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Informativo
PRIMEIRA-VICE-PRESIDÊNCIA
Redação
Des. Roberval Casemiro Belinati
Alessandro Soares Machado
Primeiro-Vice-Presidente
Ana Paula Gama
Luís Martius Holanda Bezerra
Junior Andrea Djanira Santos de Paula
Juiz Auxiliar Cleber Alves Ribeiro Braz
COMISSÃO DE JURISPRUDÊNCIA Ricardo Machado de Aguiar
Obra pública – permissão para banca de revista – supremacia do interesse público ... 5
Uso de toxina botulínica em paciente da rede pública – óbito após três meses –
responsabilidade civil do Estado não configurada .................................................... 5
Incidência de ICMS sobre tarifas de energia elétrica – pagamento pelo consumidor final
– Tema 986 do STJ ................................................................................................. 14
Informativo de Jurisprudência nº 508 5
Direito Administrativo
Obra pública – permissão para banca de revista – supremacia
do interesse público
As permissões de uso de bem público são de caráter discricionário e
precário, passíveis de revogação ou modificação a qualquer tempo,
independentemente de motivação, por critérios de conveniência e
oportunidade da Administração Pública, com supremacia do interesse
público sobre o particular. Na origem, permissionários de banca de revista,
com e sem autorizações válidas, ajuizaram ação de obrigação de não fazer contra
o Distrito Federal e a empresa de engenharia representante do Consórcio Novo
Túnel, com intuito de obstar a remoção de quiosques, situados em locais afetados
pelas obras do novo túnel viário de Taguatinga (Rei Pelé), bem como requerer
indenização por danos materiais e morais. O juízo singular julgou os pedidos
improcedentes. Na análise do recurso interposto pelo grupo de apelantes sem
documentos válidos, os desembargadores asseveraram que as permissões de uso
de bem público são de natureza unilateral, discricionária e precária, passíveis de
revogação ou modificação a qualquer tempo, independentemente de motivação,
por critérios de conveniência e oportunidade da Administração Pública. Na
espécie, entenderam que o administrador, na ponderação entre os interesses
envolvidos, concluiu pela prioridade da realização da obra pública, em detrimento
da continuidade da atividade econômica desenvolvida no local. Nesse contexto,
afirmaram que não cabe ao Poder Judiciário reavaliação do mérito, especialmente
por não enxergarem violação a direito adquirido. Quanto aos que detinham
permissões em vigor, os julgadores aduziram que as objeções apresentadas
denotaram insatisfação quanto aos novos locais designados para instalação dos
quiosques, o que não obriga a Administração a disponibilizar outros pontos. Assim,
afastaram a pretensão indenizatória, pois as permissões não foram revogadas
antes do vencimento, mas aditadas para permitir a continuidade da atividade
econômica, em harmonia com as alterações da estrutura viária local. Com isso, o
colegiado negou provimento ao recurso.
Direito Constitucional
Violência patrimonial contra idosos – invasão de
competência legislativa – efetividade da proteção
constitucional
É constitucional lei distrital que cria campanha de conscientização e
enfrentamento à violência patrimonial contra idosos. O governador do
Distrito Federal arguiu a inconstitucionalidade da Lei Distrital 7.437/2024, que
institui campanha permanente de combate aos golpes financeiros e à violência
patrimonial praticados contra pessoas idosas na capital. Na análise do mérito,
os desembargadores afirmaram que, ao criar a campanha de conscientização e
enfrentamento à violência patrimonial contra idosos, a norma concretiza as
disposições da Constituição Federal e da Lei Orgânica. Destacaram
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, segundo a qual “não há invasão de
competência quando o Poder Legislativo se limita a explicitar o conteúdo de
direito fundamental já expresso” na Carta Magna. Além disso, aduziram que a lei
impugnada não promove alterações na estrutura administrativa de órgãos
governamentais, nem define novas atribuições à Administração Pública,
tampouco altera a organização interna. Compreenderam, assim, que o novo
ordenamento jurídico se limita a traçar diretrizes gerais e abstratas, que deverão
ser concretizadas por meio de regulamentação do Poder Executivo. Nesse
contexto, reconheceram que não há vedação à autoria parlamentar. Afirmaram,
ainda, que o direito fundamental de proteção integral a pessoas idosas impõe ao
poder público a satisfação de um dever de prestação positiva destinado a todos
os entes políticos, e, desse modo, a lei apenas reforça dever preexistente. Por
outro lado, entenderam que, ao impor o prazo de até sessenta dias para
regulamentação da matéria, o art. 5º da Lei 7.437/2024 viola a garantia da gestão
conferida ao governador, pois compete exclusivamente ao chefe do Executivo
examinar a conveniência e a oportunidade para desempenho das atividades
legislativas e regulamentares que lhe são próprias. Com isso, o Conselho
Especial julgou parcialmente procedente o pedido apenas para declarar a
inconstitucionalidade da expressão relativa à restrição temporal, com efeito ex
tunc (retroativo) e eficácia erga omnes (contra todos).
Direito da Criança e do
Adolescente
Modificação de guarda de menor – alienação parental –
validade de laudo elaborado pelo psicossocial
O laudo técnico de assistente social, integrante do quadro de servidores do
TJDFT no cargo de assistente social, é válido para fundamentar decisão
sobre alienação parental, sendo dispensável a qualificação como
psicólogo. Na análise da apelação interposta contra sentença de parcial
procedência do pedido de modificação de guarda, ajuizada pelo pai em face da
genitora, o colegiado consignou que a alienação parental consiste no prejuízo
psicológico à criação ou à manutenção de vínculos afetivos com os filhos,
causado pela interferência dos pais, dos avós ou até mesmo de quem detenha
guarda ou vigilância. Acrescentaram que tais indícios devem ser comprovados
por avaliação psicológica ou biopsicossocial, elaborada por profissional ou por
equipe multidisciplinar de diversos ramos (Lei 12.318/2010), com o objetivo de
avaliar documentos, histórico de rompimento da relação entre o casal,
cronologia de incidentes, personalidade dos envolvidos, dentre outros fatores.
Enfatizaram que a legislação não impõe que o parecer seja elaborado por
psicólogo, pois não há regra que exija elaboração por equipe multidisciplinar,
bastando que seja um profissional técnico habilitado. A turma afirmou ainda que
a adolescente, atualmente com dezesseis anos, possui discernimento do
contexto familiar, além de capacidade para se posicionar sobre os fatos. Além
disso, apesar de evidenciada falta de parceria entre os genitores, não foram
comprovados atos de repúdio ao genitor ou prejuízo à criação e à manutenção
de vínculos (art. 2º, caput, da Lei 12.318/2010). Nesse contexto, concluíram que
não houve alienação parental e que foi fixado regime de visitação adequado,
observados os princípios do melhor interesse do adolescente e do livre
convencimento motivado das decisões. Por fim, negaram provimento ao
recurso.
Direito do Consumidor
Suicídio de idoso em clínica geriátrica – danos morais aos
filhos
Enseja o dever de reparação a título de danos morais o suicídio de idoso em
instituto geriátrico, o qual não adotou, com eficiência, a cautela necessária
para resguardar a vida do paciente. A turma confirmou a condenação de
centro geriátrico ao pagamento de danos morais aos filhos de idoso internado
na clínica, em razão do suicídio do paciente em suas dependências. Na origem,
os dois filhos ingressaram com ação de danos morais, alegando que a
internação do pai fora necessária para preservar sua integridade física, em razão
do quadro depressivo e da tentativa de autoextermínio apresentada em
momento anterior. O juízo singular condenou a clínica ao pagamento de oitenta
mil reais a cada um dos autores. Interposta apelação pela requerida, os
desembargadores consignaram a incidência das normas consumeristas, uma
vez que o instituto geriátrico se caracteriza como fornecedor de serviço. Nesse
sentido, asseveraram que a responsabilidade é objetiva, porque embasada no
risco da atividade, bastando a demonstração da falha na prestação do serviço,
a relação de causalidade e o resultado lesivo. Os julgadores reconheceram o
nexo de causalidade entre a ausência de vigilância sobre o paciente e o
resultado danoso, situação enunciadora do não cumprimento do mister da
clínica – prover segurança e acompanhamento físico corporal ao paciente
internado, principalmente porque fora advertida a respeito do quadro de
depressão e ideação suicida, documentado pela sua equipe médica. Nesse
descortino, a turma considerou a natureza in re ipsa do dano, ou seja,
dispensável de comprovação do efetivo prejuízo. Assim, por entender que a
indenização não busca a reparação pela vida perdida, mas voltada para
compensar o sofrimento e a angústia dos filhos, privados do convívio com o pai,
o colegiado negou provimento ao recurso.
Direito Empresarial
Contrato entre empresas – intermediação de pagamentos
com cartão de crédito – assunção de riscos do negócio
O instrumento contratual celebrado entre pessoas jurídicas para
intermediação de pagamentos com cartão de crédito presume-se paritário,
de sorte que prevalecem as previsões acordadas expressamente quanto à
assunção do risco econômico decorrente de contestações e
cancelamentos de compras. Na origem, uma drogaria pleiteou em juízo
reparação por danos materiais e morais contra empresa contratada para
intermediar pagamentos por meio de cartão de crédito e outras vias. Apontou a
existência de descontos nos recebimentos, que considerou serem indevidos,
relativos a compras que teriam sido contestadas por consumidores. À vista da
decisão de improcedência dos pedidos na primeira instância, a autora requereu
a reforma do julgado em apelação. No exame do recurso, os desembargadores
inicialmente afastaram a aplicação do Código de Defesa do Consumidor, por se
tratar de serviço voltado para incrementar atividade negocial de pessoa jurídica,
além de estar ausente, no caso, vulnerabilidade técnica ou jurídica. Em seguida,
aduziram a presunção de paridade entre as sociedades contratantes, de modo
a prevalecer a força obrigatória do contrato (pacta sunt servanda). Nessa
perspectiva, observaram a existência de cláusulas negociais expressas quanto
à ausência de repasse de quantias pela intermediadora de pagamentos, na
hipótese em que o portador do cartão de crédito contesta a transação. De
acordo com o instrumento contratual, portanto, nessas circunstâncias, o débito
passa a ser assumido pelo estabelecimento vendedor do produto. Como
consequência, o colegiado atribuiu ao risco da atividade econômica a assunção
integral da responsabilidade por parte da autora, em caso de contestação ou de
cancelamento de transações (art. 421-A, II, do Código Civil), porquanto não é
possível imputar à instituição de pagamentos encargo relacionado à tomada de
decisão pertinente ao emissor do cartão de crédito. Assim, por considerar que o
estabelecimento assentiu contratualmente em absorver tais prejuízos, a turma
negou provimento ao recurso.
Direito Tributário
Incidência de ICMS sobre tarifas de energia elétrica –
pagamento pelo consumidor final – Tema 986 do STJ
As tarifas de uso e de distribuição, além de encargos e despesas setoriais,
lançadas na fatura de energia elétrica e suportadas diretamente pelo
consumidor, integram a base de cálculo do ICMS. Microempreendedor
impetrou mandado de segurança contra ato do subsecretário da receita da
Secretaria de Fazenda do Distrito Federal, para reaver os valores pagos a título
de Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS, cobrados sobre a
transmissão e a distribuição de energia elétrica. Em primeira instância, a
segurança foi denegada. Ao analisar a apelação do impetrante, os
desembargadores aduziram que o Superior Tribunal de Justiça, por meio do
Tema Repetitivo 986, firmou tese para definir que a Tarifa de Uso do Sistema de
Transmissão (TUST) e a Tarifa de Uso de Distribuição de Energia Elétrica (TUSD)
integram a base de cálculo do imposto, quando o encargo for suportado
diretamente pelo consumidor final. Nesse contexto, afirmaram que referida
base deve incidir sobre todos os valores do processo de fornecimento de energia
elétrica efetivamente consumida pelo usuário, uma vez que as etapas de
distribuição trabalham de forma interdependente. Para a turma, as
mencionadas tarifas têm natureza jurídica de encargo setorial e, pelas regras de
hermenêutica jurídica, o precedente qualificado do STJ deve ser aplicado às
despesas semelhantes, embora com nomes diferentes. Assim, o colegiado
aduziu que as tarifas e as despesas setoriais incidentes sobre a energia elétrica,
que possuam a mesma natureza da TUST e da TUSD, integram a base de cálculo
do ICMS. Em acréscimo, destacaram que a norma que vedava expressamente a
incidência do tributo sobre serviços de transmissão, distribuição e encargos
setoriais vinculados ao fornecimento de energia elétrica (Lei Complementar
194/2022), teve os efeitos suspensos por decisão liminar (ADI 7195/DF). Assim,
concluíram inexistir ilegalidade na inclusão das tarifas na base de cálculo do
ICMS, razão pela qual negaram provimento ao recurso.