TCC_GeologiaGranitoChaval
TCC_GeologiaGranitoChaval
TCC_GeologiaGranitoChaval
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
FACULDADE DE GEOLOGIA
BELÉM – PA
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
FACULDADE DE GEOLOGIA
_________________________________________________
BELÉM – PA
2018
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD
Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal do Pará
Gerada automaticamente pelo módulo Ficat, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
CDD 553.52097134
iv
AGRADECIMENTOS
Ao professor Dr. Francisco de Assis Matos de Abreu, por ter aceitado me orientar para
que este trabalho se concretizasse. Também por sua paciência e disposição de sempre se fazer
presente nos momentos em que as dúvidas surgiram. Também a todo corpo acadêmico do curso
de geologia da UFPA que de alguma forma contribuíram para meu conhecimento geológico.
Aos meus pais Antônio e Januária, que sempre fizeram o possível para que eu pudesse
me dedicar aos estudos, e me apoiaram de diferentes formas. Também, aos meus irmãos e irmãs,
sobrinhos e sobrinhas, e minha tinha Fatinha.
Ao investimento por parte do CNPq para realização de intercâmbio, o que era, dentro da
minha realidade, um sonho, que se tornou realidade. Este foi um período que me fez crescer
muito além do campo profissional, me fez crescer como pessoa.
Aos amigos que fiz durante a graduação e que levarei para a vida Alan Silva, Allan
Lima, Lívia, Ronny, Tuanny, Jonhatan e Rosany. Obrigado pelos momentos de risadas, mas
também pelos momentos de reflexão. Pelas trocas de informações e nos ajudarmos dentro e fora
do meio acadêmico. Também a Beatriz por pelo apoio e ajuda com banco de dados sobre o
Granito Chaval.
vi
RESUMO
O Granito Chaval tem sido estudado ao longo das últimas décadas como mostram várias
publicações, as quais, individualmente, tratam de diferentes tópicos de sua geologia. Dessa
constatação surgiu a ideia da compilação de parte dessas obras com o objetivo de estabelecer o
estado da arte sobre o conhecimento desse corpo ao que se adicionaram novas informações a
partir da análise de produtos de sensoriamento remoto. A pesquisa bibliográfica aos mais
variados tipos de publicações, a partir da internet, teve como ferramenta o software Adobe
Reader para a filtragem dos trabalhos encontrados. Uma contribuição para melhorar os aspectos
cartográficos do corpo utilizou a análise de imagem aerogamaespectrométrica, infelizmente
restrita, por insuficiência de dados, à porção do granito que ocorre na Folha Chaval. O Granito
Chaval é assim, uma rocha que aflora principalmente em forma de inselbergs, cuja classificação
petrográfica, o situa como granito, com extensão para os campos do monzogranito, sienito e
metamonzogranito, com duas texturas principais, ígnea (a oeste) e milonítica (a leste). O Chaval
é resultado da cristalização de um magma Neoproterozóico, o qual encerra uma grande
população de zircões herdados de litotipos Paleo a Mesoproterozóico, bem como registra a
influência de evento termal que levou a abertura do sistema mineral do corpo no Paleozóico. A
organização espacial no qual o corpo se estabelece é o da geometria-cinemática do domínio
Médio Coreaú, marcada por uma configuração de leques de rochas imbricadas com vergência
para o cráton São Luis. As interpretações sobre dados e informações compiladas nesse trabalho
reafirmam as observações apresentadas nos estudos já realizados. No entanto elas sugerem a
possibilidade de um detalhamento cartográfico, definindo a espacialidade de texturas, estruturas
tectogenas, diferenças composicionais e sítios mais destacados de influência de protólitos
quando da formação do magma gerador do corpo, o que pode trazer contribuições mais robustas
ao conhecimento sobre o Granito Chaval e a sua importância no contexto da evolução
geotectônica do Domínio Médio Coreaú.
ABSTRACT
The Chaval granite has been studied over the last decades as shown by several publications,
which individually deal with different topics of their geology. From this finding came the idea of
compiling some of these works with the objective of establishing the state of the art about the
knowledge of this body to which new information was added from the analysis of remote sensing
products. The bibliographical research to the most varied types of publications, from the internet,
had as a tool the Adobe Reader software for the filtering of the works found. A contribution to
improve the cartographic aspects of the body used the aerogammaspectrometry image analysis,
unfortunately restricted, due to insufficient data, to the portion of the granite that occurs in
Chaval Sheet. The Chaval granie is thus a rock that emerges mainly in the form of inselbergs,
whose petrographic classification, situates it as granite, extending to the fields of monzogranite,
syenite and metamonzogranite, with two main textures, igneous (to the west) and milonítica ( to
the east). The Chaval is the result of the crystallization of a Neoproterozoic magma, which
encloses a large population of zircons inherited from Paleo to Mesoproterozoic lithotypes, as
well as records the influence of thermal event that led to the opening of the body mineral system
in the Paleozoic. The spatial organization in which the body is established is that of the
kinematics geometry of the Médio Coreaú dominion, marked by a configuration of rocks fans
imbricated with vergence for the São Luis craton. The interpretations of data and information
compiled in this paper reaffirm the observations presented in the studies already carried out.
However, they suggest the possibility of a cartographic detailing, defining the spatiality of
textures, tectonic structures, compositional differences and more prominent sites of influence of
protoliths when the body's generating magma is formed, which can bring more robust
contributions to the knowledge about the Chaval granite and its importance in the context of geo-
tectonic evolution of the Médio Coreaú Domain.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 3.5 - Modelo esquemático da seção geológica de Camocim (CE) a Rosário (MA) com
base na análise de gravimetria, com Granito Chaval mais a B da seção. Fonte:
Jorge (2013). .......................................................................................................... 17
Figura 3.6 – Mapa geológico da região onde se localiza o Granito Chaval, digitalizado a
partir das Folhas Chaval (SA.24-Y-C-II) e Buriti dos Lopes (AS.24-Y-C-I)
publicadas no Projeto Jaibaras (1973). A NE têm-se os pontos estudados por
Nogueira (2013) e Oliveira (2016), a CO está a região estudada por Lima (1997).
............................................................................................................................... 18
Figura 3.7 – Imagens microscópicas do Granito Chaval. Em A nota-se a matriz granular
hipidiomórfica com cristais de microclínio com intercrescimento micropertítico.
Em B e C há intercrescimento mimerquítico. Em D ocorrem cristais de quartzo
sem recristalização em matriz granular hipidiomórfica. Em E têm-se cristais de
biotita subédricos. Por fim, em F percebe-se cristais de titanita formando
agregados com a biotita. Fonte: Adaptado de Nogueira (2013). ........................... 21
Figura 3.8 – Imagem das duas feições típicas do Granito Chaval. Em A o Chaval se apresenta
com estrutura primária de origem ígnea plutônica, nota-se os megacristais
tabulares de álcali feldspato. Já em B este granito se mostra com feições de
zoneamento oscilatório, em destaque ocorre álcali feldspato de comportamento
frágil-dúctil, levemente deformado. Fonte: Adaptado de Gorayeb & Lima (2014).
............................................................................................................................... 22
Figura 3.9 – Imagens microscópicas do granito Chaval mostrando as fácies biotita
metamonzogranito e muscovita metamonzogranito , respectivamente. Em A
ocorre quartzo recristalizado, policristalino, de extinção ondulante, agregados
microcristalinos. Em B percebe-se a foliação milonítica definida pelos cristais de
muscovita orientados. Fonte: Adaptado de Oliveira (2016). ................................. 23
Figura 3.10 – Imagem do Granito Chaval com enclave magmático bordeados por biotita e
anfibólio, podendo tal fenômeno ser resultado da mistura de magmas basálticos e
graníticos. Fonte: Gorayeb & Lima (2014). .......................................................... 25
Figura 3.11 – Representação gráfica da análise geoquímica do Granito Chaval, onde observa-
se a característica cálcio-alcalina desta rocha. Fonte: Aragão (2018). .................. 26
Figura 3.12 – Granito Chaval com foliação protomilonítica definida por porfiroclastos de K-
feldspato no sentido dextral com cisalhamento strike-slip. Fonte: Santos et al.
(2008)..................................................................................................................... 29
xi
Figura 3.13 – Mapa de domínios estruturais do Granito Chaval proposto por Gorayeb e Lima
(2014), com os domínios A e B, e subdomínios B1e B2. Fonte: Gorayeb & Lima
(2014)..................................................................................................................... 30
Figura 3.14 – Fotos panorâmicas de afloramentos do Granito Chaval no município de
Chaval/PI. Percebe-se o relevo em forma de inselbergs. Fonte: Do autor. ........... 31
Figura 3.15 – Fotos do Granito Chaval dentro dos limites da cidade de Chaval/PI. Em A e B
têm-se a ocorrência do sienogranito com fenocristais de plagioclásio. Em C nota-
se a coloração acinzentada da rocha, classificada como monzogranito. Em D há
ocorrência de veio félsico no sienogranito. Fonte: Do autor. ................................ 32
Figura 3.16 - Carta Cronoestratigráfica mostrando os métodos de datação geocronológicos
aplicados no Granito Chaval e as idades encontradas. Fonte: Do autor. ............... 33
Figura 3.17 – Mapa do Granito Chaval mostrando suas classificações e idades através de
dados coletados por diferentes autores através dos anos. Fonte: Do autor. ........... 34
Figura 4.1 – Variação nos teores médios de U e Th nas rochas ígneas em relação ao teor de
sílica. Fonte: Ribeiro et al. (2013). ........................................................................ 37
Figura 4.2 - Mapa de contagem total de radiação gama da Folha Chaval, adaptado do Projeto
aerogeofísico Norte do Ceará. A forma do Granito Chaval tem como base o
mapeamento das Folhas Buriti dos Lopes e Chaval do Projeto Jaibaras. Fonte: Do
autor. ...................................................................................................................... 40
Figura 4.3 - Mapa do teor do radioelemento tório da Folha Chaval, adaptado do Projeto
aerogeofísico Norte do Ceará. A forma do Granito Chaval tem como base o
mapeamento das Folhas Buriti dos Lopes e Chaval do Projeto Jaibaras. Fonte: Do
autor. ...................................................................................................................... 41
Figura 4.4 - Mapa do teor do radioelemento urânio da Folha Chaval, adaptado do Projeto
aerogeofísico Norte do Ceará. A forma do Granito Chaval tem como base o
mapeamento das Folhas Buriti dos Lopes e Chaval do Projeto Jaibaras. Fonte: Do
autor. ...................................................................................................................... 42
Figura 4.5 - Mapa do teor do radioelemento potássio da Folha Chaval, adaptado do Projeto
aerogeofísico Norte do Ceará. A forma do Granito Chaval tem como base o
mapeamento das Folhas Buriti dos Lopes e Chaval do Projeto Jaibaras. Fonte: Do
autor. ...................................................................................................................... 43
xii
Figura 4.6 - Mapa ternário da Folha Chaval, adaptado do Projeto aerogeofísico Norte do
Ceará. A Forma do Granito Chaval tem como base o mapeamento das Folhas
Buriti dos Lopes e Chaval do Projeto Jaibaras. Fonte: Do autor. .......................... 44
Figura 4.7 - Mapa gamaespectrométrico da razão Th/K da Folha Chaval, adaptado do Projeto
aerogeofísico Norte do Ceará. A forma do Granito Chaval tem como base o
mapeamento das Folhas Buriti dos Lopes e Chaval do Projeto Jaibaras. Fonte: Do
autor. ...................................................................................................................... 46
Figura 4.8 - Mapa gamaespectrométrico da razão U/K da Folha Chaval, adaptado do Projeto
aerogeofísico Norte do Ceará. A forma do Granito Chaval tem como base o
mapeamento das Folhas Buriti dos Lopes e Chaval do Projeto Jaibaras. Fonte: Do
autor. ...................................................................................................................... 47
Figura 4.9 - Mapa gamaespectrométrico da razão U/Th da Folha Chaval, adaptado do Projeto
aerogeofísico Norte do Ceará. A forma do Granito Chaval tem como base o
mapeamento das Folhas Buriti dos Lopes e Chaval do Projeto Jaibaras. Fonte: Do
autor. ...................................................................................................................... 48
Figura 5.1 - Foco nos teores dos radioelementos K e Th, e nas razões U/K e Th/K em parte da
região NE do Granito Chaval. Nota-se uma abrupta variação nos teores desses
radioelementos, assim como suas razões, podendo tal fenômeno ser um indicador
de fonte magmática distinta. Fonte: Do autor ........................................................ 52
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1 – Tabela de classificação do Granito Chaval segundo os autores citados neste
tópico, com suas respectivas mineralogias principais. Fonte: Do autor. ............... 24
Tabela 3.2 – Idades encontradas para o Granito Chaval, com os autores que publicaram os
dados e seus respectivos métodos utilizados para tais resultados. Fonte: Do autor.
............................................................................................................................... 28
Tabela 4.1 – Variação da concentração média dos radioelementos em rochas e solos na
Austrália. Fonte: Ribeiro et al. (2013). .................................................................. 38
xiv
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA ......................................................................................................................iv
AGRADECIMENTOS .............................................................................................................v
EPÍGRAFE ..............................................................................................................................vi
RESUMO ................................................................................................................................vii
ABSTRACT ...........................................................................................................................viii
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1
REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 54
1
INTRODUÇÃO
1.1 APRESENTAÇÃO
Neste Trabalho de Conclusão Curso é feito uma apreciação sobre o estado da arte
acerca do conhecimento relativo ao Granito Chaval. As informações dizem respeito
principalmente à petrografia, geoquímica, geocronologia e geologia estrutural deste corpo. Os
dados, sempre que disponibilizado pelos autores, são espacializadas, geograficamente.
1.3 OBJETIVOS
O principal objetivo deste estudo é fazer uma compilação dos dados já publicados
sobre o Granito Chaval e associa-los, criando assim, um banco de dados sobre o corpo, ao que
se associa uma análise de dados gamaespectrométricos deste granito, na área de cobertura da
Folha Chaval.
Figura 1.1 – Mapa de localização do Granito Chaval dentro do território brasileiro, com foco no noroeste da região nordeste
do Brasil . O granito se encontra na região NW Ceará e NE do Piauí. Fonte: Do autor
Dentro desta metodologia, será utilizado aqui o método multicritério proposto por
Treinta et al. (2014). Neste processo é formada uma base de dados preliminar bruta, sendo
esta dos mais variados tipos de publicações (livros, artigos, resumos, entre outros). A partir
desta base de dados aplicam-se filtros para chegar a dados convergentes com os objetivos da
pesquisa.
Para o levantamento da base de dados bruta foi feito pesquisa tanto em meio digital,
como impresso pelo termo “Província Borborema”. A partir destes dados foi aplicado o
primeiro filtro, utilizando o software Adobe Reader foi feito busca pelo termo “Domínio
Médio Coreaú”. Por fim, fez-se pesquisa sobre o Granito Chaval, usando a mesma ferramenta
citada anteriormente.
Como resultado deste procedimento foi criado um conjunto de publicações das mais
diferentes vertentes (artigos, teses, dissertações, trabalhos de conclusão de curso, entre outros)
que sejam focadas diretamente no estudo do Granito Chaval, ou que tenha referências a este
de forma secundaria.
Finalizada a etapa que foca no estado da arte relativo ao Granito Chaval, foi feito
análise de aerogamaespectrometria deste corpo rochoso. As imagens de gamaespectrometria
analisadas neste estudo têm como fonte a CPRM, a qual torna público tais imagens por meio
do Programa Geologia do Brasil, Projeto Aerogeofísico Norte do Ceará (2009). O
levantamento foi feito no Norte do Estado do Ceará. Esta análise se deu através de perfis
aeromagnetométrico e aerogamaespectrométricos, sendo as linhas de voo direcionadas
segundo N-S e E-W com os respectivos espaços entre as linhas de voo de 0,5 km e 10 km, o
qual teve altura de 100 m.
O Granito Chaval mapeado no Projeto Jaibaras foi sobreposto aos mapas de imagem
gamaespectrométrica. A partir desta junção foram analisadas diferentes questões sobre esta
rocha, sendo principalmente a sua composição e forma.
Por fim, foi feito cruzamento do estado da arte do Granito Chaval com as análises de
gamaespectrometria, afim de não somente retificar as informações geológicas já conhecidas
deste corpo, mas também de levar a novas conclusões e levantar novas discussões.
Figura 1.2 – Fluxograma sumarizando as seis etapas da metodologia aplicada para a pesquisa de publicações sobre o Granito
Chaval, desde as consultas iniciais nos trabalhos relacionados a Província Borborema até os estudos finais que fazem
referência direta ao Chaval. Fonte: Do autor
6
Figura 1.3 - Fluxograma de processamento de dados de gamaespectrometria. A imagem de contagem total é separada em K,
eU e eTh para então ser gerado o mapa de composição ternário RGB, onde o branco indica ocorrência dos três
radioelementos e o preto a ausência dos três. Fonte: Baseado no fluxograma de Silva (2014).
7
Hasui (2012) afirma que esta província se limita a oeste com a Bacia do Parnaíba, a
sul com o Cráton São Francisco, a leste pela Província da Margem Continental Leste e a norte
pela Província de Margem Continental Equatorial. Este mesmo autor diz que a Província
Borborema é um aglomerado de porções do embasamento, microcontinentes e faixas
orogênicas do Arqueano ao Neoproterozóico, separadas por zonas de cisalhamento
transcorrente e de empurrão. São as feições transcorrentes mais expressivas, os lineamentos
Patos e Pernambuco.
É dentro do contexto do Domínio Médio Coreaú (Fig. 2.2) que se encontra o Granito
Chaval. Este Domínio está localizado no extremo NE da PB, a norte limita-se ao Cráton São
Luís, a sul estende até o Domínio Ceará Central e a oeste termina junto a Bacia do Parnaíba
(Mendizábal 2013). De acordo com Santos et al. (2004) o embasamento do Médio Coreaú é
formado por gnaisses. Estas formações do embasamento foram, durante a Orogenia
Brasiliana, intrudidas por granitoides sin e pós-tectônicos. Sobrepostos ao embasamento estão
as sequências supracrustais dos grupos Ubajara e Martinópole (ambos Neoproterozóicos).
8
Figura 2.1 - Classificação da Província Borborema em domínios (Médio Coreaú, Cearense, Rio Grande do Norte, Zona
Transversal e Externo) e terrenos tectono-estratigráficos. Fonte: Brito Neves (2008).
9
Figura 2.2 – Mapa do Domínio Médio Coreaú, NW da Província Borborema. Percebe-se a predominância do Complexo
Granja e Grupo Martinópole. O Granito Chaval se apresenta no extremo NW deste domínio. Fonte: Adaptado de Hasui
(2011).
2.1.1.1 Embasamento
Datações usando métodos U-Pb e Sm-Nd feitas por Fetter et al. (1995, 2000)
indicam idades de 2.36-2.3 Ga, o que os coloca no Paleoproterozoico Iinferior. Sendo suas
idades modelo entre 2.61-2.38 Ga e com valores de ƐNd positivos, conclui-se que estas rochas
representam crosta juvenil, possivelmente gerada em ambiente de arc-type.
Fetter et al. (2004) consideram as formações Trapiá e Frecheirinha uma só, citando a
ocorrência da sequência vulcano-sedimentar entre as formações Caiçaras e Trapiá-
Frecherinha. Esta sequência é uma ocorrência de rochas vulcânicas félsicas a intermediarias,
onde observa-se traqui-andesitos, riodacitos, riolitos, brechas vulcânicas e tufos.
11
Hasui (2012) enfatiza ainda que as suítes pré- a sintecteônicas foram gnaissificadas e
constituem parte de jazimento estratoide. Nas suítes sin- a tarditectônicas há ocorrência de
enclaves máficos no Grupo Cachoeirinha e Complexo Salgueiro-Riacho Gravatá, sendo as
demais porfiríticas. E as suítes pós-tectônicas são subalcalinas a alcalinas.
12
A orientação geral das estruturas internas observadas nas rochas, assim como seus
alongamentos, seguem a direção geral NE, observada nas porções norte e sudeste (Hasui,
2012). Entretanto, na região próxima ao batólito Tamboril-Santa Quitéria, assim como nas
regiões oeste e nordeste, há desvios significativos para direções variadas. Ainda de acordo
com Hasui (2012), na sua maioria, as foliações e contatos destas rochas apresentam
mergulhos de baixo a médio ângulo e próximo as zonas de cisalhamento transcorrente tendem
a se distorcer em função do deslocamento, adquirindo posturas verticalizadas.
De acordo com Hasui (2012), o alongamento dos corpos litológicos deste domínio,
assim como suas estruturas internas e zonas de cisalhamento apresentam um padrão
geométrico que acompanham a geometria geral de arco com convexidade voltada para
noroeste, constituídos de lascas lentiformes e sigmoides justapostos.
13
Ao sul do lineamento Pernambuco até o Cráton São Francisco tem-se o Domínio Sul
ou Externo, composta por três principais subdomínios (Van Schmus et al., 2011): Riacho do
Pontal, Pernambuco-Alagoas e Sergipano.
Figura 3.1 – Folha Buriti dos Lopes (SA.24-Y-C-I) mapeada através Projeto Jaibaras , o Granito Chaval é o corpo de cor
marrom em NE do mapa. Fonte: Costa et al. (1973).
15
Figura 3.2 – Mapa da Folha Chaval (SA.24-Y-C-II) proposto pelo Projeto Jaibaras, com o Granito Chaval em marrom no
região NW do mapa. Fonte: Costa et al. (1973).
Gorayeb & Lima (2014) relatam que o Granito Chaval é um batólito de cerca de
2.000 km², o qual aflora principalmente em drenagens e morros de baixa expressão
topográfica, com altitudes de até 350 m. A norte tem uma considerável porção coberta por
depósitos cenozoicos costeiros. Ao se distanciar da costa, o Chaval se mostra em morros e
serras de topos abaulados. Tem relação intrusiva com os ortognaisses tonalíticos e
16
Figura 3.3 – Seção geológica esquemática Chaval-Sobral proposta por Goraryeb e Lima (2014) mostrando a relação do
Granito Chaval com o Grupo Martinópole, limitado pela zona de cisalhamento Santa Rosa. Fonte: Gorayeb & Lima (2014).
Percebe-se que grande parte dos autores estudou o Granito Chaval como um todo,
adotando resultados generalistas em relação à localização geográficas das análises realizadas.
No entanto, há alguns autores que indicam a região em que a análise foi realizada ou até
mesmo apontam as coordenadas dos pontos estudados, como foi feito por Lima (1997),
Nogueira (2013) e Oliveira (2016), a localização das áreas estudadas por estas autoras estão
na figura 3.6.
Foi elaborado por Jorge (2013) um perfil geológico, com base em análise
gravimétrica desde Camocim (CE) até Rosário (MA) (Fig. 3.5). Este perfil corta o Granito
Chaval ao longo da direção W-E, logo, através da observação deste perfil podem-se conhecer
os limites leste e oeste do Chaval. Assim, têm-se que no limite W o Chaval faz contato com as
rochas do embasamento do cráton São Luis, além de rochas sedimentares da bacia do
Parnaíba. Já para leste, o Chaval se limita nas rochas do embasamento do Domínio Médio
Coreaú, Complexo Granja.
17
Figura 3.4 – Em A, Folha Fortaleza (SA.24) mapeada através do Programa Geologia do Brasil. Em B, foco no Granito
Chaval (em rosa). Fonte: Vasconcelos et al. (2004).
Figura 3.5 - Modelo esquemático da seção geológica de Camocim (CE) a Rosário (MA) com base na análise de gravimetria,
com Granito Chaval mais a B da seção. Fonte: Jorge (2013).
18
Figura 3.6 – Mapa geológico da região onde se localiza o granito Chaval, digitalizado a partir das Folhas Chaval (SA.24-Y-C-II) e Buriti dos Lopes (AS.24-Y-C-I) publicadas no Projeto Jaibaras (1973). A
NE têm-se os pontos estudados por Nogueira (2013) e Oliveira (2016), a CO está a região estudada por Lima (1997).
19
Abreu (1990) diz que, em visão regional, o corpo do Granito Chaval apresenta
variações no tamanho dos minerais e na orientação destes, podendo ser observado porções
com cristais orientados ou não. Este autor classifica o Chaval como quartzo-monzogranito,
granodiorito e quartzo-sienito. Há porções com perceptível orientação dos cristais, não muito
grandes, os quais tiveram seu tamanho reduzido por processos de deformação, nas porções
com menor deformação, há a ocorrência de fenocristais de feldspato.
Para Abreu (1990) podem ser observadas duas fácies distintas no granitoide Chaval,
fácies porfirítica e fácies milonítica. A primeira apresenta uma matriz média a grossa,
suportando megacristais de microclínio (de até 15 cm). Na matriz se destacam anfibólio,
biotita e quartzo, com formas idiomórficas a subdiomórficas. Também ocorrem segregações
de cristais máficos. A fácies milonítica ocorre nas porções onde há deformação. Já em regiões
que se percebe o processo de redução dos grãos, a matriz é fina a média, sendo perceptível a
ocorrência de milonitização em alguns trechos. Ainda segundo Abreu (1990) nas
proximidades das faixas de cisalhamento os contatos entre a fácies milonítica e porfirítica são
bruscos.
De acordo com Lima (1997), de uma forma geral, a porção não deformada do
Granito Chaval é uma rocha fanerítica, grossa, cinza claro, leucocrática, de textura porfirítica
marcante, com um conjunto mineral formado por quartzo, microclina, plagioclásio e biotita.
São caracterizados dois litotipos o biotita-microclina granito e o monzogranito porfirítico.
Podem ser observado no microclina-quartzo sienito, variações composicionais localizadas,
pois há porções mais félsicas onde se notam fenocristais de álcali-feldspato acumulados,
ocupando cerca de 90% da rocha. No entanto, também são observadas porções menos
félsicas.
Lima (1997) diz também que na região do município de Bom Princípio (PI) foram
observados três fácies no Granito Chaval, as quais são microclina granito, monzogranito e
20
quartzo sienito. A primeira tem coloração róseo-acinzentada, de matriz composta por álcali-
feldspato, quartzo e plagioclásio, com fenocristais de microclina, podendo ter mais que 10 cm.
A fácies monzogranito tem coloração cinza-esbranquiçada, de matriz hipidiomórfica
composta por quartzo, plagioclásio, biotita e microclina, com fenocristais de microclina e
plagioclásio. Por fim, a fácies quartzo sienito é mais esbranquiçada, enriquecida em álcali-
feldspato e empobrecida em quartzo, chegando a apresentar 97% de microclina.
Para Delgado et al. (2003) a formação do Granito Chaval se deu por uma supersuíte
intrusiva sin a tardiorogênica. Esta suíte é composta principalmente por granodiorito, com
litofácies quartzo-monzonito e quartzo-sienito. Apresenta também foliação milonítica em suas
bordas.
Segundo Santos et al. (2008) o Granito Chaval é uma intrusão sinorogênica e com
fortes indícios de cisalhamento. Este pluton intrudiu o embasamento Granja e o Grupo
Martinópole, com afinidade crustal e composição abrangendo granito, granodiorito, quartzo
monzonito e quartzo sienito porfirítico.
Nogueira (2013) apresenta o Granito Chaval como uma rocha leucocrática, cinza
levemente rosada, inequigranular grossa, hipidiomórfica. A matriz é porfirítica com
fenocristais de álcali-feldspato. Composta por feldspato (microclínio), plagioclásio, quartzo e
biotita. Esta autora identificou o Chaval como biotita monzogranito e biotita sienogranito
porfirítico. Na figura 3.7 há mais observações microscópicas feitas por esta mesma autora.
Figura 3.7 – Imagens microscópicas do Granito Chaval. Em A destacamos a matriz granular hipidiomórfica com cristais de
microclínio com intercrescimento micropertítico. Em B e C há intercrescimento mimerquítico. Em D ocorrem cristais de
quartzo sem recristalização em matriz granular hipidiomórfica. Em E têm-se cristais de biotita subédricos. Por fim, em F
percebe-se cristais de titanita formando agregados com a biotita. Fonte: Adaptado de Nogueira (2013).
Figura 3.8 – Imagem das duas feições típicas do Granito Chaval. Em A o Chaval se apresenta com estrutura primária de
origem ígnea plutônica, nota-se os megacristais tabulares de álcali feldspato. Já em B este granito se mostra com feições de
zoneamento oscilatório, em destaque ocorre álcali feldspato de comportamento frágil-dúctil, levemente deformado. Fonte:
Adaptado de Gorayeb & Lima (2014).
Gorayeb & Lima (2014) dizem que por consequência do fluxo magmático há
ocorrência de alinhamento preferencial de megacristais euédricos de K-feldspato em matriz
grossa, ocorrendo também acumulação de cristais de K-feldspato, causados pela migração dos
movimentos convectivos do magma residual. Há variações composicionais e granulométricas
no acamamento e bandamento magmático. Ainda, ocorrem pegmatitos.
Para Gorayeb & Lima (2014) nas porções em que o Chaval se apresenta deformado,
quanto mais a leste, o granito vai se mostrando em tons de cinza mais escuros, e apesar deste
permanecer porfiróide, há uma diminuição no tamanho dos cristais, tornando-se notório uma
trama milonítica, com porfiroclastos de K-feldspato e biotita amendoados e fitas de quartzo.
Conforme Oliveira (2016) o Granito Chaval, na pedreira São Domingos, é uma rocha
porfirítica e holocristalina, de coloração branca acinzentada com matriz levemente orientada.
Fenocristais centimétricos são cercados por matriz fanerítica. A mineralogia dominante é
composta por feldspato, biotita e quartzo. A rocha apresenta ainda veios pegmatíticos de
23
granulação muito grossa, com muscovita, turmalina e berilo. Contém também veios apliticos
de cor amarela-rosada, granulação fina e composição sienítica.
Figura 3.9 – Imagens microscópicas do Granito Chaval mostrando as fácies biotita metamonzogranito e muscovita
metamonzogranito , respectivamente. Em A ocorre quartzo recristalizado, policristalino, de extinção ondulante, agregados
microcristalinos. Em B percebe-se a foliação milonítica definida pelos cristais de muscovita orientados. Fonte: Adaptado de
Oliveira (2016).
feldspato, plagioclásio, quartzo e biotita. Segundo este autor, o Chaval é classificado como
monzogranito e granodiorito.
Tabela 3.1 – Tabela de classificação do Granito Chaval segundo os autores citados neste tópico, com suas respectivas
mineralogias principais. Fonte: Do autor.
Álcali-feldspato,
plagioclásio, quartzo e
Aragão (2018) Monzogranito e granodiorito
biotita
Em relação a geoquímica do Granito Chaval, Gorayeb & Lima (2014) citam que
podem ser observados rastros de migração de fases magmáticas residuais tardias em direção
25
as regiões de menor pressão. Estes autores também levantam a hipótese da reação entre um
magma basáltico e outro granítico, o que seria evidenciado pela ocorrência de enclaves
microgranitoides que são contornados por uma concentração de biotita e anfibólio (Fig.3.10).
Figura 3.10 – Imagem do Granito Chaval com enclave magmático bordeados por biotita e anfibólio, podendo tal fenômeno
ser resultado da mistura de magmas basálticos e graníticos. Fonte: Gorayeb & Lima (2014).
Uma análise geoquímica do Chaval também é apresentada por Aragão (2018), onde
são encontrados valores entre 64 a 75% de SiO2, 14 a 16% de Al2O3, 7 a 8.5% de álcalis e 3.5
a 5.5% de K2O. Adicionalmente, a maioria das amostras analisadas por este autor são
peraluminosas gradando para metaluminosas. Em relação ao diagrama AFM, o Chaval está
dentro da série cálcio-alcalina (Fig. 3.11).
apontam para um granito tipo I e S. Em acordo com os dados de Oliveira (2016), Aragão
(2018) afirma que o ambiente de formação do Chaval indica para um arco magmático
compatível com granitos de arco continental normal.
Figura 3.11 – Representação gráfica da análise geoquímica do Granito Chaval, onde observa-se a característica cálcio-
alcalina desta rocha. Fonte: Aragão (2018).
A primeira citação para uma idade do Granito Chaval é feita no Projeto Jaibaras
(Costa et al., 1973), onde a idade é estimada como Pré-cambriana. No entanto, não se utiliza
de método geocronológico específico para tal afirmação. Em 1989, Nogueira Neto et al. apud
Lima (1997) usou o método Rb-Sr para datação deste granito, encontrando idade de 507+-29
Ma.
Em 2008, Santos et al. utilizou o método U-Pb em monazita para datar o Granito
Chaval, encontrando idade de 563+-17 Ma. No entanto, este autor afirma que idade deste
granito é controversa principalmente pela ocorrência de zircões herdados. Já em 2013,
Nogueira aplicou, na região nordeste do Chaval, o método Pb-Pb por evaporação em zircão,
que resultou em idades de 633+-3.3 Ma.
Santos et al. (2008) diz que o Granito Chaval apresenta uma foliação incipiente. Na
porção norte do corpo ocorre foliação tectônica subparalela a foliação magmática de alta
temperatura, com deformação plástica do quartzo e biotita. Já na porção sul do granito, este é
mais afetado por um tectonismo transcorrente, o que levou a rotação dextral e paralela ao
trend da zona de cisalhamento strike-slip de Santa Rosa.
28
Tabela 3.2 – Idades encontradas para o Granito Chaval, com os autores que publicaram os dados e seus respectivos métodos
utilizados para tais resultados. Fonte: Do autor.
2200-2000 Ma
Paleoproterozóico/
Oliveira (2016) 1900-1700 Ma U-Pb
Mesoproterozóico
1200-800 Ma
Em (2014) Gorayeb & Lima propuseram dois domínios estruturais para o Granito
Chaval, Domínio A e Domínio B (Fig. 3.13). O primeiro está localizado a Noroeste do corpo
e é marcado pela trama ígnea. Já o Domínio B, a Sudeste é caracterizado por apresentar
deformação e foi separado em dois subdomínios B1 e B2. O domínio transicional (B1) é
marcado por deformação fraca à média, tornado possível a identificação da trama magmática.
29
O domínio milonítico (B2) apresenta forte deformação, mudando a classificação das rochas
para granito milonitizado.
Oliveira (2016) fez uma análise microestrutural do Granito Chaval, afirmando que as
principais estruturas observadas são de caráter dúctil. Este processo é marcado pelo contato
irregular entre os cristais, defeito no retículo cristalino dos minerais, resultando em cristais
com extinção ondulante e alongados. Também foi notado cristais com contatos serrilhados e
lobados. Foram identificadas texturas granular hipidiomórfica, poiquilítica e foliação
milonítica. Por fim, esta autora conclui que a porção do Granito Chaval aflorante na pedreira
São Domingos, em decorrência da implantação da Zona de Cisalhamento Santa Rosa, foi
submetida a metamorfismo de baixo grau metamórfico.
Figura 3.12 – Granito Chaval com foliação protomilonítica definida por porfiroclastos de K-feldspato no sentido dextral com
cisalhamento strike-slip. Fonte: Santos et al. (2008).
30
Figura 3.13 – Mapa de domínios estruturais do Granito Chaval proposto por Gorayeb & Lima (2014), com os domínios A e
B, e subdomínios B1e B2. Fonte: Gorayeb & Lima (2014).
Desde as suas primeiras aparições na literatura, o Granito Chaval reúne até esse
momento uma diversidade de dados, principalmente em relação a sua classificação
petrográfica e geocronologia. Esses dados diversos, por vezes distintos, muito podem ajudar
no sentido de construir conclusões para o entendimento da geologia desse corpo. No entanto,
um problema para compilação mais consistente destes dados é a ausência da localização
precisa de onde as informações foram coletadas pelos autores.
31
Figura 3.14 – Fotos panorâmicas de afloramentos do Granito Chaval no município de Chaval/PI. Percebe-se o relevo em
forma de inselbergs. Fonte: Do autor.
Figura 3.15 – Fotos do Granito Chaval dentro dos limites da cidade de Chaval/PI. Em A e B têm-se a ocorrência do
sienogranito com fenocristais de plagioclásio. Em C nota-se a coloração acinzentada da rocha, classificada como
monzogranito. Em D há ocorrência de veio félsico no sienogranito. Fonte: Do autor.
O Granito Chaval apresenta idades que vão desde 2200 Ma a 507 Ma. Percebe-se o
agrupamento destas idades em dois grupos principais (Fig 3.16). O grupo Neoproterozoico é
referente a cristalização do corpo granítico, que está aproximadamente entre 633 Ma a 544
Ma. O outro grupo é Paleoproterozóico, sendo estes zircões herdados das rochas encaixantes,
com idades entre 2200 Ma a 1700 Ma. Ainda, são registradas duas idades que não se
encaixam nos grupos citados, sendo uma Mesoproterozoica e outra Paleozóica. A primeira
também é referente a zircões herdados, já a segunda é resultado de abertura no sistema.
33
Figura 3.16 - Carta Cronoestratigráfica mostrando os métodos de datação geocronológicos aplicados no Granito Chaval e as
idades encontradas. Fonte: Do autor.
Em relação a sua geologia estrutural, a proposta apresentada por Gorayeb & Lima
(2014) é que abrange o corpo de forma mais ampla e inclui as ideias apresentadas por outros
autores. Esta proposta estabelece dois domínios estruturais para o Granito Chaval. O Domínio
A de trama ígnea e o Domínio B com feições de milonitização.
34
Figura 3.17 – Mapa do Granito Chaval mostrando suas classificações e idades através de dados coletados por diferentes autores através dos anos. Fonte: Do autor.
35
4.1 GAMAESPECTROMETRIA
A (International Atomic Energy Agency - IAEA 2003) diz que a radiação com maior
poder de penetração, vinda tanto de meios naturais quanto antrópicos, são os raios gama.
Radionuclídeos individuais emitem raios gama de energia específica que são características de
um elemento e isótopo que são captados pelos diferentes espectrômetros. As pesquisas com
raios gama permitem a interpretação de características regionais em grandes áreas. São usadas
na geologia, geoquímica ou mapeamento ambiental. Nem todos os radioisótopos produzem
raios gama com energia de intensidade suficiente para ser usado em mapeamento destes raios.
O potássio (⁴⁰K), urânio (²³⁸U e ²³⁵U) e tório (²³³Th) produzem raios de alta intensidade
suficiente para serem usados em mapeamento. Os espectrômetros leem os raios gama
emitidos por estes isótopos.
O potássio é um dos elementos mais ricos na crosta terrestre. Este elemento ocorre
principalmente associado a feldspatos potássicos, como ortoclásio e microclínio, com teores em
torno de 13%, mas também pode ser observado em algumas micas, como biotita e muscovita
com teores médio de 8%, e argilominerais. Logo, em relação a litologia, o potássio está presente
com valores mais elevados em rochas ígneas félsicas e suas equivalentes vulcânicas, assim como
em rochas metamórficas micáceas e em algumas rochas sedimentares como folhelhos e argilitos
(Ribeiro et al. 2013). Adicionalmente, Soares (2001) complementa que o intemperismo pode
influenciar nos teores de potássio nas rochas. Ao ser liberado por processos intempéricos, o K
pode formar ilita ou argilominerais.
36
De acordo com Soares (2001) o urânio é um dos elementos com menor concentração na
crosta. Os minerais com urânio primário mais comuns são monazita, xenotímio e zircão, mas
também ocorre em minerais a óxidos e silicatos, como a uraninita e uranotorita. Quando exposto
ao intemperismo, o urânio é liberado de alguns minerais e retido em óxidos de ferro autigênicos
e argilominerais.
Em relação ao tório, Soares (2001) diz que este também é um elemento de baixo teor na
crosta. Sua ocorrência está relacionada as minerais allanita, xenotímio, monazita e zircão, sendo
os dois últimos os principais minerais de tório primário e estáveis durante o intemperismo. No
entanto, o tório também pode ser liberado durante o intemperismo, quando este fenômeno
ocorre, este elemento é retido em minerais hidratados ou oxidados a base de Fe, Ti ou
argilominerais.
Ribeiro et al (2013) cita os estudos de Dickson & Scott (1997) para afirmar que o teor
médio dos radioelementos nas rochas ígneas é diretamente relacionado ao teor de sílica (Fig.
4.1). Logo, as rochas félsicas apresentam teores mais elevados de radioelementos do que as
rochas máficas (tabela 4.1). É possível afirmar também que as rochas formadas nos últimos
estágios de colocação ígnea apresentam valores mais altos de potássio e menores quantidades de
tório e urânio.
37
Figura 4.1 – Variação nos teores médios de U e Th nas rochas ígneas em relação ao teor de sílica. Fonte: Ribeiro et al.
(2013).
Tabela 4.1 – Variação da concentração média dos radioelementos em rochas e solos na Austrália. Fonte: Ribeiro et al. (2013).
A figura 4.2 mostra a forma do Granito Chaval com base no mapeamento realizado
pelo Projeto Jaibaras sobreposta ao mapa de contagem total de radiação gama. Nota-se um
grande contraste gamaespectométrico nesta região. O Granito Chaval é caracterizado por
valores entre 4.18 e 16.87. Este tipo de imagem é decomposta nos valores de Th, U e K para
posteriormente formar o mapa ternário.
acessórios como zircão, epídoto, allanita e apatita. Sua ocorrência pode também estar
relacionada a presença do mineral biotita e a composições pegmatíticas.
De acordo com Klepper & Wyant (1957) entre os diversos tipos de rochas, as ígneas
ácidas são as que apresentam maior porcentagem de uranio, com 0,0004%. Ainda conforme
estes autores, o teor de urânio em rochas ígneas segue o mesmo caminho da sílica, aumentado
a sua proporção na rocha cristalizada de um magma da mais velha para mais nova. A
ocorrência de urânio se dá principalmente em minerais acessórios como zircão, monazita e
allanita, podendo ocorrer também em biotita.
A figura 4.6 apresenta o mapa ternário da Folha Chaval. A partir da análise desta
imagem fica perceptível a forma do Granito Chaval, principalmente em relação a ocorrência
de potássio. Adicionalmente, os limites do Chaval mapeados através do Projeto Jaibaras tem
forte identificação com a imagem ternária, com exceção da porção do granito no centro-norte
do corpo, onde há baixa ocorrência dos três radioelementos analisados.
40
Figura 4.2 - Mapa de contagem total de radiação gama da Folha Chaval, adaptado do Projeto aerogeofísico Norte do Ceará. A forma do Granito Chaval tem como base o mapeamento das Folhas
Buriti dos Lopes e Chaval do Projeto Jaibaras. Fonte: Do autor.
41
Figura 4.3 - Mapa do teor do radioelemento tório da Folha Chaval, adaptado do Projeto aerogeofísico Norte do Ceará. A forma do Granito Chaval tem como base o mapeamento das Folhas Buriti
dos Lopes e Chaval do Projeto Jaibaras. Fonte: Do autor.
42
Figura 4.4 - Mapa do teor do radioelemento urânio da Folha Chaval, adaptado do Projeto aerogeofísico Norte do Ceará. A forma do Granito Chaval tem como base o mapeamento das Folhas Buriti
dos Lopes e Chaval do Projeto Jaibaras. Fonte: Do autor.
43
Figura 4.5 - Mapa do teor do radioelemento potássio da Folha Chaval, adaptado do Projeto aerogeofísico Norte do Ceará. A forma do Granito Chaval tem como base o mapeamento das Folhas Buriti
dos Lopes e Chaval do Projeto Jaibaras. Fonte: Do autor.
44
Figura 4.6 - Mapa ternário da Folha Chaval, adaptado do Projeto aerogeofísico Norte do Ceará. A forma do Granito Chaval tem como base o mapeamento das Folhas Buriti dos Lopes e Chaval do
Projeto Jaibaras. Fonte: Do autor.
45
O mapa gamaespectrométrico Th/K da Folha Chaval (Fig. 4.7) mostra, de uma forma
geral, baixo valores para esta razão. Este resultado pode ser associado a zona de cisalhamento
Santa Rosa. A ocorrência desta zona pode ter desequilibrado o sistema mineral do Granito
Chaval levando a alterações hidrotermais, com remobilização do radioelemento potássio, mas
sem alterações no tório.
De acordo com Soares (2001) tanto o urânio quanto o potássio são fortemente
influenciados por hidrotermalismo, magmatismo e intemperismo. O mapa
gamaespectrométrico U/K (Fig. 4.8) mostra a baixa ocorrência de urânio em relação ao
potássio, também auxilia na demarcação dos limites do Granito Chaval.
Figura 4.7 - Mapa gamaespectrométrico da razão Th/K da Folha Chaval, adaptado do Projeto aerogeofísico Norte do Ceará. A forma do Granito Chaval tem como base o mapeamento das Folhas
Buriti dos Lopes e Chaval do Projeto Jaibaras. Fonte: Do autor.
47
Figura 4.8 - Mapa gamaespectrométrico da razão U/K da Folha Chaval, adaptado do Projeto aerogeofísico Norte do Ceará. A forma do Granito Chaval tem como base o mapeamento das Folhas
Buriti dos Lopes e Chaval do Projeto Jaibaras. Fonte: Do autor.
48
Figura 4.9 - Mapa gamaespectrométrico da razão U/Th da Folha Chaval, adaptado do Projeto aerogeofísico Norte do Ceará. A forma do Granito Chaval tem como base o mapeamento das Folhas
Buriti dos Lopes e Chaval do Projeto Jaibaras. Fonte: Do autor.
49
O mapa ternário (Fig. 4.6) apresenta o Chaval como uma rocha quase uniformemente
rica em potássio, uma pequena porção em ENE com teores relevantes de tório, reforçando as
afirmativas de Nogueira (2013) sobre a ocorrência de monzogranito nesta região, pois os altos
teores de tório podem indicar a cristalização de magma evoluído.
Se assim for, deveriam existir nessa área do Domínio Médio Coreaú rochas pretéritas
do Paleoproterozoico, como encontrado na região de Granja e na Pedreira da Jandira, mas
também e isso seria um novidade, rochas do Mesoproterozóico, correlacionáveis àquelas
geradas no Ciclo Cariris Velhos e descritas por Campos Neto et al. 1994 e Brito Neves et al.
1995, principalmente no contexto da Zona Transversal (idades entre 1,2 – 0,8 Ga).
51
Figura 5.1 - Foco nos teores dos radioelementos K e Th, e nas razões U/K e Th/K em parte da região NE do Granito Chaval.
Nota-se uma abrupta variação nos teores desses radioelementos, assim como suas razões, podendo tal fenômeno ser um
indicador de fonte magmática distinta. Fonte: Do autor
Essa mesma configuração é encontrada no seio do Granito Chaval, uma vez que
internamente o corpo é recortado por varias faixas miloníticas métricas à decamétricas que em
escala meso a macroscópica configuram um complexo sistema anastomosado, definindo meso
a macroamendoas, nas quais as texturas ígneas ocorrem com maior destaque. Isso indica que
o corpo, provavelmente se colocou em um tempo tardi a pós cinemático como dão conta suas
texturas e estruturas internas.
53
Esse sistema teria vergência no sentido do Cráton São Luis- Oeste Africano, no lado
americano, situado á Noroeste dessa área. Tal imbricação – vergência muito provavelmente
teria tido sua fase principal durante o Ciclo Brasiliano, talvez mimetizando uma estruturação
mais antiga do Paleoproterozoico.
Finalizando, pode-se dizer que muito ainda falta para um conhecimento mais
abrangente do Granito Chaval o que deixa em aberto a possibilidade de um detalhamento
cartográfico, definindo a espacialidade de texturas, estruturas tectôgenas, diferenças
composicionais e sítios mais destacados de influência de protólitos quando da formação do
magma gerador do corpo, o que pode trazer contribuições mais robustas ao conhecimento
sobre esse corpo e a sua importância no contexto da evolução geotectônica do Domínio
Médio Coreaú.
54
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