática, orçamento par-
ticipativo e comunidade escolar.
Figura 2 - Orçamento Participativo na Escola

Fonte: elaborada pela autora

No contexto da escola, o orçamento participativo possibi-


lita ao estudante conhecer o papel do gestor no uso dos recur-
sos financeiros e vivenciar o dilema das inúmeras necessida-

71
Cidadania e controle social das contas públicas

des diante de um recurso limitado. Deste modo, o orçamento


participativo funciona como um instrumento de decisão co-
letiva sobre as necessidades e o uso dos recursos financeiros
destinados à escola.
Há de se considerar também que a participação dos estu-
dantes, por meio dos conhecimentos adquiridos nas Unidades
Curriculares Eletivas (UCE) que tratam de cidadania,democra-
cia, responsabilidade social e ambiental, bem como a atuação
dos grêmios e clubes estudantis criam oportunidades para que
eles participem da tomada de decisões nas suas escolas, desen-
volvendo o protagonismo juvenil.
A participação na escola por meio do Conselho Escolar
permite que todos os segmentos atuem no orçamento partici-
pativo, uma vez que este órgão é um colegiado composto pelo
gestor e representantes de professores, funcionários adminis-
trativos, pais, alunos ou responsáveis e comunidade local. É
importante lembrar que o Conselho Escolar possui função de-
liberativa, consultiva, fiscalizadora e mobilizadora. Portanto,
expressa a participação da comunidade escolar e local no orça-
mento participativo e na gestão.

Atividades

1. Assista ao vídeo Gestão democrática e participação nas escolas,


Jornal Futura, e responda aos questionamentos propostos.
a) Qual a sua percepção sobre o vídeo?
b) O que você aprendeu sobre a participação dos estudantes na
escola?
c) Qual a problemática e a solução mencionada no vídeo pelo
estudante José Fernando?
d) Após assistir ao vídeo e responder os questionamentos, grave
um podcast entre 3 e 5 minutos ,abordando sobre a importân-
cia da participação dos estudantes na gestão escolar.

72
Parte 3

Acesso à
informação,
transparência e
participação
Capítulo 13

Uso de tecnologias para o


exercício do controle social
Ernesto Saboia de Figueiredo Júnior

Pensando sobre o assunto


1. Você já fez alguma denúncia sobre aplicação indevida de
recursos públicos no seu município ou na sua escola?
2. Você sabe o que é uma ouvidoria e um Portal da Transpa-
rência? Por que foram criados e como funcionam?

Objetivos do capítulo

• reconhecer a importância das tecnologias digitais para o exer-


cício do controle social das contas públicas;
• identificar alguns mecanismos importantes para acompanhar
e se informar sobre o uso dos recursos públicos.

Introdução
A segunda metade do século XX é marcada por mudanças
tecnológicas que vão alterar as formas de organização social, de
trabalho, de comunicação e de saúde. Conhecida pela tríade ener-
gia nuclear, nanotecnologia e informática, esses avanços atingem
as sociedades humanas de maneira não uniforme. Assim, o sécu-
lo XXI começou marcado pela existência de países ricos em que
são assegurados bens e direitos a todos os seus habitantes e países
pobres, para os quais os direitos básicos de cidadania ainda são
negados, como educação, saúde e segurança.
Mesmo em cenário tão desigual de riquezas, é possível
afirmar que se vive numa aldeia global, porque os modelos de
comunicações forjados com o advento da revolução informá-
tica conectam a todos, possibilitando o acesso a informações
praticamente em tempo real. Esse mundo hiperconectado tem
vantagens e desvantagens, riscos e desafios, perigos e soluções.

74
Democracia, direitos e participação

O que vamos discutir neste capítulo, diz respeito às van-


tagens que as tecnologias de informação e comunicação trouxe-
ram para a gestão pública, o controle social e o cidadão.
Gestão pública e controle social
Todos os países possuem estruturas públicas que são res-
ponsáveis pela gestão das políticas concebidas e planejadas para
serem executadas em atendimento às demandas de sua popula-
ção. Essas estruturas podem ser mais ou menos centralizadas, e
no caso de uma federação como o Brasil, elas existem ao nível
da União, dos Estados e Distrito Federal e dos Municípios.
Como foi apresentado em capítulos anteriores, esses órgãos
executam um orçamento, cuja origem dos recursos é pública,
provém dos cidadãos que pagam impostos, taxas e contribuições
que juntos constituem o orçamento público. Vimos também que
a Constituição Federal brasileira de 1988 foi cuidadosa na cria-
ção de mecanismos legais para fiscalização do uso dos recursos
públicos, criando os Tribunais de Contas, os Ministérios Públicos
de Contas, a Receita Federal do Brasil, a Polícia Federal e outros
órgãos não só para fiscalizar, como também para estabelecer pe-
nalidades àqueles que descumprirem os preceitos constitucionais
e se provarem ser maus gestores dos recursos públicos.
Afora todos esses mecanismos, a mesma Constituição
Federal, também conhecida como Constituição Cidadã, asse-
gura a todo e qualquer cidadão brasileiro, o direito de fazer o
controle social sobre a Administração Pública e seus gestores.
Esse direito é uma conquista importantíssima para o exercício
da cidadania, pois implica em participação na res publica15. E a 15
Res publica ou respublica é
capacidade de exercer esse direito, de acompanhar a gestão pú- uma expressão latina que
blica, de monitorar a execução do orçamento de um programa significa literalmente coisa
do povo, coisa pública. É a
ou projeto financiado com recursos públicos, é cada dia maior, origem da palavra república.
graças aos avanços das tecnologias digitais e da internet. O termo normalmente refe-
re-se a uma coisa que não
Gestão pública e sistemas informatizados é considerada propriedade
privada, mas, em vez disso,
Nos últimos trinta anos, a gestão pública vem cada dia mantida em conjunto por
mais se modernizando em termos de desenvolvimento de siste- muitas pessoas.
mas informatizados, capazes de organizar dados e processá-los,
gerando informações relevantes que podem subsidiar análises e
avaliações sobre o que está sendo executado e os impactos de
determinada iniciativa na vida das pessoas etc. Graças ao de-

75
Cidadania e controle social das contas públicas

senvolvimento das tecnologias informatizadas é possível tam-


bém organizar os dados em séries temporais, e analisar como
uma determinada política se desenvolve durante alguns anos.
Por exemplo, o Programa Bolsa Família (PBF) tem um sis-
tema de gestão que qualquer cidadão pode consultar e verificar,
desde sua criação, mês a mês, ano a ano, qual o total de recursos
que foi pago em cada município brasileiro. A Previdência Social
também criou sofisticados sistemas informatizados que possuem
o histórico da vida de cada trabalhador que contribuiu com a
previdência social em algum momento, e assim, quando solicita
aposentadoria, é possível emitir com rapidez, relatórios que con-
firmam ou não se esse direito está legalmente assegurado.
Os Tribunais de Contas têm criado sistemas informatiza-
dos que possibilitam melhores condições de avaliação das pres-
tações de contas dos órgãos públicos também conhecidos como
jurisdicionados, e maior celeridade nas análises e produção de
relatórios e pareceres sobre as prestações de contas encaminha-
das. Esses avanços têm contribuído para a melhoria do gasto
público, têm dado maior transparência às despesas dos gover-
nos e têm tido papel fundamental no combate à corrupção.
Graças à possibilidade de criação de bases de dados organi-
zadas e confiáveis, conseguiu-se avançar em relação à legislação
de combate à corrupção, facilitar a transparência, e desenvolver
mecanismos que eduque o cidadão para atuar no controle social
das contas públicas. Nos últimos anos, linguagens computacio-
nais mais simples e desenvolvimento de aplicativos amplamente
disponíveis para telefones celulares têm permitido que os cida-
dãos se aproximem e entendam o relevante papel que os Tribu-
nais de Contas têm para as sociedades democráticas.
Avanços no acesso e na transparência: ganha o cidadão,
ganha a sociedade
Anísio Teixeira, um grande educador brasileiro dizia que “Só
existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país
a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a escola
pública”. Por isso é tão importante entender que os avanços de-
correntes da revolução informática precisam ser apropriados por
todos os brasileiros, para que consigam, com plenitude, exercer sua
cidadania, lutando por seus direitos e honrando seus deveres.

76
Democracia, direitos e participação

Um dos direitos assegurados pela Constituição Federal de


1988 é o do cidadão fiscalizar os recursos públicos e os gestores. É o
conhecido controle social que já foi falado em capítulos anteriores.
Mas como exercer esse direito? Uma das formas é por meio
das ouvidorias. Em 2004, foi promulgada a Emenda Constitu-
cional nº 45, que determina a criação de ouvidorias no Poder
Judiciário e no Ministério Público no âmbito da União, estados,
Distrito Federal e territórios. Esse movimento foi se ampliando e
hoje, as ouvidorias se fazem presentes nos três poderes da Nação,
e também nos estados, no Distrito Federal e nos municípios, ten-
do se consolidado como uma instância de controle e participação
social, destinada ao aprimoramento da gestão pública.
Outra forma que facilitou bastante o exercício do controle
social foi a criação dos Portais da Transparência, tendo sido o do
Governo Federal, o primeiro, criado em 200416. Graças ao Portal 16
Acesso em: www.transpa-
da Transparência, tornou-se possível obter informações atualiza- rencia.gov.br
das sobre a execução do orçamento público, assim como identifi-
car recursos públicos transferidos e sua aplicação direta (origens,
valores, favorecidos). Por força de lei, os salários dos servidores
públicos são publicados nos Portais da Transparência.
Mas só em 2011, foi promulgada a Lei nº 12.527/2011,
conhecida como Lei de Acesso à Informação, ou simplesmente
LAI. Essa lei representa a verdadeira regulamentação do direi-
to à informação no Brasil. Pela primeira vez, constrói-se uma
norma orientada pelo princípio da transparência pública, asso-
ciando tanto a regulamentação do direito à informação como
os diversos dispositivos que determinam a publicidade ampla
de atos, documentos e informações produzidas pela Adminis-
tração em todos os seus níveis. Manteve-se o sigilo das infor-
mações imprescindíveis para a segurança da sociedade ou do
Estado, porém com apenas três níveis: ultrassecreta (25 anos),
secreta (15 anos) ou reservada (5 anos).
A mudança de paradigma pode ser percebida claramente
nas diretrizes gerais da Lei:
Art. 3º Os procedimentos previstos nesta Lei destinam-se
a assegurar o direito fundamental de acesso à informação
e devem ser executados em conformidade com os princí-
pios básicos da administração pública e com as seguintes
diretrizes:

77
Cidadania e controle social das contas públicas

I - observância da publicidade como preceito geral e do


sigilo como exceção;
II - divulgação de informações de interesse público, inde-
pendentemente de solicitações;
III - utilização de meios de comunicação viabilizados pela
tecnologia da informação;
IV - fomento ao desenvolvimento da cultura de transparên-
cia na administração pública;
V - desenvolvimento do controle social da administração
pública (LAI, 2011).

Essa tríade de mecanismos e dispositivos legais só se tor-


na possível graças ao desenvolvimento de robustos sistemas in-
formatizados que permitem a organização dos dados de forma
acessível ao cidadão. E também possibilitou por meio de in-
terfaces amigáveis, que cada pessoa, possa, rapidamente, fazer
uma denúncia, informar um desvio de finalidade de um recurso
público ou reclamar um direito que lhe é assegurado por lei.
Nos próximos capítulos você vai aprofundar os conheci-
mentos sobre esses três instrumentos legais que vêm ajudando
a assegurar o direito do cidadão a exercer o controle social das
contas públicas.

Atividades

1. Pesquise sobre o Programa Bolsa Família no seu município:


valores recebidos mensalmente, quantidade de famílias etc.
2. Elabore uma solicitação de informação à Prefeitura do seu
município, usando a LAI.
3. Entre no site do TCE Ceará e pesquise sobre o SIM.

78
Capítulo 14

Ouvidoria e Portal da
Transparência como canais de
acesso para o cidadão
Virgílio Freire do Nascimento Filho

Pensando sobre o assunto


1. Você já utilizou o serviço de ouvidoria de algum órgão públi-
co? Como foi a experiência?
2. E o Portal da Transparência da sua cidade, já consultou
alguma vez?
3. Se precisasse saber quanto recurso a sua escola recebeu
este ano, onde pesquisaria?

Objetivos do capítulo

• conceituar o papel das ouvidorias e suas contribuições para


que as organizações públicas desenvolvam meios de intera-
ção que viabilizem um acompanhamento crítico dos servi-
ços ofertados;
• apresentar os Portais da Transparência como instrumentos de
cidadania e que devem ser desenvolvidos de forma interativa,
amigável e simples, visando o efetivo controle social.

O que é Ouvidoria?
O serviço de ouvidoria se constitui num canal de comuni-
cação para defender e representar os direitos e deveres do cida-
dão. A instituição pública, ao fortalecer este serviço, contribui
para um novo modelo de gestão, possibilitando ao usuário se
relacionar com o serviço público de forma objetiva.
Conforme a Lei nº 13.460/2017, o objetivo de uma ouvi-
doria é garantir os direitos dos usuários, ao possibilitar um ca-

79
Cidadania e controle social das contas públicas

nal para manifestações. As ouvidorias devem funcionar como


instrumento provocador de mudança na gestão das entidades
públicas ou privadas, uma vez que estão direta e diariamente
em contato com os cidadãos e, em virtude disso, conhecem suas
frustrações e expectativas.
Atribui-se às ouvidorias de órgãos públicos o dever de apro-
ximar a relação entre a sociedade e a administração, para facilitar
o acesso da população às políticas públicas, difundindo o controle
social sobre a gestão pública e os serviços prestados pelo Estado.
A gestão do patrimônio público deve se fazer mais flexível
e acessível de maneira a abranger todas as necessidades dos ci-
dadãos trazidas por intermédio das suas ouvidorias, privilegian-
do satisfação e a prestação dos serviços com qualidade. Portan-
to, as ouvidorias devem desenvolver um olhar mais crítico e em
via dupla, ou seja, promover a garantia dos direitos do usuário,
velando pela funcionalidade dos objetivos da instituição.
Ouvidorias: instrumentos de inclusão e controle social
Estas unidades colaboram diretamente para o fortaleci-
mento do controle social, uma vez que os canais de ouvido-
ria, criados para o atendimento aos anseios da população, via-
bilizam a melhoria contínua dos serviços públicos, já que os
usuários podem se manifestar das mais variadas formas, seja
reclamando, elogiando, denunciando ou sugerindo ideias para
a melhoria da gestão pública.
Vale destacar o conceito de inclusão social que contempla
diversas áreas da vida em sociedade: educação, saúde, seguran-
ça, distribuição de renda, dentre outros. A promoção de políticas
públicas tendo como eixo norteador a melhoria das condições
de vida para a população, contribui para amenizar ou reduzir
desigualdades, consolidando valores democráticos e ampliando
a cidadania. Neste contexto, as ouvidorias se apresentam como
um ambiente importante de inclusão social, pois propiciam a es-
cuta respeitosa e viabilizando assim a manifestação do cidadão.
No que pese ainda a baixa divulgação dos trabalhos de
ouvidoria, estes instrumentos têm sido um grande divisor de
águas na gestão pública, uma vez que têm encontrado um pú-
blico mais crítico e consciente por respostas concretas.
Assim, a ouvidoria assume um papel importante para a

80
Democracia, direitos e participação

sociedade, já que além de ampliar a inclusão social, serve como


um indutor da igualdade de direitos formais, na igualdade de
oportunidades, mas também na construção da cidadania, como
elemento determinante na consolidação da democracia.
O que é Portal da Transparência?
O Portal da Transparência foi criado pela Lei nº 131/2009,
conhecida também como Lei da Transparência. Essa lei determina
a disponibilização de despesas com recursos públicos em tempo real
por meio da internet, para que as pessoas possam ter conhecimento
do que está sendo gasto e com o quê, se de fato o dinheiro do povo
está atendendo a um público mais específico ou a uma coletividade.
Na prática, o Portal da Transparência é uma ferramenta de-
senvolvida para uso via internet, permitindo que a sociedade acom-
panhe o uso dos recursos públicos e tenha uma participação ativa na
discussão das políticas públicas e no uso do dinheiro do povo.
As ouvidorias dialogam com os Portais da Transparência
As ouvidorias têm desempenhado papel importante para
que o cidadão possa questionar ou solicitar de um órgão público
melhorias de algo de seu interesse, da família, escola, sociedade.
Neste contexto, para viabilizar o exercício do controle so-
cial das finanças públicas, há de se perguntar em que ambiente
o cidadão vai encontrar informações sobre os serviços presta-
dos, como obter dados sobre as despesas com os salários dos
servidores públicos, com obras, com transporte escolar, enfim,
onde encontrar essas respostas.
Por força da Lei nº 12.527/2011, a chamada Lei de Aces-
so à Informação, e outras legislações complementares, as or-
ganizações desenvolveram os Portais da Transparência como
meios de comprovar as despesas e assegurar que os gastos pú-
blicos estão sendo efetuados em prol da coletividade.
O que deve constar nos Portais da Transparência?
A Lei nº 131/2009 determina a disponibilização de des-
pesas com dinheiro público em tempo real, por meio da inter-
net, de forma que as pessoas possam ter conhecimento do que
está sendo gasto com o dinheiro da sociedade.
É possível acompanhar uma série de situações pelo Portal
da Transparência do seu município, como por exemplo:

81
Cidadania e controle social das contas públicas

• o dinheiro para merenda escolar;


• a execução das políticas públicas, vendo quanto o governo
está investindo em educação, saúde, segurança pública etc.;
• verificar se um vereador da sua cidade não está recebendo
bolsa família ou outro benefício indevido.
No âmbito das obrigações do Tribunal de Contas do Esta-
do do Ceará, é realizado um monitoramento de forma aleatória
em que são analisados os Portais da Transparência dos Poderes
Executivo e Legislativo dos 184 municípios do Estado, a fim de
verificar a regularidade de informações.
A Prefeitura que deixa de demonstrar a regularidade na
transparência pode ter suas transferências (recursos públicos)
suspensas até que se comprove que suas despesas estão sendo
regularmente apresentadas.
As ouvidorias, portanto, têm um papel decisivo no sentido
de auxiliar na interpretação e monitoramento para que as organi-
zações públicas desenvolvam portais da transparência que se apre-
sentem de forma pedagógica, simples, direta, acessível e amigável.
Verificação dos Portais da Transparência realizado pelo
TCE Ceará
A título de sugestão, visite o site do TCE Ceará, na seção de
Municípios, Serviços, na seção da Transparência da Gestão Fiscal,
a relação de municípios em ordem alfabética em que estão con-
templados os resultados dos monitoramentos aleatórios realizados
nos portais das Prefeituras e Câmaras de Vereadores do estado.
Naquele ambiente são observados critérios como tempo real,
gestão fiscal e padrões mínimos de atendimento. Aqueles que even-
tualmente se mostrem como irregulares em algum destes critérios
terão os recebimentos de transferências voluntárias suspensos.
Uma vez caracterizado o não atendimento a um dos critérios
de avaliação, aquela Prefeitura ou Câmara de Vereadores poderá
ter acesso ao quesito não atendido, proceder com a correção e
solicitar uma nova avaliação por parte do Tribunal. Atualmente,
o Tribunal disponibiliza um serviço de emissão automatizada de
certidões para efeito de cumprimento da Lei da Transparência.
Uma vez comprovada a correção da informação, corrigida
a situação que inviabilizava a certidão de regularidade, poderá
novamente ser expedida.
82
Democracia, direitos e participação

Atuação da Ouvidoria do TCE Ceará


A ouvidoria do TCE Ceará foi instituída por meio da Re-
solução Administrativa17 07/2014, TCE-CE e atualizada por 17
São atos administrativos nor-
meio daquela de número 03/2022, publicada no Diário Oficial mativos expedidos pelas altas
autoridades do Executivo (mas
Eletrônico de 21 de março de 2022. não pelo Chefe do Executivo,
que só deve expedir decre-
Dentre as competências disciplinadas na Resolução Admi-
tos) ou pelos presidentes de
nistrativa 03/2022, consta do Art. 2º., Inciso VI, “divulgar, jun- tribunais, órgãos legislativos
to à sociedade, a missão da Ouvidoria, seus serviços e formas e colegiados administrativos,
para disciplinar matéria de
de acesso como instrumento de controle social.”
sua competência específica.
Os canais de acesso a Ouvidoria do TCE Ceará são os seguintes: As resoluções, normativas ou
individuais, são sempre atos
• Telefones: (85) 3212-2222 e (85) 3488-4817 inferiores ao regulamento e ao
regimento, não podendo ino-
• Sistema Eletrônico: www.tce.ce.gov.br, Ouvidoria, Contate a vá-los ou contrariá-los, mas
unicamente complementá-los
Ouvidoria e explicá-los. Seus efeitos po-
dem ser internos ou externos,
• E-mail: ouvidoria@tce.ce.gov.br conforme o campo de atuação
da norma ou os destinatários
• Presencial: Rua Sena Madureira, 1047, Edifício Presidente An-
da providência concreta.
tônio Coelho, térreo, Centro, Fortaleza (CE), CEP: 60.055-080

Atividades

Como unidade de mediação ou para estabelecer o melhor re-


lacionamento da sociedade com os órgãos de controle, as ouvido-
rias se propõem a promover uma interação mais simples e informal.
Como os usuários podem interagir com a Ouvidoria do TCE/CE?
Link para acesso ao formulário eletrônico da ouvidoria do TCE/
CE: https://www.tce.ce.gov.br/ouvidoria/contate-a-ouvidoria
1. Dentre as formas de acesso, os usuários podem interagir por
meio de um sistema informatizado, acessado do próprio tele-
fone celular. Que outras formas de comunicação estão sendo
pensadas pelo Tribunal para alcançar este público absoluta-
mente imerso neste universo tecnológico?
2. Utilizando o sistema informatizado da Ouvidoria do TCE/
CE, formule manifestação indagando ao dirigente máximo
quais as iniciativas pensadas para atrair este contingente de
estudantes como potenciais agentes de controle social?
Acesso ao sistema da Ouvidoria: www.tce.ce.gov.br, ouvi-
doria, contate a ouvidoria

83
Cidadania e controle social das contas públicas

Link para acesso ao formulário eletrônico da ouvidoria do TCE/


CE: https://www.tce.ce.gov.br/ouvidoria/contate-a-ouvidoria
Nota: ao final da manifestação, será gerado um número de pro-
tocolo que permite o acompanhamento de sua demanda.
3. As Ouvidorias, quando bem compreendidas pela população,
podem exercer uma relação de conciliação e mediação de
conflitos. Como ter a certeza de que as minhas manifestações
foram recepcionadas, internalizadas e que alguma providên-
cia fora adotada?
Link consulta por protocolo: https://www.tce.ce.gov.br/ouvi-
doria/consulta-por-protocolo
4. Os Portais da Transparência dos municípios são instrumen-
tos que podem ser muito valiosospara o exercício do controle
social. Como acompanhar as informações prestadas pelos
municípios ao TCE/CE e de que forma abrir provocações ou
sugestões para a disponibilização de portais mais intuitivos,
interativos, acessíveis e inteligentes.
Como acessar: www.tce.ce.gov.br, municípios, portal da trans-
parência dos municípios
https://municipios-transparencia.tce.ce.gov.br/

84
Democracia, direitos e participação

Capítulo 15

Lei de Acesso à Informação – LAI


(Lei no 12.527, de 18 de novembro
de 2011)
Derlange Maia Oliveira

Pensando sobre o assunto


1. Você já pediu alguma informação a um órgão público em
que precisou utilizar a Lei de Acesso à Informação?
2. Todo e qualquer tipo de dado pessoal pode ser divulgado?
3. Você tem conhecimento de alguma informação que está
sob sigilo de 25 anos? O que levou o governante a estabele-
cer este tempo de sigilo?

Objetivos do capítulo

• promover melhor compreensão do direito constitucional de


acesso às informações públicas que devem ser prestadas por
órgãos públicos, apresentando uma visão geral sobre a LAI;
• apresentar os fundamentos e conceitos da Lei de Acesso à In-
formação, estabelecendo uma base de conhecimento para com-
preender os preceitos legais e interpretar os casos concretos.

Introdução
A Lei de Acesso à Informação (LAI), Lei nº 12.527, de
2011, entrou em vigor no dia 16 de maio de 2012, como um
novo instrumento de cidadania em cumprimento ao manda-
mento constitucional que assegura aos cidadãos o direito de 18
Informação são dados, pro-
receber dos órgãos públicos informações de seu interesse parti- cessados ou não, que podem
cular ou coletivo e geral. ser utilizados para produção
e transmissão de conheci-
A LAI tem como objetivo garantir o direito fundamental mento, contidos em qualquer
de acesso à informação18, tendo como regra principal a publici- meio, suporte ou formato.

85
Cidadania e controle social das contas públicas

dade das informações e o sigilo como exceção. Além disso, ela


preza pela divulgação de informações de interesse da sociedade
independentemente de solicitação, bem como favorece a trans-
19
Transparência é o acesso parência19 e o controle social20 da Administração Pública.
aos dados públicos gerados
e mantidos pelo governo.
Em um Estado Democrático de Direito a Administração
Pública precisa justificar e fundamentar seus atos e decisões. E
20
Controle social é a parti- a democratização da informação exige que sejam dadas con-
cipação da sociedade na
administração pública, com
dições ao exercício do direito à informação e a ampliação da
objetivo de acompanhar e cultura de controle da Administração Pública pela sociedade
fiscalizar as ações de Go- para que ocorra uma efetiva melhoria na gestão pública.
verno, a fim de solucionar
os problemas e assegurar a A informação é um dever da Administração Pública e um
manutenção dos serviços de
direito do cidadão e é por isso que o estado deve buscar sempre
atendimento ao cidadão.
avançar em políticas públicas de transparência e de acesso à in-
formação. A noção de cidadania é ampliada à medida que são
incentivadas práticas de transparência e de controle social das
atividades do estado que tem a obrigação de efetivar seu dever
e, o cidadão, o de realizar seu direito.
A obrigação de informar, contudo, cabe a todos os poderes
e órgãos públicos, de todas as esferas (federal, estadual, distrital
e municipal), e de todos que mantém relacionamento com esses
entes envolvendo dinheiro público. Dessa forma, Legislativo,
Executivo, Judiciário, Ministério Público, Tribunais de Contas,
Fundações e Empresas Públicas, Autarquias, Economias Mis-
tas e seus contratos e contas devem ser de acesso públicos.
Os comandos da LAI devem ser executados de acordo
com os princípios básicos da Administração Pública: legalida-
de, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. E,
também, de acordo com as seguintes diretrizes:
• a publicidade como regra geral, e o sigilo como exceção;
• a divulgação de informações de interesse público, indepen-
dentemente de solicitações;
• a utilização de meios de comunicação viabilizados pela tec-
nologia da informação;
• o incentivo ao desenvolvimento da cultura de transparência
na administração pública;
• o desenvolvimento do controle social da administração pública.
Para que a publicidade seja a regra, e o sigilo, a exceção, a
Administração Pública estabeleceu duas formas para dar acesso
às informações públicas:
86
Democracia, direitos e participação

Transparência ativa: o setor público se antecipa e torna pública


informações, independentemente de requerimento;
Transparência passiva: divulgação de informações públicas em
atendimento às solicitações dos cidadãos.
Divulgação de informações
O poder público deve garantir a maximização da transpa-
rência ativa alcançando o maior número de pessoas, bem como,
a maior variedade de informações e órgãos possíveis.
Uma gestão transparente da informação, além do amplo
acesso, deve garantir que a informação esteja disponível21 e que
seja autêntica22 e íntegra23. Deve, também, proteger a informa-
ção sigilosa24 e a informação pessoal25, observando, sempre que
possível, uma adequada restrição de acesso.
O que deve ser divulgado?
21
Disponibilidade: qualidade
Segundo a LAI, o órgão deve divulgar o registro das com- da informação que pode ser
petências e estrutura organizacional, endereços e telefones das conhecida e utilizada por in-
respectivas unidades e horários de atendimento ao público. A divíduos, equipamentos ou
sistemas autorizados;
Lei também prevê a divulgação de registros de quaisquer re- 22
Autenticidade: qualidade da
passes ou transferências de recursos financeiros e das despesas, informação que tenha sido
informações relativas aos procedimentos licitatórios, inclusive produzida, expedida, recebida
aos respectivos editais e resultados. Todos os contratos realiza- ou modificada por determi-
nado indivíduo, equipamento
dos, dados gerais para o acompanhamento de programas, proje- ou sistema;
tos e ações dos órgãos e entidades públicas, bem como metas e 23
Integridade: qualidade da
indicadores propostos devem estar disponíveis para livre acesso informação não modificada,
inclusive quanto à origem,
por parte da população.
trânsito e destino;
Todas as informações produzidas ou custodiadas26 pelo po- 24
Informação sigilosa: aquela
der público são públicas e, portanto, acessíveis a todos os cida- submetida temporariamente
à restrição de acesso público
dãos, ressalvadas as hipóteses de sigilo legalmente estabelecidas. em razão de sua imprescin-
dibilidade para a segurança
O que não deve ser divulgado? da sociedade e do Estado;
O foco da LAI é a divulgação de informações de interes- 25
Informação pessoal: aquela
relacionada à pessoa natural
se público ou geral. Assim, não se pode divulgar situações de identificada ou identificável.
sigilo previstas em outras leis, por exemplo: sigilo fiscal, sigilo 26
Custodiado: pôr em custó-
bancário, segredo de justiça e segredo industrial dia; colocar sob proteção;
salvaguardar: custodiou o
Algumas informações são consideradas essenciais à segurança aluno até que terminasse
da sociedade e do Estado, como por exemplo: projetos de pesquisa seu curso.
e desenvolvimento científico ou tecnológico. São informações que
podem ser classificadas como ultrassecretas, secretas ou reservadas.

87
Cidadania e controle social das contas públicas

Já as informações pessoais precisam ter acesso restrito


em respeito à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem
das pessoas, bem como às liberdades e garantias individuais.
Importante observar, nesse caso, os comandos da Lei Geral de
Proteção de Dados Pessoais (Lei no 13.709 de 2018).
Acesso à informação pública
Apesar da maximização da transparência ativa, algumas in-
formações não são publicadas, seja por não serem de interesse
geral ou coletivo ou por terem o acesso restrito. A transparência
passiva visa garantir o acesso a essas informações, assim, a LAI
instituiu como uma obrigação do poder público a criação do Ser-
viço de Informações ao Cidadão (SIC) com as seguintes funções:
• atender e orientar os cidadãos sobre acesso a informações;
• informar sobre a tramitação de documentos27;
27
Documento: unidade de
registro de informações, • receber e registrar documentos e pedidos de acesso às informações.
qualquer que seja o suporte Além do atendimento presencial no SIC, os órgãos e en-
ou formato. tidades também devem possibilitar pedidos de informação por
28
Primária: coletada na fonte,
com o máximo de detalha-
meio eletrônico.
mento possível e sem mo- Quais são os direitos do solicitante sobre a informação?
dificações.
29
Atualizada: reúna os dados Os pedidos de acesso à informação não precisam ser moti-
mais recentes sobre o tema, vados e o fornecimento deve ser gratuito, salvo custos de repro-
de acordo com sua natureza
ou com os prazos previstos dução. Além disso, a informação pública disponibilizada deve
em normas específicas. ser primária28, autêntica, íntegra e atualizada29.
Exceções ao direito de acesso
As informações produzidas pelo setor público pertencem
à sociedade e devem estar disponíveis. Contudo, algumas in-
formações, como as pessoais e as sigilosas, se disponibilizadas
para o público podem expor pessoas ou o próprio país, gerando
um risco indesejado.
As exceções ao direito de acesso precisam ser restritas e
bem definidas, sempre fundamentadas no interesse público. O
sigilo só se justifica se o acesso à informação gerar danos à so-
ciedade ou ao Estado.
Por isso, a LAI classifica tais informações como: reservadas,
secretas ou ultrassecretas. A classificação leva em consideração o
risco proporcionado pela divulgação e o prazo de sigilo necessário,
devendo sempre ser utilizado o critério menos restritivo possível.

88
Democracia, direitos e participação

Cabe ao Estado proteger as informações sigilosas e pesso-


ais produzidas e tratadas por seus órgãos e entidades, contro-
lando o acesso e a divulgação adequada. Assim, o tratamento
de informação sigilosa fica restrito às pessoas devidamente au-
torizadas, conforme a necessidade de acesso. Aos que é per-
mitido o acesso assumem a obrigação de resguardar o sigilo e
sujeitam-se à responsabilização em caso de vazamento.

Atividades

1. Pesquise se no site da Secretaria de Educação do estado do


Ceará existe algum local que tenha orientações sobre uso de
Lei de Acesso à Informação.
2. Você acha que a Lei de Acesso à Informação ajuda na fisca-
lização dos recursos públicos? De que forma?
3. Que dados pessoais não devem ser divulgados em hipótese
nenhuma?
4. Às vezes eu solicito uma informação a um órgão público pela
Lei de Acesso à Informação e quando recebo não sei inter-
pretá-la. Como devo proceder nesses casos?

89
Capítulo 16

Governo Digital e Inovação


Pública
Raimir Holanda Filho

Pensando sobre o assunto


1. Você já ouviu falar de governo eletrônico e governo digital?
Sabe a diferença entre um e outro?
2. É possível viabilizar um governo digital numa sociedade
com poucos anos de estudo formal?

Objetivos do capítulo

• entender o que é um governo digital;


• conhecer as principais potencialidades, vantagens e dificulda-
des relacionadas à implantação de um governo digital.

Governo Digital
30
O ecossistema empreen- A transformação digital no setor público propicia a criação
dedor ou de inovação é um do governo digital, que por sua vez se refere ao uso de tecnologias
ambiente amigável para o digitais, como parte integrante das estratégias de modernização
surgimento de novas em-
presas. Ele é formado pelos dos governos, para criar valor público. O valor público consiste em
mais diversos agentes do um ecossistema30, composto por atores governamentais, organiza-
empreendedorismo sobre a ções não governamentais, empresas, associações de cidadãos e in-
influência dos mecanismos
regulatórios ou característi- divíduos, que apoia a produção e o acesso a dados, serviços e con-
cas de mercado, buscando o teúdos por meio de interações com o governo (OLIVEIRA, 2017).
desenvolvimento do negócio.
Com isso, torna-se imprescindível buscar novas aborda-
OLIVEIRA, A. C. de (coord.). O
gens em que o governo deixe de tentar antecipar todas as ne-
controle da administração pú- cessidades de cidadãos e empresas, e passe a permitir que estes
blica na era digital. 2. ed. Belo participem efetivamente da identificação e do atendimento de
Horizonte: Fórum, 2017. 460 p.
suas próprias demandas, em parceria com o estado. Muito além
das questões tecnológicas, pode-se dizer que essa mudança de
postura é a principal característica que impulsiona a transição

90
Democracia, direitos e participação

do paradigma31 de governo eletrônico, adotado no início dos 31


São as normas orientadoras
anos 2000, para uma nova abordagem de governo digital. de um grupo que estabele-
cem limites e que determi-
Entretanto, o cultivo da cultura de inovações não deve se limi- nam como um indivíduo deve
tar a uma organização governamental específica. O governo deve agir dentro desses limites.
cultivar um clima de inovação que aconteça naturalmente na socie-
dade, com independência e vitalidade prosperando sem a interferên-
cia governamental. Fomentar a inovação por meio de ferramentas
regulatórias (políticas tributárias, fiscais e judiciais) e outros incen-
tivos (por exemplo: investimentos em pesquisa e desenvolvimento)
são atribuições que os governos podem desenvolver.
Inovação por meio da transformação digital no governo
significa oferecer um serviço público de qualidade, com menos
gasto de tempo e dinheiro por parte do cidadão, para melhorar
a vida daqueles que vivem e trabalham no país. O potencial da
transformação digital no setor público é enorme. Com a auto-
mação de serviços, o país reduz enormemente as suas despesas
anuais e torna a vida das pessoas mais fácil. Monitora-se me-
lhor a oferta desses serviços e suas melhorias, tornando mais
direta e transparente a relação do Estado com a população.
O cenário de governo digital não comporta a visão simplis-
ta de uma mera redução do uso de papel no serviço público. A
sua aplicação deve ser bem mais ampla, ao possibilitar o uso das
tecnologias da informação e comunicação para a remodelagem
dos serviços públicos. A transformação digital que já acontecia
nas organizações foi intensificada na pandemia, o que tornou
imprescindível reformular planejamentos e adaptar novos mo-
delos de trabalho (remoto, híbrido etc.).
É importante salientar que a transformação digital amplia e
altera a maneira pela qual as organizações passaram a enxergar e
a processar os dados. Na fase atual em que nos encontramos, os
dados são gerados e compartilhados em quantidades exponen-
ciais, por pessoas, empresas e governos ao redor do mundo.
Governo digital no setor público
No setor público, o governo digital torna-se uma estratégia
para a modernização e melhoria dos serviços oferecidos ao cida-
dão, visando à redução da burocracia, a eliminação de controles
inoportunos e ao aumento da eficiência nas operações. Dessa ma-
neira, o governo digital tem como principal foco o cidadão e está

91
Cidadania e controle social das contas públicas

orientado para a criação de valor público e transformação do ecos-


sistema que envolve a Administração Pública, a sociedade civil e
as empresas, em que no centro está o cidadão (MOTTA, 2021).
MOTTA, F.; VALLE, V. R. L. do
(coord.). Governo digital e a Assim a transformação do Estado para uma plataforma
busca por inovação na ad-
ministração pública: a lei nº digital é um canal ampliado de democratização, estimulando
14.129, de 29 de março de o maior envolvimento e protagonismo do cidadão, apto, por-
2021. Belo Horizonte: Fórum,
2022. 242 p.
tanto, a agregar as preferências coletivas com a utilização das
tecnologias digitais. Entretanto, para além dos serviços digitais,
busca-se ainda, ampliar o acesso às instituições públicas de for-
ma universal e a qualificação das interações entre os cidadãos e
os tomadores de decisão dos serviços públicos.
O primeiro passo para o estabelecimento de uma estratégia
de transformação digital é identificar o universo dos serviços
oferecidos. Quando o órgão ou governo não têm essa dimen-
são, isso pode ser feito a partir de um Censo de Serviços. Com o
Censo concluído, será possível perceber com mais clareza que,
embora a abrangência dos serviços públicos seja ampla, seu
fluxo é quase sempre bastante similar: o cidadão ou empresa
faz um pedido à administração, que analisa e trata internamen-
te, e devolve o resultado ao solicitante: seja uma autorização,
um certificado, uma inscrição ou outro documento. A partir da
construção e contratação das ferramentas, passa-se a disponibi-
lizá-las para a sociedade, para que possam utilizá-las de forma a
acelerar o processo de transformação digital de serviços.
Neste contexto de Governo Digital, a gestão nas instituições
públicas vem sendo transformada desde a inclusão do princípio da
eficiência na Constituição Federal de 1988, a preocupação com a
transparência e um esforço para uma melhor prestação de serviço
combinada com economicidade e qualidade no atendimento. Para
que todas essas ações sejam realizadas, o desenvolvimento das ins-
tituições públicas deve ser pensado considerando a gestão da inova-
ção e do conhecimento orientada à criação de novos projetos, com
colaboradores de áreas diversas e ideias que possam otimizar os pro-
cessos e trazer avanço à sociedade. No setor público a inovação pode
GUIMARÃES, P. B. V.; CARÍ- ser pensada com o intuito de melhor gerir os recursos públicos, de
CIO, M. R.; OLIVEIRA, A. C. S. tal forma a assegurar a qualidade do gasto e um maior benefício que
de (org.). Inovação no setor
público: com estratégias de aquele gasto possa trazer para a sociedade (GUIMARÃES, 2017).
design thinking. Série Ino-
vação no setor Público, v. 1. Um olhar histórico na evolução dos esforços para implantação
Salvador: Motres, 2017. 331 p. de uma sociedade digital nos remete para as seguintes iniciativas:

92
Democracia, direitos e participação

• a Lei no 12.527/2011 (Lei de Acesso às Informações), aludindo


em seu Art. 8º ao dever de órgãos e entidades públicas proverem
informações de interesse coletivo ou geral em sítios eletrônicos;
• a Lei no 12.965 (Lei do Marco Civil da Internet) em seu Art.
24, III, anuncia a “promoção da racionalização e da interope-
rabilidade tecnológica dos serviços de governo eletrônico, entre
os diferentes Poderes e âmbitos da Federação, para permitir o
intercâmbio de informações e a celeridade de procedimentos”.
No Quadro 1, podemos observar a evolução das tecnolo-
gias envolvidas no contexto de Governo Digital.

Quadro 1 – Evolução do Governo Digital

WEB 1.0 > E-Gov 1.0 WEB 2.0 > E-Gov 2.0 WEB 2.0 > E-Gov 3.0
Orientado para o Governo Orientado para o Cidadão Serviços para indivíduos
Interatividade restrita Interativo Colaborativo

Serviço restrito no tempo e no Serviço integrado, acessível


Serviço móvel em qualquer local e a qualquer
espaço momento
Informações baseadas na Serviços baseados na partici-
Serviços inteligentes
oferta pação
Pessoas e organizações
Organizações publicam
Pessoas publicam conteúdo interagem e publicam/criam
conteúdo
conteúdo
Portais de serviços com Plataforma multisserviços
Web Page com informações tecnologias associadas a Blog integrados, com base em
em HiperTexto Wiki, RSS feeds, podcasts e Web Semântica, Inteligência
redes sociais Artificial, Blockchain
Fonte: DIAS, GOMES (2021).

Iniciada em 2020, o Governo Federal definiu sua Estraté-


gia de Governo Digital (EGD), que consolidou o caminho para
o Governo Digital centrado no cidadão, em que os dados e a
tecnologia promovem a efetividade das políticas e dos serviços
públicos. A EGD foi materializada no GOV.BR, que se tornou
a plataforma de relacionamento do Estado com o cidadão.
Outro marco importante foi a assinatura do Decreto nº
11.260/22, de 22 de novembro de 2022, que trata do proces-
so de elaboração da Estratégia Nacional de Governo Digital
(ENGD), conforme previsto na Lei de Governo Digital. A ini-
ciativa partiu da necessidade de articulação do Poder Executi-

93
Cidadania e controle social das contas públicas

vo federal com estados, Distrito Federal, municípios e os ou-


tros poderes para integração, racionalização, disponibilização
e simplificação de serviços públicos para o cidadão. A norma
também prorroga, até 2023, o prazo de vigência da Estratégia
de Governo Digital (EGD).
Caminhos do governo digital no Ceará
No estado do Ceará iniciativas no âmbito do Poder Execu-
tivo e do Tribunal de Contas do Estado do Ceará têm contribu-
ído para a promoção de inovações no setor público. No Poder
Executivo por meio do Laboratório de Inovação e Dados (IRIS,
2022) e no TCE Ceará por meio do Laboratório de Inovação
em Controle (LIC, 2022), inúmeras iniciativas têm concorrido
para que as competências associadas às entidades públicas se-
jam melhores desempenhadas e melhores serviços possam ser
disponibilizados à população cearense.

Atividades

Trabalho em equipe para realizar uma busca na internet


de iniciativas dos Governos Federal, Estadual ou Municipal,
de inovações relacionadas a Governo Digital, explicitando as
melhorias proporcionadas à população.

94
Democracia, direitos e participação

Sobre os organizadores
Ernesto Saboia de Figueiredo Júnior: bacharel em Direito, em Ciências Contá-
beis e em Administração de Empresas, pela Universidade de Fortaleza. Tem espe-
cialização em Análise de Sistemas, pela IBM – Brasil. Conselheiro do Tribunal de
Contas do Estado do Ceará, atualmente é diretor-presidente do Instituto Plácido
Castelo e ouvidor do Tribunal de Contas do Estado do Ceará.

Luís Eduardo de Menezes Lima: especialista em Gestão Pública e mestre em


Administração pela Universidade Estadual do Ceará. Ocupou os cargos de diretor,
subsecretário e secretário na gestão pública estadual. Superintendente de Administra-
ção no Poder Judiciário. Mentor Profissional pela Creative Institute e pela Escola de
Mentores. Diretor geral do Instituto Plácido Castelo.

Eloisa Maia Vidal: doutora em Educação, professora do Programa de Pós-Gra-


duação em Educação, da Universidade Estadual do Ceará. Coordenadora de
Formação continuada, extensão e pós-graduação do Instituto Plácido Castelo.
Pesquisadora das áreas de política e gestão educacional, gestão escolar e avalia-
ção de larga escala.

Sobre os autores
Aloisio Barbosa de Carvalho Neto: graduado em Direito pela Universidade de
Fortaleza, com atuação como advogado no estado do Ceará e no território nacio-
nal, incluindo Tribunais Superiores. Foi Secretário de Finanças do município de
Fortaleza, ocupou outros cargos no âmbito da Administração Pública estadual e
federal. Secretário de Estado Chefe da Controladoria e Ouvidoria Geral do Estado.

Carlos Alberto de Miranda Nascimento: mestre em Administração e Controla-


doria pela Universidade Federal do Ceará. Especialista em Auditoria Governa-
mental pela Universidade de Fortaleza e Gerenciamento de Projetos pela Fun-
dação Getúlio Vargas. Graduado em Direito pela Universidade de Fortaleza e
Engenharia Elétrica pela Universidade de Brasília. Analista de Controle Externo
no Tribunal de Contas do Ceará.

Derlange Maia Oliveira: pós-graduanda em Direito da Proteção e Uso de Dados,


além de Gestão Pública. Compõe o quadro de membros da Associação Nacional
dos Profissionais de Privacidade de Dados, a Associação Brasileira de Governança
Pública de Dados Pessoais e a Comissão sobre a Lei Geral de Proteção de Dados
- OAB/CE. Analista de Controle Externo e chefe da Assessoria de Qualidade e
Inovação no Tribunal de Contas do Estado do Ceará.

Edilberto Carlos Pontes Lima: pós-doutor em Democracia e Direitos Humanos


pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, doutor (UnB), mes-
tre (UFC) e especialista em Políticas Públicas pela George Washington University
(EUA). Atual Vice-Presidente do Tribunal de Contas do Estado do Ceará e Presi-
dente do Instituto Rui Barbosa.

Eliana Nunes Estrela: mestre em Gestão e Avaliação Pública pelo CaED. Atuou
como professora, gestora escolar e coordenadora de gestão na rede pública esta-
dual de ensino. Doutoranda em Educação no Programa de pós-graduação em
Educação da Universidade Estadual do Ceará. Secretária da Educação do Estado
do Ceará, desenvolve pesquisas na área de política educacional, gestão educacio-
nal e escolar.

95
Cidadania e controle social das contas públicas

Gleison Mendonça Diniz: pós-doutor em Administração e Controladoria


(UFC). Doutor em Administração de Empresas (Unifor). Mestre em Adminis-
tração de Empresas (UFC). Editor Adjunto da Revista Controle do Tribunal de
Contas do Estado do Ceará. Analista de Controle Externo do TCE/CE. Profes-
sor e Orientador do Instituto Plácido Castelo (IPC).

Juliana Cardoso Lima Banhos Pinheiro: mestre em Direito Constitucional.


Pós-graduada em Gerenciamento de Projetos. Especialista em Direito Processual
Civil. Chefe de Gabinete da Presidência do Tribunal de Contas do Estado do Ce-
ará. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Processual Civil,
Direito Administrativo e Direito Constitucional.

Leilyanne Brandão Feitosa: mestre em Direito Público pela Universidade Fede-


ral do Ceará, especialista em Processo Administrativo e em Filosofia Moderna
do Direito. Graduada em Contabilidade pela Universidade Estadual do Ceará.
Procuradora de Contas do Ministério Público especial junto ao Tribunal de Con-
tas do Estado do Ceará.

Luis Alexandre Albuquerque Figueiredo de Paula Pessoa: especialista em Direito


Constitucional pela Universidade de Fortaleza. Professor auxiliar na Universidade de
Fortaleza. Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Ceará.

Patrícia Lúcia Mendes Saboya: graduada em Pedagogia. Atuou como primeira-


-dama de Fortaleza e do Governo do Ceará, vereadora, deputada estadual e sena-
dora da República. Autora da Lei da Licença-Maternidade de seis meses e da Nova
Lei da Adoção. Conselheira e Corregedora do Tribunal de Contas do Ceará. Presi-
de o Conselho Consultivo Pedagógico da Escola de Contas e compõe o Conselho
Fiscal, os Comitês Técnicos da Educação e da Primeira Infância do IRB.

Raimir Holanda Filho: pós-doutor em Computação pela Université Paris 6 Pierre


et Marie Curie. Doutor em Ciência da Computação pela Universitat Politécnica de
Catalunya (Espanha). Atualmente é Professor titular no Programa de Pós-Gradu-
ação em Informática Aplicada da Universidade de Fortaleza e Coordenador de
Pesquisa, Inovação e Gestão da Informação no Instituto Plácido Castelo. Bolsista
de produtividade em pesquisa do CNPq nível 2.

Rholden Botelho de Queiroz: doutor em Direito e mestre em Direito Constitu-


cional pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará. Especialista
em Direito Tributário pela Universidade de Fortaleza. Conselheiro do Tribunal de
Contas do Estado do Ceará. Membro da Academia Cearense de Direito.

Silvia Helena Correia Vidal: Economista. Mestre em Planejamento e Políticas Pú-


blicas. Especialista em Economia de Empresas. Auditora de Controle Interno. Con-
troladora da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. 2ª Secretária da Coordena-
ção Executiva da Rede Estadual de Controle Interno da Gestão Pública.

Soraia Thomaz Dias Victor: graduada em Engenharia Civil e Direito. Especialista


em Gestão da Qualidade. Desenvolveu e coordenou diversos projetos junto a órgãos
públicos. Primeira mulher Conselheira do Tribunal de Contas do Estado do Ceará.

Virgílio Freire do Nascimento Filho: especialista em Contabilidade Pública.


Técnico de Controle Externo na Ouvidoria do Tribunal de Contas do Estado
do Ceará. Compõe o Comitê de Corregedorias, Ouvidorias, Controle Interno e
Controle Social do Instituto Rui Barbosa e a Diretoria da Associação Brasileira
de Ouvidores, Seccional Ceará.

96
N
uma iniciativa pioneira, o Tribunal
de Contas do Estado do Ceará se
associa à Secretaria de Educação para
ofertar uma disciplina eletiva para
os alunos matriculados nas escolas
públicas de Ensino Médio em Tempo
Integral (EMTI). Essa experiência
fortalece a formação para a cidadania,
ampliando a participação dos jovens
como protagonistas na construção de
uma sociedade democrática, em que a
gestão pública passe a ser vista como um
compromisso intrínseco das lideranças
políticas, baseada na ética, na competência
técnica, na equidade e na sustentabilidade.

ISBN978-65-998100-2-2
ISBN 978-65-998100-1-5

99 786599
786 599 81002
81 00125

Você também pode gostar