Abordagem familiar
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Abordagem Familiar
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Para o trabalho em saúde, é fundamental que a equipe compreenda a família como um grupamento
em que o indivíduo está inserido, já que neste grupamento constroem-se importantes relações de
proteção, confiança, ajuda mútua e relações profundas que influenciam no histórico de vida desde
o nascimento até o envelhecimento e a morte. Na família pode estar a origem do sofrimento e de
doença ou as origens genéticas e comportamentais de um diagnóstico em saúde. Mas também nela
pode estar o apoio e a proteção às vulnerabilidades do indivíduo e seu grupamento.
O conceito de família aqui adotado é o de um grupo de pessoas que convivem, possuem laços
intensos de proximidade e compartilham o sentimento de identidade e pertencimento, que
influenciarão, de alguma forma, em suas vidas. Esse grupo, portanto, estabelece laços de proteção,
de autopreservação e identificação pela mesma maneira de percepção do mundo. (Dias, 2012)
Existem diversas formas de apresentação da família: a “família nuclear” é o padrão formado por
pai, mãe e filhos; a “família extensa” é aquela formada por pessoas com laços consanguíneos e a
“família abrangente” inclui os “não parentes” que coabitam a mesma casa.
A abordagem com a família pode ser realizada de diversas formas e níveis de envolvimento, desde
a abordagem individual contextualizada na família, até a abordagem com toda família presente e
a Terapia Familiar.
Exemplos:
- Seu João, como seu filho tem encarado o problema com o álcool? Outra pessoa na sua família
também teve esse problema?
- Que bom que trouxe seu filho hoje na consulta dona Vilma...
Palavras do professor
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Para amenizar outras tantas dificuldades dessa abordagem, além das orientações apresentadas,
sugerimos que o atendimento siga as seguintes etapas:
1. Apresentação Social: Cumprimente e seja empático com cada pessoa individualmente.
2. Aproximação: Buscar pontos de aproximação, observar linguagem verbal e não verbal
da família.
3. Entendimento da Situação: Solicite que cada pessoa fale sobre os problemas a partir de
seu ponto de vista.
4. Discussão: Encoraje a família a conversar e relembrar como lidaram com os problemas
em outras situações.
5. Estabelecimento de um plano terapêutico: Estimule que a própria família defina um
plano terapêutico, contribua com informações de saúde, enfatize as questões em comum
e realize combinações.
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As famílias passam por diferentes etapas em seu processo de vida, cada uma delas estabelece
desafios e problemas a serem enfrentados e superados. Uma forma interessante de abordagem
das famílias é através das etapas denominadas ciclos de vida. Essa forma de abordagem divide a
história da família em estágios de desenvolvimento, caracterizando papéis e tarefas específicas a
cada um desses estágios.
Assim como as pessoas, as famílias têm os seus ciclos, influenciando-se mutuamente no viver do
seu dia a dia. A compreensão desses ciclos e da maneira como eles interferem no processo saúde-
doença possibilita à equipe de saúde prever quando e como as doenças podem ocorrer.
O conhecimento do desenvolvimento da família é importante porque facilita a previsão e antecipa
os desafios que serão enfrentados no estágio de desenvolvimento de uma dada família, e isso
permite melhorar o entendimento do contexto dos sintomas e das doenças. Para ajudar no seu
entendimento disponibilizamos um quadro com as diversas fases ou ciclos de vida vivenciados
pelas famílias, veja com atenção.
Estágio do ciclo de
Tarefas a serem cumpridas Tópicos de prevenção
vida da família
Famílias com crianças -Promover espaço adequado para a -Encorajar um tempo para o casal,
pré-escolares família que cresce, -Estimular o diálogo sobre educação dos filhos
-Enfrentar os custos financeiros da vida -Fornecer informações sobre o desenvolvimento das
familiar, crianças
-Assumir o papel maduro apropriado à
família que cresce,
-Manter uma satisfação mútua no
papel de parceiros, parentes, comu-
nidade.
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Famílias com crianças em - Facilitar a transição da casa para a -Fornecer informações sobre o desenvolviemento de crian-
idade escolar escola, ças em idade escolar,
-Fazer face às crescentes demandas de - Monitorar o desempenho escolar e reforçar posições
tempo e dinheiro, realísticas sobre expectativas de desempenho,
-Manter uma relação de casal. -Sugerir estratégia de manejo de tempo,
-Encorajar discussões sobre sexualidade com as crianças.
Famílias com adoles- -Equilibrar liberdade com responsabi- - Estabelecer relação com o adolescente que reflita o au-
centes lidade, à medida que os adolescentes mento de autonomia,
vão adquirindo individualidade, - Fornecer infomações aos pais sobre desenvolvimento de
-Estabelecer fundamentos para ativi- adolescentes,
dade dos pais após a saída dos filhos. -Conversar com adolescentes sobre drogas e sexo,
-Discutir com o adolescente o estabelecimento de relações
ao longo da vida
Casais de meia-idade -Promover conforto, saúde e bem- - Encorajar o casal a fazer planos para a aposentadoria:
estar enquanto casal, atividade de lazer, finanças, moradia,
-Planejar futuro financeiro, - Explorar o papel de avós,
-Crescimento e significado do indi- -Discutir a sexualidade e os processos ligados ao envelheci-
víduo e do casal, mento.
-Ser avós.
Famílias envelhecendo -Tópicos de moradia e finanças, -Discutir tópicos de saúde, planejamento a longo prazo.
-Integridade do ego, -Revisar a vida como ferrmenta para a saúde mental,
-Saúde, -Encorajar interesses individuais e compartilhados,
-Ficar mais tempo juntos, -Preparar para lidar com a perda do companheiro(a).
-Enfrentando a vida sozinho.
Este é um método para abordagem e entrevista da família que objetiva facilitar o desenvolvimento
da “avaliação familiar”, fornecendo informações sobre quais intervenções podem ser utilizadas
para manejar aquele caso específico. É uma ferramenta interessante para ser utilizada em famílias
complexas, com problemas relacionais que impactam em sua saúde física e mental, bem como
em sua frequência de utilização dos serviços de saúde. Pode ser bastante útil se aplicado sob a
forma de uma conferência familiar, em visitas domiciliares ou mesmo no consultório por médico ou
enfermeiro que possuam experiência na abordagem familiar.
Deve ser realizado em uma sequência de visitas, nas quais são realizados momentos específicos
relacionados aos temas P.R.A.C.T.I.C.E., acróstico das seguintes palavras do original em inglês
problem, roles, affect, communication, time in life, illness, coping with stress, environment/ecology.
Mais de um tema pode ser abordado na mesma visita, mas sugere-se que seja bem explorado cada
um dos momentos, dando tempo de elaboração por parte da família. Seguem as seguintes etapas:
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Affect – Afeto
O momento reconhece como se estabelecem as demonstrações de afeto entre os familiares e como
essa troca afetiva pode interferir, positivamente ou negativamente, no problema apresentado.
Orientado por perguntas como: Como você se sente sobre a forma que “fulano” atuou sobre o
problema? Como você se sente sobre a situação?
Communication – Comunicação
O momento ajuda a observar como se dá a comunicação verbal e não verbal dentro da família:
Quando vocês conversam? Como foram as discussões sobre esse problema?
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O Genograma
O genograma foi desenvolvido na América do
Norte, baseado no modelo do heredograma, Heredograma é um tipo de gráfico
e mostra graficamente a estrutura e o padrão que representa a herança genética
de repetição das relações familiares. Suas de determinada característica
características básicas são: identificar a estrutura dos indivíduos representados. É
familiar e seu padrão de relação, mostrando muito semelhante a uma árvore
as doenças que costumam ocorrer, a repetição genealógica.
dos padrões de relacionamento e os conflitos
que desembocam no processo de adoecer.
Na sequência, apresentamos um
quadro contendo os símbolos utilizados
para se elaborar um genograma:
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O Ecomapa
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Analise da situação: João é alcoolista, trabalha fazendo bicos como pedreiro. Possui uma relação
conflituosa com seu filho mais velho, o qual o expulsou de casa após violência contra sua mãe. João
já não mora mais em casa, mora de favor com amigos que o acolhem. Nota-se com o genograma
que João repetiu a história de seu pai, com comportamento semelhante. Atualmente mantém
relacionamento distante da sua família, frequenta bastante o bar, deixou de ter vida social para
além do bar, deixou de ir à igreja que frequentava no início do relacionamento com sua ex-
mulher. Procurou a Unidade Básica de Saúde buscando ajuda, já que não vê mais sentido na vida.
Avaliando esse genograma e ecomapa é possível propor várias estratégias para o enfrentamento
dos problemas do seu João. Podemos discutir sua história de vida, propondo que deixe o alcoolismo
e tentar reatar vínculo familiar, ao seu tempo. Podemos investir em sua vida religiosa como uma
possível rede de apoio e retomar situações de lazer não relacionadas ao álcool. Dessa forma essa
ferramenta nos propicia uma visão geral do panorama de vida de seu João e facilita a tomada de
decisões estratégicas.
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