Ua2 Psicanálise e Ac

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Premissas da psicanálise

Apresentação
A psicanálise é considerada um dos movimentos de vanguarda da contemporaneidade. Mudou
muitas concepções de vida, desde a sexualidade, a conduta humana, a convivência do bem e do mal
na personalidade, entre tantos outros conceitos revolucionários. A partir de suas elaborações, a
visão sobre a conduta humana mudou, assim como as possibilidades de revisão de padrões de
comportamento e de crenças. Aliado a um mal-estar do novo sujeito, veio a ideia de que nada é
imutável, tudo pode ser revisto, recolocado ou, na pior das hipóteses, adaptado. Portanto, a teoria
sobre a estruturação da personalidade é extrinsecamente associada a um método de intervenção.

O nascimento dessa teoria, quem a defende e quais mudanças propõe são questionamentos que
permeiam esta Unidade de Aprendizagem e que fundamentam as discussões teóricas colocadas.
Não são propostos aprofundamentos dos aspectos teóricos, mas a compreensão de onde surge e
com quais propósitos e destinos. Para tanto, são examinadas suas bases e seus caminhos
epistemológicos e seu contexto de surgimento, principalmente a partir da psicologia da época.
Depois disso, são apontados as escolas que derivaram, os princípios que seguiram e os que
questionaram.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai ter elementos para o conhecimento basilar da
psicanálise. Não é fácil individuar contextos, sem descrever e discutir teorias, princípios e
fundamentos. A psicanálise é densa, é profunda, é marca temporal, histórica, civilizatória. Dessa
forma, torna-se desafiador olhá-la da superfície. Esse exercício vai ser feito no sentido de
apresentar seus princípios norteadores, assim como o contexto que os ensejou.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Identificar as bases epistemológicas e culturais da psicanálise.


• Distinguir os princípios fundamentais das escolas inglesa e francesa da psicanálise.
• Reconhecer figuras de destaque nas escolas inglesa e francesa da psicanálise e suas
respectivas contribuições.
Desafio
A psicanálise se desenvolveu como teoria da personalidade e como método de tratamento
psicoterápico. Dessa forma, há uma grande relação com os estudos do desenvolvimento,
principalmente psicossexual e psicossocial, e com os entendimentos da criança e as suas relações
com os cuidadores, no sentido de propiciar intervenções em diversos âmbitos de atuação do
psicólogo. Entendimento e intervenção na escola não significam psicoterapia e sim orientação,
baseada em parâmetros discutidos pela psicanálise. A aplicação empírica dos conhecimentos, de
forma geral, é chamada de metapsicologia, termo também proposto por Freud.

Analise a situação a seguir:

Sendo assim, faça dois projetos diferentes, para às duas faixas etárias, utilizando as concepções das
escolas francesa e inglesa.

Um dos projetos precisa ser baseado em algum autor da escola inglesa e outro da escola francesa.
Decida quais autores se relacionam mais com as necessidades dos estágios dos diferentes grupos.
Infográfico
Alguns seguidores de Freud fundaram novas escolas, que seguiram diferentes orientações do ponto
de vista teórico ou de intervenção analítica. De seguidores, alguns se tornaram fundadores de
novas concepções, ganhando relevância no meio analítico, a ponto de serem consideradas escolas
psicanalíticas. As escolas psicanalíticas são várias, alguns as denominam pela localização geográfica,
como as escolas inglesa e francesa, outros pelas diferentes concepções teóricas, pela psicologia do
ego, do self, pela psicanálise lacaniana, bioniana, etc.

Neste Infográfico, você vai ter uma visão geral sobre as escolas psicanalíticas a partir de Freud, em
uma retrospectiva histórica das transformações dessa fundamental escola de pensamento
psicológico. Você vai identificar personagens e ideias que nasceram da psicanálise freudiana, seus
discípulos, seguidores e dissidentes de certas ideias centrais da teoria original.
Aponte a câmera para o
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Conteúdo do livro
Escrever sobre as premissas da psicanálise envolve escrever sobre um período importante da
história, das transformações de uma época, de conceitos introduzidos que mudaram concepções de
sujeito, de família, de sexualidade, para citar alguns. A genialidade de um homem vitoriano,
testemunha de um período de rigidez de costumes, mudou exatamente esses padrões e essas
rigidezes. A psicanálise é aberta ao novo, à eterna reflexão e ao movimento de transformação.

O capítulo Premissas da psicanálise, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, busca transmitir
essas características por meio das escolas psicanalíticas, que iniciaram a partir de Freud e ganharam
o mundo. A fundamentação das ideias do autor é importante na seção introdutória, assim como o
contexto em que foi criada, ou seja, as tendências da psicologia na época. Posteriormente, as
escolas inglesa e francesa são colocadas como exemplo da expansão da psicanálise no mundo. O
capítulo conclui com informações sobre alguns expoentes da psicanálise, que a marcaram como
uma escola de entendimento da personalidade humana, assim como de método de tratamento
psicológico.

Boa leitura.
TEORIAS E
SISTEMAS
PSICOLÓGICOS II
Premissas da
psicanálise
Maria Beatriz Rodrigues

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Identificar as bases epistemológicas e culturais da psicanálise.


> Distinguir os princípios fundamentais das escolas inglesa e francesa da
psicanálise.
> Reconhecer figuras de destaque nas escolas inglesa e francesa da psicanálise
e suas respectivas contribuições.

Introdução
A psicanálise é uma das referências da psicologia tanto para estudantes dessa
ciência quanto para o senso comum, que muitas vezes pensa a psicologia por meio
de seus símbolos: divã, Freud, sexualidade, Édipo, etc. A psicanálise iniciou com os
trabalhos de Sigmund Freud e, a partir do início do século XX, foi disseminada pelos
muitos seguidores e discípulos do autor. As escolas são tratadas por localizações
geográficas: inglesa e francesa, principalmente. O momento era de guerra, e o
exílio, inclusive o de Freud, contribuiu para a difusão da psicanálise e das ideias
revolucionárias que ela propunha sobre a psique humana.
A psicanálise ganhou o mundo, e autores a transformaram e a direcionaram
para diferentes propostas, mas respeitando os princípios basilares. Em vez de
enfraquecer, a psicanálise se fortificou, mesmo tendo enfrentado momentos de
tensão entre seus membros. Todos continuaram adeptos ao nome “psicanálise”,
ainda que tenham transformado ou agregado conceitos aos originais.
Neste capítulo, você vai conhecer os princípios básicos da psicanálise freudiana,
que é complexa e tem uma rica história de experimentações clínicas. Além disso,
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vai ver por que existe uma ênfase nas escolas inglesa e francesa, entendendo
o contexto do surgimento e da expansão das escolas. Por fim, vai estudar uma
síntese das principais ideias de alguns autores expoentes da psicanálise.

Bases epistemológicas e culturais da


psicanálise
Sabemos que a mente humana e, acima de tudo, suas formas de adoecimento
mobilizaram autores, movimentos, hipóteses e intervenções ao longo da
história. A doença mental em específico foi entendida e enfrentada de diver-
sas formas em sociedades e contextos diferentes, por meio de paradigmas
pré-científicos, mágicos, religiosos, até a progressiva descoberta científica e
os dias atuais, com o desenvolvimento e a introdução de métodos e técnicas
terapêuticas. Nessa trajetória, temos episódios horrendos, condenáveis e
impiedosos em nome da cura, mas também temos o gradual reconhecimento
da consciência humana e do sujeito como capaz de pensar por si e construir
conhecimento. Vale destacar as filosofias de René Descartes (1596-1650) e
Immanuel Kant (1724-1804), entre outros que os seguiram, como respon-
sáveis por essa transição na concepção do sujeito consciente e dotado de
pensamento (DOCKHORN; KRUG; MACEDO, 2016). Kant também introduziu a
ideia das diferentes percepções de mundo. A partir disso, o sujeito nunca
mais foi o mesmo.
A psicanálise foi desenvolvida por Sigmund Freud (1856-1939) por meio da
observação de seus pacientes durante a atividade clínica. Essa observação
passou por diferentes estágios, seguindo a trajetória formativa do autor e de
experimentação com diferentes técnicas e métodos de trabalho. Seu percurso
começou com a prática como neurologista envolvido com pesquisas e foi até a
de psicanalista, passando por métodos como a hipnose, o uso de estimulantes
e a livre associação. O objetivo era acessar o conteúdo inconsciente, que era
sua descoberta e meta investigativa (ZIMERMAN, 2014).
A psicologia como ciência, no período em que Freud desenvolvia suas
pesquisas, estava no início. Ela estava preocupada em desvendar a cons-
ciência, na tradição de seu fundador W. Wundt (1832-1920) e dos seguidores
do estruturalismo, por meio de estudos experimentais em laboratórios. A
psicologia havia atravessado continentes para desenvolver o funcionalismo
e sua aplicação aos problemas práticos e cotidianos, na tradição pragmática
dos Estados Unidos. Era uma época de sistematização de testes, estudo das
diferenças e traços de personalidade, teorias com influência darwiniana,
estudo de deficiências, aplicações do conhecimento e técnicas em escolas
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e indústrias, etc. Havia disputas teóricas entre o estruturalismo e o funcio-


nalismo, principalmente em relação à estrutura das percepções. De um lado,
estava a análise dos elementos constituintes da percepção, proposta pelo
estruturalismo; do outro, estava o estudo do processo das percepções, mais
do que de seus conteúdos, proposto pelo funcionalismo. O funcionalismo
queria entender o que e por que as pessoas pensavam e agiam, enquanto o
estruturalismo propunha entender o conteúdo e os elementos estruturais
da mente (STERNBERG, 2010).
Essas divergências foram apaziguadas pelo associacionismo, com os
estudos sobre a associação de ideias, propiciadora da aprendizagem, por
meio de princípios como a contiguidade (informações que ocorrem juntas
ou próximas), a similaridade (informações com traços ou propriedades se-
melhantes) e o contraste (informações opostas, como claro/escuro, quente/
frio, etc.). H. Ebbinghaus (1850-1909) e E. Thorndike (1874-1949) foram expo-
entes do movimento, que não chegou a se configurar como uma escola de
pensamento da psicologia. Ebbinghaus aplicou de forma mais sistemática os
princípios do associacionismo em seus próprios processos mentais, contando
erros, calculando tempos de respostas e avaliando o papel das repetições na
aprendizagem. Thorndike introduziu a lei do efeito, que relacionou a produção
de respostas a partir de recompensas. A aprendizagem, ou a repetição de
comportamentos, se daria pela associação entre a recompensa recebida e
a resposta correta (STERNBERG, 2010). É evidente a conexão dessas ideias
na escola de pensamento que viria a ser muito influente: o behaviorismo.
O behaviorismo conduziu experimentos com animais para identificar
princípios semelhantes aos propostos pelos associacionistas, ou seja, rela-
ções entre estímulos e respostas. Entretanto, diferentemente do movimento
anterior, o behaviorismo propunha a ênfase no comportamento observável,
emitido a partir de eventos ambientais. O funcionamento da mente não
interessava como objeto de pesquisa. Os experimentos com aprendizagem
involuntária de I. Pavlov (1849-1936) contribuíram para o nascimento desse
tipo de abordagem. Nos experimentos, após um período de treinamento,
cachorros salivavam ao verem o técnico de laboratório, mesmo quando ele
não trazia alimento (STERNBERG, 2010). O behaviorismo propriamente dito,
denominado radical, nasceu com J. Watson (1878-1958), que, com seu Manifesto
behaviorista, em 1913, excluiu da psicologia as referências à mente e repudiou
qualquer ideia de consciência, pois considerava a consciência inapropriada
para ser estudada pela psicologia (SCHULTZ; SCHULTZ, 2005).
Outro behaviorista radical e muito influente foi B. F. Skinner (1904-1990),
que dominou o cenário da psicologia por muitos anos. Ele acreditava que
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o comportamento humano em geral, e não somente a aprendizagem, era


produzido como resposta a estímulos ambientais. Isso se dava por meio de
condicionamento operante, que seria a geração ou extinção de comporta-
mentos por meio da utilização de reforços ou punições (SCHULTZ; SCHULTZ,
2005; STERNBERG, 2010).
Freud, na tradição de Kant e de outros filósofos, propôs a sua teoria a partir
do entendimento de que não há equivalência entre as percepções adquiridas
por meio da consciência e os processos inconscientes. A psicanálise nasceu
com a ênfase no estudo das manifestações inconscientes, em uma aborda-
gem muito diferente do que estava sendo estudado na psicologia desde os
primórdios. “É justamente no interesse de Freud pelo padecimento neurótico
que surge a psicanálise. Os estudos anteriores sobre a histeria servem de
ponto de partida” (DOCKHORN; KRUG; MACEDO, 2016, p. 39).
A primeira teoria da personalidade sistemática foi psicanalítica, abordando
a estrutura do psiquismo. Ela foi proposta pela primeira vez em 1900, no
texto A interpretação dos sonhos, e era baseada nas seguintes três instâncias
psíquicas (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2004).

1. Inconsciente: conteúdos não presentes na consciência, derivados de


repressões, não facilmente acessíveis à consciência. O inconsciente é
composto por conteúdos já inconscientes por natureza e outros pro-
duzidos pelas ações de censura dos sujeitos. A censura busca remover
conteúdos indesejáveis, inaceitáveis e geradores de sofrimento. O
inconsciente tem suas regras próprias de funcionamento. Por exemplo,
ele é atemporal e desconhece noções de passado e presente.
2. Pré-consciente: é a instância que abriga conteúdos ainda acessíveis
à consciência. Esses conteúdos podem ser conscientizados com um
pequeno esforço mental.
3. Consciente: é a instância perpassada por conteúdos conscientes, por
meio da percepção, e inconscientes, que ficam dinamicamente forçando
a passagem à consciência ou se manifestando por meio de atos falhos,
sonhos, etc.

Posteriormente, Freud modificou a teoria do aparelho psíquico na chamada


segunda tópica, entre 1920 e 1923, e introduziu as três instâncias da estrutura
da personalidade, utilizadas até hoje: id, ego e superego. O id é onde a energia
psíquica e as pulsões habitam. Ele é regido pelo princípio do prazer. As carac-
terísticas do inconsciente se aplicam ao id. O ego é regido pelo princípio da
realidade, que se complementa ao princípio do prazer para o funcionamento
Premissas da psicanálise 5

psíquico. Assim, o ego intermedeia as exigências do id e as da realidade. É


uma instância conciliatória, que busca satisfação considerando as pulsões
do id e as condições objetivas da realidade. As funções básicas do ego são a
percepção, a memória, os sentimentos e o pensamento. O superego origina-se
com o complexo de Édipo, com a internalização de interdições, proibições
e autoridade. Tem como funções a consciência da moral e a observância
às regras sociais e culturais. As três instâncias são interdependentes, mas
conservam as suas autonomias (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2004).
Além dessas tópicas, em que a primeira, topográfica, foi substituída pela
segunda, dinâmica, podemos considerar que a estrutura da personalidade
implica em uma organização estável e definitiva, com as ressalvas feitas
anteriormente. Os elementos a seguir são importantes para o funcionamento
dessa estrutura:

„ mecanismos de defesa;
„ modos de relacionamento, a partir da diferenciação original, com a
mãe ou o cuidador;
„ evolução libidinal, a partir do desenvolvimento psicossexual;
„ grau de evolução do ego;
„ intermediação entre o princípio do prazer e o da realidade.

A estruturação da personalidade para a psicanálise acontece a partir da


diferenciação da criança de quem a cuida (mãe, pai ou outro). A princípio,
a criança não sabe que tem o próprio corpo e recebe cuidados de outras
pessoas, e essa é a primeira etapa da estruturação da personalidade. Pouco a
pouco, a criança vai percebendo essa distinção, e a segunda etapa é marcada
pela percepção do outro, o que pode frustrar ou satisfazer, e a criança vai
desenvolvendo defesas contra as reações aos impulsos internos e estímulos
externos. Essas defesas nascem de um crescente controle e da intermediação
entre as pulsões e a realidade. Para isso, seus relacionamentos afetivos e
sociais são fundamentais. Em um terceiro momento, estabelece-se a estrutura
permanente da personalidade, que não pode mudar de forma significativa,
mas somente adaptar-se ou desadaptar-se. Se o sujeito não for submetido a
problemas excessivamente traumáticos ou a grandes frustrações, ele poderá
se manter estável, sem adoecer. No entanto, se ele adoecer, isso vai ocorrer
a partir das disposições precoces, neurótica ou psicótica (BERGERET, 2006).
Outra sistematização teórica da psicanálise é o desenvolvimento psicos-
sexual da criança, que passa por estágios centrados em diferentes zonas
erógenas: oral, anal, fálica, latência e genital. A fase oral, que vai do nascimento
6 Premissas da psicanálise

até o segundo ano de vida, tem a boca e os atos de mamar, morder e engolir
como as principais fontes de prazer. A fase anal coincide com o treinamento
para o controle dos esfíncteres, e o prazer migra para a região anal. O estágio
fálico, por volta dos quatro anos, é a fantasia sexual com o genitor do sexo
oposto e marca o complexo de Édipo. Nesse estágio, a criança pode estimular
os próprios genitais, e isso pode causar alguns problemas com os adultos.
Além disso, existe uma relação competitiva que a criança estabelece com os
adultos. A resolução dessa fase vem por meio da identificação e do apazi-
guamento com o genitor do mesmo sexo. A partir das resoluções, a fase de
latência acontece em torno dos 5 aos 12 anos, e a criança vai para a escola e
começa a focar nos amigos e em outros círculos sociais. A fase genital começa
com a puberdade, e o indivíduo adquire a possibilidade de manter relações
sexuais (FEIST; FEIST; ROBERTS, 2015; HALL; LINDZEY; CAMPBELL, 2007).
A estrutura da personalidade representa, portanto, os elementos funda-
mentais para o estabelecimento psíquico do sujeito, o que vai definir a sua
forma de estar no mundo. Segundo a psicanálise, existem os seguintes fatores
coadjuvantes no funcionamento ou no adoecimento psíquico (BERGERET, 2006):

„ disposição constitucional;
„ experiências dos primeiros cinco anos de vida;
„ circunstâncias do sujeito ao longo da vida adulta.

Os aspectos constitutivos e a hereditariedade, associados às experiências


significativas dos cinco primeiros anos, em que a criança está se individuando e
adquirindo a sua identidade, são propiciadores de estruturas de personalidade
mais ou menos adaptadas. A vida do sujeito e suas circunstâncias vão colocá-lo
à prova, em termos da possibilidade de manter a estrutura da personalidade
em equilíbrio ou não (BERGERET, 2006). Paralelamente ao desenvolvimento da
teoria da personalidade psicanalítica, o método psicanalítico de tratamento
foi proposto. O método foi baseado na compreensão das resistências do
paciente em abordar determinados conteúdos. Essas resistências levavam
à repressão, como proteção do ego contra a angústia e o sofrimento, e à
necessidade de estabelecimento de uma relação de confiança entre paciente
e terapeuta. Além disso, o possível acesso a conteúdos inconscientes era
enfatizado na terapia, como a análise de sonhos (SCHULTZ; SCHULTZ, 2005).
Nesta seção, vimos um breve panorama histórico da cena cultural e da
psicologia no período em que Freud desenvolveu a sua teoria. Mesmo em
um ambiente intelectual que privilegiava o estudo da consciência, o autor
sistematizou e produziu uma teoria do inconsciente, que é respeitada e
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aceita até hoje. Além disso, angariou fiéis seguidores e construiu uma escola
de pensamento de clara importância para a psicologia. Na próxima seção,
vamos conhecer as escolas psicanalíticas que seguiram o pensamento de
Freud em diferentes países.

Escolas inglesa e francesa da psicanálise


Nesta seção, vamos ver a psicanálise a partir dos seguidores de Freud e das
escolas que fundaram. Como as escolas se baseiam em revisões de conceitos
originais da psicanálise, esta seção vai partir de uma síntese de seus princípios.
Segundo Zimerman (2014), os princípios norteadores da psicanálise
nasceram com a evolução teórica de Freud a partir do entendimento e das
experimentações terapêuticas com seus pacientes. Resumindo a evolução
teórica, Zimerman (2014) apresenta os estágios a seguir.

1. Teoria do trauma: quando Freud elaborou a teoria da libido e de sua


manifestação ou bloqueio. A energia sexual, impedida de fluir natu-
ralmente para outros órgãos, produziria sintomas como a histeria,
que Freud estudou profundamente. A princípio, Freud atribuiu esses
bloqueios ou repressões da energia sexual a traumas reais. Depois, o
autor reviu isso, a partir do entendimento de que seriam fantasias e
desejos inconscientes.
2. Teoria topográfica: como já descrita, foi uma primeira tentativa de
entender as trocas estabelecidas entre realidade e fantasia. Também
apresentava os “lugares” onde os conteúdos ficavam armazenados
(consciente, pré-consciente e inconsciente).
3. Teoria estrutural: foi a sistematização posterior, ou segunda tópica,
que partiu do conhecimento dinâmico da mente, que não conseguia
ser explicada pela teoria anterior, mais estática. Aqui, estão o id, o ego
e o superego, como já visto.
4. Narcisismo: as vivências precoces de diferenciação da criança de seus
cuidadores e as relações que estabelece com o princípio do prazer até
internalizar os limites e as interdições da realidade. Aqui, entende-se
a importância do complexo de Édipo como fase do desenvolvimento
psicossexual.
5. Dissociação do ego: concepção derivada do entendimento de que a
clivagem defensiva entre consciente e inconsciente não era necessa-
riamente patológica, mas comum a todas as pessoas, em determinada
medida.
8 Premissas da psicanálise

Nesse percurso, até mais ou menos 1906, Freud trabalhou sozinho. Após
esse período, nasceram os encontros das quartas-feiras com seus seguidores,
em que discutiam ideias e casos, todos devidamente registrados em atas. Ali
nasceu a sociedade psicanalítica de Viena e de tantas outras teorias e escolas
derivadas da psicanálise freudiana. Freud já havia sistematizado e divulgado
conceitos fundamentais, além dos já mencionados, como inconsciente di-
nâmico, sexualidade infantil, livre associação de ideias, a importância dos
sonhos, o complexo de Édipo, as resistências, as repressões, a transferência,
etc. A psicanálise estava em franca divulgação, e as críticas, assim como a
aceitação, foram inerentes. Algumas dissidências do grupo original aconte-
ceram, principalmente a de Jung, um dos discípulos prediletos do mestre. O
grupo resultante se uniu em volta de Freud fielmente para protegê-lo das
críticas e manter o movimento psicanalítico em ascensão. Novas divergências
nasceram dentro desse grupo, mas não foram necessariamente dissidências.
Por exemplo, Abraham é considerado um ampliador de conceitos, e Ferenczi,
um transformador teórico e técnico. Muitos seguidores, incluindo o próprio
Freud, precisaram migrar de Viena com as grandes guerras, o que espalhou as
sementes da psicanálise ao redor do mundo. A vertente inglesa da diáspora
psicanalítica foi organizada por Ernest Jones, biógrafo e correspondente de
Freud (DUNKER, 2010; ZIMERMAN, 2014).
Anna Freud, filha de Freud, deu continuidade aos estudos inconclusos
do pai sobre mecanismos de defesa do ego, assim como outras funções
conscientes e inconscientes. A autora foi pioneira na análise de crianças,
por isso sua forte ligação com a educação. H. Hartmann migrou para os
Estados Unidos e fundou, junto com outros colegas, a psicologia do ego, prin-
cipalmente baseada nos trabalhos de Freud e Anna. Alguns conceitos dessa
escola de pensamento são a área psíquica livre de conflitos, as autonomias
primária e secundária, a valorização da realidade exterior e da adaptação,
o self psicofisiológico, entre outros. Os trabalhos posteriores de Margareth
Mahler deram prosseguimento a essa escola, introduzindo observações
mãe-bebê para estudar os estágios evolutivos da criança em seu processo
de diferenciação, separação e individuação do cuidador. Outro seguidor que
migrou para os Estados Unidos foi Kohut, que fundou a psicologia do self,
que modifica alguns conceitos, principalmente relacionados ao narcisismo
(SCHULTZ; SCHULTZ, 2005; ZIMERMAN, 2014).
Premissas da psicanálise 9

Melanie Klein foi uma importante psicanalista da escola inglesa. Ela es-
tudou a concepção de ego primitivo desde o nascimento como mobilizador
de defesas arcaicas e veículo de proteção contra ansiedades decorrentes
da pulsão de morte. Assim, propôs a análise de crianças muito pequenas.
Manteve o complexo de Édipo como conceito central, mas o posicionou mais
precocemente na vida das crianças. Essa mudança, além de política, para não
contrastar com o mestre, objetivava rever a importância do triângulo entre
pais e criança proposto na teoria original. A escola kleiniana obteve muitos
seguidores, entre eles Bion e Winnicott, psicanalistas famosos da escola
inglesa. Winnicott rompeu com a escola kleiniana por não aceitar alguns
conceitos. Ele é considerado parte do grupo independente, filiado à Sociedade
Britânica de Psicanálise. Winnicott construiu um corpo teórico muito original
e reconhecido, tendo como foco a importância do vínculo mãe-bebê para o
desenvolvimento emocional. Alguns de seus mais conhecidos conceitos são:
holding e handling, mãe suficientemente boa, verdadeiro e falso self, objetos
transicionais, entre outros. Bion, apesar de seguir fiel à mestra, foi extrema-
mente inovador e enriqueceu a psicanálise com produções relevantes sobre
grupos, psicoses, epistemologia, entre outras (DUNKER, 2010; ZIMERMAN, 2014).
A escola francesa é conhecida preponderantemente pelos trabalhos de
Lacan. Ele fundou a escola estruturalista como reação ao excesso de prag-
matismo da psicologia do ego, a vertente norte-americana da psicanálise.
Lacan clamou pelo “retorno de Freud” como forma de recuperar os princípios
norteadores da psicanálise para propor avanços. A escola francesa é até
hoje muito conceituada e agrega diferentes correntes. Inclusive, a França é
um dos países com o maior número de psicanalistas atuantes (ZIMERMAN,
2014). A escola francesa foi uma espécie de refundação da psicanálise feita
por um autor muito envolvido com a cena cultural dos anos 1950 e 1960, leitor
de filosofia e apreciador de arte. Lacan retomou os princípios freudianos,
mas também inovou muito, principalmente do ponto de vista clínico, com
sessões com tempo variável e frequência descontinuada. Ele releu o con-
ceito de inconsciente e aproximou os princípios da psicanálise da realidade
contemporânea (DUNKER, 2010).
A história da psicanálise tem inúmeras ramificações. O Quadro 1 sintetiza
as principais escolas e os autores pertencentes a elas.
10 Premissas da psicanálise

Quadro 1. Principais escolas e autores pertencentes a elas

Escola Autores

Grupo suíço Pfister, Jung, Binswanger, Sasaaurre

Grupo húngaro Ferenczi, Rado, Balint, Geza

Grupo vienense Federn, Steckel, Hank, Deutsche, Adler, Salome, Reik,


Reich

Grupo alemão Abraham, Fromm, Sacks, Landauer

Grupo americano Horney, Kandiner, Mead, Hartman, Mahler,


Loeweinstein, Alexander, Kohut, Fenichel, Erickson

Grupo britânico A. Freud, Jones, M. Klein, Bion, Winnicott, Bolwby,


Segal, Sterba

Grupo francês Lacan, Bonaparte, Pontalis, Laplanche, Anzieu,


Lebovici, Dolto, Mannoni, Green, Kristeva

Fonte: Adaptado de Dunker (2010).

Nesta seção, vimos como a psicanálise se expandiu a partir de Freud,


deixando de ser um movimento principalmente austríaco, vienense, para se
tornar global. As escolas são inúmeras, mas são principalmente divididas
entre inglesa e francesa, devido ao grande número de seguidores nesses
países e à importância de suas contribuições. Na próxima seção, vamos
estudar algumas figuras expoentes da psicanálise.

Figuras de relevo na psicanálise e suas


contribuições
Falar em expoentes da psicanálise é difícil, pois existem muitos autores.
No entanto, usaremos aqui o critério da permanência das ideias desses
autores na psicanálise atual, inclusive sendo objeto de estudos em cursos
de psicologia até hoje. Como Freud já foi discutido na primeira seção deste
capítulo, vamos destacar as ideias de Melanie Klein, Wilfred Bion, Donald
Winnicott e Jacques Lacan.
Premissas da psicanálise 11

Melanie Klein
Depois de Freud, Klein é considerada a autora que mais inovou e propôs
modificações na teoria original. A sua escola é conhecida como a das relações
objetais, pois se concentra nas relações precoces da criança com o mundo,
tendo como pano de fundo a pulsão de morte e as angústias dela deriva-
das. Sua reinterpretação parte das ideias do último Freud: pulsão de morte,
agressividade, integração e fragmentação constituem um novo modelo de
interpretação psicopatológica e de entendimento clínico. Klein reinterpretou
o complexo de Édipo para além das disputas do triângulo amoroso formado
pelos pais e pela criança. A autora também abordou a importância simbólica
do brinquedo na análise de crianças (DUNKER, 2010; ZIMERMAN, 2014).
As principais ideias da autora são as seguintes (ZIMERMAN, 2014).

„ Simbologia do brinquedo na clínica com crianças.


„ Existência do ego rudimentar, presente no bebê.
„ A pulsão de morte como produtora de sentimentos e ataques ao seio
da mãe.
„ Angústia de aniquilamento como a contrapartida mental das angústias
produzidas pela pulsão de morte.
„ Mecanismos primitivos de defesa contra angústias: dissociação, iden-
tificação, introjeção, idealização, etc.
„ Objetos totais e parciais, que são fantasias inconscientes que substi-
tuem a realidade ou partes dela, como o seio bom e o seio mal.
„ Em vez de fase evolutiva, introduziu o conceito de posição.
„ Situou o complexo de Édipo em etapas precoces do desenvolvimento.
„ Importância da reparação frente aos sentimentos destrutivos.

Wilfred Bion
Autor brilhante com multitalentos, Bion estudou muitos temas. Sua produção
é dividida em períodos, de acordo com o tema sobre o que escreveu: grupos,
psicoses, epistemologia, misticismo, etc. São muitas as suas contribuições, e
várias delas foram publicadas em livros até hoje utilizados. Algumas de suas
elaborações são as seguintes (ZIMERMAN, 2014).

„ Elementos da psicanálise como forma de simplificar os vários mode-


los e teorias. A concepção de elementos seria análoga a um sistema
de algarismos, notas musicais e alfabetos, em que um número de
12 Premissas da psicanálise

elementos possibilitaria inúmeras e complexas combinações. Bion


elencou os elementos que considerava importantes na psicanálise,
como os vínculos, as interações entre as posições esquizoparanoide
e depressiva, a identificação projetiva, entre outros.
„ Bion idealizou o que chamou de estado da mente do psicanalista, que
seriam condições necessárias para desempenhar esse papel full time.
O analista precisaria estar em constante questionamento e desco-
bertas, além de ser capaz de ser “continente” e acolher as demandas
dos pacientes, ter empatia, paciência, ser um modelo, etc. Apesar de
todos os requisitos, Bion reconhecia acima de tudo a “pessoa real” do
analista e as inquietações do “não saber”.
„ Importância do vínculo na relação analítica.
„ Existe uma parte psicótica na personalidade de todos, marcada por
inveja, intolerância, ódio à verdade, entre outros sentimentos.
„ Trabalho no conceito kleiniano de identificação projetiva, transfor-
mando-o em algo passível de ser estruturado.
„ A análise deve ser extensível a aspectos conscientes do analista e do
analisando, e não somente a serviço de conflitos inconscientes.

Donald Winnicott
Winnicott foi seguidor da abordagem kleiniana até se converter ao cha-
mado grupo independente (middle group), marcado por uma posição mais
liberal, pelo espírito de tolerância e pela proximidade com as artes e com a
contemplação e vanguarda estéticas. A psicanálise era vista como algo que
deveria propiciar uma nova e mais autêntica forma de viver aos indivíduos.
Essa concepção trouxe modificações na organização do setting terapêutico.
Para Winnicott, o setting deveria se adaptar ao sofrimento, não o contrário. A
rigidez de certos preceitos foi questionada com essas ideias. A aproximação
com a comunidade e os esclarecimentos ao público são valores introduzidos
no atendimento psicanalítico. Alguns conceitos de Winnicott são o objeto
transicional, o apego, o self positivo e negativo, o trauma, a mãe suficiente-
mente boa, entre outros (DUNKER, 2010).

Jacques Lacan
Lacan é o maior representante da escola francesa. Ele clamou pelo retorno
às origens, mas propôs muitas transformações à psicanálise, mesmo se
mantendo fiel às ideias de Freud. O autor propôs principalmente quatro
Premissas da psicanálise 13

conceitos: a etapa do espelho, com a imagem corporal; a linguagem; o desejo;


e o narcisismo e Édipo (ZIMERMAN, 2014).
Do ponto de vista clínico, Lacan inovou a partir de ideias anticonformistas
com o setting terapêutico, introduzindo sessões com tempo e frequência
variáveis, centradas no tempo do paciente. Suas críticas e reflexões levaram a
uma nova concepção de sujeito, a partir da rejeição ao biologismo e à ênfase
em conceitos como pulsão, desejo e sexualidade. Lacan sempre foi controverso
e tinha posições muito firmes, o que lhe causou problemas com colegas e
movimentos psicanalíticos até formar a sua própria escola (DUNKER, 2010).
Desde a sua fundação com Freud, a psicanálise criou seguidores, atravessou
oceanos, conviveu com diferentes culturas e se miscigenou, continuando viva
até hoje. Principalmente na psicologia clínica, a psicanálise ainda é referência.
Ela inclusive penetrou na saúde pública em alguns países, como Inglaterra e
França (DUNKER, 2010). A psicanálise em novos projetos saiu dos consultórios
e está em praças, no ambiente on-line e em diversos espaços, com o objetivo
de escutar os sofrimentos e propiciar reflexões e ressignificações. Apesar
de antiga e mutável, os princípios da psicanálise continuam vivos, reunindo
cada vez mais interessados em suas potências e transformações.

Referências
BERGERET, J. A personalidade normal e patológica. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.
BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. Psicologias: uma introdução ao estudo de
psicologia. São Paulo: Saraiva, 2004.
DOCKHORN, C. N. B. F.; KRUG, J. S.; MACEDO, M. M. K. Construção e desdobramentos do
conceito de neurose na história e na psicanálise. In: MACEDO, M. M. K. (org.). Neurose:
leituras psicanalíticas. Porto Alegre: Edipucrs, 2016. p. 29-56.
DUNKER, C. I. L. Aspectos históricos da psicanálise pós-freudiana. In: JACÓ-VILELA, A.
M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T. (org.). História da psicologia: rumos e percursos.
Rio de Janeiro: Nau, 2010. p. 387-412.
FEIST, J.; FEIST, G. J.; ROBERTS, T.-A. Teorias da personalidade. 8. ed. Porto Alegre:
AMGH, 2015.
HALL, C. S.; LINDZEY, G.; CAMPBELL, J. B. Teorias da personalidade. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2007.
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2005.
STERNBERG, R. J. Psicologia cognitiva. São Paulo: Cengage Learning, 2010.
ZIMERMAN, D. E. Fundamentos psicanalíticos: teoria técnica e clínica, uma abordagem
didática. Porto Alegre: Artmed, 2014. E-book.
Dica do professor
A psicanálise é vasta, composta por diferentes teorias e escolas. Porém, é inegável a contribuição
de Freud e da sua marca indelével nos trabalhos que o seguiram. Isso significa, entre outras coisas,
que para entender a psicanálise é necessário conhecer os princípios estabelecidos por Freud. A
própria história de suas tentativas para chegar ao entendimento da psique e acessar o inconsciente
é de fundamental importância nessa tarefa.

Nesta Dica do Professor você vai ver uma sistematização dos principais conceitos de Freud que
deram origem à psicanálise e à posterior disseminação de ideias complementares, semelhantes e
antagônicas. A psicanálise fez e faz história na psicologia e ajuda milhões de pessoas em seus
percursos de autoconhecimento e tratamento.

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Exercícios

1) As escolas de pensamento em psicologia têm relação com o contexto intelectual da época,


com o que era desenvolvido teoricamente pela comunidade acadêmica, com as novas
descobertas teóricas e de intervenção. A psicanálise sofreu influências teóricas e
contextuais da época em que surgiu. Além disso, foi grandemente inovadora em seu objeto
de estudo e interesse.

A partir do contexto intelectual e cultural do surgimento da psicanálise, analise as


afirmativas a seguir quanto a V (verdadeiro) ou F (falso):

( ) W. Wundt (1832-1920) e seguidores do estruturalismo, por meio de estudos


experimentais em laboratórios, já estudavam o inconsciente.

( ) O associacionismo estudava a associação de ideias que propiciavam a aprendizagem.

( ) O funcionalismo queria entender o que e por que as pessoas pensavam e agiam.

( ) O funcionamento da mente era objeto de pesquisa dos behavioristas.

Assinale a alternativa que indica a sequência correta.

A) V - F - V - F.

B) F - V - V - F.

C) F - F - V - V.

D) F - V - F - V.

E) V - V - F - F.

2) A teoria psicanalítica se fundamenta em duas principais proposições: uma teoria da


personalidade e um método de intervenção psicoterápica. As duas são complementares, pois
o entendimento da personalidade, ou da constituição psíquica dos sujeitos, leva a uma
abordagem de tratamento das condições de sofrimento psíquico.

Assinale a alternativa correta do ponto de vista dos princípios da psicanálise.

A) O inconsciente, o pré-consciente e o inconsciente são as três instâncias psíquicas na atual


teoria da personalidade psicanalítica.
B) A criança passa por estágios de desenvolvimento prioritariamente centrados na cognição, nas
condições intelectuais para o enfrentamento do mundo.

C) A hereditariedade, associada às experiências dos cinco primeiros anos, é negligenciável na


consolidação da estrutura de personalidade adaptada.

D) A teoria do aparelho psíquico introduziu as três instâncias da estrutura da personalidade: id,


ego e superego.

E) A estruturação da personalidade para a psicanálise acontece a partir do grande apego aos


cuidadores, mãe, pai ou outro. O afeto significa apego incondicional.

3) A escola inglesa de psicanálise é seguidora de Freud em primeiro lugar, a ponto de se


confundir com o surgimento da psicanálise. Seus principais expoentes foram se
reorganizando e fundando novas escolas, principalmente após a morte do mestre, em 1939.
As novas escolas são baseadas em algumas pequenas divergências das ideias originais da
psicanálise.

Assinale a alternativa que relaciona corretamente o autor com a ideia que defende a partir
de uma base comum psicanalítica.

A) Winnicott é o psicanalista que propõe os objetos transicionais como consolo do bebê no


momento de separação da mãe.

B) Bion destacava o papel da mãe suficientemente boa no desenvolvimento psíquico do bebê.

C) Melanie Klein propunha a teoria dos vínculos para entender a relação entre analista e
analisando.

D) Lacan foca nas funções e nos mecanismos de defesa do ego.

E) Anna Freud aprimora a análise de adultos após a morte de seu pai e fundador da psicanálise.

4) O principal expoente da escola francesa de psicanálise foi Lacan. Esse autor fundou uma
escola própria muito próxima às ideias de Freud, mas com significativas revisões. Ele foi uma
pessoa inquieta, de ideias fortes e claras. A escola lacaniana se estabeleceu no Brasil e
muitos psicanalistas se identificam com suas teorias.

Assinale a alternativa que define corretamente as principais ideias de Lacan.

A) O setting terapêutico deve ser flexível e adaptar-se ao sofrimento, e não o contrário.

B) A análise deve considerar aspectos conscientes e não somente conflitos inconscientes.


C) O setting terapêutico deve corresponder ao tempo que o paciente está disposto a falar.

D) A análise deve favorecer a utilização do mecanismo de reparação diante de sentimentos


destrutivos.

E) Na psicanálise não há equivalência entre percepções adquiridas pela consciência e o


inconsciente.

5) A psicanálise sempre congregou muitos seguidores, que aceitaram os princípios básicos e


introduziram algumas ênfases em determinadas questões sobre estrutura da personalidade e
abordagens terapêuticas. Muitos dos seguidores de Freud ficaram famosos por diferentes
ideias.

Relacione os psicanalistas listados a seguir com as seus principais conceitos:

I. Lacan

II. Melanie Klein

III. Winnicott

IV. Bion

( ) Mecanismos primitivos de defesa

( ) Teoria dos vínculos

( ) Objetos transicionais

( ) Estágio do espelho

Assinale a alternativa que indica a sequência correta.

A) II - I - III - IV.

B) IV - III - I - II.

C) I - III - II - IV.

D) III - I - IV - II.

E) II - IV - III - I.
Na prática
No vídeo a seguir, você verá Na Prática como conduzir entrevistas de triagem no contexto de
serviços de psicologia, tais como os serviços-escola.

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As fases do desenvolvimento psicossexual são importantes para o crescimento psíquico das


crianças e das famílias. Em determinados momentos os pais não conseguem entender mudanças
que ocorrem no comportamento dos filhos. Elas acontecem normalmente devido a novas
demandas postas às crianças pelo crescimento e pelo relacionamento com o mundo.

O narcisismo dura um período relativamente longo, desde que a criança consegue perceber-se
como um corpo, mesmo que ainda não completamente separado de quem a cuida, até a
consciência de que existem outros afetos na vida da mãe ou do cuidador. O maior afeto e,
portanto, o maior opositor, é o genitor do mesmo sexo, com quem a criança vai disputar a atenção
do ser amado. Esse momento é dificil, e a criança pode internalizar de forma drástica a perda e a
impotência diante de um ser mais forte, ao mesmo tempo amado e odiado.

Os pais precisam estar muito preparados para lidar com esses conflitos sem exagerar na castração
da criança. Contar com a ajuda da escola é uma estratégia vencedora, pois a criança está investindo
em novos relacionamentos, e isso pode auxiliar na resolução dessa fase difícil.

Confira, Na Prática, um caso que exemplifica a importância da aliança entre pais e escola.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

As escolas de psicanálise
Neste vídeo, Christian Dunker, psicanalista atual e divulgador da psicanálise, discorre sobre a
história das escolas psicanalíticas e as situa no tempo e no espaço cultural.

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Freud, a condição humana e a psicanálise


Este vídeo traz os conceitos e princípios básicos da teoria psicanalítica de Sigmund Freud, o pai da
psicanálise, que desenvolveu uma teoria da personalidade humana a partir da análise de seus
pacientes, da interpretação de sonhos e de muitas leituras em ciências e humanidades.

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Algumas ideias de Lacan


Este vídeo aborda o que Lacan pode dizer sobre identidade, relacionamentos amorosos e até
mesmo política. Lacan é o representante da escola francesa e considerado um dos autores
psicanalíticos de grande importância, principalmente para a revisão e a atualização de conceitos
psicanalíticos.
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Adolescência em cartaz, filmes e psicanálise para entendê-la


Este livro tem capítulos sobre diferentes filmes de adolescentes com interpretações psicanalíticas.
Escolha um dos capítulos com algum filme que já tenha assistido ou queira assistir e aproveite os
insights!

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

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