Young, C.G.K

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS MATEMÁTICAS E DA NATUREZA


INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

CONTRIBUIÇÃO À ANÁLISE ESTRATIGRÁFICA DA FORMAÇÃO PIMENTEIRA


(DEVONIANO, BACIA DO PARNAÍBA): CARACTERIZAÇÃO DE UM POTENCIAL
INTERVALO DE ROCHAS-RESERVATÓRIO

CHARLES GEORGE KEPINSKI YOUNG

MONOGRAFIA SUBMETIDA AO CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA


DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, COMO REQUISITO
OBRIGATÓRIO DA DISCIPLINA ESTÁGIO DE CAMPO-IV.

RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL


FEVEREIRO DE 2003
CONTRIBUIÇÃO À ANÁLISE ESTRATIGRÁFICA DA FORMAÇÃO PIMENTEIRA
(DEVONIANO, BACIA DO PARNAÍBA): CARACTERIZAÇÃO DE UM POTENCIAL
INTERVALO DE ROCHAS-RESERVATÓRIO

CHARLES GEORGE KEPINSKI YOUNG

MONOGRAFIA SUBMETIDA AO CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA DA


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, COMO REQUISITO
OBRIGATÓRIO DA DISCIPLINA ESTÁGIO DE CAMPO-IV.

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SETOR DE PALEONTOLOGIA E ESTRATIGRAFIA

ORIENTADOR: LEONARDO BORGHI

APROVADA POR:

_____________________________________
CLÁUDIO BETTINI, UFRJ

_____________________________________
JORGE CARLOS DELLA FÁVERA, UERJ

_____________________________________
LEONARDO BORGHI, UFRJ

RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL


FEVEREIRO DE 2003
YOUNG, Charles George Kepinski

Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira


(Devoniano, bacia do Parnaíba): caracterização de um potencial
intervalo de rochas-reservatório. [Rio de Janeiro] 2003.

XIV, 84p. 29,7 cm (Instituto de Geociências – UFRJ, B.Sc.,


Curso de Graduação em Geologia, 2003).

Monografia – Universidade Federal do Rio de Janeiro,


realizada no Instituto de Geociências.

1.Formação Pimenteira. 2.Geologia do Petróleo.

II – IGEO/UFRJ II – Título (série)


iii
RESUMO DA MONOGRAFIA APRESENTADA AO CURSO DE GRADUAÇÃO EM
GEOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, COMO
REQUISITO OBRIGATÓRIO DA DISCIPLINA ESTÁGIO DE CAMPO-IV.

CONTRIBUIÇÃO À ANÁLISE ESTRATIGRÁFICA DA FORMAÇÃO PIMENTEIRA


(DEVONIANO, BACIA DO PARNAÍBA): CARACTERIZAÇÃO DE UM POTENCIAL
INTERVALO DE ROCHAS-RESERVATÓRIO

CHARLES GEORGE KEPINSKI YOUNG

FEVEREIRO / 2003

ORIENTADOR: LEONARDO BORGHI

SETOR: SETOR DE PALEONTOLOGIA E ESTRATIGRAFIA

O registro sedimentar de regressões forçadas consiste freqüentemente em um


pacote de sedimentos marinhos macroclásticos, limitado acima e abaixo por lutitos.
O conceito de regressão forçada trata de uma queda relativa do nível do mar,
associada à migração da linha de costa bacia adentro, com subseqüente
progradação da linha de praia, seguido de transgressão marinha. Tal mecanismo é
de grande importância por posicionar potenciais rochas-reservatório em direto
contato com as rochas geradoras. A Formação Pimenteira (Devoniano, bacia do
Parnaíba) é entendida pela literatura como tendo sido depositada em uma
paleoplataforma marinha, com eventual transporte de areias por correntes induzidas
por tempestade. Durante estudo estratigráfico de 303 m de testemunhos de
sondagem dessa formação em 7 poços da borda leste da bacia do Parnaíba, foi
observado um intervalo arenítico, lateralmente contínuo (>140 km), formando um
pacote com cerca de 20 m de espessura em contato brusco com os siltitos e
folhelhos sobrejacentes e subjacentes e com características de rocha-reservatório.
Este pacote observado foi aqui interpretado como resultante de uma regressão
forçada, fato este não discutido na literatura. Para o intervalo arenítico foram
descritas três litofácies e uma icnofácies, além de elaborados mapas de isópacas e
de contorno estrutural. Para as rochas lutíticas encapsulantes do intervalo arenítico
foram descritas 4 litofácies e uma icnofácies. Todas essas fácies foram agrupadas
em duas associações de fácies, relacionadas a paleoambientes de antepraia e de
costa-afora. Foram também identificadas três superfícies estratigráficas: uma
discordante, uma transgressiva e outra de inundação, que permitiram a correlação
estratigráfica entre os poços estudados. Tais resultados contribuem para o
conhecimento estratigráfico dessa formação, além de permitir interpretar novos
prospectos para possível acumulação de hidrocarbonetos na bacia do Parnaíba,
visto que os folhelhos orgânicos dessa formação são considerados os principais
geradores da bacia e que tais arenitos constituir-se-iam potenciais reservatórios.
iv
ABSTRACT OF MONOGRAPH PRESENTED TO THE UNDERGRADUATE
COURSE OF GEOLOGY OF THE FEDERAL UNIVERSITY OF RIO DE JANEIRO
AS OBLIGATORY REQUIREMENT OF THE DISCIPLINE "ESTÁGIO DE CAMPO
IV".

CONTRIBUTION TO THE STRATIGRAPHICAL ANALISYS OF THE PIMENTEIRA


FORMATION (DEVONIAN, PARNAÍBA BASIN): CHARACTERIZATION OF A
POTENCIAL RESERVOIR

CHARLES GEORGE KEPISNKI YOUNG

FEBRUARY / 2003

SUPERVISOR: LEONARDO BORGHI

SECTOR: PALEONTOLOGY AND STRATIGRAPHY

The sedimentary record of forced regressions often consists of a package of


macroclastic marine sediments limited, above and below, by mudstones. The
concept of forced regression involves a relative sea-level fall, which results in a
basinward shift of the coastline with subsequent shoreline progradation, followed by
a marine transgression. Such mechanism is of great importance because it places
potential reservoir rocks in direct contact with source rocks. The Pimenteira
Formation (Devonian, Parnaíba Basin) is considered by the literature as deposited in
an ancient marine shelf, with eventual sand transport by storm-induced currents.
During a stratigraphic study of 303 m of cores of this formation from Eastern border
of the basin, a laterally continuous (>140 km), 20 m thick sandstone package with
reservoir rock characteristics was observed sharply overlying siltstones and shales.
Such sandstone package is here interpreted as resultant of a forced regression, a
fact not mentioned by the literature. Three facies and one ichnofacies were described
for the sandstone package. Isopach and structural contour maps were made for it.
The encasing siltstone and shales were described by four facies and one
ichnofacies. All these facies were organized in two facies association, representing
shoreface and offshore depositional paleoenvironments. Also, three stratigraphic
surfaces were recognized: an unconformity, a trangressive surface and a flooding
surface, which allowed correlation between the studied wells. Such results
contributed to the stratigraphic understanding of this formation, also allowing the
interpretation of new hydrocarbon accumulations prospects in the Parnaíba Basin,
since the organic shales of this formation are the main source rocks of this basin and
such sandstone packages would constitute the potential reservoir rocks.
v
AGRADECIMENTOS

Primeiramente à minha família, minha mãe, Alessandra Kepinski, pelo


incentivo e apoio ao longo dessa jornada que se encerra. Nada seria possível sem
sua ajuda!
Ao meu orientador e amigo Leonardo Borghi que, ao longo de todos os anos
de orientação e constante incentivo, nunca deixou que faltasse nada para a
realização das pesquisas.
Aos meus colegas de faculdade que tornaram esses longos anos de estudo
muito mais divertidos e enriquecedores. Em especial àqueles com quem tenho ou
tive mais convívio: Gabriel “Sub” Guerra, Mauro “não fui eu” Ribeiro, Márcio “MIC”
Moreira, Felipe Romau, Roberta “Pinta” Barroso, Cliff, Romário, Molinari e Pietzsh
Amora.
Ao Programa de Recursos Humanos em Geologia de Petróleo da UFRJ
(PRH-ANP-18), representado pelo Professor Cláudio Bettini, pela bolsa de estudos e
pelo apoio a esta pesquisa.
Ao geólogo José Henrique Gonçalves Melo, pela dica sobre os projetos.
À CoreLab Brasil pelas análises petrofísicas.
À Gerência de Tecnologia de Rochas (TRO) do CENPES/PETROBRAS pela
captura das imagens digitais das lâminas.
Ao 4o Distrito do DNPM, Recife/PE, pelo acesso aos testemunhos e suporte
prestado durante a descrição dos mesmos.
Ao Laboratório de Geologia Sedimentar (LaGeSe), do Departamento de
Geologia da UFPe, pelo apoio na atividade de campo.
Às Indústrias Nucleares do Brasil, e em especial ao geólogo José Roberto
(INB–Fortaleza), pela busca e cessão dos perfis geofísicos do Projeto São Miguel do
Tapuio.
Aos funcionários e professores do curso de Graduação em Geologia da
UFRJ.
E, finalmente, a nossa Mãe Terra, alimentadora constante da nossa
imaginação.
vi
SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................................. iii

ABSTRACT......................................................................................................... iv

AGRADECIMENTOS.......................................................................................... v

SUMÁRIO........................................................................................................... vi

LISTA DE FIGURAS........................................................................................... ix

LISTA DE ESTAMPAS....................................................................................... xi

LISTA DE QUADROS......................................................................................... xiv

LISTA DE TABELAS.......................................................................................... xv

1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 1

1.1 Apresentação............................................................................................... 1

1.2 Objetivos e finalidade................................................................................. 2

1.3 Material e método........................................................................................ 4

2 CONTEXTO GEOLÓGICO.............................................................................. 8

2.1 Generalidades.............................................................................................. 8

2.2 Embasamento da bacia do Parnaíba......................................................... 8

2.3 Estratigrafia da bacia do Parnaíba............................................................ 9

2.3.1 GRUPO SERRA GRANDE........................................................................ 10

2.3.2 GRUPO CANINDÉ..................................................................................... 10

2.3.3 GRUPO BALSAS....................................................................................... 12

2.4 Tectônica e sedimentação (Góes et al., 1990).......................................... 13

2.5 Geologia do Petróleo.................................................................................. 15

2.5.1 HISTÓRICO DE EXPLORAÇÃO................................................................ 15

2.5.2 SISTEMAS PETROLÍFEROS.................................................................... 17

3 A FORMAÇÃO PIMENTEIRA......................................................................... 19

3.1 Histórico do uso estratigráfico do termo.................................................. 19

3.2 Características litoestratigráficas.............................................................. 20


vii
3.2.1 LITOLOGIAS............................................................................................. 20

3.2.2 RELAÇÕES DE CONTATO....................................................................... 22

3.2.3 ESPESSURA E DISTRIBUIÇÃO............................................................... 23

3.3 Paleoambientes de sedimentação............................................................. 24

3.4 Contexto estratigráfico de seqüências..................................................... 25

3.5 Contexto bioestratigráfico e idade............................................................ 27

3.6 Contexto paleogeográfico, paleoecológico e paleoclimático................. 27

3.7 Geologia do Petróleo.................................................................................. 30

4 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS.................................................................... 33

4.1 Conceitos de Estratigrafia de Seqüências................................................ 33

4.1.1 GENERALIDADES (VAN WAGONER ET AL., 1990)................................ 33

4.1.2 REGRESSÃO FORÇADA (POSAMENTIER ET AL., 1992)...................... 34

4.2 Plataforma marinha..................................................................................... 37

4.2.1 GENERALIDADES (WALKER & PLINT, 1992).......................................... 37

4.2.2 PLATAFORMAS MARINHAS DOMINADAS POR TEMPESTADE


38
(BOGGS, 1995)...................................................................................................

4.2.3 TEMPESTITOS.......................................................................................... 42

4.3 Fácies sedimentares................................................................................... 44

4.3.1 GENERALIDADES (BORGHI, 2000)......................................................... 44

4.3.2 LITOFÁCIES DE TEMPESTITOS.............................................................. 45

4.3.3 ICNOFÁCIES (FREY & PEMBERTON, 1984; FERNANDES ET AL.,


49
2002)...................................................................................................................

5 ANÁLISE ESTRATIGRAFICA......................................................................... 51

5.1 Fácies........................................................................................................... 51

5.1.1 FÁCIES C1 (BORGHI, 2002a).................................................................... 51

5.1.2 FÁCIES C2 (BORGHI, 2002a).................................................................... 55

5.1.3 FÁCIES ASwl – ARENITO/SILTITO COM ACAMAMENTO WAVY–


57
LINSEN................................................................................................................

5.1.4 FÁCIES ASf – ARENITO/SILTITO COM ACAMAMENTO FLASER.......... 57


viii
5.1.5 FÁCIES E (BORGHI, 2002a)...................................................................... 60

5.1.6 FÁCIES Ab – ARENITO BIOTURBADO.................................................... 60

5.1.7 FÁCIES FLH – FOLHELHO ESCURO....................................................... 63

5.1.8 FÁCIES Ic – CRUZIANA............................................................................ 63

5.1.9 FÁCIES Iz – ZOOPHYCOS........................................................................ 66

5.2 Associações de fácies................................................................................ 66

5.2.1 ASSOCIAÇÃO DE FÁCIES 1..................................................................... 66

5.2.3 ASSOCIAÇÃO DE FÁCIES 2..................................................................... 69

5.3 Arquitetura deposicional............................................................................ 69

5.3.1 SUPERFÍCIES ESTRATIGRÁFICAS......................................................... 69

5.3.2 O INTERVALO DO ARENITO B................................................................. 74

6 CONCLUSÕES................................................................................................ 80

7 BIBLIOGRAFIA................................................................................................ 81

ANEXOS

Anexo 1 – Perfil estratigráfico do poço 1-CT-1-PI


Anexo 2 – Perfil estratigráfico do poço 1-PM-6-PI
Anexo 3 – Perfil estratigráfico do poço 1-PM-10-PI
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 – Mapa de localização da bacia do Parnaíba. O retângulo vermelho representa a área
estudada, onde a cor cinza representa o Grupo Serra Grande e a Formação Itaim e a cor bege, as
formações Pimenteira e Cabeças (mod. de CPRM, 2002).
Figura 1.2 – Perfil estratigráfico da Formação Pimenteira na área dos projetos São Miguel do Tapuio e
Fosfato de São Miguel do Tapuio, na borda Leste da bacia do Parnaíba. Perfil gerado a partir das
descrições de testemunhos realizadas no presente trabalho. Em destaque, o intervalo aqui chamado
de arenito “B”.
Figura 1.3 – Mapa de localização dos poços estudados. Os pontos vermelhos correspondem aos
poços do projeto São Miguel do Tapuio (Albuquerque et al., 1973) e os pontos pretos, aos poços do
projeto Fosfato de São Miguel do Tapuio (Oliveira & Barros, 1976).
Figura 2.1 – Limites da bacia do Parnaíba (Cunha, 1986).
Figura 2.2 – Carta estratigráfica da bacia do Parnaíba (ANP, 2002).
Figura 2.3 – Distribuição dos elementos estruturais que definem os lineamentos Transbrasiliano e
Picos–Santa Inês (Cunha, 1986).
Figura 2.4 – Mapa índice dos grids sísmicos e poços exploratórios da bacia do Parnaíba (Milani &
Zalán, 1998).
Figura 2.5 – Seção sísmica interpretada mostrando o trapeamento do gás (cor amarela) sob uma
soleira de diabásio no poço 2-CP-1-MA (mod. Petroli & Bressani, 1997 apud Milani & Zalán, 1998).
Figura 3.1 – A) Proposta estratigráfica de Carozzi et al. (1975) para a bacia do Parnaíba. O Membro
Carolina (destacado) está localizado próximo à base da Formação Pimenteira. B) Mapa de
“clasticidade e ambiental” da parte superior do Membro Carolina. Observar que o Membro Carolina se
apresenta com um corpo de areias isolado em meio a folhelhos (Carozzi et al., 1975).
Figura 3.2 – Mapa de isópacas da Formação Pimenteira (Cunha, 1986). Observam-se dois eixos
deposicionais, de orientação NO–SE e NE–SO, onde a formação é mais espessa correspondendo a
influência dos lineamentos Picos–Santa Inês e Transbrasiliano, respectivamente.
Figura 3.3 – Perfil de referência de Albuquerque (2002) para a subdivisão da Seqüência Devoniana
em seqüências de terceira ordem (poço RB-1-MA). A Formação Pimenteira abrange da base da
seqüência C até a seqüência G, excluindo seu quinto final.
Figura 3.4 – Comparação entre os biozoneamentos da Europa Ocidental, ORS Continent e as bacias
do Amazonas e Parnaíba. (mod. Melo, 2002).
Figura 3.5 – Reconstrução paleogeográfica para o Emsiano/Eifeliano (Melo, 1988). As setas pretas
indicam as principais direções de aporte sedimentar e os números, importantes localidade fossilíferas
para esse intervalo do tempo. Observar que o autor postula uma conexão da bacia do Parnaíba com
as bacias do Paraná e Amazonas.
Figura 3.6 – Folhelhos radioativos da Formação Pimenteira no poço 1-PAF-7-MA (Rodrigues, 1995).
Figura 4.1 – Diagrama esquemático dos tratos de sistemas em bacias plataformais e de rampa (mod.
Cant, 1992).
Figura 4.2 – Modelo esquemático de regressões normais e forçadas. Em (a) e (b) temos regressão
normal em dois contextos diferentes (nível do mar estático ou subindo). Em (c) temos uma regressão
forçada devido a uma queda brusca do nível do mar. Notar como a linha de costa gerada por esse
evento fica desconectada da linha de costa anterior (mod. Posamentier et al., 1992).
Figura 4.3 – Representação esquemática do efeito de uma queda do nível do mar em plataformas em
rampa. A regressão forçada se inicia entre os tempos 3 e 4 e progride lentamente até antepraia,
íngreme, estar totalmente exposta (tempos 5 e 6). Após o tempo 6, a continuada da queda do nível
do mar resulta em rápida regressão à medida em a região do costa-afora, de baixo gradiente, é
exposta (mod. Posamentier et al., 1992).
Figura 4.4 – Perfil de uma plataforma marinha rasa ilustrando os elementos que a compõem
(antepraia, face de praia e costa-afora), assim como o nível base de ação de ondas de tempo bom e
tempestade e a área de ocorrência de algumas icnofácies. Notar que as ondas de tempo bom com
comprimento de onda L não conseguem agitar o fundo que esteja a profundidades maiores que L/2
(mod. Walker & Plint, 1992).
x
Figura 4.5 – Quando o vento sopra em direção à costa, cria-se uma sobrelevação costeira, que gera
como resposta um gradiente de pressão em direção ao mar (A). Esse gradiente gera uma corrente de
fundo que flui em direção ao mar mas que é defletida pelo efeito de Coriolis para fluir paralelo as
isóbatas, originando o fluxo (corrente) geostrófica (B). (Mod. Walker & Plint, 1992)
Figura 4.6 – Modelo de Walker (1984, mod.) no qual correntes de turbdidez iniciadas na plataforma
durante tempestades transportam sedimentos para costa-afora. Se tais sedimentos forem
depositados abaixo da ação de ondas de tempestade, preservam as características de um turbidito.
Figura 4.7 – A estratificação cruzada hummocky e suas principais características (mod. Walker, 1984)
Figura 4.8 – A estratificação cruzada swaley e suas principais características (mod. Walker, 1985
apud Borghi, 2002).
Figura 4.9 – Modelo de Plexo Tempestítico de Borghi (2002a). Observam-se os tratos A-B-C-D (trato
de corrente de turbidez), A1-B1-C1-C2 (trato de fluxo turbidítico–oscilação) e A2-B2-C2 (trato de
corrente–oscilação) e a associação de fácies A3-C3-E. Nesse modelo as fácies ainda podem suceder-
se a partir dos tratos centrais (corrente de turbidez e fluxo turbidítico–oscilação), a partir de qualquer
ponto. CGR, coarse-grained ripple; DT, difusão turbulenta (transformação de fluxo); TC,
transformação de corpo (transformação de fluxo); TS, transformação de superfície (transformação de
fluxo); TG, transformação gravitacional (transformação de fluxo). (V. texto para explicação.)
Figura 4.10 – Aspecto deposicional do trato de fluxo turbidítico–oscilação (fácies A1, B1, C1 e C2)
resultante de liquefação do substrato (Borghi, 2002a). Um, corrente meteorológica (induzida pela
tempestade) pouco afetando o substrato (tração); Um*, corrente unidirecional, de origem
meteorológica, mas amplificada por corrente trativa derivada de um fluxo turbidítico de baixa-
densidade (por transformação de fluxo); O, corrente oscilatória; N.M., nível do mar; N.B.A.O., nível
base da ação de ondas de tempestade; ZU, zona de ultrapassagem.
Figura 4.11 – Alguns icnofósseis característicos da icnofácies Cruziana. Diagramas esquemáticos de
como estes seriam observados em (A) corte vertical em testemunho (mod. Pemberton et al., 1992) e
(B) corte horizontal (mod. Frey & Pemberton, 1984).
Figura 4.12 – Alguns icnofósseis característicos da icnofácies Zoophycos. Diagramas esquemáticos
de como estes seriam observados em (A) corte vertical em testemunho (mod. Pemberton et al., 1992)
e (B) corte horizontal (mod. Frey & Pemberton, 1984).
Figura 5.1 – Seção de correlação estratigráfica dos poços estudados. Notar o padrão em caixa do
perfil de raios gama da associação de fácies 1, sua tabularidade, continuidade lateral (superior a 130
km) e as superfícies transgressiva e discordante. A curva azul representa o perfil de raios gama, que
aumenta para a esquerda. O datum de correlação corresponde à superfície de inundação.
Figura 5.2 – Mapa de isópacas do arenito B ilustrando seu espessamento para o Norte.
Figura 5.3 – Mapa de contorno estrutural do topo do arenito B. Observar a configuração de altos e
baixos, com diferenças de até 80 m.
Figura 5.4 – Mapa de contorno estrutural do topo do arenito B com anisotropia na direção NO-SE. Tal
anisotropia realça as estruturas orientadas NO-SE, delineando uma configuração estrutural de
grábens e horsts.
xi
LISTA DE ESTAMPAS
ESTAMPA IA – Fácies C1
Figura A – Aspecto maciço da base da fácies C1. Poço 1-CT-1-PI, profundidade de 14,30 m.
Figura B – Parte superior da fácies C1 mostrando gradação normal e truncamento de lâminas em
baixo ângulo (estratificação cruzada hummocky – seta). Poço 1-VL-3-PI, profundidade de 43,40 m.
Figura C – Contato brusco nítido da base da fácies C1 com a fácies Ab. Poço 1-CT-1-PI, profundidade
de 10,25 m
Figura D – Parte maciça da fácies C1 contendo diminutos intraclastos de argila (seta). Poço 1-PM-6-
PI, profundidade de 10,55 m.
Figura E – Intraclastos de siderita na parte maciça da fácies C1. Poço 1-VL-3-PI, profundidade de
41,50 m.
Figura F – Nódulos fosfáticos na parte maciça da fácies C1. Afloramento localizado 33 km ao norte de
da Cidade de Pimenteiras (PI). Afloramento JO-132 de Oliveira & Barros (1976).
ESTAMPA IB – Fácies C1
Figura G – Aspecto da fácies C1 em campo, em brusco contato com a fácies Aswl. Afloramento
localizado 49 km ao norte da Cidade de Pimenteiras (PI). Afloramento JO-61 de Oliveira & Barros
(1976).
Figura H – Aspecto em lâmina petrográfica da parte maciça da fácies C1 (nicóis //, escala = 75µ).
Notar a porosidade intergranular (em azul) e abundância de grãos de quartzo (branco). Poço 1-CT-1-
PI, profundidade de 3,90 m.
Figura I – Aspecto em lâmina petrográfica da fácies C1 contendo intraclastos de siderita (nicóis //,
escala = 600µ). Notar como os poros próximos aos intraclastos estão obstruídos por siderita. Poço
1-VL-3-PI, profundidade de 41,40 m.
ESTAMPA II – Fácies C2
Figura A – Aspecto da fácies C2 exibindo laminação cruzada hummocky. Poço 1-PM-6-PI,
profundidade de 3,90 m.
Figura B – Aspecto da fácies C2 exibindo laminação plano-paralela e de baixo ângulo (estratificação
cruzada hummocky?). Poço 1-CT-1-PI, profundidade de 2,60 m.
Figura C – Aspecto em lâmina petrográfica da fácies C2 (nicóis //, escala = 600µ). Notar filmes de
material mais finos que se alinham próximos à horizontal (seta). Poço 1-CT-1-PI, profundidade de
2,60 m.
Figura D – Aspecto em afloramento da fácies C2. Notar a superfície irregular que separa as fácies Ab
e C2 (seta). Afloramento na Serra do Alecrim, localizado 9 km ao sul da Cidade de São Miguel do
Tapuio (PI).
ESTAMPA III – FÁCIES ASwl
Figura A – Aspecto da fácies ASwl com Palaeophycus isp. (Pa). Poço 1-CT-2-PI, profundidade de
53,87 m.
Figura B – Aspecto da fácies ASwl exibindo laminação cruzada por onda. Poço 1-PM-10-PI,
profundidade de 40,60 m.
Figura C – Aspecto da fácies ASwl com Helminthopsis isp. (He) e índice de icnotrama 1. Poço 1-PM-
10-PI, profundidade de 55,80 m.
Figura D – Aspecto da fácies ASwl exibindo pequenos load casts. Poço 1-PM-10-PI, profundidade de
29,75 m.
Figura E – Aspecto da fácies ASwl exibindo bioturbações indistintas e índice de icnotrama 3. Poço
1-PM-10-PI, profundidade de 55,00 m.
ESTAMPA IV – Fácies ASf
Figura A – Aspecto da fácies ASf. Poço 1-PM-10-PI, profundidade de 63,55 m.
Figura B – Aspecto da fácies ASf, mostrando alguns Planolites isp. (Pl), além de outras bioturbações
indistintas, em índice de icnotrama 2. Poço SM-IST-4, profundidade de 24 m.
xii
Figura C – Aspecto da fácies ASf mostrando biotubações indistintas. Índice de icnotrama 1. Poço
1-VL-3-PI, profundidade de 47,65 m.
Figura D – Aspecto da fácies ASf. Poço 1-VL-3-PI, profundidade de 67,85 m.
Figura E – Aspecto da fácies ASf mostrando bioturbações indistintas em índice de icnotrama 2. Poço
1-PM-10-PI, profundidade de 15,70 m.
ESTAMPA V – Fácies E
Figura A – Aspecto da fácies E. Poço 1-PM-6-PI, profundidade de 17,20 m.
Figura B – Aspecto da fácies E mostrando bioturbação por Chondrites isp. (Ch) e Helminthopsis isp.
(He). Índice de icnotrama 2. Poço SM-IST-4, profundidade de 21 m.
Figura C – Aspecto da fácies E exibindo delgada laminação. Poço 1-PM-6-PI, profundidade de
19,55 m.
Figura D – Aspecto da fácies E mostrando bioturbação por Chondrites isp. (Ch) e Helminthopsis isp.
(He),com índice de icnotrama 2. Poço SM-IST-4, profundidade de 17,75 m.
Figura E – Aspecto da fácies E exibindo delgada laminação. Poço 1-PM-6-PI, profundidade de
17,20 m.
ESTAMPA VI – Fácies Ab
Figura A – Aspecto da fácies Ab mostrando bioturbação por Palaeophycus isp (Pa). entre outras
indistintas, com índice de icnotrama 5. Poço 1-PM-6-PI, profundidade de 9,50 m.
Figura B – Aspecto da fácies Ab mostrando intensa bioturbação, com a presença Skolithos? isp (Sk),
entre outros icnofósseis indistintos, com índice de icnotrama 5. Poço 1-CT-1-PI, profundidade de
2,90 m.
Figura C – Aspecto da fácies Ab mostrando bioturbação por Palaeophycus isp. (Pa) e Asterosoma
isp. (As), entre outras indistintas. Índice de icnotrama 5. Poço 1-PM-6-PI, profundidade de 7,45 m
Figura D – Aspecto em afloramento da fácies Ab. Notar o aspecto “rugoso” dessa fácies, que não
permite o reconhecimento de nenhum icnogênero; a superfície irregular que separa a fácies Ab de C2
(seta inferior); e a superfície plana e nítida que separa a fácies C2 da fácies Ab (seta superior).
Afloramento na serra do Alecrim, localizado 9 km ao sul da Cidade de São Miguel do Tapuio (PI).
Figura E – Aspecto em lâmina petrográfica da fácies Ab (nicóis //, escala = 600µ). Observar a
obstrução das gargantas dos poros pela argila introduzida pelos organismos. Poço 1-CT-1-PI,
profundidade de 2,85 m.
ESTAMPA VII – Fácies FLH
Figura A – Aspecto da fácies FLH mostrando uma concreção de pirita em sua parte inferior. Poço
1-VL-3-PI, profundidade de 63,65 m.
Figura B – Aspecto da fácies FLH mostrando sua fissilidade. Poço 1-VL-3-PI, profundidade de
64,15 m.
Figura C – Aspecto da fácies FLH exibindo lâmina de silte intercaladas. Poço 1-PM-10-PI,
profundidade de 80,90 m
Figura D – Aspecto da fácies FLH, avermelhada devido à oxidação, mostrando uma concreção de
pirita em sua parte média. Poço 1-PM-10-PI, profundidade de 17,25 m
Figura E – Aspecto da fácies FLH exibindo lâminas de silte. Poço 1-CT-2-PI, profundidade de
11,40 m.
ESTAMPA VIII – Fácies Ic
Figura A – Skolithos isp. (Sk). Poço 1-VL-3-PI, profundidade de 38,35 m.
Figura B – Teichichnus isp. (Te). Poço 1-PM-10-PI, profundidade de 81,70 m.
Figura C – Cylindrichnus isp. (Cy). Poço 1-VL-3-PI, profundidade de 38,55 m.
Figura D – Rosselia isp. (Ro). Poço 1-PM-10-PI, profundidade de 83,52 m.
Figura E – Planolites isp. (Pl). Poço 1-PM-6-PI, profundidade de 4,55 m.
Figura F – Asterosoma isp. (As). Poço 1-VL-3-PI, profundidade de 35,70 m.
xiii
ESTAMPA IX – Fácies Iz
Figura A – Subphyllocorda isp. (Su). Poço 1-PM-10-PI, profundidade de 34,00 m.
Figura B – Planolites isp. (Pl). Poço 1-VL-3- PI, profundidade de 59,50 m.
Figura C – Rhizocorallium isp. (Rh) Poço 1-CT-2-PI, profundidade de 30,80 m.
Figura D – Asterosoma isp. (As) e Chondrites isp. (Ch). Poço 1-CT- 2-PI, profundidade de 29,55 m.
Figura E – Zoophycos isp. (Zo). Poço 1-CT-2-PI, profundidade de 45,47 m.
Figura F – Helminthopsis isp. (He). Poço 1-CT-1-PI, profundidade de 23,85 m.
ESTAMPA X – Associação de fácies 1
Figura A – Aspecto da associação de fácies 1 no poço 1-VL-3-PI, caixas 7, 8 e 9. A seta vermelha
marca a base da associação e a azul, o topo. (O topo estratigráfico localiza-se no topo do testemunho
mais à direita das caixas; comprimento vertical = 1 m)
Figura B – Aspecto de campo da associação de fácies 1 em afloramento na serra do Alecrim,
localizado 9 km ao sul da Cidade de São Miguel do Tapuio (PI). (Escala humana = 1,60 m)
ESTAMPA XI – Associação de fácies 2
Figura A – Aspecto da associação de fácies 2 no poço 1-VL-3-PI, caixa 11. (O topo estratigráfico
localiza-se no topo do testemunho mais à direita da caixa; comprimento vertical = 1 m)
Figura B – Aspecto da associação de fácies 2 no poço 1-PM-6-PI, caixa 5. (O topo estratigráfico
localiza-se no topo do testemunho mais à direita da caixa; comprimento vertical = 1 m)
Figura C – Aspecto da associação de fácies 2 no poço SM-IST-4, caixa 4. (O topo estratigráfico
localiza-se no topo do testemunho mais à direita da caixa; comprimento vertical = 1 m)
Figura D – Aspecto de campo da associação de fácies 2 no afloramento a 22 km ao norte da Cidade
de Pimenteiras (PI). (Escala humana = 1,90 m)
ESTAMPA XII – Superfície discordante
Figura A – Superfície discordante no poço 1-PM-6-PI, na profundidade de 16,00 m. (O topo
estratigráfico localiza-se no topo do testemunho mais à direita da caixa; comprimento vertical = 1 m)
Figura B – Superfície discordante no poço 1-PM-10-PI, na profundidade de 43,70 m. (O topo
estratigráfico localiza-se no topo do testemunho mais à direita da caixa; comprimento vertical = 1 m)
Figura C – Superfície discordante no poço 1-VL-3-PI, profundidade de 46,45 m. (O topo estratigráfico
localiza-se no topo do testemunho mais à direita da caixa; comprimento vertical = 1 m)
Figura D – Superfície discordante (seta) em afloramento na estrada entre Pimenteira e São Miguel do
Tapuio, localizado 33 km ao norte da Cidade de Pimenteiras, PI (afloramento JO-132 de Oliveira &
Barros, 1976). Notar o contato brusco e plano entre as fácies C2 e ASwl. A base brusca e a
ocorrência de nódulos fosfáticos na base da fácies C2, são característicos da superfície discordante
que marca a base do arenito B.
ESTAMPA XIII – Superfície de inundação
Figura A – Superfície de inundação no poço 1-PM-10-PI, na profundidade de 81,30 m. (O topo
estratigráfico localiza-se no topo do testemunho mais à direita da caixa; comprimento vertical = 1 m)
Figura B – Superfície de inundação no poço 1-VL-3-PI, na profundidade de 34,50 m. (O topo
estratigráfico localiza-se no topo do testemunho mais à direita da caixa; comprimento vertical = 1 m)
Figura C – Superfície de inundação no poço 1-PM-6-PI, na profundidade de 4,55 m. (O topo
estratigráfico localiza-se no topo do testemunho mais à direita da caixa; comprimento vertical = 1 m)
Figura D – Superfície de inundação em afloramento na Serra do Alecrim, 9 km ao sul da Cidade de
São Miguel do Tapuio (PI). Notar como, em afloramento, a superfície se apresenta plana (seta).
xiv
LISTA DE QUADROS

Quadro 4.1 – Fácies de Borghi (2002a) utilizadas no presente estudo.


Quadro 5.1 – Resumo das fácies utilizadas no presente estudo.
xv
LISTA DE TABELAS

Tabela 5.1 – Dados petrofísicos da fácies C1 (Pressão confinante: 1 atm; temperatura: 23oC).
Tabela 5.2 – Dados petrofísicos da fácies Ab (Pressão confinante: 1atm; temperatura: 23oC).
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 1
Charles George K. Young

1 INTRODUÇÃO

1.1 Apresentação

A bacia do Parnaíba é uma extensa bacia intracratônica localizada no


Nordeste brasileiro, preenchida principalmente por rochas paleozóicas (Figura 1.1).
Dentre as bacias intracratônicas brasileiras, talvez seja a menos conhecida, sendo
atualmente considerada, do ponto de vista da geologia do petróleo, uma bacia de
fronteira exploratória. Grande parte do conhecimento sobre ela foi gerado durante os
esforços exploratórios empreendidos pela Petrobrás nas décadas de 1960 a 1980,
os quais resultaram na descoberta de indícios e acumulações subcomerciais de
hidrocarbonetos. Recentemente, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) mostrou
interesse em reativar a exploração de petróleo nessa bacia, oferecendo um bloco
exploratório na Quarta Rodada de Licitações (“Brazil Round 4”) e anunciando um
programa de levantamento de dados aerogravimétricos e aeromagnetométricos.

Figura 1.1 – Mapa de localização da bacia do Parnaíba. O retângulo vermelho representa a área
estudada, onde a cor cinza representa o Grupo Serra Grande e a Formação Itaim e a cor bege, as
formações Pimenteira e Cabeças (mod. de CPRM, 2002).
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 2
Charles George K. Young

A Formação Pimenteira tem sido estudada desde a década de 1910 de


maneira descontínua e isolada, em contextos diferentes (paleontológicos,
sedimentológicos, estratigráficos e hidrológicos). Poucos são os estudos geológicos
aprofundados que tiveram como alvo esta formação, destes destacando-se o de
Rodrigues (1995), que enfoca aspectos de geoquímica do petróleo em poços de
sondagem. Porém, é fácil a compreensão do porquê desses estudos serem tão
escassos: a Formação Pimenteira constitui-se em grande parte de folhelhos e
siltitos, rochas que se intemperizam facilmente quando expostas em superfície. Tal
fato restringe os estudos detalhados sobre sua faciologia e relações estratigráficas a
observações em testemunhos de sondagem, dados estes escassos. Contudo, vale
chamar a atenção ao fato de alguns autores considerarem que a Formação
Pimenteira, além de ser a principal rocha geradora, possa conter também rochas
reservatórios, na forma de corpos descontínuos de arenitos (Góes et al., 1990).

1.2 Objetivos e finalidade

O objetivo deste trabalho foi o de identificar potenciais intervalos de rochas


reservatório na Formação Pimenteira, através de sua análise estratigráfica (análise
faciológica e de sistemas deposicionais), utilizando testemunhos de sondagem e
afloramentos na borda Leste da bacia do Parnaíba.
Durante este estudo foi descrito um intervalo arenoso na parte média inferior
da Formação Pimenteira, este já previamente identificado por Oliveira & Barros
(1976), os quais o chamaram, informalmente, de sub-unidade DpB. Tal intervalo
apresenta características de rocha reservatório. Devido a isso, tal intervalo teve
detalhada sua faciologia e distribuição espacial. Buscou-se também entender seu
significado estratigráfico. Tal estudo de detalhe não foi realizado pelos autores acima
citados. Esse intervalo arenoso foi aqui chamado, informalmente, de “arenito B”
(Figura 1.2). Foram descritas também as fácies que encapsulam o arenito B.
Tal estudo teve como finalidade colaborar com o conhecimento sobre o
potencial petrolífero da bacia, mostrando alternativas ao principal sistema petrolífero
conhecido hoje, o sistema Pimenteira–Cabeças(!).
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 3
Charles George K. Young

Figura 1.2 – Perfil estratigráfico da Formação


Pimenteira na área dos projetos São Miguel do
Tapuio e Fosfato de São Miguel do Tapuio, na
borda Leste da bacia do Parnaíba. Perfil gerado
a partir das descrições de testemunhos
realizadas no presente trabalho. Em destaque,
o intervalo aqui chamado de arenito “B”.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 4
Charles George K. Young

1.3 Material e método

O material de trabalho consistiu fundamentalmente de dados de sondagem


dos projetos São Miguel do Tapuio (Albuquerque et al., 1972) e Fosfato de São
Miguel do Tapuio (Oliveira & Barros, 1976), que incluem testemunhos de sondagem
e perfilagem geofísica (raios-gama, resistividade e potencial espontâneo) dos poços,
além de lâminas petrográficas confeccionadas a partir de amostras retiradas dos
testemunhos e de dados de permeabilidade e porosidade adquiridos nessas
amostras. Dados de afloramento, obtidos em atividade de campo, somam-se para
analogia com dados e interpretações de subsuperfície.
A área de estudo (aproximadamente 3250 km²) localiza-se na borda Leste da
bacia do Parnaíba, incluindo as cidades de Pimenteiras e São Miguel do Tapuio
(Figura 1.3), sendo essa a área dos projetos e dos afloramentos citados.
Os testemunhos estão estocados no 4o Distrito do DNPM, em Recife (PE).
São em grande parte de diâmetro BX (42,04 mm), podendo ocorrer também
testemunhos de diâmetro NX (54,73mm) ou AX (30,10 mm). Estão acondicionados
em caixas de madeira, contendo no máximo 5 m de testemunho. Cada caixa possui
até cinco divisões internas, cada qual comportando no máximo 1 m de testemunho.
Os testemunhos estão organizados de forma que seu topo fique na parte de cima da
primeira divisão à direita, sendo assim preenchida da direita para a esquerda, com
sua base na base da última caixa à esquerda. A profundidade é assinalada por
marcadores de madeira, contendo neles o valor da profundidade e a recuperação do
intervalo testemunhado.
A perfilagem geofísica foi realizada pela CPRM com uma sonda modelo
Mount-Sopris 2000 em ambos os projetos. Os perfis de raios-gama estão na escala
CPS (contagens por segundo).
As lâminas petrográficas foram confeccionadas no Departamento de
Geologia, IGEO/UFRJ.
Os dados de permeabilidade e porosidade foram adquiridos através de ensaio
de permeabilidade ao ar em amostras colhidas dos testemunhos, os quais foram
realizados pela CoreLab Brasil Ltda. Como o diâmetro dos testemunhos é próximo
ao diâmetro dos plugs utilizados no equipamento, os valores fornecidos resultam
apenas de medidas de permeabilidade vertical nas amostras.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 5
Charles George K. Young

Figura 1.3 – Mapa de localização dos poços


estudados. Os pontos vermelhos correspondem
aos poços do projeto São Miguel do Tapuio
(Albuquerque et al., 1972) e os pontos pretos, aos
poços do projeto Fosfato de São Miguel do Tapuio
(Oliveira & Barros, 1976).
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 6
Charles George K. Young

A metodologia utilizada consistiu em: descrição sedimentológica dos


testemunhos, análise de lâminas petrográficas, caracterização faciológica,
correlação dos poços utilizando perfis de raios gama e faciológicos, confecção de
mapas estratigráficos, confecção de seções geológicas e análise da bibliografia, em
cinco etapas.
A primeira etapa envolveu a correlação dos poços, confecção de mapas
estratigráficos e levantamento bibliográfico. A correlação dos poços foi feita apenas
com base nos perfis geofísicos de raios gama. Perfis de raios gama medem a
radiação natural das rochas emitida pelos elementos Urânio (U), Tório (Th) e
Potássio (40K). Das rochas sedimentares estudadas, as argilosas são as que
possuem a maior radioatividade natural por concentrar tais elementos. Portanto, o
perfil de raios-gama indica a argilosidade de uma rocha, e este é usualmente
utilizado para correlacionar rochas ou intervalos de rochas com valores similares. A
partir da correlação dos poços, foram gerados mapas estratigráficos de isópacas e
contorno estrutural, além de uma seção de correlação estratigráfica. Estes mapas
foram elaborados utilizando o programa Rockworks99®. Durante o levantamento
bibliográfico, buscou-se analisar trabalhos, publicações e teses que poderiam
contribuir para melhor entendimento de diferentes aspectos da Formação
Pimenteira.
Na segunda etapa foi realizada a descrição dos testemunhos no 4o Distrito do
DNPM (Recife/PE), no período de 13 a 18 de maio de 2002. Dos 32 poços
testemunhados disponíveis para consulta, foram descritos parcial- ou
completamente 7 poços, com um total de 303 m descritos. A descrição dos
testemunhos foi feita em escala 1:40, de forma a documentar, com maior detalhe
possível, as variações faciológicas em uma planilha onde se anotam as litologias,
suas texturas (granulometria e seleção), as estruturas sedimentares, os icnofósseis
e a icnotrama, a argilosidade, além de observações gerais sobre o testemunho.
Posteriormente, as informações dessa planilha foram passadas para o programa
AppleCore®. Todos os testemunhos descritos foram fotografados em conjunto e
detalhe com uma câmera digital Sony modelo DSC F-707. Foram também coletadas
amostras para análise petrográfica.
Na terceira etapa realizou-se a análise de lâminas petrográficas e a
caracterização das fácies. Na análise das lâminas petrográficas, buscou-se
caracterizar a mineralogia dominante das rochas amostradas, de forma a apoiar a
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 7
Charles George K. Young

descrição das fácies. Na caracterização das fácies observadas em testemunho,


foram utilizados os conceitos discutidos por Borghi (2000).
A quarta etapa foi a etapa de campo, realizada em dezembro de 2002. Esta
durou uma semana, na qual foram visitados diversos afloramentos de diferentes
formações da bacia do Parnaíba. Nessa semana, um dia foi dedicado a investigar a
área estudada, quando se buscou reconhecer e ilustrar em afloramentos as fácies
descritas em testemunho, além de observar a geometria dos estratos.
A quinta e última etapa, realizada em gabinete, consistiu na integração dos
dados levantados, resultando na elaboração do modelo geológico e na confecção do
relatório final.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 8
Charles George K. Young

2 CONTEXTO GEOLÓGICO

2.1 Generalidades

A bacia do Parnaíba, também conhecida como bacia do Maranhão ou do


Meio-Norte, localiza-se na região Nordeste do Brasil, ocupando uma área de
aproximadamente 600.000 km2 (Figura 1.1). Sua coluna sedimentar chega a 3,5 km
de espessura em seu depocentro, e está limitada ao Norte, com o oceano Atlântico,
pelo arco Ferrer-Urbano Santos; com a bacia do São Francisco, ao Sul, pelo arco de
São Francisco; e a Noroeste, com o rift mesozóico do Marajó, pelo arco de Tocantins
(Figura 2.1).
Segundo Szatmari & Porto (1982, apud Gabaglia & Figueiredo, 1986), a bacia
do Parnaíba é classificada como “intracratônica de interior remoto – amplos arcos
regionais”. Segundo Asmus & Porto (1972, apud Gabaglia & Figueiredo, 1986) é
classificada como uma bacia do tipo I (interior cratônico). Gabaglia & Figueiredo
(1986), utilizando uma classificação modificada de Kingston et al. (1983a apud
Gabaglia & Figueiredo, 1986), classificaram-na segundo a seguinte fórmula:
IF(?)13/IS12M3/IS12M3/(IS12M3/IS13)Lc/IS12L3.

2.2 Embasamento da bacia do Parnaíba

A bacia do Parnaíba jaz sobre um embasamento de rochas metamórficas


mais antigas que o Mesoproterozóico, pertencentes a uma área limítrofe entre as
províncias tectônicas da Borborema, Amazonas, Tocantins e São Francisco. Sobre
estas rochas encontram-se grabens superimpostos, preenchidos no Neoproterozóico
(Formação Riachão) e no Cambro-Ordoviciano (Formação Mirador). A Formação
Riachão (Kegel, 1956 apud Góes & Feijó, 1994) consiste de arenitos líticos e
arcoseanos, siltitos, folhelhos vermelhos e ignimbritos, correspondendo a depósitos
molássicos. A Formação Mirador (Rodrigues, 1967 apud Góes & Feijó, 1994),
amostrada em um único poço da Petrobrás, constitui-se de arenitos, folhelhos e
siltitos esverdeados.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 9
Charles George K. Young

Figura 2.1 – Limites da bacia do Parnaíba (Cunha, 1986).

2.3 Estratigrafia da bacia do Parnaíba

Adotou-se para este trabalho a proposta estratigráfica de Góes & Feijó (1994),
a mais recente publicada, a qual é baseada em dados de subsuperfície da Petrobrás
(Figura 2.2).
Distintamente de Góes & Feijó (1994), entende-se neste trabalho que a
entidade geológica chamada “bacia do Parnaíba” está representada apenas pelos
sedimentos paleozóicos correspondentes aos grupos Serra Grande, Canindé e
Balsas. Tais grupos tiveram seu desenvolvimento tectônico e sedimentar associado
à subsidência do embasamento da bacia dentro do contexto evolutivo do
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 10
Charles George K. Young

paleocontinente Gondwana. Os aspectos tectônicos e deposicionais dos sedimentos


pós-Grupo Balsas estão associados diretamente ao processo de ruptura do
Gondwana e, por isso, devem ser tratados e estudados como uma bacia de
evolução distinta da do Parnaíba (q.v. Rosseti et al., 2001).
Neste contexto, é possível dividir estratigraficamente a bacia do Parnaíba em
três seqüências distintas: Siluriana, Devoniana e Carbonífero–Triássica, cada qual
correlata a um dos seus três grupos (Serra Grande, Canindé e Balsas,
respectivamente), utilizando-se o conceito de seqüência de Sloss (1963, apud Góes
& Feijó, 1994).

2.3.1 GRUPO SERRA GRANDE

O Grupo Serra Grande (sensu Góes et al., 1992 apud Góes & Feijó, 1994) é
dividido em três formações: Ipu, Tianguá e Jaicós. A Formação Ipu (Campbell, 1949
apud Góes & Feijó, 1994) é composta, predominantemente, de arenitos médios a
grossos e, secundariamente, por siltitos, folhelhos e diamictitos, tendo sido
depositada por rios entrelaçados com influência periglacial (Caputo & Lima, 1984
apud Góes & Feijó, 1994). Sua idade é eossiluriana. A Formação Tianguá
(Rodrigues, 1967 apud Góes & Feijó, 1994) consiste de folhelhos cinza, siltitos e
arenitos micáceos, depositados em paleoambiente marinho raso durante o Wenlock.
A Formação Jaicós (Plummer, 1946 apud Góes & Feijó, 1994) é composta por
arenitos médios a grossos e, eventualmente, pelitos, depositados em paleoambiente
fluvial entrelaçado durante o neossiluriano.
O Grupo Serra Grande tem seus contatos inferior, com o embasamento, e
superior, com o Grupo Canindé, em discordância erosiva.

2.3.2 GRUPO CANINDÉ

O Grupo Canindé (sensu Góes et al., 1992 apud Góes & Feijó, 1994) está
dividido em cinco formações: Itaim, Pimenteira, Cabeças, Longá e Poti. A Formação
Itaim (Kegel, 1953 apud Góes & Feijó, 1994) é composta por arenitos finos
esbranquiçados e por folhelhos cinzas a pretos, depositados em paleoambientes
deltaicos e de plataforma, sob influência de correntes de tempestade, durante o
Eifeliano (Mesodevoniano). A Formação Pimenteira caracteriza-se por folhelhos
cinzas a pretos intercalados com finas camadas de areia fina. Esta formação, por ser
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 11
Charles George K. Young

Figura 2.2 – Carta estratigráfica da bacia do Parnaíba (ANP, 2002).


Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 12
Charles George K. Young

objeto deste trabalho, será abordada em seção própria a seguir. A Formação


Cabeças consiste de arenitos finos, depositados em paleoambiente plataformal sob
influência de maré (Freitas, 1990 apud Góes & Feijó, 1994) e/ou sob influência
periglacial (Caputo, 1984 apud Góes & Feijó, 1994), representada pela ocorrência de
diamictitos (tilitos). Nela ocorre também uma fácies de arenitos grossos associada a
paleoambientes estuarinos com influência periglacial (Fortes, 1990 apud Góes &
Feijó, 1994). Sua idade é givetiana–frasniana (Mesodevoniano–Neodevoniano). A
Formação Longá (Albuquerque & Dequech, 1946 apud Góes & Feijó, 1994) abrange
folhelhos e siltitos cinzas e arenitos finos argilosos brancos, interpretados como
depósitos de uma plataforma marinha dominada por tempestades, de idade
fameniana (Neodevoniano). A Formação Poti (Paiva, 1937 apud Góes & Feijó,
1994), depositada em deltas e planícies de maré com influência eventual de
tempestades, é composta por arenitos cinza-esbranquiçados, intercalados e
interlaminados com folhelhos e siltitos, de idade tournaisiana (Eocarbonífero).
O contato superior do Grupo Canindé com o Grupo Balsas é discordante
erosivo.

2.3.3 GRUPO BALSAS

O Grupo Balsas (sensu Góes et al., 1993 apud Góes & Feijó, 1994) divide-se
em quatro formações: Piauí, Pedra de Fogo, Motuca e Sambaíba. A Formação Piauí
(Small, 1914 apud Góes & Feijó, 1994) denomina arenitos finos a médios bem
selecionados, conglomerados, folhelhos vermelhos e calcários esbranquiçados,
depositados em paleoambiente litorâneo árido, com idade Morrowano–Atokano
(Lima Filho, 1991 apud Góes & Feijó, 1994). A Formação Pedra de Fogo (Plummer,
1946 apud Góes & Feijó, 1994) caracteriza-se pela presença de sílex e de calcário
oolítico e pisolítico, intercalados com arenitos, folhelhos e anidrita. Sua idade é
eopermiana e seu paleoambiente deposicional é marinho raso a litorâneo com
presença de sabkhas, com eventual influência de tempestades. A Formação Motuca
(Plummer, 1946 apud Góes & Feijó, 1994) compõe-se de siltito avermelhado e
marrom, arenitos brancos, anidrita e raros calcários, depositados no Neopermiano
em ambientes continentais desérticos e lacustres. A Formação Sambaíba (Plummer,
1946 apud Góes & Feijó, 1994) consiste de arenitos médios a finos, bimodais, bem
selecionados, com estratificação cruzada de porte grande, característicos de um
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 13
Charles George K. Young

ambiente eólico desértico. A ausência de fósseis impede uma datação precisa,


sendo posicionado tentativamente no Eotriássico.
O contato superior do Grupo Balsas com os sedimentos supra-Grupo Balsas
(formações Mosquito, Pastos Bons, Corda, Sardinha, Grajaú, Codó, e Itapecuru) é
discordante erosivo.

2.4 Tectônica e sedimentação (Góes et al., 1990)

O cenário sobre o qual se desenvolveu a sedimentação pré-ordoviciana na


bacia do Parnaíba influenciou de forma marcante as fases deposicionais seguintes.
Nesse cenário, os pulsos terminais do Ciclo Brasiliano (Cambriano–Ordoviciano)
criaram uma série de grabens distribuídos pela bacia, estes com eixos
predominantemente SO–NE e N–S. Tais grabens foram preenchidos por sedimentos
imaturos (formações Riachão e Mirador), e são correlacionados ao Grupo Jaibaras e
à Formação Monte Carmo, ambos encontrados em grabens fora do limite atual da
bacia.
Como resultado de uma subsidência termal da região, criou-se uma grande
depressão ordoviciana, e instalou-se nela a primeira grande seqüência deposicional,
a seqüência Siluriana, representada pelos sedimentos flúvio-deltaicos do Grupo
Serra Grande. O fim desta seqüência deposicional é marcado pela orogenia
Caledoniana, que resultou numa discordância regional.
A segunda seqüência, a Devoniana, teve deposição associada à continuação
dos processos de subsidência termal, influenciados por efeitos flexurais. Isto, ainda
associado a uma tendência global de elevação do nível do mar, resultou na
instalação de um extenso mar epicontinental, representado pelos sedimentos do
Grupo Canindé. O encerramento desta seqüência deposicional é marcado por uma
discordância regional associada aos efeitos da orogenia Eo-Herciniana.
Na terceira seqüência, a Carbonífera–Triássica, retoma-se a sedimentação
com a deposição do Grupo Balsas. Este grupo marca uma progressiva
continentalização e desertificação em toda a bacia. O fim dessa seqüência
deposicional, e do registro Paleozóico da bacia do Parnaíba, está ligado a
Reativação Wealdeniana, que representa a desagregação do paleocontinente
Gondwana.
As duas primeiras seqüências deposicionais têm seus depocentros
fortemente controlados por dois lineamentos: Transbrasiliano (também conhecido
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 14
Charles George K. Young

como Sobral–Pedro II), o principal controlador, de orientação SO–NE, e Picos–Santa


Inês, de orientação aproximadamente NO–SE, exercendo influência em menor
escala (Figura 2.3). Estes lineamentos controlam também a ocorrência e distribuição
dos grabens precursores da bacia. Quanto à terceira seqüência deposicional,
observa-se uma migração de seu depocentro para o centro da bacia. Entretanto,
Cunha (1986) atenta para o fato de que tal seqüência possui poucos poços
perfurados para se obter um controle preciso de sua dispersão, e que ela
possivelmente também foi controlada pelos lineamentos em questão.

Figura 2.3 – Distribuição dos elementos estruturais que definem os lineamentos Transbrasiliano e
Picos–Santa Inês (Cunha, 1986).
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 15
Charles George K. Young

2.5 Geologia do Petróleo

A literatura disponível ao público sobre os aspectos petrolíferos da bacia do


Parnaíba é escassa, representada apenas pelos trabalhos de Campbell et al. (1949),
Mesner & Wooldridge (1964), Góes et al. (1990) e Rodrigues (1995). Além destes, o
assunto é abordado principalmente em relatórios internos da Petrobrás. Entretanto,
destacam-se ainda como de grande valor para uma melhor compreensão de
diferentes aspectos relacionados à geologia do petróleo da bacia, os trabalhos de
Cunha (1986), sobre a evolução tectônica e sedimentar da bacia; Della Fávera
(1990), sobre estratigrafia e sedimentologia da seqüência Devoniana; de Góes
(1996), sobre a estratigrafia da Formação Poti e sobre a evolução tectônica da bacia
do Parnaíba; de Lima Filho (1998), sobre estratigrafia de seqüências da seqüência
Carbonífero–Triássica; e de Albuquerque (2000), sobre a estratigrafia de seqüências
da seqüência Devoniana.

2.5.1 HISTÓRICO DE EXPLORAÇÃO

Segundo Góes et al. (1990), os primeiros esforços direcionados à exploração


de hidrocarbonetos foram realizados pelo Conselho Nacional de Petróleo (CNP) na
década de 1950, com levantamentos geológicos de superfície e a perfuração de dois
poços. Com a criação da Petrobrás em 1953, foram iniciadas novas campanhas
exploratórias. A primeira, no período entre 1953 e 1966, resultou em trabalhos de
mapeamento geológico, interpretação fotogeológica, levantamentos geofísicos
(gravimetria e sísmica 2D) e a perfuração de 22 poços, levando ao achado de
indícios de óleo e gás. Em 1975, a Petrobrás reiniciou os trabalhos, com novas
aquisições de sísmica, aeromagnetometria e a perfuração de mais quatro poços
pioneiros.
Em meados da década de 1980, a ESSO e a ANSCHUTZ, através da política
dos “contratos de risco”, iniciaram uma campanha de prospecção de petróleo na
bacia. Foram realizados levantamentos de sísmica, aeromagnetometria,
sensoriamento remoto e a perfuração de um poço na região do arco Ferrer. Em
seguida, a Petrobrás retornou à bacia para a perfuração de mais dois poços com o
objetivo de adquirir dados geoquímicos.
A partir de 1988, a Petrobrás promoveu uma nova campanha que consistiu no
levantamento de dados de geofísica (sísmica e aeromagnetometria), geoquímica e
sensoriamento remoto, além da reinterpretarão de todos os dados já disponíveis. Os
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 16
Charles George K. Young

resultados dessa campanha foram publicados como um relatório interno da


Petrobrás, possivelmente o de Góes et al. (1993, apud Góes et al., 1994) intitulado
“Projeto Parnaíba: reavaliação da bacia e perspectivas exploratórias”. Desde então
não houve mais trabalhos sobre o potencial petrolífero da bacia por parte de
empresas.
Como resultado final das campanhas exploratórias, foram perfurados 41
poços e levantadas 125 linhas sísmicas 2D, além da adquiridos de dados
magnetométricos e gravimétricos (BDEP, 2002) (Figura 2.4).

Figura 2.4 – Mapa índice dos grids sísmicos e poços exploratórios da bacia do Parnaíba (Milani &
Zalán, 1998).
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 17
Charles George K. Young

2.5.2 SISTEMAS PETROLÍFEROS

Góes et al. (1993 apud Milani & Zalán, 1998) apontam como principal
sistema petrolífero o sistema Pimenteira–Cabeças (!), já sugerido anteriormente por
Góes et al. (1990), cuja geração de hidrocarbonetos dá-se nos folhelhos orgânicos
da Formação Pimenteira e os reservatórios, nos arenitos deltaicos da Formação
Cabeças. As rochas capeadoras seriam os folhelhos da Formação Longá (Mesner &
Wooldridge, 1964). O principal trapeamento é estrutural, podendo ocorrer também
acumulações associadas a pinch-outs dos arenitos da Formação Cabeças (Mesner
& Wooldridge, 1964). Góes et al. (1990) postulam a existência de um possível
sistema petrolífero siluriano, com a rocha geradora sendo os folhelhos da Formação
Tianguá e, os reservatórios, os conglomerados e arenitos das Formações Ipu e
Jaicós. Entretanto, já foram encontrados indícios de óleo e gás em situações
diferentes das citadas, como no poço 2-CP-1-MA (Capinzal), considerado uma jazida
subcomercial de gás natural, onde a acumulação se encontrava abaixo de uma
soleira de diabásio dentro da Formação Pimenteira (Figura 2.5).

Figura 2.5 – Seção sísmica interpretada mostrando trapeamento de gás (cor amarela) sob uma
soleira de diabásio no poço 2-CP-1-MA (mod. Petroli & Bressani, 1997 apud Milani & Zalán, 1998).

Rodrigues (1995) associou os melhores indícios de óleo (no poço 1-TB-2-MA)


e gás (no poço 2-CP-1-MA) a geradores do Devoniano (Formação Pimenteira),
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 18
Charles George K. Young

devido a características geoquímicas, os quais teriam sofrido o efeito térmico de


intrusões de diabásio, vista sua elevada maturação, incompatível com a evolução
térmica da bacia.
Rodrigues (1995) ainda estudou o efeito de intrusões de diabásio nas rochas
geradoras como um possível mecanismo de geração de hidrocarbonetos. Ele indica
a possibilidade de geração de hidrocarbonetos sob essas condições não-
convencionais, porém aponta a necessidade de condições muito particulares de
migração e acumulação para que tal situação seja válida economicamente.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 19
Charles George K. Young

3 A FORMAÇÃO PIMENTEIRA

3.1 Histórico do uso estratigráfico do termo

Historicamente, o termo “folhelho Pimenteira” foi inicialmente utilizado por


Small (1914 apud Brito, 1979) para identificar camadas de folhelhos aflorantes
próximos à Cidade de Pimenteira, no Município de Valença do Piauí, Estado do
Piauí. Posteriormente, Plummer (1946 apud Campbell et al., 1949) conferiu a
hierarquia de formação a tais rochas e discerniu dois membros: Oitis, inferior,
constituído de folhelhos, e Picos, superior, constituído por uma intercalação de
arenitos e folhelhos. Entretanto, Kegel (1953), ao estudar a fauna do Membro Oitis,
percebeu que ela era mais recente que a do Membro Picos e pertencente ao
Membro Passagem da Formação Cabeças, o que levou o termo Oitis ao abandono.
Então, Kegel (1953) redefiniu a Formação Pimenteira, incluindo-lhe na base uma
seção de arenitos denominada Membro Itaim, mas mantendo na parte superior o
Membro Picos, predominantemente argiloso.
Tais proposições permanecem em vigência e ainda são utilizadas por alguns
autores (q.v. Mabesoone, 1994). Porém, no âmbito interno da Petrobrás, o Membro
Itaim fora elevado a formação por Carozzi et al. (1975), resultando no abandono do
termo Picos. Tais fatos estão refletidos na carta estratigráfica proposta por Góes &
Feijó (1994).
É interessante notar que, na proposta estratigráfica de Carozzi et al. (1975)
(Figura 3.1A), baseada em furos de sondagem, faz-se uso de um membro arenoso
na parte inferior da Formação Pimenteira, aparentemente restrito ao centro e oeste
da bacia, denominado Membro Carolina. Entretanto, não fica claro em Carozzi et al.
(1975) de quem foi a proposta inicial do membro Carolina; numa breve consulta ao
Léxico Estratigráfico Brasileiro (Baptista et al., 1984) percebe-se que a terminologia
“Membro Carolina” já fora utilizada em diferentes contextos distintos do uso desses
autores, tendo sido utilizado inicialmente por Miranda & Paiva (1936 apud Baptista et
al., 1984) para descrever um calcário no Maranhão. Tal nomenclatura ainda foi
utilizada posteriormente por outros autores na bacia do Parnaíba como Leonardos
(1938b apud Baptista et al., 1984), que o usou para referir-se a um “Arenito Carolina”
de idade permiana; por Kegel (1953), para um tilito composto por “folhelhos escuros
e intercalados com arenitos”; e por Barbosa (1966 apud Baptista et al., 1984)
também para um tilito, este como membro médio da Formação Longá.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 20
Charles George K. Young

Carozzi et al. (1975) ainda subdividem o Membro Carolina em superior e


inferior, fornecendo mapas de “clasticidade ambiental” (figuras 3.1B), mas não
fornecem mapas de isópacas para nenhum deles.

A) B)

Figura 3.1 – A) Proposta estratigráfica de Carozzi et al. (1975) para a bacia do Parnaíba. O Membro
Carolina (destacado) está localizado próximo à base da Formação Pimenteira. B) Mapa de
“clasticidade e ambiental” da parte superior do Membro Carolina. Observar que o Membro Carolina se
apresenta com um corpo de areias isolado em meio a folhelhos (Carozzi et al., 1975).

3.2 Características litoestratigráficas

3.2.1 LITOLOGIAS

Góes et al. (1994) descrevem a Formação Pimenteira como um pacote de


rochas sedimentares constituído, em sua maior parte, por espessos folhelhos e
siltitos. Em escala reduzida, seriam encontradas lentes e delgadas camadas de
arenitos finos.
Lima Filho (1998), citando Della Fávera (1984), descreve a Formação
Pimenteira como uma série de ciclos granocrescentes para cima, com 10 a 30 m de
espessura, começando com argilitos e terminando com corpos de arenitos de 3 a 5
m de espessura, com geometria de barras ou lobos e distribuição lateral de
aproximadamente 100 m. A característica principal dessas ‘barras de fim de ciclo’
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 21
Charles George K. Young

seria a estratificação cruzada hummocky. Os topos de tais barras ainda se


encontrariam extremamente bioturbados, formando extensos hardgrounds.
Na borda Leste da bacia é famosa a ocorrência de anomalias radiométricas
associadas a nódulos fosfáticos na Formação Pimenteira. Fuzikawa (1968 apud
Oliveira & Barros, 1976) foi o primeiro a apontar, após levantamentos cintilométricos
na bacia do Parnaíba, a ocorrência de tais anomalias na área da cidade de São
Miguel do Tapuio, Estado do Piauí. Posteriormente, alunos de graduação da UFPe
(Melo, 1971), por meio de convênio com a CNEN, mapearam estas anomalias e
constataram que elas se localizavam na parte superior da Formação Itaim e que
representavam lentes de conglomerados fosfáticos. Em 1972, o projeto São Miguel
do Tapuio (CNEN / CPRM – Albuquerque et al., 1972) realizou uma série de furos de
sondagem no entorno da cidade de São Miguel do Tapuio com o intuito de verificar a
continuidade dessas anomalias radiométricas em subsuperfície, assim como a
prospectividade das mesmas para urânio, visto a clássica associação fosfato–urânio.
Tal projeto verificou que as anomalias situam-se na “zona de transição” entre a
Formação Itaim e a Formação Pimenteira, que são descontínuas e com valores
muito variáveis de radioatividade, não configurando uma jazida de interesse
econômico. Posteriormente, em 1976, um novo projeto chamado Fosfato de São
Miguel do Tapuio (DNPM / CPRM – Oliveira & Barros, 1976) foi realizado com o
objetivo de avaliar economicamente as reservas e os teores de fosfato nas regiões
próximas as cidades de São Miguel do Tapuio e Pimenteiras, no Estado do Piauí.
Para tal foram realizados 31 furos de sondagem testemunhados e perfilados,
fotointerpretação, mapeamento geológico na escala de 1:25.000 e 1:50.000,
descrição de lâminas petrográficas, análises bioestratigráficas, medições
radiométricas com cintilômetro de mão, análises mineralógicas por Raios-X e
análises quantitativas de P2O5. Um dos resultados do projeto foi a constatação que,
nessa região, a Formação Pimenteira possui entre 120 e 130 m de espessura e que
pode ser dividida em quatro sub-unidades, da base para o topo: DpA, com 30 m de
espessura média, constituída na base por “rochas carbonáticas fosfáticas oolíticas e
impuras”, arenitos cinzas calcíferos e conglomerados que passam, em direção ao
topo, para siltitos e folhelhos escuros e cinzentos, piritosos; DpB, com 15 m de
espessura média, constituída essencialmente de arenitos cremes, piritosos, com
intercalações de argilitos e “calcários impuros”, incluindo lentes de nódulos fosfáticos
na base; DpC, com 30 m de espessura média, composto predominantemente por
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 22
Charles George K. Young

siltitos e folhelhos cinza e cinza-escuros, com freqüentes bioturbações, incluindo


eventualmente em seu topo lente de fosfato nodular; DpD, com aproximadamente 45
m de espessura, constituindo o topo da Formação Pimenteira, onde predominam
intercalações de arenitos cinza, cinza-escuros, cinza-esverdeados, às vezes
calcíferos e com fosfato disseminado, além de siltitos e folhelhos cinza e cinza-
escuros terminando com calcários afaníticos, arenitos ferruginosos e hematita
oolítica. Além disso, os autores notaram que tanto o fosfato dos níveis oolíticos e
nodular encontram-se associados à ocorrência de glauconita; que a ocorrência dos
fosfatos se acha intimamente associada à anomalias radiométricas; e que, na média,
os teores de fosfato são baixos, por volta de 2%, pontualmente alcançando 6,3% no
nível oolítico e 18% no nível nodular.
Aparentemente a ocorrência de ooides não está restrita ao Leste da bacia.
Carozzi et al. (1975) mostram a ocorrência de oolitos de chamosita no topo da
Formação Itaim, similares aos de Oliveira & Barros (1976), no poço 1-TM-1-MA,
localizado no sudeste da bacia, e no poço 2-NLst-1, ao sul de Teresina, alem da
ocorrência de matriz chamosítica nos poços 2-IZst-1 e 2-SLst-1, localizados na parte
oeste da bacia. Ribeiro & Dardenne (1978) descrevem a ocorrência de minério de
ferro oolítico na Formação Pimenteira, entre as cidades de Paraíso do Norte e
Colinas, Estado do Tocantins (borda Oeste). Os mesmos autores dividiram
localmente a formação em dois membros, inferior e superior. O membro inferior, com
espessura variando de 20 a 40 m, constitui-se de arenitos grossos e conglomerados
ferruginosos, arenitos conglomerático oolítico esverdeados, siltitos bioturbados de
cor cinza, um nível oolítico ferruginoso e arenitos finos e siltitos esverdeados
intercalados com folhelhos pretos betuminosos; e o membro superior, que pode
atingir até 100 m de espessura, é composto de folhelhos pretos betuminosos com
intercalações de siltitos e arenitos cinza. O nível de minério oolítico se encontra na
parte basal e média do membro inferior, e tem como composição oolitos
ferrugionosos de hidróxido de ferro e hematita, pellets de hidróxido de ferro e oolitos
chamosíticos.

3.2.2 RELAÇÕES DE CONTATO

Os contatos inferior e superior da Formação Pimenteira, com as formações


Itaim e Cabeças, respectivamente, são freqüentemente interpretados como
concordantes e gradacionais (Della Fávera, 1990; Caputo, 1984; Carvalho, 1995;
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 23
Charles George K. Young

Lima & Leite, 1978). Entretanto, Lima & Leite (1978) notam que, localmente, o
contato superior com a Formação Cabeças pode ser discordante. Estes autores
descrevem o contato entre essas formações, na região de Anísio de Abreu (PI),
como nitidamente erosivo, devido à ocorrência de um conglomerado com 1,10 m de
espessura na base da Formação Cabeças, este contento blocos angulosos de
siltitos e folhelhos com até 30 cm de diâmetro. Tal camada repousa sobre superfície
ondulada e irregular desenvolvida sobre os folhelhos subjacentes da Formação
Pimenteira.
Oliveira & Barros (1976), em estudos na borda Leste da bacia, sugerem a
presença de diastemas no contato entre as formações Itaim e Pimenteira devido à
ocorrência de rochas carbonáticas, ferruginosas, oolíticas e fosfatadas, interpretadas
pelos autores como diagnósticas de pequenas taxas de sedimentação. Os mesmos
autores apontam também que, localmente, o contato entre as formações Cabeças e
Pimenteira se faz em discordância erosiva, visto a ocorrência de conglomerados
com seixos fosfáticos na base da Formação Cabeças, seixos estes que seriam
originários da Formação Pimenteira.

3.2.3 ESPESSURA E DISTRIBUIÇÃO

Cunha (1986) publicou, com base em furos de sondagem, um mapa de


isópacas da Formação Pimenteira (figura 3.2), onde se pode constatar sua
distribuição bacinal. No mapa, notam-se dois eixos: um de orientação NE–SO e
outro de orientação NO–SE, onde se encontram as maiores espessuras da
formação. Tais eixos deposicionais estariam relacionados aos lineamentos
Transbrasiliano e Picos–Santa Inês, respectivamente, encontrados no embasamento
da bacia. Nestes eixos, a Formação Pimenteira atinge espessuras máximas de 423
e 526 m respectivamente. Segundo o mapa de Cunha (1986), em direção à borda
Leste, área de estudo, a espessura da Formação Pimenteira é da ordem de 200 m.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 24
Charles George K. Young

Figura 3.2 – Mapa de isópacas da Formação Pimenteira (Cunha, 1986). Observam-se dois eixos
deposicionais, de orientação NO–SE e NE–SO, onde a formação é mais espessa correspondendo a
influência dos lineamentos Picos–Santa Inês e Transbrasiliano, respectivamente.

3.3 Paleoambientes de sedimentação

As propostas de ambientes de sedimentação para a Formação Pimenteira na


literatura são bem homogêneas. De forma geral, grande parte dos autores
concordam que ela se deu em ambiente marinho plataformal (Della Fávera, 1990,
2001; Albuquerque, 2000; Melo, 1988; Mesner & Wooldridge, 1964).
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 25
Charles George K. Young

Carozzi et al. (1975) interpretam os sedimentos do Membro Carolina, em


particular, como sendo depósitos de frente deltaica e de canais distributários.
Oliveira & Barros (1976) interpretam as duas zonas de rochas carbonáticas,
oolíticas e ferruginosas como resultado de deposição químico-clástica. Para as
subunidades definidas pelos mesmos autores, as interpretações são as seguintes:
DpA, ambiente de offshore com eventuais sedimentos de prodelta; DpB, barras de
prodelta; DpC, ambiente marinho offshore fortemente euxínico; e DpD como
depósitos de frente deltaica, prodelta e offshore.
Ribeiro & Dardenne (1978) interpretam os depósitos de oolitos ferruginosos
como de origem lagunar, e o restante da formação como depositada em ambiente de
offshore.
Melo (1988) aponta deposição em ambiente marinho distal a costeiro, com a
presença de barras de offshore.
Della Fávera (1990) mostrou retrabalhamento de sedimentos arenosos por
tempestades nessa formação.
Mabesoone (1994) apontou, com base em análises litológicas e de estruturas
sedimentares, ambiente litorâneo e de planície de maré.
Della Fávera (2001) acrescenta que as areias da Formação Pimenteira tem
afinidade genética com prodeltas, cujas frentes deltaicas seriam os arenitos da
Formação Cabeças.

3.4 Contexto estratigráfico de seqüências

No contexto de Estratigrafia de Seqüências, Góes & Feijó (1994) indicam que


a Formação Pimenteira pertence a uma seqüência de segunda ordem (seqüência
Devoniana–Missisipiana), na qual estão contidas as rochas grupo Canindé.
Della Fávera (1990) foi o pioneiro na identificação de marcos elétricos para a
definição de seqüências na bacia do Parnaíba. Tal autor propôs, utilizando como
referência o perfil de raios gama do poço 1-CA-1-MA, a seqüência Devoniana, de 2a
ordem. Essa seqüência é limitada, na base, por uma discordância de origem
tectônica, que a separa da Seqüência Siluriana e, o topo, por um nível de diamictitos
que marca o início do intervalo glacial Fameniano (Caputo, 1985 apud Della Fávera,
2001).
Posteriormente, Albuquerque (2000) reavaliou os marcos elétricos de Della
Fávera (1990) e subdividiu a seqüência Devoniana, utilizando os conceitos de
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 26
Charles George K. Young

Estratigrafia Genética de Galloway (sensu Galloway, 1989 apud Albuquerque, 2000),


em nove seqüências genéticas de terceira ordem (figura 3.3). Segundo esta autora,
a Formação Pimenteira correlaciona-se com cinco seqüências (C, D, E, F e G),
exceto o quinto superior da ultima seqüência (G), que já faz parte de outra formação
(Formação Cabeças). Nessa abordagem estratigráfica, a Formação Pimenteira teria
sido depositada num intervalo de tempo de aproximadamente 18 Ma.

Figura 3.3 – Perfil de referência de Albuquerque (2000) para a subdivisão da Seqüência Devoniana
em seqüências de terceira ordem (poço RB-1-MA). A Formação Pimenteira abrange da base da
seqüência C até a seqüência G, excluindo seu quinto final.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 27
Charles George K. Young

Na formação Pimenteira é notável a ocorrência de folhelhos negros, ricos em


matéria orgânica, radioativos. Tais folhelhos, que servem como excelentes marcos
elétricos, representam superfícies de máxima inundação marinha na bacia (seções
condensadas).

3.5 Contexto bioestratigráfico e idade

A Formação Pimenteira é uma unidade rica em macro- e microfósseis. Vários


autores propuseram zoneamentos bioestratigráficos para a bacia usando diferentes
grupos de microfósseis. O primeiro e mais utilizado deles é o de Müller (1962 apud
Melo, 2002), que combina o uso de acritarcas, miósporos e quitinozoários. Tal
zoneamento utiliza zonas nomeadas de A a T, abrangendo do Siluriano ao Cretáceo.
Segundo esse zoneamento, a Formação Pimenteira abrange desde o terço final da
biozona R até o fim da biozona Qsuperior.
Recentemente, Grahn et al. (2001) revisaram este zoneamento proposto por
Müller (1962 apud Melo, 2002), apontando que o limite inferior da Formação
Pimenteira situar-se-ia aproximadamente no meio da zona R, e seu limite superior
coincide com o limite superior da zona Qsuperior. Isso concede à formação uma idade
que vai de meados do Eifeliano ao fim do Frasniano.
Melo (2002) correlaciona a Formação Pimenteira com a sucessão das zonas
AD (pré-Lem e Lem), TA, BJ e “IV” de Streel et al. (1987, apud Melo, 2002). A idade
da Formação, segundo este zoneamento, é igual à do zoneamento de Grahn et al.
(2001). Melo (2002) propõe ainda, em uma correlação bioestratigráfica entre as
bacias do Amazonas e Parnaíba, a correlação da Formação Pimenteira com suas
zonas Per, LLi, Trg, BPi, Bmu e parte de (TP) (Figura 3.4).

3.6 Contexto paleogeográfico, paleoecológico e paleoclimático

Segundo reconstruções paleogeográficas de Scotese et al. (1999), a bacia do


Parnaíba situava-se em altas latitudes (ca. 60o Sul) durante o Devoniano. Já
segundo Melo (1988), a bacia poderia encontrar-se em latitude entre 35 e 60o Sul.
Carozzi et al. (1975) apontam que, durante o Devoniano, as principais fontes
de sedimento da bacia seriam três sistemas deltaicos, localizados no E, W e SE da
bacia, e que esta estaria conectada com a bacia do Amazonas pelo NO, e com a
bacia do Paraná pelo SO (Melo, 1988) (Figura 3.5).
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 28
Charles George K. Young

Figura 3.4 – Comparação entre os biozoneamentos da Europa Ocidental, ORS Continent e as bacias
do Amazonas e Parnaíba. (mod. Melo, 2002).

Na borda Leste da bacia, Oliveira & Barros (1976) apontaram a principal


direção de transporte de sedimentos para NO.
Santos (1998), ao estudar aspectos da paleoecologia da bacia do Parnaíba,
reconheceu a ocorrência de comunidades fossilíferas distintas no tempo. Na parte
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 29
Charles George K. Young

Figura 3.5 – Reconstrução paleogeográfica para o Emsiano/Eifeliano (Melo, 1988). As setas pretas
indicam as principais direções de aporte sedimentar e os números, importantes localidade fossilíferas
para esse intervalo do tempo. Observar que o autor postula uma conexão da bacia do Parnaíba com
as bacias do Paraná e Amazonas.

inferior da Formação Pimenteira, considerada de idade Eifeliano final, a autora


identificou uma assembléia fóssil característica de plataforma marinha, com
trilobitas, ostracódeos, braquiópodos, biválvios, gastrópodos, conularídeos,
tentaculitídeos, hiolitídeos, escolecodontes, restos vegetais e de peixes. Na parte
média da formação, do início do Givetiano, são encontrados macrofósseis e
icnofósseis indicativos de ambiente litorâneo. Ocorrem nessa associação
braquiópodes inarticulados (gêneros Lingula e Orbiculoidea), gastrópodos
belerofontídeos, biválvios nuculídeos e o trilobita Homalonotus. Na parte superior da
Formação Pimenteira, do final do Frasniano ao início do Fameniano, são raros os
registros fósseis, e a associação observada consiste de Spirophyton (icnofóssil) e
Protosalvinia (alga?). Esta pobreza em fósseis foi relacionada a um bioevento de
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 30
Charles George K. Young

anoxia associado a uma elevação eustática do nível do mar, representado pelo


registro de folhelhos negros radioativos.
A associação faunística do Devoniano da bacia do Parnaíba é única por tratar
de uma mistura de espécies das faunas das províncias Malvinocáfrica e Americana
Oriental, portanto não podendo ser associada univocamente a nenhuma destas
(Melo, 1988; Santos, 1998).
Climaticamente, o Devoniano situa-se dentro de um período de efeito estufa
(Crowley & North, 1991). Na bacia do Parnaíba, os indicadores de paleoclimas
apresentam uma variação complexa, levando a divergentes opiniões na literatura. A
presença de um clima frio é sugerida pela baixa diversidade da fauna e pela
presença de elementos faunísticos da paleoprovíncia Malvinocáfrica (Melo, 1988;
Santos, 1998), pela ocorrência de sedimentos glaciogênicos na Formação Cabeças
(Caputo, 1984), e pelo posicionamento da bacia em altas latitudes (Scotese et al.,
1999). Porém, ocorrem também indicadores de águas quentes como: elementos
faunísticos das paleoprovíncias Americana Oriental e do Velho Mundo (de águas
mais quentes), que inclui apresença do braquiópode articulado Tropidoleptus
carinatus (Santos, 1998); e a ocorrência de depósitos de ferro oolítico, associados a
climas tropicais por Ribeiro & Dardenne (1984), apesar de Van Houten & Arthur
(1989) mostrarem que a associação destes depósitos a climas tropicais é
controversa, visto que podem ocorrem em paleolatitudes superiores a 60o. Santos
(1998) sugere que tal complexidade climática resulta da influência de paleocorrentes
oceânicas frias e quentes afetando a bacia do Parnaíba. Por fim, Scotese et al.
(1999), usando um sistema de classificação climática modificada de Koeppen (1931
apud Scotese et al., 1999), mostram que existem indícios da ocorrência de um
cinturão de clima quente temperado em altas latitudes, do Siluriano ao Devoniano
Final, que englobaria as bacias do Amazonas e Parnaíba, além das áreas dos atuais
países Argélia e Austrália.

3.7 Geologia do Petróleo

Segundo Góes et al. (1990), a Formação Pimenteira é considerada a principal


formação geradora de óleo da bacia.
Rodrigues (1995), ao estudar a geoquímica das formações potencialmente
geradoras de óleo da bacia, identificou cinco intervalos de rochas favoráveis,
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 31
Charles George K. Young

estando três destes dentro da Formação Pimenteira. Ele denominou-os, da base


para o topo, de folhelhos radioativos A, B e C (Figura 3.6).

Figura 3.6 – Folhelhos radioativos da Formação Pimenteira no poço 1-PAF-7-MA (Rodrigues, 1995).

Os folhelhos radioativos A, situados aproximadamente no limite


Eifeliano/Givetiano, têm espessura máxima de 20 m, possuem índices de carbono
orgânico total (COT) variando de 1,0 a 3,0%, matéria orgânica do tipo III, e são os
únicos que se encontram maturos por subsidência, no NO da bacia. Entretanto, são
pouco espessos para a geração de um volume apreciável de hidrocarbonetos.
Os folhelhos radioativos B, situados na parte média do Givetiano, são
encontrados apenas na parte central e norte da bacia. Possuem espessura máxima
de 20 m, COT variando de 1,0 a 3,5% e matéria orgânica mista, dos tipos II e III.
Este intervalo apresenta pouca evolução térmica por subsidência, associando-se
uma possível geração de óleo ao efeito térmico induzido por intrusões de diabásio.
Os folhelhos radioativos C correspondem aos folhelhos depositados no
Frasniano, correlacionáveis aos folhelhos geradores das bacias do Solimões
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 32
Charles George K. Young

(Formação Jandiatuba) e do Amazonas (Formação Barreirinha). É o principal


intervalo de folhelhos radioativos da bacia, alcançando 40 m de espessura e teores
de COT de até 5,0%. Sua matéria orgânica é de tipo II. Este intervalo não atingiu
evolução térmica por subsidência em nenhuma parte conhecida da bacia; portanto a
geração de óleo por tais folhelhos fica associada diretamente ao efeito térmico
induzido por intrusões de diabásio.
Esses intervalos de folhelhos radioativos representam superfícies de
inundação marinha da bacia durante o Devoniano, que proporcionaram a melhor
preservação da matéria orgânica devido ao estabelecimento de condições anóxicas
no fundo marinho. Esses intervalos de máxima inundação contêm seções
condensadas, das quais a do Frasniano corresponde à superfície de inundação
máxima do Devoniano.
Rodrigues (1995), após analisar os indícios de hidrocarbonetos encontrados
nas áreas de Balsas (1-TB-2-MA) e Capinzal (1-CP-1-MA), Estado do Maranhão,
constatou que estes tiveram sua origem nos folhelhos radioativos da Formação
Pimenteira, com sua geração associada ao efeito térmico de intrusões básicas.
Quanto aos reservatórios, Góes et al. (1990) sugeriram que corpos
lenticulares de arenitos dentro da própria Formação Pimenteira poderiam servir
como reservatórios de HC, visto que o processo de migração ficaria bastante
facilitado devido ao direto contato com as rochas geradoras.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 33
Charles George K. Young

4 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS

4.1 Conceitos de Estratigrafia de Seqüências

4.1.1 GENERALIDADES (VAN WAGONER ET AL., 1990)

Os conceitos de Estratigrafia de Seqüências, desenvolvidos no final da


década de 80, foram derivados dos conceitos da sismoestratigrafia utilizados por
geólogos e geofísicos da Exxon na década anterior, com o objetivo de analisar
sucessões de rochas sedimentares geneticamente relacionadas não só em seções
sísmicas, mas também em poços e afloramentos.
A seqüência é a unidade fundamental para a análise estratigráfica de
seqüências. Mitchum (1977 apud Van Wagoner et al., 1990) define seqüência como
uma sucessão concordante de estratos geneticamente relacionados, limitados por
discordâncias e suas concordâncias relativas.
Uma seqüência pode ser dividida em tratos de sistemas, que representam
prismas sedimentares produzidos em episódios de flutuação relativa do nível do mar
(Figura 4.6). Tratos de sistemas são definidos como um encadeamento de sistemas
deposicionais contemporâneos (Brown & Fisher, 1977 apud Van Wagoner et al.,
1990). São três os tratos de sistemas. O Trato de Sistema Transgressivo se forma
durante um período de subida rápida no nível do mar e caracteriza-se por uma
migração de fácies em direção ao continente; ou seja, as fácies de águas mais rasas
são recobertas por fácies de águas mais profundas. Durante a transgressão, em
partes mais próximas ao continente, pode ocorrer o desenvolvimento de um lag
transgressivo associado à uma superfície de inundação. Esse lag trangressivo
caracteriza-se por ser pouco espesso e por ser constituído de material das rochas
subjacentes, tendo sido gerado por erosão e posterior concentração de sedimentos
da costa durante o evento trangressivo. Quando a taxa de subida do mar começa a
diminuir e com redução do espaço para a acomodação de sedimentos, ocorrerá uma
progradação da linha de praia. Esses depósitos correspondem ao Trato de Mar Alto.
O Trato de Sistemas Transgressivo é separado do Trato de Mar Alto por uma
superfície de inundação máxima. Se ocorrer uma queda no nível do mar que
exponha a plataforma, ocorrerá erosão e a formação de um limite de seqüência.
Essa erosão continua até o mar chegar ao seu ponto mais baixo, gerando
sedimentos que irão ser depositados em águas profundas, caracterizando o Trato de
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 34
Charles George K. Young

Sistemas de Mar Baixo, que incluem a formação de leques submarinos e da


progradação de uma cunha de talude.
Os tratos de sistemas podem ainda ser divididos em paraseqüências.
Paraseqüências representam sucessões de camadas geneticamente relacionadas
limitadas por superfícies de inundação, mais tipicamente marinhas.
Uma superfície de inundação é caracterizada por pequenas taxas de
sedimentação, onde podem desenvolver-se firmgrounds, hardgrounds ou níveis
glauconíticos. Representam superfícies de condensação temporal ou, simplesmente,
superfícies de condensação. Litologicamente, são comumente representadas por
camadas de folhelhos ou margas, negros e radioativos.

Figura 4.1 – Diagrama esquemático dos tratos de sistemas em bacias plataformais e de rampa (mod.
Cant, 1992).

4.1.2 REGRESSÃO FORÇADA (POSAMENTIER ET AL., 1992)

Os conceitos da Estratigrafia de Seqüências sugerem que o desenvolvimento


de geometrias estratais é controlado por variações relativas no nível do mar. Numa
plataforma, depósitos de mar baixo podem ser identificados seguintes critérios: (1)
base brusca ou erosiva, que representa uma discordância; (2) posição isolada e
mais próxima ao centro da bacia relativo à linha de costa prévia; e (3) brusca
migração de fácies costeiras e de águas rasas em direção ao centro da bacia. Essa
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 35
Charles George K. Young

migração de fácies e regressão da linha de costa em resposta a uma queda relativa


do nível do mar é chamada de “regressão forçada”.
Uma regressão forçada difere de uma regressão “normal” por ser independente
de influxo sedimentar para a bacia (Figura 4.7). Uma regressão normal ocorre

Figura 4.2 – Modelo esquemático de regressões normais e forçadas. Em (a) e (b) temos regressão
normal em dois contextos diferentes (nível do mar estático ou subindo). Em (c) temos uma regressão
forçada devido a uma queda brusca do nível do mar. Notar como a linha de costa gerada por esse
evento fica desconectada da linha de costa anterior (mod. Posamentier et al., 1992).

quando o influxo sedimentar é maior que a taxa de acomodação, tendo como


conseqüência a migração da linha de costa em direção ao centro da bacia. Já uma
regressão forçada caracteriza-se por uma zona com bypass de sedimentos,
exposição subaérea e possível erosão fluvial, localizada entre a nova linha de costa
e a antiga linha de costa. Assim, entre as principais características de uma
regressão forçada, podem-se citar:

i. Depósitos relativamente grossos, formando corpos isolados, e


encontrando-se separados do sistema deposicional precedente por uma
zona de bypass;
ii. Linhas de costa de mar baixo são caracterizadas por depósito de
shoreface com base brusca, na parte proximal, e base gradacional, na
parte distal;
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 36
Charles George K. Young

iii. Depósitos de regressões forçadas são geralmente estreitos (<12 km);


iv. Em direção ao continente, na zona de bypass sedimentar, é comum que a
superfície erosiva regressiva se mescle com a superfície erosiva
transgressiva, formando uma superfície regressiva/transgressiva.

A inclinação da plataforma afeta bastante a taxa de regressão durante uma


queda relativa do nível do mar. Numa margem de estilo em rampa, com baixa
declividade, a queda no nível do mar expõe, primeiro, a antepraia relativamente
íngreme e, posteriormente, a região de costa-afora com declividade mais suave. A
regressão forçada tem início lento, à medida que o relevo associado à antepraia é
exposto (figura 4.8, tempo 3 – 5). Com a continuação da queda do mar, a regressão
forçada acelera bruscamente à medida que o fundo do mar, de baixa declividade, é
exposto. (Figura 4.8, tempo 6). Por exemplo, uma queda relativa no nível do mar de
10 m numa plataforma com 0,5o de inclinação na antepraia resultaria numa migração
da linha de costa de 1 km. Já numa região de costa-afora, com inclinação mais
suave, 0,02o, uma queda relativa de 1 m resultaria numa migração da linha de costa
de aproximadamente 29 km.
Depósitos de regressão forçada são descritos em uma série de localidades
como na Formação Aren (Cretáceo), Espanha (Mutti & Allen, 1987 apud
Posamentier et al., 1992), e na Western Canadian Sedimentary Basin (Plint, 1988
apud Posamentier et al., 1992). Segundo Plint (1988, apud Posamentier et al.,
1992), o desenvolvimento do modelo de regressão forçada levou à reinterpretação
de uma série depósitos considerados barras de costa-afora (offshore bars) como
depósitos de regressão forçada. Vale ressaltar que na Western Canadian
Sedimentary Basin o modelo de regressão forçada é ativamente utilizado na
exploração de petróleo, visto que os reservatórios correspondem aos depósitos
arenosos das regressões (q.v. Krause et al., 1987).
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 37
Charles George K. Young

Figura 4.3 – Representação esquemática do efeito de uma queda do nível do mar em plataformas em
rampa. A regressão forçada se inicia entre os tempos 3 e 4 e progride lentamente até antepraia,
íngreme, estar totalmente exposta (tempos 5 e 6). Após o tempo 6, a continuada da queda do nível
do mar resulta em rápida regressão à medida em a região do costa-afora, de baixo gradiente, é
exposta (mod. Posamentier et al., 1992).

4.2 Plataforma marinha

4.2.1 GENERALIDADES (WALKER & PLINT, 1992)

Os modelos de plataforma marinha são, em grande parte, baseados na


observação do recente em margens passivas, como a do oceano Atlântico. Os
principais elementos morfológicos de uma plataforma atual podem ser vistos na
Figura 4.1.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 38
Charles George K. Young

Figura 4.4 – Perfil de uma plataforma marinha rasa ilustrando os elementos que a compõem
(antepraia, face de praia e costa-afora), assim como o nível base de ação de ondas de tempo bom e
tempestade e a área de ocorrência de algumas icnofácies. Notar que as ondas de tempo bom com
comprimento de onda L não conseguem agitar o fundo que esteja a profundidades maiores que L/2
(mod. Walker & Plint, 1992).

A face de praia (foreshore), ou praia propriamente dita, consiste da porção


acima da linha da maré mais baixa e abaixo da maré mais alta, sendo dominada
pelo espraiamento das ondas após sua arrebentação.
A antepraia (shoreface) localiza-se abaixo da linha de maré e caracteriza-se
pelo transporte de areias no dia-a-dia acima do nível de base de ação de ondas de
tempo-bom. Nela são registradas as correntes de deriva litorânea (longshore
currents), induzidas por onda e, ainda, correntes de oceânicas induzidas por ventos.
Sua inclinação é de aproximadamente 0,3º.
O costa-afora (offshore), dominado por lamas, possui um gradiente menor, de
aproximadamente 0,03o. Ocorre abaixo e para além da ação das ondas normais, até
a quebra da plataforma. Observa-se nessa parte da plataforma depósitos resultantes
da reelaboração por ondas apenas de tempestade.
Vale ressaltar que a aplicação do conceito desses elementos geomorfológicos
atuais em mares epicontinentais é um assunto delicado, especialmente se em
contexto de bacias de interior cratônico, como a bacia do Parnaíba, onde, devido à
falta de análogos recentes, sabe-se pouco sobre sua antiga geomorfologia.

4.2.2 PLATAFORMAS MARINHAS DOMINADAS POR TEMPESTADE (BOGGS,


1995)

As plataformas marinhas atuais podem ser divididas em três tipos:


plataformas dominadas por maré (17%), plataformas dominadas por correntes
oceânicas (3%) e plataformas dominadas por tempestades (80%). Nestas
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 39
Charles George K. Young

plataformas são reconhecidas quatro tipos de correntes que transportam ou


retrabalham sedimentos (Swift et al., 1971 apud Boggs, 1995): correntes de maré,
correntes geradas por tempestade, correntes oceânicas e correntes de densidade.
Correntes de maré são geradas pela atração gravitacional da Lua e do Sol,
associados à rotação do sistema Sol–Terra–Lua. A influência das marés está
representada na variação diária do nível do mar, hoje em média de 1 a 4 m, porém
chegando a 15 m em algumas baías restritas. A subida e descida das marés é
acompanhada pelo movimento horizontal das massas d’água, induzindo uma
corrente, chamada de corrente de maré. A corrente gerada na plataforma pelas
marés é bidirecional, mas assimétricas com respeito à velocidade. Correntes
assimétricas resultam em transporte de sedimentos na direção mais forte da
corrente. A velocidade das correntes de maré decresce com a profundidade da
água; portanto, o transporte por correntes de maré é mais efetivo em pequenas
profundidades. As correntes de maré podem ser fortes o bastante para reelaborar
quantidades consideráveis de areia ou cascalho, ou fracas a ponto de não
possuírem energia necessária para mover grãos de areia. As correntes de maré que
são fracas passam a ser bastante efetivas quando associadas ao movimento
oscilatório de ondas, visto que o movimento orbital das ondas suspende os grãos do
fundo e as correntes conseguem transportá-los.
Correntes de maré possuem papel secundário na reelaboração de
sedimentos em plataformas marinhas dominadas por tempestades. Ao invés das
correntes de maré, o transporte do sedimento é causado por ondas e por correntes
influenciadas e/ou induzidas por tempestade. A oscilação do fundo do mar causado
por ondas pode, dependendo da intensidade, levar à ressuspensão do fundo ou à
formação de ondulações (ripples) de oscilação, assim podendo os sedimentos em
suspensão serem transportados por correntes. Ondas de tempo-bom podem atingir
o substrato a profundidades de 10 a 15 m; já as ondas de tempestade, com
comprimento de onda muito maior, podem perturbar sedimentos até 200 m de
profundidade (Boggs, 1995). Nas áreas mais profundas, as ondas de tempestade
podem ressuspender o fundo, mas não conseguem transportam substanciais
quantidades de areia. Já na costa, essas ondas erosionam a praia e depositam seus
sedimentos na antepraia e costa-afora.
O vento pode criar uma sobrelevação costeira quando sopra contra a costa
(Figura 4.2). O vento empurra a água em direção à costa criando uma elevação
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 40
Charles George K. Young

média da superfície hidrostática de 1 ou 2 m, podendo esta condição ser amplificada


pela baixa pressão atmosférica associada às tempestades. A diferença de nível
hidrostático na costa e na região costa-afora resulta numa diferença de pressão
hidrostática, o que gera uma corrente de fundo chamada de corrente de retorno,
perpendicular à costa e em direção à costa-afora. Posteriormente, essa corrente
sofre o efeito de Coriolis e é defletida, fluindo paralelo as isóbatas, sendo chamada a
partir desse ponto de corrente geostrófica. Tais correntes atingem velocidades de
até 60 cm.s-1 em profundidades de 10 a 20 m (Walker & Plint, 1992). Fluxos dessa
magnitude não são capazes de transportar muito sedimento arenoso, a não ser que
estejam associados à forte oscilação que as ondas causam no fundo que, como dito
anteriormente, pode ressuspender sedimento do leito marinho. Tal ação conjunta de
onda e corrente resulta em um fluxo combinado. Tempestades extratropicais e
furacões podem gerar sobrelevações costeiras de maior porte que as produzidas
pelas tempestades sazonais, induzindo assim correntes muito mais fortes. Já foram
reportadas correntes de tempestades tropicais com velocidades de até 2 m.s-1
(Morton, 1988 apud Boggs, 1995) e já foram medidas correntes alcançando
velocidade de 2 m.s-1 em canyons submarinos (Hubbard, 1992 apud Boggs, 1995). A
corrente geostrófica tende a transportar sedimento paralelamente à linha de isóbatas
e não à costa. Portanto, estes sedimentos provavelmente não seriam transportados
por tais correntes por longas distâncias na plataforma. Em outra linha de discussão,
fundamentada na observação do registro geológico, Walker (1984) expõe a natureza
de correntes de turbidez em paleoplataformas marinhas rasas. Walker (1984) sugere
que tais correntes de turbidez tenham sido induzidas por cargueamento cíclico do
substrato marinho pela passagem de vagalhões de tempestade. Segundo este autor,
essas correntes de turbidez seriam capazes de transportar sedimentos para costa-
afora (Figura 4.3).
As correntes oceânicas, induzidas pelo vento, não contribuem
significativamente, se algo, para a introdução de novos sedimentos na plataforma.
Entretanto estas correntes desempenham papel importante na reelaboração de
sedimentos finos na plataforma, podendo, em certos casos, até formar sandwaves e
outras formas de leito.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 41
Charles George K. Young

Figura 4.5 – Quando o vento sopra em direção à costa, cria-se uma sobrelevação costeira, que gera
como resposta um gradiente de pressão em direção ao mar (A). Esse gradiente gera uma corrente de
fundo que flui em direção ao mar mas que é defletida pelo efeito de Coriolis para fluir paralelo as
isóbatas, originando o fluxo (corrente) geostrófica (B). (Mod. Walker & Plint, 1992)

As correntes de densidade são criadas pela diferença de densidade entre


massas d´água devido a variações de temperatura, salinidade ou sedimento em
suspensão. Correntes de densidade são principalmente importantes no transporte
de sedimentos finos em suspensão. Altas concentrações de sedimentos em
suspensão perto da boca de rios podem criar correntes de densidade diluídas que
movem ao longo do fundo (fluxo hiperpicnal). Similarmente, plumas de águas
quentes de rio ricas em sedimento em suspensão avançam por cima da água do mar
(fluxo hipopicnal), transportando a argila através da plataforma por alguma distância.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 42
Charles George K. Young

Figura 4.6 – Modelo de Walker (1984, mod.) no qual correntes de turbdidez iniciadas na plataforma
durante tempestades transportam sedimentos para costa-afora. Se tais sedimentos forem
depositados abaixo da ação de ondas de tempestade, preservam as características de um turbidito.

4.2.3 TEMPESTITOS

Um tempestito é um depósito formado durante um evento de tempestade.


Este termo foi usado inicialmente por Kelling (1974 fide Ager, 1975 apud Borghi,
2002) para designar uma série de camadas arenáceas ou rudáceas, maciças,
gradadas ou estratificadas no Carbonífero do Alto Atlas, Marrocos. Todavia,
tempestitos são tradicionalmente reconhecidos com base na estrutura sedimentar
denominada estratificação cruzada hummocky (HCS), definida por Harms et al.
(1975 apud Borghi, 2002b) (Figura 4.4). A ocorrência das estratificações cruzadas
hummocky está geralmente associada a areias muito finas a finas, sugerindo uma
limitação granulométrica no processo hidrodinâmico de geração dessas estruturas
(Dott & Bourgeois, 1982). Atualmente, tempestitos são interpretados em rochas do
Pré-cambriano ao Recente, carbonáticas e siliciclásticas, e são associadas a uma
gama de estruturas sedimentares, como estrutura maciça, laminada,
megaondulações de grã muito grosso entre outras (Borghi, 2002b). Em termos
genéticos, as proposições originais apontaram a ação única de vagas de
tempestade (corrente oscilatória) em ambiente marinho raso reelaborando o
substrato para o tempestito portador de HCS, muito embora alternativas de agentes
(maremotos, ondas internas e inundações fluviais catastróficas na costa), ambientes
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 43
Charles George K. Young

(fluvial, lacustre, planície de maré e marinho profundo) mecanismos de transporte


sedimentar (correntes geostróficas, correntes de retorno, correntes de maré,
correntes de turbidez) e processos hidrodinâmicos (corrente trativa vs. corrente
oscilatória/onda vs. fluxo turbidítico) hoje coexistam (Borghi, 2002b).

Figura 4.7 – A estratificação cruzada hummocky e suas principais características (mod. Walker, 1984)

A forma de leito característica dos tempestitos portadores de HCS é o de


montículos (hummocks) e cavas (swales). As estruturas sedimentares internas são a
estratificação cruzada hummocky e a estratificação cruzada swaley (Duke, 1980
sensu Leckie & Walker, 1982). A estratificação cruzada hummocky possui,
internamente, laminação com convexidade para cima e truncamentos de lâminas em
ângulo baixo, características bem distintivas de outras estratificações cruzadas. Em
planta, forma um relevo de montículos com alguns centímetros de altura e mais de 1
m de espaçamento. A estratificação cruzada swaley (Figura 4.5) consiste da
amalgamação de várias estratificações hummocky, não ocorrendo preservação das
lâminas com convexidade para cima. Existem duas vertentes sobre a interpretação
da gênese dos hummockys, a oceanográfica e a geológica. A vertente
oceanográfica, defendida por Swift et al. (1983), Duke (1985) e Swift & Nummedal
(1987), expõe que o transporte de areias na plataforma é realizado pelas correntes
de retorno e geostrófica, e que as estratificações cruzadas hummocky e swaley
resultam de ação combinada de correntes e vagalhões, ambos gerados por
tempestade. A vertente geológica, defendida por Walker (1984) e Hamblin & Walker
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 44
Charles George K. Young

(1979), postula que o transporte de areais na plataforma poderia se dar através de


correntes de turbidez que, se depositadas acima do nível base da ação de ondas de
tempestade, apresentariam as características de um tempestito ou, se depositadas
abaixo do nível base de ação de ondas de tempestade, as características de um
turbidito.

Figura 4.8 – A estratificação cruzada swaley e suas principais características (mod. Walker, 1985
apud Borghi, 2002).

4.3 Fácies sedimentares

4.3.1 GENERALIDADES (BORGHI, 2000)

Cada ambiente deposicional é caracterizado por uma associação particular de


processos físicos, químicos e biológicos que produzem sedimentos com textura,
composição e estrutura distintos. Depósitos sedimentares distintos recebem o nome
de fácies. O termo fácies é definido por Borghi (2000) como uma “massa de
sedimento ou rocha sedimentar caracterizada e distinguida das demais pela litologia,
geometria estratal, estruturas sedimentares, petrotrama, cores, fósseis e por
atributos direcionais”. Portanto, a partir do agrupamento ou associação de fácies
sedimentares é possível interpretar o ambiente deposicional.
Por sucessão de fácies entende-se uma relação unidimensional entre fácies;
ou seja, uma relação específica de seqüenciamento linear das fácies no espaço,
usualmente elaborada ou expressa por um perfil sedimentográfico vertical.
A aplicação desse tipo de estudo parte da conceituação da Lei de Correlação
de Fácies de Johannes Walther que diz, segundo expresso por Schoch (1989), “que
fácies que ocorrem em uma seqüência vertical concordante (em uma seção
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 45
Charles George K. Young

estratigráfica local) provavelmente são representativas das fácies que se


depositaram em uma determinada região, em um tempo determinado e em
ambientes lateralmente adjacentes”. Vale ressaltar que tal afirmação não é valida se
as fácies estiverem separadas por uma discordância.
Por associação de fácies entende-se uma relação tridimensional de fácies; ou
seja, uma relação espacial elaborada ou expressa, por exemplo, por correlações de
perfis sedimentológicos de fácies.
A síntese de todas essas relações conduz à elaboração de um modelo de
fácies. O estabelecimento do modelo de fácies é, em última instância, a prática de
interpretação das relações de fácies, cuja representação usual dá-se pela
elaboração de diagramas de relações de fácies, blocos-diagrama, mapas
faciológicos, paleogeográficos, etc.
Existem vários tipos de fácies, em função da importância dada a certos
atributos. Por exemplo, existem litofácies, biofácies, icnofácies, etc. Nesse estudo
foram utilizados os conceitos de litofácies e icnofácies. As litofácies dão importância
à litologia e à estrutura sedimentar e, em segundo plano, à geometria e cor. Já as
icnofácies salientam apenas o conteúdo paleontológico, no caso, os icnofósseis.

4.3.2 LITOFÁCIES DE TEMPESTITOS

Borghi (2002a) propôs um modelo de fácies para tempestitos, chamado de


“plexo tempestítico” (Figura 4.9). Plexo, no modelo de Borghi (2002) refere-se a
relações de encadeamento complexo ou entrelaçamento entre as fácies no tempo e
no espaço. Desta forma, existem fácies no modelo proposto que se relacionam
temporalmente (num mesmo evento) sem caráter de "derivação" (e.g., fácies A3 e
C3), cuja relação é representada por segmentos de reta, e fácies que podem
relacionar-se apenas no espaço (e.g., fácies A e A3), por serem produtos de eventos
distintos. Não obstante, observam-se linhas de encadeamento de fácies
representadas por setas no modelo que podem ser tratadas, de fato, como tratos
(e.g., fácies A, B, C e D). As fácies estão organizadas por seu aspecto textural, em
fácies de grã muito grosso (fácies A e A1–3), fácies de grã grosso (fácies B e B1,2), e
fácies de grã fino (fácies C, C1–3, D e E e F); e em função do processo sedimentar
envolvido no seu transporte e/ou deposição.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 46
Charles George K. Young

Neste modelo, entendem-se como fundamentos (i) a natureza turbulenta das


correntes que eficientemente introduzem e transportam sedimentos na plataforma;
(ii) uma baixa "eficiência" das correntes de turbidez envolvidas; (iii) a viabilidade de
transformações de fluxo em possíveis fluxos turbidíticos apoiadas por ação de
correntes unidirecionais e sobretudo oscilatórias, através de mecanismos complexos
de difusão turbulenta; (iv) a imiscibilidade entre fluxos turbidíticos e correntes
unidirecionais, ambas existindo como fases fluidas distintas; e (v) a possibilidade de
reelaboração do substrato pela ação única de correntes oscilatórias ou combinada
com correntes unidirecionais.

* Pode conter areia fina - muito fina

Decantação
Abaixo do Nível-base de Ação de Ondas
A3 C3
Decantação
Corrente Oscilatória

E
DT

F. Turbidítico X C. Unidirecional
DT
“ in situ “

CGR CGR
A1 B1 C1
A B C D
Corrente
Turbidez

TS/DT
DT-J DT
+ Unidirecional
C. Oscilatória

A2 B2 C2
Legenda:

(HCS-i) Erosão
Laminação cruzada
(HCS-a) ondulada
Laminação Estratificação cruzada “ Gutter cast “ Gradação
Estratificação cruzada catenária Cascalho
Estratificação cruzada plano-paralela Laminação cruzada Normal
de ângulo-alto monticulada (SCS) Marca de sola
de pequeno porte

Figura 4.9 – Modelo de Plexo Tempestítico de Borghi (2002a). Observam-se os tratos A-B-C-D (trato
de corrente de turbidez), A1-B1-C1-C2 (trato de fluxo turbidítico–oscilação) e A2-B2-C2 (trato de
corrente–oscilação) e a associação de fácies A3-C3-E. Nesse modelo as fácies ainda podem suceder-
se a partir dos tratos centrais (corrente de turbidez e fluxo turbidítico–oscilação), a partir de qualquer
ponto. CGR, coarse-grained ripple; DT, difusão turbulenta (transformação de fluxo); TC,
transformação de corpo (transformação de fluxo); TS, transformação de superfície (transformação de
fluxo); TG, transformação gravitacional (transformação de fluxo).

Este modelo foi concebido a partir da análise da literatura sedimentológica do


assunto, assim como da observação de afloramentos do Devoniano da bacia do
Paraná, sendo descritas 14 litofácies no total. Dentre estas, as fácies que compõe do
trato “fluxo turbidítico–oscilação” foram as que mostraram mais afinidade com as
fácies observadas na Formação Pimenteira, sendo utilizadas nesse trabalho (Quadro
4.1).
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 47
Charles George K. Young

Quadro 4.1 – Fácies de Borghi (2002a) utilizadas no presente estudo.

Fácies Características Processo


Forma-se a partir de um fluxo turbidítico
Ondulações de grã grossa (CGR – coarse
rudáceo (fluxo hiperconcentrado)
grained ripples) sobre conglomerados,
A1 reelaborado logo após sua deposição pela
calcirruditos (coquinas), ou arenitos muito
ação dominante de corrente oscilatória
grossos, maciços ou gradados.
(onda) evanescente.
Forma-se a partir de um fluxo turbidítico
Ondulações de grã grossa sobre arenitos "cascalhoso", de alta-densidade, reelaborado
B1 médios a grossos, mal selecionado, maciço logo após sua deposição pela ação
ou com tapete-de-tração. dominante de uma corrente oscilatória
(onda), evanescente
Tempestito clássico caracterizado por Forma-se a partir de um fluxo turbidítico
arenitos médios a finos, maciços ou com arenáceo, de alta-densidade, reelaborado
tapete-de-tração, apresentando no topo da logo após sua deposição pela ação
C1 camada, em sucessão, as estruturas dominante de uma corrente oscilatória
laminação plano-paralela, estratificação (onda), evanescente. O caráter isotrópico da
cruzada hummocky do tipo isotrópico e HCS indica fracas correntes trativas, se
laminação cruzada ondulada. combinadas.

Tempestito clássico caracterizado por


arenitos finos a muito finos, moderadamente a
bem selecionados, com uma sucessão das
Forma-se pela ação combinada de
estruturas laminação plano-paralela,
correntes oscilatórias com correntes
C2 estratificação cruzada swaley ou hummocky
unidirecionais trativas (geostrófica) ou de
do tipo anisotrópico e laminação cruzada
turbidez.
ondulada. Pode apresentar lineamento-de-
partição nas laminações plano-paralelas e
marcas de sola.
Arenito muito fino ou fino, moderadamente
ou bem selecionados, podendo conter uma
Forma-se a partir de um fluxo turbidítico
sucessão das estruturas laminação plano-
de baixa-densidade ou a partir de fluxos
paralela, laminação cruzada cavalgante e/ou
hiperpicnais, em ambos os casos pela
laminação plano-paralela, em camadas
decantação e tração de sedimentos
tabulares ou lenticulares de espessura muito
arenosos; ou, ainda, por correntes
D fina ou fina e raramente média. Pode haver
unidirecionais (trativas) em regime
gradação normal e apresentar marcas de sola
turbulento, com taxa alta de suspensão,
(marcas de objeto e marcas-em-flauta).
constantes e não-uniformes (fluxo
Camadas muito finas freqüentemente estão
desacelerante).
desconectadas em meio a camadas de lutitos,
formando ondulações isoladas em
acamamento lenticular.
Decantação de sedimento abaixo do nível-
Areia muito finas e siltes camadas muito
base de ação de ondas e sem transporte
E delgadas (ritmitos), maciças, gradadas ou
apreciável por correntes unidirecionais
laminas.
(trativas).

Decantação de sedimento abaixo do nível-


F Siltes e argilas, maciços.
base de ação de ondas.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 48
Charles George K. Young

Quanto às associações de fácies, o trato A1-B1-C1-C2 ou trato de fluxo


turbidítico–oscilação do plexo tempestítico de Borghi (2002a) foi o que se mostrou
mais apropriado para a caracterização do intervalo estudado. Este trato corresponde
ao trato de corrente de turbidez produzido por um fluxo turbidítico, cujos depósitos
encontram-se sob ação concomitante de correntes oscilatórias (Figura 4.10). Estas
correntes, além de originá-lo através de liquefação do substrato, sustentam-no
temporariamente com alta-densidade, até sua destruição. A sustentação dá-se por
aumento da poro-pressão e por transformações de corpo; enquanto que a destruição
do fluxo turbidítico dá-se por difusão turbulenta e pode ocorrer em diversos
momentos. Neste trato a destruição do fluxo ocorre após a transformação
gravitacional ("reconcentração") final para o fluxo subcrítico fluidal (alta-densidade).
Assim, ao invés de formar-se um fluxo turbidítico de baixa-densidade, uma nova
expansão do fluxo leva à formação de uma corrente unidirecional turbulenta, com
alta taxa de suspensão – à guisa do que ocorre entre as fácies F5 e F6 de Mutti

Figura 4.10 – Aspecto deposicional do trato de fluxo turbidítico–oscilação (fácies A1, B1, C1 e C2)
resultante de liquefação do substrato (Borghi, 2002a). Um, corrente meteorológica (induzida pela
tempestade) pouco afetando o substrato (tração); Um*, corrente unidirecional, de origem
meteorológica, mas amplificada por corrente trativa derivada de um fluxo turbidítico de baixa-
densidade (por transformação de fluxo); O, corrente oscilatória; N.M., nível do mar; N.B.A.O.,
nível base da ação de ondas de tempestade; ZU, zona de ultrapassagem.

(1992) – e que passa a atuar com as correntes oscilatórias. Nesse momento, então,
também é possível a combinação da corrente unidirecional derivada da destruição
do fluxo turbidítico com correntes unidirecionais de origem meteorológica agindo
sobre o fundo, tais como a geostrófica. Em tal situação é que se encadeia a
deposição da fácies C2, após uma zona de ultrapassagem.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 49
Charles George K. Young

4.3.3 ICNOFÁCIES (FREY & PEMBERTON, 1984; FERNANDES ET AL., 2002)

As icnofácies são o registro de determinadas icnocenoses. Uma icnocenose é


uma associação de icnitos (estruturas biogênicas distintas) ambientalmente
relacionados, termo de certa forma análogo à comunidade; seus componentes
incluem a icnofauna, ou icnitos de animais, e a icnoflora, ou icnitos de vegetais, tais
como as perfurações de algas e marcas de raízes. Portanto, uma icnofácies
corresponde ao registro fossilífero de uma icnocenose, que se repete através de
longos intervalos de tempo geológico, sendo característica de um dado conjunto de
condições ambientais. As icnofácies marinhas foram estabelecidas por Pemberton &
Frey (1984), em número de sete. No contexto deposicional do estudo foram
interpretadas duas icnofácies, Cruziana e Zoophycos.

Icnofácies Cruziana. – Compreende ambientes litorâneos, distribuindo-se desde o


ponto abaixo da base da linha de rebentação, sujeito à ação de tempestades, às
condições de águas mais calma de costa-afora, situadas na plataforma. Os
sedimentos caracterizam-se por siltes e areias bem selecionados, depositados em
um ambiente de energia relativamente baixa a moderada. A bioturbação encontra-se
presente nestas camadas, muitas vezes de forma intensa, destruindo a estratificação
das mesmas. Cabe ressaltar que esta icnofácies também é típica de ambientes
estuarinos, baías, lagunas e planícies de maré. As formas características são os
icnitos de locomoção epi- e endoestratais representados por pistas ou escavações
verticais, inclinadas e horizontais, em que a diversidade e abundância são
relativamente altas. Entre seus representantes encontram-se os icnogêneros
Arthrophycus, Cruziana, Didymaulichnus, Palaeophyucs, Planolites, Asteriacites,
Rhizocorallium, Chondrites, Teichichnus, Rosselia e Arenicolites (Figura 4.11).

Icnofácies Zoophycos. – Distribui-se de ambientes circunlitorais a batiais com


condições de águas calmas, portando sedimentos argilosos ou argilo-arenosos ricos
em matéria orgânica, mas pobres em oxigênio. A presença desta icnofácies em
ambientes rasos refletiria uma deposição em águas estagnadas. Caracteriza-se pela
ocorrência de icnitos de pastagem e alimentação, simples ou complexos, onde o
icnogênero Zoophycos é a forma mais característica. Apesar da baixa diversidade, a
presença de algumas estruturas, como Zoophycos, pode ser abundante. Entre os
representantes dessa icnofácies encontram-se os icnogêneros Zoophycos,
Phycosiphon e Spirophyton (Figura 4.12).
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 50
Charles George K. Young

Figura 4.11 – Alguns icnofósseis característicos da icnofácies Cruziana. Diagramas esquemáticos de


como estes seriam observados em (A) corte vertical em testemunho (mod. Pemberton et al., 1992) e
(B) corte horizontal (mod. Frey & Pemberton, 1984).

Figura 4.12 – Alguns icnofósseis característicos da icnofácies Zoophycos. Diagramas esquemáticos


de como estes seriam observados em (A) corte vertical em testemunho (mod. Pemberton et al., 1992)
e (B) corte horizontal (mod. Frey & Pemberton, 1984).
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 51
Charles George K. Young

5 ANÁLISE ESTRATIGRAFICA

5.1 Fácies

No intervalo estudado foram descritas 7 litofácies e 2 icnofácies, que se


encontram sumarizadas no Quadro 5.1. Ao longo do texto as litofácies e icnofácies
serão referidas apenas como “fácies” e sobrepõem-se em uso na classificação das
rochas descritas.
Na diagnose das fácies foram salientadas apenas litologias, texturas,e
estruturas sedimentares e icnofósseis, pois foram os atributos de fácies mais
facilmente observados nos testemunhos estudados. No caso da única fácies lutítica
(F) a cor também foi um atributo utilizado. Vale ressaltar que a observação de
icnofósseis em testemunho é “viciada”, estando quase sempre restrita aos
icnofósseis endostratais.
Em termos petrográficos observou-se nas fácies de arenitos limpos (C1 e C2)
pouca compactação, refletida no contato tangencial entre os grãos. A porosidade é
intergranular. Sua composição mineralógica é quase que unicamente de quartzo
monocristalino. Como minerais acessórios ocorrem plagioclásio, zircão, óxidos
(opacos) e micas. A diagenêse sofrida por esses arenitos é representada por um
pequeno crescimento secundário nos grãos de quartzo.

5.1.1 FÁCIES C1 (BORGHI, 2002a)

Diagnose. – Arenito muito fino, bem selecionado, maciço na base e com


estratificação cruzada hummocky no topo. (Estampa I)
Interpretação. – Depósitos resultantes de um fluxo turbidítico de alta densidade, com
reelaboração do topo por onda, no mesmo evento.
Discussão. – Próximo à base das camadas desta fácies podem ocorrer esparsos
intraclastos de folhelhos, de até 10 cm de comprimento, ou de rocha carbonática
siderítica e/ou fosfática, com no máximo 5 cm,. A base das camadas da fácies é
sempre plana e nítida, provavelmente erosiva.
Em lâmina observa-se que, próximo aos intraclastos de siderita, os poros se
encontram obstruídos por esse carbonato, indicando provável dissolução e
reprecipitação localizada do mesmo.
Em testemunho, muitas vezes é difícil distinguir se a estrutura é uma
estratificação cruzada hummocky ou uma laminação plano-paralela. Em afloramento
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 52
Charles George K. Young

entende-se o porquê disso: as HCSs dessa fácies são amplos, com grande distância
entre as cristas (superior a 1 m), de forma que a observação pontual do flanco de um
hummocky pode gerar esta confusão.

Quadro 5.1 – Resumo das fácies utilizadas no presente estudo.

Código Características Processo


Arenito muito fino maciço na base e
Fluxo turbidítico de alta densidade,
C1 com estratificação cruzada
sob ação de ondas.
hummocky no topo.
Ação combinada de correntes
Arenito muito fino com estratificação
oscilatórias com correntes
C2 cruzada hummocky ou laminação
unidirecionais (trativas) ou de
plano-paralela.
turbidez
Arenitos muito finos e siltito, em Alternância de processos de
acamamento wavy ou linsen, com decantação (dominante) e tração de
ASwl
laminação cruzada por onda e/ou sedimentos arenosos e siltosos,
Litofácies

plano-paralela. com reelaboração por onda.

Alternância de processos de
Arenitos muito finos e siltitos em
decantação e tração (dominante) de
acamamento flaser, com laminação
ASf sedimentos arenosos e siltosos,
cruzada por onda e/ou plano-
com reelaboração por onda e
paralela.
corrente.

Folhelhos e siltitos interlaminados, Decantação alternada de siltitos e


E
maciços. lamitos.

Reelaboração de depósitos
Arenito muito fino argiloso,
Ab arenáceos e argilosos por
bioturbado.
organismos bentônicos.

FLH Folhelho escuro. Decantação de sedimentos finos.

Reelaboração do substrato em
Icnofácies Cruziana: Asterosoma paleoambiente marinho abaixo do
isp., Cylindrichnus isp., nível de ação de ondas de tempo
Ic
Palaeophycus isp., Planolites isp., bom, porém dentro do nível de base
Icnofácies

Rosselia isp., e Techichnus isp. de ação de eventuais ondas de


tempestade.

Reelaboração do substrato em
Icnofácies Zoophycos: Chondrites
paleoambiente marinho abaixo do
Iz isp., Helminthopsis isp., e
nível de base de ação de ondas de
Zoophycos isp.
tempestade.

Esta fácies foi interpretada como resultante de correntes de turbidez de alta


densidade, induzidas por correntes de retorno de tempestade. A fácies mostra as
mesmas características da fácies C1 descrita por Borghi (2002a) e, por isso, optou-
se por utilizar a mesma nomenclatura do autor. A base, maciça, mostra analogias
com a fácies F8 de Mutti (1992), sendo interpretada como depósitos de fluxos
ESTAMPA IA – Fácies C1

Figura A – Aspecto maciço da base da fácies C1. Poço 1-CT-1-PI, profundidade de 14,30 m.

Figura B – Parte superior da fácies C1 mostrando gradação normal e truncamento de lâminas em


baixo ângulo (estratificação cruzada hummocky – seta). Poço 1-VL-3-PI, profundidade de 43,40 m.

Figura C – Contato brusco nítido da base da fácies C1 com a fácies Ab. Poço 1-CT-1-PI, profundidade
de 10,25 m

Figura D – Parte maciça da fácies C1 contendo diminutos intraclastos de argila (seta). Poço
1-PM-6-PI, profundidade de 10,55 m.

Figura E – Intraclastos de siderita na parte maciça da fácies C1. Poço 1-VL-3-PI, profundidade de
41,50 m.

Figura F – Nódulos fosfáticos na parte maciça da fácies C1. Afloramento localizado 33 km ao norte de
da Cidade de Pimenteiras (PI). Afloramento JO-132 de Oliveira & Barros (1976).
ESTAMPA IB – Fácies C1

Figura G – Aspecto da fácies C1 em campo, em brusco contato com a fácies ASwl. Afloramento
localizado 49 km ao norte da Cidade de Pimenteiras (PI). Afloramento JO-61 de Oliveira & Barros
(1976).

Figura H – Aspecto em lâmina petrográfica da parte maciça da fácies C1 (nicóis //, escala = 75µ).
Notar a porosidade intergranular (em azul) e abundância de grãos de quartzo (branco). Poço
1-CT-1-PI, profundidade de 3,90 m.

Figura I – Aspecto em lâmina petrográfica da fácies C1 contendo intraclastos de siderita (nicóis //,
escala = 600µ). Notar como os poros próximos aos intraclastos estão obstruídos por siderita. Poço
1-VL-3-PI, profundidade de 41,40 m.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 55
Charles George K. Young

turbididitos arenáceos de densidade alta. Corresponderia às divisões B e H do


“Turbidito-HCS” de Walker et al. (1983).
Esta fácies é bem comum no arenito B, sendo freqüente em sua parte média
e inferior. Está bem caracterizada no poço 1-CT-1-PI (Anexo 1) e em afloramentos
próximos a cidade de São Miguel do Tapuio.
Foram realizados ensaios petrofísicos de permeabilidade e porosidade em
cinco amostras desta fácies, cujos resultados encontram-se na Tabela 5.1.

Tabela 5.1 – Dados petrofísicos da fácies C1


(Pressão confinante: 1 atm; temperatura: 23oC).

Permeabilidade Aspecto da
Amostra Porosidade (%)
Kar (mD) fácies

CT-1/2 23,604 63,819 Maciço

CT-1/3 23,408 43,632 Maciço

CT-1/4 22,335 25,855 Maciço

IST-4/1 28,240 129,699 Maciço

VL-3/9 20,529 7,799 Laminado / HCS

5.1.2 FÁCIES C2 (BORGHI, 2002a)

Diagnose. – Arenito muito fino, bem selecionado, com estratificação cruzada


hummocky ou plano-paralela. (Estampa II)
Interpretação. – Forma-se pela ação combinada de correntes oscilatórias com
correntes unidirecionais (trativas) ou de turbidez.
Discussão. – Esta fácies mostra as mesmas características da fácies C2 descrita por
Borghi (2002a) e, por isso, optou-se por utilizar a mesma nomenclatura do autor. Tal
fácies pode ser entendida como possivelmente resultante da ação combinada de
ondas com corrente de turbidez (q.v. Walker, 1984) ou com correntes geostróficas
(q.v Swift et al, 1983, Duke, 1985, Swift & Nummedal, 1985). Não é possível
distinguir qual o tipo de corrente atuante durante a deposição visto que ambos
produzem depósitos semelhantes (Borghi, 2002a). Esta fácies corresponde às
divisões P ou H do “Turbidito-HCS” de Walker et al. (1983).
A fácies C2 é comum no arenito B, sendo freqüente em sua parte superior. É
bem caracterizada no poço 1-PM-6-PI (Anexo 2) e em afloramentos na Serra do
Alecrim, ao sul da Cidade de São Miguel do Tapuio.
ESTAMPA II – Fácies C2

Figura A – Aspecto da fácies C2 exibindo laminação cruzada hummocky. Poço 1-PM-6-PI,


profundidade de 3,90 m.

Figura B – Aspecto da fácies C2 exibindo laminação plano-paralela e de baixo ângulo (estratificação


cruzada hummocky?). Poço 1-CT-1-PI, profundidade de 2,60 m.

Figura C – Aspecto em lâmina petrográfica da fácies C2 (nicóis //, escala = 600µ). Notar filmes de
material mais finos que se alinham próximos à horizontal (seta). Poço 1-CT-1-PI, profundidade de
2,60 m.

Figura D – Aspecto em afloramento da fácies C2. Notar a superfície irregular que separa as fácies Ab
e C2 (seta). Afloramento na Serra do Alecrim, localizado 9 km ao sul da Cidade de São Miguel do
Tapuio (PI).
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 57
Charles George K. Young

5.1.3 FÁCIES ASwl – ARENITO/SILTITO COM ACAMAMENTO WAVY–LINSEN

Diagnose. – Arenito muito fino e siltitos em acamamento wavy ou linsen, com


laminação cruzada por onda e/ou laminação plano-paralela. (Estampa III)
Interpretação. – Alternância de processos de decantação, dominante, e tração de
sedimentos arenosos e siltosos, com reelaboração por onda.
Discussão. – Esta fácies representa um aspecto mais distal da fácies ASf, onde
ocorre maior proporção de lama em relação a areia e siltes. Apresenta
características de depósito de tração com reelaboração por ondas de tempestade.
Representa a fácies distal de um tempestito/turbidito. Pode ocorrer bioturbada, com
índices de icnotrama de 1 a 4.
Esta fácies possui analogias com a fácies C3 ou com um aspecto distal da
fácies C2 de Borghi (2002a). Pode ser bem observada nos poços 1-PM-6-PI (Anexo
2) e 1-PM-10-PI (Anexo 3) e em cortes de estrada próximos ao vilarejo de Brejo da
Onça, ao norte da Cidade de Pimenteiras.

5.1.4 FÁCIES ASf – ARENITO/SILTITO COM ACAMAMENTO FLASER

Diagnose. – Arenitos muitos finos e siltitos em acamamento flaser, com laminação


cruzada por onda e/ou laminação plano-paralela. (Estampa IV)
Interpretação. – Alternância de processos de decantação e tração (dominante) de
sedimentos arenosos e siltosos, com reelaboração por onda e corrente.
Discussão. – Esta fácies representa um aspecto mais proximal da fácies ASwl, onde
ocorre maior proporção de areia e siltes em relação à lama. Apresenta
características de depósito de tração com reelaboração por ondas de tempestade.
Pode representar, junto com a fácies ASwl, a fácies distal de um tempestito/turbidito
ou os depósitos de uma frente deltaica reelaborada por ondas de tempestade. Pode
ocorrer bioturbada, com índices de icnotrama de 1 a 3.
Esta fácies possui analogias com a fácies C3 ou com um aspecto distal da
fácies C2, de Borghi (2002a).
Ocorre tipicamente nos poços 1-PM-6-PI (Anexo 2) e 1-PM-10-PI (Anexo 3).
ESTAMPA III – FÁCIES ASwl

Figura A – Aspecto da fácies ASwl com Palaeophycus isp. (Pa). Poço 1-CT-2-PI, profundidade de
53,87 m.

Figura B – Aspecto da fácies ASwl exibindo laminação cruzada por onda. Poço 1-PM-10-PI,
profundidade de 40,60 m.

Figura C – Aspecto da fácies ASwl com Helminthopsis isp. (He) e índice de icnotrama 1. Poço 1-PM-
10-PI, profundidade de 55,80 m.

Figura D – Aspecto da fácies ASwl exibindo pequenos load casts. Poço 1-PM-10-PI, profundidade de
29,75 m.

Figura E – Aspecto da fácies ASwl exibindo bioturbações indistintas e índice de icnotrama 3. Poço
1-PM-10-PI, profundidade de 55,00 m.
ESTAMPA IV – Fácies ASf

Figura A – Aspecto da fácies ASf. Poço 1-PM-10-PI, profundidade de 63,55 m.

Figura B – Aspecto da fácies ASf, mostrando alguns Planolites isp. (Pl), além de outras bioturbações
indistintas, em índice de icnotrama 2. Poço SM-IST-4, profundidade de 24 m.

Figura C – Aspecto da fácies ASf mostrando biotubações indistintas. Índice de icnotrama 1. Poço
1-VL-03-PI, profundidade de 47,65 m.

Figura D – Aspecto da fácies ASf. Poço 1-VL-3-PI, profundidade de 67,85 m.

Figura E – Aspecto da fácies ASf mostrando bioturbações indistintas em índice de icnotrama 2. Poço
1-PM-10-PI, profundidade de 15,70 m.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 60
Charles George K. Young

5.1.5 FÁCIES E (BORGHI, 2002a)

Diagnose. – Folhelhos e siltitos interlaminados, maciços. (Estampa V)


Interpretação. – Decantação alternada de siltitos e lamitos.
Discussão. – Representa a sedimentação em um ambiente marinho de costa-afora,
abaixo da ação de ondas, com alternância rítmica de lâminas de siltitos e folhelhos,
não exibindo estruturas de reelaboração por onda ou corrente. A bioturbação é fraca
(índice de icnotrama 2). Tais sedimentos seriam originários de uma pluma de
sedimentos finos postos em suspensão pela ação de ondas na costa ou introduzidos
por fluxos hipopicnais ou hiperpicnais.
A fácies E possui analogias com o tempestito “lamoso” de Einsele &
Seilacher (1991). Ocorre tipicamente no poço 1-PM-6-PI (Anexo 2).

5.1.6 FÁCIES Ab – ARENITO BIOTURBADO

Diagnose. – Arenito muito fino argiloso, mosqueado. (Estampa VI)


Interpretação. – Intensa reelaboração de depósitos arenáceos e argilosos por
organismos bentônicos.
Discussão. – Esta fácies representa a reelaboração intensa por organismos
bentônicos. Esta reelaboração dá-se em intervalos durante tempo bom, quando a
agitação do substrato permite que tais organismos se aproveitem dos sedimentos
recém-depositados para se alimentar, fazer suas habitações, deslocar-se etc. A ação
desses organismos causa a mistura da areia com sedimentos finos (introdução de
argila) e obliterando as estruturas sedimentares pré-existentes. A baixa taxa de
acumulação das areias permite que o tier das icnotramas afete profundamente as
camadas, causando a homogeneização de pacotes de porte médio a grande. Os
icnofósseis reconhecidos foram os seguintes: Asterosoma isp., Cylindrichnus isp.,
Palaeophycus isp., Planolites isp., Rosselia isp., Skolithos isp. e Teichichnus isp. Em
afloramento não é possível o reconhecimento de nenhum icnogênero devido ao
intemperismo.
Em microescala, observa-se a composição predominantemente quartzosa
desta fácies, e que a inserção de argila pelos organismos obstrui as gargantas dos
poros, prejudicando sua permeabilidade assim como sua seleção (compare as
tabelas 5.2 e 5.3).
ESTAMPA V – Fácies E

Figura A – Aspecto da fácies E. Poço 1-PM-6-PI, profundidade de 17,20 m.

Figura B – Aspecto da fácies E mostrando bioturbação por Chondrites isp. (Ch) e Helminthopsis isp.
(He). Índice de icnotrama 2. Poço SM-IST-4, profundidade de 21 m.

Figura C – Aspecto da fácies E exibindo delgada laminação. Poço 1-PM-6-PI, profundidade de


19,55 m.

Figura D – Aspecto da fácies E mostrando bioturbação por Chondrites isp. (Ch) e Helminthopsis isp.
(He),com índice de icnotrama 2. Poço SM-IST-4, profundidade de 17,75 m.

Figura E – Aspecto da fácies E exibindo delgada laminação. Poço 1-PM-6-PI, profundidade de


17,20 m.
ESTAMPA VI – Fácies Ab

Figura A – Aspecto da fácies Ab mostrando bioturbação por Palaeophycus isp (Pa). entre outras
indistintas, com índice de icnotrama 5. Poço 1-PM-6-PI, profundidade de 9,50 m.

Figura B – Aspecto da fácies Ab mostrando intensa bioturbação, com a presença Skolithos? isp (Sk),
entre outros icnofósseis indistintos, com índice de icnotrama 5. Poço 1-CT-1-PI, profundidade de
2,90 m.

Figura C – Aspecto da fácies Ab mostrando bioturbação por Palaeophycus isp. (Pa) e Asterosoma
isp. (As), entre outras indistintas. Índice de icnotrama 5. Poço 1-PM-6-PI, profundidade de 7,45 m

Figura D – Aspecto em afloramento da fácies Ab. Notar o aspecto rugoso dessa fácies, não
permitindo o reconhecimento de nenhum icnogênero; a superfície irregular que separa a fácies Ab de
C2 (seta inferior); e a superfície plana e nítida que separa a fácies C2 da fácies Ab (seta superior).
Afloramento na serra do Alecrim, localizado 9 km ao sul da Cidade de São Miguel do Tapuio (PI).

Figura E – Aspecto em lâmina petrográfica da fácies Ab (nicóis //, escala = 600µ). Observar a
obstrução das gargantas dos poros pela argila introduzida pelos organismos. Poço 1-CT-1-PI,
profundidade de 2,85 m.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 63
Charles George K. Young

Esta fácies ocorre com freqüência no arenito B, especialmente em sua parte


superior. Pode ser bem observada nos testemunhos do poços 1-CT-1-PI (Anexo 1),
1-PM-6-PI (Anexo 2) e 1-PM-10-PI (Anexo 3) e em afloramentos ao sul da Cidade de
São Miguel do Tapuio.
Realizou-se ensaio petrofísico de permeabilidade e porosidade em uma
amostra dessa fácies, cujos resultados encontram-se na Tabela 5.2.

Tabela 5.2 – Dados petrofísicos da fácies Ab


(Pressão confinante: 1atm; temperatura: 23oC).

Permeabilidade Aspecto da
Amostra Porosidade (%)
Kar (mD) fácies

CT-1/1 20,157 0,144 Bioturbada

5.1.7 FÁCIES FLH – FOLHELHO ESCURO

Diagnose. – Folhelho argiloso escuro. (Estampa VII)


Interpretação. – Decantação de sedimentos finos em ambiente redutor.
Discussão. – Representa a decantação de sedimento argiloso em ambiente marinho
distal de costa-afora, em condições anóxicas. Não foram observadas estruturas de
bioturbação. A fissilidade pode decorrer da compactação ou da própria decantação.
Esta fácies possui analogias com a fácies F de Borghi (2002a).
Ocorre tipicamente no poço 1-PM-10-PI (Anexo 3).

5.1.8 FÁCIES Ic – CRUZIANA

Diagnose. – Associação dos icnofósseis Asterosoma isp., Cylindrichnus isp.,


Palaeophycus isp., Planolites isp., Rosselia isp. e Teichichnus isp. (Estampa VIII)
Interpretação. – Reelaboração do substrato por organismos invertebrados em
paleoambiente marinho abaixo do nível de ação de ondas de tempo bom, porém
dentro do nível de base de ação de eventuais ondas de tempestade.
Discussão. – Palaeophycus isp., Asterosoma isp. Planolites isp e Cylindrichnus isp.
ocorrem associados freqüentemente na fácies Ab. Os outros icnofósseis ocorrem em
menor freqüência, ou são observados apenas pontualmente. Observa-se
pontualmente a presença de Skolithos isp., típico de uma icnofácies de ambiente
mais raso (icnofácies Skolithos). Neste caso, provavelmente representa a ação
oportunista de organismos em sedimentos recém depositados.
ESTAMPA VII – Fácies FLH

Figura A – Aspecto da fácies FLH mostrando uma concreção de pirita em sua parte inferior. Poço
1-VL-3-PI, profundidade de 63,65 m.

Figura B – Aspecto da fácies FLH mostrando sua fissilidade. Poço 1-VL-3-PI, profundidade de
64,15 m.

Figura C – Aspecto da fácies FLH exibindo lâminas de silte intercaladas. Poço 1-PM-10-PI,
profundidade de 80,90 m

Figura D – Aspecto da fácies FLH, avermelhada devido à oxidação, mostrando uma concreção de
pirita em sua parte média. Poço 1-PM-10-PI, profundidade de 17,25 m

Figura E – Aspecto da fácies FLH exibindo lâminas de silte. Poço 1-CT-2-PI, profundidade de
11,40 m.
ESTAMPA VIII – Fácies Ic

Figura A – Skolithos isp. (Sk). Poço 1-VL-3-PI, profundidade de 38,35 m.

Figura B – Teichichnus isp. (Te). Poço 1-PM-10-PI, profundidade de 81,70 m.

Figura C – Cylindrichnus isp. (Cy). Poço 1-VL-3-PI, profundidade de 38,55 m.

Figura D – Rosselia isp. (Ro). Poço 1-PM-10-PI, profundidade de 83,52 m.

Figura E – Planolites isp. (Pl). Poço 1-PM-6-PI, profundidade de 4,55 m.

Figura F – Asterosoma isp. (As). Poço 1-VL-3-PI, profundidade de 35,70 m.


Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 66
Charles George K. Young

5.1.9 FÁCIES Iz – ZOOPHYCOS

Diagnose. – Associação dos icnofósseis Chondrites isp., Helminthopsis isp. e


Zoophycos isp. (Estampa IX)
Interpretação. – Reelaboração do substrato por organismos invertebrados em
paleoambiente marinho abaixo do nível de base de ação de ondas de tempestade.
Discussão. – Essa icnofácies está associada às fácies ASwl e ASf. Seus icnofósseis
costumam ser considerados como bons indicadores de baixas taxas de oxigenação.
Nas partes de maior granulometria das fácies ASwl e ASf ocorrem outros icnofósseis
como Asterosoma isp., Cylindrichnus isp., Isopodichnus isp., Rhizocorallium isp.,
Subphyllocorda isp., Skolithos isp., Teichichnus isp. e Planolites isp., relacionados
aqui à atividade de organismos de águas mais rasas, oportunistas, em substrato
recém-depositado, propício para seu desenvolvimento.

5.2 Associações de fácies

5.2.1 ASSOCIAÇÃO DE FÁCIES 1

Diagnose. – Caracteriza-se pela associação das fácies C1, C2, Ab e Ic, que ocorrem
apenas no intervalo chamado de arenito B da Formação Pimenteira. (Estampa X)
Interpretação. – Esta associação caracteriza bem um sistema deposicional de
plataforma marinha transicional a proximal, sob forte ação de tempestades (q.v.
Figura 4.1), onde fluxos turbidíticos transportam e depositam os sedimentos de
forma brusca e instantânea, os quais, imediatamente após depositados, são
reelaborados por uma associação de ondas de tempestades e correntes de fundo
(fácies C1 e C2).
Discussão. – Os depósitos desta associação de fácies se encaixam dentro do trato
de fluxo turbidítico–oscilação de Borghi (2002a) (q.v. Figura 4.9). Em períodos de
tempo-bom, organismos marinhos bentônicos se aproveitam dos sedimentos mais
distais, recém depositados e em ambiente de menor energia, para se alimentar,
fazer moradia etc (fácies Ab). A fácies Ic, intrinsecamente associada à fácies Ab,
denota a ação de organismos em ambiente de plataforma marinha abaixo ou
próximo do nível base de ação de ondas de tempo bom, colaborando para a
interpretação de que o intervalo do arenito B tenha sido depositado em uma
plataforma relativamente rasa. A sucessão típica de fácies na parte média e inferior
ESTAMPA IX – Fácies Iz

Figura A – Subphyllocorda isp. (Su). Poço 1-PM-10-PI, profundidade de 34,00 m.

Figura B – Planolites isp. (Pl). Poço 1-VL-3- PI, profundidade de 59,50 m.

Figura C – Rhizocorallium isp. (Rh) Poço 1-CT-2-PI, profundidade de 30,80 m.

Figura D – Asterosoma isp. (As) e Chondrites isp. (Ch). Poço 1-CT-2-PI, profundidade de 29,55 m.

Figura E – Zoophycos isp. (Zo). Poço 1-CT-2-PI, profundidade de 45,47 m.

Figura F – Helminthopsis isp. (He). Poço 1-CT-1-PI, profundidade de 23,85 m.


ESTAMPA X – Associação de fácies 1

Figura A – Aspecto da associação de fácies 1 no poço 1-VL-3-PI, caixas 7, 8 e 9. A seta vermelha


marca a base da associação e a azul, o topo. (O topo estratigráfico localiza-se no topo do testemunho
mais à direita das caixas; comprimento vertical = 1 m)

Figura B – Aspecto de campo da associação de fácies 1 em afloramento na serra do Alecrim,


localizado 9 km ao sul da Cidade de São Miguel do Tapuio (PI). (Escala humana = 1,60 m)
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 69
Charles George K. Young

do arenito B consiste da fácies C1, sempre com base brusca e nítida, seguida da
fácies Ab. Entretanto, a fácies C1 pode ocorrer truncada por outra fácies C1. Na parte
superior ocorre uma intercalação das fácies C2 e Ab. A sucessão fáciológica do
arenito B está bem caracterizada no perfil do poço 1-CT-1-PI (Anexo 1) e em
afloramentos na Serra do Alecrim.

5.2.3 ASSOCIAÇÃO DE FÁCIES 2

Diagnose. – Caracteriza-se pela associação das fácies E, FLH, ASwl, ASf e Iz. São
as fácies que encapsulam o arenito B. (Estampa XI)
Interpretação. – As fácies sedimentares desta associação caracterizam a
decantação de sedimentos em ambiente tranqüilo, provavelmente pouco oxigenado,
com pouca (fácies ASwl e ASf) ou quase nenhuma (fácies E e FLH) ação de
corrente ou onda. Correspondem ao paleoambiente de costa-afora (q.v. Figura 4.1).
Discussão. – As frações siltico-arenosas da associação de fácies 2 representam a
deposição de sedimentos postos em suspensão pelas ondas de tempestade ou
pelos turbiditos decorrentes da mesma, enquanto que os folhelhos e lamitos, contêm
a sedimentação de background marinho. De forma restrita, ocorrem sedimentos das
fácies C1, C2 e Ab em meio aos sedimentos dessa associação, possivelmente
representando um evento de tempestade muito forte. Esse tipo de associação,
principalmente quando associada à fácies Iz, indica ambiente marinho de costa-
afora, com água calma pouco oxigenadas, ambiente onde comumente ocorre
decantação de sedimentos. Pode ser bem observada no poço 1-VL-3-PI e em
afloramentos ao norte da Cidade de Pimenteiras.

5.3 Arquitetura deposicional

5.3.1 SUPERFÍCIES ESTRATIGRÁFICAS

Na correlação dos poços 1-PM-10-PI, 1-PM-6-PI, 1-CT-1-PI foram


identificadas três superfícies estratigráficas, interpretadas como superfícies de
discordância, transgressiva e de inundação. Tais superfícies possuem importantes
significados dentro dos contextos de Estratigrafia de Seqüências (Cap 4.4), e serão
descritas a seguir.
ESTAMPA XI – Associação de fácies 2

Figura A – Aspecto da associação de fácies 2 no poço 1-VL-3-PI, caixa 11. (O topo estratigráfico
localiza-se no topo do testemunho mais à direita da caixa; comprimento vertical = 1 m)

Figura B – Aspecto da associação de fácies 2 no poço 1-PM-6-PI, caixa 5. (O topo estratigráfico


localiza-se no topo do testemunho mais à direita da caixa; comprimento vertical = 1 m)

Figura C – Aspecto da associação de fácies 2 no poço SM-IST-4, caixa 4. (O topo estratigráfico


localiza-se no topo do testemunho mais à direita da caixa; comprimento vertical = 1 m)

Figura D – Aspecto de campo da associação de fácies 2 no afloramento a 22 km ao norte da Cidade


de Pimenteiras (PI). (Escala humana = 1,90 m)
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 71
Charles George K. Young

Superfície discordante. – Esta superfície é observada nos poços 1-CT-1-PI


(Anexo 1), na profundidade de 18,70 m, 1-PM-6-PI (Anexo 2), na profundidade de
16,10 m e 1-PM-10-PI (Anexo 3), na profundidade de 96 m. Caracteriza-se por um
contato brusco e nítido da base de camadas de fácies C1 com camadas da fácies E,
nos poços 1-PM-6-PI e 1-PM-10-PI, ou com a fácies ASwl, no poço 1-CT-1-PI. A
fácies C1 ocorre contendo intraclastos de siderita, nos poços 1-PM-6-PI e 1-PM-10-
PI, ou folhelho, no poço 1-CT-1-PI. Esta superfície possui extensão por toda a área
estudada, sendo facilmente identificada e correlacionada nos perfis de raios dos
demais poços devido a sua assinatura geofísica, uma queda brusca na
radioatividade. Entretanto, ocorrem poços onde esta superfície é assinalada por um
brusco aumento na radioatividade, que representa a ocorrência de nódulos
fosfáticos na fácies C1. Tal superfície foi interpretada como um limite de seqüência, e
encontra-se ilustrada na Estampa XII.

Superfície transgressiva. – Esta superfície é observada nos poços 1-CT-1-PI (Anexo


1), na profundidade de 11 m, e 1-PM-6-PI (Anexo 2), na profundidade de 16,10 m.
No poço 1-PM-10-PI (Anexo 3) não é possível precisar onde esta superfície ocorre
visto que a caixa com os testemunhos do intervalo 86,30 a 92 m foi perdida. Está
representada pelo inicio da intercalação entre as fácies Ab e C2, denotando maior
intervalo de tempo e menor intensidade dos eventos de tempestade. Não possui
assinatura geofísica, sendo apenas correlacionável com base na descrição dos
testemunhos.

Superfície de inundação. – Esta superfície é observada no poço 1-PM-10-PI (Anexo


3), na profundidade de 81 m, e no poço 1-PM-6-PI (Anexo 2), na profundidade de
2 m. No poço 1-PM-10-PI caracteriza-se pelo brusco aparecimento da fácies FLH
sobre a fácies Ab, e no poço 1-PM-6-PI pelo brusco aparecimento da fácies ASf,
bastante intemperizada, sobre a fácies Ab. Não foi observado lag trangressivo. Esta
superfície possui extensão por toda a área estudada, sendo facilmente identificada e
correlacionada nos perfis de raios dos demais poços devido a sua assinatura
geofísica, um aumento brusco na radioatividade. Tal superfície foi interpretada como
uma superfície de inundação, e encontra-se ilustrada na Estampa XIII.
ESTAMPA XII – Superfície discordante

Figura A – Superfície discordante no poço 1-PM-6-PI, na profundidade de 16,00 m. (O topo


estratigráfico localiza-se no topo do testemunho mais à direita da caixa; comprimento vertical = 1 m)

Figura B – Superfície discordante no poço 1-PM-10-PI, na profundidade de 43,70 m. (O topo


estratigráfico localiza-se no topo do testemunho mais à direita da caixa; comprimento vertical = 1 m)

Figura C – Superfície discordante no poço 1-VL-3-PI, profundidade de 46,45 m. (O topo estratigráfico


localiza-se no topo do testemunho mais à direita da caixa; comprimento vertical = 1 m)

Figura D – Superfície discordante (seta) em afloramento na estrada entre Pimenteira e São Miguel do
Tapuio, localizado 33 km ao norte da Cidade de Pimenteiras, PI (afloramento JO-132 de Oliveira &
Barros, 1976). Notar o contato brusco e plano entre as fácies C2 e ASwl. A base brusca e a
ocorrência de nódulos fosfáticos na base da fácies C2, são característicos da superfície discordante
que marca a base do arenito B.
ESTAMPA XIII – Superfície de inundação

Figura A – Superfície de inundação no poço 1-PM-10-PI, na profundidade de 81,30 m. (O topo


estratigráfico localiza-se no topo do testemunho mais à direita da caixa; comprimento vertical = 1 m)

Figura B – Superfície de inundação no poço 1-VL-3-PI, na profundidade de 34,50 m. (O topo


estratigráfico localiza-se no topo do testemunho mais à direita da caixa; comprimento vertical = 1 m)

Figura C – Superfície de inundação no poço 1-PM-6-PI, na profundidade de 4,55 m. (O topo


estratigráfico localiza-se no topo do testemunho mais à direita da caixa; comprimento vertical = 1 m)

Figura D – Superfície de inundação em afloramento na serra do Alecrim, 9 km ao sul da Cidade de


São Miguel do Tapuio (PI). Notar como, em afloramento, a superfície se apresenta plana (seta).
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 74
Charles George K. Young

5.3.2 O INTERVALO DO ARENITO B

Características. – O arenito B trata do intervalo estratigráfico compreendido entre a


superfície discordante e a superfície de inundação, o qual contém a associação de
fácies 1.
Nos perfis de raios gama, o arenito B apresenta um padrão de “caixa”, com
baixos valores radioativos, de 5 a 20 cps em média, porém com esparsos picos de
grande intensidade (70–1000 cps), que correspondem aos nódulos fosfáticos
uraníferos. As fácies lutíticas que encapsulam o arenito B (R, L, ASwl e ASf)
apresentam um perfil de raios gama bem característico, com valores entre 50 e 70
CPS, sendo fácil distinguir os dois.

Distribuição. – A correlação dos poços (Figura 5.1) demonstra duas características


muitos marcantes do arenito B: sua tabularidade e continuidade lateral. O aspecto
tabular do conjunto é bem observado em campo (Estampa XIII, Figura D). A
correlação dos poços mostra particularmente que o arenito B apresenta uma
tendência de espessamento em direção ao Norte. Todavia, seus limites a Norte e a
Sul não são conhecidos. A tendência de espessamento para o Norte pode ser
observada em seu mapa de isópacas (Figura 5.2).
Atualmente, como mostra o mapa de contorno estrutural do topo do arenito B
(Figura 5.3), a área de estudo se encontra bastante falhada, com falhas normais de
rejeitos de até 80 m. Oliveira & Barros (1976) notam que as principais estruturas na
área possuem orientação NO–SE. Utilizando um método de interpolação de pontos
com anisotropia NO–SE, este que ressalta possíveis estruturas com essa
orientação, confeccionou-se um novo mapa de contorno estrutural do topo do arenito
B. Nesse novo mapa (Figura 5.4) uma série de estruturas grabenformes ficam bem
delimitadas. Vale notar que essa estruturação NO–SE corresponde a um dos
principais lineamentos tectônicos da bacia, como observados por Cunha (1986), o
lineamento Picos–Santa Inês que passa ao Sul da área de estudo.

Significado estratigráfico. – Este intervalo estratigráfico apresenta muitas das


características descritas por Posamentier et al. (1992) o que o levou a ser
interpretado como um depósito resultante de uma regressão forçada (q.v. Cap. 4.5).
Neste caso, o intervalo contido entre a superfície discordante e a superfície
transgressiva, constituído pela fácies C1 da associação de fácies 1, representa o
Trato de Sistema de Mar Baixo, e o intervalo entre a superfície transgressiva e a
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 75
Charles George K. Young

superfície de inundação, constituído pelas fácies C2 e Ab da mesma associação de


fácies,o trato de sistema transgressivo.
Visto que regressões forçadas são eventos bacinais, a identificação desse
evento, representado pelo arenito B, na borda Leste da bacia pode levar a
reinterpretação de outros corpos de areias em outras partes da bacia como
geneticamente similares. Entre os possíveis candidatos a reinterpretação destaca-se
o Membro Carolina de Carozzi et al. (1975) que, de acordo com as descrições e
mapas dos autores (q.v. Figura 3.1), exibe características muito similares a de um
depósito de regressão forçada.
Além disso, se confirmada sua distribuição regional, tais camadas podem
servir como marcos estratigráficos para correlação a longa distância.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 76
Charles George K. Young

Figura 5.1 – Seção de correlação estratigráfica dos poços estudados. Notar o padrão em caixa do
perfil de raios gama da associação de fácies 1, sua tabularidade, continuidade lateral (superior a 130
km) e as superfícies transgressiva e discordante. A curva azul representa o perfil de raios gama, que
aumenta para a esquerda. O datum de correlação corresponde à superfície de inundação.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 77
Charles George K. Young

Figura 5.2 – Mapa de isópacas do arenito B


ilustrando seu espessamento para o Norte.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 78
Charles George K. Young

Figura 5.3 – Mapa de contorno estrutural do


topo do arenito B. Observar a configuração de
altos e baixos, com diferenças de até 80 m.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 79
Charles George K. Young

Figura 5.4 – Mapa de contorno estrutural do


topo do arenito B com anisotropia na
direção NO-SE. Tal anisotropia realça as
estruturas orientadas NO-SE, delineando
uma configuração estrutural de grábens e
horsts.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 80
Charles George K. Young

6 CONCLUSÕES

O modelo de regressão forçada constitui um modelo consagrado na


exploração de petróleo nas bacias do Oeste Canadense e dos EUA. A principal
característica desse modelo é o posicionamento de potencias rochas reservatórios
em direto contato com as rochas geradoras.
Este modelo, aqui identificado pela primeira vez dentro da Formação
Pimenteira, se mostra bastante conveniente do ponto de vista de exploração de
petróleo na bacia do Parnaíba, visto seu complexo sistema de geração. O
Posicionamento de um corpo arenoso poroso em meio às rochas geradoras da bacia
facilitaria a migração e acumulação de hidrocarbonetos especialmente se estes
tenham sido gerados através do modelo alternativo de Rodrigues (1995), que
considera o efeito térmico das intrusões de diabásio como principal fonte de calor
para a maturação da matéria orgânica. Este modelo alternativo requer condições
muito favoráveis para que ocorram acumulações comercias, condições essas q
seriam favorecidas pela existência dos depósitos de uma regressão forçada. Este
novo modelo sugere a possibilidade de um novo sistema petrolífero na bacia,
Pimenteira–Pimenteira (?), com rochas reservatório e geradoras na mesma
formação.
Em termos de modelos deposicionais, a aplicação do modelo de regressão
forçada representa um novo modelo para a deposição de corpos de areia na bacia,
modelo nunca antes utilizado na bacia. Tal modelo difere dos modelos utilizados por
Della Fávera (1990) e Albuquerque (2000) os quais associam os corpos de areia da
Formação Pimenteira a eventos de progradação deltáica.
Contribuição à análise estratigráfica da Formação Pimenteira 81
Charles George K. Young

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ANEXO 1
Perfil estratigráfico do poço 1-CT-1-PI
Escala 1:100
ANEXO 2
Perfil estratigráfico do poço 1-PM-6-PI
Escala 1:100
ANEXO 3
Perfil estratigráfico do poço 1-PM-10-PI
Escala 1:100

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