RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª

VARA CRIMINAL DA COMARCA DE PORTO SEGURO – BA

AUTOS Nº XXXXXXXXXXX

Recorrente: BRUTUS
Recorrido: Ministério Público
Objeto: Recurso em Sentido Estrito (art. 581, IV, CPP)
Decisão Recorrida: Pronúncia (art. 413, CPP)

BRUTUS, já qualificado nos autos da ação penal em epígrafe, por seu


advogado infra-assinado, vem respeitosamente à presença de Vossa
Excelência, com fundamento no artigo 581, inciso IV, do Código de Processo
Penal, interpor o presente:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

Em face da decisão de pronúncia proferida por este juízo, que


determinou o julgamento do réu pelo Tribunal do Júri, nos exatos termos da
denúncia, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas.

I. TEMPESTIVIDADE

O presente recurso é tempestivo, uma vez que a intimação da decisão


de pronúncia ocorreu no dia 06 de fevereiro de 2024 (terça-feira).
Considerando que o prazo para interposição é de 5 dias, conforme o artigo 586
do Código de Processo Penal, e que o Fórum estará fechado nos dias 12 e 13
de fevereiro devido ao feriado de Carnaval, o prazo final para interposição é dia
14 de fevereiro de 2024 (quarta-feira). Assim, o presente recurso é interposto
dentro do prazo legal.

II. DOS FATOS


O recorrente foi denunciado pela prática dos crimes tipificados no art.
121, §2º, II (motivo fútil) e VIII (emprego de arma de fogo de uso restrito), por
duas vezes (duas vítimas), combinados com os crimes previstos no art. 16,
caput (porte ilegal de arma de fogo de uso restrito), da Lei nº 10.826/03, por
duas vezes (fuzil e pistola 9 mm), e no art. 33, caput (tráfico de drogas), da Lei
nº 11.343/06, todos em concurso material de crimes, nos termos do art. 69 do
Código Penal.

Ao final da primeira fase do Tribunal do Júri, Vossa Excelência decidiu


pela pronúncia do réu, sustentando haver indícios suficientes de autoria e
materialidade dos delitos imputados, e determinou o julgamento pelo Tribunal
Popular, conforme os termos da denúncia.

Contudo, entende a Defesa que a decisão de pronúncia deve ser


reformada, pelas razões que se seguem.

III. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

1. Da Ausência De Provas Conclusivas – Violação Ao Princípio


Da Ampla Defesa

A decisão de pronúncia se funda, essencialmente, em meros indícios de


autoria e materialidade, sem que tenha havido a devida comprovação técnica
dos fatos descritos na denúncia. No entanto, conforme dispõe o art. 413 do
Código de Processo Penal, para que o réu seja pronunciado e levado a
julgamento pelo Tribunal do Júri, é necessária a existência de provas
suficientes da materialidade do fato e indícios suficientes de autoria, o que não
se verifica no presente caso.

A ausência de laudo pericial, que pudesse comprovar de forma


inequívoca a materialidade dos delitos relacionados à posse e porte de armas
de fogo de uso restrito e ao tráfico de drogas, constitui grave lacuna probatória.
Em delitos não transeuntes, como o homicídio, o tráfico de drogas e o porte
ilegal de arma de fogo, o exame de corpo de delito é indispensável, conforme
preceitua o art. 158 do CPP. Sua falta compromete gravemente a validade da
pronúncia.

2. Da Nulidade Processual pela Inversão do Interrogatório

Durante a instrução processual, foi realizada a inversão da ordem do


interrogatório, que ocorreu antes da oitiva das testemunhas. Tal fato configura
violação direta ao disposto no art. 400 do Código de Processo Penal, que
estabelece que o interrogatório do réu deve ser o último ato da instrução
processual, em homenagem ao princípio constitucional da ampla defesa (art.
5º, LV, CF). A inversão dessa ordem fere gravemente o devido processo legal,
conforme consolidado pelo entendimento do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC nº 127.900/AM, aplicado também aos casos de crimes
previstos em legislação especial.

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é clara no sentido de


que a inversão do interrogatório constitui nulidade absoluta, sendo necessária a
anulação de todos os atos processuais praticados a partir desse vício, incluindo
a própria decisão de pronúncia.

3. Do Princípio da Consunção – Porte Ilegal de Arma de Fogo

A denúncia imputa ao recorrente o crime de homicídio duplamente


qualificado, praticado com o uso de arma de fogo de uso restrito, e, de forma
autônoma, o crime de porte ilegal de arma de fogo (art. 16 da Lei nº 10.826/03).
Contudo, conforme o princípio da consunção, o crime de porte ilegal de arma
de fogo deve ser absorvido pelo crime de homicídio, já que o porte da arma
constitui meio necessário e preparatório para a prática do delito de homicídio.

Assim, a imputação autônoma de porte de arma de fogo de uso restrito,


por duas vezes, configura violação ao princípio da consunção, devendo tal
conduta ser absorvida pelo delito mais grave – o homicídio qualificado.

4. Do Erro na Execução – Aplicação do art. 73 do Código Penal


A decisão de pronúncia menciona a existência de duas vítimas,
atribuindo ao recorrente a prática de dois homicídios qualificados. No entanto,
deve ser considerado o instituto do erro na execução, previsto no art. 73 do
Código Penal, que se aplica quando o agente, ao tentar atingir determinada
pessoa, por erro ou acidente, atinge outra.

No caso em análise, há elementos nos autos que indicam que o


recorrente não tinha a intenção de atingir duas vítimas, configurando-se, assim,
o erro na execução. Diante disso, o réu deve ser julgado por apenas um
homicídio, nos termos do art. 73 do CP, e não por dois, como consta na
decisão recorrida.

5. Ausência de Provas de Tráfico de Drogas

A denúncia imputa ao recorrente a prática do crime de tráfico de drogas


(art. 33 da Lei nº 11.343/06). No entanto, não há nos autos qualquer elemento
probatório que comprove, de maneira robusta, o envolvimento do réu com a
comercialização de entorpecentes. A mera apreensão de drogas, sem a devida
contextualização e sem qualquer laudo técnico que confirme a natureza e
quantidade do material apreendido, não é suficiente para fundamentar a
pronúncia por tráfico de drogas.

IV. PEDIDOS

Diante do exposto, requer a Vossa Excelência:

a. O recebimento do presente Recurso em Sentido Estrito, com o


efeito suspensivo previsto no art. 584, §2º, do CPP;
b. A reforma da decisão de pronúncia, com a consequente
impronúncia do réu ou a desclassificação das condutas
imputadas, nos termos dos fundamentos apresentados;
c. Subsidiariamente, caso não seja reformada integralmente, que
Vossa Excelência proceda ao juízo de retratação, conforme o art.
589 do CPP, reformando a decisão recorrida.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Porto Seguro, 14 de fevereiro de 2024.


Advogado XXX
OAB XXX

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