508_pdf_versao_completa_r

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 16

no 508

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios – TJDFT


Núcleo de Pesquisa e Informativo de Jurisprudência – NUPIJUR
Informativo de Jurisprudência | Edição nº 508 - 28 de agosto de 2024

Informativo
PRIMEIRA-VICE-PRESIDÊNCIA
Redação
Des. Roberval Casemiro Belinati
Alessandro Soares Machado
Primeiro-Vice-Presidente
Ana Paula Gama
Luís Martius Holanda Bezerra
Junior Andrea Djanira Santos de Paula
Juiz Auxiliar Cleber Alves Ribeiro Braz
COMISSÃO DE JURISPRUDÊNCIA Ricardo Machado de Aguiar

Des. Sandoval Gomes de Oliveira Susana Moura Macedo


Presidente Tiago de Carvalho Resende
Rodrigues
Membros efetivos
Colaboradores
Des. Álvaro Ciarlini
Des. Héctor Valverde Santanna Letícia Vasco Mota

Desª. Maria Ivatônia Barbosa Rodrigo Bruno Bezerra Pereira

dos Santos Revisão


Des. Roberto Freitas Filho José Adilson Rodrigues
Membro suplente Conversão do texto em áudio
Des. José Firmo Reis Soub Alexandre da Silva Lacerda
COORDENADORIA DE DOUTRINA E-mail
E JURISPRUDÊNCIA (CODJU)
jurisprudencia.nupijur@tjdft.jus.br
Paulo Gustavo Barbosa Caldas
Coordenador

Os textos divulgados neste Informativo foram elaborados a partir de acórdãos


selecionados pelo Núcleo de Pesquisa e Informativo de Jurisprudência da CODJU e não
constituem, portanto, repositório oficial da jurisprudência deste Tribunal.
Sumário
DIREITO ADMINISTRATIVO........................................................................ 5

Obra pública – permissão para banca de revista – supremacia do interesse público ... 5

Uso de toxina botulínica em paciente da rede pública – óbito após três meses –
responsabilidade civil do Estado não configurada .................................................... 5

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL ........................................................ 7

Maus-tratos contra animal de estimação de terceiro – danos materiais e morais ....... 7

DIREITO CONSTITUCIONAL ...................................................................... 8

Violência patrimonial contra idosos – invasão de competência legislativa – efetividade


da proteção constitucional ..................................................................................... 8

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ............................................ 9

Modificação de guarda de menor – alienação parental – validade de laudo elaborado


pelo psicossocial ................................................................................................... 9

DIREITO DO CONSUMIDOR .................................................................... 10

Suicídio de idoso em clínica geriátrica – danos morais aos filhos ............................ 10

DIREITO EMPRESARIAL ........................................................................... 11

Contrato entre empresas – intermediação de pagamentos com cartão de crédito –


assunção de riscos do negócio ............................................................................. 11

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL ................................................. 12

Inadimplemento de pensão alimentícia – crime de abandono material ................... 12

DIREITO PENAL MILITAR E PROCESSUAL PENAL MILITAR .................... 13


Reconhecimento pessoal em inquérito militar – suposta tortura em curso de
especialização de policiais – abstenção de comparecimento denegada .................. 13

DIREITO TRIBUTÁRIO .............................................................................. 14

Incidência de ICMS sobre tarifas de energia elétrica – pagamento pelo consumidor final
– Tema 986 do STJ ................................................................................................. 14
Informativo de Jurisprudência nº 508 5

Direito Administrativo
Obra pública – permissão para banca de revista – supremacia
do interesse público
As permissões de uso de bem público são de caráter discricionário e
precário, passíveis de revogação ou modificação a qualquer tempo,
independentemente de motivação, por critérios de conveniência e
oportunidade da Administração Pública, com supremacia do interesse
público sobre o particular. Na origem, permissionários de banca de revista,
com e sem autorizações válidas, ajuizaram ação de obrigação de não fazer contra
o Distrito Federal e a empresa de engenharia representante do Consórcio Novo
Túnel, com intuito de obstar a remoção de quiosques, situados em locais afetados
pelas obras do novo túnel viário de Taguatinga (Rei Pelé), bem como requerer
indenização por danos materiais e morais. O juízo singular julgou os pedidos
improcedentes. Na análise do recurso interposto pelo grupo de apelantes sem
documentos válidos, os desembargadores asseveraram que as permissões de uso
de bem público são de natureza unilateral, discricionária e precária, passíveis de
revogação ou modificação a qualquer tempo, independentemente de motivação,
por critérios de conveniência e oportunidade da Administração Pública. Na
espécie, entenderam que o administrador, na ponderação entre os interesses
envolvidos, concluiu pela prioridade da realização da obra pública, em detrimento
da continuidade da atividade econômica desenvolvida no local. Nesse contexto,
afirmaram que não cabe ao Poder Judiciário reavaliação do mérito, especialmente
por não enxergarem violação a direito adquirido. Quanto aos que detinham
permissões em vigor, os julgadores aduziram que as objeções apresentadas
denotaram insatisfação quanto aos novos locais designados para instalação dos
quiosques, o que não obriga a Administração a disponibilizar outros pontos. Assim,
afastaram a pretensão indenizatória, pois as permissões não foram revogadas
antes do vencimento, mas aditadas para permitir a continuidade da atividade
econômica, em harmonia com as alterações da estrutura viária local. Com isso, o
colegiado negou provimento ao recurso.

Acórdão 1895148, 07021964120218070018, Relator: Des. ARNOLDO CAMANHO,


Quarta Turma Cível, data de julgamento: 18/7/2024, publicado no DJe: 2/8/2024.

Uso de toxina botulínica em paciente da rede pública –


óbito após três meses – responsabilidade civil do Estado
não configurada
Informativo de Jurisprudência nº 508 6

O tratamento médico adequado de paciente com histórico relevante


de problemas respiratórios afasta a responsabilidade do Estado por
óbito decorrente do agravamento do quadro de saúde. Mãe de paciente
que faleceu após atendimento hospitalar ingressou com ação de reparação de
danos morais contra o Distrito Federal. Sustentou erro médico e
responsabilidade civil do Estado, pois o quadro de insuficiência respiratória do
filho teria se agravado após a aplicação de toxina botulínica - botox (agente
paralisante da função neuromuscular) para controle de excesso de salivação e
de frequentes pneumonias aspirativas. Na análise do recurso interposto pela
autora contra sentença de improcedência do pedido, os desembargadores
consignaram que o Estado é responsável pelos prejuízos que agentes públicos
causarem a terceiros, bastando a comprovação do dano e do nexo de
causalidade entre a conduta daqueles e o resultado lesivo. O colegiado
destacou que a responsabilidade civil de hospitais e médicos surge quando a
lesão decorre de conduta inadequada, do não agir de forma diligente e da não
utilização de técnica correta, segundo padrões e avanços oferecidos pela
ciência. Ressaltou que, na hipótese, o filho da autora já apresentava quadro
clínico respiratório e neuropsicomotor complexo desde a infância e que, ao
contrário do afirmado na inicial, prova pericial atestou melhora dos sintomas de
obstrução respiratória após a aplicação da substância, que constitui um tipo de
tratamento indicado para o caso. Acrescentaram que o quadro de insuficiência
respiratória extrema, que levou à morte do paciente, ocorreu após três meses do
uso, período em que a quantidade de medicamento no corpo era insuficiente
para causar tal dano, e bem superior ao tempo de apresentação de reações
adversas. Nesse cenário, concluíram não ter havido falha na prestação de
serviço dos profissionais de saúde pública ou dúvida quanto a eventual falta no
dever de cautela para evitar o resultado. Assim, ao confirmar que o uso da toxina
foi uma tentativa de reverter o grave quadro de insuficiência respiratória do
paciente, a turma negou provimento ao recurso.

Acórdão 1891746, 00034965520168070018, Relatora: Des.ª FÁTIMA RAFAEL,


Terceira Turma Cível, data de julgamento: 11/7/2024, publicado no PJe: 7/8/2024.
Informativo de Jurisprudência nº 508 7

Direito Civil e Processual Civil


Maus-tratos contra animal de estimação de terceiro – danos
materiais e morais
A prática de maus-tratos contra gato de estimação pertencente a
vizinho, mesmo com a intenção de expulsar o animal do interior de sua
residência, enseja indenização por danos morais e materiais. Tutora de
animais de estimação ingressou com ação de danos morais e materiais contra a
vizinha, alegando que uma de suas gatas fora arremessada para a rua por ter
adentrado na residência da demandada, conduta que causou sangramento e
lesões no bichano. O juízo singular não considerou, no entanto, comprovadas as
práticas de maus-tratos e julgou improcedente o pedido. Ao analisarem o recurso
da autora, os julgadores notaram que os problemas de saúde apresentados pela
gata ocorreram no mesmo dia em que fora expulsa da casa da recorrida. Além
disso, destacaram o depoimento de testemunha estranha às partes, a qual
afirmou ter presenciado, quando passava pela rua, uma mulher arremessar com
muita força um gato para fora da residência, oportunidade em que o animal teria
tentado se arrastar para outra casa, mesmo derramando muito sangue. Diante
desse cenário, o colegiado não considerou plausível a hipótese de atropelamento,
conforme alegado pela requerida. Assim, comprovados os maus-tratos e a ação
voluntária da ré, a turma deu parcial provimento ao recurso, para condená-la a
pagar dois mil reais, a título de danos materiais, e mil reais como reparação ao
abalo moral sofrido pela autora.

Acórdão 1895016, 07370859520238070003, Relator: Juiz MARCO ANTONIO


DO AMARAL, Terceira Turma Recursal dos Juizados do Distrito Federal, data
de julgamento: 22/7/2024, publicado no DJe: 2/8/2024.
Informativo de Jurisprudência nº 508 8

Direito Constitucional
Violência patrimonial contra idosos – invasão de
competência legislativa – efetividade da proteção
constitucional
É constitucional lei distrital que cria campanha de conscientização e
enfrentamento à violência patrimonial contra idosos. O governador do
Distrito Federal arguiu a inconstitucionalidade da Lei Distrital 7.437/2024, que
institui campanha permanente de combate aos golpes financeiros e à violência
patrimonial praticados contra pessoas idosas na capital. Na análise do mérito,
os desembargadores afirmaram que, ao criar a campanha de conscientização e
enfrentamento à violência patrimonial contra idosos, a norma concretiza as
disposições da Constituição Federal e da Lei Orgânica. Destacaram
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, segundo a qual “não há invasão de
competência quando o Poder Legislativo se limita a explicitar o conteúdo de
direito fundamental já expresso” na Carta Magna. Além disso, aduziram que a lei
impugnada não promove alterações na estrutura administrativa de órgãos
governamentais, nem define novas atribuições à Administração Pública,
tampouco altera a organização interna. Compreenderam, assim, que o novo
ordenamento jurídico se limita a traçar diretrizes gerais e abstratas, que deverão
ser concretizadas por meio de regulamentação do Poder Executivo. Nesse
contexto, reconheceram que não há vedação à autoria parlamentar. Afirmaram,
ainda, que o direito fundamental de proteção integral a pessoas idosas impõe ao
poder público a satisfação de um dever de prestação positiva destinado a todos
os entes políticos, e, desse modo, a lei apenas reforça dever preexistente. Por
outro lado, entenderam que, ao impor o prazo de até sessenta dias para
regulamentação da matéria, o art. 5º da Lei 7.437/2024 viola a garantia da gestão
conferida ao governador, pois compete exclusivamente ao chefe do Executivo
examinar a conveniência e a oportunidade para desempenho das atividades
legislativas e regulamentares que lhe são próprias. Com isso, o Conselho
Especial julgou parcialmente procedente o pedido apenas para declarar a
inconstitucionalidade da expressão relativa à restrição temporal, com efeito ex
tunc (retroativo) e eficácia erga omnes (contra todos).

Acórdão 1899038, 07120458620248070000, Relator: Des. DIAULAS COSTA


RIBEIRO, Conselho Especial, data de julgamento: 30/7/2024, publicado no DJe:
13/8/2024.
Informativo de Jurisprudência nº 508 9

Direito da Criança e do
Adolescente
Modificação de guarda de menor – alienação parental –
validade de laudo elaborado pelo psicossocial
O laudo técnico de assistente social, integrante do quadro de servidores do
TJDFT no cargo de assistente social, é válido para fundamentar decisão
sobre alienação parental, sendo dispensável a qualificação como
psicólogo. Na análise da apelação interposta contra sentença de parcial
procedência do pedido de modificação de guarda, ajuizada pelo pai em face da
genitora, o colegiado consignou que a alienação parental consiste no prejuízo
psicológico à criação ou à manutenção de vínculos afetivos com os filhos,
causado pela interferência dos pais, dos avós ou até mesmo de quem detenha
guarda ou vigilância. Acrescentaram que tais indícios devem ser comprovados
por avaliação psicológica ou biopsicossocial, elaborada por profissional ou por
equipe multidisciplinar de diversos ramos (Lei 12.318/2010), com o objetivo de
avaliar documentos, histórico de rompimento da relação entre o casal,
cronologia de incidentes, personalidade dos envolvidos, dentre outros fatores.
Enfatizaram que a legislação não impõe que o parecer seja elaborado por
psicólogo, pois não há regra que exija elaboração por equipe multidisciplinar,
bastando que seja um profissional técnico habilitado. A turma afirmou ainda que
a adolescente, atualmente com dezesseis anos, possui discernimento do
contexto familiar, além de capacidade para se posicionar sobre os fatos. Além
disso, apesar de evidenciada falta de parceria entre os genitores, não foram
comprovados atos de repúdio ao genitor ou prejuízo à criação e à manutenção
de vínculos (art. 2º, caput, da Lei 12.318/2010). Nesse contexto, concluíram que
não houve alienação parental e que foi fixado regime de visitação adequado,
observados os princípios do melhor interesse do adolescente e do livre
convencimento motivado das decisões. Por fim, negaram provimento ao
recurso.

Acórdão 1895100, 07061474920218070016, Relator: Des. SÉRGIO ROCHA,


Quarta Turma Cível, data de julgamento: 18/7/2024, publicado no DJe:
2/8/2024.
Informativo de Jurisprudência nº 508 10

Direito do Consumidor
Suicídio de idoso em clínica geriátrica – danos morais aos
filhos
Enseja o dever de reparação a título de danos morais o suicídio de idoso em
instituto geriátrico, o qual não adotou, com eficiência, a cautela necessária
para resguardar a vida do paciente. A turma confirmou a condenação de
centro geriátrico ao pagamento de danos morais aos filhos de idoso internado
na clínica, em razão do suicídio do paciente em suas dependências. Na origem,
os dois filhos ingressaram com ação de danos morais, alegando que a
internação do pai fora necessária para preservar sua integridade física, em razão
do quadro depressivo e da tentativa de autoextermínio apresentada em
momento anterior. O juízo singular condenou a clínica ao pagamento de oitenta
mil reais a cada um dos autores. Interposta apelação pela requerida, os
desembargadores consignaram a incidência das normas consumeristas, uma
vez que o instituto geriátrico se caracteriza como fornecedor de serviço. Nesse
sentido, asseveraram que a responsabilidade é objetiva, porque embasada no
risco da atividade, bastando a demonstração da falha na prestação do serviço,
a relação de causalidade e o resultado lesivo. Os julgadores reconheceram o
nexo de causalidade entre a ausência de vigilância sobre o paciente e o
resultado danoso, situação enunciadora do não cumprimento do mister da
clínica – prover segurança e acompanhamento físico corporal ao paciente
internado, principalmente porque fora advertida a respeito do quadro de
depressão e ideação suicida, documentado pela sua equipe médica. Nesse
descortino, a turma considerou a natureza in re ipsa do dano, ou seja,
dispensável de comprovação do efetivo prejuízo. Assim, por entender que a
indenização não busca a reparação pela vida perdida, mas voltada para
compensar o sofrimento e a angústia dos filhos, privados do convívio com o pai,
o colegiado negou provimento ao recurso.

Acórdão 1899178, 07199048720238070001, Relatora: Des.ª ANA MARIA


FERREIRA DA SILVA, Terceira Turma Cível, data de julgamento: 7/8/2024,
publicado no DJe: 13/8/2024.
Informativo de Jurisprudência nº 508 11

Direito Empresarial
Contrato entre empresas – intermediação de pagamentos
com cartão de crédito – assunção de riscos do negócio
O instrumento contratual celebrado entre pessoas jurídicas para
intermediação de pagamentos com cartão de crédito presume-se paritário,
de sorte que prevalecem as previsões acordadas expressamente quanto à
assunção do risco econômico decorrente de contestações e
cancelamentos de compras. Na origem, uma drogaria pleiteou em juízo
reparação por danos materiais e morais contra empresa contratada para
intermediar pagamentos por meio de cartão de crédito e outras vias. Apontou a
existência de descontos nos recebimentos, que considerou serem indevidos,
relativos a compras que teriam sido contestadas por consumidores. À vista da
decisão de improcedência dos pedidos na primeira instância, a autora requereu
a reforma do julgado em apelação. No exame do recurso, os desembargadores
inicialmente afastaram a aplicação do Código de Defesa do Consumidor, por se
tratar de serviço voltado para incrementar atividade negocial de pessoa jurídica,
além de estar ausente, no caso, vulnerabilidade técnica ou jurídica. Em seguida,
aduziram a presunção de paridade entre as sociedades contratantes, de modo
a prevalecer a força obrigatória do contrato (pacta sunt servanda). Nessa
perspectiva, observaram a existência de cláusulas negociais expressas quanto
à ausência de repasse de quantias pela intermediadora de pagamentos, na
hipótese em que o portador do cartão de crédito contesta a transação. De
acordo com o instrumento contratual, portanto, nessas circunstâncias, o débito
passa a ser assumido pelo estabelecimento vendedor do produto. Como
consequência, o colegiado atribuiu ao risco da atividade econômica a assunção
integral da responsabilidade por parte da autora, em caso de contestação ou de
cancelamento de transações (art. 421-A, II, do Código Civil), porquanto não é
possível imputar à instituição de pagamentos encargo relacionado à tomada de
decisão pertinente ao emissor do cartão de crédito. Assim, por considerar que o
estabelecimento assentiu contratualmente em absorver tais prejuízos, a turma
negou provimento ao recurso.

Acórdão 1897342, 07208461620238070003, Relator: Des. ROMULO DE


ARAUJO MENDES, Primeira Turma Cível, data de julgamento: 24/7/2024,
publicado no PJe: 7/8/2024.
Informativo de Jurisprudência nº 508 12

Direito Penal e Processual Penal


Inadimplemento de pensão alimentícia – crime de
abandono material
A alegação de desemprego formal não afasta o dolo para a caracterização
do crime de abandono material, sobretudo quando não há prova da
absoluta impossibilidade financeira do pai para garantir o sustento do filho
menor. Genitor interpôs apelação criminal contra sentença condenatória, por
abandono material do filho, em que foi imposta pena de um ano de detenção,
cumulada com o pagamento de três mil reais, a título de danos morais para a
vítima. Na análise do recurso, os julgadores explicaram que a infração penal, por
ser crime formal, dispensa resultado naturalístico, consumando-se com o
descumprimento da obrigação de prover o alimento e o abrigo da vítima por seu
responsável, em razão da relação de parentesco. Acrescentaram que o tipo
penal visa à solidariedade familiar, segundo a qual os pais têm o dever de
assistir, criar e educar os filhos menores, enquanto os filhos maiores têm o dever
de ajudar e amparar os pais na velhice, na carência ou na enfermidade (art. 229
da CF/1988). Aduziram que o pagamento esporádico não configura
adimplemento da obrigação, ainda mais quando inferior ao determinado pela
justiça e mediante solicitação da mãe do alimentando. No tocante às alegações
de dificuldade financeira e desemprego formal, consideraram insuficientes os
elementos de prova necessários para demonstrar a impossibilidade concreta de
pagamento da pensão. Nesse sentido, entenderam não se tratar de simples
descumprimento de obrigação de natureza civil, mas de omissão deliberada e
dolo de abandono material do filho. Por fim, a turma deu parcial provimento ao
recurso para, de ofício, substituir a pena privativa de liberdade por uma restritiva
de direitos, em condições a serem estabelecidas pelo juízo da execução penal,
mantendo, no mais, a condenação.

Acórdão 1899786, 07037013620228070017, Relatora: Des.ª LEILA ARLANCH,


Primeira Turma Criminal, data de julgamento: 1º/8/2024, publicado no PJe:
12/8/2024.
Informativo de Jurisprudência nº 508 13

Direito Penal Militar e


Processual Penal Militar
Reconhecimento pessoal em inquérito militar – suposta
tortura em curso de especialização de policiais –
abstenção de comparecimento denegada
A submissão de investigado a procedimento de reconhecimento pessoal
não viola o direito a não autoincriminação, pois exige apenas cooperação
do participante a fim de ser observado pela testemunha/vítima. Policial
impetrou habeas corpus contra decisão do juízo da auditoria militar que
indeferiu pedido de adiamento do reconhecimento pessoal do paciente. Alegou
que, durante investigação em inquérito policial militar, por suposta prática de
tortura durante curso de especialização de policiais, o impetrante foi convocado
a participar do procedimento, ato que violaria o direito de não produzir prova
contra si. Na análise da ação constitucional, os desembargadores consignaram
que o reconhecimento de pessoas busca esclarecer a autoria do delito, servindo
para confirmar ou inocentar o indivíduo a ele submetido. Reforçaram que o
direito de não produzir provas contra si impede a exigibilidade de condutas
ativas do investigado que possam incriminá-lo, como o exame grafotécnico e a
reconstituição do crime. No caso, esclareceram que a determinação para o
paciente comparecer à corregedoria e participar do reconhecimento não viola o
direito a não autoincriminação (nemo tenetur se detegere) nem o de ir e vir, pois
demanda apenas a cooperação meramente passiva do acusado. O colegiado
concluiu que a garantia invocada não subsiste quando o investigado for mero
“alvo de observação” para fins de reconhecimento, pois, do contrário, referido
instituto não teria razão de existir. Assim, a turma denegou a ordem.

Acórdão 1890600, 07240365920248070000, Relatora: Des.ª GISLENE


PINHEIRO, Primeira Turma Criminal, data de julgamento: 11/7/2024, publicado
no DJe: 2/8/2024.
Informativo de Jurisprudência nº 508 14

Direito Tributário
Incidência de ICMS sobre tarifas de energia elétrica –
pagamento pelo consumidor final – Tema 986 do STJ
As tarifas de uso e de distribuição, além de encargos e despesas setoriais,
lançadas na fatura de energia elétrica e suportadas diretamente pelo
consumidor, integram a base de cálculo do ICMS. Microempreendedor
impetrou mandado de segurança contra ato do subsecretário da receita da
Secretaria de Fazenda do Distrito Federal, para reaver os valores pagos a título
de Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS, cobrados sobre a
transmissão e a distribuição de energia elétrica. Em primeira instância, a
segurança foi denegada. Ao analisar a apelação do impetrante, os
desembargadores aduziram que o Superior Tribunal de Justiça, por meio do
Tema Repetitivo 986, firmou tese para definir que a Tarifa de Uso do Sistema de
Transmissão (TUST) e a Tarifa de Uso de Distribuição de Energia Elétrica (TUSD)
integram a base de cálculo do imposto, quando o encargo for suportado
diretamente pelo consumidor final. Nesse contexto, afirmaram que referida
base deve incidir sobre todos os valores do processo de fornecimento de energia
elétrica efetivamente consumida pelo usuário, uma vez que as etapas de
distribuição trabalham de forma interdependente. Para a turma, as
mencionadas tarifas têm natureza jurídica de encargo setorial e, pelas regras de
hermenêutica jurídica, o precedente qualificado do STJ deve ser aplicado às
despesas semelhantes, embora com nomes diferentes. Assim, o colegiado
aduziu que as tarifas e as despesas setoriais incidentes sobre a energia elétrica,
que possuam a mesma natureza da TUST e da TUSD, integram a base de cálculo
do ICMS. Em acréscimo, destacaram que a norma que vedava expressamente a
incidência do tributo sobre serviços de transmissão, distribuição e encargos
setoriais vinculados ao fornecimento de energia elétrica (Lei Complementar
194/2022), teve os efeitos suspensos por decisão liminar (ADI 7195/DF). Assim,
concluíram inexistir ilegalidade na inclusão das tarifas na base de cálculo do
ICMS, razão pela qual negaram provimento ao recurso.

Acórdão 1896213, 00412529820168070018, Relator: Des. EUSTÁQUIO DE


CASTRO, Oitava Turma Cível, data de julgamento: 30/7/2024, publicado no DJe:
5/8/2024.
#JurisprudênciaTJDFT, informação jurídica de qualidade, rápida e acessível.

Você também pode gostar