sociedades comerciais ( continuação)

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 A natureza jurídica do acto gerador da relação jurídica e da sociedade, está longe de

ser pacífica. A doutrina diverge.

 Uma parte concebe o acto gerador como contrato e outra parte posiciona-se de modo
diverso.

 E mesmo dentro das contratualistas divergem as teses quanto à essência do contrato.

 O entendimento acolhido é de o acto gerador de uma sociedade tem natureza jurídica


de um contrato, não prejudicando o estudo na disciplina de direito das sociedades
comerciais

 Nem exclui a concepção de negócio jurídico que se deve atribuir ao acto gerador da
sociedade comercial, face a outras excepções que lhe são criadas no direito societário
português (fonte legislativa inspiradora do legislador angolano.

 Quanto ao dto societário português são desde logo os casos dos art.270.º-A e 488.º do
CSC os quais permitem , respectivamente a constituição de sociedades por quotas e
anónimas unipessoais.

 A escritura constitutiva de qualquer destas sociedades é um puro negócio jurídico


unilateral.

 No direito angolano constitui excepção, o Regime de transformação das UEE em


sociedades comerciais aprovado pela Lei n.º9/91 de 20 de Abril, que prevê a
transformação de empresas estatais em sociedades comerciais.

 Temos, pois, sociedades criadas, não por um contrato, mas por um acto legislativo,
logo cai por terra a exigência estabelecida no art.980.º do CC do acto gerador da
sociedade dever ser um contrato.

 ( não obsta a classificação da natureza contratual do acto gerador da sociedade).

CONTRATO DE SOCIEDADE: ELEMENTOS INTEGRADORES

 O contrato de sociedade está sujeito á disciplina geral dos contratos, com as


especialidades decorrentes de contrato de fim comum e institucional.

 O contrato de sociedade é um contrato associativo, de colaboração ou de cooperação.

 E por essa razão não se submete aos contratos sinalagmáticos, por não existir
sinalagma.

 Acresce que o contrato de sociedade é um contrato consensual ou obrigacional.

 Obrigações dos sócios de realizar integralmente as entradas subscritas, sem prejuízo


da aplicação do art.408.º, n.º1 do CC.

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TERMINOLOGIA DO CONTRATO DE SOCIEDADE

 É comum, lermos em jornais…, e ouvirmos diversas pessoas a falar em pacto social, em


estatutos e em contrato de sociedade, para se referirem às sociedades comerciais.

 Em rigor jurídico estas expressões não significam a mesma coisa.

 O contrato é o documento que resulta da vontade negocial das partes, onde consta o
conteúdo e a partir do qual nasce a sociedade.

 Enquanto que estatuto, ou pacto social, é o regulamento que contém as normas de


funcionamento da sociedade.

 As expressões, pacto social e estatuto são sinónimas, são a forma social como as
partes se relacionam.

PACTO SOCIAL OU ESTATUTO

 é o regulamento da sociedade que surge posteriormente ao Contrato que dá


existência à sociedade

 OS PRESSUPOSTOS, ELEMENTOS E REQUISITOS DO CONTRATO DE SOCIEDADE


COMERCIAL

 Os pressupostos são realidades prévias ao próprio negócio jurídico e sem as quais este
não pode existir.

 Assumem esta natureza as partes contratantes (art.8.º, n.º2 do CSC), que podem ser
pessoas singulares ou colectivas.

 Sem 2 ou mais pessoas não há possibilidade de existir o contrato de sociedade


comercial, salvo no caso em que a lei admite a transformação de UEE em sociedades
anónimas.

 Os elementos são clausulas que integram o contrato, a fonte de regulamentação, o seu


conteúdo.

 Estas podem ser cláusulas obrigatórias gerais e específicas, facultativas ou naturais


gerais ou específicas e cláusulas acessórias.

 Os requisitos são aspectos ou qualidades que os pressupostos - as partes- e os


elementos devem reunir.

 Com efeito, para a constituição a lei exige um número mínimo de partes, e estas têm
de ter legitimidade e capacidade, tal como se exige que objecto social cumpra os
requisitos do art.280.º do CC e a firma tenha de observar determinados requisitos.

AS PARTES CONTRATANTES

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 O n.º mínimo de partes contratantes é regulado de maneira diferente no dto
português e no dto angolano.

 O n.º mínimo de partes no dto português é de 2, art.7.º do CSC excepto quando a lei
exija um n.º superior ou permita que a sociedade seja constituída por uma só pessoa.

 As duas excepções aplicam-se do modo seguinte:

 1) a excepção para mais aplica-se às sociedades anónimas e as sociedades em


comandita por acções, que nos termos do CSC não podem ser constituídas com um n.º
de sócios inferior a 5;

 2) e excepção para menos aplica-se a dois tipos de sociedades:

 _sociedades coligadas, mais precisamente aos grupos constituídos por domínio total
inicial nos termos do art488.º do CSC;

 sociedade unipessoal por quotas, que é uma sociedade por quotas constituída por
uma única pessoa, nos termos doa art.270.º-A CSC

 A constituição da sociedade unipessoal por quotas proporciona as seguintes vantagens

 A pessoa interessada em exercer o comércio de forma singular controlando os riscos


da sua actividade pode adoptar este tipo de sociedade uma vez que limita a
responsabilidade por dívidas ao valor do capital social da sociedade. Contorna assim o
art.601.º do CC.

 Confere ao Estado uma maior protecção no controlo e na fiscalização da fuga ao fisco


do comerciante, uma vez que as sociedades tem que ter obrigatoriamente ter uma
contabilidade organizada.

 Elemento dissuasor para a constituição de sociedades comerciais fictícias, aquelas que


formalmente pertencem a vários sócios, mas materialmente pertencem apenas a 1
sócio.

 O n.º mínimo de partes no direito angolano é de 2, art.8.º, n.º2 da LSC. O dto


angolano, à semelhança do português prevê igualmente a excepção para mais.

 São os caos das sociedades anónimas e das sociedades em comandita por acções que
não podem ser constituídas com menos de 5 pessoas nos termos do 304.º e 215.º da
LSC.

 O dto angolano não consagra a excepção para menos prevista no dto português. E não
consagra por duas ordens de razões:

 1) em 1.º lugar, porque o legislador angolano não acolheu o regime jurídico previsto
no art.270.º-A do CSC e por isso não acolheu as sociedades unipessoais por quotas;

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 2 )em 2.º lugar, porque o legislador não acolheu o regime jurídico previsto no art.488.º
do CSC e por isso não acolheu o domínio total inicial, ou seja, a possibilidade de uma
sociedade anónima constituir por escritura pública por ela outorgada, uma sociedade
anónima de cujas acções ela seja a única titular.

 Regista-se no entanto um paradoxo entre a vontade do legislador em não acolher


expressa e especialmente o regime do domínio total inicial, e o facto desse mesmo
regime acabar por estar implicitamente consagrado no direito societário.

 1) A lei n.º9/91 de 20 de Abril- estamos perante um caso que configura o domínio


total inicial consagrado no art.488.º do CSC português.

 2) o art.477.º da LSC estabelece que o domínio total superveniente ocorre quando


uma sociedade, nos termos do n.º1…directamente ou por outras sociedades ou
pessoas, passe a dominar totalmente uma outra sociedade, por não haver outros
sócios, (transformando-se, assim, a sociedade em unipessoal);

 Determina o n.º2 que …nos 12 meses seguintes à ocorrência desse facto, a sociedade
deve deliberar, em alternativa:

 a)a dissolução da sociedade dependente;

 b)a alienação de quotas ou acções da sociedade dependente;

 Art.477.º, n.º3 ver

 O QUE DIZER DESTE REGIME JURÍDICO?

 Estamos diante de uma sociedade que por ter adquirido todo o capital social de uma
outra sociedade, tomou por completo o domínio dessa mesma sociedade…

 Só que em vez de ser logo de início, ou seja, em vez de uma dada sociedade constituir
mediante escritura por ela outorgada, uma sociedade de cujas acções seja ela a única
titular, e por isso dela depende totalmente…,essa mesma sociedade adquiriu à
posteriori a totalidade do capital social da outra sociedade e por essa via passou a ter
o tal domínio sobre ela…

 Daí que se fale de domínio total superveniente.

 A sociedade A que adquire à posteriori totalmente o capital social da sociedade B tem


o domínio total (superveniente) sobre ela…tal como a Sociedade A tem o domínio total
(inicial) sobre a sociedade B que mediante escritura por ela outorgada constitua, e de
cujas acções é ela a única titular.

 E porque assim é, concluímos que o legislador não tendo consagrado expressamente o


domínio total inicial, acolhe implicitamente uma relação de grupo entre duas
sociedades que configura uma relação de domínio total…ouseja, não reconhece o
1.º..mas acolhe o 2.º (superveniente)..sendo que o 2.º conduz ao 1.º.

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 O art.477.º acabou por acolher a figura do domínio total superveniente com a
pretensão inilidível de querer designar uma figura distinta do domínio total inicial, e
por conseguinte diferente, esquecendo-se que a natureza jurídica é a mesma e que
reconhecimento expresso de uma leva à consagração implícita da outra.

 A LSC tem bem vincado o dogma da impossibilidade jurídica das sociedades


unipessoais. Ex: 142/1/a ; 462/3 ; 477; 44/1/a) ;142/ 1/a; 142/2

 O legislador angolano ao não configurar o domínio total inicial ,previsto no art.488.º


do CSC português perdeu uma oportunidade singular de equiparar o nosso
ordenamento jurídico e economia a outras economias de mercado e ao resto do
mundo, além de continuar as compactuar ou promover as sociedades fictícias.

 OHADA (organização para harmonização em África do direito dos negócios), atenta à


importância que esta figura jurídica reveste para a dinâmica empresarial do
continente, acolheu por acto uniforme, a unipessoalidade originária como vis de
harmonizar o regime das sociedades comerciais e do agrupamento de interesse
económico entre os Estados Membros.

REQUISITOS DAS PARTES CONTRATANTES

 As partes contratantes podem ser pessoas singulares ou colectivas, e têm de possuir


como requisitos, capacidade, nos termos dos art.7.º e 66.º, 67.º e 130.º do CC,
legitimidade negocial, directa ou indirecta (art.258.º e 259.º do CC) e consentimento.

 1-CAPACIDADE

 O contrato de sociedade, resulta de um cojunto de declarações de vontade, cuja


validade depende de quem as emita possuir capacidade de gozo (art.67.º do CC) e de
exercício de direitos (art.123.º do CC).

 Em matéria de incapacidades, não há no dto comercial senão as previstas na lei civil. É


o que dispõe a regra da coincidência da capacidade comercial com a capacidade civil
prevista no art.7.º do CC.

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