Concepções de Linguagem Língua e Cultura

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DA BAHIA – UFOB

CENTRO DAS HUMANIDADES


OFICINA DE LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL

CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM, LÍNGUA E


CULTURA

Prof. Dr. Murillo Neto

Barreiras
2024
“A LEITURA NOS LEVA POR
MUNDOS QUE NUNCA EXISTIRAM
OU EXISTIRÃO, POR ESPAÇOS
LONGÍNQUOS QUE NUNCA
VISITAMOS. É DESSE MUNDO
DIFERENTE, ESTRANHO AO NOSSO,
QUE PASSAMOS A VER O MUNDO
EM QUE VIVEMOS DE UMA OUTRA
FORMA”

RUBEM ALVES
LINGUAGEM...

Mikhail Bakhtin (1895 – 1975) apresentou uma


nova concepção de linguagem, a enunciação-
discursiva, que considera o discurso uma
prática social e uma forma de interação. A
relação interpessoal, o contexto de produção
dos textos, as diferentes situações de
comunicação, os gêneros, a interpretação e a
intenção de quem os produz passaram a ser
peças-chave.
•Linguagem como prática social: A linguagem é vista
como um ato de interação social, onde o significado é co-
construído entre os falantes. A comunicação é
influenciada pelo contexto social, cultural e histórico.

•Multimodalidade: A comunicação não se restringe à


linguagem verbal. Elementos como gestos, imagens,
entonação e expressões faciais são igualmente
importantes na construção do significado, refletindo uma
abordagem mais holística.

•Linguagem em contato: A globalização e a migração


resultaram em um aumento no contato entre línguas,
levando a fenômenos como bilinguismo, empréstimos
linguísticos e hibridações, que enriquecem o panorama
linguístico.
•Cognitivismo e linguagem: A relação entre linguagem e
cognição tem sido objeto de estudo em áreas como a
psicologia e a neurociência. A pesquisa investiga como a
linguagem é processada no cérebro e como influencia o
pensamento.

•Tecnologia e linguagem: As tecnologias digitais mudaram


radicalmente as formas de comunicação. O uso de redes
sociais, chats e outras plataformas online introduziu novas
práticas linguísticas e modificou as normas da comunicação.

•Linguística crítica: Essa abordagem analisa como a


linguagem pode perpetuar desigualdades sociais e injustiças.
Explora-se como a linguagem é usada em contextos de
poder e como pode ser uma ferramenta de resistência e
mudança social.
DIFERENTES LINGUAGENS

No nosso dia a dia, convivemos com diferentes tipos


linguagens:
- As chamadas línguas naturais (Inglês, Francês, Português,
Russo, Guarani, Libras etc);
- A pintura;
- A dança;
- A música;
- Cinema;
- Teatro;
- Os sistemas particulares de signos (logotipos, quadrinhos).
DIFERENTES CONCEPÇÕES DE LÍNGUA

•Língua como um sistema dinâmico: Em vez de ser vista


como um conjunto fixo de regras, a língua é entendida como
um sistema em constante evolução, moldado por mudanças
sociais, culturais e históricas.

•Variabilidade e mudança: A língua é marcada por


variações, seja em dialetos, registros ou estilos. A mudança
linguística é um processo natural e contínuo, influenciado por
fatores como interação social e contato entre línguas.

•Língua e identidade: A língua desempenha um papel


crucial na construção da identidade individual e coletiva. As
escolhas linguísticas refletem aspectos como pertencimento,
classe social, etnia e gênero.
•Contextualização e pragmática: O significado da língua é
altamente dependente do contexto em que é usada. A pragmática
estuda como a linguagem é utilizada em situações concretas e
como o contexto afeta a interpretação.

•Língua e poder: Há uma análise crítica da relação entre língua e


poder, explorando como a linguagem pode ser usada para
controlar, marginalizar ou empoderar indivíduos e grupos.

•Acesso e inclusão: Discussões contemporâneas focam na


acessibilidade da língua, incluindo como diferentes grupos podem
ser excluídos ou incluídos em práticas linguísticas, além de
considerar a importância de línguas minoritarizadas.
LÍNGUA: VARIAÇÃO E NORMA

 H á situações em que a língua se apresenta de


formas diferentes – o que é normal - alguns
fatores que favorecem estas variações são:
- região geográfica;
- o sexo;
- a idade;
- a classe social;
- profissionais;
- o grau de formalidade do contexto.
A NORMA CULTA E A LÍNGUA PADRÃO

 A norma culta é a que assegura a unidade da língua


nacional. E justamente em nome dessa unidade, tão
importante do ponto de vista político-cultural, que é
ensinada nas escolas e difundida nas gramáticas.

 Sendo mais espontânea e criativa, a língua popular


se afigura mais expressiva e dinâmica.
 Estou
“(...) não basta estudar a língua como um
código (conjunto de signos), através do
qual um emissor transmite mensagens a
um receptor; nem como um sistema
formal, abstrato, de relações entre
elementos de vários níveis que permitem
estruturar as frases de uma língua, nem
como um conjunto de enunciados virtuais
cujo “significado” é determinado fora de
qualquer contexto”

( KO C H , 2003)
Como educador preciso ir “lendo” cada vez melhor a
leitura do mundo que os grupos populares com quem
trabalho fazem de seu contexto imediato e do maior de
que o seu é parte. O que quero dizer é o seguinte: não
posso de maneira alguma, nas minhas relações
político-pedagógicas com os grupos populares,
desconsiderar seu saber de experiência feito. Sua
explicação do mundo de que faz parte a compreensão
de sua própria presença no mundo. E isso tudo vem
explicitado ou sugerido ou escondido no que chamo
“leitura do mundo” que precede sempre a “leitura da
palavra”.

Paulo Freire
ESCRITA completa

planejada não fragmentária


elaborada

frases longas e complexas predominância

circunstancial
FALA incompleta

não planejada fragmentária


pouco elaborada

frases curtas e simples predominância

circunstancial
 Os leitores não se formam com leituras escolares de
materiais escritos elaborados expressamente para a escola
com a finalidade de cumprir as exigências de um programa.
Os leitores se formam com a leitura de diferentes obras que
contêm uma diversidade de textos que servem, como ocorre
nos contextos extra-escolares, para uma multiplicidade de
propósitos.
Os estudantes de nível superior, enquanto
leitores críticos, precisam entender que a
linguagem não é transparente, não é
evidente. A linguagem está a serviço de
discursos que são, necessariamente,
ideológicos.
O VALOR SOCIAL DA L IN G U A G EM

“Tudo o que ser humano alcançou de crescimento


cultural está ligado à linguagem. Sem ela, a cultura
não existiria e os conhecimentos não poderiam ser
transmitidos de geração para geração. A linguagem
torna possível o desenvolvimento e a transmissão de
culturas, bem como o funcionamento eficiente e o
controle dos grupos sociais”.

Campedelli & Souza (1998, p. 10).


Aspecto Língua Linguagem
A capacidade humana de comunicar
Sistema estruturado de signos e
Definição e expressar pensamentos,
regras (ex.: português, inglês).
sentimentos e ideias.
Concreto, definido e formal (ex.:
Natureza Abstrato, dinâmico e multifacetado.
gramática, vocabulário).
Conjunto de normas e convenções Inclui qualquer forma de
Uso específicas para um grupo comunicação (verbal, não verbal,
linguístico. visual).
Línguas naturais (ex.: espanhol,
Comunicação oral, escrita, gestual, e
Exemplos francês) e línguas artificiais (ex.:
multimodal.
esperanto).
Analisada em disciplinas como Estudada em áreas como semiótica,
Estudo
linguística e filologia. sociologia, e psicologia.

Pode ser estável, mas varia por Sempre em mudança, influenciada


Variabilidade
dialetos e registros. por contextos sociais e culturais.
Funciona como uma ferramenta de
Serve como meio de comunicação
Função interação social e construção de
entre falantes.
significados.
O
caminho
mais curto para
conseguir fazer
muitas coisas,
é fazer uma de
cada Vez.

(Samuel Smiles).
A NATUREZA DA CULTURA

❖ Cultura é algo mais que um conjunto de formas isoladas de


comportamento. É a soma total, integrada, das características
de comportamento aprendido que são manifestadas nos
membros de uma sociedade e compartilhadas por todas as
pessoas.

A CULTURA É TRANSMITIDA PELA HERANÇA SOCIAL: O INDIVÍDUO


APRENDE CULTURA NO GRUPO SOCIAL E
NÃO POR HERANÇA GENÉTICA. UMA GERAÇÃO TRANSMITE CULTURA
PARA OUTRA POR MEIO DO PROCESSO
DE SOCIALIZAÇÃO.
CULTURA COMPREENDE A TOTALIDADE DAS CRIAÇÕES
HUMANAS E ABRANGE TUDO O QUE FOI CRIADO PELA
HUMANIDADE, COMO:
❖ Ideias;
❖ Valores;
❖ Manifestações artísticas de todo tipo;
❖ Crenças;
❖ Instituições sociais;
❖ Arte;
❖ Conhecimentos científicos;
❖ Instrumentos de trabalho;
❖ Tipos de vestuário;
❖ Construções etc.
A NATUREZA DA CULTURA

Cultura é, integralmente, o resultado de invenção


social, e pode ser considerada como herança
social, pois é transmitida por ensinamento a

cada nova geração.

Sociedade (humana) = população + cultura


PADRÃO CULTURAL

Cada sociedade humana possui sua


cultura própria e característica
O QUE CARACTERIZA UMA CULTURA, EM
PARTICULAR, É O COMPARTILHAMENTO DOS
HÁBITOS, VALORES, ATITUDES...

A C U LT U R A É C O N S T RU Í DA E
C O M PA RT I L H A DA P E L O S M E M B R O S
D E U M A D E T E R M I NA DA
C O L E T I V I DA D E .
ELA S E M A N I F E STA P O R M E I O D E D I V E RS O S
S I S T E M AS ( NORMAS , I D E O L O G I A S ETC ) Q U E
I N F LU E N C I A M A P E RS O NA L I DA D E DAS P E S S OAS ,
D E T E R M I NA N D O S UA F O R M A D E P E N S A R E D E AG I R .

FALAMOS D E N O R M A S C U LT U R A I S Q UA N D O N O S
R E F E R I M O S ÀS R E G R A S D E C O M P O RTA M E N T O Q U E
R E F L E T E M O S VA L O R E S D E U M A C U LT U R A .
NORMAS
 Universais: se aplicam a todos os membros da
sociedade (ex: proibição do incesto);

 Alternativas: há flexibilidade e permissão de escolha


dentre certos limites (ex: uso de calças, comer carne;
doar sangue);

Específicas: aplicáveis aos membros de um subgrupo


dentro da sociedade (ex: cumprimento escoteiro; aperto
de mão; beijo no rosto)
REFERÊNCIAS:

ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro e interação. São Paulo: Parábola Editorial,
2003 – (Série Aula; 1).

AZEREDO, J. C. Iniciação à sintaxe do português. Rio: Jorge Zahar, 1993.

GERALDI, João Wanderley (Org.). O Texto na Sala de Aula. 2 ed. Cascavel, Assoeste.
1984.

MACHADO, Anna Rachel; LOUSADA, Eliane; ABREU-TARDELLI. Planejar gêneros


acadêmicos. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.

MOTTA-ROTH, Désirée; HENDGES, Graciela Rabuske. Produção textual na


universidade. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.

OLIVEIRA, Luciano Amaral. Coisas que todo professor de português precisa saber: a
teoria na prática. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação. São Paulo: Cortez, 2003.

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