FamÃ_lia Multiespé️cie x Pensão AlimentÃ_cia - Artigo

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DISCENTES:

Ayne Nascimento de Almeida Silva


Caio Cerqueira da Silva Nery

FAMÍLIA MULTIESPÉCIE X PENSÃO ALIMENTÍCIA

Feira de Santana – Ba.


Maio de 2024.
SUMÁRIO

1 Resumo.................................................................................. 1

1.1 Abstract.............................................................................. 1

2. Introdução........................................................................... 1

3 Família no Contexto Hodierno........................................... 2

4 Conceito de Familia Multiespecie....................................... 2

4.1 Múltiplos núcleos familiares............................................ 2

4.2 Legislação e Família Multiespécie.................................. 4

5 Natureza Jurídica dos Animais........................................... 5

6 Pensão Alimentícia............................................................... 6

6.1 Pensão Alimentícia na Familia Multiespécie.................. 8

7. Jurisprudência.................................................................... 8

8 Conclusão............................................................................ 10
Família Multiespécie x Pensão Alimentícia

1. Resumo
Com a evolução da sociedade também devemos ter a evolução do direito
para atingir essas mudanças, no contexto familiar essa mudança legislativa por
vezes é mais lenta apesar da doutrinar rapidamente acompanhar, nesse sentido,
buscamos entender de forma especifica o conceito da família multiespecie, bem
como a extensão desses direitos.

Palavras-chave: Direito de Família, Núcleos familiares, Conceito da família.

1.1 Abstract
With the evolution of society we must also have the evolution of law to
achieve these changes, in the family context this legislative change is sometimes
slower despite the indoctrination quickly following, in this sense, we seek to
specifically understand the concept of the multispecies family, as well as the
extent of these rights.

Keyworlds: Family right, Families cores, Family concept.

2. Introdução
A complexidade de entender o conceito e amplitude da palavra família, já
demonstrar ser um grande desafio a sociedade, nos trazendo diversos
questionamentos sobre o que é ou não família e sobre quem tem direitos
familiares ou quem não tem.

Porém no âmbito judicial, assim como no contexto social, essa palavra


vem se modificando e tomando novos sentidos, aos poucos vamos modificando
e amplificando ainda mais o que cabe como família ou não, apesar da doutrina
já entender que a multiplicidade de núcleos familiares, ou seja, famílias que
sejam compostas por diferentes membros além do padrão social de: pai, mãe e
filhos, hoje já se entende que o conceito de família se entende muito além dessa
visão retrógada e superada.
Deste modo, a verdadeira discussão se inicia com o questionamento,
animais de estimação são partes da família? Passada essa discursão devemos
discutir então se aos pets estende-se o direito de pensão alimentícia, bem como
quais direitos abrangem esses animais.

Por meio da leitura e intepretação de diversas doutrinas, a pesquisa de


artigos científicos e jurisprudência, visamos elucidar essas questões bem como
superar a problemática do conceito de família, se este já compreende os pets
direitos que possuem no âmbito familiar.

Visando conceituar o que é família multiespecie, o que são múltiplos


núcleos familiares, o que seria a pensão alimentícia e se mesma seria possível
de se apresentar nos casos de guarda compartilhada de pets e qual o atual
entendimento da jurisprudência e doutrina nesse tópico.

3. Família no Contexto Hodierno

Nos dias atuais, o termo família vem apresentando novas especificações,


bem como, atualizações que caracterizam a constituição do que seria
considerado um conjunto de qualificações que limitem a parentalidade através
de laços consanguíneos, que possuam um propósito em comum, convivência,
afinidade, afetuosidade e outros. Todavia, conforme o lapso temporal que
acompanha a humanidade, o conceito de família está mudando constante, de
acordo com as novas formações e adequações que integram esses indivíduos
na constituição desse agrupamento familiar.

4. Conceito de Familia Multiespecie

4.1 Múltiplos núcleos familiares


No direito brasileiro, existia um entendimento antiquado e equivocado de
que o núcleo familiar era somente um, graças à evolução social o direito evoluiu
para compreender o que a sociedade pedia um direito de família que entendesse
e abrangesse os diferentes tipos de família. Afinal, estamos falando de um país
de tamanho continental, um país com mais de 200 milhões de habitantes era
impossível de se imaginar que somente uma definição pudesse abarcar
inúmeras pessoas que vivem em inúmeros contextos diferentes, uma vez que, a
realidade vivida pelos brasileiros no âmbito familiar, é extremamente diversa,
Rolf Madaleno (2021, p 25), explica em seu livro Manual de Direito familiar:

“A Carta Política de 1988 começou a desconstruir a


ideologia da família patriarcal, edificada em uma família
monogâmica, parental, centralizada na figura paterna e
patrimonial e que reinou absoluta na sociedade brasileira,
herdada dos patriarcas antigos e dos senhores medievais. A
família do passado não tinha preocupações com o afeto e a
felicidade das pessoas que formavam seu principal núcleo, pois
eram os interesses de ordem econômica que gravitavam em torno
daquelas instâncias de núcleos familiares construídos com
suporte na aquisição de patrimônio.”

Deste modo, é discutível esse conceito de família monogâmica, parental


e com o poder centralizado no pai, no patriarcado. Hoje temos famílias que além
da composição formada somente por pessoas, temos os animais cujo realmente
integram a família e tem laços afetivos construídos, novamente Rolf Madaleno
(2021, p 25), ao citar Sérgio Resende de Barros:

“Um afeto especial, representado pelo sentimento de duas


pessoas que se afeiçoam pelo convívio diuturno, em virtude de
uma origem comum ou em razão de um destino comum, que
conjuga suas vidas tão intimamente, que as torna cônjuges
quanto aos meios e aos fins de sua afeição, até mesmo gerando
efeitos patrimoniais”

O que significa aos olhos do direito, hoje as famílias são compostas por
membros que possuam laços um com os outros, laços emocionais e afetivos e
não mais tão somente um laço sanguíneo, apesar desse último ainda ser o mais
comum para caracterização de uma família, não é mais requisito necessário e
essencial para existência de uma família. Hoje, o direito entende que podem
surgir famílias que se amam após o surgimento de um vínculo afetivo, um laço
emocional e é nesse momento que temos a família multiespécie incluídas no
direito das famílias. É importante ressaltar o que diz Flávio Tartuce (2023, p 37)
acerca do rol de famílias do art. 226 da Constituição: “Justamente diante desses
novos modelos de família é que se tem entendido que a família não pode se
enquadrar numa moldura rígida, em um suposto rol taxativo (numerus clausus),
como aquele constante do Texto Maior. Em outras palavras, o rol do art. 226 da
CF/1988 é meramente exemplificativo (numerus apertus)”.
Deste modo, podemos entender que o conceito de família esta em constante
modificação e evolução, não é possível mais afirmar quais são os tipos de família
somente podemos estabelecer alguns princípios mínimos para caracterizar uma
relação entre pessoas ou animais como uma relação familiar. É com base nesse
contexto que jurisprudência surge com forçar pra dizer o que é uma família
multiespécie.

Então a discursão de se poderia ser ou não uma família aquela que


contempla os bichinhos de estimação, deveria abranger os tópicos emocionais,
afinal uma família é algo completamente subjetivo e que não poderia ser
determinado por critérios somente objetivos, uma vez que o direito já admite os
pais sócio afetivos, não há como não admitir que as pessoas criem laços e
sentimentos emocionais pelos bichos de estimação, uma vez que em muitas
ocasiões eles são o único amparo emocional que algumas pessoas possuem.

4.2 Legislação e Família Multiespécie


Primeiro precisamos falar do projeto de lei 179/2023 em analise na
câmera dos deputados, o projeto apresentado pelo deputado delegado Matheus
Laiola, visa reconhecer a família multiespécie como entidade familiar e até
mesmo garantir a pensão alimentícia aos animais de estimação. A família
multiespécie seria formada pelos humanos (os tutores) e os animais escolhidos
por eles, para o convívio humano por razões de afeto, assistência ou companhia,
por este motivo não poderiam ser animais considerados parte da família animais
silvestres, por exemplo, ou animais que não possam estar em um ambiente de
convivo com humanos por questões de preservação ambiental ou de próprio
comportamento do animal, como por exemplo um elefante ou até mesmo uma
onça, esses animais não são propícios a essa aplicabilidade.

O Instituto Brasileiro de Direito de Família, traz um artigo sobre o projeto


de lei mencionado, onde trazem a opinião do professor e membro de instituo
Natan Gonçalves Santana sobre o impacto dessa lei no ordenamento brasileiro:

“Não haverá dúvida sobre a competência das Varas de


Família para julgar as demandas envolvendo animais após o
rompimento do vínculo conjugal, por exemplo; nem a necessidade
de equiparação de outra norma jurídica aplicada aos filhos
humanos”

Além disso, o especialista diz que existe um aumento muito grande nas
decisões judiciais envolvendo animais e seres humanos, sobre temas antes visto
somente em lides envolvendo filhos, como direito de guarda, pensão alimentícia
entre outros, por fim o especialista ressalta como o projeto demonstra uma
evolução no direito de família brasileiro e que recentemente a Espanha aprovou
um projeto semelhante.

Existindo ainda um contra ponto apresentado pelo próprio professor,


neste mesmo artigo:

“Pessoas com preconceitos acreditam que haverá uma elevação


dos animais, com os seres humanos em segundo plano. O resultado seria
a diminuição da procriação humana e a espécie humana entraria em
extinção, já que há a substituição de filhos humanos para filhos não
humanos.”

É possível, entender que se trata meramente uma questão de


preconceito, não uma questão de legalidade ou até mesmo constitucionalidade,
é somente preconceito, sem a menor questão técnica ou até mesmo acadêmica
desse questionamento.

Por este motivo, é importante a discursão desse tema e entender as


consequências de sua repercussão em um cenário jurídico e social. Pois, é por
meio desses discursões que podemos trazer alterações legislativas que atendam
as expectativas da sociedade como um todo.

5. Natureza Jurídica dos Animais

É sabido, que os animais, na esfera do Código Civil é considerado “coisa”,


equiparando-se aos outros objetos que não possuem vida. O art. 82 da Lei
nº 10.406 de 2002 (Código Civil), considera móveis "os bens suscetíveis de
movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da
substância ou da destinação econômico-social."

Segundo Maria Helena Diniz (2011, pg. 369): "Os que se movem se um
lugar para outro, por movimento próprio, são os semoventes, ou seja, os
animais (...)".
Assim, observa-se que o Código Civil, ainda possui natureza jurídica de
“coisa” para com esses seres, pois, os fatores garantistas existentes ainda não
são capazes de caracterizar os animais como seres além das suas
qualificações originais.

6. Pensão Alimentícia

Chamados pela doutrina de “alimentos familiares” é a representação de


uma das mais importantes efetivações do princípio da solidariedade nas relações
sociais, sendo essa a sua categoria jurídica. Esses alimentos, que aparecem em
outros regimentos do direito privado (direito civil), mas apesar desses alimentos
surgirem de uma relação familiar, eles interessam a toda sociedade por este
motivo existem normas de ordem pública acerca do tema. O professor Flávio
Tartuce (2023, p 561), ensina:

“Com base nos ensinamentos de Orlando Gomes e Maria


Helena Diniz, os alimentos podem ser conceituados como as
prestações devidas para a satisfação das necessidades pessoais
daquele que não pode provê-las pelo trabalho próprio (GOMES,
Orlando. Direito de família..., 1978, p. 455 e DINIZ, Maria Helena.
Código Civil..., 2005, p. 1.383). Aquele que pleiteia os alimentos é
denominado alimentando ou credor; enquanto aquele que os deve
pagar é o alimentante ou devedor.”

Com base nesse conceito percebemos como além de um caráter jurídico


esses alimentos tem caráter social, visando à garantia de um direito
constitucional sendo imposta a família do necessitado uma obrigação jurídica
pelo vinculo familiar. Sendo o objetivo a proteção da condição social e da
garantia de sobrevivência mínima. Ainda cabe-se ressaltar o entendimento de
Flávio Tartuce (2023, p 563), acerca da fixação desse valor:

“Também com base no trinômio alimentar, na minha


interpretação, recente acórdão do Superior Tribunal de Justiça
considerou que os alimentos podem ser fixados de forma diferente
com relação aos filhos, caso eles estejam em situação econômica
discrepante, sem que isso represente violação ou desrespeito ao
princípio da igualdade, previsto no art. 227, § 6.º, da CF/1988 e
no art. 1.596 do CC/2002... (...) Vale dizer, ainda, que a isonomia
incide quanto a esse direito, ou seja, a mulher pode pleitear
alimentos do marido e vice-versa; a companheira pode pleitear
alimentos do companheiro e vice-versa.”
Da leitura dessa proposição do doutrinador, existem dois pontos a se
discutir, o primeiro é acerca do trinômio alimentar, sendo composto por:
necessidade, possibilidade e proporcionalidade. A necessidade é caracterizada
pela indigência da pessoa que solicita a pensão. A possibilidade se refere à
capacidade de prestar os alimentos sem prejudicar seu próprio sustento. Por fim
a proporcionalidade é baseada no equilíbrio entre necessidade e capacidade, é
um norte geral para evitar exageros. A importância da observação deste trinômio
se encontra no auxílio para que a justiça encontre um valor adequado para a
prestação da pensão.

A existência do trinômio, tem um papel fundamental na fixação da pensão


alimentícia, uma vez que, este visa garantir desde o direito do menor de receber
um auxílio financeiro para suas necessidades. Também, visa garantir que o
responsável por pagar a pensão não se exima de seu compromisso com a
pensão, com alegações de que não poderia pagar sem comprometer sua mínimo
existencial.

Deste modo, na via contrária visa garantir e defender esse responsável


de não ser cobrado de um valor aquém do que pode pagar, para não ser
prejudicado no seu mínimo existencial, não ferindo a sua dignidade humana, ao
mesmo tempo em que protege a dignidade humana desse menor.

No contexto das famílias multiespecie, temos que esses animais


demandam de muitos gastos, como alimentação, cuidados básicos e
principalmente um gasto que não poderá ser valorado tão somente
financeiramente, eles necessitam de tempo e atenção, a pensão alimentícia
aqui, seria uma forma dos dois responsáveis pelo pet arcarem com alimentação,
pet-shop e até mesmo casos de doenças ou quaisquer outras urgências .

6.1 Pensão Alimentícia na Familia Multiespécie


Partindo dos pressupostos supracitados, buscou-se conceituar esta nova
espécie de família sob a luz dos princípios da liberdade, da afetividade e da
pluralidade familiar. Demonstrou-se que o legislador ainda não acompanhou
essa tendência e, diante dessa omissão, apontou se a forma como doutrina e
jurisprudência estão a lidar com os conflitos judiciais que abordam esse novo
arranjo de família, em especial, no que se refere à concessão de pensão
alimentícia ao filho não humano pertencente ao núcleo familiar.

Nesse ínterim, faz-se necessário que o legislador regule essa nova


situação, afinal, se a família sempre reconheceu o animal como um de seus
membros, nada mais natural de que a ele sejam estendidos os direitos a que
fazem jus os demais membros da família, como ocorre com os alimentos.

Além disso, é válido ressaltar que o dever de alimentar não decorre da


relação sexual, mas sim, de vínculo parental, de ruptura de laços matrimoniais,
bem como do fim da união estável. Logo, observa-se tal contradição, quando a
mulher grávida requer o pagamento da pensão alimentícia e sequer manteve
vínculo matrimonial ou de união estável com o devedor. Logo, entende-se que a
obrigação alimentícia, sendo conceituada como “um meio de proteção daqueles
que não são capazes de prover o próprio sustento.

No que se refere ao pagamento de alimentos para animais de estimação no


divórcio ou dissolução da união estável, a aplicação analógica das regras gerais
de alimentos mostra-se como uma das opções adequadas para a resolução de
lides, nas quais os indivíduos, em ação de divórcio ou em momento posterior,
buscam judicialmente regulamentar a situação de seus animais de estimação
embasados no princípio da afetividade.

7. Jurisprudência

RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. DISSOLUÇÃO DE UNIÃO


ESTÁVEL. ANIMAL DE ESTIMAÇÃO. AQUISIÇÃO NA CONSTÂNCIA DO
RELACIONAMENTO. INTENSO AFETO DOS COMPANHEIROS PELO
ANIMAL. DIREITO DE VISITAS. POSSIBILIDADE, A DEPENDER DO CASO
CONCRETO. 1. Inicialmente, deve ser afastada qualquer alegação de que a
discussão envolvendo a entidade familiar e o seu animal de estimação é menor,
ou se trata de mera futilidade a ocupar o tempo desta Corte. Ao contrário, é cada
vez mais recorrente no mundo da pós-modernidade e envolve questão bastante
delicada, examinada tanto pelo ângulo da afetividade em relação ao animal,
como também pela necessidade de sua preservação como mandamento
constitucional (art. 225, § 1, inciso VII -"proteger a fauna e a flora, vedadas, na
forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade"). 2. O
Código Civil, ao definir a natureza jurídica dos animais, tipificou-os como coisas
e, por conseguinte, objetos de propriedade, não lhes atribuindo a qualidade de
pessoas, não sendo dotados de personalidade jurídica nem podendo ser
considerados sujeitos de direitos. Na forma da lei civil, o só fato de o animal ser
tido como de estimação, recebendo o afeto da entidade familiar, não pode vir a
alterar sua substância, a ponto de converter a sua natureza jurídica. 3. No
entanto, os animais de companhia possuem valor subjetivo único e peculiar,
aflorando sentimentos bastante íntimos em seus donos, totalmente diversos de
qualquer outro tipo de propriedade privada. Dessarte, o regramento jurídico dos
bens não se vem mostrando suficiente para resolver, de forma satisfatória, a
disputa familiar envolvendo os pets, visto que não se trata de simples discussão
atinente à posse e à propriedade. 4. Por sua vez, a guarda propriamente dita -
inerente ao poder familiar - instituto, por essência, de direito de família, não pode
ser simples e fielmente subvertida para definir o direito dos consortes, por meio
do enquadramento de seus animais de estimação, notadamente porque é um
munus exercido no interesse tanto dos pais quanto do filho. Não se trata de uma
faculdade, e sim de um direito, em que se impõe aos pais a observância dos
deveres inerentes ao poder familiar. 5. A ordem jurídica não pode, simplesmente,
desprezar o relevo da relação do homem com seu animal de estimação,
sobretudo nos tempos atuais. Deve-se ter como norte o fato, cultural e da pós-
modernidade, de que há uma disputa dentro da entidade familiar em que
prepondera o afeto de ambos os cônjuges pelo animal. Portanto, a solução deve
perpassar pela preservação e garantia dos direitos à pessoa humana, mais
precisamente, o âmago de sua dignidade. 6. Os animais de companhia são seres
que, inevitavelmente, possuem natureza especial e, como ser senciente -
dotados de sensibilidade, sentindo as mesmas dores e necessidades
biopsicológicas dos animais racionais -, também devem ter o seu bem-estar
considerado. 7. Assim, na dissolução da entidade familiar em que haja algum
conflito em relação ao animal de estimação, independentemente da qualificação
jurídica a ser adotada, a resolução deverá buscar atender, sempre a depender
do caso em concreto, aos fins sociais, atentando para a própria evolução da
sociedade, com a proteção do ser humano e do seu vínculo afetivo com o animal.
8. Na hipótese, o Tribunal de origem reconheceu que a cadela fora adquirida na
constância da união estável e que estaria demonstrada a relação de afeto entre
o recorrente e o animal de estimação, reconhecendo o seu direito de visitas ao
animal, o que deve ser mantido. 9. Recurso especial não provido.

(STJ - REsp: XXXXX SP XXXXX/XXXXX-9, Relator: Ministro LUIS FELIPE


SALOMÃO, Data de Julgamento: 19/06/2018, T4 - QUARTA TURMA, Data de
Publicação: DJe 09/10/2018)

8. Conclusão

Destarte, o direito a ser considerado como membro da família na qual está


inserido, uma vez que o Direito de Família é marcado pelo vínculo de afeto, deve
também ser garantido aos animais, os quais poderão gozar das prerrogativas
asseguradas aos filhos menores. Com efeito, quando um animal de estimação
for criado por uma família e nela se inserir como seu membro, deve-se haver
uma presunção absoluta de que, independentemente de ter sido o animal
adquirido por um dos membros daquela família, não deve ele ser coisificado.
Assim, em caso de eventual divórcio ou separação de fato deve o animal ser
tratado da mesma forma como se trataria o filho menor. Vale dizer, os direitos de
guarda, de visitação e mesmo o de pensão alimentícia devem ser concedidos ao
animal de estimação. Afinal, se aquilo que determina a família multiespécie é o
laço social, esse relacionamento contribuirá para o bem-estar tanto do filho não-
humano quanto da própria família.

A inércia legislativa acerca das decisões conflitantes no âmbito do Poder


Judiciário, bem como a cerceamento dos direitos dos integrantes da família,
dentre os quais destaca-se a pensão alimentícia ao filho “não humano”, incorre
sobre preceitos ultrapassados e conservadores. Os filhos não humanos
participam do contexto social na família multiespécie, e, como tal, devem fazer
jus a direitos que lhe assegurem o mínimo existencial, como ocorre com a
pensão alimentícia.
Em síntese, inegável é, que, há uma relação propínqua entre seres
humanos e animais, que transcende a mera norma positivada e os aspectos
jurídicos. Desse modo, é de suma importância que essa temática seja pautada
nas relações legislativas, especialmente do Brasil, para que haja o
desenvolvimento das premissas e assim garantir o bem-estar tanto dos pets
quanto de seus pais.

Referencias

MADALENO, Rolf. Manual de Direito de Família. : Grupo GEN, 2021. E-book.


ISBN 9786559642489. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559642489/. Acesso em:
07 abr. 2024.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito de Família. v.5. [Digite o Local da Editora]:
Grupo GEN, 2023. E-book. ISBN 9786559647132. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559647132/. Acesso em:
07 abr. 2024.
IBDFAM: Instituto Brasileiro de Direito de Família. Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/noticias/10539/Projeto+regula+fam%C3%ADlia+multiesp
%C3%A9cie+e+prev%C3%AA+pens%C3%A3o+aliment%C3%ADcia+para+pet
s#:~:text=Projeto%20regula%20fam%C3%ADlia%20multiesp%C3%A9cie%20e
%20prev%C3%AA%20pens%C3%A3o%20aliment%C3%ADcia%20para%20pe
ts>. Acesso em: 7 abr. 2024.
Direito dos Animais: Regulamentação no Brasil. - Jus.com.br | Jus Navigandi.
Acesso em: 12 mai. 2024.
FAMÍLIA MULTIESPÉCIE NO DIREITO DE FAMÍLIA - Jus.com.br | Jus
Navigandi. Acesso em: 28 mai. 2024.
Superior Tribunal de Justiça STJ - RECURSO ESPECIAL: REsp XXXXX SP
XXXX/XXXXX-9 | Jurisprudência (jusbrasil.com.br). Acesso em 28 mai. 2024
https://www.conjur.com.br/2023-mai-26/vanessa-eid-projeto-regulamenta-
familia-multiespecie/. Acesso em 28 mai. 2024.
https://www.jusbrasil.com.br/artigos/familia-multiespecie-voce-sabe-o-que-
e/1733508938. Acesso 28 mai. 2024.
https://repositorio.ucs.br/xmlui/handle/11338/12620?locale-attribute=es. Acesso
em 28 mai. 2024.

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